Him&I
Primeiro Capítulo
respirou profundamente enquanto encarava o caixão da mãe. A vida para as duas nunca havia sido fácil, e agora ali estava ela, aos dezessete anos recém completados, sozinha. Total e completamente sozinha.
A morte precoce da mãe fez um choque de realidade percorrer o corpo e a mente de . O que seria dela agora? Elas não tinham nenhum parente vivo na Inglaterra, a mãe tinha amigos do trabalho que sempre que podiam as ajudavam com o que era possível. Mas, no geral, era ela pela mãe, e a mãe por ela.
Como diabos aquilo foi acontecer? Ela viu a mãe antes que as duas saíssem — ela para o colégio e a mãe para o trabalho, e tudo estava perfeitamente normal.
De repente, quando ela voltou do colégio encontrou a mãe caída ao chão, já sem vida, vítima de um infarto fulminante. Os vizinhos a ajudaram a chamar pelo socorro, já que ela se desesperou e não soube como agir.
E agora, ali estava ela, se despedindo da pessoa que ela mais amava no mundo.
fechou os olhos por um momento, tentando absorver a dor que parecia esmagá-la por dentro. O som abafado das pessoas sussurrando ao redor a irritava. Todos os olhares de pena sobre ela a faziam se sentir menor, mais frágil. Ela não queria essa compaixão, queria apenas sua mãe de volta.
Quando abriu os olhos, observou o caixão ser lentamente fechado, como se aquilo estivesse marcando o fim de tudo o que conhecia. A cada movimento, parecia que um pedaço dela também estava sendo enterrado. Sentiu uma mão leve pousar em seu ombro, e olhou para o lado para ver a senhora Margareth, a vizinha da frente, que havia estado ao seu lado desde o momento que o pesadelo começou.
— Vai ficar tudo bem, querida — disse Margareth com um sorriso triste.
tentou responder com um aceno, mas a verdade era que nada estava bem, e ela não sabia como poderia ficar.
O cortejo até o cemitério foi silencioso. manteve o olhar fixo nas mãos, mal ouvindo as palavras do padre. Quando o caixão desceu na terra fria, o choque da realidade se intensificou. Um vazio profundo se instalou em seu peito, e as lágrimas que ela tentava segurar há dias finalmente rolaram por seu rosto. Sozinha. Totalmente sozinha.
As últimas pessoas começaram a deixar o cemitério, e permaneceu imóvel, sentindo o vento gélido que parecia cortar sua pele. Foi quando uma mulher, que ela não reconhecia, se aproximou.
— ? — perguntou a mulher com voz suave, mas profissional.
ergueu o rosto, limpando as lágrimas rapidamente.
— Sim?
— Meu nome é Sarah. Sou assistente social e precisamos conversar. — O olhar da mulher era gentil, mas havia algo sério em sua expressão. — Posso te acompanhar até em casa?
O estômago de revirou. A palavra “assistente social” soava como um aviso. Ela sabia o que aquilo significava. Ou achava que sabia. Iriam mandá-la para um abrigo, para um orfanato talvez. Ela seria apenas mais uma adolescente sem família, sozinha e sem futuro.
— Eu… eu não preciso ir para um orfanato. — tentou manter a voz firme, mas a insegurança transpareceu. — Eu posso cuidar de mim mesma.
Sarah deu um pequeno sorriso, compreensivo.
— Vamos conversar sobre isso, está bem? Não se preocupe.
Elas caminharam em silêncio, deixando para trás o cemitério e a lembrança mais dolorosa de . Cada passo parecia mais pesado, o futuro incerto começava a pairar como uma sombra sobre sua cabeça.
abriu a porta da casa com a mão trêmula. O cheiro familiar de lavanda e café ainda pairava no ar, como se sua mãe estivesse ali, preparando o jantar ou arrumando algo na sala. Cada detalhe da casa era um lembrete doloroso. O sofá desgastado onde costumavam se sentar juntas para assistir filmes, as cortinas que a mãe tinha costurado para economizar dinheiro, o porta-retratos com uma foto das duas em um parque, sorrindo sem saber o que o futuro lhes reservava.
deu um passo hesitante para dentro, sentindo o peso das lembranças. Tudo ali estava impregnado com a presença de sua mãe, e agora tudo parecia vazio, como se o coração da casa tivesse desaparecido junto com ela. Ela largou a bolsa ao lado da porta, sem se preocupar onde caía. Seus olhos percorreram o pequeno apartamento como se estivesse vendo tudo pela última vez.
Ela caminhou até a cozinha, onde a mãe costumava preparar o chá todas as noites. O silêncio era ensurdecedor. Cada canto trazia uma memória, cada objeto parecia ter uma história ligada a sua mãe. se apoiou no balcão, sentindo a onda de tristeza a envolver mais uma vez.
Sarah entrou logo atrás, fechando a porta com cuidado. Ela observou o ambiente por um momento, respeitando o espaço de , antes de se aproximar lentamente.
— Sei que isso é difícil para você — disse Sarah, com um tom gentil. — Mas precisamos conversar sobre o que vai acontecer agora.
desviou o olhar, sentindo as lágrimas ameaçando voltar.
— Eu não quero falar sobre isso. Não quero sair daqui.
Sarah suspirou, sentando-se na mesa da cozinha e indicando para fazer o mesmo.
— Eu entendo, . Você perdeu a pessoa mais importante da sua vida, e é normal sentir que nada mais faz sentido. Mas você não pode ficar sozinha, principalmente nesse momento.
sentou-se, relutante, seu coração batendo rápido. O medo de ser levada para um lugar estranho, para longe da casa que ainda mantinha o cheiro e as lembranças de sua mãe, a deixava ansiosa.
— Eu sei o que vai acontecer — disse , olhando para Sarah. — Você vai me mandar para um abrigo ou um orfanato. Eu já ouvi histórias.
Sarah a olhou com ternura, balançando a cabeça suavemente.
— Não, , você não vai para um orfanato. Há outra solução.
O estômago de deu um nó. Ela não conseguia imaginar qual seria essa “solução“.
— Você tem um parente que pode cuidar de você — Sarah começou, olhando diretamente nos olhos de . — Seu pai.
O coração de praticamente parou naquele momento. Ela olhou para a assistente social, incrédula.
— Meu pai? — Sua voz saiu num sussurro.
— Sim, ele foi informado da situação, e já está cuidando dos preparativos. Ele quer que você vá morar com ele.
balançou a cabeça lentamente, sentindo o chão desaparecer sob seus pés.
— Não… não pode ser. Ele foi embora, nos deixou… eu não o vejo há dez anos.
Sarah manteve o tom calmo, mas firme.
— Eu sei que isso é um choque, mas ele tem a responsabilidade legal. Ele vive na Coreia do Sul agora e quer que você vá para lá o mais rápido possível.
— Coreia do Sul? — As palavras ecoaram na mente de . Tudo ficou turvo. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. — Ele nem se importou em me ver por todo esse tempo, e agora quer que eu vá morar com ele?
Sarah se inclinou ligeiramente, tentando suavizar a notícia.
— Eu entendo que é uma situação muito complicada, mas ele é seu pai. E, neste momento, é a melhor opção para você.
sentiu um nó apertando sua garganta. A ideia de deixar para trás tudo o que conhecia, tudo o que ainda tinha de sua mãe, e ser forçada a viver com um homem que era praticamente um estranho, a aterrorizava. Ela queria protestar, gritar, fugir, mas sabia que não tinha escolha.
Ela abaixou a cabeça, sentindo-se derrotada.
— Eu não quero ir.
Sarah suspirou, compreendendo a dor de , mas também ciente de que não havia como mudar aquela realidade.
— Eu sei, . Mas não está em nossas mãos. Seu pai está disposto a te receber, e vamos te ajudar com toda a transição.
ficou em silêncio, encarando as mãos trêmulas. Tudo o que conhecia estava desmoronando, e ela seria levada para um lugar que não fazia ideia de como seria.
***
subiu as escadas até o quarto, sentindo os passos pesados enquanto a realidade da situação finalmente começava a se firmar. Ela ainda não conseguia acreditar que, em poucos dias, estaria deixando a Inglaterra para morar com o pai — alguém que ela mal conhecia. Tudo parecia surreal.
Ao abrir a porta de seu quarto, o cheiro familiar de flores e perfume barato encheu o ar. O espaço era pequeno, mas cheio de personalidade: as paredes estavam cobertas de pôsteres de suas bandas favoritas, a cama desarrumada ainda tinha o lençol que sua mãe havia lavado no fim de semana, e uma pilha de livros sobre sua mesa lembrava os planos que agora pareciam tão distantes.
Ela respirou fundo, tentando controlar a angústia que subia. Precisava arrumar suas coisas, mas, ao invés de pegar a mala, ficou parada no meio do quarto, observando tudo ao redor. Cada objeto parecia ter uma história, uma memória ligada a sua vida com a mãe. Como ela poderia simplesmente deixar tudo aquilo para trás?
Depois de alguns minutos, forçou-se a abrir o armário. Pegou uma mala velha, quase rasgada, que sempre usava para viagens curtas com a mãe. Desta vez, não seria uma viagem comum. Desta vez, ela não voltaria.
Com mãos trêmulas, começou a dobrar suas roupas de forma mecânica. Colocou alguns pares de calças, camisetas, roupas íntimas e, por fim, o suéter favorito que sua mãe lhe deu no último Natal. Cada peça parecia pesar o dobro do normal, e seus olhos ficaram marejados a cada dobra.
Do outro lado da porta, Sarah estava esperando pacientemente. A assistente social tinha deixado claro que passaria dois ou três dias em um abrigo temporário, até que todos os documentos e passagens estivessem prontos para a viagem à Coreia do Sul. sabia que não tinha escolha, mas o medo de estar sozinha naquele lugar desconhecido a fazia hesitar.
Ela pegou o porta-retratos que estava na cabeceira da cama. A foto antiga de sua mãe sorrindo para a câmera, com o braço ao redor dela, quando ainda era pequena. Aquela imagem parecia ser a única coisa que mantinha sua sanidade intacta. Com cuidado, colocou o porta-retratos dentro da mala, entre as roupas, certificando-se de que não seria quebrado.
Quando já estava quase terminando, parou em frente ao espelho. O reflexo de uma garota magra e de olhos inchados de tanto chorar a encarava. Ela mal se reconhecia. Queria gritar, fugir, voltar no tempo, mas tudo que restava era aquele vazio insuportável.
Depois de pegar seus livros e alguns objetos pessoais, fechou a mala com um estalo seco. O quarto agora parecia ainda mais vazio, como se a vida tivesse sido drenada dele. olhou em volta mais uma vez, tentando gravar cada detalhe em sua mente, sabendo que aquela poderia ser a última vez que veria aquele lugar.
Ela desceu as escadas com a mala arrastando-se atrás dela, cada batida nos degraus ecoando pela casa. Sarah levantou-se do sofá ao vê-la.
— Está pronta? — A assistente social perguntou com delicadeza.
apenas assentiu, sem conseguir responder.
— Sei que isso é assustador, mas não será por muito tempo — Sarah tentou confortá-la. — O abrigo é apenas uma solução temporária. Logo você estará com seu pai, e talvez, com o tempo, as coisas fiquem mais claras.
apenas olhou para a porta da frente, a mala pesando em sua mão. Ela não tinha certeza se queria que as coisas ficassem claras.
***
O carro estacionou em frente a um prédio discreto, de aparência simples. O abrigo temporário era pequeno, com uma fachada de tijolos antigos e janelas de vidro opaco. observou o lugar pela janela do carro, sentindo uma onda de apreensão tomar conta de seu corpo. O mundo ao seu redor parecia turvo, como se estivesse se movendo em câmera lenta.
Sarah desligou o motor e virou-se para ela.
— Chegamos, . — Sua voz era suave, tentando passar algum tipo de segurança, mas sabia que não importava o que ela dissesse, o sentimento de abandono era algo que não poderia ser apagado tão facilmente.
olhou para o prédio, o coração acelerado. O pensamento de passar ali os próximos dias, sem ninguém que conhecesse, apenas aumentava sua ansiedade. Mas o que ela poderia fazer? Não havia outra opção.
— Vamos, eu estarei com você o tempo todo. — Sarah abriu a porta e saiu do carro, caminhando até o porta-malas para pegar a mala de .
Relutante, soltou o cinto de segurança e saiu do carro, o vento frio da tarde tocando seu rosto. Ela abraçou a si mesma enquanto caminhava em direção à entrada do prédio, seus passos pesados e inseguros.
Ao entrar, foi recebida por um cheiro leve de desinfetante e o murmúrio distante de conversas. A recepção era simples, com cadeiras de plástico dispostas ao longo da parede e uma mesa de madeira onde uma funcionária estava sentada, preenchendo alguns papéis. O ambiente era limpo e organizado, mas parecia vazio de vida, como se todos ali estivessem apenas esperando o tempo passar.
— Olá, Sarah — a recepcionista sorriu gentilmente, acenando para em seguida. — Você deve ser a , certo?
assentiu, sentindo-se pequena e desconfortável. A assistente social fez questão de se aproximar da mulher atrás da mesa, trocando algumas palavras em um tom baixo, enquanto ficava de pé, tentando controlar a ansiedade crescente.
— Ela ficará no quarto três — disse a recepcionista, entregando a Sarah uma chave pequena. — Vou mostrar o caminho.
Sarah gesticulou para acompanhá-las enquanto caminhavam pelos corredores silenciosos. O lugar não era assustador, mas a atmosfera de transição e incerteza a fazia se sentir ainda mais perdida. As paredes eram de um bege desbotado, sem qualquer decoração, e o som dos passos ecoava alto, como se o silêncio amplificasse cada movimento.
Finalmente, pararam diante de uma porta simples, com o número “3” pintado em preto.
— Aqui é onde você vai ficar, — disse a recepcionista, destrancando a porta e abrindo-a. — É um quarto individual, então você terá seu próprio espaço.
espiou para dentro. O quarto era pequeno, com uma cama de solteiro encostada na parede, uma mesa de estudo e um armário pequeno no canto. Era limpo e organizado, mas extremamente impessoal. Não havia nada ali que sugerisse que alguém morava naquele espaço, exceto por um cobertor dobrado sobre a cama.
— Vou deixar você se instalar — disse Sarah, colocando a mala de ao lado da cama. — Se precisar de qualquer coisa, a recepção está logo ali, e eu estarei em contato para te atualizar sobre os próximos passos.
olhou ao redor do quarto, lutando contra a sensação de desamparo. Não era a casa dela, nem de perto. E em breve, ela seria obrigada a deixar este lugar também.
Sarah deu um passo para mais perto, tocando levemente o ombro de .
— Vai ficar tudo bem, . Eu sei que é difícil acreditar nisso agora, mas as coisas vão se ajeitar com o tempo.
apenas assentiu, sem encontrar forças para responder. Ela queria acreditar, mas o futuro parecia um borrão distante e desconhecido. Tudo o que ela sabia era que o passado, a vida que conhecia, já não existia mais.
observou Sarah sair do quarto, deixando a porta entreaberta. O som dos passos dela desapareceu pelo corredor, e, pela primeira vez, estava completamente sozinha. O silêncio do quarto parecia amplificar seus pensamentos, o eco da solidão ressoando em seu peito. Ela olhou ao redor, tentando se familiarizar com o novo ambiente. A luz suave que entrava pela pequena janela não trazia consolo, apenas reforçava a simplicidade estéril do lugar.
Ela soltou um longo suspiro e sentou-se na beirada da cama, o colchão afundando levemente sob seu peso. A mala de viagem estava aos seus pés, ainda fechada. O que estava arrumado ali era tudo o que ela tinha agora: algumas roupas, o porta-retratos da mãe e alguns objetos pessoais. Tudo parecia temporário, assim como sua própria existência naquele momento. Um limbo entre o que ela conhecia e o que ainda não conseguia aceitar.
fechou os olhos por um momento, permitindo que as memórias a envolvessem. A sala pequena da casa onde morava com sua mãe, o cheiro de chá de ervas no fim da tarde, as conversas que tinham sobre os sonhos de ambas. Lembrou-se de quando sua mãe falava com orgulho sobre o futuro de , sempre encorajando-a a buscar mais, a lutar pelos seus sonhos. Mas agora, aqueles sonhos pareciam distantes, como se fossem parte de outra pessoa.
Ela abriu os olhos e, com um suspiro resignado, começou a desabotoar a mala. Pegou o suéter favorito de sua mãe e o abraçou por um momento antes de dobrá-lo e colocá-lo sobre a cama. Sua mente vagava, pensando no que viria a seguir. A ideia de ir para a Coreia do Sul, um país tão distante e desconhecido para ela, parecia mais uma fantasia do que algo real. Como ela se ajustaria a uma nova vida, com um pai que mal conhecia, e uma família que nunca havia visto?
Enquanto organizava suas roupas no pequeno armário, ouviu uma batida leve na porta. Virou-se, um pouco surpresa.
— Entre — disse, sua voz soando mais fraca do que pretendia.
A porta se abriu lentamente, revelando Sarah. Ela tinha uma expressão gentil, mas carregada de preocupação.
— Posso entrar? — Sarah perguntou, espiando para dentro.
assentiu, afastando-se da mala e se sentando na cama novamente. Sarah fechou a porta atrás de si e caminhou até ela, puxando uma cadeira para sentar-se próxima.
— Sei que é muita coisa para processar agora — começou Sarah, sua voz suave. — Mas eu queria conversar com você sobre o que vai acontecer nos próximos dias.
olhou para ela, sem muita expectativa. Já sabia que passaria alguns dias naquele abrigo, mas o que viria depois ainda era um mistério que ela temia desvendar.
— Como te expliquei antes, você vai ficar aqui até que todos os arranjos sejam feitos para sua viagem à Coreia do Sul — Sarah continuou. — Já estamos cuidando dos documentos e do seu voo. Eu imagino que você tenha muitas perguntas… sobre como será lá.
respirou fundo.
— E se eu não quiser ir?
Sarah hesitou por um segundo, inclinando-se um pouco para mais perto.
— Eu entendo que essa mudança seja difícil. Você passou por uma perda imensa e, honestamente, ninguém espera que você esteja preparada para isso. Mas legalmente, como você ainda é menor de idade, a guarda do seu pai foi restabelecida. Ele é sua única família agora, e quer que você vá morar com ele.
abaixou os olhos para o chão, sentindo uma mistura de frustração e tristeza. Ela não sabia nada sobre o pai. Ele foi embora quando ela ainda era pequena, e nunca fez muito esforço para manter contato. E agora, de repente, ele queria ser uma parte de sua vida?
— E… como ele é? — perguntou, sua voz quase um sussurro.
Sarah sorriu de leve, como se tentasse encontrar as palavras certas.
— Ele parece estar muito ansioso para te receber. Sei que as circunstâncias são complicadas, mas acredito que ele esteja genuinamente tentando. O que você vai encontrar lá é uma família que também está se ajustando a essa nova realidade, assim como você.
continuou em silêncio, processando as palavras de Sarah. Família. Era estranho pensar nisso. Uma madrasta que ela nunca conheceu, uma meia-irmã de apenas sete anos e dois filhos do casamento anterior da mulher. Era um quadro que ela mal conseguia imaginar, muito menos se ver encaixada nele.
— Eu só… — começou, mas sua voz falhou. Ela olhou para Sarah, tentando conter as lágrimas. — Não sei como lidar com tudo isso. Sinto que minha vida virou de cabeça para baixo e eu não tenho controle sobre nada.
Sarah assentiu, estendendo a mão para tocar o ombro de em um gesto reconfortante.
— Eu sei que parece assim agora. E é normal se sentir perdida. Mas, por mais difícil que seja, você vai encontrar seu caminho. Dê a si mesma tempo para se adaptar. Não precisa ter todas as respostas de uma vez.
respirou fundo, tentando se acalmar. Ela sabia que Sarah estava certa. Talvez não houvesse outra opção, além de aceitar o que viria. Mas isso não tornava as coisas mais fáceis.
— Tudo bem — disse, sua voz um pouco mais firme. — Vou tentar.
Sarah sorriu de forma encorajadora, levantando-se da cadeira.
— Esse é o primeiro passo, . Um dia de cada vez.
Com isso, ela deixou o quarto, dando a um último olhar de compreensão antes de fechar a porta. Sozinha novamente, olhou para a mala aberta e para o quarto vazio. Ela ainda não sabia como seria seu futuro, mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era seguir em frente, mesmo que fosse em meio à escuridão.
***
Durante os dias e noites que se seguiram, viveu uma rotina monótona e silenciosa no abrigo, marcada por momentos de solidão e ansiedade. Os dias pareciam se arrastar, e a jovem encontrava pouco consolo em suas interações com os outros residentes. O ambiente era organizado e seguro, mas a sensação de estar temporariamente deslocada não a deixava se sentir em casa. Ela mal conseguia dormir nas primeiras noites, revirando-se no colchão desconfortável e mergulhando em pensamentos perturbadores sobre o futuro.
Nas horas vagas, se isolava, preferindo não fazer muitas amizades. O único som constante era o das crianças brincando no pátio, enquanto ela ficava sentada em um canto, observando de longe. Sua mente vagava entre as memórias da mãe e a incerteza do que a aguardava na Coreia. Cada canto do abrigo parecia reforçar a realidade de que sua vida estava prestes a mudar completamente, e ela não tinha controle sobre isso.
Sarah visitava com frequência, trazendo notícias sobre o progresso da viagem e tentando acalmar seus medos. Ela explicava pacientemente como as coisas funcionariam na Coreia, e que seu pai estava ansioso para recebê-la, mas ainda nutria uma sensação de abandono, uma parte de si questionando por que ele não havia feito mais parte de sua vida antes.
À medida que os dias passavam, a mala de continuava pronta, seus pertences organizados e à espera do momento do embarque. Ela tentava se distrair com pequenos livros ou música, mas nada parecia preencher o vazio. O tempo no abrigo, embora curto, parecia eterno. Cada refeição era tomada em silêncio, e a conversa ao redor dela raramente prendia sua atenção.
Finalmente, o dia da partida chegou. Sarah apareceu logo pela manhã, com a papelada finalizada e as passagens em mãos. sentiu uma mistura de alívio e medo quando começou a se despedir do abrigo, sabendo que aquela seria sua última noite ali. O pequeno quarto, que nunca fora seu lar, já estava vazio, e as poucas lembranças que ela acumulou no lugar rapidamente desapareceram em sua mente.
Enquanto ela e Sarah caminhavam até o carro que as levaria ao aeroporto, olhou uma última vez para o abrigo, tentando assimilar que essa era a última vez que veria aquele lugar. O sentimento de incerteza continuava a pulsar em seu peito, mas havia uma nova etapa à sua espera, e ela sabia que não podia fugir dela.
entrou no carro ao lado de Sarah, segurando a mala no colo, como se aquilo fosse sua única âncora de segurança. O som do motor do carro ecoava pelo silêncio pesado entre elas, enquanto o veículo se afastava lentamente do abrigo. Ela olhou pela janela, observando as ruas cinzentas de Londres, se perguntando quando ou se voltaria a vê-las. O vento que soprava contra o vidro parecia uma despedida fria e distante, como o adeus que ela nunca conseguiu dar à mãe.
Sarah, sempre atenciosa, deu-lhe um sorriso gentil ao notar o olhar distante de .
— Está pronta? — ela perguntou, sua voz calma.
apenas deu de ombros, sem conseguir encontrar as palavras. Pronta? Como ela poderia estar pronta para deixar para trás tudo o que conhecia? Mesmo que fosse difícil, Londres era o único lugar onde sua vida havia feito sentido até agora. E agora ela estava sendo levada para um lugar completamente diferente, uma cultura que não conhecia, uma família que mal sabia como existia. Ela se sentia perdida, sem chão.
O aeroporto logo apareceu no horizonte, e o coração de apertou ao ver as luzes piscando à distância. Tudo estava se tornando real agora, e não havia mais como voltar atrás. Ela estava a poucas horas de embarcar para a Coreia do Sul, para viver com um pai que parecia mais um estranho do que alguém com quem ela pudesse contar.
Ao chegarem, Sarah a ajudou com a bagagem e, juntas, caminharam em direção ao terminal. As pessoas ao redor se moviam rapidamente, como se soubessem exatamente para onde estavam indo, enquanto sentia que cada passo que dava era mais um passo rumo ao desconhecido.
No balcão de check-in, Sarah lidou com os detalhes enquanto permanecia em silêncio, apenas observando. A assistente social fez questão de garantir que tudo estava em ordem, mantendo o controle da situação com sua calma habitual.
Quando tudo estava pronto, Sarah voltou sua atenção para .
— Você está indo para um lugar seguro, . Eu sei que parece assustador agora, mas… vai ficar tudo bem. Seu pai está esperando por você e, apesar de tudo, ele quer que você esteja lá.
assentiu lentamente, mas por dentro a dúvida ainda a corroía. O que sabia sobre o pai? Ele não estava presente nos momentos mais importantes, não ligava nos aniversários, não enviava cartões de Natal. Por que ele queria cuidar dela agora? Talvez fosse apenas uma obrigação legal, e não algo que ele realmente desejasse.
Com os bilhetes em mãos, as duas passaram pela segurança e seguiram em direção ao portão de embarque. O som de anúncios ecoava pelo aeroporto, pessoas correndo de um lado para o outro, mas para tudo parecia distante, abafado. Ela estava dentro de uma bolha de incerteza e medo.
Enquanto aguardavam o embarque, olhou ao redor, suas mãos apertando a alça da mochila. Ela sentia o vazio ao seu redor, como se o mundo estivesse se afastando dela. Era uma sensação sufocante, de que tudo o que ela conhecia estava escapando por entre seus dedos.
Finalmente, o aviso de embarque soou, e Sarah se levantou.
— É hora de irmos — disse ela suavemente, colocando a mão no ombro de .
Com um nó na garganta, levantou-se, acompanhando Sarah em direção ao portão. Cada passo parecia mais pesado que o anterior. Ela estava prestes a embarcar em um avião para o outro lado do mundo, para uma nova vida, com novas pessoas. Mas a única coisa que realmente queria era voltar para casa, para o pequeno apartamento que dividia com a mãe.
Quando finalmente cruzaram a ponte de embarque e entraram no avião, afundou-se no assento, sentindo o peso da mudança cair sobre seus ombros. Olhou pela janela, as luzes do aeroporto piscando lá fora enquanto o avião começava a se preparar para a decolagem.
Sarah, sentada ao lado dela, deu-lhe um último sorriso reconfortante.
— Vai ficar tudo bem, . Eu sei que parece assustador, mas… você é forte. Vai conseguir passar por isso.
apenas assentiu, mas por dentro se sentia pequena, perdida no caos de sua própria vida. Enquanto o avião começava a acelerar pela pista, ela fechou os olhos, tentando se preparar para o que viria. Quando as rodas se afastaram do chão e o avião subiu aos céus, soube que não havia mais volta.
Durante o voo, oscilava entre o torpor do cansaço e o turbilhão de pensamentos que invadiam sua mente. As horas se arrastavam lentamente, cada minuto parecendo uma eternidade enquanto o avião sobrevoava países desconhecidos rumo à Coreia do Sul. Ela tentava se distrair com os filmes disponíveis ou com a música que tocava nos fones de ouvido, mas nada conseguia afastar a sensação de incerteza que se instalava dentro dela.
O medo do desconhecido a consumia. Embora Sarah estivesse ao seu lado, tentando fazer com que ela se sentisse confortável, não conseguia se livrar da sensação de estar completamente sozinha. Ela se pegava pensando na mãe repetidamente, no vazio deixado por sua ausência, na injustiça de perdê-la de maneira tão repentina. Ao mesmo tempo, sua mente vagava para o pai, um homem que era apenas uma memória vaga, um estranho que agora seria sua nova família.
A cada turbulência ou movimento do avião, sentia seu estômago revirar, mas não era só o voo que a deixava desconfortável. A ideia de aterrissar em um país onde tudo seria novo, onde ela não conhecia a língua, a cultura ou as pessoas, era avassaladora. Como ela se adaptaria? Como seria viver com uma madrasta e meia-irmãos que ela nunca conhecera?
Ela alternava entre momentos de ansiedade pura e resignação, pensando que talvez esse fosse o começo de uma nova vida. Ainda assim, a incerteza era paralisante, e por mais que tentasse, não conseguia afastar os cenários negativos que sua mente pintava. As lembranças de sua antiga vida em Londres, do apartamento que ela dividia com a mãe, e dos dias simples e difíceis, mas confortáveis, agora pareciam distantes, quase irreais.
Ao longo do voo, conseguiu cochilar por curtos períodos, mas seus sonhos eram fragmentados, cheios de imagens do passado e do futuro incerto. Ela acordava com um aperto no peito, sentindo a saudade da mãe e o medo do que a esperava crescer a cada quilômetro que se aproximavam de Seul.
Quando o anúncio da descida começou a ecoar pelos alto-falantes, seu coração acelerou. O fim do voo não trouxe alívio, mas sim a certeza de que a realidade estava prestes a mudar completamente.
Segundo Capítulo
caminhava pela sala do aeroporto, o som das malas rolando pelo chão ecoando ao redor, mas para ela, tudo parecia abafado, distante. Acompanhada de Sarah, ela se aproximava da esteira onde as bagagens começavam a aparecer. Cada uma delas era um lembrete sutil de que o que estava atrás dela era impossível de recuperar, e o que estava à frente era incerto, imprevisível.
Enquanto observava as malas passarem lentamente, sentia um nó crescente em sua garganta. O cheiro de comida que vinha de algum quiosque nas proximidades, o burburinho das pessoas ao redor, tudo parecia irrelevante agora. Seu olhar estava fixo nas bagagens, mas sua mente estava longe, lutando para processar a mistura de sentimentos que a invadiam.
Saudade… Ela pensava na mãe, na última vez que a viu. Lembrava-se do sorriso dela, das conversas durante o café, das risadas. Tudo isso agora estava perdido, e ela estava indo para um lugar onde não sabia nem como se sentir. O vazio que se instalava dentro dela era insuportável, como se uma parte de si mesma estivesse sendo arrancada.
Medo… A Coreia do Sul. Um país desconhecido, uma língua que ela não entendia, e um pai que, no fundo, ela sentia que era um completo estranho. Ele estava esperando por ela, mas será que ele a queria mesmo? Ou era apenas uma obrigação, um arranjo legal? Não havia a conexão que ela imaginava que teria com um pai, e isso a fazia duvidar de tudo o que estava prestes a viver.
Esperança… Ao mesmo tempo, havia um fio de esperança. Talvez fosse possível encontrar seu lugar naquele novo mundo. Talvez, com o tempo, ela conseguisse se adaptar à sua nova família. O que Sarah dizia sobre o pai estar ansioso para recebê-la não parecia se alinhar com o que ela imaginava, mas ainda assim, algo em sua mente não queria desistir dessa possibilidade. Talvez a mudança não fosse tão ruim quanto parecia.
A mala dela finalmente apareceu na esteira, balançando suavemente até parar diante de seus pés. Ela a pegou sem pressa, observando a etiqueta com seu nome, como se aquilo fosse uma confirmação de que, sim, isso estava acontecendo de verdade. Ela estava indo embora.
Sarah percebeu o silêncio de e, suavemente, tentou quebrar o clima.
— Está tudo bem, ? — perguntou, tentando ser o mais calma possível.
olhou para ela, seus olhos vazios de emoção.
— Não sei. — Sua voz soou baixa, carregada de sentimentos conflitantes. — Eu… eu sinto falta da minha mãe. E tudo isso… tudo isso parece tão errado, como se eu estivesse sendo empurrada para um futuro que não escolhi.
Sarah suspirou, como se soubesse exatamente o que estava sentindo, mas não soubesse como aliviar a dor.
— Eu sei que está sendo difícil. Mas você não está sozinha. E seu pai… ele quer te conhecer, quer te ajudar. Isso vai ser uma nova chance para você, uma oportunidade de recomeçar, de se encontrar novamente.
olhou para Sarah, tentando acreditar nas palavras dela, mas a insegurança a impedia de aceitar totalmente.
— E se ele não for… quem eu preciso que ele seja? — perguntou, mais para si mesma do que para Sarah. — E se… ele não me aceitar de verdade? Eu não sou mais uma criança… Não tenho mais ninguém além dele.
Sarah colocou a mão no ombro de , tentando transmitir algum tipo de conforto, mas sentia-se distante, como se estivesse flutuando fora de seu corpo.
— Eu não posso prometer que vai ser fácil, . Mas você tem força. Eu vi isso em você desde o começo. Você vai encontrar uma maneira de se adaptar. E, acima de tudo, você vai ter que aprender a confiar de novo, mesmo quando parecer impossível.
olhou para sua mala, os sentimentos se acumulando dentro dela. O pai, o abrigo, a perda da mãe, a dor e o medo do novo… tudo estava misturado em seu peito, e ela não sabia por onde começar. Tudo o que ela sabia era que precisava seguir em frente, mesmo sem saber para onde estava indo.
Com um suspiro profundo, ela olhou para Sarah e, pela primeira vez, se permitiu acreditar um pouco no que ela dizia.
— Eu vou tentar, Sarah. Eu só… não sei como ainda.
Sarah sorriu gentilmente, como uma espécie de aprovação silenciosa.
— Isso é tudo o que você precisa fazer. O resto vai se encaixar.
E, com isso, seguiu, arrastando sua mala atrás de si, seu coração pesado com os desafios à frente, mas, por algum motivo, um pouco mais leve com a ideia de que, talvez, ela não estivesse tão sozinha quanto pensava.
***
segurava firme a alça da mala enquanto seguia Sarah pelos corredores do aeroporto. O som dos passos ecoava ao redor, misturado às vozes que falavam em coreano e inglês, anunciando voos e chamando passageiros para o embarque. As luzes brilhantes do aeroporto refletiam no chão polido, e sentia como se estivesse em um mundo completamente diferente do que conhecia.
Ela olhava ao redor, tentando absorver tudo. Havia famílias reunidas, amigos se abraçando, pessoas caminhando apressadas com malas de rodinhas e funcionários uniformizados orientando passageiros. Era um caos organizado, um movimento constante que deixava um pouco tonta, mas também curiosa.
As placas indicativas chamavam sua atenção. Algumas estavam apenas em coreano, com caracteres que ela não conseguia compreender, enquanto outras traziam traduções em inglês. Seus olhos se fixaram em uma delas, grande e iluminada, que dizia em letras claras: “Welcome to Korea”.
Ela parou por um segundo, sentindo um aperto no peito. Aquilo era real. Estava mesmo na Coreia do Sul. Aquela frase, simples e acolhedora para muitos, parecia um marco para ela, como se declarasse oficialmente o início de uma nova vida.
Sarah, percebendo que havia desacelerado, parou também e seguiu o olhar da garota para a placa.
— É um pouco intimidador no começo, não é? — Sarah comentou, com um sorriso compreensivo.
assentiu lentamente, ainda sem desviar o olhar da placa.
— Parece… definitivo — murmurou, como se estivesse confessando algo que nem ela mesma queria admitir. — Como se não houvesse mais volta.
Sarah deu um passo em direção a ela, sua voz gentil.
— Mudanças grandes sempre parecem assim. Mas quem sabe o que pode acontecer daqui pra frente? Talvez você acabe gostando mais do que imagina.
olhou para Sarah, sem saber como responder. Ela queria acreditar naquelas palavras, mas o peso de tudo ainda era esmagador demais para permitir. Em vez de falar, respirou fundo e apertou um pouco mais a alça da mala.
— Vamos — disse finalmente, forçando um pequeno sorriso. — Acho que ele está esperando.
Sarah concordou, retomando o passo. a seguiu, mas não sem lançar mais um olhar para a placa iluminada, como se quisesse gravar aquela imagem em sua mente. Talvez um dia, ela olhasse para trás e lembrasse desse momento como o início de algo positivo. Mas, por enquanto, tudo o que sentia era incerteza.
Caminhando em direção à ala de desembarque, percebeu os olhares de algumas pessoas, talvez por causa de sua aparência estrangeira, mas preferiu não pensar muito sobre isso. Ela se concentrou no movimento ao redor, nas vozes que mesclavam o coreano rápido e fluido ao inglês mais familiar. Era fascinante e assustador ao mesmo tempo, uma mistura de sentimentos que ela mal conseguia decifrar.
Ao atravessar as portas automáticas que levavam à área de desembarque, sentiu uma lufada de ar mais frio, que contrastava com o ambiente controlado do avião. Do outro lado, pessoas seguravam placas com nomes, algumas agitavam as mãos, outras estavam distraídas olhando para os telefones. olhou ao redor, tentando não parecer tão perdida quanto se sentia.
Sarah tocou levemente o ombro dela, guiando-a com confiança.
— Ele deve estar por aqui. Vamos encontrá-lo — disse, com um tom tranquilizador.
E , mesmo com o coração pesado e os pensamentos embaralhados, deu mais um passo adiante, tentando se preparar para o encontro que mudaria tudo.
***
Ela respirou fundo, tentando parecer mais calma do que realmente estava, mas o som acelerado do seu coração parecia ecoar em seus ouvidos. Seus olhos varreram o ambiente, notando os sorrisos ansiosos, os abraços apertados e as pessoas segurando placas e cartazes com nomes. O movimento ao redor parecia mais intenso, como se o mundo estivesse em câmera lenta apenas para ela.
E então, ela o viu.
Um homem alto, com cabelos ligeiramente grisalhos nas têmporas e um terno bem ajustado, segurava uma pequena plaquinha branca. Escrito em letras grandes e um pouco trêmulas, estava o nome dela: ““. Ele parecia tão deslocado quanto ela se sentia, a ansiedade evidente na forma como ajustava a placa nas mãos. Seus olhos corriam pela multidão, claramente à procura de alguém — dela.
parou por um instante, como se as pernas tivessem ficado pesadas. Aquilo era tão real quanto o avião que a trouxe. Ela observou o rosto dele, os traços que pareciam vagamente familiares, ainda que distantes. Era estranho, desconfortável até, mas ao mesmo tempo… inevitável.
Sarah percebeu a hesitação e inclinou-se levemente em sua direção.
— Está tudo bem. Você consegue — encorajou com um sorriso calmo.
respirou fundo novamente e deu um passo à frente, depois outro. Seus movimentos pareciam mecânicos, como se seu corpo estivesse funcionando no automático. A cada passo, o homem com a plaquinha parecia mais próximo, mais nítido. Quando ela finalmente parou a poucos metros dele, os olhos dele se fixaram nela, e uma emoção clara passou por seu rosto.
Ele baixou lentamente a plaquinha, sua expressão uma mistura de alívio, nervosismo e algo que não conseguiu identificar de imediato. Talvez fosse felicidade? Ou arrependimento? Era difícil dizer. Mas uma coisa era certa: ele estava emocionado.
— ? — a voz dele saiu hesitante, como se ele ainda estivesse processando que aquela garota à sua frente era realmente sua filha.
Ela apenas assentiu, incapaz de encontrar palavras naquele momento. Ele deu um passo à frente, os olhos brilhando levemente com lágrimas que ele parecia estar tentando segurar.
— Você cresceu tanto… — ele murmurou, a voz embargada.
engoliu em seco, sem saber como responder. Havia uma distância enorme entre eles, não apenas física, mas emocional. Ele parecia sincero, mas ao mesmo tempo, era um estranho. Um estranho que ela deveria chamar de pai.
Sarah, percebendo o peso do momento, interveio suavemente.
— Senhor Boorman, foi uma viagem longa, e ainda está se ajustando. Talvez possamos ir com calma? — sugeriu, lançando um olhar compreensivo para os dois.
Ele assentiu rapidamente, limpando os olhos com a mão antes de dar um pequeno sorriso para Sarah.
— Claro, claro. Eu só… estava esperando por este momento há tanto tempo. — Ele olhou novamente para , como se quisesse gravar cada detalhe dela em sua mente.
— Podemos pegar um café ou algo assim? — perguntou, sua voz baixa e hesitante, mas carregada de um pedido implícito de tempo. Tempo para processar, para respirar.
Ele pareceu surpreso, mas sorriu com suavidade.
— Claro. Vamos com calma — respondeu, gesticulando para o caminho. — Bem-vinda à Coreia, .
E enquanto seguiam para a saída, sentiu o peso do momento sobre seus ombros. Era o começo de algo completamente novo, e ela não sabia se estava pronta para isso. Mas, pelo menos por enquanto, decidiu apenas seguir em frente.
***
caminhava ao lado de Sarah e de seu pai em direção ao estacionamento. As luzes fluorescentes do aeroporto iluminavam o caminho, e o som dos passos ecoava no piso brilhante. O ar era levemente fresco, e notava o cheiro característico de limpeza e as vozes abafadas de outros viajantes ao redor.
Seu pai se virou para ela, um sorriso hesitante surgindo em seus lábios.
— Quer que eu te ajude com as malas? — ofereceu, estendendo a mão para a alça de uma das bagagens.
hesitou por um segundo antes de assentir, entregando uma das malas menores. Ele pegou com facilidade, equilibrando-a ao lado do pequeno carrinho que carregava as outras.
— Obrigada — murmurou, sua voz baixa, quase imperceptível.
Ele pareceu surpreso, mas satisfeito com a pequena interação. Então, virou-se para Sarah, que caminhava com um olhar atento para e uma postura profissional.
— Senhora… — ele começou, mas Sarah o interrompeu com um sorriso gentil.
— Sarah, por favor. Não precisa de formalidades — disse ela, ajustando a bolsa no ombro.
— Certo, Sarah. — Ele deu um pequeno aceno. — Só queria confirmar se há algo mais que preciso fazer em relação à documentação ou qualquer outro procedimento. Quero garantir que tudo esteja em ordem para que se sinta confortável.
Sarah sorriu de maneira encorajadora, apreciando a preocupação dele.
— A maior parte já foi resolvida antes de virmos para cá. Os papeis de guarda, o translado e a autorização da viagem foram assinados e protocolados. Restam apenas alguns detalhes administrativos que podemos concluir na próxima semana. — Ela ajustou o tom para que também ouvisse e não se sentisse deixada de lado. — Depois disso, será tudo sobre ajudá-la a se ambientar aqui.
O pai de assentiu, uma expressão de alívio atravessando seu rosto.
— Quero fazer isso da melhor maneira possível. Eu sei que não será fácil para ela… nem para mim, se me permite dizer. — Ele lançou um olhar breve e discreto para , que fingia estar distraída com as placas do estacionamento.
Sarah inclinou a cabeça levemente, um sinal de compreensão.
— É um processo, senhor Boorman. — Ela fez uma pausa antes de continuar, sua voz gentil. — E vai exigir paciência de todos. Mas é uma jovem resiliente, e pelo que já vi, você está disposto a fazer o necessário. Isso é um bom começo.
Eles chegaram ao carro, um SUV preto com janelas escurecidas que estava estacionado em uma vaga próxima. Ele destravou o veículo e abriu o porta-malas, organizando cuidadosamente as malas de enquanto Sarah ajustava a alça de sua própria bolsa. permaneceu em silêncio, observando à distância, tentando digerir cada palavra da conversa.
Seu pai fechou o porta-malas e virou-se para Sarah novamente.
— Espero que possa me orientar caso algo saia do esperado. Quero que ela se sinta em casa, mesmo que leve tempo. — Sua voz era firme, mas cheia de emoção reprimida.
Sarah sorriu, colocando a mão no ombro dele brevemente.
— Estou aqui para ajudar. O mais importante agora é que tenha um ambiente estável e acolhedor para começar essa nova etapa.
olhou para eles, seu peito apertado com a mistura de emoções. Era reconfortante ver que alguém estava cuidando de tudo, mas também assustador perceber que sua vida estava fora de seu controle naquele momento. Ela apenas queria que o dia acabasse e que esse novo mundo deixasse de parecer tão estranho.
— Vamos? — seu pai perguntou, olhando para ela com um sorriso nervoso.
Ela assentiu silenciosamente, seguindo-os até o carro. E assim, a jornada continuava, com tentando se acostumar com o que significava ter um pai novamente — e uma nova vida à sua frente.
***
No banco de trás do carro, encostou a cabeça na janela, observando a paisagem da cidade enquanto o veículo atravessava ruas largas e iluminadas. Os letreiros em neon em coreano e inglês davam um brilho vibrante às avenidas, enquanto pessoas caminhavam apressadas pelas calçadas. Era uma visão completamente diferente da sua pequena cidade na Inglaterra. As construções altas e modernas se mesclavam com traços tradicionais em alguns prédios, criando uma harmonia peculiar que a intrigava.
No banco da frente, seu pai dirigia com cuidado, lançando olhares furtivos pelo retrovisor na direção dela, como se quisesse checar se ela estava bem. Sarah, ao lado dele, mantinha um tom de conversa profissional, mas amigável.
— Então, senhor Boorman, só para confirmar, a escola que você mencionou já está alinhada? — perguntou Sarah, tirando um bloco de notas da bolsa.
— Sim, já fiz o contato com a diretoria. Eles estão prontos para recebê-la no próximo semestre. Achei que seria melhor ela ter um tempo para se ajustar antes de começar as aulas — respondeu ele, a voz ligeiramente nervosa.
Sarah fez um gesto afirmativo, anotando algo.
— É uma ótima ideia. vai precisar desse tempo para processar tudo e se familiarizar com o ambiente. Transições assim podem ser difíceis, especialmente nessa idade.
ouvia as palavras, mas elas pareciam distantes. Sua atenção estava completamente presa nas luzes da cidade, nos carros que passavam, nas pessoas que viviam suas vidas. Tudo parecia tão vivo, tão rápido, e ao mesmo tempo tão estranho. Ela sentiu o estômago revirar, uma mistura de ansiedade e saudade. As ruas de sua antiga cidade tinham um ritmo mais lento, uma familiaridade que ela nunca havia valorizado até agora.
— E quanto ao suporte psicológico? — Sarah continuou, tirando de seus pensamentos por um momento. — Acredito que seria bom para ela ter alguém para conversar, especialmente considerando o que aconteceu recentemente.
O pai de suspirou, ajustando levemente o volante.
— Já procurei algumas opções, mas não quis tomar nenhuma decisão sem consultá-la. Quero que ela participe dessas escolhas.
Sarah sorriu, satisfeita.
— Isso é ótimo. Envolver nesse tipo de decisão vai ajudá-la a se sentir mais no controle. E ela vai precisar disso agora.
percebeu que eles estavam falando dela, mas escolheu continuar olhando para fora. As placas em coreano pareciam codificadas, impossíveis de decifrar, e isso só aumentava a sensação de deslocamento. Ela não sabia o que a esperava nessa nova vida, mas sabia que nada seria fácil.
O carro virou em uma rua mais tranquila, com árvores alinhadas nas laterais. Seu pai diminuiu a velocidade, ajustando-se ao ritmo mais calmo do bairro. Sarah continuava a discutir detalhes práticos sobre sua estadia, a escola e o futuro, enquanto se concentrava nos reflexos das luzes na janela. Ela tentou encontrar algo reconfortante na nova paisagem, mas tudo ainda parecia tão distante.
Enquanto isso, o coração dela batia rápido, cheio de perguntas sem respostas. Como seria morar com ele? Como seria sua vida na Coreia? E, mais importante, será que ela conseguiria encontrar seu lugar nesse mundo novo?
***
O carro parou suavemente em frente a uma pequena cafeteria de esquina, cercada por vasos de flores e com uma fachada acolhedora. As janelas amplas deixavam escapar o brilho quente do interior, e um aroma convidativo de café e pães frescos parecia flutuar até o lado de fora. ergueu os olhos da janela, observando o movimento de clientes entrando e saindo do lugar com expressões satisfeitas.
— Pensei que seria bom fazermos uma pausa antes de continuar para casa — disse o pai de , virando-se para olhar para ela com um sorriso esperançoso. — Além disso, acho que você vai gostar desse lugar. É um dos meus preferidos.
não respondeu de imediato, mas assentiu levemente. Sarah abriu a porta do carro e saiu, esperando enquanto ele fazia o mesmo para abrir a porta do banco traseiro. desceu, puxando o casaco mais perto de si ao sentir o ar fresco da noite.
Enquanto caminhavam em direção à entrada, o pai dela tentou estabelecer um tom leve.
— Eles têm um ótimo chocolate quente aqui, se você gostar. É caseiro, feito com cacau importado.
— Parece bom — respondeu , sua voz baixa, sem muito entusiasmo, mas sem rudeza.
Ele sorriu, parecendo satisfeito apenas por ela ter respondido.
A cafeteria era ainda mais aconchegante por dentro. Mesas de madeira escura preenchiam o espaço, decoradas com pequenos vasos de flores e luminárias de luz suave. Atrás do balcão, uma jovem barista com um avental sorriu ao vê-los entrar, saudando-os em coreano. O pai de respondeu no mesmo idioma, e Sarah se juntou à conversa com fluência. apenas observava, sentindo-se ainda mais deslocada.
— Vamos nos sentar ali, naquela mesa perto da janela — sugeriu Sarah, apontando para um canto tranquilo.
Eles se acomodaram, e o pai de fez o pedido rapidamente, insistindo em escolher algo que ela pudesse gostar. Poucos minutos depois, uma bandeja chegou com xícaras fumegantes e uma seleção de pães e bolos. pegou sua xícara de chocolate quente e deu um pequeno gole. O sabor doce e rico invadiu seus sentidos, e, pela primeira vez, ela sentiu um leve calor se espalhar em seu peito.
— Está bom? — perguntou seu pai, com expectativa.
— Está… — hesitou por um instante antes de completar, surpreendendo a si mesma. — Está ótimo.
Ele sorriu largamente, um brilho de alívio em seus olhos.
Enquanto Sarah e seu pai discutiam os próximos passos em relação à documentação, olhou pela janela. O movimento da rua era tranquilo, com casais passeando de mãos dadas e amigos rindo enquanto atravessavam a calçada. Era uma cena pacífica, mas não conseguia deixar de sentir um peso em seu peito.
A voz de Sarah a trouxe de volta.
— , sei que tudo isso é muito novo para você, mas… como você está se sentindo? — perguntou ela, com uma expressão gentil.
pousou a xícara na mesa, seus dedos ainda segurando a alça como se fosse um porto seguro.
— Não sei… é tudo tão diferente. Parece que estou em um lugar que nem é real. — Sua voz era honesta, mas tingida de um cansaço emocional.
Seu pai olhou para ela com preocupação.
— Vamos dar tempo ao tempo. Sei que as coisas estão confusas agora, mas estou aqui para ajudar você a se ajustar, . — Ele fez uma pausa, como se quisesse dizer mais, mas não soubesse como.
apenas assentiu, sem encontrar palavras. Ela sabia que ele estava tentando, mas isso não tornava as coisas menos difíceis. Por enquanto, tudo o que podia fazer era tomar outro gole do chocolate quente e esperar que, de alguma forma, as coisas começassem a fazer sentido.
***
Após terminarem na cafeteria, seguiu o pai e Sarah até o carro. Ele abriu a porta para ela entrar e, em seguida, acomodou-se no banco do motorista, verificando pelo espelho se ela estava confortável no banco de trás. Sarah ocupou o lugar ao lado dele, ajustando os papeis em sua bolsa.
— Pronta para ver sua nova casa? — perguntou o pai de , virando-se ligeiramente para ela, com um tom gentil, mas carregado de ansiedade.
deu de ombros, olhando para a janela enquanto o carro começava a se mover novamente. Não se sentia pronta para nada, muito menos para encarar um novo lar que parecia tão estranho quanto todo o resto.
O percurso foi silencioso no início, apenas o som do motor e das ruas movimentadas quebrando o silêncio. O pai de tentou puxar conversa algumas vezes, falando sobre os lugares pelos quais passavam — uma padaria famosa, uma livraria que ele adorava frequentar, e até mesmo uma praça que era conhecida pelas cerejeiras deslumbrantes na primavera. ouvia, mas não respondia muito além de murmúrios ocasionais.
Finalmente, o carro virou em uma rua residencial tranquila. As casas eram grandes e bem cuidadas, com jardins impecáveis e cercas baixas. O pai de diminuiu a velocidade e parou em frente a uma delas, que tinha uma fachada clara, com janelas amplas e cortinas delicadas. Um pequeno jardim bem cuidado adornava a entrada, e uma luz na varanda iluminava suavemente a porta da frente.
— É aqui — anunciou ele, desligando o motor e olhando para com um sorriso hesitante.
Ela desceu do carro com passos lentos, observando a casa com uma mistura de curiosidade e apreensão. Sarah pegou uma das malas no porta-malas, enquanto o pai de pegava as outras.
— Deixe-me ajudar com isso — disse ele, tentando aliviar o peso para Sarah.
caminhou atrás deles em silêncio, sentindo o cheiro da grama recém-cortada e o ar levemente frio da noite. Ao chegar à porta, o pai dela destrancou-a com um gesto rápido e empurrou-a suavemente, revelando o interior.
O hall de entrada era acolhedor, com piso de madeira clara e paredes decoradas com quadros minimalistas. Um aroma suave de lavanda parecia perfumar o ar, e percebeu que tudo ali parecia cuidadosamente arrumado. Era diferente do pequeno e apertado apartamento que ela dividia com a mãe, onde cada espaço era preenchido com histórias e memórias.
— Bem-vinda ao seu novo lar, — disse o pai, com um sorriso que misturava orgulho e nervosismo.
Ela não respondeu imediatamente, deixando o olhar vaguear pelo ambiente. O lugar era bonito, mas parecia mais uma casa de revista do que um lar de verdade. Sem o toque familiar que ela associava à mãe, era difícil sentir qualquer conforto.
Sarah colocou a mala perto da escada e se virou para o pai de .
— Vou revisar os últimos detalhes com você antes de partir. Podemos nos sentar para discutir isso?
— Claro, vamos para a sala de estar — respondeu ele, indicando um cômodo ao lado.
Enquanto os dois desapareciam pela porta, ficou no hall, abraçando os próprios braços. Olhou para a escada que levava ao andar de cima, onde provavelmente ficava o quarto que seria dela, mas não se sentiu pronta para subir. Em vez disso, caminhou lentamente pela casa, observando os móveis, os quadros e os detalhes. Tudo parecia organizado demais, como se faltasse vida.
Ao passar por uma pequena estante cheia de livros, ela notou um porta-retratos no canto. Nele, havia uma foto do pai ao lado de uma mulher sorridente e duas crianças. sentiu uma pontada no peito. Aquela era a família dele agora, e ela se perguntava como poderia se encaixar ali.
De repente, ouviu a voz de Sarah chamando-a da sala.
— , pode vir aqui, por favor? Precisamos conversar sobre algumas coisas antes de eu ir.
Com um suspiro, ela deixou o porta-retratos de lado e se dirigiu para a sala de estar, pronta para enfrentar o que viesse a seguir.
entrou na sala de estar, onde Sarah e seu pai estavam sentados em um confortável sofá de couro. Sarah acenou para que ela se sentasse também. escolheu uma poltrona próxima, cruzando os braços em um gesto defensivo.
— Bem, , agora que estamos todos aqui, vou explicar como as coisas vão funcionar nos próximos dias — começou Sarah, ajustando os papeis em seu colo. — Hoje, oficializamos sua chegada à Coreia. Nos próximos dias, entrarei em contato regularmente para garantir que tudo esteja em ordem e que você esteja se adaptando bem. Vamos falar online um dia sim, um dia não, e na semana que vem volto para fazer uma visita pessoal.
assentiu lentamente, sem dizer nada. Apesar do tom gentil de Sarah, ela sentia o peso de tudo o que estava acontecendo.
— Seu pai já cuidou de toda a documentação necessária, então agora é só uma questão de você se sentir confortável e começar a se acostumar com essa nova vida. — Sarah fez uma pausa e olhou para o pai de . — Obrigada por sua colaboração em todo o processo. Eu sei que não é fácil lidar com tantas mudanças de uma vez.
— Estou fazendo o meu melhor — respondeu ele, lançando um olhar breve, mas preocupado, para . — Só quero que ela se sinta acolhida.
Sarah se levantou, pegando a bolsa e os papeis.
— Acho que é isso por agora. Vou deixar vocês se ajustarem. Lembre-se, , estou a apenas uma chamada de distância, caso precise de algo.
se levantou também, sem muita vontade, acompanhando Sarah até a porta. A assistente social virou-se para ela antes de sair.
— Tudo vai ficar bem, . Dê tempo ao tempo. — Ela apertou o ombro da garota, oferecendo um sorriso reconfortante. — Até breve.
Com isso, Sarah foi embora, deixando e o pai sozinhos. O silêncio entre eles parecia mais pesado agora que não havia uma terceira pessoa para preenchê-lo. evitou olhar diretamente para ele, focando em seus próprios pés, enquanto ele fechava a porta.
— Bom… — começou o pai dela, coçando a nuca, claramente nervoso. — Vou te apresentar à sua nova família. Sua madrasta e sua irmã estão lá em cima. Elas estão ansiosas para te conhecer. Seus outros irmãos… — Ele fez uma pausa, hesitando. — Eles devem chegar daqui a pouco.
levantou o olhar lentamente, seus olhos encontrando os dele. Apesar de toda a apreensão e do desconforto, ela viu algo ali que não esperava: genuína emoção e preocupação.
— Está tudo bem? — ele perguntou, baixinho.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar. Não havia como fugir daquilo. Assentiu levemente, indicando que estava pronta para seguir em frente, mesmo que por dentro estivesse completamente incerta sobre tudo.
— Certo — disse ele, um pouco mais animado, tentando aliviar o clima. — Vamos lá. Tenho certeza de que elas vão adorar te conhecer. Venha, elas estão no fundo da casa.
o seguiu hesitante, seus passos ecoando pelo chão de madeira enquanto ele a conduzia por um corredor que levava ao quintal dos fundos. Ao atravessarem a porta de vidro, ela encontrou uma área aberta e acolhedora, com uma mesa posta sob um pergolado coberto por trepadeiras floridas. A madrasta de estava ajustando os talheres com precisão, enquanto uma garotinha brincava ao lado dela, colocando guardanapos coloridos nos lugares.
A mulher ergueu os olhos ao ouvir os passos deles e abriu um sorriso caloroso. notou que ela era elegante, com traços coreanos suaves e uma postura que exalava serenidade. A pequena, que devia ter uns sete anos, virou-se rapidamente e correu para o pai de , abraçando suas pernas com um riso contagiante.
— Você chegou! — exclamou a menina, olhando curiosa para , que sentiu seu coração apertar com o brilho de inocência nos olhos da garota.
— Sim, minha flor, e trouxe a — disse o pai, ajoelhando-se para abraçar a garotinha antes de se levantar e olhar para a esposa. — Essa é a minha filha.
A madrasta se aproximou, enxugando as mãos no avental antes de oferecer um sorriso gentil.
— Seja bem-vinda, . Eu sou Yuna. — Sua voz era calma, quase maternal. — Espero que você se sinta à vontade aqui. Esta é sua irmãzinha, Hana.
Hana deu um passo à frente, segurando um dos guardanapos que tinha dobrado.
— Oi, . Você gosta de guardanapos coloridos? — perguntou, estendendo o pedaço de papel com um sorriso tímido.
não conseguiu evitar sorrir de leve. Por mais desconfortável que estivesse, a espontaneidade da menina parecia sincera e desarmante. Pegando o guardanapo, ela murmurou um “obrigada” enquanto Hana dava um risinho satisfeito e voltava para sua tarefa.
— Por favor, sente-se. A comida está quase pronta — disse Yuna, gesticulando para as cadeiras ao redor da mesa. — Temos muito tempo para conversar e nos conhecermos.
O pai de a observava com atenção, como se tentasse decifrar cada expressão no rosto dela. assentiu lentamente e se aproximou da mesa, tentando ignorar o turbilhão de pensamentos e emoções que borbulhavam dentro de si. Cada movimento parecia um esforço para se ajustar àquela nova realidade.
Enquanto Hana corria ao redor da mesa, rindo, sentiu uma pontada de saudade de sua mãe, mas também algo que não queria admitir: um fio de esperança de que talvez, só talvez, aquele novo começo não fosse tão terrível quanto parecia.
***
A conversa ao redor da mesa começou de forma leve, com Yuna tentando quebrar o gelo ao perguntar coisas básicas a , como se ela havia gostado da viagem, se precisava de algo específico e se tinha alguma comida preferida. A madrasta falava com um tom amável, mas sem forçar intimidade, o que apreciou, embora respondesse de forma breve e polida.
Hana, por outro lado, não se intimidava. A garotinha puxava assuntos simples, contando sobre a escola, os desenhos animados que gostava e como tinha ajudado a arrumar o quintal para receber . Sua animação era contagiante, e por mais que se sentisse deslocada, foi impossível não sorrir diante da empolgação da irmãzinha.
Após alguns minutos de interação, o pai de interveio gentilmente:
— , por que não sobe e se acomoda no seu quarto? Tome um banho, descanse um pouco. Mais tarde, jantaremos juntos, e você poderá conhecer melhor o restante da família.
assentiu, agradecendo silenciosamente por ter um momento para respirar e se recompor. O pai indicou onde ficava o quarto, e Yuna sorriu com compreensão.
— Seu quarto já está preparado. Se precisar de algo, é só me chamar — disse a madrasta.
Com um breve “obrigada”, se levantou, sentindo os olhares de todos enquanto caminhava de volta para dentro da casa. Hana ainda acenou animadamente antes de voltar a dobrar guardanapos. subiu as escadas com passos lentos, tentando absorver tudo o que havia acontecido até agora. Uma nova casa, uma nova família, um novo país. Nada parecia real, mas era. Ela estava na Coreia, e sua vida jamais seria a mesma.
***
entrou no quarto em silêncio após o pai ter deixado suas malas ao lado da cama. O cômodo era espaçoso e bem iluminado, com tons neutros e alguns detalhes em madeira. Havia uma escrivaninha no canto, uma estante vazia e uma janela grande com vista para o jardim dos fundos. Apesar de tudo parecer confortável e bem arranjado, sentiu um vazio esmagador. O ambiente era impessoal, frio, como se ela fosse uma hóspede em sua própria vida.
Ela abriu uma das malas, pegou suas coisas e foi direto para o banheiro. A água quente do chuveiro escorria sobre seu corpo enquanto sua mente vagava. A sensação de deslocamento, o peso da perda recente, a ansiedade de estar em um país estrangeiro com pessoas que mal conhecia. Tudo parecia sufocá-la ao mesmo tempo.
Depois de se secar, voltou ao quarto. Vestiu uma calça de moletom cinza e o sutiã branco, mas ao começar a procurar uma blusa em meio às roupas na mala aberta, a porta foi empurrada abruptamente. Ela se sobressaltou, girando o corpo em direção à entrada.
— Pai, eu… — começou, com a mão cobrindo o torso, mas sua voz falhou ao perceber que não era o pai.
Na porta, um garoto que ela nunca tinha visto na vida estava parado, com uma expressão de surpresa igualmente estampada no rosto. Ele era alto, de traços marcantes, e tinha os olhos arregalados.
— Quem é você? — perguntou , tentando manter a calma, embora seu coração batesse forte.
Ele engoliu seco, ainda segurando a maçaneta da porta.
— Eu… me esqueci que você chegava hoje. Esse quarto era meu antes de ser seu, então ainda não me acostumei — respondeu, a voz baixa, mas firme.
piscou, o cérebro processando lentamente. Ele devia ser um dos filhos da madrasta. Mas mesmo assim…
— Você poderia ter batido na porta! — retrucou, irritada, enquanto puxava um casaco da mala e o colocava rapidamente.
Ele ergueu uma sobrancelha, já recuperando a compostura.
— E você poderia ter trancado a porta — rebateu, o tom de voz carregado de desdém.
Antes que ela pudesse retrucar, ele fechou a porta com força, deixando sozinha no quarto, encarando o espaço vazio onde ele estava.
— Ótimo começo… — murmurou, com uma mistura de raiva e desconforto, voltando sua atenção para a mala. A má impressão que ele deixara ficaria marcada em sua mente.
Terceiro Capítulo
tentou se concentrar nas roupas enquanto os ecos da discussão com o garoto ainda ressoavam em sua mente. Ela estava frustrada, o coração acelerado, ainda processando o que havia acabado de acontecer. Depois de puxar uma camiseta básica e um casaco, ela terminou de se trocar, mas não sem antes resmungar para si mesma:
— Como assim, “você poderia ter trancado a porta”? Que tipo de desculpa é essa? — murmurou enquanto puxava os cabelos para trás, tentando prender em um rabo de cavalo.
Ela jogou o elástico com um pouco mais de força do que o necessário, como se isso fosse de alguma forma aliviar a frustração. Se esse garoto era realmente um dos filhos da madrasta, não sabia o que esperar dele. Já não bastava ela ter que lidar com a perda da mãe e toda a mudança, agora isso.
Enquanto se olhava no espelho, ajeitando a roupa e tentando manter a compostura, ela repetia as palavras em sua mente. “Você poderia ter trancado a porta”. A arrogância dele estava estampada no tom de voz, e não podia deixar de sentir que ele estava tentando fazer com que ela fosse a responsável pela situação. A irritação não se dissipava.
Ela suspirou, respirando fundo para tentar se acalmar. Não estava ali para criar mais confusão, mas a atitude dele… Não dava para esquecer tão rápido.
De repente, ela percebeu que estava demorando mais do que o necessário para se arrumar. Olhou para o relógio e então apressou o passo, lembrando-se de que o pai havia dito para descer para o jantar. E, quem sabe, uma vez que estivesse com ele e a nova família, a coisa toda pudesse se acalmar.
“Espero que o jantar não seja tão estranho quanto tudo isso”, pensou, enquanto pegava um moletom e saia do quarto.
desceu as escadas devagar, o coração ainda pesado com os eventos do dia. Cada degrau parecia arrastar consigo uma dose extra de cansaço e nervosismo. Ela segurava no corrimão com firmeza, respirando fundo para tentar se recompor. Quando finalmente chegou ao último degrau, levantou o olhar e, para sua surpresa, deu de cara com outro rosto desconhecido.
Um garoto de aparência amigável estava parado no pé da escada, carregando uma expressão de surpresa ao vê-la. Ele piscou algumas vezes, claramente pego de surpresa pelo encontro.
— ? — perguntou, a voz cheia de curiosidade, mas também de algo caloroso.
Antes que ela pudesse responder, ele abriu um sorriso largo e deu alguns passos na direção dela, estendendo os braços para envolvê-la em um abraço inesperado.
— ! Eu sou o , mas pode me chamar de . Finalmente você está aqui! Nós estávamos ansiosos para te conhecer — disse ele, com entusiasmo genuíno.
ficou completamente imóvel por um segundo, chocada pela recepção tão calorosa e oposta àquela que havia tido minutos atrás com . O abraço dele era apertado, mas reconfortante, quase como se fosse a de um velho amigo ao invés de um completo estranho.
— Uh… oi? — ela balbuciou, ainda processando a situação.
finalmente se afastou, ainda sorrindo para ela. Seus olhos brilhavam com sinceridade e uma energia tão leve que não pôde deixar de relaxar um pouco.
— Ah, desculpa pelo susto! Não quis te assustar assim logo de cara. É só que… bem, você é a , e eu sabia que você chegaria, mas acho que ainda não estava preparado para te encontrar agora. Bem-vinda! — Ele a estudou por um momento, parecendo genuinamente contente por finalmente conhecê-la.
piscou algumas vezes, confusa, mas acabou dando um pequeno sorriso.
— Obrigada… Eu, uh, ainda estou tentando me acostumar com tudo isso.
— Sem pressa, sério. Vai ser um monte de coisas novas pra você, mas, olha, o que você precisar, é só falar comigo, tá? — respondeu com um tom gentil.
quase riu da diferença entre ele e . parecia ser a personificação de um raio de sol, tão animado e acolhedor que era difícil não se sentir um pouco mais leve. Ela sentiu uma pequena centelha de esperança ao perceber que talvez nem tudo fosse tão difícil assim nessa nova vida.
— Tá bom, obrigada, … . — Ela testou o apelido, um pouco hesitante, mas ele apenas sorriu ainda mais.
— Isso aí! Agora vamos, o jantar já deve estar quase pronto, e aposto que você está faminta. — Ele indicou o caminho com um gesto animado, e o seguiu, sentindo que talvez, só talvez, ela pudesse encontrar algo bom naquele caos.
seguiu pelo corredor até a sala de jantar, ainda tentando processar a enxurrada de emoções que a cercava. O aroma de comida caseira começava a preencher o ar, e ela se deu conta de que estava faminta.
Quando ela entrou na sala, os olhos foram imediatamente atraídos para a figura da irmã com seus cabelos pretos brilhantes que estava arrumando guardanapos na mesa. Assim que a menina percebeu , os olhos dela se iluminaram, e ela soltou um gritinho animado antes de correr na direção dela.
— Noona! — gritou a garotinha, envolvendo as pequenas mãos ao redor da perna de em um abraço apertado. ficou congelada por um instante, surpreendida com o gesto espontâneo.
Hana levantou a cabeça e sorriu para , os olhos brilhando de felicidade genuína.
— Você é tão bonita! — exclamou, sem cerimônia, enquanto apertava ainda mais sua perna.
, sem saber exatamente como reagir, deu um sorriso tímido e colocou a mão sobre a cabeça da menina, acariciando seus cabelos macios.
— Oi, Hana — disse, sua voz soando um pouco mais suave do que esperava.
A madrasta de , que estava ajeitando a mesa ao lado, parou o que fazia e olhou para a cena com um sorriso satisfeito.
— Hana está tão animada para te conhecer, . Ela não parou de falar de você o dia inteiro — comentou, sua voz gentil e acolhedora, embora carregada de um leve sotaque coreano. — Espero que você goste de bibimbap. Fizemos com muito carinho para te receber.
ergueu o olhar para a madrasta e tentou ler a expressão dela. Era difícil dizer exatamente o que sentia. Embora o sorriso parecesse sincero, ainda estava com a guarda levantada, sem saber ao certo como deveria reagir àquela nova família. Mas algo nos gestos gentis de Hana e no tom acolhedor da madrasta fazia seu peito afrouxar, mesmo que só um pouco.
— Obrigada, senhora… — começou, mas a madrasta a interrompeu com um aceno de mão.
— Pode me chamar de Yumi, querida. Nada de formalidades por aqui, certo? — disse ela, com uma leve risada.
assentiu, um pouco desconcertada, mas grata pelo tom acolhedor. Hana ainda estava agarrada à sua perna, parecendo relutante em soltá-la.
— Hana, querida, deixe sua irmã se sentar — Yumi pediu, rindo enquanto tentava afastar a filha.
Hana soltou com um sorriso travesso e correu de volta para a mesa, onde começou a ajeitar os últimos detalhes da refeição. observou tudo com cuidado, tentando absorver aquele momento. Era estranho, mas não inteiramente ruim.
Ela seguiu até a cadeira que indicou para ela e se sentou, sentindo um misto de ansiedade e curiosidade enquanto olhava para o prato colorido de comida à sua frente. Ela ainda tinha muitas perguntas e muitas emoções para processar, mas, naquele instante, estava disposta a dar uma chance. Afinal, parecia que, apesar de tudo, aquela família realmente estava tentando recebê-la de braços abertos.
***
Enquanto se ajeitava na cadeira, observando a mesa cheia de pratos coloridos e arrumados com cuidado, o som de passos no corredor chamou sua atenção. Hana, que estava ao lado da mesa com um sorriso animado, imediatamente olhou na direção da porta, e seu rosto se iluminou ainda mais.
— Oppa! — gritou Hana, correndo como uma flecha em direção à porta.
Christopher entrou na sala de jantar primeiro, com um sorriso calmo e cansado no rosto, mas foi a figura alta e imponente que o seguiu que capturou toda a atenção de .
Ele parecia tão descontraído quanto possível, com as mãos nos bolsos do moletom e uma expressão que mesclava cansaço e curiosidade. No entanto, assim que seus olhos encontraram os de , ele parou de andar por um instante. O momento em que trocaram olhares foi carregado de tensão, a lembrança do encontro desconfortável no quarto pairando no ar entre eles.
desviou o olhar rapidamente, ajustando-se na cadeira, sentindo o desconforto rastejar por sua espinha. Já manteve a expressão neutra, mas seus lábios se contraíram levemente, como se quisesse dizer algo e desistisse no último segundo.
— Oppa! — Hana gritou de novo, finalmente alcançando o irmão e jogando os braços ao redor dele.
abaixou-se para recebê-la em um abraço caloroso, sua expressão suavizando-se completamente enquanto afagava os cabelos dela.
— Oi, pequena — ele disse, com um sorriso que parecia genuinamente carinhoso.
— Você demorou! Eu já estava comendo sem você! — Hana reclamou, olhando para ele com um biquinho.
riu e cutucou levemente o nariz dela com o dedo.
— Tudo bem, eu perdoo você dessa vez.
Christopher riu baixo da interação entre os dois e seguiu para a mesa, parando ao lado de e colocando uma mão em seu ombro.
— Espero que não tenham te deixado desconfortável — ele comentou, olhando para Yumi e Hana antes de se sentar à cabeceira da mesa. — Vamos começar logo o jantar, antes que Hana devore tudo.
Hana riu e voltou ao seu lugar, mas não sem antes lançar um olhar animado para , que agora caminhava até a mesa com uma postura relaxada. Ele escolheu o assento do outro lado da mesa, oposto a , o que lhe deu uma visão clara dela, mesmo que ambos evitassem encarar diretamente.
chegou logo depois, carregando uma jarra de água, e a mesa estava completa. Yumi começou a servir os pratos, e Christopher puxou uma conversa casual sobre a viagem de . Ainda assim, sentia o olhar de em si, mesmo quando ele não dizia nada. O clima entre eles era tenso e carregado, contrastando com a atmosfera calorosa que a família parecia estar tentando criar.
Entre olhares furtivos e tentativas de ignorar a presença um do outro, sabia que a relação entre eles não seria fácil. E, pelo modo como parecia desinteressado em facilitar as coisas, ela sentiu que ainda tinha muito pela frente nessa nova casa.
Christopher pegou os talheres, mas antes de começar a servir-se, olhou para com um sorriso curioso.
— , você já foi apresentada aos garotos? — perguntou, com um tom amigável enquanto gesticulava em direção aos filhos de sua esposa.
ajeitou-se na cadeira, sentindo o olhar dos outros sobre ela.
— Só ao — respondeu, lançando um olhar rápido para o rapaz, que sorriu de volta com simpatia.
, sempre animado, inclinou-se ligeiramente na mesa.
— O que ela quer dizer é que tivemos uma recepção calorosa no corredor — comentou, piscando para .
Yumi soltou uma risada suave enquanto ajeitava os pratos de Hana.
— Eu sabia que o faria questão de dar um oi imediatamente — brincou ela, sorrindo para o filho.
sentiu as bochechas corarem levemente com o comentário. Ela sabia que aquilo era uma tentativa de tornar o momento mais leve, mas ainda se sentia um pouco desconfortável.
Christopher então virou-se para , que estava calmamente servindo-se de arroz.
— E você, ? Já teve a chance de se apresentar?
A pergunta pairou no ar por um momento, e sentiu um leve aperto no peito ao ver levantar o olhar em sua direção. Ele parecia estar medindo as palavras antes de responder, algo que a deixou ainda mais tensa.
— Digamos que tivemos um… encontro rápido — respondeu ele, colocando os talheres de lado e cruzando os braços sobre a mesa.
Christopher arqueou as sobrancelhas, confuso com a resposta vaga.
— Um encontro rápido? — repetiu, intrigado.
Antes que pudesse responder, cortou, tentando minimizar o desconforto.
— Foi um pequeno mal-entendido, só isso. Nada demais.
deu uma risada abafada, mas não disse nada, enquanto apenas deu de ombros, sem parecer minimamente incomodado com a tensão que havia causado.
Yumi, percebendo o clima estranho, interveio com um sorriso caloroso.
— Bom, tenho certeza de que vocês dois terão tempo de sobra para se conhecerem melhor. Afinal, agora são uma família.
As palavras da madrasta pairaram no ar como uma promessa — ou talvez um desafio, não tinha certeza. Ela lançou um olhar de canto para , que já estava distraído com a comida, e suspirou internamente. Se aquele jantar era um indicativo de como seriam os dias que viriam, ela sabia que precisaria de muita paciência.
Christopher, notando o silêncio tenso entre os filhos, decidiu dar uma mudança de assunto e criar um ambiente mais descontraído, enquanto os pratos eram servidos na mesa. Ele pegou uma colher e começou a mexer na comida à sua frente, olhando para com um sorriso animado.
— Ah, , você deve estar curiosa sobre a comida! Esta aqui é tipicamente coreana. Nós temos kimchi, arroz de gengibre, bulgogi… Tudo fresquinho, direto de casa — ele disse, apontando para cada prato, como se estivesse mostrando as maravilhas de sua terra natal mesmo não sendo coreano.
olhou com interesse os pratos dispostos à sua frente, ainda um pouco surpresa pela variedade de sabores e temperos. O aroma era novo para ela, e, por mais que fosse convidativo, ela não podia evitar a sensação de estar em um lugar completamente diferente.
— O kimchi, que você está vendo ali, é feito com acelga fermentada e pimentão vermelho, um pouco picante, mas bem saboroso. Tem um toque de alho e gengibre. E este aqui é o bulgogi — Christopher continuou, agora apontando para um prato de carne grelhada marinada. — A carne é cortada fininha e temperada com molho de soja, açúcar e um pouco de óleo de gergelim. É uma verdadeira delícia.
, que estava sentado do outro lado, parecia perceber a hesitação dela com a comida nova e tentou sorrir gentilmente.
— Não se preocupe, , é muito bom — disse ele, tentando quebrar o gelo. — Você vai se acostumar rápido.
Foi então que , que estava quieto até então, levantou-se e se aproximou da mesa, pegando a jarra de chá verde. Ele olhou para e, com um sorriso simpático, perguntou:
— Você já experimentou chá verde antes? Ele é bem popular por aqui. Vou te servir um copo.
, um pouco surpresa com a atitude amigável de , assentiu com um sorriso tímido. Ele parecia ser bem diferente de em termos de atitude, muito mais calmo e atencioso.
— Ah, sim… um pouco de chá seria bom, obrigada — respondeu , tentando se sentir mais confortável na situação.
fez questão de preparar o chá para ela, despejando-o cuidadosamente em uma xícara pequena, enquanto Christopher continuava a explicar os outros pratos e os ingredientes.
— E o arroz de gengibre — continuou ele, com um brilho no olhar, mostrando o prato que estava na frente de Yumi. — Tem um sabor mais suave, com um toque de gengibre que combina perfeitamente com a carne. O molho também tem um toque adocicado e salgado, e você vai ver que é uma delícia.
observou o pai falar sobre cada prato com tanto carinho e paixão que sentiu uma certa leveza começar a surgir em seu peito. Pelo menos, ele estava tentando fazer com que ela se sentisse bem-vinda ali, mesmo com todos os novos desafios à sua frente.
Quando retornou com o chá, ele colocou a xícara na frente de , sorrindo amigavelmente.
— Eu sei que pode ser difícil no começo, mas com o tempo você vai se acostumar com tudo isso. Estamos aqui para te ajudar — disse ele, e sorriu levemente, sentindo-se, pela primeira vez, um pouco mais conectada àquela nova família.
***
O jantar estava quase no fim, as conversas se tornando mais leves e descontraídas à medida que todos comiam e trocavam algumas palavras. Hana estava rindo de algo que Christopher dissera, e estava contando uma história engraçada sobre a escola, o que fez até soltar um sorriso tímido. se sentia um pouco mais relaxada, mas ainda não estava completamente confortável em meio a tantos desconhecidos.
Quando os pratos começaram a ser retirados da mesa, notou que todos pareciam já estar se preparando para se retirar, exceto por Yumi, que estava ainda ajeitando os últimos detalhes das travessas na mesa. Ela estava fazendo tudo com calma, mas com uma leve tensão no olhar.
, vendo uma oportunidade para se aproximar, se levantou lentamente e, com um sorriso hesitante, se aproximou de Yumi.
— Posso ajudar com a louça? — perguntou, quebrando o silêncio.
Yumi olhou para ela, surpresa pela oferta, mas logo sorriu e assentiu, o que fez se sentir um pouco mais aliviada.
— Claro, seria ótimo, obrigada. Eu realmente estava pensando em pedir ajuda, mas não queria forçar a barra… — Yumi respondeu, deixando transparecer uma leve tensão na voz, como se estivesse tentando encontrar uma forma de se aproximar sem invadir o espaço de .
pegou a primeira travessa de arroz que estava sobre a mesa e começou a levá-la para a cozinha. Yumi a seguiu, pegando os talheres e colocando-os na pia. Quando entraram na cozinha, colocou a travessa na pia e começou a abrir as torneiras, preparando-se para lavar as louças.
Yumi, que parecia mais relaxada agora, começou a falar de forma descontraída, como se tentasse fazer uma conversa mais natural entre as duas.
— Sabe, eu sei que não é fácil se mudar para um lugar novo e estar longe de tudo o que você conhece… Eu realmente espero que você encontre um jeito de se sentir em casa aqui. Eu posso imaginar como deve ser difícil.
olhou para Yumi, surpresa pela sinceridade na voz dela. Ela não sabia exatamente o que responder, então se limitou a um sorriso tímido, enquanto começava a esfregar uma das tigelas com mais força do que o necessário.
— Eu… não sei, mas espero que seja possível. Eu não esperava que tudo fosse tão diferente. Mas obrigada por tentar… — respondeu, sem olhar diretamente para Yumi, ainda um pouco constrangida.
Yumi percebeu a hesitação de e, de maneira suave, passou a pegar outra travessa e começar a secá-la, aparentemente respeitando o espaço da garota.
— Não se preocupe, . Eu entendo. Vai levar um tempo, e está tudo bem. Se você precisar de alguma coisa, saiba que pode contar comigo.
olhou para ela, um pouco mais tranquila. O fato de Yumi estar se mostrando disposta a ajudar e fazer a conversa fluir mais natural fez sentir que talvez a adaptação fosse um pouco mais fácil do que imaginara inicialmente.
— Obrigada — disse, finalmente, sem tanto receio. — Eu vou tentar me acostumar com tudo.
Yumi sorriu com mais sinceridade, como se sentisse um alívio por finalmente ver um pequeno progresso na interação delas.
— Vai dar certo, tenho certeza disso — Yumi respondeu, terminando de secar as últimas coisas. Quando terminaram, ela deu um último olhar para e comentou: — Agora vamos descer e relaxar, ok? Todo mundo deve estar esperando.
acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco mais confortável do que antes. Mesmo que fosse um pequeno passo, talvez fosse o início de uma relação mais tranquila entre ela e sua madrasta.
***
Yumi conduziu suavemente até a sala de estar, onde a família já começava a se ajeitar no sofá e nas poltronas ao redor da mesa de café. A sala era aconchegante, com luz suave vindo de uma lâmpada de piso e algumas almofadas espalhadas pelo sofá grande. Hana e estavam rindo de algo, conversando animadamente, enquanto , com os fones de ouvido, mexia no celular e parecia mais alheio ao ambiente, como se não tivesse muita vontade de interagir no momento.
Quando Christopher a chamou para se sentar ao seu lado, ela respirou fundo e seguiu até o sofá, sem pressa, como se cada passo fosse um lembrete de que sua vida agora estava em um lugar totalmente novo.
Christopher sorriu para ela enquanto ela se acomodava.
— Já comecei a procurar um professor de coreano para você. E, além disso, a escola que você vai ser matriculada tem uma turma separada para alunos estrangeiros. Vai ser mais fácil do que você imagina — disse ele, tentando tranquilizá-la.
assentiu, mas não pôde evitar a ansiedade que ainda a consumia. Estava grata pela preocupação dele, mas ainda estava se ajustando.
Antes que ela pudesse responder, , que estava sorrindo animado, interveio:
— Mas enquanto não arrumam o professor, eu e podemos te ajudar com o básico. Vai ser fácil! — disse, com um tom de entusiasmo.
, que estava distraído mexendo no celular, levantou os olhos e fuzilou com um olhar de irritação.
— Sério? Eu não assinei nada disso — retrucou, com os olhos voltando para o celular, visivelmente não interessado na ideia.
riu, aparentemente sem ligar para a reação do irmão.
— Vai ser divertido, cara! — disse ele, com um sorriso travesso.
observou a troca entre os dois irmãos, sentindo um pequeno alívio por ver que, apesar das tensões, havia algo de normal, até mesmo divertido, naquele ambiente novo. Ela não sabia como seria o futuro, mas talvez, apenas talvez, começasse a se encaixar um pouco nesse novo começo.
Hana, começando a perder energia, subiu no sofá e se acomodou ao lado de . Ela parecia observá-la com curiosidade por alguns instantes antes de, sem aviso, se aconchegar no colo dela, apoiando a cabeça em suas pernas. ficou paralisada por um momento, surpresa pela atitude espontânea da menina.
— Você é quentinha, noona — murmurou Hana, já com um tom sonolento, enquanto fechava os olhos e abraçava uma almofada próxima.
olhou para o pai e para Yumi, um pouco desconcertada, como se esperasse que alguém dissesse algo ou a ajudasse, mas ambos apenas sorriram, achando graça da situação. Lentamente, ela relaxou, deixando uma das mãos repousar sobre os cabelos macios de Hana, que soltou um suspiro de satisfação.
Do outro lado da sala, levantou o olhar do celular, observando silenciosamente a interação. Ele notou o desconforto inicial de e, em seguida, a forma como, mesmo assustada, ela acolhia a pequena Hana com cuidado. Havia algo genuíno no gesto, algo que ele não esperava.
, que também percebeu o momento, riu baixinho.
— Parece que Hana já escolheu a noona favorita dela. — comentou, quebrando o silêncio.
deu um sorriso tímido, ainda tentando processar como aquela conexão tão rápida havia acontecido. Hana parecia confortável demais para uma criança que acabara de conhecê-la, e isso a deixava dividida entre a estranheza e um pequeno calor no peito, algo que ela não sentia há muito tempo.
desviou o olhar, fingindo que não estava interessado, mas não pôde evitar uma leve expressão pensativa. era diferente do que ele imaginava, mesmo que ainda tentasse manter uma distância emocional.
***
O clima na sala foi ficando mais leve à medida que a noite avançava. era naturalmente divertido e, com seu jeito animado, foi capaz de arrancar algumas risadas de . Ele fazia pequenas brincadeiras, contava histórias engraçadas e até tentou ensinar algumas palavras em coreano, apontando objetos na sala enquanto tentava repetir. Hana, ainda no colo da irmã, ria junto e tentava ajudar, embora seu jeito infantil acabasse tornando tudo ainda mais cômico.
, por outro lado, continuava em seu próprio mundo, os fones ainda no ouvido, ocasionalmente levantando os olhos para observar a interação entre os outros, mas sem dizer uma palavra. Ele parecia alheio, mas a verdade era que estava ouvindo cada risada e sentindo a energia mudar na casa.
Hana, já quase adormecida, foi pega de surpresa por um bocejo que a deixou ainda mais encolhida no colo de . sorriu ao notar e se levantou.
— Deixa que eu levo essa pequena bagunceira para o quarto. — disse ele, estendendo os braços para pegar a menina.
Hana protestou levemente, mas estava sonolenta demais para resistir, deixando-se carregar pelo irmão mais velho, que saiu da sala com ela nos braços enquanto cantarolava algo baixinho para acalmá-la.
Enquanto isso, Christopher e Yumi estavam na cozinha, preparando Hotteok, a panqueca doce típica coreana, e conversando sobre como queriam que se sentisse mais acolhida naquela casa. O aroma doce de açúcar e canela começava a se espalhar pela casa.
Na sala, restaram apenas e . O silêncio entre eles era quase palpável, criando uma tensão estranha. se mexeu desconfortavelmente no sofá, sentindo-se observada, mesmo que não estivesse olhando diretamente para ela.
Finalmente, ela quebrou o silêncio com um comentário despretensioso, tentando aliviar o clima:
— Parece que Hana e se dão muito bem. Eles são… diferentes de você
levantou o olhar, surpreso com a iniciativa dela em falar. Ele tirou um dos fones do ouvido e deu de ombros.
— Cada um tem seu jeito. — respondeu, a voz baixa e desinteressada.
respirou fundo, percebendo que talvez não fosse fácil criar uma ponte com ele. Mesmo assim, algo dentro dela a impulsionava a tentar.
observou por um momento, tentando decifrar sua expressão. Ele parecia tão fechado, tão desconectado do que acontecia ao redor, mas algo em seu olhar denunciava que ele estava prestando atenção nela, mesmo que de maneira contida.
— Você sempre fica tão calado assim? — ela perguntou de repente, sem pensar muito, mas mantendo o tom casual.
ergueu uma sobrancelha, como se a pergunta tivesse o pegado desprevenido.
— Só quando não tenho muito a dizer — ele respondeu simplesmente, voltando a colocar o fone no ouvido, mas sem dar play em nada.
riu baixinho, balançando a cabeça.
— Que conveniente! — murmurou, mais para si mesma, mas foi o suficiente para ele ouvir.
— Você sempre faz perguntas tão diretas? — retrucou, ainda sem olhar diretamente para ela.
— Ás vezes — respondeu, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. — Você não parece ser do tipo que gosta de falar, então achei que alguém deveria puxar assunto.
Ele finalmente virou o rosto para ela, cruzando os braços.
— E o que te faz pensar que eu quero conversar?
— Se não quisesse, já teria saído da sala… — retrucou com firmeza, mantendo o olhar fixo nele.
Por um breve momento, pareceu considerar aquilo, como se estivesse surpreso com a resposta dela. Ele relaxou um pouco na poltrona, mas manteve o tom indiferente.
— Então, o que você quer saber?
Ela hesitou por um instante, pensando no que perguntar.
— Por que o quarto era só seu?
Ele respirou fundo, como se estivesse decidindo se valia a pena responder.
— Sou o mais velho e eu gostava de ter meu espaço. Mas quando soube que você viria, cedi o quarto. Achei que seria melhor você ter mais privacidade.
— Isso foi… gentil da sua parte. — ela admitiu, suavizando o tom.
Ele deu de ombros.
— Não costumo usar o quarto muito, de qualquer forma. Prefiro ficar no meu estúdio.
— Você tem um estúdio? — ela perguntou, curiosa.
— É onde eu passo a maior parte do tempo. — ele respondeu, com um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios, como se a simples menção ao espaço fosse suficiente para trazer algum conforto.
Antes que ela pudesse perguntar mais, Christopher apareceu na sala com uma bandeja cheia de Hotteok e um sorriso caloroso.
— Espero que ainda estejam com fome!
O cheiro adocicado encheu a sala, fazendo perceber que, apesar do jantar, ela ainda tinha espaço para algo doce.
***
voltou para a sala com um sorriso largo no rosto, sentando-se ao lado de como se fosse o lugar dele desde sempre.
— Hana já está dormindo como um anjinho. — anunciou, esticando os braços como se estivesse aliviado de ter completado a missão.
O cheiro adocicado das panquecas logo chamou sua atenção. Ele olhou para a bandeja que Christopher segurava e exclamou, animado:
— Hotteok! Isso é um presente dos céus, sério.
Christopher colocou a bandeja sobre a mesa de centro, e foi rápido em pegar uma das panquecas ainda quente. Ele partiu ao meio, soprando cuidadosamente a fumaça que saía do recheio.
— Você tem que experimentar isso — disse para , ignorando completamente a colher que estava ao lado da bandeja. Ele aproximou a metade da panqueca dos lábios dela, gesticulando para que ela mordesse.
— Eu posso pegar a minha própria, sabe… — protestou, meio sem jeito com o gesto.
— Eu sei, mas essa aqui já está perfeita! — insistiu, sorrindo com um brilho de travessura nos olhos.
Ela olhou para ele, incerta, mas acabou cedendo. Mordeu um pequeno pedaço, sentindo o sabor doce e quente se espalhar pela boca.
— É muito bom! — admitiu, limpando o canto dos lábios com o dedo.
— Eu disse… — respondeu com um sorriso satisfeito, mordendo o resto da panqueca como se fosse uma vitória pessoal.
, que observava tudo de longe, suspirou quase imperceptivelmente, mas seu olhar pairou em por um momento mais longo do que o habitual, como se estivesse tentando entender a energia tão natural que o irmão tinha para se conectar com as pessoas.
Christopher se juntou a eles, pegando sua própria panqueca, enquanto Yumi trazia xícaras de chá para acompanhá-las. A atmosfera na sala ficou leve e confortável, mesmo com permanecendo em silêncio, sua presença ainda marcante.
***
Quando o relógio na parede da sala marcou uma hora que parecia tarde demais para o dia longo que havia vivido, respirou fundo e se levantou.
— Acho que vou me deitar… — anunciou, atraindo a atenção de todos na sala.
Yumi sorriu com ternura.
— Boa ideia, querida. Você precisa descansar depois de tanta mudança.
acenou com a cabeça, ainda mastigando outro pedaço de hotteok.
— Se precisar de alguma coisa, é só gritar. — disse ele, com um sorriso despreocupado.
agradeceu com um leve aceno e então, hesitando um pouco, virou-se para , que estava recostado no sofá com os braços cruzados:
— Obrigada pelo quarto! — disse, direta, mas com um tom sincero.
O silêncio que se seguiu foi palpável. arregalou ligeiramente os olhos, claramente pego de surpresa, enquanto segurava uma risada mal contida e Christopher arqueava as sobrancelhas em curiosidade.
— Er… de nada. — respondeu ele, desviando o olhar rapidamente, visivelmente desconfortável por ter sido colocado no centro das atenções.
Com isso, se despediu de todos e subiu as escadas, tentando não se deixar afetar pelo clima estranho que havia criado.
No quarto, ela abriu uma das malas e pegou sua escova de dentes e uma toalha de rosto. Em seguida, foi até o banheiro do corredor. A casa estava silenciosa, com apenas o som distante de risadas abafadas vindo da sala.
Enquanto escovava os dentes, se pegou olhando para o espelho, mas não exatamente para o reflexo. Sua mente estava longe, voltando-se para a imagem de sua mãe.
Ela lembrava das noites em que sua mãe costumava sentar ao lado de sua cama, lendo histórias com uma voz suave que sempre a fazia se sentir segura. Pensar nisso agora fazia seu peito apertar. Era estranho estar tão longe daquele mundo, daquele lar que conhecia tão bem.
terminou de escovar os dentes, lavou o rosto e secou as lágrimas que teimaram em escapar, mesmo sem que ela percebesse. Suspirando, voltou ao quarto, onde a cama parecia ao mesmo tempo convidativa e desconhecida.
se deitou lentamente na cama, o colchão mais macio do que ela esperava. Apesar do conforto, havia um peso no ar que ela não conseguia tirar de si mesma. A casa era nova, mas o vazio de estar longe de tudo o que conhecia ainda era esmagador. Ela puxou as cobertas para cima, mas sentiu que não conseguiria dormir tão fácil.
Com um suspiro, ela pegou o celular da mesa de cabeceira, a tela ainda iluminada pelo reflexo das luzes da rua que passavam pela janela. Desbloqueou o aparelho e deslizou pela galeria de fotos, parando em uma imagem que ela sempre procurava quando se sentia sozinha.
Era uma foto dela e de sua mãe, sorrindo para a câmera em um dia ensolarado no parque. tinha apenas sete anos na imagem, com o cabelo preso em um rabo de cavalo bagunçado e um sorriso largo, genuíno. Sua mãe estava ao lado dela, com os olhos brilhando de felicidade e as mãos delicadamente segurando a pequena pela cintura. A cena parecia de um tempo em que o futuro era incerto, mas as coisas simples eram suficientes.
Ela observou a foto por alguns segundos, o calor que sentia ao lembrar-se da sua mãe sendo substituído por uma dor familiar. O silêncio do novo lar, as novas vozes e rostos, faziam com que a saudade fosse ainda mais pungente.
passou os dedos pela tela, tocando a imagem, como se pudesse, de alguma forma, voltar a tocar a mãe. A lágrima que se formou em seu olho foi rápida, mas ela não fez questão de secá-la. Deitou a cabeça no travesseiro, fechando os olhos por um momento. Tentava se convencer de que tudo ficaria bem, que ela se adaptaria.
Mas por agora, no silêncio da sua nova realidade, só restava a saudade.
Eu só espero que papai tenha sentido falta da linda filha, digo apenas isso para ele 😌😌
Mal posso esperar para conhecer essa família (por favor, não quero que a madrasta seja megera. Pode ser rígida, mas má só por ser má ou ciumenta não, por favoooor).
Agora fico imaginando o que rolou com o pai e a mãe da pp pra ter esse afastamento todo. Pai, tu não foi correr atrás da filha não? Preciso de maiores explicações.
E quem tranca a porta do quarto em um lugar supostamente seguro? Imagino que tenha sido senhor Choi aí? Eu só trancaria meu quarto quando eu me sentisse ameaçada ou eu soubesse que tem gente “estranha” na área enquanto troco de roupa HAHAHHAHA
prometo que o pai e ela ainda vão ter essa conversa sobre o que aconteceu para eles terem se afastado e ele não ter procurado ela por dois anos… a póbi nem imaginada que o Seungcheol iria aparecer coitada kkkkkk
Grazadeus a família é uma família normal e bonitinha. AMEI A HANA, COISINHA MAIS TCHUCA E LINDA <3
O DK é precioso não importa onde, né? O contraste das personalidades é gritante HAHAH
E Scoups, você está enviando sinais misturados, primeiro tu parece o maior playboy babaquinha, aí depois parece um rapazinho educado e fofo, aí depois fica nessa de “vou fingir que não me importo” mas se importa sim u.u
Vamos ver o que vai prevalecer e quando essa fachada vai dar uma derretidinha HEHEHEEH
To tentando pelo menos agora no começo fazer a família ser legalzinha haha, a Hana é uma mini diva! amo a querida! O DK sendo o DK né? <3 Raiozinho de sol, ele vai ser muito importante para a Ayla e para o Seungcheol. Falando no querido…….. aguarde haha