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   não sabia ao certo como havia se colocado em tal situação. Mesmo depois de tantos anos, tantas pessoas diferentes, tantos quartos de hotéis pelo mundo, tanto… Vazio.

  Tudo bem, dizer que não sabia o que havia acontecido para que tudo se desenrolasse de tal forma era uma mentira, e das mais deslavadas, mas , até então, não tinha nenhum problema em enfrentar os fantasmas de todas as mentiras que a assombravam desde que chegara à vida adulta, afinal, para se administrar uma empresa do porte de Northrop Grumman Corporation, algumas coisas não tão éticas davam o ar da graça aqui ou ali.

  Mas ser um membro de extrema importância no conselho da NG não era o que estava deixando a moça tão inquieta ultimamente, não mesmo, o culpado de tudo foi um pequeno anúncio de alguma empresa qualquer de seguros que nem se daria conta se não estivesse presa no trânsito e sem ter muito o que fazer, nesse anúncio podia-se ler a frase “O que você está fazendo hoje para o seu ‘eu’ do futuro?” e isso, só isso, começou a martelar em sua cabeça daquele momento em diante.

  O que ela estava fazendo para a do futuro? Quais problemas estava arrumando para o seu futuro? Mas sua vida era boa, certo? Tinha uma excelente carreira, uma família que a apoiava bastante, alguns amigos próximos que amava muito e um noivo que a amava incondicionalmente, o que mais poderia querer? A projeção de seu futuro era a desejada por milhões e milhões de pessoas, se não fosse um pequeno detalhe… não era nem um pouquinho apaixonada por seu noivo.

  ‘Mas então por que ela não termina?’ você pode estar se perguntando. Bom, chame do que quiser; conveniência, medo, pressão, comodidade, o casamento é o que todos esperavam dela… Talvez tudo isso ao mesmo tempo! A verdade é que era um ótimo rapaz, sempre atencioso, muito educado, prestativo, muito bonito e com um ótimo emprego. No começo do relacionamento, quando ela não encontrou mais motivos para não dar uma chance ao moço bonito do prédio da frente que sempre a tratava tão bem, tinha a plena certeza que iria acabar se apaixonado por , quem não o faria? Ele era perfeito! Mas ano após ano sem que o, até então, namorado lhe despertasse outros sentimentos além de o de um amigo muito querido, cogitou pela primeira vez terminar com o homem.

  E não se engane ao pensar que aquela foi a primeira e última, não, por muitas vezes ela tentou pôr um fim no relacionamento dos dois, mas nunca teve coragem de ir para frente com a ideia, pelos mais diversos motivos, desde o mais bobo até o mais complexo… Porque ele tinha planejado um jantar especial todo para ela naquele dia, porque ele tinha lhe dado um colar tão bonito, porque ele estava tão feliz naquele dia e ela não poderia quebrar o coração dele e porque ele a pediu em casamento.

   sabia que não foi uma boa ideia ter aceitado o pedido, mas não via o que fazer naquele momento e acabou entrando em pânico, claro, ela não se orgulha disso, mas agora não tem mais como desfazer essa bagunça sem que haja alguns feridos na história, afinal todo mundo ama o .

  Foi quando, em uma viagem de negócios, no desespero para sentir alguma emoção genuína com alguém do sexo masculino que não fosse carinho, decidiu marcar um encontro com o bartender assanhadinho do hotel em que estava hospedada. Na hora lhe pareceu o crime perfeito, sem vítimas e, melhor ainda, sem testemunhas. Não estava em sua cidade, não conhecia ninguém naquele lugar e dificilmente veria o tal bartender novamente, então decidiu tentar, só para dar uma variada, mas sempre tem um ‘mas’ e não contava com o fato de que aquelas pequenas “aventuras” se tornariam parte da rotina dela a partir daquele dia.

  As primeiras vezes foram as mais difíceis, a culpa a consumia sempre que ela falava com o noivo, mas aquele sentimento redescoberto era mais viciante que a droga mais pesada para ela, sempre que tentava ficar sem, enlouquecia. Então foi ficando cada vez mais fácil e rotineiro, seu noivo nunca percebeu nada e sempre acreditava nas histórias e desculpas da futura esposa para os constantes “compromissos”. Sabia que não era justo, e até havia arrastado a melhor amiga , que a conhecia desde a infância, para esse furacão, pois quase sempre usava a desculpa de estar com a amiga e não poderia deixar seu crime já não tão perfeito com furos daquele jeito.

  Não é necessário falar que a amiga não ficou nada feliz com as escolhas tortas de , não é?

  — , amiga, eu sei que você está numa situação difícil no seu relacionamento, mas fazer isso só piora as coisas! — dizia enquanto servia uma taça de vinho tinto à amiga, que estava em sua casa.

  — Eu sei, e como sei, mas não sei o que fazer para sair dessa. Eu juro que estou procurando pela solução certa, mas parece que ela está fugindo de mim.

  — Por que você não termina com o então? — já sabia que a amiga iria se fechar para esse assunto após a pergunta, como sempre acontecia, mas não podia deixar de tentar colocar algum juízo na cabeça de .

  A única resposta que teve de foi um longo suspirar antes da a mulher mudar de assunto.

  Alguns anos depois, ainda levando essa vida dupla, tinha certeza que , agora seu marido, havia descoberto alguma coisa; seu comportamento havia mudado um pouco, só o suficiente para notar, ele parecia sempre querendo dizer alguma coisa, mas nunca o fazia.

  “ estava arrumando seu cabelo e fazendo a maquiagem quando o marido entra no quarto e dá um beijo no rosto da moça.

  — Vai sair de novo, meu bem?

  — Vou sair com as meninas, não vou demorar mais que duas ou três horas.

  — Você vai encontrar alguém, não vai? — estava com um semblante sério no rosto, olhando para a esposa através do espelho.

  — Sim, com as minhas amigas, acabei de te falar, amor. — fingiu que não estava com o coração disparado com a pergunta e espera que o marido tenha acatado a mentira, o que, para quem estivesse vendo de fora, ele o tinha feito, pois apenas deu um aceno, se levantou da cama e saiu do quarto, mas a esposa o conhecia, sabia que para que tivesse feito essa pergunta a semente da desconfiança já havia sido plantada e estava dando os frutos a essa altura.

  Ao chegar em casa, a moça estava com medo de um confronto, que o marido finalmente havia descoberto o que ela fazia e ia tomar uma atitude, mas não foi o que aconteceu. Tudo seguiu na mesma rotina de sempre e na hora em que foram se deitar, o marido a abraçou pela cintura, como sempre fazia. sabia que sabia de alguma coisa, mas não pode deixar de ficar aliviada ao ver que não haveria nenhum confronto.”

  Suas mentiras a sufocavam toda vez que olhava para o marido, até que resolveu conversar sobre isso com mais uma vez.

  — , eu não quero mais fazer isso, juro que não quero, Deus sabe o quanto tentei o amar como homem todo esse tempo, mas não dá, não consigo! E agora já está tarde demais para terminar com tudo…

  — Nunca é tarde demais, .

  — É sim, claro que é! Olha só pra gente, quase completando cinco anos de casado e eu com esse monte de esqueletos no meu armário!

  — , olha pra mim. — E quando a amiga o fez ela continuou. — Você sabe muito bem que há casais que terminam seus relacionamentos com muito mais tempo de namoro, casamento, ou seja lá o que for, que isso. Eu te conheço mais do que você se dá conta às vezes, sei que esse não é o motivo, você sempre foi uma pessoa tão racional, poxa.

  Após alguns minutos, encontra forças para falar novamente.

  — Eu não sei mais viver sem ele, , não sei! Eu me sinto uma pessoa horrível, mas não consigo dar fim em nenhum dos lados, nem terminar meu casamento, nem parar de trair o meu marido! E ele sabe, , ele sabe e não faz nada também, mas sei que isso está matando ele aos poucos. Juro que tento entender como eu me menti nessa situação e agora estou nadando contra a corrente com a água na altura do pescoço para sair dela.

  — Sinto muito que isso esteja acontecendo com você, minha amiga, de verdade, mas enquanto você não tomar uma atitude, não escolher do que você quer abrir mão, essa situação não vai mudar e cada ‘eu te amo’ que vocês trocam serão apenas palavras vazias.

   sabia disso, lá no fundo de seu ser ela sabia, mas não enxergava luz nenhuma nesse túnel que ela mesma entrou andando e sem levar uma lanterna.

  Depois de sair da casa de e chegar na sua, jantou com , tomou um banho e foi esperar seu marido estar pronto para dormir lendo um livro qualquer na cama. Assim que deitou, ela apagou a luz e se deitou, o marido a abraçou costumeiramente.

  — Eu te amo. — Ouviu dizer baixinho no ouvido dela.

  — Eu também te amo — respondeu a mulher.

  E adormeceu com todo o peso daquelas três palavras vazias.