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I Need U

Prólogo

  A história que vou contar agora pode parecer triste para umas pessoas e surreal para outras, mas independente de tudo o que achar, irá te fazer pensar em muitas coisas.
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  Tudo começa com duas vidas vazias que se cruzam às margens de uma praia na ilha de Jeju; se foi amor à primeira vista, eu não sei, mas tudo que parece ser perfeito tem seu defeito, e aquele casal tinha um obstáculo. A garota era cega e mesmo tendo ao seu lado alguém tão apaixonado e disposto a enfrentar os preconceitos, ela ainda era infeliz e se odiava pelo fato de ser desabilitada.
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  Isso fazia com que seu ódio espalhasse para as pessoas em sua volta, porém o único sentimento bom que a mantinha com esperança era seu amor por seu namorado. Em um dia, com lágrimas escorrendo em sua face e o coração doendo por não poder ver a face da pessoa que mais amava na vida, ela disse a ele:
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  — Se eu pudesse ver o que mais amo no mundo, eu me casaria logo com você.
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  Para aqueles que não acreditam em milagres, devo contar que aconteceu na vida dela: em um dia de benção, ela recebeu a notícia que alguém havia doado um par de córneas a ela. Sem pensar em mais nada e se preocupar em saber quem era o doador, a família da garota assentiu e ajudou com os custos do hospital. Fizeram imediatamente a operação, tudo ocorreu bem e sua reabilitação pós-operatória foi um sucesso na opinião dos médicos. Foi então, na alta do hospital, que o seu namorado chegou com flores pra ela e perguntou:
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  — Agora que pode ver, você se casa comigo?
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  A garota estava chocada, quando ela viu que seu namorado era cego. Aquele momento era importante para o namorado, afinal, ele havia esperado tanto para que ela finalmente pudesse vê-lo, mas nem tudo são sorrisos e comemorações. A garota devolveu as flores para ele, juntamente com a resposta que ninguém imaginaria sair de sua boca:
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  — Eu sinto muito, mas não posso me casar com você! Porque você é cego.
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  O namorado afastando-se dela lentamente em lágrimas, desabafando:
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  — Por favor, apenas cuide bem dos meus olhos… Eles eram muito importantes pra mim.
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  Como eu disse, é algo difícil de imaginar, poderia ser até uma história de reflexão sobre a vida, se esta história não fosse minha. Sim, sou eu, o namorado que doou as córneas e perdeu o coração.
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As palavras que estou dizendo agora,
Não sei se irão te machucar,
Elas provavelmente farão você me odiar para sempre.
– Lonely / 2NE1

Capítulo 1

  Foi doloroso nos primeiros anos, não somente por ter que me adaptar à nova situação física que me encontrava, mas a parte de ter que aceitar que a garota que eu pensava que me amava, havia me deixado. Admitir que aquelas palavras tão duras saíram de sua boca, fazia meu coração se rasgar em mil pedaços. Me sentia envergonhado perante minha família, eles eram contra o que eu tinha feito, mas não estava arrependido, era uma prova de amor para a garota que eu amava.
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  Infelizmente, percebi tarde demais que ela não me amava na mesma proporção, e toda essa reviravolta me fez ser expulso de casa e ir morar do outro lado do mundo, com a única pessoa da família que me estendeu a mão, meu primo . Morar em Manhattan seria minha salvação e ao mesmo tempo um consolo, morando de favor no apartamento do meu primo e sua noiva, mesmo que esse não fosse o único lugar que eu pudesse ficar, tenho certeza que não conseguiria ficar em Seul.
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  Estava completando 7 anos na escuridão, passando a maior parte dos meus dias no quarto, ao lado da janela, tentar ouvir os pássaros cantando enquanto os carros passavam era minha distração favorita, e uma forma de elevar ainda mais meus sentidos, já que eu havia perdido um. Minha rotina era quebrada quando me arrastava para os lugares como se eu fosse uma criança. E naquele dia ele me arrastaria para uma cafeteria recém-inaugurada bem em frente ao prédio onde morávamos.
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  — Posso dizer o quanto não estou com a mínima vontade de sair? — disse pegando minha carteira em cima da mesa de canto ao lado da cama.
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  — Não. — ele riu com ar meio sarcástico — Já faz quinze dias que você não sai de casa.
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  — Então, seria uma pena se você não me deixasse bater meu recorde. — expliquei colocando meus óculos escuros — Não quero esbarrar em pessoas, não quero sentir perfumes fortes, não quero que o mundo me veja.
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  — Yah, pare de reclamar, você é o cego mais normal que eu conheço, as pessoas nem percebem se eu não falo. — retrucou ele como se fosse algo positivo em minha vida.
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  — Isso é porque eu sei disfarçar muito bem. — dei de ombros encostando minha mão direita na porta — E onde está sua noiva? Deveria levar ela.
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  — Ah, nem chegou aos setenta e já parece um velho ranzinza. — ele riu seguindo pelo corredor até a sala — Hoje é o dia dos homens, além do mais, Nalla está numa viagem a trabalho.
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  — Hum. — resmunguei o seguindo em direção à porta, porém ao passar pelo sofá esbarrei na mesa de centro batendo minha perna nela. — Yah.
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  — Oh, aish, eu esqueci de falar que ela trocou os móveis de lugar hoje cedo antes de ir.
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  — Não diga. — respirei fundo prendendo outro grito de raiva — Ela adora fazer isso quando vai viajar.
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  — Tenho certeza que logo você se adapta novamente. — senti ele prendendo um riso.
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  — Vamos, antes que que mude de ideia.
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  Para minha surpresa a cafeteria tinha um clima agradável e incomum, nada comparado as outras cafeterias que me levava. Assim que nos sentamos, comecei a perceber e distinguir toda a movimentação do lugar através da minha audição. Era um fato, para conseguir sobreviver, tive que evoluir todos os meus outros sentidos, fazendo-os ficarem mais avulsados, principalmente a audição e o olfato. Mesmo de óculos escuros e agindo o mais normal possível, sempre deixava escapar minha situação, eu sabia que não era má intenção dele, mas ficava com um pouco de amargura por isso.
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  — Bom dia, desejam fazer o pedido agora? — perguntou a atendente, tinha uma voz fina e um pouco aguda, aquilo machucava um pouco meus ouvidos.
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  — Claro. — respondi mais que depressa, não queria que ela demorasse, me senti um pouco zonzo pelo forte perfume dela.
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  — Então vou escolher por nós dois. — disse , senti que ele tinha movido o braço, deveria estar pegando o cardápio.
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  O perfume daquela atendente e sua voz aguda estavam me deixando um pouco nervoso, e meu primo não estava percebendo o quanto sua demora era uma agonia para mim. Comecei a bater com meus dedos na mesa em uma sincronia, aquilo era um sinal para ser mais rápido, assim que ele fez o pedido e a atender se afastou, suspirei fundo.
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  — O que houve? — perguntou ele.
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  — O perfume dela estava me incomodando. — expliquei, respirei de leve e logo senti um cheiro mais agradável vindo da mesa ao lado.
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  — Bom dia, desejam mais alguma coisa? — perguntou uma voz diferente vindo da mesa ao lado, pude perceber que não era a mesma atendente, seu perfume parecia ser feito de essência de jasmim.
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  — Ah, não, obrigado, estamos satisfeitos. — disse uma voz rouca ao tossir um pouco.
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  — Se precisarem de algo, só chamar. — aquela voz sim, era suave e angelical, eram música para meus ouvidos.
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  — Quem era? — perguntei a .
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  — O quê? — perguntou ele como se não estivesse prestando atenção em mim.
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  — Perguntei quem era, falando ao lado.
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  — Uma outra atendente, eu acho. — ele parecia estar se espreguiçando na cadeira — Viva, nosso café chegou.
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  — Aqui está senhores, mais alguma coisa, é só chamar. — disse a atendente de voz aguda, demorado alguns segundos para se retirar.
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  Seria demais querer que a outra atendesse nossa mesa também? Comecei a memorizar aquele perfume suave que havia sentido, pensando se realmente era dela, ou da senhora que estava acompanhando o homem da mesa ao lado.
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  — ? — disse — Está me ouvindo?
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  — O quê? — movimentei minha face para a direção da voz dele — O que foi?
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  — Estou te perguntando se você vai aceitar a proposta de trabalho da redação. — explicou ele.
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  — Ainda não sei. — virei minha face, não queria tocar nesse assunto.
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  — Eu acho que deveria, você está parado há sete anos, precisa voltar a viver.
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  Fiquei em silêncio enquanto ele falava, não conseguia mais pensar em nada além da dona daquele perfume e voz, ela tinha roubado minha atenção. Meu foco era tamanho, que assim que ela se aproximou da mesa ao lado novamente, eu acompanhei seus passos de volta até o balcão. No final do discurso de , que eu nem tinha ouvido, eu só concordei novamente dizendo que daria a resposta no dia seguinte. Ficamos mais alguns minutos após o café, até que pagou a conta. Nunca fui tão lento em me levantar e sair de um lugar, mas minha demora até chegar na porta tinha um motivo, aproveitei o “longo” caminho para rastrear a dona do perfume de jasmim.
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  Foi um tanto inútil, não senti aquele aroma agradável novamente. me deixou na portaria do nosso prédio e seguiu para a redação do jornal onde trabalhava. Mesmo sendo cego, ao longo desses anos eu tinha me acostumado com tudo, a distância dos lugares, o tempo que o elevador levava para subir até o meu andar, a disposição dos móveis no apartamento. Sempre demorava cerca de três dias para me adaptar a uma coisa nova em minha rotina, principalmente quando Nalla trocava os móveis de lugar, algo que tinha acontecido nesta manhã.
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  Eu não gostava de usar aquela bengala para deficientes visuais, já era triste e vergonhoso demais depender do meu primo, então eu me esforçava o dobro, por isso na maior parte do tempo eu andava normalmente, e torcia para não esquecer a trajetória do caminho e sempre confiando em minha audição. Assim que fechei a porta, caminhei até meu quarto, tocando de leve na parede em alguns pontos para me certificar que Nalla, não tinha trocado os quadros de lugar também.
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  — Mais um dia monótono. — suspirei fraco.
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  Meus dias eram todos assim, monótonos e solitários, minhas tardes em pleno silêncio e à noite lia alguma coisa para tentar dormir. Em raros momentos, ouvia do quarto os filmes que e Nalla assistiam na sala, eu até poderia me juntar a eles, mas me sentia desconfortável em atrapalhar o momento deles juntos. Sentei na poltrona que tinha ao lado da janela, o sol ainda entrava pela janela naquela hora do dia, não deveria ser nem perto da hora do almoço.
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  Comecei a pensar na dona da voz suave, analisando todas as possibilidades do perfume de jasmim ser dela, consegui ouvir todos que estavam naquela cafeteria, até mesmo o cozinheiro da voz fanha. Uma frustração para mim, que queria ouvir uma única voz, que permaneceu em silêncio a maior parte do tempo que estive lá. Comecei a cogitar a ideia de aparecer na cafeteria à tarde, quem sabe eu não a encontraria novamente. Esperei as horas passarem, até que o despertador tocou, havia programado para que eu não me esquecesse as horas da refeição, era inútil, já que na maioria das vezes eu estava sem fome e sem vontade de viver.
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  Assim que troquei de roupa, respirei fundo, era uma loucura o que estava fazendo, voltaria a cafeteria para encontrar uma pessoa que eu nem poderia ver. Fiquei na frente do elevador por alguns minutos, refletindo se deveria ou não mudar minha rotina de solidão por causa de uma voz que poderia nem voltar a ouvir. Mas aquela voz havia despertado algo dentro de mim, eu queria ouvir novamente, a pouca coragem que me restava me fez apertar o botão e entrar no elevador. Talvez minhas expectativas estavam altas demais, porém minhas esperanças caíram após três horas sentado em uma mesa ao lado da vidraça lateral, esperando ouvir aquela voz novamente.
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  Ingênuo da minha parte, jogar toda minha atenção em uma voz que nem sei de quem é, mas para a escuridão que eu estava vivendo, essa voz era como uma luz no fim do túnel. Minha vontade de esperar já estava perdida, assim que a atendente do perfume forte veio me perguntar se eu queria mais alguma coisa. Paguei a conta com o cartão que tinha me dado para despesas gerais e emergência, demorei um pouco para sair, ainda tinha uma ponta de esperança de perceber sua presença ali, mas os passos até a porta se tornaram pesados e solitários por não ouvir aquela voz.
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  Respirei fundo após sair da cafeteria, o clima parecia um pouco mais pesado e úmido do que o natural, se eu fosse um meteorologista, afirmaria que iria chover naquela tarde. Dou alguns passos até a faixa para atravessar a rua, esperei um pouco, conseguia ouvir os carros passando por mim, de repente meu corpo congelou, era resultado do que eu estava procurando durante aquelas horas todas, senti vindo do meu lado direito aquele perfume de jasmim que me fez sair de casa.
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  Estava sem reação, como eu iria falar com uma pessoa, que eu estava procurando por ela, por causa do seu perfume? Devagar, virei minha face para o lado em que ela estava, e quando tomei coragem para falar, ela deu um impulso e começou a atravessar a rua. Era frustrante aquele momento, poderia não ser ela, mas e se fosse ela? Era uma chance em um milhão, foi então que ouvi bem ao longe um barulho estranho que foi crescendo, parecia um carro desgovernado. Senti uma descarga de adrenalina ao pensar que ela poderia ser atropelada, mas como um cego poderia salvar alguém?
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  Senti uma raiva imensa de mim naquele momento, se eu enxergasse poderia salvar ela. Assim que senti o barulho do carro ainda mais perto, não me importei mais com minhas condições, corri na direção dela. Como eu disse no início, milagres acontecem e de alguma forma louca e estranha eu consegui, a segurei envolvendo meus braços nela como proteção e lancei nossos corpos em direção a calçada.
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  — Obrigada. — disse aquela voz que queria ouvir, mesmo ofegante e com vestígios de medo, era ela.
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  Naquele momento, eu não sabia se meu coração estava acelerado por causa da adrenalina, ou por ouvir a voz dela, e para selar aquele momento, ainda sentados no chão, a primeira gota de chuva caiu em minha face.
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Eu quero saber mais sobre você
Como explorador que se aventura através de sua floresta profunda do mistério.”
– Just One Day / BangTan Boys (BTS)

Capítulo 2

  Mesmo debaixo da chuva, muitas pessoas se aproximaram para nos ajudar a levantar. Curiosamente, estavam mais preocupados com ela do que comigo. Uma senhora me entregou meu óculos escuro que havia caído no chão. Coloquei assim que peguei da mão dela, não queria que a moça do perfume descobrisse que eu era cego, apesar de muitas pessoas ao nosso redor, eu conseguia sentir sua respiração ainda ofegante.
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  — Obrigada. — agradeceu ela novamente. — Muito obrigada, por me salvar.
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  — Ah, que bom que você está bem. — reconheci aquela voz, era a mulher do perfume forte e foz fina. — Quando vi o carro vindo de dentro da cafeteria, senti um aperto.
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  — Não se preocupe, Darya, estou bem. — retrucou ela. — Graças a ele.
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  — Oh, o cliente estranho. — sussurrou a tal Darya, eu consegui ouvi, não era novidade. — Ah, bem, agradecemos.
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  — Fiz o que qualquer pessoa poderia fazer. — respondi normalmente mantendo minha face voltada para a rua.
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  — Mesmo assim, estou grata por isso. — sua voz suave e doce parecia que estava sorrindo, estava começando a desejar ver seu sorriso.
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  — Venha, , seu joelho está ralado, temos que fazer um curativo antes que infeccione.
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  — Tudo bem.
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  Senti elas se afastando de mim. Aos poucos, aquelas pessoas curiosas foram se dispersando, continuei parado por mais alguns minutos, pensando. Então seu nome era , estava aliviado por ter salvo ela e por saber seu nome, era como uma confirmação de que a dona daquela voz era real. Meu coração acelerou um pouco, não conseguiria deixar de pensar nela agora, e estava pensando em tomar café todas as manhãs na cafeteria nova.
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  — ? — aquela voz era de .
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  — ? — me virei para a direção da voz.
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  — O que faz aqui? Por que está debaixo da chuva? — perguntou ele.
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  — Bem, a história é meio louca. — eu ri. — Vamos entrar que eu te conto.
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   me acompanhou até o apartamento. Assim que entramos, ele foi até a cozinha preparar algo para nós dois comermos, aproveitei para ir ao banheiro, tomei uma ducha quente e coloquei roupas confortáveis. Quando voltei para cozinha, comecei a contar minha história do início, quando fomos à cafeteria tomar café da manhã. Enquanto ele preparava o chá, contei a ele sobre meu súbito interesse na garota do perfume de jasmim; continuei falando sobre ter pensado nela durante o resto da manhã e minha aventura ao voltar na cafeteria, até que cheguei na parte mais louca.
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  — Espera, você a salvou de ser atropelada? — a voz de parecia de surpresa.
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  — Sim.
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  — Você tem noção do que fez? Se jogou na frente de um veículo em movimento, para salvar alguém que nem conhece. — aquela era voz de repreensão. — Não poderia ter deixado outra pessoa fazer isso?
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  — Eu a salvei, é o que importa, além do mais, meus reflexos e percepção são melhores que a de uma pessoa comum, até o momento em que eu cheguei perto dela, ninguém havia percebido o veículo desgovernado. — retruquei de forma coerente.
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  — Isso é verdade. — ele suspirou fraco. — Fico me perguntando se você realmente está cego. — ele riu com ironia. — Às vezes faz coisas como se enxergasse ainda.
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  — Devo levar isso como um elogio? — olhei para a direção da voz dele.
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  — Viu? É disso que estou falando. — pareceu pegar alguma coisa. — Você olha para minha direção como se conseguisse me ver.
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  — Acredite, são sete anos de prática constante, odeio quando as pessoas me tratam como um cego deficiente. — bufei um pouco, sentindo ele encostar a xícara em minha mão.
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  — Aqui está. — sua voz estava mais branda. — Um pouco de chá para alegrar seu dia, só não é de jasmim. — ele se afastou rindo.
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  — Se vai começar com suas piadas, vou me confinar no quarto. — já alertei indo até o sofá.
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  — Prometo não abusar. — ele riu se sentando ao meu lado. — Então, depois de sete anos fechado para balanço, está mesmo interessado em uma garota?
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  — Não é isso. — eu ainda não tinha definido meus sentimentos por ela. — Eu só me sinto bem quando ouço a voz dela, é como uma luz no fim do túnel para mim.
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  — Sei. — aquilo era deboche.
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  — Estou sendo sincero. — retruquei. — Nem a conheço, como posso estar interessado?
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  — Como? — ele riu. — Querido primo, é simples, estando interessado. Quando um homem se interessa por uma mulher, ele precisa ver ela, no seu caso, foi ouvir.
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  — Não estou interessado, mas gostaria, sim, de conhecer ela.
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  — E já sabe o nome dela?
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  — Sim. — suspirei um pouco. — Ouvi a outra atendente falando, é .
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  — Nome bonito.
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  — Sim. — uma ponta de sorriso apareceu espontaneamente em minha face.
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  — Acho que você ainda se prende muito ao que aconteceu no passado, me desculpe a sinceridade. — ele respirou fundo. — Mas as pessoas não são iguais, e já percebi que a voz dela te atrai, você inconscientemente está interessado, então admita isso de uma vez e se dê uma chance.
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  — Você está de brincadeira, né?
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  — Não. — ele se levantou — O máximo que pode acontecer é ela já ter um namorado, ou te achar feio. — ele saiu rindo.
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  — Ha… ha… ha… — tomei um gole do chá.
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   estava certo, eu realmente estava interessado nela, mas ainda tinha em minha mente as frustrações do passado. Ser deixado após dar uma demonstração de amor, foi a pior coisa que me aconteceu. Eu não queria passar por aquilo novamente, não queria ter meu coração estilhaçado como tive, mas eu já estava no fundo do poço, não tinha mais nada para ser tirado de mim. Como sempre dizia, o pior que poderia acontecer, era ter pena de mim.
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  Ele saiu da sala, provavelmente indo para o quarto, fiquei mais alguns minutos sentado no sofá enquanto terminava de tomar meu chá. Era difícil não pensar nas palavras dele, eu tinha passado aqueles sete anos criando muralhas para afastar as pessoas e agora queria me aproximar de uma. Quanto mais pensava nisso, mais receio tinha em continuar, não queria me machucar novamente, mas queria poder ouvir aquela voz novamente.
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  Terminei o chá e levantei do sofá, caminhei até a cozinha e coloquei a xícara na bancada. Fiquei ouvindo o barulho da chuva do lado de fora por um tempo, assim que me virei, senti uma movimentação de , logo, o barulho dele sentando no sofá e ligando a TV surgiu.
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  — Vou assistir um filme, me acompanha? — perguntou ele. — Adoro seus comentários e observações sobre o que vai acontecer nas cenas.
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  — Muito engraçado. — bufei um pouco. — Para mim não é nada divertido isso, ter que adivinhar o que está acontecendo quando tudo está calado.
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  — Ah, deixa de ser mal-humorado, é divertido, você sempre acerta.
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  — Porque você sempre vê os mesmos filmes. — era uma realidade, eu já tinha até decorado as falas de os Piratas do Caribe.
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  — Quer algo novo? — ele parecia surpreso. — Sempre achei que você tinha o mesmo gosto que eu para filmes.
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  — Pelo menos são melhores que os romances que a Nalla vê, consigo sentir ela chorando do meu quarto. — caminhei de volta para o sofá.
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  — O que me diz de um pouco de zumbi? — ele parecia segurar o riso.
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  — Depende do filme e do zumbi. — retruquei indo em direção ao sofá. — Nada de The Walking Dead novamente, não aguento mais suas maratonas desse seriado.
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  — Nossa, você é mesmo um chato, nada está bom. — ele trocava de canal.
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  — Desculpa se não tenho mais perspectiva de vida. — me sentei respirando fundo.
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  — Você já foi mais divertido, acho que você precisa mesmo conhecer aquela moça, quem sabe assim fica menos amargurado.
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  — Por que será que eu já imaginava que você tocaria nesse assunto? — bufei novamente. — Eu já me decidi, prefiro continuar como estou.
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  — O quê? — aquilo era tom de indignação. — Você me salva a garota e agora vai desistir?
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  — Você fala como se eu a conhecesse há tempos. — não contive um riso irônico. — Quero te lembrar que eu a ouvi pela primeira vez hoje pela manhã, e na minha falta de sorte, ela atendeu à mesa ao lado.
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  — Hum. — ele parecia pensativo. — Então, agora que estou me ligando, a atendente da mesa ao lado, aish, queria ser um bom fisionomista, não me lembro do rosto dela.
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  — E isso tem algum relevância? — virei minha face para ele.
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  — Pare de fazer isso como se estivesse me olhando de verdade, seus reflexos me assusta às vezes. — aquela era a milionésima vez que ele reclamava da forma com que eu agia como uma pessoa normal.
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  — Você não respondeu. — retruquei voltando ao assunto.
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  — Respondendo… — ele deu uma risada rápida. — É claro que tem relevância, vai que a moça não é bonita.
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  — Sério isso? — eu não conseguia mais associar os padrões de beleza do mundo. — Olha só quem fala.
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  — Do que está insinuando?
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  — Nalla é bonita? — perguntei ironicamente. — Porque eu não consigo achar isso.
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  — Porque não pode ver o quão linda ela é, corpo de modelo. — retrucou com satisfação.
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  — Desculpa, a voz dela não me transmite nada de belo. — fui mais sincero que o normal.
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  — O que a voz de uma pessoa tem para definir a beleza dela? — retrucou como se estive ofendido.
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  — E o que o corpo de uma pessoa tem para definir sua beleza? — ri um pouco me espreguiçando. — O que é belo para um, pode não ser para outro.
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  — E a voz da , a faz se tornar bela para você? — gostava mesmo de voltar em assuntos que eu queria distância.
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  Permaneci em silêncio, ele riu um pouco da minha cara, não que eu não quisesse me lembrar dela, mas não queria falar dela com . Mesmo que eu explicasse meus motivos para me afastar de todos, ele nunca entenderia, era complicado voltar a confiar nas pessoas, principalmente em quem você nunca viu na vida. Com sua insistência em me fazer ficar longe do quarto, o acompanhei em mais uma maratona, vendo Resident Evil e sua franquia de cinco filmes com o mesmo elenco morrendo e voltando várias vezes.
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  Aproveitei o término do quarto filme para fugir da sala, uma escapada estratégica para ir ao banheiro e me trancar no quarto depois. ficou me gritando da sala algumas vezes, mas acabou desistindo quando parei de responder seus gritos. Aproveitei aquilo para trocar de roupa, colocar o pijama e dormir. As horas de sono passaram rápido, até o sol entrar pela janela e me gritar da porta, será mesmo necessário que eu acorde tão cedo?
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  — ? — ele bateu na porta. — Estou indo a cafeteria da sua garota, quer ir também?
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  — Garota? — sussurrei. — Que garota?
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  — ? Está me ouvindo?
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  — Estou, me deixa dormir.
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  — E perder a oportunidade de ver você encontrando sua garota? — ele parecia falar num tom debochado.
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  — Que garota? — eu gritei erguendo meu corpo na cama.
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  — Então já superou ela? — ele riu. — Você se esquece muito rápido das garotas agora.
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  — Deixe de ironia. — eu me levantei da cama. — Se está falando da , ela não é minha garota.
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  — Nunca se sabe, ela pode vir a ser.
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  — Me dê cinco minutos.
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  Em casos assim, era melhor não retrucar. tinha mesmo um objetivo de vida, que era me arrumar uma garota, mas eu não queria garota nenhuma, não até aquele momento. Troquei de roupa, coloquei meu óculos e saí do quarto, passei no banheiro antes de chegar na sala, claro que iria brincar um pouco com minha rapidez para me arrumar. Seguimos para a cafeteria com algumas brincadeiras da parte dele, confesso que fiquei um pouco nervoso assim que nos aproximamos da porta, senti um frio na barriga quando abriu a porta para entrarmos.
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  — Coragem, homem. — ele riu de mim, já era normal aquilo.
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  — Não sei do que está falando. — nego até a morte.
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  — Sei. — ele continuou rindo.
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  Eu o segui até a mesa onde nos sentamos, demorou alguns minutos até eu reconhecer o perfume de jasmim, ela estava na cafeteria e perto de mim. Coloquei a mão na altura do meu coração de forma discreta, estava acelerado, será que ela seria a atendente da nossa mesa?
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  — Bom dia, sejam bem-vindos. — disse a voz que eu queria ouvir. — Vocês gostariam que eu recomenda-se algum café? Temos ótimas variedades.
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  — Oh, bom dia, . — cumprimentou , dando ênfase no seu nome de propósito.
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  — Você está bem? — perguntei ao me lembrar do quase acidente de ontem.
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  — Estou. — ela respondeu meio sem reação.
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  — Ah, que bom, fiquei preocupado com você.
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  — Hum, me desculpe senhor, mas eu não o conheço, como pode estar preocupado comigo? — ela parecia mais confusa ainda, será que não se lembrava que eu a tinha salvado.
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  — Tem certeza que não o conhece moça? — reforçou achando estranho.
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  — Sim. — sua voz estava um pouco baixa, mas ainda era a mesma voz doce de sempre — Me desculpe.
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  — Talvez não esteja me reconhecendo, quando você foi atravessar na rua ontem, eu te salvei, nós dois caímos e você ralou o joelho.
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  — Acho que o senhor está me confundindo com outra pessoa, isso nunca aconteceu comigo. — ela parecia estar dizendo a verdade, mas não fazia sentido.
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  — Bem, e como seu joelho está machucado? — perguntou com sua voz de desconfiança.
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  — Eu… não sei. — ela deu alguns passos para trás esbarrando na outra mesa, ouvi algumas coisas caindo. — Me desculpe, eu… Você está me confundindo com outra pessoa.
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  Senti ela se afastando de nós, em passos largos.
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  — . — a outra atendente se aproximou da nossa mesa. — Oh, me desculpem o mal entendido.
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  — Por que ela não se lembra de mim? — me perguntei num sussurro meio alto.
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  — O que aconteceu com ela? Houve ou não um quase acidente?
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  — É claro que houve. — minha voz tinha um pouco de irritação. Sim, eu estava nervoso com aquela situação.
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  — Me desculpe, é um pouco complicado de se explicar. — disse a atendente.
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  — Você é a Darya, não é? — perguntei de imediato. — Me lembro de você.
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  — Sim, eu também me lembro de você. — assentiu ela. — Agradeço mais uma vez por ter salvo ela, e sinto muito pelo mal entendido.
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  — Poderia nos dizer o problema dela? — insistiu .
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  — Por que é complicado?
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  — Me desculpe, não posso… — ela se afastou antes mesmo de terminar a frase.
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  — Senhores. — era a voz de um senhor, possivelmente o dono do lugar. — Me desculpem o transtorno, é a primeira vez que isso acontece.
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  — Não quero desculpas, só quero entender o que está acontecendo. — disse num tom de chateação.
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  — Senhor, nos perdoe a intromissão, mas meu primo só estava preocupado com a moça e resolveu perguntar se ela estava bem. — estava com a voz branda, porém séria. — Não imaginávamos que aconteceria isso.
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  — Ninguém imagina. — o senhor puxou uma cadeira e se sentou. — Não costumamos contar isso a nenhum cliente, mas como seu primo se envolveu um pouco, acho que preciso esclarecer tudo.
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  — Estamos ouvindo. — minha voz estava mais fria que o normal.
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  — é minha sobrinha, eu a crio desde os sete anos, mas às vezes me culpo por não ter protegido ela como deveria. — ele respirou fundo. — Há três anos, ela sofreu um acidente que a fez bater a cabeça gravemente. Depois de um ano em coma, ela acordou, mas percebemos que não era a mesma. — ele parecia reprimir um pouco seus sentimentos. — Descobrimos que havia adquirido a Síndrome de Goldfield*, toda sua memória contraída até o dia do acidente permaneceu intacta, mas sua mente não consegue mais guardar memórias recentes; tudo que ela vive em um dia, se apaga à noite quando dorme.
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“Caindo (tudo está)
Caindo (tudo está)
Caindo (tudo está) desabando.”

– I Need You / BangTan Boys (BTS)

  *Síndrome de Goldfield: doença fictícia do filme ‘Como se fosse a primeira vez’

Capítulo 3

  Eu estava desnorteado com aquela notícia, não sabia o que pensar, nem como reagir, era muita falta de sorte a minha me interessar por uma garota que jamais se lembraria de mim no dia seguinte. Me levantei da mesa me afastando deles, precisava de ar puro, estava me sentindo sufocado naquele lugar.
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   se levantou e me ajudou a sair da cafeteria. Quando chegamos na rua, respirei fundo, permanecendo com minha cabeça abaixada. Ele ficou do meu lado, acho que assim como eu, estava tentando digerir toda aquela história maluca.
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  — Você vai ficar bem? — perguntou ele.
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  — Vou. — assenti levantando minha face. — Só quero ir para casa agora, poder tomar seu café e ficar sozinho.
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  — Tem certeza? — seu tom de voz era de preocupação.
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  — Tenho sim, não há nada que fazer. — suspirei fraco. — Ela nem me conhecia mesmo, amanhã nem vai se lembrar do cliente inoportuno.
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  Antes que pudesse retrucar, me afastei dele indo em direção ao meio fio, atravessei a rua e entrei no prédio, passei pelo elevador e entrei pela porta de acesso as escadas. Subi algumas lanças de escada e depois parei no meu andar. Ao invés de entrar novamente para o prédio, me sentei em um degrau e fiquei meio estático, acho que só naquele momento que minha ficha tinha realmente caído.
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  — Não era de se esperar que eu tivesse mesmo essa falta sorte. — eu ri de leve comigo mesmo, segurando minha frustração.
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  — Me desculpe, mas está tudo bem? — perguntou uma voz feminina, a voz suave que tinha transformado minha manhã em um tsunami. — Moço?
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  — O quê? — eu me levantei e olhei para a direção que vinha a voz. — O que está fazendo aqui?
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  — Me desculpe, mas eu é que deveria perguntar isso. — ela riu de leve. — É você que estava sentado na escada falando sozinho.
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  — Estava filosofando. — agi naturalmente, pedindo a Deus para ela me reconhecer. — Mas o que você faz aqui?
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  — Eu vi quando saiu da cafeteria e veio para o prédio, precisava saber quem era você. — respondeu ela. — Acho que te devo desculpas por hoje cedo.
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  — Não, não me deve nada. — desci alguns degraus até chegar ao patamar, onde ela estava. — Está tudo bem.
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  — Comigo não, Darya me disse que não é a primeira vez que acontece isso comigo. — sua voz tinha traços de tristeza. — Eu realmente sinto muito pelo constrangimento.
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  — Tudo bem, eu consigo sobreviver com isso. — sorri de leve para ela, assim ela ficaria mais tranquila.
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  — Bem, se você está dizendo, ficarei mais tranquila. — ela suspirou um pouco. — Quero te agradecer formalmente por ter me salvo ontem.
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  — Só agi por instinto, fiz o que qualquer pessoa poderia ter feito. — respondi tranquilamente.
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  — Não exatamente, nem todo mundo se arrisca por um desconhecido. — ela estava meio certa, mas eu fazia parte daquela pequena porcentagem de loucos. — Por isso, muito obrigada.
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  — Disponha. — sorri de leve colocando as mãos no bolso, estava um pouco nervoso por estar diante dela, ainda mais que ela não tinha reparado na minha cegueira ainda. — Mas está tudo bem com você agora? Eu também te devo desculpas por ter te deixado meio desnorteada hoje mais cedo.
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  — Estou sim, eu meio que esqueci de detalhar o acidente de ontem. — ela riu de leve, com uma naturalidade fora do comum. — Acabei só colocando que me machuquei.
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  — O que importa é que você está bem. — afirmei dando alguns passos até a porta. — Hum, posso te convidar para tomar um chá? Se não for muito atrevimento da minha parte.
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  — Oh, claro. — ela deu uma pausa, imaginei que estivesse sorrindo ou algo do tipo. — Eu adoro chá! A propósito, meu nome é , mas pode me chamar de .
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  — Eu sou o , e também adoro chá. — concordei com um sorriso leve, abrindo a porta. — Vamos, então?
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  Ela me seguiu tranquilamente, notei que cantarolava alguma coisa; estava sendo complicado acalmar meu coração, ele se manteve acelerado desde o momento em que senti seu perfume e ouvi sua voz. Abri a porta do apartamento e a convidei para entrar, ela agradeceu entrando, estava atento a cada passo dela, naquele momento, estava tentando ser ainda mais preciso em agir normalmente e não deixar que ela descobrisse que eu era um deficiente visual.
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  Eu não tinha vergonha, mas para um possível “primeiro encontro”, não queria que ela sentisse pena de mim, caminhei até a cozinha e remexi em um dos armários. Respirei fundo, porque a vida sempre reservava um pingo de má sorte para mim, um passo para frente e quatro para trás, tinha me esquecido que Nalla tinha trocado as coisas dos armários de lugar também.
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  — Está tudo bem aí? — perguntou ela, ouvi seus passos em minha direção.
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  — Sim, está. — me controlei para não ficar mais nervoso e ansioso que já estava, remexi em um dos armários tentando encontrar o bule que tanto procurava.
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  — Se quiser, posso te ajudar. — disse ela de forma inocente.
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  — Não, eu consigo, não se preocupe. — disse dando alguns passos para trás.
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  — Mas eu posso… — sem perceber acabamos nos trombando, com o impacto caímos no chão. — Oh, Deus.
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  Meu óculos tinha saído do meu rosto e o que eu menos queria estava acontecendo, eu conseguia ouvir sua respiração meio descoordenada, como se ela tivesse impressionada com meus olhos brancos sem vida. Caídos estávamos e ficamos, até que me levantei primeiro e a ajudei a se levantar também, eu estava frustrado com aquilo, quando pensei que pudesse recomeçar de uma forma legal.
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  — Eu… Não imaginava que você… — era como se ela relutasse em falar o óbvio, acho que estava impressionada pela forma como eu agia naturalmente.
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  — Era cego? — deixei um pouco de frustração sair em minha voz. — Você poderia ir embora, por favor? E esquecer o que viu. — eu estava controlando também minhas lágrimas.
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  — Esquecer não é o problema. — sua voz também tinha frustração, senti um certo movimento vindo dela. — Me desculpe, eu não pretendia te deixar constrangido. — ela tocou suavemente em minha mão direita e colocou meu óculos por cima.
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  Senti ela se afastando, e após alguns passos, o barulho da porta abrindo e fechado soou pelo apartamento. Que grande frustração eu estava sentindo, mas o que mais me deixava com raiva, não era por ela ter descoberto, mas pela forma como ela reagiu, consegui sentir em sua respiração e em seu tom de voz, não era difícil sentir os pequenos detalhes de mudança.
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  Era sempre a mesma coisa, sempre que descobriam que eu era cego, era sempre a mesma mudança em todos que me conhecia, mudança que eu não queria que acontecesse com ela. Caminhei lentamente até a sala, acabei tropeçando na mesa de centro e me joguei no chão ali mesmo. Seria fraco de mais da minha parte se eu chorasse? Não sei, mas eu já estava tão chateado com tudo que estava acontecendo em minha vida, que senti algumas lágrimas caindo, e isso me fez lembrar da minha ex-namorada. Taylor havia sido a primeira pessoa a mudar comigo, uma mudança que ainda se mantinha viva, como uma ferida sem cicatrização..
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  — Hoje é o dia. — disse ao entrar cantarolando, senti ele parando de repente, certamente estava vendo a personificação da derrota em forma de primo. — O que houve?
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  — Não se preocupe, eu ainda estou vivo. — me levantei colocando meu óculos. — Vou para meu quarto.
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  — Não. — ele segurou em meu braço. — O que aconteceu? , você está acabado, como se tivesse passado um trator em cima de você.
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  — Conta uma novidade? Estou assim há anos. — me soltei dele não dando importância. — Acho que só percebi que não vale a pena esperar hoje, a vida acabou de desistir de mim.
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  — Por que essas palavras tão duras consigo mesmo? — ele parecia preocupado, mas não importava com isso.
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  Me desviei dele e segui para o corredor, entrei no quarto me trancando nele, nem mesmo estava me importando com a fome, se ela pudesse me deixar sozinho seria uma grande ajuda. As horas se passaram comigo ao lado da janela olhando em direção à claridade do céu, senti a mudança do tempo, acho que iria chover aquela noite também. Seria bom que a chuva lavasse todas as minhas angústias e frustrações também, ou só me levasse com a enxurrada.
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  As horas se passaram e na metade da noite, saí do quarto e ataquei a primeira coisa que peguei dentro da geladeira, para minha não surpresa, era um sanduíche que tinha deixado especialmente para mim, junto com uma garrafinha. Deu um sorriso fechado e fechei a porta da geladeira, me virei em direção ao corredor. Por um momento, ouvi um barulho estranho vindo da minha barriga. Eu poderia até querer estar sozinho, mas para me livrar da companhia da fome que estava desde manhã, tinha que me render à comida.
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  — Eu sabia que sairia do quarto em qualquer momento. — disse se remexendo no sofá.
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  — Sabia que estava ouvindo uma respiração meio silenciosa. — disse não dando importância ao comentário dele.
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  — Ainda não entendo como consegue perceber os mínimos detalhes. — ele parecia meio revoltado.
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  — São os detalhes que salvam meus dias, acredite. — segui pelo corredor e entrei no meu quarto novamente.
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  Entrei, fechando a porta, me sentei na cama e comecei a saborear o lanche, assim que terminei de comer, saí novamente do quarto e coloquei as coisas em cima da bancada da cozinha. A televisão já estava ligada e parecia que estava vendo um jogo de basquete, um da liga da NBA, Chicago contra Boston, se não me engano, e Boston estava ganhando por 79 a 75 até o momento.
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  Me voltei para o corredor e fui até o banheiro, demorei um pouco até voltar para o quarto, desta vez eu iria me render ao sono e me deitar, não tinha mesmo nada de interessante para fazer. Até poderia ficar vendo o final do jogo com , ele narraria todos os lances importantes para mim, mas aquilo não iria mudar meu humor, não iria melhorar minha noite.
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  Troquei de roupa e deitei na cama, mantive meus olhos abertos como se estivesse olhando para o teto, dei um sorriso de leve, até eu estranhava um pouco de como agia natural como uma pessoa normal. Respirei fundo fechando os olhos, foi difícil conseguir dormir, por mais que eu não conhecesse o rosto de , sua voz ecoava em minha mente, aquilo me fazia imaginar como seria os traços de sua face.
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  Assim que clareou o dia, acordei com o barulho da porta, a campainha estava tocando repetidas vezes, eu já não gostava de ser acordado e com barulhos era ainda pior. Meu dia tinha tudo para ser estressante e eu já estava mal humorado em menos de um minuto acordado, me levantei ainda um pouco zonzo e com alguns xingos pelo caminho, segui em direção à porta. Tinha certeza que era e sua falta de atenção em não sair com a chave.
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  — O que foi? — disse de forma rude ao abrir a porta, senti a pessoa respirando meio sem reação, o que me deixava ainda mais nervoso. — Não vai dizer nada?
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  — Bem… — era ela, a voz era dela. — Acho que posso começar com um… Bom dia?
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  — ? — tentei sussurrar mais saiu muito alto, meu coração acelerou novamente, abaixei minha face não deixando ela vez meus olhos. — O que deseja?
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  — Bem… — ela respirou fundo. — Primeiro, desejo que retribua o bom dia que eu te dei. — sua voz era de uma garota de atitude naquele momento.
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  — Nossa… — eu estava ficando envergonhado por minha reação ao abrir a porta. — Bom dia.
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  — Agora está melhor. — sua voz voltou a ser mais suave como sempre. — Eu… Li sobre você, então pensei que pudesse agradecer de forma mais adequada.
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  — Leu sobre mim? — eu estava em choque, eu pedi para que ela me “esquecesse” e ela escreveu sobre mim.
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  — Sim, esta manhã, havia uma página sobre você, no meu álbum de informações. — assentiu ela de forma branda. — O que fez por mim foi… você me salvou, e não tenho palavras pra expressar como estou grata.
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  — Eu nem sei o que dizer, achei que fosse se esquecer de mim. — fui sincero e claro com meus pensamentos sobre isso.
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  — Eu também. — ela riu de leve. — Está sendo um pouco estranho para mim, por mais que todo dia seja sempre uma novidade, eu sempre deixo passar muita coisa que não vai fazer diferença na minha vida, mas acho que o meu eu de ontem não queria te esquecer.
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“Eu tenho medo de que você vá embora.
Eu não deixaria você ir,
Como eu posso manter-te aqui?”

– All My heart / Super Junior

Capítulo 4

  Aquilo caiu como um meteoro no meu coração, o seu ‘eu de ontem’ não queria me esquecer. Respirei fundo tentando controlar meus batimentos e não criar nenhuma expectativa ou esperança, não queria sair frustrado de novo. Ficamos parados por instante na porta, até que voltei a mim e a convidei para entrar.
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  — Bem, eu li que você me convidou para um chá. — continuou ela ao entrar e passar por mim, senti que ela tinha algo nas mãos. — Não sei se tomamos esse chá ontem, mas trouxe uma torta que fiz agora pela manhã, assim poderemos tomar aquele chá novamente.
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  — Chá?
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  Minha mente estava um pouco paralisada com aquilo, ela estava agindo como se eu fosse normal, agindo como antes de saber sobre minha cegueira, o que me deixava ainda mais confuso e desnorteado. Fechei a porta, tentei me concentrar um pouco e pensar no que iria fazer, a deixei na sala e fui até o quarto, fiquei alguns segundos respirando fundo e tomando coragem para voltar para sala.
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  Coloquei meu óculos, troquei de roupa rapidamente e voltei, tentei me acalmar um pouco, tinha que me concentrar para saber onde ela estava, mas assim que cheguei na sala, ouvi um barulho vindo da cozinha. O que será que ela estava aprontando?
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  — ? — disse dando alguns passos na direção do barulho. — O que está aprontando na minha cozinha?
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  — Bem… — ela parecia prender o riso. — Me desculpa invadir sua casa assim, mas estava procurando uma faca para cortar os pedaços, aí acabei encontrando a chaleira.
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  — A chaleira? — só de falar daquele objeto eu já me lembrava do dia anterior.
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  — Sim, então tomei a liberdade e colocar água para esquentar. — ela caminhou até mim e ficou parada ao meu lado. — Mas ainda preciso encontrar a faca.
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  — Pode deixar que eu assumo daqui. — eu ri um pouco indo em direção à bancada da pia, abri a segunda gaveta onde ficava as facas e estiquei a mão para ela.
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  — Agora sim. — ela riu. — Obrigada pela faca.
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  — Só tenha cuidado, não quero que se machuque.
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  — Não se preocupe, não está muito afiada. — retrucou ela, ouvi o barulho de alguma coisa sendo arrastada.
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  Cruzei os braços mantendo minha face na direção do barulho e fiquei em silêncio, ela começou a cantarolar alguma coisa que eu não entendia bem, segurei o riso várias vezes. Assim que terminou, ela me pediu dois pratos, peguei para ela sem a menor dificuldade e terminei de preparar o chá, eu ainda não conseguia acreditar que estava mesmo acontecendo isso.
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  — E o que está achando do meu chá? — perguntei ao tomar um gole.
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  — Nem forte, nem fraco, está na medida. — respondeu ela se sentado na banqueta ao meu lado. — E você? O que achou da minha torta?
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  — Maravilhosa, nem sem doce e nem com exagero, está na medida certa. — eu sorri espontaneamente, meio bobo.
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  — Que bom, eu mesma inventei depois do meu acidente, faço ela todos os dias para não me esquecer. — disse ela. — Mas essa foi a primeira vez que fiz sem olhar a receita.
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  — Uau, que progresso. — elogiei subjetivamente.
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  — Acho que foi por sua causa. — explicou ela tranquilamente.
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  — Minha causa? — desviei minha face para a direção da sua voz. — Por que seria por minha causa?
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  — Não sei, eu estava animada demais para te agradecer, só agora reparei que não li a receita.
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  — Agora estou mesmo surpreso, estou comendo uma unidade única da sua torta. — brinquei um pouco a fazendo rir e rindo junto.
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  — Bem, acho que sim. — ela suspirou um pouco, comecei a pensar se ela estava me olhando.
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  Eu desviei minha face para frente, complicado não imaginar coisas negativas, principalmente quando o silêncio tomava conta, a maioria eram perguntas simples e idiotas para muitos, mas que representava aqueles detalhes, que salvava meu dia. Tentar imaginar como ela me olhava, a cor dos seus olhos, como era seu sorriso, se ela tinha alguma mania como mexer no cabelo ou coçar a nuca quando estava com vergonha.
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  — O que foi? — perguntou ela. — Ficou calado de repente.
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  — Nada, só me perdi nos meus pensamentos. — disfarcei minha voz melancólica e comi outro pedaço da torta.
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  — Se eu estiver atrapalhando, posso ir se quiser. — disse ela.
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  — Não. — peguei automaticamente em sua mão, nem imaginava que conseguiria ser tão preciso assim. — Não vai.
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  — Tudo bem. — assentiu ela mantendo sua voz serena. — Eu não queria mesmo ir.
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  — Fico aliviado em ouvir isso. — disse respirando fundo.
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  — Você parece estar meio tenso. — comentou ela. — Tem algo te incomodando?
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  — Não, é que não estou acostumado em ter companhias. — direto e sincero. — Isso me deixa meio desnorteado.
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  — Mas, você vive aqui sozinho? — perguntou ela confusa.
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  — Ah, não. — eu ri de nervoso. — Eu moro com meu primo e a namorada, noiva dele.
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  — Hum, seu primo. — ela suspirou um pouco, parecia tentar lembrar de algo. — Ele é cliente da cafeteria?
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  — Sim, certamente ele passou lá antes de ir para o trabalho. — assenti.
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  — E você trabalha com o quê? — perguntou ela.
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  — Hum. — comecei a cogitar a ideia de mentir para ela, mas não seria um bom jeito de iniciar nossa quem sabe futura amizade. — No momento, não há nada que eu queira fazer da minha vida.
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  — Nada? — sua voz de surpresa ecoou. — Nossa, que estranho, é a primeira pessoa que me diz isso de forma tão frustrada.
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  — Me desculpa se te choquei, mas é a realidade. — respondi respirando fundo.
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  — Não há nada que te chame a atenção e te faça querer investir seu tempo?
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  — Não. — agora sim senti aquela frustração na voz. — Por que não paramos de falar sobre mim, e falamos de você?
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  — O que quer saber sobre mim? — ela perguntou curiosa. — O mais importante você já sabe, corro o risco de te esquecer amanhã.
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  — Não corre, não. — retruquei tranquilamente. — Você já disse que não quer me esquecer, tenho certeza que vai escrever sobre mim.
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  — Ah, eu não deveria ter contado sobre isso. — ela riu de leve. — Você gosta de chuva?
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  — Nossa, que pergunta mais aleatória. — eu ri desviando minha face para sua direção. — De onde veio essa curiosidade?
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  — Darya me contou que choveu no dia que você me salvou, eu ouvi o barulho da chuva nessa madrugada, fiquei curiosa em saber se gosta de chuva.
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  — Uau, que explicação mais detalhada. — sorri para ela, eu gostava disso, detalhes.
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  — Desculpe se expliquei demais.
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  — Não. — senti meu coração pulsar mais forte. — Eu adoro quando as pessoas detalhas seus pensamentos para mim.
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  — Você é um psicólogo? — perguntou ela num tom confuso.
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  — Não. — eu ri. — Não, só gosto que as pessoas se expressam sem esconder nada de mim.
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  — Hum. — ela ficou um tempo em silêncio, senti que estava balançando a perna. — Você não me respondeu.
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  — Não, mas sim.
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  — O quê? — ela riu. — Não entendi.
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  — Não gosto de chuva, mas sempre que chove eu me sinto bem e renovado.
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  — Hum. — ela pareceu gostar. — Eu gosto de chuva, mas gosto mais da neve no inverno, guerras de bolas de neve me fazem lembrar da infância.
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  — Estou sentindo pela empolgação na sua voz. — eu ri um pouco. — Também gosto do inverno, é um período de calmaria e ao mesmo tempo celebração.
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  Ficamos conversando por mais algum tempo, tanto que nem senti as horas passarem, foi estranho quando eu a levei até a porta e nos despedimos. Uma parte de mim, ou melhor, eu por inteiro não queria que ela fosse embora, ela tinha transformado meu dia de uma forma inexplicável. Fiquei me perguntando se aquela garota do perfume de jasmim, voz doce e suave, chamada , realmente existia.
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  A cada passo que ela dava para perto do elevador, sentia meu coração acelerar, me veio um sentimento de perda que não conseguia entender, uma junção de insegurança e angústia. Pensamentos sobre eu não vê-la no dia seguinte, ou ela me apagar do seu álbum e nunca mais saber sobre mim, a parte negativa dos meus sentimentos tinham retornado para mim. Difícil ser otimista com um histórico de decepções como o meu.
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  — Finalmente cheguei. — disse ao entrar pela porta, ele parecia estar carregando algumas caixas, pelo barulho que estava fazendo.
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  — Quer uma ajuda? — perguntei, desviando minha face para ele.
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  — Não, não precisa, são só duas caixas. — disse ele tranquilamente, então parou de repente. — Como sabia que eu estava carregando algo?
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  — Com esse barulho todo. — suspirei voltando meu olhar para a televisão. — Não tinha como eu não imaginar isso.
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  — Você bem que poderia agir como cego pelo menos por um dia, ainda me assusto com sua precisão sobre as coisas. — reclamou ele indo em direção à cozinha.
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  — Me desculpe, querido primo, mas agora, mais do que nunca, vou ser a pessoa mais normal do mundo. — retruquei.
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  — E a que se deve essa mudança toda? — ele parecia admirado.
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  — A veio aqui hoje de manhã, ficamos um bom tempo conversando. — expliquei mantendo minha empolgação para mim mesmo. — Eu até descobri que ela é alérgica a bichos e pelúcia.
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  — Uau, e como isso tudo aconteceu enquanto eu estava trabalhando? — perguntou ele voltando para a sala. — Ela se lembrou de você?
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  — Bem, ela disse que leu sobre mim no seu álbum de fotos, que talvez o ‘eu’ dela de ontem não queria me esquecer.
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  — Uau, que profundo. — brincou ele. — E você disse para ela que está interessado?
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  — O quê? — desviei minha face para a direção dele. — Não.
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  — Olha, friendzone não combina muito com você.
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  — Yah, fiquei calado, , não vou me declarar para ela, eu nem sei definir meus sentimentos por ela ainda. — reclamei. — A única coisa que consigo admitir é que essa tarde, eu me senti vivo de novo, como se pudesse ver mesmo no escuro.
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  — Essa garota realmente tem algo especial, para te fazer sentir isso. — concluiu ele.
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  — Sim, eu me senti livre com ela aqui. — assenti me levantando do sofá. — Depois de todo esse tempo, pela primeira vez eu agradeci pela hora não ter passado de forma rápida.
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  Passei por ele e fui até meu quarto, uma guerra interna estava começando dentro de mim, surpreendente que, ao mesmo tempo que eu queria nutrir a esperança de repetir aquele dia com , eu queria apagar esse dia com medo de nunca mais viver algo parecido com ela. Me deitei na cama pensando sobre isso, quanto mais a voz dela ecoava em minha mente, mais eu sentia vontade de vê-la, ver seu sorriso ou a forma como olhava para mim.
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  A noite passou e logo pela manhã, bateu na porta do meu quarto, demorei um pouco para assimilar que era mesmo ele e não um sonho, ergui meu corpo me espreguiçando.
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  — O que você quer? — gritei.
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  — Eu, nada, mas você tem uma visita inesperada. — disse ele rindo. — E acho que deveria se levantar de bom humor.
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  — Visita? — meu coração acelerou novamente, será que era ela?
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  Me levantei, troquei minha roupa rapidamente, coloquei o óculos e segui em direção a sala, logo que entrei consegui sentir o perfume de jasmim, mantive minha respiração tranquila e minha face baixa, estava tentando localizar sua posição na sala.
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  — Bom dia. — disse ela, estava perto da porta.
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  — Bom dia. — respondi me lembrando do dia anterior. — Você veio, de novo.
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  — É, acho que sim. — ela riu de leve. — Eu li sobre você, eu não sabia se tinha agradecido, então…
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  — Veio agradecer. — completei, desviei minha face para o lado da cozinha. — Você não tem que ir trabalhar ?
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  — Ah, yah, eu estava terminando meu café. — reclamou ele com uma voz de chateação, certamente queria ficar vendo minha conversa com . — Vejo você mais tarde, e foi um prazer te conhecer, .
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  — Igualmente. — respondeu ela de forma simpática.
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  Assim que eu ouvi a porta se fechar, voltei minha face para onde sentia a respiração dela, estava escolhendo as palavras certas.
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  — Você veio mesmo para agradecer de novo? — perguntei de forma séria, porém serena.
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  — Sim. — assentiu ela convicta — Por mais que eu possa pensar que já te agradeci, ou que leia sobre isso, está sendo mais forte que eu, ler sobre você e querer te agradecer.
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  — Bem, você já agradeceu. — tentei não ser áspero, mas comecei a imaginar que aquilo não se tornaria real, ela sempre iria somente para me agradecer, porque eu a salvei, nunca seria mais que isso. — E sei o quanto sempre será grata por isso, acho que se você escrever assim, vai conseguir imaginar que já me agradeceu o suficiente.
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  — Se é isso que deseja. — seu tom parecia de decepção, talvez por eu ter agido meio friamente.
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  Ela me agradeceu mais uma vez por eu ter salvado ela, não era sua culpa, mas era a minha, eu estava tão preso ao meu sofrimento de anos, que era difícil não imaginar que poderia sair magoado novamente. Às vezes pensar negativamente era mais atraente e menos doloroso que pensar positivos, criar expectativas me fazia ficar frustrado quando não eram realizadas.
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  Era isso que eu estava sentindo com , e imaginar que ela pudesse bater na minha porta todas as manhã só para agradecer, não conseguia ver algo positivo nisso, nem mesmo para me beneficiar e não passar algum tempo sozinho. Eu queria ter a companhia dela por mim e não porque a salvei, esse desejo era egoísta de minha parte?
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  Enfim, após ela sair e fechar a porta, senti que minha vida tinha voltado a escuridão de antes, melhor assim, me sinto tão acostumado com a escuridão que tenho medo de me render a luz.
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  As semanas foram se passando, Nalla tinha retornado da sua viagem e o apartamento voltou a ser barulhento com ela, pense numa pessoa que não conhece a palavra privacidade, ou o termo respeitar o espaço alheio. Infelizmente eu estava ali de favor, mas ainda queria um pouco de respeito sobre a minha solidão, o que me levou a ter uma percepção bem maior do tempo, afinal, Nalla agora trabalhava aos finais de semana, e era uma manhã ensolarada de sábado.
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  Eu acordei tão bem disposto que até fiquei assustado, acho que era o silêncio que reinava naquele apartamento, tinha saído para jogar basquete com uns amigos e eu estava solitário mais uma vez. Me espreguicei um pouco e fui para a cozinha, assim que coloquei a mão na geladeira para abrir, a campainha tocou, senti um frio na barriga e ainda intrigado fui atender.
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  — ? — disse ao abrir a porta.
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  — Bom dia. — ela suspirou um pouco. — ?
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  — Sim. — assenti mantendo meu olhar abaixado.
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  — Acho que já deve ter ouvido isso, mas ver você é meio novo para mim. — disse ela meio sem jeito. — Mas já tem uma semana que quero te ver.
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  — O quê? — eu não estava entendendo mais nada.
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  — Eu li sobre você, li que me salvou, sobre meus agradecimentos, sobre você não querer que eu agradeça mais. — sua voz ficou um pouco triste. — Eu não sei o que houve, mas estava escrito que eu não podia te ver, e isso me fez querer te ver ainda mais.
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  Coloquei a mão na altura do meu coração, era para ele estar acelerado, mas naquele momento não estava sentindo nada, nenhuma pulsação. Meu corpo todo estava estático e paralisado, mas de alguma forma aquecido por dentro.
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“Ouça meu coração,
Ele está chamando você com vontade própria,
Porque você é luz dentro,
Dessa imensa escuridão.”

– Save Me / BangTan Boys (BTS)

Capítulo 5

  Eu respirei fundo e a convidei para entrar, estava tentando pensar no que iria dizer, como iria reagir. Ter ela ali era como a vida me dando uma terceira chance ou algo do tipo, pelo menos era isso que eu estava pensando na hora, a convidei para se sentar e me sentei na poltrona ao lado. Tentei me acalmar internamente e fiquei em silêncio, estava me concentrando na respiração dela, parecia um pouco tranquila, mas percebi que estava balançando a perna direita, acho que demonstrava um pouco de nervosismo ou ansiedade.
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  — Está tudo bem? — perguntei.
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  — Sim. — respondeu ela. — É que estava com medo de você me mandar ir embora.
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  — Bem, eu… me desculpe, não queria passar essa impressão. — disse meio sem graça.
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  — Não se preocupe, está tudo bem. — ela riu de leve. — Se você me xingar hoje, provavelmente não vou me lembrar amanhã.
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  — Verdade, mas jamais xingaria você. — concordei segurando o riso.
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  — Posso te fazer uma pergunta?
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  — Claro.
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  — Por que usa óculos escuros dentro de casa?
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  — Hum. — era de se esperar que ela me perguntasse aquilo, mas não queria que fosse tão rápido. — Bem, meus olhos são um pouco sensíveis a luz.
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  — Ah, você é um vampiro? — seu tom era sério e um pouco inocente.
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  — Não. — eu ri baixo, mas logo minha face ficou série e automaticamente sussurre. — Apesar de viver no escuro.
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  — O que disse? — perguntou ela.
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  — Nada. — eu respirei fundo e me levantei do sofá. — Você aceita um chá? Ou água?
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  — Não. — senti a movimentação dela se levantando. — Eu queria te convidar para tomar café da manhã comigo.
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  — Hum? — acho que já estava se tornando comum minha falta de reação perto dela.
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  — Você aceita? — insistiu ela.
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  — Eu…
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  — Não aceito uma resposta negativa, e por mais que o sol esteja bonito, acho que somente seus olhos são sensíveis a ele. — ela sabia como me deixar sem resposta.
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  — Já que insiste. — eu sorri para ela. — Só preciso pegar minha carteira.
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  — Tudo bem, eu espero.
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  Eu caminhei até o quarto, ainda não acreditando no convite dela, troquei minha roupa de forma rápida e peguei minha carteira que estava na cômoda ao lado da porta, coloquei no bolso e voltei para a sala. estava cantarolando algo que não identifiquei, já estava perto da porta de saída.
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  — Estou pronto. — disse ao me aproximar dela.
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  — Ah, quando disse que iria buscar sua carteira, fiquei preocupada. — disse ela segurando o riso.
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  — Por quê?
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  — Pensei que não trocaria de roupa. — ela deu um riso rápido. — Fiquei imaginando como seria nós dois andando na rua e você de pijama.
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  — Por um momento eu realmente esqueci que estava de pijama. — eu ri junto. — Mas acho que agora estou com roupas mais apropriadas para um passeio.
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  — Eu não me sentiria nem um pouco incomodada se você estivesse de pijama, quando eu era mais nova, um dia fui para a escola de pijama.
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  — Nossa. — eu virei minha face para sua direção. — Uau.
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  — É uma roupa qualquer como todas, a única coisa que muda é que usamos à noite e dormimos com ela.
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  — Pela lógica, está certa. — eu ri. — Mas vai explicar isso para sociedade.
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  — Verdade. — seu riso era espontâneo. — Um dia te faço sair de casa de pijama junto comigo.
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  — Um dia? — aquelas palavras me assustaram um pouco.
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  — Sim, por quê?
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  — É que, quer dizer que você não quer se esquecer de mim?
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  — Por que eu iria querer me esquecer de alguém como você? — a pergunta era séria, mas sua voz sempre permanecia suave.
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  — Diz isso somente porque te salvei. — a amargura estava novamente em minha voz.
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  — E se não for somente por isso? — retrucou ela. — Se quiser, posso apagar essa parte.
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  — O quê? — ela apagaria que eu a salvei?
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  — Não pense que estou aqui só porque me salvou. — disse ela. — Você não é a primeira pessoa que me salva de um atropelamento, e acho que não será a última.
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  — Então, você já…
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  — Sim, não é a primeira vez. — ela respirou fundo. — Além do mais, se fosse para me interessar por alguém só porque essa pessoa já me salvou, eu ficaria com o paramédico que me socorreu da primeira vez.
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  Ela abriu a porta e saiu rindo.
  — Vamos, antes que o café esfrie. — disse num tom um pouco mais alto do lado de fora.
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  Aquela garota estava se tornando ainda mais maravilhosa e incrível a cada instante que eu a conhecia. Seria isso algo para eu me agarrar e jogar minha parte negativa no lixo? Eu sorri de canto e saí do apartamento, caminhamos lado a lado por todo o caminho, e sempre que parávamos de falar, ela começava a cantarolar.
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   me guiou até sua casa que ficava atrás da cafeteria do tio dela, era um pequeno loft, eu fiquei um pouco com receio ao entrar. Era um lugar novo para mim e não sabia nada sobre a quantidade de móveis e onde estavam todos, decoração e o layout, eu estava desesperado por dentro.
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  — Está tudo bem? — perguntou ela ao perceber que eu estava paralisado na porta de entrada.
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  — Sim. — eu ainda não conseguia me mover por medo dela perceber que eu era cego, acho que não suportaria ver a reação de espanto dela novamente.
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  — Oh, me desculpe, que mal educada eu. — ela se aproximou de mim e pegando no meu braço. — Tenho que fazer direito já que é sua primeira vez aqui, e como uma boa anfitriã, seja bem-vindo a minha casa. — ela impulsionou meu corpo me fazendo entrar.
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  — Obrigado.
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  — Me desculpe pelo corredor ser pequeno, mas o loft é bem amplo, ainda mais depois que coloquei o mezanino, assim consegui mais espaço para montar um quarto decente.
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  — Ah, que bom. — concordei sem saber como reagir.
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  — Venha, vou te mostrar minha pequena grande casa. — ela riu de leve me puxando, mas após três passos paramos. — O corredor nem é tão grande assim, mas pelo menos ao lado dele coube o banheiro, pensei que não daria certo, mas, no final, as dicas de arquitetura da Darya funcionaram.
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  — É sempre bom ter amigos que dão dicas boas. — assegurei, gravando em minha mente que o banheiro ficava no corredor da porta de entrada.
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  — Darya é ótima com dicas de decoração. — ela respirou fundo. — Mais ainda acho que a cozinha poderia ter ficado maior, ela me puxou para o lado e senti a bancada na minha frente. — Olha só esse espaço, é tão pequeno, logo para mim, que sou uma patissier.
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  Aquele “Olha só” foi uma facada no meu coração.
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  — Tenho certeza que mesmo com esse tamanho você consegue fazer coisas maravilhosas. — disse tentando me concentrar em memorizar o layout do loft.
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  — Mas pelo menos minha sala é ampla e espaçosa. — ela me puxou até a sala, parecia mesmo ser espaçosa.
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  — Você gosta de…
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  — Poucos móveis? — perguntou ela. — Sim, eu sempre gostei de coisas mais simples, como diz a Darya, às vezes o menos é mais. Entretanto, eu não consegui convencer ela com a escolha das cores.
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  — Hum. — e agora, cores, estava me remoendo de vontade de saber pelo menos que cores tinham nas paredes.
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  — Ela achava que eu não conseguiria combinar laranja, marrom e bege, mas o resultado final ficou melhor do que o esperado. — disse ela com ar de satisfação.
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  — Acho que, neste caso, se você está feliz, ela deve aceitar, é você quem mora aqui.
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  — Concordo plenamente, e no final eu ainda surpreendi a todos, ela achava que eu pintaria todas as paredes de laranja, eu jamais faria isso, é claro que todas as paredes bege e uma em destaque de marrom ficaram mais harmônico e elegante com alguns pontos de alaranjado.
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  — Tem certeza que é a Darya que entende de decoração? — eu virei minha face para a direção da sua voz, não sei se estava aliviado ou apreensivo com tudo aquilo.
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  — Acredite, isso é efeito de tutoriais no Youtube. — ela riu me fazendo rir também. — Mas vamos à última parte, meu quarto.
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  Subimos a escada até o mezanino, todo corrimão era de metal e tinha um guarda-corpo de vidro que cercava a parte que dava vista para a parte de baixo do loft, eu tentei a máximo não me locomover muito e deixar ela falando sobre como decorou seu quarto. À primeira vista, para muitos aquilo era desnecessário e tedioso, mas para mim era incrível ouvir todos aquele detalhes, e a cada palavras que saía eu sentia ainda mais a sua empolgação.
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  Até que em um breve momento, pegou em minha mão e me puxou para sentar na cama ao seu lado, paralisei de imediato tentando entender o que ela estava tramando.
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  — E este aqui é meu álbum. — disse ela colocando em meu colo.
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  — Uau, está meio pesado. — disse não me desesperando, ela me mostraria seu álbum e eu não iria ver.
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  — Sim, tem muitas fotos aí. — ela suspirou fraco. — Só não tenho uma sua.
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  — Minha? — elevei minha face direcionando para ela.
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  — Bem, eu só tenho coisas escritas sobre você, mas não tenho como te ver, acho que isso me fez querer ver você ainda mais.
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  Suas palavras pareciam o que eu estava sentindo, eu só tinha a voz e seu perfume para me dizer que era ela, e isso me fazia querer vê-la ainda mais.
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  — Eu entendo. — disse dando um sorriso disfarçado.
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  — Então, posso tirar uma foto com você? — perguntou ela.
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  — Hum, você tem foto daquele paramédico que te salvou? — perguntou meio curioso.
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  — Não. — ela riu. — Eu acho que tive por um tempo, pelo menos o que estava escrito é que ele não era interessante, mas por que a pergunta?
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  — Curiosidade. — eu ri um pouco.
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  — Hum.
  Ela riu um pouco mais e se levantou, eu me levantei também, não sabia o que fazer, mas permaneci parado. Após alguns minutos, eu senti ela encostando seu corpo no meu de leve e batendo a foto, o barulho e a luz do flash estava acionado, ela tirou mais duas fotos e se afastou novamente. Eu acho que aquela câmera era uma polaroide, porque a cada foto que tirávamos ela me entregava o papel da polaroide para que eu “olhasse”, como se fosse realmente possível.
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  — Nossa, estou aqui só falando e ainda não tomamos café da manhã. — ela riu pegando minha mão e me puxou para a escada de novo.
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   se dirigiu para a cozinha, enquanto isso eu encontrei umas banquetas que ficavam do outro lado da bancada da cozinha, bem próximo aos puffs da sala. Fiquei sentado me atentando aos movimentos dela naquela cozinha apertada, seus passos eram poucos, mas suas mãos se moviam bastante.
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  Às vezes eu tinha a impressão que ela fazia barulho de propósito, além de sempre cantarolar quando eu ficava em silêncio. Ela não demorou muito para preparar tudo, e logo depois de colocar tudo na bancada, ela se sentou ao meu lado e me serviu um cappuccino e torta de morango, o cheiro estava muito bom.
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  — Espero que goste. — disse ela. — É uma receita nova que estava testando ontem à noite.
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  — Bem, o cheiro está bom. — disse sentindo o aroma do morango como se fosse fresco. — Tenho certeza que o gosto também.
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  — Tomara, eu finalmente consegui acertar o ponto da calda de morango, nunca fiquei tão feliz na vida.
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  — Pela sua empolgação, imagino que sim. — eu sorri automaticamente e me virei para o prato. — Hum, eu gosto de morango.
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  — Sério? Eu também. — ela parecia estar feliz com meu comentário. — O que mais você gosta?
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  — Bem, maracujá também, acho que uma sobremesa com as duas frutas ficaria muito bom. — respondi.
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  — Interessante, nunca pensei em fazer nada além de vitamina com essas duas frutas, mas acho que posso tentar inventar algo.
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  — Sério? — eu ri de leve. — Eu estava brincando.
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  — Mas não seria divertido juntar duas coisas que gosta em uma só? — ela me perguntou num tom sério, porém descontraído.
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  — Sim, seria. — e mais uma vez ela estava me deixando sem argumentos. — Não é estranho para você uma pessoa desconhecida na sua casa?
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  — Não. — respondeu ela.
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  — Não?
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  — Não é qualquer pessoa que eu trago aqui, e você não é uma pessoa desconhecida para mim, tenho páginas sobre você no meu álbum. — sua explicação era tão espontânea e convincente.
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  — Devo ficar feliz por isso? Estar em algumas páginas de um álbum? — acho que tinha saído como algo inconformado, e eu estava, acho que não queria ser somente páginas de um álbum pra ela.
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  — Acredite, antes de estar nas páginas do meu álbum, precisa me convencer que pode estar no meu coração também. — ela respirou fundo. — Meu álbum são meus pensamentos.
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   estava realmente se tornando mestre em me deixar sem palavras, suspirei um pouco fraco, estava pensando nas suas palavras, aquilo me fazia ficar esperançoso e ao mesmo tempo inseguro. Ela era incrível, mas e eu? Eu era um homem que vivia preso em sua escuridão e que tinha medo da luz, mas estava gostando dela, estava gostando de ficar perto dela.
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  Tomamos nosso café tranquilamente, ao longo daquela degustação, me contava como tinha feito a torta de morango, eu tentava imaginar como tinha acontecido a cada palavra que ela falava. Mais uma vez os seus detalhes estavam se tornando um brilho para me guiar, o que me deixava ainda mais admirado com ela.
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  — Me parece que você gostou mesmo da torta. — disse ela recolhendo os pratos.
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  — Você é muito boa na confeitaria. — a elogiei sorrindo um pouco, — Sua especialidade se espalha para outros lados da gastronomia?
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  — Obrigada, bem, eu cozinho desde muito nova. — ouvi os pratos sendo colocados na cuba da bancada da pia. — Minha mãe era chefe profissional, tenho ela como referência.
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  — Hum, mas vejo que sua especialidade é doce.
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  — Digamos que o doce consegue despertar mais sorrisos, e é um desafio maior para os profissionais.
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  — E você gosta de desafios? — perguntei.
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  — Adoro. — ela riu de leve. — Eu estava no terceiro ano da universidade, mas depois do acidente tive que sair, não dava para memorizar todo um semestre em algumas horas de leitura.
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  — Entendo, lamento por não poder continuar. — disse tentando dosar meu tom por estar frustrado por ela.
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  — Agora eu estou um pouco menos chateada e mais conformada, não cursar gastronomia não quer dizer que não vou mais cozinhar, eu somente não terei um diploma para provar que sei fazer algo que já faço.
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  — Você é incrível. — disse num quase sussurro. — O modo como vê as coisas, torna positivo o que é negativo.
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  — Eu só acho que mesmo no escuro, ainda existe um interruptor que possa fazer uma luz se acender. — ela se aproximou de mim e pegou em minha mão. — Assim como não haveria a noite sem o dia, não existe algo negativo sem o positivo. — ela entrelaçou nossos dedos enquanto explicava. — Só é preciso achar o equilíbrio e não deixar que as coisas ruins se tornem maiores que a boas.
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  — Não consigo achar coisas boas há muito tempo. — senti meus olhos encherem de lágrimas, felizmente tinha meus óculos para disfarçar. — Eu acho que preciso ir.
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  — Já?
  — Sim. — soltei minha mão da dela com suavidade e me afastei me virando para a porta. — Obrigado pelo café.
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  — Eu fiz alguma coisa de errado? — ela perguntou num tom meio apreensivo.
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  — Não. — eu me virei para ela. — Você é maravilhosa, o problema sou eu, me desculpe.
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  Eu dei alguns passos até chegar na porta.
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  — Espera. — disse ela correndo até mim e colocando a mão dela em cima da minha na maçaneta da porta. — Me deixe abrir, para você voltar.
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  Eu senti que naquele pequeno corredor, nossos corpos estavam de frente um para o outro, a proximidade era tanta que conseguia sentir o vapor da sua respiração, respirei fundo sentindo meu coração um pouco acelerado. Era a primeira vez depois que fui dispensado pela minha ex, que eu estava com um enorme desejo de beijar uma garota. Eu queria, mas deveria? Tomei impulso para beijá-la, porém parei no meio do caminho, estava pensando que se fizesse isso, poderia me machucar de novo e me arrepender.
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  Na minha mente o lado negativo estava vencendo, foi quando senti os lábios dela tocarem os meus, um beijo doce e ao mesmo tempo molhado pelas minhas lágrimas.
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“Não vamos nos apaixonar, ainda não nos conhecemos muito bem,
Na verdade, estou um pouco assustado, me desculpe,
Não vamos fazer promessas, você nunca sabe o que te espera amanhã,
Mas estou sendo sincero, quando digo que gosto de você.”

– Let’s Not Fall In Love / Big Bang

Capítulo 06

  Minha mente estava paralisada, porém meu corpo se movia automaticamente com a investida dela, eu não conseguia acreditar que ela estava mesmo me beijando. Era mágico e ao mesmo tempo assustador, meu coração acelerado, minhas pernas meio bambas, meus braços tinham se posicionado ao redor de sua cintura em um movimento involuntário e espontâneo. Quando ela se afastou de mim de leve, eu ainda estava estático, sem saber o que fazer e como reagir.
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  — Me desculpe. — disse ela em um sussurro, deveria estar envergonhada.
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  Eu não conseguiria dizer nada mesmo, então me virei, abri a porta e saí, segui pelo beco que tinha na lateral direita da cafeteria até a rua, meus passos estavam rápidos e um pouco descoordenados. Assim que cheguei no prédio onde morava, passei direto pelo elevado e entrei na porta que dava para a escada, parei por um momento e percebi minha respiração meio ofegante.
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  Era difícil até mesmo pensar, minha mente estava uma bagunça, meu coração ainda acelerado, minhas pernas tremendo e meus olhos cheios de lágrimas. Sentei em um degrau e respirei fundo, logo, uma forte sensação de sentir seus lábios próximos aos meus tomou conta de mim.
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  Minha mente vazia começou a fantasiar imagens de nós dois juntos, o que me fez chorar por não saber como era sua face. Em todas as minhas tentativas de imaginar como ela era, me frustrava ainda mais, pois uma mancha de escuridão tomava sua face. Fiquei ali, sentado naquele degrau por muito tempo, tinha perdido até mesmo a noção do tempo, nem mesmo a fome apareceu para me despertar da meu amargo mergulho na solidão.
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  — ? — disse uma voz feminina despertando minha atenção.
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  — Nalla? O que faz aqui? — perguntei reconhecendo a voz.
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  — O elevador está em manutenção, então não temos outra opção a não ser a escada. — explicou ela. — E você? O que faz aqui?
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  — Estava… Não sei. — me levantei ajeitando meu óculos e disfarçando minhas lágrimas. — Vamos subir.
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  — Está tudo bem? — insistiu ela.
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  — Sim. — direto e preciso.
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  Comecei a subir na sua frente e continuei sem dar espaço para mais perguntas, eu não queria que Nalla soubesse muito sobre ou outro assunto da minha vida, ela não era muito confiável em guardar informações sobre a vida dos outros. Entrei no apartamento antes dela e fui direto para quarto, tomei uma ducha e coloquei o pijama, quando voltei para o quarto, senti que havia alguém.
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  — Deseja alguma coisa, Suho? — perguntei sem rodeios, seu perfume estava rescindido no ar.
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  — Como sabia que era eu? — perguntou ele.
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  — Seu perfume. — respondi respirando fundo. — O que deseja?
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  — Saber se está tudo bem. — ele fechou a porta e deu dois passos em minha direção. — Nalla me disse que você estava sentado na escada, e aparentemente chorando.
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  — E o que ela tem a ver com isso? — cruzei meus braços, me virando para a direção da voz dele.
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  — Ela nada, mas eu sou seu primo, estou preocupado. — ele suspirou. — Pela manhã te deixei muito bem. O que houve?
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  — Ela me convidou para tomar café na casa dela. — respondi.
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  — Uah, jinja? Mesmo? Que legal, e o que rolou lá?
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  — Nada.
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  — Sua cara diz outra coisa.
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  — Suho. — olhei em sua direção. — O que você quer que eu diga?
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  — Quero que me conte o que houve, você não ficaria com essa cara depressiva se não tivesse rolado nada. — concluiu ele. — Diga .
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  — Estávamos muito bem, até que tive uma crise de pessimismo e resolvi voltar, mas no meio da minha partida ela me beijou, e isso me fez ficar depressivo.
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  — O quê? — seu tom era de indignação. — Como assim? Uma garota te beija e você entra em depressão?
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  — Suho, você realmente não me conhece e nem entende. — eu bufei um pouco e dei alguns passos até a cadeira ao lado da janela e me sentei. — Não é fácil para mim, sempre vou me sentir inseguro, olha o que aconteceu comigo, olha no que me transformei.
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  — Não é porque aconteceu uma vez, que acontecerá novamente, as pessoas não são iguais, pare de tentar imaginar que a é igual a Taylor. — Suho se movimentou e o barulho da porta se abrindo soou. — Pare de tentar se decepcionar por antecipação.
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  — O que você quer que eu faça? — perguntei controlando meu tom amargurado.
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  — Não deixe essa oportunidade passar. — ele respirou fundo. — Deixei uma bandeja de lanche na sua cama, boa noite.
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  Assim que ouvi o barulho da porta se fechando, me levantei da cadeira e abri a cortina da janela, senti a claridade da lua em meus olhos, logo associei a . Ela era como um brilho de luz no meio do escuro, o que me deixava com uma incógnita para resolver, eu estava com medo de tocar a luz, mas não queria permanecer no escuro.
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  Após comer o lanche que Suho tinha deixado para mim, me deitei na cama, a princípio o propósito era dormir, mas não conseguia parar de pensar nela. Com o tempo fui ficando sonolento até que dormi, no dia seguinte acordei assustado com o barulho de música alta, era Nalla que estava em casa. Cobri minha cabeça e tentei voltar a dormir, mas a cortina aberta permitia o sol entrar e esquentar minha coberta, acho que aquele não era um bom dia para se acordar.
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  — Justo hoje, ela tinha que estar em casa, justo hoje? — sussurrei para mim mesmo.
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  Eu já estava acostumado com os repentinos choques de música alta que Nalla proporcionava sempre que estava em casa de manhã, mas naquele dia eu só desejava silêncio e um pouco de solidão. Mas aquele barulho só representava que eu não estava sozinho, e teria que sobreviver a agressão aos meus ouvidos, afinal, eles eram muito sensíveis.
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  — Yah… — me espreguicei e levantei da cama. — Não acredito que meu dia está começando assim.
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  Respirei fundo e caminhei para o banheiro, lavei o rosto umas três vezes para conseguir acordar direito, troquei de roupa, coloquei meu óculos e saí do quarto. A cada passo que dava no corredor, uma fincada na minha audição se dava por causa do barulho, andei até a mesa de centro, peguei o controle e desliguei o som.
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  — ? — disse Nalla surpresa. — Nossa já acordou, seu desagradável, não desligue minha música.
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  — Sua música está assassinando minha audição. — retruquei colocando o controle em cima da mesa de centro de novo, eu me virei para o corredor para voltar para o quarto.
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  — Ué, não vai cumprimentar sua amiga? — disse ela num tom de deboche.
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  Eu fiquei paralisado, não sabia se falava o nome da ou deixava ela explicar, vai que fosse uma invenção de Nalla.
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  — Bom dia, . — a voz da ecoou na sala, pela intensidade e distância, ela estava na minha frente.
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  — Eu a encontrei parada na nossa porta, quando voltava do mercado. — explicou Nalla. — Estávamos nos divertindo até você estragar tudo.
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  Eu precisei de alguns segundos para absorver toda a informação e não jogar Nalla pela janela, ela certamente estava se divertindo com a situação, ainda mais por sempre me criticar por agir com naturalidade. Para Nalla, eu tinha que ser como toda pessoa deficiente visual, tinha que viver dependendo dos outros, ou no caso, depender dela.
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  — Me desculpe por vir sem avisar. — disse num tom mais brando. — Mas eu precisava conversar com você.
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  — Acho melhor irmos para outro lugar. — disse pegando na mão dela seguindo em direção a porta. — Mais reservado.
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  — Não vão ficar para o café? — perguntou Nalla da cozinha.
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  — Não. — respondi abrindo a porta.
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  Assim que saímos do apartamento, permaneci segurando a mão dela, seguimos até a rua, não conseguia imaginar para onde poderia levá-la, mas tomou a direção e me guiou pela rua. Não sabia em que direção estávamos indo, mas tentava agir o mais natural possível, senti que entramos num prédio, ouvi pessoas conversando pelos corredores, subimos alguns lances de escadas.
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  Finalmente, depois de muitos degraus, chegamos ao que aparentemente seria o terraço, demos alguns passos até que chegamos perto de um banco. Eu senti pelo movimento do seu corpo que ela havia se sentado, eu respirei fundo e senti um cheiro forte de vegetação, não conseguia distinguir quais plantas poderiam ter, mas parecia que tinha uma vegetação muito variada.
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  — Posso entender onde estamos? — perguntei de forma trivial.
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  — Estamos no terraço de um estúdio de ballet. — respondeu ela rindo de leve. — Meu pai era paisagista, este prédio é da minha tia Charlie, meu pai fez esse jardim aqui no terraço para ela, como um presente de aniversário.
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  — Bonito o gesto dele. — disse, como não sabia como era o terraço, não poderia falar sobre, isso me deixava frustrado.
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  — Sim, o jardim ficou pronto uma semana antes dele e da minha mãe partirem. — sua voz estava com um tom de tristeza. — Quando sinto falta deles, sempre venho aqui, então me sinto bem.
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  — E me trouxe aqui. — estava confuso por isso, talvez esse fosse um lugar íntimo para ela, por causa do seus pais.
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  — Queria te mostrar, que pudesse sentir meus pais como eu sinto, eles iriam gostar de conhecer você. — ela se levantou e se posicionou na minha frente.
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  Um breve silêncio tomou conta, eu conseguia até ouvir o som do vento passar por nós.
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  —
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  — Acho que já sei o que vai dizer. — disse a interrompendo. — Não precisa se sentir culpada por ter lido alguma coisa que possa ter acontecido entre nós dois, apenas pense que não aconteceu nada.
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  — Por que você quer que eu esqueça? — ela me perguntou de forma séria, mas com serenidade na voz. — Por que você sempre quer que eu esqueça?
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  — Como assim? Por que está me perguntando isso? — eu não entendia sua indagação sobre minhas atitudes.
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  — Eu posso não me lembrar de ontem, mas consigo perceber que você sempre está tentando me fazer esquecer algo sobre você, ou sobre nós. — ela suspirou fraco. — Sinto que você fica feliz quando estamos juntos, mas ao mesmo tempo sempre tenta me afastar. Eu fiz algo de errado?
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  — Não. — respondi engolindo seco, o erro estava comigo. — Sou eu que tenho medo da luz.
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  — Por quê?
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  — Porque não quero me machucar de novo. — a primeira lágrima caiu e junto com ela, senti a mão de tocar meu rosto. — Me desculpe, por ser tão inconstante.
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  Eu me afastei dela, mas senti sua mão segurar a minha, meu coração voltou a sua rotina de ficar acelerado, após alguns segundos sem nos mover, eu senti ela retirando meu óculos com a outra mão. Eu não sabia o que fazer, então com a mão que estava segurando a minha, ela elevou até sua face e me fez tocar seu rosto.
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  — … — comecei a sussurrar.
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  — Não diga nada, apenas me veja com seus verdadeiros olhos. — explicou ela pegando minha outra mão e colocando em sua face também.
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  Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, ela sabia que eu era cego, ela não se esqueceu e mesmo assim continuou agindo como se eu fosse uma pessoa normal. Eu dei um sorriso ingênuo e comecei a deslizar minhas mãos por sua face, aos poucos sentindo cada detalhe do seu rosto, ela sorriu de leve para mim, seus olhos estavam fechados.
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  Talvez ela estivesse tentando enxergar como eu enxergo, minhas emoções estavam sendo divididas em sentir ela e chorar por isso, mas naquele momento minha cabeça estava guardando todas as informações e formando sua imagem em minha mente. Minhas mãos começaram a percorrer seus pescoço, quando cheguei em seu ombro a impulsionei para cima de mim e a abracei, logo senti seu perfume, que para mim era o melhor aroma do mundo.
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  — Me desculpe, por omitir que sabia. — sussurrou ela se aninhando nos meus braços.
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  — Não precisa se desculpar. — respirei fundo. — Eu realmente desejava te ver, obrigado.
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  — Não precisa ter medo da luz, apenas não se afaste para a escuridão. — disse ela se afastando um pouco. — E me deixe brilhar para você.
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  — Eu já disse que você é maravilhosa? — sorri de leve.
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  — Sim, uma vez eu acho. — ela riu.
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  — Como conseguiu agir como se não soubesse? Você foi bem natural. — comentei estranhando tudo, naquele momento minha ficha estava caindo. — Como não esqueceu?
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  — No meu álbum de fotos, eu sempre coloco um lembrete atrás das fotos mais importantes, a primeira foto que eu tenho sobre você é do meu joelho arranhado, atrás dela está escrito que você é cego, mas que eu deveria agir como se não soubesse. — explicou ela calmamente, sua voz suave e sua respiração tranquila. — Então passei a observar como você age e como fala, eu escrevi sobre ontem, quando estava na minha casa eu falei muito sobre o lugar, acho que era basicamente por isso, em todas as fotos que envolve você, tem um recado para que eu sempre detalhe tudo e faça barulho de uma forma subjetiva para você saber onde eu estou.
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  — Por isso você sempre fica cantarolando. — conclui sorrindo de canto.
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  — Sim. — assentiu ela.
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  — , eu…
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  — Por favor, não diga nada negativo. — ela segurou em minha mão. — E nem diga pra eu esquecer tudo, porque eu não quero me esquecer de você.
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  — Eu não quero que se esqueça de mim. — respirei fundo e sorri. — Eu só preciso de um tempo para me acostumar, eu não sei o que temos, mas ainda tenho medo de sentir algo por alguém novamente.
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  — Eu espero, não sei o que aconteceu com você no passado, mas estou curiosa para saber mais sobre você.
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  — Você realmente quer se aproximar por alguém como eu? — perguntei meio confuso.
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  — O que tem você?
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  — Eu não posso te ver. — respondi escondendo minha tristeza e vergonha.
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  — Claro que pode, através da minha voz, do meu perfume, sempre que estou perto, você sabe que sou eu. — ela respirou fundo. — Muitas pessoas são cegas mesmo tendo seus olhos intactos, você é diferente, e sim, eu quero me aproximar de você.
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  — Eu não sei o que dizer. — sussurrei para ela.
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  — Diga apenas algo positivo.
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  — Eu… — elevei minha mão até sua face e a toquei de leve, ela estava sorrindo, meus olhos se encheram de lágrima. — Estou me apaixonando por você.
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“Não sorria para mim,
eu me apegar a você, ficarei triste,
Tenho medo de que um belo sorriso se transforme em lágrimas.”

– Let’s Not Fall In Love / Big Bang

Capítulo 07

  Nós passamos algumas horas naquele terraço conversando, ela tinha preparado um café da manhã especial para nós, que estava muito saboroso, como sempre ela não errava em seus testes diários na sua pequena cozinha. me contou um pouco sobre sua infância e sobre a época que foi morar com seus tios, sua tia Charlie era irmã do seu pai e casada com o senhor John, o dono da cafeteria.
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  Mesmo que meu passado me machuque só de lembrar, eu contei a ela tudo sobre mim, como conheci a Taylor, como fiquei cego e como tentei viver depois. Ou melhor, como eu conseguia sobreviver a escuridão de todos os dias, contei sobre a primeira vez que senti seu perfume e de como eu fiquei louco querendo encontrá-la novamente.
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  — Ainda sinto que tudo isso é um pouco surreal, eu e você aqui. — estávamos sentados e ela estava com a cabeça apoiada em meu ombro direito, eu comecei a rir de leve.
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  — Do que está rindo? — perguntou ela erguendo um pouco o corpo.
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  — Estou aqui pensando, você sabe fingir muito bem. — expliquei me referindo a ela esconder que sabia da minha condição.
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  — Acredite, minha casa estava cheia de pequenas notas espalhadas pelas paredes, para que eu não me esquecesse de detalhar tudo. — ela riu junto. — Mas estou feliz que agora não se importe que eu saiba.
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  Fiquei em silêncio por um tempo, muitos pensamentos reunidos em minha mente, a maioria deles negativos, algo que eu deveria começar a lutar contra.
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  — O que foi? — perguntou ela. — Ficou sério de repente.
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  — Estava pensando em coisas impróprias. — suspirei fraco e virei minha face para sua direção. — Me desculpe.
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  — Não se desculpe. — ela tocou em minha face. — Passou por todos esses anos nos escuro, é normal achar que está sonhando ainda.
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  — E não estou? — toquei em sua mão de leve, retirando do meu rosto.
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  — Se estiver sonhando… — ela se aproximou de mim e me beijou novamente com suavidade. — Não o deixarei acordar.
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  — Estou contando com isso. — sorri de canto ainda segurando a mão dela e entrelaçando nossos dedos.
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  — Hum, posso pedir uma coisa?
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  — O que você quiser.
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  — Uma foto, quero registrar esse momento.
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  — Quantas você quiser. — eu sorri.
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  Ela se levantou e deu alguns passos, logo ouvi o barulho de um zíper se abrindo, deveria ser sua bolsa ou algo do tipo. Instantes depois, ela se sentou ao meu lado novamente e me pediu para sorrir, segundos depois o barulho da câmera surgiu.
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  — Como ficou? — perguntei curioso.
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  — Perfeita. — assentiu ela aproximando ainda mais seu rosto do meu e tirando outra foto. — E essa também.
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  — Você disse uma foto. — brinquei.
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  — E você, quantas eu quiser. — retrucou ela rindo. — Você quer almoçar comigo hoje?
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  — Vejamos, não tem nada na minha solitária agenda. — permaneci com minha face voltada para ela.
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  — Que bom. — pela sua espontaneidade, ela parecia estar se divertindo com minhas ironias. — Você gosta de frango?
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  — Sim. — eu ri. — Mas onde você pretende me levar?
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  — Você não está pensando que vamos a um restaurante, está?
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  — Não sei. — eu ri de leve. — Me surpreenda.
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  — Apenas me acompanhe. — ela riu se levantando e pegando minha mão, me puxando.
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  Eu a segui rindo um pouco, percebi que estávamos fazendo todo o caminho de volta, e de acordo com minha memória, a direção era para o seu loft. E estava certo, assim que ela encaixou a chave no trinco e rodou, quando entramos, pediu que eu a seguisse até a sala, ela iria comunicar ao seu tio que já tinha chegado.
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  Meus passos foram mais lentos e perceptíveis dessa vez, eu queria memorizar cada detalhe daquele lugar, a textura da parede do corredor que era de tijolinho, o cheiro da orquídea que tinha na mesa de centro da sala, a maciez do sofá e como ela colocava as almofadas nele. Cada milímetro daquele loft era, para mim, como uma floresta que eu tinha que explorar, estava tão distraído em meu reconhecimento de terreno que não reparei que ela tinha retornado.
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  Mas logo seu perfume chegou até mim, parei por um momento de inspecionar as duas prateleiras que tinha abaixo da televisão e me virei para a direção do aroma. Ouvi uma pequena risada vindo dela, não consegui e ri junto.
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  — Não consegui resistir à tentação. — disse, me referindo ao que estava fazendo.
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  — Que bom que fez isso, prometo que não vou trocar nada de lugar. — disse ela.
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  — Agradeço por isso.
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  — Ainda me impressiono com isso. — ela deu mais alguns passos até mim. — Se eu não soubesse, eu realmente não acreditaria que fosse assim.
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  — Algumas pessoas acham que minha forma de agir é orgulhosa, mas eu só não quero que me olhem com piedade ou algo assim. — expliquei para ela.
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  — Deve ser muito duro para você, ter que se esforçar tanto para isso. — seu tom de voz oscilava um pouco, mas conseguia manter a suavidade, ela provavelmente estava lutando para não me tratar de forma indiferente.
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  — No início era, mas depois fui me acostumando, como você mesmo disse, há outras formas de se enxergar. — eu dei dois passos e parei em sua frente, estendendo um pouco meu braço, toquei em sua mão. — E eu estou gostando de ver você.
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  — Eu também gosto que me veja. — ela segurou em minha mão. — E já que agora consegue reconhecer minha casa, vamos ao nosso almoço.
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  — Hum, o que está pensando em fazer?
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  — Nós vamos cozinhar. — respondeu ela.
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  — Nós? — provavelmente meu rosto estava confuso, já que eu estava assim.
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  — Sim, nós. — ela riu e me puxou para a cozinha. — Por quê? Está com medo?
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  — Bem, olhando para nossa realidade, posso colocar fogo na sua casa ou me cortar com a faca. — expliquei.
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  — Não se preocupe, estarei ao seu lado. — ela não conseguia parar de rir de mim.
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  Eu levei cerca de vinte minutos para memorizar tudo que tinha nos armários, daquele quadrado que ela chamava de cozinha, além das coisas que estavam na geladeira e no congelador. me explicou algumas coisas essenciais, e como eu poderia manipular uma faca sem me cortar, acho que aquela garota incrível já tinha pensando em tudo. Acabei descobrindo que ela tinha passado alguns dias atrás treinando cortar as coisas e cozinhar de olhos vendados, me impressionou bastante e deixou meu coração ainda mais acelerado.
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  Admirável nossa sincronia naquele pequeno espaço, mas claro que ela estava se esforçando ainda mais do que eu, comecei a imaginar que pudéssemos repetir isso no apartamento do Suho, a cozinha era mais ampla e eu conhecia melhor onde ficava cada coisa. me explicava cada detalhe da receita de risoto de frango com creme de leite, e mesmo quando não estava falando, ela cantarolava para eu saber onde estava.
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  Foi divertido fazer aquilo com ela, mais do que todos os momento que passamos juntos, aquele eu estava sendo realmente eu, sem ter que me preocupar se ela poderia ou não saber da minha condição, ou ficar com medo de como ela poderia reagir. Eu estava mais do que feliz, um sentimento de êxtase tomava conta de mim, poderia ser considerado algo simples para pessoas comum cozinhar.
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   Entretanto, para mim era mais do que somente cozinhar, eu estava entrando no universo de , estava tendo a chance de sentir o que ela sente quando cozinha, era mais um detalhe sobre ela que me ajudaria a me aproximar, era mais uma forma de vê-la.
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  — E agora colocamos mais um pouco de sal para dar sabor. — disse ela colocando a colher em minha mão. — Pode mexer.
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  — Tem certeza? Da última vez joguei todo o arroz no fogão. — perguntei preocupado, já estávamos na etapa final da receita e era nossa terceira tentativa para eu não derramar tudo novamente.
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  — Você está muito ansioso e nervoso. — ela parecia segurar o riso. — Apenas respire tranquilamente e sinta que comida é algo que não se deve fazer de forma afobada.
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  Ela tocou em minha mão, e começou a guiar minha mão enquanto eu misturava a panela, era movimentos circulares e suaves. Talvez eu estivesse mesmo muito ansioso ou afobado, já que era minha primeira vez cozinhando com ela e, de fato, nunca tinha cozinhado sozinho antes.
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  — Pronto, terminamos. — disse ela pegando com suavidade a colher da minha mão.
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  — Como está? Parece bom? — perguntei.
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  — Veja por si mesmo. — ela senti sua movimentação e logo senti o aroma mais forte do risoto.
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  — Bem o cheiro está maravilhoso, mas acho que terei que ver de outra forma. — eu ri.
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  — Imaginei. — ela riu junto. — Coloque os pratos na bancada, eu preciso atender uma ligação.
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  — Tem alguém te ligando?
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  — Sim, me desculpe, eu esqueci de tirar meu celular do silencioso. — ela se afastou indo em direção à escada, ouvi seus passos subindo os degraus enquanto atendia a ligação.
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  Talvez por minha audição ser muito perceptiva, ela apenas respondia a pessoa da ligação com “sim” ou “não”, o que me deixava meio frustrado. Eu coloquei os pratos na bancada e me sentei na banqueta da beirada, ainda tento aos seus passos descendo as escadas.
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  — Me desculpa, era minha tia, queria saber se nosso café da manhã foi bom. — explicou ela se sentando ao meu lado.
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  — Não precisava me dizer isso. — disse num tom sério.
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  — Claro que precisava. — retrucou ela. — Se eu não dissesse, você começaria a pensar coisas sem propósito e não quero correr o risco de você me afastar de novo.
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  — Você realmente acha que pode dar certo? — perguntei.
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  — Nós dois? — retrucou ela.
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  — Sim.
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  — Claro que vai dar certo. — ela tinha tanta certeza e sua voz, que fazia com que minhas incertezas desaparecessem. — Acho melhor comermos, antes que esfrie.
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  — Tem razão. — assenti, sentindo ela mover seus braços.
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   serviu meu prato e o seu, e me fez servir nossos copos com o suco natural que eu fiz, naquele momento quase parei de respirar para conseguir colocar sem derramar. Porém, fiquei brevemente aliviado por ter conseguido, assim que comecei a comer, constatei que não era somente o cheiro que estava bom, mas o gosto estava bem diferente de tudo que já provei.
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  Era um sabor especial e incomum, de alguma forma estranha, através daquela comida eu conseguia ver ela, me sentia fazendo parte da sua vida. O meu suco não estava tão ruim assim, mas faltava um pouco mais de açúcar, segundo ela. Assim que terminamos, minha segunda missão era lavar os pratos. Poderia ter sido um desastre, se ela não tivesse colocado novamente um avental em mim, para não molhar minha roupa.
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  — Você é muito bom na cozinha. — elogiou.
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  — Agradeço, senhorita, porém, o máximo que consigo até hoje é fazer um sanduíche e chá. — eu sorri de canto. — Mas estou feliz por ter feito algo com você.
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  — Compartilho dessa felicidade. — ela pegou minha mão e encostou em sua face, ela estava sorrindo.
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  Era difícil não me arrepiar quando a tocava, mais difícil ainda era controlar minhas lágrimas que se formavam com facilidade. Em um segundo, senti seus lábios em um breve selinho, ela se afastou um pouco e me chamou para assistir TV, eu a segui e sentamos no sofá. pediu para escolher o filme, eu logo pensei que viria filmes românticos, mas surpreendentemente ela anunciou que faríamos uma pequena maratona de Piratas do Caribe.
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  Poderia imaginar que aquilo fosse um programa de domingo entre namorados, sim, era domingo, mas ainda não estávamos definidos como namorados. Talvez porque essa palavra me assombrava e fazia eu pensar no que não deveria, ou porque o trauma do passado se tornava mais evidente. Não importava, aquela sensação de ser abandonado novamente sempre iria acompanhar pensamentos como namoro ou amor.
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  — Você está distante. — comentou ela mantendo a suavidade da sua voz.
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  — Estou controlando meus pensamentos. — revelei sem detalhes.
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  — Sei que não é fácil, mas… — ela tocou na minha mão e entrelaçou de leve nossos dedos. — Estarei aqui para te ouvir, se quiser.
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  — É complicado, mas obrigado. — mesmo não conseguindo desabafar, eu sentia o carinho dela e já me bastava, me fortalecia de uma forma inexplicável.
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Escute as batidas do meu coração,
Ele está te chamando por vontade própria,
Nessa escuridão,
Você está brilhando tanto.”

– Save Me / BangTan Boys (BTS)

Capítulo 08

  Os dias foram passando, eu me encontrava com todas as manhãs para o café da manhã, sempre na sua casa para ter mais privacidade, já que agora Nalla passava o dia trabalhando em casa. Eu não entendia mais os horários dela, mas não me importava, já que a noiva não era minha, e sim do .
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   tinha me contado mais coisas sobre sua infância, um pouco sobre seus pais e sobre ter feito aulas de balé quando criança, por influência de sua tia Charlie. Foi legal imaginar ela dançando balé por alguns segundos, mas sabia que a paixão dela era pela gastronomia, assim como sua mãe.
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  Eu contei a ela algumas coisas sobre minha infância, minha vida acadêmica, sobre estar cursando administração quando me tornei deficiente visual. De todas as pessoas que já ouviram minha história, ela foi a única que não se espantou ou me chamou de louco. Talvez por entender que quando se ama, fazemos loucuras para ver a outra pessoa feliz.
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  — Você não pensa em fazer mais nada? — perguntou ela.
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  — O quê? Como assim? — me sentei ao seu lado no sofá.
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  — Hum, profissionalmente. — explicou ela. — Você é tão inteligente, não pensou em fazer nada?
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  — Nunca consegui ter motivação para isso. — respondi, mantendo minha face voltada para frente. — Acho que nunca tive motivação para pensar de fato no que fazer da vida.
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  — Não acha que sete anos é o bastante para deixar sua vida parada? — insistiu ela.
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  — Talvez, não sei.
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  — Eu acho que deveria pensar em ocupar seus dias. — disse ela.
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  — Já está se arrependendo de me convidar para café? — brinquei num tom sério.
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  — Jamais. — ela riu. — Mas eu sou somente uma parte do seu dia, uma parte da sua vida.
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  — Acredite, você é a melhor parte.
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  — Eu sei. — ela deitou sua cabeça no meu ombro. — Mas gostaria de te ver sorrindo fazendo outras coisas também.
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  — Tenho que admitir que você é minha única razão para sorrir?
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  — Não. — ela riu. — Mas deve ter algo que você goste de fazer.
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  — Quando era mais novo, gostava de escrever, tinha um emprego de meio período no jornal do bairro onde morava. — suspirei um pouco. — Mas tive que deixar para seguir o sonho dos meus pais, administração era a melhor opção segundo eles.
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  — Você pode retomar seu sonho de onde parou. — sugeriu ela. — Já que era o que gostava.
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  — Não sei se conseguiria. — retruquei.
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  — Tentar não vai te matar. — ela tocou em minha mão e começou a brincar com meus dedos. — E você pode se divertir fazendo isso.
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  — Prometo que vou pensar na sua sugestão. — virei minha face para ela. — Tem certeza que não está tentando se livrar de mim?
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  — Se fosse para isso, você tem muito mais chances de se livrar de mim. — ela riu um pouco. — E digamos que agora estou curioso para ler o que você andava escrevendo no passado.
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  — Hum, vou adorar te mostrar. — sorri para ela.
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  Era mesmo uma ideia interessante, e de fato, só precisava de alguém além de para me motivar a fazer algo, além de passar horas dentro do quarto em estado melancólico. Ao final da tarde, voltei para o apartamento, para minha surpresa, havia chegado cedo do seu trabalho e estava vendo um jogo do Champions League, acho que era Bayern de Monique contra Chelsea.
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  — . — disse indo me sentar ao lado dele.
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  — Sim? — respondeu ele.
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  — Aquele seu amigo da redação, você ainda tem contato com ele? — perguntei sem compromisso.
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  — Tenho. — sua voz estava um pouco estranha. — Por quê?
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  — Nada, só curiosidade.
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  — Joga sua curiosidade direito e vamos direto ao ponto.
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  — Eu aceito. — respondi.
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  — O quê?
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  — A proposta, eu aceito trabalhar para ele.
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  — Sério? — mais surpresas vindo de sua voz.
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  — Sim, não me faça repetir novamente. — me levantei.
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  — Ok, a que se deve isso? — perguntou ele. — Ela?
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  — Ela quem? — perguntou Nalla vindo do corredor.
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  — Não importa, só diga a ele que aceito. — respondi, não dando atenção a Nalla.
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  — Aceita o quê? — insistiu ela.
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  — está aceitando a proposta de trabalhar na redação do meu amigo. — explicou .
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  — Nossa, que surpresa, e essa mudança toda tem alguma relação com sua amiga? — perguntou ela.
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  — Acho que isso não é da sua conta, já que agora poderei pagar por estar aqui. — segui em direção ao corredor.
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  — Que isso, , você sabe que nunca de cobramos nada. — senti vindo atrás de mim.
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  — Você não, mas… — abri a porta do meu quarto, tentei não ser sincero, porém tinha coisas que estava querendo despejar. — Não quero mais ter que ficar dando explicações da minha vida, só porque não ajudo a pagar a conta de luz.
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  — Não diga isso tão duramente. — disse .
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  — Tem certeza? — eu olhei em sua direção. — Só estou sendo honesto, agradeço sua ajuda, mas este lugar não é somente seu, sabemos disso.
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  — .
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  — Boa noite, . — fechei a porta na cara dele.
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  Era chato brigar com meu primo, mas não era a primeira vez, talvez a motivação de tenha um ponto positivo, eu teria minha independência novamente e já estava sentindo o gosto dela. Tomei uma ducha quente para relaxar e me joguei na cama, me senti um pouco animado e ansioso, tanto que comecei a imaginar inúmeras situações em minha possível rotina de trabalho.
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  Como eu havia pedido, conversou novamente com seu amigo e, para minha sorte, a proposta ainda estava de pé, talvez porque minha carta de recomendações do editor chefe do jornal que eu trabalhei, e de alguns professores meus da universidade, eram mais chamativos que meu próprio currículo.
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  Três dias depois, após uma breve entrevista de rotina e exames médicos desnecessários, eu estava oficialmente contratado pelo Jack, editor chefe da redação e amigo do . Era uma pequena redação de jornal, voltado para o setor de economia e negócios, inicialmente eu seria um colunista e meu trabalho era escrever pequenos artigos sobre empreendedorismo.
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  Se eu sabia de fato o que era? Não, mas se tinha uma coisa que eu sabia fazer, era artigos. Para me incentivar no emprego novo, me deu um notebook especial para deficientes visuais, fiquei agradecido, assim poderia escrever com mais facilidade, já que fazia tempo que eu não digitava, tinha perdido a prática e não me lembrava muito de como era o teclado.
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  Eu teria agora uma rotina no meu dia, articulada com precisão por : após o nosso café da manhã, passaria o dia na redação e, ao final da tarde, passaria na cafeteria para dar boa noite. Mas não imaginaria que ela me faria uma surpresa logo no meu primeiro dia de trabalho.
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  — ? — disse assim que a porta do elevador se abriu e eu sentir o aroma daquele doce perfume de jasmim.
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  — Oi. — disse ela. — Surpresa!
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  — O que faz aqui? — perguntei saindo do elevador.
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  — Vim te buscar no seu primeiro dia. — respondeu ela segurando minha mão. — Fiz mal?
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  — Não, eu adorei a surpresa. — entrelacei nossos dedos. — Estou feliz que tenha vindo, me faz sentir que estou começando bem.
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  — Que bom, acaba de ganhar uma leitora. — ela riu. — Eu não entendo nada de economia, mas o que você escrever, eu leio.
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  — Agradeço o incentivo. — eu ri junto enquanto seguíamos para a saída. — E para onde vamos? Sua casa? O estúdio de balé?
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  — Hum, nenhum dos dois. — respondeu ela com um tom de animação. — Primeiro, porque o estúdio de balé está sendo usado por uma amiga da minha tia, ela está dando aulas particulares lá, eu acho, e meu loft está meio bagunçado, passei a noite organizando meus livros de receitas.
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  — Nossa, estou tentando imaginar papéis espalhados por todos os lados.
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  — Basicamente isso. — ela riu. — Então tive uma ideia melhor e inacreditável.
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  — Qual? — eu não sabia se ficava com medo ou com receio.
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  — Vamos assistir a uma apresentação de orquestra. — respondeu ela.
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  — O quê? — meu coração acelerou um pouco. — Orquestra?
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  — Sim, será algo que vamos poder ver juntos. — explicou ela. — E não podemos nos atrasar.
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  Ela me puxou para a calçada e entramos dentro de um táxi, eu ainda estava surpreso com tudo, mas estranhamente minha preocupação era quanto a minha roupa, se eu estava vestido de forma apropriada. riu de mim quando contei a ela essa minha preocupação, e assentiu que eu estava muito charmoso com meu terno azul marinho.
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  Minutos depois chegamos ao Lincoln Center, eu me lembrava vagamente de como era. Ao sairmos do táxi, segurou em minha mão entrelaçando nossos dedos e me guiou pelo caminho, ela tinha ingressos vip para um dos camarotes, cortesia da sua tia pelo meu emprego.
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  — Do que está rindo? — perguntou ela, após entrarmos no camarote.
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  — Estava imaginando você contando para seus tios sobre mim. — disse parando de rir. — Eles devem me achar uma pessoa estranha.
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  — Um pouco. — ela riu me puxando para frente. — Eles te acham uma pessoa corajosa, por ter feito o que fez.
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  — Só isso? — perguntei me sentando.
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  — Eles te acham legal também, principalmente pelo seu lado cavalheiro. — explicou ela tranquilamente. — Nos últimos dois anos, todos os homens que se interessaram por mim, de alguma forma sempre tentaram se aproveitar da minha falta de memória.
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  — Vou levar isso como uma aprovação para o nosso namoro então. — disse num tom de brincadeira.
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  — Então, nosso encontro vai terminar com um pedido de namoro? — retrucou ela.
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  — Você quer isso? — virei minha face na direção dela.
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  — A pergunta é, você quer? — sua voz estava séria, mas sempre suave. — Bem, acho que vai começar.
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  Suas palavras começaram a martelar em minha mente, e novamente minha atenção estava dividida entre a apresentação e aquela pergunta. Aquele concerto estava maravilhoso, havia me esquecido de como era bom sentir a música, meu corpo arrepiava a cada nota musical que soava.
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  Foram uma hora e vinte minutos de apresentação, permanecemos sentados por alguns minutos a mais, segundo era para esperar esvaziar os corredores, para sairmos com mais tranquilidade. Eu me levantei e encostei minha mão no beiral, estava tentando afastar meu lado negativo e fazer o que seria o certo, me permitir ser feliz.
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  — Eu quero. — disse de forma aleatória.
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  — O quê? — perguntou ela se levantando também.
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  — Eu quero ficar com você. — confirmei especificando minha resposta. — Eu… Você aceita namorar comigo?
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  — Hum? — mesmo esperando, ela parecia sem reação.
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  Logo senti seus braços envolvendo meu pescoço, juntamente com a proximidade do seu corpo, acho que aquilo era um “sim”. Envolvi meus braços em sua cintura e respirei fundo, era bom sentir seu perfume.
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  — Sim. — disse ela ajeitando um pouco meu óculos com a mão direita. — Minha resposta é sim.
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  — Mais alguma surpresa para o dia de hoje? — perguntei me afastando um pouco dela.
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  — Hum, acho que podemos passar na cafeteria, estou ansiosa para que conheça meus tios oficialmente.
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   se afastou um pouco mais, porém continuou a segurar minha mão, seguimos para a saída tranquilamente, trocamos mais alguns comentários sobre a orquestra, ela me fez detalhar tudo que tinha sentido enquanto ouvia os instrumentos. E o que nunca imaginei que pudesse acontecer, quando nos aproximamos da porta de saída, naquele momento ocorreu.
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  — ? — disse uma voz feminina, eu me lembrava daquela voz, ela pertencia ao meu amargo passado.
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  — Taylor? — disse afirmando reconhecer sua voz.
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  — Não imaginava que me reconhecesse apenas pela voz. — seu tom estava um pouco baixo, mas era a mesma entonação.
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  — Você está um pouco rouca, mas sua voz é a mesma. — assenti.
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  — Uma leve gripe. — sua respiração estava tranquila, ela parecia estar sozinha. — Quem é sua amiga?
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  — Meu nome é . — respondeu ela soltando um pouco minha mão.
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  — Ela não é minha amiga. — eu segurei novamente a mão de , entrelaçando nossos dedos. — Ela é minha namorada.
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“Faz parte da minha vida e é a única ajuda que irá abraçar a minha dor,
O melhor de mim, você é a única coisa que eu tenho,
Por favor, aumente a sua voz para que eu possa rir novamente.”

– Save Me / BangTan Boys (BTS)

Capítulo 09

  Foi uma surpresa ter esbarrado com Taylor ali, não conseguia classificar com algo positivo ou negativo, afinal, quando ouvia a voz dela, a única coisa que sentia era vazio e solidão. Eu poderia até pensar em várias coisas sobre isso, mas minha preocupação estava em , ela sabia sobre meu passado com Taylor e por um breve momento, quase soltou minha mão.
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  Isso estava me preocupando de alguma forma, não queria que minha luz se enfraquecesse por motivos banais. representava o brilho que minha vida precisava, o detalhe que me preenchia de sorrisos e motivações.
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  — Está tudo bem? — perguntei assim que chegamos em frente a cafeteria.
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  — Sim. — a voz de estava baixa e um pouco falha.
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  — Tem certeza? Sabe que posso perceber tudo que tentar esconder.
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  — Estou bem, sim. — ela suspirou um pouco. — Só estou preocupada se Darya retirou a torta do forno no tempo certo.
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  — Hum. — eu sabia que não era sobre isso, mas não insistiria naquele momento.
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  Nós entramos, uma mesa bem ao canto já estava reservado para nós, os tios dela estavam nos esperando, eu estava um pouco nervoso, não sabia como reagir, o que deveria ou não dizer. estava segurando o riso, talvez estivesse percebendo meu nervosismo.
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  — Tia Charlie e tio John, este é . — disse ela me apresentando.
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  — Me lembro do seu rosto confuso, meu jovem. — disse o tio dela. — Estou admirado que não tenha desistido da minha sobrinha.
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  — Para dizer a verdade senhor, foi ela quem não desistiu de mim. — confessei, sentindo segurar forte minha mão.
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  — Poético. — brincou a tia dela, fazendo todos rirem.
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  — Sim. — assentiu . — Apesar de ser a mais pura verdade, não foram uma ou duas vezes que ele me pediu para apagá-lo do meu álbum.
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  — Me desculpe por isso. — eu ri de leve.
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  — Mas você é mesmo um… Bem, não sei como colocar. — disse a senhora Charlie.
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  — Sou um deficiente visual senhora, apesar de às vezes não parecer. — sorri de canto.
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  — Não parece mesmo. — concordou o senhor John. — O que nos deixa impressionados e assustados.
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  — Tio, que tal oferecer um pedaço da torta especial para ele? — perguntou . — Já que é um dia especial.
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  — Ela está me prometendo esta torta desde o início do dia. — disse brincando.
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  — Então, não podemos deixar ele esperando. — a senhora Charlie riu um pouco, ouvi alguns passos se afastando.
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   se afastou com sua tia enquanto eu me sentava na cadeira, seu tio se sentou ao meu lado e começou a conversar comigo sobre tudo que estava acontecendo. Pude perceber que os tios dela estavam muito preocupados com nosso namoro, mas aliviados por eu ser uma pessoa legal e respeitosa.
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  Os minutos foram se passando e assim que a retornou com meu tão esperado pedaço de torta, seu tio se afastou um pouco, nos deixando mais à vontade sozinhos. Ela ficou cantarolando um pouco enquanto eu comia, mesmo tentando não demonstrar, eu conseguia perceber que ela estava um pouco estranha.
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  — Está tudo bem? — perguntei.
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  — Sim. — assentiu ela. — Gostou da torta?
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  — Você sempre acerta. — disse. — Cozinha muito bem.
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  — Que bom, obrigada. — ela respirou fundo.
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  — Posso te pedir uma coisa? — disse virando meu rosto para ela.
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  — Sim. — assentiu ela.
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  — Não pense em coisas que não deveria. — eu procurei sua mão até que encontrei. — Você é a luz que me guia no escuro, não quero te perder.
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  — Eu não vou. — ela jogou seu corpo me abraçando. — Eu prometo.
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  Eu me sentia um pouco aliviado, em sua voz tinha sinceridade, o que acalmou meu coração que já estava um pouco aflito. Os dias foram se passando, como previsto, eu me encontrava com duas vezes ao dia, de manhã e após o trabalho, aquela rotina era boa e divertida, sempre que eu me encontrava com ela à noite, tinha uma novidade sobre seus testes de receitas ao longo do dia.
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  Eu finalmente estava vivendo de verdade, finalmente conseguia sorrir quando acordava, não porque sabia que a veria no café da manhã, sabia que o meu motivo para acordar jamais iria querer se esquecer de mim. Era terça-feira e tinha passado na cafeteria antes do trabalho, estava um pouco estranha, de poucas palavras e meio distraída, certamente era por causa do concurso de confeitaria que estava participando, isso a estava deixando nervosa e ansiosa.
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  Um fato que eu era a pessoa mais pessimista que ela conhecia, mas mesmo com todo o meu lado negativo de ser, eu acabei dando algumas palavras de otimismo para ela, realmente era a melhor no que fazia, seu talento para gastronomia era natural e admirável.
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  — Ando meio estressada por causa desse concurso, às vezes sinto que farei algo errado por causa da minha cabeça. — disse ela ao sairmos pela porta da cafeteria.
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  — Você está se cobrando demais. — eu peguei em sua mão e sorri para ela. — Não importa se a receita de hoje não foi igual a de ontem, tenho certeza que a de manhã será ainda melhor. Sabe porquê?
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  — Por quê? — tinha vestígios de tristeza e frustração em sua voz.
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  — Porque você é maravilhosa e é a melhor quando se trata de cozinhar. — eu acariciei sua face de leve. — Não fique assim, apenas continue como sempre fez, porque a cada dia você se supera ainda mais.
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  — Agradeço suas palavras. — ela me abraçou forte. — Te ouvir dizendo isso me dá mais coragem, mesmo que minhas receitas não saiam as mesmas.
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  — Isso é um ponto positivo.
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  — É? — ela se afastou um pouco.
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  — Sim, porque tudo que você faz se torna único e especial. — eu sorri de leve.
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  Ela me beijou de surpresa, adorava quando fazia isso, enfim, eu tinha razão, pois até seus beijos eram únicos e especiais, eram como uma bateria que recarregava minhas energias para as horas que passaria longe dela. Nos despedimos de uma forma bem demorada, foi bom pois notoriamente ela estava mais tranquila e cheia de ideias para seus novos testes de possíveis bolos para o concurso.
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  No trabalho a rotina era a mesma, estava na minha sala improvisada lendo alguns artigos que Frank, o estagiário, tinha traduzido para braile para mim. Estava um pouco tediosa minha leitura sobre empresas de Startup, mas eu precisava terminar, tinha que escrever sobre o assunto para a edição especial do jornal.
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  — Precisa de algo a mais? — perguntou Frank ao bater na porta que estava aberta.
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  — Não, estou terminando minhas anotações e amanhã acabo esta leitura. — disse mantendo minha face voltada para a apostila. — Ah, mais uma vez obrigado por traduzi-la para mim.
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  — Que é isso, não fiz nada. — disse ele. — Além do mais, já estou acostumado com braile.
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  — Mesmo assim, obrigado. — disse voltando minha face para sua direção. — Está me ajudando muito, a voz da mulher do computador me causa dores de cabeça.
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  — Entendo. — ele riu. — Você já está terminando? Já tem uns dois dias que está lendo, e os três artigos eram um pouco grandes.
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  — Eu já terminei dois, agora estou terminando esse, mas terei que ler novamente para fazer minhas anotações.
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  — Nossa, estou me sentindo cansado por você.
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  — É cansativo mesmo. — eu ri.
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  — Pelo menos não terá que ouvir pelo computador.
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  — Sim, mas estou curioso agora, você conhece alguém que lê assim? — perguntei.
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  — Minha mãe, ela perdeu a visão quando tinha vinte e três anos, aí resolveu aprender, ela me ensinou quando eu era pequeno, nunca esqueci.
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  — Uau, e como sua mãe reagiu ao mundo?
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  — Ela não tinha muita opção a não ser superar, eu ainda tinha três anos, ela precisava ser forte por mim. — respondeu ele. — E tudo ficou legal depois que ela se casou de novo com meu padrasto, o cara é bem legal e minha mãe voltou a ser feliz como antes.
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  — Interessante, sua mãe é uma pessoa admirável. — elogiei.
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  — É, sim. — assentiu ele. — Ela só não é tão precisa como você, ainda fico desacreditado que seja cego.
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  — Nem todos acreditam cem por cento, mas eu sou, sim. — suspirei um pouco. — Contudo, não consigo agir de outra forma, já estou acostumado com meu estilo de vida.
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  — Um dos mais impressionantes que já vi. — ele riu. — Eu vou indo então, tenho um encontro com uma menina da universidade.
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  — Te desejo sorte.
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  — Valeu, estou mesmo precisando. — disse ele saindo pela porta.
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  Eu me espreguicei um pouco e fechei a apostila, meu pensamento de deixar o restante da leitura para o dia seguinte foi mais forte, a noite já havia chego e eu jamais faria hora extra. Afinal, eu tinha um encontro noturno marcado na casa de , joguei minhas coisas dentro da mochila e saí da sala.
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  Desta vez queria chegar mais rápido, então resolvi ir de táxi, pedi para parar dois quarteirões antes, minha primeira parada seria em uma floricultura, comprei um vaso de azaleias brancas, uma das flores preferidas da mãe dela. Assim que cheguei em frente sua porta, meu lado jovem apaixonado me fez ajeitar um pouco a roupa no meu corpo e arrumar meu cabelo, comecei a rir daquilo até que ouvi outra pessoa rindo.
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  — Você ficou muito fofo se arrumando. — disse ela da porta.
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  — Boa noite. — disse um pouco envergonhado. — Então estava aí me olhando?
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  — Acredite, foi coincidência eu abrir a porta minutos antes de você aparecer. — explicou ela.
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  — Você estava onde? — perguntei.
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  — Na cafeteria. — respondeu ela.
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  — Hum. — eu levantei a sacola com a flor. — Trouxe para você.
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  — Nossa. — ela pegou a sacola. — Azaleias.
  — As preferidas da sua mãe.
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  — Sim. — assentiu ela. — Você gravou isso.
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  — Acredite, eu gravei tudo sobre você.
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  — Obrigada. — ela me abraçou de leve. — Vai ficar linda decorando a mesa da sala.
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  — Vai mesmo. — concordei.
  Nós entramos, eu esperei ela encaixar as flores me sentado no sofá, ficamos algum tempo conversando sobre o que tínhamos feito aquele dia, claro que meu relatório era menor e mais tedioso. Em contra partida, as histórias de era mais divertidas e animadoras, finalmente ela tinha desenvolvido a receita que tanto procurava, segundo ela, aquele era o teste que mais se aproximava do que ela buscava.
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  Ela me deu um pedaço para experimentar, confesso que não conseguia identificar a diferença, já que este estava tão maravilhoso quanto os outros que eu já tinha provado. Entretanto, na análise, segundo ela, aquele bolo estava mais suave, leve e macio que os outros, além de ter o gosto doce na medida exata que alguns avaliadores consideravam aceitável para um bolo.
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  Eu não sabia nada sobre confeitaria, mas tinha plena certeza que minha garota ganharia.
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  — Que bom que conseguiu e que está feliz. — disse acariciando seus cabelos, sua cabeça sobre meu ombro.
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  — Me sinto mais leve e aliviada por ter conseguido chegar no que queria. — disse ela com seu tom suave de voz. — Vou dedicar esse bolo aos meus pais.
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  — Eles certamente ficariam felizes por isso. — concordei.
  — Hum, o que vamos assistir hoje? — perguntou ela.
  — Em homenagem ao seu bolo, que tal um bom desenho sobre gastronomia?
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  — Ratatouille! — disse ela empolgada. — Meu favorito.
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  — Oui. — assenti.
  Nossa pequena maratona da gastronomia começou com o desenho, passou por vários filmes do gênero como o clássico Como Água para Chocolate, até chegar no cômico A Fantástica Fábrica de Chocolates, com Johnny Depp, seu ator preferido. Mesmo não conseguindo ver sua face, eu conseguia imaginar o quanto ela estava empolgada e feliz vendo os filmes, alguns ela sabia até a fala dos personagens.
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  Mas, tudo que é bom dura pouco e minha hora de voltar para casa estava chegando, queria que eu ficasse mais um pouco, porém eu não queria que seus tios pensassem que eu estava abusando da confiança deles. Nossa despedida na porta foi um tanto demorada como sempre, mas o beijo de boa noite dela era a melhor parte.
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  — Te vejo amanhã? — perguntei.
  — Sim. — ela pegou minha mão e encostou em sua face, estava sorrindo.
  — Estou ansioso para chegar amanhã. — eu sorri junto. — Já estou com saudade.
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  — Eu também! — ela se aproximou de mim e me beijou com suavidade.
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“Toda noite em que não consigo dormir
O quarto, após de desligar as luzes
Usando as mãos para esboçar
Tentando desenhar seu rosto.”

– My Turn To Cry / EXO

Capítulo 10

  Eu sempre ficava um pouco estático a cada beijo dela, era um momento que eu queria sempre prolongar, mesmo às vezes não podendo. Eu voltei para o apartamento de , demorei um pouco no caminho e quando entrei, tive uma desagradável surpresa, uma daquelas que estragavam seu melhor dia.
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  — Boa noite, . — disse Taylor.
  — Boa noite — disse quase sussurrando.
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  — Ah, — disse vindo do corredor — Que bom que chegou.
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  — Eu vou para meu quarto.
  — Não vai ficar para o jantar? — Perguntou Nalla.
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  — Não estou com fome — respondi seguindo para o corredor.
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  — Eu juro que não sabia — disse assim que passei por ele.
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  — Em você, eu acredito — assenti mantendo minha face para frente.
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  Eu não conseguia acreditar, ou melhor, aceitar que ela estava ali, apesar de lá no fundo esperar por isso, já que Taylor era amiga de Nalla. Entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro, tomei uma ducha fria para esfriar a cabeça e me recompor, aquilo estava me deixando incomodado, por isso decidi que não sairia do quarto até a manhã seguinte.
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  Dava para sentir o cheiro do jantar deles do meu quarto, como se aquilo fosse me convencer a sair, eu já tinha desfrutado de uma maravilhosa lasanha que tinha cozinhado para nós dois. Tentei passar o tempo com a leitura da terceira apostila, mas nem isso me deixava menos concentrado em pensamentos impróprios, confesso que estava curioso para saber quais assuntos rolavam na conversa deles.
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  — Posso entrar? — disse Taylor dando dois toques na porta.
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  — À vontade — me mantive perto da janela olhando a rua, queria dar a menor atenção a ela.
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  — Você deve ter fica surpreso em me ver aqui — disse ela.
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  — Esperando por isso, eu não estava — retruquei — Mas você é amiga da Nalla, então poderia acontecer mais cedo ou mais tarde.
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  — Tem razão — ela riu baixo — Estou feliz em te ver assim.
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  — Assim como? — desviei minha face para sua direção.
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  — Feliz e bem — seu tom de voz oscilava um pouco, mas não conseguia distinguir o que ela estava sentindo.
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  — E estava imaginando que eu estivesse mal?
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  — Não — ela respirou fundo — Mas é que a última vez que soube de você…
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  — O tempo passa e as coisas mudam — disse interrompendo-a — O que faz aqui na cidade? Pensei que estivesse em lua de mel.
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  — Soube sobre meu casamento? — pela sua voz ela estava surpresa.
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  — Nalla comentou sobre isso com , curioso que foi bem na hora que eu estava presente — deixei um tom de ironia em minhas palavras.
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  — Nalla sempre foi assim — ela estava sem graça, era notável isso — Mas nem tudo na vida é um mar de rosas.
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  — O que houve? — perguntei um tanto desinteressado, voltando minha face para janela.
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  — Ele não era o que eu imaginava — respondeu ela — Acho que de todos que já me envolvi, nenhum é como você.
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  — Não existem pessoas iguais nesse mundo — expliquei sendo indiferente — Mas então, por isso veio para cá?
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  — Foi um dos motivos — assentiu ela — Recebi também uma oferta de trabalho aqui, achei que fosse hora de recomeçar.
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  — Hum.
  — Você já deve ter ouvido isso de muitas pessoas, mas estou admirada de como você reage a tudo — disse ela — Quando Nalla me contou sobre isso, não acreditei, mas te vendo de perto…
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  — Quase não dá para sentir vergonha de mim? — agora eu estava jogando algo em sua cara, talvez estivesse me segurando antes.
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  — Eu…
  — Taylor? Ah, te encontrei. — disse Nalla ao aparecer de repente — Eu atrapalho?
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  — Não — respondi — Sua amiga já estava de saída.
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  — Ele tem razão — concordou ela — Eu preciso ir para casa agora, Nalla.
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  — Mas já?
  — Sim.
  As duas seguiram para a sala, eu respirei fundo, não sabia o que sentir só queria passar as horas e voltar para minha nova realidade, ver minha luz novamente. Instantes depois, senti o perfume de , que provavelmente estava ali para saber se eu estava bem.
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  — Nem comece sua sessão de perguntas, eu estou bem — afirmei dando alguns passos até a cama.
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  — Tem certeza? — perguntou ele — Quer desabafar?
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  — Tenho sim e não há nada para desabafar — eu me virei para ele — Taylor é coisa do passado e esse passado não me afeta mais.
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  — Fico aliviado em ouvir isso.
  — Tenho outras coisas para ocupar meus pensamentos e uma ocupa noventa por cento dele.
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  — Uma chamada ? — ele riu.
  — Isso mesmo — eu ri junto — Demorou um pouco para que eu me permitisse, mas agora estou feliz demais para voltar ao passado e estragar tudo.
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  — Você está certo — concordou ele — Fiquei tão estático quando abri a porta e era ela, não sabia o que fazer se ligava para casa da Jenn ou não.
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  — Fez bem em não ligar, estragaria minha maratona da gastronomia.
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  — Que bom que não liguei então.
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   fez alguns comentários bobos sobre meu namoro com , mas dava para sentir que ele estava muito feliz por mim, por eu ter finalmente superado o passado e voltado a viver. Foi nessa felicidade atual que eu deitei na cama e dormi, até mesmo meu sonho aquela noite foi bom e tranquilo, na manhã seguinte eu acordei descansado.
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  — Hum, acho que hoje eu termino aquela apostila — disse me espreguiçando da cama — Pelo menos é minha meta de hoje.
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  Me levantei, arrumei a cama e troquei de roupa, estava pronto para meu café da manhã diário com minha chefe de cozinha favorita. Antes de ir até sua casa, passei na cafeteria, foi então que as coisas começaram a ficar nubladas para mim, o tio dela estava um pouco desnorteado e tinha traços de preocupação em sua voz.
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  Segundo ele, tinha saído cedo e não havia retornado novamente, o que me fez ficar preocupado também, como ela poderia ter saído sem avisar onde iria? O senhor John pediu para Darya me servir o café da manhã, enquanto ele foi atender uma ligação.
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  Eu agradeci pelo café, mas não consegui comer direito, a cada minuto sem notícias da me deixava ainda mais inquieto. Quando eu estava prestes a sair da cafeteria, o senhor John me disse que ela estava resolvendo alguns assuntos do concurso e tinha deixado o celular desligado, mas a senhora Charlie estava com ela.
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  Aquilo me deixou aliviado, mas eu só ficaria sossegado quando visse ela e me certificasse que estava tudo bem. Contrariado, fui para o trabalho, já tinha certeza que não conseguiria me concentrar em nada, principalmente naquela apostila que parecia interminável.
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  — Como está meu colunista favorito? — perguntou Jack ao entrar na minha sala.
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  — Fale mais baixo, os outros vão ouvir — brinquei.
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  — Que isso, até eles reconhecem isso — ele riu — Você é o melhor daqui.
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  — Meu ego agradece os elogios, apesar de eu não ligar para isso.
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  — Por isso você é o melhor, é humilde para negar e continua se esforçando para melhor o que já está bom — explicou ele.
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  — Hum — eu ri — Bem, só não prometo meu texto para essa semana, ainda não terminei de ler os artigos que colocou como referência.
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  — Eu dei uma olhada deles assim bem básica, deve estar morrendo para ler isso.
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  — Acredite, estou sim — suspirei fraco — Mas acho que consigo terminar a tempo a edição especial, até separei algumas matérias que vi no New York Times para ler depois.
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  — Ah, sim, podem ajudar.
  — Podem e vão — afirmei.
  — Eu vou a uma palestra agora, te desejo força na leitura.
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  — Obrigado, vou precisar.
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  Ele saiu rindo as minha sala, enquanto isso eu continuei me esforçando para terminar minha leitura, no final da tarde recebi uma ligação de Darya, dizendo que não tinha retornado para casa e talvez só voltaria amanhã de manhã. Aquilo tinha me deixado ainda mais intrigado, eu estava em um nível de preocupação além do normal, não poder ver ela ou não ter falado com ela até aquele momento estava me fazendo ter reações negativas.
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  Não mudaria em nada eu passar na cafeteria, então fui direto para o apartamento de , como era de se esperar meus pensamentos e minha atenção estaria toda voltada para . Ela era a pessoa que me fazia querer sempre sair do quarto, era o que tornava meu dia interessante, ela era minha luz no escuro da solidão.
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   No dia seguinte acordei antes do despertador, estava mais que ansioso para chegar na casa dela, tanto que nem me arrumei direito, quando cheguei ao lado da cafeteria, o senhor John já estava me esperando. Ele tentou me convencer de voltar outra hora, dizendo que não estava se sentindo muito bem, inconscientemente me dando mais um motivo para querer vê-la.
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  Eu me desviei dele com dificuldade e fui até o loft dela, bati na porta com um pouco de afobação e esperei ela me atender.
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  — Sim? — disse ela ao abrir a porta.
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  — , que bom que abriu.
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  — Me desculpe, mas eu te conheço?
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  — O quê? — eu fiquei paralisado com aquela pergunta — Claro, , sou eu, .
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  — Me desculpe, mas não conheço nenhuma pessoa com esse nome.
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  — Não, você não deve ter lido seu álbum hoje, sou eu, por favor, leia que você vai se lembrar — disse com um pouco de desespero.
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  — Eu realmente não sei quem é você — ela estava com uma voz de assustada — Como sabe que eu tenho um álbum? Isso é muito íntimo.
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  — Meu jovem, venha comigo — disse o senhor John pegando em meu braço.
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  — Não! — eu tentei me soltar dele — Ela me conhece, , você me conhece!
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  — Venha comigo, é melhor — insistiu ele.
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  Mesmo contrariado, deixei ser arrastado pelo senhor John até a cafeteria, eu não conseguia assimilar tudo que ele estava me dizendo, mas estava angustiado por ela não se lembrar de mim. Segurei as lágrimas o quanto pude, o senhor John ligou para , que demorou alguns minutos para chegar.
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  Eu me sentia sem chão, sem gravidade, sem ar, sem vida, aquilo era como uma fumaça cinzenta me cercando por todos os lados, era pior o que minha solidão. A dor estava maior do que a do meu passado, eu estava desesperado, não conseguia entender o porquê, não conseguia associar as palavras do senhor John em sua explicação inútil.
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   me levou para casa, me tranquei em meu quarto por algumas horas, não queria ver ninguém, ouvir ninguém. De angústia e desespero, eu comecei a sentir raiva, raiva da vida, raiva do mundo, raiva do real motivo que afastou de mim.
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  — — disse ao entrar, tinha conseguido abrir a porta com a chave mestra.
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  — Me deixa.
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  — Não posso, não vou te deixar sozinho, não desta vez — retrucou ele — O que houve?
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  — Ela não se lembra de mim, ela me apagou da sua memória — senti a primeira lágrima cair — O pior é que eu não sei o porquê, ninguém sabe.
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  — Como assim? Apagou?
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  — Ela apagou tudo relacionado a mim, por que ela iria querer me esquecer? — eu olhei na direção dele, as lágrimas caindo — Por que justo agora?
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  — Eu não sei — disse — Mas vou te ajudar a descobrir.
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“Quero te ver porque está chovendo
(Porque está chovendo)
Porque estou andando pelas ruas que eu andei com você
(Porque me sinto como se fosse morrer…)
Estou em frente à sua casa.
Sinto sua falta, mas acho que você não sente falta de mim (sinto sua falta)
Na verdade, eu estou enlouquecendo…”

– Hello / Nu’Est

Capítulo 11

  Eu precisei de duas xícaras de chá de maracujá para conseguir me acalmar e dormir, me prometeu não contar sobre isso com Nalla, não queria que chegasse ao ouvido de Taylor. Para ser sincero, minha vida não era da conta dela há muito tempo, mas a noiva do meu primo ainda não entendia isso.
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  Dois dias se passaram, eu ainda estava desnorteado, mas tinha que me levantar, dessa vez eu não iria apenas me trancar para o mundo e voltar para a solidão, eu não deixaria minha luz se apagar. Tinha que me concentrar e começar a pensar no que talvez pudesse ter acontecido, seria complicado pensar nela e não querer chorar, mas era preciso.
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  Primeiro eu precisava de tempo e disponibilidade, então liguei para Jack e pedi para trabalhar em casa por alguns dias, como eu tinha terminado e ler o terceiro artigo, poderia escrever em casa meu texto e enviar para a redação. Com esse problema a menos, voltei meu pensamento para o que me importava.
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   não queria se lembrar de mim, me apagou do seu álbum e pediu para sua família não insistir, a questão era o que a levou a fazer isso. Eu precisava de resposta e não sabia se alguém as me daria, a explicação sem lógica do senhor John me fez definir que não seria com ele. Darya não me parecia entender também, e mesmo que soubesse não acho que me contaria, já que era a melhor amiga de .
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  Acho que minha única esperança seria a senhora Charlie. Logo após o almoço, fui até seu estúdio de ballet, ela estava em seu escritório conversando com uma aluna. Tive que esperar um pouco para ser recebido, mas cada minuto valia a pena para eu ter respostas.
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  — Por que será que eu previa que você viesse aqui? — disse ela com muita certeza.
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  — Porque eu preciso de respostas. — expliquei. — E não posso conviver com incertezas.
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  — Ainda acha que tem um motivo? — perguntou ela.
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  — Sempre tem um motivo, e peço, por favor, que se a senhora souber, me conte.
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  — Serei sincera, você foi a melhor coisa que aconteceu na vida da minha sobrinha, e tenho certeza que ela é o mesmo em sua vida. — ela respirou fundo. — Se eu soubesse de algo, certamente te contaria, mas não sei.
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  — Eu tinha esperanças com a senhora, mas consigo ver pela sua voz que está sendo sincera — me levantei da cadeira.
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  — A única coisa que sei, é que no dia em que ela sumiu, não ficamos todo o tempo juntas, à tarde ela disse que se encontraria com uma pessoa, eu pensei que fosse você, mas pelo visto não era.
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  — Quem seria?
  — Não sei, talvez alguma amiga do passado.
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  — Obrigado.
  Eu voltei para casa sem respostas e sem esperança, mas tinha certeza que viver sem ela era pior do que viver na solidão, eu não iria desistir da minha luz. Mantive meu compromisso com meu trabalho, ironicamente, trabalhar me fazia lembrar dela, já que tinha me convencido a voltar a fazer o que gostava.
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  Confesso que demorei muito para escrever meu texto, meu pensamento estava em outro lugar, para minha surpresa, o nível de profissionalismo em meu texto estava mais elevado. O que me deixou impressionado, mas nem isso me animava, já se contava uma semana que estava longe de e nada de boas notícias, somente visitas indesejadas de Taylor.
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  Nalla forçar sua presença naquele apartamento já estava me deixando estressado, mas o lado bom era ter essa desculpa para me trancar no quarto, não tinha motivos para compartilhar esses momentos com elas. Mais uma semana se passou, até que recebi uma visita inesperada, mais inesperada ainda foi o que iria descobrir.
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  — Darya? O que faz aqui? — perguntei ao entrar na sala e sentir aquele perfume inconfundível que me causava náuseas.
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  — Oi, . — cumprimentou ela. — Preciso conversar com você.
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  — Eu já estava mesmo de saída. — disse . — Vou me encontrar com a Nalla no shopping, até mais tarde, .
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  Aquelas palavras significavam que eu teria muito tempo e privacidade para conversar com ela, assim que fechou a porta, eu a convidei para se sentar.
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  — Pode falar agora. — disse me sentando na poltrona ao lado.
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  — Confesso que deveria ter vindo antes, mas eu tinha feito uma promessa.
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  — Promessa? — eu não estava entendendo nada.
  — me fez prometer que eu nunca iria me intrometer nesse assunto dela com você, mas é visível que ela te ama de verdade. — Darya respirou fundo. — É totalmente visível como a fica sem você na vida dela, é como se estivesse faltando algo, esse algo é você.
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  — Você sabe? — perguntei.
  — Sim, eu sei porque ela quis te esquecer.
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  — Então diga.
  — Bem, ela não quis exatamente, mas achou que esquecer você fosse o melhor caminho — explicou ela.
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  — Melhor caminho para quem? — retruquei.
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  — Para você, ela quis te esquecer para o seu bem, segundo ela.
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  — Darya, você está se escutando? — eu estava um pouco indignado. — Eu amo ela, como ficar longe seria o melhor para mim?
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  — Talvez porque vocês dois sempre vão correr este risco dela te esquecer, ela disse que você tinha uma opção melhor do que ela, alguém que te conhecia melhor que ela e estava de volta.
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  — O quê? — eu não queria acreditar que ela tinha feito isso por causa da volta da Taylor.
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  — Eu tentei fazer ela desistir, porque sabia que ela te amava de verdade, mas ela já tinha entregado o álbum dela para uma pessoa.
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  — Que pessoa?
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  — A pessoa que a fez pensar que você não deveria ficar com ela. — Darya se levantou do sofá. — Eu não sei quem é, só sei que a se encontrou com essa pessoa naquela tarde que ela ficou fora de casa por muito tempo, mas imagino que seja alguém próximo de você.
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  Agora tudo estava se encaixando em minha mente, apesar dos muitos pensamentos do porquê a tomar aquela decisão sem me consultar, eu estava certo de uma coisa. Só havia uma pessoa que poderia ter intenção o suficiente para fazer aquilo, uma pessoa que havia aparecido recentemente na cidade.
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  Eu agradeci Darya por sua ajuda e assegurei para ela que iria resolver todo aquele mal entendido. Eu já sabia a causadora de tudo, só não sabia os motivos dela, que talvez não me importasse, mas de uma coisa eu me importava, aquele álbum que não estava nas mãos de sua dona. Eu liguei para o celular de e o pedi para me levar até onde Taylor estava morando, ele ficou sem entender o meu pedido, mas em menos de trinta minutos ele estava de volta com Nalla.
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  Ela também estava curiosa para saber o que eu queria com sua amiga, mas eu estava com tanta raiva que não conseguia olhar para sua cara, me acalmou um pouco antes de entrarmos no seu carro. Mas eu não queria me acalmar, eu queria resolver tudo de uma vez e ter minha luz de volta em minha vida.
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  Ao abrir a porta, Taylor ficou surpresa ao me ver, senti isso pela sua respiração que mudou, conseguia até mesmo ouvir seus batimentos cardíacos.
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  — . — disse ela. — O que faz aqui?
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  — Vim buscar algo que não deveria estar com você — direto e preciso.
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  — Do que está falando? — perguntou ela.
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  — Acho que sabe muito bem — retruquei mantendo minha face séria e minha voz fria.
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  — Não é melhor vocês conversarem lá dentro? — sugeriu , acho que estava preocupado comigo.
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  — Eu não tenho nada para falar com ela — respondi.
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  — Mas eu tenho, por favor, me escute só um pouco — disse ela.
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  — Vai, , assim você encerra esse assunto.
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  Eu assenti com a face, não por ela, mas pelo que me pediu. Ao entrar, ela fechou a porta, meu primo ficou do lado de fora com sua noiva no carro. Taylor me convidou para sentar, mas preferi permanecer de pé, ela começou seu monólogo falando sobre o que aconteceu com ela depois que terminou comigo, porém, eu não estava prestando muita atenção, meu interesse ali era outro.
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  — Por isso eu queria te pedir perdão pelo que fiz. — disse ela, dava para sentir um pouco de arrependimento em sua voz. — Eu era imatura naquela época, um pouco egoísta também, mas eu mudei e percebi que tinha cometido o pior erro da minha vida.
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  — Eu não tenho mais nenhuma mágoa ou ressentimento, talvez tivesse há alguns meses atrás, mas hoje não. — eu respirei fundo, estava me esforçando para ponderar minhas palavras. — Apesar do que você me fez no passado, das suas palavras que literalmente foram como uma adaga no meu coração, hoje está tudo bem.
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  — Eu realmente me arrependo muito por ter feito aquilo.
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  — Não se preocupe, eu já te perdoei, aquele não foi seu pior erro, seu pior erro foi coagir uma pessoa a fazer o que ela não queria. — eu desviei meu olhar para a claridade que vinha da janela. — E não adianta negar, eu sei que foi você.
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  — Eu juro que pensei mil vezes antes de fazer isso, mas depois que Nalla me disse como você estava depois que conheceu aquela garota. — sua voz era de choro. — Eu não sei o que deu em mim, fiquei com ciúmes e por isso voltei, , eu juro mesmo que queria ter voltado antes, já tem muito tempo que eu percebi que você foi o único que amei de verdade, eu não queria te perder.
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  — Você não me perdeu, você me deixou — agora eu estava leve, joguei a verdade na cara.
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  — Eu sei e estou muito arrependida por isso — assentiu ela.
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  — Pare de dizer que está arrependida e de jurar coisas que não deveria. — retruquei, suspirei fraco voltando minha face para ela. — Taylor, eu demorei sete anos para conseguir viver de novo, sete anos na escuridão achando que minha vida não valia nada, sete anos sobrevivendo a cada dia, seu arrependimento não vai me fazer voltar no tempo e ter uma vida melhor.
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  — Eu sei — dava para sentir que ela estava chorando.
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  — Mas depois disso tudo, eu consegui um novo motivo para ser feliz, e mesmo que esse motivo possa não se lembrar de mim quando acordar no dia seguinte, ela vai permanecer sempre sendo o motivo que eu quero para continuar — disse num tom amargo e ríspido.
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  — Eu só pensei que pudesse ter uma nova chance. — explicou ela. — Eu ainda te amo, .
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  — Lamento, mas não sinto nada por você. — eu respirei fundo e estiquei minha mão. — Agora, me devolva aquilo que não te pertence.
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  — Eu… — ela ficou em silêncio, e logo colocou o álbum em minha mão. — , eu…
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  — Isso só prova que você ainda é uma pessoa egoísta. — eu me virei em direção a porta. — Infelizmente para você, a partir de agora a única coisa que terá de mim são meus olhos, que um dia no passado te dei.
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  Caminhei até a porta e saí sem menor remorso, mas de relance consegui ouvir ela chorando. Por mais que pudesse ser um pouco frio de minha parte, eu estava mesmo sendo sincero, não conseguia sentir mais nada por ela, nem mesmo ódio, raiva ou pena, Taylor era uma mera lembrança sem sentido para mim.
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  Eu estava mais focado em reconquistar minha chefe precipitada, assim que eu entrei no carro, Nalla desceu e seguiu para casa da sua amiga, estava tranquilo e sabia que eu tinha definitivamente virado a página de verdade. Ele me levou para casa, assim que saí novamente do carro, fui até a casa de , eu não sabia o que poderia acontecer, mas não me arrependeria de tentar manter aquela luz em minha vida.
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Ouça meu coração,
Ele está chamando você com vontade própria,
Porque você é luz dentro,
Dessa imensa escuridão.”

– Save Me / BangTan Boys (BTS)

Capítulo 12

  Ela não estava mesmo entendendo nada, porém, me deu um voto de confiança e me convidou para entrar. se sentou no sofá enquanto eu fiquei de pé, estava ansioso demais para me sentar, eu ouvia ela passando as páginas, certamente estava sendo uma surpresa muito grande para ela.
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  — Eu… Como? — perguntou ela se levantando do sofá.
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  — Como estava comigo?
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  — Sim? Por que eu te entreguei? — reforçou ela.
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  — Você não me entregou, você deu isso para outra pessoa.
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  Eu expliquei a ela tudo o que tinha acontecido, a cada questionamento dela e esclarecimento meu, conseguia sentir que ela estava um pouco desnorteada, talvez pelos quinze dias que estavam se fazendo com nossa distância. Mas depois de algumas horas conversando com ela, senti que sua voz foi ficando um pouco falha, como se ela estivesse chorando.
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  — Não faça isso. — eu a puxei de leve e a abracei. — Não chore por isso.
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  — Mas… — ela se aninhou ainda com receio nos meus braços. — Eu… Me desculpe.
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  — Não se desculpe também. — sussurrei para ela acariciando seus cabelos. — Sei que estava pensando em fazer o melhor para mim.
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  — Eu te fiz sofrer como ela fez — disse ela quase num tom mais baixo ainda.
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  Eu conseguia sentir suas lágrimas caindo em meu braço, respirei fundo e afastei um pouco nossos corpos, suavemente limpei suas lágrimas, mantendo meu rosto tranquilo e minha voz suave.
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  — Pare de pensar em besteiras, eu fiquei triste por você ter passado duas semanas sem saber quem eu era, mas estava ainda mais irritado sem saber por que queria me esquecer.
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  — Eu não queria — sussurrou ela.
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  — Sim, você não queria. — eu encostei minha testa na dela. — Por isso, pare de me pedir desculpas e dizer que me fez sofrer.
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  — Mas…
  — Você me fará sofrer se continuar chorando por algo que não vale a pena. — disse a ela. — Eu aprendi uma coisa com você, transformar o negativo em positivo.
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  Em poucos instantes, eu senti seus lábios próximos aos meus, sentia mesmo falta daquela sensação de êxtase que seu beijo me proporcionava, minha luz havia voltado a brilhar ainda mais forte para mim. Minutos depois eu me afastei de leve dela, acariciei sua face com carinho mantendo um sorriso em minha face.
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  — Posso te pedir uma coisa? — perguntei.
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  — O que quiser — respondeu ela.
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  — Nunca mais tome uma decisão tão importante como a que tomou sem me contar, eu fiquei com medo de perder você para sempre e nunca mais conseguir te ver novamente.
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  — … — sussurrou ela.
  — Promete para mim. — eu segurei em sua mão. — Você é a luz que Deus colocou em minha vida, o que afasta o escuro da solidão que havia ao meu redor.
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  — Eu prometo. — ela me abraçou, envolvendo seus braços em meu pescoço. — Jamais farei algo que possa me fazer te esquecer.
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  — Obrigado. — eu retribui seu abraço, envolvendo meus braços em sua cintura, deixando nossos corpos mais próximos.
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  Por mais que eu dissesse para era não chorar mais, acabou derramando mais algumas lágrimas, ficamos alguns minutos abraçados até que a campainha tocou. Eu permaneci na sala esperando, instantes depois uma voz foi surgindo na direção da porta.
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  — Gaston disse que tinha visto uma pessoa vir até sua casa, seu tio ficou preocupado, então… — a voz era de Darya, parecia ter silenciado porque me viu.
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  — Bem, esta pessoa era ele — explicou .
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  — Olá Darya — disse me encolhendo um pouco, envergonhado.
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  — Ah, oi. — pela sua voz, ela parecia aliviada e ao mesmo tempo feliz por ser eu. — Isso quer dizer que vocês…
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  — Sim. — assentiu segurando em minha mão, entrelaçando nosso dedos. — Diga aos meus tios que eu estou muito bem acompanhada.
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   acompanhou ela até a porta, demorou um pouco para voltar, permaneci em pé esperando, ela se aproximou suavemente de mim. Mesmo não podendo ver realmente sua face, eu conseguia sentir que ela estava feliz por ter redescoberto sobre mim, como se de alguma forma ela estivesse se sentindo completa também.
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  — O que foi? — perguntei percebendo seu silêncio ao se aproximar de mim.
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  — Nada, só estava te olhando. — respondeu ela. — Você é tão fofo.
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  — O quê? — desviei minha face para o chão com vergonha. — Não acho que eu seja isso.
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  — Você é. — assegurou ela segurando em minha mão. — Mesmo quando está nervoso e negativo.
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  — Agradeço o elogio então.
  Nós rimos um pouco e logo ouvimos um barulho de trovão, era o anúncio de uma pequena tempestade, eu voltei minha face para , estava chovendo naquele dia, uma coincidência, pois havia chovido no dia que eu a salvei.
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  — Está chovendo — disse ela.
  — Sim. — suspirei fraco. — Como no dia em que eu te salvei.
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  — Bem, me parece que a chuva te trouxe para mim novamente. — brincou ela. — Preciso agradecer por isso.
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  — Ela sabe que estamos gratos por isso. — eu a puxei para mais perto e a abracei. — Estou grato por estarmos juntos novamente, agora e para sempre.
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  — Sempre? — ela se afastou um pouco. — Que indireta seria essa?
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  — Logo você saberá. — eu ri um pouco. — Ah, como vou para casa agora? Mesmo que seja do outro lado da rua, não queria me molhar.
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  — E quem disse que você vai se molhar? — ela se afastou mais de mim, ouvi seus passos na direção da cozinha. — Como já está escurecendo, que tal aproveitarmos o momento com um jantar especial, você pode dormir no sofá.
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  — No sofá? — virei minha face em sua direção segurando o riso.
  — Quem sabe em breve você não sobre o nível e passe para cama — brincou ela abrindo a geladeira.
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  — Uah, estou gostando disso — ri dando alguns passos até a banqueta e me sentei.
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  — Hum — ela riu também.
  — O que teremos para o jantar? — perguntei curioso.
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  — Algo especial, spaghetti quatro queijos — respondeu ela.
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  — Hum, dizem que a gastronomia italiana é romântica — comentei.
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  — Sim, apreciada por muitos casais em ocasiões de comemoração. — acrescentou ela demonstrando empolgação.
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  O tempo foi passando com ela cozinhando nosso jantar, o cheiro que ia surgindo estava me deixando com mais fome ainda, minha concentração em perceber e sentir seus movimentos era tão grande que até mesmo o barulho da chuva era ignorado. Assim que terminou, se sentou ao meu lado e serviu nossos pratos, logo confirmei o que era óbvio, o spaghetti estava saboroso.
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  Pela primeira vez eu estava verdadeiramente seguro de que tudo ficaria bem, de que eu seria feliz de novo e poderia fazer alguém feliz mesmo não estando fisicamente completo. Naquele momento eu estava começando a gostar até mesmo da chuva que caía do lado de fora.
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  As horas de passaram, ainda chovia e pelo que tínhamos premeditado, eu dormiria em sua casa, ajeitou o lençol no sofá e me deu um travesseiro e um cobertor. Eu não entendia o porquê, mas estava ansioso pelo dia seguinte, talvez por ser a primeira vez que dormia tão próximo dela, sentia meu coração acelerado com aquilo.
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  — Então, acho que deveríamos dormir agora — disse ela após ajeitar tudo.
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  — Sim, você tem razão — assenti tentando não demonstrar meu nervosismo.
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  — Está tudo bem? — perguntou ela.
  — Não, mas vou ficar. — respondi engolindo seco. — Eu só preciso acalmar meu coração agora.
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  — Ele está acelerado — afirmou ela colocando sua mão de leve no meu tórax.
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  — É porque estou aqui com você. — respirei fundo. — Obrigado por deixar meu coração assim novamente.
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  — Eu que estou grata por ter aberto sua vida para mim, me deixado iluminar seus dias. — ela foi subindo suas mãos e acariciou minha face. — Assim como eu te completo, você me completa.
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  Ela pegou minha mão e colocou na altura do seu coração, estava acelerado assim como o meu, ela foi se aproximando bem devagar de mim, se estava querendo me deixar louco, estava conseguindo. Logo senti um beijo suave dela na minha bochecha, eu não sabia se ficava paralisado ou frustrado por não ter sido na minha boca, mas a sensação de êxtase era a mesma.
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  — Boa noite — disse ela se afastando.
  — Boa noite — sussurrei.
  Se eu realmente conseguiria dormir? Não, eu não consegui dormir, passei a noite em claro ouvindo o barulho da chuva e pensando em tudo que havia acontecido, nesse curto espaço de tempo que eu tinha conhecido ela.
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  Mesmo que pequeno, eu ainda tinha meu lado negativo dentro de mim, e foi ele que me fez pensar muito sobre meu possível futuro com . Eu não queria correr o risco de um dia perder ela novamente, só de imaginar minha vida sem ela, eu preferia não viver.
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  Ela não era meu mundo, ela era como o núcleo que fazia meu mundo girar, era como a eletricidade que mantinha a luz que me fazia ver mesmo sem ter olhos, era minha parte positiva da vida. E mesmo ela me dizendo que eu conseguiria sim viver sem ela, eu não queria, porque ela era meu complemento.
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  Eu não tinha mais dúvidas do que eu queria, pela manhã, assim que ela acordou e desceu as escadas, eu já estava de pé a esperando, o que a deixou um pouco surpresa.
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  — O que faz já acordado? A essa hora? — perguntou ela com voz de sono.
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  — Para ser sincero, eu não consegui dormir — respondi.
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  — O quê? — ela parecia não acreditar. — Mas por quê?
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  — Porque eu passei a noite pensando em como poderia ficar para sempre com você, porque eu te amo. — eu elevei minha mão ao meu pescoço retirando minha correntinha com um anel, que minha avó tinha me dado quando criança. — Por isso, quero te fazer um pedido.
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  — … — sussurrou ela.
  — Você… — eu estiquei a correntinha para ela. — Quer se casar comigo?
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  Um breve silêncio pairou, acho que ela estava em estado de choque.
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  — ? — estava começando a ficar assustado com sua falta de reação.
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  — … — sussurrou ela. — Mas e se de manhã eu não me lembrar de você?
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  — Não se preocupe. — eu coloquei a correntinha em seu pescoço. — Sua mente pode até não se lembrar de mim, mas seu coração se lembra.
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  Em instantes ela me deu um beijo mais intenso que já havia me dado, eu conseguia sentir todas as suas emoções através daquele beijo, uma sensação de felicidade e recomeço tomou conta de mim. Nós estávamos finalmente começando nossa história, da melhor forma que poderíamos, juntos e cheios de pensamentos positivos.
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  Claro que foi um pouco complicado quando contamos nossa decisão para seus tios. Segundo eles, não tínhamos muito tempo de relacionamento e poderíamos nos arrepender, mas nem eu e nem ela faria isso. Já estávamos decididos e ficar juntos para sempre, mesmo que a maioria não acreditasse que poderia dar certo eu e ela, porém não fazia nenhuma diferença em nossa vida.
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  Outro que ficou imóvel com a notícia foi , mas pelo menos um dos poucos que ficou verdadeiramente feliz, ele e a minha mais nova amiga Darya, que eu tinha até dado um perfume mais suave de presente de aniversário. Nalla estava perto quando dei a notícia ao meu primo, espero que ela tenha passado para frente a informação que eu estava muito feliz com .
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Meses depois – Dia do Casamento

  Não imaginava que eu ficaria tão ansioso em um dia só, mas fiquei ainda mais por querer ver ela, por uma vez, por um único instante eu queria poder ver a . Mas estava conformado em apenas senti-la perto de mim.
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  — Parabéns. — disse me abraçando. — Confesso que nunca imaginei você se casando, ainda mais com uma garota linda como a .
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  — Hum. — eu ri um pouco. — Milagres acontecem.
  — Uma pena que seus pais não tenham vindo — comentou ele.
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  — Você sabe que eles ainda estão magoados comigo, por eu ter feito o que fiz há sete anos, mas estou bem — respirei fundo.
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  — Tenho certeza que eles vão se orgulhar de você quando me verem. — disse ao se colocar ao meu lado pegando em minha mão. — Você não é mais o mesmo.
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  — Sim. — eu virei minha face para sua direção. — Não sou mais o mesmo, você me mudou por completo.
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  — Acho que estou sobrando aqui — brincou .
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  — E como está sua noiva? — perguntou .
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  — Não estamos muito bem. — ele tossiu um pouco. — Ainda mais agora que meu primo se casou, acho que a cobrança para casarmos está maior.
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  — E você não pretende se casar? — perguntei confuso. — Já estão juntos a mais de nove anos.
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  — Ao contrário de você, não sei se é realmente isso que quero. — ele suspirou fraco, percebi um tom de chateação vindo dele. — Mas hoje é um dia especial, só fiquei chocado por não ter tido uma festa.
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  — Como sabemos, o senhor aqui ao lado não gosta de festas. — disse rindo baixo. — Mas estou feliz por ter vindo ao nosso jantar de comemoração.
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  — Eu que agradeço o convite, nunca me diverti tanto em um único jantar.
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  — , eu vou me despedir dos meus tios — disse se afastando um pouco de nós.
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  — Tudo bem. — assenti, esperei um pouco e voltei minha face para . — E você? Vai ficar mesmo bem naquele apartamento?
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  — Vou sim, agora, pare de se preocupar comigo, você tem uma primeira noite para desfrutar.
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  — Nem me fale, sempre que penso nisso meu coração acelera — afirmei respirando fundo.
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  — Mais uma vez, parabéns, meu primo — me abraçou novamente.
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  Eu o levei até a porta, onde estava terminando de se despedir dos seus tios e de Darya, confesso que nossa lista de convidados se resumia a eles, mas mesmo assim fiquei impressionado por todos terem se acomodado perfeitamente naquele pequeno loft.
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  Assim que todos se foram e ela fechou a porta, senti meu coração acelerar um pouco, ficamos em silêncio por um tempo até que ela começou a rir.
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  — Acho que você deveria falar ‘enfim sós’ — comentou ela ainda rindo.
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  — Oh não, vai que alguém bate na porta novamente — presumi.
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  — Verdade. — ela riu um pouco mais. — Mas estamos mesmo a sós.
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  — Sim — assenti.
  — E casados — disse ela caminhando em minha direção.
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  — Sim — assenti novamente.
  — Acho que devemos trocar de roupa.
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  — Sim.
  Acho que a única coisa que conseguia fazer naquele momento era concordar, já que meu cérebro estava meio paralisado, eu me troquei no banheiro, enquanto ela se trocava no quarto. Quando passei pela sala, comecei a sentir o aroma do seu perfume, o que fez meu corpo se arrepiar, subi as escadas lentamente até chegar no mezanino onde era o quarto.
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  Fiquei um tempo parado, não sabia mesmo o que fazer a seguir, acho que ambos estávamos meio tímidos, seria nossa primeira vez. Para descontrair um pouco começou a tirar algumas fotos nossa junto na sua polaroide, assim poderia colocar em na sua edição especial do álbum do nosso casamento.
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  Ela deixou uma foto na mesa ao lado da casa com um recado, para que ela não ficasse assustada ao me ver ao seu lado no dia seguinte. Ela se aproximou de mim e pegou minha mão, levando até sua face, ela estava sorrindo para mim, o que me deixou ainda mais maravilhado, mesmo que eu não pudesse vê-la do modo tradicional, eu teria outros meios para isso.
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  — I see you — disse em um sussurro, senti algumas lágrimas se formarem no canto dos meus olhos.
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  Em instantes senti seus lábios tocarem os meus, a sensação de sempre estava mais presente do que nunca, porém naquela noite eu iria ver de outra forma, eu iria senti-la por completo, eu a teria em meus braços da forma mais intensa e sublime que eu poderia imaginar.
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  Naquela noite selaríamos o nosso amor.
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“Eu vejo você,
Minha luz na escuridão respirando a esperança de uma vida nova,
Agora eu vivo através de você e você através de mim,
Encantador,
Eu oro em meu coração para que este sonho nunca termine.”

– I See You / Leona Lewis

Capítulo 13

  Fui despertando aos poucos, meu primeiro pensamento era abrir os olhos e olhar para a mulher mais maravilhosa do mundo. Mas logo uma momentânea frustração tomou conta de mim, o lado escuro da minha vida sempre estaria ali para me lembrar de minhas limitações.
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  Porém, ao respirar fundo, me lembrei que poderia vê-la de outra forma, minha deficiência na visão não seria mais uma porta para a solidão, pois Deus tinha me dado um brilho que sempre iluminaria meus dias. Me espreguicei bem devagar na cama, abrindo meus braços e a procurando em meu lado, o que fez meu coração acelerar um pouco, não queria sentir que estava apenas sonhando.
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  — Não admito que pense que foi um sonho — disse ela com sua voz suave, parecia que estava perto da escada.
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  — Com tantas coisas boas acontecendo… — comecei a explicar.
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  — Não. — protestou ela, sua voz estava mais perto. — Já disse que não quero.
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  Ela riu de leve, ouvi seus passos vindo para minha direção, então senti seu corpo subir na cama, ela engatinhou até mim e me deu um beijo suave, fazendo meu coração se aquecer ainda mais. Envolvi meus braços nela, a fazendo deitar sobre mim, logo se aninhou em meus braços e pousou sua cabeça em meu tórax.
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  — Obrigada pela nossa primeira noite — sussurrou ela de leve.
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  — Eu que agradeço por tudo que fez em minha vida, por entrar nela. — sussurrei de volta, sentindo a respiração tranquila que vinda dela. — Posso te fazer uma pergunta?
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  — Sim — ela moveu de leve a cabeça.
  — Como foi acordar com um aparente estranho do seu lado? — segurei o riso.
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  Porém ela de imediato riu.
  — Digamos que eu não dormi — respondeu ela.
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  — Não? — estava impressionado.
  — Não, não queria esquecer tão rápido o que vivemos. — explicou ela tranquilamente. — Apesar de saber que agora sempre será uma primeira vez para mim.
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  — Acredite, para mim também sempre será a primeira vez — aconcheguei ela ainda mais em meus braços.
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  Ela começou a cantarolar suavemente, permaneci em silêncio ouvindo sua doce voz, a cada nota eu tentava ainda mais construir sua face em minha mente. Era complicado conseguir vê-la nitidamente, mas nos pequenos detalhes e em momentos profundos, a forma do seu rosto se fazia presente em meus sonhos, acompanhado daquele doce aroma de seu perfume que iniciou tudo para nós.
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  — No que está pensando? — perguntou ela ao parar de cantarolar.
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  — Em você — direito e sincero.
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  — Hum, e exatamente o que relacionado a mim? — insistiu ela.
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  — Em como jamais vou conseguir parar de te olhar. — expliquei. — Mesmo…
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  — Não precisa terminar. — ela moveu seu corpo para ficar de frente para mim. — Sei que em todos os outros sentidos você pode me ver, é isso que me deixa ainda mais realizada.
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  Em segundos, seus lábios tocaram os meus em uma leveza e doçura que fez meu corpo arrepiar, era como uma descarga de elétrica que me mantinha cheio de energia e esperançoso. E mesmo demorando um pouco mais para nos levantar, foi a minha melhor manhã de recém casado, tinha certeza que as próximas superariam.
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– x –

  — Você realmente precisa ir? — perguntou ela assim que terminei de me trocar.
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  — Sim. — me virei para sua direção. — Meu chefe não pode vir ao nosso casamento e pediu para que eu fosse até a redação hoje, então preciso ir.
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  — Hum, será que é algo importante? — perguntou ela.
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  — Não sei, mas…
  — Mas?
  — Tive uma ideia. — peguei minha mochila e ajeitei nas costas. — Que tal um piquenique na hora do almoço?
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  — Sério? — sua voz tinha traços de surpresa.
  — Super sério. — sorri de canto. — No Central Park.
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  — Hum… — ela deu alguns passos até mim — Estou gostando da ideia.
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  — Eu também — pisquei de leve para ela e coloquei os óculos que estavam na minha mão.
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  — Então eu te espero perto do lago.
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  Assenti com a cabeça, ela me acompanhou até a porta e, antes que me afastasse, me deu um selinho de leve, como uma forma de despedida. Segui em direção a redação onde trabalhava, no meio do caminho acabei esbarrando com , que como sempre se surpreendeu por eu conseguir reconhecer ele no meio das pessoas que passavam.
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  — Eu já disse, , seu perfume te entrega — ri dele enquanto atravessamos a rua.
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  — Acho que terei que mudar de marca, — ele riu também.
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  — Sabe que memorizo rápido — disse a ele.
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  — Claro, foi assim que continuou sua busca pela dona do perfume de jasmim — relembrou ele minha jornada.
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  — O melhor perfume do mundo. — confirmei dando um largo sorriso. — E por falar em perfume, como está indo com a Darya?
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  — Bem, estamos nos conhecendo, a convidei para jantar no meu apartamento. — respondeu ele.
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  — Seja um bom anfitrião e respeitoso, se fizer a Darya sofrer, eu te jogo da Manhattan Bridge — disse me referindo a ponta da cidade.
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  — Yah, não seja tão cruel assim. — ele riu. — E desde quando é tão protetor assim com a Darya?
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  — Desde de agora, ela se tornou uma grande amiga para mim. — expliquei tranquilamente. — Além do mais, acho que agora você encontrou a garota certa.
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  — Hum, o que aconteceu com aquele cara que falava mal do perfume dela e da voz? — questionou ele sem hesitar.
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  — Digamos que a julguei mal, não pelo perfume, que era realmente horrível, mas por sua voz, além do mais, depois que a conheci, pude perceber que é uma pessoa muito simpática, ao contrário da Nalla.
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  — Sei.
  — E já falando sobre essa diferença, acho a Darya muito bonita. — estava mesmo sendo sincero.
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  — Ela é. — afirmou com segurança. — Aqueles cabelos cacheados e aquele sorriso, ela realmente está tomando meus pensamentos.
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  — Estou percebendo. — eu ri. — Fico feliz em te ver assim feliz também.
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  — Bom, acho que chegamos — disse ele parando.
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  — Nossa, perdi a percepção da distância por um momento. — sibilei um pouco. — Acho que te acompanhei no automático.
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  — Notei isso — ele riu.
  — Mas o que veio fazer aqui? Na redação? — me virei para a porta e segui.
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  — Ah, vou ter um almoço de negócios com seu chefe — respondeu ele me acompanhando.
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  — Espero não ser convidado. — fui honesto. — Tenho um piquenique marcado para o almoço, e hoje é meu primeiro dia como recém-casado.
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  — Não se preocupe. — ele abriu a porta para que eu entrasse primeiro e veio atrás de mim. — Sabemos que você jamais aceitaria, além do mais, te privar de ficar com a seria um pecado.
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  — Já está sendo um, eu tendo que vir aqui agora pela manhã — reclamei deixando transparecer um pouco de insatisfação.
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  Ele riu de mim, mas era sério. Para minha sorte, Jack estava no hall do prédio e ali mesmo resolveu o que queria comigo, surpreendentemente, minha ida até a redação naquela hora era por causa do presente de casamento que ele tinha preparado para mim. Meu corpo gelou quando ele me deu o envelope com as passagens para Malibu e as chaves da casa dele em frente à praia.
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  Aquele era seu presente e uma forma que encontrou para se desculpar por não ter ido à cerimônia. Eu agradeci, aceitando, jamais imaginaria um lugar melhor para ter uma lua de mel com a , menos ainda se realmente teríamos uma lua de mel, mas passar o final de semana em Malibu seria perfeito para nós dois.
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  Ainda faltava algumas horas para o almoço, então decidi dar uma volta pela cidade e comprar algumas flores para presentear minha linda esposa. O tempo foi passando e assim que cheguei perto do lago do Central Park, se aproximou de mim com animação e felicidade.
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  — Espero não ter demorado — disse receoso lhe entregando as flores.
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  — Não. — ela pegou as flores me dando um beijo no rosto, depois segurou em minha mão de leve. — Acabei de chegar também.
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  — Então vamos escolher nosso lugar. — sugeri. — Aqui é muito grande, precisamos de um lugar fresco e com sombra.
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  — Hum, acho que sei onde, mas preciso saber se está tudo bem sentar na grama.
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  — Claro. — assenti. — Desde que esteja ao seu lado.
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  Ela deu uma risada calorosa, me puxando para a direção que queria. A acompanhei até chegarmos perto de uma árvore que ela tinha escolhido, ela esticou a toalha de mesa sob a grama e nos sentamos. preparou uma torta de frango para nosso almoço, além de levar algumas frutas e latinhas de suco.
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  — Tenho uma novidade para contar — disse assim que terminamos de comer.
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  — Novidade? Qual?
  — Esse final de semana, vamos para outro lugar — contei.
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  — Para onde? — indagou ela com aquele tom de curiosidade.
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  — Malibu.
  — O quê?
  — Meu chefe nos deu uma viagem de presente. — eu retirei o envelope da mochila e entreguei a ela. — Nossa lua de mel.
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  — Oh.
  Ela pegou o envelope da minha mão e abrindo, começou a ler. Pela sua voz e respiração, pude perceber que ela estava contente e entusiasmada com nossa viagem, além de começar a traçar planos e passeios noturnos pela praia. Me deixando ainda mais ansioso para nossa lua de mel.
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  Finalmente após dois dias nos preparando para a viagem, entramos na casa de praia do meu chefe, nas palavras de , além de bonita e bem decorada, a casa era ampla e espaçosa, o que me ajudaria a locomover sem me preocupar em bater a perna.
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  Levamos nossas malas para o quarto principal, que já estava todo arrumado para a nossa hospedagem, assim como o resto da casa. Senti o cheiro de flores do campo ao entrar no quarto, elas estavam em um vaso ao lado da porta, logo abriu as cortinas deixando a claridade entrar.
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  Passamos um bom tempo colocando as roupas no armário, além das pausas para as fotos que ela sempre fazia. Minha esposa querida queria registrar cada momento de nossa lua de mel para seu álbum de fotos e estava muito empolgante para mim também.
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  — Hum, está me dando uma fome… — disse me espreguiçando — Que tal sairmos para comer fora?
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  — Pensei que quisesse cozinhar comigo — comentou ela com um tom decepcionado.
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  — Bem, eu não sei o tamanho da cozinha, mas posso perceber que tem ótimos planos para nosso almoço — sibilei um pouco.
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  — Bem, seu chefe deixou a dispensa cheia. — comentou ela pegando em minha mão. — O que nos ajuda muito.
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  — Acho que ele pensou em tudo. — ri baixo. — Então, qual será o nosso cardápio?
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  — Que tal spaghetti? — sugeriu ela se virando para a porta e me puxando junto.
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  Era mesmo divertido cozinhar com , além de uma excelente chefe e muito paciente comigo, ouvi-la cantarolando me deixava ainda mais calmo e em paz. Mesmo sendo tudo novo para mim, e sempre descoordenado com o amplo espaço que tinha, não foi difícil encontrar todos os objetos que utilizamos.
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  — Você se lembra da textura certa do cozimento? — perguntou ela ao me entregar o garfo, com um pouco de macarrão para que pudesse experimentar.
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  — Acho que sim. — ri de leve pegando o garfo com cuidado. — Deve ser al dente.
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  — Exatamente! — concordou ela, se afastando. — E acho que está bom.
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  Eu provei o macarrão e fiquei analisando um pouco.
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  — Está pronto — confirmei.
  — Então agora vamos para o molho. — ela pegou em minha mão me puxando para mais perto do fogão. — A parte mais importante.
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  — Não. — envolvi meus braços em sua cintura. — A parte mais importante é estarmos juntos.
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  Desta vez a iniciativa foi minha, mas meus lábios acabaram encontrando a ponta do nariz dela, o que me fez perceber que era um pouco mais baixa do que eu imaginava, ou eu que era alto demais. Era riu de leve e logo seus lábios tocaram os meus, a sensação era sempre melhor quando o beijo partia dela.
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  Seu beijo era como o sol tocando minha pele pela manhã, caloroso e aquecedor, intenso e doce.
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  — Tem razão, a parte mais importante é estarmos juntos — sussurrou ela ao pegar minha mão e levar até sua face, estava com um largo sorriso.
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  Acariciei de leve, vê-la daquela forma deixava meu coração ainda mais acelerado. Deslizando minha mão pelo contorno de seu rosto, faziam com que sua imagem automaticamente se projetasse diante da escuridão que se mantinha em meus olhos, como o brilho de um anjo.
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  — O seu sorriso é tão lindo e sublime. — sussurrei de volta. — Eu posso vê-lo nitidamente.
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  — Nada me deixa mais feliz do que isso. — ela pegou minha outra mão e entrelaçou nossos dedos, ainda mantinha o sorriso no rosto. — Quero que sempre consiga me ver, de todas as formas possíveis.
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  — Acredite, até em sua respiração consigo de ver.
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  Um pequena lágrima escorreu no canto dos olhos dela, chegando até minha mão.
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  — O que seria essa lágrima? — perguntei meio assustado.
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  — De felicidade. — ela se afastou um pouco. — Ah, precisamos terminar nosso almoço.
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  — Verdade. — eu ri. — Acho que ainda falta o molho.
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  — Sim. — afirmou ela. — Vamos preparar nosso molho, já que o macarrão está pronto.
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  As horas foram passando e resolvemos dar um leve passeio pela orla da praia, já que ficava exatamente em frente à casa, poderíamos aproveitar a brisa do mar sem nos afastar muito.
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  Caminhamos descalços pela areia, a cada passo que eu dava sentindo meus pés afundando, mais e mais me sentia em contato com tudo em minha volta. De mãos dadas com ela, em sincronia até mesmo na respiração, minha vontade era de eternizar aquele momento, parar tudo e nunca mais ter que voltar para Manhattan.
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  Porém, estava em paz, aquele equilíbrio que conseguia sentir não era por causa da areia, nem pela brisa do mar que nos encobria, nem o barulho dos pássaros ao horizonte. A razão para o que estava sentindo naquele momento estava ao meu lado, era que me completava, e isso me fazia agradecer a Deus todos os dias por tê-la enviado para minha vida.
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  E mesmo que ela não se lembrasse de mim na manhã seguinte, seu coração ainda bateria por mim.
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  — Está muito pensativo — comentou ela ao parar e sentar em uma rocha que tinha perto.
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  — Só estou te olhando — disse ao me sentar ao seu lado.
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  — Tem certeza que é somente isso? — insistiu ela.
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  — Para ser sincero, estava tentando eternizar esse momento. — expliquei. — Eu, você, o mar, tudo à nossa volta aumentou ainda mais nossa conexão.
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  — Fico feliz por isso, o que me faz querer eternizar também. — ela se remexeu encostando sua cabeça no meu ombro. — Então vamos a mais uma foto.
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  — Sua forma de eternizar também é muito boa — comentei sorrindo para a foto.
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  — Nosso álbum especial vai ficar pequeno para tantos registros — ela riu após o barulho da câmera.
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  — Bem, compramos outro e mais outro…
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  Fui interrompido por um selinho dela, eu amava quando ela fazia isso, sempre me interrompendo com um beijo ou um abraço, como se soubesse exatamente o que eu queria ganhar. Nos mantivemos por um longo tempo ali sentados, cada um do seu jeito, vendo o pôr-do-sol, o melhor final de tarde de todos até agora.
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  Nossa noite se estendeu em um luau que estava rolando pouco mais à frente, se mostrou animada com aquilo, então sugeriu que ficássemos para curtir uma boa música. O que levou ela a me contar sobre a época que ainda estudava antes do acidente dela, fiquei um pouco triste novamente, não por mim, mas por ela não poder ter terminado seus estudos, por causa da memória.
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  Mas logo me desfiz de todo pensamento negativo, deixei minha atenção somente em apreciar a boa música e olhar para minha linda esposa, de mãos das a ela e sentados em um banco. Logo ela encostou sua cabeça em meu ombro, a envolvi em meus braços, aninhando-a de forma de forma carinhosa, percebi que nossa respiração estava sincronizada.
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  — Assim como você pode me ver de todas as formas… — ela entrelaçou nossos dedos. — Eu também posso me lembrar de você sem precisar da minha memória.
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  — Como? — perguntei curioso.
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  — Com meu coração, que mesmo nos momentos que eu ainda não saiba ao certo quem você é, sempre acelera quando te olho — explicou ela.
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  — Sério?
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  — Estou vivendo isso todos os dias pela manhã — ela mexeu seu corpo de leve e me beijou novamente.
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  Suas palavras e seu beijo me aqueceram ainda mais.
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  Meu coração acelerado com sua doçura e brilho, que deixava aquela escuridão afastada de mim, sabia que mais do que nossa lua de mel, todos os outros dias de nossas vidas seriam ainda mais especiais.
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  Porque ela estava ao meu lado e eu podia vê-la de todas as outras formas possíveis!
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“Eu não sei parar de te olhar,
Não sei parar de te olhar,
Não vou parar de te olhar,
Eu não me canso de olhar,
Eu não vou parar…de te olhar.”

– É isso aí / Ana Carolina

Capítulo 14

  Os meses foram passando e nossa vida de casado, mesmo sendo diferente da forma tradicional, estava seguindo como desejávamos. Minha rotina diária começava com um animado café da manhã com minha esposa, depois enfrentava horas cansativas no trabalho, até chegar à noite finalizando com um jantar em família.
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  — Uah… Estou sentindo o peso da idade — disse me levantando da cama pela manhã e me espreguiçando.
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  — … — sussurrou ao fechar a porta do guarda-roupas.
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  — Sim? — virei minha face em sua direção — Aconteceu alguma coisa?
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  — É… Não sei o que dizer e nem como dizer.
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  — Dizer o quê? — perguntei dando alguns passos até ela. — , está com alguma dúvida? Falta alguma informação no seu álbum?
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  — Não, está tudo ok… É uma nova informação que acabei de ler e…
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  — E?
  — Eu ainda não te contei.
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  — O que você não me contou?
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  — Acho que eu queria que você sentisse.
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   pegou minha mão e lentamente levou até sua barriga, eu não entendi a primeiro momento, mas depois comecei a sentir algo diferente, aquilo não era o batimento cardíaco dela. Então eu entendi o que ela queria que eu sentisse, meus olhos se encheram de lágrimas, aquela notícia era a melhor coisas que poderia imaginar a ter um dia.
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  — Eu estou te vendo. — sussurrei bem próximo a barriga dela. — Estou vendo o nosso bebê.
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  — Estou feliz por poder vê-lo, de alguma forma. — sua voz estava ainda mais suave. — Agora seremos ainda mais completos.
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  — Nós já somos — eu a abracei de leve, sentindo ela se aninhando em meus braços.
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“Eu já abri o meu coração para você há muito tempo,
Você é tudo para mim, esse é o meu jeito de confirmar,
[…]
Meu cérebro e pensamentos estão preenchidos por você,
Preenchidos pelas suas expressões e suas risadas.”

– My Answer / EXO

   estava grávida e tinha que ser comemorado, o que resultou em um jantar improvisado no apartamento de . Darya e a senhora Charlie fizeram questão de oferecer este jantar a nós, mas minha linda esposa não deixaria de preparar a sobremesa, que era sua especialidade.
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  — Uah! Não acredito que será papai antes de mim! — riu um pouco.
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  — Quem ficou enrolando um noivado por anos foi você, mas olhando agora, foi melhor. — ri junto. — Ah, estou tão feliz!
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  — Percebe-se, pelo sorriso estampado na sua cara. — comentou ele. — Já pensou na mudança?
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  — O quê? Que mudança? — virei minha face para sua direção.
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  — É, mudança. — ele riu novamente. — Ou você acha que o pequeno lugar onde moram cabe uma criança? Filhos exigem espaços.
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  — Ainda não tinha pensado nesse detalhe, mas vou começar a pensar nisso.
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  — Hum, se eu não me engano, colocaram o apartamento do andar de baixo para alugar ou vender, preciso confirmar com o síndico — sua voz parecia de alguém confusa.
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  — Se você puder conversar com ele para mim, seria legal morar perto, ainda mais que a cafeteria é aqui em frente — expliquei.
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  — Sobre o que tanto conversam? — perguntou Darya ao se aproximar de nós.
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  — Sobre mudanças, me lembrou que uma casa com crianças deve ser espaçosa — respondi voltando minha face para a direção dela.
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  — Como ele sabe? — disse ela com surpresa. — Ainda me surpreendo com as suas reações, parece uma pessoa normal.
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  — Até hoje nem eu me acostumei — retrucou.
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  — Apenas se esqueça que sou cego. — sugeri com facilidade. — Assim irá se acostumar mais rápido.
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  — Você é cego? — perguntou num tom surpreso, sua voz vinha da direção da cozinha.
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  — … — respirei fundo para não gaguejar.
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  Estava me perguntando se ela não tinha lido isso em seus álbuns.
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  — — a voz de Darya estava um pouco mais longe. — E…
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  — O quê? Quando? — sua voz falhava um pouco.
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  Não era uma brincadeira, aparentemente tinha deletado a informação da minha deficiência visual, o que me fazia pensar se era bom ou não. Já que eu sempre agia com naturalidade, era bem raro os momentos em que percebia. me aconselhou a conversar com ela no quarto, assim seria melhor para nós dois.
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  Eu estava me sentindo como na primeira vez que ela descobriu que eu era cego, porém meu coração estava tranquilo e calmo, era somente uma informação que tinha omitido de si mesma por algum motivo, mas no fim, eu iria ajudá-la a entender tudo. Assim como todas as manhãs, eu sempre conversávamos no café e ela me tirava suas dúvidas sobre nós dois, estava sendo naquele momento.
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  Felizmente, tudo foi esclarecido em sua mente, sua voz e gestos continuaram os mesmo e ela me prometeu nunca mais tentar apagar aquela informação de si mesma, mesmo que seja numa boa intenção. Assim como não era fácil para perder a memória todas as noites ao dormir, e descobrir pela manhã que era uma mulher casada com um deficiente visual e agora grávida, também era complicado para mim manter todo aquele sentimento negativo do passado e continuar otimista sobre nosso futuro.
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  — Me desculpe, novamente — sussurrou ela.
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  — Eu já disse que não precisa se desculpar. — envolvi de leve meus braços em suas cintura. — Basta apenas não apagar mais esta informação de sua vida, sei que pode continuar agindo naturalmente comigo mesmo sabendo, isso já aconteceu antes.
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  — Verdade — ela pegou minha mão de leve e elevou até sua face.
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  Passei alguns segundos admirando aquele sorriso em seus lábios, até que em um movimento suave e espontâneo dela, seus lábios tocaram nos meus. Sua forma delicada e ousada de me beijar era a melhor parte do nosso dia, sempre me deixando surpreso e sem reação, além de levar meu fôlego junto.
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  Quando voltamos para sala, Darya já estava ajeitando os pratos na mesa, foi em direção a sua tia para ajudá-la. Claro que mesmo não vendo, conseguia sentir a curiosidade alheia pairando pelo ar, principalmente do meu primo, me sentei no sofá e ri de leve.
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  — Não se preocupem, já está tudo resolvido.
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  Disse para e o senhor John, que não havia se levantado do sofá desde que chegou.
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  — Tenho certeza que sim, só de ver aquele brilho nos olhos de minha sobrinha. — John riu também. — Uma já está resolvida, agora falta a outra.
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  Eu ri entendendo a indireta, enquanto começou a tossir do meu lado, provavelmente engasgando com algo líquido, por gotículas tinham caído em meu braço.
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  — Darya é uma moça de família — completou John.
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  — Claro, tenho maior respeito por sua afilhada — concordou .
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  — Hum, o senhor está tentando me casar também? — riu Darya ao se aproximar de nós. — Padrinho, não se preocupe, não ficarei para tia.
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  — Hum. — riu da cozinha. — Estou sentindo cheiro de bolo de casamento.
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  — , querida, eu ainda gosto de você. — brincou . — Você ainda é meu cupido da sorte, mas acho que não podemos nos apressar muito.
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  — Quem vai ao ar, perde o lugar — retruquei rindo.
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  — O que quis dizer com isso? — perguntou . — Darya?
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  — Eu não sei de nada, mas está certo, não gosto de esperar por muito tempo — afirmou ela.
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  Todos começamos a rir de .
  — Assim vocês me deixam sem graça — disse ele tossindo novamente.
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  — Pare de tossir e faça logo o que é certo. — disse num tom baixo para que somente ele ouvisse. — Esta é a certa, não enrole desta vez.
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  Eu estava feliz pelo meu primo, era a primeira vez que eu aprovava uma namorada dele, e era a primeira vez que eu me sentia tão bem perto de pessoas tão diferentes de mim. A maior descoberta sobre os tios de , era o bom gosto para vinhos e assuntos para conversar. O senhor John conseguia prender minha atenção falando desde carros de corrida, até League of Legend, algo que me deixava admirado.
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– x –

  — O que foi, ? Acabei de acordar e nem sei onde está minha esposa ainda — disse ao atender o telefone que tocava pela sétima vez num sábado pela manhã.
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  — Finalmente atendeu. — ele bufou um pouco. — Seja mais gentil com seu primo, estou aqui te fazendo um favor.
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  — E qual seria esse favor? — disse me espreguiçando na cama.
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  — Falei com o síndico, ele concordou em te mostrar o apartamento que estão vendendo aqui. — explicou ele. — Mas deve vir agora.
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  — Agora? — ergui meu corpo da cama. — Sério?
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  — Estou te esperando aqui, já sabe, é um andar abaixo do meu — disse ele já encerrando a ligação.
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  — Yah! ? — gritei sem sucesso.
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  — , o que houve? — perguntou , sua voz vinha da escada.
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  — Nada, foi uma ligação do , ele quer me encontrar agora.
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  — Para quê? — indagou ela.
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  — Hum, surpresa — disse me levantando da cama.
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  — O que anda aprontando, senhor meu marido? — ela riu.
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  — Só posso dizer que é algo maravilhoso para nossa família — dei alguns passos até o armário e troquei de roupa.
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  Antes de sair, me despedi de com um selinho singelo e segui em direção ao prédio do outro lado da rua. Um lugar novo para morar, aquela era minha surpresa para ela, teríamos um lugar maior para criar nossos filhos, afinal, queria ter bem mais de um.
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  Apesar de espaçoso e amplo como o do , o apartamento tinha alguns problemas com a encanação e cheirava a mofo, pois tinha passado muito tempo fechado e abandonado. Era complicado achar algo de positivo naquilo, mas como tinha as palavras de minha querida esposa sempre presente em minha mente, eu acharia de alguma forma o lado positivo.
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  E não foi difícil, com os argumentos espontâneos de sobre um desconto no valor da hipoteca do apartamento, já que os custos da reforma sairia também do meu bolso. Após uma longa e agradável conversa com o síndico, que estava responsável por todas as negociações do lugar, conseguimos fechar o negócio e ainda fui agraciado com a indicação de uma empresa que poderia me ajudar com a reforma, limpeza e dedetização.
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– x –

  — E então? O que achou? — perguntei assim que retirei a faixa que tinha colocado em seus olhos.
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  Havia sido um pouco engraçado, eu a guiando vendada até o apartamento. Ainda mais pela minha condição, mas aquela simples brincadeira acabou se tornando uma diversão, se mostrou ainda mais empolgada e segura em me seguir para qualquer lugar.
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  — Uau! — disse ela num tom de surpresa. — Não sei o que dizer.
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  — Não diga nada, já consigo ver pela sua voz — disse permanecendo com minha face voltada para ela.
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  — É tão espaçoso quanto o do , ainda não acredito que vamos morar aqui — retrucou ela, estava mesmo surpresa.
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  — Pois acredite. — eu segurei de leve em sua mão. — E faço questão que você mesma decore tudo.
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  — Sério?
  — Sim — assenti.
  Fiquei feliz por ela ter gostado e ao mesmo tempo aliviado, pela pequena reforma ter sido um sucesso, porém ainda tinha a pequena preocupação com a decoração e os poucos móveis que tínhamos. Gastar mais do que nosso orçamento não estava em meus planos, menos ainda tocar nas economias de , que eram para seu futuro restaurante.
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  — Para quem está indo ligar? — perguntei ao ouvir o barulho do teclado do seu celular.
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  — Estou mandando uma mensagem para a melhor decoradora que tenho — respondeu com tranquilidade.
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  — Darya?
  — Sim, já que nós mesmo vamos colocar a mão na massa — assentiu com uma risada baixa.
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  — Hum, ok — me virei para a porta.
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  — Aonde está indo? — perguntou ela.
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  — Vou recrutar outra força física, no andar de cima — expliquei ao abrir a porta.
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  — ?
  — Sim, afinal, quatro pessoas trabalham melhor que três — ri.
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  — Verdade. — concordou ela rindo junto. — Não demore.
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  Claro que meu primo não se negaria a nos ajudar, ainda mais que Darya estaria junto naquela força tarefa. Passamos algumas semanas entre pinturas, texturas de parede, montagem e organização dos móveis que já tinham no loft de , apesar de simples, nosso apartamento estava do jeito que queríamos. Claro que a parte mais pesada ficaria comigo e , para não cansar minha linda esposa, já que as primeiras semanas de gravidez eram importantes e delicadas.
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  Só faltava uma coisa.
  — Não, não quero nada que venha deles — me virei para a direção da janela ficando de costas para eles.
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  — Aceitamos, sim. — se colocou em meu lado, segurando de leve em minha mão, ela sabia que eu não queria mais contato com meus pais. — Agradeça aos meus sogros e diga que ficamos felizes com os presentes.
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  — Tem certeza? — indagou , certamente estava se referindo a minha recusa inicial.
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  — ? — questionei me virando para ela.
  — Sim, temos certeza. — confirmou ela, senti uma respiração mais profunda vindo dela. — , não podemos recusar, se eles querem dar de bom coração, não deixe que o orgulho e a mágoa atrapalhe, olhe o lado positivo.
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  — Tudo bem — assenti com um suspiro fraco.
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  — Bem, então vocês só precisam escolher os móveis e o valor será pago pelo tio Han. — concluiu deixando sua voz um pouco mais suavizada. — Preciso ir agora.
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  — Eu te acompanho até a porta — disse indo em direção a porta e o empurrando.
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  — A yah! — reclamou ele.
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  Ouvi os risos baixos de , pelo seu andar, estava indo em direção a cozinha.
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  — Seu linguarudo. — disse ao assim que saímos do apartamento. — Por que contou da minha vida para meus pais?
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  — Yah! — se alterou ele parando no meio do corredor. — Não contei toda a história, eles já sabiam do seu casamento quando me ligaram.
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  — O quê? Como assim sabia? — aquilo havia me deixado confuso.
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  — Taylor, ela foi para Coreia há duas semanas para o casamento da prima, então encontrou seus pais e perguntou se eles tinham comparecido ao seu casamento, foi então que a tia Yuri me ligou.
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  — E tinha que falar do bebê? — cruzei os braços ficando ainda mais sério.
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  — No começo, pensei em não falar. — se explicou. — Mas não podia deixar o neto deles sem o amparo dos avós, estou vendo o quanto esse início está sendo difícil para vocês financeiramente. — ele estava certo. — Além do mais, a herança dos seus pais é um direito seu e do seu filho agora, pare de ser orgulhoso e apenas aceite a aproximação deles, me parece ser sincera.
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  — Farei isso por ela e pelo nosso bebê. — segurei na maçaneta novamente. — Agradeço a ajuda, .
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  — Sou seu primo, é um prazer ajudar, afinal, serei o padrinho — ele saiu rindo pelo corredor.
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  Mas estava certo, e Darya seriam os melhores padrinhos do mundo, e essa escolha havia sido unânime. Assim que entrei novamente e fechei a porta, ouvi cantarolando da cozinha, o cheiro logo invadiu minha narinas, o que me fazia constatar que nosso jantar estava em andamento.
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  Dei alguns passos até ela que estava perto de fogão, encostei de leve na pia e cruzei os braços, permanecendo em silêncio com minha face voltada para ela.
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  — O que está me olhando? Porque sei que está me olhando, de alguma forma — explicou ela de forma específica.
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  — Nada. — ri um pouco e ajeitei o óculos escuros que estava em meu rosto. — Só estou curioso para saber o que está preparando para o jantar, pelo cheiro, parece algo vegetariano.
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  — Uah, está ficando cada dia mais afiado em suas suposições. — elogiou ela. — E o que acha que estou fazendo?
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  — Hum. — respirei fundo para sentir um pouco melhor o leve aroma que recendia no ar. — Tem arroz, ervas, tomate e cebola, acertei?
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  — Faltou o brócolis. — ela riu de leve e logo senti um beijo em minha bochecha. — Mas te perdoo por não acertar tudo.
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  — Yah, me dê um desconto, não consegui sentir o cheiro do brócolis — reclamei em aproximando mais um pouco.
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  — Hum, confesso que ainda não o coloquei para cozinhar — ela riu um pouco.
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  — Está explicado. — eu segurei de leve em sua mão e a puxei para perto de mim. — Obrigado.
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  — Pelo quê? — perguntou ela.
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  — Por novamente que fazer perceber que estou errado — expliquei.
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  — Hum, confesso que a maioria das vezes tem andado errado. — ela riu de novo. — Mas entendo sobre sua rejeição ao seus pais.
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  — Não consigo somente perdoá-los e esquecer as palavras duras deles — desabafei superficialmente.
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  — , sei que não podemos apagar as palavras que saíram deles, mas você pode abrir seu coração e deixar a mágoa ir embora. — ela pegou em minha mão e a encostou em sua barriga, senti o pequeno volume que já formava. — Não somente eu, mas essa criatura que cresce a cada dia aqui dentro também deseja que nossa família seja unida, e isso se estende aos seus pais também.
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  — É difícil achar que eles estejam com boas intenções — retruquei.
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  — Meu falecido avô sempre falava que boas intenções não são garantia para o paraíso. — ela riu de leve. — Mas não crie mais sentimentos ruins e pensamentos tortuosos, pode não ser fácil agora perdoá-los, mas se você se esforçar, pode ser que veja algo positivo e sincero vindo deles.
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  — Estou realmente grato por Deus ter colocado você em minha vida, logo eu, que não mereço — sussurrei de leve.
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  — Pare de ser assim consigo mesmo. — ela me abraçou de leve. — Ambos fomos abençoados.
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  — Sim. — eu ri. — Mas ainda temos que tomar cuidado ao abraçar na cozinha, estamos perto do fogão.
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  — Verdade. — ela deu dois passos para o lado, me fazendo segui-la para longe do fogão. — Segurança acima de tudo.
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  — Sim — concordei.
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  São estes momentos que me deixam ainda mais fortalecido, saber que tenho ela ao meu lado para me aconselhar e me levantar quando caio em meus medos. Numa coisa ela tinha razão, agora eu deveria pensar no que poderia ser melhor para nosso bebê, então deveria, a todo custo, me livrar do meu orgulho e da raiva que ainda sentia dos meus pais.
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  Eu estava decidido, aceitaria a aproximação dos meus pais, se fosse realmente sincera.
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“Quanto mais eu penso sobre isso, mais eu tenho a certeza,
Minha resposta,
É você.”

– My Answer / EXO

Capítulo 15

  Eu estava preocupado com minha linda esposa, mas quando colocava algo na cabeça, nem mesmo sua falha de memória conseguia tirar, desta vez ainda que relutante tive que assentir e concordar com nossa viagem inesperada. Era perigoso para uma grávida enfrentar 24 horas de voo, felizmente a aterrissagem havia sido tranquila e serena.
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  — Estou tão animada para conhecer sua cidade! — disse ela assim que entramos no táxi a caminho de Seoul. — Vou tirar várias fotos.
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  — Imagino. — ajeitei o óculos escuros no meu rosto e mantive minha cabeça voltada para rua. — Não me lembro muito de como é Seoul, muitas coisas podem ter mudado desde que saí.
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  Estar de volta à cidade onde cresci era como um novelo de memória, quanto mais eu puxava a linha, mais lembranças iam surgindo pelo caminho. De certa forma, meu coração permanecia em paz, algo que me surpreendeu, e o motivo era ela, que me enchia de motivação e bons pensamentos.
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  Nossa estadia seria na casa dos meus pais, contra minha vontade. tinha os melhores argumentos quando o assunto era me convencer de algo que ela queria; ser hospedado por meus pais e fazer as pazes com eles, estava na sua lista de prioridades.
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  Assim que o táxi parou em frente à minha antiga casa, respirei fundo pouco antes de sair do carro, segurou de leve em minha mão e deu um beijo em minha bochecha, certamente percebeu meu nervosismo, fazia anos que não me relacionava com meus pais. Nem mesmo sabia como seria recebido por eles e como me comportaria, queria não pensar nessas coisas, pois meu coração ainda mantinha seus ressentimentos.
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  — ! — logo reconheci a voz de minha mãe, será que ela estava nos esperando no portão?
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  — Omma — sussurrei apertando de leve a mão de minha esposa, estava inseguro.
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  — Sua mãe é linda, . — sussurrou para mim. — Fique tranquilo, os olhos dela estão brilhando ao te ver.
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  — Meu ! — senti a emoção em sua voz, assim como suas mãos ao tocar meu rosto, então um abraço apertado. — Que saudades de você!
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  Estranhamente, fui me emocionando com seu abraço, não esperava receber todo aquele carinho dela, que indiscutivelmente era sincero e real, enfim a imagem do seu rosto veio em minha memória, seu sorriso sempre me dava forças quando chegava chateado da escola.
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  — E você deve ser a . — continuou minha mãe se afastando um pouco de mim, certamente para abraçá-la. — Seja bem-vinda!
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  — Sim, obrigado, é um prazer conhecer a senhora — mantinha seu tom suave e natural de sempre, segurando em minha mão novamente.
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  — Que lindo sua barriga, já está aparecendo — comentou.
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  — Sim, estamos com 26 semanas de gestação — concordou
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  — Traduzindo, quase 7 meses — completei, fazendo elas rirem.
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  — Vamos entrar, vocês devem estar cansados da viagem. — ouvi o barulho da minha mãe abrindo mais o portão. — Han… Yeobo, eles chegaram, venha.
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  Meu coração gelou por um momento ao ouvir o nome do meu pai, senti minhas pernas travarem, suas duras palavras do passado voltaram como uma adaga sendo cravada em meu coração.
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  — Bem-vindos. — o tom sério do meu pai é o mesmo do qual me lembrava. — Deixe que eu ajudo com as malas.
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  Senti ele passar por mim, me fazendo respirar fundo. Adentramos o portão e de imediato senti o cheiro refrescante do jardim, firmando ainda mais que a primavera estava resplandecendo no país. Memórias da minha infância correndo por aquele jardim com , foram me acompanhando pelo caminho até a porta, enquanto minha mãe contava a Jenn algumas histórias sobre mim.
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  — Estou tão feliz que vocês aceitaram nosso convite — disse minha mãe dando alguns passos para o centro da sala.
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  — Está tudo bem? — perguntou num tom baixo. — Você parece nervoso.
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  — Estou… Só está sendo complicado administrar as lembranças que surgem a cada passo. — suspirei fraco. — Mas vou ficar bem, você está aqui comigo, é o que importa.
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  — Eu te amo. — sussurrou ela em meu ouvido e me deu um beijo no rosto. — Estarei sempre aqui.
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  — Obrigado — sussurrei de volta.
  — Han, coloque as malas deles no quarto do nosso — ouvi minha mãe, ela realmente parecia mais animada com nossa presença, que minha esposa.
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  — Já estou levando — meu pai sempre se emburrava um pouco quando minha mãe dava pequenas ordens, principalmente quando tínhamos visitas em casa.
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  — Vocês devem estar com fome, eu preparei um lanche para quando chegassem. — minha mãe pegou em minha outra mão. — Venha, querido.
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  — Eu me lembro do caminho, mãe. — soltei minha mão dela. — Não se preocupe, consigo chegar a cozinha sem ajuda.
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  — Mas, ? Você não está…
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  — Cego? — completei com amargura. — Estou.
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  Um breve silêncio pairou por alguns instantes.
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  — Senhora Yuri, apesar de estar assim, consegue fazer tudo normalmente, às vezes ele consegue enxergar melhor que todos a sua volta. — tomou a palavra se colocando um pouco em minha frente, permanecendo segurando minha mão. — Ele me disse que se lembra de cada detalhe dessa casa, então não precisa se preocupar com isso.
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  — Você realmente consegue fazer isso? — a voz ríspida do meu pai ecoou na sala. — Consegue agir como alguém normal?
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  — Han! — minha mãe o repreendeu. — Que pergunta é essa?
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  — Por que, pai? — voltei minha face para ele. — Ainda tem vergonha do seu filho? — abaixei minha cabeça dando um longo suspiro fraco. — Não sei por que estamos aqui.
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  — , por favor. — tocou minha face com a outra mão — Não leve por esse caminho, você prometeu.
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  — Por que não descansam um pouco antes de comer? Essas roupas devem estar pesadas pela viagem, tomem um banho relaxante — sugeriu minha mãe tentando amenizar o clima pesado.
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  — Boa ideia, precisamos mesmo disso. — concordou . — , vamos? Quero conhecer seu antigo quarto, aposto que tem várias histórias para me contar sobre ele.
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  Assenti com a face e segui em direção a escada que dava para o segundo andar, mantive minha frieza ao passar por meu pai, eu já esperava esse tipo de atitude vindo dele. Certamente não me perdoou pelo que fiz comigo mesmo.
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  — É por isso que eu não queria vir. — disse assim que entramos no quarto e fechou a porta. — Ele sempre vai me tratar assim.
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  — Não diga isso.
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  — O que quer eu diga? Se você não estivesse grávida, iríamos embora agora mesmo — tentei controlar minha raiva.
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  — Calma, , olha pra mim. — senti suas mãos em minha face, então tombei a cabeça confuso pelo que havia dito, então ela percebeu e riu. — Desculpa, você entendeu.
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  — Só você para me acalmar falando assim — respirei fundo.
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  — Deve ser difícil para seu pai te ver assim, sei que é complicado, mas dê uma chance a ele — um tom de seriedade tomou conta de sua voz, odiava quando isso acontecia.
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  — Por favor, eu não fiquei cego ontem. — retruquei. — Eu me lembro com clareza cada palavra que saiu da boca dele, quando me expulsou de casa, meu pai disse que se sentia envergonhado por ter um filho como eu, que eu havia desonrado a nossa família.
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  — Posso sentir o quão duro foi para você ouvir isso, mas guardar esse sentimento ruim não vai te fazer bem, nem ao nosso bebê. — ela deslizou de leve seu dedo indicador até meus lábios. — Não deixe que essa raiva momentânea te faça falar palavras duras para ele também, sei que é difícil perdoar alguém que nos magoou muito, principalmente quando são quem mais amamos…
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  Ela segurou em minha mão e me fez tocar em sua barriga, senti nosso bebê se mexer lá dentro, a emoção tomou conta de mim, sendo representada por algumas lágrimas que se juntaram no canto dos meus olhos.
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  — Nós estamos ao seu lado, sempre — completou ela.
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  — Eu não mereço você — me afastei dela sentindo meu coração apertado, minha esposa era tão linda e pura, já eu carregava muitas dores dentro de mim.
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  — , pare de dizer isso. — ela segurou em minha mão. — Lembra do dia em que me conheceu?
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  — Como poderia me esquecer? — voltei minha face para sua direção. — Seu perfume me despertou do vazio em que me encontrava.
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  — Você me viu primeiro naquele dia, e hoje eu sou a mulher mais feliz desse mundo, porque não desistiu de mim. — a doçura de sua voz era como música aos meus ouvidos, cada nuance do tom da sua voz era a chave para acalmar meu coração.
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  — Aonde quer chegar? — perguntei.
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  — Não desista do seu pai, pude ver o olhar dele quando te viu no portão. — respondeu direta e precisa. — Não acho que ele esteja com vergonha de você, mas sim de si mesmo, por tê-lo abandonado quando mais precisava.
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  — Você não o conhece.
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  — Nem você. — retrucou ela. — Já se passaram sete anos, as pessoas mudam, se permita vê-lo com outros olhos.
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  —
  — — ela tocou novamente meus lábios com seu dedo indicador — Não deixe essa oportunidade passar, tenho certeza que seu pai te ama muito.
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  — Eu te amo — toquei em sua face e logo a beijei de forma suave e doce, deslizando minhas mãos por seu corpo até envolver meus braços em sua cintura.
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  Ela retribuiu com a mesma doçura, se aninhando em meus braços.
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  — Que tal um banho relaxante? Estou sentindo uma leve dorzinha nas costas — sugeriu ela.
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  — Como quiser, minha linda — sorri para ela.
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  Talvez fosse o estresse pela viagem e minha ansiedade em saber como meus pais me tratariam, que me fizeram quase desistir de ficar, mas a sugestão dela era realmente tudo que eu precisava. Um banho relaxante, roupas mais leves e o carinho da minha esposa, foi uma combinação perfeita para acalmar meus ânimos e me encher e pensamentos positivos.
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  — Oh, que pena que não poderão lanchar lá na cozinha conosco. — disse minha mãe assim que entrou no quarto. — Mas trouxe o lanche de vocês.
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  — Obrigado, mãe — me mantive segurando a maçaneta da porta.
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  — Me desculpe, senhora Yuri, é que não estou muito disposta — explicou .
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  — Ah querida, por favor, não me chame assim, pode me tratar como sua ajumma. — minha mãe riu. — Você é muito linda e dócil, vejo que meu fez um bom casamento.
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  — Agradeço por pensar assim.
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  — Eu sou um homem de sorte e abençoado por Deus — concordei mantendo minha face voltado para a direção da minha esposa.
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  — Vou deixar vocês descansarem. — ela se aproximou de mim, — Boa noite, querido.
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  — Boa noite, mãe. — sorri de leve para ela e fechei a porta depois que saiu.
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  — Sua mãe é mesmo muito gentil.
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  — Fico me perguntando o que ela vai achar do nosso casamento quando souber do seu problema de memória. — suspirei fraco. — Mais um ponto.
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  — Nada disso, não vou deixar que seja negativo assim. — ela bateu no colchão. — Agora venha aqui, vamos comer.
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  Assenti e caminhei até a cama, me sentando ao seu lado.
  — Você sabe que não vai ser fácil contar a eles — me voltei para ela.
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  — Por que não pensamos nisso amanhã? — sugeriu. — Já tivemos muitas emoções por hoje, seus pais não precisam saber de tudo de uma vez.
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  — Você quer conquistá-los primeiro? — eu ri.
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  — Claro, seu bobo. — ela deu um leve tapa em meu ombro. — Não viu que sua mãe gostou de mim? Tenho certeza que também posso amolecer o coração do seu pai.
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  — Você não precisa se esforçar, é naturalmente maravi… — nem mesmo pude terminar a palavra e já fui interrompido por um beijo surpresa.
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  — Suas palavras me deixa ainda mais confiante e motivada — declarou.
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  — Eu te amo — sussurrei.
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  — Eu também te amo — ela sussurrou de volta e pegando minha mão direita me fez tocar sua face, para que eu visse seu lindo sorriso.
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  — Adoro quando sorri para mim. — segurei sua mão e abaixei até que ela pudesse pousá-la na altura do meu coração. — Olha o que você faz comigo!
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  — Está acelerado. — constatou ela. — Gosto disso.
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  — Eu mais ainda.
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  Fui me aproximando lentamente dela, até que meus lábios tocaram os seus com suavidade, porém, inconscientemente, nosso beijo se intensificou um pouco, fazendo meu corpo arrepiar e senti um frio na barriga. De imediato me lembrei do nosso primeiro beijo e de como me senti vivo, seu amor continuava sendo a luz no meio da escuridão de minha cegueira física.
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  As horas se passaram e confesso que peguei no sono pouco depois que desfrutamos do lanche da minha mãe, não somente meu corpo estava cansado, mas minha mente também, com todas aquelas fortes lembranças do passado, boas e ruins. Acordei mais bem disposto na manhã seguinte, me remexi na cama e percebi que ainda estava ao meu lado, porém sentada encostada na cabeceira, provavelmente recebendo as informações da nossa vida.
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  — Bom dia? — meu receio fez soar como uma pergunta.
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  — Acho que é um bom dia. — ela riu. — Complexo absorver todas essas informações…
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  — Fiquei com medo que pudesse gritar ao me ver ao seu lado — confessei.
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  — Isso já aconteceu? — perguntou.
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  — Algumas vezes, na hora é assustador, mas depois rimos disso.
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  — Foi estranho acordar e ver minha barriga grande e um homem ao meu lado, mas quando virei para o lado e vi o diário, meu corpo gelou mais ainda. — soou como um desabafo. — É surreal e ao mesmo tempo impactante.
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  — Ler sobre tudo que vive um dia após o outro?
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  — Não. — ela se remexeu na cama. — É impactante descobrir que o homem ao meu lado me faz apaixonar por ele todos os dias, e me ama mesmo eu não sendo a mulher perfeita.
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  — Jenn, o que está dizendo? — ergui meu corpo e toquei de leve em sua face, percebi gotas de lágrimas. — Você é a melhor, e sim, é perfeita para mim, eu te amo.
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  — Eu também te amo, mesmo não me lembrando todas as manhãs, e meu coração está acelerado.
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  Não me contive e logo a beijei com mais intensidade, era frequente os dias em que ficava mais emotiva ao ler seu diário, e com a gravidez aumentava ainda mais. Demoramos um tempo para levantar da cama, fiz questão de mantê-la aninhada aos meus braços e fazer uma breve versão minha, resumindo como era nossa vida de casados. Contei sobre como ela tinha me ajudado no dia anterior com meus pais, e descobri que já havia uma página dedicada ao meu relacionamento com eles, que ela leu com cuidado e atentamente.
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  — Está preparado para hoje? — perguntou ela assim que terminou de trocar de roupa, havia colocado o vestido floral que comprei quando descobri a gravidez.
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  — Sim. — dei alguns passos até ela e segurei em sua cintura com cuidado. — Você fica mais linda ainda com esse vestido.
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  — Sério? — senti que ela estava segurando o riso, era mesmo engraçado meus inúmeros comportamentos como aquele, ainda mais em minha condição, ela me deu um rápido selinho. — Bom saber disso.
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  — Eu te elogio e só ganho isso? — tombei a cabeça mantendo meus olhos em sua direção.
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  Estava sem os óculos escuros e mantive a seriedade em minha face, somente com ela eu me sentia confortável o bastante para ficar assim, com meus olhos brancos e sem vida amostra.
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  — O que mais você quer? — perguntou ela.
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  — Hum… Isso! — a beijei com mais intensidade, porém fui cortado por um chute do nosso bebê que a fez se afastar. — Yah!!!
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  — Desculpa, papai, acho que nossa criança também ficou empolgada para te dar bom dia — ela riu da minha cara de insatisfeito.
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  — Minha criança amada… — toquei de leve em sua barriga. — Papai também te ama muito, estou ansioso para te ver.
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  — Todos nós. — concordou ela. — Se você não tivesse impedido, a dra. Janet teria descoberto o sexo.
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  Ela parecia ainda emburrada com isso.
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  — É mais divertido descobrir na hora. — eu ri. — Pelo menos já escolhemos os possíveis nomes.
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  — Fale por você. — ela pegou minha mão e me fez tocar sua barriga novamente. — Acho que está fazendo uma festa aqui.
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  — Sim. — concordei ao senti-lo se mexer, meu coração se aqueceu e mais uma vez aquela lágrima de emoção caiu disfarçada. — Estou sonhando com o dia que ouvirei o som do seu choro.
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  — Isso me preocupa um pouco. — ela se aninhou em meus braços. — Imagina se o bebê chora no meio da madrugada e você me acorda, até me explicar o que está acontecendo eu vou surtar primeiro.
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  — Calma, querida, já conversamos sobre isso, vai dar tudo certo, seus tios ficarão conosco no primeiro ano. — expliquei tentando acalmá-la, comecei a acariciar seus cabelos. — E já que ele nascerá aqui, também teremos a ajuda dos meus pais, eu acho.
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  — Sim… Não vou me deixar abalar nem ficar com medo. — ela entrelaçou nossos dedos. — Nosso bebê terá muito amor de todo mundo.
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  — Terá sim — concordei.
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  — Imagina se ele nascer com seus traços, vai fazer sucesso, sendo menino ou menina — comentou ela.
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  — Aposto que se parecer mais com você, terá o dobro de sucesso — retruquei arrancando uma risada rápida dela.
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  Descemos para o café da manhã, minha mãe já havia ajeitado tudo na mesa e nos esperava ansiosa, meu pai tinha saído cedo para visitar um amigo adoentado. Após o café, me convenceu a darmos uma breve volta por Hongdae, o bairro em que minha família morava. Já esperava por isso, ela queria tirar muitas fotos para guardar de lembrança, já que no dia seguinte não se lembraria de nada.
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– x –

  — Que incrível. — disse enquanto aprendia com minha mãe a fazer bulgogi, minha comida coreana preferida. — Estou impressionada com a riqueza da gastronomia coreana.
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  — Ah, minha querida, tenho tantas receitas para te ensinar — minha mãe também parecia empolgada com a nova aluna, saber que ela uma aprendiz de chef de cozinha a deixou um pouco eufórica.
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  — Vou adorar aprender todas! — o entusiasmo da minha esposa não ficava atrás.
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  Me afastei delas em silêncio e discretamente segui em direção a porta da sala, saí para frente e parei em meio ao jardim, mesmo não vendo nada ao meu redor, conseguir sentir nitidamente toda beleza que me cercava. Eu amava Seoul na primavera, era rica de cores e de vida, aquele momento me bateu uma louca saudade dos meus tempos de criança, misturado ao desejo forte de poder só ao menos uma vez, ver o lindo rosto da minha esposa em meio aquele jardim.
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  Isso fez com que uma lágrima caísse do meu olho. Não conseguia mais resistir ao desejo de vê-la com o sentido que havia perdido, senti-la, tocá-la e ouvi-la já não estava mais sendo suficiente, eu queria mais. É um pecado desejar tanto ver a mulher que amo? Infelizmente, pagaria por ter amado a mulher errada para sempre.
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  — Lamento por seu amigo — disse, me despertando do meu devaneio negativo.
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  — Não lamente, ele ainda não morreu — retrucou meu com meu seu jeito educado de ser.
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  — Vejo que acordou melhor do que ontem — dei um passo para me afastar dele.
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  — Espere, filho. — ele segurou em meu braço, então respirou fundo. — Podemos conversar?
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  Me mantive em silêncio, não ficaria relutante pois daria uma chance como aconselhou, mas não forçaria nada de minha parte.
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  — Me desculpe, filho. — sua voz suavizou, mostrando sinceridade. — Eu ainda não sei como reagir, para ser sincero, sinto vergonha do que fiz com você.
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  E mais uma vez ela estava certa.
  — Eu…
  — , pode perdoar seu pai?
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  Assenti com a face e logo senti um abraço apertado vindo dele, não esperava por isso mas aceitei e retribui, lá no fundo sentia falta do meu pai.
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  — Me desculpe se desonrei nossa família — disse ao lembrar novamente de suas palavras do passado.
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  — Não, meu filho, eu que peço desculpas pelo que falei. — ele se afastou um pouco. — Eu e sua mãe sempre vamos nos orgulhar de você, estou feliz que tenha encontrado uma boa moça e agora tenha sua própria família.
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  — Sim, é incrível — concordei.
  Nós tivemos mais uma longa conversa sobre algumas coisas que haviam acontecido em minha vida enquanto estava em Manhattan, até que cheguei no assunto de como conheci , a história do perfume que me levou a busca por ela. Eu e minha linda esposa tínhamos combinado de contar aos meus pais separadamente, ela contaria a minha mãe enquanto cozinhavam e eu me encarregaria de contar ao meu pai.
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  Mas isso foi quando eu achava que meu pai ainda tinha algo contra mim, porém, agora eu sabia que, por mais maluca que fosse nossa história de amor, ele nos apoiaria também. E foi o que aconteceu, mesmo com o choque inicial da minha mãe e muitas perguntas do meu pai, explicamos com imenso prazer na mesa de jantar todas as suas dúvidas.
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  — Eu ainda não sei como reagir a essa notícia — disse minha mãe.
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  — Estou admirado por não ter desistido dela, filho. — meu pai parecia bem mais tranquilo e sereno com o assunto. — Só fico um tanto preocupado com vocês dois.
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  — Sim, e se você perder seu diário? — concordou minha mãe.
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  — Eu já o perdi uma vez, mas deu tudo certo. — a tranquilidade de fazia tudo parecer suave. — Desde que continuemos um do lado do outro, sei que ficará tudo bem, e nosso bebê será muito amado.
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  — Disso não tenho dúvidas. — assentiu minha mãe. — Fico feliz e emocionada por ter concordado em deixar este bebê nascer aqui no nosso país.
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  — Eu me emocionei muito com a carta que a senhora, ou melhor, você me mandou, ajumma. — explicou. — Então, achei que seria bom para eu e que nosso bebê nascesse perto dos avós.
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  — Mas e seus tios? — meu pai perguntou.
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  — Eles virão no próximo mês, junto com e uma amiga minha, fazem questão de passar as últimas semanas que gestação ao meu lado.
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  — Todos serão muito bem-vindos aqui em nossa casa — anunciou minha mãe.
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  — Com certeza — apoiou meu pai.
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  O jantar estava saboroso e para uma primeira vez, minha esposa até que levava jeito para gastronomia coreana; segundo ela, minha mãe era uma excelente professora. Passamos um longo tempo conversando na sala, meus pais pareciam mesmo curiosos sobre como eu conquistei definitivamente minha esposa. Foi complicado a parte em que contei sobre Taylor e como tentou me apagar da vida de .
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  — Estou feliz por ter feito as pazes com seu pai. — disse ao me abraçar por trás, com cuidado pela barriga. — E surpresa por terem reagido bem a minha falha de memória.
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  Eu ri mantendo meu rosto voltado para a janela do quarto, sentindo a forte brisa que adentrava.
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  — Não ria, é sério.
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  — No fim, você tinha razão — suspirei.
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  — Razão? Do quê?
  — Meu pai mudou — eu toquei de leve em suas mãos, me aninhando a ela.
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  — Que bom que eu estava certa então. — ela riu. — Sinto que vai ser divertido nossa estadia aqui.
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  — Hum, pensei que já estivesse com saudades da nossa casa.
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  — Eu amo Manhattan, mas Seoul também é uma linda cidade e até nosso bebê nascer, temos muito tempo para aproveitar — ela estava certa novamente.
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  — Vou te mostrar cada lugar legal desta cidade — assegurei.
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  — Estou ansiosa por isso.
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  Ficamos alguns instantes em silêncios, o que me deixou ter a oportunidade de ouvir as batidas do seu coração.
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  — Obrigado, mais uma vez, por me amar. — virei meu corpo e fiquei de frente para ela. — Eu te amo.
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  Em segundos, senti o toque suave dos seus lábios tocando os meus, meu coração acelerou e meu corpo se aqueceu, conseguia fazer eu me entregar por completo a ela.
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  E ainda que não a visse com meus olhos, eu a via de outras formas mais intensas.
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“Sim! Sinta o mundo cheio de esperança
Sim! Em direção àquele grande futuro logo ali

S.E.O.U.L, repita comigo as belas palavras
Que fazem meu sonho virar realidade
O lugar onde a alegria transborda
Onde eu vou~ Eu te amo!”

– S.E.O.U.L / Super Junior & Girls’ Generation

Amor: A maior fonte que nutre nossa esperança, chama-se amor.” – by: Pâms

Fim

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Natashia Kitamura
Natashia Kitamura
2 anos atrás

Eu tenho um amor por esse casal, que é sem igual. Quis dar um soco na Taylor quando ela apareceu (como ela se atreveu???). Mas admito que, ao mesmo tempo, quero que ela apareça para o Tae dar um belo de um fora nela e seguir em frente com a PP. Os dois merecem.

E não vejo a hora dele morar com ela PORQUE SIM, JÁ ESTOU FANTASIANDO. Acho a coisa mais fofa os dois e não sei que tipo de problema que vem pela frente (se vem), mas já quero guardar os dois em um potinho e proteger pra nenhum mal cair sobre eles. Não merecem, esses bbs <3

Suas histórias são ótimas, Pâms! 

Comentário originalmente postado em 03 de Setembro de 2020

Pâms
2 anos atrás

Que beta mais linda gente!!!
Amo você já fantasiando tudo!! 
Muito obrigada minha linda por comentar!!!

Comentário originalmente postado em 06 de Setembro de 2020

Kitamura Natashya
Kitamura Natashya
2 anos atrás

Esse é um dos casais mais doces de fanfics EVER <3
Fui apaixonadinha por eles do começo ao fim. Gosto, como sempre, da fluidez das suas fanfics, e mais ainda como apesar de sofrer, não é aquela sofrência que se estende por capítulos e mais capítulos. De agonia, já basta a vida real, né? Hahahahaha!
Amei muito esse final, a maneira como os dois estão grávidos e lidam um dia de cada vez. E que reconciliação fofa com os pais! Feliz que deu tudo certo!
Adorei a fanfic do começo ao fim! <3

Comentário originalmente postado em 08 de Novembro de 2020


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