Entre Laços e Patas
Capítulo 1
— Eu acredito que ele tenha dono Blake! Não podemos simplesmente levá-lo, podemos?
A pergunta de null havia sido feita mais para ela mesma do que para o próprio filho.
Eles estavam no pequeno parque perto de casa, onde costumavam passear depois do jantar. A noite estava fresca, e poucas pessoas ainda caminhavam pelas trilhas mal iluminadas. Foi Blake quem notou primeiro — um cachorro encolhido próximo a um banco de madeira, tremendo levemente. Seu pelo estava sujo, e uma das patas dianteiras parecia machucada, pois ele a mantinha levantada, evitando apoiá-la no chão.
Os olhos castanhos do animal brilhavam sob a luz fraca dos postes, demonstrando um misto de medo e incerteza. Ele se encolheu ainda mais quando null e Blake se aproximaram, como se esperasse que fossem enxotá-lo.
— Mamãe, ele está machucado… — Blake murmurou, a voz carregada de preocupação.
null suspirou, observando a situação. Não havia ninguém por perto, nenhuma coleira ou identificação visível. Apenas um cachorro assustado e vulnerável, no meio da noite.
Ela sabia que a coisa certa a fazer seria procurar pelo dono, mas também não podia simplesmente deixá-lo ali, ferido.
— Por favor mamãe, vamos ficar com ele! — a voz de Blake ficou mais estridente enquanto ele batia os pés delicadamente no chão e juntava as mãos em súplica.
— Você vai assustá-lo ainda mais Blake, calma! Vou ligar para a tia null e pedir ajuda. Ninguém melhor do que ela para nos ajudar com um cãozinho ferido.
— Podemos levá-lo? Eu já vou fazer seis anos e nunca tive um cachorrinho, todos da minha idade tem!
null suspirou pesadamente, sentindo o peso da decisão recaindo sobre seus ombros. Seus olhos voltaram para o cachorro encolhido, ainda hesitante, como se não soubesse se confiava neles ou não. A pata ferida tremia levemente, e seu focinho úmido se erguia apenas o suficiente para estudá-los com cautela.
Ela sabia que Blake não desistiria fácil. Desde que começara a entender as coisas, o menino falava sobre ter um cachorro, mas null sempre adiava a ideia, receosa da responsabilidade que viria junto. Agora, ali estava aquele animal indefeso, praticamente colocado no caminho deles.
— Vamos ver o que a tia null diz primeiro, tá bom? — disse, mantendo a voz calma, mas já sentindo que sua decisão estava prestes a mudar.
Blake sorriu de canto, como se já soubesse que sua mãe acabaria cedendo.
No dia seguinte…
— A patinha dele está com uma luxação, bem aqui! — null apontou para o local no raio-x, indicando a área afetada com o dedo. — Vamos colocar uma tala para imobilizar e ajudar na recuperação. Nada muito sério, mas ele precisa de repouso e alguns anti-inflamatórios.
null assentiu, observando atentamente a tela. Na noite anterior, quando encontraram o cachorro no parque, null já havia sido a primeira pessoa em quem pensou. Mas como já era tarde, sua amiga não estava de plantão no consultório, o que significava que a única opção seria esperar até a manhã seguinte para levá-lo.
E foi exatamente isso que fizeram. Sem coragem de deixar o animal sozinho e ferido na rua, null e Blake o levaram para casa, preparando um canto improvisado com uma caixa e cobertores na sala. Blake mal conseguira dormir. A cada hora, ele acordava para verificar se o cachorro estava bem, acariciava sua cabeça e sussurrava palavras tranquilizadoras. A conexão entre os dois parecia ter sido instantânea, e null já sabia que não seria fácil separar seu filho daquele cãozinho depois de tudo aquilo.
Agora, ali estava ela, no consultório veterinário de null, sentindo que a situação havia ficado ainda mais complicada.
— Ele me parece muito bem cuidado null, acredito que se perdeu. O que eu faço agora? O Blake já acha que o cachorrinho é dele.
— Conhecendo o meu afilhado como conheço, você vai ter que ficar com o cachorro, null. — A risada gostosa de null preencheu o consultório.
null encarou o animal sentado a seu lado. Seus olhos grandes e expressivos, de um castanho profundo, brilhavam sob a luz do consultório, carregados de uma mistura de doçura e incerteza. Havia algo de esperançoso naquele olhar, como se ele estivesse tentando entender seu destino, esperando alguma garantia de que estaria seguro dali em diante.
O rabo, antes imóvel e hesitante, agora balançava suavemente, como se começasse a se sentir mais confortável na presença dela. Mesmo machucado, o cachorro inclinou levemente a cabeça, observando-a com atenção, como se já tivesse escolhido null como sua nova família — mesmo que ela ainda não tivesse certeza disso.
— Consultas veterinárias de graça pro resto da vida dele, eu garanto. Posso te ajudar com muitas coisas, amiga, e acho que tá na hora mesmo do Blake ter um cachorrinho, toda criança precisa amiga.
— Mas e se ele tiver dono amiga? O dono pode estar sofrendo sem saber onde ele está…
null balançou a cabeça, desviando os olhos do cachorrinho e encarando a amiga.
— E se ele não tiver, amiga? E se isso for, sei lá, o destino?
null suspirou alto, sentindo o peso da decisão se acumular em seu peito. Ela queria fazer a coisa certa, mas também não podia ignorar o olhar brilhante de Blake na noite anterior, a empolgação genuína de finalmente ter um amigo de quatro patas.
Seu filho já havia se apegado ao cachorro, e, para ser sincera, null também começava a sentir um estranho senso de proteção pelo animal. Ele parecia perdido, assim como ela às vezes se sentia, e talvez null tivesse razão. Talvez aquilo fosse o destino.
Passou a mão pelos cabelos, ainda relutante, mas quando voltou a olhar para o cachorro, viu que ele agora repousava a cabeça em sua perna, soltando um pequeno suspiro cansado, como se já tivesse encontrado seu lar.
— Tá bom… — murmurou, vencida. — Eu fico com ele… pelo Blake.
null sorriu vitoriosa, e o cachorrinho, como se entendesse suas palavras, balançou o rabo com mais entusiasmo.
null segurava o celular entre as mãos, os lábios pressionados em uma linha fina enquanto assistia ao vídeo mais uma vez. Na tela, sua própria imagem piscava, a voz carregada de preocupação:
“Oi, pessoal. Esse aqui é o Bentley, meu cachorro. Ele desapareceu ontem à noite, e estou desesperado para encontrá-lo. Se alguém tiver qualquer informação, por favor, entrem em contato. Ele é muito dócil e deve estar assustado. Compartilhem para que possamos trazê-lo para casa o mais rápido possível. Obrigado.”
Ele pausou o vídeo, respirando fundo.
— Não sei, null… — murmurou, passando a mão pelos cabelos. — Será que parece sincero o bastante? Não quero que soe como algo forçado, só quero que ele volte logo.
null, sentado à sua frente com o laptop equilibrado no colo, bufou, impaciente. — Tá ótimo, null. Você está sendo natural, e é isso que importa. Quanto mais rápido postarmos, maiores as chances de encontrarmos o Bentley.
null ainda hesitou por um segundo, mas, no fundo, sabia que null estava certo. Ele precisava fazer algo. Inspirou fundo, clicou no botão de compartilhamento e, em poucos segundos, o vídeo estava no ar.
Agora, só restava torcer para que alguém o visse — e que Bentley estivesse bem.
— Eu vou sair com mais alguns membros da equipe para procurar por ele perto da sua casa enquanto você se concentra no treino. Preciso que você dê o seu máximo nesses treinos null, estamos há algumas semanas da semifinal do campeonato e preciso de você cem por cento, entende?
null mesmo com os olhos cheios de água assentiu para o empresário e se levantou, pronto para guardar o aparelho dentro do armário e seguir para o primeiro treino do dia.
Ele guardou o celular no armário, fechando a porta com um suspiro pesado. Ele estava abalado, a preocupação com Bentley ainda apertando seu peito como um nó impossível de desfazer, mas não podia se deixar levar por isso agora. null estava certo — ele precisava se concentrar no treino.
Afinal, ele não era qualquer jogador. Aos 20 anos, null era a principal estrela do Chicago Cubs, o grande nome do time, aquele em quem todos depositavam suas esperanças. A pressão vinha de todos os lados — dos treinadores, dos torcedores, da mídia esportiva — e com a semifinal do campeonato se aproximando, cada erro seu seria amplificado, cada deslize seria questionado.
Mas ele não podia errar.
Fechou os olhos por um segundo, buscando clareza. Bentley ainda estava desaparecido, mas ele não podia deixar isso afetar seu desempenho. Precisava dar o seu máximo, como sempre. Inspirou fundo, ajustou os ombros e seguiu para o campo, determinado a se manter firme — pelo time, pelos fãs, por si mesmo.
Seguiu para o campo depois de receber alguns tapinhas de null nas costas.
— Prometo te manter informado das buscas e da repercussão do vídeo, qualquer notícia você será o primeiro a saber.
— Obrigada null.
Os dois se despediram e null se juntou ao treinador e ao restante do time.
Assim que null se aproximou do campo, o treinador já o aguardava de braços cruzados, a expressão séria, mas com um brilho compreensivo no olhar.
— Sei que sua cabeça deve estar a mil agora, null — começou, pousando uma mão firme em seu ombro. — Mas preciso que você se concentre aqui. Sei o quanto esse cachorro significa para você, e null e a equipe estão fazendo tudo o que podem para encontrá-lo. Agora, seu trabalho é treinar. Manter o foco.
null assentiu, engolindo em seco.
— Eu sei, coach. Vou dar o meu melhor.
— É só disso que precisamos. Você tem talento, tem disciplina, mas a parte mental é tão importante quanto a física. Bloqueie o que puder e jogue como o null que todos conhecemos.
O jovem assentiu mais uma vez, sentindo um pouco do peso diminuir ao ouvir aquelas palavras. Ele respirou fundo, pronto para se aquecer, quando duas figuras familiares se aproximaram, um de cada lado, empurrando-o de leve pelos ombros.
— E aí, estrela? — null sorriu, tentando aliviar o clima. — Tá pronto pra carregar o time de novo?
— Se ele não estiver, estamos ferrados — null completou, cruzando os braços e fingindo preocupação.
null riu pelo nariz, balançando a cabeça.
— Valeu pelo apoio, seus idiotas.
null sorriu, mas logo ficou mais sério, apertando o ombro do amigo.
— Ei, nós sabemos que você tá preocupado, mas você não tá sozinho nessa. Vamos encontrar o Bentley. Enquanto isso, só faz o que você faz de melhor.
null assentiu ao lado, concordando.
— E se precisar de um reforço emocional, podemos organizar uma vaquinha pra comprar outro cachorro igualzinho. Ou roubamos a Layla do null e damos para você.
null franziu a testa, e null deu um tapa na cabeça de null.
— Cara, você é péssimo com palavras de conforto.
— Eu tô tentando!
null soltou uma risada, sentindo-se um pouco mais leve. Ainda doía, a incerteza sobre Bentley ainda o corroía, mas ele sabia que podia contar com seu time — tanto dentro quanto fora do campo.
E isso era o suficiente para ele seguir em frente naquele momento.
null saiu da farmácia com a sacola de remédios em mãos e olhou para o banco do passageiro, onde o cachorrinho, que ela deixaria Blake escolher o nome, estava aninhado em uma manta macia. Ele a observava com aqueles olhos expressivos e atentos, como se já começasse a confiar nela.
— Parece que agora somos sua família, pelo menos por enquanto — murmurou, sorrindo de leve antes de dar partida no carro e dirigir para casa.
Por sorte, naquela semana, null poderia trabalhar de casa. Como designer gráfica freelancer, ela já estava acostumada a equilibrar prazos e projetos enquanto administrava a rotina com Blake. Mas agora teria um novo desafio: um cachorro de porte médio, ligeiramente manhoso e com uma pata machucada.
Assim que chegou em casa, ajeitou um cantinho confortável na sala para ele, com uma caminha improvisada e uma tigela de água ao lado. Depois de garantir que ele estava bem acomodado, pegou seu notebook e se sentou à mesa para trabalhar.
Entre a escolha de paletas de cores e ajustes em layouts, seus olhos sempre voltavam para o cachorro. Ele parecia mais relaxado agora, embora ainda olhasse ao redor com um certo receio.
null suspirou, apoiando o queixo na mão.
“Blake vai ficar tão feliz…”
Já conseguia imaginar o filho entrando pela porta depois da escola, os olhos brilhando ao ver que o cachorrinho ainda estava ali, oficialmente parte da casa.
Ela sabia que deveria procurar o dono do animal — e faria isso. Mas, por ora, não havia como negar que aquele pequeno acidente do destino estava enchendo sua casa de vida de uma maneira inesperada.
Enquanto null trabalhava, o cãozinho continuava a se adaptar à nova rotina. A cada vez que ela se levantava da mesa para pegar uma xícara de café ou ajeitar os arquivos, ele a seguia com os olhos, observando seus movimentos de perto. Por vezes, ela ouvia um pequeno latido, mas ao se virar, ele estava apenas sentado ali, com a cabeça inclinada para o lado, como se perguntasse se ele tinha feito algo errado.
Ela riu sozinha várias vezes. Nunca imaginou que se tornaria uma “mãe de cachorro” tão rapidamente. O mais curioso era como o cãozinho parecia já fazer parte da casa, como se tivesse sempre estado ali, mesmo com a pata machucada e os medos iniciais.
A tarde passou lentamente entre as tarefas de design e os pequenos intervalos que ela dava para cuidar dele — oferecer um pouco de ração, brincar com ele por alguns minutos, ou apenas acariciar sua cabeça, sempre buscando deixá-lo mais tranquilo. Cada momento parecia reforçar a ligação que estava nascendo entre eles.
Por volta das três da tarde, null olhou pela janela e viu que o sol começava a se pôr. Era quase hora de ir buscar Blake. Ela se levantou, fechando o laptop e se dirigindo para onde Bentley estava deitado no sofá.
— Vamos, companheiro — ela murmurou, pegando a coleira que havia ganhado de null — Agora é hora de buscar seu melhor amigo.
Ela colocou a coleira nele, que, para sua surpresa, não resistiu, apenas olhou para ela com a cauda balançando. Ele ainda estava aprendendo a confiar nela, mas já demonstrava que estava começando a se sentir em casa.
null pegou sua bolsa e, antes de sair, olhou mais uma vez para o cachorrinho.
— Daqui a pouco, Blake vai te ver e vai ficar tão feliz… Espero que você tenha o mesmo carinho por ele, ok?
Com isso, ela fechou a porta atrás de si, levando o cãozinho para o carro e indo em direção à escola de Blake, já imaginando a reação do filho ao ver o novo amigo esperando por ele.
Quando null estacionou o carro em frente à escola, Blake estava esperando na porta, com a mochila pendurada nas costas e um sorriso largo no rosto. Ao ver o cachorrinho no banco do passageiro, seu olhar imediatamente se iluminou.
— Mãe! Você trouxe ele! — Blake exclamou, pulando quase de forma automática, seus olhos fixos no cãozinho que estava na coleira.
null abriu a porta do carro e, com cuidado, segurou o pequeno Bentley. Ele estava curioso e agitado, mas se comportava bem na presença de Blake, como se já tivesse se acostumado à ideia de estar com ele.
— Claro que sim, filho — respondeu null, sorrindo enquanto via o brilho nos olhos de Blake. — Ele vai ficar com a gente por enquanto.
Blake imediatamente se ajoelhou no chão, aproximando-se de Bentley com todo o carinho que podia oferecer. O cachorrinho, apesar da pata machucada, parecia confortável com o contato e até abanou a cauda, se aproximando de Blake.
— Vamos chamá-lo de… “Rocky”! — Blake anunciou com empolgação, olhando para null como se fosse a escolha mais óbvia do mundo.
null olhou para ele com um sorriso cúmplice.
— Rocky? Por que Rocky?
Blake fez uma cara de quem estava explicando algo muito simples.
— Porque ele é forte, como uma rocha! E ele vai ser o meu melhor amigo. O que acha?
null, tocada pela determinação do filho, assentiu com um sorriso carinhoso.
— Acho que “Rocky” é um ótimo nome, filho. Ele vai adorar.
Blake se levantou, pegou a coleira com cuidado e começou a andar pela calçada com o cachorrinho, já visivelmente mais tranquilo, como se soubesse que ali era seu novo lar.
— A gente vai brincar muito, Rocky! Vai ser o melhor amigo que eu sempre quis! — Blake falava com um tom de voz doce, como se estivesse fazendo uma promessa para o cãozinho.
null observava a cena, sentindo um calor no peito. Era claro que o vínculo entre os dois estava começando a se formar. E por mais que o futuro ainda fosse incerto, especialmente com a dúvida sobre o verdadeiro dono de Rocky, ela não podia negar que ver Blake tão feliz com a companhia do cachorrinho aquecia seu coração.
— Vamos, Rocky! — Blake continuou animado, com a voz cheia de entusiasmo.
E assim, com o nome escolhido e o coração cheio de esperança, os dois seguiram para casa, com o pequeno Rocky trocando olhares curiosos e cheios de confiança com Blake, como se já soubesse que a nova família era a sua.
Continua
Capítulo 1
— Eu acredito que ele tenha dono Blake! Não podemos simplesmente levá-lo, podemos?
A pergunta de null havia sido feita mais para ela mesma do que para o próprio filho.
Eles estavam no pequeno parque perto de casa, onde costumavam passear depois do jantar. A noite estava fresca, e poucas pessoas ainda caminhavam pelas trilhas mal iluminadas. Foi Blake quem notou primeiro — um cachorro encolhido próximo a um banco de madeira, tremendo levemente. Seu pelo estava sujo, e uma das patas dianteiras parecia machucada, pois ele a mantinha levantada, evitando apoiá-la no chão.
Os olhos castanhos do animal brilhavam sob a luz fraca dos postes, demonstrando um misto de medo e incerteza. Ele se encolheu ainda mais quando null e Blake se aproximaram, como se esperasse que fossem enxotá-lo.
— Mamãe, ele está machucado… — Blake murmurou, a voz carregada de preocupação.
null suspirou, observando a situação. Não havia ninguém por perto, nenhuma coleira ou identificação visível. Apenas um cachorro assustado e vulnerável, no meio da noite.
Ela sabia que a coisa certa a fazer seria procurar pelo dono, mas também não podia simplesmente deixá-lo ali, ferido.
— Por favor mamãe, vamos ficar com ele! — a voz de Blake ficou mais estridente enquanto ele batia os pés delicadamente no chão e juntava as mãos em súplica.
— Você vai assustá-lo ainda mais Blake, calma! Vou ligar para a tia null e pedir ajuda. Ninguém melhor do que ela para nos ajudar com um cãozinho ferido.
— Podemos levá-lo? Eu já vou fazer seis anos e nunca tive um cachorrinho, todos da minha idade tem!
null suspirou pesadamente, sentindo o peso da decisão recaindo sobre seus ombros. Seus olhos voltaram para o cachorro encolhido, ainda hesitante, como se não soubesse se confiava neles ou não. A pata ferida tremia levemente, e seu focinho úmido se erguia apenas o suficiente para estudá-los com cautela.
Ela sabia que Blake não desistiria fácil. Desde que começara a entender as coisas, o menino falava sobre ter um cachorro, mas null sempre adiava a ideia, receosa da responsabilidade que viria junto. Agora, ali estava aquele animal indefeso, praticamente colocado no caminho deles.
— Vamos ver o que a tia null diz primeiro, tá bom? — disse, mantendo a voz calma, mas já sentindo que sua decisão estava prestes a mudar.
Blake sorriu de canto, como se já soubesse que sua mãe acabaria cedendo.
No dia seguinte…
— A patinha dele está com uma luxação, bem aqui! — null apontou para o local no raio-x, indicando a área afetada com o dedo. — Vamos colocar uma tala para imobilizar e ajudar na recuperação. Nada muito sério, mas ele precisa de repouso e alguns anti-inflamatórios.
null assentiu, observando atentamente a tela. Na noite anterior, quando encontraram o cachorro no parque, null já havia sido a primeira pessoa em quem pensou. Mas como já era tarde, sua amiga não estava de plantão no consultório, o que significava que a única opção seria esperar até a manhã seguinte para levá-lo.
E foi exatamente isso que fizeram. Sem coragem de deixar o animal sozinho e ferido na rua, null e Blake o levaram para casa, preparando um canto improvisado com uma caixa e cobertores na sala. Blake mal conseguira dormir. A cada hora, ele acordava para verificar se o cachorro estava bem, acariciava sua cabeça e sussurrava palavras tranquilizadoras. A conexão entre os dois parecia ter sido instantânea, e null já sabia que não seria fácil separar seu filho daquele cãozinho depois de tudo aquilo.
Agora, ali estava ela, no consultório veterinário de null, sentindo que a situação havia ficado ainda mais complicada.
— Ele me parece muito bem cuidado null, acredito que se perdeu. O que eu faço agora? O Blake já acha que o cachorrinho é dele.
— Conhecendo o meu afilhado como conheço, você vai ter que ficar com o cachorro, null. — A risada gostosa de null preencheu o consultório.
null encarou o animal sentado a seu lado. Seus olhos grandes e expressivos, de um castanho profundo, brilhavam sob a luz do consultório, carregados de uma mistura de doçura e incerteza. Havia algo de esperançoso naquele olhar, como se ele estivesse tentando entender seu destino, esperando alguma garantia de que estaria seguro dali em diante.
O rabo, antes imóvel e hesitante, agora balançava suavemente, como se começasse a se sentir mais confortável na presença dela. Mesmo machucado, o cachorro inclinou levemente a cabeça, observando-a com atenção, como se já tivesse escolhido null como sua nova família — mesmo que ela ainda não tivesse certeza disso.
— Consultas veterinárias de graça pro resto da vida dele, eu garanto. Posso te ajudar com muitas coisas, amiga, e acho que tá na hora mesmo do Blake ter um cachorrinho, toda criança precisa amiga.
— Mas e se ele tiver dono amiga? O dono pode estar sofrendo sem saber onde ele está…
null balançou a cabeça, desviando os olhos do cachorrinho e encarando a amiga.
— E se ele não tiver, amiga? E se isso for, sei lá, o destino?
null suspirou alto, sentindo o peso da decisão se acumular em seu peito. Ela queria fazer a coisa certa, mas também não podia ignorar o olhar brilhante de Blake na noite anterior, a empolgação genuína de finalmente ter um amigo de quatro patas.
Seu filho já havia se apegado ao cachorro, e, para ser sincera, null também começava a sentir um estranho senso de proteção pelo animal. Ele parecia perdido, assim como ela às vezes se sentia, e talvez null tivesse razão. Talvez aquilo fosse o destino.
Passou a mão pelos cabelos, ainda relutante, mas quando voltou a olhar para o cachorro, viu que ele agora repousava a cabeça em sua perna, soltando um pequeno suspiro cansado, como se já tivesse encontrado seu lar.
— Tá bom… — murmurou, vencida. — Eu fico com ele… pelo Blake.
null sorriu vitoriosa, e o cachorrinho, como se entendesse suas palavras, balançou o rabo com mais entusiasmo.
null segurava o celular entre as mãos, os lábios pressionados em uma linha fina enquanto assistia ao vídeo mais uma vez. Na tela, sua própria imagem piscava, a voz carregada de preocupação:
“Oi, pessoal. Esse aqui é o Bentley, meu cachorro. Ele desapareceu ontem à noite, e estou desesperado para encontrá-lo. Se alguém tiver qualquer informação, por favor, entrem em contato. Ele é muito dócil e deve estar assustado. Compartilhem para que possamos trazê-lo para casa o mais rápido possível. Obrigado.”
Ele pausou o vídeo, respirando fundo.
— Não sei, null… — murmurou, passando a mão pelos cabelos. — Será que parece sincero o bastante? Não quero que soe como algo forçado, só quero que ele volte logo.
null, sentado à sua frente com o laptop equilibrado no colo, bufou, impaciente. — Tá ótimo, null. Você está sendo natural, e é isso que importa. Quanto mais rápido postarmos, maiores as chances de encontrarmos o Bentley.
null ainda hesitou por um segundo, mas, no fundo, sabia que null estava certo. Ele precisava fazer algo. Inspirou fundo, clicou no botão de compartilhamento e, em poucos segundos, o vídeo estava no ar.
Agora, só restava torcer para que alguém o visse — e que Bentley estivesse bem.
— Eu vou sair com mais alguns membros da equipe para procurar por ele perto da sua casa enquanto você se concentra no treino. Preciso que você dê o seu máximo nesses treinos null, estamos há algumas semanas da semifinal do campeonato e preciso de você cem por cento, entende?
null mesmo com os olhos cheios de água assentiu para o empresário e se levantou, pronto para guardar o aparelho dentro do armário e seguir para o primeiro treino do dia.
Ele guardou o celular no armário, fechando a porta com um suspiro pesado. Ele estava abalado, a preocupação com Bentley ainda apertando seu peito como um nó impossível de desfazer, mas não podia se deixar levar por isso agora. null estava certo — ele precisava se concentrar no treino.
Afinal, ele não era qualquer jogador. Aos 20 anos, null era a principal estrela do Chicago Cubs, o grande nome do time, aquele em quem todos depositavam suas esperanças. A pressão vinha de todos os lados — dos treinadores, dos torcedores, da mídia esportiva — e com a semifinal do campeonato se aproximando, cada erro seu seria amplificado, cada deslize seria questionado.
Mas ele não podia errar.
Fechou os olhos por um segundo, buscando clareza. Bentley ainda estava desaparecido, mas ele não podia deixar isso afetar seu desempenho. Precisava dar o seu máximo, como sempre. Inspirou fundo, ajustou os ombros e seguiu para o campo, determinado a se manter firme — pelo time, pelos fãs, por si mesmo.
Seguiu para o campo depois de receber alguns tapinhas de null nas costas.
— Prometo te manter informado das buscas e da repercussão do vídeo, qualquer notícia você será o primeiro a saber.
— Obrigada null.
Os dois se despediram e null se juntou ao treinador e ao restante do time.
Assim que null se aproximou do campo, o treinador já o aguardava de braços cruzados, a expressão séria, mas com um brilho compreensivo no olhar.
— Sei que sua cabeça deve estar a mil agora, null — começou, pousando uma mão firme em seu ombro. — Mas preciso que você se concentre aqui. Sei o quanto esse cachorro significa para você, e null e a equipe estão fazendo tudo o que podem para encontrá-lo. Agora, seu trabalho é treinar. Manter o foco.
null assentiu, engolindo em seco.
— Eu sei, coach. Vou dar o meu melhor.
— É só disso que precisamos. Você tem talento, tem disciplina, mas a parte mental é tão importante quanto a física. Bloqueie o que puder e jogue como o null que todos conhecemos.
O jovem assentiu mais uma vez, sentindo um pouco do peso diminuir ao ouvir aquelas palavras. Ele respirou fundo, pronto para se aquecer, quando duas figuras familiares se aproximaram, um de cada lado, empurrando-o de leve pelos ombros.
— E aí, estrela? — null sorriu, tentando aliviar o clima. — Tá pronto pra carregar o time de novo?
— Se ele não estiver, estamos ferrados — null completou, cruzando os braços e fingindo preocupação.
null riu pelo nariz, balançando a cabeça.
— Valeu pelo apoio, seus idiotas.
null sorriu, mas logo ficou mais sério, apertando o ombro do amigo.
— Ei, nós sabemos que você tá preocupado, mas você não tá sozinho nessa. Vamos encontrar o Bentley. Enquanto isso, só faz o que você faz de melhor.
null assentiu ao lado, concordando.
— E se precisar de um reforço emocional, podemos organizar uma vaquinha pra comprar outro cachorro igualzinho. Ou roubamos a Layla do null e damos para você.
null franziu a testa, e null deu um tapa na cabeça de null.
— Cara, você é péssimo com palavras de conforto.
— Eu tô tentando!
null soltou uma risada, sentindo-se um pouco mais leve. Ainda doía, a incerteza sobre Bentley ainda o corroía, mas ele sabia que podia contar com seu time — tanto dentro quanto fora do campo.
E isso era o suficiente para ele seguir em frente naquele momento.
null saiu da farmácia com a sacola de remédios em mãos e olhou para o banco do passageiro, onde o cachorrinho, que ela deixaria Blake escolher o nome, estava aninhado em uma manta macia. Ele a observava com aqueles olhos expressivos e atentos, como se já começasse a confiar nela.
— Parece que agora somos sua família, pelo menos por enquanto — murmurou, sorrindo de leve antes de dar partida no carro e dirigir para casa.
Por sorte, naquela semana, null poderia trabalhar de casa. Como designer gráfica freelancer, ela já estava acostumada a equilibrar prazos e projetos enquanto administrava a rotina com Blake. Mas agora teria um novo desafio: um cachorro de porte médio, ligeiramente manhoso e com uma pata machucada.
Assim que chegou em casa, ajeitou um cantinho confortável na sala para ele, com uma caminha improvisada e uma tigela de água ao lado. Depois de garantir que ele estava bem acomodado, pegou seu notebook e se sentou à mesa para trabalhar.
Entre a escolha de paletas de cores e ajustes em layouts, seus olhos sempre voltavam para o cachorro. Ele parecia mais relaxado agora, embora ainda olhasse ao redor com um certo receio.
null suspirou, apoiando o queixo na mão.
“Blake vai ficar tão feliz…”
Já conseguia imaginar o filho entrando pela porta depois da escola, os olhos brilhando ao ver que o cachorrinho ainda estava ali, oficialmente parte da casa.
Ela sabia que deveria procurar o dono do animal — e faria isso. Mas, por ora, não havia como negar que aquele pequeno acidente do destino estava enchendo sua casa de vida de uma maneira inesperada.
Enquanto null trabalhava, o cãozinho continuava a se adaptar à nova rotina. A cada vez que ela se levantava da mesa para pegar uma xícara de café ou ajeitar os arquivos, ele a seguia com os olhos, observando seus movimentos de perto. Por vezes, ela ouvia um pequeno latido, mas ao se virar, ele estava apenas sentado ali, com a cabeça inclinada para o lado, como se perguntasse se ele tinha feito algo errado.
Ela riu sozinha várias vezes. Nunca imaginou que se tornaria uma “mãe de cachorro” tão rapidamente. O mais curioso era como o cãozinho parecia já fazer parte da casa, como se tivesse sempre estado ali, mesmo com a pata machucada e os medos iniciais.
A tarde passou lentamente entre as tarefas de design e os pequenos intervalos que ela dava para cuidar dele — oferecer um pouco de ração, brincar com ele por alguns minutos, ou apenas acariciar sua cabeça, sempre buscando deixá-lo mais tranquilo. Cada momento parecia reforçar a ligação que estava nascendo entre eles.
Por volta das três da tarde, null olhou pela janela e viu que o sol começava a se pôr. Era quase hora de ir buscar Blake. Ela se levantou, fechando o laptop e se dirigindo para onde Bentley estava deitado no sofá.
— Vamos, companheiro — ela murmurou, pegando a coleira que havia ganhado de null — Agora é hora de buscar seu melhor amigo.
Ela colocou a coleira nele, que, para sua surpresa, não resistiu, apenas olhou para ela com a cauda balançando. Ele ainda estava aprendendo a confiar nela, mas já demonstrava que estava começando a se sentir em casa.
null pegou sua bolsa e, antes de sair, olhou mais uma vez para o cachorrinho.
— Daqui a pouco, Blake vai te ver e vai ficar tão feliz… Espero que você tenha o mesmo carinho por ele, ok?
Com isso, ela fechou a porta atrás de si, levando o cãozinho para o carro e indo em direção à escola de Blake, já imaginando a reação do filho ao ver o novo amigo esperando por ele.
Quando null estacionou o carro em frente à escola, Blake estava esperando na porta, com a mochila pendurada nas costas e um sorriso largo no rosto. Ao ver o cachorrinho no banco do passageiro, seu olhar imediatamente se iluminou.
— Mãe! Você trouxe ele! — Blake exclamou, pulando quase de forma automática, seus olhos fixos no cãozinho que estava na coleira.
null abriu a porta do carro e, com cuidado, segurou o pequeno Bentley. Ele estava curioso e agitado, mas se comportava bem na presença de Blake, como se já tivesse se acostumado à ideia de estar com ele.
— Claro que sim, filho — respondeu null, sorrindo enquanto via o brilho nos olhos de Blake. — Ele vai ficar com a gente por enquanto.
Blake imediatamente se ajoelhou no chão, aproximando-se de Bentley com todo o carinho que podia oferecer. O cachorrinho, apesar da pata machucada, parecia confortável com o contato e até abanou a cauda, se aproximando de Blake.
— Vamos chamá-lo de… “Rocky”! — Blake anunciou com empolgação, olhando para null como se fosse a escolha mais óbvia do mundo.
null olhou para ele com um sorriso cúmplice.
— Rocky? Por que Rocky?
Blake fez uma cara de quem estava explicando algo muito simples.
— Porque ele é forte, como uma rocha! E ele vai ser o meu melhor amigo. O que acha?
null, tocada pela determinação do filho, assentiu com um sorriso carinhoso.
— Acho que “Rocky” é um ótimo nome, filho. Ele vai adorar.
Blake se levantou, pegou a coleira com cuidado e começou a andar pela calçada com o cachorrinho, já visivelmente mais tranquilo, como se soubesse que ali era seu novo lar.
— A gente vai brincar muito, Rocky! Vai ser o melhor amigo que eu sempre quis! — Blake falava com um tom de voz doce, como se estivesse fazendo uma promessa para o cãozinho.
null observava a cena, sentindo um calor no peito. Era claro que o vínculo entre os dois estava começando a se formar. E por mais que o futuro ainda fosse incerto, especialmente com a dúvida sobre o verdadeiro dono de Rocky, ela não podia negar que ver Blake tão feliz com a companhia do cachorrinho aquecia seu coração.
— Vamos, Rocky! — Blake continuou animado, com a voz cheia de entusiasmo.
E assim, com o nome escolhido e o coração cheio de esperança, os dois seguiram para casa, com o pequeno Rocky trocando olhares curiosos e cheios de confiança com Blake, como se já soubesse que a nova família era a sua.
AI, EU MORRO COM HISTÓRIA QUE TEM ANIMAIS <3
Meu coração já é do Rocky/Bentley *——–*
Vamos ter uma criança triste ou vamos ter uma criança feliz? Imagino como esse encontro vai acontecer.
O Bentley/Rocky é o melhoooooooooooor! Mas confesso que já to rendida por todos os personagens que criei para essa história porque sou dessas kkkkkk obrigada por além de betar comentar sempre Lelen <3
Ansiosa pelos próximos capítulos, nao quero ver o Blake quando tiver q devolver o bentley
O que será q vai acontecer cm será o encontro , muitas emoções nos aguardam?
ahhhhhhhhhhh espero muito que você goste do nosso bias nessa história HAHAHAHA