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1º Capítulo
– Ah não! Você está falando sério null?
O amigo estreitou os olhos, tentando ver algum sinal de que null estava brincando ou só estava tentando impressionar os amigos.
– Porque eu brincaria com uma coisa dessas Yoon-jae? Ela é a mulher mais bonita que eu já vi em toda a minha vida.
– Você vai chegar nela quando?
Yoon-jae levou a xícara de café aos lábios enquanto esperava null processar sua pergunta.
– Eu preciso observá-la primeiro, saber se ela não tem um namorado, ou namorada, – null deu de ombros, divertido. – Eu a conheci ontem, e só de vista…
– Ela não é personal? É só puxar assunto com ela sobre isso, seu bobão!
null balançou a cabeça, rindo baixinho.
– Não é tão simples assim, Yoon-jae. Eu não posso simplesmente chegar lá e dizer: “Oi, você é personal, me ajuda com um treino?” Ela vai perceber que eu estou tentando qualquer coisa. E se ela achar estranho?
Yoon-jae ergueu uma sobrancelha, debochado.
– Cara, você se preocupa demais. Na pior das hipóteses, ela acha que você quer ficar em forma. E isso, na verdade, é uma vantagem. – Ele apoiou a xícara na mesa e inclinou o corpo para frente. – O que você vai fazer? Ficar espiando ela a cada aula e torcer pra ela te notar?
– Talvez eu devesse… sei lá, tentar ser mais sutil. Sabe, como um amigo. Eu chego, troco umas ideias, e aí deixo rolar… – null coçou a nuca, parecendo indeciso.
Yoon-jae soltou uma gargalhada.
– Amigo? Ah, não começa com essa de “zona de amizade”, null! Você sabe como isso vai acabar. Você vai ficar ali, todo apaixonadinho, e ela vai te chamar pra contar sobre o cara com quem ela está saindo.
null suspirou, visivelmente frustrado.
– Eu não sei, cara. Ela me pareceu diferente, sabe? Não é só sobre a aparência. Tem algo nela que me prende, que me faz querer conhecer mais… Só que ao mesmo tempo, não sei se estou preparado pra isso.
– Preparado pra quê? Se for o lance de relacionamento sério, você já está nessa mentalidade há tempos. Ou você vai me dizer que está pensando em ser casual pela primeira vez? – Yoon-jae o provocou, levantando as sobrancelhas com um sorriso.
null negou com a cabeça, exasperado.
– Claro que não! Eu só… eu só quero que isso dê certo, entende? E não sei como ela é. E se ela não quiser nada sério? E se ela for totalmente diferente do que estou imaginando?
Yoon-jae deu de ombros.
– Só tem um jeito de descobrir, meu amigo. E isso envolve falar com ela, em vez de ficar criando teorias na sua cabeça.
null olhou para o amigo, rindo de leve, mas ainda com uma pitada de incerteza no olhar.
– Tá, tá… eu vou falar com ela. Só preciso encontrar a hora certa.
Yoon-jae sorriu satisfeito e deu um tapinha no ombro de null.
– Agora sim! Você vai ver, vai ser mais fácil do que você imagina.
Após o café, null e Yoon-jae caminharam de volta para o escritório, o som das ruas de Seul preenchendo os momentos de silêncio entre os dois. O vento suave balançava os cabelos de null enquanto ele, distraído, observava as pessoas passarem apressadas. Sua mente, no entanto, estava longe dali.
“Ela deve ter uns 28 ou 29 anos”, pensou null, lembrando-se da mulher que vira na academia na noite anterior. Seus olhos vagavam para longe enquanto ele visualizava a cena em sua mente — ela estava concentrada, ajustando os pesos na barra como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Seus movimentos eram precisos, quase elegantes, e ele se pegou admirando a postura confiante dela, mesmo sem trocar uma palavra.
“Que tipo de pessoa ela será?” Ele se perguntou pela milésima vez desde a primeira vez que seus olhos cruzaram com os dela. “Será que ela gosta de sair? Será que ela trabalha com algo diferente? E o mais importante, será que ela está solteira?”
Yoon-jae, caminhando ao lado dele, mexia no celular, provavelmente revisando e-mails do trabalho, mas null mal notou. Sua mente estava presa na memória do breve encontro visual que teve com ela. Aquele olhar, tão rápido, tão fugaz, mas que deixou seu coração acelerado. A sensação ainda ecoava dentro dele, como se fosse algo mais profundo do que simplesmente achá-la bonita.
null soltou um suspiro, tentando afastar o pensamento de que estava idealizando tudo. Talvez Yoon-jae estivesse certo — ele realmente complicava as coisas. Era só uma garota na academia, talvez nem se lembrasse dele. Mas, de alguma forma, ele queria acreditar que havia algo a mais naquela troca de olhares.
“É só chegar nela, puxar assunto. Vai ser simples”, repetiu mentalmente, tentando se convencer de que não havia razão para hesitar tanto.
Mas era difícil. Algo nele queria garantir que não fosse apenas uma interação casual, que fosse significativo. Que aquele encontro de olhares fosse o primeiro de muitos. Ele riu de si mesmo, balançando a cabeça.
“Você está ficando maluco, null.”
Chegando no prédio do escritório, Yoon-jae finalmente tirou os olhos do celular e olhou para null, percebendo o silêncio do amigo.
– Ainda pensando nela, né? – provocou, com um sorriso de canto.
null desviou o olhar e riu, balançando a cabeça.
– É… talvez. – admitiu.
– Bom, quem sabe hoje à noite você tome coragem e fale com ela, hein?
null sorriu de leve, mas seu coração acelerava só de pensar nisso.
– Quem sabe… – murmurou, enquanto eles atravessavam a porta de vidro e voltavam à rotina do escritório. Mesmo assim, a imagem dela não saía da sua cabeça.
***
Era sexta-feira à noite, e a academia estava quase deserta, o que era estranho para aquele horário. Normalmente, o lugar estaria cheio de pessoas queimando as calorias para o final de semana, mas naquela noite, apenas algumas luzes estavam acesas, e o som das esteiras funcionando ecoava de longe.
null entrou no salão principal, seu olhar vagando pela sala de musculação. Havia apenas dois ou três frequentadores dispersos, mas sua atenção foi imediatamente capturada por uma figura na área de treino funcional, mais afastada.
Ela.
Lá estava ela, sozinha, com luvas de boxe pretas, desferindo golpes rápidos e precisos no saco de pancadas. O cabelo preso em um rabo de cavalo alto balançava a cada movimento, enquanto o som surdo dos golpes preenchia o ar. A intensidade nos olhos dela mostrava que ela estava focada, totalmente imersa no treino, sem perceber que alguém a observava.
null parou na entrada, sentindo o coração acelerar ao vê-la assim, tão poderosa e concentrada. Era impressionante vê-la em ação, cada golpe tão firme, tão seguro. Por um momento, ele ficou apenas admirando-a, sem coragem de interromper aquela cena. Ela era diferente de qualquer outra pessoa que ele já tinha visto, e aquilo só fazia aumentar o fascínio que ele sentia.
Enquanto a observava, seus pensamentos se embaralhavam. Será que ela sempre treinava sozinha? Será que era o tipo de pessoa que gostava da solidão, ou talvez estivesse ali fora de um horário normal para evitar a multidão? Ele não conseguia evitar imaginar como seria falar com ela, finalmente quebrar aquele muro de silêncio entre eles.
Respirando fundo, null deu alguns passos em direção à área de treino. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, sua mente trabalhando em mil teorias sobre como puxar assunto. Foi então que, sem aviso, ela parou o treino e olhou diretamente para ele.
– Você é o aluno das sete e meia? – ela perguntou, retirando as luvas enquanto o olhava de cima a baixo, com uma expressão curiosa, mas calma.
null ficou surpreso por ela ter iniciado a conversa, sua voz soando um pouco mais grave do que ele imaginava. Ele sorriu, meio sem jeito, balançando a cabeça.
– Não, não… – Ele deu uma risada nervosa. – Eu não tenho aula marcada. Só vim dar uma passada e… acabei te vendo aqui. – Ele parou por um segundo, pensando no que dizer sem parecer estranho. – Você treina boxe?
Ela riu suavemente, como se a pergunta fosse óbvia, e retirou a última luva, jogando-a ao lado do banco.
– Quando dá tempo, sim. Ajuda a liberar o estresse. – Ela o observou por um segundo, como se o estivesse analisando. – E você? O que veio fazer? Não parece que você é o tipo que só aparece por aqui sem um motivo.
null riu, tentando relaxar diante do olhar dela.
– É, você me pegou. Eu vim dar uma olhada… Estava pensando em mudar minha rotina de treinos. – Ele coçou a nuca, desviando o olhar por um segundo antes de voltar a encará-la. – Mas, na verdade, eu te vi treinando ontem e… fiquei curioso.
Ela arqueou uma sobrancelha, ligeiramente surpresa, mas não parecia incomodada.
– Curioso? Sobre o treino ou sobre mim? – O sorriso dela era desafiador, quase brincalhão, enquanto ela o encarava de maneira direta, sem rodeios.
null sentiu o rosto esquentar ligeiramente, mas manteve o sorriso.
– Um pouco dos dois, eu acho.
Ela cruzou os braços, ainda analisando-o, como se estivesse decidindo o que pensar dele.
– Bem, se for sobre o treino, posso te mostrar alguns golpes. Se for sobre mim… isso vai ter que esperar mais um pouco. – Ela deu uma piscadela, pegando a toalha e jogando-a sobre os ombros. – Meu nome é null, a propósito.
null sorriu, sentindo uma onda de alívio e entusiasmo ao finalmente saber o nome dela.
– null. Prazer em te conhecer, null.
***
Depois da breve conversa, null foi para a área de musculação. Colocou os fones de ouvido, tentando se concentrar nos exercícios. Ele começou pelo aquecimento de costume, alternando entre esteira e bicicleta, mas sua mente ainda estava presa na breve interação com null. O jeito despreocupado dela, a maneira como o desafiou, tudo aquilo o deixava intrigado e, de certo modo, ansioso para uma próxima conversa.
”null“, ele repetia mentalmente, como se quisesse gravar o nome dela. Ela parecia tão confiante, tão segura de si. Ele se perguntava o que ela estaria pensando agora. Será que o viu como apenas mais um cara qualquer da academia, ou será que sua curiosidade também foi despertada?
O tempo passava devagar enquanto null se dedicava à sua série de exercícios. Ele tentou manter o foco, aumentando o peso nos halteres e se concentrando nos movimentos. Cerca de 40 minutos se passaram e, no meio de uma série de supino, ele sentiu uma presença no canto da visão. Curioso, null ergueu o olhar e, como se o universo conspirasse, lá estava ela.
null.
Ela havia acabado de sair da área de treino funcional e agora caminhava com calma pela área de musculação. Estava sem as luvas de boxe, e a expressão dela era relaxada, mas atenta ao ambiente ao redor. Quando os olhares dos dois finalmente se cruzaram, o tempo pareceu parar por um instante.
null congelou por um segundo, ainda segurando a barra de supino no ar. Seus olhos se encontraram, e ele sentiu uma corrente elétrica passar por ele. O olhar de null era calmo, quase desafiador, como se ela soubesse o impacto que causava. Ela não desviou o olhar, mas também não disse nada, apenas deu um meio sorriso, como se reconhecesse aquele encontro silencioso entre os dois.
null, por sua vez, sentiu o coração acelerar de leve, embora tentasse manter a compostura. Ele terminou a série, colocando a barra no lugar, mas seus olhos ainda estavam presos nela, como se houvesse algo magnético naquele breve contato visual. Ele tirou os fones de ouvido, achando que ela talvez se aproximasse, mas null continuou sua caminhada pela área, indo até os pesos livres, sem apressar o passo.
Ela pegou um halter leve e começou a fazer elevações laterais, como se estivesse apenas retomando seu treino, sem dar muita importância ao fato de que eles tinham acabado de trocar aquele olhar intenso. null respirou fundo, tentando se recompor. Ele queria ir até ela, mas ao mesmo tempo, não queria parecer afobado.
“De novo isso”, ele pensou, rindo de si mesmo. Mas agora que sabia o nome dela, as barreiras pareciam mais fáceis de atravessar.
Depois de alguns minutos, null finalmente olhou de novo na direção dele, e dessa vez, ela falou, com um sorriso discreto.
– Está se saindo bem por aqui. Quem diria que sabia mesmo o que estava fazendo.
null riu, aproximando-se um pouco, agora mais à vontade.
– Surpreso que eu sei treinar? – ele provocou, divertido.
Ela ergueu uma sobrancelha, ainda com aquele jeito despreocupado que a fazia parecer tão confiante.
– Um pouco. A maioria só vem aqui pra fazer pose.
null sorriu, sentindo o gelo entre eles quebrar um pouco mais.
– Bom, eu tento ser diferente da maioria.
Ela deu um sorriso de canto e voltou a focar no exercício, mas dessa vez, null sentia que algo entre eles estava começando a se desenrolar.
null, ainda um pouco sem fôlego depois da série de supino, deixou escapar uma risada suave ao ouvir a provocação de null.
— Então não precisa de uma personal, ou de uma lista de treinos personalizados? — Ela disse, com um sorriso malicioso enquanto se alongava entre as séries de elevações laterais. — Tá incluso na sua mensalidade, sabia?
Ele levantou uma sobrancelha, tentando interpretar se ela estava apenas brincando ou se realmente estava se oferecendo para ajudá-lo de alguma forma.
— Ah, sério? — Ele respondeu com um tom igualmente brincalhão. — Eu sabia que tinha algum benefício escondido por aí. E você faz parte desse pacote de personal trainers ou só estou com sorte?
null riu, balançando a cabeça de leve, enquanto colocava o halter no chão e se virava para encará-lo de frente, com os braços cruzados.
— Depende do seu desempenho, null. — Ela falou, enfatizando o nome dele com uma pontada de diversão. — Se você conseguir impressionar, quem sabe? Mas por enquanto, acho que você vai ter que se virar por conta própria.
null sentiu o coração acelerar ao ouvir a maneira casual, mas provocativa, com que ela falava. Era claro que ela sabia como mexer com ele, e null, sem querer parecer afobado, tentava acompanhar o ritmo dela sem perder a compostura.
— Então vou ter que suar um pouco mais pra merecer sua ajuda, é isso? — Ele disse, com um sorriso desafiador. — Eu gosto de um bom desafio.
null soltou uma leve risada, com um brilho nos olhos que indicava que ela gostava do jogo. Ela pegou a toalha e passou no rosto, sem tirar os olhos de null.
— Pode ser… Vamos ver se você aguenta. — Ela deu uma piscadela e voltou a pegar os halteres, retomando seu treino como se a conversa não tivesse sido nada de mais.
null ficou por um momento parado, observando-a, sabendo que aquele diálogo provocativo entre eles estava apenas começando. Ele sentia que havia muito mais por trás daquele jeito descontraído dela, e a ideia de descobrir mais sobre null o deixava cada vez mais curioso e envolvido.
Agora, além de querer impressioná-la, ele também queria conhecer melhor aquela mulher que estava tornando seus dias mais intrigantes.
***
Depois de mais uma série de exercícios, null decidiu que era hora de ir. Já estava cansado e a interação com null, por mais instigante que fosse, o deixava levemente ansioso. Enquanto guardava o último halter e pegava sua garrafa de água, ele notou null do outro lado da sala, focada nos seus próprios exercícios.
Ao caminhar em direção ao vestiário, sentiu uma mistura de satisfação e inquietação. Mal trocou palavras com ela, mas já se via intrigado o suficiente para querer mais. Quando estava prestes a sair, ouviu a voz dela chamar seu nome:
— Ei, null! — Ela estava parada ao lado da área de boxe, com as mãos apoiadas no quadril e um sorriso nos lábios. — Já vai?
Ele parou imediatamente, virando-se para ela.
— Achei que já tinha treinado o suficiente por hoje… — Ele respondeu, meio sem jeito.
null inclinou a cabeça, seus olhos brilhando de forma travessa.
— Não tem interesse em ficar mais um pouco? — Ela mordeu de leve o lábio inferior antes de completar. — Posso te mostrar alguns golpes de boxe… Vai ser divertido.
null hesitou por um instante, mas a ideia de passar mais tempo com ela era tentadora demais. Ele sabia que estava prestes a aceitar, mesmo antes de abrir a boca.
— Claro, por que não? — Ele disse, tentando soar casual.
null sorriu satisfeita e fez um gesto para que ele se aproximasse do ringue improvisado. Ao se aproximar, ela pegou um par de fitas de algodão do balcão ao lado.
— Não tenho luvas extras, mas podemos improvisar. — Ela disse, segurando as faixas de modo despreocupado. — Vou amarrar isso nas suas mãos para você não se machucar.
null sentiu um calor tomar conta do ambiente. Havia algo na maneira como ela falava e se movia que tornava tudo mais carregado de tensão. Ele estendeu as mãos sem dizer nada, deixando-a envolver as faixas em volta de seus pulsos e nós dos dedos com delicadeza.
null estava concentrada na tarefa, seus dedos habilidosos passando pelo tecido com precisão, mas null não conseguia se concentrar em outra coisa que não o toque dela. Às vezes, os dedos dela roçavam suavemente sua pele, fazendo-o arrepiar levemente.
— Pronto. — Ela disse, sua voz baixa, sem erguer o olhar imediatamente. — Isso deve funcionar por enquanto.
Quando ela finalmente ergueu os olhos, o contato visual entre eles era inevitável, e o clima entre os dois ficou palpável. Por um momento, null sentiu como se o ar ao redor tivesse ficado mais pesado, carregado de uma tensão que ele não sabia bem como interpretar. null sorriu de canto, o mesmo sorriso que o desafiava e o deixava sem saber se ela estava apenas sendo amigável ou algo mais.
— Agora vamos ver se você aguenta uns socos. — Ela disse, rindo suavemente e dando um passo para trás, preparando-se para mostrar os movimentos.
null riu junto, tentando aliviar a tensão que sentia no peito. Ele não sabia se estava mais nervoso com o fato de aprender boxe ou com a proximidade de null. Mas de uma coisa ele tinha certeza: ele não se importava de ficar mais um tempo por ali.
null deu alguns passos para o centro da área de treino, sentindo o peso das faixas em suas mãos, enquanto null ainda mantinha aquele olhar provocativo. Ela começou a se mover, demonstrando alguns golpes básicos no ar com facilidade e graça. null observava cada movimento dela com atenção, tentando se concentrar, mas sentia seu coração acelerar com a proximidade.
— Vou te ensinar o básico, ok? — Ela disse, enquanto assumia a postura de luta, com os punhos levantados. — Primeiro, postura. Mantenha os pés firmes e ligeiramente afastados, um à frente do outro. Mantenha o peso equilibrado entre eles.
null imitou a posição dela, embora um pouco desajeitado no início. null caminhou ao redor dele, observando sua postura e corrigindo-o ocasionalmente. Quando ela se aproximava para ajustar a posição dos pés ou a curvatura dos braços, ele sentia o calor do corpo dela, o que o deixava ainda mais atento aos detalhes.
— Isso. Agora, relaxa os ombros. Não precisa de força bruta, só controle. — Ela tocou de leve seu ombro, fazendo um movimento para que ele soltasse a tensão.
null respirou fundo, tentando se concentrar. null estava tão perto que ele sentia o perfume suave dela no ar, e a maneira como ela falava o fazia querer impressioná-la. Mesmo enquanto o ensinava, ela mantinha aquele ar confiante e provocativo, o que só tornava tudo mais intenso.
— Agora, tenta um jab. — Ela ergueu as mãos à frente, oferecendo-as como alvo para os golpes. — Direciona o soco com o punho fechado, mas não força demais no início.
null acertou o primeiro golpe, sentindo a resistência leve das mãos dela, que ainda seguravam suas próprias faixas para protegê-la do impacto.
— Nada mal para um novato. — Ela comentou, rindo suavemente. — Mas pode ser melhor.
Eles continuaram por mais alguns minutos, null seguindo as instruções dela enquanto null corrigia sua postura e movimentos. Aos poucos, ele foi se soltando mais, se sentindo mais confortável com os golpes. Mas o que realmente o desconcertava era a proximidade constante de null, a maneira como ela o observava, avaliava, e às vezes sorria de canto, como se estivesse testando mais do que apenas sua habilidade no boxe.
Após mais alguns golpes, null parou, se aproximando um pouco mais para corrigir a posição da mão dele.
— Você tá melhorando rápido… — Ela murmurou, seus olhos fixos nos dele enquanto envolvia os dedos em torno de seu punho, ajustando-o. — Quem sabe, daqui a um tempo, você vire um profissional.
null sorriu, sentindo o coração disparar com o olhar intenso dela.
— Com uma treinadora assim, fica fácil. — Ele disse, sua voz saindo um pouco mais baixa do que o esperado.
null soltou uma risada baixa, ainda segurando a mão dele por alguns segundos antes de finalmente soltar. O contato visual entre eles durou mais do que o normal, e null sabia que aquele momento não era apenas sobre o treino. Algo mais estava acontecendo ali, algo que ele ainda não conseguia nomear, mas que era impossível de ignorar.
— Bom, é melhor você descansar um pouco agora. — Ela disse, quebrando o clima com um sorriso travesso. — Não quero te esgotar logo no primeiro dia.
— Eu vou sobreviver. — Ele respondeu, tentando esconder o nervosismo atrás de um sorriso.
null deu um último olhar de aprovação antes de se afastar, deixando null com os pensamentos acelerados e a sensação de que aquele era apenas o começo de algo muito maior.
1º Capítulo
– Ah não! Você está falando sério null?
O amigo estreitou os olhos, tentando ver algum sinal de que null estava brincando ou só estava tentando impressionar os amigos.
– Porque eu brincaria com uma coisa dessas Yoon-jae? Ela é a mulher mais bonita que eu já vi em toda a minha vida.
– Você vai chegar nela quando?
Yoon-jae levou a xícara de café aos lábios enquanto esperava null processar sua pergunta.
– Eu preciso observá-la primeiro, saber se ela não tem um namorado, ou namorada, – null deu de ombros, divertido. – Eu a conheci ontem, e só de vista…
– Ela não é personal? É só puxar assunto com ela sobre isso, seu bobão!
null balançou a cabeça, rindo baixinho.
– Não é tão simples assim, Yoon-jae. Eu não posso simplesmente chegar lá e dizer: “Oi, você é personal, me ajuda com um treino?” Ela vai perceber que eu estou tentando qualquer coisa. E se ela achar estranho?
Yoon-jae ergueu uma sobrancelha, debochado.
– Cara, você se preocupa demais. Na pior das hipóteses, ela acha que você quer ficar em forma. E isso, na verdade, é uma vantagem. – Ele apoiou a xícara na mesa e inclinou o corpo para frente. – O que você vai fazer? Ficar espiando ela a cada aula e torcer pra ela te notar?
– Talvez eu devesse… sei lá, tentar ser mais sutil. Sabe, como um amigo. Eu chego, troco umas ideias, e aí deixo rolar… – null coçou a nuca, parecendo indeciso.
Yoon-jae soltou uma gargalhada.
– Amigo? Ah, não começa com essa de “zona de amizade”, null! Você sabe como isso vai acabar. Você vai ficar ali, todo apaixonadinho, e ela vai te chamar pra contar sobre o cara com quem ela está saindo.
null suspirou, visivelmente frustrado.
– Eu não sei, cara. Ela me pareceu diferente, sabe? Não é só sobre a aparência. Tem algo nela que me prende, que me faz querer conhecer mais… Só que ao mesmo tempo, não sei se estou preparado pra isso.
– Preparado pra quê? Se for o lance de relacionamento sério, você já está nessa mentalidade há tempos. Ou você vai me dizer que está pensando em ser casual pela primeira vez? – Yoon-jae o provocou, levantando as sobrancelhas com um sorriso.
null negou com a cabeça, exasperado.
– Claro que não! Eu só… eu só quero que isso dê certo, entende? E não sei como ela é. E se ela não quiser nada sério? E se ela for totalmente diferente do que estou imaginando?
Yoon-jae deu de ombros.
– Só tem um jeito de descobrir, meu amigo. E isso envolve falar com ela, em vez de ficar criando teorias na sua cabeça.
null olhou para o amigo, rindo de leve, mas ainda com uma pitada de incerteza no olhar.
– Tá, tá… eu vou falar com ela. Só preciso encontrar a hora certa.
Yoon-jae sorriu satisfeito e deu um tapinha no ombro de null.
– Agora sim! Você vai ver, vai ser mais fácil do que você imagina.
Após o café, null e Yoon-jae caminharam de volta para o escritório, o som das ruas de Seul preenchendo os momentos de silêncio entre os dois. O vento suave balançava os cabelos de null enquanto ele, distraído, observava as pessoas passarem apressadas. Sua mente, no entanto, estava longe dali.
“Ela deve ter uns 28 ou 29 anos”, pensou null, lembrando-se da mulher que vira na academia na noite anterior. Seus olhos vagavam para longe enquanto ele visualizava a cena em sua mente — ela estava concentrada, ajustando os pesos na barra como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Seus movimentos eram precisos, quase elegantes, e ele se pegou admirando a postura confiante dela, mesmo sem trocar uma palavra.
“Que tipo de pessoa ela será?” Ele se perguntou pela milésima vez desde a primeira vez que seus olhos cruzaram com os dela. “Será que ela gosta de sair? Será que ela trabalha com algo diferente? E o mais importante, será que ela está solteira?”
Yoon-jae, caminhando ao lado dele, mexia no celular, provavelmente revisando e-mails do trabalho, mas null mal notou. Sua mente estava presa na memória do breve encontro visual que teve com ela. Aquele olhar, tão rápido, tão fugaz, mas que deixou seu coração acelerado. A sensação ainda ecoava dentro dele, como se fosse algo mais profundo do que simplesmente achá-la bonita.
null soltou um suspiro, tentando afastar o pensamento de que estava idealizando tudo. Talvez Yoon-jae estivesse certo — ele realmente complicava as coisas. Era só uma garota na academia, talvez nem se lembrasse dele. Mas, de alguma forma, ele queria acreditar que havia algo a mais naquela troca de olhares.
“É só chegar nela, puxar assunto. Vai ser simples”, repetiu mentalmente, tentando se convencer de que não havia razão para hesitar tanto.
Mas era difícil. Algo nele queria garantir que não fosse apenas uma interação casual, que fosse significativo. Que aquele encontro de olhares fosse o primeiro de muitos. Ele riu de si mesmo, balançando a cabeça.
“Você está ficando maluco, null.”
Chegando no prédio do escritório, Yoon-jae finalmente tirou os olhos do celular e olhou para null, percebendo o silêncio do amigo.
– Ainda pensando nela, né? – provocou, com um sorriso de canto.
null desviou o olhar e riu, balançando a cabeça.
– É… talvez. – admitiu.
– Bom, quem sabe hoje à noite você tome coragem e fale com ela, hein?
null sorriu de leve, mas seu coração acelerava só de pensar nisso.
– Quem sabe… – murmurou, enquanto eles atravessavam a porta de vidro e voltavam à rotina do escritório. Mesmo assim, a imagem dela não saía da sua cabeça.
***
Era sexta-feira à noite, e a academia estava quase deserta, o que era estranho para aquele horário. Normalmente, o lugar estaria cheio de pessoas queimando as calorias para o final de semana, mas naquela noite, apenas algumas luzes estavam acesas, e o som das esteiras funcionando ecoava de longe.
null entrou no salão principal, seu olhar vagando pela sala de musculação. Havia apenas dois ou três frequentadores dispersos, mas sua atenção foi imediatamente capturada por uma figura na área de treino funcional, mais afastada.
Ela.
Lá estava ela, sozinha, com luvas de boxe pretas, desferindo golpes rápidos e precisos no saco de pancadas. O cabelo preso em um rabo de cavalo alto balançava a cada movimento, enquanto o som surdo dos golpes preenchia o ar. A intensidade nos olhos dela mostrava que ela estava focada, totalmente imersa no treino, sem perceber que alguém a observava.
null parou na entrada, sentindo o coração acelerar ao vê-la assim, tão poderosa e concentrada. Era impressionante vê-la em ação, cada golpe tão firme, tão seguro. Por um momento, ele ficou apenas admirando-a, sem coragem de interromper aquela cena. Ela era diferente de qualquer outra pessoa que ele já tinha visto, e aquilo só fazia aumentar o fascínio que ele sentia.
Enquanto a observava, seus pensamentos se embaralhavam. Será que ela sempre treinava sozinha? Será que era o tipo de pessoa que gostava da solidão, ou talvez estivesse ali fora de um horário normal para evitar a multidão? Ele não conseguia evitar imaginar como seria falar com ela, finalmente quebrar aquele muro de silêncio entre eles.
Respirando fundo, null deu alguns passos em direção à área de treino. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, sua mente trabalhando em mil teorias sobre como puxar assunto. Foi então que, sem aviso, ela parou o treino e olhou diretamente para ele.
– Você é o aluno das sete e meia? – ela perguntou, retirando as luvas enquanto o olhava de cima a baixo, com uma expressão curiosa, mas calma.
null ficou surpreso por ela ter iniciado a conversa, sua voz soando um pouco mais grave do que ele imaginava. Ele sorriu, meio sem jeito, balançando a cabeça.
– Não, não… – Ele deu uma risada nervosa. – Eu não tenho aula marcada. Só vim dar uma passada e… acabei te vendo aqui. – Ele parou por um segundo, pensando no que dizer sem parecer estranho. – Você treina boxe?
Ela riu suavemente, como se a pergunta fosse óbvia, e retirou a última luva, jogando-a ao lado do banco.
– Quando dá tempo, sim. Ajuda a liberar o estresse. – Ela o observou por um segundo, como se o estivesse analisando. – E você? O que veio fazer? Não parece que você é o tipo que só aparece por aqui sem um motivo.
null riu, tentando relaxar diante do olhar dela.
– É, você me pegou. Eu vim dar uma olhada… Estava pensando em mudar minha rotina de treinos. – Ele coçou a nuca, desviando o olhar por um segundo antes de voltar a encará-la. – Mas, na verdade, eu te vi treinando ontem e… fiquei curioso.
Ela arqueou uma sobrancelha, ligeiramente surpresa, mas não parecia incomodada.
– Curioso? Sobre o treino ou sobre mim? – O sorriso dela era desafiador, quase brincalhão, enquanto ela o encarava de maneira direta, sem rodeios.
null sentiu o rosto esquentar ligeiramente, mas manteve o sorriso.
– Um pouco dos dois, eu acho.
Ela cruzou os braços, ainda analisando-o, como se estivesse decidindo o que pensar dele.
– Bem, se for sobre o treino, posso te mostrar alguns golpes. Se for sobre mim… isso vai ter que esperar mais um pouco. – Ela deu uma piscadela, pegando a toalha e jogando-a sobre os ombros. – Meu nome é null, a propósito.
null sorriu, sentindo uma onda de alívio e entusiasmo ao finalmente saber o nome dela.
– null. Prazer em te conhecer, null.
***
Depois da breve conversa, null foi para a área de musculação. Colocou os fones de ouvido, tentando se concentrar nos exercícios. Ele começou pelo aquecimento de costume, alternando entre esteira e bicicleta, mas sua mente ainda estava presa na breve interação com null. O jeito despreocupado dela, a maneira como o desafiou, tudo aquilo o deixava intrigado e, de certo modo, ansioso para uma próxima conversa.
”null“, ele repetia mentalmente, como se quisesse gravar o nome dela. Ela parecia tão confiante, tão segura de si. Ele se perguntava o que ela estaria pensando agora. Será que o viu como apenas mais um cara qualquer da academia, ou será que sua curiosidade também foi despertada?
O tempo passava devagar enquanto null se dedicava à sua série de exercícios. Ele tentou manter o foco, aumentando o peso nos halteres e se concentrando nos movimentos. Cerca de 40 minutos se passaram e, no meio de uma série de supino, ele sentiu uma presença no canto da visão. Curioso, null ergueu o olhar e, como se o universo conspirasse, lá estava ela.
null.
Ela havia acabado de sair da área de treino funcional e agora caminhava com calma pela área de musculação. Estava sem as luvas de boxe, e a expressão dela era relaxada, mas atenta ao ambiente ao redor. Quando os olhares dos dois finalmente se cruzaram, o tempo pareceu parar por um instante.
null congelou por um segundo, ainda segurando a barra de supino no ar. Seus olhos se encontraram, e ele sentiu uma corrente elétrica passar por ele. O olhar de null era calmo, quase desafiador, como se ela soubesse o impacto que causava. Ela não desviou o olhar, mas também não disse nada, apenas deu um meio sorriso, como se reconhecesse aquele encontro silencioso entre os dois.
null, por sua vez, sentiu o coração acelerar de leve, embora tentasse manter a compostura. Ele terminou a série, colocando a barra no lugar, mas seus olhos ainda estavam presos nela, como se houvesse algo magnético naquele breve contato visual. Ele tirou os fones de ouvido, achando que ela talvez se aproximasse, mas null continuou sua caminhada pela área, indo até os pesos livres, sem apressar o passo.
Ela pegou um halter leve e começou a fazer elevações laterais, como se estivesse apenas retomando seu treino, sem dar muita importância ao fato de que eles tinham acabado de trocar aquele olhar intenso. null respirou fundo, tentando se recompor. Ele queria ir até ela, mas ao mesmo tempo, não queria parecer afobado.
“De novo isso”, ele pensou, rindo de si mesmo. Mas agora que sabia o nome dela, as barreiras pareciam mais fáceis de atravessar.
Depois de alguns minutos, null finalmente olhou de novo na direção dele, e dessa vez, ela falou, com um sorriso discreto.
– Está se saindo bem por aqui. Quem diria que sabia mesmo o que estava fazendo.
null riu, aproximando-se um pouco, agora mais à vontade.
– Surpreso que eu sei treinar? – ele provocou, divertido.
Ela ergueu uma sobrancelha, ainda com aquele jeito despreocupado que a fazia parecer tão confiante.
– Um pouco. A maioria só vem aqui pra fazer pose.
null sorriu, sentindo o gelo entre eles quebrar um pouco mais.
– Bom, eu tento ser diferente da maioria.
Ela deu um sorriso de canto e voltou a focar no exercício, mas dessa vez, null sentia que algo entre eles estava começando a se desenrolar.
null, ainda um pouco sem fôlego depois da série de supino, deixou escapar uma risada suave ao ouvir a provocação de null.
— Então não precisa de uma personal, ou de uma lista de treinos personalizados? — Ela disse, com um sorriso malicioso enquanto se alongava entre as séries de elevações laterais. — Tá incluso na sua mensalidade, sabia?
Ele levantou uma sobrancelha, tentando interpretar se ela estava apenas brincando ou se realmente estava se oferecendo para ajudá-lo de alguma forma.
— Ah, sério? — Ele respondeu com um tom igualmente brincalhão. — Eu sabia que tinha algum benefício escondido por aí. E você faz parte desse pacote de personal trainers ou só estou com sorte?
null riu, balançando a cabeça de leve, enquanto colocava o halter no chão e se virava para encará-lo de frente, com os braços cruzados.
— Depende do seu desempenho, null. — Ela falou, enfatizando o nome dele com uma pontada de diversão. — Se você conseguir impressionar, quem sabe? Mas por enquanto, acho que você vai ter que se virar por conta própria.
null sentiu o coração acelerar ao ouvir a maneira casual, mas provocativa, com que ela falava. Era claro que ela sabia como mexer com ele, e null, sem querer parecer afobado, tentava acompanhar o ritmo dela sem perder a compostura.
— Então vou ter que suar um pouco mais pra merecer sua ajuda, é isso? — Ele disse, com um sorriso desafiador. — Eu gosto de um bom desafio.
null soltou uma leve risada, com um brilho nos olhos que indicava que ela gostava do jogo. Ela pegou a toalha e passou no rosto, sem tirar os olhos de null.
— Pode ser… Vamos ver se você aguenta. — Ela deu uma piscadela e voltou a pegar os halteres, retomando seu treino como se a conversa não tivesse sido nada de mais.
null ficou por um momento parado, observando-a, sabendo que aquele diálogo provocativo entre eles estava apenas começando. Ele sentia que havia muito mais por trás daquele jeito descontraído dela, e a ideia de descobrir mais sobre null o deixava cada vez mais curioso e envolvido.
Agora, além de querer impressioná-la, ele também queria conhecer melhor aquela mulher que estava tornando seus dias mais intrigantes.
***
Depois de mais uma série de exercícios, null decidiu que era hora de ir. Já estava cansado e a interação com null, por mais instigante que fosse, o deixava levemente ansioso. Enquanto guardava o último halter e pegava sua garrafa de água, ele notou null do outro lado da sala, focada nos seus próprios exercícios.
Ao caminhar em direção ao vestiário, sentiu uma mistura de satisfação e inquietação. Mal trocou palavras com ela, mas já se via intrigado o suficiente para querer mais. Quando estava prestes a sair, ouviu a voz dela chamar seu nome:
— Ei, null! — Ela estava parada ao lado da área de boxe, com as mãos apoiadas no quadril e um sorriso nos lábios. — Já vai?
Ele parou imediatamente, virando-se para ela.
— Achei que já tinha treinado o suficiente por hoje… — Ele respondeu, meio sem jeito.
null inclinou a cabeça, seus olhos brilhando de forma travessa.
— Não tem interesse em ficar mais um pouco? — Ela mordeu de leve o lábio inferior antes de completar. — Posso te mostrar alguns golpes de boxe… Vai ser divertido.
null hesitou por um instante, mas a ideia de passar mais tempo com ela era tentadora demais. Ele sabia que estava prestes a aceitar, mesmo antes de abrir a boca.
— Claro, por que não? — Ele disse, tentando soar casual.
null sorriu satisfeita e fez um gesto para que ele se aproximasse do ringue improvisado. Ao se aproximar, ela pegou um par de fitas de algodão do balcão ao lado.
— Não tenho luvas extras, mas podemos improvisar. — Ela disse, segurando as faixas de modo despreocupado. — Vou amarrar isso nas suas mãos para você não se machucar.
null sentiu um calor tomar conta do ambiente. Havia algo na maneira como ela falava e se movia que tornava tudo mais carregado de tensão. Ele estendeu as mãos sem dizer nada, deixando-a envolver as faixas em volta de seus pulsos e nós dos dedos com delicadeza.
null estava concentrada na tarefa, seus dedos habilidosos passando pelo tecido com precisão, mas null não conseguia se concentrar em outra coisa que não o toque dela. Às vezes, os dedos dela roçavam suavemente sua pele, fazendo-o arrepiar levemente.
— Pronto. — Ela disse, sua voz baixa, sem erguer o olhar imediatamente. — Isso deve funcionar por enquanto.
Quando ela finalmente ergueu os olhos, o contato visual entre eles era inevitável, e o clima entre os dois ficou palpável. Por um momento, null sentiu como se o ar ao redor tivesse ficado mais pesado, carregado de uma tensão que ele não sabia bem como interpretar. null sorriu de canto, o mesmo sorriso que o desafiava e o deixava sem saber se ela estava apenas sendo amigável ou algo mais.
— Agora vamos ver se você aguenta uns socos. — Ela disse, rindo suavemente e dando um passo para trás, preparando-se para mostrar os movimentos.
null riu junto, tentando aliviar a tensão que sentia no peito. Ele não sabia se estava mais nervoso com o fato de aprender boxe ou com a proximidade de null. Mas de uma coisa ele tinha certeza: ele não se importava de ficar mais um tempo por ali.
null deu alguns passos para o centro da área de treino, sentindo o peso das faixas em suas mãos, enquanto null ainda mantinha aquele olhar provocativo. Ela começou a se mover, demonstrando alguns golpes básicos no ar com facilidade e graça. null observava cada movimento dela com atenção, tentando se concentrar, mas sentia seu coração acelerar com a proximidade.
— Vou te ensinar o básico, ok? — Ela disse, enquanto assumia a postura de luta, com os punhos levantados. — Primeiro, postura. Mantenha os pés firmes e ligeiramente afastados, um à frente do outro. Mantenha o peso equilibrado entre eles.
null imitou a posição dela, embora um pouco desajeitado no início. null caminhou ao redor dele, observando sua postura e corrigindo-o ocasionalmente. Quando ela se aproximava para ajustar a posição dos pés ou a curvatura dos braços, ele sentia o calor do corpo dela, o que o deixava ainda mais atento aos detalhes.
— Isso. Agora, relaxa os ombros. Não precisa de força bruta, só controle. — Ela tocou de leve seu ombro, fazendo um movimento para que ele soltasse a tensão.
null respirou fundo, tentando se concentrar. null estava tão perto que ele sentia o perfume suave dela no ar, e a maneira como ela falava o fazia querer impressioná-la. Mesmo enquanto o ensinava, ela mantinha aquele ar confiante e provocativo, o que só tornava tudo mais intenso.
— Agora, tenta um jab. — Ela ergueu as mãos à frente, oferecendo-as como alvo para os golpes. — Direciona o soco com o punho fechado, mas não força demais no início.
null acertou o primeiro golpe, sentindo a resistência leve das mãos dela, que ainda seguravam suas próprias faixas para protegê-la do impacto.
— Nada mal para um novato. — Ela comentou, rindo suavemente. — Mas pode ser melhor.
Eles continuaram por mais alguns minutos, null seguindo as instruções dela enquanto null corrigia sua postura e movimentos. Aos poucos, ele foi se soltando mais, se sentindo mais confortável com os golpes. Mas o que realmente o desconcertava era a proximidade constante de null, a maneira como ela o observava, avaliava, e às vezes sorria de canto, como se estivesse testando mais do que apenas sua habilidade no boxe.
Após mais alguns golpes, null parou, se aproximando um pouco mais para corrigir a posição da mão dele.
— Você tá melhorando rápido… — Ela murmurou, seus olhos fixos nos dele enquanto envolvia os dedos em torno de seu punho, ajustando-o. — Quem sabe, daqui a um tempo, você vire um profissional.
null sorriu, sentindo o coração disparar com o olhar intenso dela.
— Com uma treinadora assim, fica fácil. — Ele disse, sua voz saindo um pouco mais baixa do que o esperado.
null soltou uma risada baixa, ainda segurando a mão dele por alguns segundos antes de finalmente soltar. O contato visual entre eles durou mais do que o normal, e null sabia que aquele momento não era apenas sobre o treino. Algo mais estava acontecendo ali, algo que ele ainda não conseguia nomear, mas que era impossível de ignorar.
— Bom, é melhor você descansar um pouco agora. — Ela disse, quebrando o clima com um sorriso travesso. — Não quero te esgotar logo no primeiro dia.
— Eu vou sobreviver. — Ele respondeu, tentando esconder o nervosismo atrás de um sorriso.
null deu um último olhar de aprovação antes de se afastar, deixando null com os pensamentos acelerados e a sensação de que aquele era apenas o começo de algo muito maior.
2° Capítulo
Assim que null pisou na academia, seus olhos automaticamente começaram a buscar por ela. Ele mal havia dormido na noite anterior, o entusiasmo pelo treino — e, claro, pela companhia de null — o deixando inquieto. A lembrança da maneira como ela o desafiava com olhares e comentários espirituosos fazia um sorriso involuntário surgir em seus lábios.
Ele chegou ao ringue improvisado com alguns minutos de antecedência, exatamente como planejado. Deixou sua mochila de lado e começou a alongar os braços, tentando parecer casual, embora seu coração estivesse disparado. A academia estava mais movimentada do que na última vez, mas não tanto a ponto de distraí-lo de seu objetivo principal: vê-la novamente.
Os minutos passavam lentamente, e ele começou a se perguntar se ela estava atrasada. Ou pior, se havia se esquecido do compromisso. Enquanto mexia no celular para checar as horas, ouviu passos firmes ecoando pelo piso de borracha da academia. Ao erguer os olhos, lá estava ela.
null caminhava em sua direção com aquele mesmo sorriso confiante e uma expressão que parecia dizer que ela sabia exatamente o que ele estava pensando. Vestia um conjunto de treino preto, e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo que balançava levemente a cada passo.
— Você chegou antes até da professora? — Ela caçoou, parando na frente dele com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada. — Não é todo dia que vejo um aluno tão dedicado.
null riu, um pouco sem jeito, enquanto passava a mão pela nuca.
— Achei que seria bom chegar mais cedo… para me preparar. — Ele disse, tentando não soar muito ansioso. — Não queria passar uma má impressão.
null inclinou a cabeça levemente, avaliando-o com aquele olhar provocativo de sempre.
— Má impressão? — Ela repetiu, soltando uma risada baixa. — Você está indo bem, null. Mas não precisa tanto esforço pra me impressionar.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, tentando decifrar se ela estava apenas brincando ou se havia algo mais por trás das palavras dela. Antes que ele pudesse responder, null pegou as fitas de boxe da mochila e as balançou na frente dele.
— Vamos lá, senhor aluno dedicado. Vou amarrar suas mãos de novo. Ou será que você já aprendeu a fazer isso sozinho?
— Vou deixar a profissional cuidar disso. — Ele respondeu, sorrindo, enquanto estendia as mãos para ela.
null riu e começou a enrolar as faixas em torno das mãos dele. A proximidade entre os dois trouxe de volta a mesma tensão da última vez, mas desta vez null tentou manter o olhar firme, focado no rosto dela enquanto ela trabalhava. Quando ela terminou, levantou os olhos para ele e sorriu.
— Pronto. Agora quero ver se você vai melhorar ou se vai continuar precisando da minha ajuda por muito tempo.
— Isso depende de quanto tempo você está disposta a gastar comigo. — Ele respondeu, arriscando um sorriso ligeiramente desafiador.
null riu de novo, mas não respondeu imediatamente. Em vez disso, deu um passo para trás e assumiu a postura de luta.
— Vamos descobrir. — Ela disse, acenando para que ele a seguisse no treino.
E assim começou mais uma sessão de boxe, mas, para null, cada movimento era apenas mais um passo na tentativa de decifrar quem era null e o que, exatamente, ela pensava dele.
null estava determinado a melhorar no treino, mas a cada novo movimento que null demonstrava, ele sentia que a verdadeira dificuldade não era acertar os golpes, e sim manter o foco. A proximidade dela fazia com que ele perdesse momentaneamente a noção do que estava fazendo.
— Vamos ajustar sua postura de novo. — null disse, se aproximando dele e segurando seus ombros. — Relaxa aqui. Você está muito tenso, e isso tira a potência do golpe.
Ela ficou atrás dele, guiando os braços dele até a posição correta, os dedos firmes, mas gentis, em contato com sua pele. null tentou controlar a respiração, mas o toque dela, combinado com a voz suave e próxima, era mais difícil de ignorar do que ele gostaria.
— Certo, agora tenta o direto. — null instruiu, ainda segurando os braços dele para corrigir o ângulo.
null lançou o golpe, mas estava mais consciente da presença dela do que da força aplicada. O soco saiu desajeitado, e null riu baixinho.
— Você está pensando demais, null. — Ela se posicionou na frente dele, olhando diretamente em seus olhos. — No boxe, você tem que se entregar ao movimento, confiar na técnica. Se ficar distraído, vai errar.
null percebeu a leve provocação nas palavras dela, mas também viu o brilho divertido em seus olhos. Ele respirou fundo e tentou se concentrar, mas a maneira como null o observava, tão de perto, o fazia se perguntar se ela sabia exatamente o efeito que tinha sobre ele.
— Tenta de novo. — Ela disse, dessa vez levantando as mãos como alvos para ele acertar. — Sem pensar em mais nada. Só no golpe.
Ele assentiu, tentando obedecer, mas ao mirar nas mãos dela, seus olhos acabaram capturando o sorriso que null mantinha. O golpe foi melhor que o anterior, mas ainda faltava algo.
— Melhor, mas ainda está preso demais. — Ela murmurou, estreitando os olhos. — Vamos tentar algo diferente.
null se aproximou mais uma vez, colocando as mãos sobre as dele para guiá-lo. Ela o fez repetir o movimento algumas vezes, o toque das mãos dela quente e firme, enquanto ela ajustava o ritmo dos golpes.
— Agora imagina que você está protegendo algo importante. — Ela disse, a voz baixa, mas carregada de intensidade. — Algo que você não pode perder.
null não respondeu. As palavras dela ficaram ecoando em sua mente, e ele percebeu que não precisava imaginar muito.
— Isso. Agora sim. — null disse, quando ele acertou o golpe com mais força e precisão.
Ela recuou, cruzando os braços e analisando o progresso dele. Mas quando seus olhares se encontraram novamente, havia algo diferente no ar. A tensão que já existia parecia ter se intensificado, como se ambos estivessem cientes de que o treino era apenas uma desculpa para algo mais profundo que começava a surgir entre eles.
— Você tem potencial, null. — null comentou, com um sorriso de canto. — Talvez eu até me arrependa de te ensinar. Daqui a pouco você vai me desafiar.
— Eu duvido que consiga te vencer. — Ele respondeu, com um sorriso tímido, mas sincero. — Não contra alguém como você.
null riu, o som leve ecoando no espaço quase vazio da academia.
— Nunca diga nunca. — Ela provocou, mas o olhar que deu a ele continha mais do que brincadeira. Era um desafio, uma promessa de que aquilo era só o começo.
***
Depois que terminaram a sessão de boxe, null agradeceu a null com um sorriso que ele mal conseguia esconder. Enquanto ela seguia para outra área da academia, ele pegou sua garrafa de água e foi para a seção de musculação, sentindo-se estranhamente leve, quase como se estivesse flutuando.
Ele escolheu um banco próximo aos pesos livres, preparando-se para começar sua série. No entanto, sua mente estava longe dali. Ele pegava os halteres e fazia os movimentos, mas a imagem de null insistia em aparecer em sua cabeça: o jeito como ela corrigia sua postura, os dedos dela guiando os dele, a intensidade em seu olhar, e, principalmente, aquele sorriso provocador que parecia desafiá-lo a voltar no dia seguinte.
“Nunca diga nunca.” A frase ecoava em sua mente, como se null tivesse plantado uma semente de algo maior do que apenas a vontade de melhorar no boxe.
Ele ajeitou a postura e começou a fazer um supino reto, mas mal havia completado a terceira repetição quando sua mente divagou novamente. null começou a se perguntar se ela era sempre assim tão provocadora com todos os alunos ou se aquilo era algo exclusivo para ele.
“Será que ela percebeu o quanto mexeu comigo?” pensou, apoiando os pesos no suporte e respirando fundo. Ele sabia que estava se deixando levar, mas era impossível evitar. Havia algo nela que o atraía de um jeito que ele não sabia explicar. Não era só a beleza — embora ela fosse inegável. Era o conjunto: a confiança, a energia, a forma como parecia enxergá-lo como um desafio.
Ele se levantou, pegou os pesos novamente e começou uma nova série. Sentia-se bobo por estar tão empolgado. Era só uma aula de boxe, afinal. Ela era só uma instrutora, e ele, um aluno qualquer. Ou era o que ele tentava se convencer.
Quando terminou a série, sentou-se por um momento, olhando ao redor da academia. Ela estava mais movimentada agora, mas mesmo assim seus olhos automaticamente procuraram por null. Não a viu, o que o fez rir de si mesmo.
“Concentração, null.” Ele balançou a cabeça e começou a ajustar o equipamento para o próximo exercício, tentando ignorar o fato de que, mesmo no meio de todos ali, ela era a única pessoa que ele queria ver.
Depois de terminar a última série de musculação, null se alongou rapidamente e foi para os vestiários, ainda com a mente dividida entre o treino e a presença marcante de null. Ele estava satisfeito com o progresso do dia e se sentia ainda mais motivado a voltar para a próxima aula de boxe. Porém, enquanto recolhia sua mochila e se preparava para sair, ele não esperava que o melhor da noite ainda estivesse por vir…
Ao passar pela porta da academia, pronto para ir embora, ele a viu. null estava encostada no balcão de atendimento, aparentemente conversando com uma colega, mas assim que o avistou, ela se despediu rapidamente e caminhou até ele, com aquele sorriso fácil que null já estava começando a reconhecer.
— Ei, null! — ela chamou, fazendo com que ele parasse. — Que tal uma cerveja? Hoje é sexta-feira, pode, hein? Ou você não bebe?
null piscou, surpreso pela espontaneidade dela, mas não teve tempo de responder antes que null continuasse, cruzando os braços e lançando um olhar avaliativo.
— Sabe, você tem uma cara de certinho… de cristão, que vai todo domingo ao culto, que sabe todos os versículos da Bíblia… Ou estou errada?
Ele soltou uma risada genuína, divertido com a descrição que ela fez dele.
— Não vou mentir, já me disseram isso antes. — Ele admitiu, rindo. — Mas posso garantir que você está meio errada.
— Meio? — Ela arqueou uma sobrancelha, claramente provocando.
— Talvez eu pareça mais certinho do que sou. — Ele disse, com um sorriso de canto, sentindo-se mais à vontade para brincar de volta.
null deu de ombros, mas o brilho nos olhos dela indicava que ela gostou da resposta.
— Então, ótimo. — Ela disse, casualmente. — Hoje, às nove, no Bar do Gyo. Pode ser?
null hesitou por um momento, mas o sorriso dela, cheio de expectativa, era impossível de ignorar.
— Pode ser. — Ele respondeu, sentindo o coração acelerar com a ideia de passar mais tempo com ela fora do ambiente da academia.
— Perfeito. — null respondeu, virando-se para ir embora, mas não antes de jogar por cima do ombro:
— Não se atrase, certinho.
Ele riu novamente, observando-a se afastar, e percebeu que a noite de sexta-feira tinha acabado de ficar muito mais interessante.
***
null estava em casa, já pronto, sentado no sofá da sala com a perna balançando nervosamente. Vestia uma camisa preta simples e jeans, um visual casual que ele achou adequado para a ocasião. No pulso, seu relógio marcava 20h15, e ele alternava os olhos entre o visor e a tela do celular.
“Será que já devo ir?” pensou, analisando mentalmente a situação. Por um lado, ele não queria parecer apressado ou ansioso. null era tão descontraída e cheia de atitude que talvez chegasse tarde de propósito, só para não parecer interessada demais. Por outro, se chegasse atrasado, poderia passar a impressão de desinteresse, algo que definitivamente não era verdade.
Ele suspirou, apoiando os cotovelos nos joelhos e passando a mão pelo cabelo, um gesto que fazia sempre que estava indeciso. Talvez fosse melhor chegar no horário combinado e deixar ela pensar que ele era mesmo “certinho”, como tinha brincado mais cedo.
“Mas, se eu chegar cedo, será que não vai parecer que estou desesperado? Já passei vergonha na aula de boxe chegando antes até dela…” Ele riu de si mesmo, lembrando-se da forma como null tinha caçoado dele. A lembrança trouxe um calor ao rosto que ele tentou ignorar.
O ponteiro dos minutos avançava devagar, e null se levantou, dando uma volta pela sala. O relógio agora marcava 20h20. Ele pegou o celular mais uma vez e digitou o nome do bar no mapa para verificar o tempo de trajeto. Uns quinze minutos, no máximo.
“Se eu sair agora, chego no horário. Se esperar mais uns cinco minutos, posso chegar um pouco depois dela… Mas será que devo jogar esse jogo?”
Ele balançou a cabeça, rindo sozinho. “Isso tudo só porque ela me chamou de certinho. Que bobagem.” Pegando as chaves do carro, decidiu sair.
“Seja o que for, pelo menos vai dar para vê-la de novo.” E com esse pensamento, saiu de casa, determinado a aproveitar o que quer que aquela noite lhe reservasse.
***
null estacionou o carro em uma vaga um pouco afastada do Bar do Gyo. A fachada iluminada com luzes de néon era discreta, mas atraente, o tipo de lugar que parecia reunir grupos de amigos para risadas e conversas animadas em uma sexta-feira à noite tipicamente coreana. Ele olhou para o relógio novamente: 20h50.
“Nem cedo, nem tarde. Acho que está bom.”
Respirando fundo, ele desceu do carro e caminhou em direção à entrada, sentindo o ar fresco da noite contra a pele. Enquanto atravessava a calçada, seus pensamentos voltaram a null. Ele ainda não sabia muito sobre ela, mas havia algo magnético nela que o fazia querer descobrir mais.
Ao entrar no bar, seus olhos correram pelo ambiente, procurando por aquele sorriso provocador que agora parecia impossível de esquecer. O lugar estava razoavelmente cheio, com grupos espalhados pelas mesas e algumas pessoas conversando no balcão. A música ambiente era um jazz suave, e a iluminação baixa criava uma atmosfera acolhedora.
Finalmente, ele a viu. null estava em uma mesa perto da janela, mexendo no celular enquanto uma garrafa de cerveja descansava ao lado dela. O cabelo estava preso em um coque despojado, e ela usava uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta básica. Apesar da simplicidade, ela parecia absolutamente deslumbrante.
Quando os olhos dela se ergueram e encontraram os dele, um sorriso lento se formou em seus lábios. Ela acenou, convidando-o a se juntar.
— Olha só, certinho chegou no horário! — ela brincou assim que ele se aproximou, apoiando o queixo na mão e olhando para ele com aquele ar provocador que já começava a lhe parecer familiar. — Por um momento, achei que você fosse me deixar esperando.
null riu, puxando a cadeira à frente dela.
— E arriscar ouvir mais piadas sobre a minha pontualidade? Nem pensar.
Ela riu também, entregando-lhe um cardápio.
— Você é esperto. Então, vai querer o quê? Ou vai me dizer que não bebe cerveja de verdade?
— Eu bebo sim, para sua informação. — Ele respondeu com um sorriso, deixando o cardápio de lado sem nem olhar. — Mas vou confiar na sua recomendação.
null arqueou uma sobrancelha, claramente impressionada.
— Confiante, hein? Tá bom, vou pedir uma das melhores pra você.
Ela fez o pedido rapidamente ao garçom e voltou a olhar para null, que agora se sentia mais relaxado na presença dela.
— Então, me conta. — Ela começou, inclinando-se levemente para frente. — O que um cara como você faz numa sexta à noite? Quando não tá na academia, é claro.
null sorriu de leve, pensando em como responder. Ele sabia que a conversa estava apenas começando, mas a maneira como ela o olhava, como se estivesse tentando desvendar cada detalhe dele, fazia com que ele quisesse ser tão interessante quanto ela parecia achar.
null apoiou os cotovelos na mesa, mantendo o sorriso.
— Bom, normalmente numa sexta à noite eu estaria em casa, provavelmente vendo algum filme ou tentando cozinhar algo decente. Nada muito empolgante, eu sei.
null balançou a cabeça, divertida.
— Não vou dizer que estou surpresa. Você realmente tem cara de alguém que prefere ficar em casa a encarar uma noite como essa.
Ele riu, aceitando a provocação.
— E você? Aposto que sair na sexta é algo bem comum para você.
Ela deu de ombros, brincando com a garrafa de cerveja que segurava.
— Às vezes, sim. Mas eu gosto mais da companhia certa do que do lugar. — Seus olhos fixaram-se nos dele, e null sentiu o ar mudar por um momento. — E hoje, por exemplo, até que valeu a pena sair.
Ele piscou, surpreso, mas rapidamente recuperou o sorriso.
— Fico feliz em ouvir isso.
O garçom interrompeu o momento trazendo a cerveja que null tinha pedido para ele. Ela esperou que ele tomasse um gole antes de perguntar:
— E então, aprovada?
null assentiu, colocando o copo de volta na mesa.
— É ótima. Acho que você realmente entende de cerveja.
— É um dos meus talentos. — Ela brincou, recostando-se na cadeira. — Agora, me conta, por que você resolveu começar no boxe?
Ele pensou por um momento antes de responder, tentando parecer mais confiante do que se sentia com ela o analisando tão de perto.
— Sempre achei o esporte interessante, sabe? Uma combinação de técnica e força. Mas acho que o que realmente me fez começar foi… — Ele hesitou, lembrando-se do primeiro momento em que a viu na academia. — Bem, é algo que eu sempre quis tentar.
null inclinou a cabeça, claramente percebendo que ele havia evitado a verdade completa, mas não pressionou.
— Bom, é um bom motivo. E tenho que admitir, você leva jeito. Mesmo sendo iniciante, dá pra ver que tem vontade.
null sentiu as bochechas esquentarem com o elogio, mas conseguiu responder sem tropeçar.
— Isso é bom de ouvir. Especialmente vindo de você.
Ela sorriu, satisfeita com a reação dele.
— Bom, vou te transformar em um lutador de verdade em pouco tempo, pode confiar.
Eles continuaram conversando, a tensão entre os dois flutuando suavemente enquanto a noite avançava. A conversa fluiu naturalmente, cheia de provocações leves e risadas genuínas, e null sentiu que, pela primeira vez em muito tempo, estava exatamente onde queria estar.
null olhou para o cardápio no centro da mesa e empurrou-o na direção de null.
— Certo, cerveja é boa, mas precisamos de algo para comer. Já decidiu o que vai querer?
null pegou o cardápio, mas não conseguiu se concentrar de imediato. Ainda estava distraído pelo jeito despreocupado de null, pela forma como ela parecia completamente à vontade consigo mesma e com ele. Após alguns segundos, ele balançou a cabeça, voltando ao momento.
— Hmm… o que você recomenda? — perguntou, levantando os olhos para encontrá-la olhando para ele com um sorriso travesso.
— Não me joga essa responsabilidade, null. Escolher comida é muito sério.
Ele riu e virou a página do cardápio, fingindo estudar as opções com atenção.
— Ok, e se pedíssemos algo clássico? Talvez tteokbokki ou kimchi-jeon.
— Boa escolha, mas… — null inclinou-se para frente, os olhos brilhando com entusiasmo. — Que tal também um pouco de samgyeopsal? Eu juro que o daqui é incrível.
— Samgyeopsal para acompanhar cerveja? — null arqueou uma sobrancelha, impressionado. — Você realmente entende dessas combinações.
Ela deu de ombros, fingindo modéstia.
— Eu tenho meus talentos, como disse antes.
null riu e sinalizou para o garçom, deixando null fazer o pedido. A maneira como ela falava com confiança e fazia brincadeiras leves, sem esforço, deixava-o cada vez mais intrigado. Quando o garçom se afastou, ela virou-se novamente para ele.
— Então, me conta. — Ela cruzou os braços sobre a mesa, apoiando-se levemente. — Qual foi a coisa mais louca que você já fez em uma sexta-feira? Porque, honestamente, você não me parece o tipo de cara que arrisca muito.
null riu, balançando a cabeça.
— Você vai se surpreender, mas já tive meus momentos de rebeldia.
— Ah, é? — null sorriu, desafiadora. — Quero ouvir um exemplo.
Ele fez uma pausa, pensando.
— Ok, teve uma vez na faculdade em que eu e uns amigos decidimos fazer um mochilão sem planejar nada. Pegamos o primeiro ônibus que vimos na rodoviária e só fomos.
null piscou, claramente surpresa.
— Sério? Ok, isso é bem mais ousado do que eu esperava de você.
null sorriu, satisfeito com a reação dela.
— Eu tenho meus momentos.
Antes que ela pudesse responder, a comida chegou, e o aroma delicioso tomou conta da mesa. null esfregou as mãos, animada.
— Certo, null. Vamos ver se você sabe aproveitar um verdadeiro jantar coreano com cerveja.
Ele riu, pegando os hashis, enquanto pensava que aquela era, sem dúvida, a sexta-feira mais inesperada e divertida que ele tivera em muito tempo.
***
null pegou um pedaço de tteokbokki com os hashis e deu uma mordida, fechando os olhos por um instante para saborear.
— Ah, eu não disse? O tteokbokki daqui é perfeito. A combinação de picante com o toque adocicado… é o equilíbrio ideal.
null, que ainda estava pegando o jeito com os hashis enquanto tentava não parecer desajeitado, experimentou um pedaço e assentiu com entusiasmo.
— Uau, você tem razão. O molho é incrível. Não é tão picante quanto eu esperava, mas é cheio de sabor.
— Exato! — null sorriu, satisfeita por ele concordar. — E combina perfeitamente com cerveja. Dá aquele contraste.
Ela ergueu a garrafa, como se para reforçar o ponto, e ele a acompanhou, rindo.
— Saúde por essa descoberta então.
Os dois brindaram com um leve tilintar de garrafas antes de voltarem à comida. null pegou um pedaço de kimchi-jeon e experimentou.
— Esse é diferente do que eu costumava comer. Tem algo a mais no tempero.
— Ah, é porque eles adicionam uma pitada de gergelim tostado na massa. Dá um toque especial, não acha?
Ele ficou impressionado com o conhecimento dela e assentiu, sorrindo.
— Você realmente conhece os detalhes, hein? Parece uma especialista em gastronomia.
null deu uma risada leve, balançando a cabeça.
— Não é isso. Eu só sou uma grande fã de comida boa. E você, null? É mais do tipo que come o básico ou se aventura na cozinha?
— Acho que fico no meio-termo. Gosto de tentar coisas novas, mas na prática, acabo voltando sempre às receitas simples. Não sou exatamente um mestre na cozinha.
— Hmm, isso soa como um convite para eu te ensinar algumas receitas algum dia. — Ela piscou para ele, provocativa, antes de pegar um pedaço de samgyeopsal.
null riu, sentindo as bochechas aquecerem levemente.
— Eu aceitaria isso sem pensar duas vezes.
O clima descontraído continuou enquanto os dois saboreavam a comida e discutiam os sabores, a textura e até mesmo as combinações inusitadas. Para null, era fascinante vê-la tão à vontade e envolvida em algo tão simples quanto um jantar. Para null, era interessante ver como ele se permitia relaxar, apesar de parecer um pouco deslocado no começo.
Quando terminaram, null encostou-se na cadeira, suspirando satisfeita.
— Tá vendo? Comida boa e companhia decente. Não tem como errar numa sexta à noite.
null arqueou uma sobrancelha, fingindo estar ofendido.
— Decente? Achei que estava me saindo melhor do que isso.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Ok, ok, companhia muito boa, vai.
Ele sorriu, sentindo-se cada vez mais à vontade. Talvez aquela fosse a primeira de muitas noites assim.
null deu um gole em sua cerveja e olhou para null, curioso.
— Posso perguntar uma coisa?
— Claro. — Ela apoiou o queixo na mão, encarando-o com um sorriso divertido. — Desde que não seja uma daquelas perguntas estranhas que só aparecem depois de umas cervejas.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Não é nada tão estranho. Só fiquei curioso… você é de Seul? Seu sotaque parece um pouco diferente.
null ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Uau, ouvidos afiados. Não sou de Seul, não. Nasci em Busan.
— Ah, faz sentido agora. — null sorriu, animado. — O sotaque de Busan é inconfundível, mesmo que esteja mais suave.
— É, eu já perdi um pouco depois de tantos anos aqui. — Ela brincou, girando a garrafa entre os dedos. — Mas volta rapidinho quando falo com minha família. E você? É de Seul?
— Na verdade, não. — Ele encostou-se na cadeira, relaxado. — Eu cresci em Daegu. Me mudei pra cá por causa do trabalho, mas confesso que demorei um pouco pra me adaptar.
— Daegu? — null inclinou-se para frente, interessada. — Sempre quis visitar, mas nunca tive a chance. O que você mais sente falta de lá?
null parou para pensar, o olhar distante por um momento.
— Acho que a tranquilidade. Seul é vibrante e cheia de energia, mas às vezes sinto falta das ruas mais calmas e do ritmo mais devagar. E claro, minha família ainda mora lá, então isso pesa um pouco.
— Faz sentido. — null assentiu, compreensiva. — Eu sinto falta do mar, pra ser honesta. Em Busan, você sempre tem essa conexão com a água, sabe? Aqui em Seul, tudo parece tão… urbano.
— É verdade. — Ele a observou, vendo o brilho em seus olhos enquanto ela falava. — Você se mudou pra cá por causa da academia?
Ela deu de ombros, um sorriso brincando em seus lábios.
— Mais ou menos. Eu queria um desafio, sabe? Busan é incrível, mas parecia que eu já tinha explorado tudo o que podia lá. Queria algo maior, algo que me tirasse da zona de conforto.
— E conseguiu?
— Ah, sim. — null riu, divertida. — Seul te força a crescer, quer você queira ou não.
null riu com ela, apreciando o jeito sincero com que ela falava.
— Você parece alguém que sabe o que quer e não tem medo de ir atrás.
Ela o encarou por um momento, o sorriso suavizando.
— Talvez. Mas às vezes também fico meio perdida, como todo mundo.
Ele assentiu, compreendendo, enquanto os dois mergulhavam em um momento de silêncio confortável. Era impressionante como a conversa fluía naturalmente entre eles, mesmo com tão pouco tempo desde que haviam se conhecido.
Enquanto o silêncio se estendia entre eles, null sentiu uma sensação de familiaridade, como se estivesse compartilhando algo mais do que uma simples noite de sexta-feira. Ele tomou mais um gole de cerveja e, de repente, uma pergunta surgiu em sua mente.
— E seus pais? Eles apoiam toda essa mudança, essa vida em Seul?
null olhou para sua garrafa, pensativa, antes de responder com um sorriso suave.
— Meus pais… Bem, meu pai sempre foi muito tranquilo quanto a isso. Ele tem um restaurante em Busan, e pra ele, se eu estivesse feliz, já estava bom. Minha mãe, por outro lado… ela nunca entendia muito bem a minha necessidade de “aventura”. Ela queria que eu ficasse perto da família, mas… eu não consigo. Eu sou mais… digamos, inquieta.
null assentiu, curioso.
— Então você sempre teve esse espírito livre, né?
— Eu acho que sim. — null deu de ombros. — Quando era mais nova, queria fazer tanta coisa, mas a cidade pequena não oferecia muito. E a ideia de ficar naquela rotina de sempre… bem, não era pra mim. Eu tinha que ver o que mais existia por aí.
Ele sorriu, entendendo bem o que ela queria dizer.
— Eu também sinto isso às vezes. Não sei se é coisa de cidade grande, mas Seul tem esse ritmo frenético. Não dá pra ficar parado muito tempo sem querer seguir para o próximo passo, sabe?
null o observou, seus olhos brilhando com um interesse genuíno.
— Eu me sinto assim também. Não sou do tipo que fica esperando que as coisas aconteçam, sabe? Sempre estou tentando ir atrás do próximo desafio.
— E tem sido fácil? Encontrar esse equilíbrio? — perguntou ele, mais por curiosidade do que qualquer outra coisa.
Ela sorriu de maneira enigmática, como se tivesse encontrado uma forma de entender a própria vida através dessa conversa.
— Não é fácil. Às vezes a solidão bate, e você começa a pensar se vale a pena. Mudar para um lugar novo, largar tudo o que você conhece, tudo… Mas acho que se você se entrega ao desafio e aprende a amar os altos e baixos, você vai achar o seu lugar.
Ele ficou em silêncio por um momento, absorvendo a profundidade das palavras dela. Era curioso como ela falava de suas experiências com uma mistura de força e vulnerabilidade, como se estivesse confortável com quem era, mas ainda buscasse algo a mais.
— Eu te entendo. — null disse com um sorriso suave, sentindo uma conexão crescente entre eles. — Às vezes, o que nos desafia é o que nos faz crescer, mesmo quando não parece.
null fez um movimento com as mãos, como se quisesse afastar aquele momento de reflexão.
— Bom, chega de filosofar por hoje. Acho que esse não é o melhor clima para continuar a noite, né? Vamos aproveitar a cerveja enquanto ainda está gelada!
Ele riu, um pouco aliviado pela mudança de tom, e ergueu a garrafa novamente.
— Com certeza. Acho que filosofar demais com você só vai me deixar mais perdido. Melhor manter as coisas simples por enquanto.
Ela piscou, com um sorriso travesso.
— Simples… até quando?
Ele a encarou por um momento, sem saber ao certo se ela estava brincando ou se havia algo mais por trás daquela pergunta. Por um instante, a tensão no ar ficou palpável, mas logo se dissipou quando ela deu outro gole de cerveja e se recostou na cadeira.
— Até quando o destino quiser. — ele disse, mais brincando do que sério.
Ela riu, null balançou a cabeça.
— Até lá, vamos continuar a aproveitar a noite, null.
E assim, a conversa fluiu de forma mais leve, mas o entendimento tácito entre eles permanecia, como uma semente plantada, esperando para crescer.
***
Após alguns minutos de conversa leve, null levantou-se e olhou ao redor, com um brilho travesso nos olhos.
— O que acha de um jogo de sinuca? Eu sei que você parece o tipo certinho, mas aposto que você é bom com as bolas.
null ergueu uma sobrancelha, rindo baixinho.
— Certinho, né? Eu pensei que esse tipo de estereótipo não fosse para mim, mas tudo bem… Vou te mostrar que sou mais do que uma cara de bom moço.
Ela sorriu, desafiadora, e foi até a mesa de sinuca, pegando uma das tacas.
— Vamos ver se você é tão bom quanto parece.
Ele a seguiu até a mesa, sentindo a tensão de um novo desafio. A música suave do bar, o cheiro da cerveja e o ambiente descontraído fizeram com que a atmosfera ficasse mais intimista, mais… divertida.
— O que acha de apostarmos? — null perguntou, pegando a bola branca e se preparando para o primeiro lance.
— Apostar? O que você tem em mente? — null se aproximou, curioso.
— Eu te desafio a um jogo de sinuca… e o perdedor paga a próxima rodada. Que tal?
Ele riu, aceitando o desafio sem hesitar.
— Fechado. Mas, se eu ganhar, você me deve uma promessa: me ensinar alguns golpes novos de boxe.
null olhou para ele por um momento, depois deu de ombros.
— Tá valendo. Mas não vai ser fácil me vencer.
Ela deu a primeira tacada, e a bola branca acertou uma das vermelhas com precisão, fazendo-a rolar para o fundo da mesa. null observou, impressionado.
— Uau, você não estava brincando.
Ela olhou para ele com um sorriso afiado.
— Eu sou uma mulher cheia de surpresas. Você vai ter que me acompanhar, então.
Ele pegou a taca, se posicionando para a sua vez. A tensão do jogo se misturava com a crescente proximidade entre eles. Cada tacada de null era acompanhada de um olhar atento de null, e a cada risada ou provocação, o ambiente parecia esquentar um pouco mais.
— Acho que você exagerou nessa tacada. — null comentou, rindo enquanto ajeitava a postura para fazer o próximo movimento.
— Não falei que sou boa? — null respondeu, se inclinando sobre a mesa, com um sorriso travesso.
Quando ela se aproximou mais para fazer sua jogada, null não pôde deixar de notar a proximidade, como se a sinuca fosse uma desculpa para estarem tão próximos. Ele focou na mesa, tentando não perder o ritmo do jogo, mas a cada movimento, a tensão entre eles parecia aumentar.
Enquanto ela preparava a próxima tacada, ele aproveitou o momento para provocá-la.
— Espero que essa tacada não seja sua melhor, null. Porque, se você perder, a promessa vai ser minha.
Ela olhou para ele, os olhos brilhando com o desafio.
— Duvido que você consiga, null. Agora, vê se não se distrai demais.
A interação se tornou uma mistura divertida de competição e química crescente. Eles riam e se provocavam a cada movimento, mas a sensação de que algo mais estava se formando no ar não passava despercebida. A noite estava apenas começando, e ambos sabiam que a diversão estava só começando.
A partida de sinuca continuou, com cada tacada mais desafiadora do que a anterior. null, com seu olhar focado e sorriso confiante, continuava a dar tacadas precisas, enquanto null tentava se manter concentrado, tentando não se distrair com a proximidade dela. O barulho das bolas batendo e rolando pela mesa, o som do ácido clink de cada tacada, preenchia o espaço ao redor deles.
Após alguns minutos, a partida estava muito equilibrada. Ambos já tinham feito belas jogadas, e agora, era questão de apenas algumas bolas para terminar o jogo. A tensão estava no ar, e embora a disputa fosse amigável, havia algo de intenso nos olhares trocados.
null, com um sorriso travesso, deu a última tacada e… erro! A bola branca bateu na borda da mesa e rolou sem rumo, atingindo uma das bolas restantes de null, que logo foi para a caçapa.
— Isso não pode ser! — ele exclamou, um pouco surpreso consigo mesmo, enquanto null deixava escapar uma risadinha.
Ela se levantou, a expressão de quem estava saboreando a vitória.
— Acho que você fez isso de propósito, né? Está querendo que eu ganhe! — ela provocou, sorrindo de maneira irresistível.
Ele fez uma cara de inocente.
— Claro, sou um cavalheiro. Sempre deixo as mulheres ganharem, é… tradição, você sabe?
null riu com a resposta dele, divertida pela reação, e então pegou a última bola de null da mesa, com toda a confiança de uma campeã.
— Você foi bem, mas não o suficiente! — ela brincou enquanto encaçapava a última bola.
Ele observou enquanto ela terminava o jogo, ainda com um sorriso no rosto, mas um pouco derrotado.
— Parece que você ganhou mesmo, null. — Ele se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa, fingindo estar derrotado. — Parabéns.
Ela ergueu as mãos em vitória, e, ao ver sua expressão, null não pôde evitar a risada. Algo sobre a forma como ela se comportava, com tanta confiança e carisma, fazia com que ele se sentisse atraído de uma maneira inesperada.
— Então… parece que a promessa é minha, né? — ela disse, se inclinando para ele, como se estivesse calculando o que faria a seguir.
Ele sorriu, pegando sua cerveja, ainda com a sensação de que o jogo de sinuca não foi o único desafio daquela noite. Algo mais estava no ar, e ambos pareciam estar cientes disso.
— Ah, você vai me ensinar todos os seus truques no boxe, não se preocupe. Agora, é só uma questão de tempo até eu conseguir me vingar na próxima partida. — null respondeu com um olhar desafiador, já planejando o revanche.
Ela levantou uma sobrancelha, seu olhar misterioso se tornando ainda mais intenso.
— Vingança? Hum… Vou adorar ver isso acontecer. Mas só depois de me pagar a próxima rodada de drinks, já que você perdeu.
null balançou a cabeça com um sorriso, um toque de diversão nos olhos.
— Fechado. Mas se eu ganhar na próxima, você me deve uma aula particular de boxe.
Eles riram juntos, e mais uma rodada de cerveja chegou. A noite estava longe de acabar, mas ambos sabiam que o jogo havia mudado. O flerte, a provocação, o desejo de aprender mais um sobre o outro… tudo isso estava tornando a noite muito mais interessante…
3º Capítulo
O bar já estava começando a se esvaziar, as luzes diminuindo lentamente e a música ficando mais suave, enquanto os garçons começavam a limpar as mesas. null e null, já bastante relaxados e rindo um do outro, estavam começando a perceber que eram os últimos clientes ali. A noite havia sido divertida, com conversas descontraídas, risadas e muitas cervejas.
— Acho que já é tarde, né? — disse null, já levemente inclinada, sentindo os efeitos da bebida. Ela tentava se manter firme, mas o equilíbrio começava a escapar.
null, igualmente e levemente embriagado, olhou ao redor e percebeu que o bar estava praticamente vazio.
— Você tem razão, mas não parece que a noite acabou ainda, né? — Ele riu, a voz mais suave por conta da bebida. — Vamos sair daqui enquanto ainda podemos andar sem parecermos dois zumbis.
Eles levantaram das cadeiras após pagarem suas contas, e, ao se dirigirem para a saída, suas pernas estavam um pouco mais bambas do que o esperado. A risada de null ecoou enquanto ela deu um passo em falso e quase caiu para o lado. null, com o reflexo rápido, estendeu a mão e a segurou pela cintura, a puxando para perto de si para evitar a queda.
— Ei, ei, não se joga assim! — ele brincou, a voz cheia de diversão. Ela se inclinou um pouco para ele, rindo com a proximidade.
— Desculpa, estava tentando andar de forma elegante, mas acho que a elegância foi para o espaço. — null disse, com um sorriso travesso no rosto.
Ela, então, se segurou nele, ainda tentando manter a postura, mas os dois acabaram quase tropeçando juntos. O ar ao redor deles parecia carregado de algo mais, algo que vinha crescendo durante toda a noite. null podia sentir o calor do corpo dela contra o dele, o perfume suave misturado com a cerveja, e o olhar de null parecia penetrar mais profundamente em seus olhos do que antes.
Ela o olhou com uma expressão que ele não soubera identificar, mas a intensidade do olhar fez com que ele ficasse um pouco mais tenso. Ele ainda segurava a sua cintura, mas agora, ambos estavam tão próximos que podiam sentir os corações batendo mais rápido.
— Acho que não sou tão certinho assim, hein? — ele disse, quase sem pensar, o tom mais suave do que o normal.
null sorriu, sua mão tocando suavemente o peito dele, enquanto ela tentava se manter em pé.
— Não parece mesmo… — Ela se aproximou um pouco mais, com o rosto quase colado ao dele. O ar estava denso, a proximidade agora mais palpável.
null olhou para ela, sentindo o desejo surgir de maneira quase inesperada. Algo estava no ar, e ele sabia que, por mais que estivessem bêbados, a atração entre eles era clara.
— null… — Ele murmurou, antes que pudesse conter a vontade de aproximar mais os lábios dela dos seus. O clima estava pesado, e o espaço entre eles parecia ter desaparecido. Ela não afastou, mas ao invés disso, olhou para ele com um sorriso quase desafiador, como se estivesse esperando aquele momento.
A risada deles diminuiu enquanto ele a puxava mais perto, seus corpos quase se tocando por completo. O instinto, agora forte, tomou conta e, antes que pudessem se conter, os lábios de null tocaram os dela com suavidade, e o beijo que antes parecia improvável, agora parecia ser inevitável.
Foi um beijo leve, ainda com o toque do álcool na boca, mas com uma intensidade que rapidamente foi intensificada, à medida que eles se entregavam ao momento.
Quando se separaram, ambos estavam ofegantes, e a sensação de proximidade continuava a pairar no ar. A risada nervosa de null se misturou ao silêncio, enquanto ela se afastava um pouco, sem saber o que fazer em seguida.
— Acho que a noite acabou, né? — ela disse, com um sorriso travesso, tentando disfarçar a tensão que havia se instalado.
null olhou para ela, com um sorriso meio desconcertado, mas sem desviar o olhar.
— Acho que sim… ou talvez apenas tenha começado. — Ele disse, a voz baixa, e ambos riram, ainda sem saber exatamente onde aquele momento os levaria.
***
null, ainda sentindo os efeitos da bebida, olhou para null com um sorriso ligeiramente desconcertado, mas decidido.
— Acho que a gente devia dar uma volta por aí, no quarteirão, sabe? Só até meu sangue esfriar um pouco… Não queria dirigir desse jeito, e… — Ele hesitou por um momento, olhando para ela com os olhos um pouco mais suaves — E você também não parece estar no melhor estado para dar umas voltas de carro.
null riu levemente, balançando a cabeça.
— Eu? Nem um pouco. — Ela respondeu, ainda com um sorriso travesso. — E eu sou boa de caminhada, vamos nessa. A noite ainda está boa, e a gente vai poder conversar mais.
Os dois saíram do bar e começaram a caminhar pelas ruas tranquilas, ainda rindo e conversando sobre tudo e nada. A brisa fresca da noite ajudava a dissipar um pouco os efeitos do álcool, e enquanto eles conversavam de maneira descontraída, uma ideia de null surgiu.
— Você sabia que tem um restaurante aqui perto que serve um ramen incrível? — Ela disse, parando em frente a um pequeno estabelecimento, com uma fachada simples, mas acolhedora. — Esse lugar aqui é bem caseiro e tem um clima aconchegante. Acho que seria uma boa opção para dar uma esfriada.
null olhou para o restaurante, vendo a luz suave vindo de dentro e a atmosfera acolhedora que emanava da porta entreaberta. A ideia de um ramen quente e reconfortante parecia perfeita para os dois.
— Você tem razão. Um ramen quente seria ótimo, ajuda a limpar a cabeça. E eu nunca recuso uma boa comida coreana. — Ele sorriu, caminhando na direção da porta. — Vamos entrar.
Eles atravessaram a porta e foram recebidos por uma sensação acolhedora, o cheiro de caldo de ramen e comida caseira invadindo as narinas de ambos. O restaurante era pequeno, com poucas mesas, mas o ambiente era caloroso, com decoração simples e aconchegante. O atendimento era amigável, e o garçom os conduziu até uma mesa perto da janela, onde podiam ver a rua quieta lá fora.
null se sentou com um sorriso satisfeito, já começando a tirar o casaco.
— Isso vai ser bom, você vai ver. Ramen quente e uma boa conversa. Melhor do que qualquer outra coisa agora. — Ela disse, pegando o cardápio.
null, sentando-se ao seu lado, olhou para ela, ainda sorrindo.
— Com certeza. Eu não sei como você conseguiu escolher isso, mas… você tem bom gosto. — Ele se acomodou na cadeira e se inclinou um pouco para frente, olhando para o cardápio. — Acho que vou pedir o mesmo. Vai ser um final de noite bom.
null levantou a mão para chamar o garçom, ainda sorrindo, e ao olhar para null, percebeu que, apesar de estarem ali por acaso, a química entre os dois estava mais forte do que ela imaginara.
O garçom chegou até a mesa, e os dois começaram a fazer seus pedidos.
— Vou querer o ramen de porco, por favor. E mais uma coca-cola. — null disse com um sorriso no rosto, já se sentindo confortável naquele ambiente tranquilo.
null olhou para o cardápio mais uma vez, com os olhos um pouco mais embaçados pela bebida. Ele ainda estava sorrindo, mas a sensação de estar ali com ela em um lugar tão aconchegante parecia meio surreal, como se a noite tivesse se tornado algo mais especial.
— Eu vou… vou querer o mesmo. Ramen de porco também. E, hm… mais uma coca também. — Ele balbuciou, tentando manter o foco enquanto olhava para o garçom, mas seus olhos logo se desviaram para a janela. Ele observava os carros passando lá fora, distraído, tentando afastar os pensamentos e focar no momento presente.
Enquanto ele estava entretido com o movimento na rua, null aproveitou o momento para, com naturalidade, colocar a mão sobre a dele. Ela fez de forma descontraída, quase como se fosse algo comum, mas o toque foi o suficiente para que ele fosse interrompido de seus pensamentos.
Ele congelou por um momento, os dedos ainda contraídos ao redor da borda da mesa. Era um toque casual, mas havia algo na suavidade de sua mão que fez seu peito acelerar um pouco. Quando ele olhou para baixo, viu sua mão debaixo da dela, sentindo o calor do contato, e olhou para ela com um sorriso leve.
null, por sua vez, manteve o olhar em seu rosto, esperando sua reação. Ela não dizia nada, apenas deixando o toque ser o suficiente para dar início a algo mais entre os dois.
— Você tem… um jeito de ser bem… natural com as coisas. — null comentou, quase sem pensar. Ele estava ciente de que talvez estivesse se deixando levar pela bebida, mas a presença dela parecia envolvê-lo de forma diferente, como se o fizesse sentir-se mais à vontade. A sensação de tranquilidade da noite, o ambiente acolhedor e o toque dela traziam algo que ele não sabia muito bem explicar.
Ela apenas deu de ombros, mantendo a mão sobre a dele, mas agora sem tanta pressa de retirá-la.
— Acho que só estou sendo eu mesma. — Ela disse, sem tirar os olhos dele. — Não se preocupe, null. Isso aqui é só um toque. Mas é bom ver que você está começando a relaxar um pouco.
O garçom voltou com os pedidos e, sem tirar a mão dele de debaixo da dela, eles finalmente voltaram a se concentrar na refeição. O clima estava mudando sutilmente, mas de maneira palpável. Os dois já não pareciam tão distantes.
***
Depois da refeição, que parecia ter aquecido mais do que apenas os corpos de ambos, null e null saíram do restaurante com os corações mais leves e as mentes menos turvas, embora o álcool ainda fizesse sua presença sentir. O frio da noite estava começando a se intensificar, e sem hesitar, null entrelaçou seu braço ao dele, um gesto simples, mas que parecia indicar algo mais. Ela não dizia nada, mas o contato fazia a conexão entre os dois se intensificar sutilmente.
— Isso foi… muito bom, eu estava precisando de algo quente, sério. — null comentou, sorrindo de lado, ainda sentindo a suavidade da noite envolvê-los.
null riu levemente, olhando para ela. A sensação do seu braço entrelaçado ao dela trouxe um tipo de tranquilidade inesperada. O jeito descontraído de null o fazia sentir-se mais à vontade do que imaginava.
— Eu também, nunca imaginei que um ramen fosse me deixar assim tão… bem. — Ele respondeu, olhando para ela, seus olhos mais atentos agora. — A comida, a companhia… acho que eu devia sair mais de vez em quando.
Ela levantou uma sobrancelha, divertida com o tom dele.
— Ah, você? Um cara que fica preso ao trabalho e às suas rotinas? Sério? — null brincou. — Você tem cara de quem, no final de semana, fica em casa assistindo filmes religiosos ou algo assim. O tipo certinho, né?
null riu, sentindo uma leve pontada no peito, mas de uma forma boa, confortável.
— Certinho, é? — Ele se inclinou um pouco para ela, fazendo um gesto exagerado com as mãos, como se fosse muito sério. — Eu até tento ser, mas parece que a vida tem outros planos para mim.
Eles seguiram caminhando pela rua calma, o barulho suave dos passos ecoando no silêncio da noite. null mantinha seu braço entrelaçado ao dele, a proximidade causando uma mistura de sentimentos em null, que não sabia muito bem o que fazer com aquela sensação. Ela parecia tão natural, tão segura de si, e ele? Ele estava aprendendo a lidar com aquele novo ritmo.
— Sabe, eu não sei o que está acontecendo hoje, mas… — null começou, com um tom mais suave, quase introspectivo, — me sinto… bem, tranquila. Com você, aqui. Não sei se é a noite ou o ramen, ou a cerveja, mas… acho que estamos criando um bom momento, né?
Ele a olhou, surpreso pela sinceridade no tom dela, e sorriu.
— Sim, estamos. E eu… acho que também estou começando a gostar desses momentos com você. — Ele disse com uma leveza, o sorriso genuíno se formando em seus lábios. — Talvez seja o começo de algo diferente para mim.
Ela sorriu de volta, a expressão dela mostrando algo mais profundo, mas ainda descontraído.
— Talvez seja. Mas quem sabe o que a gente vai acabar virando? — null disse, com um brilho travesso nos olhos.
O clima estava mudando de novo. Agora, mais calmo e silencioso, mas com uma tensão delicada que poderia ser sentida se alguém observasse com mais atenção. Os dois caminharam mais um pouco, conversando sobre o que mais podiam, as palavras fluindo com facilidade enquanto a noite se estendia, levando-os para um futuro que nenhum dos dois estava totalmente certo do que traria.
***
Quando chegaram perto do final da rua, já mais próximos do ponto onde eles se separariam para seguir seus próprios caminhos, null olhou para null, ainda com o braço entrelaçado ao dela, e, com um sorriso leve, fez a oferta.
— Eu posso te levar em casa, se você quiser. Não queria que ficasse sozinha, e… bem, acho que não estou tão bêbado assim para dirigir. — Ele disse, a voz mais séria, mas com um toque de brincadeira, querendo mostrar que estava disposto a ser educado, mas ao mesmo tempo tentando disfarçar um pouco o álcool que ainda circulava em seu corpo.
null o olhou com uma expressão que misturava diversão e curiosidade, percebendo a tentativa dele de manter a compostura.
— Hmmm… você? Dirigir? Depois de duas cocas e ramen? — Ela soltou uma risadinha, balançando a cabeça de leve. — Eu acho que você está mais para um perigo ambulante do que para alguém em condições de dirigir. Não sei se confio, viu?
Ela fez uma pausa, olhando para ele de canto, antes de continuar com um sorriso travesso no rosto.
— Mas, tudo bem, eu toparei. Vai ser engraçado te ver tentando. E quem sabe você não se sai melhor do que imagina. — null brincou, ainda com o tom de piada, mas, por algum motivo, também aceitando a ideia.
null sorriu, aliviado, e tentou manter a postura, embora a brincadeira de null o tivesse deixado um pouco mais relaxado.
— Ok, ok, vamos lá então. Se eu causar algum acidente, você será a primeira a me culpar, certo? — Ele respondeu, com um sorriso divertido, como se já tivesse se acostumado com o jeito irreverente dela.
— Com certeza, não te deixarei escapar tão fácil. — Ela riu, sem realmente se preocupar, já que sabia que null tinha mais responsabilidade do que ele estava deixando transparecer.
Eles começaram a caminhar até o carro, a conversa mais descontraída e cheia de risadas do que antes. O clima entre eles estava mais leve, mais natural, e o fato de estarem juntos, após uma noite cheia de pequenos momentos, só fez com que ambos se sentissem mais à vontade.
Quando chegaram ao carro, null abriu a porta para ela, e null, como sempre, aproveitou para fazer mais uma piada.
— Eu vou te dar uma chance de provar que você realmente não está tão bêbado assim. Só não me leve para algum lugar errado, tá? — Ela disse, sorrindo, antes de se acomodar no banco do passageiro.
— Pode deixar. Eu sou bom com direções… normalmente. — Ele respondeu, rindo para si mesmo, já entrando no carro e ligando o motor.
Enquanto ele começava a dirigir, o silêncio que se seguiu entre eles era confortável, com o som suave do rádio e o carro deslizando pela rua tranquila. null olhou pela janela, ainda sorrindo, e null, embora ainda meio tonto, sentia que o ambiente entre eles havia mudado para algo mais leve, mais promissor…
***
Quando o carro parou em frente ao prédio de null, o som do motor desligando preencheu o silêncio do ambiente. null olhou para ela, um pouco surpreso, mas sentindo que algo no ar tinha mudado, que o clima entre os dois agora estava diferente.
null, com um sorriso no rosto, já estava desabrochando o cinto de segurança. Ela se virou para ele, e, em um movimento rápido, puxou o rosto de null em direção ao dela, sua mão suave mas firme na nuca dele, fazendo-o se aproximar sem ter tempo para reagir. Seus olhos se encontraram por um breve instante, e ali ele sabia o que estava prestes a acontecer.
Sem mais palavras, ela o beijou. Um beijo intenso, que começou de forma suave, mas rapidamente se tornou mais ousado, mais urgente. Os lábios de null se encaixaram nos dele com uma certeza, um ímpeto que não deixou espaço para hesitação. Ela explorou sua boca com intensidade, e null, tomado pela surpresa, se entregou ao momento. Seus corpos estavam bem próximos, a tensão no ar crescente, a sensação de algo além da atração física.
Ele se virou um pouco para encará-la de frente, e o beijo ficou mais profundo. null soltou um suspiro abafado e, com a outra mão, puxou o cabelo de null, inclinando sua cabeça para que o beijo ficasse ainda mais intenso, mais selvagem. Os toques entre eles eram um reflexo de algo que se intensificava, o desejo misturado com a necessidade de algo mais que ambos ainda não tinham certeza de como definir.
O beijo foi interrompido apenas quando eles precisaram respirar. Ambos estavam ofegantes, o ar carregado com a energia do momento. null olhou para ele com um sorriso nos lábios, ainda próxima, e disse, com um tom de desafio:
— Então… você sobreviveu, né?
null, agora com os sentidos mais aguçados e o corpo ainda aquecido pelo beijo, sorriu de volta, sentindo uma mistura de surpresa e excitação.
— Acho que sim… — Ele respondeu, a voz mais rouca do que ele esperava, sem saber bem o que dizer a seguir, mas, ao mesmo tempo, mais do que disposto a continuar a descoberta de tudo o que estava começando a acontecer ali entre eles.
O clima entre eles estava carregado de tensão, mas também de algo mais profundo. null o observou por um momento antes de se afastar levemente, ajeitando-se no banco e, com uma risada baixa, finalmente murmurou:
— Chegou a hora de você ir, null. Senão, vou acabar te mantendo aqui a noite toda.
Ele sorriu novamente, mas algo dentro dele já sabia que isso não seria o fim. Era só o começo.
4° Capítulo
null sentou-se na beira da cama, com o termômetro ainda na mão, observando os números que piscavam no visor. 38,7°C. Ele suspirou, sentindo o calor que parecia irradiar de seu corpo, como se confirmasse o que o aparelho dizia. Além da febre, ele já estava há algumas horas lidando com uma dor de cabeça latejante e uma sensação de fraqueza que o fazia querer se deitar a cada passo que dava.
Levou uma mão à testa, que estava suada, e deixou escapar um murmúrio:
— Ótimo, era só o que faltava…
Ele não costumava adoecer com facilidade, mas algo definitivamente estava errado. Sentia o corpo pesado, os músculos doloridos e, para completar, uma leve tontura que o fez se apoiar na parede ao se levantar. Não tinha dúvidas de que precisava de ajuda.
null caminhou até a sala e pegou o celular, hesitando por um momento antes de digitar no aplicativo de mapas o hospital mais próximo. Ele pensou em pedir um táxi, mas a ideia de esperar lá fora no frio o fez reconsiderar. Precisaria reunir forças para dirigir.
— Melhor resolver isso logo… — murmurou para si mesmo, enquanto buscava um casaco para enfrentar o vento gelado lá fora.
Antes de sair, ele parou diante do espelho do corredor, encarando seu reflexo. Sua pele estava pálida, os lábios ligeiramente ressecados, e os olhos, normalmente brilhantes, estavam opacos e cercados por olheiras profundas. Ele suspirou.
— Só uma gripe forte, null. Vai passar. — Ele disse, tentando se convencer de que não era nada grave, embora soubesse que seu corpo estava pedindo socorro.
Com uma última checada para garantir que tinha sua carteira e o celular, null saiu de casa, decidido a buscar atendimento.
***
O som baixo dos sapatos de null ecoava pelo chão polido do hospital enquanto ele se dirigia à recepção. O lugar estava movimentado, com algumas pessoas tossindo ou segurando as próprias testas, como ele. Apesar do fluxo constante de gente, o ambiente era calmo, com o ar-condicionado fazendo contraste com o frio do lado de fora.
— Bm dia. — A recepcionista levantou os olhos para ele com um olhar educado.
— Bom dia… Eu… acho que estou com febre alta e outros sintomas. Preciso de atendimento. — Ele falou devagar, ainda um pouco tonto.
Ela acenou com a cabeça e empurrou uma prancheta em sua direção.
— Por favor, preencha seus dados aqui. Assim que possível, o chamaremos.
null assentiu e se apoiou no balcão enquanto preenchia o formulário, a caneta parecendo mais pesada do que o normal em suas mãos. Depois de entregar a ficha, foi direcionado para a sala de espera. Sentou-se em uma das cadeiras acolchoadas e tirou o celular do bolso para avisar seu chefe.
“Bom dia. Estou no hospital com febre alta e outros sintomas. Acho que não vou conseguir ir ao trabalho hoje. Assim que sair, mando notícias.”
Depois de enviar a mensagem, ele apoiou a cabeça na parede fria atrás de si, fechando os olhos por um momento. O burburinho ao redor parecia distante, e ele se concentrou na respiração, tentando ignorar o mal-estar.
Depois de cerca de quinze minutos, uma enfermeira chamou seu nome.
— null null?
Ele se levantou com esforço, seguindo-a até um consultório. O médico, um homem de meia-idade com expressão séria, o cumprimentou com um aceno.
— Bom dia, senhor null. Quais os sintomas?
— Comecei com dores no corpo, cansaço, e agora estou com febre alta e um pouco de tontura. — respondeu, enquanto o médico fazia algumas anotações.
— Certo. Vamos examinar. — O médico pegou o termômetro para confirmar a febre e, em seguida, escutou os pulmões de null, fazendo perguntas pontuais sobre outros sintomas.
— Parece ser um caso de gripe forte, possivelmente agravado por cansaço ou falta de descanso. Vou prescrever antitérmicos e alguns medicamentos para ajudar na recuperação. E, senhor null, seria bom tirar uns dias para descansar. Seu corpo está pedindo isso. Vou lhe dar alguns dias de atestado também.
null assentiu, agradecido. Recebeu a receita, o atestado e algumas instruções antes de ser liberado. Enquanto caminhava para o estacionamento, sentia-se aliviado por não ser nada mais grave, mas sabia que precisaria de alguns dias para se recuperar.
Quando chegou em seu carro, entrando o mais rápido o possível, soltou um suspiro longo e cansado. Sentado ali por alguns segundos, apoiou a cabeça no encosto e observou o celular na palma da mão. O brilho da tela parecia ofuscante contra a escuridão da cabine. Ele abriu o aplicativo de mensagens, digitando devagar:
“Diagnóstico confirmado: gripe forte. Tirei um atestado para os próximos dois dias. Envio a foto anexa.”
Depois, bloqueou o mesmo e o jogou com delicadeza sobre o banco do passageiro e voltou a observar os papeis em suas mãos, indo para a receita com os medicamentos indicados, onde os nomes complicados dos medicamentos pareciam zombar de sua confusão. Ele leu as instruções com atenção, mas sentiu-se um pouco perdido. Não era o tipo de pessoa que ficava doente com frequência, e a ideia de passar os próximos dias em repouso forçado o deixava inquieto.
Lá fora, as luzes da rua piscavam suavemente contra as janelas do carro, misturando-se ao vapor da respiração quente dele, que formava um leve embaçado no vidro. O contraste entre o frio da noite e o calor interno do carro parecia refletir exatamente como ele se sentia: entre o alívio de saber que não era nada grave e a frustração por ter que desacelerar, algo que não era natural para ele.
***
Dirigiu devagar pelas ruas de Seul ainda sentindo o corpo doer e a sensação febril pelo corpo. O rádio do carro estava desligado, deixando apenas o som do motor e a respiração pesada de null preencher o espaço. Ele procurava pela farmácia mais próxima.
Olhou para os lados, tentando localizar algum letreiro verde brilhando no dia começando a amanhecer, mas o trânsito lento e as ruas cheias dificultavam a busca. Ao virar em uma esquina, avistou finalmente o que procurava: uma pequena farmácia aberta 24 horas, com poucas pessoas entrando e saindo.
Estacionou o carro na vaga mais próxima que encontrou, sentindo o calor aumentar em sua testa ao desligar o motor. Segurou o volante por um momento, como se reunisse forças para sair. Pegou os papeis do banco do passageiro, conferindo mais uma vez a receita antes de abrir a porta e encarar o ar frio da noite.
O sino sobre a porta da farmácia tilintou levemente quando entrou, e o ar-condicionado bateu forte contra seu rosto, provocando um leve arrepio. Ele foi até o balcão, onde uma atendente jovem e de olhar gentil o esperava.
— Bom dia. Vocês tem esses medicamentos aqui? — perguntou, colocando a receita sobre o balcão. Sua voz saiu rouca, quase um sussurro.
A atendente assentiu, pegando a receita e se afastando para buscar os remédios. Enquanto esperava, null se apoiou no balcão, fechando os olhos por um instante. O mundo parecia girar levemente, e ele sentiu uma gota de suor escorrer por sua têmpora.
— Aqui está, senhor. — A voz da atendente o despertou. Ele abriu os olhos e viu os medicamentos cuidadosamente empilhados no balcão. — Mais alguma coisa além dos medicamentos?
null suspirou pesadamente, sentindo que o corpo poderia ceder a qualquer momento, mas ele se agarrou ao balcão tentando recuperar a sanidade e as forças.
— Somente, muito obrigada! — ele pegou os medicamentos após a atendente depositá-los em uma pequena cesta.
null caminhou em passos lentos até o caixa da farmácia, depositando a cesta sobre o balcão do caixa. Ouvindo logo em seguida o valor que devia a farmácia.
— Obrigado. — Ele retirou a carteira do bolso, pagando rapidamente.
Ao sair da farmácia, segurando a sacola com os remédios, null olhou para o céu com o sol começando a dar às caras. A sensação de ter algo que o ajudaria a se recuperar era reconfortante, mesmo que seu corpo ainda estivesse pesado e a febre não tivesse dado trégua.
Entrou no carro novamente, colocando a sacola ao lado. Suspirou, apoiando as mãos no volante, e murmurou para si mesmo de forma exagerada:
— Espero que eu sobreviva.
Virou a chave na ignição, deixando o motor roncar suavemente antes de partir em direção ao seu apartamento.
***
null saiu do banho com o vapor ainda escapando para o corredor, a toalha estava frouxamente enrolada na cintura, e ele sentia o corpo estremecer de frio enquanto os músculos doíam a cada movimento. Caminhou lentamente até o quarto, os pés descalços deixando marcas úmidas no chão.
Empurrou a porta do armário, pegando a primeira roupa confortável que encontrou: uma camiseta larga e uma calça de moletom velha. Vestiu-se com cuidado, cada gesto parecendo consumir mais energia do que deveria. Sentou-se na beirada da cama por um momento, respirando fundo, como se precisasse reunir forças para o próximo passo.
Depois de alguns minutos, levantou-se e arrastou os pés até a cozinha. As luzes estavam apagadas, e ele ligou apenas o pequeno abajur sobre o balcão, que iluminava fracamente o espaço. Pegou a sacola da farmácia que tinha deixado ali mais cedo e retirou os remédios, colocando-os sobre a bancada.
null abriu o armário e pegou um copo, encheu-o com água da torneira, e então se inclinou contra o balcão. Olhou para os comprimidos e para a receita, conferindo as instruções do médico mais uma vez, mesmo com a mente turva.
Tomou um dos comprimidos e deu um longo gole na água, sentindo o líquido gelado deslizar pela garganta. Repetiu o processo com o segundo remédio, engolindo com dificuldade. Quando terminou, deixou o copo no balcão e apoiou as mãos nele, abaixando a cabeça por um momento.
O silêncio na cozinha parecia pesado, mas também reconfortante. Ele sabia que precisava descansar, mas o simples ato de se arrastar até o sofá ou a cama parecia mais exaustivo do que nunca. Após alguns minutos, endireitou-se, pegou a sacola vazia e jogou-a no lixo.
Com passos lentos, voltou para o quarto. Desta vez, não pensou em mais nada — apenas se deixou cair sobre a cama, puxando o cobertor para se cobrir enquanto o sono chegava quase imediatamente, embalado pelo efeito inicial dos remédios.
***
null abriu os olhos com dificuldade, a luz do dia filtrando-se pelas cortinas do quarto e deixando o ambiente levemente iluminado. Sua cabeça ainda estava pesada, e ele sentia o corpo molhado de suor, o que o fazia se mexer desconfortavelmente nos lençois.
Virou-se de lado e focou o olhar no relógio digital que repousava sobre sua mesa de cabeceira. O visor vermelho brilhava nos números 11:47, e a constatação de que já era quase meio-dia o pegou de surpresa.
Com um suspiro longo, passou a mão pelo rosto, sentindo a pele quente e levemente úmida. Ainda parecia exausto, como se o sono não tivesse sido suficiente para recuperar suas energias. Sua boca estava seca, e ele percebeu que o copo de água que normalmente mantinha ao lado da cama estava vazio.
Esticou o braço para pegar o celular, que estava no mesmo lugar onde o havia deixado na noite anterior. A tela acendeu ao toque de seus dedos, e ele viu algumas notificações: mensagens do chefe perguntando como ele estava, além de uma ou outra mensagem de amigos que ele não tinha forças para responder no momento.
null se jogou novamente contra os travesseiros, fechando os olhos por um instante, como se precisasse reunir coragem para levantar. Ele sabia que não poderia ficar deitado o dia inteiro, mas seu corpo parecia implorar por mais descanso.
Depois de um momento, respirou fundo e, com muito esforço, sentou-se na cama. O simples ato parecia um desafio enorme. Coçou a nuca enquanto seus olhos vagavam pelo quarto, tentando decidir o que fazer primeiro: tomar mais água, comer algo ou medir novamente a febre. Tudo parecia necessário e urgente, mas ele precisava ir aos poucos, um passo de cada vez.
Decidiu por tomar mais um pouco de água, então se desfez dos cobertores com um movimento lento e desajeitado. O choque do ar frio contra sua pele quente o fez estremecer, e ele soltou um pequeno gemido de desconforto enquanto colocava os pés descalços no chão.
Se levantou com dificuldade, sentindo os músculos ainda doloridos e os joelhos levemente fracos. Arrastou-se até a cozinha, o som dos passos pesados ecoando no pequeno apartamento. A luz natural que invadia o espaço pela janela da sala parecia forte demais para seus olhos cansados, e ele desviou o olhar, focando no caminho à frente.
Chegando ao balcão da cozinha, abriu o armário e pegou um copo, enchendo-o com a água fresca do filtro. Levou o copo aos lábios e tomou um longo gole, sentindo a temperatura fria do líquido aliviar momentaneamente a secura em sua garganta. O gesto simples o fez perceber o quanto estava desidratado.
Depois de esvaziar o copo, ele o encheu novamente, tomando outro gole mais curto antes de apoiar o recipiente no balcão e esfregar o rosto com as mãos. Sentiu o corpo ceder ao cansaço, e apoiou os cotovelos na bancada, encarando o copo à sua frente.
Aos poucos, a sensação de alívio começou a surgir, e ele decidiu que precisava comer algo, por mais que seu apetite estivesse praticamente inexistente. Ele sabia que o remédio tomado de estômago vazio não faria bem. Virou-se em direção à geladeira, abrindo-a com uma mão enquanto a outra ainda se apoiava na bancada. Seus olhos percorreram as prateleiras em busca de algo fácil e rápido, como frutas ou uma sopa pronta.
Encontrou uma pequena tigela de sopa que havia preparado há alguns dias e a pegou, fechando a geladeira com o pé. Colocou a tigela no micro-ondas, configurando o tempo e observando o aparelho girar lentamente enquanto o som do motor preenchia o silêncio do apartamento.
Enquanto o micro-ondas trabalhava para esquentar a sopa, null apoiou as costas contra a bancada da cozinha, sentindo o cansaço pesar em cada músculo. Foi quando se lembrou da aula de boxe marcada para o final do dia.
Ele fechou os olhos e soltou um longo suspiro, levando automaticamente a mão à testa em um gesto de frustração. “Como é que eu esqueci disso?“, pensou, passando os dedos pelos cabelos bagunçados.
Sem perder mais tempo, empurrou-se da bancada e foi atrás do celular, que tinha deixado no quarto. Ao encontrá-lo sobre a mesa de cabeceira, desbloqueou a tela e procurou o contato de null.
Por um momento, hesitou. Não queria desmarcar. A verdade era que, mesmo se sentindo péssimo, a ideia de vê-la fazia com que ele considerasse ir, ainda que estivesse longe de estar em forma para qualquer atividade física.
Mas então o bom senso falou mais alto. Ele não podia aparecer assim, quase sem energia, e ainda corria o risco de contagiar null com o que quer que fosse que tivesse pego.
Respirando fundo, abriu o aplicativo de mensagens e digitou:
“Oi, null. Me desculpa por avisar em cima da hora, mas não vou conseguir ir para a aula de hoje. Estou meio mal, com febre e outros sintomas, então achei melhor ficar de repouso. Prometo compensar assim que melhorar!”
Ele relia a mensagem rapidamente antes de enviar, garantindo que não soasse rude ou como uma desculpa esfarrapada. Com um toque, a mensagem foi enviada, e null deixou o celular de lado, voltando para a cozinha para buscar sua sopa.
Enquanto retirava a tigela do micro-ondas, o celular vibrou na mesa de cabeceira. Ele olhou por cima do ombro, cogitando se deveria verificar, mas decidiu deixar para depois. Primeiro, precisava se alimentar e tentar recuperar um pouco das forças.
***
null terminou a sopa sem muita pressa, tentando aproveitar o calor reconfortante que ajudava a aliviar a sensação de fraqueza. Quando raspou a última colher na tigela, soltou um suspiro baixo, o peso do cansaço ainda evidente em seus ombros. Ele se levantou devagar, carregando a tigela e o copo até a pia.
Sem energia para lavar as louças naquele momento, ele apenas deixou tudo ali, empilhado de forma descuidada. “Depois eu lavo”, pensou, esfregando os olhos com as costas da mão enquanto se dirigia ao quarto.
De volta ao cômodo, pegou o termômetro que havia deixado na mesa de cabeceira e sentou-se na beirada da cama. Colocou o aparelho sob a língua, sentindo o corpo ainda quente, como se a febre fosse um fogo lento que não se apagava.
Enquanto aguardava o bip do termômetro, inclinou-se para trás, deixando o peso do corpo cair sobre o colchão macio. Fixou os olhos no teto, contando mentalmente os segundos. Quando o aparelho finalmente apitou, null o retirou e olhou para o visor.
38,3°C.
Ele suspirou, deixando o termômetro de lado. A febre ainda estava alta. Pegou o celular para ajustar um alarme, caso pegasse no sono novamente, e decidiu que, se a febre continuasse assim até o fim do dia, talvez fosse melhor voltar ao hospital. Por ora, tudo o que podia fazer era descansar e esperar que os remédios começassem a fazer efeito.
Puxou o cobertor sobre o corpo mais uma vez, entregando-se ao cansaço que parecia invencível.
null estava quase cedendo ao sono quando o som suave da vibração do celular ecoou pelo quarto. Ele abriu os olhos devagar, a claridade da tela iluminando o ambiente enquanto ele deslizava o dedo para desbloquear o aparelho. Era uma mensagem de null.
“Entendi, tudo bem! Mas me manda seu endereço. Vou passar aí depois da academia para ver como você está.”
Ele leu a mensagem duas vezes, o coração apertando um pouco. Não queria expor ninguém àquela gripe, muito menos null. Com os dedos ainda trêmulos pela febre, começou a digitar:
“Agradeço a preocupação, mas acho melhor não, null. Não quero que você pegue essa gripe. Estou só descansando, nada grave. Não se preocupe comigo, sério.”
Enviou a resposta e pousou o celular ao lado, achando que o assunto estava resolvido. Mas o aparelho vibrou novamente poucos segundos depois.
“null, deixa de ser teimoso. Eu vou usar máscara, luvas, álcool em gel, tudo o que precisar. Não vou ficar muito tempo, só quero ter certeza de que você está bem. Não aceito ‘não’ como resposta.”
Ele passou a mão pelo rosto, suspirando. Sabia que ela era determinada, mas não esperava que insistisse tanto.
“null, eu fico preocupado com você. Se você ficar doente por minha causa, vou me sentir péssimo. Não é necessário, sério.”
Mais uma vibração. Ele sabia que era dela antes mesmo de olhar.
“Não se preocupe comigo. Eu sou mais resistente do que pareço, tá bom? Agora para de enrolar e manda logo o endereço. Prometo que não vou ficar muito tempo.”
null hesitou por mais alguns instantes, encarando a tela como se estivesse em um impasse consigo mesmo. Por fim, soltou um suspiro derrotado e digitou:
“Tá bom… Rua Hanseo, 148, apartamento 403. Mas não precisa trazer nada, só vem.”
Ele enviou a mensagem e deixou o celular de lado novamente, afundando a cabeça no travesseiro. Um pequeno sorriso involuntário surgiu em seus lábios. Apesar de tudo, era reconfortante saber que alguém se importava o suficiente para insistir tanto.
***
null passou o resto do dia em meio a cochilos e momentos de inquietação. A febre teimava em não ceder completamente, deixando-o num estado constante de sonolência e desconforto. Ele tomava os remédios nos horários certos e bebia bastante água, mas o calor e a sensação de fraqueza ainda dominavam seu corpo. A maior parte do tempo, ele ficou deitado, enfiado sob as cobertas, enquanto o som distante do trânsito em Seul preenchia o silêncio do apartamento.
Enquanto isso, null teve um dia cheio na academia. Desde cedo, sua agenda estava lotada com aulas de boxe, treinos personalizados e clientes exigentes. Ela mal teve tempo de respirar entre uma sessão e outra, mas em cada intervalo curto, sua mente voltava para null. Lembrava-se de como ele parecia abatido pela manhã e sentia uma preocupação crescente.
Ao final do expediente, mesmo cansada, ela tomou um banho rápido nos vestiários da academia e trocou para roupas confortáveis: jeans, uma jaqueta de moletom e tênis. Parou em uma farmácia no caminho para comprar alguns itens básicos – mais antitérmicos, pacotes de lenços e um chá calmante. Carregando a sacola e já acostumada ao ritmo frenético da cidade, null pegou o metrô e seguiu para o endereço que ele havia enviado.
Quando finalmente chegou ao prédio de null, a noite já havia caído, e a leve brisa do inverno indicava que o frio se intensificaria. Ela se aproximou da portaria, confirmou o número do apartamento e subiu. Com um leve sorriso no rosto, tocou a campainha, ansiosa para vê-lo e checar como ele estava.
Ao ouvir a campainha, null soltou um suspiro longo. Ainda sentindo o corpo pesado e a cabeça latejando levemente, ele se arrastou até a sala, cada passo parecendo mais difícil do que o anterior. Com uma mão apoiada no batente da porta para manter o equilíbrio, ele destrancou a fechadura e girou a maçaneta.
Assim que abriu a porta, seus olhos encontraram null. Ela estava ali, vestida de forma casual, mas com aquele sorriso despreocupado que parecia iluminar qualquer ambiente. Nas mãos, carregava uma sacola da farmácia e um copo de café quente que provavelmente havia pegado no caminho.
— Você não precisava vir… — null murmurou com a voz rouca, encostando-se na porta como se estivesse reunindo forças para ficar de pé.
— Claro que precisava! — ela retrucou com um tom leve, entrando no apartamento sem esperar convite. — Olha pra você, parece que foi atropelado por um caminhão. Não acha que precisa de cuidados?
null tentou rir, mas acabou soltando algo mais próximo de um suspiro cansado.
— Entra logo… — Ele se afastou da porta, permitindo que ela passasse, e depois a fechou com um movimento lento. — Não quero que você pegue essa gripe…
null deu de ombros enquanto colocava a sacola sobre a mesa da sala.
— Eu me viro. E, honestamente, você não parece em condições de discutir comigo. — Ela o olhou de cima a baixo, examinando o quanto ele estava abatido. — Agora vai sentar. Deixa que eu cuido disso aqui.
null suspirou, ciente de que discutir com null seria inútil naquele momento. Sem muita energia para protestar, ele acenou de leve com a cabeça e foi até o sofá, sentando-se com cuidado. Assim que se acomodou, recostou-se, sentindo o corpo ainda pesado, mas de alguma forma aliviado por não estar sozinho.
Da sala, ele ouvia null se movimentar pela cozinha. O som de portas de armários abrindo e fechando, de louças sendo remexidas e, eventualmente, o barulho da água correndo na pia, tudo isso criava uma sensação inesperada de conforto. Era estranho, mas naquele momento, o simples fato de ouvir outra pessoa em sua casa trazia uma calma que ele não sabia que precisava.
— Você não tinha que mexer em nada, sabe? — ele comentou, erguendo um pouco a voz para que ela pudesse ouvi-lo. — Só sentar aqui e me vigiar seria o suficiente.
null apareceu no batente da porta da cozinha com as mãos nos quadris e um sorriso brincalhão.
— Vigiar? — ela repetiu, arqueando uma sobrancelha. — Você acha que sou o quê? Sua babá?
Ele riu baixinho, embora a risada logo se transformasse em uma tosse leve.
— Eu só não quero dar trabalho…
— Tá, null. Primeiro, você é péssimo em argumentar quando está doente. E segundo… — ela apontou para ele com uma colher que aparentemente havia pego em algum momento. — …nem pense em dizer isso de novo. Agora fica aí quietinho e me deixa cuidar de você, ou vou te amarrar nesse sofá.
Ele abriu um sorriso pequeno, aquecido por sua determinação. Então, voltou a se recostar, ouvindo-a voltar à cozinha, onde os ruídos recomeçaram. A panela chiando suavemente no fogão e o cheiro de algo que ele não conseguia identificar começaram a se espalhar pela casa, trazendo uma atmosfera acolhedora e familiar.
null fechou os olhos por um momento, permitindo-se relaxar. Não sabia o que null estava preparando, mas tinha a sensação de que, pela primeira vez no dia, algo realmente bom estava prestes a acontecer.
5° Capítulo
null sorriu, bobo, conforme o cheiro da comida feita por null se espalhava pela sala. Havia algo reconfortante naquela mistura de aromas quentes e temperos suaves, algo que fazia com que ele se sentisse menos doente, menos sozinho.
Ele abriu os olhos lentamente, observando o teto por alguns segundos antes de desviar o olhar para a cozinha. Mesmo sem vê-la, sabia que null estava ali, movimentando-se com aquela energia prática e determinada que parecia parte de sua essência.
— Tá sorrindo por quê? — a voz dela veio do outro cômodo, divertida.
Ele não se deu ao trabalho de disfarçar.
— Porque acho que nunca fui tão bem tratado assim estando doente — admitiu, sua voz um pouco rouca.
null soltou uma risada curta.
— Isso porque você ainda nem comeu. Espera só até experimentar.
null fechou os olhos novamente, sentindo o corpo afundar mais no sofá. O cheiro da comida, a voz dela ecoando pela casa, a febre que começava a ceder um pouco… Tudo aquilo criava um cenário que ele nunca imaginaria para aquela noite.
E, pela primeira vez em horas, ele se sentiu realmente confortável.
null surgiu na sala com um pequeno pano úmido nas mãos, se aproximando de null sem hesitação. Ela se inclinou sobre ele, tocando sua testa com as costas dos dedos antes de pressionar o pano gelado contra a pele febril.
— Tá quente ainda… — murmurou, franzindo o cenho. — Você tem algum remédio para tomar agora?
null ergueu os olhos para ela, sentindo a proximidade como se fosse um abraço morno em meio ao frio que ainda percorria seu corpo. Antes de responder, sua mão deslizou instintivamente para a cintura dela, segurando-a com suavidade.
null arqueou as sobrancelhas, surpresa, mas não recuou.
— Tá tentando me seduzir com essa cara de doente? — brincou, um sorriso brincando nos lábios.
Ele riu fraco.
— Se eu dissesse que sim, você acreditaria?
— Acho que sim, porque você tá bem manhoso — ela provocou, os olhos brilhando com diversão. — Mas agora, me responde. Tem remédio ou não?
null soltou um suspiro e afrouxou o toque na cintura dela, mas não completamente.
— Tem sim, tá na cozinha… No balcão.
null assentiu, mas antes de se afastar, deslizou os dedos levemente pelo cabelo dele, como um gesto instintivo de conforto.
— Fica aí quietinho, eu já volto.
Ele apenas sorriu, deixando o toque dela permanecer em sua pele mesmo depois que ela saiu da sala.
null observou null desaparecer pela cozinha, sentindo uma estranha sensação de conforto crescer dentro dele. O cheiro da comida, o toque breve dela em seus cabelos, o jeito natural com que ela assumia o controle da situação… Tudo isso o fazia sorrir sem nem perceber.
Ele se recostou um pouco mais no sofá, fechando os olhos por alguns segundos enquanto ouvia os barulhos vindos da cozinha — o tilintar de frascos sendo abertos, o som da água caindo em um copo, passos suaves contra o chão.
Logo, null retornou com um copo de água e um comprimido na mão.
— Aqui, toma isso. Vai ajudar a baixar essa febre.
Ele pegou o remédio sem questionar, levando-o à boca e bebendo um gole grande de água. Fez uma careta ao engolir, e null riu baixo.
— Nossa, que drama — provocou. — É só um comprimido, não uma poção mágica.
null limpou a boca com o dorso da mão, devolvendo um olhar divertido.
— Do jeito que você tá cuidando de mim, talvez seja.
Ela revirou os olhos, mas um pequeno sorriso entregava que gostou do comentário.
— Agora fica quieto e descansa. A comida já tá quase pronta.
— Você é sempre assim?
null franziu a testa.
— Assim como?
— Tão… mandona?
Ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.
— Só quando tem um homem gripado e teimoso no sofá da minha frente.
null riu, sentindo o cansaço pesar sobre ele de novo, mas de um jeito mais leve dessa vez. null suspirou, balançando a cabeça com um sorriso antes de voltar para a cozinha, deixando-o sozinho com seus pensamentos. Ligou a TV para diminuir o silêncio.
Ele se recostou no sofá, tentando se distrair com a televisão ligada, mas os olhos não conseguiam se concentrar nas imagens na tela. O som da TV era quase um ruído distante, sua mente constantemente voltando para null. Como ela havia entrado na sua casa com uma calma desconcertante, com aquele sorriso confiante, e o jeito como se preocupava com ele sem parecer forçado.
Ele deu um suspiro, ajeitando-se novamente no sofá e pegando o controle remoto, mudando de canal sem realmente prestar atenção em nenhum deles. Seus pensamentos estavam em outro lugar. Na forma como ela parecia ter o poder de dominar a sala com uma simples presença, sem fazer esforço. Como sua risada havia soado tão natural e leve, deixando um calor inexplicável em seu peito.
E o toque… A maneira como ela lhe acariciara a testa, o jeito que ele havia se perdido naquele pequeno gesto de carinho. Por um momento, sentiu-se vulnerável e protegido ao mesmo tempo.
“Ela só está sendo gentil”, pensou ele, tentando afastar a ideia de que talvez aquilo fosse algo mais. Afinal, ela estava apenas ajudando, não havia nada de mais. Mas o problema era que, por algum motivo, sua mente insistia em seguir por aquele caminho, onde um gesto simples de cuidado se tornava algo maior, mais significativo.
Ele desligou a TV, fraco demais para seguir tentando se distrair com aquilo. Apenas fechou os olhos, deixando a sensação do momento com ela ocupar sua mente.
***
null apareceu na porta da sala, com uma bandeja nas mãos, carregando um prato fumegante que exalava o aroma acolhedor da comida caseira. Seus olhos encontraram os de null, que ainda estava ali, sentado no sofá, parecendo perdido em seus próprios pensamentos. Ela deu um pequeno sorriso e caminhou até ele, os passos suaves.
— Você está bem? — ela perguntou, olhando-o com preocupação genuína enquanto se agachava ao lado do sofá, colocando a bandeja sobre a mesa de centro.
null a olhou brevemente, ainda tentando afastar as imagens dela em sua cabeça, mas o sorriso dela trouxe uma sensação de conforto inesperada. Ele se ajeitou no sofá e sorriu, um pouco sem jeito.
— Melhor agora que você trouxe a comida — respondeu, tentando manter o tom descontraído, mas a voz falhou um pouco, traindo a exaustão que ele ainda sentia.
Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, observou-o por um momento, como se estivesse avaliando se ele realmente estava bem. Após alguns segundos de silêncio, null pegou uma colher e colocou um pouco de comida no prato, oferecendo-lhe.
— Não vou te deixar fugir dessa, você precisa se alimentar direito. E… se precisar de mais alguma coisa, me avise, tá? — ela disse com um tom leve e cuidadoso, mas que soava reconfortante, quase como se fosse natural para ela tomar conta de alguém.
null sorriu fraco, mas o gesto trouxe uma sensação boa. Ele pegou a comida com gratidão.
— Acha que vai ser o suficiente para me salvar da febre? — ele perguntou, tentando fazer piada, mas sua voz ainda traía o cansaço.
null não respondeu imediatamente, apenas o observou enquanto ele começava a comer. Seus olhos, no entanto, estavam mais atentos ao rosto dele, como se algo ali ainda não tivesse acabado de se resolver.
***
Quatro dias depois…
— Que tipo de homem é você, null? Sabe que eu ainda me pergunto? Recato e caseiro demais, mas no nosso primeiro encontro já me beijou, lá na academia você é totalmente focado nas aulas de boxe, embora eu veja você vacilando hora ou outra por estar perto demais de mim, e agora um encontro em um parque bem no meio da primavera?
null caminhava ao lado de null, tentando acompanhar o ritmo dela, mas o mais difícil estava em tentar entender as palavras dela. A cada frase, um novo mistério surgia, e ele ainda não sabia como lidar com a intensidade com que ela o observava, com seus questionamentos, e com aquele jeito livre e desafiador que ela tinha. Ele olhou para ela rapidamente, tentando medir a resposta certa, mas, como sempre, ele se pegou mais uma vez perdido em seus próprios pensamentos.
Ele sorriu de leve, sem saber muito bem como reagir àquelas perguntas. As palavras dela eram cheias de curiosidade, e ele sentia que, de alguma forma, estava sendo desafiado. Mas o parque, com suas árvores floridas e o ar fresco da primavera, parecia um cenário perfeito para um momento mais tranquilo — se ele conseguisse tirar o foco das perguntas de null.
— Não sei… talvez você esteja tentando me entender demais — respondeu ele, tentando dar uma resposta descontraída, mas ao mesmo tempo deixando escapar a sensação de insegurança que o envolvia quando o assunto era ela.
Os dois começaram a caminhar pelo caminho sombreado por grandes árvores que se entrelaçavam acima deles, formando um arco natural. O perfume das flores de cerejeira e de outras espécies florescendo ao redor parecia invadir o ar a cada passo, criando uma atmosfera suave, mas cheia de algo mais, algo que ele não conseguia identificar. Ele sentiu a brisa no rosto, aliviando o calor do dia, mas algo dentro dele ainda se agitava. Ele se perguntou se null o via realmente como ele era ou se estava apenas se divertindo com os contrastes entre o que ele aparentava ser e o que ela achava que ele era.
— Acho que sou mais simples do que você pensa, null — ele disse com um sorriso tímido, sem conseguir esconder a leve risada que se formava em seus lábios, tentando quebrar a tensão que ela mesma havia criado com suas perguntas.
Mas null não parecia convencida. Ela olhou para ele com um sorriso enigmático, como se tivesse decifrado mais do que ele gostaria de admitir.
— Eu é que não sou tão difícil de entender assim, null — ela disse, seus olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e diversão. Ela parou por um momento, observando as flores ao redor, antes de olhar para ele novamente. — O difícil é você.
Ele sentiu o coração bater mais forte com aquele comentário, um pouco confuso, mas também intrigado. Ela o desafiava, o fazia sair de sua zona de conforto, e ele não sabia até onde isso o levaria.
— Então me explique, como você me vê? — ele perguntou, tentando jogar o jogo de volta, mesmo que sentisse um pouco de nervosismo misturado à curiosidade.
null não respondeu de imediato. Ela se afastou um pouco, caminhando à frente e observando as flores ao redor, sem pressa. Ele a seguiu, sentindo o cheiro suave das flores invadir o ar, tentando aproveitar o momento, mas a verdade era que sua mente ainda estava à mil por hora, tentando encontrar um jeito de responder a ela, de entender tudo o que ela provocava dentro dele.
null parou por um instante, seus olhos perdidos nas cores vibrantes das flores ao redor. Ela respirou fundo, como se absorvesse a tranquilidade do parque e, ao mesmo tempo, refletisse sobre o que realmente pensava sobre ele. Quando voltou a olhar para null, um sorriso leve, mas cheio de mistério, brincava em seus lábios.
— Você é… — ela começou, demorando-se nas palavras, como se estivesse escolhendo com cuidado. — Uma mistura estranha, null. Tem essa aparência de ser o cara sério, aquele que segue regras, cuida das pequenas coisas, e até no seu jeito de ser… parece que está sempre pensando antes de agir. Mas, ao mesmo tempo, você se deixa levar pelas suas emoções de uma forma que eu não esperava. E quando você me beijou, por exemplo… — ela fez uma pausa, fitando-o diretamente, desafiando-o a manter o olhar dela. — Não parecia o tipo de cara que faz isso tão facilmente.
null ficou em silêncio por um momento, processando cada palavra dela, sentindo a pressão da análise dela sobre sua vida. Algo nele queria se defender, mas a verdade é que null havia capturado algo que ele ainda não conseguia entender completamente sobre si mesmo.
— Então você acha que eu sou um enigma? — perguntou ele, ainda com aquele sorriso no rosto, mas agora com uma expressão mais suave, mais introspectiva.
Ela deu de ombros, voltando a caminhar ao lado dele, sem pressa.
— Um enigma… ou talvez só um cara que ainda não entendeu o que quer. — Ela sorriu de canto, sem parar de caminhar. — E é isso que me deixa tão curiosa. Não é todo dia que encontramos alguém assim, tão… em construção. Isso, eu gosto.
Aquelas palavras fizeram com que o peito de null se apertasse de uma maneira estranha. Ele nunca imaginara que a atração de null por ele fosse tão profunda. Ela parecia saber exatamente como mexer com ele, como tirar a camada de segurança que ele colocava sobre si mesmo. Cada palavra dela parecia tirar um pouco mais de sua fachada.
— Talvez você também esteja se confundindo… — ele disse, mais para si mesmo do que para ela, mas null o ouviu.
Ela olhou para ele com um olhar mais atento, como se tentasse ler mais além daquelas palavras.
— Talvez. Mas acho que, no fundo, somos todos assim. Em algum ponto, todos estamos tentando nos entender. E alguns de nós, bem… tentam entender o outro, mesmo quando não fazem a menor ideia do que estão fazendo.
Eles continuaram a caminhar juntos, em silêncio por um momento, enquanto o parque parecia se dissolver ao redor deles. O som do vento nas árvores e o aroma das flores se misturavam com a sensação crescente de tensão que pairava no ar entre os dois. null olhava para null, ainda tentando encontrar uma resposta para ela, mas, no fundo, ele sabia que aquilo tudo era um jogo — um jogo no qual ele não tinha controle, mas ao qual estava se entregando mais do que gostaria de admitir.
***
A caminhada deles pelo parque seguiu tranquila, com null se divertindo ao perceber que null parecia saber mais sobre flores do que ela imaginava. Ele falava com entusiasmo sobre as diferentes espécies, explicando detalhes como o significado de cada flor, a história por trás de algumas delas e até como algumas plantas específicas eram utilizadas na medicina tradicional. null o observava, surpreendida com o conhecimento dele, mas também encantada com a forma como ele se dedicava às pequenas coisas, como se cada flor fosse importante para ele de alguma maneira.
— Você realmente entende disso, hein? — ela disse, admirada. — Eu pensei que você fosse só o tipo de cara que se importa mais com… sei lá, livros e academia. Mas você também é tipo… o mestre das flores.
Ele sorriu, ligeiramente sem jeito, mas se sentindo feliz por compartilhar algo que gostava.
— Eu tenho um pequeno jardim em casa. Eu gosto de cuidar de plantas. Acho que elas são como nós, sabe? Elas precisam de atenção e paciência para crescer.
null sorriu, tocada pela forma como ele falava das flores, e eles continuaram a caminhar pelo parque, com as risadas e conversas fluindo de maneira leve e agradável.
Logo, os dois decidiram seguir para o almoço. O restaurante que escolheram era pequeno, aconchegante, com uma decoração simples, mas acolhedora. Eles se sentaram e pediram pratos que ambos adoravam: null, algo picante, e null, uma opção mais suave, mas igualmente deliciosa.
Enquanto se levantavam para ir até a rua, prontos para irem embora, null, como sempre, se mostrava impulsiva e cheia de energia. Ao se aproximarem da faixa de pedestres, ela olhou rapidamente para o outro lado da rua e, sem pensar duas vezes, começou a atravessar, ignorando o sinal de trânsito.
— null! — null a chamou, mas ela já estava quase no meio da rua, decidida a atravessar, como se tivesse pressa de chegar do outro lado. Ele viu um carro se aproximando a toda velocidade e, num reflexo, correu até ela, pegando-a pelo pulso para impedir que ela fosse mais adiante.
O carro passou a centímetros deles, fazendo com que o coração de null disparasse. O choque do corpo dele contra o dela foi inevitável. Seus corpos se colidiram com força, mas o abraço instintivo que ele lhe deu não parecia desconfortável. Pelo contrário, quando ela olhou para ele, os dois estavam tão perto que podiam ouvir os corações um do outro, batendo rápido, como se estivessem em sintonia.
Por um instante, tudo ao redor parecia desaparecer. Eles ficaram assim, imóveis, enquanto o som do trânsito e o barulho do carro distante pareciam desaparecer. null não resistiu. Seus olhos encontraram os de null e, sem palavras, ela se aproximou lentamente. Ele não recuou, não tinha mais como fugir. Quando seus rostos finalmente se encontraram, o beijo foi inevitável. Era mais intenso, mais profundo do que o anterior, carregado de uma energia que ambos estavam apenas começando a entender.
Era um beijo impulsivo, mas ao mesmo tempo, repleto de uma química que não podiam ignorar. Quando se separaram, seus rostos estavam ainda muito próximos, e ambos podiam sentir a respiração ofegante um do outro.
null foi a primeira a quebrar o silêncio, com um sorriso irreverente no rosto.
— Eu sei que você não gosta muito dessas coisas impulsivas… mas espero que tenha gostado disso também.
null, um pouco atordoado, não sabia exatamente o que responder, mas seu sorriso nervoso entregava o quanto ele estava encantado pela situação.
— Eu… acho que sim. — Ele disse, ainda tentando entender o que tinha acontecido, mas sentindo uma sensação de calor percorrendo seu corpo, uma sensação que ele não conseguia mais negar.
Estava prestes a se apaixonar por ela, e ele não sabia se aquilo deveria ou não acontecer. O coração de null ainda batia rápido no peito, e acelerou mais ainda quando null fechou os olhos novamente e passou a ponta de seu nariz no dele, numa espécie de carícia silenciosa.
null ainda estava absorvendo a intensidade do momento, a sensação da proximidade de null, o toque suave do nariz dela contra o seu. O ar ao redor parecia mais denso agora, mais carregado de algo que ele não conseguia nomear completamente, mas que o deixava nervoso e, ao mesmo tempo, excitado. Ele não sabia o que estava acontecendo entre eles, mas também não sabia se queria que isso parasse.
Ela sorriu de maneira sutil, como se estivesse ciente do efeito que causava nele, mas sem dizer uma palavra. Apenas olhou para ele, a intensidade de seus olhos mantendo-o completamente cativado. O momento parecia suspenso, a rua vazia de carros, como se o mundo tivesse ficado em espera, aguardando o que aconteceria a seguir.
Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz suave, mas cheia de uma confiança inegável.
— Você se importaria de estender a nossa tarde… e, quem sabe, a noite? — perguntou null, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado, os olhos fixos em null com uma intensidade que o fez engolir em seco. — Podemos fazer algo mais juntos. Eu gosto da sua companhia, null. Eu quero mais desse tempo com você. O que acha?
A proposta de null fez o coração de null bater mais forte. Ele sentiu o desejo crescente de não deixar o momento escapar, mas ao mesmo tempo, um receio silencioso, uma dúvida que o fez hesitar por um instante. Ele estava começando a perceber o quanto ela mexia com ele de maneira diferente, e talvez fosse exatamente isso que o deixava inquieto.
— Eu… — null começou, sentindo a ansiedade tomar conta dele. Mas, ao olhar para ela, viu a expressão relaxada, o sorriso doce no rosto, e soube que não queria deixar aquele momento terminar. — Eu também gosto da sua companhia, null. Vamos continuar. Vamos fazer a tarde… e a noite valerem a pena.
Ela sorriu, satisfeita, e o puxou suavemente pelo braço para continuar o caminho, como se tivesse total domínio da situação, mas sem pressa, apenas aproveitando a companhia dele. O ar ao redor parecia mais leve agora, mas a tensão entre eles ainda estava ali, mais palpável do que nunca.
Enquanto atravessavam a rua juntos, com as mãos levemente tocando, null sentia seu coração disparar mais uma vez, mas dessa vez ele não queria lutar contra isso. Ele estava começando a aceitar que a presença de null na sua vida estava criando uma espécie de caos agradável, e talvez fosse exatamente isso o que ele precisava.
— O que você está pensando em fazer agora? — null perguntou com certa curiosidade.
— Você me mostrou um lugar que certamente é especial para você, então quero fazer o mesmo. Mas é surpresa. Confia em mim?
null olhou para ela, curioso, mas também intrigado com a proposta. A ideia de null querer retribuir a experiência de mostrar algo especial a ele fez seu peito apertar de uma maneira inesperada. Ele a observava com atenção, tentando ler seus olhos, que brilhavam com uma mistura de mistério e confiança.
— Claro que confio em você, null — respondeu, sorrindo levemente, um toque de leveza em sua voz. — Eu só espero que não seja algo muito maluco, porque você já sabe o quanto sou tranquilo e… caseiro.
Ela riu suavemente, sem se dar ao trabalho de responder imediatamente. Seus olhos continuaram brilhando com a mesma energia impetuosa, como se estivesse prestes a conduzi-lo para algo que ele jamais imaginaria. null sentiu um calafrio de excitação correr pela espinha, ansioso para ver onde aquilo os levaria.
— Eu vou te surpreender, null — ela disse, com um sorriso enigmático, e sem mais palavras, tomou a frente, guiando-o para onde quer que o destino deles os levasse.
Ele a seguiu sem hesitar, seus pensamentos vagando para o que poderia acontecer a seguir. Por mais que tivesse gostado de todo o tempo que passaram juntos até agora, algo dentro dele sentia que essa surpresa tinha o potencial de ser mais intensa do que qualquer coisa que ele já tivesse experimentado com ela até então.
À medida que caminhavam pelas ruas tranquilas da cidade, o cenário parecia mudar à medida que se aproximavam de um novo local. null, por um momento, se pegou imaginando o que seria, mas logo se deu conta de que estava se entregando ao momento, permitindo-se confiar nela e se deixar levar pela aventura que ela oferecia. O nervosismo que antes sentira desaparecia lentamente, dando lugar à sensação de empolgação.
Quando finalmente chegaram ao destino, null se virou para ele, com um olhar de satisfação.
— Estamos aqui. — Ela sorriu, satisfeita com a expressão curiosa de null. Ela o conduziu até a porta de um pequeno lugar aparentemente discreto, mas com uma atmosfera acolhedora, quase como um segredo bem guardado.
— E então? — ela disse, ao abrir a porta e convidá-lo a entrar. — O que você acha que é?
null, agora completamente intrigado, não pôde evitar de sorrir com a expectativa. Sabia que esse momento, assim como os outros, seria um ponto de virada em algo que ainda não conseguia definir. Mas, o que quer que fosse, ele estava pronto para mergulhar nesse mundo dela.
Ai, gente, o Bogum tem uma carinha de ser uma fofura, vontade de apertaaaaaar


Como será que ele vai lidar com essa ideia de relacionamento?
Quero att de todas as fics já, como faz? OPANSDOPSANDOPAS
Adoro como, mesmo sendo um fofo “certinho”, ele ainda consegue ter seu charme de “nem tão certinho assim” e se torna apaixonante <3
mas fala se ele não tem cara de certinho? haha af, ele é só um neném, juro
Que bonitinho os dois se conhecendo melhor <3
E esse beijo? Achei muito 22ko!
Tem que ter uns momentos fofinhos antes de dar tudo errado né? HAUHAUSHAUS