Ice Cream Cake

  Aquela era minha oportunidade de ouro para brilhar e mostrar do que sou capaz na confeitaria. Ser uma pâtisserie era meu sonho desde criança e batalhava muito para realizá-lo. Agora estava em frente a uma bancada de trabalho, lutando contra o tempo para entregar a melhor sobremesa que poderia fazer na vida. 

  Mas a pressão não vinha pelo tempo.

  Vinha por parte do meu concorrente.

  A rivalidade entre eu e começou quando o sem noção do cantor foi se aventurar em um curso de verão na melhor confeitaria da França. Ele tinha como pagar, pois, era uma celebridade em seu país e, para ser honesta, nem estava pagando de fato, ele estava recebendo um cachê a parte para participar do curso e atrair alunas bobas para a confeitaria. Já eu, tinha quase chorado sangue para ganhar uma bolsa de estudos ofertada para o mundo todo. Não tinha sido fácil chegar ali e durante todo o ensino, meu talento foi ofuscado pela celebridade da Coréia. 

  Eu não conseguia acreditar que ele havia escolhido a mesma sobremesa que eu. Bufei de raiva quando descobri. Para ser convidada a participar daquele concurso de patisserie televisionado pelo canal MBC não foi fácil, eu não tinha uma indicação, apenas me inscrevi e passei por uma enorme seleção para chegar ao programa. Agora, sendo finalista com , tinha que mais uma vez provar meu valor concorrendo contra ele.

  — Vamos, , seja rápida, mas cuidadosa — sussurrei para mim, enquanto misturava o creme de chocolate branco.

  Tiramos as sobremesas na sorte. Ele pegou o papel escrito Ice Cream Cake, a sobremesa refrescante e gelada que combinava com ele. Enquanto eu, fiquei com o trabalhoso Noir, uma sobremesa em 3 camadas que harmoniza chocolate ao leite, branco e amargo. O bolo da base seria bem fino, em que colocaria um toque de nozes e baunilha, para contrastar o chocolate amargo. O tempo era pouco e eu estava no momento de fazer a primeira montagem para deixar ao creme de chocolate branco, dentro do parfait de chocolate. Eu tinha que contar com a potência do freezer para fazer seu trabalho em tempo recorde.

  — Está tudo bem aí?! — perguntou mantendo seu olhar em sua panela. — Você sempre está muito calada.

  — Quem gosta de cantar enquanto cozinha aqui é você — retruquei também concentrada no que fazia.

  — Então posso cantar?! — perguntou ele agindo como se não tivéssemos sendo filmados em um estúdio rodeado de pessoas, produtores e alguns fotógrafos.

  — Fique à vontade, assim aumenta a audiência. — Brinquei.

  Ele riu.

  — Como sei que gosta do SHINee, vou cantar Noona Neomu Yeppeo para você — disse ele começando a cantarolar o ritmo da música.

  Em segundos a primeira estrofe foi introduzida, fazendo todos ficarem em silêncio e concentrados nele. Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim para mim. Ao mesmo tempo que ouvi-lo cantar me deixava tranquila e mais calma, também tirava um pouco da minha concentração, lutando contra meus olhos que insistiam em seguir na sua direção. O tempo foi passando com ele cantando enquanto preparamos tudo. Foi relaxante ouvi-lo, mas não confessaria.

  Eu não dava muita atenção e credibilidade ao cantor celebridade. Tira uma frustração por nossos tempos do curso em Paris. Tensão no ar, após o tempo se esgotar a apresentarmos as sobremesas; eu havia me empenhado muito e dado o meu melhor, e ele com certeza também. Nunca o vi tão concentrado assim em todo o nosso curso, mas daquela vez, mesmo que em meio a cantoria, levou nossa competição a sério. Os jurados experimentaram ambos os pratos e elogiaram muito cada um de nós.

  Não encontraram defeitos, mas teriam que escolher o melhor. 

  — Enfim, a sobremesa vencedora foi… — a jurada celebridade me olhou e sorriu. — O Noir da patisserie Miller.

  Eles soltaram papéis picados em nós e me parabenizaram me dando o troféu. Enfim, fui a patisserie a ganhar o primeiro concurso de confeitaria promovido pela MBC e com o valor do prêmio, poderia pensar em montar minha própria cafeteria no futuro. A transmissão foi encerrada após alguns minutos da jurada celebridade agradecer ao público pela audiência, ao por ter participado e a mim por ter vencido também. Após todas as felicitações e a rede de confeitarias que patrocinava vir falar comigo me oferecendo um contrato de dois anos de exclusividade, me afastei de todos.

  Segui para o balcão de , estava curiosa para provar sua sobremesa. Assim que dei uma garfada e coloquei na boca, senti o melhor sabor da minha vida. Leve e suave, que me levava a viajar em minhas lembranças ao passado em que fazia compotas de morango com minha avó. Sim, ele havia utilizado essência de morango na base do bolo, misturada com essência de maracujá com chocolate branco para o sorvete. 

  Definitivamente seu Ice Cream Cake estava muito mais gostoso que o meu Noir.

  Mas por que eu venci?! já tinha deixado o estúdio. Eu me retirei também e segui correndo pelos corredores atrás dele, queria entender o que tinha acontecido. Eu o alcancei pouco antes de entrar no carro de sua gravadora.

  — ! — gritei o fazendo parar e me olhar.

  — ?! — Ele se afastou do carro e caminhou até mim.

  Eu tinha parado com as mãos no joelho retomando o fôlego.

  — O que faz aqui? — perguntou confuso.

  — Por que eu ganhei?! — perguntei a ele.

  — Do que está falando? Você ganhou porque seu prato foi o melhor — disse ele.

  — Não, eu experimentei sua sobremesa e sabe que não foi — retruquei.

  Ele manteve a serenidade no olhar.

  — Estava em dívida com você. Quando me convidaram para participar e soube que estava entre os candidatos, somente aceitaria se você fosse a ganhadora caso competisse na final comigo. — Revelou ele com tranquilidade.

  — Mas por que fez isso? — indaguei.

  — Porque você merece, sempre foi melhor do que eu e sempre tirei isso de você — confessou ele. — Eu gostei de fazer aquele curso com você e da sua companhia na cozinha, me deixe fazer isso desta vez, para o seu futuro profissional.

  Eu me senti estática com essa atitude dele. se mostrando não um artista mimado que sempre quer atenção, mas um homem justo que confessa os erros e tenta repará-los.

  — Tudo bem, eu aceito, mas com uma condição — falei.

  — Qual? — perguntou ele curioso.

  — Uma revanche justa e sem favoritismos. — Propus esticando a mão para ele.

  — Fechado. — Ele apertou minha mão. — Mal posso esperar para cozinhar com você novamente.

  Não era somente ele que estaria ansioso para a revanche.

  Agora eu iria me aperfeiçoar mais, sem medo de perder novamente para ele…

  Pois somente queria cozinhar com meu rival patisserie e cantor, .