Hotel Ceiling
Mau dia
Eu bem que poderia considerar aquele dia uma perfeita sexta-feira 13 regada a má sorte e desastre, entretanto, era o segundo dia do ano numa segunda-feira chuvosa. O que se considera um tempo de festa e descanso para alguns, para mim era o pior início de ano que poderia imaginar. Parado em frente à casa da mulher que tanto amei, com as gotas da chuva disfarçando minhas lágrimas e um gosto amargo na boca.
Mesmo a alguns metros de distância conseguia ver o que acontecia do lado de dentro da casa pela janela da sala. estava tão bonita com aquele vestido azul marinho, realçava suas curvas e combinava com seu novo corte de cabelo. O sorriso em sua face era tão angelical e espontâneo, nem parecia a mulher que passava dias chorando por alguém que não a merecia. Logo um homem se aproximou dela e a abraçou por trás beijando-lhe o pescoço, então era ele, a pessoa que fazia seu coração acelerar agora.
Por um breve momento, o olhar dela voltou para a janela, fixando em mim. Daria qualquer coisa para entrar em sua mente e saber seus pensamentos, saber o que ela sentia ao me ver neste estado. Seu olhar não era de satisfação, menos ainda de compaixão, estava estático e inexpressivo. Meu coração se cortou naquele momento.
— Tudo o que eu tinha, era você, e bastou um dia para te perder. — sussurrei ao me virar de costas para me afastar.
Caminhei a passos lentos pela rua até chegar no primeiro hotel barato que encontrei. Só tinha a roupa do corpo, nada mais me restou, nem mesmo a vontade de continuar. Adentrei no prédio e observei rapidamente o desgastado papel de paredes de arabescos na parede principal, próximo às escadas. Logo avistei a atendente atrás de um balcão improvisado, cabelos soltos e emaranhados, mexendo no celular com os olhos concentrados na tela. Parecia um robô com os dedos frenéticos.
— Com licença? — disse, num tom baixo.
Esperei algum tempo, vendo que ela não tinha me escutado.
— Com licença?! — disse novamente, levantando minha voz.
— Ah, ela não vai te ouvir. — disse uma voz feminina vinda do outro canto do hall de entrada.
— Hum?! — me virei e vi uma mulher sentada numa poltrona velha e do que parecia um couro preto surrado, tinha um livro nas mãos e uma caneca depositada no chão ao lado dos seus pés.
Ela observou o meu olhar e logo pegou a caneca, tomando um gole do que estava dentro. Achei estranho. Não me contive em me lembrar de e de como era obsessiva com limpeza e organização. Certamente eu sentiria falta disso.
— Eu disse que ela não vai te ouvir. — repetiu a mulher — Mas se está procurando quartos, preencha a ficha aí do lado e pegue uma das chaves penduradas, significa que o quarto está vazio.
— Obrigado. — assenti com a cabeça e voltei meu olhar para os papéis em cima do balcão.
Havia mesmo fichas de cadastros. Peguei uma caneta com cuidado para não esbarrar na moça do celular e preenchi a ficha, peguei uma das chaves sem me importar com o número do quarto e segui para a escada. Imprevisível é a vida, que o número fatídico número que eu peguei era o 13, definitivamente aquele ano seria o pior da minha vida.
Ao entrar no quarto, não me importei com a roupa ensopada de água, não me importei se ficaria resfriado, apenas joguei meu corpo na cama e fiquei encarando o teto do quarto. Minha realidade a partir daquele momento seria essa, viver sabendo que perdi tudo o que mais amava na minha vida, tudo porque fui ganancioso demais.
Como é o sentimento de me deixar deste jeito
Quando tudo o que você tem se perde em um dia.
– Hotel Ceiling / Rixton
“Vida: Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.” – Pâms
Meu Deeeus, como assim? Preciso saber o que houve com esse casal!!! Lindamente triste, mas tô aqui roendo os dedos na curiosidade. rs