Natashia Kitamura
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Influenza

Parte do Projeto Sorteio Surpresa – 1ª Temporada // Tema: A Sogra

  No momento que você ouve o choro do bebê na hora do parto, tudo o que lhe vem à cabeça, é no quanto irá se esforçar para que essa criança seja saudável e feliz. Que viva uma vida cheia de prosperidade e que encontre alguém que a faça feliz, principalmente quando você já não estiver mais neste mundo para cuidar dela. Ao sentir a pequenina mão cobrir seu dedo mindinho com força, procurando segurança, é o momento que lhe faz prometer ser uma pessoa melhor, mais cuidadosa e oferecer sua vida pela dela.
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  Ao ouvir o primeiro ‘mã’, uma tentativa inútil, mas muito bem entendida por nós como ‘mamãe’, lágrimas chegam aos nossos olhos sem nossa permissão e o orgulho toma conta do corpo, de modo que você reforça a sua promessa sobre fazer aquele pedacinho de gente, feliz. E até a criança completar a maioridade, você preza por ela, segue-a sem ela saber, lhe dá bronca, fazendo-a momentaneamente te desgostar e passa a mão em sua cabeça, aprovando suas atitudes. Então chega um momento em que a criança se torna um adulto e ao invés dela correr atrás de você, é você quem está correndo atrás dela, se preocupando, tendo certeza de que saiu agasalhada no dia frio e chuvoso do inverno.
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  Sou mãe de um. , minha vida. Desde neném, um doce. Quando criança, uma alegria. Ao se tornar adolescente, um rebelde charmoso, que recebia cartas de declarações toda semana. Logo que se tornou adulto, entrou na lista dos herdeiros mais bonitos – uma mãe sempre se recusa a chamar seu filho de sexy, isso seria aprovar ver todas as garotas correndo atrás dele -, por causa de meu sogro e meu marido, que trabalham os sete dias da semana para manter uma empresa, agora multinacional, no topo da lucratividade do país. O Brasil, que enfrenta altos impostos e inflações, ainda não chegou ao nível dos Estados Unidos, sendo essa a principal razão de não termos nos mudado quando ainda era pequeno para o país no Norte da América.
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  Por nascer em uma sociedade burocrática e preconceituosa, aprendi a me adaptar às situações e ambientes com facilidade, além de saber como me portar em determinadas ocasiões, por pior que sejam elas. Entretanto, ao contrário de meus próprios pais e com o apoio de meu querido marido, a educação que dei a foi contrária a que nós dois, pais, recebemos.
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   sempre teve liberdade de fazer o que desejava. Quando em sua época rebelde decidiu que colocaria um piercing, não fui contra. Em seguida, pediu por uma tatuagem, não dei objeção. Saía para as festas de sexta-feira e voltava somente no fim da tarde de domingo, arrumado e pronto para o jantar de família, a única regra que impunha a ele e que nunca se contrariou em obedecer. Mais tarde, o piercing fora retirado e a tatuagem apagada com a modernidade da estética, entrou na faculdade de administração e informou a Hugo, meu marido, que iria trabalhar nos negócios da família. Por ter uma infância e adolescência normal como qualquer outro jovem de sua idade, apenas diferenciado por ser obrigado a andar com seguranças, algo que se contrapôs e demorou a se acostumar, seguiu o caminho certo que eu e seu pai sempre desejamos.
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  Trouxe a primeira namorada com 16 anos. A garota tinha a mesma idade, pude ver nos olhos de ambos que não era sério. Não me preocupei, apenas conversei com sobre as responsabilidades de um relacionamento e Hugo se encarregou de falar sobre as relações sexuais. Diferente de alguns de seus colegas de escola, não engravidou nenhuma garota até se formar na faculdade.
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  Nossa sociedade de vez em quando se torna inoportuna com nossas vidas. O dinheiro faz com que tomemos um rumo que, na maioria das vezes, prejudica não somente a própria vida, como também as das outras pessoas diretamente relacionadas a ela. Algo que é de conhecimento comum no mundo é o casamento arranjado. Por mais escassa que ela seja, não foi extinta.
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  - Me recuso. – ouvi a voz de soar grave e alto em nossa sala de jantar. Todos os domingos, quando ele chegava em casa para nosso jantar, me pegava pensando em como estava crescendo e quando foi que todo aquele tempo passou. – Não concordo com casamento arranjado, mãe, a senhora também não concorda, eu sei. – sua voz, mais que nervosa, demonstrava súplica. Olhei para Hugo e com apenas um piscar, sabia que ele havia entendido.
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  - Não estou o obrigando, filho. – começou a dizer. – É apenas uma ideia. A família Hart chegou ao país repleto de poder; seria um ótimo negócio para a família se você e a filha mais velha deles se unissem em matrimônio.
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  - Eu entendo o que o senhor quer dizer, pai. Mas por que falar sobre isso agora? Por acaso devo casar até o final do mês? Se é uma ideia, por que insiste tanto? Já falamos sobre isso na semana passada, agora toda semana teremos que entrar nesse assunto? – o vi se levantar bruscamente de sua cadeira e limpar a boca com o tecido do guardanapo que até à pouco descansava em seu colo. – Perdi a fome, com licença.
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  - , volte aqui! – ouvi Hugo dizer, mas, como quando tinha 17 anos, nosso filho não voltou. Bateu a porta dos fundos, indicando que estaria na área da piscina, provavelmente pensando nervoso sobre a situação sentado no bangalô ouvindo a água da cachoeira que deixávamos ligado à noite para oxigenação da água da piscina. – O que fazer com essa criança? – Hugo resmungou.
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  - Querido, ele já não é mais uma criança. – cobri sua mão com a minha, mesmo não tendo tido sucesso, já que ela era incomparavelmente maior que a minha. – Para ter ficado nervoso assim, deve haver uma razão.
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  - E que razão seria? O que poderia fazer essa ideia dar errado? A garota é solteira–
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  - Já parou para pensar que nosso filho pode estar se relacionando com alguém? – perguntei, demonstrando minha calma de sempre, o único modo de fazê-lo parar para me ouvir. Virou sua atenção para o que disse e, antes que pudesse resmungar algo mais, continuei a falar: – Você, que o tem acompanhado no trabalho ainda não percebeu? Sai no horário normal, os seguranças informam que vai até a zona norte quase todos os dias, passa a noite dormindo em outro lugar que não é seu apartamento… Tem evitado discutir com você e seu pai… Querido. Ele só pode estar em um relacionamento com outra pessoa.
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  - E como é que ele pode estar em um relacionamento e não vir nos apresentar a garota? – Hugo falou tão nervoso, que se esqueceu de engolir a comida. – Como ele quer que eu adivinhe? Já não sou mais jovem para ter esse raciocínio rápido… – voltou a resmungar consigo mesmo, me fazendo soltar uma leve risada, por vê-lo tão bravo consigo por não ter conseguido perceber antes de mim.
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  Como eu havia desconfiado, estava sentado no bangalô, olhando nervoso para o céu, enquanto batia o pé em um tique. Me aproximei lentamente e pousei a mão em sua perna, fazendo-o olhar para mim e parar com o movimento. Depositei o prato de petiscos na mesa de apoio ao lado e o copo com o suco.
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  - Mesmo que esteja bravo com seu pai, não deve parar de comer. – falo, vendo-o suspirar e pegar um dos petiscos, tendo um acesso de tosse. – Desde quando está tossindo?
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  - Acabei de começar. – disse. – Acho que peguei uma friagem mais cedo, joguei futebol com a turma da empresa, mas choveu no fim da tarde.
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  Balancei a cabeça em concordância e mandei que tomasse um remédio. Como sempre, fugia da medicina, dizendo que era forte e logo melhoraria, depois de tomar um bom chá.
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  - A senhora não concorda com a ideia, não é? – o ouvi perguntar pouco tempo depois. Abri um pequeno sorriso e arrumei o xale em meus ombros.
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  - Contanto que você seja feliz, estarei satisfeita com o que decidir. – o vi relaxar os ombros em alívio. – Mas se você tem algo para nos dizer ou apresentar, deve fazê-lo logo; sabe, filho, seu pai já não é mais aquela pessoa sábia de antes. A velhice está tomando conta dele e o fazendo ter uma percepção menor sobre o que acontece ao seu redor.
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  - Já a senhora continua tinindo, né, dona Lana? – recebi um beijo em minha bochecha e um abraço que se manteve por um bom tempo, junto com a tosse dele. Olhei séria para meu filho. – Tá, tá, irei tomar uma pastilha, tudo bem? – me deu outro beijo na bochecha e voltamos a encarar o céu, calados. – Ela é a pessoa mais maravilhosa do mundo.
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  - Mais maravilhosa, é?
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  - Por ela até cometo erros gramaticais. – ele diz, por saber que sei o quanto preza um bom português. sempre foi bem nas matérias linguísticas no colégio e também na faculdade. Hugo sempre disse ter sorte de ter um filho que escrever e discursa tão bem, pois os fatores apresentam sempre mais da metade percentual, uma melhoria. – Quero muito que ela os conheça. A senhora irá adorá-la.
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  - É mesmo? Talvez eu seja um pouco chata no início. Sogras devem ser assim, não é?
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  - Tarde demais, já falei que a senhora é doce o bastante para fazê-la se sentir bem logo no primeiro encontro. – o encarei, indignada por ter acabado com minha diversão e o ouvi soltar a longa risada que sempre adorei ouvir, desde quando era um neném. – Não se preocupe, dona Lana, ela está nervosa o suficiente para achar que a senhora irá odiá-la.
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  - Me fale sobre ela. – peço, analisando seu comportamento. hesitou e desfez nosso abraço, passando a apoiar sua cabeça em meu colo. Quando vi aqueles olhos brilhantes e o sorriso nos lábios, pude entender que, diferente da vez quando trouxe sua primeira namorada para nos apresentar, dessa vez ele estava sendo bastante sério sobre seus sentimentos.
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  - Mãe, ela é extraordinária. É a filha que a senhora pediu quando não sabia que teria um filho homem. – dividimos uma risada e ele voltou a falar. – Tem os cabelos longos e sedosos, que estão sempre cheirosos e brilhantes. Cheiram a fruta. Fruta doce. A pele macia e pouco bronzeada, ela diz que não consegue pegar cor, que sua pele fica apenas vermelha e então volta à tonalidade natural; mesmo assim, não há outro tom de pele que combine melhor com ela. É uma pessoa tão boa, com um coração tão bom que não vê defeitos, somente qualidades. É educada e tem uma visão familiar como a da senhora e do meu pai. Quer ter uma vida calma e feliz, assim como eu. É tão inteligente, que no jogo de palavras, nunca consigo ganhar dela, e não faço de propósito! – solto uma risada ao ver sua empolgação. No final, o vi me encarar. – Mãe, sei que a senhora irá adorá-la. Meu pai também. Ela pode não ser parte da alta sociedade, trabalha bastante para pagar suas contas e evitar que seus pais se preocupem com ela, pois possui irmãs mais novas a quem eles devem alimentar; mas é tão sensata quanto qualquer mulher aqui dentro.
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  - Com uma descrição dessas, como posso ser uma sogra ruim à uma garota de ouro? – digo, vendo-o abrir um enorme sorriso, como fazia quando o parabenizava por tirar notas boas. – Espero que a traga logo para nos conhecer, filho. E espero ainda mais que tome um xarope para essa tosse que não quer deixar sua garganta em paz. – dei um tapinha em seu pescoço, vendo-o rir mais um pouco antes de voltar a comer os petiscos que havia trazido.
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   nos apresentou à duas semanas depois. Cansado de ouvir indiretas de Hugo, marcou um jantar de sexta-feira para conhecermos a nova possível integrante da família. Assim como havia descrito antes, a garota era um doce, com os cabelos brilhantes e a pele perfeita para seu corpo. Vi que era inteligente como e, da maneira que ele havia me dito, demonstrou-se nervosa ao conversar comigo e Hugo.
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  Durante as semanas seguinte que se passaram desde o primeiro encontro com , me pediu para fazê-la se sentir mais confortável em nosso círculo social, já que, agora que eu e Hugo havíamos a aprovado e conhecido sua família – humilde como ele havia descrito -, ele gostaria de poder andar com ele para onde quisesse, sem ter de se preocupar com os olhares dos empresários concorrentes ou da família Hart, a quem a filha mais velha estava destinada a .
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  Hugo estava pronto para recusar a oferta, agora que nosso filho estava feliz com sua amada. Queria, tanto quanto eu, que ele e parassem com os encontros escondidos. Entretanto, um dia antes da reunião marcada com o chefe da família Hart, a bolsa de valores despencou e o império de nossa família começou a ruir. Em questão de algumas horas, Hugo se encontrava desesperado, trancado em seu escritório com seus conselheiros. chegou no meio da noite, preocupado e apressado. Tentei falar com ele, mas tudo o que fez foi dizer que resolveria o problema e que não era para eu me preocupar. Como se eu, vendo meu marido e filho na situação em que estavam, conseguisse relaxar.
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  A reunião sem fim acabou no início da madrugada. Ofereci um jantar ou um chá calmante para todos, mas disseram que suas esposas e maridos os aguardavam em suas casas. Seguramente, todos deixaram nossa residência em seus carros.
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  Bati na porta do escritório de e Hugo, mas os dois não quiseram falar muito mais sobre o assunto. , principalmente, estava pálido, provavelmente ainda muito preocupado, já que nunca havia passado por uma crise anteriormente. Pedi que visse o médico da família, mas disse que logo mais estaria melhor. Passei a noite cuidando de uma febre que sumiu pela manhã.
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  Me mantive aflita durante todo o resto da semana. Quarta, quinta, sexta, quando foi sábado, Hugo pediu que me arrumasse para um evento importante. Perguntei o que seria e por que não havia sido avisada com antecedência. Assim que o vi desviar o olhar de mim, sabia que havia algo de errado.
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  - Hugo. O que aconteceu? Sobre o que é a festa?
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  - Querida… Venha cá. – puxou minha mão e me levou até perto da sacada, onde haviam duas poltronas e uma mesa de centro que usava para refletir quando cansada ou tomar o chá da tarde quando adoecida. – , na terça-feira, tomou uma importante decisão em sua vida. Olhei para ele, estranhando seu comportamento. – Ele decidiu que aceitaria a proposta da família Hart.
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  Não me movi um milímetro. Fiquei parada, encarando meu marido com o mesmo olhar que dei antes de receber a notícia.
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  - Mas… E ? Por quê? O que aconteceu?
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  - Pelo bem de nossa família…
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  - Hugo. – me levantei. – Hugo, querido, o que nós combinamos quando nasceu? Que ele não seria prejudicado por toda essa burocracia injusta que ocorre no mundo empresarial. Você jurou diante do berço do hospital dele que iria protegê-lo! – minha voz se tornou mais alta, algo que não acontecia há muito tempo. – Como pôde deixá-lo tomar essa decisão? Sabendo que ele está em um relacionamento… Que pai deseja que um filho deixe alguém que ama pelo dinheiro?
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  - Eu tentei! – Hugo falou mais alto que eu, me calando. – Eu tentei falar com ele, dizer que é uma besteira! Mas você conhece o menino! Puxou a você! Toda essa teimosia! Dizendo que era a única maneira, quando eu disse que daria um jeito! – seu rosto passou a avermelhar com a raiva que sentia. – Acha que estou feliz? Acha que não gosto da menina ?
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  A sorte é que estava sentada na poltrona. Apenas me encostei, extremamente entristecida por saber que meu filho estava desistindo de viver uma vida feliz ao lado de quem ama para salvar algo que acha ser importante para nossa família.
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  - Preciso conversar com ele.
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  - Lana. – Hugo olhou-me sério, quando me levantei, fazendo menção de pegar o telefone. – Hoje é o noivado. Está feito.
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  Todas aquelas pessoas, a decoração esbanjando uma riqueza que acabamos de perder, os votos de felicidade que não serão utilizados para nada… Toda a situação me trazia tristeza. Como poderia aceitar Cinthia, a filha mais velha da família Hart? Vi seu vestido vermelho, ousado, com as costas nuas à mostra, como se fosse em uma premiação ao invés de seu próprio noivado. Demonstrava pudor e vaidade. Suspirei, mais uma vez desinteressada em continuar naquele ambiente. Com um falso sorriso, cumprimentei a família Hart. A mãe, tão perua quanto a filha; o pai, claramente do tipo que compra mulheres para se satisfazer, e as duas filhas mais novas, uma cópia idêntica da mãe e irmã mais velha, trocando olhares sensuais com empregados da festa e convidados masculinos de outras famílias.
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  Procurei por no meio de toda aquela multidão, ainda inconformada de não ter tido a oportunidade de conversar com ele sobre o assunto. Foi quando vi a pobre no meio do salão, junto com seguranças da festa e Cinthia à sua frente. Estava tão bem vestida, simples, mas comportada.
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  - Qual a marca de seu vestido? Aposto que teve de remendá-lo para vir até aqui. – ouvi a boca venenosa de Cinthia dizer à .
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  Apenas eu sei o tanto que quis mover meus pés para ajudar ao amor do meu filho. Assim que fiz menção, o vi próximo a mim, mas não tanto, observar a cena. Se aproximou lentamente das duas e, depois de uma conversa, deu as costas à e saiu acompanhando Cinthia, com a mão pousada nas costas nuas dela.
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  Olhei para o lado, me perguntando se alguém não estava vendo; que ingenuidade a minha, era claro que todos estavam assistindo. Hugo, parado ao meu lado, estava tão chocado quanto eu. Assim que passou por nós, como uma boa sogra, deveria conversar com ela, mas tudo o que fiz foi me manter parada, olhando-a com pena. Balançou a cabeça, como se estivesse agradecendo pelos bons momentos que passou com e então, com os braços inertes pelos seguranças, foi retirada do salão.
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  - Querido… – sussurrei baixo, vendo-o levantar a mão para seus seguranças, mandando-os seguir a garota e garantir que ela chegasse segura em sua residência. – Não posso ficar mais aqui. – disse para Hugo, que tentou mudar minha ideia, mas viu que não conseguiria. No fim, inventou uma história para que eu pudesse deixar a festa mais cedo.
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  Depois daquela semana, se tornou uma pedra. Não tinha expressão, não falava muito e apenas estava com a aparência pálida. Passara a trazer Cinthia para os jantares de domingo, já que Denis Hart, pai de Cinthia, sabia que era um compromisso familiar importante e que, como Cinthia faria em breve parte de nossa família, era justo que participasse. Nosso evento se tornou algo fúnebre, sem emoção. Não tinha a menor vontade de preparar algo como antes, por isso, contratamos um chef de cozinha que passou a preparar todo o menu.
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  Um mês antes do casamento, enquanto voltava de uma reunião de amigas, que sempre fazíamos para o bem de nossa sociedade mimada, vi Cinthia entrar acompanhada de um rapaz em um hotel. Pedi para meu motorista estacionar e pacientemente aguardei-a sair para ter certeza de que era ela. Era Cinthia e o filho mais velho dos Becker, um dos amigos de Hugo. Naquele dia, logo que entrei em minha sala de descanso, chorei por . Em como havia se sacrificado em vão; como fez minha ex tão querida nora sofrer em vão.
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  Duas semanas depois de minha descoberta, demonstrou fraqueza e desmaiou enquanto se preparava para dormir. No hospital, o médico informou que possui um caso comum de gripe que se agravou. A influenza, vírus da gripe, se não tratada com cautela, pode acabar se agravando e tornando-se uma pneumonia. , que nunca gostou de se medicar ou ser medicado, evitou o máximo que pode encontrar com um profissional ou ir ao hospital, entretanto, agora que chegou, passou a ser direto internado na UTI.
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  Vários procedimentos foram realizados para a melhoria e limpeza dos pulmões, mas o muco alojado estava espesso e não estava sendo fácil tentar retirá-lo dali. Durante alguns dias, permaneci com os olhos pregados, ao lado da cama de , que estava entubado para que respirasse melhor. Ver meu filho ali, naquele estado, acabava com meu corpo e meu psicológico. Cada minuto que passava, cada hora que era gasta sem nada que pudesse fazer, era como se um pedaço de mim fosse retirado à toa. Durante todo o tempo sedado, sentia a falta de sua voz, de sua risada, dos olhos brilhantes e do sorriso nos lábios.
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   acordou somente alguns dias. Tudo o que fez foi pedir que eu escrevesse uma carta à e entregasse a ela. Chorei quando me pediu e chorei ainda mais durante todo o momento em que escrevia a carta com minha mão trêmula. Hugo chegou logo depois, tendo uma breve conversa com . Estava em uma conversa com o médico da família, quando foi minha vez de ficar fora do quarto da UTI, doutor Kevin foi bastante sincero comigo; com apenas um balançar de cabeça, vi minha vida chegar ao fim.
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  Forte como uma mãe de verdade, voltei ao quarto minutos depois, vendo os olhos de Hugo tão vermelhos quanto estavam os meus.
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  - Eu não poderia ter sido mais sortudo por ter tido pais como os senhores. – foi a última coisa que o ouvimos dizer antes de fechar os olhos para sempre.
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  Eram 15:24. O dia estava nublado, indicando que iria chover.
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  Há três meses, estava ao meu lado, com um sorriso nos lábios falando sobre , a quem aguardava pacientemente na sala do velório, que já havia acontecido. Hugo, a pedido meu, solicitou que todos fossem embora, pois gostaria de finalizar o velório somente entre eu e ele. Uma dor que somente os pais devem sentir sozinhos.
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  Entretanto, a razão pelo qual solicitei que todos fossem embora, era porque gostaria de, ao menos, realizar o último pedido de . De ser, pela última vez, uma boa mãe e sogra.
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   entrou na sala com os lábios trêmulos. Antes mesmo de me cumprimentar com um aceno, como sempre fazia por ser tímida, lhe cobri em um abraço, desabando todo o choro que suportei desde a morte de . Como uma boa nora, senti suas lágrimas em minha roupa, mas, acima de tudo, o conforto de suas mãos acariciando minhas costas. Por mais que devesse me sentir mal por estar sendo confortada por alguém que deveria me odiar, fiquei feliz em saber que ela não guardava rancor de mim ou de Hugo.
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  Assim que nos separamos, segurei em seu rosto e olhei em seus olhos. Ela era a filha que eu pedi quando não sabia que teria um menino.
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  Eu, o padre e Hugo saímos da sala para darmos privacidade ao último adeus de . Assim que Hugo fechou a porta atrás de mim, ouvimos o choro forte de na sala. Mesmo depois de humilhada, deixada de lado, derrama lágrimas sincera de tristeza, enquanto Cinthia sequer apareceu ao velório, com a mensagem dada por seus pais de que estava triste demais para se despedir de . Como poderia, quando sequer passou tempo o suficiente com meu filho?
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  O tempo de me culpar por ter sido uma mãe menos cuidadosa, por querer agradar a e deixá-lo tossir, acreditando que se cuidaria; por achar que a febre fosse de preocupação; quando sabia que disfarçava a voz para não me preocupar e pedir para que visitasse uma clínica, esse tempo passou. Assim como uma esposa enviúva de seu marido, me sinto viúva de meu filho.
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  Quando deram vinte minutos, o padre pediu para que finalizássemos o velório. Vimos com o corpo soluçando e Hugo lhe ofereceu um lenço, no qual ela aceitou timidamente. Vi a camisa de linho de repleto de manchas de lágrimas que ela havia derrubado nos últimos vinte minutos. O padre citou palavras bonitas de despedida. Fez aumentar minha saudade e meu desespero em saber que perdi a minha vida. Olhei para e suas lágrimas já haviam cessado. Se despediu de Hugo com um abraço, meu marido pediu desculpas por todo o mal que deixou acontecer; como uma boa nora, balançou a cabeça dizendo que todo pai preza pelo bem do filho; sabia o que estava fazendo, apenas não sabia da consequência com o que menos se preocupava.
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  Ao chegar na minha vez de me despedir, desatei a chorar. Por vários minutos troquei palavras com , que se demonstrou ainda mais uma parte de . Entreguei a ela a carta que ele havia narrado próximo à sua morte, o que a fez se surpreender. Com as mãos trêmulas, pegou a carta que ofereci e agradeceu.
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  - Obrigada, senhora . Se não fosse pela senhora ter dado a luz a , eu nunca saberia o que é amar e ser retribuída. Seu filho… Ele sempre será a pessoa mais importante que passou em minha vida.
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  Depois do velório de , nunca mais a vi. Apenas rezei para que ela tivesse toda a felicidade que meu filho estava disposto a dar. Tentei, pelo menos um pouco, ser a sogra que meu filho sempre achou que iria ser.
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Fim

  Nota: Foi a primeira vez que escrevi uma história desse tipo, narrada por uma outra personagem. Gostei da história, mesmo tendo sido um tanto depressiva. Acho que, na verdade, essa foi a intenção. Terminei de ler “Como eu era antes de você” da Jojo Moyes, meu livro favorito dela até agora e tive a ideia para a fanfic desse Projeto, o que me deixou aliviada, já que eu sempre tenho ideias tardias para os projetos que participo. Enviei minha fanfic no dia 16 de Janeiro, olhem que orgulho! Esse ano estou com tudo!
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  Espero que, mesmo que estejam tristes pelo que aconteceu com a história, tenham gostado! 😀
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