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Ray Dias
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Quiz #009
// O Tema
Qual o pet ideal para o seu personagem?
// O Resultado
Cavalo


Capa por Lara Kim

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Sem curiosidades para essa história no momento!

Horses

Capítulo 01

  Desde criança sempre foi apaixonada por cavalos e montaria, e a mulher tinha total consciência de que esta era uma paixão e também um privilégio. Filha de pai e mãe militares, nasceu em um lar pouco modesto, embora nada luxuoso, apenas pertencente a uma classe que permitia facilmente que a garota transitasse entre country clubs, bailes e eventos sociais e claro… Fosse uma praticante do hipismo. Com seus 27 anos de idade, já havia ganho 15 competições do esporte e era considerada uma jockey talentosa e promissora. E também nesta idade, algo que mudaria sua trajetória aconteceu.
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Competição no Jockey Club Brasileiro, Gávea, Rio de Janeiro.

  A pista do Jockey Club Brasileiro localizado na Gávea, estava como sempre impecável desde 1932. A família Coutinho, herdeira e responsável pela manutenção do turfe não apenas no Rio de Janeiro como no Brasil, tinha o JC como um patrimônio inestimável. Ali, a elite carioca e brasileira se reunia desde a década de 30, e , apesar de pertencer ao que eles chamariam de “elite emergente”, já competia naquela pista há cinco anos. Estava familiarizada com o local, inclusive com o calor que era comum.
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  Era favorita para ganhar mais uma vez, e não precisava preocupar-se com nada. Exceto, com Crystal, sua égua que apresentava-se inquieta desde a chegada ao Jockey.
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  — O que há com ela, Fabrício? — A jockey perguntou ao veterinário.
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  — É aquela osteocondrite dissecante do jarrete¹, ao que tudo indica é congênita, já que a Crystal sempre apresenta este quadro, mesmo sem executar tantos esforços. Mas precisamos levá-la para alguns exames.
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  — De novo, Fabrício? E a fisioterapia dela? E o tratamento que a Isabelly tem feito com ela em todos estes anos?
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  — É eu sei… Me preocupa se a condição progrediu e se chegou, precisaremos de cirurgia. Há quanto tempo Crystal não apresenta efusão articular²?
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   pensou um pouco, mordendo os lábios e contando nos dedos.
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  — Quatro meses! Desde a minha última competição.
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  — Isso não é legal, … — O veterinário confessou — Talvez seja melhor ao final dessa competição encaminhar a Crystal para o consultório e… Aposentá-la.
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  — O quê? — se desesperou — Aposentar ela? Fabrício eu não estou pronta para isso!
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  “Atenção a todos jockeys, encaminhem-se com seus equinos imediatamente aos seus paddocks³ e preparem-se para o início da competição!”
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  ¹Osteocondrite dissecante do jarrete: Jarrete é a articulação traseira da perna de um cavalo, e a osteocondrite dissecante é uma doença que afeta a cartilagem das articulações do animal. No jarrete, essa condição pode ser genética, por excesso ou falta de exercícios, e também, muito comum em animais confinados que não se movimentam muito. Quando ocorre, a osteocondrite pode desenvolver líquido na cartilagem e/ou deformações ósseas como calos ou curvilhão.
  ²Efusão articular: presença de líquido na articulação gerando um inchaço.
  ³Paddock: No Jockey Club Brasileiro, o paddock é uma área reservada para os cavalos e seus respectivos jockeys se prepararem para a corrida. É um espaço onde os cavalos são avaliados e inspecionados antes da corrida, e os jockeys recebem as últimas instruções dos treinadores.

  O alto-falante do JC ecoou a mensagem e sentiu-se pressionada e preocupada.
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  — E agora Fabrício!? Eu não vou poder competir, é isso?
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  — Acalme-se ! — O veterinário pediu — Vai passar seu estresse para a Crystal desse jeito! Olha, eu vou ministrar uma injeção anti inflamatória nela e vocês se preparam, de qualquer modo vamos monitorar o desempenho dela. Mas , lembre-se que eu não vou ser negligente com a saúde da Crystal, se eu mandar parar, então você tem que parar, ok?
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  — Claro, Fabrício! Claro!
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   e Crystal foram então, ao início de sua competição. não competiria apenas no individual como na categoria de equipes.
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  Na disputa por equipes, os conjuntos são compostos por quatro atletas, e as piores notas da equipe são descartadas no decorrer da competição, a fim de que estabeleça-se uma média. Já na disputa individual vinte atletas são classificados para as duas rodadas finais competindo entre si, e vence aquele que obtiver o menor número de erros em suas execuções. No hipismo, as modalidades são “Salto”, “Adestramento” e “Concurso Completo de Equitação” (CCE). era especialista no Salto e no CCE. E dentro da categoria de equipe, ela já havia competido CCE.
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  No “Concurso Completo de Equitação”, uma combinação entre as provas de saltos e adestramento, e ainda cross-country, as provas são realizadas em uma pista de 20 por 60 metros, com solo de areia, e os atletas devem realizar movimentações de manobras obrigatórias, previstas e pré-determinadas pelo programa de provas. havia competido com Crystal no cross-country pela categoria de equipes, há três dias. Aliás, essa poderia ser uma prova extenuante para os cavalos a depender de suas condições, e que poderia supor a piora no quadro muscular da Crystal. Para o cross-country, o jockey deveria passar por obstáculos naturais como tanques, troncos de árvores, cercas, subidas e descidas em uma prova de corrida que tinha duração de três dias em um percurso já determinado. Cada dia de cross-country realizado era considerado uma etapa do CCE, portanto, estava agora competindo na etapa de saltos e adestramento por equipes.
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  — ! — Marion, sua colega de equipe, chamou-a do paddock ao lado. — Está tudo bem com a Crystal? O Eli me disse que você achou-a estranha.
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  — Sim Marion, não se preocupe. — foi objetiva na resposta.
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   não gostava de demonstrar quando sua égua estava mal nas competições. Na verdade, nem a si mesma. Marion não insistiu e foi ela quem saiu primeiro para a primeira exibição de adestramento. Em seguida, Eli, o colega atleta delas, Ruan, e por seguinte, .
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  Quando entrou na pista de exibição dos animais, acompanhada da sua excelentíssima e vigorosa Crystal, todo o público presente aplaudiu e os locutores da competição em tom de voz calmo, reverenciavam-nas em elogios. No hipismo, a plateia e todo o ambiente deve ser mantido em certo barulho controlável, mais próximo ao silêncio para assim manterem os animais calmos. A jockey realizou os primeiros movimentos de adestramento da égua, que apesar da aparente mudança de humor que sua tutora reconheceria à distância, participou de uma excelente exibição. Crystal saiu da pista novamente sob elogios dos comentaristas, mas mantinha-se preocupada, principalmente pelo relinchar irritado que sua égua lançou ao retornar ao paddock.
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  — Eu sei que você está cansada e com dor, minha amiga. Mas vamos aguentar só mais este dia, sim? Prometo que depois de hoje, você poderá descansar… — falava baixinho com o animal, acariciando a cara de Crystal e sentindo as lágrimas escorrerem de seus olhos. Ela não estava mesmo pronta para aposentar sua companheira.
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  — E então , como ela respondeu? — Fabrício surgiu ao lado das atletas, acarinhando a equina com cuidado.
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  — Está estressada, é notório. Mas vou tentar a prova de saltos com ela.
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  — , talvez você devesse não competir no individual. Será desgastante para a Crystal.
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  — Sabe me dizer se dentre os cavalos do jockey, Pimpão está disponível?
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  Pimpão era um cavalo do Jockey Club, cujo qual as aulas de equitação e montaria eram realizadas com ele. Era um dos muitos animais do clube e velho conhecido de , já que foi nele que ela treinou no início de suas competições. O temperamento do cavalo era dócil e alegre, o que originava seu nome.
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  — Atualmente ele só é utilizado para a equoterapia, . Impossível o jockey liberá-lo para você, ainda mais que… Pimpão já está velho.
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  — Mas ele era o melhor cavalo! — reclamou e não insistiu, compreendendo bem a situação.
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  — Eu posso tentar achar outro substituto para você…
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  — Faça isso, por favor, Fabrício. Não acho que será preciso… Sei que minha velha amiga vai aguentar mais essa última competição comigo, não é Crystal? — disse suplicante para sua equina que soltou um bufo relincho e abaixou a cabeça diante da tutora. — Mas vê? Ela está cansada, então seria bom ter um plano B.
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  — Poupá-la é o mais certo mesmo , não se sinta frustrada com isso.
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  Os dois assentiram, e então abraçou a cabeça de sua égua enquanto aguardavam a prova de saltos. Depois que Ruan saiu da sua prova de saltos com nenhum tipo de problemas, — aliás, a equipe de estava indo muito bem — ela já estava pronta e montada em Crystal. Entraram na pista de novo, as duas majestosas e todos estavam ansiosos por aquele momento. e Crystal eram imbatíveis nos saltos! Era dentre todas as modalidades, a favorita também de quem as assistia.
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  Crystal obedeceu ao comando inicial de sua jockey, iniciando o trote até a primeira estação da prova, e abaixou-se à altura da égua falando com ela, enquanto preparavam-se para saltar o primeiro obstáculo:
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  — Você consegue Crystal! Vamos fazer como sempre e nos divertir, ok?
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  Crystal saltou sem nenhum problema ao tanque, o primeiro obstáculo. Continuou o seu trote rumo à segunda estação da prova.
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  — Muito bem, minha amiga! Muito bem! — incentivou e ergueu seu tronco, em sua pose elegante e esportiva.
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  Crystal saltou o segundo obstáculo também sem interferências, depois o terceiro, e na quarta estação era onde as coisas começavam a complicar. A distância entre os obstáculos ficam menores e os saltos maiores, exigindo que os atletas (tanto jockey quanto animal) se esforçassem mais em velocidade e precisão. começou a sentir que Crystal estava nervosa, a partir da quinta estação de prova, e ainda faltavam três obstáculos. Na sétima estação foi onde tudo aconteceu. A cerca de 1,50 metros que para a potência muscular da égua era quase nada, naquela manhã, parecia um paredão. Crystal não suportou o salto, sentindo na fase de impulsão uma dor aguda na patela da perna traseira esquerda, e seu salto foi comprometido. A égua tropeçou na segunda barra de madeira do obstáculo, levando não só parte do obstáculo ao chão, como também caindo relinchando em agonia. , quando via que na queda sua égua poderia cair sobre si, lançou-se para fora do animal rolando pela pista. Depois de ver Crystal agonizante no chão, morrendo de dores, não demorou a se levantar e ir até a égua preocupada. Fabrício já corria para a pista junto à equipe de veterinários.
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  — Remoção de animal! — Ele gritou para a equipe de apoio enquanto entrava correndo.
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   viu os músculos embolados na perna traseira de sua amiga e começou a chorar preocupada, Crystal relinchava e batia a cara no chão, como se estivesse revirando-se em dor.
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  — Calma minha Crystal, nós vamos cuidar de você! Acabou, acabou! — dizia chorosa abraçada ao pescoço da égua e fazendo carinho em sua cara.
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  Os veterinários logo que chegaram viram o estrago e Fabrício suspirou. Eles removeram a égua da pista e levaram-na imediatamente ao centro de atendimento. os acompanhava desesperada, sem dar qualquer atenção maior aos jurados, restante de provas e/ou seus colegas de equipe.
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•🏇•

  Eles haviam ficado meia hora analisando a égua em exames de imagem. Crystal já estava cansada e um pouco dopada.
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  — É uma cirurgia muito extensa, Fabrício, e a recuperação dela pode ser pior! Sacrificá-la será menos doloroso para ela!
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  — De jeito nenhum! — ecoou contra a sugestão de um dos veterinários que examinavam à Crystal.
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  — Eu sou contra o sacrifício animal, Jorge. Tentaremos salvar a vida dela seja qual for a circunstância! — Fabrício deu sua última palavra como chefe médico da equipe. — Temos que levar ela ao centro cirúrgico, . Não se preocupe, eu cuidarei bem dela, ok?
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  Marion entrou apressada na zona médica veterinária procurando por e quando avistou-a conversando com Fabrício indicou:
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  — Amiga, você precisa vir se ainda for competir no individual, agora. O treinador está no paddock com seu novo cavalo.
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   olhou para a égua deitada sofrida e chorando declarou:
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  — Não vou competir. Não quero!
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  — , por favor não faça isso! Pela Crystal! Você precisa fazer valer o esforço da sua égua até aqui, ao menos brigando por aquele troféu!
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  — Ela precisa de mim, Marion! Não posso deixar ela sozinha!
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  Fabrício tocou os ombros da amiga e a tranquilizou:
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  — Vá competir. Eu consegui um bom cavalo para você, o Bóris. Ele é um campeão também, tem a idade da Crystal e uma boa experiência com provas e salto. Ficar aqui com ela agora não vai adiantar, temos que anestesiá-la e removê-la logo. Então vá para a prova, e quando tudo acabar venha ao meu hospital aguardar sua amiga no fim da cirurgia dela, ok?
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  — Promete que vai cuidar dela, Fabrício? Não vai deixar fazerem nenhuma maldade com ela?
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  — Prometo! Pode ir.
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  Eles se abraçaram, foi até a Crystal acariciando a amiga equina, olhando nos olhos brilhantes e tristonhos da égua, e implorando por perdão. sentia-se culpada pela dor que seu animal vivia agora, e prometendo ir logo ao encontro dela, saiu olhando para trás e vendo sua amiga ser preparada para remoção a um veículo móvel.
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  Marion tentava acalmar com palavras de incentivo, abraçada à amiga, mas a verdade era que não conseguia mais pensar em nada. Ele até tentou relaxar depois da familiarização com Bóris, feita por seu treinador no paddock, ela tentou se concentrar enquanto estava montada ao animal, mas… Não conseguia deixar de sentir um peso no peito.
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   entrou para a prova individual de saltos aparentemente equilibrada e elegante, por fora. Contudo, por dentro, estava uma pilha. Ela estava agindo no automático sob o cavalo, o que foi seu problema, pois, diferente de Crystal, Bóris não tinha com ela a mesma química de anos. Não foi culpa do cavalo quando, preparados para a terceira estação de obstáculos, escutou o relinchar de longe de um animal que ela sabia e sentia, era o grito de sua amiga Crystal. A jockey assustou-se virando o tronco e a cabeça para trás buscando Crystal com o olhar, tentando vê-la sendo removida, mas não seria possível da pista. O ecoar do relinchar da égua em seus ouvidos, só foi substituído pelo coletivo “Oooooh”, da plateia que a assistia. Bóris travou antes de saltar o obstáculo, e , totalmente fora de postura e desequilibrada, foi lançada para longe. bateu a cabeça no chão e com o relincho de sua amiga nos ouvidos, fechou os olhos, pouco a pouco.
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Capítulo 02

  A claridade fazia dançar um jogo de luzes e sombras na parede branquíssima, e como um par melódico e harmônico a valsar, a cortina seguia também o chacoalhar suave que a brisa do meio-dia lhe infligiu. abriu os olhos percebendo as turvas imagens se formando devagar, em meio a flocos de arco-íris no ar.
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  — Oh, você acordou! — A voz de sua mãe se fez reconhecer em seus ouvidos.
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  — Mamãe?
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  — Sim filha, sou eu! — A mulher, com voz emotiva, se aproximou cautelosa do leito onde a jovem mulher estava deitada. — Está assustada, não é? Mas, nós vamos explicar tudo… Por enquanto, me diga: dói em algum lugar?
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  — Dói um pouco a minha cabeça, e a minha perna… No joelho. O que aconteceu? Onde estamos?
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  — Eu vou te explicar, mas antes, estamos em um hospital, minha querida, e eu vou chamar o médico para avisar que você acordou, ok? Não se preocupe, agora já está tudo bem!
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   franziu o cenho notando a falsa tranquilidade do semblante de sua mãe que apesar de sorrir grande, dava passos incertos até a porta. A mãe saiu do quarto, e a jovem pôde observar melhor o cômodo. Estava em um quarto privativo de hospital, e que pelo cheiro do ambiente estava sendo cuidado há dias. Ao lado de sua cama — ou melhor, leito — havia um aromatizador automático que ebulia um vapor suave com cheiro de lavanda. A roupa de cama em que ela estava deitada era de uma branquitude virgem, e macia. Os girassóis e as orquídeas estavam sobrepostos lado a lado em um móvel distante do leito, mas podia ver que eram presentes cheios de cartões. Há quanto tempo estava ali? Ela pensou, e antes de puxar em sua memória qualquer presença do que poderia ter ocorrido para estar ali, sua mãe ressurgiu acompanhada de seu pai, e de um médico bastante bonito por sinal.
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  — Filhota! — O pai lhe falou aproximando e acariciando o rosto dela com cuidado. — Estava ansioso para ver seus olhos brilhando para mim!
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  — É… Eu acho que fiquei muito tempo desacordada, não é? — falou e a mãe automaticamente olhou para o pai dela como se o repreendesse com os olhos. — Tudo bem mamãe… Vocês não conseguem disfarçar a preocupação comigo.
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   sorriu e voltou os olhos ao médico que sorria pequeno a observando.
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  — Senhorita, é muito bom ver que acordou com bom humor. Eu sou o doutor Laerte, cirurgião ortopedista e estou acompanhando a sua internação. Poderia me dizer como está se sentindo?
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   processou a informação “cirurgião ortopedista” antes de respondê-lo:
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  — Estou com dor. No joelho e um pouco na cabeça, atrás. E no corpo todo. Mas, acho que é porque eu fui atropelada por alguma coisa, não é? — zombou . — Fora as dores, só estou confusa e curiosa. Não me lembro direito o que me trouxe aqui.
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  — Entendo. — Laerte respondeu e se aproximou para checá-la.
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  Colocou um foco de luz nos olhos de , em uma espécie de lanterninha que mais parecia uma caneta. E com os dedos, ele pediu que ela o acompanhasse enquanto o indicador deslocava-se da esquerda para a direita, no ar, de frente para o rosto dela.
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  — Me parece que os reflexos oculares estão preservados. Pedirei uma tomografia nova, apenas por precaução. E quanto aos reflexos motores… — Laerte espetou os braços de .
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  — Ai! Isso doeu!
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  — Que bom! Era mesmo para doer! Vamos ver aqui… — Ele espetou as pernas dela, das coxas aos pés.
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  — Olha, eu estou sentindo isso, tá? E está doendo, doutor! Para quê essa acupuntura? Eu machuquei muito a coluna, foi isso?
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  — São apenas testes padrão, . — Laerte respondeu rindo e cobrindo novamente as pernas da paciente com o lençol. — Vendo que está respondendo bem, aos sinais e ao diálogo, faremos novos exames apenas como protocolo, ok?
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  O médico mencionou enquanto olhava a jovem para os pais dela.
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  — Certo, certo, agora como eu vim parar aqui? — cortou a fala do médico.
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  — Filha, você estava no jockey clube, na competição, e sofreu um…
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  E como um flash diante de seus olhos a cena toda voltou à memória. Crystal machucada, montada em Bóris, o momento dos saltos, o relinchar de Crystal e por fim a queda, onde a visão foi sumindo e desfocando com as cenas das pessoas se erguendo assustadas em suas arquibancadas.
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  — Eu caí do cavalo! — falou ansiosa, começando a se sentir mais assustada e nervosa — O Bóris! Ele não pulou e me jogou… A Crystal! Mamãe! A Crystal, o que houve com ela!?
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  — , se acalme filha! — A mãe pediu, e junto com o pai, ambos seguraram a mão da mulher para que ela se confortasse: — A Crystal está sob os cuidados do Fabrício, ela está bem!
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  — Não é mentira sua, mamãe? Ela está mesmo bem? Eu quero vê-la! Doutor Laerte, quando eu sairei daqui?!
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  — não fique nervosa, seus pais não estão mentindo. — O médico falou com voz calma e, cuidadoso, explicou: — Você só poderá ter alta após fazermos outros exames e quando tivermos resultados finais para dizer suas condições físicas. No acidente, você bateu a cabeça sofrendo uma pequena luxação cerebral, felizmente bem contida e revertido o quadro inflamatório, mas seu joelho esquerdo foi bastante prejudicado e com isso fizemos uma cirurgia de reconstrução articular, .
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  — Eu vou andar de novo, não é?
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  — Claro, claro que vai! Talvez, tenha que lidar com algumas limitações, mas poderá retomar uma vida normal.
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  — E montar?
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  A pergunta de ecoou sob um breve silêncio. O médico suspirou e coçou o queixo, os pais dela abaixaram a cabeça e não gostou nada daquilo.
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  — Doutor?
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  — , veja… Uma construção articular como a sua, não é exatamente uma reparação total. Ou seja, existem limitações como eu disse. E no melhor quadro, infelizmente, você não poderá flexionar o joelho como antes. Então, a montaria… Ela vai depender de muitos fatores como a fisioterapia, a readaptação ao esporte… Não posso dizer que não poderá montar, mas também não posso garantir que se puder, será como antes.
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   suspirou sentindo o choro subir em sua garganta, porém, contida apenas assentiu. Olhou para os pais e pediu:
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  — Chamem o Fabrício. Eu quero ver e falar com ele, por favor.
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  — É claro, minha querida. — O pai informou, e saiu do quarto deixando um beijo na testa dela, pronto a telefonar ao amigo veterinário.
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  Depois que seu pai saiu, o doutor Laerte continuou com o atendimento de checagem e explicação clínica de . Ela foi encaminhada para novos exames e aguardou ansiosa a chegada de Fabrício.
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  O veterinário apareceu na clínica no fim do dia. estava ansiosa, chateada, preocupada. Quando Fabrício entrou em seu quarto com um buquê de flores novo, ela sorriu ganhando nova calma ao ver o rosto do amigo.
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  — Muito melhor te ver assim, sorrindo e de olhos abertos! Dois dias dormindo ? O que você fazia em casa?
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  O humor na pequena brincadeira, soou para ela como um sinal de que tudo estava bem com Crystal, afinal, Fabrício não sabia esconder sua preocupação assim como os pais dela.
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  — Respeite meu sono, eu caí do cavalo. Que por sinal, você arrumou para mim com promessas de que o animal era bom!
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  — Me desculpe … — Fabrício tocou a mão dela e beijou a testa dela, com olhos culposos ao se justificar: — O Bóris é mesmo um bom cavalo, mas você o assustou, querida. Porque puxou as rédeas dele daquele jeito? Quando me contaram o seu erro de principiante eu nem acreditei, porém, depois de assistir o vídeo… Aliás, virou notícia.
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  — Claro que viraria! caindo de um cavalo em um obstáculo tão simples daquele…
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  — E então, o que aconteceu? — Fabrício perguntou, se sentando na cadeira ao lado do leito.
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  — Eu ouvi o relincho da Crystal, Fabrício. O que aconteceu com ela? Não minta para mim!
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  — Ela está bem. — O amigo falou suspirando — Mas a bichinha sofreu, . Eu tive que fazer uma cirurgia nela, e está para nascer dois seres mais conectados espiritualmente do que vocês duas. É como se ambas tivessem sofrido a mesma lesão, e entraram em cirurgia juntas…
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   olhou para a própria perna e depois para o veterinário, um tanto emocionada.
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  — E… Como foi a cirurgia dela?
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  — Ela vai ficar bem, zinha. Está se recuperando bem, e quando você puder eu te levo para ver ela.
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  — Fabrício… — falou em certo tom melancólico: — Se acontecesse algo ruim com a Crystal por minha culpa, eu sou capaz de nunca mais me perdoar…
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  O veterinário engasgou, e disfarçando, ele deu um sorrisinho apertando a mão da amiga de modo carinhoso.
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  — Deixa disso! Ninguém tem culpa de nada, nem os cavalos de você machucar, e nem você, pela cirurgia da Crystal.
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  Sem dar qualquer informação a mais sobre a égua, Fabrício mudou o assunto.
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  Cerca de cinco dias depois de ter acordado, recebeu alta do hospital e precisaria fazer fisioterapia de acompanhamento. A cirurgia em seu joelho ocorreu bem, porém, devido aos pinos de aço e à patela artificial colocada, a mobilidade de não seria a mesma. Poderia andar normalmente, no entanto, a montaria… Só mesmo o tempo e muita dedicação, reabilitação e uma adaptação ao esporte poderiam dizer. Lógico que o psicológico da atleta não estava cem por cento inabalado, afinal, ela não esperava que uma queda em um erro tão bobo faria-a bater com a articulação no obstáculo ao ponto de estourar seus ligamentos e fraturar sua patela de um jeito tão agressivo. Claro que, só depois do acidente, foi notado que no desespero de deixar Crystal machucada e retomar a competição às pressas, não havia vestido as joelheiras, um dos equipamentos de proteção dos jockeys.
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  Ela estava a caminho da clínica-fazenda de Fabrício, onde Crystal estava desde a cirurgia. Insistiu com o amigo para ver fotos da égua, para ter mais detalhes, no entanto, o veterinário era sempre arredio nas respostas. Mudava de assunto e evitava falar muito sobre o animal, sabia que havia algo errado. Então, uma das primeiras coisas que pediu quando chegou em casa depois da alta foi que a levassem para ver Crystal. E ela foi.
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  O carro de Fabrício já estava quase na entrada da fazenda, depois da terceira palmeira pintada de branco, se lembrava, haveria mais uns trezentos metros até a porteira. Os dois não conversaram muito durante o percurso, porque estava em um estado de concentração e pensamento distante. Era a preocupação por sua amiga equina e o amigo sabia. O volume baixo de uma música qualquer tocando no carro, foi interrompido finalmente, pela voz de :
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  — Você realmente vai esperar chegarmos para me dar um susto, Fabrício?
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  — Do que está falando?
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  — Da Crystal. Eu sei que aconteceu alguma coisa grave e você está escondendo.
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  — , não é questão de esconder. O momento era de você focar na sua reabilitação, ainda é, na verdade…
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  — Me fala logo, Fabrício. — o encarou firme, pedindo em tom quase de ordem.
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  — Ela sofreu danos permanentes no jarrete esquerdo, e devido aos anos de osteocondrite dissecante no jarrete, a soldra¹ dela começou a sofrer um desgaste articular também. Por isso, eu havia comentado sobre aposentar a Crystal na competição, e infelizmente para você, mas felizmente para ela… , a Crystal não poderá mais competir.
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  ¹Soldra: região articular entre a coxa e a perna, onde encontra-se a rótula ou patela.

  — O que exatamente foi feito na cirurgia dela, Fabrício? — perguntou sentindo o veterinário um tanto melindroso ao falar.
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  — … — A porteira da clínica-fazenda foi avistada por ele, os funcionários abrindo a mesma e o cumprimentando com acenos de cabeça. Fabrício sorriu aos homens e suspirou, enquanto a amiga não tirava os olhos dele. — , a Crystal precisou ser amputada.
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  Os olhos da jockey encheram de lágrimas, e ela não conseguiu dizer nada, apenas chorou desesperadamente. O veterinário entrou com o carro, em silêncio, e assim que estacionou na área de vagas dos carros um pouco depois da entrada, ele virou-se para a mulher a abraçando.
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  — Eu sinto muito por você , mas acredite, foi o melhor para a Crystal. Ela não mais sentirá dor, não terá um desenvolvimento de outra patologia pior na soldra, e poderá viver bem. Acredite, não é pior do que ela estava sofrendo…
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  — Fabrício… — se recompôs minimamente, olhando para ele com os olhos cheios de água: — É minha culpa, não é?
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  — , não! Não mesmo! Desde que tivemos o diagnóstico da Crystal eu já havia lhe dito que poderia ser uma condição genética, lembra? Ela sempre apresentou esse quadro, desde jovem, e nós… Quando digo nós, também estou incluindo você como tutora, sempre fizemos o possível para ela ter uma vida saudável como atleta!
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  — Ela não deveria ser atleta! É culpa minha! Eu acabei com o jarrete dela!
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  Fabrício abraçou de novo a amiga, e ficou consolando até que ela se acalmasse um pouco mais.
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  — E agora? — perguntou — E agora, o que vai ser da vidinha dela, Fabrício? A Crystal ama trotar, galopar… A gente sempre galopou nas pradarias da fazenda… Ela… Ela ficou sem a perna?
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  — Do jarrete para baixo, precisamos amputar porque a inervação e perfusão sanguínea foi comprometida. Em grosso modo, assim como você, a articulação dela estourou e até tentamos reconstituir, mas… Evitamos muito a cirurgia da porque ela precisava competir, então tínhamos um plano de submetê-la a cirurgia quando a aposentasse. No entanto, essa última competição não deu tempo.
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  — Eu deveria tê-lo escutado antes! Você queria aposentar ela há três anos e eu não deixei… De certo modo é sim minha culpa.
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  — Não vai adiantar agora se martirizar, … — Ele acariciou o rosto da mulher e colocou os cabelos dela, atrás da orelha. — A agora precisa de uma nova rotina, uma nova vida. Ela já está com uma prótese móvel na traseira. Embora, ainda esteja se adaptando… Segundo Isabelly, ela pode estar desenvolvendo um quadro de membro fantasma, ela ainda não percebeu totalmente que os movimentos estão limitados. Por isso, Isy tem feito um acompanhamento especial com ela.
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  — Eu quero ver ela. Vamos. Eu preciso abraçar a Crystal.
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   não deu tempo de ouvir mais nada, ela abriu a porta da camionete e pegando sua muleta, lançou-a no chão de terra da fazenda e tentou saltar, mas sentiu a mão do veterinário a impedindo.
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  — Calma, ! Você não pode descer de qualquer jeito, também está se recuperando. Vou te ajudar. Acalme-se, por favor.
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  Fabrício deu a volta no carro e ajudou a descer, caminharam um pouco e devagar, apesar da pressa de . O veterinário solicitou um dos carrinhos RXV, aqueles típicos carrinhos elétricos de golfe, para que pudessem ir até a cavalaria.
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  Mal pararam de frente ao estábulo, sentiu vontade de chorar de novo. Contudo, se conteve. Uma brisa quente, devido ao calor do dia, passou por ela bagunçando seus cabelos, e a mulher respirou profundamente.
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  — … — Fabrício a chamou ao avistar Isy, mas foi interrompido por um relincho.
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  O relincho era inconfundível para . Era de Crystal, mas não era um relincho triste, pelo contrário, era o relincho de alegria que Crystal dava quando corria ou quando…
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  — Ela está ali, tomando banho.
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  — Crystal! — sorriu ao vê-la em pé, sacudindo a cabeça alegre para Isabelly, a veterinária que estava dando banho na égua.
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   desceu do carrinho, pegou a muleta e começou a andar desengonçada, apressada até o animal. No meio do caminho, Fabrício a chamava pedindo que fosse devagar, e assobiou como era o comum para chamar Crystal. A égua eriçou as orelhas, ergueu a cabeça olhando para Crystal e começou a agitar os cascos da frente como se quisesse ir até a mulher.
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  — Calma Crystal, eu te levo até a sua amiga! — Isabelly largou a mangueira no chão, quando viu gritando por Crystal e se aproximando. Ela pegou a guia da égua que ainda não sabia que se quisesse andar era só dar seus passos, e deu o comando de voz que vinha treinando com o puxar da guia par ela aprender:  — Ande! Ande!
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  Crystal deu seus passos cautelosos e com o peso do próprio corpo, ia puxando a perna com a prótese, que ainda, desengonçada, arrastava-se no chão. Quando e Crystal ficaram de frente uma para a outra, a mulher largou a muleta que caiu no chão e abraçou a cara do animal, chorando, pedindo desculpas e dizendo que a amava. Isabelly e Fabrício não puderam conter a emoção também.
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  Naquele dia, Crystal e ficaram juntas o tempo todo, Isabelly não desgrudou da égua, pois Crystal ainda não sabia se movimentar sozinha e não poderia ajudá-la, já que também estava de muleta. Na hora da fisioterapia de Crystal, Fabrício e estavam escorados na cerca do redondel² observando as duas, e uma conversa muito séria começou entre eles. O veterinário não imaginou que a amiga falaria daquilo tão cedo.
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  ²Redondel: cercado onde é feito o treino e iniciação de cavalos, geralmente circular e em solo arenoso.

  — Fabrício, ela não poderá ficar aqui para sempre. Essa fazenda é uma clínica. Precisamos providenciar a transferência dela.
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  — Para a fazenda da sua família, certo?
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  — Não. Um santuário… Ou, algum haras. — mencionou já chorando e olhou para o amigo que estava surpreso — A fazenda de Guapimirim é um lugar que quase nunca estamos. Não posso deixar a Crystal lá, e no jockey não quero deixá-la. Ela não é mais uma égua que deveria frequentar um ambiente competitivo.
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  — Ela pode ser um animal de socialização por lá, . Assim como o Bóris.
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  — Eu não quero. Não quero ela naquele ambiente. — disse duramente — A Crystal precisa estar em um santuário, um lugar calmo, em que ela possa viver livre e bem assistida, e até pode ser um animal de socialização, mas não quero limitá-la a um dever mais. E precisa ser um lugar perto de mim, porque eu não posso deixá-la.
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  — Então ela pode ficar aqui. Eu não me importo, . A Crystal gosta da fazenda, gosta dos tratadores, é muito querida por todos, e bem, Isy já está a acompanhando há anos. Será confortável para ela, conveniente para nós e para você.
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  — Tem certeza? — perguntou com preocupação, mas fagulha de gratidão.
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  — Absoluta! Cuide da sua recuperação e fique tranquila, a nossa Crystal está em casa, entre amigos e família. E você sempre terá passe livre para entrar e sair daqui quando quiser.
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  — Obrigada. Muito obrigada Fabrício! — disse emocionada abraçando o homem.
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  Fabrício apertou em seu abraço, de forma carinhosa e cuidadosa. Ele faria qualquer coisa por aquelas duas.
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  O destino, no entanto, não tinha planos longevos na vida de jockey do prodígio . Cinco meses se passaram desde que tudo aconteceu, desde que Crystal estava na clínica-fazenda “Solar da Paz”, desde que vinha fazendo fisioterapia ininterrupta para tentar recuperar as chances de montaria. E finalmente, apesar de suas limitações, teria uma resposta.
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  — Você não terá mais a possibilidade de flexionar o joelho totalmente, . É como uma engrenagem na sua perna, tem limitações articulares, mas ao fim da fisioterapia você não ficará manca e nem arrastando a perna, vamos trabalhar para ter uma vida normal, ok?
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  — E a montaria?
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  — Bem… Isso, veremos. Vamos aguardar o final do tratamento.
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  As palavras da doutora Clarissa sobre seu diagnóstico, meses antes, ao início do tratamento ecoaram na cabeça dela. estava diante de Revoada, uma égua de socialização e equoterapia da clínica. Fabrício havia sugerido que ela tentasse montar de novo pela primeira vez, ali. Contudo, não estava confortável. Ela estava se sentindo estranha, como se aquilo fosse errado, ou não fosse mais parte dela.
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  — Pronta? — Fabrício perguntou logo depois que ela subiu e montada sob Revoada, observava as rédeas da égua em suas mãos, trêmulas — ?
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  — Não consigo. — Ela falou olhando para o veterinário, com os olhos cheios de medo e cheios de culpa. — Não quero! Me tira daqui, Fabrício!
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  — , calma, querida… — Ele segurou as mãos dela e ela negava com a cabeça sacudindo-a tão ansiosa. — , o que houve?
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  — Eu não quero! Eu não quero! Eu nunca mais vou montar em nenhum cavalo, Fabrício! Me tira daqui, eu não consigo descer!
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  — É um pânico. — Isabelly comentou ao lado do veterinário que não entendia a reação nervosa e ao mesmo tempo estática de . — Vamos, me ajude a descê-la, Fabrício. Ela está em choque.
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  Os dois então ajudaram. Fabrício abraçou a cintura de , enquanto Isabelly soltou os pés dela do apoio da sela. Revoada estava acostumada a trabalhar com pessoas com deficiência, ou que tinha muito medo, então não ficou nervosa com a reação de .
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  — Eu não vou montar, nunca mais! Eu encerrei minha carreira, estão ouvindo? Eu encerrei a minha carreira!
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   falou alto, chorando desesperada no abraço de Fabrício. Seus pais e amigos que estavam ao redor dela aguardando o momento tão esperado por todos, ficaram surpresos. Sem saber o que dizer ou fazer.
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  — Um psicólogo é importante nesses momentos. — Clarissa, a fisioterapeuta que também estava ali, aconselhou aos pais dela, enquanto Fabrício levava até Crystal.
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  — Ela não vai aceitar. Não pelo psicólogo em si, mas… Conhecemos a , e se ela diz que não vai mais montar… Dificilmente alguém a convencerá do contrário.  — O pai falou suspiroso, abraçado à esposa.
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  Todos foram para o restaurante da fazenda, aguardar que , recomposta, se reunisse com eles, para o que seria um almoço de comemoração pela recuperação dela e de Crystal.
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  Daquele dia em diante, até começou a terapia com um psicólogo, mas ela não levou muito tempo. Desistiu no meio do caminho. Algo dentro dela mudou e da dor da culpa, até a conformação com a aposentadoria do esporte, e passada a euforia de toda a sociedade equestre que a acompanhava, decidiu dar novos rumos para sua vida. Ela entrou no escritório do pai, que já a esperava para uma conversa junto com sua mãe.
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  — Filha, como está? — A mãe perguntou ao ver a jovem entrando no ambiente.
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  — Estou bem mãe, o que vocês queriam conversar?
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  — Sente-se. — A mãe abraçou-a pelos ombros guiando-se a sentar com a filha no sofá do escritório e o pai se reuniu às duas. — Seu pai e eu conversamos e queríamos saber o que você pretende para sua vida, agora que não têm mais… Bem, a montaria como um estilo de vida.
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  — Você tinha um projeto de montar sua própria Hípica, não é? O que pensa disso? — O pai perguntou.
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  — Uma hípica é um clube de hipismo e eu não quero mais lidar com cavaleiros, com a nossa sociedade equestre. Você viu o que eles disseram de mim depois do acidente, não é? Eu não vou me colocar mais nesse meio… Enquanto eu era a talentosa , a jockey de ouro, todos queriam que eu me associasse em suas hípicas… Agora, depois de todos estes meses… Quase um ano do acidente, onde estão aquelas pessoas?
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  — Ela tem razão. Foi de muita falta de consideração com ela, e com nossa família, lógico! Não fomos nós que basicamente doamos rios de dinheiros e prestamos tantos incentivos aos clubes deles? Gente ingrata! — A mãe de falou com certa mágoa — Viraram as costas para a nossa filha e ainda disseram coisas terríveis sobre o fim da carreira dela!
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  — Esqueça isso mamãe…
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  — E então, o que fará ? — O pai repetiu.
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  — Um haras? É… Um haras. Lidar com os animais é bem melhor. Eu acho que eu quero fazer um curso para ser treinadora equestre, quem sabe até me tornar uma veterinária? Eu não tenho certeza ainda, mas sei que um haras é um ambiente muito melhor, eu poderei ajudar os animais, estar diante deles e cuidar dos equinos que os tutores não podem cuidar. E eu vou levar Crystal para lá.
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  — Filha… — O pai disse cauteloso olhando a mãe dela, cúmplice: — Eu e sua mãe, pensamos em te enviar para uma temporada na Suíça. Depois que conversamos com sua psicóloga, e também com Fabrício… Sua ligação com a Crystal é muito forte, desde sua infância, e nós achamos a amizade de vocês muito linda, mas… Neste momento, não está saudável, . Você precisa se desprender um pouco da Crystal e seguir um novo caminho.
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   entendia o que os pais diziam, ela não se revoltou, mas seu coração apertou. Ir para a Suíça e deixar Crystal?
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  — Eu aceito ir para a Suíça, vai ser bom, vocês têm razão. Posso também pedir ao Fabrício indicações de cursos e capacitações por lá, não é? Eles são um país referência em hipismo, então, talvez seja muito proveitoso, mas… Crystal vai comigo.
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  — Filha! — A mãe interviu — É inviável! Submeter a Crystal a uma viagem dessas sendo que você não terá recursos e pessoas suficientes para ajudá-la a cuidar dela… Não seja impulsiva agora, sabemos que é difícil para você, mas Crystal está há meses com uma nova rotina aqui também… Melhor deixá-la com Fabrício por enquanto.
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   suspirou. Ela sabia que eles estavam certos, mas era inevitável não sentir o peito apertar.
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  — Tudo bem, eu vou pensar melhor sobre tudo e falo com vocês quando me decidir. Obrigada pelo apoio, pai, mãe.
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  Levantou-se do sofá, beijou os pais, e saiu pensativa para seu quarto.
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•🏇•

  Fabrício e estavam caminhando lado a lado no estábulo do Solar da Paz. Ela decidiu que iria para a Suíça e estava ali para contar ao amigo, pedir que ele ficasse com Crystal até ela se estabilizar com recursos próprios para o translado do animal.
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  — Su-Suíça? — Fabrício perguntou parando de caminhar, surpreso ao ouvir a notícia.
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  Ele encarou de modo tão tristonho e chocado que a mulher até pensou se estava parecendo que ela abandonaria sua égua, por isso justificou:
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  — Não estou abandonando a Crystal! Quando tudo estiver ajustado por lá, podemos ver a transferência dela, eu só gostaria de pedir que você…
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  — ! — Fabrício interrompeu sentindo a garganta fechar — Você não pode ir para a Suíça assim… Como se estivesse fugindo dos traumas.
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  — Não é nada disso, Fabrício. — A amiga sorriu ao entender a preocupação dele — É só uma busca por novas perspectivas de vida… Papai e mamãe tem razão quando dizem que talvez, eu precise me redescobrir no mundo. No meu mundo. E felizmente somos uma família abastada o suficiente para eu escolher qualquer lugar do globo, esse privilégio deveria ser aproveitado. — Ela deu de ombros.
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  — Mas, por que a Suíça? Por que tão longe?
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  — Porque eles são referência no esporte… Porque o lugar é extremamente incrível… Porque não tem absolutamente nada lá que não vá ser algo muito novo para mim… E eles tem bons chocolates! — A mulher riu.
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  — Por quanto tempo? — Fabrício perguntou após pigarrear tentando recompor o controle emocional, que sequer notou estar abalado.
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  — Não sei. É como eu disse, eu estou indo atrás de algo que me dê ânimo de vida de novo… Novas perspectivas. Não há nada além da Crystal que seja o meu foco agora, e no momento, até a Crystal está seguindo um novo caminho não é? Meus pais têm razão, eu também devo seguir em frente.
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  Fabrício ouviu as palavras dela como se uma punhalada tivesse sido dada em seu peito: “não há nada além da Crystal que seja o meu foco…”.
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  — Você pode ter novas perspectivas aqui, e pode encontrar novas coisas ou pessoas para focar se abrisse um pouco os olhos, . — Ele se aproximou cauteloso, segurando a mão dela com carinho, o olhar suplicante: — Não precisa nos deixar para isso!
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  — Own Fabrício… — A amiga acariciou o rosto dele de um jeito brincalhão sem perceber mesmo o óbvio do olhar dele — Eu sei que vamos sentir falta uns dos outros, acredite, eu vou sentir muita saudades de você e do Solar. Mas, eu preciso disso, sabe?
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  — Não tem mesmo nada e nem ninguém que te faça ficar?
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  — Bom… — A mulher falou estranhando o tom da pergunta pela primeira vez, e olhou ao redor do estábulo, encarando a baia onde Crystal ficava de número “247”. — A Crystal. Mas, não posso me abandonar também, ela está bem agora e como te disse, assim que tudo estiver organizado por lá, eu posso levá-la. Vai depender de como as coisas se sairão na minha vida por lá, e em quanto tempo ficarei fora…
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  — Quais… — Fabrício engoliu um choro que já estava difícil segurar — Seu planos?
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  — Então! — falou animada batendo palmas e sorrindo para ele, o que apenas dilacerava ainda mais o peito do veterinário: — Eu pensei em fazer medicina veterinária! O que acha?
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  Ele sorriu forçado, abraçando-a para disfarçar a mágoa e depois que a soltou olhou nos olhos dela, desejando:
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  — Eu acho mesmo uma ótima escolha, tem tudo a ver com você! E tê-la como uma colega de profissão será motivo de orgulho! Mas, sabe que temos excelentes universidades especializadas em equinos aqui no Brasil, não sabe?
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  — Eu sei, eu sei… Mas é o todo, Fabrício. É o sair daqui, deixar para trás algumas coisas e também, na Suíça tem cursos de treinadores com ótimo conceito, e eu penso em também me tornar uma treinadora de cavalos. Não sei qual das duas ocupações vou escolher, talvez eu me torne veterinária apenas para trabalhar com os cavalos quando for treinadora… São possibilidades ainda, nenhuma certeza a não ser de que, eu quero cuidar de todos eles, melhor do que fui capaz pela Crystal.
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  — Não quero ouvi-la neste tom de culpa de novo! — Fabrício falou finalmente deixando uma lágrima cair em seu rosto e tentando soar em tom de bronca.
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   se aproximou de novo, e percebendo o choro do amigo, entoou um muxoxo de carinho e o abraçou mais uma vez, ao separar-se dele, porém sem sair do seu abraço, ela enxugou as lágrimas que caiam no rosto dela. Fabrício a segurava pela cintura.
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  — Fabrício? O que foi?
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  — Eu vou cuidar da nossa Crystal, fique tranquila. Ela nunca vai te esquecer e nem eu… — Ele comentou com a voz embargada, olhando profundamente nos olhos de que ainda segurava o rosto dele com semblante de confusão. Ela não entendia o que estava acontecendo com o Fabrício, até ouvir: — Nós nunca iremos te esquecer ou abandoná-la, porque nós dois te amamos.
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   piscou três vezes, lentamente, processando o que aquilo significava, mas quando deu por si, os lábios de Fabrício estavam delicadamente tocando os seus.
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  — Fabrício? — Ela sussurrou confusa, após o selar simples dos lábios.
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  — Como você nunca notou, , que eu sou completamente apaixonado por você?
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  A cavaleira emudeceu, arregalou os olhos em total choque, mas permitiu a aproximação de Fabrício que finalmente, beijou como há tanto tempo ele vinha desejando. O beijo profundo, salgado pelas lágrimas dele que escorriam em seu rosto, as línguas explorando uma a outra com diferentes emoções: a dela, surpresa e curiosidade, a dele, resignação e amor puro. Fabrício deixou em uma marca para que ela não esquecesse: o beijo mais apaixonado que a jovem tivera até então. nunca havia gostado de ninguém e ainda não era o caso, mas sem dúvida, gostou de sentir aquela emoção repentina de receber uma confissão.
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  Ao cessar do beijo, Fabrício tocou o rosto dela acariciando as maçãs do rosto da mulher, agora, coradas, e sorriu. Um sorriso triste. Um sorriso rejeitado. Ele a abraçou e se afastou do corpo dela, dizendo como se nada tivesse ocorrido:
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  — Crystal e eu cuidaremos um do outro enquanto te esperamos. Espero que encontre o que quer que você esteja buscando, . E espero que seja a felicidade, ok? Mesmo longe, saiba que poderá me ligar ou recorrer a mim como for possível e preciso. Estarei sempre disponível para você, minha querida amiga.
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  Fabrício afastou uma mecha do cabelo dela que caía sobre o olho, e apoiando as mãos trêmulas no próprio cinto da calça, ele deu meia volta saindo.
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  — Fique à vontade, preciso ir à clínica. — Ele comentou já de costas para ela, escondendo o rosto em lágrimas e caminhando altivo para fora do estábulo.
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  Deixou a parada no meio do corredor entre as baias, sem qualquer norte do que havia acontecido, com o indicador segurando os próprios lábios. Crystal relinchou e ela olhou para a baia da amiga, como se ouvisse a égua dizer para ela ir atrás dele, mas não foi. Pelo contrário, ela foi atrás da própria amiga abraçar o animal com toda a saudade que já iria sentir. E Fabrício seguiu até o seu escritório na clínica, sem olhar para trás, sem segurar mais nenhuma lágrima. Isabelly que havia presenciado o beijo sem querer, compadecida do irmão, já que era a única a saber dos sentimentos dele declaradamente foi até ele. Mas, assim que o veterinário entrou em sua sala, ela pensou ser melhor deixá-lo só. Avisou tantas vezes para Fabrício que amor a gente não guarda em gaveta enquanto for possível vivê-lo, que agora, eis que ele guardaria o dele por perder tempo demais.
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Capítulo 03

Onze anos se passaram…

   formou-se veterinária, tornou-se também uma das melhores treinadoras para cavalos esportivos, e vivia na Suíça desde sua partida. chegou em Genebra com seus vinte anos de idade, e agora, estava ainda mais madura, com seus trinta. Com preocupações novas, de uma mulher de trinta anos que sentia ter deixado o amor lhe passar literalmente à cavalo, diante dos olhos. Fabrício tinha vinte e sete anos quando contou para ela que a amava, e agora, ele estava com trinta e oito e um casamento a ocorrer naquele final de semana.
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  A treinadora olhava para o celular, passando as fotos do casamento do amigo recém postadas no instagram. Cinco anos atrás, quando em conversa de vídeo ele a perguntou se ela pensava em voltar para o Brasil, disse que não pretendia deixar Berna, a cidade para onde havia se mudado logo quando comprou uma propriedade para fundar o seu haras.
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  Atualmente, o negócio era muito lucrativo e a vida de apesar de pacata, era satisfatoriamente segura. Cinco anos antes, quando essa vida de recém profissional começou a se formar, as promessas de sucesso eram garantidas. Enquanto estudante em Genebra, fez bons contatos e já apresentava alguns amigos e clientes bem intencionados em utilizar os seus serviços. Foi inclusive, seu orientador da universidade que lhe aconselhou: “Vá para Berna, é um lugar que promove muito turismo entre estrangeiros, mas principalmente, a população de Genebra e Zurique gostam de estar sempre em contato. Um haras, um lugar de descanso para famílias suíças em Berna, me parece muito promissor.”. E assim ela fez.
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  Na ocasião, Fabrício estava se envolvendo com uma mulher, mas ainda limitava-se na esperança de que voltaria, por isso, aquele assunto foi tocado. E ela foi a responsável por dizer a ele que também fosse feliz. E agora estava ali, chorando, arrependida e solitária com sua xícara fumegante de chocolate quente. Havia perdido Fabrício, seu beijo mais inesquecível… E perdeu Crystal. Apesar de ainda estar viva e estar feliz no Solar da Paz, — recebia fotos constantes da égua, e uma vez por ano visitava o Brasil para ver a amiga — não tinha saúde o suficiente para uma viagem longa. Então, o plano de trazer a sua amiga para Berna e assim viver com ela no Haras “Crystal”, não pôde ser realizado.
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  — Suas escolhas valeram a pena, ?
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  A treinadora mencionou para si mesma, observando as fotos de Fabrício, sua esposa, amigos e até sua família junto a dele no casamento. Encarou o enorme quadro fotográfico de Crystal em seu escritório e chorou de saudade, bebendo aquele chocolate quente na esperança de que ele aquecesse o seu coração.
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  — Senhorita ! — Alguém lhe chamava batendo na porta do escritório, do lado de fora.
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  — Um momento! — Ela gritou de volta.
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   deixou a caneca sobre a mesa, apertou-se em seu grosso casaco, e ouviu apenas o estalar da madeira queimando na lareira e do assoalho de madeira com suas pisadas fortes pela perna quase manca. Abriu a porta, e notou o frio corrente açoitar seu rosto assim como fazia com os dois homens parados diante da porta do escritório.
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  — Senhorita, desculpe o momento, esse é o sobrinho do senhor Go Chang… O rapaz chegou esta tarde em Genebra, mas o mau tempo atrasou a vinda para Berna e…
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  — Entrem primeiro, céus, saiam desse frio! — interrompeu vendo o rapaz encolhido e os lábios de seu zelador do haras, arroxeados. — Senhor Fritz, onde está seu cachecol?!
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  Fritz, era um dos primeiros funcionários do Haras Crystal. o conheceu por meio de Go Chang. O outro senhor, coreano, Go Chang, foi quem ensinou a treinar cavalos em seu primeiro curso ali em Genebra. Ele foi o mais próximo de família para ela, talvez por ambos serem estrangeiros e terem uma empatia que só os distantes da própria pátria seriam capazes de ter um pelo outro. Go Chang era casado com Emma, uma mulher suíça muito simpática e que também recebeu como uma filha. Quando se mudou para Berna, a fim de estabelecer o seu negócio, Go Chang, apresentou a ela o senhor Fritz Keller e sua família composta por Annelies, sua esposa, e os três filhos: Niklaus, Cedric e Gregor.  A família de Fritz era uma tradicional família de tratadores de cavalos de raça, e portanto, Go Chang disse a ela “terá o melhor, embora aposentado, tratador de cavalos da região em seu haras!”. não entendia as razões para Fritz e sua família aceitarem trabalhar com uma novata estrangeira, não deveria ser apenas por consideração ao Go Chang. E não era. Os Keller estavam com idade já, e precisavam de um lugar perpétuo para viverem, uma vez que em Genebra, eles venderam a casa para pagar os estudos dos três filhos e viviam de aluguel. A difícil situação apertada e a possibilidade de uma pacata, porém sólida e próspera vida no interior de Berna, eram atrativos. então ofereceu: um emprego de zelador ao senhor Fritz, um emprego de cozinheira no restaurante do haras à senhora Annelies, e uma casa para eles morarem sem custo de aluguel. Quanto à alimentação, o que fosse produzido no haras e no restaurante, serviria a todos.
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  — Ah, minha filha, eu não sei onde meti o meu cachecol! — Ele riu coçando a cabeça e retirando o gorro molhado pelo sereno da noite.
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  — Annelies não vai gostar de saber que está tomando esse açoite frio por aí.
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  — Ela não precisa saber que eu perdi o cachecol, não é? — Fritz riu e aconchegou-se junto com o rapaz, perto da lareira. Os dois pareciam encontrar um oásis quando viram o fogo e a cabana de madeira aquecida. — Mas, a senhorita não estava em sua casa por qual razão?
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  — A temporada de inverno do Haras começa em algumas semanas e há muito trabalho a ser feito, senhor Fritz. Tenho passado bastante tempo aqui no escritório. — explicou pegando na pequena cozinha do chalé duas canecas de chocolate quente.
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  — O nosso festival de queijos, chocolates e vinhos será proveitoso, senhorita! Não se preocupe! Annelies até convocou as filhas de Eva para ajudar. As mocinhas são muito eficientes! E o também me contou que suas primas Brigitte e Mirae virão com os tios para nos ajudar!
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  Fritz comentou animado esfregando uma mão na outra e pegando a caneca da mão de , assim como o jovem que ainda estava calado ao lado dele. após se esfregar em suas roupas aquecendo-se com a chama da lareira, retirou o gorro úmido da cabeça e baixou o cachecol também mostrando o seu rosto.
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   tomou um susto. O rapaz era lindo como um boneco de porcelana feito pelas mãos de um artista, ele tinha os olhos grandes e negros esbugalhados em direção a ela. Não como se estivesse assustado, mas como se estivesse animado em estar ali. direcionou a caneca de chocolate para ele, silenciosa, mas o rapaz se levantou e a cumprimentou em reverência coreana.
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  — Oh! — Fritz soltou um riso surpreso: — Ora! Ele parece-se com o Go quando chegou aqui!
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  — Desculpe, eu devo me abaixar também? — perguntou a ele em inglês. — Ah propósito, você me entende?
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   piscou os olhos dando-se conta de que não estava mais na Coreia e um simples apertar de mãos bastaria. Ele começou a rir e se explicou, deixando a voz sair pela primeira vez, de um jeito baixo porém fofo aos ouvidos de :
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  — Me desculpe! É a força do hábito! Eu falo inglês, coreano, e alemão. Então… A senhorita pode se comunicar comigo em alemão se preferir, eu entendo.
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  — Ah, não! Se fala inglês, então podemos nos comunicar por ele. Odeio o alemão. — explicou e olhando para Fritz como se desculpasse com ele falou — Sem ofensas, senhor Fritz.
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  — Imagine! Eu não gosto também, aprendi o francês e o inglês em Genebra, e só uso minha língua em casa, mesmo. Não importa o quanto uma pessoa estude a língua alemã, ela sempre demora a entender o que eu falo.
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  Os três riram e encorajou a pegar a xícara:
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  — Vamos, beba isso. É chocolate quente, vai te fazer bem. — Ela sentou-se no sofá em frente a eles depois que o rapaz pegou a bebida, e sorriu ao tomar um gole com cara de quem recebia um abraço — Fez uma boa viagem?
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  — Fiz sim senhora! Pelo menos até Genebra.
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  — Apenas senhorita, por favor. — pediu e continuou a contar:
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  — Estava na casa do tio Go desde ontem, mas minha passagem de trem para Berna dizia que o embarque seria de manhã, infelizmente, foi cancelado devido a uma nevasca.
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  — Hm, entendo. E você não voltou para a casa do seu tio porquê?
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  — Tio Go disse que a senhorita precisava muito de ajuda e quanto antes eu chegasse melhor.
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  — Seu tio é muito atencioso, mas não precisava passar por uma espera desconfortável no meio desse inverno, , não é?
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  — Isso! , a seu dispor! — Ele falou erguendo agora a mão para ela cumprimentar.
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   sorriu pegando-a e apertando respondendo também:
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  — , a proprietária do Haras Crystal. Seja bem vindo, e muito obrigada por aceitar o trabalho de inverno. Sair da Coreia para passar as férias na casa do tio e acabar trabalhando não deve ser tão agradável, não é?
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  — Ah, imagine! Eu não estou aqui de férias. Eu vim para a Suíça para… Estudar e aprender mais sobre cavalos com o tio Go.
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  — Senhorita , o rapaz tem boa vontade! O Go andou me contando muito sobre ele, e do caminho do centro de Berne até aqui, porque eu fui lá buscá-lo, me contou o suficiente para eu saber que ele é tão apaixonado pelos equinos como nós! Podemos confiar, viu!
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  — Sei que podemos, afinal, ele é sobrinho do Go Chang.
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  — Bem, mas eu só vim aqui uma hora dessa para trazê-lo, porque a senhorita sabe… Gregor, Niklaus e Cedric trouxeram suas namoradinhas para passar o festival e nos ajudar, então lá em casa está bem apertado. E Annelies não conseguiu limpar o chalé que o vai ficar ainda, sem falar que a calha e a lareira de lá precisam de limpeza… E aí, eu vim saber se a senhorita importa dele dormir aqui no seu escritório até a gente arrumar tudo.
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  — Não se preocupe senhor Fritz, eu já imaginava que precisaríamos alocar o rapaz em outro lugar. , me desculpe pela recepção corrida, é que o seu tio informou ontem da sua vinda.
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  — Imagine! Eu posso dormir até com os cavalos, sei que vai estar quentinho.
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  — Ora essa! — riu — Eu não iria colocar você no estábulo, imagine! Essa noite ficará na minha casa, ok? Eu já preparei um quarto para você porque sabia que a casa Keller está cheia. Agora, vamos. Acabei ficando por aqui porque nem imaginava que você viria mais hoje…  — se levantou.
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  Os outros dois terminaram suas bebidas quentes, e levantaram do sofá, se aproximando e aquecendo mais à lareira, enquanto levava as três canecas usadas para a pequena cozinha de seu chalé-escritório. Ela encheu-as de água quente, e deixou ali mesmo na pia. Em seguida pegou seu celular na mesa, apagou o abajur e farfalhou a lareira para que ela apagasse e ficasse apenas a brasa. Em seguida, os três saíram pela porta encarando a noite fria de novo.
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  — Aqui, senhor Fritz. Vista. Assim a senhora Keller não vai saber, não é? — estendeu a ele um cachecol e piscou, e vestiu o seu novamente, pois iria entregar ao mais velho também.
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  — Obrigado garoto! Eu só vou aceitar porque Annelies é mesmo muito, muito nervosa. — O mais velho falou agradecido, e levantou a gola da blusa de fechando o zíper para protegê-lo — Mas também não quero que você fique doente.
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   sorriu e cobriu metade do rosto com a gola, e ajeitou a mochila nas costas, e a outra pequena mala no antebraço. Eles caminharam até uma casa grande, onde era os aposentos de , e o mais velho acenou aos dois um pouco mais apressado.
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  — A casa dos Keller fica há uns cinco minutos da minha. E o chalé que você vai ficar é ao lado do meu escritório. Estamos sempre por perto se precisar. Fazemos as refeições todas no restaurante, então não se preocupe com isso, ok? — falou apontando as direções com o indicador, da varanda de sua casa e abriu a porta entrando e dizendo a ele: — Bem vindo, fique a vontade.
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  — Obrigado, senhorita .
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   agradeceu deixando a malinha em um canto com a mochila, entrando devagar e tirando o casaco do corpo, olhando tudo ao redor com olhos de curiosidade.  Quando o rapaz estendeu o casaco grosso para pendurar, junto com o gorro, ela notou o porte atlético dele. Foi inevitável não pensar em como ele era bonito.
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  — Você quer comer alguma coisa primeiro ou tomar um banho?
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  — Bem, não está tarde para o restaurante funcionar?
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  — Está, mas não é porque comemos lá que não usamos nossas cozinhas. — riu — Vamos subir, eu te acomodo em seu quarto, você toma banho e enquanto isso preparo um belo Raclette¹ para você. Conhece?
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  — Claro! É um dos favoritos da tia Emma. — respondeu risonho.
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  ¹Raclette: Raclette é um prato delicioso para os dias mais frios! Ele é bem simples e consiste em queijo derretido por cima de batatas e conservas (pepinos e cebolas).

   guiou o rapaz para cima, e conforme dito, ele tomou banho e depois comeu. No entanto, a Raclette foi para duas pessoas, já que também estava com fome e não resistiu ao delicioso prato com queijo derretido.
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  — Vou te acompanhar neste singelo jantar.
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  — Muito obrigado! — respondeu e os dois sentaram-se na bancada da cozinha para comerem e assim conversaram um pouco mais.
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•🏇•

  Foram três meses passados em Berna com se adaptando aos trabalhos na fazenda. Ele auxiliou Fritz a arrumar aquela que seria a sua cabana de estadia ali no Haras, e foi empenhado em todos os serviços locais, inclusive para o festival do Haras, que ocorreria há algumas semanas. Quando o seu tio chegou no haras com sua família para ajudar a antiga amiga e pupila com a preparação da festa, ele ficou hospedado na cabana do . Junto com seus parentes, o rapaz se divertia muito arrumando e aprendendo tudo o que podia, no entanto, ele também havia notado algo que não poderia passar despercebido: era uma mulher extremamente interessante.
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   terminava de pendurar as lanternas noturnas do caminho em frente ao escritório, quando lá de cima da escada viu sair do escritório rumo à sua casa. Ele não percebia que seus olhos não desgrudavam da mulher caminhando enquanto seu tio, do chão, observava cuidadoso a interação do rapaz com a figura da chefe.  Go Chang sorriu com uma sabedoria própria de um homem mais velho.
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  — Ela sabe que você está interessado nela, ? — O tio perguntou.
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   demorou a entender a pergunta, viu fechar a porta da própria casa e voltou sua atenção à lanterna que pendurava no arco de passagem.
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  — ! — O tio exclamou mais alto, tomando enfim sua atenção.
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  — Hã? O que houve tio Go?
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  — Ora… Você está mesmo hipnotizado…
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  — O quê? Do que está falando? — O rapaz terminou sua tarefa com a última lanterna e começou a descer.
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  — Do seu interesse pela . Ela é uma excelente garota, sabe? Eu acho que você deveria contar a ela como se sente.
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  — Tio Go! Não tem nada disso, eu só a admiro muito… Ela é… Hã, uma boa amiga…
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  — E o que isso muda em alguma coisa? Pelo contrário, meu filho, tudo começa com admiração e amizade. — Go Chang riu tocando no ombro do rapaz.
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  — ! — Brigitte, sua prima, gritou-lhe da porta do escritório de , caminhando até ele com uma caixa em mãos. Quando parou em frente ao pai e ao primo, ela comentou: — Leve esta caixa até o senhor Fritz! Ele pediu para eu pegar isso escondido no escritório da unnie . Então, leve antes que ela volte!
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  Brigitte e Mirae eram excelentes garotas, e tinham como um irmão mais velho. Brigitte era mais parecida com o pai, um pouco mais espoleta do que Emma, sua mãe sempre muito delicada e discreta, tal qual a filha Mirae puxou.
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  — Brigitte, isso é a caixa de recordações da ? — Go Chang perguntou para a filha, retoricamente, e de um jeito preocupado.
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  — Uhum! Appa, o senhor sabia que ela fez tudo isso e ganhou todas essas coisas? — Brigitte perguntava admirada.
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  — Sim, eu soube da história dela assim que a conheci jovem e recém chegada em Genebra. Mas, Fritz sabe que a não gosta que fiquem mexendo ou exibindo seus títulos…
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  — Títulos? — perguntou surpreso, e então destampou a caixa mexendo em algumas coisas, encontrando medalhas, troféus, e muitas fotografias e reportagens eternizadas em quadros.
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  — Ela foi uma jovem jockey muito promissorano país dela, . E portanto, se tornou a grande treinadora de cavalos que é.
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  — Uow! — exclamou, olhando uma fotografia de vestida de jockey sobre um cavalo lindo e seus olhos brilhavam ainda mais.
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  — Ela é a pessoa que pode te ajudar com seu sonho, . Eu sabia disso quando te mandei para cá, o problema é convencê-la de treiná-lo.
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  O senhor Go não sabia se aceitaria treinar seu sobrinho, assim como não sabia se iria contar de seu sonho secreto para alguém quando o enviou para o Haras. Na verdade, ele até acreditava nessa possibilidade, de um ajudar ao outro, no entanto, não foi sua intenção primária. O que ele queria, era que o jovem sobrinho sonhador e corajoso, aprendesse o máximo sobre cavalos e assim poderia trilhar o caminho de seus sonhos. não foi para a Suíça apenas porque gostava do tio Go Chang, da tia Emma e suas primas Brigitte e Mirae. Ele sabia que na Suíça, poderia aprender tudo o que na Coreia do Sul não havia aprendido sobre hipismo.
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  — Por quê? O que houve? — O rapaz perguntou sentindo que havia uma história por trás.
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  — Isso é algo que só ela pode dizer. — Go Chang falou e puxou Brigitte para ir consigo.
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  A garota entregou a caixa ao primo e seguiu ao pai.
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  — Ande logo , antes que a unnie descubra que pegamos a caixa!
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  — Aigoo… — reclamou se apressando para ir atrás de Fritz e ordenou para Brigitte, se referindo às ferramentas que ele estava usando antes: — Então guarde todas essas coisas aqui!
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   entrou pela porta dos fundos da cozinha, na casa do senhor Fritz com a caixa em mãos, mas o lugar parecia vazio. A não ser pela senhora Annelies que surgiu vinda do interior da casa.
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  — Oh, ! Aconteceu alguma coisa? — Annelies perguntou risonha, porém estranhando a presença do rapaz ali já que sabia que raramente ficava “à toa”.
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  — Senhora Annelies, eu trouxe algo que o senhor Fritz pediu.
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  — Ah sim! Um momento que eu vou chamá-lo, ele está ajeitando umas coisas no restaurante com Cedric. — Annelies abriu sua geladeira, tirou uma jarra de suco e deixou sobre a mesa para o rapaz, dizendo: — Beba! Fique à vontade enquanto espera ele, ok? Aposto que ainda não fez uma pausa, então sente-se e faça um lanche!
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  — Obrigado senhora Annelies… — sorriu e sentou-se na cadeira da mesa da cozinha, deixando a caixa sobre ela.
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  Assim que Annelies saiu, ele pegou um copo no armário, serviu-se do suco ofertado, e suspirou ao primeiro gole encarando a caixa. Então, curioso, destampou a caixa e deixou o copo de suco sobre a mesa, mais afastado um pouco da caixa. Se ele causasse um acidente com aquilo tudo, seria o fim!
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   começou a mexer nas lembranças, e então pegou primeiro as fotografias em um álbum. Eram fotos de desde criança com um cavalo marrom caramelo lindo! Nas fotos parecia haver o registro dos primeiros passos de montaria da mulher, ela pequenina sobre outros animais no que seria o cercado de treino de uma hípica. E assim, ele foi sorrindo cada vez mais admirado, porque de menina, passou à mocinha amazona, até a jovem mulher que deveria ter sei lá, uns vinte e poucos anos, entre cavalos, troféus, campeonatos… Mas de todas as fotografias, a que ele mais gostou, foi uma em que a mulher não estava vestida como jockey, mas estava com o mesmo cavalo caramelo abraçando-a. Não era tão antiga, já que a aparência de parecia a mesma, porém, aquela foto significava algo. Havia uma atmosfera de amor e tristeza na expressão de na fotografia.
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  — Tão linda… — comentou baixinho alisando o rosto da mulher na foto.
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  O pigarro que o surpreendeu, quase o fizera dar um salto para trás. olhou para a entrada da cozinha dos Keller, e viu que vindo do mesmo caminho feito por Annelies, estava o senhor Fritz o encarando com um sorrisinho sábio e mínimo. O mais velho caminhou se aproximando de , enquanto via o rapaz já branco, agora mais pálido com os enormes olhos de jabuticaba arregalados para ele.
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  — Qual das duas? — Fritz perguntou ao parar do lado de e olhar para a fotografia na mão dele.
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  — Desculpe, senhor Fritz… Não entendi. — O jovem cavaleiro estava um tanto sem graça e confuso por ter sido pego admirando por uma foto, e flagrado pela segunda vez no dia! Afinal, não poderia se esquecer que seu tio Go percebeu o sentimento dele.
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  — Qual das duas é “tão linda”? — Fritz perguntou rindo um pouco.
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  — Ah… Bom, as duas… Eu estava, falando que a fotografia é linda. — tentou sair pela tangente. — Mas, achei que fosse um cavalo.
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  — Hm… Sei. — Fritz riu batendo no ombro de , e puxando a cadeira ao lado da dele para se sentar, indicando ao rapaz que sentasse também. — É uma égua mangalarga brasileira. O nome é Crystal.
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  — Crystal? Como é o nome do Haras?
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  — Isso. É a grande parceira, amiga e animal da . Mas quando veio pra cá ela não conseguiu trazê-la. Crystal vive no Brasil, na cidade natal da , em uma fazenda. Ela sente muita falta da égua, e todo ano vai visitá-la.
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  — O que houve? Essa expressão… — perguntou ao Fritz analisando a foto de novo e passando a mão no rosto de na fotografia — Não é uma expressão feliz. Na verdade, tenho reparado que a senhorita … Parece ter uma história, não é?
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  — E quem não tem, não é mesmo? — Fritz sorriu — Você não olhou a caixa toda, não é?
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  — Não senhor. — comentou curioso, deixando a fotografia de lado.
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  — Certo… Talvez você possa mesmo nos ajudar como disse o seu tio… — Fritz falou misterioso e suspirou se levantando e mexendo na caixa, tendo os olhos atentos de para si. — Se você repara na como me parece, notou que ela tem uma limitação na perna, não é?
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  — Sim, eu notei que ela puxa um pouco a perna às vezes. — O rapaz comentou com cenho franzido, agora ainda mais curioso.
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  Fritz retirou todas as páginas preservadas de jornal, revistas equestres, e outras mídias impressas onde veicularam no Brasil, o acidente sofrido por há quase doze anos atrás.
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  — Isso… Isso aconteceu com ela? — perguntou olhando os recortes com as fotografias da mulher caída no campo de competição. Outras fotos mostravam só a égua Crystal. Apesar de não entender o que estava escrito, sentiu o coração apertado quando viu as imagens.
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  — e Crystal sempre foram muito ligadas, elas estão juntas desde por assim dizer, a infância das duas… Quando estava competindo, Crystal se machucou e a precisou terminar a prova sobre outro animal, então, o acidente aconteceu. Um erro que ela jamais teria cometido se não tivesse escutado o relincho sofrido da sua égua sendo levada pelos veterinários, nas tendas médicas ao lado do campo de prova. Esse descuido custou o joelho da nossa , e toda a sua carreira.
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  — O quê? — perguntou em um fio de voz, com os olhos brilhando agora em uma certa emoção, largando as folhas de volta na mesa, e encarando o senhor Fritz.
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  — Essa foi a última competição das duas, há um pouco mais do que os onze anos passados aqui. foi submetida a uma cirurgia de reconstrução das articulações do joelho e ela até poderia montar de novo. Há uma limitação que exigiria adaptação dela ao esporte para saber se voltaria a competir, mas desde então, ela não montou mais. Até abrir o Haras, quando ela conseguiu se recuperar do trauma de subir em cavalos, no entanto, você não a verá galopando por aí como ela conta que fazia com Crystal. Ela apenas monta para fins de treinamento dos animais.
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  — Mas, ela desistiu sem tentar! — comentou alarmado — Ela deveria ter tentado! E se ela fosse um ponto para transformar o esporte? Já pensou se ela permite que outras pessoas com limitações físicas a partir do exemplo dela, pudessem competir no hipismo paraolímpico!?
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  — Esse é o seu sonho, não é, ? — Fritz comentou cheio de orgulho e pegou o rapaz de surpresa — Sim, seu tio me contou. Quando Go avisou que o enviaria, ele falou muito sobre você sonhar em ser não só um competidor de hipismo, como também, um treinador paraolímpico. Por causa do seu amigo de infância, Leon.
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  Fritz comentou e sentindo-se emocionado abaixou a cabeça. Achou que não teria problema se contasse sua história para o senhor Fritz.
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Capítulo 04

  — Quando eu vim pela primeira vez para a Suíça visitar a família do tio Go, conheci o Leon na hípica que o tio Go trabalhava. Nós nos tornamos amigos e toda viagem que eu fazia para cá, nós andávamos de cavalo juntos. Era tão libertador… O Leon me inspirava. Ele era tão elegante sobre o cavalo, e tinha, como o nome diz, a força e coragem de um leão! Parecia um cavaleiro daqueles torneios medievais! A gente até chegava a brincar de “Justas”¹ empunhando cabos de vassouras! — comentou rindo e sentindo o bolo se formar na garganta. — Até que em uma das minhas vindas, o Leon competiria… E ele sofreu uma queda do cavalo, batendo forte com a cabeça.
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  ¹Justas: jogo de torneio medieval em que dois cavaleiros corriam um em direção ao outro, empunhando uma longa lança de madeira e deveriam derrubar o outro do cavalo.

   fez uma pausa sentindo a lágrima escorrer em seus olhos. Fritz apertou os lábios em sinal de quem segurava a emoção.
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  — Ele… O que aconteceu com ele? — Fritz perguntou cauteloso.
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  — Leon sofreu um dano permanente na cervical, e ficou tetraplégico. Foi muito difícil para ele, para todos nós, na verdade… Mas, para mim foi como… Como se tudo o que eu pudesse fazer dali por diante da minha vida, fosse lutar para realizar o meu sonho. Era um sonho compartilhado, sabe? A gente planejava ser os melhores do mundo! E o Leon brincava que a medalha olímpica de ouro seria dele, e eu teria que me contentar com a prata…
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   riu ao se lembrar, mas não conseguiu evitar o semblante se tornando uma tristeza e as lágrimas começarem a vir.
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  — Quatro anos atrás… O Leon conseguiu a vaga na competição paraolímpica para a classe I do esporte. Estávamos tão felizes! Eu vim da Coreia passar o tempo de preparação com ele, mas… De repente, o laudo de mieloma múltiplo², pegou a todos nós de surpresa. O Leon lutou bravamente até o fim, senhor Fritz! Ele nunca chorava, estava sempre rindo, sempre confiante, e eu sei disso porque não saí de perto dele em nenhum momento no hospital. Na noite que eu voltei da hípica, porque como ajudava o tio Go já que eu estava vivendo em Genebra, e precisava trabalhar enquanto estivesse aqui… Naquela noite estava muito frio. Muito mesmo. Lembro de chegar no hospital após o dia de trabalho, e carregar um mini fondue escondido. Leon e eu adorávamos burlar as regras do hospital. Fizemos fondue de chocolate aquela noite, mas fomos pegos pela enfermeira e tomamos um sermão. É claro, chocolate derretido, quem não sentiria o cheiro?
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   riu e o senhor Fritz também.
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  — Foi o tipo de ideia descabida que eu também teria, . E sem dúvida, Annelies descobriria e pegaria no meu pé! — Fritz comentou tentando dissipar a aura triste do ambiente.
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  — Pois é! Mas sabe como o Leon nos livrou de maiores problemas? — comentou e o senhor Fritz negou com um aceno de cabeça, para ele continuar a história: — O quarto de repente se encheu de médicos e enfermeiras provando o nosso fondue como um tipo de comemoração coletiva. No fundo, aquecemos a noite de todos eles, e o Leon aqueceu a última memória que tive dele… Antes de dormir, Leon me pediu para prometer que eu realizaria o nosso sonho. Mas, o meu sonho de ser um jockey já nem era mais meu, era por ele. O meu sonho mesmo, passou a ser me tornar um treinador de hipismo paraolímpico. Assim, eu teria o dobro de troféus em uma vida para compartilhar com meu amigo, Leon, em memória…
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   começou a chorar um pouco mais.
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  — Eu prometi para ele que nós dois seríamos grandes jockeys, e que ele sairia daquela logo. Fechei os olhos sonolento na cadeira, e dormi. Acordei de madrugada sentindo um frio ainda maior, mas não havia nenhuma janela aberta no quarto, só a mão de Leon entrelaçada com a minha. Não sei em que momento ele segurou minha mão, mas estava muito fria, e então eu notei que ele partiu em silêncio.
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  ²Mieloma Múltiplo: O mieloma múltiplo é o câncer de um tipo de célula da medula óssea chamada de plasmócito, responsável pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias. No mieloma múltiplo, os plasmócitos são anormais e se multiplicam rapidamente, comprometendo a produção das outras células do sangue.

  Fritz tal como , chorava. Ele imaginou o quanto aquele rapaz não passou por tanto sofrimento ao perder o amigo, ao ficar em uma terra estrangeira para cuidar de um amigo, e ao se recuperar para tentar reerguer sua vida depois de um trauma desse. Go Chang falou com Fritz e Annelies, assim que estivera ali após a chegada de , que o rapaz havia saído recentemente de uma depressão devido a perda de Leon. Então os tios, os pais dele, e toda a família estavam fazendo o possível para apoiar o rapaz.
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  Fritz se levantou puxando para se levantar, e como um grande pai, abraçou o rapaz apertado, batendo em suas costas e vendo-o chorar demasiadamente.
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  — Nós vamos te ajudar, ! Você vai cumprir todas essas promessas e vai recomeçar uma nova história de muito orgulho, por você e pelo Leon, não é ?
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  Quando o mais velho mencionou a mulher, se afastou erguendo a cabeça rápido e limpando as lágrimas. Ele se surpreendeu com a imagem da mulher saindo de um ponto escondido no corredor da casa de Fritz, limpando também as lágrimas em seu rosto. Que, mesmo que pareça estranho ao momento, para , estava ainda mais adorável com a ponta do nariz vermelho e os olhos emotivos.
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  — Desculpe … Annelies me chamou e eu fiquei escondida ouvindo porque eu não queria atrapalhar… — falou e mordeu os lábios um pouco chocada, numa mistura de choque e raiva porque Fritz mexeu nas memórias dela que estavam sobre a mesa, e ainda armou para ela ouvir tudo aquilo — O que o senhor queria armando isso, Fritz?
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  O mais velho soltou-se de e caminhou até , tocando o ombro dela, de forma sábia e carinhosa ao dizer:
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  — Vamos deixar o seu passado pra trás também, ? Ele pode e deve ser o seu primeiro aluno. Ainda há tempo para o , e também há para você.
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  — Eu não treino pessoas, Fritz! Eu não tenho sequer competência para isso!
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  — Por favor, ! — pediu, suplicante e se aproximando dela, quando entendeu o que estava acontecendo. Ele pegou nas mãos dela, apertando-as diante de si e a encarando com os grandes olhos pretos lacrimejados, implorou: — Só me ensine as técnicas que sabe! Eu sou capaz de me treinar sozinho, eu juro!
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   sentiu o coração apertar e ao mesmo tempo ferver em um estado de adrenalina que não sentia há muito tempo. Ela olhou para Fritz que sorrindo afirmou com a cabeça.
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  — Por mim, pelo Leon. — falou — Por favor.
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  — E por você e pela Crystal. — Fritz comentou pegando o calcanhar de Aquiles de : — A Crystal não está ajudando outras jockeys iniciantes na fazenda no Brasil, apesar de tudo? Se a sua parceira equina pode começar uma nova história ainda fazendo o que ama, porque você vai continuar limitando a si e apagando a sua trajetória, ? Tudo o que você viveu, até mesmo o acidente te trouxe até aqui. Entenda como se a sua missão de vida fosse descoberta apenas agora, e antes, foi tudo um preparo.
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   bufou. Era uma lufada de raiva com derrota, carregada de um choro embargado na garganta. Um choro que era por conta de si, mas também, pela história de . Ela encarou o chão, fechou os olhos e a imagem de Crystal com sua prótese ajudando outras crianças a montarem veio à mente. abriu os olhos lentamente, com a lágrima ainda embaçando a vista, olhou para sua própria perna e ergueu a cabeça deparando-se com os dois homens a encarando em expectativa.
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  — Quantos anos tem, ? — Ela perguntou baixinho para ele.
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  — Vinte e sete, mas já sei muita coisa. Eu só não tenho… A técnica.
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  — Hm… Então há mesmo tempo para você. — Ela comentou e Fritz ergueu a sobrancelha, curioso, desviando o olhar do mais velho, declarou: — Começamos amanhã bem cedo. Esteja preparado e escolha um bom cavalo.
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   sorriu animado levantando os braços sobre a cabeça, com punhos fechados como se comemorasse em silêncio por uma grande vitória. Fritz sorriu largo batendo nas costas do rapaz, e muito satisfeito pela chance que estava dando a todos. Principalmente a ela.
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  — E Fritz… — deu as costas sem ver os dois comemorando, e começou a caminhar para fora da cozinha enquanto pedia: — Devolva essa caixa ao meu escritório e pare de exibir essas coisas por aí!
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  — Estive pensando em exibirmos no festival! — Fritz tentou.
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   suspirou ainda de costas aos dois, e fez um breve silêncio.
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  — Vou pensar. — Ela respondeu, mantendo sua impavidez.
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  A treinadora continuou caminhando para fora da cozinha sem olhar para trás, lenta e um tanto confusa com o que havia decidido fazer. Até sentir a mão de sobre seu punho. Ele saiu apressado do lado de Fritz, um tanto ansioso em alcançá-la. Tocou no punho da mulher girando o corpo dela, segurando-a pela cintura e a surpreendendo. Quando viu o rosto dele tão perto do seu, e os olhos pretos esbugalhados com um sorriso alegre de rosto inteiro, sentiu o coração acelerando.
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  — Obrigado, ! Nunca vou esquecer o seu gesto! — a abraçou apertado. arregalou os olhos surpresa se deixando abraçar e notando a expressão de Fritz satisfeito e malicioso olhando aos dois, seu rosto começou a corar, mas só piorou quando se separou dela, e ainda a encarando daquele jeito invasivo sem perder nenhum detalhe do rosto da mulher diante de si, revelou: — Nunca vou esquecê-la, .
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  A mulher assentiu com um sorriso constrangido, o rosto quente como pimenta e soltou um pigarro saindo, um tanto apressada e zonza. Fritz gostou muito do que viu, e sentiu o peito acelerar ainda mais ao vê-la se distanciando.
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   estava aguardando de manhã cedinho, antes mesmo do raiar do Sol, no redondel número 07 do Haras. Ela sentia o cheiro do orvalho frio, enquanto remexia o cascalho do piso. Em lugares com um inverno rigoroso como a Suíça, desde as estalagens dos cavalos, até mesmo os centros de treino e exibição como os redondéis, deveriam ser bem vedados da umidade e do frio. No Haras Crystal, mantinha duas estruturas para os centros de treino: uma externa, utilizada nas temporadas de estações mais quentes, e as internas, onde estava agora. Além do chão aquecido artificialmente, a areia do redondel era coberta por cascas de madeira ou feno seco, a fim de manter afofado e confortável para os cascos dos cavalos. também mantinha uma enorme capa sobre o chão, para evitar a contaminação daqueles espaços fechados.
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  Ela chegou bem cedinho para tirar a capa, no entanto, ao que parecia, foi mais matutino do que ela. O lugar já estava desencapado e com os instrumentos que precisaria utilizar para remexer o chão, em um canto.
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  — Hm… Ele já veio preparar tudo. — comentou ao notar a presença de um recém trabalho por ali — Mesmo assim, vou afofar um pouco mais.
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  E assim, ela pegou o rastelo e começou a remexer mais um pouco o espaço. Não demorou para que o som de cascos ecoasse no lugar. virou-se em direção ao som e viu paramentado com uma roupa de jockey de inverno, e um cavalo bem selado e bonito, da cor preta. escorou o peso do corpo no cabo do rastelo, com um sorrisinho mínimo no rosto, uma mistura de admiração pelo rapaz tão bem apessoado nos trajes, orgulho por sua dedicação e certa… Comichão diferente ao vê-lo.
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  — Ora, ora! Além de madrugar ele veio definitivamente preparado! Adorei o uniforme, !
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  — Gostou? — Ele comentou risonho abrindo o cercado e guiando o cavalo até o meio. — Eu queria começar em grande estilo!
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  — Está muito bonito! — falou risonha. Ela distanciou-se à medida que ele se aproximava, para deixar a ferramenta no ponto inicial e retornou observando-o conversar amigável com o equino — Uma boa escolha. O Petrus é um cavalo bastante obediente…
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   sorriu para o animal passando a mão na cara dele. Ela e encaravam o animal com muito carinho, cada um de um lado do rosto dele, mas brevemente, olharam nos olhos um do outro se perdendo em um silêncio curioso, interrompido por uma bufada do cavalo.
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  — Alguém está ansioso para começar. — comentou rindo junto de quando notaram Petrus pedindo carinho de suas mãos, agitando a cabeça para baixo e para cima.
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  — Vamos começar, não é garoto!? Afinal, eu te tirei da cama cedo demais!
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  — , monte e faça uma sequência de caminhada com ele pelo cercado, quero que você dê cinco voltas de caminhada, e depois mais cinco voltas de trote, para aquecê-lo. Pode fazer?
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  — Claro! Vamos esquentar nossos esqueletinhos, Petrus! — sorriu largo para o bicho, e enquanto se direcionou a montar nele, caminhava até a cerca, subindo nela e sentando-se.
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  De lá ela orientava e Petrus em exercícios básicos de montaria.
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  O festival de vinhos e queijos havia chegado, e estavam cada vez mais próximos e amigáveis, sem falar que treinavam constantemente há cinco semanas. não imaginou, quando entrou naquela empreitada, que se sentiria tão “viva” em reviver a rotina de um jockey, ainda mais sendo ela uma treinadora. Annelies e Emma diziam-na que era um pouco por causa de . A treinadora percebeu também que a família de Chang estava um tanto quanto… “Shippando” aos dois. Brigitte e Mirae, as primas de sempre davam um jeitinho de elogiá-lo em suas múltiplas qualidades para , a tia Emma e o tio Go eram igualmente, babões e orgulhosos do sobrinho. E até mesmo, Cedric, Gregor e Niklaus — filhos de Fritz e Annelies — que mal conviviam com , teceram comentários sobre ela e formarem um “bonito par”. Seja lá o que fosse que eles queriam dizer com aquilo, começava a olhar para o rapaz quatro anos mais jovem do que ela, com um sentimento de curiosidade diferente.
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  O Haras Crystal estava impecavelmente bonito! Os preparativos que começaram há um pouco mais de um mês, deixaram o festival de inverno um dos mais belos do haras. Emma, Annelies, Mirae, e Brigitte ficaram responsáveis pelas atividades gastronômicas do restaurante. Naquele ano, não queria montar barraquinhas de degustação própria. Pelo contrário, convidou produtores de queijos e vinhos, além de outras iguarias, de Berna, para exporem o seu trabalho no festival e lucrarem com ele. Em troca, o haras receberia uma porcentagem do lucro, além do aluguel dos espaços. Cedric, Gregor, Niklaus e ficaram responsáveis pelas atividades culturais e passeios à cavalo dentro do festival. E , Go Chang, e Fritz, pela organização, gestão e administração do evento e espaços.
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  Crianças, idosos, casais recém apaixonados, famílias… Turistas estrangeiros, e visitantes de Berna ou região, estavam apinhando o evento com suas alegres participações. Foram dois dias de Feira em que a “família Crystal” trabalhou duro e com muito empenho, e sem dúvida, aquele ficou entre os festivais mais bacanas já realizados. Na semana seguinte, a reorganização do Haras também exigiu muito esforço de todos eles, o que tornou os treinos de impossíveis para , mas não para ele, que sem faltar sequer um dia, levava Petrus por no mínimo meia hora, para o redondel.
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  Go Chang e sua família já retornariam à Genebra, sete dias após o evento. O haras estava funcionando normalmente de novo e os quatro se despediram de com muita felicidade por ele. Finalmente, o sobrinho parecia ter reencontrado algo que o desse motivação para viver plenamente feliz.
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  — , quero que saiba que seu tio e eu continuamos à sua disposição em Genebra. Então, não hesite em nos pedir qualquer coisa, ouviu? — Tia Emma comentou acariciando o rosto dele.
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  — E com qualquer coisa, também estamos falando de dinheiro, ! — Go Chang enfatizou — Essas competições acabam sendo caras, e tem os gastos com os cavalos, as roupas. Enfim… Você sabe! Seus pais também estão muito felizes por você na Coreia, então não esqueça de ligar para eles, ok?
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  — Tio morre de ciúme da sua relação com o papai, primo. Dê seu jeito! — Mirae comentou também enciumada.
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  — Para de implicar com ele, Mirae! Todo mundo sabe que você tem ciúme igual ao tio . — Brigitte falou.
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   riu puxando as duas primas mais novas para um abraço de urso, em cada lado do seu corpo, as sufocando em seu peitoral. As meninas reclamam e , Go e Emma riam.
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  — Querida, muito obrigada por tudo o que fez por nós e está fazendo por ele. — Emma se aproximou devagar de , e comentou baixinho em gratidão. — Você trouxe um renovo na vida do . E nunca esqueceremos isso.
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  — Imagine, Emma. Eu não fiz nada… Só dei um trabalho que ele gosta e…
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  — Não, . — Go Chang a interrompeu — Você deu muito mais que um trabalho, e sabe disso. O haras tem sido para ele uma nova possibilidade, e estar auxiliando o em realizar o sonho dele… É muito generoso da sua parte.
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  — Estamos ansiosos para que você ainda dê muito mais a ele, querida! — Emma comentou docemente acariciando o rosto dela — Sabe que ele gosta muito de você, não sabe?
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  — Já falei para ela isso, Emma. Mas, a verdade é que se o não se confessar para ela, a não vai conseguir se confessar para ele. — Go Chang comentou com seu habitual ar de sabedoria.
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  — Que história é essa, Go? — sentiu o rosto ruborizar e mudou o olhar para e as primas que se falavam agora com a família Keller.
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  — Vocês dois estão apaixonados, ou no mínimo muito envolvidos um com o outro, e espero que façam o que deve ser feito. Ter você na minha família vai ser uma grande felicidade. — Go Chang declarou e tocando o ombro dela disse: — Assim como permitiu se sentir feliz de novo fazendo o que gosta, por ele, … Se permita ser feliz com ele, sim?
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  A mulher nada respondeu. Fritz e Annelies se aproximaram para despedir e abraçar o casal de tios e amigos. se colocou ao lado de , notando o rubor na face dela, e mesmo sorrindo a encarou preocupado:
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  — Está tudo bem?
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  — Uhum! — comentou com um sorriso estranho — Seus tios… Eles vão fazer falta.
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  — A gente pode ir visitá-los em Genebra, um dia. — O rapaz comentou com uma simplicidade que pegou desprevenida.
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  — Como assim?
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  — Ué, visitar. Passar um ou dois dias por lá. Você nunca foi na casa do tio Go?
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  — Fui, claro… Mas… — Ela parou de falar encarando os olhos grandes e inocentes de sobre si — Nada. Tem razão, podemos ir visitá-los depois.
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  Ele sorriu e logo, estavam acompanhando a saída da família de . No dia seguinte, foi a vez de Cedric, Gregor, Niklaus e suas namoradas irem embora. Os Keller ficaram observando os filhos partindo em seus carros, um tanto emotivos, até que abraçando a senhora Annelies e Fritz, soltou:
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  — Não fiquem tristes! Vamos todos à Genebra depois, visitar todo mundo! — Animado, ele deixou um beijo no rosto de Annelies que risonha comentou:
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  — Você é mesmo um homem de ouro, !
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  O casal Keller saiu em direção ao restaurante do haras, enquanto e ficaram os observando afastar.
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  — É! Vamos voltar às nossas vidas, também! — comentou caminhando à frente.
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  Naquele dia em questão, talvez em razão do frio que aumentara, seu joelho doía muito e caminhava puxando a perna, o que não era tão habitual. notou assim que a treinadora colocou-se a caminhar na frente dele, um tanto encolhida dentro das suas roupas grossas de inverno.
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  — ! — gritou-a à medida que caminhava até ela. — Você está bem? Desculpe falar isso, mas… Notei que a sua perna… Digo, você não me parece confortável…
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  O jeitinho cuidadoso e cheio de pausas, demonstrando o constrangimento de em tocar no assunto e a magoar sem querer, arrancou um sorrisinho de . O rapaz, que não era um garoto inocente, nem um homem maduro, no meio termo entre os dois, até era bastante fofo.
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  — É o inverno. Eu sinto dores mais frequentes no joelho, devido às placas e pinos… Fritz te contou aquele dia, não foi? Do meu acidente.
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  — Ah, sim. Ele comentou. — raspou a garganta, ficando ruborizado por saber o segredo dela.
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  — Você nunca me perguntou nada a respeito. Por quê?
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  — Eu imagino que não deve ser uma lembrança bonita. Não queria te causar algum incômodo.
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  — Entendo. — Ela sorriu e virou o rosto para ele, com uma expressão confiante: — Pode perguntar o que quiser. Graças a você, eu tenho deixado alguns fantasmas sobre isso para trás.
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  — Sério? Eu… Eu te ajudei? Como?
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  — O fato de estar treinando você. Eu nunca mais cavalguei mais do que algumas voltas em redondel para treinar os cavalos. Porém, quantas vezes eu já subi no Petrus para te mostrar uma técnica nessas nossas últimas cinco semanas? Foi como se eu tivesse deixado um medo e uma culpa pra trás… Então, obrigada por isso . Você… — começou a se sentir tímida, e parou de falar, mas os olhos ansiosos de ainda estavam sobre ela, e logo ele daria um jeito de pedir a ela que continuasse falando — Você tem me feito sentir boas coisas, bons sentimentos…
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  O rapaz sorriu de lado, um pouco discreto, e olhou para o chão franzindo o nariz como um garotinho que ganhou um presente. A caretinha de coelho que ele fazia, era uma das coisas mais adoráveis no homem que já havia notado, e ela não deixou de perceber a reação dele, então começou a rir.
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  — Você é mesmo muito fofo, ! — comentou.
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  — Ah não, fofo não… — Ele reclamou como se aquilo fosse tirar a sua virilidade. — Mas de qualquer maneira, obrigado. Obrigado por compartilhar comigo o quanto eu te ajudei. Eu ainda estava me sentindo um pouco culpado também por fazê-la… Ou melhor, por tê-la obrigado a fazer algo que não era o que você queria. Sei que foi um tanto chantagista te pedir ajuda com isso, pelos meus motivos.
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  — Seus motivos são lindos, ! — o interrompeu — Manter a promessa de uma amizade tão forte, fazer isso pelo Leon… Por você também, mas, muito mais por ele não é?
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  — Você já teve uma amizade assim?
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  — Eu tenho. A Crystal. E isso também é uma das coisas que você me ensinou. Eu não estava honrando a minha amizade com ela, me mantendo reclusa no que mais amo fazer…
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  — Bem… — se aproximou mais de tocando na mão esquerda dela, fazendo um carinho ali e encarando os olhos da mulher de um jeito absolutamente carinhoso e perto — Acho que temos aprendido muito um com o outro. Nem de longe eu sonhei que vir para este haras também me traria tantos sentimentos bons…
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   notou que o rosto de tornava-se mais próximo ao seu e ela não conseguia se afastar, era como um ímã. Naquele momento ela percebeu que sim, queria muito que a neve não tivesse tomado a atenção dela, porque devido ao floco que caiu no rosto dele, ela se afastou impedindo que um beijo acontecesse.
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  — Está nevando! — comentou ela depois de dar um passo para trás.
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  — Bem, então vamos entrar. — apertou mais firme a mão dela e saiu puxando-a com cuidado devido à perna da mulher em direção à casa dele, que estava próxima.
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  — , nós precisamos treinar. Eu pensei que…
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  — Preciso te manter aquecida. — comentou parando de caminhar e olhando para ela com um sorriso largo no rosto — Vamos esquentar seu corpo lá na minha cozinha!
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  Ele virou-se para entrar puxando-a de novo, e estava com os olhos arregalados e totalmente sem ação. O que ele queria dizer com aquilo? De repente, tomada de um sentimento juvenil de timidez e euforia, a mulher imaginou se ele estava se referindo aos pensamentos impuros que surgiam na mente dela.
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  Quando parou diante da porta da cozinha, soltou a mão dela e foi até sua mesa arrastando a cadeira e dizendo para a mulher imóvel e apreensiva:
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  — Sente-se! Eu aprendi a fazer o melhor chocolate quente com a Annelies! Ela me passou inclusive os segredos dela! Vou preparar um para você.
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   então se deu conta. Era apenas um chocolate quente. Quão ridícula ela havia sido! Do nada, zombando de si, ela começou a rir e sacudir a cabeça de um lado ao outro.
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  — Que foi? — perguntou curioso.
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  — Nada, eu só… Me lembrei de algo. — mentiu ela se desculpando e se sentando à mesa.
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  Enquanto preparava o chocolate, ela massageava o próprio joelho. O rapaz ligou o aquecedor da casa dele, e não demorou para que toda a cabana estivesse quentinha e confortável.
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  — Não se preocupe com os dias que não puder me acompanhar no treino, . Eu tenho mantido a minha rotina todos os dias, mesmo nessa semana que fizemos uma pausa para organizar o haras. E tenho estudado também por alguns vídeos na internet. Então, acho que posso me sair bem quando você não puder me acompanhar. Não quero que sacrifique seu joelho nesse inverno castigante por minha causa!
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  — Não se preocupe você, . Eu te dei a minha palavra, então eu vou te ensinar tudo o que sei. Até porque…
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  Ela ponderou se deveria contar, e ele serviu as duas canecas de chocolate, entregou uma para ela e sentou-se na cadeira ao lado dela. Mantendo-se de frente para a mulher, perguntou:
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  — Até porque?
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  — Bem, não se sinta pressionado, ok? — puxou o celular do bolso e mostrou um encarte digital de uma competição pequena que ocorreria em Genebra no começo do próximo mês. — Eu pensei em te inscrever. O haras vai te patrocinar, então não se preocupe com os gastos. É uma competição pequena para jockeys iniciantes, mas é importante que você comece. Quero que você inicie com a modalidade de saltos, então nós focaríamos o seu treino nisso… O que acha?
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  — Ah, acho incrível! — sorriu largamente enquanto tomava uma golada de sua bebida — Uow! Eu achei que ia demorar para começar a competir, !
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  — Não! — se empolgou com a empolgação dele, e sorrindo largamente também começou a falar um pouco mais animada e quase eufórica: — O inverno é ótimo para iniciar a competir, ! O clima frio torna o trabalho mais árduo, e você vai começar aprendendo a lidar com os cuidados com os animais e com a preparação em uma temporada mais difícil! Petrus é um ótimo cavalo, mas precisamos de um mais jovem para você, então vamos providenciar um animal mais vigoroso!
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  — O Diamante! Ele tem porte de campeão! — mencionou um dos animais do haras que ele tratava.
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  — Ficou doido? — no entanto, bronqueou dando um tapinha no joelho de — O Diamante é um temperamental! Nem mesmo eu consegui adestrá-lo direito! Não é à toa que ele é um alazão de exibição, ouviu? Nem me ouse montar naquele cavalo, !
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  O rapaz começou a rir da preocupação exagerada de sua treinadora.
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  — Tudo bem, não fique nervosa. Eu só sugeri.
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  — Péssima sugestão! — falou com um bico e bebeu outro gole de seu chocolate quente, e também tomou a sua bebida a olhando de um jeito divertido sobre a caneca.
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  — Bom saber que se preocupa comigo, coach. — Ele falou em tom malicioso, e quase engasgou.
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  Ela tirou a caneca dos lábios a repousando sobre a mesa, e ruborizada respondeu:
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  — É claro que me preocupo! Você está sob a minha responsabilidade com isso e… Enfim, eu vou adquirir um cavalo pra você, ok? Fica como meu presente e nem venha reclamar que… — A mulher parou o discurso ao ver que estava rindo dela de um jeito discreto — Oras, mas do que está rindo, ?
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  Aquela era a deixa que ele queria. aproximou a cadeira dele um pouco mais, deixando o corpo mais perto do dela. arregalou os olhos surpresa, e ainda continuava ruborizada o encarando, quando tocou no rosto dela com delicadeza. Percebendo que a face da mulher cabia quase inteira na sua palma, ele deu um sorrisinho e explicou:
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  — É que você fica linda mesmo de bigode. — E sem esperar resposta, uniu os lábios dele aos dela, sentindo o gosto do chocolate que formava um bigodinho sobre os lábios de , mas também, o gosto do afeto mútuo.
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   foi pega de surpresa, mas se afastou rapidamente apenas para ver a reação dela, e saber se teria consentimento de continuar. Ele tocou de novo os lábios dela, olhando um nos olhos do outro, e sem se fazer de rogada, deixou que ele a beijasse e também aproveitou o momento. O beijo calmo e consensual entre os dois, logo tomou um pouco mais de vigor, quando a mão livre de desceu para a cintura da mulher a abraçando e se aproximando ao ponto dos dois, ficarem sentados pela beiradinha de suas cadeiras.
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  — Uau. — comentou logo que o beijo acabou — Eu não esperava por isso…
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  — Eu gosto de você. — declarou encarando os olhos dela, mais uma vez, a surpreendendo — Eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente, , mas eu gosto mesmo de você. Será que você me deixaria ser mais do que seu aluno?
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  — Depende… — comentou um tanto hipnotizada — O que você quer ser além disso?
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  — Seu homem.
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  Ela não imaginava que debaixo daquela brandura e daquela animação juvenil que havia na personalidade do seu tratador e recém pupilo, havia uma maturidade masculina capaz de realmente aquecer o corpo dela como ele prometeu que faria. Ela não respondeu, porque ficou um tanto abismada com a frase “seu homem”. com medo de ter sido impetuoso, observava as reações dela esquadrinhando cada plano do rosto de , com seus olhos de jabuticaba curiosos. Quando ela abriu a boca para respondê-lo, novamente colou suas bocas. Se ela dissesse sim, ele tentaria deixá-la segura de ter feito a escolha certa com aquele outro beijo. Se dissesse não, o beijo seria o tiro de misericórdia para tentar convencê-la.
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  Enquanto a língua de explorava a sua boca, causando arrepios em regiões que sequer se lembrava sentir aquele tipo de sensação, como a ponta das orelhas, a mulher se percebeu em um filme da própria vida. Desde seu último e longínquo ex-namorado, até a declaração de Fabrício. Desde o convite de casamento do Fabrício chegando, até ela chorando em seu escritório aflita com o tempo que “perdeu” em sua própria vida solitária na Suíça, e coincidentemente, no dia em que chegou no haras… Tudo isso passava em sua mente em flashes. foi tomada de uma coragem que só mesmo o renovo de todas as emoções que lhe proporcionava desde que se aproximaram era capaz de ofertá-la. E com essa coragem, ela o empurrou parando o beijo e respondeu ofegante:
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  — Você pode ser meu homem, mas eu não tenho mais idade de ficar enrolando uma relação então…
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  — Seu namorado, então! — declarou interrompendo-a quase desesperado — Minha nossa, eu nunca senti isso! Eu faço o que você quiser, mas… Não me dá um fora, por favor! Eu até caso com você , porque eu estou idiotamente apaixonado desde que te conheci!
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  — Você está sendo imprudente, não? Casar, ficou doido? Estamos nos conhecendo há pouco tempo, menino! — começou a rir vendo a expressão assustada de .
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  — Você não ia me dar um fora?
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  — Claro que não! Eu só ia dizer que não quero que a gente fique numa pegação sem algum futuro, porque eu também estou gostando de você, seu bobinho.
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  — Sério?
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   segurou a gola da camisa dele com as duas mãos o puxando para mais perto e falou:
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  — Quer namorar comigo?
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  — Graças a Deus! — declarou e novamente beijou a mulher.
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  Ele se levantou em seguida e puxou ela em um abraço apertado e carinhoso. Depois daquela mudança brusca em suas vidas, porém uma mudança necessária e boa, eles foram sentar no sofá da sala de , terminando de beber seus chocolates quentes, abraçadinhos um ao outro, entre beijinhos e muitos planos para a carreira e competição que teria.
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   e passaram a treinar fortemente para a competição de inverno, e a cada momento em que eles passavam juntos, os dois compartilhavam ainda mais as suas histórias. e ela contaram para os Keller e também ao tio Go Chang, que estavam namorando, o que foi uma grande alegria para todos que observaram os olhos um do outro brilhando quando estavam juntos.
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   nunca escondeu a admiração e afeto que nutria pela sua coach e chefe, enquanto ela, no começo tentou se enganar: “é apenas um momento de carência, ”, “ele é só um rapaz muito gentil, não imagine coisas, ”, “o que um cara lindo como ele veria em você, uma mulher de trinta anos solitária e cheia de traumas?”, “com certeza ele não tem nenhum interesse por você, ! Pare de gostar dele!”… Esse tipo de pensamento passava na mente dela todas as vezes em que os dois estavam treinando ou fazendo algo, e uma situação de tensão física se colocava entre eles.
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   havia se tornado uma mulher insegura demais desde que foi para a Suíça, e foi com que ela voltou a perceber a mulher forte, destemida, apaixonante e digna de amor que ela era. notou que o que deveria servir como uma rota alternativa da sua vida, um caminho novo para o destino que ela gostaria de escrever para si, havia se tornado o ponto final. Desde que se mudou para a Suíça, trancou-se em uma solidão falsamente vestida de solitude. E tudo mudou no dia em que o rapaz coreano de corpo escultural, sorriso fofo e olhos incendiantes, surgiu em sua porta. E tudo se ressignificou no dia que a ofereceu um chocolate quente e deu a ela, uma confissão e beijos com gosto adocicado. A ex-jockey brasileira, com , antes mesmo de começar a gostar dele, superou a sua culpa pelo acidente de Crystal e o próprio, superou seus medos de machucar mais alguém com ideias de competição. Principalmente quando começou a participar de algumas provas e vencê-las.
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  Ela nunca mais havia montado em um cavalo desde Crystal, e foi no cavalo de que ela superou esse trauma. Eles estavam a um dia de viajar para o Brasil, afinal, os pais dela conheceram o rapaz pelo computador, mas tanto eles quanto a própria gostaria que fosse pessoalmente ser apresentado. E lógico, ele precisaria conhecer Crystal! Então, a viagem para o Brasil foi providencial, além de visitar a família e apresentar o namorado, também tinha o casamento de Fabrício para ir, dessa vez, acompanhada.
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  Bammie, o cavalo que ela deu de presente para , trotava com o rapaz no redondel, quando ela surgiu subindo na cerca e o apreciando de longe.
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  — Hey, cavaleiro! — Ela gritou para que o namorado a escutasse — Não vai fazer as suas últimas malas?
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  — , venha cá! — gritou de volta, sorrindo largamente. Estava cômico, dessa vez com um chapéu de cowboy na cabeça. Ele geralmente usava aquele chapéu para trabalhar.
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   trotou até a porta do redondel e a abriu, permitindo que ele e Bammie saíssem do redondel.
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  — Onde vai, ?
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  — Cavalgar no pasto livre com o Bammie, antes da viagem, prometi para ele.
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   assentiu sorrindo e desceu do cercado se preparando para ir para casa.
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  — Vem comigo? — pediu.
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  Ela sentiu o sorriso esmorecendo. Já havia montado em cavalos de novo, mas sempre dentro do redondel, e em momentos de treinos. Bammie era dócil, mas o pasto solto era enorme. começou a se sentir um pouco agitada por dentro, e estendeu a mão diante dela, do alto de seu cavalo. Ele sorria passando confiança quando disse:
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  — Você pode vir atrás de mim, mas eu adoraria ver a minha amazona no comando, me levando para um galope incrível como li que eram os seus…
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  — , eu… Não faço isso há muito tempo!
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  — Por isso mesmo, meu amor. Crystal não pode mais fazer isso, mas você não acha que ela gostaria que ao menos você fizesse, se ela pudesse falar?
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   sentiu um embargo na garganta.
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  — Eu estou com você. — falou firme, a encarando de um jeito encorajador.
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  A mulher então respirou profundamente. Ele apeou do cavalo. se aproximou com cuidado de Bammie, que tranquilo deixou-a fazer o que fosse necessário. Ela colocou o pé e a mão no apoio da sela, deu impulso, e subiu. Quando sentou-se no lombo do animal, olhou para frente e não havia cerca. Só o grande pasto verde, com algumas florezinhas sobreviventes do inverno, a sair do chão. A lágrima escorreu no rosto dela, e aproximou-se. Ele pegou na mão dela, e limpou a lágrima que molhava sua face, e sorriu um pouco medrosa para o namorado. subiu com o impulso que ela ajudou, e se posicionou atrás dela a abraçando firmemente na cintura.
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  — Quer ajuda? — Ele perguntou, pousando as mãos dele para sobre as dela, nas rédeas do cavalo.
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  Ela apenas assentiu que sim, e juntos deram o primeiro comando na rédea para o cavalo trotar. E aos poucos, do trote à cabaldaga. Quando viu que a mulher estava mais tranquila, sendo tomada pela hipnose que era voltar a cavalgar livremente, ele tirou suas mãos das rédeas e apenas apertou a cintura de . Assim que se deu conta de agarrado em si, viu que estava guiando Bammie sozinha, e por isso, foi arrebatada por mais uma cura de um trauma.
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  Eles cavalgaram livres por mais ou menos meia hora ao longo da propriedade do haras. Annelies e Fritz, mal puderam acreditar quando viram ela guiando um cavalo e galopando de verdade, fora de um redondel. Ela apeou de Bammie junto com , na frente da casa dela. Outro funcionário perguntou se poderia deixar Bammie na baia dele, até já esperando o “não” de , que fazia questão de cuidar pessoalmente do animal.
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  — Pode levar, mas tenha cuidado com ele, por favor. — pediu e virando-se para comentou: — Tenho que terminar as malas. Afinal, eu ainda tenho uma grande parte da sua vida para conhecer!
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   sorriu largamente e o abraçou apertado, beijava o namorado e declarava confissões de amor no ouvido dele enquanto entravam na casa dela, e claro, agradecia por ele existir.
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•🏇•

  Cerca de três anos depois, foi competir no Brasil e venceu tudo. Ele e estavam animados com as vitórias, mas infelizmente, o momento de Crystal estava delicado de novo. A idade já avançada e alguns problemas de saúde devido ao acidente dela, eram as causas que os veterinários diziam. Porém, para , ela sabia que a decisão de Crystal tinha mais a ver com o fato de que, agora, a amiga viu que sua tutora estava bem e feliz, e por isso, poderia seguir seu descanso.
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  Para , os animais são anjos enviados por Deus quando ele quer se fazer mais presente perto de nós. achava aquele um bom motivo para explicar o motivo de Crystal partir.
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   caminhava puxando a rédea de Crystal pelo Solar da Paz, especificamente no campo de margaridas. A égua mancava apesar da prótese, e a tutora também.
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  — Ei Crystal, e eu estamos cada dia mais felizes e apaixonados. E ele não para de ganhar as competições, Crys! Eu estou feliz com ele, sabe? Acho que ele pode ser “aquele cara” que eu te contava quando nós duas ainda éramos potrinhas… O me faz muito bem, de verdade, mas eu confesso que gostaria de viver pertinho de você. Tenho pensado se você gostaria disso, digo, de eu voltar ao Brasil com o . E o Bammie, é claro. Você ia gostar do Bammie, ele é bem parecido com você! — falava enquanto guiava a amiga ao seu lado, caminhando sendo segurada pelas rédeas, e a égua de repente relinchou enfezada. — Ok, ok, me desculpe! Eu só quis dizer que o comportamento de vocês é igual, sua estressadinha! É claro que você é única no mundo, Crystal.
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   riu e parou de caminhar, o animal fez o mesmo. Então a tutora tocou a cara da égua, e colando a sua testa na dela, disse:
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  — Eu nunca te esquecerei Crystal, você foi, é, e para sempre será a minha melhor amiga desde a infância, a minha única mangalarga de uma vida inteira. Eu te amo, Crystal, e adoraria que você ficasse muito bem, seja do meu lado na Suíça ou não.
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  O relincho da égua doi calmo, quase como se concordasse com . A égua morreu depois daquele reencontro com a antiga tutora. Depois daquele passeio as duas retornaram para a estrebaria, onde alocou Crystal em sua baia, e no dia seguinte a sua amiga estava dormindo serena no chão, tal como um cavalo nunca faz. Crystal estava deitada sobre o feno, e não tinha mais vida. O baque só não foi maior, porque sabia que ela e a amiga estavam em paz novamente.
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•🏇•

Anos Depois…

  — Eu nunca vou te esquecer, Crystal. — comentou acariciando a fotografia dela e de sua égua, na última viagem em que se viram, e que nunca saiu do porta retratos de sua casa.
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  — Crystal! — gritou invadindo a sala e pegando de surpresa — Cadê ela, amor? Fugiu pelada do banho de novo!
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   olhou ao redor, e ouviu as risadinhas finas e marotas da garotinha saindo de trás do sofá. Se ajoelhando, engatinhou em silêncio até ela. observava a cena, silencioso e rindo.
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  — Te achei! Sua sapeca! O papai já não explicou que não pode sair pelada? Filha, faz frio aqui em Berna! — comentou pegando a mantinha que jogou para ela e enrolando a garotinha.
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  A criança ainda ria, mas colocou as mãozinhas no rosto da mãe e respondeu inesperadamente, surpreendendo tanto quanto :
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  — Eu também nunca te esqueci mamãe! Eu te amo mamãe! Você sabia disso?
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   olhou para sua filha, um tanto assustada. Era como se ela estivesse olhando nos olhos não de sua criança, mas de sua antiga amiga. Era como se a alma da égua tivesse reencarnado em sua criança. entendeu que o momento era de um reencontro com o passado de , e se abaixou sorrindo e abraçou as duas mulheres de sua vida. estava chorando agarrada em sua filha.
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  — Não chora mamãe! Eu também nunca te esqueci, tá? Nem quando a vovó Annelies fez aquele bolinho que eu gosto muito! Lembra? Eu trouxe um pedacinho pra você!
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  — Eu também te amo filhota!
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   e riam.
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  — Agora suba mocinha do papai! Você tem que se vestir, antes do papai ir treinar as crianças na equoterapia!
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  A menina de seis anos subiu correndo, animadinha.  ajudou a se levantar e deu um beijo na boca da esposa a confortando.
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  — Eu não aguento essa criança que adora correr por aí pelada, enquanto a mãe eu tenho sérias dificuldades de fazer tirar a roupa!
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  — Seu bobão! Só por causa disso, vai ser fácil pra você hoje! Mas só se chegar mais cedo da equoterapia e preparar um chocolate quente para Crystal e eu!
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  — Eu faço.
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  — Por mim ou pela Crystal?
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  — Por você, e pela Crystal.
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   beijou , que logo saiu da sala sob risos e piscadinhas apaixonadas com a esposa. A mulher ouviu a filha a chamando no andar de cima, e beijou o porta-retratos mais uma vez, antes de subir para vestir sua criança.
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Fim

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