Prólogo
– A paciente está no quarto quinhentos e sete – Remy dizia tentando acompanhar os passos de seu chefe juntamente com Kutner e Taub. O corredor estava cheio devido à nevasca que havia tido em Nova Jersey naquela semana. Pacientes foram enviados para o centro clínico da Universidade de Princeton como água corrente. Por mais que médicos tentassem a transferência para centros menos movimentados, a maioria dos pacientes preferiam não ter o problema de serem retirados de suas quentes camas para irem até um outro hospital, por mais particular que aquele fosse. House e sua equipe estavam, a mandato de Cuddy, ajudando no setor do pronto-socorro. Pode-se dizer que a equipe de House estava – tentando – ajudar. Não havia uma alma viva que trabalhasse naquele hospital, que não soubesse de Gregory House, o quão brilhante ele era, principalmente para fugir de seus afazeres.
– O que te faz pensar que eu irei lá atendê-la? – House caminhava mancando com a ajuda de sua bengala escura e a imagem do fogo crepitando ao fim dela. A equipe para assim que ele o faz. Um olhar e todos já sabiam o que fazer:
– House. Já cobrimos o seu turno de hoje de manhã – Taub diz em seu tom sempre monótono.
– Manhã e noite não são a mesma coisa. São? – o chefe retruca dando um pequeno sorriso e o desfazendo com a mesma rapidez que o colocou no rosto – Por ter reclamado, você fica com o sexto andar.
O trio o encarava boquiaberto.
– Sabem, é mesmo uma grande surpresa ver que, depois de tanto tempo trabalhando comigo, vocês ainda consigam ter essas expressões em seus rostos feios. Não você, claro – e olha para Remy, que revira os olhos – Alguém tem alguma objeção?
– Eu fico com o segundo andar – Kutner levanta a mão e se vira, fazendo os dois companheiros o encararem, desacreditando no comportamento do colega de trabalho e voltando a encarar House, que tinha sua famosa expressão de ‘sem culpa’.
– Estão vendo?
Ele ganhará um bonus no natal – e dá as costas para os dois, encontrando com Cuddy de braços cruzados.
–
Você está prestes de perder o seu natal, House – ela coloca bruscamente uma pasta na mão de Gregory, que levanta uma sobrancelha – Hipotermia subaguda, cinco dias no centro médico com prioridade de atendimento. Sem nem 0,1% de melhora e 37% de piora.
– Vamos ver… Um paciente que está sofrendo de frio no inverno… O quão esquisito isso soa para vocês? – o homem olha para Thirteen e Taub, que se entreolham antes de dar as costas ao chefe e seguirem em direção ao elevador. House volta a encarar Cuddy – Está vendo? Isso é tão patético que nem os mais inferiores têm vontade em desvendar o mistério. – e joga a pasta de volta para a mulher, passando por ela enquanto voltava a fazer o caminho para sua sala.
– Achei que você quisesse cuidar de .
Foi o suficiente para fazê-lo parar de andar.
Capítulo 1
– Ele nunca pegaria um caso desses – Foreman estava inquieto na sala ao lado do escritório de House, enquanto o mesmo não havia chego e mandado todos lerem o caso que havia pego – Deve haver algo por detrás do caso.
– E o que tem se tiver? – Kutner diz comendo uma maçã encostado na bancada da pia da sala – Ele anda meio preguiçoso ultimamente, deve ter pego só para que Cuddy parasse de atormentá-lo.
– Você ainda não conhece o seu chefe? – Foreman o olha incrédulo – Se tem uma coisa que House não faz, é pegar casos por pegar. Há sempre um motivo. Sempre.
– E outra, ele
sempre foi preguiçoso, Kutner – Taub diz jogado na cadeira, brincando com uma bola de papel com uma mão.
– Espero que não estejam falando do Wilson, ele se sentiria muito mal em saber que minha equipe o reconhece como ele é. – House entra na sala apoiado em sua bengala. – Mulher, quarenta e poucos anos com arrepios que se tornaram––
– Por que pegou esse caso? – Foreman corta House que se mantinha de costas para os cinco anotando coisas em sua lousa. O chefe olha para sua equipe e levanta uma sobrancelha.
– Você, por acaso, sabe o que é educação? Eu estou––
– House! Você nunca pega casos assim. Isso sequer tem qualquer tipo de mistério! – e joga o arquivo na mesa.
– Feriu meus sentimentos – Gregory retruca com um falso tom de mágoa, acompanhado de uma expressão dolorosa, fazendo os três restantes olharem para Foreman esperando sua reação: – Não se pode mais ser generoso no natal?
– Qualquer pessoa normal? Sim. Gregory House? Não.
– Papai Noel não te dará presente, está sendo um mau menino – House diz e suspira – Se não quer ajudar na boa ação do dia, está livre para voltar para o pronto-socorro. – e faz uma reverência para a porta, fazendo o outro se calar ainda não aceitando a resposta do chefe. – Voltando ao assunto antes de eu ser bruscamente interrompido por um charlatão anti-sentimentalista… O que faz uma pessoa não parar de tremer––
– House, não há mistério nesse caso. É uma hipotermia subaguda, coloquemos––
– A paciente chegou a ter uma arritmia cardíaca por causa do desespero familiar, não podemos colocá-la sobre o efeito de de algum remédio forte porque, aparentemente, o coração dela já estava prestes a entrar em um ataque. – Kutner diz cortando Taub, que levanta as sobrancelhas. – Acho que o caso não é tão simples quanto pensam.
– Dois pontos para o árabe! – House aponta para Kutner, que revira os olhos junto com os outros três. – Façam a isolação térmica, infusão endovenosa com soros aquecidos e inalação de oxigênio aquecido e umidificado.
Os quatro se levantam prontamente saindo da sala, e foi a retirada deles que fez o homem sem coração fechar a cara, pensando na real razão de ter pego o caso de . Volta para seu escritório, sentando em sua cadeira e pegando sua bola vermelha e cinza que usava para se distrair quando precisava pensar.
– está internada com hipotermia e
você está cuidando do caso? – Wilson adentra à sala sem bater e recebe um olhar de Gregory – Uau! Isso é uma grande mudança, posso culpar a época natalina?
– Claro. Porque Cuddy sempre o obriga a fazer tudo. – Wilson concorda veermente e ironicamente, colocando as mãos no bolso de seu jaleco. – Vamos lá, House, admita. Você quis cuidar do caso de porque quer saber como ela está depois do que fez para ela.
– O que–– Ah, mas isso é mesmo uma calúnia! – Gregory volta com o falso tom que havia usado antes com Foreman.
Wilson lhe manda a cara que sempre fazia quando ambos sabiam que ele estava certo e House tentava fugir do óbvio.
– Se fosse qualquer outro paciente, eu diria que você tentava fugir da responsabilidade do pronto-socorro, mas é , portanto, há um interesse pessoal no meio – Wilson para e Greg desvia o olhar dele – Ahá! Eu sabia! Qual a razão? Flashback? Segunda chance?
– É óbvio que não, seu idiota! – House o encara – Esqueceu quem sou? Não sou um cara chamado James que doa dinheiro para pacientes porque sente dó deles.
Wilson revira os olhos e muda o peso de perna. Até uma luz surgir em sua cabeça e ele abrir um sorriso:
– Está tentando quitar a dívida que tinha com ela, não é? Pelo que fez no passado!
– Claro, porque salvar a vida dela é mesmo uma boa quitação por tê-la abandonado.
– Ahá! – Wilson repete, apontando para House animado, que bufa. – Você
está mesmo quitando!
Não adiantava discutir com Wilson sobre . Se havia alguém no mundo que não o deixava ser como ele é, era aquela mulher. Desde quando eram jovens, não conseguia ser ele mesmo perto dela ou da menção dela. Por isso a abandonara. Por isso a deixara. Porque com ela ao lado, ele deixava com que as pessoas entrassem na vida dele, assim como ela.
Afinal, Gregory House gostava de ser um homem complicado.
Something always brings me back to you. It never takes too long.
No matter what I say or do I’ll still feel you here ’til the moment I’m gone.
Capítulo 2
Assim que abriu os olhos, pode ver três médicos ao redor de si mexendo em soros, seu braço e a máquina que calculava seus batimentos cardíacos.
– Olá, , somos os doutores Hadley, Taub e Kutner, vamos cuidar para que você fique melhor logo – Remy dizia sorrindo para a paciente, que abre um pequeno sorriso.
– Deve ser horrível cuidar de um caso como o meu em plena véspera de natal – sua voz saía fraca e rouca, fazendo os três sorrirem.
– Somos médicos, isso não é nada. – Taub diz pendurando o soro em um objeto ao lado da cama da paciente. – Estamos aquecendo o seu corpo, por isso o soro e a coberta. Colocaremos essa máscara para que o processo seja mais rápido com os pulmões. – ele aponta para a máscara de ar que Taub estava colocando em , que se limita em concordar com a cabeça.
O trio ficara por cerca de meia hora acompanhando o desempenho do corpo de com o tratamento. Saíram quando o
page bipou, sendo chamados por Cuddy para seguirem até o pronto-socorro cuidar de alguns pacientes extras.
não ficara solitária por muito tempo. A porta do quarto particular abriu e voltou a se fechar. Abriu os olhos lentamente ao sentir que ninguém falara nada.
– Não finja que não se importa em me ver aqui, porque eu posso ver o ritmo de seus batimentos cardíacos – Gregory diz em tom ironico, vendo os olhos da mulher lhe encararem sonolentos. Desvia o olhar e puxa uma cadeira para se sentar perto dela – Por que veio a Princeton?
– Não escolhemos o hospital que queremos ir quando estamos quase morrend. – ela diz com os olhos ainda fechados – Você é meu médico?
– Da maneira que você me deixou, apenas com mais experiência.
Ele sabia. Estava sendo exatamente da maneira que ele achava que seria. Seu sorriso forçado se desfez e a expressão séria lhe tomou conta do rosto. conseguia desarmá-lo até de olhos fechados. Se mantém encostado na cadeira enquanto ouvia as batidas do coração da mulher diminuírem o ritmo, mostrando que havia adormecido. Finalmente toma a coragem que juntou desde quando soube de sua volta e observou seu rosto. Os mesmos lábios de anos atrás, apenas um pouco mais enrugados. O rosto já não era mais liso, era possível ver o sinal da idade. Mesmo assim, House conseguia se lembrar da razão de tê-la abandonado há mais de vinte anos como se fosse ontem.
You hold me without touch. You keep me without chains.
I never wanted anything so much than to drown in your love and not feel your rain.
Set me free, leave me be. I don’t want to fall another moment into your gravity.
Here I am and I stand so tall, just the way I’m supposed to be.
But you’re on to me and all over me.
Capítulo 3
Flashback
– Como consegue? – ela dizia chorosa para Gregory, que limpava a boca com o guardanapo.
O toque de recolher dos alunos já havia passado fazia mais de duas horas, mas House continuava na cafeteria com . Os dois companheiros de sala haviam saído à pouco de uma aula prática no centro hospitalar de Harvard, mas não podiam voltar para seus quartos antes de comerem algo. Quer dizer, Gregory não poderia. Nenhuma pessoa normal comeria depois de uma aula prática como a que tiveram.
– Pessoas morrem, – House diz em um tom entediado. Era sempre assim quando saíam de uma aula prática em que o paciente falecia. Algumas garotas saíam chorando, outros parceiros deixavam a sala inconformados.
– Eu sei, mas você não sente nem um pouco de angústia por não tê-lo salvo?
Era possível apenas ouvir o som de soando o nariz. Ele levanta o olhar para ver os olhos brilhantes devido ao excesso de lágrimas acumuladas. Revira os olhos e estende um dos guardanapos a ela:
– É isso o que você irá encontrar em seu futuro, . Acidentes, salvamentos, mas acima de tudo, pessoas perdendo a vida. E é assim que acontece. Algumas sobrevivem, outras não. Faz parte da vida.
Não fora ouvido nada da parte da garota. Ele mastigava o lanche enquanto a assistia pensar consigo mesma, as mãos apertando o guardanapo. Parecia que milhares de coisas passavam pela cabeça da garota, até que enfim ela disse algo:
– Também faz parte da vida ter esperança.
Fim do Flashback
Momentos como aquele, os dois tiveram diversos. Tempos em que ele agia com a razão e ela com o coração. Pareciam até pólos opostos disputando espaço. House obviamente sempre vencia. Porém, por dentro, era óbvio quem era o vencedor de verdade ali.
You loved me ’cause I’m fragile. When I thought that I was strong.
But you touch me for a little while and all my fragile strength is gone.
Capítulo 4
Como o esperado de um caso de House e o esperado de um caso sem mistérios, foi questão de duas semanas para receber a alta que aguardava.
House, como com qualquer outro caso, não acompanhou o processo de perto. Mas, por uma força maior, enquanto não haviam médicos por perto do quarto de sua atual paciente, ele se aproximava para observá-la de longe. De alguma maneira, não conseguia se desapegar de seu passado.
– Toc toc – ele ouve uma voz diferente na porta de sua sala. Levanta o rosto rapidamente ao reconhecer de quem era e a vê parada com um sorriso nos lábios.
Respira fundo e encosta na cadeira, mostrando que estava disposto a ouvir o que ela tinha a dizer:
– Obrigada por ter cuidado de mim.
– Faz parte do trabalho tentar manter as pessoas vivas.
olha para o chão e solta uma pequena risada. House abre um pequeno sorriso.
– Se cuida – ele diz e ela o encara com o sorriso sereno que o fez se lembrar de vê-la usando com seus pacientes, quando estes perdiam a noção de estupidez devido ao nervosismo – Tente não voltar para cá tão cedo.
– Vou fazer o possível – ela balança a cabeça – Mas você sabe que quando algo tem de ser de uma maneira, as coisas simplesmente nos levam até lá.
– E um de nós tem de quase morrer para isso – seu tom irônico mostrava que Gregory havia voltado a ser o que era. solta uma risada nasalada.
– Irônico como isso faz parte da
vida, não é? – e se vira, retirando-se da sala.
House abre um sorriso calmo no rosto, vendo o perfil da mulher se afastar de si. Desta vez fora ela quem o deixara.
Virou a cadeira em direção à janela e encarou o céu nublado que mostrava o típico clima natalino de inverno. Pegou a carteira e a abriu, retirando do espaço de cartões de crédito, uma velha foto dele e de de anos atrás. Voltou a encarar o céu com o mesmo sorriso sereno que mantinha em seus lábios enquanto conversava com ele.
You’re on to me and all over me…
Something always brings me back to you. It never takes too long.
Fim