i like you

  A festa de ano novo estava rolando há algumas horas, com bastante bebida e música alta para os convidados se divertirem. null já tinha curtido o bastante, e agora decidiu se sentar em um dos sofás, tendo uma vista privilegiada da pista de dança; seus pés doíam de tanto dançar e de andar pelo local, afinal, suas amigas a obrigaram a falar com metade daquela festa para que ela pudesse conhecer mais pessoas e talvez passar a virada com alguém. A garota achava engraçado o fato do seu grupo gostar tanto de clichês e essa coisa toda envolvendo beijar uma pessoa na hora que o relógio batesse meia-noite, parecia que todos ali tinham essa missão.

  Seus amigos estavam espalhados pelo ambiente, provavelmente com suas respectivas companhias para a virada, enquanto null continuava sentada, observando o público dançar sem muito interesse. Ela sempre gostou de festas, mas chegava um certo momento que só queria estar em sua casa deitadinha na sua confortável cama, sem se preocupar com mais nada. No entanto, faltava vinte minutos para meia-noite, então null respirou fundo e se aconchegou mais no sofá, aguardando dar o horário de ir procurar os seus amigos.

  — Não está em busca da companhia perfeita para a virada, null?

  A garota abriu um dos olhos, por mais que tenha reconhecido o seu amigo pela voz. null null, ou mais conhecido como null pelo grupo, se sentou ao seu lado, virado para si e sorriu, cutucando null. Se dando por vencida, null também se virou para ele e chegou mais perto, ficando a poucos centímetros de seu rosto. Dessa maneira ficaria mais fácil para eles conversarem, se não fosse por um pequeno detalhe: ambos se gostavam.

  null e null não se consideravam melhores amigos mesmo sabendo muitas coisas um do outro, porém, sempre tiveram afinidade o suficiente para se denominarem “amigos muito próximos”. O restante do grupo os chamavam de bobos, contudo, a verdade é que os dois juntos possuíam um mundinho só deles, então eles se denominarem dessa maneira fazia sentido apenas para ambos. A questão de se gostarem não influenciava em muito na amizade, já que continuavam se tratando normalmente, entretanto, não quer dizer que tanto um quanto outro não gostaria de ter algo a mais.

  Eles queriam, só não sabiam como se declarar.

  — Tá curtindo a festa?

  — Bastante até. E você? — null falou no pé do seu ouvido para que ela o escutasse, por mais que só tenha causado um arrepio que deixou a amiga um pouco desconcertada.

  — Também… — Sentiu o seu rosto esquentar. — Achei que estivesse curtindo com os meninos.

  — Eles me abandonaram no momento que acharam companhias para a virada… — Suspirou. — Que no caso, são as nossas amigas.

  — Nem me impressiona, sinceramente — respondeu aos risos, sabendo que esse seria o fim da noite. Exceto ela e null, o grupo era composto por casais não oficiais, já que por algum motivo preferiam apenas sair e ficar. — Nem me darei o trabalho de procurar o pessoal, estarão muito “ocupados”.

  — Pois é. — Ele riu, deitando a cabeça no sofá. — O que pretende fazer amanhã?

  — Vernon comentou de irmos para a casa dele e fazer um churrasco na parte da manhã e tarde.

  — E de noite? — Sua voz continha um tom levemente diferente, não passando despercebido por null que o olhou curiosa.

  — Nada…

  — Quer fazer nada comigo? — null piscou algumas vezes ao ouvir a pergunta de null, tentando entender se ele havia a chamado para sair para um encontro ou só um passeio entre amigos.

  — Depende — sorriu pequeno ao ver sua feição um tanto tristonha —, o que você tem em mente?

  — Assistir um filme?

  — Tudo bem — aceitou rapidamente, achando uma graça ele ter transformado a resposta em uma sugestão por receio dela não concordar.

  — Sério? — Arqueou uma sobrancelha, sem acreditar muito na amiga.

  — Quando que eu recusei um convite seu, null? — null rolou os olhos. — Eu gosto de você, null. Não teria motivos para recusar ir a um encontro com você.

  Independente do som alto da festa, o silêncio surgiu entre os dois após a fala da garota, que mal percebeu que tinha se declarado tão abertamente. Ela tentou evitar, mas espiou o amigo e reparou no seu rosto corado e um sorriso bobo em seus lábios, a fazendo sorrir junto. Logo eles caíram na gargalhada e aquele momento um pouquinho constrangedor havia voltado ao normal.

  — Eu gosto de você também. — Colocou uma mecha do cabelo da amiga atrás da orelha dela, parando a mão na sua bochecha rosada.

  — Sabe… — Se aproximou o suficiente para sussurrar no ouvido dele. — Quando me perguntou sobre a companhia perfeita, eu estava torcendo para que fosse você.

  A contagem regressiva para meia-noite havia começado, e assim que o relógio marcou o horário tão esperado, nada mais importava para os dois. Eles selaram os lábios em meio a sorrisos, felizes com o fato de finalmente conseguirem se declarar. Definitivamente “passar a virada com alguém” ganhara um outro significado para null e null, e o grupo de amigos ganhou mais um casal, mas, dessa vez, um que se tornaria oficial logo menos.