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Sem curiosidades para essa história no momento!

E se for ele?

Capítulo 1

  As mãos trêmulas de Rosana seguravam o aparelho que continha a chave para o seu futuro. Um futuro com o qual ela sonhava desde pequena, enquanto acompanhava o pai na plantação. Claro que uma criança ainda não entendia como o café tão apreciado pelos adultos tinha início em uma fazenda administrada por sua família há gerações. A graciosa garotinha de cinco anos, ao invés de brincar de bonecas com outras garotas, implorava a seu pai que a levasse para a fazenda, onde ela caminhava pelo cafezal ao seu lado. Enquanto seus olhos brilhavam, Gumercindo olhava para a filha orgulhoso, antes de explicar:
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  — Sabe, Rosana, meu avô veio de Portugal há muito tempo em busca de uma vida melhor aqui no Brasil, ele chegou, com nada além da roupa do corpo e um sonho: ficar rico. Mesmo nunca tendo plantado uma muda de café na vida, ele conheceu um fazendeiro aqui em São Paulo que lhe deu um trabalho e o acolheu. Logo seu bisavô já era dono das próprias terras, terras estas que com o trabalho duro dele, prosperaram e passaram para as mãos do meu pai, que depois passou para mim e um dia, quem sabe, se você merecer…
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  A menina que tinha os cabelos presos por uma maria-chiquinha respondeu sorridente:
  — Não se preocupe, papai, vou fazer por merecer!
  — Eu sei que vai, minha filha. Mas é muita responsabilidade, porque agora ela é muito mais do que uma fazenda: um negócio. Pessoas do Brasil inteiro, e até de outros países, tomam o café feito com os grãos saídos daqui e moídos nas minhas inúmeras fábricas espalhadas por aí.
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  Os olhos da garotinha se arregalaram em admiração.
  — As pessoas de outros países também tomam café, papai?
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  O empresário passou as mãos pelos cabelos cobertos de gel enquanto deixava escapar uma risada.
  — Claro que sim, minha filha! Bom, em alguns lugares menos, em outros mais. Contudo, o que posso te garantir é que quem experimenta o nosso café nunca mais quer saber de outro!
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  — Porque o nosso é o melhor! — a pequena exclamou se agarrando às pernas do pai.
  — Isso mesmo, minha menina! Quem sabe se você me provar seu valor eu não te dou a chance de me mostrar que consegue continuar produzindo?
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  Desde aquela época, tudo que Rosana desejava era deixar o pai orgulhoso, afinal, mesmo ele não admitindo, no fundo era evidente que o empresário queria muito ter tido um filho homem para cuidar dos negócios, um pensamento que a aborrecia, mas deixava passar, afinal sabia que a mente teimosa e irredutível do grande Gumercindo Pereira estava presa no século dezenove.
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  Apesar do patriarca nunca ter negado a possibilidade de passar o negócio da família para as mãos de Rosana, a jovem sempre teve que trabalhar duro a fim de mostrar sua capacidade. Na adolescência, ela passava os finais de semana ajudando na plantação da maneira que podia, fosse colhendo, regando, e sempre perguntava no que mais poderia ser útil. Quando completou dezessete, seu pai deixou que se tornasse responsável por uma das fábricas e o acordo era: se a fábrica em questão dobrasse a produção e o faturamento em um mês, ele pagaria para Rosana um curso de administração em Harvard, faculdade para a qual ela havia entrado, e quando ela voltasse, teria seu lugar na presidência.
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  A jovem deu seu máximo para fazer a fábrica funcionar a todo vapor, mas mesmo assim seus pés teimavam em tremer enquanto entrava no escritório de seu pai.
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  — Ah, Rosana, minha filha, você chegou! Pode se sentar.
  Sentindo o coração bater descontrolado, a jovem, de maneira tímida, obedeceu, enquanto segurava sua planilha.
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  — Muito bem, minha filha. Como você sabe, esse mês eu fiquei muito apertado — começou Gumercindo gesticulando as mãos como de costume.
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  — É, eu sei, pai, o senhor teve que cuidar de negócios no exterior e dar atenção a Angélica.
  A pequena e doce Angélica havia nascido muitos anos depois de Rosana, era uma menina adorável.
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  — Sim, não é fácil para ela crescer sem uma mãe.
  Infelizmente a vida de Angélica havia custado a vida de dona Maria do Socorro conhecida como a primeira dama do café. A aspirante à empresária possuía inúmeras boas lembranças com a mãe, por exemplo, uma vez em que ela demitiu uma empregada porque o filho da mulher havia puxado o cabelo de sua preciosa Rosana, ou quando a filha chegava exausta de um dia na fazenda, ela sempre a recebia com um chá e uma palavra de incentivo.
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  — Filha, você está indo muito bem, tenho certeza que seu pai está orgulhoso, mesmo que ele não diga, sabe como o senhor Gumercindo é cabeça dura.
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  Ela ria enquanto se aconchegava no abraço da matriarca da família.
  Desde a morte da mãe, Rosana havia colocado como meta para si mesma: se tornar uma empresária tão boa quanto seu pai, ou até melhor. Um caminho que se tornou muito mais difícil com a ausência de Maria do Socorro, porém Rosana precisava ser forte, pelo seu sonho e por sua irmãzinha, Angélica, a mesma sem culpa alguma do acontecido.
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  — Eu sei, e está fazendo um ótimo trabalho — elogiou na tentativa de amolecer aquele coração duro. — Mas eu trouxe aqui as planilhas com os resultados da fábrica no tempo em que ela ficou sob minha responsabilidade.
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  Com as mãos trêmulas a garota colocou a pasta na mesa do mesmo jeito que um aluno entrega aquela prova impossível de matemática sem saber o resultado.
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  O barulho do passar das páginas e o olhar concentrado de Gumercindo sobre as folhas, faziam a jovem sentir como se o tempo tivesse parado. Mesmo batendo os pés na tentativa de se distrair, seu olhar continuava concentrado tentando decifrar através da ruga na testa do pai, o que passava em sua mente.
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  Depois do que na sua perspectiva foram horas, o empresário suspirou antes de começar a falar:
  — Rosana — sua voz saiu fria, mas isso não significava nada já que era seu tom de voz habitual, outra vez ela tentou encontrar alguma pista de seu futuro nas feições de Gumercindo, mas para seu azar, o pai era muito bom em esconder as emoções. Um réu em julgamento provavelmente estaria menos nervoso.
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  — Sim pai! — soltou de maneira automática.
  O neto de fazendeiro a fitou por alguns segundos antes de continuar:
  — Você não dobrou o faturamento como tínhamos combinado.
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  A jovem engoliu seco. Sua voz saiu trêmula e fraca quando indagou.
  — Não?
  — Não. Você simplesmente o triplicou.
  A fala sem expressão foi o suficiente para fazer um sorriso surgir nos lábios de Rosana e ela não fez questão de esconder.
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  — É sério? — Ela puxou a pasta das mãos do pai sem pensar em mais nada.
  — Devo dizer que estou impressionado, nem eu consegui tamanho feito quando tinha a sua idade. Para ser sincero, a primeira vez em que dobrei o faturamento da pequena fazenda do meu pai eu tinha vinte e oito anos. Você, minha filha, é uma potência.
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  Nada era mais satisfatório para Rosana do que ouvir um elogio saindo da boca de seu pai, afinal esse evento era mais raro do que um eclipse.
  Como combinado, a herdeira arrumou suas malas e, passados quatro anos, se formou com louvor em uma das faculdades mais renomadas do mundo.
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  Ao retornar para o Brasil, sua mente estava aberta, cheia de novas ideias para modernizar a empresa e fazê-la lucrar ainda mais. Certa noite, ela decidiu compartilhá-las com seu pai.
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  Em meio a uma sala escura com nada além da luz de um datashow brilhando, a garota expôs seu ponto de vista com confiança.
  — Resumindo, no dia de hoje, as pessoas estão precisando mais de ficar bêbadas do que acordadas. Por isso, expandir nossa gama de produtos e investir em vinhos colocaria nossa empresa em outro nível — afirmou, antes de acender as luzes e encarar o pai com nervosismo.
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  Gumercindo fitou a filha de cima a baixo como se ela tivesse acabado de fazer algo errado e ele estivesse pensando no melhor castigo. Rosana já estava acostumada a esse olhar, por isso ainda mantinha esperanças de que sua ideia poderia ganhar a aprovação do empresário.
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  — Minha filha, você sabe que o consumo de café no Brasil ainda é muito maior do que o de vinho, não é? E que para investir na plantação de uvas teríamos que adquirir algumas terras específicas no Sul e isso custaria dinheiro — começou o patriarca fazendo a garganta de Rosana coçar em nervoso.
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  — Eu estou ciente de tudo isso, meu pai. Mas, se você consultar os dados, o mercado de vinhos é o que mais cresce no nosso país atualmente. Pense bem. O café é algo que as pessoas relacionam a ficar acordadas, para trabalharem, já o vinho se relaciona ao momento de lazer, descanso. Essa é a visão que eu gostaria de trazer. Além de que os vinhos são mais caros, tendo a chance de um lucro ainda maior. — Ela se calou enquanto observava o pai cruzar os braços sem esboçar nenhuma reação.
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  — É o seguinte, Rosana — Gumercindo pigarreou. — Meu avô, o seu bisavô, como você sabe, veio de Portugal sem nunca ter visto uma muda de café na vida, mas ele se esforçou, deu a sorte de encontrar um patrão generoso e aprendeu como produzir o melhor café deste país. O que eu quero dizer é: O café sempre foi a nossa marca, a tradição da nossa família. Seu bisavô reviraria no túmulo com a ideia de começarmos a investir em outro produto.
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  Rosana abaixou a cabeça não gostando do rumo que a fala do pai estava tomando.
  — Porém…
  Os olhos da garota se levantaram outra vez, em esperança.
  — Mesmo sendo difícil de acreditar, eu não sou tão cabeça dura como ele. Por isso vou te dar uma chance.
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  Sem acreditar, a jovem suspirou aliviada.
  — Sério, pai?
  — Sim. Eu te mandei para uma das melhores faculdades do mundo, é hora de eu ver se meu investimento valeu a pena. É o seguinte: eu estava mesmo querendo tirar umas férias daquele lugar, sabe como é? Durante um mês, eu vou te nomear presidente interina. Você poderá elaborar esse seu projeto dos vinhos melhor e apresentar aos acionistas, se convencê-los e os custos não forem tão exorbitantes, eu vou te deixar na presidência permanentemente.
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  O sorriso no rosto de Rosana brilhava em euforia.
  — Muito obrigada, pai! Não vai se arrepender!
  — Porém, se os acionistas não aprovarem dentro de um mês, eu tomo o controle de volta, pois meu investimento terá sido em vão. Estamos entendidos?
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  A jovem de cabelos castanhos ondulados engoliu seco, ela sabia que o pai não estava blefando, pois era um homem de palavra. Aquela era a chance que sempre desejou, se tivesse sucesso, seu sonho de assumir os negócios da família se tornaria realidade, mas se falhasse, o mesmo estaria arruinado para sempre. O que fazer? Como havia aprendido com seus antepassados e com o pai, a vida era feita de riscos.
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  — Certo, eu aceito!
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  Dias depois, lá estava ela, prestes a apresentar o projeto aos acionistas da empresa. Gumercindo dizia que eles eram como lobos, sempre esperando o momento certo para atacar sua presa. Porém, Rosana não se intimidava, afinal, aquele grupo de engravatados não iria ficar em seu caminho.
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  Contudo, ela não podia evitar sentir um certo frio na barriga. Era a primeira vez que falaria na frente de tantas pessoas importantes e, além do mais, seu maior sonho estava em risco. O corretivo abaixo dos olhos disfarçava as olheiras, resultado de noites em claro na companhia de livros sobre vinhos e negócios. Foram dias de trabalho duro, onde em sua cabeça não havia espaço para mais nada. O resultado estava ali na sua frente, os slides que havia montado tão cuidadosamente, cada letra, cada palavra, calculados milimetricamente para convencer os acionistas de que aquele era o melhor caminho.  
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  Além das olheiras, outro resultado das madrugadas em claro eram seus constantes bocejos, estes resolvidos com um copo de café. Enquanto revisava o trabalho de sua vida, Rosana deu um gole na bebida, porém quase a cuspiu quando viu um erro drástico de ortografia, logo na introdução.
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  — Ah, meus Deus, como deixei isso passar depois de tantas revisões?
  Ela olhou a hora, faltavam cinco minutos para a reunião que definiria seu destino. Apressada, ela começou a digitar ao mesmo tempo em que bebia o café. O tempo estava contra ela, precisava revisar os slides pela última vez o mais rápido possível. Enquanto digitava e engolia o café, apressada, não percebeu quando sua mão esbarrou no copo e todo o líquido quente caiu no teclado de seu computador, fazendo seu trabalho desaparecer.
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  — Ai, não, que droga, não faz isso comigo!
  Desesperada, sentindo o coração sair pela boca, Rosana começou a apertar as teclas ininterruptamente, porém era inútil, seu computador havia morrido.
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  — Seu café estupido, por isso mesmo quero investir em outros produtos além de você! — berrou jogando o copo assassino no lixo.
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  Devastada, Rosana abaixou a cabeça tentando disfarçar as lágrimas que em alguns segundos escorreram por sua bochecha… seu sonho, tudo pelo que havia trabalho a vida inteira, sua chance, arruinada pela falta de um computador e por um estúpido copo de café. Quanta ironia.
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  Perdida em sua tristeza, ela nem queria ir à reunião, não permitiria que os acionistas a vissem derrotada daquela forma. O jeito era voltar para casa e encarar o sermão de seu pai….
  Porém, quando ela estava prestes a fazer um movimento de desistência, uma voz masculina soou atingindo seus ouvidos.
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  — Signorina, stai bene?
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  O sotaque estrangeiro a fez levantar a cabeça e se deparar com um desconhecido, mas belo rosto sorridente.
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Capítulo 1

  As mãos trêmulas de Rosana seguravam o aparelho que continha a chave para o seu futuro. Um futuro com o qual ela sonhava desde pequena, enquanto acompanhava o pai na plantação. Claro que uma criança ainda não entendia como o café tão apreciado pelos adultos tinha início em uma fazenda administrada por sua família há gerações. A graciosa garotinha de cinco anos, ao invés de brincar de bonecas com outras garotas, implorava a seu pai que a levasse para a fazenda, onde ela caminhava pelo cafezal ao seu lado. Enquanto seus olhos brilhavam, Gumercindo olhava para a filha orgulhoso, antes de explicar:
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  — Sabe, Rosana, meu avô veio de Portugal há muito tempo em busca de uma vida melhor aqui no Brasil, ele chegou, com nada além da roupa do corpo e um sonho: ficar rico. Mesmo nunca tendo plantado uma muda de café na vida, ele conheceu um fazendeiro aqui em São Paulo que lhe deu um trabalho e o acolheu. Logo seu bisavô já era dono das próprias terras, terras estas que com o trabalho duro dele, prosperaram e passaram para as mãos do meu pai, que depois passou para mim e um dia, quem sabe, se você merecer…
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  A menina que tinha os cabelos presos por uma maria-chiquinha respondeu sorridente:
  — Não se preocupe, papai, vou fazer por merecer!
  — Eu sei que vai, minha filha. Mas é muita responsabilidade, porque agora ela é muito mais do que uma fazenda: um negócio. Pessoas do Brasil inteiro, e até de outros países, tomam o café feito com os grãos saídos daqui e moídos nas minhas inúmeras fábricas espalhadas por aí.
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  Os olhos da garotinha se arregalaram em admiração.
  — As pessoas de outros países também tomam café, papai?
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  O empresário passou as mãos pelos cabelos cobertos de gel enquanto deixava escapar uma risada.
  — Claro que sim, minha filha! Bom, em alguns lugares menos, em outros mais. Contudo, o que posso te garantir é que quem experimenta o nosso café nunca mais quer saber de outro!
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  — Porque o nosso é o melhor! — a pequena exclamou se agarrando às pernas do pai.
  — Isso mesmo, minha menina! Quem sabe se você me provar seu valor eu não te dou a chance de me mostrar que consegue continuar produzindo?
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  Desde aquela época, tudo que Rosana desejava era deixar o pai orgulhoso, afinal, mesmo ele não admitindo, no fundo era evidente que o empresário queria muito ter tido um filho homem para cuidar dos negócios, um pensamento que a aborrecia, mas deixava passar, afinal sabia que a mente teimosa e irredutível do grande Gumercindo Pereira estava presa no século dezenove.
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  Apesar do patriarca nunca ter negado a possibilidade de passar o negócio da família para as mãos de Rosana, a jovem sempre teve que trabalhar duro a fim de mostrar sua capacidade. Na adolescência, ela passava os finais de semana ajudando na plantação da maneira que podia, fosse colhendo, regando, e sempre perguntava no que mais poderia ser útil. Quando completou dezessete, seu pai deixou que se tornasse responsável por uma das fábricas e o acordo era: se a fábrica em questão dobrasse a produção e o faturamento em um mês, ele pagaria para Rosana um curso de administração em Harvard, faculdade para a qual ela havia entrado, e quando ela voltasse, teria seu lugar na presidência.
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  A jovem deu seu máximo para fazer a fábrica funcionar a todo vapor, mas mesmo assim seus pés teimavam em tremer enquanto entrava no escritório de seu pai.
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  Sentindo o coração bater descontrolado, a jovem, de maneira tímida, obedeceu, enquanto segurava sua planilha.
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  — É, eu sei, pai, o senhor teve que cuidar de negócios no exterior e dar atenção a Angélica.
  A pequena e doce Angélica havia nascido muitos anos depois de Rosana, era uma menina adorável.
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  — Sim, não é fácil para ela crescer sem uma mãe.
  Infelizmente a vida de Angélica havia custado a vida de dona Maria do Socorro conhecida como a primeira dama do café. A aspirante à empresária possuía inúmeras boas lembranças com a mãe, por exemplo, uma vez em que ela demitiu uma empregada porque o filho da mulher havia puxado o cabelo de sua preciosa Rosana, ou quando a filha chegava exausta de um dia na fazenda, ela sempre a recebia com um chá e uma palavra de incentivo.
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  — Filha, você está indo muito bem, tenho certeza que seu pai está orgulhoso, mesmo que ele não diga, sabe como o senhor Gumercindo é cabeça dura.
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  Ela ria enquanto se aconchegava no abraço da matriarca da família.
  Desde a morte da mãe, Rosana havia colocado como meta para si mesma: se tornar uma empresária tão boa quanto seu pai, ou até melhor. Um caminho que se tornou muito mais difícil com a ausência de Maria do Socorro, porém Rosana precisava ser forte, pelo seu sonho e por sua irmãzinha, Angélica, a mesma sem culpa alguma do acontecido.
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  — Eu sei, e está fazendo um ótimo trabalho — elogiou na tentativa de amolecer aquele coração duro. — Mas eu trouxe aqui as planilhas com os resultados da fábrica no tempo em que ela ficou sob minha responsabilidade.
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  Com as mãos trêmulas a garota colocou a pasta na mesa do mesmo jeito que um aluno entrega aquela prova impossível de matemática sem saber o resultado.
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  O barulho do passar das páginas e o olhar concentrado de Gumercindo sobre as folhas, faziam a jovem sentir como se o tempo tivesse parado. Mesmo batendo os pés na tentativa de se distrair, seu olhar continuava concentrado tentando decifrar através da ruga na testa do pai, o que passava em sua mente.
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  Depois do que na sua perspectiva foram horas, o empresário suspirou antes de começar a falar:
  — Rosana — sua voz saiu fria, mas isso não significava nada já que era seu tom de voz habitual, outra vez ela tentou encontrar alguma pista de seu futuro nas feições de Gumercindo, mas para seu azar, o pai era muito bom em esconder as emoções. Um réu em julgamento provavelmente estaria menos nervoso.
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  — Sim pai! — soltou de maneira automática.
  O neto de fazendeiro a fitou por alguns segundos antes de continuar:
  — Você não dobrou o faturamento como tínhamos combinado.
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  A jovem engoliu seco. Sua voz saiu trêmula e fraca quando indagou.
  — Não?
  — Não. Você simplesmente o triplicou.
  A fala sem expressão foi o suficiente para fazer um sorriso surgir nos lábios de Rosana e ela não fez questão de esconder.
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  — É sério? — Ela puxou a pasta das mãos do pai sem pensar em mais nada.
  — Devo dizer que estou impressionado, nem eu consegui tamanho feito quando tinha a sua idade. Para ser sincero, a primeira vez em que dobrei o faturamento da pequena fazenda do meu pai eu tinha vinte e oito anos. Você, minha filha, é uma potência.
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  Nada era mais satisfatório para Rosana do que ouvir um elogio saindo da boca de seu pai, afinal esse evento era mais raro do que um eclipse.
  Como combinado, a herdeira arrumou suas malas e, passados quatro anos, se formou com louvor em uma das faculdades mais renomadas do mundo.
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  Ao retornar para o Brasil, sua mente estava aberta, cheia de novas ideias para modernizar a empresa e fazê-la lucrar ainda mais. Certa noite, ela decidiu compartilhá-las com seu pai.
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  Em meio a uma sala escura com nada além da luz de um datashow brilhando, a garota expôs seu ponto de vista com confiança.
  — Resumindo, no dia de hoje, as pessoas estão precisando mais de ficar bêbadas do que acordadas. Por isso, expandir nossa gama de produtos e investir em vinhos colocaria nossa empresa em outro nível — afirmou, antes de acender as luzes e encarar o pai com nervosismo.
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  Gumercindo fitou a filha de cima a baixo como se ela tivesse acabado de fazer algo errado e ele estivesse pensando no melhor castigo. Rosana já estava acostumada a esse olhar, por isso ainda mantinha esperanças de que sua ideia poderia ganhar a aprovação do empresário.
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  — Minha filha, você sabe que o consumo de café no Brasil ainda é muito maior do que o de vinho, não é? E que para investir na plantação de uvas teríamos que adquirir algumas terras específicas no Sul e isso custaria dinheiro — começou o patriarca fazendo a garganta de Rosana coçar em nervoso.
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  — Eu estou ciente de tudo isso, meu pai. Mas, se você consultar os dados, o mercado de vinhos é o que mais cresce no nosso país atualmente. Pense bem. O café é algo que as pessoas relacionam a ficar acordadas, para trabalharem, já o vinho se relaciona ao momento de lazer, descanso. Essa é a visão que eu gostaria de trazer. Além de que os vinhos são mais caros, tendo a chance de um lucro ainda maior. — Ela se calou enquanto observava o pai cruzar os braços sem esboçar nenhuma reação.
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  — É o seguinte, Rosana — Gumercindo pigarreou. — Meu avô, o seu bisavô, como você sabe, veio de Portugal sem nunca ter visto uma muda de café na vida, mas ele se esforçou, deu a sorte de encontrar um patrão generoso e aprendeu como produzir o melhor café deste país. O que eu quero dizer é: O café sempre foi a nossa marca, a tradição da nossa família. Seu bisavô reviraria no túmulo com a ideia de começarmos a investir em outro produto.
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  Rosana abaixou a cabeça não gostando do rumo que a fala do pai estava tomando.
  — Porém…
  Os olhos da garota se levantaram outra vez, em esperança.
  — Mesmo sendo difícil de acreditar, eu não sou tão cabeça dura como ele. Por isso vou te dar uma chance.
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  Sem acreditar, a jovem suspirou aliviada.
  — Sério, pai?
  — Sim. Eu te mandei para uma das melhores faculdades do mundo, é hora de eu ver se meu investimento valeu a pena. É o seguinte: eu estava mesmo querendo tirar umas férias daquele lugar, sabe como é? Durante um mês, eu vou te nomear presidente interina. Você poderá elaborar esse seu projeto dos vinhos melhor e apresentar aos acionistas, se convencê-los e os custos não forem tão exorbitantes, eu vou te deixar na presidência permanentemente.
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  O sorriso no rosto de Rosana brilhava em euforia.
  — Muito obrigada, pai! Não vai se arrepender!
  — Porém, se os acionistas não aprovarem dentro de um mês, eu tomo o controle de volta, pois meu investimento terá sido em vão. Estamos entendidos?
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  A jovem de cabelos castanhos ondulados engoliu seco, ela sabia que o pai não estava blefando, pois era um homem de palavra. Aquela era a chance que sempre desejou, se tivesse sucesso, seu sonho de assumir os negócios da família se tornaria realidade, mas se falhasse, o mesmo estaria arruinado para sempre. O que fazer? Como havia aprendido com seus antepassados e com o pai, a vida era feita de riscos.
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  — Certo, eu aceito!
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  Dias depois, lá estava ela, prestes a apresentar o projeto aos acionistas da empresa. Gumercindo dizia que eles eram como lobos, sempre esperando o momento certo para atacar sua presa. Porém, Rosana não se intimidava, afinal, aquele grupo de engravatados não iria ficar em seu caminho.
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  Contudo, ela não podia evitar sentir um certo frio na barriga. Era a primeira vez que falaria na frente de tantas pessoas importantes e, além do mais, seu maior sonho estava em risco. O corretivo abaixo dos olhos disfarçava as olheiras, resultado de noites em claro na companhia de livros sobre vinhos e negócios. Foram dias de trabalho duro, onde em sua cabeça não havia espaço para mais nada. O resultado estava ali na sua frente, os slides que havia montado tão cuidadosamente, cada letra, cada palavra, calculados milimetricamente para convencer os acionistas de que aquele era o melhor caminho.  
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  Além das olheiras, outro resultado das madrugadas em claro eram seus constantes bocejos, estes resolvidos com um copo de café. Enquanto revisava o trabalho de sua vida, Rosana deu um gole na bebida, porém quase a cuspiu quando viu um erro drástico de ortografia, logo na introdução.
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  — Ah, meus Deus, como deixei isso passar depois de tantas revisões?
  Ela olhou a hora, faltavam cinco minutos para a reunião que definiria seu destino. Apressada, ela começou a digitar ao mesmo tempo em que bebia o café. O tempo estava contra ela, precisava revisar os slides pela última vez o mais rápido possível. Enquanto digitava e engolia o café, apressada, não percebeu quando sua mão esbarrou no copo e todo o líquido quente caiu no teclado de seu computador, fazendo seu trabalho desaparecer.
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  — Ai, não, que droga, não faz isso comigo!
  Desesperada, sentindo o coração sair pela boca, Rosana começou a apertar as teclas ininterruptamente, porém era inútil, seu computador havia morrido.
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  Devastada, Rosana abaixou a cabeça tentando disfarçar as lágrimas que em alguns segundos escorreram por sua bochecha… seu sonho, tudo pelo que havia trabalho a vida inteira, sua chance, arruinada pela falta de um computador e por um estúpido copo de café. Quanta ironia.
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  Perdida em sua tristeza, ela nem queria ir à reunião, não permitiria que os acionistas a vissem derrotada daquela forma. O jeito era voltar para casa e encarar o sermão de seu pai….
  Porém, quando ela estava prestes a fazer um movimento de desistência, uma voz masculina soou atingindo seus ouvidos.
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  — Signorina, stai bene?
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  O sotaque estrangeiro a fez levantar a cabeça e se deparar com um desconhecido, mas belo rosto sorridente.
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Capítulo 2

  Rosana fitou hipnotizada o homem misterioso de cabelos castanhos perfeitamente cortados, barba rala por fazer e olhos verdes sedutores, seria um anjo que havia vindo dizer que realmente sua chance estava arruinada? Porque ele era bonito demais para ser real e aquele sotaque sem nenhum esforço fez os pelos de seus braços se arrepiarem inteiro. 
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  A jovem, ao longo de sua adolescência, nunca teve muito tempo para ir a festas, paquerar e tentar encontrar alguém, afinal estava concentrada demais em provar ao seu pai que era capaz de assumir a empresa algum dia, uma missão quase impossível. Nos Estados Unidos ela até conheceu alguns garotos interessantes na faculdade, mas nenhum que a fizesse se encantar como aquele homem misterioso havia feito em apenas um segundo.
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  A aspirante a empresária precisou de alguns segundos para se recompor e tentar formular uma frase decente sem se distrair com a visão do paraíso.
  — É… sim eu estou bem, quer dizer, não — admitiu de alguma forma sentindo confiança no estranho angelical.
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  — O que aconteceu, signorina? — Ele olhou fundo nos seus olhos como se pudesse ler sua alma.
  Após a segunda fala, Rosana conseguiu identificar que seu sotaque era italiano.
  — Bom, eu sendo desastrada do jeito que sou, acabei derrubando café e estragando o meu computador. Tinha algo muito importante nele, que claro, eu salvei na nuvem, mas não tem outro… — A cabeça da herdeira ainda se encontrava tonta por tanta beleza.
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  — Conputatore en la oficina? — Rosana arregalou os olhos, confusa.
  — Oficina? Mas não dá tempo…
  O estranho angelical deu uma risada charmosa parecendo exibir sua voz sexy.
  — Me dispiace, sino qui in Brasile ha poco tempo, non parlo partoguesse molto bene. Credo que chi si chiama sala di riunione.
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  — Ah, sim. Nossa, eu já devo estar atrasada, mas não importa, sem a minha apresentação…
  — Segnorina, scusa, ma mio padre sempre dice che non importa como facciamo algo, ma come facciamo, capito. A questão da união é importante. Va! O resto se resolverá.
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  As palavras do estranho eram gentis e como em um passe de mágica, deram a Rosana o incentivo que ela precisava. Quem diria que a vida traria um consolo através de um italiano gato. Ela realmente estava animada para começar a frequentar o escritório, assim teria a chance de conseguir seu telefone.
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  — Tem razão. Eu vou conseguir!
  — Isso, Segnorina!
  — Obrigada, quer dizer, grazie! Preciso ir. — Ela correu ainda se perguntando quem era o charme em pessoa e como o seu pai não lhe havia falado de um italiano novo no escritório? Ainda mais ele sendo tão atraente!
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  Depois de uma passada no banheiro para se recompor, Rosana entrou na sala de reuniões com as bochechas coradas pelos olhares voltados a ela, um deles em particular chamou a atenção. O italiano que era a razão para estar ali a encarava exibindo o mesmo sorriso hipnotizante de alguns minutos atrás. Como assim? Ele era parte do comitê avaliador? Definitivamente ela precisava ter uma conversa com o senhor Gumercindo.
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  — Me disparate… Digo, me desculpem pelo atraso, eu tive um pequeno problema.
  — Sabe o quanto prezamos pela pontualidade, senhorita Rosana — repreendeu um dos acionistas mais velhos, provavelmente pensando que Gumercindo deveria estar louco por ter dado uma chance à mulher.
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  A garota engoliu em seco, pelo visto não havia causado uma incrível primeira impressão como desejava.
  — Eu sei e prometo que não irá se repetir.
  — Muito bem, então vamos começar logo para não perdermos mais tempo — comentou um outro membro do comitê com idade para ser seu avô.
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  — Certo. É, muito bem, senhores, hoje vou falar sobre uma proposta capaz de mudar o futuro dessa empresa para melhor…
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  Por sorte, a jovem batalhadora havia ensaiado tanto que sabia a apresentação de cor e salteado. Assim sendo, expôs seus argumentos sem precisar de nenhum slide. Os acionistas a encaravam atentos, mas não esboçaram nenhuma reação.
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  Ignorando a revolução que acontecia em sua barriga e as pernas trêmulas, Rosana concluiu sua apresentação sem gaguejar uma única vez e com um sorriso orgulhoso no rosto. Como queria que seu pai estivesse ali.
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  — Muito bem, senhores, era o que eu tinha para falar, espero que considerem a ideia, afinal, investindo no vinho, tenho certeza que essa empresa crescerá ainda mais. Obrigada.
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  O membro mais antigo do comitê a encarou de cima a baixo quase fazendo com que a torrada que havia tomado de café da manhã voltasse ali mesmo. O coração de Rosana batia forte como se ela estivesse no meio de um julgamento. Bom, não deixava de ser, afinal, aqueles homens velhos e carrancudos que por algum motivo possuíam a confiança de seu pai, julgariam se ela realizaria o seu sonho ou não.
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  Para a surpresa de Rosana, antes da votação, o italiano misterioso se pronunciou erguendo o braço.
  — Sim, Matteo, o que quer falar? — indagou o membro mais velho cruzando os braços e revelando o nome do galã: Matteo.
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  — Si signore. Bom, é Rosana, non é? A senhorina non ha trazido ninguno dado relevante, solo ha parlato sobre il vino, non preocupou em trazer uma presentazione.
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  Rosana quis voar no pescoço do homem. Como alguém tão bonito podia ser tão cafajeste? Ele sabia muito bem o que havia acontecido, como teve coragem de a expor dessa forma? Ainda mais depois de tê-la encorajado e dado forças para estar ali. Pelo jeito, aquele italiano não era angelical e sim “maledeto”.
  — Segnori — continuou Matteo sem nem ter a coragem de a olhar nos olhos como havia feito antes —, il caffè è una tradizione di questa compagnia e di questo paese, iniziano a produrre il vino, tutto esso si perderá. Anche, I giovanne non beven tanto vino. Um dado que li outro dia em um artigo, ma que la signorina no há trago e deveria tê-lo acrescentado, afinal, signori, os geovanes son importante consumitori  ainda mais considerando que entram todos os giornos nel mercado de trabalho
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  Rosana sentiu sua voz sair fraca ao rebater:
  — Sim, mas como eu disse, as pessoas com mais de 40 ainda são …
  Contudo, antes que ela pudesse terminar seu raciocínio, o italiano continuou a interrompendo de forma grosseira.
  — Posso essere qui a poco tempo, ma io valorizzo la tradizione e il Mercato giovanneScusa, ma la tua proposta non è buona,  in verità, è  una piada,  como  dizem  aqui.
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  A jovem nunca havia se sentido tão humilhada em toda a sua vida, nem mesmo quando trabalhava nas fazendas como uma simples empregada. Tudo piorou quando a maioria dos acionistas votou contra seu projeto, provavelmente influenciados pela fala do italiano maldito de olhos brilhantes.
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  Depois da apuração dos votos, o chefe dos acionistas cruzou as pernas e deu a sentença:
  — Eu sinto muito, Rosana, mas seu projeto foi negado.
  A moça engoliu seco vendo seu sonho escapar de seus dedos por causa de um italiano maldito com um sorriso perfeito
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  Tentando conter as lágrimas, Rosana correu para o lugar mais confortável daquela empresa, a copa, onde havia a velha máquina de café que os funcionários usavam antes da abertura da lanchonete. Sem pensar muito, ela pegou um pequeno copo e o mexeu com a bebida da qual ela queria se orar.
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  — É, café, parece que você venceu…
  Enquanto ela sentia o quente da bebida descer por sua garganta, escutou uma voz familiar.
  — Io sinto muito signorina, ma il yup projeto non era buono — afirmou Matteo antes de continuar. — Ma saiba que non é nada pessoal.
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  Lutando para não se perder naquela voz sedutora, Rosana deu um suspiro enquanto se lembrava de que quando alguém atacava o trabalho de sua vida, era sim pessoal.
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  — Matteo, não é? — começou se aproximando do italiano de cabelo impecável. — Bom, já que gosta tanto de café, por que não toma um pouco? — Em um impulso ela virou o copo em sua mão em cima do cabelo de Matteo que, segundos depois, estava ensopado pela bebida quente.
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  — Também não é nada pessoal! — zombou.
  Antes de conseguir ouvir as reclamações em italiano, a herdeira saiu pisando forte e não se preocupando em esconder a feição zangada.
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  A herdeira entrou em casa batendo a porta e se jogando no sofá sem cumprimentar ninguém. Como Rosana era sempre gentil e alegre, logo, até mesmo Gumercindo estranhou o comportamento da filha.
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  — Boa tarde, Rosana! — exclamou tirando os olhos de seu jornal.
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  A garota deu um suspiro enquanto colocava os pés sobre a mesa de centro da sala.
  — Rosana, o papai já cansou de falar que não gosta que coloquemos o pé aí. Geralmente sou eu quem faço isso. O que deu em você, minha irmã? — O tom inocente de Angélica sempre fazia seu coração se acalmar.
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  — Me desculpe, meu docinho — Rosana começou, envolvendo a irmãzinha em seus braços. — É que a apresentação do meu projeto não saiu como eu esperava… Ele não foi aprovado — declarou já aguardando o olhar fuzilante do pai. Contudo, ao invés de julgá-la, ele continuou lendo seu jornal. — Pai, como o senhor não me disse que no comitê avaliador teria um italiano cabeça dura e grosseiro?
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  Gumercindo mais uma vez desviou o olhar das folhas que segurava para encarar a filha.
  — Grosseira.
  — Tudo estava indo bem — declarou ocultando a parte do problema com o computador. — Eu apresentei minha proposta e todos os acionistas pareciam interessados, até aquele italiano de olhos brilhantes pedir a palavra e estragar tudo.
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  — Olhos brilhantes? — Angélica cruzou as pernas se aproximando curiosa.
  Percebendo o erro, Rosana sentiu sua bochecha queimar. Droga, sua irmãzinha não deixava passar nada.
  — Esquece o que eu falei, docinho.  Enfim, você tinha que ter me contado sobre a presença de um novo acionista. Afinal, quem é ele?
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  Gumercindo murmurou algumas palavras para si mesmo enquanto largava seu jornal na mesa para começar a explicar.
  — Matteo chegou de surpresa há apenas alguns dias, exigindo seu lugar de diretor acionista. Eu não pude recusar.
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  — Mas como assim? Aquele italiano parece ser um pé rapado.
  — Mas tem olhos brilhantes — zombou Angélica.
  — Docinho, os adultos estão conversando — repreendeu a herdeira.
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  — Odeio quando me trata feito criança. — Angélica cruzou os braços.
  — Mas o nosso cinema ainda está de pé?
  Em meio à cara emburrada, a adolescente abriu um sorriso. A tradicional ida ao cinema de toda sexta com sua irmãzinha era um momento muito especial para Rosana, e naquela noite em especial seria bom tentar se distrair, não só por causa do projeto, mas também para tentar tirar um certo par de olhos brilhantes de sua mente.
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  — Está sim!
  Angélica exibiu um belo sorriso antes de subir para o seu quarto deixando os adultos a sós.
  — O Matteo é filho do meu antigo melhor amigo, Bartollo, que faleceu há pouco. Agora ele veio assumir o lugar do pai como acionista.
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  Rosana ouviu atenta, o pai já havia relatado a temporada que passou na Itália, mas nunca dessa forma, ela nem sabia sobre esse suposto melhor amigo.
  — Mas eu não entendo, por que o filho do melhor amigo italiano tem direito a ser acionista da nossa empresa?
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  Gumercindo suspirou enquanto tirava os óculos.
  — Porque o Bartollo não era só o meu melhor amigo, era também meu sócio — revelou fazendo Rosana arregalar os olhos.
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  — Como é? O senhor teve um sócio?
  — Foi há muito tempo, antes de você nascer, eu tinha acabado de assumir a fazenda do seu avô, mas eu, na época, por mais que ele tivesse me ensinado, não tinha segurança para cuidar de um negócio, por isso decidi passar uma temporada na Itália, lá eu conheci o Bartollo, ele entendia de negócios, mas eu queria crescer e se ofereceu para me ajudar. Eu o trouxe para o Brasil e juntos nós expandimos a empresa. Tudo ia bem, até que brigamos feio. Você não se lembra porque era bebê.
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  — E qual foi o motivo da briga?
  — Eu descobri que ele estava me roubando, o coloquei para fora no mesmo instante — revelou não escondendo a dor que as lembranças lhe causavam.
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  — Que horror.  E o senhor vai deixar o filho dele na nossa empresa? — Rosana levantou o tom de voz, indignada.
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  — Minha filha. O Bartollo nunca mais tinha dado notícias, agora com a morte dele que esse filho apareceu.  Ele ameaçou ir na justiça se eu não o fizesse, ele tem provas de que o pai foi responsável por ajudar a fundar a empresa, ou era isso ou teríamos que ceder metade do nosso patrimônio para aquela família maldita.
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  — Tudo bem. Você tem razão.
  — Ótimo, então eu não quero mais saber de você jogando café nele.
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  Rosana arregalou os olhos, incrédula.
  — O quê? Como o senhor…?
  — Eu sei de tudo que se passa na minha empresa, Rosana, já devia saber disso. Eu estou decepcionado. Jogar café em um dos acionistas, mesmo que na copa da empresa não é atitude de uma presidente, mas sim de uma criança mimada. Eu esperava mais de você, Rosana, não investi em Havard para isso — declarou.
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  Rosana queria explicar que o italiano maldito era um traidor, que segundos antes da reunião a havia encorajado para depois humilha-la diante de todos os outros acionistas. Queria gritar que se em seu lugar estivesse o filho homem que Gumercindo tanto queria, ele não teria dito aquelas palavras tão duras e já o teria nomeado presidente de forma permanente, mas em nome de seu futuro, guardou todas essas queixas para si mesma se limitando a responder:
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  — Certo, me desculpe, pai, não vai mais acontecer.
  — Assim espero, porque caso contrário, não poderei mais confiar a presidência a você.
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  Rosana cruzou os braços enquanto mentalmente amaldiçoava aquele italiano charmoso que havia arruinado sua vida.
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  Em meio ao cheiro de pipoca, Rosana tentava se distrair encarando os cartazes pendurados no cinema do shopping. Havia alguns títulos interessantes, uma nova comédia romântica que ela estava louca para assistir, contudo, Angélica havia optado pelo filme da youtuber da qual era fã.
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  Rosana não gostava de contrariar a irmãzinha que já havia sofrido tanto crescendo sem uma mãe e com um pai frio. Além do mais, comédias românticas eram uma bobagem que só serviam para iludir as garotas, já que os homens da realidade eram todos uns traidores, chegavam de mansinho com seus sorrisos hipnotizantes e palavras de encorajamento, para depois apunhalar pelas costas, e não, ela não estava falando de ninguém em particular, pelo menos era o que repetia para si mesma.
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  — Ai, a fila está muito grande, desse jeito vamos perder o começo do filme e eu ainda quero pipoca — reclamou Angélica.
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  — Fica calma, docinho, vamos fazer o seguinte, você vai comprar as pipocas, eu fico aqui na fila dos ingressos pode ser?
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  — Jura que não vai comprar os ingressos para aquela comédia romântica boba que você queria ver ao invés do filme da Lisa Belinha?
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  Rosana riu.
  — Eu juro, pode ir!
  — Você é a melhor do mundo! — A pequena abraçou a irmã mais velha.
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  Rosana jogou um beijo de longe enquanto a irmã caminhava em direção ao balcão de lanches.
  A fila realmente estava longa, mas depois de alguns minutos, Rosana finalmente era a próxima. Mas então, um homem alto de cabelos marrons entrou na sua frente. Que grosseria. Era só o que faltava e a situação ficou ainda pior quando ela reconheceu a voz do fura fila.
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  — Um ingresso para Lisa Belinha, per favore — pediu Matteo.
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Capítulo 3

  Rosana acreditou estar tendo uma alucinação, afinal, quais as chances de o italiano “maledeto” que tinha arruinado suas chances de sucesso na empresa estar bem ali no mesmo cinema onde ela havia ido com a sua irmãzinha e ainda passando na sua frente para comprar os ingressos! Realmente, ele era muito abusado! A herdeira não queria brigas, mas não se aguentou. Em meio a um pigarro, ela comentou:
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  — Então quer dizer que além de arruinar projetos alheios, você também é fura fila?
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  Matteo olhou para trás reconhecendo a voz.
  — Buona sera, signorina Rosana — Sua voz saiu fria, enquanto ele lutava para não dar um sorriso, afinal, mesmo sendo irritada e impulsiva, Matteo precisava admitir que a jovem tinha seu charme.
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  — Não me venha com essa. Primeiro você me humilha na frente dos outros acionistas fazendo meu projeto ser negado e agora ainda passa na minha frente no cinema? — Ela cruzou os braços.
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  Matteo pediu licença à moça do caixa e caminhou até a garota de cabelos castanhos e olhos cristalinos.
  — E o que a signorina vai fazer? Jogar pipoca em mim?  Como jogou café? — indagou perto o suficiente para que ela pudesse sentir sua respiração.
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  — Não é uma má ideia.
  — Para a sua informacione, io no furei la fila, eu já estava qui, ma tive que atender o telefone e pedi à gentil moça do caixa para guardare il mio lugar.
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  — É verdade — confirmou a moça do balcão, pelo visto escutando a conversa, que não era muito difícil considerando o volume da voz angelical do italiano marrento.
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  Rosana suspirou em desânimo.
  — Tudo bem, vai lá terminar de comprar o seu ingresso, não quero mais problemas.
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  — Grazie, Io também no.
  Contudo, antes que Matteo pudesse se encaminhar de volta à bilheteria, Angélica retornou curiosa…
  — Rosana, que gritaria foi essa? Eu consegui escutar lá do balcão. Ah, quem é seu amigo?
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  — Angélica, ele não é meu amigo.
  — Piacere. Tu sei una bella ragazzina.
  A herdeira caçula arregalou os olhos confusos, enquanto colocava um pouco de pipoca na boca.
  — Ragazzina, o que é isso?
  — Significa menininha, minha irmã — explicou Rosana de maneira paciente.
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  — Ah, sim.  Mas eu já sou uma pré-adolescente. — A fala fez os dois adultos caírem na risada
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  — Ecco, mi dispiace! Io sono Matteo, molto piacere!
  — Prazer, espera, Matteo? Rosana, por acaso esse é o italiano de olhos brilhantes de quem você falou? — A herdeira mais velha sentiu as bochechas corarem e uma vontade imensa de desaparecer.
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  — O quê? De onde você tirou isso, Angélica?  — A voz de Rosana saiu em tom de ameaça. — Crianças, elas têm cada uma.
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  — Já disse que não sou criança e não inventei nada, essas foram as suas exatas palavras.
  Matteo caiu na risada com a discussão das duas irmãs e no fundo ficou contente de saber que Rosana achava seus olhos brilhantes, afinal o italiano pensava o mesmo da garota que tinha jogado café em sua cabeça mais cedo, não podia negar.
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  — Certo, agora vocês já se conhecem, mas agora deixa o Matteo comprar o ingresso dele, está bem?
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  — Espera, ele está sozinho? Cadê a sua namorada?
  Foi a vez de Matteo corar, enquanto colocava as mãos no bolso pensando em como responder à pergunta indiscreta.
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  — Io non ho una namorata, segnorina.
  — Sério, bonito desse jeito?
  — A senhora me acha bello? — indagou Matteo.
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  — Claro, e a Rosana também, não é, Rosana?
  Ao chegar em casa com certeza a jovem teria uma longa conversa com sua irmãzinha sobre discrição e comportamentos constrangedores.
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  — Muito bem, Matteo, se puder ir logo, o nosso filme já vai começar.
  — Ecco.
  — Espera, pelo visto você não vai ter tempo de comprar pipoca. Quer um pouco da nossa? — Angélica esticou o pacote em suas mãos.
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  — Non Grazie signorina.
  — Que filme você vai assistir?
  Matteo demorou um pouco para dar a resposta.
  — Lisa Belinha.
  — Não brinca! A gente também. Quer dizer, a Rosana queria assistir uma comédia romântica chata e melosa, mas eu convenci ela. Ah, eu tive uma ideia, por que vocês dois não compram os ingressos juntos e o Matteo senta com a gente, já que ele está sozinho?
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  Outra vez Rosana quis esganar a irmãzinha.
  — Eu não sei se o Matteo vai querer, Angélica.
  — Ah, por favor. Vai ser legal ter alguém que veio assistir ao mesmo filme que eu por vontade própria do meu lado para variar. O que me diz, Matteo?
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  O rapaz suspirou vendo que não havia outra opção, ele não podia desapontar Angélica, até porque ela o lembrava muito de sua própria irmã. O problema seria ficar perto de Rosana por tanto tempo. Quando viu a garota pela primeira vez na empresa, ele sentiu seu coração bater mais forte desde o divórcio, com seus cabelos marrons ondulados presos em um rabo de cavalo e seus olhos azuis cristalinos, a jovem chamou sua atenção, por isso, quando a viu de cabeça baixa, foi até lá oferecer ajuda. Mesmo que ela tenha sido grossa depois e ele tenha passado a tarde tentando tirar todo o café do cabelo, o italiano não podia negar que de certa forma se sentia atraído por ela. Porém, Rosana havia deixado bem claro que o odiava.  Matteo não queria ter falado mal do projeto dela, mas precisava defender seus interesses, mesmo que isso custasse a oportunidade de conhecer a garota melhor e de afastá-la para sempre.
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  Contudo lá estavam os dois prestes a entrarem na mesma sala de cinema acompanhados da irmãzinha dela. Talvez ele tivesse a chance de mostrar a Rosana que não era o carrasco que havia humilhado mais cedo.
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  Assim, os jovens caminharam em direção à bilheteria e pediram três ingressos. Ambos tiraram a carteira no mesmo instante.
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  — Per favore, signorina.
  — Não, imagina, eu trouxe dinheiro para isso.
  — Rosana, per favore, me deixa fazer isso, é o mínimo depois de hoje.
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  Novamente, a herdeira mais velha conseguiu enxergar gentileza nos olhos brilhantes do italiano.
  — Tudo bem, mas é a última vez.
  — Cierto.
  — Até porque duvido que iremos ao cinema juntos de novo, não é?
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  Matteo sentiu uma dor em seu peito quando as palavras de Rosana ecoaram em seus ouvidos.
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  — Ecco. — Ele colocou um sorriso falso nos lábios.
  Enquanto caminhavam para a sala, Rosana pensava em como era estranha a sensação de ter mais alguém na tradicional sessão de cinema, até porque sempre havia sido só ela e Angélica por tanto tempo. Bom, a jovem tinha certeza de que se sua mãe estivesse viva estaria ali também, mas como infelizmente não era o caso, ela quem se encarregava de garantir à caçula momentos de diversão com uma figura feminina.
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  — La tua sorella é uma graça! — Matteo interrompeu seus pensamentos.
  — A Angélica é um doce de menina e você gosta do mesmo filme que ela — Provocou fazendo o italiano dar uma risada.
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  — Ecco, mas eu ainda acho Lisa Belinha melhor do que comédias românticas. — Matteo cruzou os braços devolvendo a brincadeira na mesma medida.
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  — Não me surpreende que você não goste, afinal, para apreciar um belo romance é preciso ter sensibilidade, algo que pelo jeito você não tem. Como chamou meu projeto mesmo, ah é, uma piada. — Matteo suspirou  cansado.
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  — Ma io ho olhos brilhante, non e vero? — provocou fazendo o coração de Rosana sair pela boca.
  — Você é mesmo muito abusado. — Rosana torceu para que ele não reparasse em suas mãos trêmulas.
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  — Cierto. Já vi que a signorina não vai me perdoar tão cedo, mesmo io tendo dito que non era nada pessoal, ma será que podemos assistir a esse filme em paz, pela tua sorella.
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  Rosana pensou enquanto mexia nos cabelos. Uma forma inconsciente de exibir seus cachos para o italiano de olhos brilhantes que estava ao seu lado, mas se alguém perguntasse, ela nunca iria admitir que ainda se sentia atraída por ele.
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  — Tudo bem, temos um acordo! — A herdeira esticou a mão.
  — Ótimo! — Matteo a cumprimentou sem saber que um simples toque de mão era capaz de fazer os pelos de seu corpo se arrepiarem por inteiro.
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  A sala de cinema, como esperado, estava lotada por meninas da idade de Angélica ansiosas por ver o filme da Lisa Belinha. Em meio às fileiras, os três encontram seus assentos. Antes de mais nada e com medo de ficar ao lado de Matteo por duas horas, Rosana foi logo indagando:
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  — Angélica, você quer sentar no meio? — Ela lançou um olhar discreto para a irmã que dizia: Por favor, aceite.
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  Contudo, a pré-adolescente, ao invés de concordar, exibiu um sorriso malicioso antes de responder:
  — Rosana, você sabe que eu me dou melhor no canto e você vem sempre comigo, hoje quero ficar perto só do Matteo!
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  Pela quinta vez naquela noite ela quis esganar a garotinha de cabelos negros que parecia fazer de propósito. A herdeira mais velha então, vendo que não teria escolha, deu um longo suspiro.
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  — Tudo bem, como você quiser… — Sua feição, todavia, mostrava que teriam uma longa conversa quando chegassem em casa.
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  Assim ela sentou ao lado do italiano maldito que havia destruído seus sonhos mais cedo, mas tinha um sorriso angelical e olhos brilhantes, ela não podia negar.
  — Eu acho que ela faz de propósito — cochichou para Matteo, enquanto sentia o cheiro de café que ainda estava impregnado em seu cabelo.
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  — O que, signorina? — Matteo a encarou de volta enquanto comia um pouco de pipoca oferecida por Angélica.
  — Ela sabe que não te suporto e por isso me fez sentar ao seu lado. — Ela cruzou os braços. — Droga, eu quero um pouco de pipoca também e vai ser difícil pegar.
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  — Non seja por isso, signorina Rosana.
  Matteo enfiou a mão no pote de Angélica e apenas alguns segundos depois, estendeu o punhado de pipoca em direção a Rosana.
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  — Aqui está.
  Outra vez Matteo exibiu sua gentileza, quase a fazendo se esquecer da humilhação que o mesmo a havia feito passar mais cedo, contudo, Rosana não era assim de ceder tão fácil, até porque, seu sonho valia muito mais do que dois ingressos para cinema e um punhado de pipoca.
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  Com receio, Rosana esticou as mãos fazendo elas tocarem as de Matteo. Suas mãos eram quentes e macias, por alguns segundos ela imaginou como seria passar aquelas duas horas sentindo todo aquele calor, mas logo voltou a si e depois pegou as pipocas de maneira lenta.
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  — Grazie — cochichou não disfarçando o sorriso.
  — Non há de que, signorina.
  — Por favor, para com esse negócio de signorina, não sei, parece coisa do século passado, me chama só de Rosana, eu prefiro.
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  Foi a vez dos lábios de Matteo se levantarem em alegria, talvez não fosse tão impossível derreter aquele coração de gelo afinal.
  — Cierto, só Rosana, eu gosto, é um nome bem bonito.
  O poder que o italiano tinha de fazer suas bochechas queimarem, se mostrava cada vez mais infalível.
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  — Minha mãe escolheu quando eu nasci, ela era louca por rosas! — exclamou enquanto se deliciava com as lembranças da mãe a levando para passear no jardim e ver todas as flores que desabrochavam  sob suas cuidadosas mãos.
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  — Que bello e dove stai la tua mamma?
  Rosana sentiu uma pontada no peito com a pergunta.
  — Ela… se foi, quando eu era bem novinha. — A garota de cabelos castanhos se limitou a responder.
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  Matteo arregalou os olhos enquanto fitava os olhos tão belos, mas tristes, de Rosana. Pelo visto, falar da mãe era um assunto bem doloroso, ele podia imaginar o que a jovem ao seu lado havia sofrido.  Perder seu pai foi a maior dor que sentiu em toda a vida. De alguma forma, ele se identificava não somente pela perda de Bartolomeu, mas também porque já que sua mãe Leonora e a irmãzinha Paola, haviam ficado na Itália e queria consolá-la, afinal, por algum motivo não suportava ver aqueles lindos e hipnotizantes olhos verdes daquele jeito, não, queria vê-los alegres, em uma festa ou quem sabe depois de um beijo apaixonado… Agora ele estava sonhando demais, 
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  — Io sento,  Rosana, Io Non sapevo.
  — Tudo bem.  Obrigada. Mas e os seus pais?
  — Mio padre no estai mas e tre Noi…
  — Eu estou sabendo… e sinto muito — afirmou se lembrando das revelações de seu pai.
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  Matteo arregalou os olhos e lançou um olhar malicioso que era bastante sedutor.
  — Grazie, no ha sido facile, ma então lá segno…  quer dizer, tu  já pergontato de me por aí?
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  Rosana gaguejou.
  — Eu… bom não vá se achando, italiano, mas e o resto da sua família?
  — Se han quedado en Italia — afirmou nem sequer lembrando da tela à frente.
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  — Nossa, deve sentir muita falta deles.
  — Si io sento molta falta della mia mama  e de la mia sorellina. In Verità Io Io ho escolhido questo film perché mia sorella is gostar…
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  Rosana ouvia admirada, mesmo com apenas duas frases, dava para perceber o quanto Matteo se importava com seus entes queridos e o quanto sofria por estar longe deles, de certa forma esse lado família do italiano era fofo. Por um instante ela se sentiu mal por ter zombado de sua escolha.
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  — Mas se todos estão lá, porque você veio para o Brasil?
  Matteo suspirou tentando afastar as lembranças de Giuliana chorando enquanto arrancava o anel de seu dedo.  Vê-la partir fez seu coração doer e sua vida parecer sem sentido, afinal era louco pela esposa, mas esta preferiu deixá-lo por uma aventura…
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  — Tudo que Io poso desire é que eu precisava de um recomeço…
  Contudo, antes que Rosana pudesse responder, Angélica virou para o lado com uma cara fechada.
  — Ei, vocês dois, eu estou tentando prestar atenção no filme aqui.
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  A fala fez Matteo e Rosana caírem na risada de uma maneira leve.
  Matteo a encarou fascinado pensando há quanto tempo não ria daquela maneira. Angélica era uma garota doce que o lembrava sua irmãzinha de diversas maneiras e Rosana, essa ainda era um mistério, mas um mistério que ele teria um enorme prazer em desvendar
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  — Mi dispiace bella ragazza, vamos a guardare il film, non è Rosana? — O italiano pegou mais um punhado de pipoca.
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  A garota o fitou de uma maneira diferente, parecendo enxergar novamente o homem gentil que a havia incentivado mais cedo, não alguém que arruinou seu sonho e por algum motivo a luz dos olhos de Matteo pareciam ainda mais reluzentes aí em meio à escuridão.
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  — Ecco! — afirmou ela gastando o pouco que conhecia da língua italiana.
  Mesmo sempre tendo gostado de viajar, a garota nunca havia se interessado em aprendê-la,  mas naquele momento tudo que mais desejava era ser fluente.
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Capítulo 4

  Caminhando pelo shopping ao lado de Angélica e Matteo, Rosana mantinha a cabeça baixa, tentando evitar ao máximo encarar aqueles olhos hipnotizantes e sedutores que pareciam chamá-la para conhecê-los melhor. Por mais que o italiano tivesse se mostrado gentil oferecendo pipoca e falando sobre sua família, ela não podia esquecer da humilhação que o mesmo a havia feito passar apenas algumas horas antes na frente dos outros acionistas da empresa de seu pai. As palavras que saíram daquela maldita boca perfeita ainda ecoavam na mente da herdeira mais velha:
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  “Seu projeto é uma piada. Non é buono”. Por causa daquelas palavras que machucam mais do que qualquer corte feito por uma tesoura de podar, seu sonho estava arruinado, com o projeto negado, a garota de cabelos castanhos ondulados não tinha ideia de qual seria seu futuro na empresa. O que seu pai diria, será que o grande senhor Gumercindo Pereira ainda consideraria passar seu cargo de maneira permanente para ela depois de tudo? Se tivesse nascido homem, Rosana nem mesmo estaria tendo essa dúvida, era horrível pensar que mesmo no século XXI ela como mulher ainda precisava provar sua capacidade até mesmo para o próprio pai.
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  — E você, Rosana, o que achou do filme? — O sorriso inocente de Angélica a fez voltar ao momento presente.
  — Ah, sabe como não é tão ruim quanto eu pensei! — A jovem direcionou seu olhar para Matteo não escondendo um sorriso tímido.
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  O italiano correspondeu pensando o mesmo. Rosana não era a garota grosseira que o havia ensopado de café mais cedo, era cuidadosa, ótima irmã mais velha e uma mulher muito interessante, cheia de camadas, camadas essas que Matteo queria muito desvendar.
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  — Ainda bem que você prestou atenção no filme e não nos olhos brilhantes do Matteo! — provocou a pré-adolescente fazendo Rosanna sentir as bochechas corarem pela vigésima vez naquela noite.
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  — Angélica! — repreendeu Rosana em um cochicho.
  — Que foi? Não briga comigo, eu só estou repetindo as suas próprias palavras.
  A audácia da garotinha com a irmã mais velha fez o italiano cair na risada.
  — Aliás, vocês dois quando quiserem conversar, façam o favor de marcarem um encontro e não atrapalhar parte do meu filme — provocou Angélica, fazendo os dois se adultos encararem de maneira tímida, como dois adolescentes.
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  — Ma noi due ficamo quieto dopo que você chamou a nossa atenção! — argumentou Matteo.
  — É verdade, eu gostei muito da sua companhia, Matteo, não sei por que minha irmã reclamou tanto de você, até porque, pelo jeito, gostou de sentar ao seu lado até mais do que eu.
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  Definitivamente Angélica precisava de uma aula sobre discrição e como agir em situações constrangedoras, não era possível que uma pré-adolescente pudesse ser tão atrevida e deixou uma jovem na casa dos vinte tão envergonhada diante de um homem sedutor. Ela precisava deixar tudo claro para que não houvesse mal-entendidos.
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  — É, Angélica, eu quero muito um sorvete, por que você não vai lá comprar para mim?
  — Você nem gosta de sorvete.  Podia ter pensado em uma desculpa melhor para ficar a sós com o Matteo, né? Eu só vou porque você vai acabar me dando a casquinha inteira mesmo. Comportem-se. Posso ser novinha, mas estou de olho — ameaçou a jovem antes de sair.
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  Rosana sentiu seu coração explodindo no peito, pela segunda vez naquele dia, lá estava ela de frente para o italiano de olhos brilhantes que havia lhe dado coragem depois do incidente com o computador, apenas para minutos depois a humilhar e acabar com todas as suas esperanças.
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  — A Angélica é assim mesmo, mas ela gostou de você! Então, eu te agradeço por ser tão gentil com ela.
  — Non há de que, sua sorella é adorável mesmo que non tenha papas na língua, como vocês dizem aqui!
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  A jovem arregalou os olhos de surpresa.
  — Nossa, para quem chegou há pouco tempo até que você conhece algumas gírias da língua portuguesa — provocou se aproximando.
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  — Io ho estudado il portuguese antes vir para cá. Sabe, meu pai sempre me contava que trabalhava no Brasil, me contava histórias dele e do seu pai.
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  Rosana cruzou os braços impressionada em como aquele italiano era cheio de mistérios.
  — Então, você sabe quem eu sou?
  — Sim, meu pai sempre falava que il signore Gumercindo tinha uma filha chamada Rosana e quando os acionistas falaram o seu nome, eu sabia que era você. Só non sabia que era ton bella — o italiano sussurrou a última parte fazendo Rosana sentir novamente arrepios por todo corpo.
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  Ela estava acostumada a ser elogiada por todo tipo de homem, afinal frequentou algumas festas na faculdade e seu pai sempre a levava para as comemorações da empresa onde os filhos de funcionários muitas vezes lhe teciam elogios, porém, nunca nenhum deles havia causado o que ela estava sentindo naquele momento.
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  Por um instante ela se pegou imaginando como seria mergulhar naqueles lábios perfeitos que mais pareciam uma obra de arte, ou sentir aquele cheiro de café impregnado naquele cabelo mais de perto. Não, ela estava fora de si, não podia se deixar levar tão facilmente por elogios e encantos de um italiano charmoso, ainda mais quando este havia destruído seu sonho e difamado o projeto de sua vida na frente dos acionistas da empresa que um dia seria sua. Sem contar as revelações de seu pai sobre a família do italiano…
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  Ela precisava manter o foco, Matteo era desprezível, um destruidor de metas e de projetos alheios, Rosana jamais poderia se esquecer disso, mesmo que aquele arruinador viesse em uma embalagem tão irresistível.
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  — Seu italiano atrevido, acha mesmo que esses elogios vão me fazer esquecer do que fez?
  Matteo não podia acreditar, realmente Rosana era osso duro de roer, que garota teimosa, mas tão irritantemente linda.
  — Io só estava sendo gentil, mas você só sabe reclamar e jogar pedras em mim — retrucou Matteo.
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  — Ah, eu que jogo pedras em você? Você chamou o projeto da minha vida de piada.
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  — Ma dio santo! Esquece isso.
  — Você é mesmo um insensível. E pensar que eu te agradeci por ser gentil com a Angélica, mas eu acho que esse cinema foi um erro,
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  — Io também acho.
  Os dois cruzaram os braços como duas crianças ao mesmo tempo em que Angélica retornou com uma colher de sorvete de baunilha na boca.
  — Como eu sabia que você ia me dar, eu já economizei tempo… Ah não, vocês brigaram de novo. Pelo amor de Deus, nem as pessoas da minha sala fazem isso. 
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  — Vamos embora, Angélica. Não temos mais nada que fazer aqui! Buona sera! — Rosana puxou a irmã antes que a mesma pudesse se despedir de Matteo.
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  — O que foi, Rosana? Eu ia convidar o Matteo para jantar lá em casa amanhã, ele é legal e você também gosta dele que eu sei!
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  — Não, eu não gosto e aquele italiano é maledeto
  — O quê?
  — Quer dizer que ele não é boa gente, agora vamos logo antes que o papai fique preocupado, e não conte nada disso para ele, promete?
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  — Por que não?
  Rosana suspirou. Se Gumercindo, que prezava tanto pelo profissionalismo, soubesse do ocorrido, aí sim as chances de Rosana estariam arruinadas de vez.
  — Você não entenderia, é assunto de adulto.
  Angélica cruzou os braços, emburrada.
  — Já disse que odeio quando me trata feito criança, mas tudo bem, eu mantenho segredo por você!
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  — Obrigada, vamos, vamos!
  Rosana puxou a irmã para fora do shopping, se amaldiçoando por ter escolhido aquele cinema, afinal, em vez de se distrair com a irmãzinha, estava voltando para casa com mais um problema, e o pior é que o “problema” em questão tinha uma obra de arte no lugar da boca.
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  Matteo abriu a porta de seu pequeno apartamento no Brasil, onde se deparou com uma sala vazia. Seu coração se apertou ao lembrar de que na Itália esse cenário era bem diferente. Quando voltava do trabalho no bar, sentia o cheiro do café feito na hora por sua mãe, Dona Leonora, com a ajuda da nora Giuliana, enquanto seu pai, Bartollo, o esperava para conversar sobre as principais notícias do dia, assunto este muito entediante aos olhos de sua irmãzinha Paola, esta, impaciente, puxava a blusa do irmão mais velho o chamando para brincar.
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  Sua casa, na pequena vila italiana, era bem modesta, afinal, seu pai havia perdido tudo que havia conseguido levar do Brasil, em um investimento fracassado. De todo modo, eles podiam não ter muito dinheiro, mas amor era algo em abundância naquela família.
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  Agora, Matteo até podia ter conseguido uma boa posição como acionista de uma das maiores empresas de café do Brasil, mas se sentia sozinho. A morte trágica de seu pai era um momento que sempre voltava à sua mente como uma sombra.
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  Na época, Bartollo estava apavorado, mesmo anos depois de ter voltado do Brasil, expulso por seu melhor amigo por um mal-entendido – pensou ter sido enganado, mas a verdade é que Bartollo nunca havia roubado um pão qualquer em toda a sua vida. Em uma última esperança de tentar se reerguer novamente, o chefe da família investiu o pouco que restava em um pequeno negócio de massas com a ajuda da esposa Leonora, uma cozinheira de mão cheia. Este durou bastante tempo, contudo, por dívidas de aluguel e a concorrência de grandes redes que estavam chegando até mesmo nas grandes cidades, eles acabaram falindo. Em um ato de desespero e para evitar ver sua família em extrema necessidade, Bartollo teve uma atitude inconsequente e impulsiva, por mais que Matteo e Leonora o aconselhassem o contrário, afinal os mesmos podiam ajudar da forma que fosse, o salário de Matteo na época não era muito, mas era o suficiente para evitar o pior.
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  Todavia, o chefe da família, teimoso e orgulhoso, não queria dar o braço a torcer e admitir que havia falhado, além do mais, Matteo era casado, e segundo Bartollo, o filho precisava se preocupar com a esposa e os filhos que poderiam vir. Ele sabia que Matteo estava juntando o pouco que ganhava para comprar uma casa própria onde poderia viver com Giuliana e construir sua própria família, não era justo que seu filho pagasse por seus erros.
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  O italiano fez um empréstimo com quem não devia. Claro, essas pessoas maldosas cobraram o preço. Começou com pequenas ameaças escritas na porta de entrada da casa, depois Bartollo chegava em casa pingando sangue do rosto devido a inúmeras surras, até que por fim, em uma emboscada, os mafiosos malditos tiraram a vida de seu pai.
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  A verdadeira razão da morte de Bartollo permaneceu um mistério na vizinhança. O mesmo tinha vergonha de sua situação, por isso, antes de morrer com uma bala na barriga e mal conseguindo respirar, ele pediu que inventassem qualquer história, mas não revelassem a verdade. Matteo se lembrava perfeitamente das últimas palavras do pai.
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  — Matteo, filho mio, escuta. — Bartollo segurou as mãos do filho em despedida. — Io ho fatto uma besteira e agora eles também podem vir atrás de você. Mas você tem uma chance, filho mio. In Brasille, na empresa de mio amico Gumercindo.
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  Na época, Matteo não podia nem ouvir falar aquele nome, afinal, em sua mente, o ex-sócio brasileiro era indiretamente culpado por toda aquela situação. Mesmo sendo uma criança, ele se lembrava de como o pai havia partido em busca de um futuro melhor, ficou transtornado quando retornou e demorou anos para se reerguer.
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  — Non, Io no vo atrás de quelo maledito.
  — Perfafire, figlio mio — continuou com dificuldades de respirar. — Acha mesmo que questa desgraça há finito com me? Non, Io conosco quella gente vai vir atrás de vocês. Non vai  dinero para ir todo mundo. Tua mama e tua Paolla puoden quedare a casa de mia sorella em Roma, estarão seguras, tu e a tua Giuliana van, você tem direito, figlio fmio. Anchor, Brasile é um belo lugar. E a chance de um recomeço!
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  Matteo sentiu o coração apertar com a ideia de ficar longe de sua mãe e sua irmã. Perder o pai já não era o suficiente?  A família sempre foi tudo para ele e agora a mesma estava desabando sobre sua cabeça. Contudo, seu pai estava certo, o jovem também conhecia a “maledita” máfia. Sabia que não os deixariam em paz.
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  — Tá bene. Io volto para buscar vocês. Bom, pelo menos Io tere la mia Giuliana ao meu lado — pensou consigo mesmo sem imaginar que sua amada não iria para o Brasil.
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  Agora, lá estava ele, voltando de uma sessão de cinema na companhia da filha daquele que julgava ser o responsável pela ruína de sua vida. E o pior é que a filha mais velha tinha lábios irresistíveis.
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  Claro, o acionista estrangeiro ainda não havia esquecido sua Giuliana, afinalm, a mesma foi seu primeiro e único amor desde a adolescência, porém, quando viu Rosana pela primeira vez, brigando com o computador, uma sensação diferente tomou conta do seu corpo, sentiu que tinha vindo ao Brasil e entrado naquela empresa só para encontrá-la.  Mesmo com a mágoa em seu peito e o coração fechado para o amor, a jovem de cabelos castanhos ondulados atraiu seu olhar como um anzol e seu temperamento forte então…
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  De certa forma, ele se arrependia de ter sido tão duro com o projeto de Rosana, afinal, tinha visto seu desespero e nervosismo antes da apresentação. Além do mais, já havia dado para perceber que ela trabalhava duro por uma chance e merecia tê-la. Droga, mesmo que Matteo fosse contra a ideia de investir em novos produtos, não tinha direito de humilhar uma mulher daquela forma, ainda mais uma que à primeira vista havia feito seu coração bater mais forte.
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  Entretanto, agora era tarde demais, Rosana nunca o perdoaria por mais que odiasse admitir, e sabia que tinha merecido levar o copo de café em seu cabelo. Droga, por quê?
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  Mesmo tendo o sangue do assassino indireto de seu pai, ela tinha que ser tão atraente. Deus como só de entregar pipoca em suas mãos ele sentiu o corpo inteiro se arrepiar?
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  Em uma tentativa de esfriar a cabeça, Matteo se deitou no sofá e acabou adormecendo, mas naquela noite sonhou com uma certa pessoa de cabelos castanhos ondulados.
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Capítulo 5

  As mãos de Rosana acariciavam de maneira carinhosa os cabelos lisos e negros da irmã, contudo, sua mente ainda estava imersa nos acontecimentos do dia. Primeiro o olhar penetrante de Matteo a hipnotizou, como se ele tivesse jogado algum tipo de feitiço no copo de café, pois não era possível. Assim que seus olhos cruzaram com os do italiano misterioso, a jovem herdeira soube que não tinha mais volta, era uma sensação nova de segurança, perigo, alegria, medo, tudo ao mesmo tempo junto e misturado.
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  Por sempre estar muito ocupada tentando provar seu valor ao senhor Gumercindo, a garota de cabelos castanhos ondulados nunca teve muito tempo para ir às festas ou conhecer alguém. Porém, isso não significava que, no fundo, ela não queria saber qual a sensação de sentir seu peito pular ao olhar para alguém ou experimentar o gosto de um beijo de amor verdadeiro vindo de alguém que a desejasse em seus braços mais do que tudo. 
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  Por um tempo, esses desejos, antes considerados por ela infantis, ficaram guardados em sua mente e em seu coração em um local que a aspirante a empresária raramente acessava, mas desde que conheceu Matteo naquela manhã, era como se essa mesma parte que a garota lutou tanto tempo para esconder, por considerá-la fraca, tivesse se rebelado e quisesse tomar o controle sobre suas ações. Porém, mesmo que a aventureira dentro dela quisesse mergulhar fundo nessa nova emoção, o seu lado racional a dizia para parar, afinal, uma vez que cedesse aos encantos do italiano, a filha mais velha de Gumercindo temia que não houvesse mais volta.
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  — Terra para Rosana, você vai ler a história para eu dormir ou não? — Angélica arrancou a irmã de seus pensamentos intrusos.
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  Mesmo já sendo uma pré-adolescente de treze anos, Angélica fazia questão que Rosana lesse uma história antes de dormir todas as noites. Por ter crescido sem a mãe, a herdeira mais nova tinha em Rosana uma figura materna em quem sentia segurança e, mesmo crescida, a pequena gostava de manter as boas tradições, as histórias antes de dormir e o beijo de boa noite vindo da irmã mais velha eram algumas delas.
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  — Me desculpa, docinho, eu estava longe, mas agora estou aqui! — Rosana aconchegou a irmã em seus braços.
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  — Sei muito bem onde estava, com um certo italiano charmoso… — provocou.
  Ao mesmo tempo em que gostava de manter tradições consideradas infantis por alguns, Angélica também se mostrava muitas vezes mais madura do que a maioria das garotas de sua idade, por essa razão, Rosana tinha dificuldades em esconder seus sentimentos da irmã, o que às vezes era uma benção e uma maldição.
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  — Esquece esse assunto, eu já disse que o Matteo não é uma boa pessoa. Eu não gosto dele!
  — Não foi o que pareceu quando vocês estavam conversando no cinema, eu vi como estava hipnotizada. Para dizer a verdade, irmã, eu nunca te vi tão feliz como quando estava com ele.
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  Por mais que não quisesse admitir, Rosana sabia que a irmã estava certa. Sua vida se resumia a tentar impressionar Gumercindo, trabalhar na fazenda e cuidar de Angélica, não que estivesse reclamando, mas sua rotina sempre a mesma, monótona, nada de diferente acontecia há tempos além da apresentação do projeto. As sessões de cinema com Angélica, por mais que a jovem apreciasse a companhia da irmã, sempre quase a faziam cair no sono, afinal, os filmes eram sempre escolhidos pela garota de treze anos.
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  Naquele dia, depois de tempos, algo balançou suas estruturas e esse algo tinha nome e lábios sedutores. Ao pensar no italiano, a herdeira mais velha sentiu uma vontade imensa de fazer uma loucura, largar tudo para o alto e viver essa nova emoção que havia chegado tão de repetente e se instalado em seu peito de forma avassaladora. 
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  O que estava dizendo? Ela andava assistindo muitas comédias românticas, a vida real não era assim, ela possuía sua vida, a empresa, Angélica, não podia nem sequer pensar em largar tudo por um italiano de quem não sabia nada, ou melhor, sabia que ele era filho de um ladrão  e arruinador de projetos. Isso ela nunca poderia esquecer, por isso teve que se esforçar para não sorrir ou ao se lembrar das mãos de Matteo tocando as suas ao entregar-lhe um punhado de pipoca.
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  — Ah, minha irmã, você está enxergando demais, eu só estava tentando ser educada, afinal, você inventou de chamar o maledito para sentar com a gente. Eu não queria brigas no meio da nossa sessão de cinema.
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  — É, mas logo depois vocês estavam brigando de novo, parece até aqueles casais dos filmes que você gosta, onde os protagonistas vivem brigando, mas no fundo são apaixonados um pelo outro.
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  Rosana sentiu as bochechas corarem, visto que realmente uma das razões para ela ter brigado com o italiano enquanto ela ia pegar o sorvete foi justamente o fato de Matteo a ter elogiado. Bella. Rosana já havia recebido inúmeras mensagens com declarações melosas de amor nos tempos da faculdade, tantas que se tornaram irrelevantes. Contudo, uma simples palavra saída daquela boca italiana perfeita era o suficiente para fazê-la se derreter por dentro para abalar suas estruturas de uma forma inédita.
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  — Eu preciso parar de te mostrar esses filmes, melhor você continuar assistindo Lisa Belinha para não ter ideias erradas na cabeça. O Matteo foi cruel comigo, me humilhou na frente dos acionistas.
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  — Mas ele tem olhos brilhantes.
  Rosana suspirou enquanto brincava com os cabelos da irmã.
  — Você não vai me deixar esquecer disso, não é?
  — Não, vou!
  — Então, minha irmã. Eu sei que você está acostumada a assistir e ler contos de fada onde os homens lindos e de olhos brilhantes são príncipes encantados perfeitos que se apaixonam à primeira vista pelas princesas. Mas, na vida real, esses homens bonitos usam essa beleza para enganar as mulheres. Eles fazem promessas, são legais com as irmãs delas, mas é tudo até conseguirem o que querem…
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  Angélica ergueu a sobrancelha de forma curiosa enquanto abraçava o travesseiro.
  — E o que eles querem?
  Rosana na mesma hora percebeu o erro que havia cometido, não podia contar à sua irmãzinha de treze anos o que acontecia em um quarto, e em outros lugares criativos, entre duas pessoas que se amam. Angélica, por mais sagaz que fosse, ainda era muito nova para ter “a conversa” .
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  — Um beijo. — Sua voz saiu em um impulso
  — Ah, não, não me enrola Rosana.  Eu só tava te testando, mas sabe muito bem que é mais que isso.
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  Rosana jogou o travesseiro na irmã a repreendendo.
  — Angélica, você é muito nova para esse tipo de assunto, mocinha.  Essas meninas de hoje são impossíveis.  
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  — Ah, Rosana. Eu já aprendi sobre isso na escola há muito tempo. Tenho treze anos. Você quem precisava parar de me tratar como uma criança, mas eu sei muito bem o que é se-
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  — Chega! Não fala. — Rosana tampou os ouvidos horrorizada com a ideia de ouvir tal palavra sair da boca inocente de sua irmã caçula. — Prometo que quando for a hora vou ter uma conversa com você para explicar tudo, mas agora…
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  — Combinado. Só me responde uma pergunta?
  — Claro.
  — Isso que os adultos fazem, você sabe, dentro de um quarto… que você não quer que eu fale…  Você gostaria de fazer com o Matteo?
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  Dessa vez não apenas as bochechas, mas o rosto inteiro de Rosana se tornou um pimentão. A resposta? Obviamente era sim, mesmo com as revelações de seu pai e  a humilhação na empresa, ela não conseguia deixar de imaginar como seria um beijo do italiano, será que a levaria aos céus, será que se ele beijasse seu pescoço e algumas outras partes ela saberia o que é ser amada de verdade? No que estava pensando? O conhecia há apenas um dia! Ela lembrou a si mesma, recuperando a razão.
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  — Já falei!  Isso não é assunto para alguém da sua idade. Além do mais, amanhã você tem escola, chega de conversa e vamos ler logo essa história para a senhorita dormir.
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  Angélica cruzou os braços em reclamação.
  — Tudo bem, mas não pense que vai escapar dessa conversa…
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  A herdeira mais velha engoliu seco antes de pegar o livro na cabeceira e tentar se concentrar na leitura, mas sem sucesso, visto que um certo italiano pelo visto não deixaria sua mente em paz tão cedo.
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  Matteo engoliu o pão de maneira rápida enquanto seus dedos deslizavam sobre a tela para saber as notícias do dia, o gosto salgado do pão de sal comprado na padaria no dia anterior o fazia sentir saudade do café da manhã doce de casa.
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  Por mais que Brasil e Itália fossem semelhantes em alguns aspectos, alguns se diferenciavam bastante quando falávamos de cultura e o café da manhã era um deles. Matteo não entendia por que alguém iria comer algo salgado no café da manhã logo depois de acordar, afinal, como sua mãe sempre dizia, um doce para começar o dia sempre é bom. Contudo, ele queria experimentar os costumes locais para se enturmar e ser respeitado como um acionista de uma empresa importante do Brasil, ele devia isso a memória de seu pai, a dona Leonora e a pequena Paola, estas o aguardavam ansiosas, com boas notícias. Matteo não podia deixá-las na mão, precisava mostrar que era capaz de ajudar sua família, mesmo sem seu pai e sem sua Giuliana… a única mulher que tinha amado a vida toda desde a adolescência, a lembrança de tê-la em seus braços durante as festas locais ainda eram uma tortura de certa forma, seus braços pareciam ter sido feitos para ela, e, na época, ele pensava que os dois ficariam juntos para sempre, mas estava enganado, agora ele passava os dias  se perguntando se algum dia alguma mulher seria capaz de fazê-lo se apaixonar de novo. Bom, essa resposta talvez estivesse mais perto do que ele pensava, considerando as recentes interações com uma certa garota mal-humorada de cabelos castanhos cacheados, não, ele precisava se concentrar, não era hora de pensar em Rosana e em como seus cabelos caíam perfeitamente sobre os ombros ou como seu sorriso era maravilhoso enquanto estava se divertindo. Hoje era dia de missão importante, então por que ele sentia uma vontade imensa de ir até o escritório para ver se, por acaso, a filha do senhor Gumercindo não estava por lá?
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  O toque de seu celular fez o italiano voltar ao presente com um sorriso ao ver o nome na tela.
  — Mama como estai? — exclamou ao ver dona Leonor na tela.
  — Matteo, filho mio! Como está in Brasile?
  — Bene mama, quer dizer, io ho tido alguns problemas, mas nada que io non posso resolver.
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  — Que tipo de problemas? — Leonora cruzou os braços enquanto ainda segurava o celular.
  — Ah, mama, a filha do signore Gumercindo, ela  é uma garota arrogante, sabe. Acredita que ela apresentou um projeto para que a empresa comece a investir em vinho também?
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  — Madona Mia e o que você fez.
  — Eu não aprovei, claro, e convenci os acionistas a votarem contra, aí ela jogou café na minha cara.
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  Escutando a conversa, Paola apareceu em frente a tela não segurando o riso.
  — Io já gostei dela! — exclamou.
  — Você sempre implica comigo, né, Paola?
  — Você sabe que isso é, como dizem em português, mesmo? Ah é, saudade.
  — Pois é, mia ragazza anche io sono morto de saudades, mas logo io vo conseguir trazer vocês!
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  — Ma e essa Rosana, ela é carina, bonita?
  Matteo corou com a pergunta, realmente, sua irmãzinha não era muito diferente de Angélica.
  — Ma que pergunta é essa? — indagou dando graças a Deus por não ter contado sobre o cinema.
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  — Io só quero saber, além do mais, você precisa encontrar um novo amore, quem sabe, não consigo uma cognata brasiliana?
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  — Tua sorrela non esta errada, Matteo, você precisa se abrir para o amore novamente.
  O italiano suspirou antes de responder.
  — Io se, mama, mas é tão difícile, sabe, ho paura, me machucar de novo.
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  Dona Leonora soltou uma leve risada.
  — Non precisa, filho mio, non deu certo com a Giuliana, ma isso non significa que nunca vai dar certo com ninguém, promete para sua mama que se conhecer alguém speciale vai dar uma chance.
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  — Tá bom, mama, Io prometo, agora eu tenho que ir, oggi io vo na fazenda do signore Gumercindo para conhecer tudo.
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  — Fa molto bene mio figlio, te voglio molto bene. Fica com dio!
  — Anche io te voglio molto bene mamma, te vediamo!
  — Ciao, mio fratello querido! — Paolla jogou um beijo antes de encerrar a ligação.
  Matteo colocou o aparelho de lado enquanto suspirava tentando absorver as palavras de sua mãe… talvez ela estivesse certa, talvez ele precisasse se abrir para o amor, mesmo que esse jogasse café em seu rosto.
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  Naquela manhã, a fim de mostrar ao seu pai que não havia desistido de assumir a empresa algum dia, Rosana levantou cedo para ir à fazenda.  A jovem se distraía olhando para os cafezais e ajudando a supervisionar as safras colhidas que iam para a fábrica, um trabalho empolgante que ela adorava fazer e nada iria estragar, pelo menos, era o que ela pensava, até descobrir que mais uma vez o destino havia pregado uma peça. Pois, junto com um dos caminhões de descarga, ela também avistou um certo italiano passar pelo portão principal…
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Capítulo 6

  Sentindo o coração disparado, Rosana pegou rapidamente uma revista em cima do balcão e começou a folheá-la fingindo interesse, seus olhos poderiam estar impedidos, mas seus ouvidos estavam atentos ao que o italiano iria falar em seguida. Afinal, o que raios ele estava fazendo ali? Bom, claro que como um dos acionistas da empresa, ele tinha direito de conhecer a fazenda e aos cafezais cuja parte lhe pertencia por direito. Entretendo o italiano boa pinta precisava mesmo fazer essa maledita visita justo no dia em que ela estava ali? Francamente, como se não bastasse o cinema, o universo queria pregar outra peça.
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  Alguns segundos depois ela escutou aquele sotaque maravilhoso que a fazia se arrepiar inteira.
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  — Buon Giorno signore, Io sono il nuovo azionista dell’azienda e vi voglio conoscere.
  — Ah sim, muito prazer, senhor Matteo, não é isso? — O homem de óculos que era o novo gerente do local, estendeu as mãos de forma educada
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  — Ecco, sono Io. Il signore poderia me mostrar il local, sabe, é la prima volta que visitei uma fazenda de café e non sei bem como as coisas funcionam qui, capittche?
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  — Ah, senhor Matteo, eu adoraria, mas infelizmente ainda tenho muito serviço, sabe como é, ainda tenho que verificar as safras, supervisionar a manutenção… mas espera um momento… Rosana.
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  O coração da herdeira saltou no peito ao ouvir o seu nome, afinal ela já imaginava o que o novo gerente iria pedir, de jeito nenhum ela aguentaria ficar sozinha com Matteo, a fazenda era enorme, o tour demoraria muito, além do mais, se olhasse fundo naqueles olhos maravilhosos ou encarasse aqueles lábios perfeitos por muito tempo, a jovem tinha medo de fazer uma besteira da qual logo iria se arrepender. Porém, por outro lado, ela precisava convencer o italiano cabeça dura de aprovar sua proposta, afinal, da mesma forma que convenceu os outros acionistas a negarem, aquele conjunto de beleza de perdição também poderia ser a chave para o seu sucesso. Se conseguisse controlar seus impulsos e resistir à tentação de mergulhar naquela obra de arte em forma de boca, ela poderia ser gentil e, durante o tour, apresentar seus pontos de vista e, quem sabe, no dia seguinte seu projeto estaria aprovado e, finalmente, depois de tantos anos, ela receberia outro elogio de seu pai e provaria de uma vez por todas sua competência para sucedê-lo.
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  Com essa ideia em mente, a jovem se forçou a colocar um sorriso no rosto antes de largar a revista da qual não havia lido uma palavra e responder:
  — Sim, Antenor?
  — Você já conhece o novo acionista gringo da empresa, o Matteo?
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  Ela suspirou, tentando ao máximo não cair na armadilha de olhar fundo naqueles olhos hipnotizantes.
  — Sim, nós já nos conhecemos.
  — É vero.
  Matteo colocou as mãos no bolso e abaixou a cabeça, tentando controlar suas pernas trêmulas, a ideia de ficar sozinho com Rosana no meio dos cafezais  era de certa forma tentadora, afinal era um local perfeito para…  Espera, o que ele estava dizendo?  Ela o detestava e havia deixado isso bem claro. Mesmo assim, ele não podia deixar de imaginar como seria sentir o gosto daquele batom rosa claro que a filha de Gumercindo usava e o quanto gostaria de ser o responsável por tirá-lo. Mesmo estando fechado para o amor após o divórcio, de alguma forma aquela maledita desperdiçadora de café o tinha feito despertar novamente para a vida, mesmo que não fosse um grande amor como o que havia vivido com Giuliana, a herdeira daquela fazenda e de toda a fábrica da qual ele era sócio, havia conquistado um lugar em seu coração. como era possível, alguém ter feito esse milagre em apenas dois dias? Essa era uma pergunta que o próprio Matteo não sabia responder.
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  — Então tenho certeza que a Rosana não se importa em te mostrar a fazenda, não é mesmo? — Antenor os trouxe de volta ao momento presente.
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  A jovem engoliu seco, tentando disfarçar as pernas moles.
  — É claro que não. — Sua voz saiu fraca enquanto ela mesma tentava acreditar na mentira que saía de sua boca.
  — Perfeito, então eu já vou indo porque se eu não terminar todas as tarefas, o senhor Gumercindo não vai gostar…
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  Mesmo sendo presidente interina por um mês, todos os funcionários mais importantes ainda insistiam em responder a seu pai, o que de certa forma fazia Rosana ficar ainda mais determinada em provar seu valor.
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  — Foi um prazer conhecê-lo, senhor Matteo.
  — Igualmente! Ti veggiamo! — O italiano acenou de forma simpática antes de voltar seu olhar para aquela que havia sido sua perdição nos últimos dois dias.
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  — Então, você… vai me mostrar a fazenda?
  — E eu tenho outra escolha? — sussurrou para si mesma, mas não baixo o suficiente para que o italiano não pudesse ouvir.
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  — Io não entendo por que ainda está tão brava comigo.
  Rosana suspirou, lembrando a si mesma de que, por mais encantador que Matteo parecesse no fundo, ele era como todos os outros, nunca sabia o que havia feito de errado.
  — Muito bem, não vamos falar sobre isso, agora vem logo porque vai ser um longo tour se você quiser conhecer a fazenda toda.
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  — Cierto!
  A herdeira mais velha de Gumercindo deu passos mais rápidos na tentativa de sempre ficar à frente do italiano para evitar discussões ou olhar para uma certa boca perfeita. No início, seu plano parecia estar dando certo, já que durante a ida ao galpão de grãos, os dois só trocaram palavras relacionadas a café e ao que estava acontecendo naquele local.
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  Matteo comentou sobre como os grãos brasileiros se desenvolviam muito mais rapidamente do que os grãos plantados em outros países como na Itália e por isso era tão importante que o mesmo continuasse sendo o produto principal daquela empresa.
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  Rosana, ignorando a indireta, continuou o tour indo até uma estação de irrigação onde vários funcionários eram responsáveis por regar as mudas várias vezes por dia. Matteo ficou fascinado pelo maquinário moderno que seus olhos encaravam pela primeira vez. De certa forma era fofo a maneira como o italiano se encantava com tudo à sua volta.
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  — Você realmente nunca tinha visto uma máquina dessas? — Rosana cruzou os braços, disfarçando sua curiosidade sobre o passado do acionista estrangeiro.
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  — Non, in la mia città todas las producciones agrícolas son familiares.É fantástico.
  A jovem aspirante a empresária deu uma risada com a empolgação de Matteo, era incrível como algo tão comum para ela podia ser tão encantador aos olhos de outra pessoa.
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  — O café parece ser bem importante para você, não é, Matteo?
  O italiano desviou os olhos das máquinas irrigadoras e se voltou para sua guia.
  — Ecco. Io tovama todos os dias, o café que mia mama faz é il melhor di too il mondo. E ela tinha umas mudinhas na casa nostra e plantava por divercione.
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  — Entendi, parece ser muito legal, no meu caso, se eu aparecesse com um café artesanal, meu pai me deserdava, mas eu imagino que tenha mesmo um gosto diferente.
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  — Tu precisava provar il café da mia mama, Rosana! Tenho certeza que nunca mai ia querer outro, o seu pai ia me matar por isso.
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  Os dois caíram na risada com a fala.
  — Eu ia adorar provar o café da sua mama, mas por que você disse que ela tinha umas mudas, ela parou de plantar?
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  As lembranças dolorosas da morte de seu pai invadiram a mente do italiano.
  — É una lugano história — Matteo se limitou a responder.
  De algum modo, o olhar triste e perdido de Matteo mostrava que realmente algo muito ruim havia acontecido em sua família, talvez tivesse a ver com sua ida para o Brasil. Uma curiosidade insistente dominou o peito de Rosana, porém, ao mesmo tempo, ela não queria invadir a privacidade do italiano dessa forma, afinal eles mal se conheciam, a herdeira não podia exigir que simplesmente, de uma hora para outra, ele se abrisse com ela sobre seus problemas. Contudo, ao vê-lo naquele estado, a garota de cabelos castanhos ondulados percebeu que ele não era apenas um galanteador, mas um ser humano com questões não resolvidas, mágoas e feridas assim como ela, talvez ela tivesse pegado pesado, talvez ele houvesse ofendido seu projeto por estar em um dia ruim, ela nunca saberia, por mais que quisesse.
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  Enquanto o observava lutando contra a vontade de tocar seu ombro em forma de consolo, Rosana respondeu:
  — Tudo bem, não precisa me contar se não quiser, mas pode me falar mais sobre o café da sua mãe!
  — Ah si! — Matteo abriu um sorriso, geralmente quando ele se lembrava do pai, a tristeza o invadia por horas, às vezes até mesmo dias, porém, o sorriso de Rosana o fez se sentir melhor de forma instantânea, nem mesmo Giuliana possuía esse poder. Realmente aquela ragazza mal-humorada, aspirante a empresária tinha algo especial.
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  — Todo giorno dopo il lavoro quando io chegava em casa, começava a sentir aquele cheiro  divino e tutta la familia se reunia para bevere, era um momento muy especial…
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  — Nossa que bonito, sua família parece ser incrível nem parece de um ladrão… — No mesmo instante, Rosana percebeu o erro que havia cometido.
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  O sorriso no rosto de Matteo se transformou em uma expressão de raiva.
  — Ja te falei, mio padre non é ladrão.
  — Tudo bem, tudo bem, eu não devia ter falado isso, Matteo, me desculpa, eu imagino que pelo que está me contando, quer dizer, eu nunca tinha pensado nessa possibilidade antes de te conhecer, mas agora, vendo você falando da sua família com tanto carinho, eu percebo que o meu pai nem sempre está certo.
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  O jovem arregalou os olhos tentando conter os arrepios que surgiram em seu corpo.
  — É vero? — indagou ele enquanto se aproximava de Rosana.
  — Sim e talvez eu tenha pegado pesado com você naquele dia, quer dizer, você podia ter dado a sua opinião de um jeito mais cuidadoso ao invés de chamar o meu projeto de piada? Podia, mas eu não quero guardar ressentimentos, além do mais, trabalhamos na mesma empresa e acho que se deixamos tudo isso de lado, podemos ser amigos. O que acha?
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  Matteo suspirou, “amigos” não era bem a palavra que ele esperava ouvir, mas para o momento já era um grande avanço.
  — Io também te devo desculpa, Rosana, quer dizer, io não devia ter sido tão duro com o seu projeto, ainda mais sabendo o quão importante ele era para você.
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  — Tudo bem, eu aceito suas desculpas.
  — E eu devia ter dito que fiquei admirado por você ter feito la apresentação sin nenhum slide, se fosse io in tuo lugar, teria tremido.
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  A conversa estava tomando um rumo perigoso, afinal, quando Matteo era gentil, a tentação de provar o gosto de seus lábios perfeitos crescia ainda mais. Porém, como estavam sendo sinceros, ela cruzou os braços antes de admitir:
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  — Bom, eu não teria conseguido sem seu apoio.
  Matteo arregalou os olhos em surpresa, um agradecimento? Por essa o italiano não esperava.
  — Io ouvi direito?
  Rosana deu uma risada
  — Sim, quer dizer, depois que derramei café no meu computador e perdi a cópia da apresentação que eu havia levado, aliás, isso foi muito patético, eu pensei em desistir, pensei em voltar para a casa do meu pai e admitir que eu era uma fracassada, mas aí você veio com seus olhos brilhan-, quer dizer, de forma gentil e me mostrou que mesmo sem os slides eu era capaz e que não podia desistir do meu sonho tão fácil.
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  Matteo sentiu as bochechas corarem, mas mesmo assim teve que fazer uma piada.
  — Você nunca vai admitir que acha os meus olhos brilhantes, non é vero?
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  — Vai sonhando, isso é coisa da cabeça da Angélica.
  Matteo exibiu um sorriso malicioso enquanto se aproximava ainda mais da herdeira da fazenda, talvez ele finalmente conseguisse fazê-la se abrir.
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  — É mesmo? — sussurrou ele de uma forma tão sexy que fez os pelos dos braços e do pescoço de Rosana se arrepiarem de forma involuntária. Que sensação era aquela? Tão forte capaz de faze-la perder a razão, afinal estava flertando com o italiano responsável pela não aprovação de seu projeto em um ambiente de trabalho, alguns dias atrás algo do tipo seria inaceitável, mas naquele instante, olhando naqueles olhos brilhantes e para aquela boca tão perfeita que parecia implorar por um beijo…
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Capítulo 7

  A ideia de finalmente saber o gosto daqueles lábios que mais pareciam uma obra de arte sempre fazia o raciocínio de Rosana desaparecer. Por sorte, antes que ela pudesse cometer um grande erro, a voz familiar de Antenor a trouxe de volta à realidade.
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  — Desculpe, estou interrompendo algo? — indagou o gerente os encarando de forma suspeita como se tivesse percebido algo. Por sorte, nenhum dos dois podia ouvir o peito trêmulo de Rosana, se seu pai descobrisse que ela quase havia caído na tentação do italiano depois de o criticar tanto e em um ambiente profissional, suas chances estariam arruinadas de vez. Não haveria mais volta, ela podia garantir pelo que conhecia do senhor Gumercindo.
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  — Imagina, Antenor, eu só estava aqui mostrando as máquinas para o Matteo. — A voz de Rosana saiu fraca enquanto ela mesma tentava acreditar na própria mentira e esquecer que por alguns segundos esteve perto de saber qual seria a sensação de estar no paraíso.
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  O gerente de cabelos brancos e compridos, no entanto, pareceu não engolir a desculpa da jovem herdeira, contudo, o importante é que ele deixou quieto.
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  Um suspiro de alívio tomou conta do peito da garota de cabelos marrons quando Antenor respondeu:
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  — Entendi, eu só voltei porque esqueci minha prancheta.
  “Santa prancheta, me salvou de cometer um grande erro” Rosana lembrou a si mesma.
  Depois de recuperar o objeto e receber um obrigado silencioso da herdeira, Antenor saiu deixando novamente Rosana sozinha nas garras atraentes de Matteo.
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  — Eu acho melhor encerrarmos essa visita por aqui. — A aspirante a empresária se afastou.
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  — O quê? Ma Io quero conhecer os cafezais.
  — Outro dia! Por favor, respeite a minha decisão.
  Matteo encarou a garota indignado, será que o quase beijo havia mexido com ela tanto quanto havia mexido com ele?
  A pergunta do italiano foi respondida quando, em um ataque de desespero, Rosana o empurrou de forma a fazê-lo cair no chão.
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  — Mas qual é o seu problema? Io no te entiendo Rosana, en un momento você é gentil e em outro você faz isso.
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  A garota deu um longo suspiro antes de explicar o que acreditava estar óbvio:
  — Ah, não se faça de inocente, Matteo, eu disse que acredito na inocência do seu pai, mas daí cair na sua lábia é demais.
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  — Ma que lábia, dio santo. Era motivo para me empurrar desse jeito?
  — Ah, me faça o favor, você vem com todo esse seu charme achando que vai me amolecer para esquecer o que você fez no dia da apresentação do meu projeto e, droga, agora eu estou aqui sendo obrigada a te mostrar toda a fazenda que pertence ao meu pai e da qual, por sua culpa, eu posso nunca chegar a ser dona. Entende agora? — A voz de Rosana saiu ríspida enquanto seus pés ficavam firmes no chão de maneira e fazendo seu salto quebrar, e num desequilibro a jogou para cima do italiano do qual ela queria tanto escapar.
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  Seus olhos encontraram os de Matteo em um mísero momento onde o tempo pareceu parar, por um instante mais uma vez ela sentiu vontade de se aconchegar naqueles braços fortes que pareciam conhecer tão bem a terra, mas, outra vez, o que ela estava dizendo?
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  — Está vendo só o que você fez?  Como se não bastasse, eu quebrei o meu salto.
  — Ah, agora vai me culpar pela sua falta de jeito também — provocou o italiano, tentando disfarçar ao máximo o quanto era boa a sensação de ter a herdeira daquele lugar em seus braços, mesmo que fosse por um acidente.
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  — É culpa sua sim, desde que você apareceu minha vida virou um inferno, caramba.
  Entretida com o desabafo, a garota de cabelos castanhos só percebeu que os dois tinham companhia quando ouviu o pigarrear de Antenor.
  “Só pode ser brincadeira” disse para si mesma enquanto sentia as bochechas queimarem.
  — Não é o que parece, Antenor — a jovem começou enquanto se levantava, afinal pelo menos um pouco de dignidade ela ainda tinha. — Eu me desequilibrei porque meu salto quebrou e acabei caindo, nada mais. Não é?
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  Matteo, percebendo a situação em que havia colocado a herdeira, confirmou a história.
  — É vero signore, eu tentei ajudar e acabei caindo.
  O gerente os encarou de cima a baixo antes de, em meio a um suspiro, concluir:
  — Imagina, dona Rosana, a senhorita não me deve explicações e nem o senhor Matteo. Eu só vim porque acabei esquecendo também o meu celular.
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  — Mas nossa, Antenor, você só não esquece a cabeça porque ela está presa no seu pescoço. — As palavras saíram de forma automática dos lábios da jovem empresária, esta se arrependendo logo em seguida. — Me desculpa, Antenor. Eu não quis-
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  — Está tudo bem, dona Rosana, como eu já disse, a senhorita não me deve satisfações. Se me dão licença. — Ele saiu, exibindo o celular na mão direita.
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  — Droga, está vendo o que você fez? Seu italiano maledeto! Com certeza ele vai contar para o meu pai e aí sim minhas chances estão arruinadas. Muito obrigada.
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  — Ma por que você se importa tanto com o que seu pai pensa?
  Rosana suspirou.
  — Deixa para lá, é demais esperar que alguém como você entenda, eu vou voltar para casa, não posso ficar aqui com esse salto quebrado. Você deveria fazer o mesmo, espero nunca mais o encontrar por aqui e nem em nenhum outro lugar. Com licença.
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  Antes que Matteo pudesse se desculpar ou explicar suas razões para ter sido tão duro, a jovem deu meia volta o deixando sozinho pensando no quase beijo que haviam dado apenas alguns segundos antes.
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  — Maledita é você. Droga, por que não consigo te tirar da cabeça, sua ragazza mal-humorada.
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  Rosana girou a maçaneta na esperança de que seu pai não estivesse em casa, afinal, se ele visse o salto quebrado com certeza faria perguntas, perguntas essas que ela não estava disposta a responder. Contudo, ao colocar o casaco no sofá seu maior terror se confirmou em forma de uma conhecida e firme voz masculina.
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  — Rosana, minha filha, eu estava te esperando.
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  A jovem engoliu seco enquanto tentava deduzir do que se tratava através da expressão de seu pai, mas, como sempre, Gumercindo era muito bom em esconder suas intenções, dessa forma ela só podia torcer pelo melhor e para que Antenor não tivesse sido tão rápido.
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  — Oi, pai, eu estava na fazenda.
  — É, eu sei, e mostrando o local para um certo italiano. — O empresário cruzou os braços, fazendo o coração de Rosana disparar.
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  — Eu posso explicar…
  — Explicar o quê? Que tomou juízo e decidiu fazer amizade com o italiano ao invés de tê-lo como seu inimigo?
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  A jovem rezou para que o pai não tivesse escutado seu suspiro de alívio.
  — Isso sim é atitude de uma presidente. Parabéns, Rosana.
  A jovem não conseguiu disfarçar sua feição de quem havia recebido uma notícia inesperada.
  — O que foi, minha filha? Não está feliz? Você mesma diz que um elogio meu é um evento mais raro que o eclipse. — Gumercindo cruzou os braços.
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  Os olhos de Rosana vagavam enquanto ela tentava assimilar o que seus ouvidos haviam acabado de escutar.
  — É claro que eu estou, pai, é só que, poxa, foi uma surpresa, achei que o senhor nunca mais me daria outra chance depois de eu ter jogado café no Matteo.
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  — Realmente, foi uma atitude infantil, mas tentar fazer as pazes e ser amigável com ele mostrou maturidade, então é o seguinte, se você conseguir convencê-lo a aceitar seu projeto e ele convencer todos os outros acionistas, eu te coloco na presidência, dessa vez, de forma permanente e me aposento, o que acha?
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  Parecia bom demais para ser verdade, tinha que haver alguma armadilha.
  — Desculpa, tem certeza que eu estou falando com meu pai?
  Em um raro momento de descontração, Gumercindo levantou os lábios e mostrou os dentes em um riso sincero, ela não lembrava a última vez que tinha visto o pai rir sem ser por outro motivo se não um negócio bem-sucedido
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  — Que pergunta, óbvio que está, mas…
  Claro, sempre havia um mas.
  — O que, pai?
  — Eu marquei uma nova reunião na semana que vem.
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  A aspirante a empresária suspirou, ali estava a pegadinha.
  — O quê? Uma semana? Você passou um dia sequer com Matteo? Ele é irredutível, como vou convencê-lo em três dias?
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  — Você vai ter tempo de sobra para isso, já que passarão o final de semana na mesma casa.
  — Como assim? Esse final de semana eu vou para o chalé cuidar dos preparativos da festa junina da empresa que acontece no Domingo e… Ah não, pai, só pode ser brincadeira.
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  — Eu já combinei com o Matteo, ele vai mais cedo com você para te ajudar a montar tudo.
  Rosana mais uma vez resmungou e cruzou os braços como uma criança.
  — Como você pode fazer isso, pai?
  — O quê? Você mesma reclamou no ano passado que era difícil montar tudo sozinha, esse ano arrumei um ajudante.
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  — É, um que me humilhou na frente dos acionistas e é muito irritante, e eu não posso passar cinco minutos no mesmo lugar que ele sem querer beijá-lo. — A última parte ela pensou consigo mesma.
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  — Irritante? Eu achei que tivessem feito as pazes… — Gumercindo levantou as sobrancelhas, algo que fazia desde que Rosana era criança para tentar pegá-la em uma mentira, mas dessa vez ela não iria permitir.
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  — É, quer dizer, força do hábito, sim, nós fizemos as pazes, mas…
  — Chega de mas, Rosana, você queria uma chance e eu estou te dando, é pegar ou largar porque não vai haver outra.
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  A jovem engoliu seco sabendo que o pai nunca brincava sobre esse tipo de assunto. Vendo que não tinha escolha, suspirou antes de passar as mãos pelos fios ondulados e responder:
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  — Tudo bem! Eu aceito! Eu e o Matteo vamos trabalhar bem juntos!
  — Muito bem, é assim que eu gosto.
  A herdeira mais velha subiu as escadas murmurando consigo mesma, pensando na confusão em que havia se metido, por que justo naquele dia ela tinha que ter usado salto? Por que Antenor tinha que a ter pegado no chão com Matteo? Agora sabe-se lá o que ele estava pensando. Por sorte ele não a havia dedurado para o seu pai, atitude de lealdade que ela saberia recompensar muito bem quando assumisse a presidência. Mas para isso, precisava se preparar para passar um final de semana ao lado do italiano de olhos brilhantes e ainda convencê-lo a aceitar seu projeto. Uma tarefa quase impossível, considerando que quando estava a volta dele a aspirante a empresária perdia qualquer linha de raciocínio. Droga, por que o universo tinha que colocar uma pedra entre ela e seu maior sonho, ainda mais uma pedra tão atraente que parecia beijar tão bem?
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  Matteo fechou a maçaneta da porta de seu pequeno apartamento antes de soltar um longo suspiro. Ele tinha vindo ao Brasil para começar uma vida nova e ficar longe de problemas, mas um certo problema de olhos lindos e cabelos marrons parecia segui-lo para todo que era lugar. O segundo que teve Rosana em seus braços, mesmo que por causa de um acidente, foram os melhores que teve em muito tempo, desde que Giuliana havia pedido o divórcio. A imagem da italiana de cabelos negros e olhos verdes como esmeralda lhe entregando o anel que ele havia trabalhado por um ano para pagar, ainda voltava em sua mente. Aquela noite era uma sombra que, por mais que ele tentasse, nunca iria se apagar.
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  Era tarde da noite e ele andava de um lado para outro encarando o relógio. A esposa costumava ajudar dona Leonora a fazer os pães, mas ela nunca demorava tanto. Depois de algumas horas ela finalmente apareceu com os olhos inchados.
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  — Ma que aconteceu Giuliana, dio santo io estava morto de preocupação, donde estava?
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  Entre lágrimas a italiana respondeu:
  — Io no posso continuar, Matteo.
  — Continuar o quê?
  — Nuostro casamento, io ho conocido otro amore… — revelou com a voz fraca.
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  Um misto de emoções tomou conta do jovem: raiva, medo e tristeza. Como a mesma Giuliana que lhe havia jurado amor eterno perante o padre agora dizia que estava apaixonado por outro? Era uma ideia tão absurda que a princípio ele não quis acreditar e teve esperanças até o momento em que assinou por pressão da ex-esposa o papel selando o divórcio. Sua vida estava arruinada, tudo parecia cinzas, até o momento em que seu coração despedaçado se deparou com uma certa garota de cabelos castanhos, essa que não queria vê-lo nem pintada de ouro. Mesmo assim, ele não conseguia passar cinco minutos no mesmo lugar que ela sem se sentir tentado a provar o gosto daqueles lábios perfeitos.
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  — Ah, dio santo, o que será que me espera en questo chalé? — indagou para si mesmo antes de  deitar no sofá.
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Capítulo 8

  Rosana dobrava as roupas de maneira automática, pois enquanto colocava seu vestido de quadrilha na mala, sua mente estava longe, pensando no final de semana inteiro em que estaria na companhia daquele italiano maledito de olhos brilhantes e uma boca sedutora. Droga, por que um conteúdo tão perigoso tinha que vir em uma embalagem tão atraente?  Ah, mas ela sabia muito bem, como contornar a situação, tudo que precisava era falar com ele por tempo o suficiente para convencê-lo a aprovar seu projeto, era tudo que queria… bom para dizer a verdade, se fosse escutar seu coração, ela iria querer muito mais, porém seu cérebro lhe dizia para manter a relação somente no profissional.
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  Não é que Rosana tivesse medo de se machucar ou algo do tipo.  Na verdade, a jovem aspirante a empreendedora não temia uma boa aventura e um bom desafio, ainda mais quando o desafio em questão vinha acompanhado de um sotaque delicioso, contudo, ela se valorizava o bastante para não cair nas garras de qualquer um, ainda mais de alguém que a havia humilhado tanto.
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  Sim, por mais que seus lábios dissessem não guardar mágoas, a verdade é que a mesma já havia criado morada no peito de Rosana, a jovem nunca conseguiria esquecer a voz do italiano chamando seu projeto de piada frente aos acionistas. Ainda havia a questão de seu pai, Gumercindo de recusava a lhe dar qualquer outra informação a mais sobre o pai de Matteo o que não ajudava muito em seu dilema, porém de alguma forma, no fundo de seu coração, ela sentia a boa índole do italiano de olhos brilhantes, ele realmente estava ali para recomeçar, além do mais, Rosana estava ciente do que seu pai era capaz de fazer pela reputação, será que…
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  — E então, suas malas já estão prontas? — Angélica apareceu de surpresa na porta, trazendo-a de volta a realidade.
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  — Ah, sim, praticamente só faltam algumas coisas que eu preciso levar, olha só… — A jovem herdeira exibiu duas garrafas dos melhores vinhos disponíveis na adega do seu pai.
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  Angélica arregalou os olhos enquanto esticava as mãos.
  — Nossa, o papai deixou você pegar duas garrafas? Ele ama aquela adega, ele não me deixa nem chegar perto.
  — Isso porque você é muito nova para pensar em bebidas alcoólicas, mocinha, na verdade eu só te aconselho a chegar perto de uma dessas depois dos dezoito — declarou a herdeira mais velha ocultando o fato de que havia tomado sua primeira taça aos dezesseis, mas em sua defesa, havia sido por motivos puramente profissionais.
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  — Está doida? Claro que eu não pensei em beber, só estou curiosa…
  — Quando você for mais velha você vai entender, e ele não me deixou exatamente… eu meio que peguei emprestado.
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  Angélica cruzou os braços e levantou as sobrancelhas de uma maneira que a fazia parecer muito madura para sua idade.
  — Traduzindo: você roubou.
  — Roubar é uma palavra muito forte, além do mais eu vou comprar outras iguais quando voltar e o papai nem vai ficar sabendo, mas preciso delas para esse fim de semana.
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  — Para a quadrilha da empresa? Eu queria tanto ir.
  — Uma festa corporativa não é lugar para crianças — justificou Rosana, voltando a dobrar as roupas.
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  — Primeiro que eu não sou criança e segundo que eu sei muito bem por que você não quer me levar, quer ficar sozinha com o Matteo.
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  Rosana deixou a blusa em sua mão na beirada da cama enquanto seus olhos se viraram para a irmã mais nova que realmente percebia muito mais do que devia.
  — O quê? Angélica, já conversamos sobre isso, eu não gosto do Matteo, ele só vai comigo porque o nosso pai exigiu.
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  — Ah é? E para que você está levando essas garrafas então? Você nem gosta de beber em festa de trabalho que eu sei, você não me engana, está levando essas duas garrafas só por causa do seu italiano de olhos brilhantes.
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  A jovem suspirou derrotada diante da esperteza de uma garotinha de treze anos.
  — Tudo bem, você venceu, realmente eu estou levando essas garrafas para o Matteo.
  — Eu sabia! — A adolescente levantou os punhos se sentindo vitoriosa.
  — Mas não é por diversão, eu preciso convencer aquele cabeça dura a aprovar o meu projeto junto com os outros acionistas, e para isso, nada melhor do que provar um bom vinho!  Eu aposto que ele só bebia porcaria lá na Itália, mas quando ele vir o que é bom, vai desejar que a nossa empresa fabrique vinhos tão sofisticados quanto esses. Não há nenhuma outra razão para eu querer beber com aquele italiano, entendido? — indagou, fingindo acreditar nas próprias palavras
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  Angélica permaneceu com os braços cruzados enquanto fitava a irmã de cima a baixo com seu olhar de falcão.
  — Qual é? Acha mesmo que eu pegaria dois dos melhores vinhos da adega do papai sem pedir se fosse por qualquer outra razão senão profissional?
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  A garotinha de cabelos pretos suspirou inconformada com a racionalidade da irmã, esta nunca iria reconhecer que na verdade estava de quatro pelo italiano. Angélica podia ser nova, mas tinha assistido comédias românticas o suficiente a pedido da irmã, para reconhecer uma paixão quando via uma.
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  — Tudo bem, eu vou fingir que acredito. Mas se rolar qualquer coisa entre vocês dois, incluindo a palavra com S, eu quero que você me conte.
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  Rosana riu sem graça pensando em como às vezes Angélica parecia ser a irmã mais velha.
  — Perdeu o juízo? É claro que não. E não vai rolar nada, isso é coisa da sua cabeça, eu já falei que meu único interesse no Matteo é profissional, agora, se me dá licença, eu tenho que terminar essa mala.
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  — Se é assim que você quer… — lamentou a herdeira mais nova antes de sair.
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  A pequena bolsa de Matteo já se encontrava ao lado da porta, por estar no Brasil há pouco tempo e ainda não ter desfrutado de ser um dos acionistas da maior empresa de café do país, ele não possuía muitos pertences, contudo não precisava mesmo de muito para ser feliz e conseguir viver.  O que ele realmente precisava naquele fim de semana seria paciência para aguentar o mau humor de Rosana e muito autocontrole para não a beijar. 
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  A última vez que havia estado em um chalé havia sido há um ano, na companhia de Giuliana.  Como recompensa pelos seus dois anos de serviço impecáveis o dono do supermercado, premiou o jovem com um fim de semana em seu chalé na costa da Toscana, claro que Matteo ficou muito empolgado até porque ele e Giuliana estavam casados há um ano e devido à falta de recursos, não puderam ter uma lua de mel decente.
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  A brisa do mar fazia os cabelos cacheados e negros de Giuliana se espigarem, porém mesmo com alguns fios soltos, sua esposa parecia uma obra de arte,  sentir o toque de seus dedos enquanto ouvia o barulho do mar era tudo que ele poderia desejar da vida, não precisava de mais nada, tinha sua família, um emprego estável e uma esposa pela qual era apaixonado, tudo pareia bem para o jovem italiano, porém, mal sabia ele que pouco tempo depois tudo desmoronaria, sua família passaria por uma perda terrível, seria despedaçada,  Giuliana se apaixonaria por outro e nem pensaria duas vezes antes de abandona-lo, pelo menos Matteo não chegou a ser demitido do supermercado, no entanto, se viu obrigado a pedir demissão, quando, por medo da máfia e a pedido e seu pai, fugiu para o Brasil com uma mão na frente e uma atrás para recomeçar como um acionista gringo ainda sem muito poder e sem nenhum tostão furado do bolso.
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  Não que Matteo tivesse medo de recomeçar, na verdade o italiano cabeça dura sentia seu coração bater mais forte sempre por um novo desafio, fosse o desafio de enfrentar o ex-amigo de seu pai que havia manchado a honra de sua família, ou de conquistar sua filha mais velha, uma garota marrenta, cheia de atitudes que por algum motivo era muito atraente. Desde o momento que viu a garota  concentrada, olhando para seu computador portátil aquele dia na empresa, sua vida mudou, até aquele instante, Matteo estava devastado, sem esposa, sem família, sem nada, porém a partir do momento em que tomou coragem para falar com a tal garota que lhe havia chamado a atenção, passou a ter seu olhar mesmo que precisasse guardá-lo na memória, visto que as vezes seguintes que Rosana o encarou não foi com o mesmo olhar de ternura, responsável por fazê-lo se arrepiar por inteiro. Mesmo que a herdeira mais velha de Gumercindo o odiasse, ele sabia que bastava vê-la sorrir para se lembrar de que agora ele tinha algo muito mais valioso do que tudo que havia perdido.
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  Talvez esse fim de semana não fosse ser tão ruim no fim das contas, quem sabe ele finalmente teria a chance de mostrar a Rosana suas verdadeiras intenções e explicar mais uma vez que ele nunca teve a intenção de ofendê-la, será que em meio a um cenário diferente, um chalé no meio do nada, ela finalmente deixaria de lado seu orgulho o daria uma nova chance de se apaixonar? Bom, seus dedos estavam cruzados enquanto terminava de preparar o jantar.
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  Rosana dava leves garfadas em sua banana enquanto evitava olhar seu pai nos olhos a fim de evitar a fatídica pergunta.  Contudo, seu silêncio não foi suficiente para impedir Gumercindo de perguntar:
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  — E então, Rosana, empolgada para a festa da empresa?
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  A jovem engoliu seco enquanto tentava mascarar seu desconforto.
  — Claro pai, por que eu não estaria?
  — É, ainda mais porque vai passar o final de semana junto do italiano de olhos brilhantes… — comentou Angélica antes de receber uma pisada.
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  — Ai, não foi legal, Rosana.
  — Isso de novo, é um apelido bem íntimo para alguém que você diz não gostar muito?
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  Gumercindo cruzou os braços enquanto dirigia seu olhar fulminante para a filha mais velha. Mais uma vez a aspirante a empresária teve vontade de mandar a irmã mais nova para um internato, será possível que ela não conseguia ficar de boca fechada?
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  — É só ignorar a Angélica, papai, você sabe como ela é, vive com a cabecinha cheia de minhocas e inventando histórias. Você deveria ser escritora minha irmã, porque sua imaginação é muito fértil. Eu já cansei de dizer para ela que meu interesse no Matteo é puramente profissional.
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  — Assim espero, porque uma comemoração da empresa não é lugar para esse tipo de sem vergonhice, além do mais, não seria a postura adequada de uma presidente.
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  Rosana suspirou, se fosse um homem poderia se relacionar com quantas funcionárias quisessem que seu pai aplaudiria, na verdade ela sempre fingiu não saber de nada, mas sempre notava marcas de batom na pasta de Gumercindo, ela ainda era muito nova para entender, todavia, mesmo assim a revolta a consumia por dentro. Era sempre assim, principalmente no mundo dos negócios, o homem pode dar o seu mínimo que sempre será aplaudido, já uma mulher tem que tomar cuidado, pois se cometer qualquer deslize, os olhares masculinos sedentos por uma chance de eliminá-la de seu espaço, não perdoariam.
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  — Bom, mas mudando de assunto,  eu posso produzir café, mas como vocês bem sabem, muito antes de Rosana aparecer com o projeto de inovação, eu já era louco por um bom vinho, na verdade pretendo abrir um hoje.
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  Rosana e Angélica trocaram olhares culposos. A jovem nunca imaginou que seu pai estaria pensando em tomar um vinho justamente aquele fim de semana, por mais que Gumercindo fosse louco pela bebida, sempre a deixava para ocasiões especiais.
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  Por sorte, Angélica interveio.
  — Ah, não, papai, há quanto tempo nós não ficamos sozinhos, só eu e você, porque você não esquece essa ideia chata e assiste um filme comigo?  Podemos fazer uma pipoca e você pode ler uma história para mim antes de dormir.
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  Gumercindo suspirou.
  — Ah, minha filha, você sabe que essa semana, mesmo com a Rosana no comando, foi muito agitada, eu queria relaxar com um vinho e …
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  — Por favor, pai! Ou por acaso o vinho é mais importante do que eu?
  — Não, claro que não, minha filha.
  — Aposto que se você me trocar por uma garrafa estúpida a mamãe ficaria muito decepcionada. — Angélica cruzou os braços realmente parecendo magoada, ela poderia virar atriz.
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  — Tudo bem, o que eu não faço por você? Nada de vinho esse fim de semana.
  Angélica sorriu satisfeita.
  Enquanto continuava a comer sua banana, Rosana lançou um olhar de gratidão à irmã, ela podia ser uma peste, mas era leal.
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  Ao terminar sua refeição, Rosana ouviu uma buzina, era hora de se pôr a caminho daquele que seria o fim de semana mais longo de sua vida…
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Capítulo 9

  A bela vista das árvores pelo caminho não era o suficiente para acalmar o coração de Rosana, que parecia bater a mais de mil por hora. Não era surpresa, considerando que um certo italiano de olhos brilhantes se encontrava sentado ao seu lado no ônibus. Suas mãos repousavam, de forma serena, sobre suas pernas. A jovem arregalou os olhos se indagando se Matteo não estava tão nervoso quanto ela, visto que parecia tão calmo. A verdade desconhecida pela jovem herdeira era que, assim como ela, o jovem acionista estrangeiro, também tinha uma bomba em seu peito.  Por inúmeras vezes na noite anterior ele ensaiou as conversas que poderia ter com a garota de cabelos castanhos ondulados durante o tempo em que estivessem na estrada, porém, quando a viu, todas as palavras que tinha se esforçado tanto para decorar, e todas as ideias para uma conversa, simplesmente deixaram seu cérebro, era um efeito bizarro que nem mesmo Giuliana, no início do namoro, era capaz de causar na mente do italiano.
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  A falta de ação dos dois jovens resultou em um silêncio constrangedor durante grande parte do caminho, onde Matteo e Rosana se encaravam enquanto as palavras ameaçavam sair, porém na hora H os deixavam na mão.  Percebendo que ainda havia um tempo de viagem e com a intenção de não morrer sufocada pelas batidas insanas de seu coração, ou ceder a vontade de segurar a mão de Matteo, Rosana se lembrou de um jogo que costumava jogar com sua mãe quando pegavam a estrada, não era nada novo, sim o velho “fusca azul”. Infantil, verdade, porém naquela situação iria servir. Dessa forma, a herdeira mais velha de Gumercindo fixou seus olhos na estrada e as lembranças das vezes em que fazia o mesmo com dona Maria do Socorro invadiram sua mente.
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  Certa vez a, até então, menina de cinco anos precisou viajar em companhia da mãe até o Rio de Janeiro ao encontro de Gumercindo. Como toda criança, Rosana era inquieta e cheia de energia em seu corpo para gastar com brincadeiras, ficar presa em um carro durante tanto tempo, era praticamente tortura. Percebendo a inquietude da filha, Maria do Socorro sugeriu que a mesma procurasse um fusca azul e se ela conseguisse vencer o jogo, elas chegariam mais rápido. A sorridente Rosana de cinco anos aceitou o desafio! Depois de alguns minutos ela sorriu ao avistar o carro pedido por sua mãe!
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  — Olha lá, eu encontrei! — sua voz infantil exclamou de forma inconsciente.
  — Muito bem, minha filha, agora tente achar outro.
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  — Outro, mãe?
  — É! Vai fazer isso e quando perceber vamos ter chegado no Rio de Janeiro, o que acha?
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  — Tudo bem, mãe! Afinal, quanto mais carros azuis eu achar, mais rápido essa viagem vai passar!
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  Maria do Socorro acariciou os fios ondulados da filha, impressionada com a esperteza da mesma.
  Ainda embriagada pelas doces memórias, a jovem empresária começou a procurar por um fusca azul do mesmo jeito que fazia quando era pequena, de repente o tempo parecia não ter passado, ela sentiu como se tivesse cinco anos de novo e com a mesma empolgação abriu um sorriso quando viu um fusca azul à sua frente, sem pensar duas vezes, deu um leve soco no ombro da pessoa que estava ao seu lado.
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  — Eu ganhei!
  No entanto, ao invés de se deparar com sua mãe, um Matteo confuso fez a jovem voltar à realidade e perceber o que havia feito.
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  — Nossa, me desculpe, Matteo, eu me distraí! — Ela esfregou as mãos de forma discreta enquanto sentia suas bochechas arderem.
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  De braços cruzados, o italiano permitiu que um sorriso sincero escapasse de seus lábios. De certa forma a maneira como ela o havia tocado e se distraído tão fácil era fofa.
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  — Imagina, Rosana, não há problema, só fiquei curioso, o que a senhora ganhou? — O italiano colocou as mãos na perna em sinal de que era todo ouvidos.
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  Rosana empurrou os fios soltos para trás antes de comentar:
  — Ah, é só um jogo que minha mãe fazia comigo quando viajávamos, nada de mais… não sei se na Itália têm, se chama…
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  — Fusca azul? Estava conosco e também costumava jogar com a mia mama quando íamos de ônibus para Roma visitar meus tios!
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  Os olhos da herdeira mais velha se arregalaram incrédulos.
  — Sério?
  — Si, Io adorava e, aliás, você perdeu! — Ele socou de leve os ombros de Rosana.
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  A jovem olhou para o lado avistando um outro fusca azul bem atrás do ônibus.
  — Ah seu, não é justo, eu não sabia que estávamos jogando.
  — Agora sabe!
  — Mas eu duvido que apareça mais algum fusca azul nessa estrada, então por que não mudamos para qualquer carro preto?
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  — Cierto!
  A viagem seguiu com uma mistura de risadas, socos leves no ombro e até mesmo um empate onde os dois acabaram se tocando ao mesmo tempo, situação essa que fez o jogo se encerrar.
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  Rosana colocou as mechas marrons para trás da orelha em sinal de vulnerabilidade, fazia tanto tempo que ela não se divertia daquela forma em uma estrada.
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  — Ah, eu conheço o caminho, nós chegaremos em alguns minutos. Foi bem legal, obrigada pelo jogo, quer dizer, a maioria dos executivos com quem já viajei, e até mesmo o meu pai, acham bobo e infantil….
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  — Ei, non é não e eu espero poder jogar esse jogo com você ainda por muitas estradas.
  Rosana sorriu de forma tímida enquanto sentia seu coração voltar a pular em seu peito, contudo, mais uma vez para sua sorte, antes que ela pudesse ceder aos encantos do italiano, o motorista olhou para trás de forma discreta e anunciou:
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  — Senhores, chegamos, podem descer.
  Ainda desconcertada por mais um quase beijo e por toda a situação, a jovem aspirante à empresária gaguejou por alguns segundos antes de finalmente conseguir agradecer ao motorista e dizer:
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  — Vamos descer, Matteo, eu vou te mostrar o lugar!
  O sofá de couro legítimo na cor azul céu foi o primeiro item que chamou a atenção de Matteo, seguido pelos lustres de vidro que deveriam custar mais do que um ano de seu salário no supermercado. Seus olhos captavam cada detalhe sem pressa, como se ele estivesse saboreando uma refeição, nem mesmo o chalé da toscana era tão bonito, mas ele esperava que daquele lugar saíssem boas recordações.
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  Rosana cruzou os braços enquanto fitava o italiano de cima a baixo, impressionada com a maneira encantada com a qual ele olhava aquela sala que ao seu ver não passava de um lugar velho no qual ela já havia estado milhares de vezes.
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  Temendo interromper o jovem de olhos brilhantes, ela aproveitou para continuar o admirando por alguns minutos enquanto reparava que os olhos de Matteo ficavam ainda mais bonitos quando brilhavam de alegria.
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  — Meu pai comprou este chalé alguns anos atrás especificamente para as festividades da empresa. — Rosana se aproximou, tomando ainda cuidado para manter uma certa distância segura.
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  — É muito belo!
  — É sim, mas não temos tempo a perder, italiano, temos que decorar esse lugar inteiro!
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  — Ma você non ia me mostrar lugar primeiro?
  — Eu te mostro enquanto decoramos — explicou a jovem herdeira, colocando uma caixa cheia de bandeiras nas mãos do italiano. — Preparado ou é demais para você?
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  — Que, claro que non, Io ho lavorado por anos in um supermercado in la mia cittá i        ainda ajudava mia mama algumas vezes.
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  Rosana abriu um sorriso enquanto sentia sua admiração por Matteo aumentar. Realmente, ele parecia ser do tipo trabalhador que não se deixava abater por nenhuma dificuldade. Uma qualidade que o deixava ainda mais interessante.
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  Depois de uma tarde intensa de trabalho, o lugar finalmente estava pronto, Rosana sentia suas mãos tremerem em exaustão, mas ela ainda tinha outra tarefa a cumprir.
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  Matteo encarou satisfeito as bandeirinhas penduradas no teto que mais pareciam uma canção harmoniosa de cores. A cultura brasileira era tão intensa e interessante, ele mal podia esperar para aprender mais, ainda mais ao lado da professora que o havia ajudado a decorar o local e estaria ao seu lado durante o fim de semana.
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  — É, Matteo, eu admito, você foi de grande ajuda, eu nunca tinha terminado tão rápido.
  — Você fazia mesmo todo questo lavoro sola nos anos passados? — indagou enquanto esfregava as mãos na tentativa de se livrar do suor.
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  — Sim.
  — Achei que il tuo padre teria piu persone para te ajudar.
  A garota de cabelos ondulados deu um longo suspiro.
  — Bom, até tinha, mas eu me ofereci para essa função, sabe, qualquer chance de impressionar o meu pai precisa ser aproveitada…
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  Ao encarar os olhos tristes da jovem, Matteo sentiu outra vez a culpa consumir o seu peito. Rosana queria ter seu projeto aprovado para conseguir provar seu valor ao pai e isso ele entendia muito, afinal, por mais que Bartolo fosse ótimo, Matteo muitas vezes precisou mostrar a ele do que era capaz.
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  — Você valoriza molto a opinião de tu padre, non?
  — E como não? Quer dizer, meu sonho sempre foi ser como ele… Mas sabe? Ele queria um filho homem… eu sei, parece coisa do século passado, afinal estamos em 2024,  mas para o meu pai parece que ainda estamos em mil novecentos e cacetada. Enfim, por isso eu sempre tive que dar o meu melhor e mesmo assim… Ai, desculpa estar te falando isso, é só que…
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  A jovem se sentou enquanto pensava sobre como era fácil conversar com Matteo, de alguma forma ele parecia entendê-la como ninguém jamais tinha feito.
  — Non precisa se desculpar, Rosana, Io entendo e non te preocupes, si tuo padre non reconhecer tuo valor, sintomolto, ma ele é um idiota.
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  Rosana riu.
  — Per favorenon fale para ele que eu disse isso.
  — Tudo bem, vai ser o nosso segredo.
  — Ma é vero. Una persona appassionata per il lavoro e che se dedica tanto come tu, precisava essere valorizzata.
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  A jovem cruzou os braços, tentando não se derreter com o elogio, porém era tarde demais.
  — Nossa, nem parece que estou falando com a mesma pessoa que chamou meu projeto de piada.
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  Foi a vez de Matteo rir.
  — Io já me desculpei e se quer saber, tuo projeto non é una piada. Quer dizer, café é molto melhor que vino, ma Io admiro il tuo esforço.
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  Rosana tirou os cabelos do rosto, sentindo seu coração bater mais forte, lá estava o Matteo fofo e gentil por quem ela havia se encostando naquele dia, um Matteo para quem talvez ela pudesse dar uma chance… Mas o que estava dizendo? Havia assuntos mais importantes para serem resolvidos. Com a mente no lugar, ela desviou a atenção daqueles malditos olhos brilhantes que pareciam querer prendê-la e pigarreou antes de falar:
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  — Bom, falando em vinho, depois de ter tido esse trabalho, merecemos um descanso, então o que acha de dividir essas duas garrafas comigo? — Ela exibiu os objetos.
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  Matteo cruzou os braços enquanto lançava na direção da herdeira um olhar malicioso.
  — Ah, Io no se, quer dizer, Non me piace molto il vino…
  — Ah, vamos, esses vinhos são os melhores, eu aposto que depois de beber essas duas garrafas comigo você vai até mudar de ideia sobre o meu projeto.
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  — Ah, agora Io  entendi, Rosana, você solo está me oferecendo para que Io vote a favor sem  il tudo  projeto e convença os outros acionistas a fazer o mesmo.
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  — O que? Claro que não, italiano teimoso. — Rosana fingiu ter se ofendido mesmo sabendo que a acusação era verdadeira, quer dizer em partes… — Eu estou aqui te oferecendo uma bebida como amiga, quer dizer, eu sei que nós nos desentendemos, mas eu quero fazer as pazes, Matteo, e de forma definitiva, e nada melhor para selar a paz do que vinho.
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  O italiano suspirou, sabendo que seria um caminho sem volta, afinal, quando o álcool tivesse roubado sua razão e ele sentisse o cheiro de Rosana ou chegasse perto o suficiente daqueles lábios perfeitos, ele não sabia se seria capaz de se segurar. Contudo, era para isso que havia ido para o Brasil, para ter novas experiências e não dava para resistir a uma aventura tão atraente… 
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  — Cierto, Io aceito!
  Rosana sorriu satisfeita.
  — Muito bem! — A herdeira pediu que Matteo segurasse uma das garrafas enquanto ela tirava da bolsa duas taças. A noite estava só começando para a jovem que estava cada vez mais perto de realizar seu sonho e de fazer algo de que talvez fosse se arrepender no dia seguinte, ou não.
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Capítulo 10

  As mãos de Rosana giravam a taça de forma contínua, enquanto os olhos da herdeira mais velha encaravam o líquido roxo na tentativa de ignorar a companhia a seu lado o máximo possível, afinal, por mais que ela quisesse convencê-lo de suas ideias, não podia se deixar cair na tentação tão forte que aquele momento representava.
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  Matteo, por outro lado, encarava a bebida de forma desinteressada, a utilizando como, talvez, uma certa fonte de coragem para ele finalmente fazer o que tinha vontade desde o primeiro momento em que colocou os olhos em Rosana.
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  A jovem encarava a varanda aberta da casa enquanto o vento fazia seus cabelos balançarem. Um nó se formava em sua garganta. Por mais que dissesse a Angélica que só havia levado aquelas bebidas por questões profissionais e por mais que tentasse convencer a si mesma, no fundo ela sabia que a garrafa estava ali para que ela conseguisse se distrair durante aquele final de semana e, quem sabe, fazer uma loucura que sua razão nunca a permitiria realizar caso estivesse sóbria.
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  Com esse pensamento em mente, ela indagou:
  — E então? O que achou? Eu aposto que nunca havia bebido um vinho como esse antes.
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  Matteo deu uma risada.
  — Io tenho tanta cara assim de quem não entende de vinho?
  Rosana soou uma leve risada já sentindo o efeito do álcool subir à sua cabeça, por não ter o costume de beber com frequência, quando o fazia, o efeito não demorava a acontecer e considerando que metade de sua taça já estava vazia…
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  — Não, é só que, eu não sei, quer dizer, você recusou um projeto sobre vinho para a empresa, então se deduz…
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  — Mesmo em um momento assim você não esquece isso, não é?
  — Tudo bem, tudo bem, eu prometo não falar disso esta noite.
  — Io sono de acordo.
  Rosana suspirou, finalmente sentindo a coragem para fazer uma pergunta, de certa forma, indiscreta.
  — Certo, então vamos mudar de assunto, italiano, me responde: Qual foi a última vez que você tomou uma taça de vinho?
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  O italiano deu um gole generoso em sua taça para tentar disfarçar suas bochechas avermelhadas, ele nunca podia imaginar que Rosana fosse tão curiosa a esse ponto, mas de certa forma, ele até que gostava do rumo que aquela noite estava tomando, era o que ele precisava para tentar recomeçar, uma taça de vinho em companhia de uma bela mulher, mal-humorada, cuja boca ficava ainda mais bonita a medida que as gotas de vinho subiam para sua cabeça.
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  — Mama mia, tu hai me preso di sorpresa, bene, L’ultima volta che ho bevuto un vino fu una notte con mia moglie.
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  Rosana arregalou os olhos, enquanto sentia os nervos subirem à flor da pele. Não era possível.
  — O quê?  Você é casado Matteo? Ah, eu sabia que você não prestava, como pode ter dado em cima de mim sendo casado, em pensar que eu quase admiti que realmente acho os olhos brilhantes e quase te beijei aquele dia na fazenda, que idiota.
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  O coração do italiano deu um sobressalto, finalmente algum avanço.
  Ao invés de revidar ao atraente mau humor de Rosana, ele disparou a rir. Atitude que deixou a herdeira de Gumercindo ainda mais irritada.
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  — O que é tão engraçado? Eu posso saber?
  — Calma ragazza, primeiro que Io sono casado, ho espresso male, la última volta che  ho tomado vino ha sido com la mia  ex-moglie, noi abbiamo separato  antes de Io vir para il brasile.
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  Rosana tentou disfarçar seu suspiro de alívio, mas foi em vão.
  — Nossa, eu não sabia que você estava divorciado, eu sinto muito…
  — Tutto bene, non te preocupattte, pelo menos o ho servito  para la senorita finalmente admitir  che acha mios olhos brilhantes e admito que  me ha piccerrabo vederti com… ciúme.
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  Dessa vez as bochechas de Rosana ficaram mais vermelhas do que uma maçã e queimaram mais do que qualquer incêndio. Maldito italiano! Como ele sempre a fazia revelar o que não devia.
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  — O quê? — indagou se fingindo de incrédula enquanto lutava para não gaguejar. — Com ciúmes, me faça o favor, por que eu teria ciúmes de um italiano teimoso como você? E esqueça o que eu falei, está bem?
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  O italiano colocou as mãos no braço frustrado ao não ouvir a resposta que seu coração estava esperando.
  — Mas mudando de assunto, como era a sua mulher?
  — Perche la pergunta? Ciúmes? — provocou em um tom agradavelmente sexy.
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  Rosana tomou um gole na bebida esperando desesperadamente que o vinho trouxesse a coragem necessária para continuar aquela conversa.
  — Você se acha demais, não é? Já disse que não tenho ciúmes de você, é apenas curiosidade.
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  Matteo soltou mais uma de suas risadas maliciosas que exibiam suas belas covinhas, droga, por que ele tinha que ser tão charmoso.
  — Cierto. O nome dela é Giuliana.
  — Giuliana é um nome bonito, e ela é bonita?
  — Lá mas piu bella ragazza de todas — afirmou ocultando a parte em que agora ele havia conhecido uma mulher ainda mais bonita, afinal, já que Rosana iria dificultar as coisas, ele iria jogar o jogo dela.
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  Rosana não conseguiu disfarçar seu incômodo ao ouvir aquela frase, o que deixou Matteo satisfeito, talvez eles chegassem em algum lugar, afinal.
  — Ah, sim, a mais bonita, não é? E como se conheceram?
  — Buono, fui em um baile tradicional de la mia città, Io ho ido con algunos de il mi amiche e quando a vi dançando, me apaixonei a la prima vista. Sabe?
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  — É eu imagino como em um conto de fadas… — O tom de Rosana saiu em forma de lamento, visto que essa história parecia bem mais interessante do que conhecer uma garota desesperada porque tinha derramado café no computador. De certa forma o pensamento fez uma dor invadir seu peito, não que ela estivesse com ciúmes…
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  — Ecco, Io ho riunito la mia corajo e a un convite per ballare, lei ha accettato e noi due danziamo  insieme per tutta la notte.
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  As recordações faziam os olhos de Matteo brilharem da forma que deixaria qualquer estrela com inveja. Rosana não pode evitar sentir raiva de si mesma, como pode se iludir, mesmo até por um segundo, com a ilusão de   Matteo estar interessado nela, ainda mais quando o mesmo falava da esposa com tanta paixão, realmente na vida não havia espaço para contos de fada.
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  Ela quis ir embora, mas então se lembrou da única razão pela qual ainda estava ali, o seu projeto, o seu sonho de se tornar a presidente da empresa.  Então, se esforçou para esboçar o melhor sorriso falso que seu cérebro cheio de vinho permitiu e respondeu:
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  — Uau, realmente parece ter sido amor à primeira vista. — Outra vez a curiosa frase tomou conta. — Mas, se permite, posso fazer uma pergunta?
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  — Si.
  — Se você a amava tanto e ela também parecia te amar, por que se separaram? — Logo que as palavras saíram de sua boca a jovem se arrependeu. — Nossa, me desculpe Matteo, eu não estou acostumada a beber, essa é uma pergunta muito pessoal e eu entendo se não quiser responder…
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  O italiano fitou a filha de Gumercindo de cima a baixo como se estivesse admirando um trabalho de arte em uma exposição, seu olhar sedento, combinado com o sorriso malicioso, dispensavam palavras.
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  — Non hai problema, Io te respondo, Lei me hai deixado por um novo amore.
  Rosana sentiu os olhos se arregalarem com a revelação, talvez ela o tivesse julgado errado, afinal, por mais que nunca tivesse sentido essa dor na pele, imaginava o quanto um coração partido dói.
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  — Nossa, eu sinto muito Matteo.
  — Gratze, Io non entendo até oggi, noi due estávamos molto bene, ella estava agindo de forma normal, quer dizer, se Io for parar para pensare, umas semanas antes ela estava realmente estranha, mas mesmo assim, Io nunca poderia imaginar, até aquela noite…
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  A tristeza era evidente no semblante do italiano, falar sobre aquelas memórias tão dolorosas parecia ser como tomar um copo de veneno.
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  — Às vezes as coisas realmente não dão certo e não podemos fazer nada para impedir.
  — Realmente Rosana, tu hai ragione, Io non pude impedi-la de ir atras de un nuovo amore, mesmo que isso tenha me matado por dentro…
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  — Por isso você veio para o Brasil? — Ela jogou os cabelos para trás, enquanto escutava de forma atenta.
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  Matteo deu um longo suspiro antes de responder:
  — Ecco, bene, por eso e pela morte de il mio padre,  Io ho perdido il due  quase al mismo tempo,  vir para il Brasile fue la única saída que io ho  encontrado para tentar encontrar um nuovo sentido para a minha vida.
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  O coração de Rosana se tornou uma bomba ao perceber o quanto Matteo estava finalmente se abrindo, pela primeira vez ela via a face mais vulnerável do italiano, uma face que ela queria conhecer ainda mais.
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  — E você conseguiu encontrar.
  Já com o vinho fazendo efeito em seu cérebro, o italiano encarou a jovem à sua frente de forma apaixonada, como se ela fosse o ar que precisava para respirar. Naquele instante, ele queria gritar dizendo que ela era o novo sentido e a única razão pela qual ele ainda estava ali. Porém, tudo que fez foi aproximar sua mão de forma cuidadosa e em um movimento acariciou os cabelos marrons da garota de forma carinhosa.
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  A atitude pegou Rosana desprevenida, mas de um jeito bom, mais uma vez ao sentir o mínimo toque do italiano, os pelos de seu corpo se arrepiaram por inteiro, seu coração disparou em seu peito, clamando por mais.
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  Contudo, ao se lembrar de todas as falas de Rosana, o jovem estrangeiro percebeu que talvez estivesse cometendo um enorme erro.
  — Scusa, Io non devia…
  Dessa vez a jovem aspirante a empresária não escondeu a decepção em seu tom de voz.
  — Imagina, não foi nada, mas agora eu fiquei curiosa, por que você está pedindo desculpas se é bom… Eu estava gostando do seu toque no meu cabelo — admitiu em um sussurro.
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  Matteo precisou de um segundo para ter certeza de que seus ouvidos não o estavam enganando.
  — Como é? Io nio te entendo Rosana, uma hora você fala que me odeia, quando quase nos beijamos en quella fazenda você ficou maluca e agora me diz isso? Non é certo brincar com os sentimentos dos outros assim ragazza.
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  — Eu sei que eu fui mal-humorada e que talvez eu tenha exagerado na minha reação quando joguei café em você, mas a verdade é que antes daquilo, quando me consolou no meu momento de maior desespero, eu… gostei de você, como se fosse… ai, que idiota, eu não acredito que vou dizer isso, mas, como se fosse amor à primeira vista. — A jovem sentiu um peso sair de suas costas.
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  — É vero? — Matteo abriu um sorriso, enquanto se aproximava da garota de cabelos ondulados.
  — Sim. Nossa, eu sou mesmo uma boba, afinal você acabou de me falar sobre a sua ex e é melhor eu ir dormir, afinal, amanhã teremos um dia agitado e eu bebi demais…
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  Matteo, percebendo que estava correndo o risco de perder a única chance que tinha de sentir o gosto daqueles lábios que atormentavam seu sonho desde o momento em que colocou os pés naquela empresa, decidiu tomar uma atitude, puxou Rosana para perto de si, dessa vez eles estavam a centímetros, perto o bastante para sentir a respiração um do outro. Rosana tentou disfarçar as mãos trêmulas, enquanto pensava que aquela era a maior proximidade que ela já havia compartilhado com um homem e sendo Matteo a sensação era maravilhosa. Sua mente, mesmo que entorpecida pelo vinho, gritava que aquilo era errado, que talvez custasse sua única chance de realizar seu sonho de finalmente provar seu valor ao pai, contudo, seu coração, sua pele, clamavam por mais, então, pela primeira vez, ela decidiu deixar a mente de lado e ouvir as emoções, mesmo que se arrependendo no dia seguinte.
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  — Tu hai me preguntado se Io ho trovato un nuovo senso per la mia vita  in Brasile, Ecco la mia risposta.
  Sem pensar em mais nada, o italiano juntou seus lábios aos de Rosana em um beijo apaixonado, um beijo pelo qual havia esperado desde o momento em que colocou os olhos naquela ragazza mal-humorada que bagunçou seu coração.
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Capítulo 11

  Sentir os lábios de Matteo contra os seus deixou Rosana em um estado de êxtase e hipnose onde ela parecia não escutar ou sentir mais nada além daquele beijo com o qual havia sonhado desde o momento em que viu aquele maldito italiano entrar no escritório da empresa, pouco antes de sua apresentação.
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  Mesmo estando com a cabeça cheia de vinho, o que mais anestesiava a jovem era sua vontade de permanecer ali, naquele momento, pelo resto da vida, sem preocupações, sem Gumercindo para impressionar, sem mais nada além do puro desejo e borboletas no estômago. Sim, pode ser uma fala clichê, mas era exatamente essa a sensação.
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  A ideia de nunca mais se soltar era tentadora, porém, depois de muito custo, sua mente, por um milagre, voltou ao estado normal e a puxou de volta à razão. Aquilo era errado, o que seu pai diria se soubesse de seus sentimentos pelo filho do homem que, supostamente, o roubou? Não que Rosana acreditasse nessa hipótese, na verdade, depois de conhecer Matteo melhor, a jovem desconfiava que seu pai talvez tivesse ainda mais segredos do que ela imaginava. De toda forma, era muita irresponsabilidade beber daquela maneira em um evento de trabalho e ainda ter envolvimento com um dos acionistas. Se esse fato chegasse aos ouvidos do senhor Gumercindo, Rosana podia dar adeus ao sonho da presidência. 
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  Assim sendo, por mais difícil que fosse, a aspirante a empresária empurrou o italiano e deixou sua personalidade mal-humorada tomar o controle novamente, afinal, uma garota precisava se defender em situações desse tipo. Não que Matteo representasse algum perigo, quer dizer, não representava na forma tradicional, mas sim um perigo para os seus sonhos e seu futuro.
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  — Eu não acredito no que você… Seu aproveitador, eu te ofereço vinho como amizade e é isso que me oferece em troca?
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  Matteo arregalou os olhos, confuso, enquanto sentia seu peito se encolher em tristeza. Aquele beijo era o que ele esperava desde o momento em que colocou os olhos na filha mais velha de Gumercindo. Pressionar seus lábios contra os dela era uma atitude que queria ter tomado há muito tempo, porém somente o vinho lhe deu coragem para concretizar esse desejo que o italiano lutava tanto para manter sob controle. Ele não podia esquecer, afinal, Rosana era filha do homem responsável por arruinar a vida de seu pai e consequentemente de toda sua família, maldito, mas, então por que beijá-la pareceu tão certo? E ainda melhor do que ele havia imaginado? De toda forma, era inútil fazer suposições, visto que lá estava a garota ranzinza outra vez.
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  — O quê? Io aproveitador, ma dio santo, você só me ha afastado agora, não vai me dizer que non ti piacerebbe il mio bacio?
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  A jovem cruzou os braços lutando para não hesitar. Claro que ela havia gostado, na verdade, o beijo a havia feito sentir como se estivesse flutuando nas nuvens, contudo, jamais admitiria essa verdade enterrada no fundo de seu coração, não podia, por mais tentador que fosse.
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  — É claro que não, eu só demorei a me soltar porque estou com a cabeça cheia de vinho e você se aproveitou disso, seu idiota. Ah, maldita hora em que meu pai te mandou vir comigo — acusou, tentando acreditar nas próprias palavras.
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  A decepção fez morada no coração de Matteo, pela primeira vez ele pensou que Rosana admitira seus sentimentos e talvez eles pudessem se dar uma chance, mas  a garota orgulhosa não dava o braço a torcer, ou talvez realmente não sentisse o mesmo… não essa possibilidade era impossível, visto como a garota de cabelos castanhos ondulados havia correspondido ao beijo apenas alguns segundos antes.
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  — Ma que ragazza teimosa, Io ho dito tutto che sinto  chi em il mio core desde la prima volta che ho te visto,  ma tu eres tan invisibile.
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  — Insensível, eu?  Quer saber? Eu é quem não te entendo, italiano, em um momento você me beija e no outro me ofende dessa forma? Eu te odeio.
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  Matteo cruzou os braços com a declaração obviamente falsa, mas se Rosana queria jogar, ele mostraria do que era capaz.
  — Ta bene, se é assim, Io também te odeio e nunca teria te beijado se não tivesse me embebedado com esse maledito vino solamente para che io aprove il tuyo projeto idiota,
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  Rosana arregalou os olhos ainda anestesiada pela adrenalina.
  — Idiota? Ah, eu sabia que suas desculpas eram da boca para fora, não acredito que desperdicei uma garrafa do melhor vinho da adega do meu pai com você.
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  — Sua ragazza interesseira — acusou, apontando o dedo, enquanto continuava perto o bastante da jovem para ouvir sua respiração.
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  — Interesseira, ora, seu mal-educado, você que é interesseiro, aposto que não teria me beijado se eu não fosse filha do dono. — As palavras saíram de forma automática.
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  — É, tiene razon, Io no debia ter beijado filha deum crápula, tu eres tan maledita quanto l tuo padre.
  — Pelo menos o meu pai não é um ladrão — revidou a garota, porém, ao ouvir palavras em sua voz, se arrependeu logo em seguida.
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  — Matteo, me desculpa, nós estamos de cabeça quente…
  — Non hai problema, você disse o que pensa… E eu também vou dizer, il tuyo projeto realmente é uma piada e se depender de me, nunca será aprovado — soltou para também se arrepender logo em seguida.
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  — Quer saber? Eu não vou aguentar dormir no quarto ao lado do seu, eu vou dormir lá fora…
  — Non, Io non voy dejar una dama dormir do lado de fora, Tu  dorme chi, Io dormo lá fora.
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  — Ótimo! — retrucou a garota, enquanto cruzava os braços. — Tem cobertores e travesseiros naquele armário, faça bom proveito. — Apontou de maneira fria para uma pequena porta branca no canto da sala.
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  Matteo foi em direção ao local, lutando para conter as lágrimas, ele sabia que aquele final de semana podia dar errado, mas não esperava que chegasse àquele ponto.
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  Depois que o italiano saiu, Rosana deixou as lágrimas caírem. Em seus lábios ainda podia sentir o gosto daquele beijo roubado, ou melhor, roubado em termos, visto que ela o desejava ardentemente. Há quanto tempo ela não se sentia amada ou desejada daquela forma, pela primeira vez em tempos, a herdeira mais velha de Gumercindo sentiu o peso da pressão sair de suas costas e tudo que importava era aproveitar aquele momento, um momento tão bonito que ela mesma havia acabado de jogar fora por puro orgulho e ambição… Mas o que estava dizendo? Assumir a empresa de seu pai era seu sonho desde criança, não podia colocar tudo a perder por causa de um italiano sedutor que fazia suas pernas bambearem e os pelos de seu corpo inteiro se arrepiarem só com uma palavra.  Ainda mais considerando o que ele havia dito por último.  Não havia dúvidas de que não seria possível ter seu projeto e Matteo ao mesmo tempo. Infelizmente, uma mulher não podia conseguir tudo nesse mundo hipócrita e machista. Com essas ideias rodeando sua cabeça, Rosana subiu para um dos quartos, mesmo sabendo que não pregaria o olho uma vez sequer naquela noite.
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  Matteo se sentou no chão gelado da enorme varanda do chalé. Suas pernas se cruzaram de forma automática, enquanto seus olhos eram puxados para o céu. Desde pequeno, o italiano gostava de observar as estrelas, de algum modo, elas o faziam acreditar em desejos impossíveis e que os mesmos poderiam ser realizados. O jovem se lembrava de uma noite em que, para distraí-lo da saudade do pai, dona Leonora chamou para a varanda da pequena casa, não tão grande quanto o chalé em que estava naquele momento, mas muito confortável e cheia de amor.
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  Matteo poderia passar horas imerso no mundo das estrelas e de tudo mais que viesse do alto, seus olhos de criança brilhavam toda vez que dona Leonora permitia que o menino dormisse do lado de fora para observar aquele mundo tão distante, mas tão atraente a seu ver.
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  O agora adulto que ainda nutria a mesma paixão riu com as lembranças, dormir do lado de fora não era algo novo para ele.
  — Io no podia deixar a Rosana dormir aqui fora, ainda mais que ela non deve estar acostumada como Io, povereta.
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  Enquanto tentava distrair, Matteo percebeu  um movimento diferente no céu, uma estrela passava por entre as nuvens e as cortava com extrema rapidez. 
  A última vez em que viu uma daquelas, estava no quintal de sua casa, ele não sabia o que era, porém, o garotinho era curioso, por isso indagou sua mãe sobre aquele objeto diferente, aquela estrela que se destacava de todas as outras. Dona Leonora explicou que era uma estrela cadente, uma estrela que passava somente em momentos específicos e por isso era capaz de realizar um desejo.  Na ocasião, ele sabia muito bem o que pedir. A volta de seu pai. Bartollo estava há anos no Brasil, desde antes do nascimento do filho, e o peito do garotinho doía pela sua ausência. Cartas já não eram mais o suficiente, ele clamava por um abraço paterno. A estrela, no entanto, demorou um pouco para atender seu pedido, visto que seu pai só retornou alguns anos depois e mesmo assim a vida o levou embora para sempre pouco tempo depois…
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  Desde a morte de seu pai ele não olhava para aquelas estrelas da mesma forma.
  — Ah, estrela, questa notte Io non vou fazer um peiedio, porque credo mas em tê, la última volta que te confiei, demorou molto tempo para realizar il mio pedido, sua maledeta.
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  Ele encarou o brilho vindo dos céus e seu coração pareceu implorar para que ele voltasse à infância pelo menos por alguns segundos e acreditasse na magia.
  — Cierto, Io no credo nel tuo podere, ma se io puder pedir algo, Io, quero que a Rosana admita o que sente, Dio santo, alguns giorno atrás io pediria perla Giuliana, ma quella ragazza mal-humorada con il suyo jeito único e teimoso conquistou il mio coração então, Se io posso pedir algo, per favore faz a Rosana ser mia, o pelo menos me dê a chance de sentir aquellos labios divinos una otra volta…  Ma questo pedido tem que ficar entre doi due, capito?
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  Ao terminar sua conversa com a estrela cadente que desapareceu e continuou seu caminho, o jovem italiano deu risada.
  — Madona mia, a que ponto chegamos…  Io sono chi dormindo de lado de fora em um chalé luxuosa para agradar quella ragazza como se non bastasse ainda a desejei para una estrella… Io devo estar loco, ma loco de amore… o que non de todo malo.
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  Em meio a escuridão da noite, os olhos de Rosana permaneceram abertos, enquanto a mente da herdeira repassava o momento mágico que ela havia vivido horas antes. Matteo a havia beijado e havia dito que ela era o sentido para sua vida encontrado no Brasil, era bom demais para ser verdade. Ela colocava os dedos de leve nos lábios enquanto sentia as bochechas corarem. O que estava acontecendo? Nunca nenhum beijo a havia feito se sentir daquela forma, até porque a jovem não havia beijado tantos rapazes assim durante a vida, mas algo parecia sussurrar em seu peito que Matteo era especial. A sensação de estar em seus braços e sentir seu hálito maravilhoso sobre sua boca, mesmo que embriagado de vinhos, era mais do que ela poderia ter sonhado. A simples lembrança a fazia sorrir mais do que o momento em que seu pai a tornou presidente interina. Droga, por que aquele italiano tinha que aparecer em um momento tão conturbado de sua vida e por que tinha que ficar no meio de sua realização profissional? Se a situação fosse outra… Quem dera ela pudesse reescrever as estrelas, dessa forma ela faria Matteo aparecer no momento exato em que ela esperava, talvez em uma festa onde ele a ensinaria a dançar música italiana… pareceria que ele era feito para estar ali naquele momento. Nada os poderia afastar porque eles seriam destinados um para o outro. Infelizmente na vida real o destino apreciava criar empecilhos para que os dois vivessem aquele amor, como se não coubesse a ela decidir o que era melhor e outras pessoas como seu pai, o passado da família de Matteo e sua ambição lhe dissessem o que fazer e buscasse seu desejo mais profundo. Não era justo, mas era a verdade.
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  Enquanto abraçava os próprios joelhos envolta pelos pensamentos, a aspirante a empresária imaginou Matteo lá fora, sozinho, com frio, e seu peito doeu de uma forma diferente. Talvez ela tivesse sido muito dura, afinal não havia como negar que a herdeira havia gostado do beijo. Talvez ter deixado sua mente tomar o controle novamente durante um momento tão bom, não tenha sido uma boa ideia. Percebendo que não conseguiria pegar no sono, a jovem deixou que uma ideia tomasse conta de sua mente. Uma ideia que a faria se redimir com o italiano de olhos brilhantes.
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Capítulo 12

  Guiada pela lanterna fraca de seu celular, Rosana encarava as escadas enquanto seus pés desciam os degraus um por um na ponta dos dedos. A herdeira de Gumercindo não queria que o italiano a visse naquela situação, de pantufas rosas e uma camisola branca cheia de babados, seria vergonhoso e até já podia imaginar o que iria escutar em seguida. Seu plano era fazer a sopa, deixá-la pronta ao lado de um bilhete de desculpas e torcer para que Matteo fosse até a cozinha no dia seguinte antes dela, afinal se o italiano também descobrisse o gesto solidário na sua frente, a jovem também não saberia como agir.
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  A aspirante a empresária não possuía muitos dotes culinários, porém o básico para a sobrevivência no exterior havia aprendido, de forma que uma simples sopa não seria um problema tão grande.  Dona Maria do Socorro sim, era uma cozinheira de mão cheia, os ouvidos de Rosana ainda escutavam a panela fervilhando e suas narinas ainda sentiam o aroma dos molhos de tomate seco tradicional da lasanha que a garota sempre comia na infância. Pelo visto a Itália fazia parte de sua vida e toda vez que tentava escapar, essa cultura voltava para sua vida de alguma forma.
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  Mesmo não estando tão familiarizada com a cozinha do chalé, considerando que suas estadias naquele local sempre eram voltadas para outro tipo de organização e os cozinheiros dos eventos da empresa sempre traziam o buffet pronto, a jovem, com a ajuda de seu celular, conseguiu encontrar os artefatos necessários para aquela missão. Seu coração quase saiu pela boca quando a peça de pedras, devido a seu enorme peso, quase escapou de suas mãos, primeiro que Matteo escutaria e segundo, seu pai, mesmo tendo dinheiro mais do que suficiente para renovar tudo naquele local, sempre zelava pelo cuidado, Rosana nunca havia quebrado um prato ou um talher em toda a vida e se orgulhava deste feito.
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  Suas mãos derramaram de forma cuidadosa o sal, uma batata e algumas cenouras dentro da panela, ainda bem que antes de um grande evento seu pai sempre abastecia a dispensa do chalé.  Ela sorria orgulhosa enquanto começava a misturar tudo com água.
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  Matteo virava de um lado para o outro, porém seus olhos insistiam em permanecer abertos e não era por causa do frio em suas costas, mas sim devido a lembrança de um certo momento com uma certa ragazza mal-humorada que dormia no andar de cima daquela casa luxuosa.  Rosana era uma caixinha de surpresas, em um minuto parecia a garota mais compreensiva do mundo, alguém que o entendia e o consolava de uma forma nunca feita por ninguém, mas instantes depois ela se tornava agressiva, mal-humorada e fria, como se o italiano fosse uma doença que ela precisasse manter longe.
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  Não dava para acompanhar, afinal era um desafio, contudo, Matteo amava um desafio desde menino e nem iria desistir assim tão fácil de desvendar os mistérios da garota de cabelos castanhos ondulados ladra de seu coração. Contudo, sabia tão pouco sobre ela, sabia que seu pai era rico, então ela havia crescido no luxo. Dias atrás havia conhecido sua doce irmãzinha, Angélica, essa bem mais fácil de conquistar, e naquele cinema prestou atenção nos olhos tristes de Rosana quando a mesma revelou o paradeiro de sua mãe, o céu.
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  O jovem italiano podia entender a dor do luto, pois a estava sentindo na pele. Toda vez que pensava em Bartollo seu coração doía em saudade, mesmo não tendo convivido tanto com o pai, desde sua chegada ao Brasil, o ex-sócio de Gumercindo, se mostrou presente e um pai amoroso, Matteo se lembrava do mesmo o ensinando a jogar xadrez ou falando sobre suas aventuras nas fazendas de café.  Talvez algum dia, se Rosana permitisse, lhe contaria por completo o motivo de gostar tanto daqueles grãos tão queridos no Brasil e por que os defendia tanto.
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  Falando na herdeira mais velha, Matteo ainda podia sentir o gosto daqueles lábios macios nos seus. Droga, agora que ele havia provado da perfeição não sabia se conseguiria viver sem ela novamente. Talvez estivesse ficando maluco, era melhor tomar um copo de água.
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  A passos lentos e na ponta dos pés, a fim de não acordar Rosana, ele caminhou pela casa, por sorte tinha muita experiência em andar no escuro, visto a quantidade de vezes que sua antiga casa na Itália havia ficado sem luz. Devido a sua habilidade e ao tato apurado, não foi difícil para o italiano chegar ao cômodo desejado. Ao entrar na cozinha um aroma delicioso invadiu suas narinas, tão divino e tão familiar… Não podia ser, sua mãe costumava fazer sopa de batatas com cenouras, mas quem estava ali àquela hora? Ao raciocinar por alguns segundos ele indagou incrédulo.
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  — Rosana? És tu?
  Tudo que ouviu em seguida foi um barulho de algo se quebrando.
  — Droga. — Era a voz doce já tão familiar a seus ouvidos.
  Sem pensar duas vezes ele correu em direção ao som para se deparar com uma Rosana agachada cercada de cacos de pedra e coberta de sopa de batata e cenouras.
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  — Rosana, sta bene?
  — Matteo! — começou, lutando para não gaguejar. — Sim eu estou bem, foi só um pequeno acidente, mas meu pai vai me matar se souber… Droga, droga, droga, que desastre.
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  — Pelo menos dessa vez o conteúdo está salvo… — brincou, Rosana, porém cruzou os braços e seus lábios se franziram em desaprovação.
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  — Muito engraçado, como consegue fazer piada em uma hora dessas?
  — Me dispiace, io te ayudo ma posso saber pereche diabios tu estaba cocinando una suppa a cuesta hora.
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  Como já era de costume na presença do italiano, Rosana sentiu suas bochechas corarem.
  — É… eu…
  — Non importan io voy pegar um pano e… — Enquanto suas mãos exploravam a pia do local ele se deparou com um pedaço de papel. — Que é isto?
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  Percebendo o que o italiano de olhos brilhantes havia encontrado, Rosana tentou impedi-lo.
  — Não, isso-
  Contudo, já era tarde demais.
  — Matteo, espero que questa suppa compense a notte freda que hai passado nel jardim. Rosana.
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  Ele forçou a vista e leu outra vez para ter certeza de que seus olhos não o estivessem enganando.
  — Rosana, você estava fazendo questa suppa per me?
  A herdeira queria abraçá-lo e dizer que sim, todavia, seu lado racional tomou conta novamente e a fez cruzar os braços e responder de maneira fria.
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  — Foi, mas não se anime, eu só fiz isso porque fiquei com a consciência pesada de te fazer dormir lá fora, sabia que podia ter pegado um resfriado e…
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  Os risos charmosos de Matteo interromperam sua fala, o que deveria a deixar irritada, mas quase a fez rir junto, contudo, mesmo sob dificuldades, ela manteve a postura.
  — Qual a graça?
  — Você achou que Io podia pegar un resfriado… A Rosana, io sono mas que acostumado a dormire nel lado de fora, non te preocupe!
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  Por dentro a jovem suspirou em alívio, mas colocou sua máscara zangada.
  — Sério? Eu sou mesmo muito idiota, aqui toda preocupada e você relaxando, aposto mesmo que já passou várias noites sob as estrelas com a sua Giuliana.
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  Os lábios de Matteo abriram um sorriso ao sentir a pitada de ciúme na voz da garota de cabelos ondulados. A verdade é que Giuliana não era o tipo de mulher que curtia esse tipo de atitudes românticas, preferia mais um jantar caro a um baile, porém ele não diria isso a Rosana, de jeito nenhum iria perder a chance de provocá-la…
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  — Ah, é vero! Io e la mia Giuliana passamos moltas nottes sob as estrelas… — afirmou ele, fingindo acreditar na própria mentira.
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  A sobrancelha de Rosana se franziu em desconforto, claro que ele e a esposa, por quem, pelo visto, o italiano ainda era apaixonado, haviam tido vários momentos românticos.  Seria ilusão pensar que Matteo a esqueceria assim de uma hora para outra, considerando o fato de que ele havia vindo ao Brasil justamente para recomeçar e por algum outro motivo que Rosana ainda não sabia, mas pretendia descobrir. De toda forma, um divórcio era uma experiência dolorosa, ainda mais sabendo que a iniciativa havia partido de Giuliana e não do italiano de olhos brilhantes. A ideia de imaginar Matteo de mãos dadas com ela na grama fazia o estômago da herdeira mais velha revirar.
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  Quanta idiotice, claro que alguém capaz de chamar seu projeto de piada nunca iria amá-la de verdade, mas a maneira como o acionista estrangeiro a havia beijado horas antes… a fez se sentir especial, talvez, só talvez ela pudesse se permitir ter esperanças. Não, quanta bobagem.
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  — É, eu já entendi. Bom, já que a sopa não deu certo, é melhor eu voltar para a cama e… ai… — Uma dor em suas mãos interrompeu sua fala.
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  Matteo arregalou os olhos em uma sincera preocupação.
  — Rosana, o que aconteceu, me deixe ver… — Ele esticou o braço de forma gentil.
  — Não. — Rosana se afastou tentando manter a compostura. — Não é nada, eu posso cuidar disso sozinha.
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  — Ragazza teimosa per favore, Io quero te ajudar, non hai mas ninguém aqui.
  A jovem suspirou derrotada antes de ceder.
  Matteo delicadamente segurou uma das mãos de Rosana e no mesmo instante notou o problema.
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  — La tua mano esta queimada, deve ter sido o quente de la suppa.
  — É, isso já aconteceu antes, não é nada demais, eu posso resolver.
  — Non, perfvore, foi culpa mia, afinal você estava fazendo essa suppa per me.
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  — Não precisa, de verdade, fui eu quem te mandei lá para fora e…
  — Rosana, Io non aceito non como resposta. Me deixa te ajudar. Além do mais Io ho molta experiencia em cuidar de queimaduras.
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  — Sério, a sua Giuliana também era desastrada na cozinha? — provocou.
  — Non, la mia piccola sorella, Paola, ela tem a idade da Angélica.
  — Ah, sim, você a mencionou no dia do cinema. Me fala mais sobre ela — pediu a herdeira, já sentindo a dor ir embora, nem mesmo Maria do Socorro seria capaz de distraí-la tão bem.
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  — Ta bene — começou Matteo enquanto, de forma gentil, colocava a mão de Rosana na água gelada. — Assim como a Angélica, a Paola fala tudo que pensa. Ela adorava brincar nel quintale de nustra casa quando era picola, dopo começou a querer aprender anjogar cartas e tuttegirodo quando io chegava del lavoro ela me chamava e mismo cansado, Io ia, perche Io amo la mia sorella.
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  — Eu entendo, a Angélica insiste para que eu leia para ela todas as noites. Sabe, como nossa mãe morreu quando ela era recém-nascida, eu meio que faço esse papel, às vezes… Não é fácil, mas eu amo aquela ragazza.
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  A mistura de italiano com português fez Matteo rir.
  — Ecco, e pelo jeito faz questo papel molto bene, dá para ver que ela te adora! — elogiou sem descuidar da mão de Rosana nem por um segundo.
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  O contato também não passava despercebido pela garota de cabelos ondulados, de alguma forma os dedos mágicos de Matteo fizeram a dor sumir por completo. Talvez seu plano não tenha dado tão errado, afinal…
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  — Eu tento, ainda mais com nosso pai trabalhando tanto… Ela sente falta dele às vezes, e eu dou o meu melhor para consolá-la, mas nada substitui a figura materna…
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  — Si, Io lo so!  A Paola anche lei è rimasta molto triste  com la perdita di nostro padre e ora io sono qui in Brasile…
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  — Coitada, mas tenho certeza que logo conseguirá trazê-la.
  — Dio te ouça Rosana.
  — Aposto que ela e a Angélica iriam se adorar, já estou até imaginando.
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  Outra vez a fala da herdeira fez o italiano cair na risada.
  — Si, Io também…
  Tudo parecia perfeito, por um instante os dois se sentiram como um casal normal que sai para jogar conversa fora e falar sobre os problemas, seria tão bom se pudesse ser assim… mas logo a realidade chamou a porta.
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  — A dor já melhorou bem, acho que vou voltar para cama — comentou Rosana, tirando as mãos da água, gesto esse que fez os olhos de Matteo parecerem implorar para que ficasse um pouco mais.
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  — Tiene certeza?
  — Sim, eu tenho, obrigada pelo cuidado.
  — Non hai problema, e grazie per il tuo gesto, una pena que Io non possa provare la suppa.
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  — Ah, você não ia gostar mesmo, quer dizer, era só batatas com cenouras e…
  — La misma que la mia mama cocinaba para me in italia.
  — Não, você só pode estar brincando.
  — Não, juro.
  — Bom, então quem sabe em outra oportunidade, mas não crie expectativas porque eu não sou tão boa cozinheira…
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  — Io tenho certeza que Io ia adorar lá sua suppa Rosana.
  Ela encarou aqueles olhos brilhantes sedutores por alguns segundos, se dependesse se sua vontade, ficaria ali por horas… porém, lutando contra a vontade de repetir o beijo sobre o qual nenhum dos dois ousou falar, afirmou:
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  — Bom, é melhor eu ir, quer dizer, grande dia amanhã. Boa noite, italiano.
  — Buona notte, Rosana.
  Ao voltar para o quintal, Matteo olhou para o céu e sorriu, pois no fim das contas seu pedido havia sido atendido.
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  — Grazie estrella! — Foi tudo que saiu de seus lábios antes de o italiano cair no sono.
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Capítulo 13

  Os ombros de Rosana tremiam e os pelos de seu corpo todo se arrepiaram, dessa vez, ao contrário da noite anterior, devido às baixas temperaturas. Ela não se lembrava de que aquele quarto no chalé era tão frio. Claro que ela sempre ia em julho, mas mesmo assim, seu quarto sempre estava aquecido por causa da… lareira. A jovem encarou o canto vazio onde as últimas vezes chamas vermelhas ardiam. Droga, ela havia se esquecido de pedir aos empregados para pegar lenha semanas antes, provavelmente só havia o bastante para a fogueira da festa mais tarde.
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  Realmente um certo italiano havia bagunçado sua cabeça, mas naquele instante ela não podia deixar de imaginar que um calor humano naquele momento não seria nada mau. Mas o que estava dizendo? Esses pensamentos já deviam ter deixado de existir! Afinal, estava ali por razões profissionais e não havia tempo para se distrair com um romance… Então, por que sua mente insistia em voltar à noite anterior? Ela tocou a mão queimada e se lembrou de como horas antes, a mesma foi cuidada com tanto carinho pelo italiano. Tudo porque a jovem havia tentado fazer uma sopa… quanta besteira e enquanto isso, provavelmente, Matteo do lado de fora relembrava os bons momentos com a bela ex-esposa, como ele a aconchegava nos braços. Essas ideias faziam o estômago de Rosana embrulhar e não pela falta de alimentos. Novamente seus lábios sentiram o gosto do beijo tatuado em sua memória como se o tempo tivesse parado naquele instante… tão mágico…
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  — Se controla, Rosana, hoje é um dia importante, a festa, está lembrada? Você precisa mais do que, em qualquer outro ano, passar uma ótima impressão aos acionistas.  Isso é tudo que importa! — repetiu para si mesma até começar a acreditar, mas era inútil.
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  Ainda trêmula por causa do frio, a herdeira mais velha vestiu uma blusa de lã coberta por uma jaqueta.  Os outros acionistas chegariam somente mais tarde, o que lhe daria tempo de tomar o café da manhã e se arrumar com calma. Seus pés desceram as escadas, enquanto sua mente torcia para que Matteo ainda não tivesse acordado, porém  seu coração clamava pela presença do italiano.
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  Ouvindo um barulho, ela suspirou percebendo que não teria escolha a não ser encarar Matteo, então, com a cabeça erguida, ela caminhou até a cozinha e quase em um sussurro cumprimentou:
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  — Bom dia!
  Matteo que estava distraído com os pratos, se virou quando ouviu a voz feminina e sem esboçar nenhuma expressão respondeu:
  — Buon Giorno.
  A saudação fria atingiu o coração de Rosana como uma flecha, enquanto a jovem pegava uma maçã em completo silêncio.
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  Minutos se passaram enquanto a agonia por aquela situação crescia no peito da herdeira. Obviamente eles não falariam sobre o beijo ocorrido, enquanto os dois estavam com a cabeça cheia de vinho, mas aquela falta de comunicação a deixava maluca, então, tentando parecer o mais natural possível, iniciou uma conversa.
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  — E então? Dormiu bem? — Ela não tirou os olhos da fruta.
  — Si molto bene! — Outra vez o italiano pareceu responder de forma automática.
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  — Tem certeza, quer dizer, estava muito frio!
  Pela primeira vez naquela manhã o italiano exibiu uma expressão quando franziu as sobrancelhas.
  — Tu hai sentido fredo? — Havia um tom de preocupação disfarçada em sua voz o que fez Rosana se controlar  para não sorrir.
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  — Um pouco — ela começou. — Quer dizer, eu acabei esquecendo de pedir para os empregados pegarem lenha para os quartos de hóspedes, então…
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  Ela lançou um olhar para Matteo, torcendo para que ele entendesse a indireta.
  — Bene, hai una floresta chi tu pode ir lá pegar lenha.
  A simples frase fez os lábios da herdeira caírem em frustração.
  — É, mas eu nunca fiz isso sozinha e não sei se vou aguentar outra noite como essa…
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  Matteo cruzou os braços a encarando de cima para baixo como se estivesse entendendo seu jogo.
  — Está mesmo reclamando deu fredo na tua câmara para alguém que estava dormindo lá fora?
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  A garota de cabelos marrons e ondulados engoliu seco com a bronca.
  — Você mesmo disse que está acostumado… já eu, não… Além do mais minha mão ainda está queimada, se esqueceu.
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  Matteo respirou fundo, enquanto organizava os pensamentos, aquela ragazza teimosa tinha mesmo o poder de o tirar do sério, ao mesmo tempo em que no fundo sabia estar disposto a fazer o que fosse por ela.
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  — Cierto, Io vou pegar lá lenha para il tuo quarto Rosana.
  Os lábios da jovem exibiram um sorriso.
  — Mas, você vai comigo!
  — O quê? Que tipo de cavalheirismo é esse? — provocou assustada e ao mesmo tempo animada com a ideia de ficar sozinha na floresta com o italiano de olhos brilhantes.
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  Como se estivesse prestes a vencer uma partida contra seu adversário mais duro, Matteo se manteve firme.
  — Como dizem chi “é pegar ou largar”.  Va  querer lá  tua lenha ou vai passar otra notte com fredo?
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  Rosana resmungou.
  — Mas lá fora está muito frio.
  — Questa jacqua que está usando vai te proteger.
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  Percebendo que dessa vez não teria como vencer, a aspirante a empresária suspirou derrotada.
  — Tudo bem, eu vou!
  — Então, andiamo!
  O vento parecia cortar o rosto de Rosana, enquanto o barulho das folhas a deixava irritada de certa forma, contudo, ela não reclamou, afinal não queria começar uma discussão com o italiano. Matteo andava a seu lado com as mãos no bolso, em silêncio, ainda frio, nem parecia o mesmo homem gentil que havia cuidado de sua mão algumas horas antes. Bom, talvez ela mesma fosse culpada por esse comportamento.  Ela podia mentir para o resto do mundo, porém não para si mesma. No fundo, ela sabia muito bem o quanto queria aquele beijo, mas ela mesma havia arruinado o momento pelo qual secretamente esperava ansiosa.
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  Evitando olhar diretamente para Matteo e para seus olhos sedutores, a jovem voltou para o céu, naquela manhã coberta por nuvens brancas.  
  — Nossa, o céu está tão feio hoje, você disse que gosta de ver as estrelas, mas imagino que ontem não tinha tido nenhuma — comentou na tentativa de quebrar o gelo.
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  — Stai enganada, o visto multas estrelas até mesmo uma estrela cadente. — Dessa vez o italiano deixou transparecer gentileza em sua voz.
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  — Nossa, quanto tempo que eu não vejo uma estrela cadente!
  O comentário fez Matteo imaginar como teria sido bom se Rosana estivesse ao seu lado lá fora, talvez eles pudessem rir juntos, falar sobre vários problemas e ela se aconchegaria em seus braços quando o sono chegasse… O que ele estava pensando? Por mais difícil que fosse, precisava manter a frieza, afinal a própria Rosana havia deixado claro que nunca mais o ocorrido na noite anterior iria se repetir. Todavia, o italiano, mesmo assim, daria tudo para sentir aqueles lábios novamente nos seus.
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  — Minha mãe costumava observar o céu comigo, mas meu pai não dá a menor importância para essas coisas…
  — Anche Io costumava ver il cielo com la mia mama, ela sempre me dizia para fazer um pedido quando visse una estrela cadente.
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  — Ah. E o que foi que você pediu ontem? — A jovem se virou de frente para Matteo, o provocando.
  O italiano teve que se controlar muito para não acariciar seus cabelos macios e beijá-la mais uma vez ali mesmo.  Sua vontade era tomá-la nos braços em meio àquelas árvores verdes, contudo aquela ragazza teimosa  parecia não sentir o mesmo, quer dizer, às vezes ela parecia amá-lo intensamente para no instante seguinte odiá-lo até a morte, era uma linha tênue capaz de romper a qualquer momento e Matteo faria o que pudesse para que a mesma se rompesse para o lado do amor, contudo naquele instante ele se aproximou perigosamente, mas  desta vez, ao invés de juntar seus  lábios nos dela,  manteve seu tom frio e se limitou a responder:
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  —  A melhor coisa de fazer um pedido  para una estrela e que ela não te julga. Por isto Isto é entre Io e aquela estrela. — Ele a fitou de cima a baixo tentando gritar através da linguagem corporal que ela era seu maior desejo.
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  Rosana, contudo, não entendeu e cruzou os braços ofendida
  — Tudo bem, eu não pergunto mais, seu grosso.
  — Se continuar a me ofender Io vou embora e você vai ficar sem la tua lenha… — ameaçou.
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  Rosana cruzou os braços como uma criança mimada.
  — Tudo bem, eu vou ficar quieta, agora vamos logo, porque ainda tenho muito o que fazer antes dos outros acionistas chegarem.
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  — Ecoo.
  Rosana caminhou em silêncio mantendo a cara amarrada na tentativa de disfarçar o desapontamento que crescia em seu peito. Ela tinha esperanças de que o pedido de Matteo para a estrela estivesse relacionado a ela, mas quanta bobagem. Claro que o italiano estava morrendo de raiva da noite anterior, quer dizer, tudo bem que ele tinha sido gentil ao ajudá-la com sua mão queimada, porém…  Droga, toda essa situação era tão confusa. Ao mesmo tempo em que ela queria desesperadamente se jogar nos braços do italiano, queria proteger sua posição e defender seu projeto com unhas e dentes. Se fosse alguns dias atrás, antes de conhecer Matteo, a jovem herdeira não teria dúvida alguma sobre seguir sua mente ao invés de seu coração. 
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  Todavia, tudo mudou quando viu o acionista estrangeiro pela primeira vez naquele maledito dia, algo diferente despertou dentro da garota de cabelos castanhos e ondulados, no momento ela não soube dizer o que era, mas agora ela entendia que naquele instante, ela estava apenas começando a aprender  o significado da palavra amor.
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  Depois de colocar a cabeça no lugar e com sua lenha garantida graças a experiência e a força de Matteo,  Rosana teve força e disposição para receber os acionistas da melhor forma possível, vários elogiaram a decoração e a maneira como tudo estava tão bem organizado, o que a deixou orgulhosa, contudo ela não pode deixar de creditar parte do mérito ao italiano cabeça dura que no dia anterior também havia trabalhado de forma incansável para ajudá-la.
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  A noite caiu e era a hora da quadrilha em volta da fogueira. Mesmo estando frio, aquecida pela lareira acessa, a jovem optou por um vestido rosa de manga curta com o qual ela se achava bonita. Seus cachos soltos e os lábios preenchidos por seu gloss favorito completaram o visual com o qual a aspirante a empresária se sentiu satisfeita para finalizar, era hora do perfume, ela segurou seu frasco favorito, porém, em um momento de distração, ele se espatifou no chão, mas mal havia tempo de limpar, depois ela pedia para um empregado, aquela era a hora de encarar seu destino.
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  Nos anos anteriores  ela não havia se preocupado tanto com o look da quadrilha, na verdade da última vez optou por um vestido caipira com tranças, mas nem  sob tortura ela permitiria que Matteo a visse vestida daquele jeito, não que o italiano tivesse qualquer  influência na sua decisão. Pelo menos essa era a mentira que contava para si mesma.
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  Enquanto caminhava em direção à fogueira, Rosana amaldiçoava o vento por bagunçar seus cabelos. Céus essa era uma preocupação que nunca havia ocupado a sua cabeça. Por algum motivo que ela sabia muito bem ter nome e sobrenome, naquela noite, pela primeira vez, ela se encontrava agindo como uma garota insegura.  Seu olhar passeava pelo jardim quando de repente, ela se deparou com o motivo de seus nervos estarem à flor da pele.  Diferentemente de mais cedo, Matteo lhe lançou o sorriso amigo e muito sedutor.
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  Ao ver a garota de cabelos ondulados usando aquele vestido tão lindo, com os cabelos ao vento, o jovem italiano não teve outro pensamento a não ser que a ragazza mal-humorada estava perfeita naquela noite.  Enquanto ele usava uma blusa xadrez e uma calça jeans rasgada, era o que ganhava por tentar se adaptar cem por cento aos costumes brasileiros. Ao olhar de Rosana todavia, ele continuava lindo e charmoso como sempre.
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  — Pelo jeito você veio mesmo disposto a entrar no clima — provocou.
  — Si, il mio padre sempre falava sobre a quadrilha e como ela é incrível.
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  — Então suponho que ele também tenha te ensinado como se dança.
  Com as mãos no bolso o italiano sentiu suas bochechas corarem.
  — Non, na verdade, non.
  A jovem olhou em volta, afinal se os acionistas a vissem dançando com o italiano poderiam pensar bobagens ou até mesmo que ela era uma irresponsável, porém ao encará-los com mais atenção, percebeu que todos estavam distraídos dançando com suas esposas, dançando ou bêbados demais para prestarem atenção. Então ela decidiu se divertir e fazer o que queria por pelo menos uma vez.
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  — Ah, então pode deixar que eu te ensino agora mesmo.
  E em meio a uma música tradicional, Rosana puxou o gringo de olhos brilhantes para perto da fogueira onde dançaram ao ritmo tradicional em perfeita sintonia.
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  — Você pegou do mesmo jeito? — elogiou, enquanto embalava seu braço ao de Matteo.
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  Ele deu uma leve risada antes de comentar.
  — Acho que porque Io tenho lá meglio  professora.
  Foi a vez de Rosana corar.
  A dança continuou por alguns minutos, nenhum dos dois dava sinal de cansaço, porém tudo mudou quando de repente, a música tradicional de quadrilha deu lugar a uma balada lenta.
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Capítulo 14

  As mãos  de Matteo e de Rosana se encontravam já conectadas de forma superficial  devido a dança anterior, o que por se tratar de uma quadrilha não havia tanto peso, afinal era um ritmo com o qual se pode dançar com qualquer um, não necessariamente para casais, contudo, no momento em que o DJ  decidiu trocar por conta própria o som tradicional de uma festa junina para Perfect do Ed Sheeran, tudo mudou.
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  O coração de Rosana em seu peito, mais uma vez, se encontrava disparado, à medida que seus dedos se entrelaçaram em ritmo lento aos do italiano, como se tivessem sido feitos para se encaixarem. O jovem acionista estrangeiro, aproveitando que Rosana havia abaixado a guarda, a puxou para mais perto de si, deixando claro sua intenção de tirá-la para aquela dança. Outra vez percebendo que os outros acionistas estavam ocupados lidando com o exagero na bebida ou dançando com suas esposas, a herdeira de Gumercindo novamente deixou, por um raro momento, que seu coração falasse mais alto e se permitiu ser conduzida por Matteo a passos sincronizados pelo jardim.
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  Seus pés se moviam de forma idêntica, como se já se conhecessem e estivessem esperando o momento certo de se encontrarem. De certa forma, era como ambos se sentiam naquele momento. Por mais que negassem, sabiam ter muito em comum, pais ausentes, dramas familiares e uma pressão excessiva para se tornarem algo que talvez sacrificasse sua essência.
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  Enquanto pela primeira vez se permitiu ser hipnotizada pelos olhos de Matteo, a garota de cabelos castanhos e ondulados refletia sobre o motivo por ansiar tão desesperadamente pela aprovação de seu pai. Por que ela se importava tanto com a opinião de alguém com o pensamento tão retrógrado? Mesmo que este a tivesse ajudado a colocar no mundo. Talvez por querer atenção, algo recorrente em seus dias quando Maria do Socorro ainda se encontrava neste mundo. A carinhosa mãe sempre acariciava seus cabelos, contava histórias da melhor forma possível, mesmo que Rosana já tivesse certo interesse pelo café e já tivesse começado a trabalhar na empresa do pai devido a sua ambição de assumir seu lugar algum dia, tudo era muito mais leve.
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  Toda vez que a jovem se encontrava com a testa franzida em preocupação pelo que o pai dizia, a voz consoladora da mãe sempre sabia o que dizer.  Porém, de repente, tudo se acabou, sua vida ficou escura com sua partida e Gumercindo ainda mais frio e distante, dessa forma, Rosana se empenhou ainda mais nos negócios da família, na tentativa de chamar a atenção do pai que parecia enxergar somente números e negócios à sua frente. Claro que com Angélica recém-nascida ele deu uma certa atenção, contudo, logo deixou a pequena nas mãos de babás e mesmo que estas fossem as melhores possíveis, afinal dinheiro não era um problema, Rosana não queria que a irmãzinha passasse pelo mesmo, assumiu o posto de figura materna da irmã caçula, enquanto, todavia, ela mesma necessitava de um colo.
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  Agora, no entanto, ali, seguindo os comandos do italiano e movimentando o corpo junto ao dele no ritmo da música, finalmente sentia seu coração verdadeiramente confortado. Essa era uma sensação pela qual ela vinha ansiando por anos, contudo, veio na pior forma possível, a forma de um jovem estrangeiro charmoso, filho de um ex-amigo de seu pai, capaz e disposto a destruir seu maior objetivo.
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  Desde o momento em que teve a ideia para o projeto, a jovem não pensava em mais nada, se decaindo dia e noite, passando madrugadas em claro, envolta nas pesquisas, tudo para alcançar a glória e ver um sorriso sincero de orgulho no rosto de Gumercindo, que nunca a olhou da mesma forma que olharia se ela tivesse nascido homem. A aspirante a empresária havia colocado em sua mente que só se sentiria completa depois que os acionistas a aplaudissem de pé. Contudo, naquele instante, com Matteo, ela se sentia exatamente assim, plena, realizada, como se nada mais faltasse, e pela primeira vez ela questionou se aquele projeto era mesmo tão importante comparada a felicidade que ela poderia ter e estava à sua disposição de uma forma tão simples. 
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  Seu coração gritava desejando jogar tudo para o alto e permanecer ali, naquela música e naquela dança para todo o sempre.
  — Até que em outras danças você não deixa a desejar — Rosana soltou o elogio, dessa vez não se preocupando em disfarçar o quanto estava alegre.
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  — Gratze Io digo o mesmo, ma Io não foi ido tan male en la quadrlia ha?
  A jovem soltou uma risada leve.
  — É melhor baixar a bola italiano, mas, para ser sincera, eu não queria dançar com nenhum outro parceiro.
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  Matteo sentiu as bochechas queimarem com a declaração, enquanto seu coração parecia querer sair por ali pulando de alegria, era bom demais para ser verdade. Contudo, no momento em que ele ia tomar coragem para beijá-la, um grito vindo de dentro do chalé chamou atenção de todos.
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  — Fogo! Precisamos evacuar!
  A herdeira franziu a testa sem entender o que estava acontecendo, porém percebeu seu erro quando viu uma chama na janela do quarto onde estava dormindo. A lareira, ela havia ficado tão ansiosa com a ideia de encontrar Matteo na quadrilha que nem se lembrou de seu perfume esparramado no chão, o líquido provavelmente havia chegado até a lareira.
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  “Ai que droga”, pensou consigo mesma, enquanto observava paralisada as chamas tomarem conta do chalé.
  O transe só se desfez quando sentiu a mão de Matteo a puxando.
  — Andiamo!
  Todos se encaminharam para o mais longe possível do local, enquanto a jovem, sem graça, já em segurança, procurava coragem para reaproximar do  acionista mais antigo, este não saía do celular.
  — O que foi que eu fiz? — sussurrou para si mesma.
  Matteo, percebendo a preocupação da garota, se aproximou devagar lhe tocando os cabelos de forma carinhosa.
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  — Ei, Rosana, estai bien.
  Por algum motivo, ela sentia que podia se abrir com o italiano.
  — Não, Matteo, foi culpa minha, eu deixei um perfume cair e não limpei, além de  ter esquecido de apagar a lareira.
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  O acionista estrangeiro a encarou não com julgamento, mas com compreensão e, sem que ela pedisse, segurou sua mão de forma acolhedora.  No meio daquele caos ela sorriu e apesar de tudo se sentiu em paz.
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  Rosana respirou fundo, enquanto seus dedos trêmulos giravam a maçaneta. 
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  Calma, talvez seu pai será compreensivo, talvez ele entenda que tenha sido apenas uma pequena distração, talvez ele fosse pela primeira a confortar e dizer que estava tudo bem se errasse que não importa o que acontecesse ele estaria ali. Contudo, todas as suas esperanças foram por água abaixo quando, ao abrir a porta, se deparou com um Gumercindo de braços cruzados e uma testa franzida, visivelmente furioso.
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  De algum lugar dentro de si mesma ela encontrou coragem para cumprimentá-lo.
  — Oi, pai. — Sua voz saiu fraca.
  — É tudo que tem para me dizer depois de destruir o chalé da empresa, Rosana? — A jovem, por mais que tentasse, não encontrou nenhuma brecha de ternura na voz de Gumercindo.
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  — Foi um acidente! — conseguiu dizer com a voz baixa.
  — Um acidente? Não limpar um vidro de perfume caído porque estava ansiosa para encontrar o seu italiano não é um acidente, Rosana, é pura irresponsabilidade. Foi isso que você fez? Você aprendeu em Harvard.
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  Apesar de estar acostumada às ofensas do empresário, a garota de cabelos marrons dessa vez não iria aceitar que Matteo também fosse ofendido.
  — Deixa o Matteo fora disso, pai, ele não teve nada a ver. O erro foi completamente meu — afirmou, engolindo em seco, pelo menos somente a sua carreira seria prejudicada.
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  — Não foi o que me contaram, pelo que eu soube vocês dois estavam dançando juntinhos no meio da festa. Isso não é postura de uma presidente.
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  — Era só um momento de descontração, pai, não entendo qual o problema.
  Gumercindo colocou as mãos na cabeça, suspirando como se estivesse falando com uma pessoa sem neurônios.
  — Esse é o papel mais bonito das mulheres, vocês sempre acham que não tem problema misturar as suas bobagens e suas fantasias com os negócios. Bem feito para mim por ter cogitado a possibilidade de passar o meu império para uma… — Cruzou os braços zombando.
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  Rosana conhecia bem o lado machista do pai e estava careca de saber o quanto ele preferiria que ela fosse um homem, porém nunca o tinha visto cuspir esse preconceito de forma tão descarada. Era a gota d’água.  Pela primeira vez a garota estava disposta a colocar para fora o que estava entalado em sua garganta por anos, finalmente estava disposta a se fazer ouvir e ninguém, nem mesmo o seu pai, a calaria.
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  — Quer saber pai, se o senhor pensa assim. Eu estou fora. Estou cansada, cansada de dar o sangue naquela empresa e só receber migalhas de reconhecimento.  Estou farta de ter que provar meu valor dia e noite para o senhor, que mesmo não sendo o filho homem que tanto queria, eu sou extremamente competente. Não aguento mais ter que implorar pela sua atenção para as minhas ideias ou ter que passar por inúmeros testes sendo que se eu tivesse o cabelo curto ganharia de bandeja. Eu cometi um erro? Sim, admito. Eu me sinto atraída pelo Matteo e me permitir ter uma noite de diversão com ele? Sim, mas enquanto eu danço com um italiano em uma festa de descontração da empresa, viro assunto e sou taxada de incompetente, o senhor faz vista grossa quando os seus assessores recebem mulheres no escritório, não é?
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  — Abaixa o seu tom, Rosana.
  — Não, não abaixo porque a partir de hoje o senhor não conta mais comigo, eu vou para um hotel e pode cancelar essa maldita reunião de segunda. Não tem por que eu me matar pela aprovação de alguém tão fútil. Passar bem.
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  Gumercindo fitava a filha de cima a baixo como se estivesse encarando uma aberração.
  — É bom mesmo, nunca mais apareça na empresa, a reunião está cancelada, marcarei no lugar um jantar de negócios no restaurante de sempre e espero que não apareça por lá.
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  — Ótimo!
  Sem se preocupar em pegar seus pertences, Rosana saiu da casa de cabeça erguida e no lado de fora abriu um sorriso, afinal, apesar de ter perdido tudo, o emprego dos seus sonhos e a admiração do pai, nunca havia se sentido tão livre. Era hora de parar de ansiar e se esforçar tanto pela aprovação de alguém que não a valorizava e começar a seguir seu próprio caminho.
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  Ela estava prestes a entrar no uber, quando foi interrompido por duas mãos pequeninas que conhecia muito bem.
  — Angélica.
  A pré-adolescente exibia lágrimas nos olhos
  — Por favor, Rosana, você não pode me deixar aqui sozinha com o papai, nós duas sabemos que ele não liga para mim, você é minha única família de verdade, não me abandone.
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  Tocada pelas palavras da caçula, a herdeira mais velha a tomou nos braços e acariciou seus fios negros.
  — Ah, docinho, eu sei que é doloroso, mas eu precisava fazer isso. Você é muito forte e preciso que fique aqui, pelo menos por enquanto, mas eu prometo que volto para te buscar, nunca vou te deixar sozinha.
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  — Jura que volta para me buscar?
  — Eu juro, meu amor. Eu fico tão feliz de ver a jovem que está se tornando, tenho certeza que vai tirar de letra e logo, estaremos juntas. Mas agora preciso que me prometa que vai ficar bem.
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  Angélica enxugou as lágrimas.
  — Eu vou tentar.
  — Tudo bem, já é alguma coisa, assim que eu estiver no hotel te mando mensagem com o número do meu quarto, aí você vai poder ir me ver sem o papai saber.
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  — Tudo bem.
  — Ótimo, agora me dá um abraço porque vou precisar de forças.
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  As duas irmãs se despediram, sem conter as lágrimas. Desde pequenas uma era tudo que a outra tinha para se apoiar, agora, o destino lhes impunha uma separação temporária, porém dolorosa. Tempo nenhum no mundo seria o suficiente para Angélica deixar sua figura materna partir, porém foi obrigada a soltá-la pelo motorista de Uber apressado. Rosana, ainda entre lágrimas, jogou um último beijo e entrou no carro em direção a sua nova vida, sem o sucesso profissional que tanto almejava, mas com muita liberdade.
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Capítulo 15

  De forma automática, Rosana desceu do hotel em que já havia se hospedado algumas vezes em ocasiões especiais.  Ainda com a cabeça erguida ela ignorou os olhares malvados e caminhou até o balcão iluminado por luzes amarelas, onde foi recebida por uma atendente de óculos grossos e bigode por fazer.
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  — Em que posso ajudar?
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  — Eu gostaria de uma suíte com uma cama, por favor.
 Na correria desde o início do incêndio,  a jovem de cabelos castanhos não teve tempo de trocar de roupa, por isso ainda se encontrava com o mesmo vestido rosa com o qual havia dançado com Matteo apenas algumas horas antes. A lembrança do momento fez a curiosidade invadir o cérebro da herdeira. Onde o italiano estaria, em casa? Onde o ônibus da empresa o havia deixado, ou teria saído? Será que deveria procurá-lo?  Ou melhor, será que ele se importaria? A maneira como a girou e olhou no fundo de seus olhos mais cedo diziam que sim, porém mesmo depois de tudo, algumas dúvidas ainda persistiram na cabeça da aspirante a empresária, afinal a mesma não estava acostumada a seguir o seu coração daquela forma.
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  — Qual será a forma de pagamento? — A mulher de bigode a encarou de cima a baixo como se tivesse alguma propriedade para julgá-la.
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  Rosana enfiou a mão na bolsa a procura de sua carteira, por sorte ela a havia levado para a festa, ainda que fosse estranho. A jovem se deparou com o cartão black sem limite que seu pai deixava sob seus cuidados. Por ser muito responsável e querer sempre fazer o melhor para impressionar Gumercindo, nunca abusou do poder que tinha nas mãos, o usando somente em emergências, mas agora, depois de todas as ofensas ouvidas ela não iria gastar um centavo do dinheiro que juntou durante esses anos, uma noite decente em um hotel de respeito era o mínimo que merecia depois de ser tão insultada. Por isso, exalando confiança ela colocou o objeto em cima do balcão o exibindo para a recepcionista azeda, que ao vê-lo mudou sua postura.
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  — Vai ser nesse cartão, por favor, e eu quero a sua melhor suíte! — provocou.
  Forçando um sorriso, a recepcionista começou a digitar algo no computador antes de pegar os dados. Por fim, de forma cordial, entregou uma chave.
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  — Obrigada. — Sua voz saiu seca e fria.
  Ao entrar no quarto, Rosana tirou a máscara de valentia que cobria seu rosto e finalmente permitiu que as lágrimas viessem.
  Elas desceram e desceram sem parar, até que por fim a cabeça inchada fez com que a jovem se deitasse na cama, onde continuou a derramar mais lágrimas, não se importando em controlar o barulho. Mesmo que ela mesma tivesse enfim tomado a coragem de enfrentar seu pai e dizer tudo que estava entalado durante anos, era doloroso deixar um sonho cultivado desde a infância ir embora.
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  Por muitos anos, a vida da herdeira mais velha de Gumercindo se resumia em acompanhá-lo quando permitido, aprender o máximo que seu cérebro podia sobre café e se preparava para assumir seu lugar de direito, provando assim, de uma vez por todas ao empresário que a havia colocado no mundo, sua capacidade. Há tempos não pensava em si mesma, no que realmente era importante e a deixava feliz, quer dizer, pelo menos até a chegada de um certo italiano. Ao vê-lo pela primeira vez, uma sensação diferente invadiu seu peito, uma certeza, como se os dois estivessem destinados a se encontrarem naquela manhã antes da maldita reunião.
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  Estava tão focada em apresentar o projeto perfeito que nem o viu passar por entrar, precisou ter seu computador encharcado de café para notar aquele que balançaria suas estruturas. De repente a jovem se pegou imaginando: E se naquela mesma manhã tivesse o encontrado mais cedo, talvez tivessem conversado e se tivesse prestado mais atenção nos outros acionistas teria ouvido sobre Matteo, quem sabe não teria se apresentado antes de uma forma mais apropriada.
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  Depois de passar uma vida inteira cega com o único objetivo de arrancar um elogio de Gumercindo, Rosana estava despertando, recuperando sua vida e tomando as rédeas.  Como ela queria entrar naquela sala de acionistas outra vez e dizer o que realmente pensava de cada um deles: aproveitadores, sanguessugas, mais preocupados com as amantes de lábios e peitos enormes do que com a própria família que nas reuniões tanto diziam querer proteger, um bando de hipócritas. Então a fala de seu pai veio à sua mente, haveria um jantar na noite seguinte onde todos eles estariam presentes, aquela era sua chance de mostrar seu valor, de deixar bem claro que a partir de agora não se importava com a opinião de nenhum daqueles imbecis. Só havia um problema: A coragem. Acostumada a se comportar e sempre estampar sorrisos falsos nos lábios, pelo menos diante de uma plateia, a herdeira não conseguiria dizer tudo que pensava em um lugar público. Em casa, somente com a presença de Angélica, era uma situação, agora em um restaurante chique, diante de todos os acionistas, era outra história. Seu plano parecia perdido até uma ideia surgir. Na noite em que bebeu com Matteo, teve coragem de dizer a ele suas primeiras impressões e de não recusar o seu beijo logo de primeira. Aí estava a resposta. Com um sorriso verdadeiro nos lábios, ela desceu até o bar onde arranjou uma cadeira e chamou o garçom. Ele perguntou o que iria querer, ela pensou bastante, não estava acostumada a beber nada além de vinho ou no máximo algumas cervejas leves, porém a situação era extrema, então, lutando para não vacilar, afirmou:
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  — Vou querer sua vodca mais forte.
  O garçom a encarou com desconfiança, mas atendeu ao pedido. Com as mãos trêmulas segurou o copo a fim de levar o conteúdo até a boca, o líquido desceu queimando por sua garganta e como era de se esperar, o gosto não era nada agradável, todavia, nenhuma bebida alcóolica no mundo era feita para ser saborosa. 
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  O primeiro copo foi embora em minutos, enquanto Rosana sentia seu peito queimar devido a temperatura quente e o gosto forte da bebida, porém não iria desistir até estar pronta. Assim vieram o segundo, terceiro, quarto, quinto copo. Quando se deu conta, a jovem não tinha mais controle sobre suas atitudes. Caiu na risada.
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  — Olha só a minha situação, qual meu quarto mesmo? Ah, o que importa… — Sua voz arrastada ecoou por todo o bar.
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  Mais risadas, dessa vez, estava tonta demais para se importar com os olhares julgadores, mas louca o bastante para dizer o que pensava:
  — O que estão olhando? Nunca viram uma garota que brigou com o pai antes? Ah, se soubessem não estariam me julgando dessa forma… Mas eu digo para vocês que não vai ficar assim. Eu vou atrás do que é meu. Garçom, mais uma! — gritou.
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  O jovem tímido se aproximou e em um sussurro advertiu:
  — Acho que a senhorita já exagerou.
  A jovem usando sua força socou o copo na mesa antes de responder:
  — Olha só, eu me libertei de um ditador para encontrar outro. Quer o meu dinheiro ou não?
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  — Bom, sim, mas…
  — Então me traz logo a droga de mais uma rodada e rápido.
  Enquanto esperava, Rosana sentiu sua cabeça girar, ao olhar a sua volta só via borrões.
  — Olha só… parece que essa tontura está me dando um… — Sem aviso, ela caiu da cadeira já com os olhos fechados.
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  As pálpebras da jovem abriram de forma gradual enquanto, em meio aos borrões, ela enxergou um barman de testa franzida de braços cruzados.
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  — O que aconteceu? — Sua voz saiu fraca e sua cabeça ainda não havia parado de girar.
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  — Ainda pergunta? A senhorita está dormindo aqui há quase um dia.
  Rosana quase deu um salto da cadeira, mas por sorte seus dedos, mesmo moles, a seguraram.
  — O quê? Como assim? Espera, que horas são?
  — São seis horas da tarde desta segunda-feira, sabia que não deveria ter te servido tantas vodcas. Esses herdeiros.
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  — Primeiro que não sou mais herdeira, segundo, havia mais pessoas aqui, e agora estou sozinha.
  — Deve ser porque, como eu disse, são seis horas da tarde de segunda-feira e o seu ronco também não colaborou muito…
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  Tentando colocar a cabeça no lugar em meio aos flashes dos momentos antes de apagar, Rosana indagou:
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  — Espera, então eu apaguei mesmo.
  — Sim, bem feio, perdi a conta de por quanto tempo te chamei, mas acabei desistindo, apesar de a senhorita ter espantado os meus clientes.
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  A fala do barman ficou em segundo plano enquanto a mente de Rosana se lembrava do principal motivo pelo qual havia bebido tanto, o jantar, enfrentar os acionistas, e o polo que havia escutado, já estava na hora.
  — O que eu te paguei ontem em bebida é suficiente para pagar qualquer prejuízo, agora eu preciso ir.
  Sua garganta ainda queimava, a cabeça ainda girava e as pernas cambaleavam, porém ela não iria desistir naquela altura, por isso pediu à recepcionista mal-humorada que chamasse um táxi. Por um milagre, a jovem entrou no carro intacta e conseguiu dizer o endereço, talvez porque o soubesse de cor devido às inúmeras vezes que se viu sentada àquelas mesas chiques na companhia de seu pai.  Nas ocasiões em questão, ela era sempre tratada com honra e regalias, porém naquele dia seria uma penetra, e das mais indesejadas.
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  O taxista estacionou e Rosana desceu rapidamente ao reconhecer o letreiro. Ainda com a injeção de coragem fornecida pela bebida, a herdeira entrou no local e caminhou direto para a mesa onde seu pai e os outros mauricinhos se encontravam, contudo, junto a eles estava…  Matteo.
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  Droga, com toda a euforia em se vingar, se esqueceu completamente de que o italiano de olhos brilhantes estaria presente.
  Todavia mais uma vez o álcool em sua mente cortou qualquer sinal de nervosismo, pelo contrário, a fez ser notada em forma de um pigarro.
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  Ao ver a filha, Gumercindo lhe lançou um olhar repreensor e assustado ao mesmo tempo.
  — Achou que eu não viria, não é pai? — Ela bateu à mesa, não demonstrando medo.
  — Rosana… o que vocês estão fazendo aqui? — O empresário bebericou o vinho na tentativa de disfarçar as mãos trêmulas.
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  — Você sabe muito bem o que eu estou fazendo aqui, pai, você e esse seu bando de sanguessugas nunca me valorizaram, por isso agora quero que todos vocês vão para o inferno! — Seu tom era alto o bastante para chamar a atenção de todos no restaurante.
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  — Rosana, você bebeu? — Gumercindo deixou transparecer uma gota de preocupação, mesmo que pequena, contudo, seu objetivo era evitar um escândalo.
  — Não é da sua conta. Eu cometo erros também, sabia? Mesmo que você me reprove por isso, sim eu posso ter colocado fogo no chalé sem querer, mas esses seus engravatados aí colocam fogo na sua empresa todos os dias com as mulheres que levam para lá.
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  Matteo encarou a amada com pesar, seu coração não suportava a ver naquela situação, precisava fazer algo.
  — Já chega… — Gumercindo se levantou pronto para tomar uma atitude drástica quando uma mão italiana o parou.
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  — Per favore signor Gumercindo, Io resolvo.
  Por impulso, o jovem italiano pegou no colo a herdeira, mesmo entre os berros, e a tirou dali. Seu coração temeu e se alegrou ao perceber que só havia um lugar para o qual levá-la.
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  O apartamento de Matteo, apesar de apertado, era muito aconchegante ele acendeu a luz ainda com Rosana nos braços.
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  Já um pouco mais calma, ela caiu na risada com a constatação.
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  — Você está me carregando da mesma forma que um marido carrega uma mulher!
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  — Acredite, Rosana, Io queria molto te trazer aqui, ma, non questa situacione.
  Contra a vontade, a colocou no chão.
  — Por que me trouxe até aqui para o seu apartamento? Eu tenho coisas a resolver no restaurante.
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  — Non, você non tem nada que resolver lá, ainda mais in questo estado — afirmou, sentindo de longe o hálito forte da garota de cabelos marrons.
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  — Eu te odeio, sabia? Está sempre atrapalhando meus planos, eu estou ótima e quero que me leve de volta até lá.
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  Mesmo com os olhos sequestrados pelo álcool, Rosana continuava linda e a mulher mais sedutora que já havia conhecido.
  Colando as mãos na cintura ele se aproximou até ficar apenas alguns centímetros daquela boca que continuava perfeita mesmo exalando vodca.
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  — Ah, é, e sei io no levar o que vai fazer?
  — Eu vou gritar e você não vai poder me impedir de gritar, quer ver…
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  Rosana cumpriu a promessa e sua voz em segundos ecoava por todo o apartamento. Ragazza teimosa, mas foi então que ele se lembrou do melhor jeito de fazê-la se calar.
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  — Io non queria ter que fazer isso, Rosana, quer dizer, non é que Io non queira molto pelo contrário, você, que se dane, Io vou te fazer parar de gritar.
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  Se calando ela desafiou:
  — Ah é? Quero ver como!
  Antes que ela pudesse recomeçar a “linda sinfonia” Matteo a puxou para si e a envolveu em um beijo apaixonado, este obviamente a impedia de pronunciar qualquer som ou palavra.
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Capítulo 16

  Sentiu novamente os lábios de Matteo nos seus. Era uma experiência que, mesmo sob o efeito de álcool, Rosana conseguia aproveitar, até porque nas duas vezes a jovem estava com a cabeça cheia de bebida. De toda forma, a mão forte do italiano em sua cintura foi o suficiente para fazer com que os pelos de seu corpo se arrepiassem. Quem diria que depois de uma briga tão feia com Gumercindo, ela estaria justamente ali, nos braços de quem, de alguma forma e apesar dos inúmeros mal-entendidos, sentia que podia confiar de olhos fechados. A prova para essa afirmação veio logo quando, por necessidade de ar, a herdeira interrompeu o beijo e caiu desmaiada no chão frio daquela sala.
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  Depois de algumas horas, seus olhos se abriram e a visão ainda embaçada revelou Matteo a estendendo uma xícara de café. De repente, a cabeça dolorida lembrou do que a havia feito desmaiar e havia algo mais além do excesso de vodca…
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  — Ecco, é de madrugada, pegue esse café, vai se sentir melhor. A dor de cabeça vai passar, mas lembre-se, é para tomar, não para jogar em mim. — Provocou o italiano antes de se sentar ao lado da garota de forma respeitosa.
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  Mesmo tonta e ainda tentando se localizar, a piada fez a jovem sorrir.
  — Grazie. — Ela pegou o objeto enquanto olhava a sua volta, então as memórias do hotel, de seu vexame no jantar e Matteo a poupando de passar mais vergonha, voltaram com força total. — Foi muito ruim, não foi?
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  — Digamos que se Io non houvesse te tirado de lá, il tuo rosto estaria em tutte il giornale oggi.
  — Se está esperando que eu vá te agradecer… — Começou a garota com olhos frios e braços cruzados.
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  — Ah non, o que Io ho feto agora?, dio santo.
  — Você não me deixou terminar… se está esperando que eu vá dizer obrigada… Eu…
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  — Vai me xingar e me chamar de grosso…
  Contudo, antes que ele pudesse continuar, foi interrompido pelos lábios de Rosana em suas bochechas.
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  — Obrigada, você me salvou, quer dizer, poderia ter sido mais gentil, mas…
  Ainda impactado pela demonstração de carinho inesperada, o jovem estrangeiro a interrompeu:
  — Io sabia que teria alguma crítica! Se Io tivesse sido gentile, non teria adiantado, ma que diabos aconteceu para aparecer ion questa cena in quello estado, Io tuo padre ho cancelado la reunión dizendo que tenemos una cena no lugar, o que Io já ho achado estranho, o que aconteceu depois que saímos do chalé.
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  A garota de cabelos castanhos deu um longo suspiro enquanto tentava se acalmar.
  – Ai, Matteo, é tão complicado, mas eu briguei feio com meu pai… quer dizer, quando cheguei em casa, ele jupiá foi logo me acusando de irresponsável e me ofendeu por ser mulher… — desabafou omitindo os detalhes que envolviam o italiano.
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  — Madonna Mia, Io non credo.
  — Sim, então eu dei um basta, disse que não queria mais trabalhar naquela empresa maldita e me demiti.
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  — Ma que? Era il tuo sogno assumir a presidência.
  — Pois é, sabe? Eu passei a minha vida inteira buscando a aprovação do meu pai. Eu estava cega, Matteo, tão cega que não percebi o grande babaca que ele é. Desde que eu era pequena o pegava algumas vezes traindo a minha mãe, e tudo só piorou quando ela morreu, ele ficou mais distante, então acho que, por precisar de um pai que quase sempre estava ausente e querer chamar sua atenção, eu inventei esse sonho, sonho este que provavelmente nunca foi meu de verdade…
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  Matteo a escutava de forma atenta e durante a fala de Rosana ele não soltou a mão da amada por nenhum segundo; quando percebeu o detalhe, ela corou e se soltou, mesmo não querendo.
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  — Me desculpa te fazer passar por esse sufoco. Não deve ter sido fácil me trazer até aqui… E ainda ficar me esperando acordar, sendo que é de madrugada.
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  Matteo a encarou enquanto a jovem cruzou os braços, parecendo esperar por algo.
  — Que foi?
  — Essa é a hora que você me corrige e ri, dizendo que foi um prazer ter me trazido…
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  — Mas você quer que eu minta?
  — Idiota.
  — I como dizem qui… l… “Lá vamos nós de novo…”
  — Tudo bem, eu imagino que realmente não deva ter sido fácil.
  – Si, non è stato facile, ma Io non ho detto che non è stato un piacere…
  A declaração pegou a garota de surpresa, um nó se formou em sua garganta e milhões de resposta surgiram em sua mente. Queria dizer que estar ali era a única coisa boa daquela situação e que agora, livre da influência de seu pai, estava disposta a dar uma chance para o que quer que aquele sentimento fosse. Contudo, o desconforto em seu estômago só a permitiu fazer uma pergunta:
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  — Onde é o banheiro?
  — Al final del corredor. Perché?
  Ao ver a amada posicionar as mãos sobre a barriga, ele deduziu por si só.
  — Ah, dio santo!
  Sem pensar se estava na frente do italiano de seus sonhos e o que ele pensaria depois de vê-la naquele estado, Rosana atendeu ao chamado da natureza e se dirigiu a porta indicada, não demorou nem mesmo dois segundos para que toda a bebida ingerida saísse da pior maneira possível.
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  Matteo foi logo em seguida e se posicionou na frente da porta, caso houvesse uma emergência. Realmente “quella ragazza” dava trabalho, contudo, mesmo naquela situação ele estava feliz por tê-la ali ao seu lado. Diferente de sua ex-mulher, Rosana o permitia ver suas imperfeições e de alguma maneira isso o deixava cada vez mais encantado… e já era mais do que hora de admitir, apaixonado.
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  Quando os barulhos de vômito cessaram, Matteo tomou coragem e bateu na porta.
  — Rosana, está tudo bem?
  — Está sim, mas… — Ela abriu a porta antes de continuar e ao colocar os olhos na amada, Matteo reparou o estágio no vestido Rosa que a deixou tão deslumbrante no chalé. — Vou precisar de outra roupa.
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  Ele a encarou por alguns segundos, mesmo com o vestido sujo e os cabelos e despenteados, ela estava linda.
  — Cierto. Io já volto.
  A passos rápidos, Matteo foi até o quarto, onde começou a buscar alguma roupa. Suas camisas eram muito grandes para Rosana, e além do mais não queria que ninguém a visse saindo vestindo uma roupa masculina e pensassem mal dela. Então ele se lembrou de uma peça que tinha trazido de sua mãe, como lembrança. Era um vestido preto de mangas curtas, simples, mas iria servir. Ele sentiu o cheiro das mãe pela última vez antes de sacrificar sua única lembrança, mas era pelo melhor dos motivos, por amor.
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  — Ecco qui! — Ele estendeu a peça.
  Rosana encarou a vestimenta de forma desconfiada, será que aquele vestido era de Giuliana? Mas ela estava muito fraca para discutir, então aceitou de bom grado e exibiu um sorriso antes de sua porta novamente, a fim de tomar um longo e renovador banho.
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  Ver Rosana usando as roupas de sua mãe transportava o italiano para o passado, para os momentos em que a doce dona Leonora o carregava nos braços e ele sentia aquele cheiro doce daquele vestido. Mesmo depois de mais velho, a mãe sempre conseguia o acalmar e, por causa disso, certo dia ela decidiu presenteá-lo com o vestido que havia marcado sua infância. Contudo, agora esse vestido pertencia a Rosana, e parecia ter sido feito para ela.
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  — O que foi? — Ela colocou o cabelo para trás da orelha de forma tímida, percebendo o quanto Matteo a estava encarando de um jeito diferente, mas muito bom.
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  — Nada, é que…
  — Já sei, é estranho ver um vestido que foi da sua Giuliana em outra mulher, não é? — Rosana não disfarçou o tom de tristeza na voz, afinal, se Matteo havia guardado um vestido pertencente à ex-esposa, era porque não a havia esquecido.
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  O italiano por sua vez lançou um sorriso discreto enquanto seus dentes se prendiam nos lábios tentando disfarçar a risada, era muito bom quando Rosana ficava com ciúmes.
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  — Primeiro que questo vestido non era da “mia” Giuliana como você gosta de dizer.
  Rosana colocou as mãos no rosto, horrorizada.
  — Ah meu Deus, então é de outra? Você tinha uma amante? Ai, eu sou mesmo uma trouxa e…
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  Na tentativa de fazer a amada se aclamar, Matteo a segurou pelos braços de forma leve e olhou fundo em seus brilhantes olhos verdes. Esse gesto foi o suficiente para, na cabeça da herdeira, o tempo parar.
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  — Rosana, questo vestido era de la mia mamma.
  A jovem de cabelos castanhos ondulados sentiu as bochechas corarem enquanto se soltava lentamente.
  — Ah, da sua mãe?
  — É, pode parecer coisa de bambino, ma a mi me piaacce sentir ilchiro da mia mama, ainda mais agora que estamos longe.
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  O coração de Rosana se apertou em culpa e em admiração. Realmente, Matteo era um homem misterioso, mas sensível, o que a encantava cada vez mais… droga.
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  — Nossa, me desculpa, eu não tinha ideia, e pode deixar eu vou te devolver ele lavadinho…
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  — Non, no precisa me devolver, é um presente. Ele ficou bem em você!
  Rosana não sabia o que dizer diante de tamanha gentileza e prova de amor.
  — E antes que me pergunte, eu nunca nem mostrei questo vestido para a Giuliana Capicche.
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  Um milhão de pensamentos invadiam a mente da herdeira mais velha de Gumercindo. Apesar de seu jeito durão e teimoso, o italiano gostava dela de verdade, talvez mais do que ela pudesse imaginar. Mas mesmo assim, a aspirante a empresária não podia perder a pose.
  — Eu não ia perguntar isso.
  Matteo deu risada, colocando as mãos no bolso.
  — Cierto, Io vou fingir que acredito…
  Rosana retribuiu com um leve sorriso enquanto os dois ficaram ali, apenas se admirando por alguns segundos. Era como se nada mais na face da Terra importasse; a empresa, o projeto, a briga feia de seu pai… de alguma forma, tudo a havia levado aquele momento, onde a jovem sentia que era onde deveria estar.
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  Matteo, por sua vez, fitava com carinho aquela bela mulher que em apenas algumas semanas a havia conquistado seu coração de uma forma que ele nunca pensou ser possível. Depois da morte de seu pai, seguida pela partida inesperada de Giuliana, ele se sentiu morto por dentro, não possuía mais vontade de viver, mas ao ver aquela garota de cabelos castanhos e olhos encantadores, tudo ganhou um novo sentido e agora a vendo ali na sua frente usando o vestido de sua mãe, conseguia conter a emoção que pulsava em seu peito, mas era preciso, afinal, Rosana poderia voltar para a defensiva quando ele menos esperasse, ele precisava fazer o mesmo.
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  — Você precisa dormir. Vou preparar a sua cama.
  — Eu não estou vendo uma cama extra aqui… — Disse Rosana.
  — Io se. Tu vai a dormir a câmara mia e Io vou dormir no sofá. — Apesar da gentileza, sua voz saiu fria.
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  — Não Matteo, eu posso muito bem dormir no sofá.
  — Non discuta comigo, a casa mia, si?
  — Tudo bem, eu vou aceitar.
  Enquanto o italiano arrumava a cama, os dois permaneceram em silêncio absoluto, não porque não havia o que ser dito, mas porque ambos pretendiam ir com cautela.
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  — Eu realmente não sei o que dizer, muito obrigada pela sua gentileza! — Rosana foi a primeira a quebrar o gelo tarde da noite.
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  — E agora lá vem o ‘mas’… — Provocou o italiano, mas para sua surpresa, a garota respondeu:
  — Não, dessa vez é sem ‘mas;, a briga com meu pai realmente mexeu comigo, você me ajudou quando eu nem precisava, mesmo eu sendo chata.
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  — É, você é molto chata mesmo, ma…
  Sem mais nem menos, o italiano se aproximou até ficar a centímetros dos lábios de Rosana; em um gesto inesperado ele acariciou seus cabelos de forma cuidadosa e muito amorosa.
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  Mesmo assim era o suficiente para eletrizar o corpo inteiro da garota.
  — Bonna notte, Rosana.
  — Bonna notte.
  Rosana foi para debaixo das cobertas com a cabeça leve. Apesar do rompimento com Gumercindo e de ter aberto mão daquele que acreditava ser seu maior sonho, tudo estava bem e ficaria bem, desde que ela tivesse Matteo a seu lado.
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  No dia seguinte ela levantou com um sorriso no rosto, seus olhos foram atraídos pelos inúmeros objetos ainda espalhados pelo quarto do italiano, a fim de saber mais sobre aquele que a havia conquistado. De forma discreta começou a encarar os porta retratos todos são delicados, mostravam Matteo e sua família tão linda. Um tropeço, porém, a fez achar no chão uma caixa rosa coberta de oração e em vermelho escrito o nome que ela menos queria encontrar ali: Giuliana.
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Capítulo 17

  Os dedos de Rosana, de forma involuntária, se dirigiram até a caixa misteriosa que provavelmente estava repleta de partes de um passado de Matteo que ela não queria conhecer. Por mais que ela soubesse sobre a antiga história de amor do italiano, ainda era doloroso para a jovem se lembrar de que não foi a primeira garota com qual ele foi cuidadoso daquela forma… não foi a primeira a ser amada por ele. Quando seus dedos estavam prestes a abrir a tal caixa, no entanto, recuou.
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  — Não, eu não preciso conhecer esse lado do Matteo, isso ficou no passado e não importava, afinal, o acionista estrangeiro de olhos brilhantes não lhe devia nenhuma satisfação, assim como ela mesma não o devia explicações sobre o que fazia ou deixava de fazer, afinal, não se encontravam em um relacionamento sério. Então por que a ideia de descobrir o que havia dentro daquela maldita caixa a consumia tanto? Talvez não houvesse problema em dar uma espiada.
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  Tentando se convencer de que a única razão pela qual abrira era por curiosidade, não ciúmes, Rosana abriu a tampa cor de rosa e se deparou com um inúmeras fotos. Todas do belo casal. Na primeira eles estavam abraçados em frente a um lago no pôr do sol, bem romântico. A herdeira mais velha de Gumercindo focou sua atenção na mulher sobre a qual não queria pensar. Giuliana possuía cabelos negros ondulados que caíam sobre os ombros e dois pares de olhos azuis que pareciam ter sido esculpidos a dedo, o rosto era impecável, não havia como negar; realmente, a ex de Matteo era muito bonita.
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  Sentindo a respiração acelerar, ela passou para a segunda foto. Dessa vez Matteo e Giuliana dançavam com o rosto colado ao lado de uma fogueira sob as estrelas, tão felizes. Ao reparar a semelhança do momento com que viveu ao lado do italiano no chalé, não pode deixar dispensar se naquele momento ele estava realmente ali, a enxergando, ou lembrando do passado que aquela foto exibia? Seu raciocínio implorava para que ela parasse e se recordasse a prova de amor que recebeu minutos antes, mas seu peito ansioso queria continuar a tortura. Fotos e mais fotos de um belo casal italiano apaixonado invadiram a mente de Rosana. Todavia, a pior parte foi quando as fotografias acabaram e ela se deparou com um belo pedaço de papel. Era uma carta de Matteo para a ex esposa. No início ela somente passou os olhos, mas sua curiosidade a fez mergulhar na leitura, naquelas linhas o italiano dizia estar de coração partido e não conseguir dormir mais desde que Giuliana o havia deixado, e depois de inúmeras lamentações e juras de amor, e encerrava dizendo que a amaria para sempre.
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  Um misto de emoções subiu pela garganta de Rosana querendo sair; raiva, tristeza, frustração, sua vontade era ir embora dali naquele instante e chorar, pensando que nunca seria amada daquela forma e que sempre seria a segunda na vida no italiano, não importava o que fizesse.
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  — Bongiorno, como ha pasado la notte… — Matteo indagou pegando de surpresa. Sem tempo para esconder as provas do crime, a jovem foi pega no flagra. — Rosana, você está mexendo nas minhas coisas?
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  Ela se virou contendo as lágrimas.
  — Não se preocupe, eu só vi o que precisava. — Ela exibiu o objeto lutando contra a vontade de arremessá-lo em direção ao italiano “maledeto”.
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  Matteo reconheceu o papel no mesmo instante.
  — Ah, questa carta Io ho scritto ha molto tempo luogo dopo il divorcio, faz tempo.
  — Tudo bem, você não precisa me dar satisfação nenhuma. — Ela se caminhou para a porta com pressa, mas foi impedida de sair pelas mãos firmes de Matteo.
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  — Non, Io devo sì, Io ho scritto questa carta antes de conhecer você… — Admitiu. — Non significa nada.
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  — Ah, é? Então por que a guardou?
  — Pelas memórias. Giuliana foi mia moglie, fez parte da minha vida e isso nunca poderá ser apagado, ma io non a amo mas de lá mesma forma.
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  — Não é o que está escrito nessa carta.
  — Ma dio santo. Io mudei desde que Io Jó escrito esta carta, Io ho vindo para o Brasile e … ho me apaixonado de novo, por você. Mas Rosana, você ainda tem dúvidas? — Ele segurou suas mãos, mas a Rosana o impediu com um gesto.
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  — É mesmo, se por acaso a Giuliana aparecesse aqui amanhã querendo reatar o casamento? Você ficaria mexido?
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  Matteo gaguejou, mas não porque não sabia a resposta, e sim pela surpresa da situação. Mesmo que sua antiga esposa aparecesse naquele instante, ele só teria olhos para a ragazza mal-humorada que exibia beleza no vestido de sua mãe.
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  — Non… Io…
  — Deixa para lá, nunca iria dar certo mesmo…
  Por mais que quisesse implorar para que a garota ficasse e até mesmo permanecesse naquele apartamento do seu lado para sempre, não iria adiantar, então era o momento de colocar a máscara da frieza novamente.
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  — Tiene racione, se sempre duvidar de mim ou ficar brigando, não daremos certo mesmo. — As palavras saíram de sua boca enquanto seu coração chorava.
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  Rosana o encarou por alguns segundos, realmente, mesmo liberta de seu pai, ela precisava focar em sua carreira, a ideia de viver um grande amor era uma ilusão e era hora de esquecê-la para sempre, então, evitando encarar Matteo para não mudar de ideia, afirmou:
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  — Adio.
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  As palavras escritas por Matteo naquela maldita carta ecoavam na mente de Rosana enquanto ela caminhava pelas ruas lutando para evitar as lágrimas. Tudo que ela menos precisava era da piedade de alguém. O que queria era chegar logo no hotel e tirar aquele maldito vestido que ela pensou ser uma priva de amor, mas era apenas uma ilusão.
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  Os sofás de couro da recepção por sorte estavam vazios, de forma automática Rosana se encaminhou para o balcão onde a mesma recepcionista mal-humorada só percebeu sua presença quando pediu:
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  — Eu gostaria de mais uma diária.
  Sem parar de digitar a voz robotizada indagou:
  — Cartão de crédito?
  Ela entregou os objetos. Segundos depois, veio a terrível notícia.
  — Sinto muito, mas esse cartão foi cancelado.
  A garota não se surpreendeu com a atitude do pai de deixá-la por conta própria, no entanto, seu dinheiro guardado iria acabar rapidamente se ficasse naquele hotel de luxo. Sem alternativas, ela se lembrou de uma pensão ao lado.
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  A recepção do modesto local não se comparava a do hotel de luxo, havia somente um sofá vermelho de pano bem antigo, uma mesa simples decorada com uma rosa e uma senhora no balcão, que ao ver Rosana exibiu um sorriso.
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  — Olá, mocinha! Em que posso ajudar?
  — Oi, eu… preciso de um quarto.
  — É seu dia de sorte, um dos meus hóspedes acabou de se mudar, então tenho um disponível!
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  — Ótimo, pelo menos uma boa notícia! — Ela sorriu sentindo a esperança crescer em seu peito.
  A cama era infinitamente menor do que de seu quarto na casa de Gumercindo, porém, naquele instante, era tudo que Rosana precisava se recompor e tentar recomeçar a vida juntando o que havia restado de sua experiência e de seu coração partido.
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  Logo que sozinha, a ex-herdeira se deitou enquanto a tristeza presa em sua garganta saiu em forma de gritos que a mesma acabou com o travesseiro. Eram tantas mudanças para uma pessoa, tantas expectativas quebradas em menos de dois dias. Porém o que mais doía era pensar que nunca realmente teria o amor de Matteo da forma que gostaria, afinal, pelo visto ele nunca esqueceria a ex-esposa. Tudo bem que a forma com a qual ele disse a ter superado pareceu sincera, no entanto, Rosana, mesmo tendo pouca experiência no assunto, sabia o suficiente para entender o enquanto os homens eram capazes de serem falsos a fim de conseguir o que queriam. Droga, como pode ter sido tão idiota a ponto de se apaixonar? Agora lá estava ela sofrendo em um quarto de pensão, sozinha.
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  Seus lamentos foram interrompidos pelo toque do celular. Ao ver a foto da irmãzinha, Rosana enxugou as lágrimas e se recompôs.
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  — Oi, docinho! — Exclamou realmente feliz por ouvir uma voz amiga.
  — Rosana, cadê você? Por que ainda não veio me buscar?
  — Eu estou em uma pensão bem modesta, mas eu estou bem, não se preocupe, docinho. Eu estou morrendo de saudades.
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  — Eu também quero ir com você. O papai passa o dia inteiro fora, nem me ajuda com as tarefas e nem nada do tipo…. Estou tão sozinha…
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  Ver Angélica sofrer era como receber uma facada no coração, até porque sua irmã caçula era quase como uma filha para a garota de cabelos castanhos.
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  — Eu também, meu amor, tudo que eu mais queria era ir te buscar para dormimos agarradinhas e eu te contar uma história como sempre fazemos, mas precisamos esperar, porque eu não sei o que o papai pode fazer, ele ainda está com muita raiva de mim.
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  — Eu sei, ele me proibiu de querer de ver, mas ele não pode fazer isso, você é minha irmã e eu te amo!
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  O amor de Angélica era tudo que a ex-herdeira precisava naquele momento para conseguir se sentir mais confiante.
  — Eu também te amo! E logo, logo estaremos juntinhas, assim que eu conseguir um novo emprego e um lugar novo para morar, começaremos uma vida nova juntas, longe do papai, eu e você !
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  — E o Matteo!
  A menção ao italiano de olhos brilhantes fez a tristeza de apostar de novo na mente de Rosana.
  — Acho que não, meu docinho.
  — Ué, por que não? Eu gosto muito dele e você também que eu sei!
  — É, mas ele ainda gosta de outra… — Resumiu de maneira simples e ainda mais dolorosa.
  — O quê? Eu duvido! O jeito que ele olhou para você no cinema não me engana, ele gosta de você sim, Rosana, então faz o favor de ficar com aquele italiano para quem sabe vocês poderem me adotar. — Brincou.
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  Rosana riu com a inocência da irmã.
  — Ah docinho, se fosse fácil assim como você quer…
  — Mas é, vocês adultos é que gostam de complicar, agora eu preciso ir porque o papai chegou. Um beijo e não demora para vir me buscar.
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  — Um beijo, meu amor, fica bem, eu prometo que vou me esforçar.
  Talvez sua irmãzinha tivesse razão, talvez ela devesse sim dar uma chance ao italiano, pelo imenso de se explicar, até porque, mesmo que os dois começassem um relacionamento, Rosana sabia que não poderia exigir o apagão completo das memórias de Matteo, se ela realmente quisesse lutar por esse amor, teria que primeiro enfrentar o fantasma de Giuliana. Porém isso era um problema para depois, agora ela precisava descansar e se preparar para a luta do dia seguinte, quando sairia a busca de um novo emprego e de novo recomeço.
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  Os dedos de Matteo escorregaram pela roupa de capa enquanto ele tentava encontrar algum resquício da ragazza mal-humorada que havia passado a noite ali. Mesmo não podendo abraçá-la e confortá-la do jeito que gostaria, saber que ela estava no outro quarto fez seu coração palpitar de felicidade como há muito tempo não acontecia. Contudo, por causa de uma bobagem e teimosia de Rosana, tudo havia se perdido. Droga, por que ele tinha que ter deixado aquela maldita caixa ali, ele nem a abriu desde que se mudou, o objeto só estava ali em seu quarto porque ele não havia tido tempo de guardá-lo depois da arrumação da noite anterior à hospedagem de Rosana.
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  Nada ali dentro tinha mais significado, eram apenas memórias, todos os momentos vividos, ele guardava com carinho no coração, mas estavam no passado; a garota de cabelos castanhos e ondulados era seu presente. Lógico que Matteo ficou com medo de se abrir novamente para o amor depois de ter sofrido com o divórcio, mas Rosana chegou de uma forma tão arrebatadora que o fez seu coração esquecer da última vez. Isto que ela precisava entender de uma vez por todas; mas como fazer aquela garota maravilhosa e teimosa entender que ela havia ressignificado sua vida, o havia ganhado desde o primeiro dia? Como? Provavelmente Rosana deve ter se sentido mal ou “a segunda opção” depois de ter visto aquelas malditas fotos, porém isso não estava nem perto da verdade. Matteo queria gritar para ela que a amava e fazer com que não restassem mais dúvidas sobre suas intenções. Foi então que ele teve uma ideia, uma ideia bem maluca e para qual ele precisaria de muita ajuda, mas valeria a pena!
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Capítulo 18

  Rosana mastigava um pão amanteigado em uma mesa distante das outras da pensão. Não que estivesse recebendo olhares maldosos nem nada do tipo, porém ela temia que a qualquer instante seria reconhecida como a herdeira de Gumercindo que deu vexame em um restaurante chique.  Seus minutos de sossego naquele lugar estariam acabados, além do mais, não queria fazer novos amigos, pois não pretendia ficar por muito mais tempo, visto que naquela manhã mesmo logo depois do café sairia à procura de um novo emprego, por mais que seu currículo fosse excelente, a jovem estava disposta a aceitar qualquer cargo, afinal mesmos sendo a filha do dono  aguentou humilhações e menosprezo, por essa razão  já estava mais do que acostumada. 
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  Um outro problema também alugava sua mente, um que ela tentou deixar para depois, porém o gosto dos lábios de Matteo se sobressaindo sob o álcool que havia ingerido naquele dia ainda a fazia tremer, da melhor maneira possível. Droga, ela não queria mais pensar no italiano de olhos brilhantes ou lembrar de sua gentileza em impedi-la de dar um vexame ainda maior, afinal, por mais que Matteo realmente sentisse algo a seu respeito, as malditas lembranças de seu casamento ainda pareciam transportá-lo para um passado onde foi muito feliz, feliz de um jeito que talvez ela nunca conseguisse o fazer…  Esse pensamento era como uma flecha presa em seu peito, machucava mesmo sabendo que precisava ser arrancado. Por que raios era tão difícil tirar aquele maldito acionista estrangeiro de seus pensamentos e principalmente de seu coração? Se pudesse, naquele instante mesmo, Rosana se apaixonaria pelo primeiro que aparecesse e lhe imploraria para arrancar-lhe aquela paixão “maledita” do peito, pediria para ser beijada e borrada com novos lábios a fim de tirar o gosto de Matteo de sua pele para sempre. Contudo, a garota de cabelos ondulados sabia que seria inútil.
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  O toque do celular fez Rosana voltar à realidade. Em meio a um suspiro ela encarou a tela e seus olhos se arregalaram em surpresa ao ver o nome da secretária de seu pai ali escrito.
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  — Naná, o que você quer? — A garota não se importou de ser simpática, afinal mesmo sendo criança, o trauma de ver aquela mesma secretária aos beijos com seu pai na fazenda ainda a fazia encarar a trabalhadora de tantos anos com certo desprezo.
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  — Olá, Rosana, espero que tenha um bom dia. — O tom sarcástico da secretária fez a ex-herdeira quase desligar o telefone.
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  — Vá direto ao ponto! — exigiu, mantendo a frieza.
  — Certo, o seu pai me pediu para lhe entregar os seus pertences que ficaram aqui, isso inclui seu computador e enfeites de sua mesa.
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  — Ah, é só isso, pois não faço questão nenhuma… até…
  Mas antes que ela pudesse encerrar o telefonema indigesto, se lembrou que não teria dinheiro para comprar um notebook novo e precisaria de um em seu novo emprego, além do que, antes de tudo, seu pai a havia presenteado com um computador novinho, realmente não podia deixá-lo. Rosana não queria um tostão de Gumercindo, mas naquele momento não podia recusar algo que quer ou não já era seu.
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  Ela suspirou.
  — Tudo bem, eu aceito me encontrar com você para me devolver! — afirmou sabendo  que o pai não queria vê-la nem pintada de outro.
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  — Ótimo, se puder passar agora aqui no prédio da empresa.
  — Certo, mas eu já vou avisando que me recuso a botar os pés naquele lugar, não vou entrar.
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  Naná suspirou com a exigência.
  — Tudo bem, se for para me ver livre de você… — A secretária se permitiu destilar o ódio.
  — Digo o mesmo.
  Pelo jeito os planos haviam mudado. Depois de terminar de saborear a primeira refeição do dia, esta interrompida de maneira brutal pela amante de seu pai, a jovem pediu um táxi para o lugar para o qual pensou que nunca mais voltaria, mas não era uma volta, só pegaria o que lhe era de direito, nada mais.
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  Rosana encarou o lugar que costumava enxergar como sua segunda casa de cima abaixo. As paredes, a pintura e o logo da empresa que almejara por tanto tempo comandar, eram fisicamente os mesmos, contudo agora, ao fitá-lo, não via mais seu grande sonho, ou o lugar onde gostaria de passar o resto da vida como presidente, mas sim um ambiente tóxico, comandado por um homem machista e sem escrúpulos do qual ela exigiu a aprovação por tanto tempo inutilmente.
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  Naná se encontrava à porta de vidro com os braços cruzados. Rosana não se apressou a ir até ela.
  — Há quanto tempo! — cumprimentou a ex-herdeira não escondendo o descontentamento em ver a secretária.
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  — E não é, Rosana? — respondeu a mulher com a mesma “cortesia”.
  — Esse lugar me dá enjoo então se puder ir logo com isso…
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  — Será um prazer.
  Naná esticou as mãos entregando à Rosana o que ela havia ido buscar. Antes de partir, no entanto, a aspirante a empresária encarou a amante de seu pai e se indagou se talvez, somente talvez, ela também fosse mais uma vítima dos caprichos de Gumercindo.
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  — Sabe, Naná, se eu fosse você não esperaria nenhum reconhecimento por parte de seu “patrão”, pois senão pode morrer sendo apenas uma secretária — se limitou a aconselhar antes de entrar novamente no táxi que a esperava.
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  Agora sim, estava pronta para começar uma nova vida, porém antes de mais nada precisava reiniciar seu computador, afinal não queria guardar nenhum arquivo relacionado àquela maldita empresa.
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  A escrivaninha de seu quarto temporário era pequena, contudo iria servir.
  Rosana ligou o aparelho e se irritou ao perceber que o mesmo estava logado na conta de seu pai.
  — Ótimo, provavelmente ele em algum momento pediu para aquela secretária usá-lo — resmungou enquanto seus dedos exploravam o mouse.
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  Antes de clicar no botão de sair, no entanto, algo chamou sua atenção: uma pasta intitulada “Bartolo Batistela”. Seu pai não conhecia tantos italianos, além do mais ela reconheceu o sobrenome de Matteo.  Sem pensar duas vezes abriu a pasta onde se deparou com inúmeras fotos de Bartolo em diferentes situações, como se estivesse sendo seguido. Ela não reconheceu o local, por isso imaginou que os registros haviam sido feitos na Itália, mas por que seu pai havia se interessado  em saber o paradeiro completo de um  ex-amigo que segundo o próprio havia traído sua confiança?
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  Ao rolar a tela para baixo, ela reparou um detalhe ainda mais estranho, a última foto estava coberta por letras vermelhas que formam a palavra eliminado. Não podia ser, teria seu pai algo a ver com a morte de Bartolo? Será que realmente o pai de Matteo sempre foi inocente e Gumercindo o vilão da história que o incriminou? Bom, quando se tratava do pai, Rosana estava aprendendo a não duvidar de nenhuma possibilidade chocante, porém, um assassinato? Era difícil de acreditar.
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  Matteo precisava saber de sua descoberta, porém depois da briga feia que tiveram, a ex-herdeira estava praticamente certa de que o italiano nunca mais iria querer vê-la.  Mesmo assim, ele merecia saber a verdade.  Com os dedos trêmulos ela discou o número que em um momento de fraqueza registrou em seu telefone, sentiu o coração disparar ao som da espera de ser atendida, porém, caixa postal. Droga, claro que ele não iria atendê-la. Rosana então optou por uma mensagem, ainda anestesiada pela descoberta digitou:
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  “Seu italiano teimoso, preciso falar com você, é urgente!”
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  Nenhuma resposta. Não havia tempo para esperar, a jovem precisava correr atrás de recomeçar a vida. Naquela manhã a garota de cabelos castanhos foi a três empresas diferentes deixar o currículo na tentativa de conseguir algo, em qualquer área, as perspectivas não eram ruins, porém o tempo de resposta, uma semana, iria parecer uma eternidade. Em seu tempo livre, ela checava para ver se havia resposta de Matteo, nem sinal do italiano de olhos brilhantes. Pelo jeito ele realmente havia se magoado com o último encontro, mas a culpa era dele mesmo, quem mandou deixar uma caixa cheia de fotos românticas com a ex bem à sua vista?
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  Certo, talvez Rosana tenha exagerado, afinal as fotos não estavam exatamente à vista, mas mesmo assim não dava para apagar o fato de que elas eram lembranças dos tempos mais felizes de Matteo, com os quais ela nunca iria poder competir, por mais que tentasse.
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  Os dias se passaram enquanto a rotina da jovem se resumia em procurar um novo emprego, dormir na pensão e esperar uma resposta do italiano. Claro que ela queria saber mais sobre o caso de Bartolo, não somente por Matteo, mas também por ela própria, afinal, gostasse dela ou não, se tratava de seu pai, homem que ela idolatrava até pouco tempo.
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  Contudo, para seu azar não havia mais nenhum documento relacionado ao caso naquele maldito computador, nada além das fotos suspeitas.
  A vontade de deixar o medo de lado e questionar Gumercindo era grande, porém sóbria não conseguiria e não estava nem um pouco disposta a dar outro vexame por causa da bebida.
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  Só lhe restava imaginar o que poderia ter acontecido, por que razão seu pai teria interesse em matar Bartolo sendo que ele mesmo havia confirmado que eram sócios e amigos, se bem que não dava mais para acreditar em uma palavra sequer que saísse da boca de Gumercindo. Tantas perguntas sem respostas.
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  Além de toda essa confusão, a jovem também não conseguia deixar de sentir falta de Matteo, maldito italiano, custava muito responder uma mensagem?  Precisava deixá-la naquela agonia?
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  Rosana tentava mentir para si mesma alegando que seu único interesse na comunicação com o acionista estrangeiro era desvendar aquele mistério que dizia respeito a ambos. Todavia, já não tinha como escapar, era bem mais do que isso. Ela sentia falta das conversas, do cuidado de sentir a mão firme do italiano sobre a sua. A todo instante ela se pegava recordando os dois beijos roubados e as danças. Até mesmo a mão queimada a fazia sorrir.
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  Era engraçado pensar como apenas algumas semanas atrás tudo que importava era fazer um trabalho e impressionar Gumercindo. Porém o italiano de olhos brilhantes chegou como um furacão a fim de mostrar a ela que a vida é muito mais. Antes de conhecê-lo, Rosana pensou que só seria feliz quando assumisse a presidência da empresa e recebesse um elogio de seu pai. Mas com Matteo ela descobriu que felicidade acontece a todo instante, seja em uma festa junina em um jogo de fusca azul ou até mesmo ao visualizar uma estrela cadente, se visse uma agora, a jovem pediria para que esses momentos ao lado do italiano se repetissem para sempre…
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  Seus pensamentos foram interrompidos pelo som de seu celular que exibia uma notificação de mensagem. O coração da jovem disparou com a possibilidade de ser Matteo, porém a decepção tomou conta quando viu o nome de Antenor.
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  “Rosana, sou eu, venha correndo, aconteceu um problemão aqui na fazenda e só você pode resolver.”
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  A jovem de forma educada respondeu:
  “Oi Antenor, eu sinto muito, mas não posso ir, meu pai com certeza me proibiu.”
  “Ele não precisa saber, afinal não resolve nada mesmo, vem logo, por favor.”
  Rosana suspirou derrotada. Ela tinha muita consideração ao homem, que havia sido como um segundo pai e auxiliado muito durante todos os anos em que trabalhou na fazenda.
  “Certo, estou indo.”
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  Sem demora, ela pegou um táxi para a fazenda onde o gerente a esperava com uma feição preocupada.
  — Antenor, o que aconteceu?
  — Ai, Rosana, é muito grave, um problema lá nos cafezais e eu preciso de ajuda, vou ligar para os agricultores especializados, mas você precisa ver com seus próprios olhos.
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  — Tudo bem.
  Acelerada ela se dirigiu ao cafezal, mas tudo parecia bem, na verdade o que encontrou lá foram várias velas acesas, uma toalha estendida.
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  — Mas o quê?
  Ainda sem entender nada ela andou pelo local, a fim de descobrir alguma pista sobre o que estava acontecendo e por que ao invés de um grande problema, como havia dito Antenor, ela havia encontrado um cenário super-romântico? Sem mais nem menos, uma música italiana começou a tocar, contudo, suas dúvidas foram esclarecidas quando um Matteo surgiu mais lindo do que nunca à sua frente com um enorme sorriso no rosto.
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Capítulo 19

  Rosana se beliscou de forma discreta tentando acordar, afinal aquilo só podia ser um sonho. Ela se lembrava muito bem das fantasias que invadiram a sua mente quando os dois visitaram aquele mesmo lugar juntos em plena luz do sol. Ver Matteo ali ao seu lado, naquele cenário romântico, era tudo que queria na vida, porém parecia bom demais para ser verdade.
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  O desejo de tocar a pele do italiano para ter certeza de que não estava alucinando não passou despercebida pelo jovem estrangeiro que de forma cuidadosa a segurou em meio a risadas.
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  — O que está fazendo? — indagou, não tirando os olhos da amada nem por um segundo.
  — Eu estou tentando ver se isso é real! — Sua voz saiu como um sussurro, enquanto suas mãos finalmente cederam à tentação e encostaram nos fios da barba do italiano.
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  — Ma que domanda inutile, claro que é…
  Pela primeira vez baixando a guarda e permitindo se perder naqueles olhos brilhantes, Rosana estava pronta para deixar todo o passado de regras de lado e fazer o que tinha vontade, independente do que qualquer um fosse dizer a seu respeito. Ao olhar à sua volta, a garota finalmente percebeu que, apesar de tudo, poderia conseguir uma última boa lembrança naquele cafezal, na verdade uma lembrança que possivelmente se tornaria a sua favorita.
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  — Ainda bem! — Foi tudo que saiu de seus lábios antes que os mesmos se encontrassem novamente aos de Matteo em um beijo apaixonado, dessa vez mais intenso e não causado pelo álcool, afinal a garota não precisava mais de nenhuma bebida inútil para lhe dar a coragem de fazer o que seu coração desejava desde o dia em que seu caminho se cruzou com o do italiano.
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  Ali, em seus braços sentindo o gosto de seu beijo outra vez, a ex-herdeira sentia tudo fazer sentido, como se tudo que aconteceu, de bom e de ruim, tivesse a levado àquele momento, e por isso mesmo, ao refletir, se deu conta que não faria nada diferente, a apresentação, o café, tudo a levou a encontrar o homem feito para ela que até pouco tempo atrás estava na Itália e casado com uma bela mulher, mas lá estavam os dois agora, cedendo à paixão que os havia arrebatado desde o primeiro instante. Pela forma como era beijada naquele momento, Rosana teve certeza de que a tal Giuliana realmente estava no passado e ela havia sido ríspida. Agora não havia mais dúvidas sobre os sentimentos do italiano, ele realmente a amava, e então a jovem de cabelos ondulados percebeu que somente seus lábios já não eram mais o suficiente, o queria por inteiro. Parecendo perceber as intenções da amada, Matteo foi o primeiro a desabotoar a própria camisa.
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  A lua parecia particularmente mais bonita aos olhos do casal naquela noite que se abraçava sob o céu escuro e estrelado sem se importar com os grãos de café  que os assistiam.
  — Eu não acredito que realmente fizemos isso e bem no cafezal, se meu pai souber ele encomenda a sua cabeça — brincou Rosana, enquanto se acomodava nos braços morenos do amado.
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  — Io se, quer dizer, non foi nada fácil convencer o Antenor a me ajudar!
  — Ah, o Antenor, realmente, para fazê-lo quebrar a confiança do meu pai você deve ter vendido um rim.
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  — Ha sido quase, uma ha valido a pena para estar aqui com você, sabe Io nunca deitado com ninguém sob as estrelas desse jeito.
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  Rosana arregalou os olhos se lembrando da conversa que tiveram em plena madrugada no chalé  apenas alguns dias atrás.
  — Espera, você me falou que já tinha feito com a Giuliana “moltas” vezes — pressionou.
  — É, Io ho mentido para te irritar.
  — O quê? Não acredito! Seu italiano maledeto. Eu senti ciúmes à toa. — Rosana se sentou cruzando os braços.
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  — Noi até hemmo tentado —   começou o jovem estrangeiro se sentando ao lado da amada —, mas Giuliana non ha suportado dormir na grama! Ma mesmo que Io tivesse dormido desse jeito com ela non teria sido igual a o que noi due estamos vivendo agora. Porque agora Io percebo que nunca ho amado a Giuliana, como Io te amo, Rosana. — Ele estendeu as mãos.
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  Em resposta, Rosana deu um longo suspiro juntando seus dedos de forma lenta aos do italiano em um gesto de união e cumplicidade, agora ali, diante  das estrelas, eles juravam seu amor, um amor  que havia surgido sem mais  nem menos, mas era tudo que ambos precisavam.
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  — Eu também te amo, seu italiano teimoso. E sabe, aqui é mais confortável do que a pensão em que estou morando, sabe?
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  — Pencione? — Matteo franziu as sobrancelhas.
  — Ai, Matteo, por favor, não quero falar sobre isso agora, estou tão feliz, e além do mais é problema meu.
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  Sem soltar as mãos da ex-herdeira nem por um segundo, o italiano afirmou:
  — Ei, a partire da oggi , i tuoi problemi sono anche i miei problemi!
  — Ai, eu nem sei por onde começar. Bom, no dia da ressaca eu te contei que briguei feio com meu pai, pedi demissão, inclusive esse foi o motivo para o meu vexame no restaurante, certo?
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  — Si.
  — Mas até aquele dia, meu pai ainda estava me bancando, então eu conseguia ficar em um hotel bom até arrumar outro emprego, mas no dia seguinte, assim que saí da sua casa, percebi que o meu cartão tinha sido cancelado, e o meu dinheiro guardado só dava para uma pensão, então, mas não se preocupe, não é tão ruim.
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  — Dio santo, Io ho ficado tão focado em preparar questa surpresa que non respondi suas mensagens, me scusa.
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  — Não tem o que se desculpar. Eu achei que estava com raiva de mim.
  Matteo acariciou as bochechas da garota de cabelos castanhos antes de afirmar:
  — Nem por uno segundo!
  — Mas isso é passado.
  — Si, agora estamos juntos e por esso non voi te deixar ficar numa pensão, vai morar comigo.
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  — O quê? Mas Matteo.
  — Per favore, aceita.
  — Mas é sua casa.
  — Ah non, desde quello momento em que tu hai  vomitado in quello  banheiro ela se tornou tua também.
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  A ex-herdeira riu com a lembrança antes de beijar o amado novamente, aceitando o convite.
  Porém, por mais que quisesse ficar ali pelo resto da vida, ainda havia uma questão para resolver.
  — Espera. — Ela se afastou com pesar.
  — Que foi amore mio?
  Ouvir Matteo a chamando daquela forma quase a fez perder o raciocínio, mas o assunto exigia foco.
  — Eu não te mandei aquelas mensagens porque estava com saudades, mas também porque meu computador estava logado na conta do meu pai e então eu descobri algo relacionado ao seu pai, Bartollo.
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  Matteo arregalou os olhos em surpresa, mas seus ouvidos permaneciam atentos.
  Rosana contou ao italiano de olhos brilhantes sobre a pasta de arquivos com fotos de seu pai seguidas da palavra eliminado. Matteo, fazendo jus ao sangue quente que corria em suas veias, queria ir até lá no mesmo instante, contudo Rosana o impediu, afinal já era tarde e ela não queria estragar aquele momento tão maravilhoso que haviam acabado de compartilhar. Matteo lhe deu razão e assim os dois adormeceram abraçados, no cafezal.
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  Contudo, no dia seguinte, já em seu apartamento, ele voltou ao assunto:
  — Io non consigo ficar quieto, Rosana, ilmo padre a sido acusado de ladrone e agora você me fala que ele pode ter sido assassinado?
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  — Imagina como eu fico com essa possibilidade? Quer dizer, apesar de eu já ter percebido o quanto ele é horrível, ainda é meu pai e matar uma pessoa… eu não sei se consigo acreditar.
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  — Io te entendo, se Io tivesse en tua situasione também ficaria da mesma forma, parece que é algo que afeta molto noi due non é vero.
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  Rosana suspirou se sentando no colo do amado, enquanto segurava suas mãos.
  — Pois é, de alguma forma, parece que o destino nos uniu também para consertar essas feridas do passado. Porque não é maluco? Quer dizer, quando te vi não tinha ideia dessa história.
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  — Anche Io podia imaginar que quella bella ragazza a fitare una computadora, era filha del signore Gumercindo, que Io ho odiado per tanto tempo, que irina, agora la filha dele é il amore de la mia vida.
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  — Espera, o que você disse?
  — Si, você ouviu, Rosana, tu sei il amore de la mia vida! — Havia tanta verdade no olhar de Matteo que ela realmente não podia sequer pensar que ainda havia espaço para Giuliana no coração do italiano.
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  — Você também é o da minha. Sabe, desde o início sabia, talvez por isso tenha sido tão grosseira, às vezes.
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  — Non, to non hai sido tão grosseira, só um pouco.
  Ele a beijou de forma leve e divertida nos lábios.
  — É engraçado eu estar tão feliz e aflita ao mesmo tempo, quer dizer, se meu pai for mesmo um assassino, a Angélica está lá com ele.
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  — Amore, Io se o quanto tu ama la tua sorella.
  — Sim, agora eu entendo a dor que você sente de estar longe da família, porque querendo ou não a Angélica é a única coisa que sobrou da minha… — lamentou não se preocupando em esconder a dor que crescia em seu peito.
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  — Allora por que non  traremos para morrar incieme a noi, qui en questa casa?
  Outra vez os olhos de Rosana se arregalaram em surpresa, realmente Matteo parecia ter vindo de outro mundo, imagina que homem no planeta estaria disposto a recebe-la em sua casa junto de sua irmãzinha. 
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  — Não, meu amor, eu não posso te pedir isso, quer dizer, seria demais, eu ainda nem consegui um emprego para te ajudar aqui… quer dizer, eu tenho uma reserva aqui e além do mais a Angélica é um problema meu…
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  — Tu hai se esquecido do que te disse in quello cafezal, a partir de agora, iltuo probleme sono anche il mio problemi, e Io adoro a Angélica, ela foi a primeira torcer por noi due.
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  Rosana riu com a constatação.
  — É vero — brincou.
  — Vamo, Rosana, me deixa te ajudar.
  — Tudo bem, mas só até as coisas se ajeitarem, quer dizer, claro que algum dia quero morar com você, mas não desse jeito. Enfim, só tem um problema, meu pai nunca vai permitir que tragamos a Angélica.
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  — Rosana, tu sei maior de idade e a Angélica já tem idade para decidir com quem querer ficar, Lei non ha una mama e tu sei o mais próximo de uma figura materna. Pelo amor de dio isso deve contar para alguna cosa.
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  — É verdade, ela já me implorou para tirá-la de lá.
  — Entonces, vamos à agora mesmo casa del signore Gumercindo para dizer tudo que suspeitamos, ele vai ter que me dar explicações, quer dizer para noi due!
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  — Certo, vamos.
  — Ma pelo amor de dio, sem bebida questa volta.
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  Rosana caiu na risada.
  — Dessa vez não, eu encontrei algo muito melhor para me dar coragem: Você.
  Matteo, de forma gentil, segurou a mão da amada, enquanto abria um sorriso.
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  A casa permanecia a mesma, porém ao encara-la, Rosana não pôde evitar que as lembranças da última briga com seu pai e o desejo de Angélica tomassem sua mente, contudo, Matteo estava lá para apoiá-la e não soltou sua mão nem por um segundo sequer.
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  — Está pronta, amore mio?
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  A ex-herdeira respirou fundo.
  — Não, nem um pouco, nem para confrontar meu pai outra vez, nem para descobrir a verdade, mas você está aqui comigo, então vou ser forte.
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  — Questa é la mia ragazza mal-humorada! — comemorou Matteo
  Ao colocar o pé no jardim, Rosana percebeu uma enorme diferença, havia um carro de polícia ali estacionado e com as sirenes desligadas, o que significava que havia sido algo planejado, mas o que a polícia estaria fazendo na residência de um dos maiores empresários do país?  Se lembrando das notícias, Rosana engoliu seco, tinha uma vaga ideia.
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  Sua dúvida não durou muito tempo quando Angélica atravessou a porta desesperada a seu encontro e a abraçou.
  — Rosana, que bom que você está aqui! E com o Matteo! Senti tanto a sua falta.
  — Eu também senti, docinho, mas o que aconteceu? Por que tem um carro de polícia parado no jardim? Está tudo bem?
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  A pré-adolescente que apesar da pouca idade já tinha maturidade suficiente para entender o que estava acontecendo disse:
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  — Se eu te contar não vai acreditar, mas veja por si mesma.
  Logo em seguida, da porta, saíram dois policiais carregando um Gumercindo algemado.
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Capítulo 20

  Rosana engoliu seco diante da imagem do homem que sempre foi alvo de sua admiração, agora preso por algemas de ferro. Ele não queria olhar fundo nos seus olhos, pois haveria um misto de decepções, conflitos e inúmeras perguntas, contudo, era seu pai, não pôde evitar. E pela primeira vez, Gumercindo não exibia uma feição confiante, poderosa, mas sim, medo, angústia e frieza.
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  Curiosa por entender toda a história, a jovem indagou um dos policiais:
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  — É… me desculpem, eu sou Rosana a filha mais velha dele, o que está acontecendo?
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  Sem soltar o braço do poderoso empresário, o homem da lei explicou:
  — Nós estamos investigando seu pai há algum tempo. Por inúmeros crimes, incluindo liderança de atividades relacionadas a máfia italiana em nosso país.
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  Rosana não escondeu a surpresa, ao mesmo tempo em que percebia as peças se encaixarem, seu pai nunca a havia deixado entrar de forma completa na empresa e mesmo quando ela estava na presidência interina, o pai comentava sobre questões que só poderiam ser resolvidas por ele mesmo, o que ela até achava estranho, mas por estar cega de admiração, não deu a devida importância. Então, anos atrás, quando conheceu o pai de Matteo, provavelmente não havia ido à Itália por acaso ou de férias, como queria que todos acreditassem, mas sim a negócios.
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  Eram tantas informações novas ao mesmo tempo… porém uma que ainda permanecia nas sombras fazia o coração de Rosana doer, então, reunindo toda a coragem que possuía dentro de si e segurando a mão do italiano de olhos brilhantes, indagou:
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  — E essas atividades, incluem assassinato? — Ela se preparou para a resposta que poderia a destruir.
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  — Não diretamente, mas sim, o mandato do assassinato de Bartolo Bartistelle.
  Matteo sentiu o sangue esquentar, queria dar um soco naquele homem maldito que havia arruinado sua família e lhe tirado o pai, ali mesmo, fazer justiça, contudo, se controlou em respeito a Rosana.
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  A jovem herdeira novamente começou a juntar os fatos em sua mente, porque seu pai teria mandado matar Bartolo, provavelmente o italiano quando veio trabalhar aqui, acabou chegando perto de descobrir as atividades ilegais do sócio e se tornou uma pedra no sapato,  Gumercindo por consideração ao amigo não queria eliminá-lo a princípio, porém precisava tirá-lo do caminho, o acusando de roubo, para que fosse preso e descredibilizado, porém Bartolo fugiu para a Itália e poderia contar tudo, então precisou ser assassinado. Deus, como ela pôde ter admirado um homem tão perverso?
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  Matteo, ainda ansiando vingar o pai, indagou:
  — E ele ficará na cadeia para sempre por ter assassinado il padre, non?
  — Não para sempre, mas sim, mandado de homicídio somado mais as acusações de lavagem de dinheiro e colaboração com atividades de tráfico da máfia lhe renderão sim um bom tempo atrás das grades — informou o policial.
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  Lavagem de dinheiro, tráfico, céus, a empresa que Rosana tanto sonhava em assumir, por pensar ser um lugar íntegro, na verdade escondia uma face oculta e sombria repleta de crimes. Só lhe restava uma pergunta.
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  — E como conseguiram prendê-lo agora?
  — Recebemos uma denúncia anônima que nos encaminhou provas concretas mais do que suficientes para emitir o mandado.
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  A garota de cabelos castanhos não teve dúvidas sobre quem havia sido a responsável. Naná, talvez no fim das contas aquela secretaria não fosse tão ruim.
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  — Bom, agora que tudo está esclarecido precisamos ir.
  Então, os dois policiais encaminharam Gumercindo até o carro, o empresário partiu sem dizer uma única palavra ou sequer encarar as filhas por uma última vez.
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  Sem pensar, Rosana se jogou nos braços de Matteo e os dois caíram nas lágrimas.
  — Me desculpa meu amor, eu nunca poderia imaginar que meu pai seria capaz de tamanhas atrocidades, em pensar que eu acreditei que sua família fosse de ladrões.
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  — Non hai que se desculpar amore mio, olha para mim! Tu no hai culpa de nada.
  — Mesmo assim, eu quero fazer algo, para pelo menos tentar recompensar um pouco do mal que meu pai fez… — afirmou ela entre soluços.
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  — Tu já hai fatto trazendo alegria de volta a minha vida.
  Em meio a aquele caos, a jovem abriu o sorriso diante da declaração do amado.
  Angélica, por sua vez, se encontrava calada até aquele momento, uniu-se aos dois no abraço e também permitiu que as lágrimas caíssem.
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  — Eu também não consigo acreditar, quer dizer, minha mãe morreu por minha causa e agora descubro que meu pai é um criminoso, minha família está arruinada. — A pré-adolescente, assim como irmã mais velha, sentia sua voz sair entre soluços.
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  Novamente exercendo seu papel de figura materna e por seu amor incondicional pela irmãzinha, Rosana a beijou na testa e a abraçando afirmou:
  — Não, meu docinho, você não está sozinha, ouviu, eu sempre estarei aqui para você
  — Ache Io estare! A partir de agora você pode contar sempre com noi due! Nostra piccola ragazza! — Matteo se juntou ao abraço no qual os três permaneceram por algum tempo, tentando curar as feridas, as deixando para trás e pensando no futuro.
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  Dias depois, Rosana se encontrava diante da mesma porta pela qual havia entrado semanas antes, quando pensava que seu futuro estaria ali, com a expansão dos negócios daquela empresa que apesar dos lucros não havia trazido nada de realmente bom para sua família. Todavia, naquela manhã ela se encontrava ali não para assumir o poder ou apresentar novamente projeto, mas sim para encerrar um ciclo.
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  — Scusa signorina, vorrei um café?
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  Ela se virou se deparando com o amado segurando um copo de bebida quente.
  — Ah, você é novo por aqui, não é? — brincou. — Gratze vou aceitar sim, até porque dessa vez não estou com nenhum computador no qual corro o risco de derrubá-lo! — Ela pegou o copo antes de beijar o italiano de olhos brilhantes.
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  — É melhor Io entrar porque non posso entrar junto da presidente em exercício mesmo que ela seja la raggazza  piu l bella del mondo!
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  Ele deu um beijo na testa de Rosana antes de desejar.
  — Buona sorte, amore mio!
  — Gratze!
  Dessa vez, se sentindo muito mais confiante, Rosana entrou na sala na qual se encontrava diante dos mesmos acionistas que haviam negado seu projeto e a visto bêbada naquele restaurante apenas algumas noites atrás, contudo ela não se importava mais com a opinião daqueles homens engravatados que provavelmente estavam envolvidos em negócios tão sujos quanto seu próprio pai.
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  — Muito bem, senhores, vocês devem estar se perguntando por que convoquei essa reunião. —  Sua voz saiu firme e dessa vez sem um pingo de medo.
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  — Suponho que seja para nos informar sobre seus planos à frente da empresa, afinal você pretende assumi-la, não é? — comentou o acionista mais antigo como se não a tivesse ofendido dias antes.
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  — Na verdade…. — Rosana começou se movimentando pela sala. — Eu vim informar a vocês que estou abrindo mão das minhas ações e colocando à disposição para a venda.
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  Todos se encararam tentando entender
  — O quê? Mas essa empresa é sua por direito, sua família tem sido a sócia majoritária e ocupado a presidência desde a fundação.
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  — É, mas se for para lidar com mentiras e ter que passar pano para a falcatrua de vocês, então… a partir de agora qualquer um de vocês pode se tornar o sócio majoritário e presidente, adquirindo minhas ações, então boa sorte e espero que até nunca mais!
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  Matteo foi o único naquela sala a abrir um sorriso, enquanto todos os outros continuaram a se encarar confusos, porém logo a ambição falou mais alto e se iniciou uma discussão sobre quem merecia o cargo e adquirir as ações colocadas à venda pela herdeira.
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  Do lado de fora da empresa, Matteo foi ao encontro da amada cheio de elogios.
  — Bravo, amore mio, você colocou aqueles “maledetos” no lugar deles.
  — Então, dessa vez eu não fui uma piada? — Ela cruzou os braços, fingindo estar séria.
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  — Você nunca vai esquecer isso, non é?
  — Bom, tem certas maneiras que você tem de fazer esquecer…
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  — Com piacere!
  O casal, então, juntou os lábios num beijo apaixonado.
  — Ah, antes que eu me esqueça, tenho uma surpresa para você lá no apartamento! — afirmou Rosana com um sorriso malicioso.
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  — É vero? Mal posso esperar!

  Em frente à porta daquele que, apesar de inusitado, se tornou para a Rosana um lar como aquela mansão gigante nunca havia sido, a jovem estava radiante.
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  — Muito bem, antes de entrarmos eu quero dizer que o que está aí dentro é algo do qual você sentiu muita falta, eu acabei de abrir mão do meu cargo e colocar a mansão à venda, mas isso não significa que eu não usei o cargo de presidente em exercício para conseguir certos benefícios…
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  — Do está falando, amore mio? — Matteo não escondia a curiosidade.
  — É só abrir a porta!
  Ao girar a maçaneta, Matteo levou um susto ao se deparar com dona Leonora e Paola à sua frente.
  — Mama, Sorella, non acredito!
  — Filho mio, quantas saudades! — exclamou Leonora correndo para abraçar o primogênito.
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  — Ma como?
  — Rosana nos ho ligado dizendo que tinha conseguido las passagens através del cartão corporativo da empresa — explicou Paola também abraçando o irmão. — Matteo, questa ragazza é incrível non a deixe escapar.
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  — Nunca.
  — Aliás eso é algo que eu e a Angélica concordamos, quella ragazzina te adora.
  — É verdade, eu contei a história toda para a Paola e nós duas concordamos que vocês perderam tempo demais brigando..
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  — Tenho il  presentimento que Angélica e Io seremos grande amigas! — afirmou Paola, se aproximando da irmãzinha de Rosana.
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  — Isso nós duas também estamos aqui para garantir que vocês nunca irão se separar!
  — Quanto a isso vocês podem ficar despreocupadas! — afirmou Matteo com os olhos cheios de água antes de virar para a amada e a fitar com admiração.
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  — Rosana, Io non se o que dicere!
  — Ah, amore, não precisa falar nada, era o mínimo que eu podia fazer, reunir sua família de novo depois de meu pai a ter destruído… — lamentou.
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  — Ei, olha que belo o que você fez! — Ele apontou para Angélica, Paola e Leonora rindo no canto da sala. — Questo é molto bello e Io non tenho dúvidas que teremos um futuro maravilhoso pela frente.  Allora, vamos esquecer o passado e deixá-lo no passado.
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  — Cierto, mas então, falando de futuro, eu sei que você adora dizer que nesse apartamento sempre cabe mais um, porém se vamos mesmo morar todos juntos, podemos ficar um pouco desconfortáveis. Quer dizer, eu sei que nossas irmãzinhas já viraram melhores amigas, mas seria incrível se cada uma pudesse ter o seu quarto…
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  Matteo já conhecia a amada bem o suficiente para saber que ela tinha uma ideia.
  — No que está pensando, amore mio?
  — Bom, nem eu nem a Angélica estamos dispostas a voltar para aquela antiga mansão que só nos traz lembranças ruins e eu já achei um comprador para ela, então pensei, por que não usar parte do dinheiro para reformar aquele chalé que você gostou tanto e aí como você também abriu mão da sua parte na empresa, podemos todos nos mudar para lá e quem sabe começar uma pequena plantação de café…
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  Matteo estava em lágrimas com a ideia de ter um novo lar depois que seu antigo havia sido arrancado de forma tão cruel .
  — Io vou adorar, nossa, Rosana, você é tan maravilhasoa, quer dizer, até algumas semanas atrás Io estava sem rumo, havia perdido ilmo padre, la casa mia, il casamento, ma agora graças a você Io tengo tudo que poderia desejar. Dios mio. Io te amo, Rosana e non quero esperar mais por isso preciso te perguntar. O que acha de ser a minha esposa?
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  A jovem caiu na risada.
  — Você está maluco? Eu também te amo Matteo, mas é melhor irmos com calma, quer dizer, vamos nos estabilizar primeiro…
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  — Tien ragione, amore  mio.
  — Mas eu aceito com muito prazer o título de namorada. E aí quem sabe em alguns meses a gente não pensa no próximo passo.
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  — Cierto, combinado, ma Io aposto que tu vai a ser mia moglie, especialmente depois das nottes que vamos passar ao ar livre no nostro futuro cafezal — ele sussurrou a última parte.
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  — Essa é uma aposta que eu faço questão de perder.
  Ela riu antes de se jogar nos braços do italiano de olhos brilhantes e beijá-lo  de forma apaixonada.
  Era engraçado pensar que há apenas algumas semanas Rosana jurava que seu futuro estava em um escritório corporativo, junto de seu pai, mas agora estava ela apaixonada e prestes a se mudar para um chalé. Como a vida dá voltas. Ela não tinha todas as respostas quanto ao que o futuro lhe reservava, porém ela tinha certeza que de alguma forma, ele estava ali, com sua irmãzinha e aquela nova família que estava prestes a adotar como sua, mas principalmente seu futuro estava ao lado dele, do italiano de olhos brilhantes que havia chegado sem mais nem menos para fazê-la enxergar que o melhor da vida não está em uma empresa milionária de café, mas sim no amor.
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Fim

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Lelen
Admin
5 meses atrás

Gente, fazia muito tempo que eu não ouvia falar de Terra Nostra, e mesmo assim eu não lembro direito do que se tratava, então estou aqui completamente sem saber o que vai acontecer direito HAHAHAHAH
Bora que eu quero att!

Lelen
Admin
4 meses atrás

Só quero dizer para Matteo: cala a boca, homem u.u
E a coitada da Rosana não tem um minuto de paz, né? Até aleatoriamente no cinema o rapazinho aí surge, quero só ver o que ele vai aprontar aí 🧐
Tô imaginando que é capaz de ele ser um amorzinho com todo mundo da família (inclusive conquistando a irmãzinha da Rosana) e acabar tirando a pp de louca, viu? aff
Começa logo a parte bonitinha pra eu não querer socar ainda mais a cara bonita do Matteo, sim? KASDNASPODNP

Lelen
Admin
4 meses atrás

Ok, o moço não é tão ruim assim, admito.
Mas veja vem, Matteo, tinha outras formas de manter os seus interesses sobre os negócios além do que foi feito.
No entanto, você tratou a irmã mais nova dela de forma boa e ela gostou de você, então vou aceitar e confiar no julgamento da Angélica. Esperando o momento que Paola vai surgir e essas duas vão aprontar todas juntas HEHEHEHEHEH

Lelen
Admin
4 meses atrás

Tá, agora eu tô esperando o mal entendido ser sanado porque detesto amigos brigando.
E Matteo, eu te disse que tu tinha outras formas de apresentar o seu ponto de vista sobre suas dúvidas e receios em trabalhar com outros tipos de produtos na empresa. Agora fica aí, sonhando acordado com a moça que tu ofendeu. Fica aí a lição, homem.
E tô esperando o momento que a irmã mais nova dos dois vão aprontar juntas, bora!

Kelsea
Kelsea
4 meses atrás
Reply to  Lelen

Pois é, será que o mal entendido vai se resolver. Verdade, o Matteo foi muito precipitado, agora fica aí apaixonado enquanto a Rosana não quer ver ele nem pintado de ouro. Será que v aí Angélica e Psola juntas??? Só aviso que ia ser o caos kkkkkkk

Lelen
Admin
4 meses atrás

Ai, esse mal entendido que não se resolveee. Imagina que maravilhoso ia ser se não tivesse a parte do “ladrão” no Matteo? Eu preciso ver Paola e Angélica juntas, gente, já tô imaginando as coisas que elas vão aprontar HAHAHAHAHA
O que o casal vai fazer no próximo capítulo, hein? Mais provocações? Uma conversa civilizada? Ficamos no aguardo <3

Kelsea
Kelsea
4 meses atrás
Reply to  Lelen

Pois é, a Rosana tem que descobrir logo que o pai do Matteo não teve culpa. Siiim vai ser muito icônico o encontro dessas duas!!! O que será que eles vão aprontar nos cafezais kkkkkk?

Lelen
Admin
3 meses atrás

Ai, meu santo Deus, alguém revela a verdade verdadeira dessa amizade dos pais dos pps que o negócio tá difícil
Será se agora a Rosana vai dar trégua pro Matteo e tentar ser amiga de verdade? Será se? :O
Eu jurava que a ex do Matteo tinha morrido, mas foi um divórcio, hum? Que rolou?

Kelsea
Kelsea
3 meses atrás
Reply to  Lelen

Siiim, calma que logo a verdade vai vir. Será que vai surgir uma amizade, ou algo mais? Poisé, o Matteo se separou, logo também vai ser explicado!

Lelen
Admin
3 meses atrás

Achei que ia sair a cena que a gente tava esperando, mas o senhor Antenor chegou e não deixou ☹️
Mas ok, tenho expectativas para esse fim de semana no chalé. E quem sabe essa festa junina não tem uma barraca do beijo, né? HEHEHEHEH
Pelamor vocês dois, se acertem logo, por favor, obrigada, de nada.

Kelsea
Kelsea
11 meses atrás
Reply to  Lelen

Pois é, né? O Antenor estragou tudo!!! E sim não posso dizer mais, porém o fim de semana no chalé vai ser bom!

Lelen
Admin
3 meses atrás

Esses dois, hein? Se arranjem logo e vão ser felizes pelamooooor!
Quero só ver o que vai rolar nessa festa junina + vinhos. Tá pensando que engana quem, dona Rosana? A Angélica que não é HAHAHAHH

Kelsea
Kelsea
3 meses atrás
Reply to  Lelen

Hahahs pois é né? A Angélica pode ser novinha mas não é bobaSó digo que o final de semana promete kkkkk

Lelen
Admin
2 meses atrás

Vamos embebedar o italiano e fazer ele dizer que amou o projeto sim HAHAHAH
E será se finalmente vai rolar o beijo entre eles? hmmm???

Kelsea
Kelsea
2 meses atrás
Reply to  Lelen

Kkkkkkk isso mesmo!!! Será que vem aí???????👀👀

Lelen
Admin
2 meses atrás

FINALMENTE SAIU ESSE BEIJOOOO!
Posso ter a esperança que logo mais esses dois vão se acertar ou ainda tem muita novela pela frente antes deles ficarem juntos? KKKKRYING
Anda gente, não estraga meu shipp!

Kelsea
Kelsea
2 meses atrás
Reply to  Lelen

Siiiim! Finalmente!!! Aleluuuia, mas será até eles vão se acertar??? Só digo que já planejei vários capítulos ….

Lelen
Admin
2 meses atrás

Mas a consciência tem que aparecer, né? Não podia se deixar levar pela bebida e ser feliz por uma noite, né?
Olha, vou te contar, quando a consciência tem que vir ela não vem, agora que tava tudo ok, não tinha nada que aparecer…

Kelsea
Kelsea
2 meses atrás
Reply to  Lelen

pois é né Rosana? Não podia ser feliz e seder as vontades do coração por pelo menos uma noite…

Lelen
Admin
1 mês atrás

Ai, gente, por favor, juntem logo a Angélica e a Paola EU SÓ TÔ VENDO A OPERAÇÃO CUPIDO QUE AS DUAS VÃO APRONTAR ASHIODAISDNAOIDNO

Kelsea
Kelsea
1 mês atrás
Reply to  Lelen

siiiim!!!! será que vem ai??

Lelen
Admin
1 mês atrás

Gente, até eu fiquei confusa e ofendida com essa postura de início de capítulo por parte do Matteo. Esses dois tentando fingir que já não se gostam, aff.
E agora com a musiquinha lenta, DANCINHA AGARRADINHOS <3

Kelsea
Kelsea
1 mês atrás
Reply to  Lelen

Pois é né? Imagina a Rosana… ah maus a dança lenta vai fazer eles admitirem sim senhor!!!

Lelen
Admin
1 mês atrás

Mas que pai! Ninguém merece, senhor Gumercindo. A hora que perder a filha brilhante o senhor vai se arrepender amargamente, espero que entenda isso antes de ela realmente sair da sua vida e decidir ser feliz.
E OLHA AÍ, O SEGUNDO BEIJO VEIO, apesar de ter sido um grande “cala a boca”, a gente finge que não percebeu e tá tudo bem.

Kelsea
Kelsea
1 mês atrás
Reply to  Lelen

kkkkk pois é, Gumercindo merece o prémio de pior pai, tanto para a Rosana quanto para a Angélica. Siiim o segundo beijo veio, tudo bem que o Matteo queria que ela parasse de gritar, mas no fundo ele queria beijar ela de novo também kkkkkk

Lelen
Admin
21 dias atrás

Ooown! E venha os momentos de felicidade, pelo amor de deeeeeeeus!

Kelsea
Kelsea
19 dias atrás
Reply to  Lelen

Siiiiim que venha a felicidade!!! Agora ela vem!!!!

Lelen
Admin
4 dias atrás

E finalmente veio aí o final feliz!
Gumercindo era o vilão esse tempo todo, mas veja só. Por isso ele não queria largar o osso e estava colocando tanto obstáculo pra Rosana assumir de vez o cargo dela.
E FINALMENTE ANGÉLICA E PAOLA SE ENCONTRARAM, essas duas ainda vão aprontar muito juntas, eu sei que vão HAHAHAHA
Eu já estou me adiantando e imaginando Leonora sendo vovó coruja de mini Matteos e mini Rosanas, e as crianças brincando no quintal do chalé HASIOAHSOSNAIOSO

Kelsea
Kelsea
3 dias atrás
Reply to  Lelen

Exatooooo, ele não queria deixar a filha descobrir suas falcatruas. Siiiim veio ai o encontro de milhões!!!!! Pois é elas bão aprontar muuitas kkkkkkk e garantir que nosso casal nunca se separe!!!! A Leonora com certeza seria mesmo uma avó super coruja !!!! Ahhhh que será que vem ai os mini Matteos e as mini Rosanas?


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