Wonwoo encarava Nari com um leve sorriso nos lábios. Ela havia chegado em sua vida em um momento conturbado, há cerca de um ano, algum tempo depois de perder sua mãe.
A senhora Jeon havia ficado doente e, apesar de toda a sua positividade e vida, faleceu em 2022, ainda jovem, deixando marido e dois filhos sentindo sua falta. Mesmo que a perda tenha sido de uma família inteira, o peso da saudade recaía mais sobre os ombros de Wonwoo, o primogênito, levando em consideração o fato de o rapaz ser um
idol consideravelmente famoso e ocupado. Por mais que o rapaz tivesse recebido alguns dias de folga para passar com sua mãe, por um bom tempo ele sentiu que
não havia sido o bastante, principalmente depois de saber da doença.
Nari, a sua coelha de estimação, havia sido um presente de sua melhor amiga, , como uma forma de tentar fazê-lo se animar um pouco.
— Olha só, coelhos podem ser ótimos companheiros — disse enquanto brincava com o filhote de coelho que havia acabado de presentear Jeon. — Fora que, são uma gracinha!
Wonwoo não tinha muita certeza se aquilo era o que precisava, fazia dois meses que havia perdido sua mãe e ele se sentia um mau filho por não ter passado mais tempo com a mulher que havia lhe dado a vida.
— Nari é bastante amigável, nasceu em março e é uma coelha nascida no ano do coelho, não podia ser mais perfeita! — insistiu, pegando o animal no colo e seguindo para mais perto do amigo.
Se dando por vencido, Wonwoo suspirou e então fez um leve carinho no coelho cor caramelo de orelhas caídas e um topete branco. Quase que instantaneamente o animal se virou em direção ao “novo dono” e farejou o ar com seu focinho aveludado, logo em seguida saltitando para mais perto de Jeon.
— Viu? Ela gosta de você!
Daquele dia em diante, mesmo demorando um pouco para admitir, Nari se tornou parte da vida de Jeon e um bichinho querido.
De alguma forma parecia para o rapaz que o animal o entendia bem e, vez ou outra, até parecia que ela via algo além do que ele conseguia ao ficar encarando um ponto fixo, como se prestasse atenção. Aos poucos, a tristeza e o pesar foram dando espaço à saudade. Claro que ele sentiria falta de sua mãe, mas as lágrimas que ocasionalmente ele derramaria não seriam mais de culpa, e sim de saudade da sua brilhante mãe que estivera com ele por 25 anos felizes e cheios de amor.
O rapaz encarava a coelha que encarava um ponto fixo mais uma vez.
Um ano. Já fazia um ano desde que sua amada mãe havia partido, mas Jeon Wonwoo sentia que a mulher ainda estava presente em sua vida, vez ou outra podia sentir o perfume característico dela ao seu redor, bem como sentia que Nari havia sido um último presente da senhora Jeon para o filho.
Naquele instante, Wonwoo estava na casa memorial onde as cinzas de sua mãe repousavam, ainda era um pouco difícil para ele estar ali e ver a foto dela sorridente lhe dava um aperto no coração.
— Eu vou te deixar um pouco sozinho — murmurou dando um leve aperto na mão do rapaz, que fungou e assentiu.
Assim que a melhor amiga saiu do recinto, Wonwoo suspirou. Mentalmente ele agradecia à garota por lhe dar aquele tempo sozinho com sua mãe. Devido ao estresse e ao luto, aquele momento havia sido postergado durante bastante tempo, a maioria das pessoas tinha medo do que poderia acontecer a Jeon Wonwoo se fosse deixado a sós consigo mesmo e seus pensamentos e sentimentos, mas entendia.
O rapaz respirou fundo, os olhos ligeiramente marejados.
—
Omma, desculpe por ter demorado tanto para vir te ver e… ter essa conversa. — Wonwoo soltou um riso baixo, se sentindo um pouco bobo no começo. —
Appa e meus amigos estavam preocupados comigo.
Aqueles meses não haviam sido fáceis para Wonwoo, principalmente porque ele, ao mesmo tempo em que se sentia mal, sentia que tinha um compromisso a honrar com seus fãs, aquela responsabilidade falando mais alto do que qualquer coisa. Ele não podia deixar seus
Carats esperando por tempo demais, então praticamente não se deu tempo para sentir e passar pelo luto de forma adequada.
Apesar daquilo, enfrentar a perda foi um pouco menos doloroso para Jeon ao perceber que ele não estava sozinho e que podia se apoiar em seus 12 amigos e companheiros de grupo do Seventeen, sua família, amigos e principalmente às pessoas do
fandom que sempre enviavam mensagens de suporte e carinho.
—
Omma, esse último ano sem você não foi exatamente fácil e uma parte de mim ainda diz que eu podia ter feito mais, ter estado lá — murmurou fungando. — Mas decidi que, a partir de agora, eu vou dar o meu melhor para continuar a te deixar orgulhosa como disse todas as vezes em que conquistei algo. Darei o meu melhor para te fazer sorrir onde quer que esteja. — Wonwoo limpou uma lágrima teimosa que escorreu por seu rosto. — E queria dizer que tudo bem agora. Você pode ir tranquila,
vai ficar tudo bem.
Uma leve brisa passou pelo rosto de Jeon ao mesmo tempo em que a porta de correr às suas costas se abriu.
— Oppa, eu vou te esperar no saguão de entrada, tá? — A voz de soou baixa, como se não quisesse interromper e atrapalhar mais o momento.
— Eu já vou — Wonwoo respondeu fungando e limpando o rosto das lágrimas.
A garota assentiu e se afastou um pouco, deixando a porta aberta.
— Sentirei saudades,
omma, até algum dia — disse dando um sorriso para a foto no altar do memorial antes de se levantar e caminhar lentamente para a saída do local.
, Wonwoo e Nari estavam no jardim da casa da moça, aquela casa era como um segundo lar para Jeon que, desde criança era acostumado a ir para lá em praticamente todos os momentos de sua vida, os tristes e felizes. Era um refúgio.
— É engraçado como Nari às vezes para e fica encarando o nada — murmurou vendo a coelha fazer exatamente aquilo no amplo gramado.
— Gosto de pensar que ela está prestando atenção ao que minha
omma está falando. — Wonwoo sorriu de leve também observando seu animal de estimação.
— Bem, isso faria sentido já que, aparentemente, Nari parece saber exatamente o que fazer para te animar. — riu e entrelaçou o braço no do melhor amigo que simplesmente assentiu em concordância.
Os dois amigos continuaram daquela maneira, observando o pequeno coelho caramelo fazer suas coisas de coelho, até que o animal começou a saltitar alegremente atrás de uma linda borboleta branca que, em meio ao seu percurso, pousou brevemente na ponta do nariz de Wonwoo, que sorriu.
— Até mais,
omma — murmurou ele vendo a borboleta também pousar levemente na bochecha de .
— É bom te ver,
ajuma — a garota disse sorrindo.
Os dois continuaram encarando a borboleta alçar voo em direção ao céu, até não conseguirem mais distingui-la à distância.
Let’s sing together
To cover the sadness with the powerful song
It’s gonna be okay, like the hands on the clock
They’ll go in circles back to their places
Remember, we are together always
I won’t let go of your hand
Extra
A senhora Jeon suspirou. Não era fácil para uma mãe ver o sofrimento de um filho e não poder fazer nada.
A mulher sabia que havia falecido porque a
garota das borboletas havia lhe dito isso e também porque ela já esperava por aquele fim fazia alguns meses. Dizem que as pessoas sabem,
sentem, quando estão para partir e a senhora Jeon já sabia que sua hora chegaria muito em breve quando descobriu que estava doente.
Ela fez o que pôde para aproveitar cada dia ao máximo com as pessoas que amava, teve encontros relembrando os bons tempos de namoro com o marido, noites em família e brincadeiras com Bohyuk, o caçula… e é claro que sempre havia festa quando Wonwoo, seu primogênito, voltava para casa.
Wonwoo havia decidido seguir a carreira de
idol ainda adolescente e, desde então, dava duro todos os dias para melhorar cada vez mais seus talentos. A senhora Jeon ficava orgulhosa dos filhos a cada conquista que faziam e não deixava de demonstrar aquilo de todas as formas possíveis.
Nos últimos meses de vida, embora ela tentasse fazer com que o peso da vida adulta para seu filho mais velho não o importunasse, ela sabia que seu pequeno – de 25 anos – se sentia mal por não estar perto dela naquele momento tão delicado.
A senhora Jeon não se importava exatamente. Wonwoo estava constantemente fazendo ligações e chamadas de vídeo para ela, mesmo estando extremamente cansado depois de um show ou de um dia inteiro de ensaios, saber que mesmo assim o filho ainda achava tempo para compartilhar com ela a enchia de alegria. Mas ela sabia que para seu filho atencioso e preocupado, aqueles gestos não pareciam o suficiente.
Ela tentou fazer com que cada mínimo esforço dos filhos em estar com ela fosse notado e apreciado, mas mesmo assim, para Wonwoo, quando ela se foi, não havia sido o bastante.
Agora, lá estava ela encarando seu filho mais velho, sabendo que ele sofria terrivelmente, mesmo calado e sem dividir os sentimentos com ninguém. Ela queria poder fazer alguma coisa por ele.
— Senhora Jeon, a senhora já está pronta para fazer a passagem — a garota das borboletas murmurou calmamente.
— Eu não posso deixa-lo assim… — a mulher respondeu sem tirar os olhos do filho.
A garota das borboletas suspirou, mas assentiu.
Havia demorado algum tempo até um pequeno fio de esperança surgir. , a melhor amiga – desde sempre – de Wonwoo e praticamente como uma filha para a senhora Jeon, passeava pelas ruas quando parou em frente a uma casa que tinha um aviso de “adoção de coelhos”.
A senhora Jeon estava há algum tempo acompanhando , em suas preces a garota pedia auxílio dela para que pudesse fazer algo que animasse Wonwoo de alguma forma e o ajudasse a passar por aquele momento delicado da vida. Como as duas pareciam ter o mesmo objetivo, a senhora Jeon achou de bom proveito “unir forças” com a moça, o que seria muito mais prestativo do que apenas observar o sofrimento do filho.
não pareceu pensar duas vezes antes de tocar a campainha da casa do anúncio de coelhos, uma senhora de cabelos platinados atendeu com um sorriso nos lábios. A moça e a matriarca Jeon adentraram a casa e logo foram apresentadas a uma ninhada de coelhos.
— Acho que ela era do ano do coelho… — A senhor Jeon ouviu murmurar baixinho para si mesma.
— Oh, é que eu estava pensando em levar um desses coelhos para um amigo… Ele acabou de perder a mãe e… A
ajuma era do ano do coelho. — Deu de ombros.
Enquanto as duas conversavam sobre vários assuntos, a senhora Jeon se inclinou um pouco para ver os filhotes. Quando fez menção de “tocá-los”, a maioria dos bichinhos se afastava, como se quisesse evitar o contato. Apenas um coelho caramelo pareceu não se importar e se manteve no lugar quando foi “tocado”.
— Acho que temos um favorito — a senhora Jeon murmurou sorrindo para o bichinho que, parecendo compreender, saltitou para fora da confusão de irmãos para mais perto de .
— Acho que Nari está se candidatando ao cargo — a senhorinha, dona da ninhada, murmurou.
abriu um largo sorriso enquanto pegava a coelha mansa no colo e passou a conversar com o animal sobre o quanto Nari teria um trabalho importante como nova companheira de seu melhor amigo.
— Precisará cuidar bem do meu filho, coelha Nari — a senhora Jeon murmurou fazendo um cafuné leve no tufo de pelos brancos no topo da cabeça do bicho.
Ambas, mãe e , saíram do lugar com o ar de que haviam feito a escolha certa.
Demorou certo tempo até Wonwoo se permitir se aproximar emocionalmente de Nari, a senhora Jeon sabia bem. Mas ela conhecia o filho o bastante para ajudar a pequena coelha a abrir caminho até seu coração.
A senhora Jeon conversava com Nari e explicava os momentos certos para o animal interagir com seu novo dono, e aos poucos os dois acabaram se entendendo perfeitamente. Naquele meio tempo, um ano se passou, mas não pareceu mais do que alguns dias para a mãe preocupada e engajada na missão de ver seu filho feliz.
Naquele um ano, Wonwoo não ia desacompanhado à casa memorial onde as cinzas da senhora Jeon estavam, a mulher entendia que o marido e o irmão de Wonwoo não achavam que ele estava preparado para fazer aquilo sozinho. Mas naquele momento, quem estava com seu primogênito era , que de certa forma parecia compreender bem não apenas seu melhor amigo, mas também à matriarca.
— Eu vou te deixar um pouco sozinho — a jovem disse se retirando do local.
A senhora Jeon sorriu. Amava aquela menina tanto quanto amava seus filhos e agradeceu a oportunidade que estava dando a seu Wonwoo naquele momento.
As palavras ditas por seu filho mais velho a tocaram de uma forma que lhe aqueceu o coração. Jeon Wonwoo nunca havia sido muito de demonstrar seu amor por palavras, mas naquele instante, era tudo o que ele tinha. A senhora Jeon ouviu e absorveu cada frase dita pelo filho e sorriu quando o mesmo disse “Você pode ir tranquila,
vai ficar tudo bem”.
Ela se aproximou de Wonwoo, o abraçou e o beijou na bochecha com carinho, logo ouvindo a voz da garota das borboletas a chamando ao longe, no mesmo instante em que abriu a porta do memorial.
— Sentirei saudades,
omma, até algum dia — Wonwoo murmurou antes de sair.
— Eu te amo, filho — a mulher murmurou antes de seguir a voz que a chamava.
A senhora Jeon precisava ver uma última vez seu primogênito. E lá estava ele, sentado no conhecido jardim da casa de na companhia da moça e de sua coelha.
Nari foi saltitando em sua direção e a senhora Jeon sorriu para o animal, lhe fazendo um carinho entre as orelhas.
— Eles estão em boas mãos, não é, Nari? Talvez eu devesse dizer
patas? — A mulher riu consigo mesma.
— Está na hora, senhora Jeon. — A voz da garota das borboletas foi ouvida tanto pelo espírito da mãe quanto pela coelha.
— Tudo bem, estou pronta — a mulher disse sorrindo.
Num passe de mágica, o espírito se metamorfoseou e de uma mulher, transformou-se em uma linda borboleta branca e serena. Num gesto de despedida final, a senhora Jeon pousou na ponta do nariz de seu primogênito e na bochecha de sua filha de alma.
Fim
Nota: Primeiramente eu estava imaginando algo como reencarnação para a mãe do meu Nunu, mas pensei que poderia ser um pouco… desrespeitoso (?) com a memória dela? Colocar religião, crenças e fés numa história é meio delicado, né, então decidi que ao invés de reencarnação a senhora Jeon ia “ensinar” um pet a alegrar a vida do filho.
Então comecei a pensar em como desenvolver o enredo e, primeiramente, a ideia era fazer da parte “extra” a principal, mas pensei que o clima ficaria meio pesado? Resolvi que seria mais leve falar brevemente sobre o assunto pelo POV do Wonwoo e focar um pouco mais na parte da “aceitação” do nosso menino, só que…
… A parte extra pediu para ser escrita, então eis que meio que voltei à ideia inicial, e cá estamos.
Vou dizer que saber da notícia do falecimento da mãe do Nunu foi bem chocante, principalmente porque eu tava fora do fandom fazia alguns anos – conheci os svt em 2019 (e Jeon Wonwoo sempre foi meu favorito, bjos), mas depois fui deixando de lado, até dona Natashia Kitamura me relembrar deles e eu voltar a dar alok por eles *coff-coff*.
Espero que a história tenha sido boa e não ofensiva HAHAH tentei atenuar o máximo a temática “morte” e deixar uma “mensagem” mais acalentadora (?). Que Jeon Wonwoo continue levando alegria e orgulho para sua omma <3
PS: sobre o pai e o irmão do Wonwoo, parece meio que eu esqueci deles na história (DESCULPA :O), mas gosto de pensar que a preocupação da senhora Jeon com eles não era tanta porque eles tiveram tempo de se despedir de forma mais apropriada e gradativa dela.
Que história linda <3
Fico feliz que você tenha abordado de uma forma respeitosa e leve também, me emocionei demais <3
Inclusive, saudades da história principal hihi