1. TIME
Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
– Eclesiastes 3:1
Seoul, outono de 2015
O dia amanheceu sendo contemplado pelas folhas alaranjadas das árvores que caíam pelo chão da cidade, uma brisa suave do início da estação dos corações solitários, segundo alguns. Contudo, para o jovem que corria pelas estreitas ruas de
Bukchon Hanok Village, cada segundo daquele dia era precioso, pois os homens de terno preto e óculos escuros que o perseguiam tinham ordens expressas para caçá-lo e recuperar o objeto que não lhe pertencia.
Bem distante dali, localizada ao sul da região de Hongdae, a cafeteria
Miss Coffee já se encontrava bem movimentada logo cedo. Após levar mais uma repreensão da gerente Kim, enteada do dono, por chegar atrasado mais uma vez, o atendente e barista Park , se apressou para colocar o avental e já iniciou seu dia de trabalho no preparo do primeiro café do dia, sendo considerado a especialidade da casa, o consagrado Macchiato de canela com baunilha e essência de rosas. O pedido era para a mesa 4, em que uma bondosa senhora de cabelos grisalhos, mantinha o olhar distraído na vidraça observando os carros passando na rua. Ao terminar o preparo, o jovem rapaz seguiu para a mesa da senhora e a serviu com um sorriso agradecido no rosto.
— Bom apetite, senhora, se precisar de mais alguma coisa, estarei perto para atendê-la — disse ele, ao servir a senhora e se afastar da mesa.
Naquela sexta-feira, ele completava três anos trabalhando ali e se sentia abençoado por ter conseguido um emprego tranquilo, após todo o esforço que teve para se formar no ensino médio, afinal, a grande cidade de Seoul ao mesmo tempo que tinha oportunidades também tinha suas ruínas. Para um rejeitado de nascimento que passou parte de sua infância em um orfanato e outra parte em lares temporários, ter um emprego e uma kitnet para morar em sua vida adulta foi mais do que pode imaginar ou ambicionar para si.
— Park — o dono da cafeteria chamou o rapaz pelo sobrenome.
— Sim, senhor Han. — Ele se aproximou do homem com o olhar atento.
— Vi que chegou atrasado mais uma vez, já conversamos sobre isso — disse o homem, no seu tom gentil e sereno. — Sempre que precisar se atrasar, nos avise, assim a Kim não fica louca estando sozinha com os novatos e te repreende por isso.
— Me desculpe, senhor Han. — Ele manteve o olhar baixo, envergonhado por aquilo, pois não gostava de trazer preocupações ao chefe. — Foi realmente uma urgência, mas garanto que irei avisar da próxima vez.
Realmente, para Park, não havia sido planejado o atraso, porém, logo ao amanhecer recebeu uma ligação estranha de seu amigo, Charlie, pedindo para que buscasse uma encomenda em uma relojoaria específica, cujo endereço ficava do outro lado da cidade. No final, ao chegar no local, havia descoberto que o amigo já havia resgatado o objeto, o fazendo perder seu tempo no deslocamento.
— Só lhe digo isso para que não crie problemas com a Kim — explicou o homem.
— O senhor tem certeza que ela é da família? — resmungou , num tom baixo, ao voltar o olhar para a mulher discretamente. — Ela não é gentil como o senhor.
O comentário arrancou uma gargalhada boba e espontânea de Han.
— Preciso sair mais cedo para buscar minha filha na fisioterapia — explicou o homem, antes de dar suas ordens. — Ajude a Kim a cuidar de tudo por aqui e fique de olho nos novatos, não quero eles comendo as tortas de graça.
— Sim, senhor. — Assentiu o rapaz ao bater continência em brincadeira, arrancando mais risos do chefe, então o observando se afastar. — Senhor Han.
— Sim? — O olhou prontamente.
— Está tudo bem com a sua Hani? — perguntou o rapaz, disfarçando sua preocupação.
Já se contavam duas semanas que o senhor Han JongHo se ausentava da cafeteria horas mais cedo para dar assistência à filha.
— Sim, são apenas exercícios de rotina, agradeço a preocupação, mas volte ao trabalho. — A voz dele soou um pouco mais séria e fria.
— Sim, senhor — sussurrou o rapaz, abaixando o olhar.
Por mais que fingisse não notar, o senhor Han já tinha reparado no súbito interesse de seu funcionário do ano em sua filha, e vice-versa. Hani era sua filha única, do primeiro casamento com o grande amor da sua vida, sendo criada como uma princesa, com os melhores recursos para educação, e, com o mesmo desempenho, ele também havia adotado sua enteada Kim , posteriormente, no segundo casamento.
Como todo pai preocupado, ele sonhava com um bom casamento para ambas as garotas e, lá no fundo, mesmo admirando seu funcionário, ele rejeitava a ideia de aceitar um relacionamento de sua princesinha com alguém que não tinha nem onde morar direito. Entretanto, a garota aparentemente não se importava com os preconceitos da família e se permitia viver aquele romance parcialmente proibido.
Por um infortúnio, no verão passado, a jovem Hani havia se acidentado em uma de suas apresentações de balé, o que resultou em várias sessões de fisioterapia para fortalecer o tornozelo prejudicado, a raiz da preocupação de , que levou a perguntar sobre sua amada. Contudo, mesmo com a desaprovação do senhor Han e sua esposa, o romance escondido fluía entre o jovem casal.
— ! — Uma voz conhecida soou do canto próximo a porta de entrada da cafeteria.
Um homem com um moletom grafite com capuz que cobria parte do boné em sua cabeça, fazendo com que ambos escondessem parcialmente seu rosto, se encontrava à porta.
— Charlie?! — O olhar confuso e desacreditado do rapaz reconheceu o rosto do homem que o chamou pelo nome, se dirigindo até ele. — Que bom que está aqui, porque eu quero te matar… Ou melhor, só não te mato porque posso ser demitido depois.
— É claro que não vai matar seu único amigo de infância. — O outro riu de leve e adentrou mais o lugar, não se importando com os olhares que seguiam para ele.
— Primeiro você some no mapa por cinco anos, depois aparece do nada me pedindo um favor e quando eu chego na loja, você já tinha passado lá. — O tom de soou com repreensão, desconfiado do amigo. — É estranho te ver aqui depois de todo esse tempo.
Charlie tentou se mostrar o mais natural possível, ignorando por instantes a apreensão pela perseguição de mais cedo que quase custou sua vida. Se aproximando de uma das mesas e puxando uma cadeira, sentou com a pose normal, por fora parecia mesmo tudo bem, mas internamente o homem estava em nervos, morrendo de medo de ser pego pelos homens que o seguiam.
— Está tudo bem? — perguntou , percebendo a agitação no olhar do amigo, demonstrada em seus olhares para todos os lados e pelo bater de sua perna esquerda consecutivamente ao chão.
— Sim, eu estou. — Ele sorriu de canto e voltou o olhar para o lado, disfarçando.
— Charlie, crescemos juntos e somos praticamente irmãos, eu te conheço melhor do que sua mãe que me acolheu. — Insistiu , já se preocupando com o estado do amigo.
— Para ser honesto, preciso da sua ajuda — confessou o homem, voltando a olhar para ele.
— O quê?! Se for dinheiro, já adianto que não tenho. — foi honesto com o outro sobre sua realidade financeira.
— Não preciso de dinheiro, é outra coisa — pediu Charlie, sentindo-se estranho e mais agitado ainda por dentro. — Preciso esconder uma coisa importante.
De certa forma, ele conseguia sentir a aproximação dos homens que o seguiam.
— Calma, Charlie, eu não posso esconder drogas, se for o caso — retrucou , já temendo as roubadas do amigo.
— Não é isso, eu… — Ele respirou fundo. — Poderia me trazer um café?
— Você jura? — bufou um pouco, não conseguindo entender as variações de humor do amigo. — O que está acontecendo?
— Nada, apenas me traga um expresso, por favor — pediu Charlie novamente.
— Tudo bem. — assentiu, respirando fundo e se afastando da mesa, seguiu até o balcão para preparar a bebida.
No fundo, o jovem barista já imaginava que o amigo estava mais do que encrencado e temia que pudesse sobrar para ele, o atrapalhando no emprego. Entretanto, ele não podia negar ajuda a quem tanto lhe ajudou no passado, mas também não queria colocar em risco o pouco que conquistou em sua vida, principalmente pelos olhares atravessados de Kim para ele, como se desejasse cortar sua cabeça fora.
— Aqui está, acho que um café forte pode clarear sua mente — disse ao retornar à mesa e se deparar com ela vazia. — Para onde ele foi?!
— Park?! — O som da voz de Kim soou atrás do rapaz, lhe causando um frio na espinha como de costume. — Caso não se lembre das regras, é terminantemente proibido trazer amigos para a cafeteria, a menos que eles comprem e paguem.
— Eu sei, senhorita Kim. — O rapaz assentiu com o olhar baixo, se controlando para não lhe dar uma resposta grosseira.
— Que bom, pois este expresso sairá do seu salário — advertiu a mulher, com ar de satisfação pela consequência.
assentiu e, de raiva, tomou o expresso em uma golada, mesmo estando quente. Assim que a gerente se afastou, ele respirou fundo para voltar ao eixo da razão, e voltando seus pensamentos no amigo que havia desaparecido, voltando seu olhar para a mesa, notou que uma caixa de relógio havia sido deixada com um bilhete embaixo.
— Esconda-o para mim — sussurrou o rapaz ao ler o bilhete.
Pegando a caixa, abriu-a com cuidado e observou com mais atenção os robustos botões na lateral que pareciam ser os controladores dos ponteiros.
— Por que deixou isso, Charlie? No que se meteu? — sussurrou ao colocar a caixa com o relógio dentro no bolso do avental.
Yokohama, primavera de 1920
— Você está mais agressiva hoje — comentou o homem, ao parar o treino por um tempo para respirar e retomar o fôlego.
Ele sentou-se ao chão, colocando seu shinai, uma espada de bambu feita para se praticar aquela luta, do lado e observou-a o encarando por alguns instantes. A jovem mulher à sua frente estava com os olhos repletos de fúria que precisava ser extravasada. Nada melhor que o habitual treino de Kendo com um velho amigo para suprimir as inquietações e clarear os pensamentos, e assim conseguir cronometrar seu tempo e corrigir os erros cometidos por terceiros.
— Corrigindo, estou mais concentrada — disse ela, dando alguns passos até a porta de passagem para o jardim. — E você não deveria abaixar a guarda, Ichiro.
Seu olhar manteve-se fixo na sequência de árvores que compunham o espaço, todas cerejeiras recheadas de flores as quais considerava suas favoritas e que misteriosamente lhe transmitiam paz e serenidade. Respirou fundo para sentir o doce aroma das flores que o jardim exalava, lhe trazendo outros pensamentos inoportunos à mente, principalmente tratando de seu passado, presente e futuro.
— Hum… — O homem sorriu de canto ao levantar-se sorrateiramente em silêncio e pegando sua shinai, se impulsionou para em direção a ela.
Antes mesmo que a mulher pudesse ser acertada por ele, seu corpo se moveu com precisão com sua mão direita já erguendo o shinai e cruzando com o dele. O pequeno barulho causado, deu início a mais uma sequência de ataques e defesa por parte de ambos.
— Você está mesmo mais atenta! — comentou o homem ao tentar aplicar o Tsuki, um golpe caracterizado por uma estocada na garganta do oponente.
— Não me deixarei mais enganar — afirmou a mulher, segura de suas palavras ao se defender. — Minha falta de atenção custou alguns artefatos e um dos meus relógios está desaparecido, o que me deixa mais irritada.
— Ele ainda não abriu a boca? — perguntou Ichiro, forçando algum ataque dela.
— Não, mas acho que mais alguns dias na Memory fará ele dizer onde está meu relógio — respondeu ela.
A jovem deu um giro rápido e, com precisão, deslizou as mãos para transferir o Dô contra ele, um golpe deferido contra o adversário atingindo a região do seu abdômen. Ao sentir o impacto do shinai dela contra seu corpo, Ichiro deu alguns passos para trás sentindo um dolorido em sua musculatura. Seu olhar se voltou para a mulher, impressionado de como sua aprendiz estava ainda melhor do que ele.
— Minha malvada favorita, é assim que se faz — comentou ele, ao sorrir de canto, orgulhoso pela mulher que ela havia se tornado. — Sempre impiedosa, tanto aqui como lá.
Sim, impiedosa e sem coração.
Adjetivos em que todos a classificavam. A jovem diretora, conhecida como Lady Sakura, era a mulher mais imponente que a
Time After Time conhecia. A agência secreta trabalhava anonimamente para seletos clientes e detinha a mais geniosa e inexplicável tecnologia, e atualmente seguia sendo controlada por ela, que tinha sob vigilância todas as suas viagens e missões.
— Se ser impiedosa significa expurgar as emoções, que seja, eu sou impiedosa e não vou voltar atrás — disse ela, dando seu golpe final, derrubando seu oponente ao chão. — Sentimentos são para pessoas fracas.
— Se você diz. — Concordou ele, retirando do seu rosto o Men, o equipamento de proteção para a cabeça.
Ele manteve o sorriso de canto no rosto, assim como seu corpo ao chão, sentando novamente. Um longo suspiro, vindo por parte de Ichiro, fez seus olhos se voltarem para o braço dela, vendo nitidamente um relógio em seu pulso. Sakura retirou o Men de sua cabeça revelando seu rosto, os longos cabelos caíram sobre sua face, já tinha alguns meses que ela havia resolvido deixá-los crescer, entretanto, ainda não tinha revelado ao seu mestre.
— Terminamos por hoje? — perguntou ele, curioso pelos movimentos dela.
Ichiro a tinha salvado da morte no passado, após suas vidas se cruzarem repentinamente por uma missão que a jovem deveria cumprir. Uma rápida afeição surgiu por parte do homem, que logo a levou para o templo onde morava ao norte de Yokohama em meio às montanhas. Com isso, o lugar regado à tradição japonesa e sua reluzente arquitetura milenar, tornou-se refúgio da mulher.
— O dever me chama — disse ela, no seu tom firme e natural de falar, o olhar sereno, porém, seguro.
Internamente já se sentia mais equilibrada e pronta para voltar à rotina na diretoria, externamente ela mostraria aos seus subordinados que quaisquer imprevistos não conseguiriam deixá-la abalada.
— Vejo você mais tarde? — pergunto ele, mantendo o olhar para frente, assim que ela passou ao seu lado seguindo para a outra porta de acesso ao corredor para o pátio central.
— Talvez amanhã, no café — respondeu, precisamente.
Sakura continuou dando passos enquanto tocava com a mão esquerda no relógio em seu pulso direito. Ao apertar um dos botões laterais, um sutil soar rescindiu no lugar como o vento assobiando nos campos de arroz. Ichiro apenas virou com leveza a cabeça, se certificando que ela já havia desaparecido em um girar do ponteiro.
Ele sabia o que viria a seguir, afinal…
Ela era a Lady Sakura da
Time After Time…
E nenhum traidor iria roubar a agência e sobreviver à sua fúria, vivendo para contar a história.
I look at you and I see million stars
I am so glad you came and stole my heart.
– Beautiful Life / Now United
2. AFTER
Nós nos alimentamos do tempo
e o tempo se alimenta de nós.
– Autor desconhecido
Agência Time After Time
Algum lugar da Noruega, inverno de …
Para Lady Sakura, não existe terapia melhor que ficar sentada em frente a sua bancada de ferramentas, com toda a sua atenção voltada às partes dos relógios que consertava. A cada missão dos agentes do tempo, era necessário que a diretora da agência fizesse uma inspeção minuciosa nos objetos em questão.
— Milady?! — A voz da assistente Joy a despertou de sua concentração.
— Sim — disse ela, mantendo o olhar na minúscula peça que pegava para encaixar no relógio que montava.
— Ele está gritando na Memory — disse a mulher, se referindo ao prisioneiro que haviam capturado.
— Tirem-no de lá e o levem à sala de interrogatório — ordenou a diretora, finalizando a montagem do objeto em sua mão. — Irei em dez minutos.
— Aqui não existe o tempo, senhora — indagou a assistente, confusa pela colocação da mulher.
— Eu sei. — Lady Sakura voltou o olhar para ela, com um sorriso de canto no rosto, demonstrando estar satisfeita por mais um relógio em perfeitas condições.
Logo a assistente Joy assentiu com suavidade no olhar e se retirou do escritório. Sakura levantou-se de sua cadeira e se espreguiçou um pouco, algumas dores musculares ficaram mais evidentes, afinal, havia passado um longo tempo a portas fechadas concentrada em seu trabalho.
— Acho que preciso de um banho — sussurrou ela com um suspiro cansado depois, sabendo que teria um dia cheio de tarefas e estressante.
Apesar da agência se localizar em um ponto estratégico em que o tempo não afetava, seus trabalhos externos lhe demandavam muita energia que lhe causava desgastes. O momento que Sakura mais julgava precioso em seu dia era sim quando sentia a água quente tocar seu corpo em um banho relaxante e acolhedor. Um tempo que não permitia ninguém lhe tirar.
— Lady Sakura — disse o agente Jung, assim que avistou a diretora em frente à sala de interrogatório.
— Como ele está? — indagou ela, interessada na situação mental do prisioneiro.
— Como se nada tivesse acontecido — respondeu o homem prontamente. — Não sabemos o que ele fez, mas ele passou tempo demais com o relógio para descobrir como bloquear suas memórias.
A diretora respirou fundo ao ver pelo vidro de separação o homem sendo jogado na cadeira e preso por algemas pelos seguranças.
— Bom dia, Charles… — A voz de Lady Sakura fez o corpo do rapaz ter calafrios. — Estou feliz por sua presença aqui.
— Milady. — Ele forçou firmeza na voz, porém, seu olhar de medo era nítido.
— Vou lhe perguntar apenas uma vez. — Ela manteve seu tom autoritário e firme. — O que fez com o meu relógio?
— Por que me pergunta se sabe onde ele está? — retrucou Charles com ousadia. — Afinal de contas, a senhora sempre sabe de tudo.
Seoul, outono de 2015
— Olha só quem chegou no horário hoje. — O tom irônico de Kim, soou pela cafeteria, chamando a atenção de sua irmã que estava em uma das mesas próxima à vidraça.
— Bom dia, para você também, gerente Kim. — manteve seu tom baixo, deixando sua atenção se voltar para a pessoa que iluminava seu dia com apenas um sorriso.
— Pare de ser tão dura com ele, . — Hani manteve o sorriso singelo e meigo no rosto, enquanto o olhava. — Deveria ser grata por ter um funcionário que aguente seu mau-humor.
Hani riu baixo, fazendo o rapaz rir junto, porém com discrição. Já , revirou os olhos, pois não tinha paciência para aquele romance proibido de k-drama que a fazia vomitar. Kim conseguia ver com nitidez a sinceridade por parte dele, porém, conhecendo sua irmã, tinha suas dúvidas, já que em toda a sua infância, Hani sempre demonstrou certos traços de ambição e falsa modéstia. E agora, para a gerente da cafeteria, era um tanto quanto difícil imaginar que a irmã gostasse de verdade do funcionário sem família e dinheiro.
— Ele é quem deveria ser grato por ainda ter um emprego. — Kim, voltou sua atenção para a tela do computador. — E espero que hoje não venha nenhum amigo para tomar café de graça.
— Não saiu de graça, gerente Kim — retrucou ele.
— Mas é claro que não. — Ela voltou seu olhar para ele novamente, fria e inexpressiva. — Eu jamais permitiria.
Logo, se afastou do balcão e deu o primeiro passo para se retirar.
— Preciso conferir o estoque, então tome conta do caixa — ordenou, num tom mais suave e baixo.
bateu continência em brincadeira, arrancando algumas risadas de Hani, que esperou até a irmã desaparecer do seu campo de visão para enfim fazer seu comentário.
— Como você consegue trabalhar com a ? — indagou a garota, tentando imaginar como eram suas manhãs e tardes ali. — Ela é tão séria e mandona.
— Digamos que já me acostumei — brincou , piscando de leve. — Você não veio tomar café ontem.
— Sim… Eu precisei chegar mais cedo na fisioterapia. — Sua voz baixou o tom, assim como seu olhar, que pareceu triste de repente.
— O que aconteceu? — arrastou uma cadeira e se sentou próximo a ela, pegando sua mão para a confortar. — O que o médico disse?
— Que eu vou ficar bem, e que logo poderei retirar o gesso, mas… — A mulher tentou reprimir as lágrimas no canto dos olhos, chateada por sua condição física.
— Mas? — insistiu ele, já se preocupando.
— Não vou poder voltar a dançar — explicou Hani relatando as palavras definitivas do médico. — O acidente prejudicou uma das minhas vértebras, e mesmo conseguindo andar, não será como antes, terei que contar com o apoio de uma bengala e não vou poder dançar mais.
A primeira lágrima escorreu no rosto da menina, que de imediato foi acolhida por um abraço forte e carinhoso de . Ele sabia que não podia fazer nada por ela, e mesmo se houvesse alguma possibilidade cirúrgica, nem mesmo tinha dinheiro para si, quanto mais para ajudá-la.
— Eu lamento… Queria poder ajudar — sussurrou ele ao se afastar um pouco e limpar as lágrimas da moça com o guardanapo.
— Tudo bem, eu já estou me acostumando com a ideia. — Ela respirou fundo e forçou um sorriso. — A companhia me ofereceu uma vaga como professora na academia, pelo menos posso ensinar outras bailarinas.
— Não será a mesma coisa — disse ele num tom baixo, tendo o balançar da cabeça dela assentindo em concordância.
— O que importa é que de todas as pessoas que me conhecem, você foi o único além da minha família que não me abandonou — comentou Hani, mantendo a gratidão nos olhos. — Obrigada.
— Não precisa me agradecer, sabe o que sinto por você, Hani. — Ele voltou seu olhar para as mãos que seguravam as da moça. — Ainda que eu não possa me aproximar… Meu coração vai continuar inclinado a você.
O sorriso se manteve no rosto dela.
— Eu sei, e isso me deixa feliz… — Hani tocou de leve no rosto de , o fazendo olhá-la. — Tenho certeza que em breve meu pai vai se acostumar com a ideia, e finalmente poderemos ser um casal de verdade.
— Estou sonhando com isso… — O rapaz sorriu de volta, com certa timidez.
Em um momento de ousadia, se aproximou um pouco mais de Hani, até seus rostos ficarem a milímetros de distância. Por ter muito respeito pelo senhor Han, o rapaz nunca havia se aproximado tanto da mulher quanto naquele momento, o que fez seu coração acelerar ainda mais.
— Eu disse para cuidar do caixa. — Logo a voz de Kim cortou o clima do ambiente, fazendo-os se afastarem de imediato.
— Obrigada, Kim, por estragar nosso momento — disse Hani, ao virar sua atenção para a irmã.
— Deveriam agradecer que sou eu e não nosso pai. — Ela deu de ombros lançando o olhar de ordem para seu funcionário.
Assim que entendeu o recado, se afastou de Hani, piscando de leve para ela, e retornou a sua função. As mesas precisavam ser organizadas para que a cafeteria pudesse finalmente virar a placa da porta e ser aberta ao público.
Ao final do expediente, ficou alguns minutos no vestiário reflexivo pelo aparecimento repentino do amigo no dia anterior. Por mais que quisesse se esquecer, Kim estava sempre o lembrando do expresso que descontaria do seu salário da semana. Porém, sentado na banqueta, ao abrir sua mochila, avistou o relógio estranho que tinha jogado ali dentro no dia anterior.
— Havia me esquecido de você — sussurrou ele, ao pegar o objeto e tirar da mochila. — Por que tem tantos botões? E por que o Charles te deixou para trás?
Muitas perguntas invadiram sua mente, até que sentiu estar sendo vigiado. Levantando sua cabeça, percebeu Kim na entrada do vestiário com seus olhos fixos no objeto em sua mão.
— Deseja alguma coisa? — indagou ele, guardando rapidamente o relógio de volta na mochila.
— Apenas vim buscar minha bolsa — respondeu ela, disfarçando sua curiosidade e mantendo a seriedade em sua voz. — Já que ainda está aqui, apague as luzes quando sair.
— Sim, senhora. — Assentiu , apenas observando-a pegar o que havia ido buscar e se retirar novamente.
Um suspiro profundo e o rapaz se levantou da banqueta, ajeitando a mochila nas costas. Toda a volta para casa, ele se sentiu incomodado pelo silêncio de Kim na porta do banheiro e seu olhar curioso para o relógio. Ele sabia que a gerente chata e mal-humorada tinha um hobbie peculiar de colecionar relógios de diversos tipos.
— Acho que preciso de férias. — Ele riu baixo, ao adentrar sua kitnet. — Me sinto cansado…
Jogando sua mochila no sofá, continuou seguindo até o banheiro para tomar uma ducha e finalmente relaxar o corpo. Por mais que estivesse precisando de uma boa e longa noite de sono, havia passado algumas horas com sua atenção voltada ao relógio que segurava em sua mão. Tentava entender o motivo que levou o amigo a deixar o objeto sob seus cuidados, além de não conseguir esquecer o olhar preocupado que Charles mantinha se atentando ao que acontecia em sua volta.
Será que havia roubado de alguém, ou mais uma vez se meteu em dívidas de jogo? Um longo suspiro e o rapaz finalmente soltou o objeto colocando na mesa de cabeceira, se espreguiçando um pouco e levantando da cama para se aproximar da janela que deixou aberta. Mesmo no frescor do outono, sua minúscula kitnet ainda lhe transmitia a sensação de quente e abafada, talvez pela localização ou pela noite não ter nenhuma brisa. Parecia que as árvores e o tempo não se moviam como deveriam.
— Que estranho… — sussurrou ele, ao observar um carro parado do outro lado da rua.
Vagamente com a sensação de o ter visto próximo à relojoaria quando foi buscar a encomenda do amigo, e mais ainda, quando encerrou seu expediente na cafeteria. O rapaz esfregou os olhos com as mãos e balançou a cabeça, talvez estivesse cansado demais para ficar vendo coisas e inventando teorias da conspiração em sua cabeça. Mais um espreguiço, ele retornou à cama e novamente pegando o relógio, o escondeu debaixo do travesseiro antes de se render ao sono.
O restante das horas de sono foi tranquilo inicialmente, até que um vento frio adentrou a janela, chegando até a cama. logo acordou e sentiu-se estranho, como se estivesse sendo vigiado. Antes mesmo que o rapaz pudesse assimilar o que estava acontecendo, foi repentinamente atacado por um homem encapuzado.
— Onde está o relógio? — indagou o homem com o tom rude e ríspido, enquanto tentava estrangulá-lo.
— Quem… é… você? — se debateu em cima da cama, tentando se soltar do homem para se salvar.
Em instantes de agonia, o rapaz conseguiu impulsionar de leve seu corpo para alcançar o abajur ao lado, o lançando na cabeça do homem, aquilo o tonteou segundos suficientes para que pudesse derrubá-lo no chão e pegar o relógio embaixo do travesseiro para sair correndo.
Sem entender o motivo daquele ataque e menos ainda o porquê de o homem estar atrás do relógio, continuou correndo pelas ruas sem direção certa para onde ir. Temendo colocar mais alguém em risco pelas loucuras do amigo, descartou a possibilidade de bater na porta do senhor Han e continuou seguindo em direção contrária. Quanto mais ele corria, mais sentia que estava sendo seguido por mais pessoas.
— O que aconteceu?! — sussurrou ele, ao parar por um momento e respirar fundo.
Segurando o relógio em sua mão, olhou para ele tentando digerir tudo o que tinha lhe acontecido em um curto espaço de tempo. Após um breve momento contemplando a beleza do objeto em seus mínimos detalhes, por curiosidade, ele apertou um dos botões laterais. Algo que o rapaz nunca imaginou viver lhe aconteceu ao ser transportado misteriosamente pelo relógio para rua lateral do prédio onde morava.
Inicialmente, sentiu-se zonzo pela viagem, porém, ao perceber onde estava, sua mente ficou ainda mais confusa por não entender como tinha aparecido ali. Logo, sua atenção se voltou para frente avistando três homens de terno preto virando a esquina e o identificando. Dois passos para trás, tentando não se desesperar e já pensando em como sairia daquela situação, o rapaz sentiu uma mão segurar seu pulso e o puxar para correr na direção contrária.
— Apenas corra! — A voz de Charles o fez sentir um pouco mais de alívio mesmo diante do perigo.
Certamente pelo amigo ter voltado, mesmo também estando com a cabeça a prêmio. Correndo mais alguns quarteirões, sem saber a direção certa, sentiu-se cansado e parou.
— Charles, no que se meteu?! — perguntou ele, retomando o fôlego.
— Me desculpe, irmão, não queria te colocar nessa, mas é o único em quem confio — respondeu ele, com o olhar temeroso. — Onde está o relógio? Você está com ele, não é?
— O que tem nesse relógio? E como eu apareci na rua de casa se estava do outro lado da cidade?! — indagou , com sua mente fervilhando de perguntas e surtos.
— Eu não posso te explicar agora, mas preciso te tirar daqui. — Charles pegou o objeto da mão do amigo e deu dois giros no botão superior.
— O que está acontecendo? Como viemos parar aqui? — Novamente em surtos internos, indagou ao outro rapaz. — Somos amigos, irmãos, me explica em que você nos meteu.
— Esse relógio é especial, ele pode nos fazer viajar no tempo ou nos transportar para qualquer outro lugar da terra em nosso tempo — o amigo foi explicando em poucas palavras, ainda concentrado no objeto em sua mão. — Eu roubei ele de um lugar chamado
Time After Time…
Charles ergueu o olhar para o amigo.
— É de suma importância que ele não volte para a sua dona — disse ele, com o olhar desesperado — ou ela vai me matar.
— Ela quem? — estava confuso e ainda incrédulo pelas palavras do amigo.
— Lady Sakura — respondeu o outro, engolindo seco, ao se lembrar da frieza da mulher. — A diretora da agência.
— Charles… — avistou os perseguidores novamente alertando o amigo.
O homem que estava no centro já levantou a arma, apontando para eles. Em um piscar de olhos que o som da arma denunciou o disparo, Charles apertou o botão do relógio em sua mão e colocou rapidamente na mão do amigo, o transportando para outro lugar. Como a passagem do ponteiro de um segundo para o outro, apareceu no depósito da cafeteria onde trabalhava.
— Charles… — sussurrou ao olhar ao seu redor e ver que o amigo havia ficado para trás. — O que está acontecendo?!
O olhar dele voltou-se para o relógio em sua mão mais uma vez, a bala havia acertado o objeto, quebrando o vidro protetor, levando assim a perda do ponteiro maior que marca a hora. De repente, o barulho de trovão soou do lado de fora do edifício e o som da chuva pôde ser ouvido, algumas vozes foram surgindo no corredor, funcionários novatos que tinham sido convocados para limparem a cafeteria antes do turno iniciar.
— Quero todos concentrados em manter este lugar o mais limpo e impecável possível. — A voz de ordem de Kim, era inconfundível.
No susto do girar da maçaneta na porta, voltou sua atenção para o relógio e deu algumas voltas no segundo botão, sem ao menos entender o que estava fazendo. No mesmo instante que a porta se abriu, o botão do relógio foi acionado o transportando para o lugar menos esperado por ele.
Com algumas tossidas e sentindo o coração acelerado, o rapaz se deu alguns instantes para colocar sua mente em ordem e não enlouquecer no processo, até que um carro literalmente desgovernado passou por ele, capotando em seguida. No impulso para ajudar a vítima ele deu impulso para correr até o carro, que havia parado de cabeça para baixo. No trajeto, por uma fração de segundo, o olhar de voltou-se para o lado, permitindo-o ver um rosto conhecido caminhando na direção contrária, com o olhar sereno transbordando tranquilidade.
— Gerente Kim — disse ele, num tom baixo, porém no volume necessário para que ela também ouvisse.
Entretanto, a garota continuou caminhando, pois sabia que ele iria atrás dela.
O tempo é tão cruel.
– Spring Day (봄날) / BTS
3. TIME
Você pode ter todo o dinheiro do mundo,
mas nunca vai conseguir comprar o tempo.
– Autor desconhecido
Seoul, primavera de 2014
— Gerente Kim… — disse mais uma vez, ao alcançá-la. — O que faz…
O olhar do rapaz se voltou novamente para o carro e prestando mais atenção finalmente reconheceu a placa. Era o carro do senhor Han, o mesmo em que sua doce Hani havia sofrido o acidente. Aos poucos, as peças do quebra-cabeças começaram a se encaixar, o relógio em sua mão que o levava para lugares precisos pertenciam a mulher que seu amigo havia mencionado. E esta mulher era a gerente Kim, o que explicava seu olhar fixo no objeto, quando ela o encontrou no vestiário na noite anterior.
— É você, não é?! — indagou ele, ainda recuperando seu fôlego e sentindo sua cabeça girar com tanta informação. — A dona desse relógio.
— Você é esperto, mais ainda que seu amigo — comentou ela, mantendo seu olhar suave, uma expressão incomum para ele, pois apenas conhecia seu lado mal-humorado.
— O que você fez com o Charles? — se viu preocupado com o amigo, ao se lembrar do último segundo que o viu ao ser salvo por ele.
— Seu amigo roubou um artefato precioso para a agência em que trabalho, e ao levá-lo na cafeteria, acabou me vendo e me reconhecendo, por isso ele fugiu — explicou ela, com serenidade mantendo o tom firme — somente não sabia que ele havia deixado o meu relógio com você…
— Mas quando eu estava no vestiário… — O rapaz iniciou sua reflexão.
— Sim… Foi exatamente neste momento. — Assentiu ela.
— Por isso mandou pessoas para me matar?! — retrucou ele, com a expressão de revolta e perplexidade.
— Não — negou ela, com segurança —, a única ordem foi para recuperar este relógio, mas é claro que eu não era a única pessoa atrás do seu amigo. Ele foi pago por outra pessoa para roubar este objeto da minha agência, mas quando descobriu o que poderia fazer com ele, desistiu de entregá-lo ao contratante.
— Então… O homem no meu apartamento — ele começou a alinhar a explicação dela ao que havia vivenciado — não eram seus homens.
— Não. — Assentiu ela, a resposta final, então estendeu a mão direita que estava livre. — Me entregue o meu relógio.
manteve seu olhar na mão da mulher por um momento, então voltou sua atenção para o carro com sua amada dentro.
— Não. — Ele deu um passo para trás, se afastando dela.
— Não te aconselho a fazer isso — disse , já entendendo as nobres e tolas intenções do rapaz. — Não se pode controlar o tempo, menos ainda querer mudá-lo.
— Eu não me importo com o que diz, este relógio me trouxe até aqui por algum motivo, porque de alguma forma ele seguiu meu coração — argumentou ele, se afastando da mulher e elevando o objeto para voltar aos minutos anteriores ao acidente.
— Você, não vai conseguir — retrucou elevando um pouco mais a sua voz —, este relógio está quebrado, pude ver de longe o ponteiro faltando… Se girar de novo, vai voltar ainda mais no passado e não está treinado para isso.
— Está falando isso para que eu desista. — Ele a olhou, irritado com a situação, afinal, Kim tinha o poder de salvar a irmã de um futuro triste sem a dança, porém, suas ações demonstraram sua falta de vontade.
— Você podia ter salvado ela, mas não o fez… Que espécie de irmã é você?! — ele gritou com raiva. — E agora quer me impedir.
soltou um suspiro cansado, tentando reunir o pouco de paciência que tinha para não tomar medidas mais drásticas contra as ações do rapaz.
— Eu quero te salvar — afirmou ela com mais seriedade e soberania na voz. — Se continuar voltando sem saber o que está fazendo e com o relógio quebrado, ficará preso em qualquer passado… Nem mesmo eu vou conseguir te achar.
voltou seu olhar para o carro, ouvindo ao longe o barulho de sirenes da ambulância. Logo sua memória lhe trouxe os fatos daquele dia, de como o acidente de sua irmã foi identificado graças às câmeras de segurança da rodovia, de como seu pai estava desesperado por notícias dos médicos quando chegou ao hospital, das lágrimas da irmã ao ouvir que nunca mais poderia dançar, pois não voltaria a andar com a mesma precisão de antes e, por último, a preocupação do funcionário que desejava informações da garota que achava gostar.
A gerente Kim nem sempre foi a fria e empoderada Lady Sakura, o cargo de diretora lhe foi dado como uma herança deixada por seu pai, após se perder em uma de suas viagens no tempo. Sua família paterna vinha de uma linhagem de diretores que passavam para seus filhos a missão de comandar a agência. Quando descobriu que seu pai jamais voltaria, e que não adiantaria seu esforço que jamais conseguiria encontrá-lo, apenas aceitou sua missão para honrar sua memória.
— Mas se realmente quer salvá-la, podemos fazer um acordo — disse ela, respirando fundo e tentando não se arrepender da proposta. — Não se pode comprar ou roubar o tempo, e ainda que ele esteja ao seu lado, tudo tem um preço a ser pago.
— O que você quer?! — perguntou ele, atento à aproximação da gerente.
Ela esticou mais uma vez a mão para obter seu relógio de volta.
— Vou consertar o relógio e permitirei que a salve, em troca, vai trabalhar para a agência, sem questionar as minhas ordens. — Suas palavras já soavam com o tom de ordem.
Por mais que internamente a jovem fosse doce e tímida, suas funções como Lady Sakura a fizeram mudar radicalmente externamente, sempre se mostrando uma mulher forte, determinada, disciplinada e destemida.
— Tudo bem. — Sem pensar muito, assentiu colocando o relógio na palma da mão dela.
Em instantes, apertou o botão do relógio em seu pulso, desaparecendo e aparecendo novamente com um piscar de olhos. Ela não queria fazer aquilo, sabia que mudar o passado tinha suas consequências, mas sua dúvida sobre os sentimentos da irmã pelo rapaz poderia, de alguma forma, ser sanada.
Não que a gerente Kim tivesse alguma paixonite pelo funcionário que sempre chegava atrasado, mas em alguns momentos desde o dia em que ele começou a trabalhar na cafeteria, ela se pegava sorrindo escondido de forma espontânea quando o via limpar as mesas enquanto dançava e cantarolava. Algo que a assustava, principalmente quando ela sentia seu coração acelerar, das muitas vezes que o pegou trocando de roupa no vestiário após o final do turno de trabalho.
E claro que Hani observou as sutis mudanças de humor da irmã com a presença dele, ao ponto de perguntar se estava gostando do rapaz. Com a resposta negativa, a delicada bailarina começou a se aproximar do funcionário, dizendo que estava interessada nele, ocasionando assim a realidade atual.
— Quero que tenha uma coisa em mente — disse ela, antes de lhe entregar o relógio. — O que aconteceu desse ponto em diante, será apagado, quando mudamos o passado, não criamos uma realidade alternativa, a linha do tempo é apagada e é construída uma nova… Apenas eu e você vamos lembrar o que já aconteceu e não existe mais. Você tem certeza disso?
Ela esticou a mão para ele com o relógio consertado.
— Sim. — Com confiança no olhar, ele pegou o objeto. — Quero dar a ela um futuro de alegrias.
— Mesmo que esse futuro, não te inclua? — reforçou , temendo que a nova realidade não fosse como ele imaginaria.
— Eu não me importo, apenas quero vê-la sorrir novamente enquanto dança — ele reforçou sua decisão.
— Então, boa sorte. — Com o tom de voz mais firme, demonstrando seu lado Lady Sakura, ela elevou o guarda-chuva que havia levado consigo em sua outra mão e o abriu.
Mesmo não entendendo o motivo dela ter aberto o guarda-chuva, ele assentiu às palavras dela e, voltando sua atenção ao relógio, iniciou sua saga em busca do momento preciso para salvar Hani. Voltas no ponteiro e o tempo sendo revivido, Lady Sakura apenas permaneceu de longe observando os esforços do rapaz. Assim que o barulho de um trovão surgiu seguido de um flash no céu, ela fechou os olhos sentindo a mudança no tempo e tendo a certeza que ele havia conseguido. Então, a primeira gota de chuva caiu em seu guarda-chuva.
Em segundos, novas lembranças foram acrescentadas para ela, sendo a mais impactante o dia em que sua irmã Hani foi convidada a se juntar a uma companhia de dança da Europa. Neste mesmo dia, havia presenciado escondida a conversa do casal, com a bailarina dizendo a que seus sentimentos pelo rapaz não eram o que ele pensava. Ela o tinha como um amigo, e que jamais teria um futuro com um funcionário da cafeteria do pai.
Assim como a gerente Kim, também havia recebido suas novas lembranças, e sentiu um leve aperto no coração pelas palavras da garota.
— Por que ainda estamos aqui?! — indagou ele, tentando lidar com suas emoções internas.
— Eu disse que seríamos os únicos a nos lembrar, e mesmo que nossas vidas tenham mudado levemente com a nova realidade, seu amigo ainda roubou meu relógio e voltamos ao mesmo momento. — voltou seu olhar para o rapaz, intrigada com o que viria a seguir. — E novamente você tem a decisão em suas mãos… Você a salvou, mas ela não te quer.
respirou fundo, certo de sua decisão.
— Nosso acordo já foi feito e não vou mudar o que fiz. — Ele voltou o olhar para o céu, e contemplou rapidamente a chuva. — Agora entendi o motivo do guarda-chuva.
— Sempre chove quando algo no tempo é alterado — explicou ela, voltando o olhar para frente, vendo sua irmã sair do carro mesmo debaixo de chuva, e pegar o celular para fazer uma ligação. — A intensidade varia conforme o grau de complexidade, é uma forma do tempo reagir à mudança provocada.
Um breve silêncio pairou sobre eles e Kim deu o primeiro passo para se afastar.
— Como será agora?! — perguntou voltando sua atenção para frente.
— Gire o botão inferior duas vezes e limpe as mesas antes de abrir a cafeteria — ordenou ela, segurando o riso.
— Você não disse que eu iria trabalhar para você? — Seu olhar ficou confuso para ela.
— Sim, mas isso não te isenta do seu trabalho na cafeteria. — Ela disfarçou o sorriso de canto, tentando controlar seus sentimentos.
Um giro no ponteiro e um piscar de olhos, desapareceu diante dos seus olhos. Logo Lady Sakura voltou a caminhar com seu guarda-chuva, apreciando a paisagem e sentindo o cheiro da terra molhada.
O meu tempo parou e não posso me mover
Meu coração vai e volta, novamente
Está de volta no mesmo lugar.
– Dramarama / MONSTA X
“Tempo: A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.” – Pâms
Fim
AI MEU GZUS, essa música (e o clipe) é a minha favorita do Monsta – foi o primeiro MV que eu vi deles e me apaixonei pelo Minhyuk nesse clipe, tá perfeitinho demais meu menino 🥺
Aviso que provavelmente eu vou ler a história do Soo Hyuk imaginando o MINhyuk no lugar, mas bola pra frente e é isso HAHAHHAHA
O final do MV é bem 👀👀👀 então vou ficar de olho e esperar por um final feliz, amém. AIHSOAISHIOAS
Achei que seria uma fic fofa e limão com mel, mas sempre tem um mistério envolvido nas fics da dona Pams, ne? AMAMOS.
Isso ta me lembrando Continuum, hein? 👀 é uma da teia Continuum? Se for, ja quero mais.
Suspeitei desde o princípio ONMASPODNADOP
E tem alguém surpreso com a escolha da Hani depois da mudança no tempo? nop. Era óbvio, né? Pobre do Soo(Min) Hyuk, apaixonado iludido.
MAS, agora eu quero continuação com o que o Hyuk vai fazer na agência e com os dois bonitos virando casal HEHEHEHEHEH
Também quero saber quem foi o “mandante” do roubo porque eu vou dar uns safanões nele por mandar dar fim no meu menino u.u
Eu amo história que mexe com viagem no tempo, espero que um dia saia a continuação HOHOHOHO