1. Crush
“Elas me amam porque sou quente
Elas me amam porque sou fria
Elas me amam porque sou real
Elas me amam porque eu mato.”
– Crush / 2NE1
Quando as pessoas veem uma modelo desfilando, pensam ser fácil dar cada passo suave e firme, transmitindo uma segurança incomum no olhar. Mal elas sabem que não é tão fácil assim chegar à perfeição na passarela, a menos que você tenha nascido com um talento para isso. Eu tinha nascido assim, desde de criança andava com tanta firmeza e fluidez que logo minha mãe me colocou em uma agência de modelos, eu só tinha seis anos quando comecei.
Com o passar dos anos eu sempre me focava no trabalho e em como aperfeiçoar meus movimentos na passarela. Entre as agências, eu era considerada a aprendiz de Gisele Bündchen, que estava superando a mestre. Era bom ser reconhecida, mas ainda poderia me destacar bem mais, pela minha idade, eu estava no auge da minha carreira como modelo profissional.
— ! ! — disse meu agente ao entrar no meu quarto já abrindo as cortinas.
— Yah, Charlie! — sussurrei sentindo o sol no meu rosto. — Você não sabe que eu odeio ser acordada assim?
— Eu sei, mas queria que visse uma coisa. — ele ligou a televisão que tinha no meu quarto e se sentou nos pés da minha cama. — Estão passando um documentário sobre modelos e você é a principal.
— Não diga. — não dei muita importância, estava com sono e tinha dormido tarde. — Não é novidade falarem de mim, sou uma das melhores modelos do mundo, e considerada a melhor do país.
— Para mim você sempre será a melhor. — disse ele com seu jeito fofo. — E que horas voltou para casa ontem?
— Ontem? — eu ri. — Cheguei hoje de madrugada, a festa estava maravilhosa.
— Você sabe que não pode abusar, sua vida profissional exige muita disciplina.
— Minha vida profissional exige que eu esteja presente em festas maravilhosas, como posso ir embora antes das três da madrugada? — desviei meu olhar para a televisão, estavam falando da minha rival. — Eles têm mesmo que falar dela?
— Não gosta mesmo da Amber? — ele riu. — Vocês eram amigas.
— Até eu descobrir que ela era falsa. — me espreguicei e levantei da cama. — Grave a minha parte que depois eu vejo, preciso de um banho.
Passei pelo closet e entrei no banheiro, seria vinte minutos em um relaxante banho de espumas, para começar bem o dia. Meu agente tinha permanecido no quarto vendo o tal documentário, coloquei roupas leves no closet e retornei, fiquei parada na porta vendo ele arrumar minha cama. Ri de leve e caminhei até a escrivaninha pegando meu celular, tinha algumas mensagens da minha irmã que ignorei um pouco, desviei minha atenção para um bouquet de rosas vermelhas que estava em um vaso.
— Não me lembro dessas rosas. — disse pegando o cartão que estava ao lado.
— Chegaram hoje de manhã.
— São do . — passei os olhos na mensagem do cartão não dando muita importância.
— Ele está mesmo apaixonado. — disse Charlie pegando o vaso com as rosas. — Mas ele não sabe que você é alérgica a rosas?
— Sabe, e isso não é estar apaixonado. — suspirei um pouco. — Sabemos que nosso relacionamento é beneficente para ambos.
Sim, eu estava em um relacionamento por conveniência, era um empresário bem sucedido e muito conhecido entre a mídia mundial, apesar de não ser uma celebridade. Um dos homens mais ricos da Coreia do Sul, o sétimo mais rico do mundo e dono da maior rede de shoppings do país, com as melhores marcas do mundo todo, era com ele que eu namorava.
Minha finalidade era dar mais visibilidade aos seu shoppings com minha fama internacional. Nosso namoro era a melhor estratégia de marketing que ele poderia ter, por outro lado, ter minha imagem espalhada por todo o país me fazia ser ainda mais reconhecida e elogiada, além de aumentar o número de marcas que me queriam usando e representando seus produtos. Como eu disse, era um relacionamento benéfico para ambos.
— Temos alguma coisa para hoje? — disse amassando o bilhete e jogando na lixeira ao lado.
— Uma entrevista após o almoço, com a revista CéCi e uma sessão de fotos ao pôr-do-sol para a nova campanha da marca Dior.
— Hum, tinha me esquecido deles, o que será desta vez?
— Uma nova linha de perfumes inspirado em você. — ele sorriu com satisfação.
— Farei nada menos que o melhor. — garanti a ele, aquela já era a segunda linha de perfume que a Dior lançava inspirado em mim.
— Vou deixar você fazer um lanchinho antes do almoço, mas nada de abusar. — disse ele pegando minha bolsa.
— Virou minha mãe agora? — o olhei admirada. — Eu sempre como uma fruta pela manhã.
— Que tal uma salada de frutas? Para não dizer que sou mal. — ele saiu primeiro do quarto, rindo. — Me esqueci, antes do almoço temos que passar na editora para ensaiar para o próximo desfile especial da revista Vogue Korea.
— Desfile? — suspirei fraco o seguindo em direção à escada. — Me esqueci disso também, acho que já tem uns três dias que não olho na minha agenda.
— Deveria. — resmungou ele descendo as escadas com minha bolsa na mão. — Eu atualizo ela todos os dias para você.
— Que pessoa mais dedicada! — eu o abracei de leve. — Não sei o que seria da minha carreira sem você.
— Eu também não sei, nunca vi uma pessoa tão sem disciplina como você.
— Eu sou única. — sorri para ele e olhei para frente. — Preciso comer.
— Não vai se jogar nas frutas e esquecer da dieta, sem fibras. — avisou ele pela milionésima vez.
— Já sei, estamos cortando as fibras. — aquela era a parte chata de ser uma modelo, ter que evitar algumas coisas que eu amava.
Após meu pequeno lanche matinal, seguimos para o prédio da editora Vogue Korea, o salão onde aconteceria o desfile especial já estava montado e algumas modelos já estavam ensaiando nele. Logo a editora chefe da revista veio nos cumprimentar, Isy tinha se empenhado muito em me convencer a participar do desfile, e Charlie, como um bom agente, conseguiu acrescentar mais este evento na minha agenda tão apertada.
— Ah, que bom que chegou. — disse Isy com um sorriso de satisfação por eu estar ali.
— É claro que estaríamos aqui, afinal, esse desfile não seria perfeito sem a melhor modelo desse país. — Charlie me olhou e sorriu também.
— Fico feliz em poder fazer parte desse evento, algo tão marcante para uma das revistas mais conceituadas da atualidade. — eu me curvei de leve em agradecimento. — Posso começar o meu ensaio?
— Claro. — ela se curvou de volta. — As modelos secundárias já estavam terminando, gostaria de trocar de roupa?
— Não, eu só preciso reconhecer o impacto que terei ao pisar na passarela, a roupa não importa.
Isy assentiu sem questionar e me levou até o backstage, chegamos até a parte por onde eu subiria para a passarela. Charlie ficou segurando minha bolsa, enquanto Isy pedia para que as modelos secundárias se sentassem para me ver desfilar, seria uma forma de aprendizado para elas também.
Dei alguns passos até a pequena escada de três degraus. Eu tinha algumas manias, e uma delas era sempre fechar os olhos e respirar fundo antes de subir na passarela, era uma forma de concentrar toda a energia que a moda sugava de mim, enquanto eu caminhava para ela. E foi o que fiz, mesmo que fosse somente um ensaio, eu sempre caminhava como se fosse o desfile de verdade.
Cabeça erguida, olhar fixo para frente, concentração em um nível elevado, passos suaves e firmes, meus braços se movendo com precisão e calma. Quando eu desfilava, parecia que eu estava flutuando e não andando. Bastou duas voltas para eu me acostumar com a passarela, sentir como seria o impacto dos meus passos e entender como eu deveria caminhar para parecer ainda mais natural e leve.
— Perfeita, como sempre. — elogiou Charlie.
— Sim, sempre que desfila, é como um acontecimento incomum, até mesmo em um ensaio. — concordou Isy. — Queria que todas as modelos fossem assim.
— Tenho uma triste notícia para você, eu sou única. — sorri de canto. — E sou a melhor.
— Disso não temos dúvida. — concordou Charlie.
— Tem certeza? Muitos duvidam disso. — disse uma voz vinda de trás de mim.
— Amber. — me virei a olhando. — Não sabia que estaria nesse desfile também. — desviei meu olhar para Isy.
— Bem, foi um pedido de um dos patrocinadores da revista. — explicou Isy, ela sabia da nossa rivalidade.
— Estarei entre as modelos principais, como uma das melhores modelos do país não estaria nesse desfile? — seu olhar arrogante para mim, me fazia querer jogá-la da ponte.
— Terminamos por aqui, Isy, já me adaptei a passarela como precisava. — disse respirando fundo.
— Agradeço mais uma vez por ter vindo e aguardo no evento. — Isy deu um sorriso sem graça.
— Já vai? — Amber me olhou. — Tem certeza que vai fazer uma boa caminhada?
— Aguarde e verá, os melhores não precisam de muito, o segredo não é a quantidade de passos, e sim a qualidade deles. — disse retrucando sua indireta.
Amber engoliu seco, me olhando com raiva, eu dei de ombros não me importando com ela. Me despedi de Isy e caminhei em direção à saída, as modelos secundárias ainda estavam sentadas cochichando sobre meu breve ensaio.
— Você sempre cala ela, mas hoje se superou. — disse Charlie aparecendo ao meu lado. — Estava mesmo maravilhosa.
— Eu sou a melhor, não preciso de muito para provar isso. — suspirei um pouco fraco pegando minha bolsa, peguei meu celular e vi mais mensagens da minha irmã, ignorei de novo e joguei o celular na bolsa.
— Não vai ler as mensagens? — perguntou Charlie assim que chegamos na porta do prédio.
— Não, minha irmã sabe se virar sozinha, ela é a mais velha. — esperei ele abrir a porta.
— Não está ignorando ela demais, não? — ele abriu a porta e nós saímos. — Desde que seus pais se foram, vocês não se falam mais.
— Na visão dela, eu deixei eles para desfilar. — retruquei indo em direção ao carro. — Ela sempre despreza todo meu sacrifício.
— Está sendo muito rancorosa, vocês duas estavam passando por momentos difíceis. — explicou Charlie. — E ela não sabia o que realmente tinha acontecido com você.
— Charlie, pare de defender ela. — bufei um pouco. — A agiu assim comigo porque quis, não tenho motivos para voltar a falar com ela.
— Ela tem a família dela, e por causa disso, jogou na minha cara que eu tinha abandonado nossos pais. — bufei novamente. — Só porque se casou e estava sempre perto deles, ela se acha no direito de dizer que eu era uma filha má? Quero que ela se…
— Olha. — disse ele me interrompendo. — Acho melhor parar, antes que diga algo que possa se arrepender depois.
— Vamos almoçar. — disse entrando no carro.
— Como quiser. — concordou ele.
Fomos ao restaurante do amigo de . Para minha surpresa, o dono estava lá e assim que me viu, fez questão de nos colocar na melhor mesa do restaurante e oferecer o almoço como um presente, por estarmos prestigiando o lugar. Claro que não seria de graça e eu teria que postar algumas fotos em minhas redes sociais, mostrando o quão maravilhosa era a comida deles, eu não estaria mentindo já que o cardápio era de dar água na boca.
— Deve ser tão bom ser você. — disse Charlie assim que fomos servidos. — Não é todo dia que consigo almoçar em lugares assim sem pagar.
— Digamos que todo benefício tem seu custo. — disse tirando uma self para postar no Instagram. — E minha imagem é um deles.
Após o almoço, seguimos o cronograma da minha agenda, a entrevista com a CéCi era sobre meu recente contrato com a
Victoria’s Secret, seria a mais nova angel da marca. Era um feito e tanto para uma mestiça como eu, filha mais nova de um coreano e uma brasileira, que para surpresa de muitos no mundo da moda, desafiou todo o conceito de padrão de beleza do país, se tornando a modelo mais bem paga e famosa da nação.
A entrevista durou duas horas, a maior parte do tempo gastamos nas fotos que iria fazer parte do editorial que estavam fazendo, deixando a parte brasileira de lado, eu era a primeira modelo sul coreana que fazia parte da lista de angels da
Victoria’s Secret. Charlie acompanhou todo o processo me ajudando a responder a maioria das perguntas, as únicas que me recusei a responder eram referentes à minha vida pessoal, principalmente meu relacionamento com e a morte dos meus pais.
— Você estava maravilhosa como sempre. — disse Charlie assim que troquei de roupa novamente. — Seus pais se orgulhariam de você se estivessem aqui.
— Eles já se orgulhavam de mim antes. — eu o olhei satisfeita. — Pelo menos eles me entendiam, e já sabiam que eu seria a melhor.
— Bem, enquanto você estava fazendo as fotos, recebi uma ligação da Dior, remanejamos sua sessão de fotos para sexta à tarde, me parece que não teremos um tempo muito bom para hoje.
— Hum, então vou voltar para casa, estou cansada.
— Não, mocinha, você tem um jantar com seu namorado.
— Jantar? — o olhei não acreditando.
— Sim, no
The Griffin Bar. — confirmou ele pegando minha bolsa. — Eu acho que você deveria ir com uma roupa especial.
— Você e suas dicas de moda. — eu ri. — Vamos.
Mesmo com um compromisso a menos na agenda, eu ainda tinha mais um para este dia, um encontro em forma de jantar com meu namorado. Era estranho um convite de última hora, mas pela minha curiosidade, não deixaria um homem apaixonado esperando muito por mim.
“Sou a paixão quente de todos os garotos
Te dando motivos pra fazer seu coração acelerar
Lindas unnies como eu
Ficam mais bonitas se gostam de mim.”
– Crush / 2NE1
2. Lonely
“As palavras que estou dizendo agora
Não sei se irão te machucar
Elas provavelmente farão você me odiar para sempre”
– Lonely / 2NE1
Foram duas horas para chegar em casa e me arrumar, várias negações de Charlie quanto às minhas escolhas para o look da noite, até que consegui convencer ele que um vestido preto básico era o melhor. Em contrapartida, ele me fez abusar na escolha dos acessórios, uma grande modelo como eu, não poderia chegar em um lugar sem causar impacto.
— Agora sim, você está digna de você. — disse ele.
— Não diga. — eu me olhei no espelho rindo. — Você passa tanto tempo cuidando de mim, sua família não sente sua falta?
— Até sente, mas prometi à sua mãe que não te deixaria. — ele sorriu.
— Que lindo, perdi uma mãe e ganhei outra. — eu ri pegando minha carteira da Chanel.
— Te desejo uma maravilhosa noite, e nada de abusar. — disse ele com seu jeito afeminado de ser.
— Vai para casa e não se preocupe, eu sei das minhas responsabilidades profissionais.
Em frente ao prédio onde morava, uma limousine já estava na porta me esperando, cortesia do meu namorado, olhei disfarçadamente para os lados e vi alguns paparazzi do outro lado da rua tirando algumas fotos minhas. Mesmo sendo uma celebridade desde criança, eu ainda não tinha me acostumado com pessoas me perseguindo e tirando fotos minhas em todo lugar.
Assim que cheguei no restaurante, o gerente já estava na porta me esperando, ele me levou até a mesa que estava reservada, o melhor lugar da casa. , já me aguardando, se levantou e se curvou de leve em um cumprimento, puxou a cadeira para que eu me sentasse.
— Obrigada. — disse ao me sentar. — Espero não tê-lo feito esperar muito.
— Só um pouco, mas valeu a pena. — ele se sentou e sorriu.
— Fiquei um pouco curiosa pelo convite de última hora, esse não é seu estilo.
— Verdade, sempre marco antecipado, mas o imprevisto é algo positivo para nós dois.
— Positivo? — agora estava ainda mais curiosa.
— Sim, mas não falarei agora, vamos saborear o jantar.
— Está me deixando ainda mais curiosa. — eu sorri de leve, desviando meu olhar para o lado, vendo algumas pessoas comentando sobre nossa presença ali.
— Senhor, senhorita, sejam bem-vindos. — disse o garçom ao se aproximar da nossa mesa. — Desejam fazer o pedido agora?
— Claro. — o olhou, logo desviou sua atenção para o cardápio. — Eu vou querer um
Chateau 1990.
— Perfeitamente, senhor. — assentiu o homem anotando o nome do vinho.
demorou um pouco para escolher, eu já estava decidida, não comeria nada que tivesse muita fibra, então minhas opções eram um tanto limitada. O tempo foi passando, nossos assuntos à mesa eram sempre sobre sua linha de shoppings e meus desfiles, além da novidade do meu contrato com a
Victoria’s Secret. Assim que a sobremesa foi servida, que no meu caso era um
brownie diet, meu celular tocou.
— Não vai atender? — perguntou ele.
— Não. — respirei fundo vendo que a ligação era da minha irmã. — Não é nada importante.
— Então — ele suspirou um pouco mantendo seu olhar em mim, enquanto mexia no bolso do seu terno —, tenho um pedido a fazer.
— Pedido? — não estava entendendo mais nada.
— Bem, eu não sei como dizer isso. — ele colocou uma caixinha em cima da mesa, sua mão estava tremendo um pouco. — Sabemos que o que temos não é algo tão profundo, mas eu realmente queria que fosse mais estável.
— Estável? — olhei para a caixinha e pegando abri de leve, seu estável era um pedido de casamento?
— Não sei como fazer esse pedido, mas acho que já entendeu o que quero dizer. — continuou ele mantendo seu olhar em mim.
Eu não sabia o que responder, me casar com ele era um tanto novo, estava sem reação. Eu tinha um carinho muito grande por ele, mas não era suficiente para um casamento, eu não estava preparada para um casamento naquele momento da minha vida. Quando eu ia responder, meu celular tocou novamente, era uma ligação de Charlie, essa eu tinha que atender. Pedi licença para e fui até o banheiro para atender a ligação:
— Posso entender o motivo desta ligação? — disse ao atender.
— Sua irmã. — disse ele num tom meio desesperado. — Por favor, não desligue, a me ligou desesperada, ela acaba de ser despejada, está na rua com sua filha e não tem onde ficar.
— Ela tem um marido, não era isso que ela sempre jogava na minha cara?
— Kim . — odiava quando ele dizia meu novo todo. — Não fale de algo que possa se arrepender depois, ela é sua irmã e precisa de você.
— O que quer que eu faça? — perguntei a ele.
— Mostre a ela quem você realmente é.
Ele encerrou a ligação, após alguns minutos mandou uma mensagem com o endereço dizendo que um táxi já estava na porta do restaurante me esperando, doce ironia da vida, eu não sabia o que faria. Mas seria, sim, imprevisível como sempre, tomei coragem e voltei para a mesa, peguei minha carteira.
— Onde você vai? — perguntou se levantando.
— Tenho outra coisa para fazer. — me afastei da mesa.
— Espera. — ele segurou no meu braço. — Vai me deixar aqui, assim sem uma resposta como um idiota?
— Interprete como quiser, tenho que ir para outro lugar. — me soltei dele.
— Se você for, não precisa voltar.
— Melhor ainda, a resposta era realmente ‘não’.
Me afastei indo em direção à porta. Como Charlie disse, já tinha um táxi à minha espera na porta, entrei e pedi para que o motorista seguisse em direção ao endereço. Assim que o táxi parou, eu a vi no meio da calçada, chorando abraçada à filha dela. Fiquei olhando por alguns minutos, pensando se deveria ou não descer e ajudar. Foi quando percebi a aproximação de um rosto conhecido, que não via há muito tempo.
— ? — sussurrei para mim, vendo ele se aproximar dela.
Os dois pareciam um pouco próximos, queria entender o que ele estava fazendo ali e por que me ligou, se já tinha outra pessoa para pedir ajuda.
— A senhorita não vai descer? — perguntou o motorista.
— Não deveria, mas vou. — entreguei o dinheiro a ele e desci do táxi.
— Você não pode ficar na rua. — disse assim que me aproximei deles.
— Ela não vai. — disse com uma entonação firme, desviando meu olhar para as bolsas que estavam espalhadas na calçada.
— . — disse ele me chamando pelo apelido.
— Já faz anos que não ouço esse apelido. — desviei meu olhar para . — Você insistiu tanto, aqui estou.
— Se for para jogar alguma coisa na minha cara, pode voltar para seu mundinho de luxo e glamour. — disse ela com seu jeito arrogante de ser.
— Eu venho ajudar e já sou tratada assim, depois não pergunte por que não atendo ligações.
— Yah, vocês duas vão mesmo brigar na frente da criança? — parecia um pouco irritado.
— E você? O que faz aqui? — o olhei.
— Vim ajudar uma amiga, já que a irmã dela não tinha tempo.
— A irmã dela está aqui. — suspirei fraco. — Apesar de não saber o que aconteceu.
— Omma, estou com frio. — disse Nalla com um jeitinho fofo.
— Querida. — a pegou no colo. — O tio vai te esquentar. — ele olhou para mim — Não podemos ficar aqui para sempre.
— Por que está olhando para mim? — perguntei.
— Você não veio ajudar? — retrucou ele — Ajude pegando as malas e colocando no meu carro.
— Hum, você tem carro. — segurei o riso indo pegar a mala que estava perto da escada.
— Muito promissor esse seu comentário. — disse ele entregando Nalla para segurar.
— Foi só uma breve observação. — ri de leve desviando meu olhar para ele. — A propósito, seu carro é de segunda mão?
— Por quê? — ele me olhou. — A madame só anda de conversível?
— Digamos que há duas horas atrás eu estava dentro de uma limousine. — dei um sorriso debochado.
Aquela era meio pesada, mas não estava ligando para os sentimentos dele. fazia parte de um passado que eu não queria me importar, mesmo o tendo visto novamente de uma forma tão inusitada. Entramos em seu carro, e Nalla ficaram no banco de trás, enquanto eu fiquei na frente, permanecemos todos em silêncio durante todo o caminho, apenas ouvindo Nalla cantando músicas que tinha aprendido na escola.
Era difícil não lembrar do passado, estando ali do lado de . Tínhamos crescido juntos, ele foi meu primeiro e até o momento único amor, nosso namoro durou até meus 18 anos, quando resolvi me mudar para Londres para elevar minha carreira de modelo. Aquilo foi o ápice para ele pedir o término de tudo e desejar que eu fosse feliz em minha vida de celebridade.
De fato, eu era muito feliz na vida que ele odiava. Mesmo não gostando, sempre respeitou meu desejo de ser uma modelo famosa, até mesmo me acompanhou em muitos testes no começo da minha carreira. Nossa amizade tinha sobrevivido o rompimento, até o dia que descobrimos a doença da minha mãe, após meu pai falecer devido a complicações na cirurgia de apendicite. Foi a gota que faltava para desmoronar toda e qualquer amizade que eu tinha tanto com ele, como com ).
— Chegamos. — disse ao abrir a porta do meu apartamento.
— Grande. — sussurrou ele atrás de mim.
— Ainda acho que não precisamos ficar aqui. — disse carregando Nalla, que dormiu em seus braços.
— Mas é claro que vocês precisam ficar aqui. — disse Charlie ao descer as escadas com um avental no corpo. — Como não sabia quando chegariam, resolvi ir arrumando tudo por aqui.
— Nem vou me dar o trabalho de perguntar como entrou aqui e vou direto ao ponto, o que te fez pensar que eu traria elas para cá? — o olhei boquiaberta por ele se sentir tão à vontade na minha casa.
— Simples, ela é sua irmã. — ele deu um sorriso singelo, que me fez querer matar ele.
— Essa eu tenho que concordar. — riu atrás de mim. — Vocês duas são previsíveis às vezes.
— Venha , vamos colocar essa mocinha na cama.
— Eu só tenho uma cama. — relembrei ele.
— Eu já fiz todas as acomodações no quarto de hóspedes. — explicou Charlie começando a subir.
— Que quarto de hóspedes? — perguntei não me lembrando de nenhum cômodo assim.
— Remanejei sua sala de TV e a transformei em um quarto. — explicou ele. — Venha, .
— Estou indo. — segurou o riso e o seguiu subindo as escadas.
— Será que ele se esqueceu que a casa é minha? — sussurrei para mim mesma.
— Você as trouxe, achou mesmo que elas dormiriam onde? — me olhou tranquilamente.
— Não tinha pensado nisso, moro sozinha há muito tempo. — resmunguei.
— Vou trazer as outras malas. — ele se virou para porta.
— Obrigada. — disse rapidamente.
— Fiz isso por elas, não por você. — disse ele ainda de costas e saiu.
— O mesmo de sempre. — sussurrei para mim mesma respirando fundo.
— Ah, como será bom ter uma criança em casa. — disse Charlie descendo as escadas.
— Fale por você. — caminhei até o sofá me sentando. — Como elas estão?
— Posso entender como foi tão rápido?
— Digamos que quando te liguei, eu já estava aqui. — ele riu. — Eu sabia que você iria até ela, mas estou curioso sobre o jantar.
— Que jantar? — perguntei.
— Com o . — lembrou ele. — Então, como foi?
— Ah, ele me pediu em casamento.
— O quê? — Charlie deu um grito fino. — te pediu em casamento? E qual foi sua resposta?
— Bem. — meu olhar desviou para a porta, estava parado me olhando. — Não é hora para isso. — desviei meu olhar para a janela.
— Vai mesmo me deixar na curiosidade? — ele suspirou.
— Aqui está o restante das malas. — disse .
— Obrigada, . — disse minha irmã descendo as escadas. — Muito obrigada mesmo.
— Amigos são para isso. — ele caminhou até ela e a abraçou. — Espero que fique bem.
— Eu também. — ela o olhou e sorriu de leve. — Agradeça sua mãe por mim.
— Ah, eu também vou. — disse o Charlie. — Me dá uma carona?
— Se não se importar com carros de segunda mão. — disse ele desviando o olhar para mim.
— Ah, que isso. — ele riu. — Já andei em tanto carro diferente.
— Vamos então. — saiu primeiro, sendo acompanhado por .
— Nos vemos amanhã, , temos alguns assuntos para resolver.
— Até.
Assim que ambos saíram, fechou a porta e caminhou até o sofá, se sentou ao meu lado e ficou olhando para a mesa de centro. Em minha mente muitas coisas estavam se passando, estava curiosa para saber se ela e tinham uma amizade tão sólida quando me transmitiram, o que tinha acontecido com o apartamento que dei a ela de presente de casamento e como ela tinha chegado naquela situação.
— Me desculpa. — disse ela de imediato.
— O quê? — olhei para ela, que já estava lacrimejando.
— Você tinha razão, me desculpa por tudo.
— Posso entender esse tudo? — não estava mesmo entendendo nada.
— Por te culpar depois da morte do papai, o tratamento da mamãe. — ela respirou fundo segurando as lágrimas. — Por não te ouvir, te julgar, me desculpa.
— Não te culpo por isso, você é a mais velha, sempre foi mais responsável que eu. — respirei fundo mantendo meu olhar nela. — Mas o que aconteceu?
— Ele… Me enganou… Traiu… — a primeira lágrima caiu do meu olho. — Sempre achei que tinha feito a escolha certa, larguei a faculdade, me casei, tive a Nalla, achava que estava feliz, percebi tarde demais que ele não era nada daquilo que eu imaginava.
— Ele te agrediu? — agora estava me preocupando.
— Não, isso jamais aconteceu, mas ele não era fiel. — ela me olhou com lágrimas. — Eu deveria ter seguido seu conselho.
— Bem, não vou discordar que eu nunca fui com a cara do Carl, fui contra seu casamento desde o início, sempre achei que você deveria ter terminado a faculdade, se estabilizado financeiramente para depois pensar em se casar. — essa era minha opinião para ela. — Você sempre foi mais inteligente e estudiosa que eu, não entendo como fez isso com sua vida.
— Pelo menos uma coisa boa saiu de tudo isso, a Nalla. — ela respirou fundo enxugando as lágrimas. — Ela é meu motivo para continuar.
— Mas não entendo como você chegou nessa situação. — desviei o olhar para a televisão e inclinei meu corpo para trás — O que aconteceu com o apartamento e a casa dos nossos pais? A herança deles, eu abri mão de tudo para você.
— É difícil falar sobre isso.
Difícil não era a palavra certa, mas sim, vergonhoso. O idiota do ex-marido dela havia contraído dívidas de jogo, estava explicado onde tinha parado toda a herança dos nossos pais e o apartamento, eu não acreditava no que estava ouvindo. Minha irmã tinha contraído uma dor de cabeça em forma de casamento, não a culpo, ela estava um pouco deslumbrada por ter uma família, meus pais tinham ficado tão felizes com a notícia do casamento dela, a festa de noivado.
Foi um momento de felicidade para nossa mãe que estava lutando contra uma doença rara, após perdemos o papai, era uma forma dela encontrar forças e manter a esperança, ainda me lembro dos seus olhos brilhando ao ver entrando na igreja. Felizmente não está aqui para ver com quem minha irmã tinha se casado, nem para ver sua casa sendo vendida para pagar dívidas de jogo.
— Vocês dois se separaram de verdade? — perguntei.
— Sim, judicialmente. Ele tentou ficar com a guarda da Nalla, mas graças ao depoimento de e sua mãe, eu consegui a guarda. — respondeu ela.
— Que cretino, ainda querendo a guarda para quê? Pedir pensão? — aquele sim eu jogaria da ponte com prazer.
— Não sei, talvez. — ela suspirou um pouco. — Acho que estava mais de olho no seu dinheiro, ele sempre me perguntava por que eu não pedia sua ajuda.
— Esqueça esse idiota, você está muito melhor agora sem ele. — disse me levantando do sofá.
— Falar é fácil, esquecer que é difícil.
Eu não tinha ideia do que estava acontecendo com a , eu sempre ignorava suas mensagens e nunca atendia suas ligações, ela que sempre mostrava que tinha uma vida perfeita para mim. Mas ela não era a única que estava solteira novamente, mesmo não sendo um relacionamento verdadeiro, meu namoro com já havia completado três anos, e agora aparentemente tinha terminado.
“Você, dizendo que não sou a mesma como eu costumava ser,
Não é completamente falso,
Isso me mudou, é completamente estranho para mim.”
– Lonely / 2NE1
3. Missing You
“Não fique tão confortável assim,
Porque você e eu, ainda somos estranhos.”
– Missing You / 2NE1
Após descobrir tantas coisas, pensei que não conseguiria dormir direito, ainda mais sabendo que minha irmã estaria chorando no quarto ao lado, porém, dormi tranquilamente. Assim que acordei, ouvi de longe o barulho da televisão vindo do andar de baixo, estranhei um pouco no início, porém me lembrei que não estava mais sozinha em casa.
— Bom dia. — disse descendo as escadas me espreguiçando. — O que está acontecendo aqui?
— Estou fazendo o café da manhã. — disse Charlie com seu avental novamente e uma espátula na mão.
— Eu disse para ele que não precisava. — abaixou um pouco o volume da televisão e voltou seu olhar para Nalla que estava atenta ao desenho.
— Você realmente não tem casa? — perguntei desviando o olhar para ele.
— Estava preocupado com sua irmã e a Nalla, como você não come muito e está de dieta, trouxe algumas coisas a mais para encher a geladeira. — explicou ele. — Estou fazendo panquecas.
— Legal, para mim uma fruta e para elas panquecas. — resmunguei indo até a geladeira.
— Pare de reclamar. — ele riu se voltando para o fogão.
— E vai demorar isso? — abri a geladeira e peguei a caixa de leite desnatado.
— Já estou terminando, tome seu leite rápido e vá trocar de roupa, temos que fazer a prova das roupas do desfile da Vogue.
— Sim, senhora. — brinquei despejando um pouco de leite no copo e tomando.
Deixei Charlie preparando a pequena mesa de café da manhã e voltei para meu quarto, tomei uma ducha fria para acordar, ainda me sentia sonolenta, coloquei roupas leves e mantive o cabelo preso. Assim que desci para a sala, Charlie já estava perto da porta me esperando, e Nalla estavam tomando seu café.
— Diga obrigado para o tio Char. — disse .
— Obrigada, tio Char. — Nalla deu um daquele sorrisos fofos que toda criança tem.
— Foi um prazer cozinhar para vocês. — ele sorriu e desviou seu olhar para mim. — Vamos, senhorita Kim, temos um dia cheio hoje.
— Vamos. — olhei para . — Até mais tarde e fique à vontade.
— Obrigada. — ela dei um sorriso tímido.
Me virei e segui Charlie até o carro, tínhamos mesmo um dia muito tumultuado com a prova das roupas do desfile da Vogue e uma sessão de fotos com a revista
Harper’s Bazaar Korea edição especial de outono. Olhando na internet as notícias do dia, me deparei com uma postagem em um site de fofocas sobre meu encontro com e uma suposta briga entre nós dois. Respirei fundo, não estava preparada para lidar com as perguntas da mídia sobre isso e meu querido agente teria que ser astuto para não deixar essa notícia ir muito longe.
A prova de roupas foi tranquila, eu desfilaria com cinco looks da marca
SPAO, a mais famosa marca coreana, para minha surpresa não esbarrei em pessoas indesejadas como Amber. Após a pequena e regulada pausa para o almoço, seguimos para um galpão onde seria o ensaio fotográfico da revista
Harper’s Bazaar Korea.
— Espero não estarmos atrasados. — disse Charlie ao chegarmos.
— Não, estão pontuais como sempre. — disse o diretor da revista. — Estamos muito felizes que tenham conseguido encaixar este tempo para nós.
— Eu que estou feliz por poder participar desta edição tão esperada. — disse dando um sorriso singelo.
— Não foi mesmo fácil, mas consideramos muito a
Harper’s, não poderia ter uma edição especial sem a melhor modelo do país. — continuou Charlie.
— E futuramente do mundo. — completou o editor.
Eu estava feliz, mais um trabalho significava que eu estava no caminho certo, e sempre ficava agradecida por tantos trabalhos, era um sinal que estava mesmo quebrando os padrões de beleza tradicionais com a minha beleza incomum. O lado divertido era sempre ouvir de todos que estavam felizes por eu encontrar um tempo na agenda para eles, uma estratégia maravilhosa de Charlie que, mesmo sem trabalhos para mim, insiste em dizer a todos que minha agenda é lotada de compromissos.
Fazer com que todos acreditassem que eu era uma modelo muito requisitada era uma das muitas estratégias que Charlie tinha montado no início da minha carreira, algo que se estendia até nos dias atuais. Mesmo tendo que me concentrar nas poses, na intensidade do meu olhar, na postura do meu corpo e suavidade da minha face, eu não estava conseguindo deixar de pensar em minha irmã.
Eu sempre admirei durante todos aquele anos, mesmo estando teoricamente brigada com ela, eu ainda a admirava por tudo que ela representava na minha vida. Ela sempre gostou desse universo, e isso foi mais um fator para eu continuar seguindo minha carreira de modelo, quando entrou para universidade de Yale para fazer moda, fiquei tão feliz quanto ela.
— É isso. — disse para mim mesma.
— O que disse? — o fotógrafo parou por um momento e me olhou sem entender.
— Ah, não é nada, me desconcentrei por um momento, me desculpe. — desviei meu olhar para Charlie. — Podemos fazer uma pausa?
— Ah, claro. — o diretor que estava ao seu lado sorriu. — Uns cinco minutos para respiramos melhor.
— Obrigada. — caminhei até a mesa e peguei uma garrafa de água e despejei um pouco no copo.
— Está tudo bem? — perguntou Charlie se aproximando de mim.
— Sim, só estava pensando na .
— Ficou mesmo preocupada com ela. — Charlie deu um sorriso de eu sabia.
— Como você diz, ela é minha irmã. — assenti meio contrariada. — Estava pensando em como poderia ajudar ela.
— E chegou em alguma ideia.
— Talvez. — tomei um gole da água com cuidado para não borrar a maquiagem. — Mas não vou te contar agora.
— E por falar em contar, ainda me deve o babado do jantar.
— Terminamos. — fui direta.
— O quê? — ele gritou depois suavizou a voz. — O quê?
— É, terminei. — tomei o resto da água e o olhei. — Não estou pronta para um casamento, menos ainda por interesse.
— Mas e agora? — perguntou ele fingindo não estar desesperado por dentro. — Como vai ficar todos os seus contratos com a empresa dele?
— Não sei. — respirei fundo. — Você resolve depois.
— Você faz as coisas e eu tenho que limpar a bagunça depois. — ele cruzou os braços.
— Não diga isso como se eu tivesse feito algo errado.
— Não sei, segundo ele, acho que não. — me espreguicei de leve. — Mas mesmo se tivesse, não acho que voltaria, dormi pensando nisso e no que aconteceu com a , não sei.
— Gastei três anos em um namoro por interesse, não acho que conseguiria manter um casamento assim, mas por outro lado pensando que minha irmã se casou apaixonada e depois descobriu que não era nada daquilo que imaginava.
— A diferença é que sua irmã era a única apaixonada, tenho certeza que se esse tal Carl gostasse mesmo dela, não teria feito o que fez.
— Sempre achei que ele estava atrás do dinheiro que achava que teria de mim. — desviei meu olhar para frente. — Nunca fui com a cara dele.
— Mas, este seu posicionamento é realmente por isso, ou tem algo relacionado ao antigo amor do passado? — ele dei um sorriso irônico. — Faz cinco anos que vocês não se viam.
— Não acredito que você está insinuando sobre isso. — bufei um pouco. — Não existe mais nada, desde aquela época, nem mesmo um pingo de amizade.
— Sejamos verdadeiros, eu sei que depois dele, você nunca mais conseguiu se apaixonar de novo, nem o conseguiu te fazer esquecer .
— Pare de insinuações vãs, foi um amor de infância que passou, ver ele ontem foi algo imprevisível para mim e só.
— Se você diz. — ele deu uma risada disfarçada.
Eu voltei para meu foco, que era a sessão de fotos, naquele momento na minha vida, meu trabalho estava em primeiro lugar, era um dos motivos do meu sucesso em não me machucar sentimentalmente. Uma coisa que Charlie disse era certa, depois que terminei meu namoro com há sete anos, eu tinha me envolvido tanto com meu trabalho que não dava espaço para me apaixonar por ninguém, nem mesmo por , por mais que parecesse promissor e atraente a ideia.
A sessão de fotos terminou no início da noite, Charlie me deixou na porta do meu prédio e seguiu para sua casa, ele tinha alguns assuntos sobre minha viagem para Manhattan para resolver. Ao entrar no apartamento reconheci uma voz vindo da cozinha, era , ele estava sentado na bancada conversando com , aquela cena me deixou um pouco paralisada, principalmente ao ver a mão dele segurando a mão dela.
— Ah, . — ela se afastou um pouco dele. — Chegou cedo, Charlie disse que iriam demorar na sessão de fotos.
— Profissionais são precisos, sempre termino rápido. — mantive meu olhar em . — Boa noite.
— Boa noite. — disse ele mantendo seu olhar em mim também.
— Onde está Nalla? — perguntei.
— Está dormindo, ela sempre dorme cedo. — respondeu .
— Interessante. — respirei fundo indo em direção a escada. — Fiquem à vontade.
Talvez minha voz estivesse um pouco fria, não queria ser grossa, mas já sendo. Eu não estava nenhum pouco confortável vendo meu namorado de infância com a minha irmã, na cozinha do meu apartamento, seria ridículo ter ciúmes disso, mas eu estava incomodada com a “amizade” deles. Entrei no quarto me espreguiçando, joguei minha bolsa na cama.
— Não é nada disso que você está pensando. — disse ao entrar atrás de mim.
— O que eu estou pensando? — mais uma vez aquele tom de ironia.
— Eu te conheço, . — ela respirou fundo. — Eu e somos somente amigos, ele está me ajudando com tudo isso.
— E desde quando eu me interesso pela vida dele, ou pela amizade de ambos? — olhei sem nenhum interesse, mas querendo saber mais.
— Pode negar agora, mas eu vi nos seus olhos quando chegou e nos viu.
— O que você viu nos meus olhos?
— Aquilo que está negando agora. — ela suspirou. — Ele veio trazer os documentos do divórcio para mim e eu pedi para ele ficar um pouco, precisava conversar com alguém.
— Já disse que não estou interessada na história, volte para seu amigo, estou com dor de cabeça e quero descansar.
— Ele também ficou assim quando soube do seu casamento. — disse ela.
— O quê? — a olhei surpresa. — Que casamento?
— Com o milionário, seu namorado. — ela segurou o riso. — O mesmo olhar de descontentamento que você fez, vocês dois não sabem mesmo fingir, você vai mesmo se casar?
— E o que você e tem a ver com isso? — caminhei até o closet. — Feche a porta quando sair.
— Teimosa como o papai. — gritou ela saindo pela porta.
Eu era mesmo teimosa, nego até a morte se for preciso, mas estava até curiosa para saber porque tinha ficado daquele jeito, será que ele ainda gostava de mim? Não, não iria pensar nisso, primeiro porque manteria minha atenção no trabalho e tinha acabado de terminar com , querendo ou não, tinha que focar na minha imagem.
Mais tarde levou chá para mim no quarto, ela ficou sentada na cama me olhando enquanto eu tomava do chá perto da janela.
— Diz de uma vez, e para de ficar me olhando. — disse mantendo minha atenção na rua.
— Você ainda gosta dele? — perguntou ela. — E não minta, porque eu sei quando está mentindo.
— Prefiro não responder, me reservo o direito de permanecer em silêncio.
— Ainda gosta. — afirmou ela. — Eu sempre pensei que de nós duas, você se casaria primeiro, sempre foi grudada no , mesmo com sua carreira no início, ele odiando ter uma namorada celebridade e o Charlie dizendo para ser mais focada no trabalho.
— Nem tudo sai como achamos, as pessoas mudam, eu também sempre achei que você fosse terminar a faculdade primeiro para se casar depois.
— E acabei fazendo besteira. — ela riu. — Você pelo menos seguiu um caminho que não te faz arrepender, ser modelo era seu sonho de criança.
— Você e a mamãe que alimentaram esse sonho. — deixei a xícara em cima da mesa e caminhei até a cama me sentando ao lado dela. — Inicialmente eu queria ser modelo para desfilar aqueles vestidos lindos que você desenhava.
— Mamãe fez um para sua formatura, lembra? — ela sorriu. — Quando você foi pegar o diploma saiu desfilando como se fosse uma passarela.
— Tinha um tapete vermelho na minha frente, eu não iria deixar passar essa oportunidade. — nós rimos. — Ainda mais que aquele vestido é lindo, eu tenho ele guardado até hoje.
— Não brinca. — ela me olhou admirada.
— Sério, eu ainda tenho ele. — sorri de leve. — É uma das formas de me lembrar porque me tornei uma modelo.
— Sinto falta daquela época, tínhamos a mamãe e o papai.
— Ainda temos, dentro da gente. — eu deitei minha cabeça no colo dela. — Desculpa por eu não ter ficado em casa te ajudando.
— Não diga isso, enquanto eu estava em casa, você estava trabalhando. — ela começou a acariciar meus cabelos. — Eu que era orgulhosa demais para admitir, mas todos os desfiles que você participou naquela época, foi o que pagou a conta do hospital.
— Eu queria ter passado mais tempo com eles. — segurei um pouco as lágrimas que se formavam no canto dos olhos. — Tenho poucas lembranças.
— Eles estariam orgulhosos de você se estivessem aqui, assim como eu estou.
— Que linda. — eu ergui meu corpo e a abracei. — Estou feliz que esteja aqui.
— Ah, tive uma ideia. — disse me afastando um pouco dela. — Algo que acho que vai gostar.
— O quê?
— Como eu disse antes, seus vestidos me inspiraram, estava pensando em criar uma marca de roupas, quer ser minha estilista?
— O quê? — sua face estava estática. — Como assim?
— Uma marca exclusiva só para vestidos. — eu sorri. — Você sempre desenhou tão bem.
— Mas, eu…
— Nada de dizer que não tem experiência e que tem a Nalla, nada que prática e uma escola não resolva.
— , não é tão fácil assim.
— Claro que é, o principal você já tem.
— Eu, a melhor modelo do país, além de ser o rosto da marca serei a investidora também.
— E você tem dinheiro para isso?
— Vou ignorar essa sua pergunta, isso é me ofende. — cruzei os braços a olhando séria. — Vai aceitar minha proposta?
— Não tenho mais nada para fazer mesmo.
— Vou considerar sua resposta como um sim.
Nós rimos um pouco, até que ela me perguntou se eu iria realmente me casar com , enrolei um pouquinho para responder, porém disse a verdade. Mas pedi que mantivesse sigilo, até mesmo para , não deveria me preocupar com o que ele pensava de mim, mas não conseguia deixar de pensar nisso.
e eu passamos uma boa parte da noite conversando sobre minha ideia, o que me fez ligar para Charlie e o acordar do seu sono de beleza. Ele ficou um pouco animado com a ideia também, tanto que começou a dar alguns palpites pelo telefone, tínhamos muita coisa para acertar e definir, mas o principal já estava encaixado, minha irmã voltaria para seu projeto inicial de vida e realizaria seu sonho de ser estilista.
“Eu não gosto do amor calculado como o dos adultos,
Eu só estou cansada, mas eu estou bem.
Não, pra ser sincera eu,
Eu ainda odeio o cara que me deixou,
Meu coração ainda treme tão friamente e eu,
Sinto sua falta.”
– Missing You / 2NE1
4. Gotta Be You
“Me prenda de novo na prisão que você é,
A realidade sem você é tão cruel,
Embora isso me mate, eu não ligo.”
– Gotta Be You / 2NE1
Os dias se passaram e eu estava na sessão de fotos ao pôr-do-sol a campanha da Dior, as fotos seria em uma praia da ilha de Jeju, foi uma boa oportunidade para eu tirar de casa e levar ela e minha sobrinha para um passeio. Demorou um pouco para finalizar a sessão, tanto o fotógrafo como eu estávamos muito exigente quanto aos ângulos das fotos.
— Tenho que te parabenizar, não sei se eu aguentaria passar por isso. — disse assim que me aproximei dela.
— Esse tipo de trabalho exige a paciência que poucos tem. — expliquei rindo. — Onde está Nalla?
— Bem, acabei encontrando uma pessoa aqui. — ela apontou.
— ? — estava espantada ao vê-lo ali. — O que ele faz aqui?
— Segundo ele está a trabalho. — respondeu ela.
— Chegamos. — disse ele ao se aproximar com Nalla no colo. — Estou te devolvendo inteira.
— Que bom, mas está toda suja. — a pegou no colo. — Vamos lavar pelo menos essas mãos. — ela riu se afastando de nós.
— Já terminou seu trabalho? — perguntou ele.
— Já. — desviei meu olhar para o mar. — Alguém tem que trabalhar.
— Acha que eu não tenho um trabalho? — ele me olhou.
— Não coloque palavras na minha boca. — eu o olhei.
— É o que está no seu pensamento. — disse como se ainda me conhecesse. — Eu estava passando aqui perto e me lembrei que estavam aqui.
— Quem te disse que estávamos aqui?
— Charlie. — ele suspirou. — Liguei para sua casa ontem e ele me disse que estavam em Jeju.
— Hum.
— Não estou te seguindo, se é o que está pensando.
— Não estou pensando nada. — cruzei os braços. — Mas é muito estranho, em pouco tempo que nos encontramos de novo, estou te vendo quase todos os dias.
— Aish, só porque é a melhor modelo do país está se achando o centro das atenções, você não era assim, egocêntrica.
— Eu não sou assim. — eu sorri de canto. — Então, me acha mesmo a melhor modelo do país.
— Yah. — ele alterou a voz um pouco. — Pare de colocar palavras na minha boca.
— Foi você quem disse primeiro. — dei de ombros. — O que está fazendo em Jeju então?
— Herdei a cafeteria do meu pai, estou expandindo os negócios, abri uma filial aqui em Jeju no mês passado. — ele desviou o olhar para o mar. — Não é só as celebridades que têm ambição.
— Ambição é uma palavra nova vindo de você, sempre desejou uma vida simples.
— Talvez eu tenha mudado de ideia, para conseguir algo que tanto quero.
— O que você tanto quer? — perguntei curiosa.
— Voltamos. — disse ao se aproximar. — Para onde vamos agora?
— Vamos comer. — respondeu . — Quero que experimentem a sobremesa especial, receita de família.
— Nossa, um convite. — segurei um pouco o ar de deboche. — Vai me custar algo esse convite?
— Não preciso da sua imagem para promover minha cafeteria, algumas pessoas possuem orgulho próprio. — respondeu ele.
— Agora mesmo que faço questão de postar uma foto na sua cafeteria. — desta vez, fiz ele respirar fundo.
— Adoro essas trocas de carinho de vocês. — riu, colocando Nalla no chão.
Nós éramos realmente assim, desde criança sempre trocávamos faíscas quando não concordávamos com alguma coisa, algo que se intensificou após nosso término. A cafeteria até que era bonita, bem decorada e com várias fotos de clientes pelas paredes, fomos bem atendidas pela gerente, ficamos sentadas em uma mesa perto da vidraça, enquanto desapareceu pela porta da cozinha.
Uma das atendentes pediu para tirar nossa foto, não somente por eu ser uma celebridade, mas também porque era nossa primeira vez ali, então sempre tiravam fotos de clientes novos. Eu em minha dieta estava com as opções limitadas, mas Nalla se jogou no bolo de chocolate com morango, experimentou a tradicional receita da família, uma torta feita com nozes e rum.
Passamos alguns minutos esperando retornar, para meu desconforto percebi a presença de alguns paparazzi por perto, além de alguns clientes que tiravam fotos de mim de forma discreta. Ele nos levou para o hotel em que estávamos hospedadas, subiu primeiro, iria dar um bom banho em Nalla, enquanto isso eu e caminhamos até o jardim lateral.
— Você tem dado um grande suporte para . — comentei.
— Nunca deixamos de ser amigos. — disse ele como uma indireta.
— Hum. — desviei meu olhar para o espelho d’água. — Como está a ajumma?
— Está bem, morando em Daejon agora.
— Como sua mãe resolveu trocar a rotina da capital por outra cidade?
— Meu pai foi um dos motivos. — ele sorriu de canto. — Desacelerar o ritmo seria importante após o susto que levamos.
— Hum, comentou sobre o infarto que ele teve, que bom que está melhor.
— Sim. — ele respirou fundo. — Estou curioso sobre algo.
— Seu casamento. — respondeu ele. — Eu sem querer ouvi sobre o pedido do seu namorado, mas o que vejo nas notícias é que estão separados.
— Não imaginava que alguém como você acompanhasse a vida de celebridades.
— Foi uma curiosidade momentânea.
— Curiosidade momentânea. — eu ri baixo, pensando se contaria ou não a verdade. — Digamos que este assunto ainda esteja indefinido para mim, apesar dos comentários externos.
— Então vai mesmo se casar com ele? — sua face parecia bem mais interessada que o normal de alguém com curiosidade momentânea.
— Não. — eu não sabia mentir para ele. — Não tenho olhos para casamento agora.
— Então é verdade que estão separados?
— Uah, diz isso com tanta naturalidade, que pessoa fria.
— Falou a pessoa que terminou comigo. — eu ri ironicamente.
— Yah, isso me abalou agora. — num tom sarcástico. — Será que fiz o certo?
— Pergunte a si mesmo. — nós rimos. — E você?
— Como está sua vida, tem namorada?
— Por que quer saber? — ele me olhou intrigado.
— Também tenho direito de ter curiosidade momentânea. — desviei meu olhar para o céu. — Afinal, você não uma celebridade, como vou saber sobre sua vida?
— Fala como se eu soubesse muito sobre você. — ele suspirou um pouco, percebi que ainda mantinha seu olhar me mim. — Meu coração já está reservado a uma pessoa, já tem muito tempo.
— Hum. — fiquei pensando por alguns instantes que poderia ser, será que ele tinha me esquecido tão rápido. — E eu conheço ela?
— Talvez. — ele riu. — Mas isso não faz parte da sua curiosidade momentânea.
— Yah, seu chato. — empurrei ele de leve. — É a ?
— Não, ela é só minha amiga, e já disse não faz parte da sua curiosidade.
— Só quero saber se ela é tão bonita quanto eu. — que desculpa esfarrapada.
— Ninguém consegue ser tão bonita quanto você. — ele parou por um momento ao perceber o que tinha dito, saiu de forma tão natural.
Eu sorri automaticamente, assim como eu, ele era um tanto resistente em me elogiar, principalmente quando envolvia minha beleza ou minha profissão. Conseguia perceber que assim como eu estava relutando eu voltar a sentir algo por ele, ele também estava relutando em voltar a sentir algo por mim. Mas isso não mudava nossos olhares de curiosidade, de descontentamento e até mesmo de ciúmes.
Eu me despedi dele e voltei para o quarto, quando cheguei se segurou um pouco para não comentar sobre minha demora, mas acabou me fazendo contar sobre a conversa com ela. Passado as horas, Charlie me ligou, ele estava um pouco preocupado com alguns comentários tendenciosos que estavam surgindo nos sites de fofoca.
— Calma Charlie, respira fundo e me explica direito. — disse pela terceira vez ao tentar entender o que ele dizia.
— Desculpa, é que estou irritado e nervosos com os comentários maldosos desses netizens.
— Diga o que aconteceu agora.
— Além de estarem falando que seu namoro com acabou, estão falando que foi por causa da Amber.
— O quê? — aquilo era surpreendente.
— Sim, eles foram flagrados ontem em um possível encontro secreto, estavam no estacionamento de um dos shoppings, estão dizendo que ele estava saindo com ela quando ainda estavam juntos.
— O que mais falta para esse povo inventar? — respirei fundo me sentando na cama. — Se uma coisa que eu posso garantir, o sempre foi uma pessoa leal, mesmo não sendo tão verdadeiro assim nosso relacionamento.
— Isso todos nós sabemos, mas temos que dizer algo sobre isso, principalmente porque algumas fotos suas com seu ex de infância estão circulando por aí.
— Eles não perdem nem um clique mesmo, isso me irrita.
— O que você quer que eu faça?
— Preciso resolver isso com o e colocar um ponto final em qualquer que seja a situação, então marque um jantar na minha casa com ele. — respondi sensatamente. — Tenho que descobrir se vou mesmo encerrar essa fase da minha vida ou não.
— Está pensando em reconsiderar e aceitar o pedido dele?
— Não, mas preciso resolver isso de forma mais madura e definitiva.
— Se é assim que você decidiu, assim farei.
Desliguei o celular e coloquei na mesa ao lado da cama, minha cabeça estava tão cheia de coisas que me sentia ainda mais esgotada por ter que dar atenção a fofocas sem propósitos. Mas precisava resolver tudo para não atrapalhar minha imagem profissional e ir tranquila para Manhattan.
Voltamos para Seoul dois dias depois, meu jantar com estava confirmado e tinha pedido a para ficar algumas horas fora de casa, assim teria privacidade. Charlie me ajudou a preparar o jantar, eu era realmente uma negação na cozinha, tomei um banho relaxante, coloquei um vestido rodado azul turquesa meio curto. Ele chegou pontualmente às sete horas.
— Boa noite. — disse ele ao entrar.
— Boa noite. — eu dei um sorriso natural.
— Fiquei surpreso com o convite.
— E eu estou surpresa por aceitar. — não consegui evitar de rir.
— Bem, acho que sei o motivo, existem comentários errados sobre nós.
— Não se preocupe, eu te conheço o suficiente para saber que esses comentários são maliciosos e no mínimo duvidosos, mas tinha que ser a Amber?
— Eu juro que não foi proposital. — ele riu. — Mas uma certa armação da parte dela, um pedido casual de carona. — explicou ele.
— Seguido de fotos tendenciosas de um suposto encontro. — eu ri. — Típico dela, sempre uma polêmica para se manter na mídia, poderia gastar esse tempo treinando para ser uma modelo melhor.
— Nem todas são como você. — um elogio sincero vindo dele, era tão comum isso.
— Agradeço a sinceridade, sou mesmo a melhor. — eu sorri com gentileza. — Mas precisamos colocar um ponto final nisso, temos uma imagem a zelar.
— Eu sei, bem. — ele respirou fundo. — Sua resposta vai permanecer a mesma?
— Pensei muito sobre isso. — sibilei um pouco, não queria magoar ele novamente, mas estava certa da minha decisão. — Você é uma boa pessoa, um bom amigo e sempre pude contar com sua companhia, mas…
— Mas casamento não é o que imagina para nós dois. — completou ele, como se conseguisse ler minha mente.
— Basicamente isso, acho que é preciso muito mais que amizade e lealdade para seguir esse caminho, e estes são os únicos sentimentos que temos.
— Talvez só da sua parte. — aquilo era uma declaração de verdade?
— Mas ainda podemos sair disso de forma positiva. — segurei de leve na mão dele. — Ainda posso ser o rosto da sua empresa, como uma amiga querida.
— Você sempre vê o lado positivos das coisas. — ele sorriu de canto.
Ele me puxou para mais perto e me abraçou, foi o abraço com mais sentimentos que tivemos depois de três anos de relacionamento, e neste momento o inesperado aconteceu. abriu a porta e entrou acompanhada de , eu e nos afastamos um pouco constrangidos pela presença repentina deles.
— Ai, me desculpa. — disse Nalla. — É que Nalla começou a passar mal e eu fiquei com medo de levar ela para outro lugar.
— Mas não deveria ter levado no médico? — perguntei meio sem reação.
— Levamos, ela já foi medicada. — respondeu evitando olhar para mim.
— Eu vou colocar ela na cama. — subiu as escadas com um pouco de dificuldade.
— Me desculpem por atrapalharmos. — disse ele sem jeito.
— Não atrapalharam. — desviou seu olhar para mim. — Ainda vamos jantar?
— Claro. — soltei um suspiro estranho. — Bem, não esperava por vocês, mas aceita nos acompanhar?
— Eu? — me olhou surpreso. — Não quero mesmo atrapalhar o que estavam fazendo.
— Hum. — tossiu um pouco.
— Não vai. — segui para a cozinha e coloquei a travessa na mesa.
Charlie tinha preparado salmon grelhado ao molho branco com cenouras cozidas, a cena foi estranha e ao mesmo tempo engraçada, eu, , e sentados à mesa jantando. Poderia até mesmo ser considerado um encontro duplo, se não fosse naquelas circunstâncias, mas até que me diverti um pouco observando as reações e os olhares de para mim. Era uma quase confissão da parte dele, de ainda gosto de você.
Os dias foram se passando, eu permaneci focada em iniciar o projeto da marca de vestidos, entre uma sessão de fotos e outra, Charlie me ajudava a ajustar e resolver todos os trâmites jurídicos para registrar a marca. Meu agente anjo da guarda também resolveu todos os falsos rumores envolvendo Amber, e eu, mantendo assim nossa imagem limpa com uma declaração oficial de rompimento e afirmação de uma amizade sólida após o fim do namoro.
Após tudo relacionado a minha vida particular ter sido resolvido, Charlie lançou outra nota oficial revelando sobre meus projetos para o futuro, com o lançamento da minha primeira marca de roupa
Deluxe Dress, focada em vestidos para mulheres de diversos gostos e estilos. É claro que a mídia ficou alvoroçada com essa novidade, principalmente as revistas; a pergunta principal era sobre quem iria desenhar os looks da marca, eu ou outra pessoa. E claro foi uma oportunidade de apresentar oficialmente minha querida irmã para o mundo da moda.
Entre preparativos para o desfile da Vogue Korea, reuniões sobre o lançamento da primeira coleção da
Deluxe Dress, ensaios fotográficos para algumas campanhas publicitárias internacionais e entrevistas com a imprensa sobre a linha linha de perfumes da Dior, estava eu cheia de pensamentos que me faziam desviar o foco do trabalho.
Esses pensamentos eram basicamente relacionados a , estava sendo mais que difícil não pensar nele, já que o via com muita frequência por frequentar muito minha casa, sempre esbarrava por acaso nele, quando ia para a cozinha do meu apartamento. Foi inusitado quando comentou propositalmente que ele tinha passado alguns meses atrás fora do país fazendo cursos na área da confeitaria, e estava se tornando um patissier muito elogiado no meio da gastronomia. Mais uma surpresa vindo de alguém como ele, um homem de pensamentos simples e sem ambição na vida, eu tinha razão, as pessoas mudavam mesmo com o tempo.
Mas seus olhares para mim continuavam os mesmo, esse era o ponto principal que me fazia desconcentrar no meu trabalho, acrescentando algumas indiretas de e Charlie que me fazia querer jogar eles da ponte. Faltava um dia para minha viagem a Manhattan, e inesperadamente me convidou para visitar a nova cafeteria que estavam abrindo no bairro de
Gangnam, achei estranho, pois o lugar ainda estava na fase de reformas, mas minha curiosidade foi um pouco maior.
— Olha, ele sabe ficar concentrado. — comentei assim que cheguei na porta que estava aberta por algum motivo.
— Sempre fui uma pessoa concentrada, ao contrário de algumas modelos por aí. — ele riu de canto.
— Desviei da indireta. — eu ri o fazendo rir comigo. — Me parece que a reforma está quase no fim aqui.
— Sim, pensei que demoraria muito, mas estamos quase inaugurando.
— Bem — cruzei os braços encostando de leve na parede o olhando —, não foi para falar sobre a reforma que me chamou aqui.
— Não. — ele deu alguns passos até mim parando em minha frente. — As palavras parecem ser tão complicadas quando precisamos delas.
— Perdeu o jeito? — eu sorri de leve. — Você nunca foi tímido perto de uma mulher bonita.
— Você não é qualquer mulher. — ele estava com o mesmo olhar de anos atrás, o olhar que me fazia ficar ainda mais apaixonada por ele.
— Hum. — meu coração acelerou um pouco. — Tem razão, não sou qualquer mulher.
— Olhando para você agora, parece que o tempo não passou. — disse ele mantendo seu olhar em mim. — Parece que foi ontem que terminamos.
— Que você terminou comigo. — o corrigi, parecia até uma forma de cutucar a ferida na sua consciência, era óbvio que ele já tinha se arrependido disso.
— Sim, eu fui um idiota. — ele respirou fundo. — Mas nunca deixei de pensar em você, pensei que conseguiria, mas esquecer você é impossível.
— Só percebeu isso agora?
— Não exatamente. — ele deu mais um passo para perto de mim. — Mas, eu não iria atrapalhar sua vida, já que tinha saído dela por minha própria vontade.
— E o que pretende fazer agora?
— Deixar meu coração nas suas mãos. — ele foi direto e preciso. — Você me fez algumas perguntas sobre mim, a resposta é você.
— O quê? — eu estava paralisada com suas palavras.
— É você a pessoa que sempre esteve no meu coração, meu motivo por ser ambicioso. — ele se aproximou ainda mais de mim. — Estou mudando minha vida, porque quero ser um homem digno de ter você.
Sem que eu pudesse ter qualquer reação ele me beijou, de forma tão intensa e doce, eu me lembrava muito bem daquele beijo, uma das poucas lembranças que eu insistia em guardar dele. Meu coração estava acelerado, e minha cabeça um branco enorme, não conseguia pensar em nada, somente naquele beijo repentino e naquela declaração louca. Era surpreendente saber que ele não tinha me esquecido e ainda me amava, mais louco era ele assumir isso antes de mim, já que ele sempre foi o orgulhoso da relação.
— . — eu sussurrei afastando ele um pouco de mim. — Eu não esperava por isso.
— Me desculpe, eu te assustei.
— Não, eu só estou surpresa. — respirei fundo tentando encaixar as ideias no lugar. — Você sempre se mostrou estável, como se tivesse superado isso muito bem.
— Sou bom em reprimir meus sentimentos. — ele desviou seu olhar para o lado, sua face estava um pouco triste. — Preciso só de uma resposta.
— Posso ter esperanças? — ele me olhou sério, mas com a face suave. — Ou devo desistir?
Eu literalmente não sabia o que responder, não estava preparada para isso, porém por mais racional que o ser humano possa ser, nós sempre somos surpreendidos por nosso lado emocional. No impulso sem saber como reagir, senti meu corpo se jogar pra cima do dele de forma involuntária, o beijei, seria essa minha resposta?
“Mesmo que seu amor me destrua e me machuque,
Para mim você é o único,
Meu amor começa e acaba com você,
Estou aqui esperando por você.”
– Gotta Be You / 2NE1
5. I Am The Best
“Quem me olha pode ver que eu sou de matar,
Certo,
Eu nunca fico em segundo lugar,
Certo.”
– I Am The Best / 2NE1
Eu já estava em Manhattan, tinha acabado de sair de uma reunião com um representante da
Victoria’s Secret, meu desfile de estreia representando a marca seria daqui dois meses no
Victoria’s Secret Fashion Show, porém, eu estava ali para uma sessão de fotos oficiais que seriam postadas no site da marca, como a nova angel, era necessário ter fotos minha usado as lingeries deles.
Eu me concentrei o quanto pude para aquelas fotos, sempre mostrando certo profissionalismo pois a própria
Jester Turney, presidente da empresa, fez questão de acompanhar a sessão, apesar de eu estava tranquila e serena como sempre, a presença dela fez com que Charlie ficasse um pouco nervoso. Ele se preocupava tanto quanto eu quando o assunto era minha postura e comportamento enquanto trabalhava, o que explicava o quanto ele se empenhava em não deixar que os problemas chegassem até mim, ele sempre resolvia tudo.
— E finalizamos. — disse o fotógrafo. — Ah, é maravilhoso fotografar você, sua naturalidade é tão atraente.
— Obrigada. — eu me curvei de leve em agradecimento, sorrindo um pouco.
— Esse talento vem do berço. — Charlie me olhou com brilho nos olhos.
— Foi realmente uma das mais interessantes sessões de foto de acompanhei. — disse Jester me olhando com suavidade. — Você é uma profissional incomum, ou, como muito dizem, é única.
— Agradeço, senhora Turney, vindo de alguém como você, sei que é verdadeiro. — sorri de leve para ele.
— E como é verdadeiro. — concordou Charlie com ela se afastando de nós e indo conversar com o diretor criativo da marca. — Você estava maravilhosa.
— Eu sei, sou a melhor. — sorri.
— Adoro quando está assim, confiante. — ele me entregou minha roupa que estava em sua mão.
— Confiança é tudo nessa profissão. — peguei a roupa. — Vou me trocar, sei que ainda temos um evento antes de voltar para Seoul.
Após me trocar, voltei para o estúdio, Charlie já estava com tudo pronto para nossa partida, eu teria uma entrevista com uma revista, seria a capa da
Rolling Stones do próximo mês. Uma cortesia por me tornar a nova angel da Victoria, afinal eu estava atraindo muita atenção da mídia norte americana para mim, e com aquele jeitinho do meu agente, conseguimos encaixar mais essa entrevista no meu cronograma em Manhattan.
Mesmo sendo outono, escolhemos um lugar ao ar livre, assim minha beleza seria fotografada em meio ao contraste da cidade com a natureza, e o Central Park iria nos fornecer todo esse efeito. Demorou algumas horas por causa das várias fotos que tiramos em alguns pontos estratégicos do lugar, além da entrevista ter sido extremamente confortável e divertida, a jornalista era muito engraçada e educada.
Até aquele momento eu ainda estava concentrada no meu lado profissional, porém assim que ela fez uma pergunta indiscreta sobre minha vida amorosa, meus pensamentos logo se voltaram para . Olhei para Charlie e ele parecia preocupado com minha possível resposta, mas eu resolvi não responder sobre essa parte, como sempre fazia.
— Meu corpo congelou quando ela te fez aquela pergunta indelicada. — disse Charlie assim que entramos no táxi vip.
— Estava com medo que eu dissesse algo comprometedor? — eu ri.
— Um pouco, já saíram algumas fotos suas naquela cafeteria em reformas, você sabe que não é fácil controlar algo depois que cai na internet.
— Eu sei, mas está tudo sob controle.
— Até mesmo o beijo que conseguiram flagrar? — ele me olhou, senti que o motorista estava segurando o riso.
— Digamos que foi um descuido momentâneo, a porta estava aberta e deu para verem.
— Sei. — sua cara era de quem não acreditava. — E você já se resolveu quanto a isso?
— Não sei, depois que o beijei, saí sem dizer mais nada. — suspirei fraco. — Será que ele entendeu como uma resposta positiva?
— Ha… ha… ha…. — ele riu com deboche. — Ele te pergunta se pode ter esperança e você o beija, o que acha que ele vai pensar?
— Seria infantil demais querer que ele sofra só um pouquinho, por ter terminado sem propósito e se arrependido, mas não ter voltado antes? — eu o olhei meio confusa.
— Todo mundo tem o direito de ser um pouco imaturo em alguns casos. — ele sorriu e encostou de leve sua mão na minha cabeça, me fazendo encostar em seu ombro. — Mas não o deixe esperando demais, se não pode ser pior.
— Vocês descobrirem que o sentimento que tinham ficou no passado. — ele suspirou um pouco. — Isso acontece em casos raros, quando se espera de mais.
— Foi o que aconteceu com você?
— Basicamente, falo por experiência própria.
Fiquei pensativa sobre isso, será que realmente o que eu sentia por e ele por mim era forte o suficiente para retomarmos algo do passado? Mais uma dúvida que se estabeleceria em minha mente para competir minha atenção com tudo que eu já tinha que pensar.
Assim que voltamos para Seoul, Charlie organizou uma coletiva de imprensa para o lançamento oficial da
Deluxe Dress, eu e minha irmã damos a entrevista respondendo algumas perguntas sobre a marca e anunciando que o desfile da primeira coleção seria realizado em três meses. estava mesmo muito empolgada com a marca, tanto que em minha ausência do país ela tinha desenhado todos os croquis para a coleção, o que me deixou ainda mais animada e feliz.
Minha vida profissional era sempre um sucesso e não tinha do que reclamar, eu tinha chegado ao topo da minha carreira como modelo e não sairia tão cedo dele. Mas tinha um outro lado da minha vida que estava um pouco indefinido, e eu deveria resolver. Assim que terminamos a coletiva e tiramos mais alguma fotos, peguei as chaves do carro de Charlie e segui em direção ao endereço do apartamento de .
Assim que entrei no carro peguei meu celular e comecei a ligar para ele, mas não me atendia, não sei porque mais aquilo me fez ficar um pouco ansiosa para falar com ele, dei a partida e acelerei. Estacionei em frente o endereço que tinha me dado, o prédio não era moderno nem novo, tinha alguns traços da arquitetura tradicional, desci do carro ligando para ele, mas só dava na caixa postal.
Era estranho pensar que eu não deveria estar ansiosa, eu só iria conversar com ele, mas meu corpo estava no automático, entrei no prédio correndo e fui até o elevador, que estava quebrado. Suspirei fraco ainda insistindo nas ligações e me voltei para a escada, subi correndo até o andar dele, parei por um momento no topo da escada olhando para o largo corredor. Será que eu estava no lugar certo?
— ? — disse uma voz atrás de mim.
— O quê? — eu me virei no susto para trás e o vi, porém pisando em falso me desequilibrei.
— Cuidado. — disse ele largando as sacolas em sua mão e me amparando.
— Ai. — disse sentindo uma pontada estranha no meu pé.
— O que foi? — perguntou ele preocupado.
— Meu pé, eu não sei. — fiquei um pouco ofegante controlando meu desespero de alguma coisa séria ter acontecido.
— Espera. — ele peguei no colo. — Vou te levar para dentro.
— ! — sussurrei sentindo o perfume dele de leve. — Eu acho que ainda posso andar.
— Não vamos arriscar. — disse ele seguindo pelo corredor comigo no colo.
— E suas compras?
— Depois eu pego. — respondeu ele parando na frente da porta. — Poderia pegar a chave no meu bolso?
— Ah?. — eu ri, estiquei o braço e peguei a chave, passei para outra mão e coloquei a chave na porta girando para abrir.
— Obrigado. — disse ele dando um sorriso de canto malicioso.
— Conheço esse sorriso. — disse segurando o riso.
— Eu sei. — ele me colocou no sofá com cuidado e voltou para pegar as sacola.
— Yah. — olhei para meu pé e meu tornozelo direito estava um pouco inchado. — O que aconteceu comigo?
— Você quer que eu te leve ao hospital? — perguntou ele entrando com as sacola.
— Não. — disse abrindo minha bolsa. — Não sabemos o que aconteceu, as pessoas vão me vez lá e ficarão preocupadas, será um grande alvoroço, e se não for algo grave?
— Sua imagem vem primeiro, como sempre. — mesmo com uma voz contrariada ele entendia meus motivos.
— Vou ligar para Charlie e pedir que mande um médico aqui. — expliquei para que não ficasse tão preocupado assim.
Após cinco minutos de histeria e preocupação de Charlie no telefone, ele se acalmou e disse que pediria à um médico amigo dele para ser discreto e ir até lá ver o estado do meu pé. Demorou um pouco para chegar, o Dr. Han levou um aparelho portátil de raio-x para ajudar no diagnóstico e após examinar constatou que eu tinha torcido o tornozelo direito, mas não era nada grave, como prescrição médica eu teria que evitar andar e fazer repouso além de colocar gelo com frequência para diminuir o inchaço.
— Tome alguns analgésicos para ajudar na dor, tenho certeza que logo aumentará. — disse o Dr. Han. — Tenho certeza que em algumas semanas você estará recuperada.
— Sim, obrigada. — disse dando um sorriso de meio alívio. — E agradeço a discrição também.
— Não se preocupe, Charlie é meu amigo de muito tempo, ele já me explicou a situação.
acompanhou ele até a portaria do prédio, enquanto eu fiquei na sala pensando no que faria agora. Ninguém poderia saber da minha condição atual, poderia implicar no meu trabalho e ainda tinha outro problema, o desfile da Vogue Korea seria em menos de uma semana, como eu iria deixar de participar.
— . — disse Charlie entrando correndo.
— Ei, calma, eu estou viva, só impossibilitada. — olhei para meu pé enfaixado.
— Como aconteceu? — perguntou ele.
— Um descuido meu, pisei em falso e torci o tornozelo, nada demais.
— Nada de mais, você tem um desfile essa semana. — sua voz estava alterada mesmo ele tentando acalmar. — O que vamos fazer? Cancelar?
— Não. — disse num tom mais algo, respirei fundo. — Tenho certeza que eu vou melhorar antes disso, tenho certeza.
— Você e sua confiança, estou com meu coração na mão.
— Yah, pare de sofrer por antecipação, eu vou ficar bem. — garanti a ele sem ter certeza mesmo.
— Vai mesmo ficar bem? — perguntou aparecendo da porta.
— Vou. — afirmei com segurança. — Só não sei se poderei sair daqui agora, dois paparazzi me seguiram até aqui.
— O quê? — Charlie se sentou para não surtar ainda mais. — Que bom que meu amigo não veio de jaleco, imagina se descobrem.
— Isso se o dono da casa não se importar em ter uma hóspede.
— Não sei se a modelo está acostumada com ambientes simples. — disse ironicamente.
— Acho que posso abrir essa exceção! — sorri de leve.
— Não brinquem com coisa séria vocês dois, eu estou aqui apavorado com isso tudo.
— Charlie já disse para se acalmar, eu ficarei bem vai cuidar de mim.
— Eu vou? — me olhou segurando o riso.
— ! — Charlie o olhou sério.
— Desculpa, não consegui resistir. — ele riu indo em direção a cozinha. — Não vou deixar a modelo se esforçar.
— É, ele até me carregou no colo hoje. — eu ri o observando. — Só falta me ajudar a tomar banho.
— Essa ideia é boa. — ele se virou dando um sorriso de canto.
— Yah, vocês dois. — Charlie se levantou. — Volto amanhã para ver como está, tenho que resolver algumas coisas da marca.
— Ok, mantenha minha agenda com todos os compromissos, farei tudo normalmente.
— Não mesmo. — protestou ele me olhando sério e admirado. — Não vou deixar você chegar em lugar nenhum com o pé enfaixado, desista, vai ficar presa aqui até melhorar.
— Já disse que estou viva. — retruquei.
— Sua imagem saudável é mais valiosa no momento. — ele se dirigiu até a porta. — E nada de abusar, você ainda está de dieta.
— Nossa, só porque eu pensei em me jogar no pote de sorvete.
Charlie me lançou um olhar mortal, se despediu de e saiu fechando a porta, eu ri por um tempo disso tudo. Me ajeitei um pouco no sofá colocando uma almofada embaixo da perna e fiquei olhando para a direção da cozinha, dei alguns passos até a sala e encostou na parede me olhando.
— O quê? Vai me dar indicações também? — perguntei.
— Não, só estava aqui pensando em quando vamos tomar banho juntos. — ele riu.
— Yah, safado. — peguei a almofada e joguei nele.
— Foi você quem deu a ideia. — ele pegou a almofada rindo. — Me provoca e agora quer fugir?
— Aish, pare de pensar besteiras, olha o meu estado. — me fiz de vítima.
— Mas tem uma coisa me intrigando.
— O quê?
— Por que veio aqui? — ele manteve seu olhar em mim.
— Hum. — respirei fundo. — Boa pergunta.
— , deixe de enrolar, você sempre foi direta.
— Vim, porque precisava definir minha vida. — fui direta, mais ou menos direta.
— Interessante, defina o seu definir a vida. — ele riu dando alguns passos até o sofá.
— Até onde você chegaria para ficar comigo? — perguntei curiosa para saber se ele realmente queria ficar comigo.
— Até onde você quer que eu chegue para ficar com você? — a sinceridade exalava em seu olhar fixo em mim.
Às vezes ele sabia como me deixar sem palavras, se aquilo era uma declaração de amor eu tinha que responder à altura, eu peguei em sua mão e o puxei para cima de mim, assim que seu corpo veio ao meu encontro eu o beijei. A concentração no beijo era real e intensa, mas nossos corpos não cabiam junto no sofá, nos desequilibramos e caímos no chão, eu comecei a rir para espantar a dor que tinha voltado.
— Você está bem? — perguntou ele.
— Sim. — eu respirei fundo. — Só preciso do analgésico, a dor voltou.
— Claro. — se levantou e foi buscar um copo com água para mim.
Eu consegui voltar para o sofá sem muito esforço, peguei o potinho com o comprimido e abri, tomei dois para ver se resolvia, a dor estava ficando cada vez mais forte. Tirando o fato de não poder andar livremente, eu estava gostando a ideia de ficar ali na casa dele, uma coisa boa no meio de uma quase tragédia. Tenho que admitir que fiquei preocupada por poder ser uma coisa séria, mas tinha esperanças que meu tornozelo melhoraria antes mesmo do desfile da
Vogue Korea.
Três dias se passaram, aquele tempo me ajudou a me aproximar ainda mais de , tinha me esquecido do quanto aquele homem era organizado e pontual, me lembrada ou era o que me lembrava ele em alguns momentos? Resumindo: foram dois dias interessantes na minha vida, mas tinha chegado o dia do desfile e eu não estava 100% recuperada.
Eu ainda estava pensando no que iria fazer, Charlie já tinha informado de forma apressada que eu não poderia participar mais do desfile, o que fez surgir muitos comentários na mídia sobre eu estar grávida, doente ou coisas piores. Mas eu não iria deixar que isso me afetasse, estava quase me conformando em não desfilar naquele evento, até que descobri que Amber havia sido escolhida para desfilar com os meus looks especiais.
Se fosse outra modelo eu nem ligaria, mas ela desfilar no meu lugar como se fosse tão boa quanto eu, e depois ter o gosto de jogar isso na minha cara, eu não deixaria isso acontecer. Me levantei da cama de com cuidado, retirei a faixa do meu tornozelo passei uma base para disfarçar e me levantei pegando minha bolsa.
— Aonde pensa que vai? — perguntou da porta.
— Vou ao meu desfile. — respondi.
— Não, você não está recuperada totalmente.
— Não importa, eu vou e serei a melhor.
— Você não precisa fazer isso, todos já sabem que você é a melhor.
— Todos menos uma. — dei alguns passos até a porta. — Não me impeça.
— Eu sei que quando você quer algo, ninguém te para. — disse ele me pegando no colo novamente. — Mas já que vai, vou impedir que ande desnecessariamente.
— Eu já percebi que você está usando isso como pretexto para me carregar nos braços. — eu sorri de leve. — Está treinando para nossa lua de mel?
— Lua de mel? — ele me olhou. — Seria esse um pedido de casamento?
— Quem tem que fazer a pergunta é você, agora pare de me enrolar, tenho que chegar antes do desfile começar.
Ele riu assentindo, fomos no carro dele e no caminho liguei para Charlie avisando, ele já estava no local, de alguma forma me representaria. Sua cara ficou ainda mais em choque quando desci do carro no estacionamento e caminhei como se não tivesse machucada, como previsto me pegou no colo novamente. Charlie já tinha informado a Isy que eu estava lá, mas pediu que mantivesse sigilo, assim minha entrada na passarela seria uma grande surpresa para todos os convidados e jornalistas.
Nem mesmo as modelos saberiam da minha chegada, eu me arrumaria em outro lugar, todos os meus looks estavam lá, exceto um que já estava no corpo da Amber, mas eu deixaria este passar. Após a maquiagem e arrumar o cabelo, vesti a roupa com a ajuda de Isy, estava tudo pronto para minha entrada triunfal, tudo até mesmo aquela dor que não passava nem mesmo com o remédio.
— Tem certeza que quer fazer isso? — disse Charlie enquanto caminhávamos pelo corredor até o backstage.
— Sim. — o olhei. — Eu vou ficar bem, preciso fazer isso.
— Estamos com você. — reforçou ele com aquela cara de preocupação que não sabia esconder.
— Obrigada, Char, vai dar tudo certo.
Assim que chegamos, todas as modelos ficaram abismadas ao me verem ali, realmente ninguém esperava minha presença, meu olhar se direcionou em uma pessoa, Amber estava com a raiva estampada na cara, mas não podia fazer nada, eu era a modelo principal do evento estava ali para cumprir meu papel.
— Pensei que não viria. — disse ela assim que eu me aproximei da escada para entrar.
— Eu também, mas uma profissional jamais falha. — respondi com a face erguida. — Te aconselho a tirar minha roupa.
— É, me parece que voltaremos a escala normal. — ela engoliu seco. — Boa sorte na passarela.
— Agradeço, mas não preciso. — eu sorri com superioridade. — Os melhores não precisam de sorte, eles já nascem com talento, observe a aprenda.
Virei minha face para frente e respirei fundo fechando os olhos, assim que os abri estava com minha concentração ao nível mais elevado que de costume, era tão grande que nem dor eu conseguia sentir mais. Meu foco agora era aqueles poucos e valiosos passos que daria em um curto espaço de tempo, assim que entrei na passarela toda lembrança do impacto que meus pés tinha no ensaio voltou a minha memória, imediatamente condicionei meu modo de andar de forma que meus passos sairiam precisos, firmes e suaves.
Por um breve momento, consegui ver a expressão de surpresa na face de mais algumas pessoas, já que até nota oficial tinha saído avisando que eu não participaria do desfile. Naquele momento Charlie teria que ser mais profissional ainda que eu, ele sabia que uma vez que eu me concentrava totalmente nada poderia me tirar do foco, então todos os looks já estavam preparados para que eu pudesse me trocar da forma mais rápida e precisa.
Assim que a última caminhada foi concluída, todas as modelos entraram acompanhadas com os estilistas das marcas que representavam, era o encerramento do desfile. Quando voltei ao backstage e me sentei na cadeira, foi que me dei conta do que tinha feito, havia voltado ao normal com isso aquela dor havia retornado ainda mais forte. Tentei me segurar, mas uma lágrima de dor escorreu no canto do olho, que tinha se acomodado no canto do meu camarim improvisado, percebeu.
— Você não está bem. — disse ele se aproximando de mim.
— Estou sim, só preciso do remédio, mas não posso tomar aqui. —
— , acho que deveria ir agora. — disse Isy, a essa altura ela já sabia da minha condição. — Você já realizou o impossível hoje.
— Tem a coletiva de imprensa, não posso deixar de comparecer.
— Não pode, mas vai. — me pegou no colo. — Não vou deixar que sinta dor por sua teimosia.
— Yah, me largue. — eu me debati um pouco sem sucesso.
— Vou levá-la para minha casa, e de lá ela só sai quando estiver realmente melhor.
— O quê? — eu o olhei surpresa.
— Pela primeira vez estou concordando com a ideia, deixe a coletiva de imprensa comigo. — assentiu Charlie.
Mesmo contrariada não tinha ninguém ao meu lado, me levou de volta para sua casa, eu não podia perder a oportunidade de brincar com a situação.
— Então quer dizer que o confeiteiro resolveu me sequestrar. — fiquei parada no meio da sala, segurando o riso enquanto ele fechava a porta.
— Confeiteiro, olha lá como fala, sou bem mais que isso. — ele me olhou. — Não se esqueça que sou um homem de ambições agora.
— Nossa, que perigo. — eu ri de leve. — E qual é sua próxima ambição?
— Bem, eu iria fazer isso mais cedo, porém tivemos um contratempo em forma de desfile. — ele se ajoelhou na minha frente e retirou uma caixinha do bolso. — Quer ser a esposa de um confeiteiro?
— Não foi você que disse que era bem mais que um confeiteiro? — perguntei deixando um sorriso escapar.
— Foi você que começou. — ele me olhou sério. — Sim ou não?
Segurei o riso e peguei a caixinha, quando abri vi o anel que ele tinha me dado quando éramos jovens, e eu devolvi quando terminamos, segurei as lágrimas retirando o anel da caixa e olhando.
— Ele nunca deveria ter saído do seu dedo. — disse ele se levantando.
— Por que se levantou? Eu não respondi. — o olhei.
— Ah?
— Brincadeira, mas concordo. — sorri de leve.
— Sim, ele nunca deveria ter saído do meu dedo. — coloquei o anel no dedo e o olhei. — Você está mesmo decidido a se casar com a melhor modelo do país?
— Não. — ele segurou em minha cintura aproximando nossos corpos. — Eu estou pronto para me casar com a melhor modelo do mundo.
E mais uma vez silenciada por ele, que foi se aproximando aos poucos mais e mais até que finalizou com um beijo, beijo esse que tinha missão de parar meu coração, me tirar o fôlego e me fazer esquecer tudo que existia fora daquele apartamento.
“Naega Jeil Jal Naga!
Eu sou a melhor!”
– I Am The Best / 2NE1
Fim