Faster Than The Past
estava ofegante, o peito subia e descia muito rápido conforme ela tentava controlar tanto os batimentos cardíacos, o cansaço, a adrenalina quanto a surpresa e o choque que a invadiam. Seus olhos se arregalaram quando ouviu as vozes ao seu redor começando a se misturar em uma verdadeira tempestade de palavras.
“Ela quebrou o recorde de !”
“Não pode ser… a ? A novata?”
“Impressionante! Ela superou o favorito da universidade, o corredor mais rápido!”
“O quê? não vai gostar disso… Ele estava tão confiante!”
O murmúrio crescia, e ela quase podia sentir os olhares curiosos e surpresos sobre ela. O calor da competição ainda pulsava em suas veias, mas a realidade do que acabara de fazer estava começando a se fazer presente. Ela, a novata, havia batido o recorde do ícone da universidade, , o nome que todos conheciam e admiravam.
Nesse momento, alguns colegas de treinamento se aproximaram, sorrindo de orelha a orelha, parabenizando-a efusivamente.
— , você fez história! Ninguém acreditava, mas você fez isso! — disse um deles, batendo nas costas dela com entusiasmo.
Outro, mais empolgado, a abraçou.
— Você não tem noção, acabou de mostrar a todos o que é ser uma verdadeira competidora!
Ela sorriu de volta, mas o sorriso não conseguia esconder a confusão que ainda tomava conta de sua mente. Ela havia quebrado o recorde do . O corredor mais rápido da universidade. O favorito para a equipe olímpica. A ideia parecia surreal.
Então, o quase treinador dela, o responsável pelo time iniciante, se aproximou, com os olhos brilhando de pura alegria. Ele segurou os ombros dela com força, seu sorriso largo e orgulhoso.
— Eu sabia que tinha algo em você, . Isso é apenas o começo. Você está pronta para voar ainda mais alto.
O orgulho dele era palpável, e, embora sentisse uma onda de felicidade pelo apoio, algo dentro dela estava incomodada. Ela sabia que havia acabado de desafiar o campeão. , o líder, ainda não soubera disso, mas em breve ele saberia, e ela não tinha ideia de como ele reagiria.
Ainda atordoada com a onda de felicitações, se afastou da multidão e caminhou até o vestiário, tentando processar o que acabara de acontecer. Seus passos estavam lentos, quase mecânicos, como se seu corpo estivesse tentando alcançar sua mente. Ela ainda estava incrédula, a ideia de ter quebrado o recorde de martelando em sua cabeça.
Assim que entrou no vestiário vazio, ela se apoiou contra uma das bancadas, fechando os olhos por um instante. O som da sua respiração pesada preenchia o ambiente, mas sua mente ainda estava em silêncio. Como isso aconteceu? Ela realmente havia superado o ? O favorito. O cara que todos admiravam e que ela mal conhecia até então, nunca havia o visto, mal sabia que cor ele tinha.
Ela soltou uma risada nervosa, sem humor algum, antes de começar a se despir. A sensação de choque ainda a mantinha tensa, mas ela precisava relaxar. Precisava tomar um banho. A água quente seria como um escape temporário para as emoções que a invadiam.
Enquanto a água caía sobre sua pele, ela fechou os olhos novamente, permitindo que os pensamentos a invadissem sem resistência. A pressão de ser a novata que ninguém levava a sério em nada, que acabou de quebrar um recorde era imensa, mas havia algo mais que a fazia sentir um peso no peito. Ela sabia que isso mudaria tudo. E … o que ele pensaria disso? Como ele reagiria quando soubesse?
O som da água batendo contra o piso e a sensação da espuma de sabonete em sua pele eram o único alívio momentâneo, mas ela sabia que, ao sair dali, o mundo fora do vestiário continuaria, cheio de expectativas e desafios. E uma coisa era certa: nada seria como antes.
💨💨💨
O dia seguinte chegou com um caloroso sol da manhã que parecia querer iluminar todas as incertezas de . Ela estava ainda um pouco atordoada com o que aconteceu na véspera, a quebra do recorde de . Ela não havia tido tempo para digerir tudo aquilo antes, e agora estava prestes a viver uma nova realidade.
Após algumas aulas de manhã, se arrumou para o treino junto com os amadores e quando chegou por lá, seu pseudo treinador apareceu com uma expressão animada, mas ao mesmo tempo séria. Ele se aproximou de , com um sorriso no rosto, que parecia ser uma mistura de orgulho e surpresa.
— , você acaba de ser promovida para o time oficial de atletas da universidade. Isso significa que agora você será parte da nossa equipe de elite.
Ela piscou, não acreditando no que ouvia.
— Eu… o quê?
— Exatamente. E mais tarde, nós vamos até o outro ginásio para a apresentação formal. O treinador principal quer conhecer todos os novos atletas, e você não vai perder isso, certo?
não teve tempo de processar totalmente o que isso significava, mas apenas assentiu, sentindo que as palavras ainda não estavam fazendo sentido completo na sua mente.
💨💨💨
Mais tarde naquele dia, foi conduzida até o ginásio principal da universidade. O lugar estava impressionante, e ela mal podia acreditar que estava ali, prestes a ser oficialmente apresentada à nova equipe. Enquanto caminhava pelos corredores até a sala de recepção, uma mistura de nervosismo e excitação tomou conta dela.
Ela foi então apresentada ao treinador principal, um homem imponente que olhou para ela com um sorriso de aprovação.
— Você tem um bom potencial, . Fico feliz de ver você com a equipe. Vamos trabalhar duro juntos.
apenas assentiu, sentindo-se um pouco fora de lugar, mas ao mesmo tempo ansiosa para mostrar o que podia fazer.
Em seguida, o treinador começou a apresentar a equipe de atletas da corrida, alguns conhecidos e outros que ela nunca tinha visto antes. Cada um deles a saudava de forma cordial, mas tudo parecia girar em torno do que ela sentia como uma imensa pressão. Ela tentava se concentrar, mas a mente não parava de ir e voltar para a sensação de ter superado .
Após a corrida, passaram para o basquete e outros esportes, mas o nervosismo de só aumentava. E então, a porta do ginásio se abriu, e entrou. Sua expressão era fechada, claramente irritado, e ela sentiu o ambiente ao redor deles esfriar no momento em que ele apareceu. Ele olhou rapidamente para os outros atletas antes de se dirigir diretamente ao treinador, sem dar uma única olhada em .
— O que é isso? — disse ele, sua voz baixa e tensa — Quem foi que quebrou meu recorde? Uma “who”, que mal entrou na universidade? Mais nova do que eu, mais despreparada do que eu, ninguém dava por ela, não é? Como uma garota assim quebra o recorde de um atleta como eu? Você realmente vai trazê-la para treinar conosco? Sem nem saber se isso foi sorte ou acaso?
O treinador olhou para , tentando manter a calma, mas claramente sabendo o que estava prestes a acontecer.
— , eu entendo que você esteja chateado, mas precisamos ter calma. A pessoa que quebrou seu recorde… é sim sua colega de treino agora.
parou, ainda sem olhar para . Ele balançou a cabeça, parecendo não acreditar. Mas quando o treinador apontou discretamente para , finalmente a olhou. O que aconteceu em seguida foi algo que nem ele, nem ela, estavam preparados.
A mente dele foi invadida por um flashback intenso e vívido:
“Era uma noite escura, em uma casa qualquer. A festa de boas-vindas aos novatos estava acontecendo, e mal podia acreditar que estava ali, naquele ambiente, sem saber exatamente como tinha chegado. Mas ali estava ela, em um canto discreto, se afastando da confusão da festa. Ele se aproximou, e logo estavam trocando palavras baixas antes de se beijarem. O beijo quente e urgente, as mãos dele deslizando por ela, invadindo sua blusa sem aviso, sentindo a pele dela sob seus dedos. O momento parou apenas para ele olhar nos olhos dela, por um segundo que parecia eterno, antes de continuar, retirando a blusa dela lentamente, como se fosse um gesto de reconhecimento mútuo de algo que havia crescido entre eles. Mas nada foi dito, e o nome dela era uma incógnita.”
O flashback o deixou sem palavras. Ele engoliu em seco, como se tivesse sido atingido por um tsunami de emoções que não sabia como controlar. Ele olhou para ela mais uma vez, agora ciente de que a garota diante dele, a que ele havia perdido de vista naquela noite, era a mesma pessoa que dominava seus pensamentos desde então.
Ele se sentiu paralisado por um momento. A raiva e a frustração ainda estavam lá, mas agora havia uma outra sensação, mais profunda e confusa. estava ali, a “who” havia quebrado seu recorde era também que ele nunca conseguira esquecer depois daquele envolvimento fugaz.
💨💨💨
sentiu seu corpo se congelar quando seus olhos se encontraram com os de . Era como se o tempo tivesse parado, e tudo o que ela conseguia perceber era a intensidade do olhar dele, agora carregado de um misto de surpresa e algo mais profundo que ela não sabia como nomear. O ambiente ao seu redor desapareceu por um momento, e a única coisa que restou foi a sensação de déjà-vu.
A memória daquela noite voltou com força total. Ela não conseguia se lembrar de tudo, mas as imagens eram intensas, nítidas…
“O cheiro do ambiente abafado, as luzes baixas, a música distante, a sensação do toque dele… E, de repente, ela estava ali, em um quarto escuro, com o garoto que havia conversado rapidamente no canto da sala, sem saber exatamente como chegaram até aquele ponto. Só sabia que a tensão entre eles era inegável, como se o espaço entre seus corpos tivesse se tornado insuportável.
O beijo começou devagar, mas logo se intensificou. Os lábios dele eram quentes e urgentes contra os dela, e a sensação era de algo que tinha estado esperando para acontecer. As mãos dele estavam em sua cintura, deslizando para sua blusa, levantando-a, e ela sentiu o ar frio contra sua pele exposta. Ela mordeu o lábio, tentando manter a compostura, mas a sensação de excitação e desejo crescia dentro dela, como se ela não pudesse se controlar.
Ele parou um instante, olhando para ela, seus olhos profundos, quase procurando por algo, talvez uma permissão silenciosa. Ela não respondeu com palavras, mas com um leve movimento, permitindo que ele continuasse. Ele desabotoou seu sutiã com uma precisão calma, a tensão entre os dois ainda palpável no ar, como se o tempo tivesse desacelerado para que aquele momento fosse completamente absorvido.
Ela fechou os olhos, sentindo a pressão e a proximidade dele, o calor crescendo entre eles. Mas antes que pudesse processar completamente, a sensação foi interrompida, como se a realidade tivesse se infiltrado no meio de algo que deveria ser apenas um prazer momentâneo.”
O flashback se desfez tão rapidamente quanto apareceu, deixando com um sentimento de confusão e uma leve onda de calor subindo por seu corpo. Ela respirou fundo, tentando se recompor. Não sabia o que era mais perturbador: o fato de que ela havia acabado de se lembrar daquela noite ou o que aquilo significava agora.
Ela olhou para novamente. Ele estava ali, parado, e o que quer que tivesse passado pela mente dele, agora ela sabia que algo estava diferente entre eles. A distância entre eles parecia mais forte do que nunca, e, ao mesmo tempo, mais impossível de ignorar. Ela havia quebrado o recorde dele, mas agora tudo o que ela queria era desaparecer naquele momento, onde eles eram apenas duas pessoas, com uma história compartilhada que ainda precisava ser resolvida.
💨💨💨
— Você? — perguntou enquanto se aproximava mais de , uma de suas mãos se estendeu de forma automática, para tocá-la, mas acabou se perdendo no ar, como se algo invisível o impedisse de alcançar aquele contato.
Ele não estava falando sobre o recorde. Não era isso que o fazia reagir daquela forma. A verdade era que, ao vê-la ali, diante dele, uma sensação estranha e desconcertante tomou conta dele. não era apenas a pessoa que havia quebrado seu recorde, mas algo muito mais complexo, algo que ele não conseguia compreender completamente. Ela parecia uma miragem diante dele, uma visão quase impossível, e ele precisava ter certeza de que ela era real, de que ela não era apenas fruto de sua mente.
parou por um momento, sua mão ainda estendida no ar, e a razão de sua hesitação era simples. Ele queria tocá-la, queria sentir sua pele, como se aquilo fosse a única maneira de confirmar que tudo o que ele estava vivendo, todo o turbilhão de emoções e sensações, era verdade. Mas algo o impedia de avançar. A distância entre eles parecia ter aumentado desde aquele flashback, e ele sabia que não poderia cruzá-la tão facilmente.
O que ele sentia não se resumia à raiva por ter perdido o recorde, e não era apenas a competição que os ligava. Havia algo mais ali, algo mais íntimo e profundo, algo que ele não sabia se estava pronto para enfrentar. E, por mais que fosse difícil, ele sabia que talvez fosse melhor manter essa distância agora. Ele não sabia o que significava vê-la ali, e o que aconteceria se cruzassem aquela linha.
Ele recuou a mão, com um suspiro baixo, mas seus olhos ainda estavam fixos nela, tentando processar tudo o que estava acontecendo. A ansiedade que crescia dentro dele parecia querer explodir, mas ele se conteve. A última coisa que ele queria era se perder novamente.
sentiu um arrepio com a súbita aproximação de . Um flashback, rápido e intenso, a invadiu de forma súbita.
Ela se viu novamente, naquela mesma noite abafada, com as mãos dele ao redor de sua cintura enquanto seus dedos deslizavam por baixo da camiseta dele. Ela se lembrava do calor do toque, da forma como ele a elogiou suavemente, dizendo em seu ouvido, com a voz baixa e rouca: “— Seu corpo… é perfeito.”
O calor subiu por seu pescoço, mas ela se forçou a afastar esses pensamentos imediatamente. Não podia continuar permitindo que essas lembranças tomassem conta de sua mente. Ela não queria mais reviver aquela noite, não queria mais se perder na confusão que aquilo causava.
Ela fechou os olhos por um momento, respirando fundo. Jurou para si mesma que iria seguir em frente. Que fingiria que aquela noite nunca tinha acontecido. Era o único jeito de continuar sem perder o controle sobre si mesma. A última coisa que ela precisava era permitir que algo tão irracional e desordenado fosse o centro de seus pensamentos, especialmente agora, com tão perto. Ela não poderia se permitir sentir mais nada por ele.
Com um suspiro profundo, se concentrou novamente no presente, na realidade que se desenrolava à sua frente, onde o desafio era maior que qualquer lembrança do passado.
— ! — ela estendeu a mão, decidida a fingir que não se lembrava de nada — A “who” que quebrou o seu recorde, , não é?
Ele sentiu um leve aperto no peito, mas tentou ignorar. Ela estava ali, com a mão estendida, tão calma, tão impassível. ficou parado por um momento, observando-a, sem saber exatamente o que fazer com a inquietação crescente dentro de si.
“ ”… então era esse o nome dela? O nome da garota que além de quebrar seu recorde parecia disposta a quebrar seu coração, afinal de contas, ela não parecia nenhum pouco afetada com a presença dele, sem nenhuma surpresa no olhar, sem respiração ofegante pelo susto de reencontrá-lo… será que se lembrava dele?
Será que se lembrava da noite, dos beijos, das mãos dele explorando sua pele? A ideia de que ela poderia ter apagado tudo isso, de que ela estava ali, tão indiferente, o fazia sentir uma ponta de frustração.
Mas havia algo mais. Algo no modo como ela o olhava. Não era desdém, não era raiva, mas também não era curiosidade ou ansiedade. Ela estava impassível, como se aquilo fosse um simples encontro de rotina. Mas, o que ele não conseguia entender, era como ela podia ser tão… controlada. Como ela não parecia se importar, como se aquele momento de reencontro não tivesse o peso que ele sentia.
Seria possível que ela tivesse seguido em frente tão facilmente, sem se importar com o que aconteceu entre eles? Ou talvez estivesse apenas jogando um jogo, escondendo seus sentimentos, assim como ele fazia? O que quer que fosse, a distância entre eles, tão física quanto emocional, parecia maior do que ele imaginava.
A dúvida começou a crescer em sua mente: talvez, ela estivesse tão impassível porque, no fundo, ela não se importava com ele. Não havia nem a menor reação de reconhecimento, nada. Ela estava agindo como se aquele fosse apenas mais um dia qualquer, mais uma disputa qualquer, mais uma corrida.
respirou fundo, tentando afastar os pensamentos. Ele sabia que aquilo estava ficando pessoal, e ele não podia deixar que a competição se transformasse em algo mais. Mas, com ali, tão serena, tão sem qualquer sinal de afetação, ele se viu desafiado de uma maneira que não estava preparado.
💨💨💨
— Isso mesmo, ! O melhor atleta da universidade. — Ele estendeu a mão e tocou a dela.
O toque foi breve, mas carregado de uma tensão quase elétrica. Os dedos de envolveram os dela com firmeza, como se tentassem agarrar algo que ele já havia perdido uma vez. A pele dela estava morna, macia, e por um instante, o mundo ao redor pareceu emudecer.
manteve a expressão neutra, mas sentiu o leve arrepio que percorreu seu braço, involuntário, traidor. A mão dele era forte, calejada pelo treino, mas o gesto foi cuidadoso, quase hesitante — como se, mesmo sem querer demonstrar, buscasse uma confirmação silenciosa de que ela era real, de que aquela conexão ainda existia, mesmo que enterrada sob camadas de negação.
sentiu a pele da palma dela por mais tempo do que deveria, mas soltou seus dedos com calma. E foi nesse instante, nesse breve contato que deveria ser apenas formal, que a memória voltou, como uma brasa reacendendo dentro dele.
“Ele estava de volta àquele quarto escuro, abafado pelo som distante da música da festa. estava diante dele, nua da cintura para cima, a pele iluminada pelas luzes fracas do corredor que entravam pela porta entreaberta. Seus olhos estavam cravados nos dele, e havia algo de desafiador, quase provocante, no jeito como ela se aproximava.
Sem trocar palavras, ela voltou a puxá-lo pela gola da camisa, os lábios colidindo outra vez em um beijo carregado de urgência e desejo mal contido. As mãos dele estavam em suas costas, firmes, deslizando com intenção, enquanto ela mordia o lábio inferior dele no meio do beijo, como se estivesse marcando território. Ele soltou um gemido baixo, sem pensar, afundando os dedos em sua cintura e puxando-a ainda mais para perto.
Ela parecia determinada a conduzir o momento, e ele se deixava levar sem resistência. A forma como ela se encaixava nele, como respondia ao toque, como seus corpos pareciam conhecer aquele ritmo — tudo aquilo o fazia perder completamente a noção de tempo. O gosto dela, o cheiro da pele, os suspiros que escapavam entre um beijo e outro… era tudo vívido demais para ter sido apenas um encontro qualquer. Ele lembrava de cada detalhe com clareza assustadora.”
Mas então, o flash passou. Rápido. Cortado bruscamente pela realidade.
piscou, voltando ao presente, o gosto do passado ainda vivo em sua memória. E agora, ela estava ali, diante dele, como se nada tivesse acontecido. Como se aquela noite nunca tivesse existido.
E era exatamente isso que o consumia.
— Eu preciso de um tempo. — ele sussurrou alto o suficiente para que todos ouvissem.
E então saiu do ginásio, pisando duro.
O ar parecia mais pesado com sua saída, como se todos estivessem prendendo a respiração até ele desaparecer por completo.
Lá fora, ele caminhou até o primeiro espaço aberto que encontrou: um banco de madeira ao lado da pista de corrida externa, onde poucos alunos passavam àquela hora. Sentou-se com as mãos nos joelhos, o olhar perdido no chão de terra batida. A brisa leve não ajudava a aliviar o calor que subia por dentro dele, misturado a frustração, confusão… e algo mais que ele não ousava nomear.
De volta ao ginásio, o silêncio pairou por alguns segundos antes do treinador pigarrear e dar um sorriso contido.
— Ele vai se acostumar — disse, como quem já havia visto aquilo antes. — O só precisa de tempo. Ele sempre foi competitivo. Não leva muito bem ser surpreendido.
apenas assentiu com a cabeça, tentando manter a expressão neutra. Por dentro, no entanto, os pensamentos borbulhavam. Ela olhou de relance para a porta por onde ele havia saído, o nome dele ecoando em sua mente: . Atleta estrela, querido por todos, sempre no topo. Claro que ele estava irritado por ter perdido o recorde. E, pelo jeito como a olhou… ou melhor, como não a olhou, ele claramente não se lembrava dela.
“Ele não faz ideia de quem eu sou”, pensou, apertando os lábios. “Deve ter se envolvido com metade da universidade. Uma noite qualquer, uma garota qualquer… Por que ele lembraria de mim?”
A constatação lhe trouxe um estranho alívio. Não precisar lidar com memórias compartilhadas, com conversas sobre o passado ou com sentimentos confusos… parecia mais fácil assim.
Mas como se sua mente quisesse contrariá-la, mais um flash a atingiu — e dessa vez, vívido demais para ignorar…
“Ela se lembrava de puxar a camiseta dele naquela noite. As mãos deslizando por baixo do tecido quente, até ele levantá-la por completo e deixá-la tirá-la devagar, como se estivessem em um jogo silencioso. Ela ficou ali, observando-o à meia-luz. O abdômen bem definido, os músculos torneados pelo treino intenso, a pele clara e suada. Era impossível não ficar impressionada com o corpo dele. As pontas dos dedos dela passaram devagar por sua barriga, e ela se lembrava do arrepio que ele teve, do modo como ele sussurrou algo em sua orelha que ela não conseguiu entender, ocupado demais reagindo ao toque. Suas unhas arranharam de leve o abdômen dele, e ela sorriu com a resposta involuntária do corpo dele.”
Mas então, de novo, como se despertasse de um sonho, ela afastou os pensamentos com força.
“Não”, disse a si mesma. “Isso foi antes. Um erro. Um acaso. E é melhor que continue assim.”
Ela respirou fundo e ergueu o queixo. Se ele não se lembrava, melhor para ela. Tudo o que precisava fazer agora era focar no presente. Ela não estava ali por ele. Estava ali por si mesma. Para correr. Para vencer.
Depois de alguns segundos em silêncio, percebeu que todos os olhares ainda estavam sobre ela. O sumiço dramático de tinha deixado um vácuo na sala, e por mais que o treinador tentasse seguir com a apresentação dos outros esportistas, o clima havia mudado.
Mesmo assim, ela respirou fundo e tentou retomar o foco. Ajeitou os ombros e forçou um sorriso leve, se virando para o grupo que ainda estava reunido. A equipe de atletismo era formada por mais três corredores: Minseok, que parecia mais tranquilo e observador; Doyeon, uma garota de expressão séria e braços fortes; e Taeyul, que tinha uma energia elétrica e um sorriso fácil.
— Parabéns pelo recorde, — disse Minseok, com um aceno de cabeça respeitoso. — Nunca vi alguém correr daquele jeito. Nem o .
Ela sorriu de forma tímida, coçando a nuca.
— Obrigada… eu só tentei fazer o meu melhor.
— Bom, o seu melhor fez história — disse Doyeon, sem emoção, mas sem ironia também. Era o jeito dela. — Só não pense que vai ser fácil manter isso.
— Nem quero que seja — respondeu , firme, mas amigável.
Taeyul se aproximou com uma garrafa d’água e um brilho no olhar.
— Sério, foi muito épico. Aquele momento em que cruzou a linha… o treinador quase chorou. — Ele riu. — Seja bem-vinda ao caos.
— Ao caos? — ela arqueou uma sobrancelha, divertida.
— Aqui tudo é competição, drama e suor. Mas também tem as partes boas — ele piscou. — Tipo as festas dos finais de semana.
— Ainda não sei se estou preparada pra tanto caos assim.
— Vai se acostumar. Ou surtar no processo — respondeu Doyeon, dando de ombros.
O clima começou a ficar mais leve, e, aos poucos, a tensão deixada pela saída de se dissolveu. O treinador voltou a organizar os grupos para um pequeno treino de integração, mas antes disso, deu alguns minutos para que todos se conhecessem melhor.
, cercada por pessoas que até então eram desconhecidas, começou a se sentir parte de algo maior. Ainda era tudo novo, assustador e intenso, mas ela sabia que queria estar ali. Mesmo com , mesmo com os olhares, mesmo com as memórias insistindo em voltar. Ela estava exatamente onde deveria estar.
E dessa vez, não seria só uma “novata”. Ela iria provar que merecia aquele lugar.
💨💨💨
A noite caiu sobre o campus como um manto silencioso. A maioria dos atletas já havia deixado o ginásio, e as luzes internas estavam reduzidas ao mínimo, iluminando apenas a pista central. estava lá, sozinho, correndo em voltas cada vez mais rápidas, tentando esvaziar a mente.
O som dos seus tênis contra o chão ecoava pelo espaço vazio, acompanhado apenas pela sua respiração pesada e os batimentos acelerados do próprio coração. Ele empurrou o corpo ao limite, como se pudesse correr para longe da confusão dentro dele. Mas não adiantava. Nenhuma velocidade o fazia esquecer o que sentia desde o momento em que viu novamente.
Parou bruscamente após uma última volta, dobrando o corpo com as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. Suava, arfava… mas nada disso era só do esforço físico. Era dela. Da presença dela que agora invadia até os cantos mais protegidos de sua memória.
E então, como se o universo estivesse determinado a provocá-lo, ele ouviu passos leves ecoando pelo ginásio. Levantou o olhar. E lá estava ela.
entrou com os cabelos presos de forma despreocupada, uma garrafa de água na mão e uma toalha pendurada no ombro. Ela o viu, hesitou um segundo — talvez surpresa por encontrá-lo ali — mas continuou andando como se fosse apenas coincidência. E talvez fosse. Ou talvez não.
Eles trocaram um olhar breve, nenhum dos dois dizendo uma palavra. Ele apenas assentiu com a cabeça. Ela retribuiu, mantendo a distância, indo até o outro lado da pista para começar o alongamento.
Mas bastou aquele pequeno encontro para outro flashback surgir, sem aviso.
“ se viu de novo naquele quarto mal iluminado, o cheiro de álcool e música barata no ar. Estava com as costas apoiadas na parede enquanto ela se aproximava, os dedos delicados puxando a barra de sua camiseta. Ele se lembrava com clareza do modo como ela o encarou antes de retirá-la completamente, como se quisesse memorizar cada traço dele.
O ar ficou mais quente, mais denso. A forma como ela passou as unhas lentamente por seu abdômen o fez prender a respiração, o corpo reagindo ao toque com uma sensibilidade quase embaraçosa. Ele nunca tinha sentido algo tão íntimo tão rapidamente. Ela o explorava como se soubesse exatamente o que fazia, e ele não conseguiu conter o arrepio que subiu por sua espinha.
Seu toque era suave, mas decidido. Seus olhos não desviavam dos dele, e por um momento, ele teve certeza de que ela estava vendo tudo o que havia nele — e aceitando. Ela não disse nada, mas soube ali que aquela noite não seria como qualquer outra.”
O flash se apagou tão rápido quanto veio, deixando-o com a respiração falha novamente — mas dessa vez, por um motivo que nada tinha a ver com corrida.
Do outro lado do ginásio, alongava as pernas, completamente alheia ao turbilhão que sua presença provocava nele. Ou talvez não tão alheia assim.
Mas nenhum dos dois disse uma palavra. Não ainda.
Eles apenas coexistiram naquele espaço, dois corpos em movimento, tentando fingir que a noite que os unira não passava de uma memória esquecida.
💨💨💨
respirava fundo enquanto alongava, os olhos fixos em um ponto qualquer à sua frente, tentando ignorar o fato de que estava ali, a poucos metros de distância. O silêncio no ginásio era quase íntimo — não havia mais vozes, apenas o som dos seus corpos se movimentando, o ar rarefeito do ambiente fechado e o leve rangido das estruturas metálicas sob a brisa noturna.
Ela terminou o alongamento e caminhou até a pista, ficando em posição. Sentia o olhar dele sobre ela, mesmo que não estivesse o encarando. Quando o som de seus passos começou, ritmado e firme, ele também retomou a corrida, em outro ritmo, em outra direção, como se ambos estivessem em perfeita desarmonia — e ainda assim dançando a mesma coreografia silenciosa.
Durante alguns minutos, foi só isso. Corrida. Respiração. Distância.
Até que em uma das voltas, quando cruzaram caminhos no meio da pista, ele a olhou. Não foi um olhar direto, não foi provocação. Foi breve. Um instante. Mas ela viu. E respondeu com um quase imperceptível aceno de cabeça, como se dissesse: tudo bem.
Depois disso, ele diminuiu o ritmo, correndo mais devagar, acompanhando o compasso dela. Não disseram nada. Mas os passos começaram a se alinhar, e por um breve momento, correram lado a lado.
— Você sempre treina à noite? — a voz de soou baixa, rouca da corrida, mas inesperadamente neutra.
hesitou um segundo antes de responder.
— Quando preciso pensar… sim.
Ele assentiu.
— Mesma coisa aqui.
O silêncio voltou, mas dessa vez não era desconfortável. Era estranho, sim, carregado de tensão, de lembranças e de tudo que nenhum dos dois queria dizer — mas havia uma espécie de entendimento implícito, como se estivessem sentindo o peso do passado sem precisar verbalizá-lo.
Depois de algumas voltas, ela parou primeiro. Caminhou devagar até a garrafinha, tomou um gole e se sentou na lateral da quadra, passando a toalha no rosto. fez o mesmo pouco depois, parando um pouco mais longe. Nenhum dos dois olhava diretamente para o outro.
Mas o pensamento estava ali. A lembrança viva nos dois corpos ainda ofegantes.
Por fim, ela quebrou o silêncio com um tom leve, quase casual.
— A gente treina bem juntos.
Ele sorriu de lado, sem olhar para ela.
— É. Pena que estamos disputando a mesma vaga.
Ela riu, sem humor.
— É. Pena mesmo.
E com isso, ficaram em silêncio mais uma vez, com o tipo de paz que vem só quando duas pessoas compartilham algo que ninguém mais entende — mesmo que finjam que aquilo nunca aconteceu.
O silêncio entre eles parecia ter se assentado, como a poeira depois de um vendaval. ainda estava sentada no chão da quadra, com a toalha apoiada nos ombros e os cabelos grudados na testa pelo suor. permaneceu onde estava, encostado em uma das colunas metálicas do ginásio, os braços cruzados, observando-a de longe. Por alguns minutos, nenhum dos dois se moveu.
— Você parece diferente agora — ele disse de repente, com a voz baixa, mas audível.
Ela virou o rosto para ele, arqueando uma sobrancelha.
— Diferente como?
— Mais… focada. Fria, talvez. Naquela noite, você não parecia assim.
A frase caiu como uma pedra na calma que tentavam manter. Era a primeira vez que ele tocava, ainda que indiretamente, na noite que ambos estavam evitando mencionar. O olhar de endureceu por um instante, mas ela não respondeu.
deu alguns passos na direção dela, lentamente, como se pisasse em território desconhecido. Parou a poucos metros, o suficiente para que ela sentisse sua presença mais forte, o calor do corpo dele ainda irradiando da corrida.
— Eu pensei que você não lembrava de mim — ele continuou, os olhos cravados nos dela. — Mas agora… não tenho tanta certeza.
engoliu em seco, o corpo tensionando. Ela queria se levantar, fugir, dizer que ele estava enganado. Mas antes que qualquer palavra saísse de sua boca, veio mais um flash.
“Era a mesma noite. Ela estava de joelhos na cama estreita daquele quarto improvisado, e ele diante dela, agora sem a camiseta que ela havia tirado momentos antes. Ela lembrava da forma como ele se aproximou, com aquele olhar firme, determinado, como se soubesse exatamente o que queria. As mãos dele a tocaram com delicadeza inesperada, uma reverência silenciosa, como se ela fosse feita de algo raro demais para ser apressado. Ela lembrava do calor da pele dele sob suas palmas, do modo como ele prendeu a respiração quando ela arranhou levemente seu abdômen — e, principalmente, da forma como ele a olhou. Como se ela fosse inesquecível.”
O flash acabou tão rápido quanto veio, mas o impacto ficou.
— De você? — perguntou, como quem realmente não entendia — A gente se conheceu antes?
A pergunta soou tão convincente que por um momento ele hesitou. Ela parecia genuinamente confusa, sem nenhuma mudança no tom de voz, sem nenhum desvio de olhar. Nenhum sinal de lembrança.
Ele piscou, desconcertado, o coração apertando um pouco no peito. Parte dele queria acreditar que era só um jogo. Outra parte… temia que, para ela, aquela noite realmente tivesse sido esquecível.
, por dentro, estava em chamas. Mas por fora, manteve a frieza, o controle, a máscara. Porque era isso que precisava fazer. Fingir que não lembrava. Fingir que nada aconteceu. Fingir que ele não significava nada.
— Eu… já treinei o suficiente por hoje.
franziu o cenho, dando um passo à frente.
— —
— Boa noite, — ela cortou, sem encará-lo diretamente.
Virou-se antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, o som dos passos apressados ecoando contra o piso vazio do ginásio. Seu coração batia descompassado, mais pela lembrança do que pela corrida. E pela certeza incômoda de que ele se lembrava. Talvez desde o primeiro olhar.
ficou parado no mesmo lugar, observando a porta por onde ela saiu. A ausência dela pareceu preencher o espaço como uma sombra. Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado, confuso, mas com uma certeza agora ainda mais forte: aquela noite não tinha sido qualquer noite.
E não era — nunca foi — só mais uma garota.
O dia seguinte começou como qualquer outro, com os corredores e o campus ganhando vida sob o sol suave da manhã. Para e , no entanto, tudo parecia estranhamente fora de lugar. Como se o silêncio da noite anterior ainda pairasse entre os dois, mesmo distantes.
💨💨💨
começou o dia no prédio de Humanas, em meio a rostos desconhecidos e salas ainda cheirando a tinta fresca. Era sua primeira semana oficial de aulas, e a rotina começava a se estabelecer: professores passando os cronogramas, colegas tentando socializar, murmurinhos sobre o time de atletismo e, claro, sobre “a garota que quebrou o recorde de ”. Ela ouvia, às vezes fingia não ouvir, mas sempre mantinha a cabeça erguida. Precisava manter o foco.
, por outro lado, seguia seu caminho já consolidado nos corredores do bloco de Educação Física. Estava no último ano e carregava consigo o peso das expectativas — de professores, colegas, treinadores, e dele mesmo. Mesmo assim, durante as aulas, sua mente vagava mais do que o normal. A imagem dela insistia em voltar, especialmente a expressão neutra, fria, quando disse não reconhecê-lo. E aquilo… aquilo o corroía por dentro.
O tempo passou rápido, os dois absorvidos em suas rotinas tão diferentes quanto seus mundos. Mas a tarde chegou. E com ela, o treino.
O ginásio parecia maior naquela hora do dia, iluminado pelos feixes quentes do sol atravessando as janelas altas. Os corredores da equipe oficial se aqueciam enquanto o treinador orientava alguns ajustes na pista. chegou com a mochila pendurada em um ombro e o cabelo preso em um coque alto. Cumprimentou os colegas com um sorriso leve, tentando parecer tranquila. Mas ao pisar na pista, seus olhos buscaram — mesmo que não assumisse — por .
Ele já estava ali. Camiseta preta, fones pendurados no pescoço, expressão focada. Quando a viu, não desviou o olhar. Mas também não sorriu. Havia algo firme, contido, em seu rosto. Algo que dizia eu me lembro, mesmo que nenhuma palavra fosse dita.
Eles estavam prestes a treinar juntos, lado a lado, como a dupla mais promissora do time. Mas também como duas pessoas presas entre o que aconteceu — e o que fingem que não aconteceu.
E dessa vez, não havia mais corredores para separar suas verdades.
Durante o aquecimento, o ar entre os dois era carregado — não por palavras, mas por tudo o que não diziam. se alongava em silêncio, os fones no ouvido, mas não havia música tocando. Estava atenta. Sabia que ele estava próximo, conseguia sentir.
se mantinha a uma distância segura, alongando os ombros com os olhos semicerrados. De vez em quando, lançava olhares rápidos na direção dela. Olhares que ele não queria que fossem notados, mas que captava, mesmo que fingisse não ver.
Eles não haviam trocado uma palavra desde a noite anterior. Ainda assim, o corpo de reagia involuntariamente à presença dela: os músculos mais tensos, a respiração um pouco mais curta, o foco instável. E ela? Ela parecia no controle. Postura reta, feições serenas. Como se estivesse ali apenas para correr. Como se não houvesse nada entre eles.
— Duplas. Vamos começar com tiros curtos — anunciou o treinador, apontando para a pista.
O coração de afundou levemente quando o olhar do treinador se voltou para ele e, em seguida, para .
— Vocês dois. Vocês são o parâmetro hoje.
Eles se posicionaram lado a lado na linha de partida. As respirações sincronizadas, os olhos voltados para frente. Por um segundo, o silêncio entre eles pareceu tão alto quanto o barulho de uma multidão. Ele pensou em dizer algo. Mas ela se adiantou.
— Que vença o melhor — disse, sem encará-lo.
— Sempre — ele respondeu, a voz baixa, firme.
O apito soou.
Os corpos dispararam em sincronia. Um, dois, três impulsos. Os dois estavam lado a lado, intensos, firmes. Mas então, no meio da corrida, foi atingido de novo — mais forte, mais profundo. A memória veio sem aviso. Cruel.
“Ele se viu naquele mesmo quarto abafado da festa. A luz quase inexistente, a janela entreaberta. deitada de costas no colchão estreito, os cabelos espalhados sobre os lençois desarrumados, os olhos fixos nos dele com algo entre vulnerabilidade e desejo. Estava sem sutiã, a calcinha havia apenas sido movida para o lado por ele, o corpo iluminado em partes pela claridade pálida da rua. Ele se lembrava do momento exato em que a penetrou, com cuidado, o corpo dela se arqueando levemente, as mãos dela apertando seus ombros com força. Os lábios entreabertos dela sussurrando um “vai…” entre ofegos. E ele indo, devagar no começo, como se estivesse pisando em um terreno sagrado.
Ela gemia baixo, e os movimentos de ambos pareciam se ajustar como se seus corpos soubessem o que fazer sem precisar de instrução. Ele se lembrava de como ela o puxou para mais perto, de como cravou as unhas em suas costas e depois as passou por seu pescoço, até os dedos entrelaçarem o cabelo dele. Era uma lembrança quente, intensa, impossível de ignorar. Mas o que mais o marcava era o olhar dela. Aqueles olhos escuros, firmes, como se dissessem eu estou aqui, com você. Só com você.”
“Não foi só sexo”, ele pensou, voltando bruscamente ao presente.
Mas era tarde.
Ele perdeu o ritmo. Um milésimo de segundo de desatenção bastou.
passou por ele com facilidade, os pés leves, o corpo em perfeita coordenação com a pista. Cruzou a linha antes dele, sem comemoração, mas com os olhos sérios e atentos.
desacelerou, ofegante. O suor escorria pelo rosto, mas não era só do esforço. Era da lembrança. Do impacto. Do vazio que sentiu ao perceber que, mesmo ali, com tudo que ainda o prendia a ela, ele estava ficando para trás.
O treinador assobiou, satisfeito com a performance de ambos, mas especialmente impressionado com .
— Excelente, . Você está mais rápida. , foco — alertou com um tom firme.
apenas assentiu, respirando fundo, evitando o olhar dela.
se abaixou para apoiar as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego. Ainda sentia o peso do que fizeram — daquilo que ele claramente lembrava. Mas ela não disse nada. Continuou fingindo. Como se nada tivesse acontecido.
E talvez isso fosse o que mais o deixava desestabilizado.
O treino terminou sob um céu alaranjado, com o sol se escondendo lentamente atrás dos prédios do campus. Os corredores se dispersaram aos poucos, uns indo para o vestiário, outros ficando pela pista para alongar. O treinador fez seus últimos comentários e orientações, elogiando a dedicação da equipe — especialmente a de .
, ainda em silêncio, caminhou até a beira da pista, secando o rosto com a toalha. Seus pensamentos estavam embaralhados, a respiração ainda mais pesada do que o esforço físico justificava. Ele a observava de longe, com o maxilar travado e a frustração pulsando no fundo dos olhos.
permaneceu um pouco mais na pista, sentada no chão, tomando pequenos goles de água. Quando finalmente se levantou, foi inevitável: os dois acabaram frente a frente novamente.
Ele hesitou, mas falou primeiro.
— Você correu bem hoje.
A frase veio seca, mas não rude. Era o mais próximo de um elogio que ele podia dar no momento.
respondeu com um sorriso contido.
— Obrigada. Você também… até se perder no meio do caminho.
Era uma provocação sutil. Ele a olhou com mais intensidade, tentando encontrar um sinal de que ela sabia o que tinha causado aquilo. Mas seu rosto estava tranquilo. Quase desinteressado.
— Acontece — ele disse, dando de ombros, como se aquilo não o tivesse afetado profundamente. — Alguns pensamentos… distraem.
Ela apenas assentiu, como se não soubesse exatamente do que ele estava falando.
— Você devia se concentrar mais, então. Afinal, não quer perder a vaga, quer?
— Nem um pouco — ele respondeu, firme. — Mas às vezes, é difícil se concentrar… quando o que distrai está bem na sua frente.
segurou o olhar dele por um instante. Apenas um instante. Depois sorriu com suavidade — e frieza calculada.
— Boa noite, .
E virou-se para ir embora mais uma vez, sem se dar o trabalho de olhar para trás.
ficou parado por alguns segundos, vendo-a desaparecer no vestiário. A raiva misturada ao desejo borbulhava por dentro, e ele sabia: ela estava jogando.
O problema era que ele também estava.
E aquilo mal tinha começado.
💨💨💨
caminhava sozinha pelo campus, o uniforme ainda colando ao corpo úmido pelo treino intenso. O céu já estava escuro, e as luzes dos postes acendiam em sequência, formando pequenos círculos dourados sobre a calçada. Ela passava por eles em silêncio, os fones nos ouvidos, mas sem música — apenas uma desculpa para não ter que interagir com ninguém.
Por fora, seu rosto era o mesmo de sempre: sereno, confiante, intocável. Mas por dentro, o caos a corroía.
Aquela corrida tinha provado uma coisa que ela preferia não admitir: ainda a afetava. A lembrança da noite que dividiu com ele era insistente, e agora que sabia que ele se lembrava também, tudo ficava mais difícil de enterrar.
“Você devia se concentrar mais.”
Ela fechou os olhos, respirando fundo. Era mais do que só atração física, e isso a assustava. Porque se tornava real. Palpável. E ela não podia se dar ao luxo de se distrair. A vaga olímpica era seu foco. Seu objetivo. Seu futuro.
Pensar nele como , o cara que a fez perder o controle naquela noite era perigoso demais.
“Boa noite, .” Ela se odiava um pouco por ter dito isso com tanta calma. Queria gritar com ele. Queria… tocá-lo de novo.
Mas não. Ela precisava ser fria.
Se ele fosse só mais um entre tantos, por que aquele flash dela montada nele, sentindo cada movimento, ainda a fazia prender a respiração?
Ela chegou ao alojamento, bateu a porta atrás de si e escorregou até o chão. Pela primeira vez, deixou o controle escorregar um pouco pelas pontas dos dedos. Só por um minuto. Depois, se reconstruiria. Como sempre fazia.
💨💨💨
estava no vestiário vazio, sentado no banco com os cotovelos apoiados nos joelhos, encarando o chão. A toalha descansava sobre sua nuca, o suor ainda escorria lentamente por suas têmporas, mas ele não parecia ligar.
O treino, para ele, tinha acabado bem antes da linha de chegada.
.
Ela estava brincando com ele. Sabia disso. Ou será que estava se protegendo? Fingindo? A forma como ela falou, como respondeu, com aquele sorriso que não alcançava os olhos… ele conhecia aquele tipo de defesa. Mas não sabia se isso o deixava mais calmo ou mais irritado.
“Você devia se concentrar mais.”
Ele queria ter dito “Me ensina como, quando é você que me distrai?”, mas se conteve. Como sempre.
Aquela noite não saía da sua cabeça. Não era só desejo. Era a sensação de que, por algumas horas, eles tinham se encontrado de um jeito que não se encontra com qualquer um. E agora, ela fingia que nada disso tinha importância. Como se ele fosse esquecível.
Será que era?
Ele passou as mãos pelo rosto, frustrado. Estava acostumado a ser o centro. A controlar. Mas com ela… era como correr contra o vento: cada passo à frente vinha acompanhado de uma força contrária que o empurrava de volta.
Ele se levantou lentamente, olhou para o espelho e encarou a si mesmo. Estava bravo. Estava atraído. Estava curioso. E, acima de tudo, estava incomodado.
E ele não era o tipo que deixava isso quieto por muito tempo.
💨💨💨
A semana passou arrastada e intensa para ambos.
Os treinos estavam longe de serem apenas físicos — eram emocionais, silenciosamente crueis e absurdamente pessoais. Era como se, a cada dia, a pista de corrida se transformasse num campo de batalha invisível, onde não apenas a velocidade estava em jogo, mas também o orgulho, o passado, e tudo aquilo que nenhum dos dois tinha coragem de dizer em voz alta.
Em um dia, dominava. Corria como se o chão fosse extensão do seu corpo, os músculos firmes, a técnica impecável. O treinador o elogiava, os colegas o assistiam com respeito. Ele parecia inalcançável. tentava não se afetar, mas havia momentos em que ele a ultrapassava com um olhar enviesado, e sussurrava algo ao passar por ela, só alto o bastante para que apenas ela ouvisse:
— Você corre melhor quando não está tentando fugir de mim.
Ela não respondia. Apenas mordia a parte interna da bochecha e continuava correndo.
No dia seguinte, era ela quem liderava. Os passos certeiros, a leveza nas pernas, a precisão nos giros. Cruzava a linha de chegada antes dele e mantinha a cabeça erguida, o rosto impassível, mesmo com o coração martelando no peito. E quando ele se aproximava com aquele meio sorriso, fingindo inocência, ela revidava com uma simplicidade cortante:
— Tá cansando fácil, . A idade tá pesando?
ria, mas seus olhos diziam outra coisa. Uma provocação velada. Um “quero ver até onde você aguenta fingir”.
Os dois pareciam presos numa dança silenciosa entre tensão e lembrança. Durante os alongamentos, trocavam olhares rápidos; durante os descansos, permaneciam próximos, mas distantes demais para tocar. Quando os colegas comentavam sobre o talento de ambos, os elogios sempre vinham em tom de comparação: “Ela tá chegando no nível dele”, “ vai ter que suar mais”, “Essa disputa vai ser boa de ver.”
O clima de competição crescia a cada treino — e com ele, a ansiedade. Para , o jogo se tornava mais psicológico. Ele lançava indiretas com o mesmo cuidado que lançava seus tiros na pista. Frases como:
— Já teve alguma corrida que você não conseguiu esquecer?
— Tem coisa que a gente finge que esqueceu, mas o corpo lembra… às vezes no pior momento.
rebatia com a mesma frieza de sempre, olhos nos dele e sorriso contido:
— Eu prefiro lembrar só do que me faz ganhar. O resto… some com o tempo.
Mas por dentro, ela estava longe de ser imune. Cada treino era uma batalha contra si mesma. Contra as lembranças que vinham sem serem chamadas. Contra a lembrança do toque, do cheiro, do som da voz dele quando perdia o controle. Contra a sensação incômoda de que ele não havia esquecido — e pior: que queria que ela lembrasse também.
Eles estavam em lados opostos de uma mesma linha. E a linha entre competição e desejo começava a ficar cada vez mais tênue.
Na sexta-feira, o treinador decidiu que era hora de testar a resistência em condições reais. Nada de tiros curtos, nada de revezamento técnico. Aquela tarde seria para medir quem realmente estava pronto para a próxima seletiva estadual.
O clima já estava denso desde o início do dia, e quando os dois chegaram ao ginásio, era como se todos soubessem que algo estava prestes a acontecer.
— Hoje vamos correr a prova completa, cem por cento. Sem folga. Quero que sintam o que é competir de verdade — avisou o treinador, olhando para e com mais atenção do que para os outros.
Eles se posicionaram lado a lado, como sempre. Os olhares fixos na linha à frente, os corações disparados por motivos diferentes.
O apito soou.
E foi como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. Os dois correram como se tudo estivesse em jogo — e estava. A vaga, o orgulho, a memória. O som dos passos, o impacto contra o chão, as respirações fortes, tudo misturado ao calor crescente da disputa.
estava alguns centímetros à frente quando sentiu, de repente, o corpo de se aproximando pela lateral. Ombro com ombro. Não foi proposital, mas foi inevitável — a curva da pista os juntou. E naquele breve contato, ela sentiu o calor dele contra sua pele, o cheiro familiar do suor, o mesmo que sentira naquela noite abafada de semanas atrás.
, por sua vez, prendeu a respiração. O toque rápido, quase inofensivo, fez com que mais uma lembrança o atingisse com força: o momento em que o puxou para si no meio do ato, as pernas ao redor de sua cintura, os corpos tão colados que ele mal conseguia respirar. O som dos gemidos abafados, o gosto da pele dela no pescoço, e o modo como ela dizia seu nome mesmo sem conhecê-lo.
“Vai, não para…”
Ele perdeu o ritmo por um segundo. Pequeno. Quase imperceptível. Mas para , foi o suficiente. Ela acelerou o passo final e cruzou a linha com a vitória clara. Parou alguns metros depois, ofegante, apoiando as mãos nos joelhos, o corpo vibrando de adrenalina.
chegou logo em seguida, mas dessa vez, não disse nada. Parou ao lado dela, o peito subindo e descendo, os olhos fixos no chão.
— Você quase me pegou — ela disse, ainda sem olhar para ele.
— Você sabe que não é só corrida — ele respondeu, a voz grave, rouca. — Nunca foi só isso.
ficou em silêncio por um momento. Sabia que ele estava falando de outra coisa, mas fingiu não entender.
— Pode ser que eu só esteja mais focada — disse, erguendo o olhar lentamente. — E você… distraído.
Os dois se encararam por um instante que pareceu durar mais que todo o treino.
Foi quando o treinador chamou todos de volta para a reunião final. se afastou primeiro, como sempre. E ficou parado por alguns segundos, com a sensação de que a corrida real ainda nem tinha começado.
Mas estava prestes a começar.
💨💨💨
Naquela noite, o treinador surpreendeu a todos com um convite incomum:
— Treino cancelado amanhã. Vocês merecem uma folga — disse, ao final da reunião. — Vamos sair hoje. Um barzinho perto do campus. Todo mundo. E sem recusas, entendido?
O time vibrou, alguns gritaram de alívio, outros já começaram a planejar o que iriam beber. Até os mais reservados sorriram. Depois de uma semana tensa, a ideia de relaxar juntos parecia uma boa — pelo menos para quase todo mundo.
hesitou por um instante, mas acabou cedendo. Precisava tirar o foco de , da pista, das lembranças. Talvez uma mesa cheia de vozes e copos ajudasse. Vestiu um jeans escuro, uma blusa justa de mangas compridas e prendeu o cabelo de um jeito despretensioso. Não queria chamar atenção. Só respirar.
O bar escolhido era pequeno, aconchegante, com luzes amareladas e uma trilha sonora baixa, o suficiente para manter conversas confortáveis. As mesas foram unidas, e o grupo foi se espalhando aos poucos. Bebidas foram pedidas, porções chegaram, e as risadas começaram a preencher o ambiente.
sentou-se entre Doyeon e Taeyul, que estavam animados com histórias do último campeonato. Ela ria, bebia com moderação e se sentia estranhamente confortável. Até que o lugar ao seu lado foi preenchido.
.
Ele vestia uma camisa preta de botões, as mangas dobradas até os cotovelos. O cabelo ainda levemente úmido do banho, o perfume discreto mas inconfundível. Ele se sentou sem dizer nada, apoiando o copo na mesa com um gesto casual, mas a proximidade era tudo, menos inocente.
— Coincidência — ele disse, sem sequer olhá-la diretamente, mas com um sorriso no canto da boca.
— Claro que foi — ela respondeu, mantendo o tom leve, mas o coração disparado.
Durante a noite, os olhares se cruzaram várias vezes. conversava com os outros, ria de comentários bobos, mas de vez em quando se inclinava sutilmente na direção dela, como se estivesse testando os limites.
— Tá melhor fora da pista — ele comentou em um momento, com a voz baixa, como se estivesse falando só para ela. — Ou é só aqui que você relaxa um pouco?
levou o copo aos lábios e bebeu um gole antes de responder.
— Depende da companhia. Tem gente que relaxa. Tem gente que atrapalha.
sorriu, olhando agora diretamente para ela.
— E eu sou qual dos dois?
Ela mordeu o interior da bochecha, inclinando-se levemente para ele.
— Acho que você ainda não decidiu o que quer ser. E até lá, continua sendo só… distração.
Foi a vez dele se calar. A provocação o acertou como um golpe bem calculado. Mas havia algo nos olhos dela — um brilho — que dizia que, por mais que fingisse, ela lembrava de tudo. E aquilo o deixava ainda mais instável.
O resto da noite seguiu num jogo perigoso de proximidade e afastamento. Um toque acidental aqui, um olhar demorado ali. Nenhum dos dois cedia, mas ambos estavam dançando em volta de algo que só crescia em silêncio.
E, pela primeira vez, sentiu medo — não do que aconteceu entre eles, mas do que ainda podia acontecer.
Porque ali, fora da pista, sem o barulho dos passos e do apito do treinador, era muito mais difícil fugir.
💨💨💨
A noite já estava avançada quando decidiu que era hora de ir. O riso do grupo continuava ecoando lá dentro, abafado pela música e pelas vozes misturadas, mas ela precisava de ar. Talvez distância.
Avisou rapidamente aos colegas que ia embora, pegou a bolsa e saiu. O ar da rua estava mais frio do que esperava, e ela abraçou os próprios braços enquanto caminhava em direção ao ponto de táxi, os passos calmos, mas a mente acelerada.
— Fugindo de novo?
A voz familiar surgiu atrás dela, carregada de ironia, como uma brisa quente em meio ao frio.
parou, fechando os olhos por um segundo antes de se virar.
— Você me seguiu?
— Eu só vim respirar também. Coincidência. De novo.
Ela cruzou os braços, os olhos semicerrados.
— Você tem uma obsessão por “coincidências”, .
Ele deu um passo à frente, as mãos nos bolsos, o sorriso preguiçoso.
— Ou talvez eu só goste de saber quando você está prestes a fugir. Tenho talento pra isso.
— E você tem esse ego do tamanho da pista também — ela retrucou, sarcástica. — Acha que tudo gira ao seu redor?
— Não tudo. Só você.
Ela prendeu a respiração.
A resposta veio rápida, certeira, com um tom mais baixo do que o normal. Havia algo nos olhos dele agora — desejo, raiva, saudade. Ela sentiu o coração martelar contra o peito, mas não demonstrou.
— Isso é jogo seu? Tentar me desconcentrar com esse tipo de comentário?
— E tá funcionando?
Ela deu uma risada curta, seca.
— Não mais do que aquela noite.
sorriu, agora mais sério.
— Então você lembra.
hesitou, mas não desviou o olhar.
— Nunca disse que não lembrava. Só disse que prefiro fingir que não aconteceu.
— Pena que seu corpo não finge tão bem quanto sua boca — ele respondeu, dando mais um passo, agora próximo o suficiente para que ela sentisse o calor dele contra o rosto — u vi. Quando corremos. Quando te toquei sem querer. Quando falei no seu ouvido hoje… você tremeu.
Ela ergueu o queixo.
— E se eu tremer de novo, o que você vai fazer?
a encarou por um segundo que pareceu eterno. E então, sem aviso, ele segurou seu rosto com uma das mãos e a beijou.
O beijo foi firme, direto, mas não apressado. Era como se ele esperasse por aquilo há dias — e ela também. Os lábios se reconheceram com facilidade, como se a memória do corpo soubesse exatamente o que fazer. As mãos dela subiram para os ombros dele, e por um instante, ela se permitiu se perder. O gosto dele, o toque, a intensidade…
Mas assim como veio, o momento foi quebrado quando ela se afastou abruptamente, ainda ofegante.
— Isso não muda nada — ela sussurrou, sem encará-lo.
— Não muda o que aconteceu. Mas muda o que ainda pode acontecer.
Ela virou as costas, coração descompassado, sem saber se estava fugindo dele — ou de si mesma.
E ficou parado ali, com os lábios ainda ardendo e o peito em chamas. Sabia que aquilo tinha sido só o começo.
💨💨💨
Na manhã seguinte, o sol parecia mais brilhante do que o normal, como se zombasse de quem não tinha dormido direito.
acordou cedo, mesmo sem treino aquela hora da manhã. Tomou banho, prendeu o cabelo em um coque alto e vestiu qualquer coisa confortável, mas nada do que colocava parecia esconder o calor que ainda sentia sob a pele. O beijo. O toque. A intensidade. Tudo aquilo ainda queimava, insistente, sob a superfície da calma que ela tentava forçar.
Ela o havia beijado de volta. Não havia como negar isso. E agora, cada gesto que ele havia feito na última semana — cada provocação, cada olhar — parecia ter um novo peso, um novo significado.
Mas ela era racional. Treinada. Disciplinada.
“Não muda nada.” Foi o que disse. Era nisso que precisava acreditar.
Ainda assim, passou quase meia hora se decidindo sobre o caminho que faria até o ginásio, só para não esbarrar com ele sem querer.
Do outro lado do campus, estava no vestiário antes de todo mundo.
Treinar era sua rotina, mas naquela manhã, ele estava mais inquieto do que o normal. Dormiu pouco, sonhou muito. O beijo o mantinha acordado, repetindo em câmera lenta cada segundo: o toque do rosto dela sob sua mão, o som da respiração entre os lábios, a forma como ela o puxou sem hesitar.
E depois, o afastamento.
“Isso não muda nada.”
Ele riu baixo ao lembrar da frase. Mudava tudo. Ela podia tentar fingir, se esconder atrás da frieza, mas seu corpo não mentia. E agora que ele a tinha provado de novo, nem que fosse por alguns segundos, era impossível voltar ao jogo anterior.
O problema era: o que fazer com isso agora?
À tarde, o treino voltou ao normal — pelo menos para os outros.
chegou pontualmente, sem maquiagem, expressão concentrada. já estava na pista, aquecendo os ombros. Quando os olhos dos dois se cruzaram, foi rápido — um segundo a mais do que o necessário, mas ainda assim contido. Como se o beijo nunca tivesse acontecido.
Ninguém ali sabia o que carregavam. Mas havia algo diferente no ar. Um cuidado entre eles, como se estivessem pisando sobre vidro.
O treinador não percebeu, mas Doyeon lançou um olhar suspeito para .
— Tá com a cabeça onde hoje?
— Na pista. Onde mais estaria? — ela respondeu rápido, demais.
O treino correu com tensão, mas também com foco. Eles se evitavam por instinto, mas corriam como se ainda estivessem um tentando alcançar o outro. A sincronia era quase perfeita, mas o silêncio dizia muito mais do que os pés batendo no chão.
E então, no final do treino, quando todos já estavam indo embora, se aproximou de no estacionamento.
— Vai fugir de novo?
Ela se virou, devagar.
— Não estou fugindo. Só estou… respirando.
Ele a observou por um segundo, em silêncio.
— Me avisa se quiser companhia.
Ela segurou o sorriso que ameaçou escapar e respondeu, caminhando para longe dele:
— Te aviso se eu esquecer como respirar.
E então, se afastou, deixando-o com um sorriso no canto dos lábios e a certeza de que o jogo entre eles acabava de subir de nível.
💨💨💨
Dois dias depois, o treinador estava inspirado. Talvez pelo bom desempenho da equipe, talvez só porque queria provocar fogo entre seus dois melhores corredores.
— Corrida de resistência hoje — anunciou. — Em duplas. E adivinhem… e , vocês vão juntos.
Os dois trocaram um olhar silencioso. A última vez que estiveram lado a lado fora na pista e em um beijo. Um beijo que nenhum deles ousara mencionar depois — mas que ambos carregavam nos músculos, na pele e nos olhos.
A corrida começou.
Não havia mais brincadeiras. Era suor, foco, e um ego inflado dos dois lados. Os corpos corriam lado a lado, o ritmo quase ensaiado, como se seus movimentos tivessem sido coreografados por semanas. A tensão era tão visível que os outros atletas nem tentavam disfarçar os olhares.
Em certo ponto, os ombros se esbarraram. Uma curva. Uma respiração falhada.
— Tá cansando, ? — ela provocou, sem virar o rosto.
— Não mais do que você tremeu no outro dia — ele respondeu, a voz baixa, rouca.
Ela travou por um instante. Minúsculo. Quase imperceptível. Mas ele percebeu.
E, nesse instante, ela decidiu ultrapassá-lo.
Ela passou na frente dele com um estalo no olhar. E quando cruzaram a linha final, ela estava alguns passos adiante. Ofegante, suada, mas com o peito erguido.
Ele a alcançou devagar, não em velocidade — mas em presença.
— Ainda fingindo que não aconteceu? — ele perguntou, num sussurro, os olhos cravados nos dela.
Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. Mas ele estava perto. Perto demais.
— O que você quer, ?
Ele não respondeu.
Apenas olhou para ela como se já soubesse a resposta — e como se estivesse esperando que ela admitisse também.
Mais tarde, o ginásio vazio foi palco de uma repetição perigosa.
havia voltado para pegar seu casaco esquecido. Sozinha. Ou assim pensava.
Quando entrou no vestiário feminino e saiu alguns minutos depois, deu de cara com , sentado na arquibancada, sozinho.
— Tá me seguindo de novo?
— Tô me perguntando por que sempre volta quando diz que não vai.
Ela parou. O casaco pendia frouxo no braço. Havia algo no silêncio entre eles que queimava mais do que qualquer corrida.
Ele se levantou devagar. Desceu os degraus da arquibancada sem tirar os olhos dela. Quando parou diante dela, não tocou. Apenas disse, com a voz baixa e firme:
— Você pode fingir o quanto quiser, . Mas eu lembro do jeito que você me olhou. Eu lembro do seu corpo no meu. E você… você lembra também.
Ela engoliu seco, mas não recuou.
— E se eu lembrar?
— Então para de fugir.
Foi tudo o que precisou.
Ela deixou o casaco cair. Ele a segurou pela cintura. O beijo veio como um impacto contido por tempo demais. Os corpos se encaixaram com urgência, com lembrança, com necessidade. As mãos dele estavam em sua cintura, depois subindo pelas costas, enquanto ela agarrava a camiseta dele como se precisasse de algo para se manter firme.
Eles se afastaram por um segundo, a respiração acelerada.
— Isso não é só desejo, . É confusão — ela sussurrou.
— Talvez — ele respondeu, encostando a testa na dela. — Mas é a única parte do dia em que tudo faz sentido pra mim.
E então, voltaram a se beijar, como se o mundo lá fora estivesse pausado.
Pelo menos por agora.
O beijo entre eles era uma colisão inevitável — e suave. Quente. Quase doce, mas carregado de tudo que haviam acumulado em silêncio. Os corpos se pressionavam com naturalidade, como se já conhecessem o caminho. As mãos dele exploravam suas costas sob o tecido leve da blusa, enquanto as dela subiam pela nuca dele, puxando-o para mais perto, como se o espaço entre eles fosse intolerável.
Os suspiros ficaram mais curtos, mais pesados. A urgência começava a tomar o lugar da hesitação. Quando deslizou os lábios para o pescoço dela e seus dedos roçaram por baixo da barra da blusa, estremeceu — mas foi ali que a consciência gritou.
Ela recuou, ainda ofegante, como se precisasse lembrar de onde estavam, do que estavam fazendo, do que isso significava.
— Eu… não posso — murmurou, desfazendo o contato, os olhos evitando os dele.
— … — ele chamou, a voz baixa, confusa, mas não insistente.
Ela abaixou para pegar o casaco no chão e o segurou contra o peito, como se fosse um escudo.
— Foi longe demais. Eu preciso de um minuto. — E então virou-se e saiu em direção ao vestiário feminino, os passos firmes, mas o coração disparado.
💨💨💨
No vestiário, o som do silêncio era tão alto quanto o das lembranças.
largou o casaco no banco, fechou o armário e começou a se despir lentamente, tentando organizar os próprios pensamentos. Mas nada fazia sentido. Não depois do toque dele, do gosto do beijo, do modo como o corpo dela respondeu sem qualquer permissão racional.
Ela se livrou da blusa, do top esportivo, da calça justa. Ficou apenas com a calcinha enquanto prendia os cabelos com um elástico frouxo. Quando entrou sob o chuveiro, a água quente caiu sobre seus ombros e costas como um abraço reconfortante — e ainda assim insuficiente.
Encostou a testa na parede fria, tentando recuperar o controle. Mas então…
O som da porta se abrindo.
Ela se virou de relance, e antes mesmo de perguntar ou recuar, ele estava ali.
.
Parado, sem camisa, apenas com a calça de treino, molhado da chuva fina que começava a cair lá fora. O olhar dele queimava.
— … — ela começou, mas ele não esperou.
Caminhou até ela com firmeza, atravessando o espaço como se fosse movido por algo que já não conseguia controlar. Parou a centímetros de distância. O vapor do chuveiro os envolvia, como uma bolha isolando-os do mundo.
— Você pode dizer que não quer — ele sussurrou. — Mas se ficar em silêncio, eu vou entender como um sim.
não disse nada.
E foi o bastante.
Ele entrou debaixo da água com ela, os dois encharcados pela água quente, pelo desejo reprimido. As mãos dele seguraram seu rosto, os polegares passando pelas bochechas enquanto os olhos dele buscavam qualquer resquício de dúvida. Não havia.
Ela se ergueu nas pontas dos pés e o beijou.
Dessa vez, sem hesitar.
As mãos dele desceram por sua cintura até alcançarem a curva dos quadris. Ela passou os braços ao redor dos ombros dele, colando seus corpos como se quisesse apagar a distância que fingiram manter por tanto tempo.
As costas dela bateram contra a parede fria do boxe enquanto ele a tomava com fome e cuidado, como se estivesse reencontrando algo que já era dele.
E ali, sob o som da água e dos próprios suspiros, não havia pista, competição ou palavras não ditas.
Só eles dois. Sem máscaras. Sem freios.
Quando os lábios de começaram a lhe beijar o pescoço outro vez, se permitiu, deixando que os lábios dele passeassem por ali, deixando um traço de calor úmido e arrepio por onde passavam. Ela inclinou a cabeça levemente para o lado, os olhos fechados, entregando-se ao toque, ao perfume da pele dele misturado com o vapor quente do chuveiro, ao som abafado da respiração entrecortada dos dois.
As mãos de deslizavam por sua cintura com reverência e fome ao mesmo tempo — os dedos traçando mapas invisíveis por sua pele, como se quisessem decorar cada centímetro, cada curva, cada suspiro. Quando ele colou o corpo ao dela, sentiu o mundo à sua volta desaparecer. Ali, só existiam os dois. Pele contra pele, calor contra calor, silêncio quebrado apenas pelos murmúrios e ofegos que escapavam entre beijos e toques.
Ele pressionou os quadris contra os dela com firmeza, mas sem pressa. Queria saborear, não apenas tomar. O rosto de se encaixou na curva do pescoço dela por um instante, enquanto suas mãos subiam devagar pelas costas dela, percorrendo cada centímetro como se tentasse se lembrar do caminho que já havia trilhado uma vez.
— Você ainda é exatamente como eu lembrava… — ele murmurou, rouco, contra a pele úmida dela. — Mas, ao mesmo tempo, ainda mais.
soltou um suspiro baixo, quase um gemido contido, e passou os dedos molhados pelos cabelos dele, puxando-os levemente. Seus corpos se moviam com uma sintonia que beirava o sagrado. As mãos dela exploravam o peito e o abdômen dele com a mesma vontade, as unhas desenhando linhas pela pele quente, marcando sem machucar.
Ele beijava seus ombros, o colo, e voltou para os lábios dela com intensidade. O beijo não era mais contido — era inteiro. Com entrega, com memória, com saudade de algo que eles nunca admitiram ter sentido falta.
As mãos grandes e firmes de desceram a calcinha pequena que ela usava, até que ela estivesse aos pés de , no chão molhado e logo as calças de tiveram o mesmo destino.
a segurou pela cintura e a ergueu levemente, fazendo-a envolver as pernas em sua volta. As costas dela encontraram a parede fria do boxe outra vez, mas ela nem sentiu. O calor que vinha dele era suficiente para aquecer cada parte sua.
Com uma das mão ele se desfez da própria cueca com um movimento rápido. Os olhares se encontraram entre o beijo interrompido — olhos úmidos, intensos, cheios de perguntas que não precisavam ser respondidas agora. As palavras haviam sido substituídas por toques, por beijos úmidos e ritmados, por movimentos lentos e precisos.
Quando finalmente a penetrou, foi com cuidado, mas com desejo acumulado. Um encaixe que parecia inevitável. O corpo dela o recebeu com naturalidade, como se tivesse esperado por isso desde a primeira vez.
Os movimentos começaram lentos, quase coreografados pela água que ainda caía ao redor deles. Mas a intensidade cresceu com os beijos, com os gemidos abafados, com os nomes sussurrados como confissão.
segurava firme nos ombros dele, as pernas enlaçadas em sua cintura, sentindo cada impulso como uma batida dentro de si. O calor, o atrito, o desejo. Tudo os consumia.
E ali, debaixo do chuveiro, sob vapor e silêncio, não havia dúvidas.
Não era só sexo.
Era reencontro.
Era rendição.
E pela primeira vez desde que tudo começou… nenhum dos dois tentou fugir.
💨💨💨
O som da água ainda caía, mas agora parecia distante. As respirações pesadas aos poucos se acalmavam, e o vapor ao redor deles se misturava com a névoa que parecia habitar seus pensamentos.
mantinha o rosto encostado no ombro de , os braços ainda em volta de sua cintura como se não quisesse soltá-la. O corpo dela tremia levemente — não de frio, mas de tudo o que ainda pulsava sob a pele. Os olhos fechados, o coração descompassado, a mente tentando processar o que acabara de acontecer… e o que aquilo significava.
Ele a colocou de volta no chão com cuidado, sem dizer uma palavra. Os dedos ainda roçaram suavemente a pele da cintura dela antes de recuar. E então ficaram ali, por alguns segundos, lado a lado, ainda sob o chuveiro, sem se tocarem — mas conectados de um jeito que nenhuma palavra poderia explicar.
foi a primeira a se afastar.
Desligou a torneira, pegou a toalha, envolveu o corpo, e virou-se de costas para ele. Andou até o banco com passos silenciosos, quase apressados. Precisava de espaço. De ar. De silêncio. De tempo.
Se sentou e ficou ali por alguns instantes, sentindo a água escorrer pelos cabelos agora soltos. Olhava para o nada, o corpo coberto, mas ainda exposto por dentro. Tudo tinha sido tão intenso, tão inevitável, tão… certo. Mas a confusão que vinha depois era ainda maior do que o desejo que a consumira minutos antes.
saiu do boxe depois, também enrolado numa toalha. Não se aproximou, não insistiu. Apenas observou de longe, o peito subindo e descendo devagar, o olhar preso nela. Ele parecia querer dizer algo, mas segurou. Sabia que qualquer palavra agora poderia quebrar o que havia sido vivido ali dentro.
— … — ele murmurou, finalmente.
Ela ergueu os olhos para ele. E por um segundo, ele achou que ela fosse dizer algo. Mas ela apenas balançou a cabeça lentamente.
— Não agora. Por favor.
Foi um pedido sussurrado. Quase uma súplica.
respeitou. Apenas assentiu.
E então, virou-se em silêncio e caminhou até o vestiário masculino, deixando-a sozinha ali, envolta em vapor, água e um sentimento que começava a apertar o peito de um jeito novo.
Porque o corpo havia se rendido. Mas o coração… ainda não sabia se podia fazer o mesmo.
não voltou para o dormitório imediatamente. Depois de sair do vestiário, caminhou sem rumo pelo campus ainda molhado pela chuva fina. O ar fresco da noite fazia vapor sair da sua respiração, mas ele mal sentia o frio. O corpo ainda vibrava com o que tinham vivido, e a cabeça… bem, a cabeça estava longe de conseguir acompanhar.
Ele parou perto da pista de corrida, onde tantas vezes tinha se sentido invencível. Onde sempre soube seu lugar: o da frente, o que lidera, o que vence. Mas ali, sob a luz fraca dos refletores desligados, tudo parecia menos claro. Ele estava quieto. E dentro dele, tudo gritava.
Se sentou na arquibancada vazia, a toalha ainda pendurada no pescoço, os cabelos molhados, o peito nu. Apoiou os cotovelos nos joelhos e abaixou a cabeça.
“Não agora. Por favor.”
As palavras dela ainda ecoavam nos ouvidos dele. Não tinham sido duras. Não tinham sido frias. Tinham sido… reais. E foi isso que mais o desestabilizou.
Porque conhecia bem os jogos, as provocações, os olhares. Mas o que aconteceu naquele chuveiro não foi um jogo. Não foi mais uma noite. Foi algo que atravessou a superfície. Que furou a pele.
E pela primeira vez em muito tempo, ele não sabia o que fazer com aquilo.
Ele passou as mãos pelo rosto, frustração e desejo misturados. Queria entender o que ela pensava. Se ela sentia o mesmo. Se tinha sido só um alívio de tensão para ela. Se ela já estava se arrependendo — ou se estava, como ele, tentando fingir que não estava caindo.
Mas o problema era esse: ele já estava.
Não conseguia parar de pensar no jeito que ela reagia aos toques, na forma como o corpo dela se encaixava no dele, como se pertencessem um ao outro. No som do nome dele escapando dos lábios dela, como uma confissão.
E o que mais doía era não saber se ela sentia a mesma coisa agora.
Será que ela vai fugir de novo amanhã? Fingir que nada aconteceu?
Ele queria encará-la, exigir respostas, mas também… queria respeitá-la. Porque, no fundo, sabia que era muito mais do que uma conquista. E isso o assustava.
Porque com ela, tudo era diferente.
E diferente, para , era o tipo de desafio que ele ainda não sabia como vencer.
Ficou ali mais um tempo, em silêncio, até que a madrugada começou a empurrar a noite para longe. Ele se levantou devagar, pegou a toalha e caminhou até o alojamento, ainda sem saber se o que estava sentindo era o começo de algo novo… ou o tipo de confusão da qual talvez nunca mais conseguisse sair.
💨💨💨
Dois dias se passaram.
Dois dias sem se verem, sem se falarem, sem sequer trocarem olhares no campus. se manteve focada nas aulas, nos horários rígidos de treino solo, nas desculpas para não passar pelo ginásio nos mesmos horários que ele. E … se manteve em silêncio, mas presente. Observando de longe, controlando o ímpeto de procurá-la, de pressioná-la. Esperando.
E foi o treinador quem tratou de cortar o intervalo entre eles.
— Treino tático, amanhã à tarde. Só vocês dois — ele anunciou, com a naturalidade de quem não fazia ideia do que havia acontecido entre os dois — A seletiva se aproxima. Quero ver sintonia. Técnica. Confiança. E vocês são a minha aposta.
Foi como um desafio disfarçado de oportunidade. E nenhum dos dois podia recusar.
Na tarde seguinte, o ginásio estava vazio, silencioso, banhado pela luz morna do fim do dia entrando pelas janelas altas.
chegou primeiro, com o cabelo preso em um rabo de cavalo firme e a expressão controlada. Vestia roupas leves, corpo aquecido pela corrida leve que fizera antes. Mas por dentro, o frio era real. Sabia que ele viria. Sabia que estariam sozinhos. E o que acontecera entre eles… ainda estava sob sua pele.
Minutos depois, entrou.
Ele usava uma camiseta escura, justa o suficiente para denunciar cada músculo tenso, e o olhar direto como sempre — mas havia uma cautela nova ali. Uma contenção.
— Chegou cedo — ele disse, se aproximando da pista.
— Odeio atraso — respondeu, sem emoção.
— Eu odeio silêncio.
Ela desviou os olhos. Primeira provocação lançada. Mas o treinador ainda não havia chegado. E o tempo entre eles parecia preso num intervalo incômodo, onde o corpo se lembrava e a mente tentava negar.
— Vamos aquecer — ela sugeriu, mais para si mesma do que para ele.
Começaram a correr em volta da pista. No início, lado a lado, mas distantes. Os passos sincronizados como sempre, mas as respirações carregadas de tudo o que não havia sido dito.
Na terceira volta, ele quebrou o silêncio.
— Você vai continuar fingindo que aquilo não aconteceu?
Ela manteve o olhar à frente.
— Não estou fingindo. Só estou… guardando.
— Guardando o quê? O momento? Ou a vontade de repetir?
parou de correr. De súbito.
Virou-se para ele, ofegante. Mas não era só do exercício.
— Por que você tá fazendo isso?
— Porque eu tô ficando maluco — ele respondeu, aproximando-se um passo, mas sem tocá-la. — Porque desde aquele dia, eu não consigo pensar em mais nada. Porque foi você. Porque é você.
Ela mordeu o lábio inferior, tentando manter o controle, mas ele estava ali, tão perto, tão presente. O suor escorrendo pela têmpora dele, o peito subindo e descendo rápido, o olhar tão cru, tão real.
— A gente não pode se distrair agora — ela disse, mas a voz falhou um pouco no final.
— Já estamos distraídos — ele rebateu, baixando o tom. — A diferença é que eu parei de lutar contra isso.
O treinador ainda não havia chegado. E o silêncio no ginásio se encheu deles. Dos dois. Do nós que insistia em nascer mesmo sob a negação.
Ela deu um passo para trás, tentando respirar. Ele não a seguiu. Mas os olhos dele estavam nela como se segurassem.
— Vamos treinar — ela disse, voltando à posição inicial.
— Vamos — ele respondeu, com um sorriso de canto. — Mas saiba que esse treino vai ser mais difícil que qualquer corrida.
E ela soube que era verdade.
Porque correr, eles sabiam. Mas correr um do outro… estava ficando impossível.
O treino começou em silêncio, como um pacto mútuo para fingirem normalidade. Mas normalidade era um conceito distante demais para o que havia entre eles agora.
As instruções do treinador haviam sido claras: sincronização, respiração conjunta, passadas espelhadas. E era exatamente isso que não conseguiam fazer.
A cada nova sequência, um errava o tempo do outro. Ora ela acelerava, ora ele hesitava. As mãos se esbarravam, os olhares se cruzavam e, mesmo tentando se concentrar, o suor que escorria pelo corpo de e o som dos suspiros ofegantes de deixavam tudo mais quente do que deveria ser.
— De novo — o treinador mandava. — Melhor. Mais conexão.
E eles tentavam. Mas a conexão que tinham não era a que o treinador buscava.
Em determinado momento, posicionou-se atrás dela para um exercício de aceleração controlada. Quando os corpos se alinharam, quando as costas dela quase roçaram o peito dele… foi como acender um fósforo.
Ela virou o rosto levemente e o viu ali, tão perto, tão quente, tão certo.
— Concentração — ela sussurrou, como se fosse para si mesma.
— Tá difícil — ele respondeu, sem nem fingir.
E então ela disparou na frente, completando o circuito com raiva nos pés e desejo no peito.
O treino terminou pouco tempo depois, com o treinador satisfeito, mas alheio à verdadeira exaustão que os dois carregavam — e que nada tinha a ver com o físico.
foi a primeira a sair. O vestiário estava vazio, e o silêncio ali dentro parecia seguro. Largou a toalha no banco, tirou a roupa de treino lentamente, como quem tentava se despir também da tensão acumulada. Quando entrou no boxe, deixou a água quente escorrer pelos ombros, descendo pelas costas. Encostou-se na parede, os olhos fechados.
Mas não durou muito.
A porta se abriu. Ela nem precisou olhar para saber quem era.
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Ele não disse nada. Apenas entrou. Tirou a camiseta, a calça, a roupa íntima, e entrou com ela no chuveiro, como da primeira vez. Só que agora… era diferente.
Ela não se afastou. Nem falou. Apenas o olhou — e ele viu nos olhos dela que não precisava mais pedir permissão.
As mãos dele encontraram sua cintura com naturalidade, deslizando com firmeza pela curva dos quadris até as costas, como se a tocasse pela primeira vez, mas também como se já a conhecesse em detalhes. O corpo de encostou-se ao dele com fluidez, os seios nus pressionados contra o peito quente de , e o beijo veio como consequência inevitável — intenso, profundo, sem pressa.
A água caía sobre eles como cortina, abafando o mundo ao redor.
Ele a virou com delicadeza, colando-a contra a parede fria do boxe, e passou a boca por sua clavícula, descendo lentamente pelo pescoço, pelos ombros, como se estivesse gravando o gosto da pele dela na memória. Os dedos de se entrelaçaram nos cabelos dele, puxando de leve, conduzindo-o para os lábios outra vez.
Os corpos estavam encaixados, as respirações misturadas, e quando ele a penetrou, ela o recebeu com um suspiro rouco e o olhar fixo no dele.
Mas dessa vez, não era apenas urgência.
Era entrega.
a segurava com firmeza, as mãos em sua cintura guiando os movimentos com uma intensidade ritmada, mas também com cuidado. Os gemidos dela eram baixos, abafados pelo som da água e pelo som dos dois. A pele quente contra a parede fria, os quadris se encontrando no tempo exato. Os olhos nos olhos.
Ele sussurrou o nome dela uma, duas vezes — não como um chamado, mas como uma oração.
Ela envolveu os braços ao redor dele e apertou, como se pedisse para não deixá-la cair. E ele ficou. Ficou até o último segundo, até que os dois atingissem o ápice juntos, respirando com força, os corpos ainda grudados, a água escorrendo por entre os dois como se lavasse tudo — menos o sentimento.
Ficaram abraçados por alguns segundos longos, em silêncio. A cabeça dela encostada no ombro dele. A respiração de ambos finalmente desacelerando.
Dessa vez, ela não se afastou.
— … — ela disse, baixinho, como se testasse o peso do nome nos lábios.
Ele a olhou, passando os dedos molhados pelo rosto dela.
— Eu não sei o que isso é — ela continuou. — Mas eu… não quero mais fugir.
Ele sorriu, e foi um sorriso de alívio. Sincero.
— Então fica.
— Eu tô aqui.
E os dois souberam, naquele instante, que estavam em território novo.
Sem mais fingimento.
Sem mais desculpas.
Sem mais corridas.
Porque agora, pela primeira vez, estavam indo na mesma direção.
Juntos.
Eu nunca pensei que fosse pensar/falar isso do meu baby bread (que já tá um senhor brioche, né kkkk), mas nesse comecinho eu quis bater nele, chacoalhar, dizer barbaridades, MENINO, PARA DE SER ORGULHOSO. PQP.
Eu também fiquei só “tempo, é? Só não demora muito que a fila anda, moço”, MEU DEUS, O QUE EU ME TORNEI, O JEONGIN ERA MEU BEBÊ. ACHO QUE NÃO TAVA PRONTA PRA ELE DEIXAR DE SER BEBÊ E SE TORNAR HOMEM ;-;
Eu também quis dar uns tapas na Chaemin por fazer jogo com meu bb. OPASDPOAMSD
Mas pelo menos tudo terminou bem, com a graça de Deus. Apesar de tudo, só posso querer que meu bb seja feliz <3 POASNDOPASNDPOASD
AKSOAKSOKAOSOO eu ri tanto desse comentário Lelen, juro por Deus! Obrigada por sempre comentar <3