Entre varinhas e romance

  O dia nasceu ensolarado e era embalado por uma brisa bem fresquinha, um clima perfeito para a estadia de um final de semana em um sítio.

  Ou em uma mansão.

  Quando os amigos e funcionários de Matteo Biancardi receberam o seu convite para a sua festa de 35 anos, eles não imaginavam que o diretor da empresa de cosméticos Blossom alugaria um espaço gigantesco para tal comemoração, e aproveitaria a oportunidade de unir dois eventos em um só: seu aniversário e uma confraternização da firma. Os convidados não estranharam a ideia mirabolante do chefe, mas uma parte não sabia como agir com a primeira programação, principalmente por alguns não saberem muito bem como funcionava o universo do mundo bruxo que foi escolhido pelo aniversariante para ser o tema da festa. Todo o local estava decorado com a temática de Harry Potter, e Matteo estava devidamente caracterizado com sua capa e varinha, dando boas-vindas aos demais e agradecendo pela presença. O grupo de trinta pessoas estava espalhado pelo lugar, alguns juntos de seus amigos e outros sozinhos, já que nem todos trabalhavam no mesmo setor; mais ao fundo, afastados dos demais, estava o trio mais conhecidos da empresa, que viviam grudados pra cima e pra baixo — e que já foram alvos de várias fofocas “românticas”. Ashley, Christopher e atuavam na área de marketing, e por serem uma equipe pequena, acabavam sendo alvo de olhares curiosos por terem uma amizade bem forte, que teve o seu início assim que entraram na empresa. Os três entraram na fila do chapéu seletor — que nada mais era que um chapéu característico do filme — para descobrirem em qual “casa”, e consequentemente, em qual anexo do sítio ficariam, visto que Matteo queria uma verdadeira imersão no universo dos livros, e essa divisão também serviria para as gincanas e competições que teriam ao longo do dia. Todos estavam curiosos para saber em qual casa passariam o final de semana, e conforme a fila ia andando e os resultados eram anunciados em voz alta por Matteo, chegou a hora do trio, e foi o primeiro, sendo seguido de Christopher e Ashley.

  — Grifinória! — anunciou o chefe, feliz por ter visto a reação positiva do rapaz. — Agora, Christopher… sonserina! Ashley… sonserina também! E com vocês dois, fechamos mais uma casa! , venha descobrir a sua casa e…

   sorriu tristonho, mas tentou disfarçar ao ver os seus amigos festejarem que ficaram na mesma casa. Os dois pareciam verdadeiramente alegres e afastou os pensamentos que o atormentavam por um tempo, apesar das últimas fofocas serem todas voltadas aos outros dois e isso o incomodar mais do que gostaria.

  — É uma pena não ficarmos juntos, mas você ficou na casa que queria, ! — Chris passou o braço pelo ombro do amigo, caminhando com ele e Ashley para a mesa do buffet.

  — E é uma ótima oportunidade para conhecer novas pessoas, não acha? — Ashley sorriu e sentiu o seu coração errar uma batida. — A do setor de compras está na sua casa.

  — Ela parece ser bem legal, por mais que seja mais na dela. — Christopher tentou achar a colega com o olhar, no entanto, parecia que a maioria das pessoas haviam ido para os seus “dormitórios”.

  — Acho melhor guardarmos nossas bagagens, né? — coçou a nuca, evitando encarar os dois. — Daqui a pouco Matteo vai dar início às atividades, e definitivamente não perderei para os meus rivais!

  — Não pense que pegaremos leve com você só por ser o nosso melhor amigo, viu?

   se limitou a dar uma risadinha, ignorando completamente o fato de que a fala de Ashley o deixou ainda mais inquieto.

  — 100 pontos para Corvinal! Mas cuidado, os lufanos estão com tudo nessa partida!

   não podia negar que estava se divertindo. Mais da metade do dia havia passado e não teve um momento sequer que ele não tivesse aproveitado ao máximo, e felizmente, sua casa estava liderando as pontuações até então, o que o dava um fôlego a mais. Por mais que tenha ficado a maior parte do tempo distraído e focado nas atividades, tinha uma situação ou outra em que percebia o clima diferente entre os seus amigos, e cada vez mais o rapaz chegava à conclusão de que os dois estavam juntos, mesmo que não tivessem falado nada pra ele. Isso o chateava, no entanto, entendia que ambos não eram obrigados a falar sobre, porém, o que mais o incomodava era o fato de ter uma queda por Ashley desde o primeiro mês que começaram a trabalhar lá, mas só ter percebido recentemente, quando mais do que nunca os rumores sobre ela e Christopher terem aumentado. Ele suspirou, tendo a certeza de que a história de romance que havia criado em sua cabeça nunca se tornaria realidade.

  — , cuidado!

  A guerra de balões de água estava acirrada, e agora, era grifinória contra sonserina, então o grupo de quatorze pessoas estavam levando a disputa bem a sério. Quando foi trazido de volta à realidade e percebeu que Ashley tinha jogado um balão com toda a sua força em direção à , a sua primeira reação foi puxá-la para si e trocar de lugar com ela, sentindo o bolão estourar nas suas costas. Claro que esse ato não passaria despercebido por ninguém, e todos ali estavam boquiabertos e curiosos para saber o quão próximo os dois eram, no entanto, quando ia pedir desculpas para a mulher, a mesma segurou a mão dele, gritando para os adversários:

  — Se vocês acham que vai ficar por isso mesmo, estão enganados! — Dava pra sentir a competitividade vindo dela. — Ninguém acerta o meu par e sai imune!

   piscou algumas vezes um tanto atônito, mas não podia negar que ter alguém o defendendo daquele jeito era incrível. “Meu par” era algo que com certeza ficaria na cabeça dele durante o restante do dia, contudo, no momento ele precisava sair de campo para o jogo dar continuidade, e ao trocar olhares com a colega, ela sorriu pra si, fazendo achá-la linda.

  — Pode ficar tranquilo — disse ao pegar um balão d’água da bacia, calculando o seu ataque —, nós não vamos perder.

  — Ah… — o rapaz ainda estava meio perdido, entretanto, tratou de se recompor para conseguir torcer por . — Acaba com eles!

  — Não precisa dizer duas vezes!

  A partida continuou por mais vinte minutos, e apesar de estar apenas com mais um integrante da sua casa, deu o seu máximo e acertou cada um dos cinco membros restantes do outro time, levando o seu grupo a mais uma vitória. Todos foram para o meio do campo comemorar junto com a mulher, e não sabia se deveria ir ou não, ainda mais depois de ter agido impulsivamente e estar se sentindo um pouco envergonhado agora que o calor do momento passou, mas, apareceu na sua frente e esticou a mão, com um sorriso de orelha a orelha, provocando em si uma inquietação.

  — Bom trabalho!

  — Você também! — apertou a sua mão e retribuiu o sorriso. — Não sabia que a responsável pelas compras da empresa era a melhor acertadora de balões de água do mundo.

  — Quando se cresce jogando handebol e jogos do tipo, isso acaba se tornando moleza — riu, e logo reparou que os amigos de vinham na direção dele. — Seus amigos querem falar com você, então estou indo. Até mais tarde, !

   queria conversar por mais tempo com a outra, porém, antes que pudesse chamá-la novamente, Ashley e Chris entrelaçaram seus braços nos dele, o arrastando para alguma parte do sítio para falarem sobre a partida, e claro, sobre a “proteção” que o amigo deu à .

   encarou a paisagem pela janela, percebendo que o céu estava limpo e estrelado. Ela já estava pronta para o “baile” — que nada mais era que uma festa cheia de bebidas e comidas para os convidados encherem a cara —, e até havia recebido um convite aqui e ali, mas ninguém era tão interessante assim para a mulher aceitar. Desde quando soube da festa, ficou animada por causa do tema, no entanto, ao saber que o trio do seu trabalho ia, sua animação aumentou em 100%. A mulher sempre quis fazer amizades com eles, e não podia negar que tinha uma quedinha por um integrante, então, tudo parecia estar conspirando para que ela conseguisse se aproximar deles. Contudo, nem tudo saiu como planejado, e a única interação que surgiu foi com durante os jogos, já que nas pausas das outras atividades ele sempre estava com o olhar distante e a cabeça nas nuvens.

   suspirou e saiu do quarto, indo para onde a festa estava acontecendo. A maioria das pessoas já festejava na pista de dança, e o aniversariante, como sempre, estava a caráter, não abrindo mão da sua varinha e da sua capa. procurou uma certa pessoa com o olhar, e quando achou, desejou não ter achado; não que não soubesse da situação, mas ter a certeza de que os boatos eram verdadeiros a deixava levemente chateada, por mais que não seja algo que a abalou tanto quanto o seu colega de equipe, que estava sentado mais afastado, quase que escondido.

  Quando encontrou um pouco cabisbaixo e com o seu copo vazio, agradeceu a si mesma por ter pegado uma bebida a mais, e assim que o ofereceu, viu que a expressão do rapaz deu uma melhorada.

  — Dizem que uma cerveja amanteigada pode ser a cura pro coração partido. — Se sentou ao lado dele, o olhando.

  — Então não estou só nesse quesito? — descansou as costas no banco, bebericando a bebida. — Obrigado.

  — Óbvio que não, você é o meu par. Nada mais justo que compartilharmos nossa felicidade e tristeza, não acha?

  “Meu par”. Matteo, além de dividir as pessoas em quatro casas, as dividiu em duplas e trios para certas atividades, o que ocasionou em e serem parceiros ao longo do dia.

  — Bom ponto. — Sorriu pequeno ao olhá-la novamente. — Quem partiu o seu coração?

  — O Chris. — Deu de ombros. — E por ironia do destino, a Ashley quebrou o seu.

  — Tava tão na cara assim? — suspirou pesadamente com a confirmação da colega. — Enfim, faz parte. Eu já devia saber que ela gostava dele.

  — Pois é, mas pensa pelo lado positivo: por causa deles e de Matteo, acabamos nos aproximando. Nada como um sorteio duvidoso. — O chefe simplesmente fez a divisão das casas com vários pedacinhos de papel que continham os nomes dos convidados, e toda vez que alguém colocava o chapéu seletor, ele tirava um papelzinho da sua bolsa — e um crush no mesmo casal.

  — Realmente. — não conteve a risada. — Gostei bastante de termos passado o dia juntos, por mais que na maioria do tempo eu estivesse distante. Você é incrível dentro e fora do campo. Podemos não ter muito contato na empresa, entretanto, sei que o seu trabalho é fundamental.

  — Obrigada. — se virou um pouco para olhar melhor, e não havia dúvidas do quão bonito o rapaz é.

  — Inclusive, você está linda. — foi pega de surpresa, ainda mais por estar pensando a mesma coisa sobre ele.

  — Isso eu sei. — Sorriu convencida, escutando a risadinha do colega. — Você não acha que é um desperdício ficarmos sofrendo por duas pessoas que claramente estão se divertindo?

  — Sim. — também se virou, aguardando que a mulher continuasse.

  — Sabia que tem uma outra forma de curar um coração partido?

  — É? — não ousou a quebrar o contato visual, principalmente ao se aproximar um tanto do rosto de . — Qual?

  — É um feitiço — levou o seu olhar brevemente para a boca do rapaz, voltando a encará-lo —, mas, eu não vou te contar tão facilmente.

  — Tudo bem, acho que já sei qual é.

   segurou o rosto de e o trouxe para si, diminuindo qualquer rastro de distância que ainda existisse entre os dois. O beijo se iniciou calmamente, mas logo suas línguas se entrelaçavam, aprofundando o ato como se eles precisassem daquilo para viver; eles haviam perdido a noção de tempo e espaço, e a única coisa que importava era estarem nos braços um do outro, se deliciando do que tinham a oferecer naquele momento. Ao se separarem, ambos caíram na risada, e não demorou muito para voltarem a se beijar, aproveitando cada segundo da ficada antes de retornarem para a festa.

  Entre varinhas e um possível romance, e estavam felizes e extremamente satisfeitos com a oportunidade que seu chefe havia dado, e assim como a noite é bem longa, os colegas continuariam a estudar melhor os efeitos do tal feitiço, para compreenderem perfeitamente o efeito que ele causava nas pessoas.