Capítulo Um
na antessala aguardava a secretária lhe chamar. Ele folheava as revistas de maneira calma e concentrado. Logo que sentiu a proximidade de alguém, interrompeu sua leitura e sorriu à simpática mulher que lhe indicava o local ao qual seguir. Ela desejou a ele “boa sorte” e sorriu-lhe muito mais animada do que o próprio. Ele pôde sentir de longe o olhar da mulher sobre si enquanto andava, e sorriu divertido. Se não conseguisse o emprego, ao menos elevara seu ego. Mesmo, já estando acostumado àquilo.
terminava de limpar o balcão, estava tão cansada ao ponto de sentir os ossos rangerem. Ela era uma das últimas a ir embora naquele dia. Quando Brendon fechou a porta dos fundos, ela lhe deu um sorriso amigável e acenou em despedida.
— ! — Ele a chamou e a mulher olhou-o preguiçosamente: — Tem certeza que não quer que eu te acompanhe?
O rapaz a olhava como se ela estivesse com a vida por um fio. E aquilo a incomodou bastante.
— Obrigada Brend, mas ficarei bem.
— Certo… — concordou ele, um tanto receoso e reafirmou: — Se precisar pode me ligar.
— Obrigada mais uma vez.
Ela deu-lhe as costas e seguiu com passos lânguidos ao ponto de ônibus. O rapaz caminhava na direção oposta, olhando para trás vez ou outra, a fim de certificar-se que ela ficaria bem.
Ao chegar em casa, a garota observou a desorganização e mais uma vez decidiu deixar para outro momento a limpeza. A época da apresentação final era tão corrida que eram precisas as vitaminas. Foi pegá-las no armário quando se lembrou que havia tomado as últimas no dia anterior. Torceu os lábios e pegou um iogurte na geladeira. Aquele seria seu jantar. jogou fora o potinho em seu cesto de materiais separados, tomou banho e não demorou a recolher-se. Na verdade, a última coisa que se lembrava era do próprio corpo afundando na cama, com a toalha de banho ainda enrolada no cabelo.
•••
abriu a porta da sala e estranhou a solidão ali. O zelador sempre a deixava destrancada pela manhã, pois era a primeira a chegar. O que teria acontecido? Curioso, mas bastante satisfeito por não a encontrar ocupando a sala e agradecendo por finalmente não precisar treinar na velha sala com espelhos quebrados, ligou o som e calçou seus sapatos.
acordou afoita com aquela toalha úmida sobre sua cabeça. Tomou um banho extremamente rápido, secou os cabelos ainda úmidos da noite anterior e inclusive, jogou colônia neles a fim de disfarçar aquele cheiro de cabelo que dormiu molhado. Um odor imperceptível à maioria das pessoas, mas não para . Quando chegou à academia, o zelador lhe sorriu e ela apressou-se olhando o relógio. Torcia para não ter ninguém ali e embora soubesse que era a única a chegar naquele horário para utilizar a sala, também sabia que esperava o dia em que ela falharia para que ele treinasse na melhor sala. Parou à porta e não ouvindo som algum ou enxergando pessoa alguma, sorriu e entrou. Colocou sua bolsa acima de uma das cadeiras e escutou alguém se levantar do chão.
— Achei que não viesse hoje. — Ele pronunciou e ela fechou os olhos irritada.
— Apenas me atrasei… — respondeu pegando seus sapatos e tirando os jeans que vestia, revelando o colã e as meias por baixo da calça.
murmurou afirmativo e parou ao lado dela colocando a própria mala na cadeira vizinha. Passou um tempo observando-a. parecia cansada, e mesmo que ele soubesse que a garota saiu apressada de casa, ela continuava uma mulher metódica, pois, as suas roupas estavam intactas.
—
Tá olhando o quê? — Ela ajeitava a faixa de sua saia sem o encarar.
— Nada. Agora que estamos juntos na apresentação final, acho que podemos dividir o horário pela sala.
— Não todos os dias.
— Nesse caso, se não for hoje, pode sair porque cheguei primeiro.
Ela ergueu os ombros e encarando , disse:
— Eu realmente, odeio você.
— É recíproco.
Como um sinal de que se dava por vencida e dividiria o espaço com ele, os dois caminharam para o meio da sala. Ela se apoiou nas barras para alongar e , que já havia alongado, foi até o aparelho de som colocar a música:
— Escolhi esta música para a nossa apresentação…
— Quem deu o direito de você escolher algo sem me consultar? — logo se empertigou, autoritária, com as mãos nas cinturas.
— Fred. Você não atendeu as ligações dele ontem.
Ela encarou e, visivelmente sem graça calou-se. Não poderia atender as chamadas de Fred já que estava trabalhando e mal pôde pegar no celular quando chegou em casa. direcionou-se ao meio do salão, e fechou os olhos incorporando a música em um momento reflexivo. o olhou com desdém e igualmente concentrou-se na harmonia. De olhos fechados, ambos soltavam o corpo em passos espontâneos pelo salão e estavam tão concentrados, que em determinado momento, os dois puderam sentir a presença próxima do outro. rodopiava de braços abertos, em uma postura que referenciava ao balé clássico, e pegou a mão dela puxando-a para si, guiando um rodopio com o corpo da mulher de maneira que, ao fim dele, os seus corpos estivessem colados. Os dois abriram os olhos surpresos pelo ato espontâneo e tão coeso, nada planejado, e se encararam um tempo em silêncio.
— Isto ficou bom. — Ele disse.
— Se você não tem algum critério crítico. — respondeu afastando-se e indo até a aparelhagem de som para retornar a música ao início.
— Não foi tão ruim assim, .
— Não foi bom também.
— Acredito que toda expressão espontânea é muito mais enriquecedora do que a mera técnica.
— Eu também. — Ela olhou para ele, óbvia — Mas não é a proposta deste trabalho que os movimentos não tenham o mínimo de técnica. Não estamos engajados em uma apresentação livre.
— … Se você for implicar comigo isto não vai dar certo! — suspirou.
— Não estou implicando. Apenas quero que compreenda a complexidade disso ! Fred não uniu um especialista de
street dance com uma bailarina clássica para que fizessem qualquer coisa.
observou a mulher que lhe falava de um modo rígido, e baixou sua cabeça em um suspiro contrariado. Se aproximava dela encarando-a incrédulo. Havia uma troca de energias contrárias entre eles e talvez aquilo os equilibrasse tão bem na dança.
— Ele nos uniu porque temos a química perfeita. É sobre isso. — respondeu-a grosseiramente.
abaixou a cabeça, silenciosa, e puxou o seu bloco de anotações. Naquele instante, começando a sentir-se contrariado pelo gênio difícil da mulher, não a encarava, mantinha os olhos presos no chão. tinha uma estúpida capacidade de o tirar de si.
— Já contou os contratempos da harmonia? — Ela perguntou diretamente o olhando, abrindo o bloco de anotações como se não ouvisse ao que ele havia dito antes.
— Não.
— Então vamos começar por isso.
Os dois sentaram ao chão do salão e soltando a música fizeram a contagem de tempo, e quais os contratempos harmônicos a música apresentava.
Não era a primeira vez que dançavam juntos. Já tinham um histórico considerável de apresentações, mas toda nova parceria era como se fosse a primeira vez. De certo modo, ambos negavam a sincronia natural entre seus corpos e espíritos e os dois não conseguiam repreender àquilo. Era tão natural quanto respirar. Não havia uma ação do corpo de que o corpo de não compreendesse na dança, e vice-versa.
E embora todos desconfiassem que a “rincha” era proveniente de questões amorosas mal resolvidas, na verdade, os dois nunca, tiveram qualquer contato que não fosse profissional. Por isso não deveria ser tão difícil compreender as suas intolerâncias com o outro e acreditar quando um deles dizia, que nunca tiveram ao menos se encontrado fora de uma sala de dança.
Fred era amigo mais próximo de , do que de . E perturbava-a com tais indagações. Porém, nos últimos tempos, ambos haviam se afastado. Não por motivo explícito, mas porque a rotina foi os distanciando e a amizade entre eles não era baseada em cobranças ou satisfações indevidas. E foi naquele momento, que Fred e estreitaram os seus laços de amizade também. Óbvio que não sabia, pois se soubesse, acreditaria que um complô fora firmado ali contra ela.
se dispusera a compreender os motivos pelos quais Fred os escalou, antes mesmo de reclamar no dia do sorteio. Entretanto, por mais que pensasse, ele não achava a resposta. Logo, quando Fred o telefonou passando a música, ele descobriu:
“—
, vocês tem a química perfeita, seus corpos falam entre si embora não vejam isso. Ou finjam não ver. E tem mais, quero a mistura entre balé e street. Quero inovação, e sei que vocês farão algo.” passou a pensar sobre aquilo. Era verdade que conhecia ao corpo de muito mais do que um estranho deveria conhecer, mas, também não era um estranho de fato. No âmbito da dança, eram muito íntimos até. E quando recebeu aquela música, ele não se opôs em momento algum, apesar de não ser um estilo da sua área. Já podia observar a coreografia surgindo sob seus olhos. Mas, e ? Onde ela se enquadraria? Ela daria conta? Não que ela não conhecesse outros estilos de dança, afinal, eles eram submetidos a uma diversidade de ritmos ali na academia. Contudo, o que ela poderia propor?
— Acho que podemos trazer elementos muito fortes nos passos. — Ele disse após terminarem a contagem.
— Do,
jazz né… Mas, acredito que o Fred não escolheria essa música para nós se quisesse o trivial. O que ele te disse?
— Ele realmente deixou claro que queria uma mistura de nós, e inovação.
— Hmm… — Ela deitou ao chão e fechou os olhos para pensar.
sempre fazia aquilo quando estava diante de um momento criativo. observava-a com um sorriso de canto, porque sabia que assim que ela levantasse seria para valer.
— , por que não atendeu às ligações de Fred ontem? Não é do seu feitio ignorar ao trabalho.
— Justamente. — Ela respondeu um pouco incomodada — Eu estava trabalhando. E cheguei exausta o suficiente para não verificar o meu celular.
— Trabalhando? — perguntou como se fosse absurda aquela informação.
De certa forma, era. não o respondeu, imediatamente levantou-se e ligou o aparelho de som expondo o primeiro conjunto de “oito” dos movimentos. E conteve sua curiosidade para encarar a proposta dela. Ao fim daquela manhã de ensaio privado e coletivo, a garota corria para guardar as suas coisas. observou a pressa dela.
— Você quer uma carona?
— Não.
— Não há mal algum em aceitar uma gentileza.
— Já ouço fofoquinhas demais em relação a você, obrigada.
— Não me parece ser seu estilo dar ouvidos a fofocas. — Ele rebateu dando de ombros.
colocou sua bolsa no ombro e despediu-se discreta dele. O rapaz a seguiu pelo corredor, e aproximou-se a fim de fazê-la aceitar a carona.
— Eu só quero ajudar. Não vai mudar nossa relação de ódio um com o outro.
Ela riu sarcástica pelo comentário dele.
— Certo, . Eu aceito. Mas já aviso que é totalmente fora de mão para você.
— Tudo bem. Eu não ofereceria se não pudesse levá-la. Onde é?
— Estou pelo Bronx.
— Você não morava em Manhattan?
— Sim. — respondeu sem dar maiores explicações à curiosidade dele.
Eles seguiram até o trabalho de e quando compreendeu que ela havia se mudado de endereço e agora começava a trabalhar porque algo grande ocorrera em sua vida, mudando sua realidade, ele não pôde se conter em perguntá-la no percurso:
— O que houve em sua vida, ?
— Do que está falando?
— Achei que estava chegando mais cedo para ensaiar apenas por pirraça de não deixar a sala livre para mim… Contudo… Você saiu de Manhattan para o Bronx, que não é tão ruim assim, mas deixa claro que você não poderia mais se manter como antes. E ainda por cima está trabalhando… O que houve, você faliu? — perguntou sem pudor algum.
— Não. Eu nunca tive bens para eu falir.
— E então?
— Você se enganou quando deu esta carona para mim, , se achou que teria liberdade para ser invasivo desta maneira.
— Desculpe. — Ele sorriu irônico — Só quero compreender o que aconteceu.
— Meu pai me mantinha, e agora não me mantém mais.
sabia que o pai de não aprovava a carreira de dançarina da filha. A mulher estrelava um típico clichê: “o pai rico e a filha que não quer assumir a empresa”. Ele se viu pensando no real motivo para a mulher de 26 anos não estar mais sendo mantida pelo progenitor. E ainda: como estaria lidando com a dura vida de uma trabalhadora? Ela nunca fizera o tipo mimada, mas é fato que usufruiu de todas as mordomias que tinha em sua vida. E não por opção, mas por necessidade, agora a sua realidade lhe exigia o contrário.
— A que horas você sai do trabalho? — perguntou após um longo tempo de silêncio na viagem, assim que parou em frente à lanchonete.
— Que isso? — o encarou de modo sarcástica, e sorrindo de lado um tanto irônica — Tenho que bater meu ponto para você agora?
— Eu só estou tentando ser gentil.
— Sua carona já foi gentil o suficiente. Obrigada.
Ela deu às costas ao carro e atravessou a rua correndo. passou alguns minutos observando a saída e o local. Uma lanchonete chinfrim comparada ao padrão que ela estava acostumada. Se viu curioso para assistir a “posuda” bailarina, , por trás de um avental e servindo salgados fritos por trás de um balcão. O que não pôde notar foi o sorriso de admiração que seu rosto formara só em imaginar o esforço que estaria fazendo para manter tudo aquilo. Ser esforçada em seus objetivos era uma qualidade muito natural que a mulher sempre demonstrou ter.
Infelizmente, não teria tempo de apreciar a atuação de fora dos palcos, havia conseguido trabalho na empresa que tanto almejou por tanto tempo. E havia desviado totalmente de seu caminho com aquela ideia de passar um tempo a mais com a . Não sabia definir os motivos, entretanto, a implicância da mulher, e a ideologia de ódio entre os dois era o que motivava a sempre instigar a relação entre eles. Uma relação de trabalho, misto de coleguismo e rivalidade. E lógico, de “desafio a ser superado”. Era isso que significava para : um desafio.
Capítulo Dois
— Atenção todos vocês! As datas para as apresentações foram marcadas. Algumas, alteradas. E as duplas as quais vou chamar, quero que me entreguem a coreografia daqui a três dias.
O burburinho de reclamações começou entre os dançarinos, mas dois deles não se mostravam preocupados. Fazia parte da pose de ser quem eram ali naquele espaço. estava ao canto da grande sala movimentando o seu corpo em um ritmo clássico de balé, misturado a uma sensualidade não peculiar de suas atuações. Já estava sentado ao chão, observando-a cauteloso e crítico. Enquanto os colegas concentravam-se em engolir Fred com reclamações e dúvidas, o líder coreógrafo corria seus olhos curiosos, sobre a figura dos rivais que estavam dedicados demais àquele momento de ensaio.
— Por favor, façam silêncio e eu explicarei tudo!
Fred gritou impaciente com a maioria. E assim que todos se calaram, alguns envergonhados e outros irritados, ele suspirou. Colocou o papel que estava em suas mãos sob a caixa de som, e com as mãos na cintura olhou para o casal alheio ao que acontecia:
— ! ! Podem se concentrar um pouco em mim, por favor? — Ele falou educadamente.
Os dois parceiros assentiram silenciosos e caminharam até ele.
— Companhia… Infelizmente a situação da nossa Academia não está financeiramente bem. Fui informado que na mesma data da apresentação final haverá uma reunião importante e decisiva para o futuro da nossa companhia. Com isso, a direção pediu para que eu antecipasse o evento a fim de através dele tentar conquistar uma imagem positiva para a continuidade deste projeto. Eu não quero ter que perder tempo explicando as relações políticas que estão sendo uma barreira para nós. Estou realmente empenhado em cumprir os prazos, e mais do que isto: mostrar a importância do nosso trabalho. Então, por favor, as reclamações e dúvidas agora não serão bem-vindas. Aqueles que tiverem algum impedimento com a nova data do evento, e também com as avaliativas apresentações de vocês, por favor, me procurem depois para conversarmos. No mais… Como eu disse, os nomes citados devem cumprir sua avaliação daqui a três dias.
Ao perceber que todos fizeram silêncio, e não o contestaram, apesar de algumas expressões não estarem satisfeitas, Fred prosseguiu. Pegou o papel na caixa de som e ditou cinco das catorze duplas. Entre elas, e .
Os dois se entreolharam e embora não tivessem dito nada, entenderam a preocupação em suas expressões. mordeu o lábio inferior, concentrada ao chão.
— , por favor, me espere. Precisamos conversar. — Fred disse a ela quando ao terminar de citar as duplas, os dançarinos liberavam a sala.
Ela afirmou silenciosa e caminhou até suas coisas. estava atento ao modo como ela reagia e à fala de Fred. Ele demorou mais do que o necessário para guardar suas coisas. E enquanto Fred também juntava seus objetos pessoais, foi para perto da parceira:
— Está tudo bem com o prazo, para você? — perguntou.
— Em que mundo você vive, ? Claro que não! Ainda não sabemos o que fazer na parte principal da música. — Ela colocou a bolsa sobre os ombros, encarando-o incrédula.
— Eu me referia ao fato de termos que ensaiar dobrado para finalizá-la nestes dois dias.
— Ah, isso… Relaxa, eu vou dar o meu jeito. Me diga o melhor horário para você.
— Pela noite. E acredito ser o único horário disponível a você também, não é?
— Sim, mas, não significa que…
Ela ia terminar de falar quando Fred surgiu vindo em sua direção chamando por seu nome e sorrindo. não sabia se aquela seria uma conversa casual, ou se haveria algo negativo por trás. Ele lembrava-se bem de ouvir Fred reclamar do extremo cansaço que aparentava nas últimas semanas. Embora seu desejo de ficar ali para ouvir a conversa fosse grande, ele despediu-se de com um beijo não autorizado no rosto, o que a fez vincar a testa em rugas de reprovação, e sorrir.
cumprimentou Fred, enquanto saía em um gesto de despedida próprio dos dois. E antes de evadir totalmente pela porta, o viu abraçar a garota de um modo que há muito tempo ele não o via fazer. Droga! Por quê Fred a abraçava daquele jeito? Era como quando alguém estava prestes a dar um tiro pelas costas de outro. O que aconteceria? Ele iria dispensar da companhia? Mas, ele não poderia fazer aquilo! Além de ser a melhor bailarina dali, a participação de todos era voluntária, e tanto ele quanto eram os nomes favoritos para liderança dos futuros grupos da Companhia.
não se conteve! Ficou escondido no corredor de saída, na tentativa de ouvir algo.
— E aí, Fred o que aconteceu? — tinha pressa.
— Aconteceu que você não está nada bem há muito tempo. E eu fui negligente em não perguntar a você antes, o que estava acontecendo.
— Olha, nós dois nos afastamos nos últimos tempos, mas eu ainda te amo, ok?
— Eu nunca me canso de desejar que alguém, algum dia, filme você confessando que me ama desse jeito. — Frederich brincou com ela.
— Idiota. — E funcionou, pois, arrancou um sorriso do rosto constantemente abatido, da mulher — Não precisa se preocupar, eu estou passando uns perrengues, mas… Tudo vai dar certo.
— Ele não voltou atrás? — Fred perguntou suspiroso ao mencionar o pai de .
— Não. E nem eu esperava por isso.
— E o trabalho?
— Tem sido… Desafiador, mas estou me saindo bem. E é justamente devido ao trabalho que não posso me atrasar, Fred! A gente conversa outra hora, tudo bem?
— Hoje você vai para o bar?
— Sim.
— Então conversamos lá! Assim você trabalha e não me ignora.
Eles riram. Se encaminharam à saída e estava confuso. Ele ajeitou sua postura enquanto pensava o quê Fred saberia sobre que ele não. Na verdade, não era para se espantar, afinal, os dois eram amigos muito antes de Fred passar a frequentar a casa de . Mesmo assim, o fato de Fred raramente falar sobre com ele, dava a a impressão de que não havia muito mais intimidade entre Fred e do que havia entre a garota e ele. Descobrir o contrário o incomodou um pouco.
— Você vai me dar uma carona? — perguntou sorrindo para Fred.
Como ela poderia pedir a ele uma carona, mas, recusar com tanta certeza as caronas de ? Aquilo realmente estava o incomodando de uma maneira incomum. Ele decidiu pegar seu telefone para fingir falar com alguém, ao perceber que os outros dois se aproximavam cada vez mais. E aí, se recordou que o seu telefone estava com , devido à música que ensaiavam, antes de Fred os chamar.
— ? — Fred perguntou ao vê-lo na porta com a cabeça pensativa e as mãos no bolso.
— Ah… Tive que voltar, acho que esqueci o meu telefone. — Ele disfarçou bem.
— Oh! — exclamou envergonhada: — Me desculpe! Acho que guardei com o meu… — Ela procurava em sua bolsa com a face mais insatisfeita do mundo e ao encontrar se desculpou: — Aqui está, . Me desculpe!
— Ah, tudo bem, obrigada. Pelo menos não o perdi.
— Por que essa cara tão reprovativa, ? Guardar o telefone do é tão ruim assim? — Fred perguntou sorrindo ao notar como a garota havia ficado sem jeito e poderia dizer que ele tirou as palavras de sua boca.
— Não é isso, só não quero que pense que foi de propósito. — Ela falou o olhando.
— Por que eu pensaria isso?
— Porque nos odiamos mutualmente. — Ela respondeu óbvia.
— Eu não te odeio de verdade. — declarou levando as mãos no bolso e dando de ombros.
e se encaravam de uma maneira forte. Fred os observava em silêncio. Quando se deu conta de que a garota se atrasaria ainda mais e os dois continuariam parados se olhando, Fred bateu no braço de chamando-lhe a atenção:
— Ei, ! Pode nos dar uma carona? Estou sem o meu carro hoje.
— O quê? — indagou saindo do transe — Por que não me disse antes? Temos que correr! — E falou alto, surpresa.
Ela pegou a mão de Fred e sairia o puxando quando as mãos fortes de pegaram em seu outro braço a impedindo de prosseguir. Ele encarou a garota, com certa rudez.
— Eu levo você. — disse direto a encarando os olhos com certa urgência.
Como ela poderia ser tão ridícula? Recusar a carona de duas vezes! E agora ali, daquela maneira! Preferindo sair correndo como uma maluca com Fred do que aceitar que ele a levasse. soltou-se da mão dele de maneira tão rude quanto, e olhou para o Fred de modo, suspeito. O coreógrafo se divertia em presenciar aquela atmosfera cada vez mais pesada sobre seus dançarinos.
— Eu levo os dois. Não viu que o Fred me pediu carona? — falou retoricamente se justificando — Não precisa recusar, é por causa dele.
O dançarino disse e deu as costas em direção à saída, guardando seu celular no bolso. Fred sorriu provocativo para e a mulher revirou os olhos. Antes que ela tomasse à dianteira em sentar no banco de trás do carro, Fred o fez. E quando ela iria se sentar ao seu lado, ele negou indicando-a para ir com no banco da frente.
— Achei que fingiria que sou seu
chofer, também. — falou ao percebê-la ao seu lado afivelando o cinto.
Ela o encarou com raiva. E ele nem percebeu como o comentário foi rude dada a situação financeira atual de . O que havia de errado com aquele idiota? Ela não entendia o motivo pelo qual ele estava sendo mais estúpido do que o normal.
— No mesmo lugar de antes? — perguntou para .
— Sim.
— Não sabia que a lanchonete funcionava à noite.
— À noite é um bar.
— Como pretende me encontrar se trabalha à noite também?
Fred estava atento aos dois no banco da frente, e às suas conversas. Ele sorria, à medida que percebia a intimidade que já existia ali e que aqueles dois sempre faziam o possível para negar.
— Como vou fazer não é da sua conta. — Ela respondeu mal-criada.
O rapaz a olhou extremamente irritado.
O que achava? Estava sendo grosseiro com ela sem o menor motivo, após dizer que não a odiava, e queria que ela fosse legal com ele?
— Vocês dois… Por que estão discutindo desse jeito? — Fred perguntou de maneira calma para aliviar o clima tenso.
— Estou apenas respondendo às grosserias dele no mesmo tom. — comentou.
— Grosseria é você não aceitar as minhas caronas como se eu fosse alguém com algo contagioso a ser evitado, mas pedir para o Fred te levar!
explodiu. Houve silêncio no carro e constrangimento. ruborizou-se ao dar conta do que havia dito e Fred sorria divertido. E estava perplexa.
— Você estava nos espiando? — Ela perguntou para ele, um tanto brava.
— Você está com ciúmes da e eu? — Fred perguntou de volta.
— O quê? — tanto quanto perguntaram juntos, incrédulos demais e arrancaram uma gargalhada de Fred.
Novamente o silêncio. evitou o olhar e engoliu a saliva quente e amarga que formava em sua boca. Aquele café que tomou um pouco antes do ensaio, ainda estava no rastro de seu paladar e incomodava aquele sabor. Procurou de maneira calma, por uma bala em sua bolsa. Estava mais desconfortável do que nunca na presença de .
O restante do percurso foi bem rápido. parou o carro bem em frente ao local que antes havia deixado a mulher. Fred bateu no ombro dele o agradecendo e abriu a porta do carro saindo. ajeitou sua bolsa em seu ombro e já ia abrir a porta do carro em silêncio, quando pela segunda vez, segurou seu punho. Ela olhou para o gesto dele, de maneira confusa e reprovadora.
— Me desculpe. Extrapolei a estupidez hoje.
Ela pensou em falar qualquer coisa, mas apenas se soltou da mão dele e saiu do carro. E por mais que ele estivesse perplexo por ela não agradecer a carona, ainda se surpreendia com a sagacidade em ser pontual em tudo:
“A carona é pelo Fred”. Ele disse a ela, nada mais normal do que apenas o Fred, agradecê-lo. sabia pisar como nunca fora pisado.
Fred já havia entrado ao bar, e deu partida no carro observando-a entrar pela passagem dos funcionários. O que ele realmente desejava era ficar ali e descobrir que tipo de conversa aqueles dois teriam.
— Está acontecendo algo além dos ensaios entre você e o ?
terminava de amarrar seu uniforme atrás do balcão, quando Fred soltou aquela pergunta. Os outros companheiros de trabalho a cumprimentavam, organizando lugar.
— Vai querer beber o quê?
— Vou esperar outros clientes chegarem.
— Como preferir, Fred. — Ela disse e já se direcionou aos frigoríficos do balcão abrindo os pacotes de gelo que um colega trouxera para que ela os virasse ali.
— Estou esperando uma resposta. Ou posso considerar o que eu quiser?
— Fred… — suspirou ela — Não é nem o tipo de pergunta válida.
— Me parece muito válida.
— São apenas ensaios.
— Eu não sei o que andam ensaiando, mas posso afirmar que o …
— Fred! Tenho mesmo que trabalhar. E se era do que queria falar eu realmente estou dispensando este diálogo!
— Tudo bem, desculpe. — O amigo riu: — Me conta então, quais perrengues está passando e como posso te ajudar?
— Pode ajudar arranjando outra data para minha avaliação.
— Vocês me pareceram muito certos das suas coreografias… — Frederich cruzou os braços no balcão, deixando uma pose sexy que evidenciava seus músculos, e baixou a cabeça ao comentar constatando pela expressão óbvia da bailarina: — Então não está pronta.
— Falta pouco. Mas ando com bloqueio, devido a todas as mudanças loucas na minha rotina.
— Você sabe que tem direitos, ! Por que não recorre a um advogado ao invés de se sacrificar assim?
— Não! Não quero um só dólar dele, Fred! Seria como assumir que dependo da vida que ele me proporcionava. Está difícil, mas eu não vou perdoar o meu pai por me obrigar a escolher entre a minha carreira e ele.
— Certo… — O amigo coreógrafo suspirou de novo e acenando negativo com a cabeça tentou pensar nas alternativas — Eu realmente não posso mexer muito nas suas datas. Você sabe que ambos são alvo de fofocas pelos cargos que ocupam, e se eu mudar agora será extremamente irritante…
— É eu sei… — Ela concordou com Fred suspirando pesado.
— Mas preparem-se para segunda. — Frederich pediu — Se por acaso não conseguirem terminar me apresentem o que tem, e depois faço com que se apresentem de novo. É o máximo que podemos fazer.
olhou para o amigo agradecida com um meio sorriso. No entanto, logo em seguida abaixou a cabeça com uma expressão frustrada, deixando o pano com que limpava o balcão na pia.
— Droga… Já prevejo os burburinhos sobre “a realeza da companhia” fracassar, se apresentarmos a coreografia incompleta.
— Vocês não têm que ser perfeitos o tempo todo. Só na apresentação final. E depois de hoje… — Fred comentou receoso em insistir naquela curiosidade — Vou super entender se segunda-feira estiverem com a coreografia incompleta por perderem tempo namorando um com o outro.
— Ah, Fred, me erra!
O amigo gargalhava enquanto sumia para dentro da cozinha. Ele chamou outro atendente para lhe servir, os clientes chegavam pouco a pouco e ele começava a distrair-se daquela semana tensa.
Capítulo três
Naquela noite, sentia-se extremamente incomodado pelo modo como agiu com . E se não bastasse a própria culpa, o olhar que ela deu a ele ao sair do carro não saía de sua cabeça. Passou as mãos nas chaves de casa e do carro, calçou os seus chinelos e puxou um casaco de moletom do cabideiro da porta e saiu.
Estacionou um tempo depois na porta do mesmo lugar. O relógio marcava duas horas da manhã, e ele olhava ansioso para a saída dos funcionários. Ela não devia ser liberada tão mais tarde do que aquilo, já que ele havia a deixado lá por volta das sete da noite.
Ouviu risadas na entrada do lugar e avistou Fred mais animado do que o habitual. Ele estava bêbado. riu por saber que alguma mulher era a causa daquela bebedeira. Ou ele havia tomado um fora, ou bebido com alguma mulher a noite toda e sairia acompanhado. E saiu, mas a mulher ao lado dele era . Ela ria de modo diferente, como nunca havia notado, ou talvez ela nunca tivesse sorrido para ele daquela forma. Realmente, entre aqueles dois, havia mais intimidade do que imaginava, mas ele sabia que a intimidade de Fred e era algo fraterno. Era o que ele pensava até ver as mãos de Fred puxarem o rosto de e de maneira calma, ele depositar um beijo nos lábios dela. Eles trocaram quaisquer frases e a bailarina abriu a porta do carro, que estava parado ali para que Fred entrasse. O automóvel seguiu e a garçonete entrou novamente ao bar. estava perturbado por aquela cena.
Já estava decorando a fachada daquele lugar de tanto esperar pelo horário de ir embora. Na verdade, não era tanto tempo assim, mas ele tinha impressão de aguardar muito mais do que o real. Batucava os dedos no volante do seu carro, encarando impaciente, ao relógio. Certeza de que ir ao trabalho aquela manhã, seria penoso.
De repente a porta dos fundos do bar se abriu, e ela saiu vestindo sua jaqueta. Alguns colegas falavam com ela e com medo de perdê-la para outra carona depois de tanto a esperar, desceu do carro caminhando ao seu encontro. Os seus amigos se assustaram com a aproximação repentina do rapaz àquela hora da madrugada. Tal como eles, olhava para , espantada.
— Boa noite. — falou de modo geral ao se aproximar de todos.
— O que está fazendo aqui? — perguntou assustada.
— Está tudo bem ? Ele é seu amigo? — Um dos rapazes perguntou ainda desconfiado com a presença de .
— Sim, está tudo bem! Obrigada, Thiago. Podem ir, já está tarde e o Uber está quase chegando. é da minha academia de dança, então ele me faz companhia até o carro chegar. Obrigada pessoal.
Ela dispensou os amigos que, confiando em suas palavras, despediram-se. Acenaram para ainda desconfiados e partiram.
— Eu não queria te assustar. — comentou após ficarem sós.
— Você não disse o que está fazendo aqui.
— Vim te buscar.
— Oi? — arregalou os olhos e cruzou os braços.
— Cancele a viagem. Fiquei a noite toda esperando você sair. — apontou para o celular nas mãos dela.
Quando notou por alguns segundos a inércia de , ele mesmo tirou o aparelho das mãos da bailarina e cancelou a viagem. A mulher protestou pela petulância dele, e sorriu ao ver a expressão irritada dela.
— Está rindo do quê? — reclamou — Será possível que eu nem mesmo posso descansar?
— Vamos, .
sorriu sacudindo a cabeça, deu às costas para ela e seguiu em direção ao seu carro. ficou olhando-o cada vez mais abismada. Até que ao virar o rosto deparou-se com um grupo estranho de homens se aproximando. Observou novamente na direção de que parou ao lado do carro a esperando, confuso. E então ela aceitou a carona.
— Não estou nem um pouco confortável com isso, quero deixar claro! — Ela disse impedindo-o de abrir a porta para ela entrar.
No carro os dois se mantinham em silêncio, mas não suportou por muito tempo:
— Que história é essa de ficar plantado na porta do meu serviço me esperando? Desde quando você tem esse tipo de liberdade?
— Eu só queria me redimir por ser estúpido mais cedo. — justificou ele.
— Você é estúpido todos os dias, . — A mulher comentou virando o rosto para a janela do carro, como se tentasse o ignorar.
— Por que ? — perguntou olhando-a intrigado, após algum tempo observando a rigidez da garota consigo.
— Por que, o quê?
— Por que você me odeia?
— Sempre fomos assim. — Ela respondeu simples dando de ombros.
— Não, não fomos. Eu queria te lembrar que no início éramos muito amigos e os melhores parceiros de dança que já se viu. Se bem que isso, ainda somos.
— Algumas coisas mudam, . — desconversou dando o comando para o endereço da própria casa: — Vire à esquerda…
Ele observou-a, entre um olhar e outro da estrada para a garota. Não conseguia entender quando foi que aquilo começou. Lembrava-se do início, dos dois ensaiando juntos, saindo pós-ensaio para descansar. Lembrou-se até das poucas vezes que foi à casa dela ensaiar. Onde haviam começado com todo aquele ódio? E por que ele não a odiava de verdade? Percebeu, em seus pensamentos, que estava incomodado demais com tudo aquilo e a imagem de Fred a beijando surgiu em sua mente. Ela deu-lhe outro comando para virar em uma rua, e assim que fez a curva, não segurou a pergunta:
— O que está rolando entre você e o Fred?
— Hã? — Ela o olhou confusa da cabeça aos pés.
— Vi vocês se beijando.
— E onde isso é da sua conta mesmo? — o encarou ultrajada, não contendo sua implicância — Aliás, que comportamento é este desde cedo em relação ao Fred? Vocês estão tendo um caso e eu não sei?
a olhou com muita irritação e bufou.
— Deixa de ser idiota, !
— Deixa você!
— Eu só estranhei! — tentou consertar o mau jeito da sua pergunta — Ele nunca me falou de vocês dois.
— Que ótimo! Porque ele não tem mesmo que falar sobre mim com você.
— Então vocês estão mesmo juntos? — O dançarino perguntou mais calmo.
A necessidade daquela resposta era algo que ele não sabia se estava conseguindo disfarçar. não o olhava, mas começou a rir no carro, e não entendeu. Ela colocou as mãos no rosto, tapando o riso de ironia pelo qual estava sendo acometida. A verdade é que aquela pergunta feita duas vezes, com tanta curiosidade — ela havia notado — a fez lembrar do ocorrido horas antes na saída do bar.
Flashback On
— Ei, Fred, avise quando chegar em casa. Vou acompanhar a viagem pelo aplicativo, você exagerou hoje! — Ela dizia saindo do bar acompanhando-o.
O carro estava estacionando próximo quando Fred a olhou sorrindo e puxou o rosto de e lhe beijou. A mulher o olhou surpresa e ele rindo apenas disse:
— Sempre quis fazer isso…
— Você está bêbado! — comentou rindo — E vai se arrepender amanhã!
— Se o visse isso agora com certeza ele me mataria.
— Cala a boca, Frederich! Entre logo no carro! O motorista está esperando!
— Você ficou vermelha? — Fred comentou notando o rubor no rosto da amiga que o empurrando se despedia o evitando:
— Tchau, Fred! — abriu a porta do carro, o ajudando a entrar.
Flashback Off
— Do que está rindo? — perguntou mais curioso do que irritado.
— Nada… — Ela desconversou e anunciou subitamente apontando a entrada de casa: — Chegamos!
— Você não vai me responder?
— Eu não tenho obrigação nenhuma disso.
— Tudo bem, então eu pergunto para ele.
— O quê? — se irritou — Qual é a sua, ?
— Acho que foi uma pergunta muito simples.
— Não estamos juntos! Que audácia a sua! — Ela respondeu brava.
Desceu do carro, dando a volta pela frente sem encarar . Ele não entendia se aquela era a resposta dela ou se foi um fora para ele. abria o portão quando desceu imediatamente indo atrás dela. Ela fechou o portão na cara dele, mas o dançarino segurou a mão dela pela grade:
— Espera! ! Não precisa ficar brava assim!
— Boa noite, , obrigada pela carona. E por favor, não faça mais isso. Não temos a obrigação de estreitar laços só porque é a nossa vigésima apresentação juntos.
Ela soltou o braço de suas mãos e entrou em casa. mal podia acreditar que havia passado a noite esperando uma chance de mudar o olhar dela para ele, e no fim voltou à estaca zero. Recebeu o mesmo olhar de rancor da garota.
Bufou alto colocando as mãos pela nuca e observou confuso a fachada da casa simples da garota. Ouviu a janela se abrir e a imagem dela surgir com uma expressão diferente no rosto.
— E vai logo embora, o bairro não é tão tranquilo assim! — disse com um olhar diferente para ele, mas ainda estava com as rugas de descontentamento em sua testa.
Ele sorriu. Não soube exatamente por quê, mas sentiu que deveria.
— Eu te busco para o ensaio da manhã! — falou alto quando a viu se afastar da janela.
— Nem me apareça aqui! — Ela voltou rapidamente à janela, sendo categórica.
Qual era o problema daquele garoto? Viu entrar em seu carro e sair imediatamente. Estava muito confusa. Afinal, o quê ele estava fazendo?
Capítulo quatro
Na manhã seguinte, despertou ainda mais cansada do que o habitual, virou o café todo em seu copo térmico, puxou sua mala recém montada de cima do sofá e saiu em disparada. Não haveria tempo de comer direito, se não se atrasaria. Fechou a porta de casa apressada e bateu o portão com tamanho barulho que, , de dentro do carro estacionado um pouco distante, assustou-se bocejando. Ele buzinou para ela, e olhou para trás bebendo seu café.
— Merda… — A bailarina sussurrou ao notar o carro dele — Será possível!?
Ela continuou andando até o ponto de ônibus, ainda mais apressada. irritou-se ao perceber que ela estava fugindo dele, e ligou a ignição dirigindo até a alcançar, o que não foi difícil. Baixou o vidro e gritou para ela:
— Deixa de ser infantil! Está muito cedo para isso e me deu muito trabalho acordar antes do meu horário para vir te buscar!
— Eu não pedi para você vir!
— ! Para! Entra logo!
A garota continuou andando. bufou e olhou o retrovisor. Não vinha carro algum e nem ônibus. Ele deu uma leve acelerada e fechou o caminho da garota, invadindo parte da calçada. parou de olhos arregalados e boca aberta. Começou a xingar o homem e revirou os olhos, abrindo a porta do carro. Ela entrou, emburrada.
— Bom dia, . Como dormiu?
— Cala essa sua boca, !
sorriu e seguiu para o destino dos dois. Ao chegarem na academia, eles entraram à sala discutindo. exigia que parasse de a perseguir daquele jeito e apenas a provocava ainda mais. Entretanto, não demoraram, os dois a se concentrarem no ensaio.
Ela havia finalizado a ideia que havia tido para incluir um
padedê na coreografia. Ele observava os passos que ela executava, e explicava com calma e dedicação incomum. Os olhos de começaram a brilhar sobre a figura da mulher. havia posto um instrumental de balé para auxiliar a adentrar naquela atmosfera. E ao sentir os acordes de
Feel Again tocando em um ritmo animado, mas leve, se hipnotizou em . Sua hipnose não durara muito, uma vez que seu corpo foi acometido pela música e ele levantou-se do chão de repente, assustando-a. Tomou as mãos de nas suas, e guiou a mulher em um
padedê totalmente íntimo. Havia mescla dos passos dela, do improviso dele, mas principalmente, uma mescla de seus corpos.
estava ofegante ao final, não pelo cansaço, mas pelas sensações que aquela dança improvisada os causara.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou olhando-o nos olhos.
Não desviaram o olhar um do outro. A mulher percebeu a pupila de dilatada e um brilho que lhe pareceu erótico demais, refletidos ali. Ele, por sua vez, observava o movimento ofegante da respiração dela, e sabia o que aquilo significava.
— Estou dançando. — respondeu ele, com voz baixa e rouca.
não admitiria, mas aquela entonação mexia com ela de uma maneira totalmente nova a deixando eufórica.
— Não são estes os passos que eu…
— Você nunca foi levada por um momento? — interrompeu a reclamação que ela faira e aquela pergunta dele pareceu-lhe sugestiva demais.
Fred havia chegado mais cedo, a ressaca não o deixara dormir e era responsável demais para perder um ensaio por conta de bebedeiras. Ele estava escondido à porta, observando os amigos. Sorriu e abaixou a cabeça ao assistir à cena, e com as mãos nos bolsos saiu dali deixando novamente o par a sós.
— , não podemos inventar muita coisa, até porque essa música foi apenas para te ajudar a entender a construção das oitavas e…
interrompeu-na de novo:
— Eu sei, . Mas, estou apenas contribuindo. Sei que é a
sua área. Contudo, temos que literalmente gerar um filho aqui. O resultado de nós dois.
já havia soltado-a de seus braços e falava normalmente. E não entendia os motivos, daquela analogia, terem a desconcertado tanto.
“Gerar um filho… O resultado de nós dois”… Ela pôs os dedos, delicadamente, sob os olhos. Lambeu os lábios calma e suspirou de cabeça baixa.
— Temos uma química invejável e tudo o que fazemos juntos dá tão certo… — mencionou perguntando ansioso: — O que achou do meu
padedê?
Afinal, do que estava falando? Ela estava tão confusa com aquelas frases que lhe pareciam tão subliminares!
— É… Somos bons mesmo! — disse categórica com as mãos na cintura e ele sorriu satisfeito em ouvir aquilo — Eu… Gostei.
— Ótimo! Você entra com seu início e finalizamos o
padedê com o meu final, e depois voltamos para algumas referências mais sensuais do,
street, até porque
“Dancing With a Stranger” pede por uma abordagem mais sensual.
Ele caminhou diretamente ao som e animado em retornar à música. E ela sentiu-se extremamente envergonhada por notar que estava apenas falando da dança. Estava constrangida pelas sensações estranhas que aparentemente, afetaram exclusivamente a ela. E queria logo sair dali.
Os dois ensaiaram até a hora em que Fred retornou. O amigo os cumprimentou, e assistiu ao que estavam preparando. Logo, os parabenizou e quando finalizaram, Fred se aproximou de . A bailarina sorriu indo abraçá-lo, mas foi pega de surpresa por outro beijo na boca. Fred estava louco, ou ela havia perdido alguma coisa?
não pode evitar presenciar aquela cena uma vez que estava bem à frente dela. Ele queria realmente sair correndo dali e socar a primeira parede bem dura. E ao notar aquilo, grunhiu. Fred e se separaram e olhavam-se ignorando a presença de . Para , havia algo mais importante do que dar atenção ao fato de que , que havia sondado-a sobre Fred, estava ali naquela sala observando-os. Ela tinha que esclarecer o que estava acontecendo ali antes de se preocupar com impressões aparentes. E quanto ao Fred, se divertir com as reações de e eram mais importantes.
— Eu disse que sempre quis… — Fred começou, mas foi interrompido pela amiga de maneira dura:
— É você disse.
não sabia o que estava acontecendo, mas pegou seu pendrive no aparelho de som e colocando-o no bolso, saiu dali. Os outros dois notaram a saída dele, silenciosos e sem o olhar. Quando estavam a sós retornaram ao próprio diálogo.
— Não é nada de mais , só que você estava muito linda dançando e também… Eu disse que sempre quis te beijar e ontem, aquilo não foi bem um beijo, não é?
— Frederich deixa de ser idiota! Não combina com você este papel. Nunca mais faça isso! — advertiu cutucando o peito do amigo com o indicador — Você sabe que odeio quando me tocam ou agem como se o meu corpo pertencesse a qualquer pessoa, menos a mim!
— Desculpa … Mas, você sabe que não foi a minha intenção.
— Sei
muito bem qual foi sua intenção, e é melhor você parar.
Ela disse dando as costas para Fred. Dessa vez ele não esboçou nenhuma expressão. Enfiou as mãos no bolso e observou a mulher trocar suas sapatilhas pelo sapato de
jazz.
— Mas, você gostou? — Ele perguntou após um tempo em silêncio.
— Não foi o meu melhor beijo. — Ela respondeu e Fred riu do fora que havia levado.
havia retornado à sala bem no momento em que ele a perguntou, e se escondeu à espreita da resposta. Sorriu com a resposta que ela deu.
Naquela manhã de ensaio, saiu mais cedo. Precisava chegar impreterivelmente às nove da manhã na lanchonete e por uma confusão anunciada na cidade, no dia anterior, as rotas dos ônibus estariam modificando-se. Ela não quis arriscar chegar atrasada. E partiu para o ponto de ônibus, meia hora mais cedo.
Estava sentada, curvada, com os cotovelos nos joelhos, e as mãos aos cabelos. E olhava na direção que o ônibus viria. passava de carro, e outros colegas da academia chegavam também ao ponto. Ele diminuiu a velocidade e jogou o carro para o acostamento. Ficou com o pisca alerta ligado, observando-a quieto, quase que escondido, do outro lado da rua. Cada trejeito dela o intrigava. O modo como sorriu para os colegas que se aproximaram indicando a nula intimidade ali. O modo como mexia em seus cabelos demonstrando agitação e olhava incessante ao relógio. A mordida de lábios que esclareciam a sua impaciência. E sorria.
sempre o fizera sorrir, desde que se conheceram. Ele sempre soubera deste fato, só nunca soubera por qual motivo escondia aquilo todo aquele tempo. Ela levantou-se do banco no ponto de ônibus dando o lugar a uma senhora e olhando feio para os colegas de Academia que não fizeram aquilo. sorriu com o “revirar de olhos” habitual de , seguido por um resmungo. Tinha o espírito de uma idosa rabugenta, quando queria. Ela olhou mais uma vez para o relógio e cogitou oferecer-lhe carona. Ela havia dispensado todas as caronas anteriores e o homem tivera que, praticamente forçá-la aceitar, mas foi bastante direta quanto ao
“pare de me perseguir”. E nem mesmo ele tinha palavras para explicar ou justificar aquela “perseguição”. Contudo, tentar uma última vez não os mataria, não é?
Bem no exato momento em que pensou em seguir atrás da garota, o ônibus chegou e ele observou a mulher sumir entre os passageiros. Lamentou, e partiu dali para seu trabalho assim como ela estava fazendo no ônibus.
Capítulo cinco
Ao anoitecer, estava livre do trabalho. Era seu dia de folga. Assim que soubera daquilo, ela telefonou para . Combinaram de se encontrar no centro, mas foi a porta da saída dos fundos abrir e sair dali semi aliviada, que o carro dele surgiu estacionando à sua frente.
— Acho que falei há pouco ao telefone: “te encontro no centro”.
— E perder mais tempo? Só entra logo, . — sorria, não conseguiu levá-la mais cedo de carona, entretanto o destino estava literalmente tirando uma com a cara de .
Eles seguiram até a casa dela, mas a mulher só se deu conta após acordar ao chegar. Havia dormido o caminho todo.
— Eu não sabia para onde seguir. Tudo bem se ensaiarmos aqui? — perguntou e ela bocejando olhou para a garagem de sua casa.
— Tudo bem… Não repare a bagunça.
Ele estacionou na porta, pegou sua mochila no banco de trás do carro e seguiu a garota que entrava. O portão gradeado branco, rangendo, fez com que observasse a nova com admiração. Talvez fosse aquilo: andava muito admirado pela força de superação da jovem.
Ela abriu a porta da sala e sorriu para ele sem graça. A casa não estava absolutamente bagunçada, mas, também não estava impecável. A primeira coisa que ela fez, foi recolher as cobertas e os papéis sob o sofá. Deixou cair um deles e o pegou lendo:
“Barreiras”, o título o chamou atenção, e as primeiras frases também. Entregou o papel a ela, intrigado. Mas, ela não mencionou nada sobre aquilo.
— Quer alguma ajuda? — Ele perguntava, para muito além da organização do local.
Estava realmente oferecendo, de uma maneira velada, ajuda para o que quer que ela precisasse.
— Não, obrigada. Pode sentar. A casa está limpa, eu não tenho tanto tempo de sujar. Só mesmo, algumas coisas fora do lugar.
— Entendo…
Ainda que ela houvesse negado, ele seguiu a garota: reuniu os chinelos espalhados no chão se perguntando por que alguém que mora sozinho teria tantos pares de chinelos e pantufas e entregou-os a ela. sorriu ao notar a face curiosa dele. Depois, pegou uma jarra de suco na geladeira e serviu-o.
— É natural. Sei que você não bebe sucos artificiais. — Ela explicou entregando-o.
Ele riu baixo por saber que ainda tinha aquela memória. Ficaram se olhando por um tempo em silêncio até ela indicar que iria tomar banho. Deixou-o confortável à sala com controle remoto do aparelho de som e da tv. E ao retornar, abriu a porta lateral da sala. notou que a porta dava passagem à garagem. Diferente arquitetura, mas bem útil. ligou o aparelho de som na sala e que graças àquela passagem se faria ouvir muito claramente.
— Você não quer comer nada? — Ele perguntou preocupado por ela.
— O quê? Você quer comer? Me desculpe! — Ela perguntou assustada e quando ia em direção à cozinha, segurou seu braço impedindo-a de passar por ele.
— Eu já comi. Estou perguntando
se você não vai se alimentar.
— Não, não. Se finalizarmos o
padedê hoje, amanhã passamos ele e a coreografia toda e segunda estaremos prontos!
— … Você já comeu hoje?
— Claro que comi .
— Porque posso ficar a noite toda ensaiando se preciso for…
— Relaxa, eu estou bem. Então vamos começar? Realmente não quero passar a noite toda ensaiando. Preciso dormir um pouco mais esta noite.
Ele concordou e ensaiaram os mesmos passos da parte da manhã com algumas ressalvas aqui e outra ali. Um giro retirado, uma pegada acrescentada, uma ou outra marcação de posição mais difícil de gravar…
O relógio marcava as três horas da manhã quando obrigou a mulher a parar. Para alguém que não queria dormir tarde, ela estava esquecendo-se daquilo. Ele pegou seu casaco sobre o sofá e sorriu para ela.
— Anda, vá dormir. Eu não quero ter que suportar o seu mau-humor logo mais.
riu. A primeira, após tanto tempo, verdadeira risada de . E em silêncio ficou admirando-a.
— O que foi? — perguntou apreensiva.
— Você e o Fred estão mesmo juntos? — estava sério e concentrado ao olhar dela.
E ela por sua vez abriu a boca, em uma expressão de desconforto.
— De novo essa pergunta?
— Sim ou não, ? Você não foi muito clara da última vez, e hoje…
— Qual é ?! — Ela o interrompeu: — Por que quer tanto saber disso?
— Eu não sei por que, exatamente. Mas, eu não gosto da ideia de estarem juntos.
não esperava que ele fosse tão direto! Ela apenas tomou para si uma postura defensiva, encarando o olhar decidido de sobre ela.
— Não estamos… — respondeu quase sussurrado.
observou a reação amedrontada da parceira e sorriu desconversando:
— Ei! Quer saber… Vê se descansa! E acorde bem, tome café e chegue de bom humor, por favor! Ando muito à flor da pele por sua causa.
Apesar da frase novamente sugestiva ao fim de sua fala, riu do comentário. Acompanhou-no ao portão e com um aceno discreto se despediram. Os dois seguiram seus caminhos, não menos pensativos sobre o curto momento entre si. dirigia com um sorriso largo em seu rosto, e tamborilava os dedos, em um ritmo que estava apenas em sua mente.
caminhava para seu quarto, com a vitamina recém-batida em mãos. Ela não havia comido nada o dia todo, e realmente após aquele momento em sua sala não tinha mais fome. Ultimamente, se alimentava de dança e trabalho. Ela sentou-se em sua cama, e recostada à cabeceira, terminou de beber sua vitamina. De olhos fechados, sorria repassando cada passo do ensaio, cada momento de descontração. Ela depositou o copo em sua mesa de cabeceira e ainda de olhos fechados, reflexiva, deu-se conta do que acontecia: o sentimento antigo, mascarado sob o ódio, a revisitava.
Estava novamente após tanto tempo, deixando-se levar pelo carinho reprimido que sentia por seu ex-atual-parceiro. O que seu pai diria se soubesse daquilo? Não lhe interessava mais, afinal, já havia libertado-se das ordens do pai. Restava saber, o que ela decidiria fazer.
Adormeceu que nem mesmo sentiu. O gosto amargo em sua boca denunciou-lhe que apagou sem, ao menos, dar-se conta, uma vez que nem escovara os dentes. Levantou-se urgente por um banho. Não sentia fome, apesar de ter apenas uma vitamina como refeição do dia anterior. Ela comeu algumas torradas com café naquela manhã, e levou duas frutas em sua bolsa.
Ao sair pela calçada, dançava à medida que caminhava, alguns poucos vizinhos observavam o astral da garota com felicidade: desde que chegara ali, a moça mais jovem daquele bairro de idosos não sorria. E oras, estava dançando no meio da rua! Ela dirigiu-se ao ensaio com outro astral, e determinada vontade de vê-lo.
Contudo, naquela manhã, não foi ao ensaio e ela se viu totalmente incomodada com aquilo. Mas, não se deixou perceber pelos demais. Antes de ir embora, ela parou Fred na porta:
— Fred! avisou por qual motivo não veio?
— Tinha uma reunião importante.
Ela “fez que sim” com a cabeça, e sorriu para Fred. Ajeitou a bolsa nos ombros, e o amigo coreógrafo sorriu de um jeito curioso.
— Ele não te avisou? — perguntou para ela.
— Não teria por que também… Não marcamos nenhum ensaio extra de manhã.
— Ah… E você se preocupou com ele?
— Só estranhei ele não ter vindo mais cedo. — respondeu convicta.
— Mas você disse que não marcaram nada extra.
— Nosso ensaio anterior a este, não, é algo extra. Estamos nessa desde o início da temporada.
suspirou com um “ar de obviedade”, na tentativa de disfarçar que sim, havia sentido a ausência de de um jeito diferente, e saiu apressada. Fred sorria por cada vez mais perceber imersa em um sentimento que insistia em negar.
a telefonou na hora do almoço.
— Está almoçando?
— Não, não. Pode falar.
— E por que não está almoçando?
— Me telefonou para isso, ? — Ela perguntou surpresa.
— Não… É que eu queria saber se tudo bem ensaiarmos hoje à noite em minha casa.
— Tudo bem, eu combinei de pagar um colega para trocar a folga comigo. Mas, segunda, eu não vou poder e nem terça.
— Os ensaios noturnos eram apenas para a avaliação de Fred, não? — Ele disse pegando-a de surpresa.
— Ah, sim, claro… Tenho que voltar ao trabalho … Até mais.
Desligou sem o deixar responder, mas se ele não estava louco, ela o havia chamado pelo apelido depois de tanto tempo. Algumas coisas estavam voltando a ser como antes?
•••
a buscou e levou-a para a casa dele. E notou que nada havia mudado muito na vida e na casa dele, desde que eram amigos e parceiros fixos de dança. Ela sentou-se no sofá aguardando terminar seu banho, e assim que ele voltou à presença dela, o rapaz foi à cozinha seguido por ela.
— Enquanto você come, quer que eu vá fazendo algo? — perguntou.
Estava ansiosa, alguma coisa em “ficar perto ou a sós” de , a deixavam ansiosa nos últimos dias. Ele olhou para ela sorrindo, e deu às costas voltando às panelas.
— Só estou preparando o nosso jantar para depois do ensaio.
— Ah, não precisa se incomodar comigo, . Se quiser comer antes, fique à vontade.
— Acha que eu não sei que você anda se alimentando menos do que um pássaro? — Ele mencionou sério, verdadeiramente preocupado com ela — Suas olheiras e a cor da sua pele denunciam não só o cansaço extremo, como um pré-estado anêmico, .
Ela ficou muito sem graça com a fala, as percepções e com a audácia dele.
— Não é uma crítica. — respondeu ainda de costas ao notar o silêncio atípico da parte dela — Eu só estou me preocupando contigo.
Ela murmurou um resmungo positivo e voltou para a sala. Logo, surgiu com uma taça de vinho para ela.
— Achei que iríamos ensaiar, . — Ela riu pegando a taça.
— Uma taça não vai atrapalhar nada. — riu de volta: — Vou deixar o cozido fervendo em fogo baixo e podemos começar. A cobertura do apartamento é um ótimo espaço.
— Ok… — bebeu um gole e olhou curiosa para ele: — Você aprendeu a cozinhar, então?
— Você sabe como adoro comer… E morando sozinho a gente é forçado a se virar, não é?
— Verdade… — Ela sorriu olhando para baixo.
— ? — Assim que o ouviu, o olhou e se deparou com mais do que curiosidade no semblante dele, era preocupação nos olhos dele ao perguntá-la: — O que houve com você?
— Eu decidi o que foi melhor para mim.
— Seu pai te colocou contra a parede, não é? Mas o que foi diferente agora? Ele sempre fez isso.
— Uma hora a gente tem que bater o pé né…
— Você… — Ele perguntou com muito jeito, tinha medo dela se ofender — Está precisando de alguma coisa?
— Preciso. Me acostumar logo com a nova vida… — Um sorriso melancólico surgiu nos lábios dela.
ponderou entre uma fala e um gole. Decidiu beber ao invés de falar mais alguma coisa, e quis poder fazer algo por ela.
— Ele deserdou você?
A pergunta sem resposta, e a sonora risada lenta da mulher indicaram o que ele já sabia. Afinal, havia escutado a conversa com Fred e , apenas não admitiria isso para ela.
Rapidamente, virou de uma só vez seu vinho, sendo obrigado a ouvir implicando por seu gesto, e desconversando o assunto ao dizer-lhe que aquilo era um insulto. Então ele foi ao fogão deixar seu ensopado no modo “cozimento”. Em seguida, puxou a garota pela mão delicadamente, e ela levando a taça o seguiu. Fecharam a porta do apartamento e seguiram para o elevador em silêncio. manteve-se quieto por processar o sentimento estranho que apertava o peito dele ao saber que o pai de havia realmente deserdado a filha, abandonado-a por desaprovar um pequeno sonho.
Ensaiaram no terraço sob as estrelas e a lua grande até que o cansaço os parasse, ou o cozido os interrompesse. Quando desceram, os dois comeram juntos, sorriam e conversavam como não faziam há muito tempo! Decidiram comer na sacada da sala, um espaço que havia feito de “recanto”. Era coberta até certa parte, onde havia almofadões e uma mesinha de centro. Aquilo quebrava o ar sofisticado da sala, e realmente era um refúgio. Estavam ambos no chão bebendo o que restara da garrafa de vinho e conversando animados, quando começou a chover. levantou correndo passando por cima de , e ela sem entender o observou até que enfim começou a gargalhar. Ele estava retirando algumas coisas que deixou na parte descoberta da sacada e estavam molhando. Ele retornou meio irritado por seu descuido próprio.
— Isso sempre acontece! — Ele disse chateado ao puxar os almofadões que ele sabia, demorariam a secar.
— Você precisa de alguém para te ajudar, o apartamento é grande. Não tem uma diarista para organizar as coisas aqui pelo menos uma vez na semana?
— Não, eu que arrumo tudo. E até que é divertido. Vai ser ainda mais divertido quando eu tiver uma namorada! — comentou sincero sem qualquer intenção.
— Mal dou conta da minha casa. — suspirou ao comentar.
olhou confuso para ela e começou a gargalhar. Estranhando, ela encarou o rapaz que a observava com um sorriso zombeteiro, e aí ela o entendeu.
— Ei! Não estou me oferecendo! Foi só um comentário, afinal, estou até constrangida. Você arruma sozinho a sua casa e eu mal dou conta da minha que é tão pequena! — justificou-se ela, embolando um pouco a língua nas palavras apressadas.
— Pequena, mas muito aconchegante.
— Você gostou dela? — sorria de um modo surpreso.
— Muito.
Novamente houve um silêncio constrangedor entre os dois, e seus pares de olhares a se analisar reciprocamente.
— Também não estou me oferecendo a você. — comentou zombando.
— Eu não disse nada, seu convencido. — riu.
— Até porque… — decidiu retomar aquele assunto, que sim, já sabia que o incomodava e esperava descobrir logo o que realmente queria, para finalizar aquela importunação da sua própria cabeça — Você diz que não tem nada com o Fred, mas vocês se beijam. Não quero problemas.
— Você é um problema. — respondeu assertiva, sem notar o peso que poderia cair sobre aquela frase.
olhava-a intrigado. E lentamente aproximou seu rosto ao dela, a garota não olhava para ele, mas sentia-o se aproximar. delicadamente levantou-se antes que ele a alcançasse. Fechou os olhos se reprovando e disse para que precisava ir. Ele insistiu em levá-la para casa, e embora tivesse recém escapado do beijo dele — o que o deixou com raiva, mas sem saber de quem ou o porquê — ela aceitou a carona.
Ele a deixou na entrada de sua casa, e ela acenou entrando rápida correndo da chuva. Ele sorriu. E ela também, lançando a ele um último olhar da noite.
Capítulo seis
Na segunda-feira, os parceiros apresentaram a coreografia, em um esboço perfeito de apresentação e Fred não só aplaudiu como teceu elogios infindáveis. Elogiou a dedicação deles, porque apesar do prazo apertado, cumpriram seu dever. Elogiou a perfeição dos movimentos, a criatividade, a responsabilidade. Elogiou a beleza do duo, e elogiou por fim, em suas próprias palavras:
“a natureza íntima e de um matrimônio corpóreo entre o casal”. Os dois não sabiam se sorriam exibindo-se ou se resguardavam. Eles sempre foram um par discreto, muito confundido com soberbos ou esnobes. Agradeceram sorridentes e retornaram ao seu lugar para assistir as outras apresentações.
Mas, na vida, em tudo, um trabalho executado com maestria tende a atrair e repudiar. E na saída daquele ensaio, os dois foram bombardeados por cochichos maldosos e apontamentos. estourou a paciência ao ouvir uma colega falar, em tom não tão baixo:
“Aí é fácil, o Fred coloca os dois perfeitinhos, juntos. Há quanto tempo eles estão em parceria nisso mesmo? Até eu me sairia tão bem se dançasse com o cara com quem transo há dez anos!”.
segurou a mão de , puxando-a dali antes que ela fosse até a dançarina exigir explicações. Ele a acalmou, levou-a para o trabalho e antes que saísse revoltada do carro dele, pronunciou a única coisa naquele percurso:
— Nós dois, vamos pisar em todas as apresentações. Façamos jus aos títulos de rei e rainha daquela Academia, !
Disse, e saiu batendo a porta do carro. Atravessou a rua pisando fundo. estava com uma sobrancelha arqueada em um tom surpreso e satisfeito com a saída tempestiva de . Ele telefonou ao Fred contando o que aconteceu, e finalizou sua ligação com a frase:
— Despertaram a patricinha dona de um império que há escondida dentro de . E é melhor você não evitar esse fantasma agora.
Os dois mantiveram os ensaios noturnos quando era possível conciliar às folgas dela. E embora achasse que após a experiência pré-avaliação dos ensaios, que os tornaram “íntimos” de novo fosse perpetuar, na verdade, estava mais insuportável do que antes. E o que mais espantava aos dois, era que estava mais paciente do que nunca. Ele ria da maneira como a garota tentava o repelir de novo e implicá-lo. Durante um dos ensaios ela falava sem parar, ou melhor, reclamar… E ele, com as mãos à cintura, sorria. Aquele sorrisinho a deixou tão enraivecida que ela começou a gesticular forte e reclamar, mais, mais e mais até que puxou-a pela mão colando seus corpos. Eles olhavam-se tão fortes, de repente iniciou uma dança de salão, calma, com ela. E foi acalmando-se lentamente, com um riso que nasceu de um sorriso de canto e logo ambos gargalhavam bailando pelo salão. sabia que após a apresentação final do ano, aquele ar repulsivo e impaciência de , desapareceriam. E então ele mudaria todo o ciclo de suas relações. Estava disposto a ter mais momentos agradáveis ao lado dela. Já evitava pensar no que viria depois.
Dia da Apresentação Final
Eles eram o último casal.
— … Vamos fazer o que nascemos fazendo de melhor. — segurava a mão dela na coxia aguardando serem anunciados.
— Não se preocupe , nós somos os melhores no fim das contas!
Eles foram anunciados, as cortinas se fecharam e ela deu o primeiro passo. Estava determinada. E o som de seu apelido, dito por ela, fizera reverberar por dentro. Ele entrou no mesmo ritmo, no mesmo sentimento e na mesma gana que ela. As luzes baixas, os dois em seus lugares, e começou a música:
(Nota de autora: sugiro tocar a música para acompanhar as cenas seguintes)
Eu não quero ficar sozinho esta noite
I don’t want to be alone tonight
Está bem claro que eu ainda não te superei
It’s pretty clear that I’m not over you
Eu continuo pensando nas coisas que você faz
I’m still thinking ‘bout the things you do
Então, eu não quero ficar sozinho esta noite, sozinho esta noite, sozinho esta noite
So I don’t want to be alone tonight, alone tonight, alone tonight
Ela entrou dançando, os passos fortes e bem marcados, de um estilo sensual voltado ao street. E ele também. Se encontraram no centro do palco, e faziam marcações harmônicas.
Você pode acender o fogo?
Can you light the fire?
Eu preciso de alguém que possa tomar o controle
I need somebody who can take control
Eu sei exatamente o que preciso fazer
I know exactly what I need to do
Porque eu não quero ficar sozinho esta noite, sozinho esta noite, sozinho esta noite
‘Cause I don’t want to be alone tonight, alone tonight, alone tonight
começou a cantar de repente. Aquilo era um bônus. Aquela parte da música desde os ensaios, traziam ao a cena de Fred e se beijando. Então havia um “ar” competitivo, nostálgico e apaixonado entre ele e , e na letra da canção.
Olhe o que você me fez fazer
Look what you made me do
Eu estou com alguém novo
I’m with somebody new
Uh, querido, querido, eu estou dançando com um estranho
Ooh, baby, baby, I’m dancing with a stranger
Olhe o que você me fez fazer
Look what you made me do
Eu estou com alguém novo
I’m with somebody new
Uh, querido, querido, eu estou dançando com um estranho
Ooh, baby, baby, I’m dancing with a stranger
Dançando com um estranho
Dancing with a stranger
E quando a voz dela entrou naquele refrão junto com ele, era também outro bônus que deixaram a todos ainda mais surpresos. ganhou a frente e que havia sumido do jogo de luzes, retornou com uma roupa totalmente diferente. Na parte seguinte, mais lenta, ela iniciou o balé, enquanto fazia o padedê com a mulher.
Eu nem ia sair hoje à noite
I wasn’t even going out tonight
Mas, garoto, eu preciso te tirar da minha cabeça
But, boy, I need to get you off of my mind
Eu sei exatamente o que tenho que fazer
I know exactly what I have to do
Eu não quero ficar sozinha esta noite, sozinha esta noite, sozinha esta noite
I don’t want to be alone tonight, alone tonight, alone tonight
Olhe o que você me fez fazer
Look what you made me do
Eu estou com alguém novo
I’m with somebody new
Uh, querido, querido, eu estou dançando com um estranho
Ooh, baby, baby, I’m dancing with a stranger
Olhe o que você me fez fazer
Look what you made me do
Eu estou com alguém novo
I’m with somebody new
Uh, querido, querido, eu estou dançando com um estranho
Ooh, baby, baby, I’m dancing with a stranger
Ele saiu do palco surgindo em uma parte mais alta, enquanto ela rebolava de modo sensual combinando o balé no chão, com o,
street dance. Ele pulou do alto onde estava bem à frente dela, e puxou-a continuando o
padedê combinado. A música tomou um tom mais lento e clássico. E as vozes sensuais de ambos arrepiaram a plateia.
elevou para o alto, durante o restante da música como haviam combinado, pegou-a em seus braços passando-a para suas costas e a garota tocou os pés ao chão retornando do
padedê para o,
street. Eles fizeram uma sequência de passos ágeis, difíceis e super sincronizados.
Três fileiras de dançarinos que ninguém, nem mesmo Fred, esperava tomaram a frente dos dois, criando um muro de dança. , naquele momento surgiu com sua terceira troca de roupa, um colam com tecido
voail descendo de suas pernas em uma fenda abusadamente longa e surgiu em um fraque de dança, elegante e tomou-a em seus braços. A música perdeu a batida pop, se colocando presente um ritmo sensual e leve, adaptação que os dançarinos haviam feito no mix da canção para a apresentação, e que denotava ao clássico do balé no exato trecho final cantado melodiosamente pelos dois:
Eu estou dançando, estou dançando, uh
I’m dancing, I’m dancing, uh
(Eu estou dançando, estou dançando)
(I’m dancing, I’m dancing)
Dançando com um estranho
Dancing with a stranger
Eu estou dançando, estou dançando
I’m dancing, I’m dancing
Dançando com um estranho
Dancing with a stranger
(Eu estou dançando, estou dançando)
(I’m dancing, I’m dancing)
Dançando com um estranho
Dancing with a stranger
Do início até o final da apresentação todas as faces mantiveram-se concentradas neles. Olhares totalmente perplexos e um Frederich totalmente sorridente por trás das cortinas. Os companheiros de Academia, que os detestavam, passaram a detestar mais. Aqueles que admiravam, passaram a admirar mais. E ainda, os neutros, se convenceram do poder que aquele casal exercia sobre um palco.
e tomaram mais uma vez o centro do palco, e a equipe de dançarinos que os acompanhava saiu. E o mais improvável aos olhos do público aconteceu, quando , ao final da dança, pegou em um passo combinado e rodopiou-a em seu corpo, onde ela finalizava sentada em sua cintura segurando-se à nuca dele. Mas , inesperadamente, beijou-a de um jeito voraz. correspondeu ao beijo e nada mais se ouvia no teatro da apresentação, se não oblações e gritos. Fred não sabia se gargalhava, chorava de emoção ou recebia as parabenizações das pessoas mais importantes da Academia por seu grupo da companhia de dança.
Os dois desceram do palco após agradecerem ao público sendo abraçados pelos companheiros. Receberam cumprimentos e tiraram fotos. Fred os exaltou ainda mais apenas entre eles três. E quando foi chamado para receber o carinho da plateia, e ficaram a sós. Eles se abraçaram extremamente felizes e eufóricos. Ao separar-se de , viu que a mesma mulher que havia feito o comentário maldoso no ensaio os encarava com ódio. olhou na direção dela e chamando a atenção de , falou:
— Vingada senhorita ?
— Bastante, ! — Ela riu, mas logo, sua expressão tornou-se mais séria ao encará-lo: — E o que foi aquele final?
— Você havia dito para fazermos jus aos títulos… — explicou seu ato impensado sorrindo brincalhão, e , bem humorada, sorriu junto — Fiz mal?
— Não, acho que foi um
“grand finale”. — Ou seria um recomeço? — indagou se aproximando mais dela, olhando profundamente à mulher.
A pergunta de ficou sem resposta, pois ambos foram puxados pelos colegas de Academia para o agradecimento final no palco. E em seguida foram arrastados para a saída em direção à comemoração. perdeu de vista e ao perguntar sobre ela para Fred, o coreógrafo disse que ela havia ido embora. No mesmo momento, também decidiu ir embora. Na verdade, decidiu alcançar .
Pegou o carro e poucos metros de distância do local, ela caminhava cabisbaixa na calçada com sua roupa da apresentação ainda e sua mochila pendurada nas costas. Ele alcançou-a com o carro no mesmo ritmo dos passos dela. Ao olhar para o lado e ver que era , ela sorriu, e parou de caminhar. Ele também estacionou e abaixou o vidro:
— Por que não foi comemorar?
— Você, mais do que ninguém, sabe o quanto preciso dormir. Após comer, é claro! Eu não como bem há semanas!
Ela respondeu se aproximando da porta do carro dele, de um jeito mais amigável do que meses antes.
— Dorme lá em casa. — Ele falou em um tom de voz que a deixava mexida.
Estava sério aguardando-a responder. encarou-o em dúvida e sorriu fugindo ao olhar de .
— Tenho um vinho em casa, uma massa pré-aquecida que preparei, antes de sair… — Ele deu mais uma alternativa a ela.
A mulher sorriu e negou com a cabeça, ponderando o que deveria fazer, encostou a testa em seus braços cruzados sobre a porta do carro cansada, e bastante tentada a aceitar aquela oferta dele.
— Se não estou enganado, você não faz compras há alguns dias, sua geladeira está vazia e você vai comer uma salada de frutas ou um copo de vitamina e cair morta de cansaço na cama. Minha oferta é meio irrecusável, não acha? Sem contar que, a minha cama deve estar mais organizada que a sua, com certeza! — insistiu e provocou com a brincadeira no final para que ela dormisse com ele.
— Seu idiota… — sussurrou risonha, ainda com a cabeça entre os braços.
— Eu te falei que fiz massa? — Ele continuou jogando.
A bailarina ergueu o rosto para ele. Em tempos atrás estaria irritada pela petulância dele em provocá-la daquela maneira, mas não pôde não sorrir quando viu os dentes dele se revelarem sob um sorriso maldoso. Respirou fundo, certa do que ia fazer, mas interrompeu seu ato com um último pedido:
— Dorme lá em casa, .
Ela não queria ceder logo depois daquele pedido, mas já havia posto a mão na maçaneta da porta e ele sabia. Ele havia sido sugestivo de propósito. E ao vê-la naquele impasse de como reagir após a sua última proposta, ele olhou para a mão dela na maçaneta, confirmando que já sabia que ela havia aceitado pelo jantar.
fez uma careta entrando no carro, e não custava ser ainda mais direta naquela confirmação:
— Estou indo pela comida.
riu negando com a cabeça e ela sorriu afivelando o cinto. Ela não cedia mesmo. Mas, a verdade é que ele gostava daquilo.
Fim
eu vou amar isso aqui hahaha