Ilane CS
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Sem curiosidades para essa história no momento!

Dopa(mine)

Prólogo

(POV )

  — Tem que haver outra saída. — murmurei entre dentes repetidamente, enquanto o fundo da xícara encontrava o pires com força, quase rachando a louça.
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  — Você pode quebrar todas as porcelanas do escritório, , isso não muda os fatos. — me avisou com calma. Com a sua irritante calma. — A O’Brien Group está colapsando, a nossa única chance é deixar que a companhia dos japoneses absorva a nossa.
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  — E pra isso eu tenho que me casar com esse tal de Hakuna Matata?
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  — Arata. O nome dele é Arata. — meu irmão corrigiu. — Vamos, , não pense nisso como um casamento, pense como um contrato. Os acionistas da nossa empresa precisam ser da família, é uma exigência burocrática. — bateu nos papéis em cima da mesa. — É uma transação financeira, deixe o romantismo de lado.
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  — Fácil pra você falar. — recostei na cadeira da minha sala. — Você se casou por amor.
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  — Isso ainda pode acontecer com você. — ergueu uma sobrancelha e abriu um sorriso. — Não estamos propondo que você case com algum velho caquético, o rapaz é o mais velho de três irmãos, mas ainda é jovem, bonito, bem-sucedido…
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   se pausou quando me viu fechar o semblante e fuzilar ele com o olhar. A ideia era absurda desde a concepção até os argumentos que ele listava para me convencer. Em que século estávamos, afinal? Depois de dedicar toda a vida me preparando para assumir meu lugar nos negócios, para provar o meu valor e a minha capacidade, eu tinha que aceitar um casamento arranjado como solução para a falência iminente? Era inconcebível, mas era ainda mais inconcebível pensar em fechar as portas da empresa fundada pelos meus bisavós, o legado da nossa família.
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  Arfei para o contrato em cima do tampo de mármore, amaldiçoando todas as letras e cláusulas redigidas ali. No entanto, minha resistência e meu empenho em contornar os artigos mostraram-se inúteis: foram semanas me debruçando sobre o texto, buscando ajuda com meus colegas advogados, procurando uma brecha, uma contradição, um furo que fosse… Mas a peça era sólida e irrevogável, a O’Brien Group era uma companhia estritamente familiar e não podia, sob hipótese alguma, aceitar acionistas fora do sobrenome.
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  — Como isso beneficia a eles, afinal? — coloquei a franja para trás, suspirando. — Eles não podem ter concordado em investir numa empresa a ponto de quebrar sem que haja vantagens para eles.
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  — Expansão, irmã. Uma empresa consagrada como a nossa… — sacudiu a caneta banhada a ouro no ar. — Ainda temos nosso nome, ainda somos uma vitrine. É a entrada dos japoneses no mercado americano.
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  — Mais do que isso, é a entrada de um japonês na minha…
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  — ! — ele gritou, apavorado.
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  — Na minha vida, . Credo.
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  Meu irmão balançou a cabeça, rindo do meu infortúnio, como era o privilégio do mais velho sempre que o caçula estava metido em problemas. Problemas que não foram causados por mim, mas que, pelo visto, eu teria que resolver. Não era justo que logo na minha geração e de tivéssemos que arcar com o misterioso rombo fiscal que colocava em perigo a nossa permanência no mercado e, consequentemente, o meu futuro. Para receber o investimento que os Arata pretendiam fazer e valorizar nossas ações em baixa, eu teria que casar com um representante da empresa deles, a gigante metalúrgica Three Swords.
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  Estalei a língua, afundando na cadeira e considerando soltar um grito sem sentido para aliviar toda aquela pressão que foi jogada sobre os meus ombros. O destino inteiro da minha família dependia de mim e daquela decisão, era um fardo pesado demais.
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  — Ei. — levantou-se e deu a volta na mesa, apoiando-se nela, de frente para mim. — Você sabe que pode dizer não, né?
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  — E jogar a última pá de terra na O’Brien Group? — neguei com  a cabeça. — Você mesmo disse que é a única opção.
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  — E é. Mas tem outra coisa que eu não disse.
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  — Do que você está falando? — dei um pulo no lugar. — Não vai me dizer que o cara é tipo um Christian Grey e vocês vão me casar com um tarado?
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   fez um gesto para que eu parasse de falar, acompanhado de uma cara de nojo.
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  — Não vai haver intimidade entre vocês a não ser que os dois queiram, vamos colocar isso no contrato de casamento. O que me lembra que você vai precisar de um bom advogado.
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  — Kim . — pensei automaticamente no meu amigo e colega de curso. — Confio nele para me deixar bem amparada.
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  — Confia nele também para um plano de contingência? — baixou a voz, voltando a falar na tal parte que ele ainda não tinha me contado.
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  — Plano? Que plano?
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  — Assim você me ofende, irmã. — ele voltou a se sentar e a cadeira reclinou com o movimento. — Acha mesmo que eu ia colocar a minha caçulinha nessa emboscada sem uma rota de fuga?
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  — Acho.
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  — Ingrata.
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   mexeu na sua pasta de couro e tirou um arquivo cheio de gráficos e dados numéricos. Eram projeções financeiras para um ano, um esboço otimista de como poderíamos nos recuperar em tempo recorde, às custas de muito trabalho em parceria com a Three Swords. Os números de eram ousados, mas possíveis. Bem possíveis.
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  — Um ano, . — ele levantou o indicador. — Só precisamos de um ano. Vocês casam, a companhia dele injeta capital na nossa e, quando nos recuperarmos em um ano…
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  — Eu peço o divórcio. — concluí e confirmou com a cabeça.
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  Um ano era tempo suficiente para a O’Brien Group fazer bom proveito do investimento recebido, os cálculos sólidos de não deixavam dúvidas. Também era tempo suficiente para que os Arata se estabelecessem e consolidassem seu domínio metalúrgico no país. Todo mundo sairia ganhando, no final das contas. Eu perderia um pouco mais que todo mundo, é claro, mas eu poderia aguentar um ano brincando de casinha.
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  — O Batata está sabendo disso? — perguntei.
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  — A-ra-ta. — insistiu. — E não, ele não está sabendo. Está entre nós dois e, logo mais, o .
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  — Vamos manter assim até que a O’Brien Group esteja totalmente a salvo. Não quero que meu maridinho se indisponha comigo e atrapalhe os negócios.
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  — Então você aceita?
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  — Sim. — suspirei, pensando no duplo sentido da frase. — Eu aceito.
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Capítulo 1: El Diablo

(POV )

  A reunião extraoficial com o advogado dispensava todas as formalidades corporativas e burocráticas com as quais eu lidava o tempo todo. Kim foi meu colega de faculdade e Laura Chevalier, sua namorada desde então, acabou se tornando uma grande amiga, um elo que nos fez trocar uma sala de escritório cinza por um delicioso jantar no apartamento dos dois.
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  — Não é tão ruim, . — coçou o queixo enquanto Laura colocava o café na mesa. — A proposta é clara, vocês vão morar juntos, mas em quartos separados. Aqui diz que você vai se mudar para a casa dele, você concordou com isso?
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  — Ele tem uma puta casa em Greenwich Village. A Sarah Jessica Parker e o Tom Cruise moram lá, é claro que eu concordei.
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  — Ok, boa vizinhança. — assobiou. — Aqui também diz que vocês não terão obrigações conjugais um com o outro. E por obrigações conjugais eu quero dizer…
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  — Eu sei o que você quer dizer. — interrompi, me servindo. — Consumar o casamento.
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  — É isso que preocupa você, ? — Laura perguntou, sentando-se ao lado do namorado. — Que ele tente algo sem a sua permissão?
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  — Se ele tentar, eu corto o negócio dele fora.
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  — Não precisa castrar o japonês. — fechou as pernas quando juntei os dedos  imitando uma tesoura. — Um casamento é, antes de tudo, um contrato. Os atos sexuais precisam ser consentidos por ambas as partes, é implícito.
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  — Então deixe explícito. — dei o primeiro gole no café e estalei a língua.
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  — Já está. Há uma cláusula irrevogável. — ele abriu a cópia cheia das suas anotações no notebook e virou a tela para mim. — Se o tocar em você sem que você queira, o contrato está desfeito e ele perde o posto na O’Brien Group e também na Three Swords. 
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  — Jura? — aceitei um dos biscoitinhos que Laura empurrou na minha direção, examinando o texto. — Eu não tinha chegado nessa parte.
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  — Sendo assim, eu preciso avisar que o mesmo vale pra você. — abriu a boca e Laura colocou um biscoito nela. — Nada de partir pra cima do rapaz.
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  — Essa não. Será que eu vou conseguir me controlar? —  ironizei, achando a cena dos dois nojenta e fofa ao mesmo tempo.
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  —  Quem sabe? — Laura insinuou. — Ele pode ser irresistível, você já viu ele?
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  —  Não e nem quero. Vou ter muito tempo para olhar para a cara do meu maridinho quando casarmos. — cruzei os braços, assistindo Laura alimentar o filhote gigante. — Fala sério, Laura, ele tem dois metros e quase trinta anos, ele sabe comer sozinho.
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  — Homens são bebês grandes, amiga. — ela fez um carinho no cabelo de , que balançou a cabeça concordando e fazendo um bico. — Você vai descobrir isso quando se apaixonar por um.
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  Revirei os olhos, rindo do casal. Toda a história do casamento, do contrato e do divórcio iminente estava acontecendo rápido demais. Eu ainda não tinha tido tempo sequer de ficar triste por não estar apaixonada pelo meu futuro marido. Não que eu me considerasse uma pessoa ultrarromântica, do tipo que coloca biscoitinhos na boca do namorado, mas a fala de Laura despertou um incômodo aqui dentro, um receio que eu me obriguei a ignorar. Nunca imaginei que eu me casaria, mas eu tinha certeza de que, quando acontecesse, seria por amor.
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  — Vai acontecer, . — Laura apoiou o próprio rosto nos dedos tatuados, como se lesse a minha mente. — O me contou sobre os cálculos do . Isso vai acabar logo e você vai ter todo tempo do mundo para conhecer alguém que ame.
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  — Por que você não assumiu os negócios da Chevalier Industries, hein, Laura? — apertei a mão que ela me estendeu na tentativa de me confortar. — Se você estivesse à frente da empresa da sua família, eu me casaria com você para salvar a minha.
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  — É ruim, hein! — reclamou e puxou sutilmente a cadeira da namorada para mais perto dele.
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  — Meu avô está solteiro. — Laura deu de ombros. — Se ele estiver interessado em investir, eu marco um encontro com vocês dois.
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  Demos uma risada uníssona e meu peito carregado ficou mais leve. Apesar do pouco tempo que tive para processar os últimos eventos, decidi encarar tudo aquilo como uma solução para os problemas da O’Brien e não como uma sentença para mim. Ficamos até mais tarde acertando o contrato e entramos em contato com , o mediador entre nós e os Arata. O jantar de noivado (que nada mais era que uma ocasião para que eu conhecesse a cara do antes de me mudar com ele) ficou marcado para o dia seguinte.
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  — Já que você está oficialmente noiva… — Laura levantou-se e me puxou pela mão. — Vamos escolher um belo vestido.
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  — Não vai ter um belo vestido, Laura. — ela continuou me puxando casa a dentro. — Vamos assinar lá no escritório mesmo.
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  — Eu não tô falando do seu casamento, tô falando da sua despedida de solteira. — chegamos ao corredor e ficou pelo caminho, entrando no escritório.
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  — E desde quando vai ter uma? — seguimos para o quarto deles.
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  — Desde agora, eu acabei de decidir. — Laura me arrastou até o closet dela, me deixando de frente para uma fila de vestidos expostos. — Escolhe o mais curto que eu tiver.
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  — E você escolhe o mais comprido que tiver, hein, Laura! — berrou do outro cômodo e foi encoberto pelos gritinhos de empolgação de Laura quando me viu colocar um tubinho vermelho na frente do corpo.
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  — Excelente escolha. — Laura aprovou e pegou o celular, mandando áudios para as amigas e chamando-as para a minha, quem diria, despedida de solteira.
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  — Serviu, mas… — me olhei no espelho depois de trocar minha calça de alfaiataria e minha blusa canelada pelo vestido ali mesmo. — Tá marcando a minha calcinha.
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  — Então vai sem. — Laura piscou e o celular dela começou a explodir de mensagens respondendo ao convite.
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  Ela era a amiga certa para uma boa noitada. Antes de ser gentilmente amarrada pelo namorado, Laura Chevalier tinha, digamos, uma reputação na Saint Peter, a universidade em que estudamos. Ela sempre foi a garota popular de quem todos queriam se aproximar, frequentava as melhores festas e ficava com os caras mais bonitos. Preocupado com o ritmo intenso das farras da neta, o avô dela, milionário dono da Chevalier Industries, resolveu contratar um segurança particular para ficar de olho na baladeira. Necessitado de um emprego que ajudasse a cobrir as despesas de intercambista, Kim aceitou a vaga. E o resto da história se desenrolou de um modo previsível, mas não menos bonito: os dois se apaixonaram.
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  Balancei a cabeça e puxei a calcinha por baixo do vestido, escondendo-a na minha bolsa. Não era hora de amolecer com a história de amor bem sucedida, tampouco de me lamentar pela minha situação. Era hora de sair com a Laura e as amigas dela para algum clube noturno de Manhattan e cometer uns erros por lá.
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  — Satisfeita? — dei uma voltinha para Laura, exibindo o vestido, enquanto ela se enfiava também em um outro, preto e aberto nas costas.
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  — Vou ficar ainda mais se você me prometer que vai se divertir hoje. — ela pediu ajuda com o zíper. — Essa noite, você não tem esse peso todo que está carregando, você só tem que dançar, curtir e-
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  — E achar uma bunda pra eu amassar. — fui até a penteadeira dela e escolhi um batom da mesma cor do vestido.
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  — Esse é o espírito. — ela gargalhou, surpresa e satisfeita, e voltou ao celular para mandar mais um áudio. — Deni, amiga, onde que é aquele clube cheio de tailandês sem camisa?
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  — Ei, Laura! — voltou a gritar do escritório. — Nem pensar!
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  — É brincadeira, amor. — Laura riu. — Eu quis dizer onde que é a igreja…
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  Acabou que o pequeno escândalo que deu antes de sairmos foi em vão, porque o tal clube de tailandeses pelados estava fechado para uma reforma e mudamos a programação para um bar ali perto, com bastante música, bastante bebida e bastante gente. As amigas da Laura eram maravilhosas e, apesar de ter acabado de conhecê-las, elas me ajudaram a me soltar e aproveitar a noite. Depois de muita dança e dos primeiros shots, caminhei até a ilha do bar e assobiei para chamar a atenção do bartender:
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  — Um El Diablo, por favor! — chamei o atendente na outra ponta da ilha, que entendeu meu pedido apesar do barulho da música e das pessoas. Era um daqueles bares cheios de malabarismos e ele preparou o drink com muita firula, deslizando o copo pelo balcão depois de pronto.
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  Minha boca estava seca e eu me preparei para apanhar a bebida lançada, mas a trajetória foi interrompida por uma mão masculina que a interceptou no meio do caminho, tomando-a num movimento rápido e preciso, sem derramar nenhuma gota.
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  — Ei! — empurrei algumas pessoas e fui até o intrometido. — Com licença, mas esse drink aí é meu!
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  O rapaz nem se deu ao trabalho de me olhar, apenas deu um gole na minha bebida e apoiou um dos cotovelos no balcão, fazendo um gesto para o bartender.
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  — Outro El Diablo pra esquentadinha aqui. — ele solicitou, entediado. — Na minha conta.
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  — Esquentadinha é a senhora sua mãe. — rebati. — E eu não preciso que você me pague nada!
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  O estranho entornou a tequila num longo gole e a camisa dobrada nas mangas revelou uma tatuagem discreta de flecha no antebraço. O rosto, virado de perfil, carregava um nariz grande demais, olhos inchados e bem escuros, e uma boca pequena e rosada, acompanhada de uma marca de barba feita recentemente. Ele olhava para tudo com cara de nada, balançando os três brincos de pino da orelha esquerda a cada vez que arqueava o pescoço, e já parecia estar se divertindo com a minha irritação, esboçando um sorriso de canto.
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  — Você quer o drink ou não quer? — ele continuou sem me olhar.
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  — Não de você. — ensaiei sair de perto, impaciente com a falta de contato visual, a mesma que me fez dar meia-volta. — Ah, é muito rude falar com as pessoas sem olhar na cara delas, sabia? Não custa nada ser educado. — disparei.
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  — Também não custa nada ser um otário. — ele me olhou pela primeira vez, de cima a baixo. — Mas é muito mais divertido.
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  Exalei um ar quente, fumaçando de raiva, um tanto pela audácia do abusado e um tanto pelo fato de não conseguir sair de perto dele. Alguma coisa me prendia ali, na atmosfera hipnotizante que ele criou com a voz grave, com o perfume instigante e com o mistério da tatuagem, que eu me perguntava internamente se era a única. Havia notas de ironia carregando os poucos gestos que ele se dignava a fazer, era de um marasmo irritante, uma indiferença quase charmosa. Enfim, o mau-humor que só funcionava em homens muito bonitos feito ele.
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  — Aceita o drink, é meu pedido de desculpas. — ele deliberadamente desviou o olhar. — Além do mais, vai relaxar você.
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  — Eu não estou tensa. — respondi, tensa.
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  — Seus ombros e seu tom de voz dizem o contrário. — ele continuava examinando o fundo do copo como se tivesse ouro dentro.
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  — Você mal me olhava há dez segundos e de repente começou a analisar minha linguagem corporal? — ergui uma sobrancelha.
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  — Na verdade, eu estou olhando você desde que você entrou. — ele umedeceu os lábios e me encarou, intimidador.
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  Dessa vez, fui eu quem tive que desviar.
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  — Sua abordagem não é lá das melhores. — alfinetei.
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  — É mais eficiente do que você imagina. — senti o olhar dele insistindo e queimando. — Eu te irritei, isso me torna memorável e diferente dos outros três caras que já deram em cima de você. De um jeito ou de outro, você vai ficar pensando em mim.
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  — Agora você sabe o que eu penso? — procurei me recompor.
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  — Aposto que sim.
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  Tomei o copo da mão dele, derrotada. Ele era um cretino, mas eu não podia negar que, das opções que tinham me aparecido até então, ele era a mais deliciosa. E a flecha pairando solitária no braço enorme estava me enlouquecendo de curiosidade. Digitei uma mensagem rápida para Laura e virei o que sobrou da tequila antes que desse tempo de me arrepender.
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  — Quer me tirar daqui? — chamei com as intenções mais erradas possíveis.
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Capítulo 2: Lembrança sem nome

(POV: )

  Levantei da cama procurando pelo vestido que eu precisava devolver para Laura.
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  Levar numa boa lavanderia e devolver para a Laura. Do jeito que ele estava, cheirando à bebida e a motel, não havia a menor condição.
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  Olhei para o ladrão de El Diablo e ele parecia estar dormindo, mais sentado do que deitado e com os braços cruzados sobre o peito. Julguei que ele tinha adormecido contra a vontade, afinal de contas, ele estava num quarto com uma desconhecida: deveria estar com medo de que eu roubasse a carteira dele ou coisa parecida.
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  Ri sozinha, me vestindo bem devagar. Ele tinha trabalhado tão bem que, sinceramente, era eu quem estava considerando deixar 500 dólares em cima da cômoda como pagamento pelo serviço.
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  Resisti ao impulso e não calcei os sapatos para evitar que os saltos fizessem barulho. Peguei minha bolsa, deixando o local sorrateiramente, mas, dois passos depois, o silêncio foi quebrado por uma voz grave que me fez dar um pulo no lugar.
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  — Você vai mesmo embora sem nem perguntar como eu me chamo?
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  — Vou. — respondi sem me virar, o coração acelerado pelo susto. — Eu não pretendo lembrar de você. Você vai ser um borrão na minha memória.
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  Um borrão bonito e gostoso pra caralho.
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  — Você é tão má. — ele riu abafado. — Eu sei que eu vou me lembrar de você.
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  — Mesmo sem saber meu nome? — me virei, enfim.
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  — Eu sei o seu gosto. — ele lambeu os lábios, ainda de olhos fechados. — Isso é melhor ainda.
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  — Aproveite o que ficou na sua boca, então. — aconselhei. — Você foi o último erro que eu cometi, senhor sem nome.
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  — Espero que você erre outras vezes.
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  Ele se pôs de pé e eu aproveitei a bela vista, morena e numa cueca boxer apertada para as pernas muito torneadas e o bumbum muito bonitinho. Avançou pacientemente, se deixando admirar com um sorriso convencido, e me puxou pela cintura sem quebrar o contato visual.
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  Meu coração errou algumas batidas ali.
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  Recebi um beijo de despedida que eu não pedi, mas que também não estava disposta a recusar. Uma língua nervosa pediu passagem, ainda salgada do meu sexo, e invadiu minha boca sem educação, movida por instinto.
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  Cedi. Sabe Deus quando eu beijaria alguém assim de novo.
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  — Adeus, lembrança sem nome. — ele sussurrou, ofegante, e eu saí do quarto, tonta, antes que eu cedesse mais alguma coisa.
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👰🏻‍♀️⚔️

  Entrei no primeiro táxi que vi com uma dor de cabeça infernal e a parte interna das coxas dolorida depois de ter cavalgado a noite toda, tal qual o Rocinante de Dom Quixote. Minha coxa tremeu com o pensamento.
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  Foi uma despedida e tanto…
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  Larguei minhas bolsa de canto assim que cheguei ao meu apartamento, cega pela sequência de coisas que eu precisava: um bom banho, um bom cochilo e uma boa dose de esquecimento. A minha aventura sexual não combinava com a personalidade de noiva pura e singela que eu precisava assumir para o evento de logo mais, mas algumas horas de sono seriam suficientes para recuperar meu corpo moído de prazer — o que me lembrava que eu podia desmarcar o spa que eu tinha agendado. A foda me deixou com um viço incrível na pele, resultado do melhor tratamento de skincare que existia: gozar várias vezes seguidas.
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  Um detalhe que eu precisava acertar com meu futuro marido, aliás. Um ano inteiro me virando com um vibrador seria um suplício, tínhamos que ter um consenso desair para brincar no parquinho de outras pessoas de vez em quando. No entanto, não era assunto para a primeiríssima vez em que eu o veria. Agora que o contrato estava pronto e havia sido aprovado por ambas as partes, eu tinha certeza que aquele jantar serviria apenas para trivialidades nas quais eu não estava nem um pouco interessada: livro predileto, viagem dos sonhos, o que gosta de fazer nas horas vagas… Fingir fluidez ao conhecer o tal seria um gasto desnecessário de energia, uma vez que nós dois sabíamos que, independente de como fosse aquele primeiro encontro, nossos destinos já estavam traçados.
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  Por um bando de executivos que não fazia ideia daquele arranjo. Meus pais, e meu tio Morgan compunham a diretoria da O’Brien Group e eram os únicos que sabiam do teatro, além dos Arata, é claro. Minha mãe, inclusive, foi quem decidiu todos os detalhes do jantar, desde a música até os pratos que seriam servidos, tudo idealizado para outras pessoas acreditarem na encenação.
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  Era o meu “noivado”, entre muitas aspas. Meu “noivado” e eu não queria escolher absolutamente nada, nem mesmo o noivo.
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  Era nisso que eu estava pensando quando, mais tarde, eu me olhei no espelho e me vi dentro do lindo vestido marfim que eu estava usando. O caimento perfeito e o ajuste dos deuses me fez lamentar profundamente o fato de ter que desperdiçá-lo com alguém que eu não fazia ideia de quem era.
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  Ajeitei a alça fina que teimava em cair do meu ombro, puxando mais alguns fios do coque baixo. A limusine chegou, já ocupada por e sua esposa, e nos dirigimos ao Salão Cottillon do Pierre Hotel, local escolhido pelos anfitriões, a diretoria da O’Brien Group. Conseguir reservar aquele espaço tão ostensivo e disputado de um dia para o outro era uma prova da nossa influência, desejada pelos Arata a ponto de sujeitarem seu primogênito ao casamento arranjado. Depois de apertar algumas mãos, cochichou no meu ouvido que meu noivo já estava no local, elogiando a pontualidade impecável dos nossos convidados:
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  — Arata pai e Arata filho já estão aqui. — ele apontou uma cabeça grisalha e uma nuca ao lado dela. Meu noivo estava de costas e o rosto dele ainda era um mistério para mim, porque quando ele se virou, outra face bloqueou minha visão.
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  — . — meu tio Morgan sequer esboçou um sorriso. Ele não sorria muito desde que tinha enviuvado da irmã do meu pai, minha tia Agnes, que se foi prematuramente, deixando um buraco nas nossas vidas.
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  — Tio Morgan. — rebati tão seca quanto.
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  O velho rangeu os dentes, amargurado e ranzinza. Todos diziam que tio Morgan demandava muita paciência, já que ele não tinha o menor tato com as pessoas, defeito que atribuíam à viuvez precoce, mas a verdade era que eu o evitava ao máximo por ele conseguir me desestabilizar com seus comentários indevidos. Mesmo que fossem motivados pelo luto, as falas do tio Morgan não deixavam de doer, assim como o olhar de reprovação dele em mim.
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  — Isso tudo é um grande erro. — ele resmungou. — E esse vestido, ? Não acha que está inadequado?
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  — Ela está linda. — a voz branda do meu pai veio em minha defesa e ele me escoltou pelo braço. — Não seja tão insuportável, Morgan, estamos numa ocasião festiva.
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  — Ocasião festiva, Arthur? — Morgan disse com escárnio. — Você chama de ocasião festiva oferecer sua filha feito uma…
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  — Morgan. — meu pai cortou. — Você não deveria estar aqui, mas já que está, eu sugiro que cale a boca ou saia.
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  A tensão usual estabeleceu-se e um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente. A relação do meu pai com tio Morgan sempre foi ruidosa e desconfortável, especialmente porque eles discordavam 90% das vezes quanto aos assuntos da O’Brien Group e quanto a todo o resto, inclusive àquela solução do casamento arranjado. O comportamento grosseiro e opositivo diminuía cada vez mais o prestígio de Morgan também entre os demais acionistas e o cargo dele já estava se tornando meramente figurativo, embora, por causa da memória da tia Agnes, ele ainda desfrutasse de uma certa influência e direito de voto.
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  Pelo menos por enquanto. O meu casamento com um investidor massivo como Arata me colocaria numa posição privilegiada no conselho e minhas decisões teriam mais peso que as do meu tio Morgan, podendo até mesmo custar a cadeira dele. Talvez por isso ele estivesse sendo especialmente desagradável comigo naquela noite. Talvez por isso ele tivesse sido o único contra aquela solução. E talvez por isso meu pai, que sempre mantinha um tom muito cortês ao se dirigir a qualquer pessoa, tivesse proposto tão indelicadamente que ele fosse embora.
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  — Que seja, Arthur. — Morgan virou o uísque que estava segurando e fez uma careta. — Argh. Isso está um horror. Lembre-se de servir bebidas melhores no seu casamentinho de faz de conta, .
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  — Não se preocupe, tio. — papai e eu começamos a andar. — Você não será convidado.
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  Meu pai riu cúmplice, comedido, e minha mãe se aproximou de nós, trazida pelo seu faro certeiro:
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  — Por que sempre que eu deixo vocês sozinhos eu pego os dois com esses risinhos de quem aprontou? — ela perguntou com as mãos na cintura.
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  — Ah, minha amada Donna, você nos conhece tão bem. — meu pai tentou desarmá-la, abraçando-a. — Era apenas o Morgan e sua aspereza usual, nada que mereça nossa atenção. Vamos cumprimentar nossos convidados?
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  Mamãe me lançou um olhar rápido, o típico e poderoso raio-x materno, escaneando até a minha alma. Por diversas vezes no curto entretempo dos preparativos daquele “noivado”, Donna Jane O’Brien e seu instinto superprotetor me cercaram, certificando-se de que eu não estava sendo coagida a fazer algo que eu não queria. Eu sabia que ela estava pronta para sair correndo comigo no colo se eu sinalizasse qualquer hesitação que fosse, mas o sinal não veio. Em vez disso, balancei a cabeça sutilmente e o aceno positivo arrancou dela um sorriso que me carregou de confiança e me impeliu a andar na direção de , também acompanhado dos pais.
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  — Senhores. — meu pai nos anunciou formalmente. — E senhora.
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   foi o primeiro a se virar, pálido. O sorriso que ele ensaiou sumiu por um breve instante, dando lugar a um outro, mais honesto, no entanto, incrédulo daquela imprevisibilidade. Ele mordeu sutilmente o lábio inferior enquanto arrumava o abotoador do terno, meneando a cabeça em resposta àquela peça que o universo pregou em nós dois, e levou uma fração de segundo até ele me encarar com os olhos imensos e ferozes, o que me causou um terremoto interno.
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  Eram os mesmos olhos intensos que tinham me devorado na noite anterior. E, naquele momento, eu me sentia prestes a ser engolida outra vez.
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  Era ele. Indubitavelmente, era ele.
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  A minha lembrança sem nome.
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  O meu último erro.
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  — Senhor e senhora O’Brien. — estendeu a mão. — Senhorita.
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  Me movi no automático, atraída pela mão que pedia pela minha. Foi como se tivessem apagado as luzes, um blackout total na minha cabeça e no meu corpo quando ele me tocou. Um toque respeitoso, distinto, quase burocrático dessa vez. Um toque engessado vindo de uma mão gelada e de uma pele desbotada pelo susto da coincidência.
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  Mas os olhos inchados… os olhos me prometiam fogo, e aquilo me enlouquecia.
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  O que aconteceu ao nosso redor dali em diante foi como um buraco de minhoca na minha mente, as vozes atravessavam meus ouvidos, mas nada do que era dito fixava-se por muito tempo na minha cabeça confusa. Eu só conseguia me concentrar no fato de que a minha pele ainda estava em contato com a de , que fez questão de inclinar-se sensivelmente e me deixar um beijo casto no dorso da mão, demorando os lábios ali.
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  — Arata. — o olhar dele ficou vidrado em mim e minha mão congelou na dele.
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  — O’Brien. — me apresentei finalmente.
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  Ao contrário de mim, se refez mais rápido e logo a situação parecia diverti-lo em vez de atordoá-lo. Eu, por outro lado, tardei a me recompor. Não conseguia entender como era possível que, de todos os caras em Manhattan, eu tivesse ido parar na cama justamente com ele. Chegava a ser cômico o fato de eu me despedir da minha vida de solteira dormindo exatamente com o meu futuro marido, e era essa piada de mau gosto a razão para o sorriso malicioso persistir na boca de .
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  Uma boca muito bonita, por sinal. Era engraçado como os atributos dele normalmente não funcionariam juntos: olhos muito grandes, nariz muito redondo e uma boca muito carnuda, mas pequena. Características que não ficariam bem se colocadas numa mesma cara, mas, na dele, ornavam perfeitamente. Some-se ao belo rosto um trapézio imenso que o paletó mal conseguia cobrir e músculos demais para a altura mediana. Ele quase deu errado, mas tudo ali estava absolutamente, completamente certo.
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  — Que bom que finalmente se conheceram! — meu pai exclamou, me chamando à realidade.
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  — Mais do que você imagina. — soltou baixinho, certo de que apenas eu ouviria. — Senhor O’Brien, é um prazer conhecer sua bela esposa e filha. — ele curvou-se, oriental demais. — Por favor, permita que a senhorita me acompanhe numa dança.
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  — Ansioso para ficar a sós com a minha garotinha, rapaz? — papai observou, risonho. — Não se engane com o rostinho bonito, ela é uma desastrada e pode acabar pisando nos seus pés.
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  — Aposto que seria como o pouso de uma borboleta, senhor. — flertou.
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  — Galanteador, que adorável. — minha mãe sussurrou, me incentivando.
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  Aceitei o convite, oferecendo minha mão mais uma vez para ser guiada pelo príncipe encantado que ele estava fingindo ser. me conduziu pelo salão com seu passo elegante, sem pressa, afinal, o mundo podia esperar por ele. Eu tinha pequenos espasmos e precisava respirar fundo para contê-los, muita coisa pulsava ao mesmo tempo dentro de mim, mas a irritação pelo cinismo dele estava vencendo a luta de sentimentos por enquanto.
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  Até ele colocar a mão na minha cintura. Ali foi ele quem venceu.
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  — Estou bem visível ou ainda sou um borrão do qual você não pretende se lembrar? — ele me trouxe para mais perto.
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  Prendi o ar nos pulmões ao passo que a mão dele se espalhava pela base das minhas costas, perfeitamente à vontade, como alguém que já sabia todas as curvas de uma rota porque já andou por ela. não esperou pela resposta e começou a me balançar no ritmo da música, entrelaçando os dedos nos meus, cheio de cerimônias.
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  — Quanto floreio para dançar com alguém que você já viu pelada. — zombei.
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  — Pelo menos já sabemos que um aspecto desse casamento vai funcionar muito bem. — ele sugeriu e eu pus uma mão no peito dele, detendo-o e afastando-o discretamente. — Era brincadeira, . Eu li o contrato, ok? Eu não vou fazer absolutamente nada a não ser que você peça.
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  — O que faz você pensar que eu vou pedir por isso? — perguntei, ultrajada.
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  — Você pediu ontem à noite. — mais um sorriso vaidoso. — E agora que você sabe meu nome, mal posso esperar para ouvir você gemendo ele.
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  Me preparei para detê-lo novamente, mas ele me segurou mais firmemente e me forçou a dar um giro, rindo da minha resistência.
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  — Olha, não precisamos tornar isso mais difícil do que já é. — ele aproximou um pouco mais o rosto dele do meu, quase colando nossos perfis. A boca dele estava agora à altura do meu ouvido e ele modulou a voz para um tom mais baixo. E mais perigoso. — Meu pai tem grandes planos para a nossa expansão e eu quero ajudar minha família tanto quanto você quer ajudar a sua.
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  — O que você está sugerindo, então? — fui direto ao ponto, ignorando o arrepio que a manobra dele me causou.
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  — Que trabalhemos juntos em prol dos nossos negócios. — ele arriscou um rodopio, girando junto comigo. — Eu respeito o seu espaço, você respeita o meu e fazemos o papel de casal feliz nos jantares corporativos. Não há razão para não sermos agradáveis um com o outro. — ele deu de ombros. — Podemos fazer uma boa parceria.
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  Respirei aliviada pela primeira vez desde que tinha colocado os pés naquele salão. Ao menos a nossa química não estava apenas no sexo e deixou bem claro que estávamos na mesma página. A mutualidade das nossas intenções relaxou minha musculatura rígida e a dança ficou mais leve, assim como eu.
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  — Uma boa parceria. — repeti. — Isso é tudo que eu quero, .
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  — Jura? Então eu não preciso me ajoelhar, comprar flores ou um diamante do tamanho do seu punho?
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  — Eu odeio espetáculos, pode pular toda a palhaçada cafona de pedido. E diamante é a pedra mais brega que existe. — rolei os olhos. — Você só precisa aparecer no dia do casamento civil e deixar de ser tão irritante.
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  — E como eu vou me divertir? — ele provocou. — Irritar você vai ser minha única fonte de prazer, . — me olhou de cima a baixo. — Isso é, até você acabar com essa greve de sexo aí…
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  — Quando eu me mudar com você, fale comigo o mínimo possível, ok?
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  — Como quiser. Você sabe o que dizem. — ele me roubou outro beijo na mão. — “Esposa feliz, vida feliz.”
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  — Não sou sua esposa ainda. — o lembrei.
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   abriu outro sorriso vagaroso e confiante.
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  — Você vai ser em breve.
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Capítulo 3: Reforma indesejada

(POV: )

  Uma furadeira insistente e irritante foi o meu despertador naquela manhã. A reforma do futuro quarto da minha doce noivinha começou em tempo recorde, no dia seguinte ao que nos conhecemos.
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  Os negócios iam mal. Os O’Brien tinham pressa.
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  Mas a pressa deles era boa para nós da Three Swords. Estávamos ansiosos por aquela fusão, já que o mercado americano era muito restrito no nosso segmento, muito imperialista, muito fechado, muito preconceituoso, muito… estadunidense. Empresas estrangeiras não tinham o mesmo prestígio nem as mesmas oportunidades de crescimento que as nacionais e os Arata tentaram, por anos, expandir nosso domínio para esse lado do globo. Meu pai me preparou, fazendo questão de que eu estudasse e vivesse em Nova York, no entanto, nem toda a preparação do mundo comprava a cartela de clientes fiéis e poderosos da O’Brien Group.
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  Por isso a solução do casamento.
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  Por isso eu estava engolindo aquela reforma indesejada junto com uma aspirina, sem água, no seco.
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  Por isso eu estava reformando também meu futuro inteiro.
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  O barulho me obrigou a levantar da cama antes das oito e antecipar todo o meu dia. Minha velha companheira insônia e seus sintomas que eu conhecia tão bem haviam piorado significativamente desde que eu tive que lidar com a carga emocional de um casamento repentino. Tudo estava mudando demais em tempo de menos: minha casa, minha rotina, minha vida…
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  Tudo saindo do singular e indo para o plural. Tudo deixando de ser meu e se tornando nosso.
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  Casamento era isso, certo?
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  Ou, pelo menos, foi o que me ensinaram. Era de se esperar que eu seguisse o exemplo que tive em casa, já que o casamento dos meus pais, feliz e duradouro, aconteceu por conveniência. A verdade é que esse é um arranjo muito comum quando se tem muito dinheiro e quanto se é asiático, então, quando me propuseram usar o matrimônio como moeda de troca, eu não me espantei. O que não significava, entretanto, que eu não estivesse nervoso pra caralho.
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  E o motivo do nervosismo? Digamos que, sendo um cara de 26 anos bonito e milionário, ter uma esposa não estava na minha lista de prioridades.
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  Apesar de aquela união ter fins meramente corporativos, no final do dia, era o que eu teria: uma esposa. Uma mulher para cuidar, amar e respeitar até que a morte nos separe. Uma mulher cujos sinais de sua presença já se faziam tangíveis (e audíveis) na casa em que, até ontem, eu morava sozinho. ia se mudar logo e, como ela não ia dormir comigo, estava transformando meu antigo quarto de hóspedes, praticamente demolindo-o e construindo outro no lugar. Exigiu inspeção imobiliária, dedetização, o inferno e o diabo a quatro, e enquanto a princesa se ocupava em escolher papéis de parede e artigos de decoração, eu tinha que ficar com o ruído insuportável da quebradeira no meu ouvido.
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  — Você é um frouxo, Arata. — falei para mim mesmo no espelho, ao cuspir a espuma da pasta de dente. — Nem casou e já está deixando ela mandar em tudo.
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  A furadeira cessou e deu lugar a marteladas, que foram ficando mais longe conforme eu ligava o chuveiro no máximo e abafava o som da reforma num banho. A água estupidamente gelada golpeou minhas costas e me lembrou dos arranhões que eu ganhei na transa e que ainda não tinham sarado. Deixei escapar um único nome, o da culpada pelos rasgões, como uma maldição lançada sobre mim mesmo:
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  — Ah, O’Brien! — ri, ensandecido.
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  Havia muitos meios de se driblar a tensão, mas ser um homem reduzia as opções a praticamente uma só. O cérebro masculino tinha suas vantagens, a hombridade era cômoda e fácil, até. A frase “eles só pensam naquilo” talvez fosse a mais verdadeira sobre nós porque, no meio de todo aquele estresse pré-nupcial e de uma obra em andamento, a resposta do meu corpo foi acelerar meu pulso e mandar sangue para baixo, dando sinais de vida e rigidez entre as minhas pernas. Tudo por causa de uma simples ardência como gatilho. Tudo por causa de uma simples lembrança. Tudo por causa dela.
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  Sim. A mera visão da O’Brien embaixo da minha pele, gemendo com a boca entreaberta, me enchia de tesão e de saudade.
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  A parte da saudade me surpreendia, na verdade. A princípio, eu achava que depois da foda ela seria esquecível, contabilizada como mais uma conquista de bar, ou, nas palavras dela, “o último erro que eu cometi”.
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  Mas eu não a esqueci.
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  Tampouco achei que ela fosse um erro.
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  As interações que tivemos foram poucas, mas marcantes o suficiente. Eu já a admirava só pelo fato de ela assumir a responsabilidade de salvar a empresa da família sem titubear; descobrir quem ela realmente era só adicionou uma nova camada de fascínio à situação. A palavra era essa, fascínio. Eu estava fascinado pela . Não a conhecia muito, mas, do pouco que eu conhecia, eu gostava. Ela tinha fibra, vontade, gana. Nas duas vezes em que nos encontramos, deixou bem claro o que queria e quem era. Mostrou a que veio, me usou como quis, e fez questão de que eu soubesse disso quando saiu sem me dizer o nome, quando me deixou com as costas marcadas e a cueca manchada de batom num quarto de luxo.
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  É claro que uma única noite era pouco para aprendê-la de fato. Ela ainda era um mistério a ser desvendado, um lugar secreto onde eu fui parar vendado, de mãos atadas e sem saber como. era uma estranha que me concedeu o maior ato de intimidade quando me permitiu desfrutar do corpo dela — do maravilhoso corpo dela —, e todas as sensações daquele sexo ficaram impressas na minha memória e na minha pele viciada. Eu não parava de pensar no som da respiração entrecortada, nem na cara de prazer, a mais linda que eu já tinha visto. Eu não parava de pensar em como ela preferia ir por cima, porque a perna dela tremeu mais quando ela gozou assim…
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  E eu não parava de pensar em tê-la de novo. Mas, obviamente, ela teria que consentir.
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  Ela teria que querer.
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  Ela teria que me pedir.
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  E foi com esse cenário mental que eu diminuí a água, decidido a me aliviar sozinho.
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  Vesti uma das minhas melhores camisas sociais pensando em qual perfume usar, quando o toque do meu celular ecoou pelo quarto. Era uma ligação de um número que eu não tinha registrado ainda, mas a voz do outro lado da linha era inconfundível. Tinha um tom de irritação que eu adorava ouvir.
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  E era em quem eu estava pensando no chuveiro minutos atrás…
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  — ? perguntou assim que atendi.
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  — Uau. — pus a ligação no viva-voz para terminar de me aprontar. — Quanta frieza pra falar com o seu futuro marido. Precisamos de um apelido carinhoso, baby.
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  — Bom dia pra você também, docinho. — ela disparou, sarcástica.
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  — Docinho. — repeti. — Eu gostei. Agora tenta mais uma vez, sem a ironia.
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  — Você já saiu de casa? me ignorou.
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  — Ainda não. — analisei meus vidros de perfume enquanto falava. — Por quê?
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  — Estava pensando em passar aí antes do trabalho para ver como vai a reforma.
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  — Ah, docinho, se você está com saudades de mim, não precisa ficar inventando desculpas. — me decidi, enfim, por um musk amadeirado. — É só aparecer.
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  O suspiro de impaciência que ela soltou me arrancou um sorriso triunfante. Deu pra sentir os olhos dela rolando.
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  — Eu posso ir ou não?
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  — É claro que pode, essa casa também vai ser sua. — borrifei o perfume nos pulsos. — Mas venha no personagem. Kira está aqui.
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  — Kira?
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  — Ficou com ciúmes? — sorri outra vez.
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  — Da sua babá? Essa é boa.
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  — Kira não é minha babá, ela é minha diarista barra cozinheira. E ela só vem aqui duas vezes na semana.
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  — Babá. — ela insistiu.
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  — Como você sabe sobre a babá? — sacudi a cabeça. — Sobre a Kira?
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  — Eu fiz meu dever de casa. Se vamos brincar de marido e mulher, esse é o tipo de coisa que eu preciso saber, não acha?
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  — Andou me estudando? — arrumei os brincos. — Que esposa dedicada!
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  — Guarda o açúcar pra quando estivermos na frente da Kira, por favor. A propósito, como eu faço pra ela ir com a minha cara? Preciso que ela goste de mim.
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  — Me cubra de amor e elogios. Kira sempre quis me ver casado com uma mulher que cuide de mim tão bem como ela.
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  — Ou seja, uma babá.
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  — O que o meu docinho gosta de comer no café da manhã, hm? — foi a minha vez de mudar de assunto. — Kira com certeza vai me perguntar.
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  — Não sabe as preferências da própria noiva na cozinha? desdenhou.
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  — Eu só sei as preferências dela na cama. Ela gosta de-
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  — Geleia de morango. — cortou. — Eu gosto de geleia de morango.
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  — Interessante. Pra eu passar em você ou pra você passar em mim? — minha imaginação voou depressa.
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  — Pro café da manhã, idiota. — ela pronunciou tudo com um ranço que me arrancou uma risada silenciosa. — E um suco de laranja.
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  — Idiota? O que aconteceu com o docinho?
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  — Troca o suco por um café bem forte, por favor. O dia mal começou e você já está me dando dor de cabeça.
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  — Você também, graças à sua reforma. — deixei o quarto e passei pelo corredor, o barulho aumentando a cada passo que eu dava. — Está ouvindo a trilha sonora?
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  — Vai acabar logo. É só todo mundo me obedecer.
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  Lá estava, a mandona que me deixava tão fascinado.
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  Eu não via a hora de amansar aquela fera.
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  — Como quiser, senhora Arata. — desci as escadas. — Sua entrada já está liberada lá na portaria. Vem logo, eu estou faminto.
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   desligou com um “ok, tchau” e eu aproveitei para salvar o contato dela como “docinho”: um belo toque para enriquecer a farsa do nosso relacionamento.
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  Ou mais um item para a lista de coisas que irritavam a dona do apelido. Essa opção, obviamente, era a que mais me satisfazia.
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  Segui o cheiro delicioso de café e massa de bolo e encontrei a doce senhora que, há anos, era responsável por mim. Kira cuidava da minha alimentação, das minhas roupas e até da minha saúde, testando todas as receitas possíveis de chás calmantes para me ajudar a dormir, coisa que eu não fazia muito bem desde que tinha saído do Japão, há um bom tempo.
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  Eu sabia exatamente quando a insônia tinha começado. Eu tinha 18 anos e fui mandado para um país estranho, longe dos meus irmãos, dos meus pais e dos meus velhos amigos. Os novos que eu tentava fazer não duravam muito, porque ser herdeiro de um império como a Three Swords me distanciava das pessoas “normais” e atraía aquelas interessadas apenas no meu dinheiro. Depois de alguns meses tentando qualquer tipo de conexão verdadeira, eu me deparei com o triste fato de que eu estava condenado a ser sozinho.
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  Mas eu me acostumei bem rápido com isso. Eu só precisava me anestesiar com algumas doses rasas e momentâneas de dopamina.
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  As mulheres com quem eu ficava e os caras com quem eu andava nas baladas eram só um paliativo, uma medida superficial para sedar um terrível caso de solidão extrema. Quando a farra acabava e quando a mulher que eu trouxe da festa ia embora, quem continuava comigo era a insônia, me lembrando que meu coração estava mais seco a cada dia.
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  Mais que isso, meu coração estava calado. O que não era exatamente uma coisa ruim agora que eu estava prestes a me casar numa decisão puramente racional, com alguém por quem eu não estava apaixonado.
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  Pelo menos não ainda.
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  A ideia de paixão para a nossa cultura era bem diferente da concepção ocidental, que tinha a paixão como algo avassalador, fatal, instantâneo. Nós pensávamos diferente. Meus avós uma vez me explicaram que os ocidentais se casam “com o fogo alto”, ou seja, no auge da paixão, com o relacionamento em chamas, fervendo da empolgação máxima. O problema é que o fogo alto se consome muito mais rápido e logo se apaga, baixando até se extinguir e virar uma fumaça morna.
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  E todos sabem que “morno” é uma sentença de morte para um casamento.
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  Por isso, nós, orientais, casamos “com o fogo baixo”. No nosso entendimento, é preciso acender o fogo, aumentá-lo dia após dia e, principalmente, mantê-lo. Alimentando a fonte do jeito certo, cultivando atitudes e observando detalhes, o amor construído e forjado no calor contínuo durará para sempre.
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  Bom, tudo isso segundo os meus avós. Eu não fazia ideia de como era amar alguém. Eu nunca tinha tentado de verdade.
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  O amor era uma entrega mais assustadora que a solidão.
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  — Me lembre de agradecer à sua noiva por essa adorável reforma no quarto de hóspedes. — Kira me despertou e começou a me servir como de costume: reclamando. — Agora, além de você, eu tenho uma fila de trabalhadores para alimentar. Pintor, marceneiro, decorador, pintor… que tanta gente é essa?
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  — Você disse pintor duas vezes. — aceitei o café. — Gostou dele, foi?
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  — Cala a boca e começa a comer. — ela colocou as frutas e o iogurte que eu gostava na mesa. — Meu ponto é: pra que ela precisa arrumar um quarto que ela nem vai usar? Ela vai dormir com você!
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  Engasguei com o gole. Com exceção de nós mesmos e nossos familiares mais próximos, ninguém fazia ideia de que o meu casamento com a era arranjado. Acontece que a falência iminente da O’Brien Group ainda era um segredo de estado, uma informação confidencial que deveria ser mantida assim a todo custo. Se os acionistas descobrissem que a Three Swords investiu numa empresa afundando, lá se ia o prestígio deles e a nossa credibilidade. Era preciso manter as aparências, fazer os outros acreditarem que o nosso casamento era motivado pelo nosso fogo altíssimo, e não pelo interesse mútuo nos negócios.
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  — Ela tem muita coisa. — contornei. — Roupa, bolsa, sapato… Vai ter que usar o quarto de hóspedes como closet.
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  Kira deu de ombros, acreditando na desculpa.
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  — Você vai ficar só no café? — ela olhou meu prato vazio. — Com aquele tanto de peso que você levanta na academia? Tá querendo morrer?
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  — Eu vou esperar a , ela vem tomar café comigo.
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  Cruzei os braços, prevendo a virada dramática de Kira. Ela fungou alto, emocionada, e sequer tentou disfarçar a cara de choro.
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  — Sabe, depois de tantos anos vendo você comer sozinho, é uma alegria finalmente colocar outro lugar à mesa. — a confissão dela foi tão genuína que eu quase me senti mal por estar envolvendo-a naquilo tudo.
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  — Então você não está arrasada por me perder para outra mulher?
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  — Eu estou surpresa que você tenha conseguido uma mulher, já que eu nunca vi nenhuma aqui!
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  Kira tinha razão, nenhuma das minhas “namoradas” tinha conseguido a proeza de ser apresentada a ela, ou de dividir um momento tão íntimo como um café da manhã, a primeira refeição do dia. Era uma escolha consciente. Não queria ninguém tocando na solidão com a qual eu estava tão acostumado.
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  Acomodado, na verdade. Estar sozinho era familiar e seguro.
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  Mas O’Brien estava chegando para me tirar da minha zona de conforto.
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  —Temos geleia de morango, Kira? — perguntei enquanto ela posicionava as louças. — É a favorita da minha noiva.
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  — “Noiva”. — Kira bufou. — Não sei que noivado é esse que ainda não teve nem anel nem pedido.
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  Tive outra pequena indigestão e o café quase voltou mais uma vez. tinha sido bem enfática quanto a odiar diamantes e a ideia de um pedido cafona e espalhafatoso, mas fazê-lo era uma parte importante da trama. Assim como a Kira, outras pessoas iam nos perguntar sobre esse momento, iam querer ouvir a história, iam pedir para ver a aliança…
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  Se as pessoas queriam um show, então eu daria isso a elas. E à minha doce novinha, que detestaria cada segundo.
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  Ri sozinho enquanto voltava à xícara, sentindo um gosto doce no sentido literal e figurado. Deixar O’Brien irritada era a cereja no topo do bolo.
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  — Você acabou de me dar uma ótima ideia, Kira…
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  A campainha tocou e impediu que Kira, curiosa e intrometida, fizesse um interrogatório sobre o meu plano. Em vez disso, ela se apressou em abrir a porta para , que se apresentou toda confeitada e polvilhada de açúcar. Eu ainda não tinha visto esse lado extremamente simpático dela, tudo o que ela tinha para mim era sarcasmo e uma certa raiva inofensiva.
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  Ao que parecia, eu a deixava à flor da pele. E eu achava aquilo muito divertido.
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  — Bom dia, docinho. — levantei para recebê-la com um abraço e um beijo no rosto que ela teve que aceitar porque Kira estava olhando. — Dormiu bem? Sonhou comigo? — segurei ela pelo queixo.
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  — Sempre, docinho. — ela fechou os olhos e formou um círculo perfeito com a boca antes de dar um espirro.
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  Pequenininho e fofo. Fofíssimo.
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  — Oh, querida, está resfriada? — Kira lamentou, já preocupada feito uma mãe com a moça que acabara de conhecer.
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  — Não, tudo bem. — espirrou mais uma vez. — É só alergia.
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  Kira recomendou um de seus famosos chás cura-tudo e se enfiou na cozinha para prepará-lo. Assim que ela sumiu de vista, me empurrou e coçou o nariz.
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  — Você tá usando Tom Ford?
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  — Só pra você. — confirmei, assistindo a pontinha do nariz dela ficar vermelha.
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  — Eu tenho alergia a esse perfume. — ela revelou. — Joga fora ou você vai ficar viúvo antes do casamento.
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  — Adoro quando você manda em mim. — provoquei.
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  — Falando em mandar, se importa de me acompanhar até o quarto?
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  — Se você quiser, eu dispenso a Kira e nós fazemos aqui mesmo.
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  — A obra, . — respirou fundo, estressada. — Eu quero ver a obra.
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  — Os operários estão no intervalo. — observei a movimentação do lado de fora da casa, nos fundos. — Mas você pode inspecionar tudo e gritar com eles depois. Por aqui, por favor. — indiquei o caminho e subimos.
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   entrou no quarto analisando todos os detalhes com um rigor quase militar. Testou as luzes (ela mandou trocar as frias por quentes), avaliou a pintura já seca e sem cheiro forte e, depois de muito procurar do que reclamar, finalmente achou, apontando uma bucha de parafuso na parede.
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  — Aqui. — ela indicou. — Eles furaram no lugar errado. Eu disse mil vezes que quero o espelho do outro lado.
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  — Tenho certeza de que deve ter uma explicação para isso. — disse da porta.
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  — Tem, eles são homens. — alternou o olhar entre a parede “certa” e as ferramentas no meio do quarto vazio. — Eu dei muitas ordens e homens não entendem mais de uma coisa ao mesmo tempo.
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  — Ainda assim, eu acho que… — parei de falar quando decidiu pegar um martelo e um prego, entrando também no quarto atrás dela. — Ei! Larga isso, você pode se machucar.
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  — Não se preocupe, docinho. — a voz dela ecoou e ela caminhou até a parede com os utensílios. — Eu sei usar isso, só quero marcar o lugar certo.
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  — , esses caras são profissionais, se eles não furaram onde você pediu deve ser porque-
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  A primeira martelada encobriu meu protesto, mas não se deu por satisfeita. Continuou enterrando o prego na parede até atingir um cano, que estourou e começou a derramar água.
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  — Porque existe um bom motivo. — completei, vitorioso.
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   soltou um pequeno grito, incrédula e enfurecida. A água era corrente, o que fazia com que ela escapasse numa velocidade e quantidade bem grandes mesmo para um furo tão pequeno, e eu me deliciei assistindo minha noiva se desesperar para conter o acidente.
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  — Para de rir, vem me ajudar! — ela tentava, sem sucesso, tapar o buraco com as mãozinhas pequenas e delicadas.
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  — É pra parar de rir ou pra te ajudar? É que eu sou homem, não entendo mais de uma coisa ao mesmo tempo.
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  — ! — ela resmungou, já com a camisa de seda encharcada.
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  — Sempre molhada e pedindo por mim.
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  — Você é impossível. — o jato esguichou bem na altura do rosto dela, deixando-a ainda mais zangada. — Inlidável.
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  — Acho que essa palavra não existe. — me aproximei, rindo.
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  — Acabei de inventar. — uma mecha de cabelo molhada grudou na testa dela. — Significa impossível de lidar. Vou colocar num dicionário como sinônimo para “”.
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  — Você bem que mereceu esse banho, sabia? — afastei o cabelo dela dos olhos, colocando-o atrás da orelha. — Mas aguenta aí que o seu maridinho vai te ajudar.
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  Comecei a desabotoar a blusa de baixo para cima e tentou ficar alheia à abertura que expôs meu peito e abdômen, mas quando eu me livrei totalmente da peça, despindo os braços da manga comprida, ela falhou em segurar um suspiro e errou o ritmo da respiração.
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  Pelo visto eu não era o único com saudade.
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  — É sério isso? — ela acompanhou meu movimento.
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  — Desculpa, você prefere deixar seu quarto virar uma piscina? — amassei a camisa contra o vazamento.
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   não respondeu, somente recuou um passo, colocando-se atrás de mim enquanto eu segurava a água. De todas as ações que eu esperava que ela tomasse naquele momento, ela escolheu uma para a qual eu não estava preparado.
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  Sem aviso, ela deslizou os dedos finos pela base das minhas costas, subindo até o meu trapézio e me provocando um arrepio. Tremi com o toque, reconhecendo e gostando dele, e uma gostosa sensação de vertigem começou a tomar conta de mim.
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  — O que houve com as suas costas? — ela contornou os arranhões cicatrizando.
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  — Você. — ri nasalado. — Não se lembra?
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  — É. Eu não pretendia lembrar. — ela parou o carinho e meu corpo achou ruim.
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  — Você é tão romântica! — zombei. — Agora vai lá fora, avisa a Kira e fecha o registro. Vai.
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  — Não usa esse tom comigo! — me deu um tapa no mesmo lugar que ela tinha acabado de alisar.
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  — Calma, nervosinha. Esfria essa cabeça. — soltei uma parte do tecido e deixei outro jato de água esguichar nela.
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   deu um pulo e esfregou o rosto bem devagar, decidindo como reagiria à brincadeira: relevando ou deixando o demônio sair.
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  Era hi-lá-rio vê-la possessa.
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  — Nós não vamos sobreviver a isso. — ela sentenciou.
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  — Ah, vamos sim, a água não vai alagar tudo. — sorri. — E se acontecer, eu sei nadar.
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   saiu batendo os pés e eu soltei uma sonora gargalhada. Ela tinha cometido o erro de se revelar cedo demais, eu já sabia direitinho como enlouquecê-la. Talvez eu tivesse um talento natural para tirá-la dos eixos e aquilo me dava cólicas de riso.
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  Levou poucos minutos para e Kira fecharem o registro e eu poder soltar a parede, contemplando o quarto semi-inundado. Antes que eu conseguisse pensar em como enxugariam aquilo tudo, reapareceu na porta com uma cara de cachorrinho arrependido e abandonado na chuva.
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  Meus lábios se torceram e explodiram em mais um ataque de riso quando a vi.
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  — Eu te odeio. — ela puxou a toalha que trazia no ombro.
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  — Obrigado. A propósito, você está linda. — dei meu sorriso mais galanteador.
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   revirou os olhos e arqueou o pescoço, enxugando algumas gotinhas acumuladas no colo. Era um gesto irresistível, e um decote mais irresistível ainda.
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  — Por que não tira uma foto? — ela percebeu meu estado hipnótico e me jogou a toalha. — Vai durar mais tempo.
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  Sequei as mãos e meti uma delas no bolso da calça, procurando meu celular.
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  — Não se atreva! — ela me repreendeu.
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  — Desculpa. — pisquei, esfregando o peito sob o olhar atento. — É que eu já estou ficando acostumado a obedecer você.
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Capítulo 4: A Flecha

(POV: )

  Os primeiros raios de Sol do dia banharam meu corpo suado dentro da calça de moletom e da camisa de compressão. A corrida que começou pela madrugada surtiu o efeito esperado, os músculos das minhas coxas estavam aquecidos e meu cérebro estava mergulhado em dopamina.
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  Dopamina. Substância relacionada ao sistema de recompensa, química básica do corpo humano: eu tenho um desejo, eu sacio o desejo, a dopamina é liberada e, com ela, a sensação de prazer. O problema era que o efeito passava rápido demais e eu estava constantemente em busca de um estímulo para desencadear a reação. Naquela manhã, por exemplo, foi preciso correr alguns quilômetros para consegui-la e acalmar minha mente agitada com a proximidade do casamento.
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  Já havia uma data marcada, um dia aleatório do calendário, sem significado ou relevância. Apenas mais um dia qualquer, quando duas pessoas assinariam um contrato e passariam a morar juntas por uma “causa maior”. Qualquer esforço meu no sentido de tornar esse evento um pouco mais romântico foi vetado pela própria , me restando apenas a resignação à vontade dela. Ela não queria desperdiçar o vestido ou a cerimônia dos sonhos com alguém que ela mal conhecia, era justo. Porém, infelizmente para mim, isso também significava eu nunca veria a lingerie especial eleita para a noite de núpcias.
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  Assim como eu também nunca veria o destino perfeito para a lua de mel. Ou teria uma primeira dança, votos de casamento e outros pormenores com os quais eu não imaginava que eu me importava tanto.
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  Porque eu nunca tinha parado para pensar neles.
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  E, sinceramente, era melhor não pensar. O melhor era correr.
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  Literalmente, é claro. Até porque a mudança da estava praticamente feita e não havia como voltar atrás. Eu não queria voltar atrás. Desistir não era do meu feitio e a flecha tatuada no meu antebraço era um símbolo desse meu traço de personalidade. Eu sempre fui destemido e me lancei intensamente em tudo: nos estudos, no trabalho, na vida e, em breve, no casamento.
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  Sem volta. Como uma flecha.
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  Os efeitos da última decisão na qual eu me joguei de corpo e alma já começavam a refletir na minha Fortaleza da solidão. Não que eu quisesse me comparar ao Super-Homem: eu não tinha poderes sobre-humanos e também não usava óculos. Além do mais, a minha Fortaleza da Solidão deixaria de ser solitária dentro de uma semana, exatamente. já tinha começado a se instalar aos poucos, se habituando, se espalhando… Arrumou um bocado aqui, outro tanto ali, mudou pequenas coisas de lugar, trouxe flores e tentou se caber e se reconhecer naquele espaço totalmente novo.
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  Já a minha ficha, essa caía devagar, a cada remessa de roupas e outras bagagens que os carregadores traziam. Mas como tudo cheirava a e eu gostava do perfume dela, a mudança não me incomodou.
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  Ah, sim. Minha casa, agora, tinha perfume de mulher.
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  Um perfume cujo rastro eu já sabia seguir. O fato de o cheiro da (e seus milhares de pertences) ter chegado antes dela me deixou familiarizado com a presença da minha futura esposa e com o toque feminino que veio junto. Kira também já havia aceitado de bom grado a sua nova patroa, com quem trocava amabilidades e até mesmo suas receitas super secretas. Estava ganha, afinal, e era seguro dizer que era só uma questão de tempo até ela preferir a mim.
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  Ri sozinho da última parte e encerrei a corrida assim que o Sol nasceu por completo, tirando a blusa no meio do caminho de volta para casa. O entorno arborizado do Greenwich Village era um bom local para praticar exercícios ao ar livre, embora, às vezes, um paparazzi ou outro surgisse em busca de um flagrante de algum famoso que morava pela região. Como eu não era uma celebridade mundial, podia correr sem camisa com certa tranquilidade, sabendo que, no máximo, ganharia uma nota tímida numa página sobre empresários. Percorrido o caminho de volta, abri o portão automático e o segurança externo pôs a cabeça fora da guarita quando ouviu o motor:
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  — De pé tão cedo, senhor Arata? — ele cumprimentou. — Quantos quilômetros hoje?
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  — Cinco e uns quebrados. — pressionei o Apple Watch. — Meu melhor tempo até agora.
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  — Ficando em forma para a noiva, não é? — ele ergueu o dedo anelar.
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  Foi quando uma lembrança súbita me assaltou de repente: a aliança. Eu ainda não tinha comprado a aliança.
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  Enxuguei o suor da testa, fria de nervosismo, e entrei em casa digitando orientações no celular. Ainda estava absurdamente cedo, mas uma ligação da minha assistente mencionando meu nome conseguiria abrir a Cartier a caminho do trabalho, onde eu era cliente VIP por ser um comprador assíduo de relógios. Uma ducha depois, me vesti e peguei o Tom Ford num ato falho, parando o movimento no segundo grande susto do dia. Por mais que os espirros da fossem adoráveis, eu não queria ser a causa desse incômodo em particular. Só desse. Eu fazia questão de todos os outros, inclusive daquele que eu estava prestes a causar, obrigando-a usar uma joia que ela odiaria.
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  — “Diamante é a pedra mais brega que existe”. — entrei no meu carro relembrando, em voz alta, a frase dela quando fomos oficialmente apresentados. — Pois bem, docinho. Adivinhe qual você vai ganhar?
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  Parecia maldade, mas, no fundo, era uma gentileza disfarçada. Afinal de contas, não queria gastar nada de significativo comigo, por isso eu entrei na Cartier aberta exclusivamente para mim com um único critério de escolha em mente: o preço.
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  — Senhor Arata. — a vendedora loira acionada para me receber puxou o blazer para baixo, evidenciando o decote. — É um prazer recebê-lo.
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  — O prazer é todo meu, querida. E desculpe por tê-la tirado da cama a essa hora. — sorri, fazendo-a corar.
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  — Imagina! — uma jogada de cabelo. — Quando sua assistente ligou, eu fiz questão de vir pessoalmente.
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  A loira se torceu toda atrás do balcão bilionário, afetando a voz e enfeitando demais os movimentos. Assisti a cena achando graça de como teria sido fácil conquistá-la nos meus dias de solteiro, que estavam no seu iminente fim. Um fim que seria publicamente anunciado numa coluna social assim que eu oficializasse o noivado com o diamante mais caro da Cartier.
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  — Tomei a liberdade de separar alguns relógios da coleção nova. Acredito que serão do seu gosto.
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  — Eu adoraria vê-los outro dia. — me inclinei no balcão. — Hoje eu estou à procura de um anel de noivado.
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  O semblante da moça caiu e ela murchou mais rápido que uma planta sem água. Forçou um sorriso destreinado ao saber que eu era um homem comprometido e, consequentemente, uma opção a menos no mercado de ricos cobiçados que compravam ali, e logo arrumou o blazer de volta para cobrir o colo exposto.
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  — Oh. Meus parabéns! — ela cumprimentou, sem graça. — Nesse caso, me acompanhe, por favor. Fale-me mais sobre a sua noiva. — pediu enquanto caminhávamos para a seção de joias femininas. — De que tipo de peça ela gosta? Corte princesa, com arabesco, cravejado…
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  — Diamantes. — respondi, simplista.
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  — Temos vários modelos-
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  — Então traga o maior, querida. — interrompi as explicações.
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  Um solícito “como quiser, senhor Arata” foi acompanhado dos saltos batendo no piso, apressados em cumprir o meu desejo. O dinheiro, além de abrir as portas das lojas de grife, tinha também a mágica propriedade de tornar o mundo inteiro um lugar prestativo e de dentes acesos para mim e para as minhas vontades. Aquela loira, que ganharia uma boa comissão com a venda milionária, só estava ali por um capricho meu, jurando que eu era um cara apaixonado tentando expressar meu amor em quilates. Convicta do meu sentimento (mensurado apenas pelo valor da joia), ela perguntou se eu queria a aliança encostada em ouro ou platina, se eu queria gravar alguma coisa, se eu estava ansioso com os preparativos… Mas o único preparativo do qual eu era encarregado estava sendo comprado ali, à vista, e já se encontrava devidamente embrulhado na embalagem fina que a loira me entregou.
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  Restava, agora, “fazer o pedido”.
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  Que nada mais era do que colocar o anel no dedo da e deixá-la sair por aí exibindo, a muito contragosto, a pedra mais brega do mundo.
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  Peguei o pacote e tracei o itinerário mentalmente, planejando a melhor rota até o prédio comercial da O’Brien Group, onde eu, a convite do meu cunhado , era esperado para conhecer as instalações e a dinâmica do meu próximo investimento. Como o meu dia tinha começado adiantado e o trânsito estava favorável, eu cheguei ao meu destino antes do previsto, mantendo a fama da pontualidade impecável dos Arata que surpreendia .
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  — Rigor britânico no horário. — ele apertou a minha mão calorosamente quando entrei no saguão. — Obrigado por vir, .
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  — Obrigado por convidar. — retribuí o cumprimento.
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  O interior da O’Brien Group era de tão bom gosto quanto o exterior, a arquitetura do local refletia a proposta da empresa, misturando a solidez da tradição com a fluidez da modernidade num ambiente funcional e bem organizado. A estrutura familiar na composição da diretoria transmitia um certo conservadorismo, que atraía acionistas com esse perfil, e esperava-se que a fusão com a Three Swords trouxesse sangue novo aos negócios. Era para isso que eu estava ali, afinal.
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  Mas eu estaria me enganando se dissesse que aquele era o único motivo.
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  — vai se juntar a nós? — perguntei e chamou o elevador privativo.
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  — Estamos indo encontrá-la agora. — ele pressionou o botão, fechando as portas. — Aliás, ela mesma teria vindo recebê-lo, mas houve um imprevisto.
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  — Se ela estiver muito ocupada, eu posso voltar depois. Não quero causar nenhum problema.
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  — De modo algum. — sorriu irônico. — O problema está lá na sala dela.
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  Franzi o cenho, esperando o desenrolar do comentário que veio num tom lastimoso. meneou a cabeça e, apesar de não haver mais ninguém presente, olhou para os lados, baixando o volume da voz.
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  — Eu deveria evitar falar sobre isso, é um assunto delicado. — começou, receoso. — Mas me sinto na obrigação de adiantar que você vai encontrar alguma resistência entre os membros da diretoria.
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  Suspirei. Um investidor saído literalmente do outro lado do mundo era uma notícia capaz de causar, no mínimo, desconfiança numa sociedade como a O’Brien, que só aceitava membros consanguíneos ou em matrimônio. Por mais que minha adesão ao grupo fosse financeiramente benéfica, minha parcela nas ações tomaria a porcentagem de alguém e, na selva corporativa dos investimentos, ninguém gostava de perder dinheiro.
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  — Eu já esperava por isso. — encarei o teto. — Uma empresa é como um organismo e, no momento, eu sou um corpo estranho. É natural que haja rejeição.
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  — Bom, da parte dos nossos acionistas, eu garanto que não haverá. Para eles, não importa de onde o dinheiro venha, desde que tenha algum. Já na diretoria, por outro lado, alguém pode se sentir ameaçado com a sua presença.
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  — Alguém? — repeti, relembrando quem eram os diretores: o próprio , meus futuros sogros Arthur e Donna, e…
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  — Morgan Michaels. — completou meu pensamento. — Ele ficou com as ações da sua falecida esposa, nossa tia Agnes, mas, ainda assim, o percentual dele não chega perto do meu ou do da minha irmã, os herdeiros legítimos. Ele já não estava nada satisfeito com o fato de a ter feito 21 anos e finalmente poder assumir o lugar dela na diretoria, o casamento só deixou ele ainda mais infeliz.
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  — Faz sentido. — concordei. — Na condição de cônjuge, o capital que eu aplicar será da também, aumentando ainda mais o poder dela na empresa. É um motivo e tanto para o titio não gostar de mim.
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  — É. Mas ele não gosta de ninguém. — esfregou as têmporas e deixou uma pequena risada escapar.
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  — Ele sabe que o casamento é arranjado, não é? — perguntei, prevendo problemas.
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  — Infelizmente, sim. Mas não há nada que ele possa fazer além de ser extremamente desagradável com você. Coisa que ele é com todo mundo e sem esforço.
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  Ponderei por um breve momento e as portas abriram numa sala impregnada com o perfume que eu já conhecia. Respirei fundo, acalmado pelo cheiro e pela conclusão a que cheguei com aquela breve conversa com . De fato, o que o velho amargurado poderia fazer? Não havia prova alguma “contra”nós, afinal, não estávamos infringindo nenhuma lei, apenas cumprindo um acordo comum. Meu cunhado tinha razão e mostrou-se cortês ao me alertar, e também ao segurar as portas para que eu saísse do elevador, fazendo sua última consideração:
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  — Torço sinceramente para que isso não faça você mudar de ideia.
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  Entrei na sala tocando meu próprio braço, coberto pela camisa social, e apertei a tatuagem escondida ali como um amuleto da sorte.
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  — Sabe o que eu gosto sobre as flechas, ?
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  O rapaz que tinha o mesmo nariz que a apenas me olhou, aguardando o contexto da pergunta retórica.
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  — Flechas não voltam atrás.
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   bateu no meu ombro em resposta e anunciou nossa chegada, chamando a visão de , atrás da sua mesa, e de um senhor sisudo à frente dela. Ela levantou-se, andando em nossa direção, e foi acompanhada pelo mal-humorado em quem eu não prestei a menor atenção.
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  Porque estava especialmente bonita naquela manhã.
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  Os cabelos, trançados de um jeito meio arrumado e bagunçado ao mesmo tempo, tinham fios soltos caindo pelo rosto afilado e com uma leve maquiagem. No pescoço, um colar de ponto de luz fazia par com os brincos, e um bracelete elegante balançava no pulso à mostra pela manga que ela puxou.
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  — Oh, bom dia, senhores. — adiantou-se, saudando o irmão com um toque descontraído que parecia ter sido combinado na infância e abraçando-o em seguida. — Batata. — ela errou meu sobrenome propositalmente.
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  — Zombando de um sobrenome que logo será seu? — aceitei o abraço que estendeu a mim, que apesar de sincero, foi rápido demais para o meu gosto.
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  — Você não está usando Tom Ford! — ela reparou quando nos soltamos, e a surpresa fez ela esquecer de rebater minha provocação.
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  — Qualquer coisa pela minha doce noivinha.
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  Ganhei o que prometia ser o primeiro sorriso verdadeiro de (além, é claro, daqueles que ela me deu enquanto eu a invadia no nosso primeiro e inesquecível encontro). A lembrança rapidamente despertou minha pele e elevou minha temperatura corporal, mas o terceiro homem no local tossiu alto e trouxe minha mente de volta.
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  — , conheça nosso tio Morgan. — apresentou. — Ele é conselheiro administrativo e em breve vai nos conceder total acesso aos livros de contabilidade. Assim você vai ficar a par de tudo que acontece aqui. — o velho murmurou para essa parte. — Certo, tio?
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  — São décadas de dados, . Duvido que o rapaz esteja interessado em analisar todos os nossos números. — Morgan rosnou e se dirigiu a mim, oferecendo uma mão áspera. — Sei que você tem a própria empresa para administrar, não vai querer desperdiçar muito do seu tempo conosco, eu presumo.
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  Como eu previa: o organismo expulsando o corpo estranho.
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  — Nenhum dos meus negócios é desperdício de tempo, senhor Morgan. — rebati, sem me deixar intimidar, e ele chacoalhou minha mão bruscamente. — Além disso, meu investimento foi feito diretamente nas ações da . Qualquer pedido dela é uma ordem para mim.
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  O olhar que eu e minha noiva trocamos naquele momento foi a perfeita representação da parceria que prometemos um ao outro no nosso jantar de apresentação. soube ali que eu endossava as decisões dela, respaldando-as como se tivessem partido de mim mesmo, e eu sabia que, futuramente, ela agiria do mesmo modo comigo. Era o combinado, e eu estava cumprindo a minha parte, o que me fez ganhar dela um agradecimento desenrolando pelos lábios sem som, uma palavra apenas, muda, lançada só para mim.
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  O “obrigada” foi seguido de um piscar discreto. Era a nossa primeira confidência.
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⚔️

  Apesar dos esforços de Morgan em encurtar a minha visita, os irmãos O’Brien empenharam-se em não se deixar vencer pela má vontade do tio, que somente nos acompanhou para suprir a ausência de Arthur e Donna: o primeiro, ocupado com uma reunião de caráter urgente; e a segunda, com os cuidados do buffet para o casamento. Ao final do dia, depois de um maravilhoso jantar sem a presença do velho, quis passar na nossa casa e arrumar a última caixa que chegou.
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  Nossa casa. Ainda era surreal dizer.
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  Enfiada no quarto e compenetrada na organização das suas coisas, ela sequer percebeu quando eu escorei na porta, admirando o resultado da reforma e a delicadeza com que ela, descalça e com a trança do cabelo desfeita, dobrava e guardava as suas roupas. Roupas essas que me arrancaram um sorriso ladino e involuntário.
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  — Você quer ajuda? — ofereci.
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  — Sério? Pra guardar minhas calcinhas? — ela balançou uma peça de renda.
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  — Ou pra tirar a que você estiver usando agora, você quem sabe.
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   teve alguma dificuldade para virar o pescoço e me responder com seu rolar de olhos costumeiro, demonstrando com o movimento travado os sinais inegáveis do seu cansaço físico e mental. A tensão que acometia o pescoço rígido, que ela pressionava repetidamente, não era a tensão divertida que eu causava nela com meus comentários de duplo sentido ou com o insistente apelido, mas, sim, uma tensão motivada pelo estresse de muitos problemas para resolver. Eu me compadeci da exaustão dela, cuja causa eu conheci de perto durante o nosso dia juntos, e decidi que o certo a se fazer era deixá-la em paz.
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  No entanto, “deixá-la” era um movimento um pouco difícil para mim, eu precisava admitir. Especialmente quando ela estava daquele jeito, visivelmente sobrecarregada com as responsabilidades no trabalho, a mudança, o casamento e a lida com o tio Morgan, que se comportava como uma criança birrenta e fazia questão de dificultar a vida dela na empresa. E foi observando esse cenário que eu percebi que garantir o bem-estar da era importante para mim. Tão importante que fez uma ideia acender na minha cabeça.
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  — Qual o seu lugar favorito no mundo?
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  — O quê? — ela arqueou uma sobrancelha.
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  — Me conta, . — entrei no quarto. — Se você pudesse estar em qualquer lugar agora, onde seria?
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  — Por que isso agora? — ela tentava entender.
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  — Responde.
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  Tomei a peça que ela dobrava das mãos dela, esquecendo por um momento que era íntima. Os cílios dela bateram e ela me olhou com estranheza por eu estar bancando o cara legal e tentando engatar uma conversa. Ou talvez por eu estar fazendo um questionamento aleatório enquanto segurava uma calcinha minúscula.
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  — Tá. — ela cedeu, por fim, desconfiada. — Meu lugar preferido é a praia de Navagio.
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  — Perfeito. — puxei meu celular para dar mais uma “missão impossível” para a minha assistente, pedindo agora que ela entrasse em contato com meu piloto de jatinho particular. — Nós vamos pra lá. Agora.
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  — Como é?
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  — Arrume as malas. — percebi que eu ainda estava segurando a calcinha enquanto digitava. — E coloca essa, por favor, eu adorei.
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  — Você enlouqueceu, foi? — tomou o tecido de mim e me deu um leve tapa no dorso em repreensão. — A gente não pode largar tudo aqui e simplesmente ir pra Grécia.
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  — Por que não?
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  — Como por que não? — ela indagou, ultrajada. — Esqueceu que daqui a uma semana a gente tem que se casar? E, depois disso, arrumar o caos que vai ser a fusão das nossas empresas?
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  — Exatamente. — segurei o rosto dela, sentindo as bochechas quentes e obrigando-a a parar e me olhar. — , tudo o que nós dois fizemos nos últimos meses foi pelos outros. Jogaram um peso enorme nos nossos ombros e nós fomos nobres o suficiente para aceitar, mas o fato é que agora você está cansada e eu estou cansado. — inspirei pesado. — Vamos fazer algo por nós. Nós merecemos. Nós devemos, na verdade.
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  O peito alheio subiu e desceu, normalizando a respiração de , que me olhou querendo saber se aquela proposta era mesmo séria. Busquei o fundo dos seus olhos ao oferecer a confirmação que ela queria, fitando o belo rosto preso entre as minhas mãos firmes e dispostas a entregar o mundo inteiro diante daquela mulher de tanto brio. Esperei que ela processasse o que eu tinha acabado de sugerir e fui surpreendido quando escutei:
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  — Você tem razão.
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  — Como é que é? — soltei e encaixei dois dedos no meu próprio lóbulo. — Eu ouvi você dizer que eu tenho razão?
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  — Não se acostume. — ela se moveu, levantando o perfume consigo. — Você não vai ouvir isso de novo.
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  — Então está decidido. — esfreguei as mãos, vitorioso. — Vamos antecipar nossa lua de mel, docinho.
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Capítulo 5: O primeiro encontro

(POV: )

  Enterrei o pé bem fundo na areia quentinha e me espreguicei. O mar imenso e azul neon na minha frente fazia todos os meus problemas ficarem pequenininhos e distantes, quase inexistentes. Nem mesmo a preocupação com o rombo financeiro, a ameaça de falência ou o esmagador peso do futuro da O’Brien Group me alcançariam naquelas águas tão magníficas nas quais eu estava prestes a entrar.
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  Bastaram algumas ligações feitas pelo para que assim, num passe de mágica (e no encanto de algumas transações bancárias), nós estivéssemos no resort mais caro e exclusivo da Ilha de Zakynthos, na Grécia, com acesso facilitado à praia remota de Navagio, também conhecida como meu lugar favorito no mundo. Em questão de poucas horas, meu noivo fez contato com um piloto executivo, fretou um voo particular, cuidou das reservas em quartos separados e fez de tudo ao seu alcance para me tirar do estresse de Nova York por alguns dias e relaxar meu pescoço travado. Era um ato muito lisonjeiro, no entanto, ele mesmo cortou a fantasia de perfeito cavalheiro quando pediu que, em troca, eu usasse o menor biquíni que eu tinha.
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  E eu estava mesmo usando um biquíni minúsculo. Pensando no bronzeado, é claro. Não no .
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  Por mais que eu estivesse precisando daquele escape, o fato de a iniciativa ter partido do meu noivo metido a engraçadinho me atordoava. Mais que isso, fazia eu me perguntar onde o esforço dele estava verdadeiramente concentrado: em me torcer de raiva ou em me agradar. Havia horas, como aquela, em que as duas coisas pareciam ambivalentes, porque o que me tirava de tempo com suas gracinhas era o mesmo que articulava uma operação tática para me levar a uma enseada paradisíaca e digna de um roteiro de Cinquenta Tons de Cinza.
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  Tirei a saída de banho soltando ar pelo nariz. Um bilionário que se aproximava de mim por um contrato era bem Cinquenta Tons de Cinza. A diferença era que, em vez de sombrio e distante, era implicante e galanteador, uma combinação bem fácil de aborrecer e encantar, tudo ao mesmo tempo. Eu nunca sabia o que esperar dele e isso fazia a mulher controladora em mim gritar de desespero.
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  O problema era que ele também fazia a mulher em mim gritar de prazer. E aquela mulher que se deu ao desfrute de uma noite irresponsável, que rasgou as costas dele em carne viva e sussurrou alguns absurdos ao pé do ouvido era uma mulher que só ele conhecia.
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  Coisa, é claro, que ele nunca poderia saber. Se ao menos passasse por aquela cabeça de vento que ele tinha sido a melhor transa da minha vida, ele ficaria ainda mais insuportável. O efeito que ele teve sobre mim na única noite que tivemos juntos deveria ser mantido em segredo pelo bem da minha sanidade mental e da integridade física dele — embora ali, assistindo de camarote ele remover de si a camisa leve e exibir o peitoral todo dividido, tudo o que eu conseguisse pensar era em arranhar aquele tanquinho.
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  Contei seis gomos na barriga, mas não sabia se tinha contado certo porque ele logo baixou o cós da bermuda e as entradas altas e marcadas ficaram em evidência. Lindas. Expostas. Convidativas.
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   sabia muito bem o homem que era e isso era perigoso.
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  — Assim você vai me deixar tímido, docinho. — ele mostrou os dentes brancos e alinhados.
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  — Como se você não estivesse adorando. — afrouxei o rabo de cavalo para aliviar a dor de cabeça que ele era especialista em causar. — Todas as pessoas da ilha estão olhando pra você.
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  — Não é pra mim que estão olhando. — ele me mediu de cima a baixo. — Belo biquíni, aliás.
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  — Foi um pedido de um fã. — passei o dedo entre os nós em volta dos meus quadris, apertando a parte de baixo.
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  — Bom, se você estiver aceitando mais pedidos, eu gostaria de um topless. — ele acompanhou o movimento. — Não sou um cara ciumento.
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  Revirei os olhos instintivamente, mas a risada rouca que eu ouvi dele me provou que a manobra tinha perdido o efeito e, em vez de censurá-lo, a minha reação o deixava satisfeito. Felizmente, a belíssima paisagem grega diante de mim merecia mais atenção que a capacidade de me irritar, então eu mexi na bolsa, procurando o filtro solar e transferindo um pouco da minha agitação para o objeto inanimado, fazendo o produto escapar em excesso quando o apertei.
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   tentou disfarçar a risada dessa vez, mas falhou.
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  — Você se diverte às custas do meu sofrimento, não é? — tentei administrar a quantidade exagerada de protetor.
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  — Eu queria me divertir do outro jeito, mas você não deixa. — ele tomou minhas mãos delicadamente, tirando o excesso de filtro delas e passando o conteúdo pelo peito nu. — Eu tenho uma teoria: você não teve ninguém depois de mim. É por isso que você anda tão estressada.
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  — Você me enlouquece. — apertei as têmporas com as mãos brancas, desenhando uma linha na área. — Você move céus e terra para me trazer nesse paraíso, mas se esforça o dobro para me aporrinhar. Você me confunde, .
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  — Você também me confunde, . — ele encaixou as palmas nas laterais do meu rosto e esfregou minha testa gentilmente, espalhando o produto pela minha face avermelhada. — Você aceitou se casar comigo para ajudar sua família, e eu estou cumprindo a minha parte, mas parece que não importa o que eu faça, você ainda não confia em mim. Está sempre na defensiva, reativa, esquiva… Eu sei que deve ter um milhão de coisas passando pela sua cabeça, mas isso não vai funcionar se não houver confiança.
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  — Confiança é um exercício meio difícil para mim. — admiti.
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  — Não precisa ser cega nem absoluta. — ele terminou de passar o protetor. — Só me dê um chão para pisar.
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  As palavras de eram fortes e poderiam soar ásperas, mas o toque aveludado dele no meu rosto aliado ao tom de voz macio trouxeram a suavidade que a situação requeria. Ele tinha um jeito modulado de falar e usava uma cadência serena, sempre a mesma, com um timbre constante que, a princípio, eu confundia com indiferença, mas que, agora, me transmitia segurança. Eu gostava de segurança. Quem não? Segurança era, na verdade, uma condição essencial e imprescindível a qualquer relacionamento. Ou, no nosso caso, a qualquer negócio.
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  Inspirei bem fundo, desativando todos os meus escudos internos. me escaneou inteira e, quando ele me encarava intenso com aqueles olhos escuros, até a minha alma ficava transparente e legível. Eu não ficava confortável com essa vulnerabilidade, com a abertura que ele abria à fina força na minha armadura, mas meu cérebro condicionado a pensar de modo prático me apontou os fatos. E os fatos eram que ter legalizado minha autoridade na frente do tio Morgan e ter me proporcionado aquela viagem eram provas do comprometimento de comigo. Ele merecia o chão que estava pedindo.
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  E eu me senti a pior pessoa na face da Terra ao lembrar que ele só teria onde pisar por exatamente um ano. Mas eu logo disse a mim mesma que o plano secreto do divórcio depois da recuperação da O’Brien Group não era uma jogada suja, e sim a minha garantia. Era o chão que eu tinha para pisar.
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  Sacudi a cabeça, tentando me livrar do meu devaneio e do longo silêncio que ele tinha causado. Voltei a pegar o tubo do protetor abandonado na mesa e o pressionei contra o peitoral moreno, obrigando a segurá-lo enquanto eu me deitava na espreguiçadeira.
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  — Você quer confiança. Bom, eu confio que você não vai me deixar ter uma insolação às vésperas do meu casamento. — me arrumei de bruços e desfiz o nó do biquíni na base das minhas costas.
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   aceitou o pedido implícito e agachou-se ao meu lado, controlando a respiração quando me viu arquear um pouco o trapézio para arrumar os seios esmagados contra o trançado. Começou seu trabalho massageando suavemente as minhas costas, passando também pela parte de trás dos meus braços, e cobriu cuidadosamente a pele que já se mostrava sensível. Talvez tenha sido a exposição prévia ao Sol. Ou talvez fosse apenas o efeito que o toque dele me causava. O que eu sabia com certeza era que as mãos imprimiam uma pressão gostosa e relaxante, que ganhava mais graus de risco à medida que ele descia pela curva da minha lombar, encontrando o limite da calcinha.
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  — Eu assumo a partir daí, obrigada.
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  — Tem certeza? — ele reclamou, mas parou imediatamente. Era bom saber que ele era capaz de parar quando eu pedia.
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  — Sim. Agora outra camada. — ordenei. — Não quero ficar queimada.
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  — Por quê? Seu vestido de noiva vai ter um decote nas costas?
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  — Não vai ter vestido de noiva. — suspirei.
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  — Um casamento nudista? — ouvi quando ele espremeu o tubo novamente, começando a aplicar de baixo para cima dessa vez. — Eu topo.
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  — Eu vou usar um vestido normal. — ignorei a piadinha. — Quero que o nosso casamento se pareça exatamente com o que é: uma transação.
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  — Uau. Cuidado para não derreter com todo esse calor da ilha, rainha do gelo.
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  — Não se ofenda com minha falta de apego aos detalhes. — pedi, anestesiada pelo movimento das mãos dele. — Nós mal nos conhecemos e vamos dividir um teto em alguns dias. É muito para processar.
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  — Estamos carregando o mesmo peso, . — ele chegou aos meus ombros. — Mais um motivo pra você se abrir pra mim. — um risinho cínico. — Sem piadinha de duplo sentido, eu juro.
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  — O que você sugere? Uma sessão de terapia de casal para falarmos sobre nossos sentimentos?
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  — Ou um jantar, para começar. — ele limpou as mãos numa toalha e armou outra espreguiçadeira, sentando-se na ponta.
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  — Um encontro? — lidei como pude com a visão das coxas torneadas quando ele puxou o calção de banho. — Sério?
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  — Acho que é justo, já que nós não tivemos um. — ele cruzou os dedos embaixo do queixo, percebendo a barba nascente. — Não se preocupe, não vou fazer nada romântico. Nem vou puxar a cadeira pra você.
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  — Contanto que você não me faça cair de bunda no chão.
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  — Ótima forma de chamar minha atenção para a sua bunda. — ele arqueou uma sobrancelha.
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  — Não sabia? Esse é o meu maior objetivo na vida. — disparei, sarcástica. — Oh, , por favor, por favor, olhe pra minha bunda!
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  — Já que insiste-
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  — Para de olhar pra minha bunda! — quase me levantei.
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  — Eu paro se você aceitar meu convite.
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  — Eu aceito. — cedi. — Considere um voto de confiança.
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  — Vou esperar até o fim da noite pra te beijar, prometo.
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  Derrotada, rolei os olhos. Mais uma para o contador do .
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  — Às vezes eu penso que você tem um desafio pessoal de me tirar do sério, sabia?
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  Ele levantou-se (um verdadeiro espetáculo), preparando-se para correr em direção ao mar, não sem antes me presentear com uma piscadela e mais uma provocação.
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  — Então você anda pensando em mim?
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👰🏻‍♀️

  O vento da costa soprava agradavelmente, balançando meus cabelos que ainda tinham cheiro de sal mesmo depois da lavagem. Me arrependi por uma fração de segundo por ter escolhido um vestido de alças finas e não ter levado um casaco, mas, em minha defesa, não tinha me avisado que o restaurante que ele reservou para o nosso jantar era a céu aberto.
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  Uma excelente escolha, aliás, porque o céu da ilha não era um céu comum. Tinha pinceladas de ouro mesmo quando anoitecia, o que lhe conferia uma imagem única de roxo e dourado salpicado de estrelas visíveis. A lua imensa, refletida nas águas do Mar Jônico, tremulava nas ondas calmas que faziam um som delicioso quando quebravam. Tudo era leve, harmônico e até o ar era mais fácil de respirar. A atmosfera morna, resultado do Sol intenso aquecendo a areia o dia todo, deixava o clima ameno e presenteava todas as bochechas com um rubor natural adorável.
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  No rosto dele, eu precisava admitir, ficava uma gracinha. Especialmente depois que ele se livrou da barba que ele notou estar grande demais mais cedo. cheirava à colônia fresca, vestia uma camisa branca de algodão e uma social azul claro jogada por cima, dobrando as mangas e deixando a tatuagem de flecha visível.
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  A tatuagem me intrigava. Ele me intrigava.
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  Navagio deixou ele mais bonito, bagunçou um pouco o cabelo comprido e embaçou o alinhado empresarial em que ele vivia metido, além de mostrar que a língua, sempre tão afiada, sabia falar outras coisas além de insinuações sexuais de quinta. Do meio para o fim da refeição, me contou brevemente sobre a vida que levava no Japão e tentou me ensinar algumas palavras no dialeto natal, obtendo um resultado desastroso que lhe arrancou gargalhadas.
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  — É uma pena que você não seja fluente. — ele abriu a garrafa de vinho e nos serviu. — Eu escrevi meus votos em japonês.
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  — Você escreveu votos? — congelei no meio do primeiro gole. — Eu não, vai pegar mal pra mim!
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  — Ainda dá tempo. — ele deslizou os lábios pelo vidro antes de beber. — Quero que você me faça chorar, ouviu?
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  — Vai ser muito emocionante quando eu disser o quanto eu te odeio na frente dos seus pais e dos seus irmãos.
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  — O inglês deles é péssimo, eles não vão entender. — garantiu.
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  — Não me tente. — cruzei as pernas. — Nós temos que fingir que estamos perdidamente apaixonados um pelo outro.
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  — Então você nem vai precisar fingir.
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  Rolei os olhos. Outra vez. Era mais forte do que eu.
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  — Cinco. — disparou, vitorioso.
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  — Cinco o quê?
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  — Cinco vezes que eu te fiz rolar os olhos só hoje.
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  — Quebrou seu próprio recorde. — propus um brinde. — Meus parabéns.
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  — Obrigado. — as taças bateram uma na outra e passou um braço pelo meu colo, segurando firmemente a base da cadeira. — Mas tenta não rolar os olhos para o que eu vou fazer agora, tá?
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  — O que está acontecendo? — fui vigorosamente puxada para mais perto dele, como se eu não pesasse nada.
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  — Vê aquele cara sentado sozinho perto do bar? — soprou no meu ouvido, aproveitando a proximidade.
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  — O que está com a peruca torta? — segui a direção dele e comentei maldosamente.
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   riu num tom mais agudo que das outras vezes, bem perto do meu rosto, e o nariz dele raspou no meu perfil, que ele carimbou com um beijo fofo e inesperado.
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  — Ele está tirando fotos nossas desde que chegamos. — ele continuou sussurrando.
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  — Como é? Eu vou resolver isso agora. — tentei me levantar e prendeu meu pulso contra a mesa educadamente.
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  — Deixa. Ele é jornalista, isso é bom para nós. Ajuda a construir nossa imagem enquanto casal. — ele deslizou pelas minhas juntas e segurou minha mão. — Agora entra no jogo.
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  — Como você sabe que ele é da imprensa? — arrisquei uma olhada e brinquei com os brincos na orelha de , fazendo um carinho no lóbulo. — E se ele for só um maluco?
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  — Ele já me fotografou algumas vezes enquanto eu corria em Greenwich Village. — ele conteve um arrepio. — E o maluco acabou de chegar.
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  — Que maluco? — olhei em volta sem a menor discrição.
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  — O que eu contratei pra te fazer uma surpresa.
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  O dito maluco anunciou a si mesmo num volume inacreditável de tão alto para alguém que estava sem microfone. Usava uma roupa espalhafatosa, preta e vermelha, e estava acompanhado de outros dois com o mesmo figurino de Ligeirinho, cada um segurando instrumentos de corda e chapéus enormes, capazes de abrigar todos que estavam no restaurante de um tornado. Ele deu o primeiro dedilhar no violão, tirando dele uma nota limpa e alegre, e atraiu para si toda a atenção ao misturar os idiomas.
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  — Buenas noches, damas y caballeros! Mi nombre es Iñaki e eu estou aqui esta noite com meus nobres companheiros mariachis para cantar para uma jovem muito especial! A bela O’Brien está na casa?
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  Derreti no meu lugar quando o burburinho de vozes repetindo meu nome começou. Alguém apontou para mim e houve palmas, assobios e, de repente, eu era a atração do lugar. Meu rosto ficou em brasa e meu sangue fervilhou com os holofotes. Era óbvio que aquela viagem não seria perfeita e tinha um verdadeiro circo armado para me constranger.
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  — Eu vou te matar, Arata. — apertei a mão dele com toda força que eu tinha. — Lenta e dolorosamente.
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  — Adoro quando você me machuca. — ele fechou os olhos, sádico.
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  — Sorte a sua que estamos em público. — falei através dos dentes trincados no sorriso mais falso da minha vida. — Eu disse que não queria escândalo e você me prepara uma serenata?
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  — Não. Um trio de mariachis. — , ao contrário de mim, nunca sorriu tão sincero, prendendo o riso na garganta. — Você não ouviu a explicação?
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  — Muy bien! — Iñaki aproximou-se gritando e até mesmo deu um pulo no lugar com o susto, pressionando o tímpano com a mão livre. — Señorita , lhe dedica esta canção de amor!
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  Continuei forçando um sorriso, totalmente deslocada, e , que ainda tinha os dedos entrelaçados nos meus, beijou as falanges para esconder a risada. Os ombros enormes não mentiam, subindo e descendo do riso abafado, e Iñaki (aos berros, sempre aos berros) puxou a primeira estrofe de um bolero romântico em espanhol.
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  Aparentemente, era a música mais comprida do mundo.
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  Olhei os espectadores ao meu redor, que assistiam ao show dançando timidamente, colocando a mão no coração, ou mesmo ameaçando romper um choro. O evento parou o restaurante, os garçons deixaram de trabalhar e, quando eu terminei a varredura do ambiente, procurei o responsável por aquilo tudo, não encontrando no seu assento. Em vez de estar sentado ao meu lado, ele estava ajoelhado na minha frente, segurando uma caixa da Cartier com a pedra mais brega que já existiu: um diamante genérico, enorme e sem personalidade alguma.
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  — O’Brien… — ele começou, tomando minha destra.
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  Ah, não.
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  — Aceita se casar comigo?
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  A pergunta foi encoberta por um grande soluço coletivo de expectativa. Os olhos inchados de estavam úmidos e bem-humorados, lacrimejando por toda graça que ele achou naquela situação tragicômica. A parte da tragédia, é claro, estava toda na minha conta, que estava sendo pedida em casamento na frente de um punhado de estranhos ansiosos e de um jornalista que já deveria estar com a matéria pronta para soltar em algum tabloide.
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  Embora eu pudesse elencar ao menos doze motivos plausíveis para a minha infelicidade momentânea, o primeiro da lista era ter que reconhecer que estava certo. Nosso noivado precisava daquilo tudo, visibilidade, notoriedade, repercussão. E foi apenas por isso que eu ativei meu modo atriz e pus a mão na boca, fingindo surpresa.
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  — Eu te odeio. — confessei baixinho, aproveitando a boca coberta, e em seguida respondi audivelmente. — Sim! Sim! Mil vezes sim!
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  — Ela aceitou! — Iñaki anunciou a notícia feito um alto-falante e teve outro espasmo de susto. — Aplausos para o senhor e a senhora Arata!
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  — Aqui, docinho. Considere um presente. — pôs o anel no meu dedo, ainda trêmulo pelos gritos do mariachi gasguito. — Um dia, se você se apaixonar por mim, eu te dou um anel que realmente signifique alguma coisa.
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  — Se eu me apaixonar por você? — rebati, ultrajada.
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  — Oh, me desculpe. Quando. Porque vai acontecer. Ou você acha que vai conseguir conviver comigo diariamente e resistir aos meus encantos? — ele piscou.
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  — Eu não acho que vou conseguir conviver com você diariamente, pra começar.
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  — Cuidado, . — ele beijou o anel. — A linha entre amor e ódio é bem tênue.
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  — E eu posso usá-la pra sufocar você até a morte.
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  — Espere o casamento, assim você herda a minha fortuna. — ele aconselhou e fez um sinal chamando o maître. — Uma rodada de champanhe, por favor. Na minha conta.
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  — Champanhe! — a garganta potente de Iñaki repetiu e emendou outra música, enquanto se encolhia e resmungava em japonês.
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  Ri de verdade pela primeira vez na noite. Quem diria que o conjunto de músculos e olhar intimidador ambulante tinha medinho de barulho? Quem diria que o jantar que estava condenado a ser péssimo para mim se transformou numa experiência divertida? Quem diria que, de alguma forma, eu nunca ia esquecer o dia em que pediu a minha mão?
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  Dei de ombros. Se não fosse romântico, ao menos que fosse engraçado. E era.
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  — O feitiço virou contra o feiticeiro? — observei meu noivo (mais oficial do que nunca agora) se retorcendo todo conforme Iñaki bradava.
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  — Como pode todas as frases dele serem exclamativas? — ele massageou uma veia na testa, espantado.
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  Iñaki prosseguiu com sua animação mexicana contagiando o restaurante, preenchendo a noite que foi regada a muita música e felicitações que recebemos de desconhecidos. Quando a dor de ouvido de beirou o insuportável, partimos em busca de um pouco de silêncio e decidimos retornar ao hotel caminhando. As ruas da ilha eram de calçamento e tinham casas charmosas de tijolo branco, plantas e flores por toda parte e uma temperatura que caía gradativamente, contrastando com as médias diárias.
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  — Permita-me. — colocou a camisa social azul nos meus ombros e se ofereceu para carregar a minha bolsa.
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  — Não precisa gastar seu cavalheirismo. — aceitei ambas as cortesias. — Você já me fisgou, lembra? — mostrei a aliança.
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  — Prefiro garantir. — o celular dele tocou quando chegamos ao hotel. — Vai que você é uma noiva fujona e me deixa plantado no altar?
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   esperou que entrássemos no saguão para atender, falando apenas o necessário à pessoa do outro lado da linha. Mesmo ocupado com a ligação, ele segurou as portas do elevador para que eu entrasse primeiro e seguiu respondendo ao telefone concisamente, até encerrar a chamada com um semblante bem satisfeito.
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  — Era o Gordon, meu irmão. — ele explicou, apertando o botão da cobertura. — As fotos do noivado se espalharam e já estão valorizando as ações da Three Swords.
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  — Eu fico feliz em saber. — segurei a mão dele. — Eu realmente fico.
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  — Isso significa que eu posso dormir tranquilo, sem medo de você invadir meu quarto e me sufocar até a morte com o travesseiro? — ele olhou de canto para o gesto.
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  — Boa ideia. — chegamos ao nosso andar. — Posso fazer parecer que foi um acidente.
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  — Ok, agora você está me assustando. — ele segurou as portas novamente e me acompanhou até a minha suíte.
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  — Obrigada pelo jantar, . — recostei na porta, pegando minha bolsa de volta para procurar o cartão de acesso. — E pelo trio de mariachis. E por me dar um anel que eu odiei.
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  — Tudo conforme o meu plano. — ele encostou o braço malhado na soleira, me cercando.
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  — Seu plano de me deixar maluca?
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  — Meu plano de não tocar em nada que é especial pra você. — ele arrumou o pingente do meu colar.
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  Congelei por alguns instantes, retendo o ar nos pulmões.
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  Especial pra mim?
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  Desde quando ligava para o que era especial pra mim?
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  — O que você quer dizer com isso? — perguntei, acertando a respiração a muito custo.
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  — Eu sei que você tem um vestido, uma cerimônia, um anel e um cara dos sonhos. — ele encarou o teto, desviando o olhar e enfiando uma mão no bolso. — E eu sei também que esse cara não sou eu. Não é justo pedir que você gaste os seus sonhos comigo.
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  Mastiguei a frase dentro de mim. “Meus sonhos”. Fazia muito tempo que eu não olhava para eles. O casamento perfeito era um, mas eu mesma me encarreguei de enterrá-lo e esquecê-lo em algum lugar escuro do meu coração. Sim, era perfeitamente possível que eu me casasse de novo um dia, por amor e não por contrato, no entanto, aquele casamento ainda seria o primeiro. Sempre seria o primeiro e já estava fadado ao fracasso. Era um sonho manchado, maculado, com uma rachadura enorme. E mesmo assim, teve o cuidado de não aumentar o estrago e partir o que me sobrou.
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  Foi quando me ocorreu um pensamento inédito: havia um homem ali. Uma alma, um coração pulsante, não apenas um corpo bem acabado e uma mente brilhante para negócios e para sexo. Era a primeira vez que eu enxergava e começava a mudar a ideia que eu tinha dele.
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  — Estou surpresa por você não se achar o cara dos meus sonhos. — dei um passo para trás e esbarrei na fechadura eletrônica.
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  — Em partes. — não recuou. — Tenho certeza de que sou o cara dos seus sonhos eróticos, por exemplo.
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  E de volta à programação normal…
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  — Tá vendo, ? — bati no peito dele, indignada. — Por que você é desse jeito? Por que toda vez que eu estou começando a mudar de opinião sobre você, você vem e faz-
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  Um beijo me calou. Um puta beijo, sem cláusula de contrato, sem burocracia, sem formalidades. me puxou pela gola da própria camisa e me colou ao tronco quente, me entregando uma língua ardente, dominadora e atrevida. Não havia espaço algum entre nós e o modo como ele se insinuava contra mim fez minhas costas acionaram botões aleatórios na fechadura, que apitou repetidamente. Nem mesmo o bipe foi suficiente para fazê-lo quebrar o beijo e ele encontrou uma solução mais criativa, enlaçando a minha cintura e me trazendo ainda mais junto, amassando meus seios contra o peitoral dele, que escapava da gola em v da blusa de algodão.
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  — Faz… isso. — terminei a frase, arquejando.
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  — Eu disse que ia esperar até o final da noite pra te beijar. — ele ofegou com a boca manchada do meu batom.
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  Limpei o arco do cupido dele, a área mais atingida, contornando a saliência vermelha com o polegar e vendo pontinhos piscando pela tontura que o beijo me causou. se refez, confiante do seu triunfo, e eu me vi aturdida, sem lembrar sequer onde eu estava, segurando um cartão magnético que eu nem sabia mais para que servia.
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  — Logo ali, senhora Arata. — ele indicou a minha porta. — Está entregue.
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  — Boa noite, senhor Arata. — retribuí um pouco zonza.
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  — Boa noite, . — ele começou a se afastar. — Mas se você quiser que seja boa mesmo, sabe onde é o meu quarto…
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Capítulo 6: O casamento

(POV: )

  De volta a Nova York, eu sentia que um pedaço de mim tinha ficado em Navagio, amassado contra uma porta de quarto de hotel e sugado num beijo inesquecível. Alguma parte minha ainda estava ali, perdida e zonza com a investida que fez.
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  E que eu não resisti.
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  Minha pele, enfeitiçada pela lembrança, ainda guardava o ardor do toque que perdurou por dias na minha boca. O cheiro de água de colônia misturado à maresia despertava minha memória olfativa e subia sem explicação alguma, evocando tudo outra vez: a gola da camisa roçando pelo meu colo, a mão forte que me segurou pela cintura e me manteve de pé quando minhas pernas enfraqueceram, os lábios que ficaram com a sensação de alto relevo…
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  Eu queria colocar a culpa em Navagio. Na praia romântica, no mar encantador, na magia que envolvia a ilha.
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  Mas a culpa era do . E um pouco minha também.
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  — Pronta, querida? — minha mãe me perguntou e me chamou à realidade.
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  Solucei. Se “estar pronta” fosse estar maquiada, segurando um modesto buquê de camélias e vestida de off white então, sim, eu estava pronta.
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  Ah, é. Era o dia do casamento.
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  Branco não era uma opção, não por causa do mito da pureza, mas porque a cor simbólica parecia piegas para o nada romântico salão de conferências B da O’Brien Group, onde o contrato seria assinado diante de seletos convidados. Cheguei a reconsiderar as flores, já que não haveria cortejo ou entrada especial, no entanto, eu precisava delas como suporte emocional, apertando os caules cortados para conter a ansiedade.
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  — Estou pronta. — respondi, resoluta, encarando a porta do salão. — Já estão todos aí?
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  — Sim, inclusive o juiz de paz. — meu pai confirmou, me escoltando gentilmente pelo braço.
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  — Ah, finalmente. — entreabriu a porta e pôs metade do corpo para fora. — , se você demorar mais dois segundos, o noivo vai ter uma síncope. Ele não para de andar de um lado para o outro, está me dando aflição.
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  — Que gracinha. — mamãe riu. — está nervoso.
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  Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir o nome em voz alta. Foi como um gatilho para me despertar de uma hipnose, uma palavra feita de fumaça, desmanchando como a névoa que se dissipa com os primeiros raios da manhã e me libertando do automatismo com o qual eu vinha fazendo tudo até ali. não seria mais um simples vocativo designado para o cara que usava um perfume que me dava alergia e cujo passatempo era me irritar. seria o meu vínculo, a identidade associada à minha, a lembrança sem nome que deixou de ser lembrança e que deixou de ser sem nome, porque agora estava prestes a atender por um signo mais profundo e juramentado por lei.
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  Meu marido.
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  — Se você está pensando em fugir, é melhor fazer isso logo.
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  A silhueta que surgiu atrás de era uma presença ainda mais poderosa que o nome, trajando um terno e uma camisa social que era mais um desafio para a minha sanidade. A aparência impecável, como sempre, contava com um detalhe que me arrancou um sorriso: usava, na lapela em volta dos ombros largos, um botão de camélia combinando com o meu buquê, sutileza tal que me fez maltratar as minhas pobres flores, espremendo-as a ponto de o sulco dos cabos amarrados por um laço de fita umedecer minhas mãos geladas.
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  — E então? Você vai fugir de mim, ?
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  Um suspiro ficou preso na minha garganta ao vê-lo se aproximar de mim, fácil como respirar, e algo no timbre com que ele me chamou ecoou com maestria.
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  Eu não vou fugir. Enquanto você disser meu nome nessa cadência encantadora e sensual, nem se eu quisesse.
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  — Quem sabe? — falei no lugar. — Você está vendo a noiva antes do casamento, dizem que atrai má sorte.
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  — Eu faço a minha própria sorte. — rebateu, liberando as flores ao me tomar pela destra e me beijar o dorso. — Você está deslumbrante.
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  Enrubesci. Eu sabia como estava, mas, vindo dele, era diferente.
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  — Senhor e senhora O’Brien. — ele cumprimentou meus pais. — Não se preocupem, ela estará em boas mãos.
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  Meu impulso natural era dizer que homem algum me tinha nas mãos, para começar, porém o fato de eu estar me submetendo àquilo contrariava o meu posicionamento. Engoli o orgulho, banquei a donzela em perigo e entrei no salão, sob o olhar minucioso da minha futura sogra, que me esmiuçou inteira com uma expressão tão simpática quanto ilegível. Certamente uma nora sem fluência no idioma e sem conhecimento das tradições e cultura japonesas não era o que ela queria, no entanto, assim como eu, ela estava sacrificando um desejo pessoal em nome de um bem comum. Era o que todos pareciam estar fazendo, aliás, por isso uma certa apatia tomava conta do ambiente.
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  Exceto, talvez, pelo ?
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  O nervosismo que observou era evidente no modo como meu noivo se mexia, agitado, e eu senti falta dos três brincos de pino que, com aquela inquietação toda, estariam chacoalhando junto com ele. considerou a ocasião séria demais para o acessório e eu lamentei a escolha. As joias faziam parte dele, deixavam ele charmoso, com um quê de rebeldia.
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  — Te falta um pedaço. — comentei conforme andávamos na direção do juiz de paz. — Ou seus pais não sabem que você é radical e fez três furos na orelha?
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  — Ah, eles sabem. Sobre os brincos, a tatuagem e o cara da máfia japonesa que eu matei. — ele brincou. — Eu só queria um ar mais conservador hoje, pra não deixar o pessoal do conselho chocado.
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  — Uma pena.
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  — Não gostou? Você prefere o bad boy?
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  — Eu prefiro fechar logo esse contrato. — apressei o passo até o “altar”.
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  — Você é tão sexy bancando a distante e insensível. — me deixou ir um pouco mais a frente. — Me faz subir pelas paredes.
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  — Você quer que eu revire os olhos agora ou só depois do casamento? — a ambiguidade foi ficando mais evidente conforme a frase saía e deu um sorriso labial.
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  — Por mim, nós mandamos todo mundo embora e eu faço você revirar os olhos ali mesmo naquela mesa. — ele propôs e eu me dei conta de que ele estava com uma visão ampla da minha bunda na hora.
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  — Não sei. Parece meramente decorativa, não vai aguentar nós dois. — provoquei.
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  — … — ele quase rosnou, rouco.
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  — Sim, querido? — atendi, sorrindo para os convidados e entrando na farsa.
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  — Nós vamos nos prometer muita coisa que não é verdade agora. — me fez parar de caminhar e eu me senti cativa no tom que ele usou. — Antes que isso aconteça, me prometa ao menos uma que é real.
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  Era impossível especificar que parte do meu corpo começou a estremecer primeiro, até porque o tremor se espalhou rapidamente, lançado como um veneno na minha corrente sanguínea e tomando conta até dos meus pensamentos. Aquilo era possível? Um pensamento trêmulo? Quer fosse possível ou não, o fato era que eu vibrei de cima a baixo quando colou a boca carnuda no meu ouvido, suplicante:
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  — Me prometa que você vai me deixar tentar.
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  Minha cintura foi envolvida novamente pelas mãos, seguras da posse e seguras de si, deslizando facilmente pelo cetim do meu vestido. Eu quase me senti refém, mas, naqueles breves segundos, eu estava presa por vontade.
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  — … — tentei começar.
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  — Podemos dar início? — o oficiante se interpôs entre nós do nada.
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  Salva pelo gongo.
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  — Por favor, excelência. — tirou apenas uma das mãos de mim e nos posicionamos na frente da mesa.
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  Consenti com um aceno. Depois disso, o discurso que o juiz de paz engatou foi em vão: a única coisa que tinha a minha atenção naquele momento era o pedido sem resposta que me fez, pairando pela minha mente agitada e alheia aos conselhos matrimoniais que o oficiante proferia. , ao contrário de mim, escutava tudo com dedicação devota, solene, deixando transparecer que, mesmo envolto em burocracia e motivado por interesses financeiros, o casamento ocupava um lugar sagrado no coração dele.
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  O coração dele, a propósito, era um terreno em que eu não pretendia pisar. Minha prioridade era ambos sairmos ilesos daquela experiência conjunta, sem ferir um ao outro de qualquer maneira que fosse.
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  — O’Brien…
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  — Aceito. — disparei no susto ao ouvir meu nome.
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  — A noiva está ansiosa. — o juiz de paz fez todos rirem. — Admiro o entusiasmo, mas eu preciso perguntar primeiro.
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  — Desculpe. — pedi baixinho. — É minha primeira vez casando.
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  Mais risadas. estreitou ainda mais o nosso enlace e tomou um fôlego profundo, fechando os olhos à espera do sim que mudaria tudo para nós dois.
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  — O’Brien, você aceita Arata como seu legítimo esposo?
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  — Sim. — confirmei, e soltou o ar que segurava.
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  — É de livre e espontânea vontade que você o faz?
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  — Sim. — repeti, ainda mais enfática.
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  — Pois bem. — ele inclinou-se para o homem ao meu lado. — Arata, você aceita O’Brien como sua legítima esposa?
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  — Sim. Eu aceito.
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  A Terra saiu do eixo e parou de girar quando eu ouvi a afirmação.
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  — É de livre e espontânea vontade que você o faz?
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  — Sim. — ele me fitou com um sorriso honesto. — Sim, é.
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  — Perfeito. Diante das testemunhas, vamos às assinaturas.
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  O juiz de paz me estendeu a certidão de casamento e eu assinei meu nome logo depois do de , observando a caligrafia firme e convicta dele, marcada no papel com o traço forte das letras. Era a primeira vez que eu o via escrever — ele era canhoto — e eu evitei pensar em quantas tantas outras coisas eu não sabia sobre ele. De que lado da cama ele gostava de dormir? O que era a tatuagem de flecha? Por que três brincos? O que a mãe dele cochichava em japonês? A mãe dele gostava de mim? Eu queria que ela gostasse?
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  Silenciei as perguntas. Eu não teria as respostas e, mesmo que eu tivesse, era tarde. O oficiante já estava validando o documento e olhava para mim com uma cara de dúvida. Eu tinha perdido alguma coisa.
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  — Como eu ia dizendo… — ele raspou a garganta. — Eu vos declaro marido e mulher. Agora pode beijar a noiva.
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  Procurei por ao meu lado, que tinha os olhos ainda maiores e um semblante de preocupação. Ambos esquecemos por completo do detalhe do beijo, trocado diante dos nossos familiares e dos outros poucos presentes como “prova do nosso amor”. Era engraçado como as demonstrações falsas de afeto eram as mais difíceis. Um beijo devastador roubado na Grécia, tudo bem, mas o beijo selando o casamento, esse sim deixava ele tenso.
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  Talvez porque o que era obrigatório não fosse tão excitante quanto o que era proibido.
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  Ele articulou falar algo, mas a demora pela resposta criou um silêncio de expectativa que deixou o clima constrangedor, e eu percebi que a pior coisa a fazer no momento era não beijá-lo.
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  — Ficou tímido de repente? — brinquei, amenizando a tensão, e me virei para ele esperando que ele entendesse o meu consentimento.
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  — De jeito nenhum. Eu estava ansioso por isso.
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  A última parte não pareceu uma farsa, mas sim uma confissão. A veia que saltou no pescoço dele denunciou a pressa e a respiração se adensou quando eu apoiei as mãos nos seus ombros malhados, arrumando o botão de camélia na lapela. conteve um suspiro antes de vencer a distância entre nós e avidamente encontrou meus lábios, latejando de vontade do beijo, que durou menos do que eu precisava. Não sei ao certo o que senti quando o selar se partiu, mas era qualquer coisa semelhante à ausência, à incompletude, à inconclusão. E o fato de ele não ter recuado um milímetro sequer do meu rosto foi o sinal que eu precisava para saber que ele também achava que aquele beijo não valeu. Foi quando eu parei de pensar e subi minhas mãos pela nuca dele.
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  Eu o beijei novamente. Do jeito que eu queria dessa vez.
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   retribuiu esquecendo de si e de todos que estavam ali, mas foi obrigado a se frear quando o fotógrafo gritou energicamente que já tinha feito umas oito fotos e estava “quase acabando o filme”. Bati os cílios, ofegante, e arrumou meu cabelo atrás da orelha, deslizando pelo meu maxilar e parando no meu queixo. Eu gostei do carinho mais do que eu deveria. Pior, eu gostava dos beijos mais do que eu deveria, e eu não podia me deixar ser tão vulnerável. Qualquer grau de envolvimento era perigoso, porque meu corpo era traiçoeiro quando se tratava dele, dos seus olhos ardentes e do seu galanteador modo de me tocar. A nossa afinidade física era inegável e eu mordi a parte interna das bochechas ao constatar que Laura estava certa. Seria muito difícil resistir à atração que eu sentia… pelo meu marido.
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  — Guarda um pouco para a lua de mel, docinho. — piscou.
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  — Idiota. — sussurrei.
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  — Seu idiota. — ele mostrou a aliança. — Legalmente agora.
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  A champanhe estourou junto com o ruído das palmas e a organização de poses e lugares para o momento das fotos oficiais começou. Permaneci de pé ao lado do meu novíssimo marido, assistindo as pessoas entrarem e saírem da foto entre flashes e felicitações que eu recebia com… alegria?
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  Sim. Uma alegria frágil, recém-nascida, que surgiu ao contemplar aquele salão repleto de pessoas que me amavam — e alguns acionistas distantes. O perfume das minhas flores favoritas ganhava força conforme eu me movia, exalando o aroma encorpado de planta colhida e fresca, e, de repente, não era mais tão difícil ou assustador quanto eu achei que seria. A “festa” encerrou-se sem maiores dramas, exceto pelas mães, que pressionavam o canto dos olhos para limpar as lágrimas a todo instante, e Kira, muda e absorta, admirando o homem que ela conheceu ainda menino numa situação inédita, quando ele tinha que levar junto, para o lar onde até ontem ele morava sozinho, uma mulher.
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  Eu.
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👰🏻‍♀️

  As primeiras noites trouxeram a primeira barreira: a da estranheza. Foi uma fase facilmente vencida, breve, de modo que os cumprimentos sem jeito pelos corredores logo evoluíram para um “oi” mais caloroso e familiar e convites para dividir refeições ao final do dia. A relação que surgia já se assemelhava ao companheirismo de colegas de quarto que toleravam a presença um do outro com certo conforto e graciosidade. Eu até aprendi a rir das piadinhas de , agora suportáveis, apesar de ser nítido o quanto ele preferia me ver irritada e rolando os olhos.
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  Num balanço geral, tudo estava indo bem. O passar dos dias diluiu a tensão da cerimônia e o sentimento, agora, era algo similar ao que a gente tem antes de uma injeção intravenosa. Você fecha os olhos, cerra os punhos e espera por uma dor imensurável, mas recebe só uma leve ardência que, no final das contas, é um “mal” necessário.
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  Embora eu não achasse que fosse um mal, ele era necessário. No trabalho, a Three Swords havia ligado os aparelhos respiratórios da O’Brien Group e prolongado a vida útil da empresa, lentamente dando sinais de sua recuperação. Em casa, era uma companhia agradável, por assim dizer. Sem falar que ele alcançava as prateleiras altas do armário e matava as aranhas do meu quarto.
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  O problema era que, mesmo livre de aracnídeos, a hora de dormir continuava custosa. Meu corpo se negava a relaxar totalmente e me jogava num estado de alerta instintivo, alarmando meu cérebro que me presenteava com uma descarga de adrenalina e aquela sensação esquisita de “você não está em casa”. Além do mais, a pele reclamava, indócil e carente, sentindo a falta de calor humano.
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  Eu precisava de dopamina.
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  Fazia bastante tempo que eu não recebia visitas. E por mais que o impasse fosse facilmente contornado simplesmente batendo no quarto do lado, meu orgulho não me permitia dar esse gosto ao ainda. Se eu quisesse um sexo recreativo de emergência sem violar as cláusulas do nosso contrato, eu precisaria verbalizar e consentir com muita clareza. Dizer, querer, pedir. E se eu sabia algo sobre o é que ele sentiria prazer em me fazer implorar.
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  Só que implorar não fazia muito o meu estilo, então eu optei por um anestésico. Levantei da cama sedenta por um gole de bourbon que, com sorte, me daria sono e me esfriaria as entranhas. Estava acostumada com o corredor, mesmo no escuro, e desci as escadas me apoiando no corrimão e confiando nas luzes da área externa, que projetavam um pouco de claridade dentro da casa. Apertei o robe quando meus pés tocaram o chão da sala e esfreguei os braços por causa de uma nítida queda de temperatura, cuja causa eu descobri dando uma rápida escaneada na sala e notando três coisas.
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  Um: a janela estava aberta.
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  Dois: apesar disso, dormia despreocupadamente no sofá.
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  Três: ele não usava mais nada além de uma boxer preta.
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  A barriga morena ondulava conforme a respiração pesada movia o peito torneado e completamente exposto. usava o braço como travesseiro, dobrado confortavelmente atrás da cabeça, e não parecia incomodado com o frio que atravessava o corpo seminu. Pelo contrário, a perna arqueada sobre o encosto do sofá revelava a postura de quem estava perfeitamente à vontade dentro da própria casa — tão à vontade a ponto de ter esquecido que havia mais alguém lá. Convencida de que minha perambulação noturna não o despertaria de um sono que parecia ser profundo, apenas removi a manta enrolada no pé dele, esticando-a antes de estendê-la sobre a pele levemente arrepiada pelo vento.
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  — Você não quer que eu pegue um resfriado, que amor. — ele falou sem se mover ou abrir os olhos.
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  — Jesus Cristo! — soltei o cobertor, sobressaltada. — Você dorme de olho aberto, por acaso?
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  — Eu tenho insônia. — a expressão se manteve impassível. — Não durmo de jeito nenhum.
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  — Então lembra de se cobrir na próxima vez que não estiver dormindo no sofá. — ralhei.
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  — Se não gosta do que está vendo, pare de olhar. — ele esboçou um sorriso no canto da boca.
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  — Não estou olhando nada. Eu só queria beber alguma coisa.
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  — Está me pedindo permissão? — ele abriu um olho só.
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  — Não.
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  — Ótimo. — ele colocou o outro braço atrás da cabeça, arqueando a cintura fina demais para a quantidade de peito acima dela. — Porque isso não é uma prisão e eu não tenho a menor vocação para carcereiro.
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  — Não se preocupe, docinho, você me deixa muito à vontade.
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  — Não tanto quanto eu gostaria. — ele despertou de vez. — Estamos casados há duas semanas e você ainda não começou a andar por aí só de calcinha. Quanto tempo vai demorar até chegarmos nesse nível?
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  — Bastante. — sentenciei. — Não nos conhecemos tão bem assim.
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  — Nós já nos conhecemos biblicamente. — piscou. — Foi por isso que você não casou de branco?
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  — Você notou, né? Achei que ia conseguir esconder o fato de não ser mais virgem. — caminhei sob o olhar atento do meu espectador, confuso ao me ver desviar do caminho da cozinha e abrir o armário de bebidas em vez disso. — Que foi? — escolhi o destilado de maior teor alcóolico. — Não achou que eu ia me dar ao trabalho de sair da cama pra tomar água, né?
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   assobiou, elogiando a escolha.
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  — Falando em cama, por que você está fora da sua? — ele quis saber.
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  — Pelo mesmo motivo que você. — agachei para pegar um copo no compartimento de baixo. — Não consigo dormir.
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  — Sou solidário com a sua dor. — ele espalhou-se outra vez no sofá. — Nem lembro qual foi a última vez que tive uma noite de sono completa.
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  Me compadeci um tanto. Então não era apenas uma questão de sono sensível, perturbado pelos meus passos que, nas palavras dele mesmo, eram como o pouso de uma borboleta. tinha dificuldade para dormir. Tamanha que, pelo visto, ele apelava para tudo, tentando inclusive fazer isso em outros cômodos da casa.
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  — Quão grave é a sua insônia? — resolvi pegar um copo a mais. — Você tem pesadelos? É sonâmbulo? Foi assim que você veio parar na sala?
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  — Às vezes, não e não. — esclareceu, sentando-se no lugar próximo ao braço do sofá, conforme eu trazia a garrafa pelo gargalo e fazia o mesmo na poltrona ao lado dele.
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  — Sinto muito pelos pesadelos. — abri o bourbon e servi duas doses, deixando o convite implícito ao colocá-las na mesa de centro. — O que mais eu não sei sobre você?
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  — Intrigada, doce esposa? Não consegue ler minha mente?
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  — Bom, vocês homens só pensam numa coisa, não é tão difícil. — empurrei a dose na direção dele.
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  — Eu penso em outras coisas além de sexo. — nossos dedos encostaram quando ele aceitou o copo, me eriçando a espinha.
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  Calma, . Foi só um toque acidental. Só um maldito toque elétrico e acidental.
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  — Jura? — recostei de volta na poltrona. — No que você está pensando agora?
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  — No que tem embaixo desse seu robe.
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  — 1×0 para mim. — propus um brinde à minha vitória.
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  — Ah, a propósito, não me diga. — soava desafiador, mirando minhas coxas sem discrição. — Eu quero adivinhar.
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  O bourbon que eu escolhi tinha um fundo ácido, com notas de maçã e carvalho que espalharam um gosto picante no céu da minha boca outrora seca, intimidada pelo moreno escultural e parcialmente nu me fitando, faminto. Uma ideia me ocorreu, escorregadia e perigosa, mas me agarrei a ela mesmo assim.
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  — Já que estamos acordados, eu proponho um jogo de adivinhação. — notei que o copo de permanecia intacto. — Você me diz um fato sobre mim que acha que é verdade. Se você acertar, eu bebo. Depois, eu digo um fato sobre você. Se eu acertar, você bebe.
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  — E qual é o prêmio? — ele enfim entornou o líquido.
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  — Se você acertar mais do que eu, você pode escolher um dia da semana pra eu andar por aí só de calcinha.
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  — Às sextas-feiras. — ele bateu o copo na mesa. — Vai ser uma delícia.
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  Eu estenderia a mão para selar o acordo, mas álcool e ao alcance da minha pele eram uma combinação arriscada, então eu centralizei os vidros e servi os dois para a rodada inaugural do jogo.
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  — Ok. Eu começo. — esfreguei as palmas. — Você tem medo de barulho. No nosso jantar de noivado, você tremia toda vez que aquele mariachi falava.
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  — Não tenho medo de barulho, eu tenho raiva. O cara falava gritando, me deu dor de cabeça. — ele redarguiu, um tanto ofendido.
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  — A dor de cabeça fazia você se encolher todo e colocar as mãozinhas nos tímpanos? — recordei. — Você se assustava toda vez que ele abria a boca, bebe aí, seu bebezão.
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   se deixou vencer e o segundo copo de bourbon pintou as pontinhas da orelha dele de rosa.
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  — Sua cor favorita é vermelho. — ele afirmou sobre mim.
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  — Eu odeio vermelho.
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  — E o vestido que você estava usando quando nos conhecemos?
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  — Não era meu.
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  — Hm. — ele ponderou, abrindo os dois braços sobre o estofado. — Azul?
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  — Eu vou morrer de sede se depender de você… — afundei na poltrona.
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  — Já sei. — pulou para a beira do sofá. — Marfim.
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  — Você usou três tentativas, não valeu.
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  — Então deixe eu me redimir. — os brincos dos quais eu senti falta mais cedo balançaram, causando um ruído maciço que só joias legítimas faziam. — Você gosta de marfim, mas não qualquer marfim. É o marfim das camélias, suas flores favoritas.
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  — Quem te contou que são minhas favoritas?
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  — Você. Pelo jeito como você sorriu quando viu o botão no meu paletó. — ele puxou da memória e eu quase conseguia ver o fio da lembrança sendo desenrolado. — Eu não tinha visto você sorrir daquele jeito ainda. Uma covinha apareceu. — tocou minha bochecha com delicadeza. — Bem aqui. É muito bonito, . Quando você sorri de verdade.
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  Bebi em silêncio, contemplativa. Aquilo me deu um vislumbre do interior dele. Quem sabe houvesse uma alma sensível ali dentro?
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  Ou, quem sabe, fosse o uísque me amolecendo. Meu julgamento estava começando a ser afetado e eu precisava desempatar o jogo.
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  — Você é o mais velho, sempre foi muito cobrado e pressionado, então você teve uma fase rebelde. — juntei minhas ideias embaralhadas pela bebida. — Foi quando você fez esses três furos aí na orelha. E a tatuagem de flecha.
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   riu, tremulando o conjunto dos seis gomos na barriga. Seis. Eram seis? Eu nunca tinha a concentração necessária para contar.
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  — Eu vou tomar meio gole porque é só meio verdade. Os três furos não foram rebeldia, foram uma homenagem.
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  — Tá, deixa eu ver… — minha língua dava sinais de dormência. Dois copos de uísque praticamente puro e seus efeitos sedativos. — Three Swords. Três herdeiros de uma empresa… Você e seus dois irmãos?
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  — Impressionante o que o seu cérebro faz mesmo afogado em bourbon. — levantou-se rapidamente e foi até a geladeira, tirando de lá duas garrafas de água mineral. — Existe uma espécie de lenda milenar na nossa família, vem desde o clã do qual descendemos. O três é muito emblemático para os primogênitos Arata. — ele explicou, voltando para o seu lugar e removendo a tampa de uma das garrafas, que me foi cordialmente oferecida. — Meu tataravô teve três filhos, que iniciaram a nossa empresa. E aí desses três, o mais velho teve três filhos homens. E assim por todas as gerações, até chegar no meu pai, que, adivinha?
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  — Tem três filhos homens, todos homens! — solucei com o gole. — Você é o mais velho, é o próximo da lista!
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  — É. — ele tomou a meia dose devida, aproximando-se o bastante para nossos pés esbarrarem sutilmente um no outro. — Um dia, eu posso acabar colocando três bebês em você.
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  Eu duvido muito.
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  — Você não vai conseguir nada de mim com esse seu pênis lendário e triplamente fértil. — neguei com a cabeça e a sala deu um giro. — Não posso parir três meninos.
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  — E uma menina. Eu também quero ter uma menina.
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  Chacoalhei a cabeça novamente, rápido demais para o uísque forte. queria quatro filhos. Quatro. Aquela era uma conta ainda mais difícil que a dos gominhos na barriga.
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  Pior, era uma porta selada para mim.
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  — Legal o seu projeto de família, mas ainda estamos jogando. — a água me recuperou para a próxima rodada. — É a sua vez.
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  — Um fato sobre você, O’Brien. — serviu as doses, mais modestas que as minhas, mal chegando à metade do copo. — Você prefere ir por cima.
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  — Já dormimos juntos. — minhas paredes formigaram. — Isso é bem óbvio.
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  — Quer saber o que mais é óbvio? — ele me estendeu o copo, certo de que eu beberia. — O quanto você está com saudades de sentar em mim.
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  Eu precisei cruzar as pernas.
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  — É você quem ainda está pensando nisso. — pus o copo perto da boca, sem beber.
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   estava um pouco embaçado e meu hálito denso fazia as palavras pesarem, dispersando-se no trajeto entre meu pensamento e meus lábios pulsando. Ele cheirava bem, mesmo que não vestisse perfume ou roupa, e um calor atrativo emanava suavemente do corpo com a textura macia de um pêssego e um sabor tão carnudo quanto.
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  Tudo nele era tentação. E a voz intensa foi o arremate final, quando derramou feito mel nos meus ouvidos a última cartada do jogo:
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  — Não tem nada embaixo do seu robe, não é?
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  Certo. Certíssimo. Irrefutável.
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  Tomei o bourbon que desceu feito fogo, inflamando meu corpo que ele agora sabia nu.
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  — Digamos que eu quisesse violar uma cláusula do contrato. — arrastei o indicador pela garganta dele, descendo sem pedir licença. — O que você faria?
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  — Num cenário em que você está sonolenta e levemente embriagada? — ele recolheu minha mão antes que ela chegasse ao destino entre as pernas dele. — Nada.
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  — E num cenário em que eu estivesse sóbria?
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  — Eu faria você pedir. Com todas as letras. — quebrou o contato e me fez beber mais água. — Com as três palavrinhas mágicas.
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  — Eu te odeio? — testei.
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  — Ah, … — ele cantarolou, meio lastimoso. — Você e seus muros de defesa intransponíveis. Quando você vai me deixar entrar?
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  — Os muros são bons pra você. — assegurei. — Existem coisas sobre mim que fariam você não querer ficar comigo.
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  — Como o cara que atualmente está com você, eu não acredito.
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  — Você não faz ideia. — prolonguei todas as sílabas da frase.
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  — Então me faça ter.
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  A euforia de outrora deu lugar a um vazio existencial e eu me senti volátil, fenômeno comum da ingestão de álcool que nos faz ir de zero a cem instantaneamente. Ou de cem a zero, naquele caso, negativo, subterrâneo. insistia em saber meus segredos, mas ele os suportaria? Eu achava que não. Havia momentos em que nem eu mesma suportava.
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  Bom, mas foi ele quem pediu.
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  — Ok, lá vai. — afastei até a ponta da poltrona e espelhou o movimento, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e me olhando com uma atenção tão investida que eu quase esqueci que ele estava apenas de cueca. — O que você falou sobre ter filhos está girando na minha cabeça até agora. Eu-
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  — , tudo bem. — ele pôs as mãos na altura do peito, num gesto apaziguador. — Nos casamos há alguns dias, essa conversa está um pouco adiantada.
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  — Não, . Esse é o problema. Nós estamos terrivelmente atrasados. — expliquei, surpreendentemente calma. Talvez o fato de já saber há muito tempo o que eu estava prestes a revelar tenha amortecido um pouco a sensação de esmagamento.
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  Não. Ela ainda estava lá.
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  Sempre que eu falasse sobre isso, ela estaria lá.
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  Eu não posso ter filhos. — despejei de uma vez antes que eu desmoronasse. — Eu sou incapaz de gerar.
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   Arata, bem-vindo ao meu fundo do poço.
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  Um oco pungiu no meu estômago. Oco, literalmente, seco e infértil feito um deserto. Minhas têmporas esquentaram, inchadas de arrependimento, e eu pisquei repetidamente, como se aquilo pudesse voltar o tempo num passe de mágica e me impedir de dizer, a troco de nada, o diagnóstico dolorido que eu recebi aos 18 anos. Não doeu tanto na época, na verdade, a jovem cabeça de vento que eu era não soube avaliar a fatalidade da notícia, era apenas um check-up de rotina que progrediu para “uma anomalia uterina” e a consequência definitiva disso. Consequência essa que me atingiu com requintes de crueldade conforme os anos avançaram. Friamente, em pequenas porções letais, como quando eu via crianças brincando no parque. Como quando eu segurei meu sobrinho no colo e vi que o nariz dele era igual ao do (e, por conseguinte, ao meu). Como quando eu me dei conta de que os filhos do meu irmão, não os meus, seriam minha única extensão no mundo.
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  Porra de bourbon. Eu planejava ficar casada por um ano. Por que caralhos eu estava confidenciando a minha maior fraqueza ao ?
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  A opacidade que dominou o olhar dele foi serena, beirando a docilidade. Uma reação inesperada, para dizer o mínimo. Eu me despi completamente, expondo a ferida mais escondida da minha alma, e em vez da repulsa que ela normalmente causaria, a aceitou com mansidão, acolhendo-a.
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  — Eu não entendo. — ele soltou, baixinho.
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  — Que parte? — inspirei profundo, me preparando para a explicação clínica da coisa.
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  — A parte em que isso me faria não querer ficar com você.
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  Soprei um riso quebrado.
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  — , você ouviu o que eu disse? Endometriose. — chamei meu demônio particular pelo nome. — Eu posso me tratar, mas a chance de uma gravidez acontecer pra mim é ínfima. Você não acha que eu ser estéril é motivo suficiente para alguém não me querer?
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  Ele tomou minhas mãos, sem hesitar em absolutamente nada.
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  — Não.
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  A palavra saiu límpida, imaculada, livre de qualquer vestígio de dúvida. Uma palavra curta e veemente, um “não” tão natural que fazia parecer que eu estava confessando uma travessura infantil em vez de uma limitação irreversível. Pela primeira vez, verbalizar a minha condição não me dilacerava.
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  Pelo menos não tanto.
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   moveu-se morosamente ao meu encontro, ajoelhando-se diante de mim carregado de ternura, as mãos sem me deixar nem por um momento. O medo e o alívio coexistiam no meu coração apertado, disputando espaço numa luta que ameaçava me partir ao meio, ao mesmo tempo em que o peso se fazia mais leve porque estava sendo dividido.
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  — Isso é algo que visivelmente te dói. Eu lamento.
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  — Eu nunca achei que fosse querer ser mãe. Até entender que eu não podia. Eu não me sinto menos mulher, eu só… — aceitei o amparo que ele me deu. — Eu só gostaria de ter a possibilidade.
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  O nó no peito afrouxou depois de falar. Falar era antídoto.
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  — Bom, existem outros meios de fazer isso e eu sou um cara aberto a opções. — apontou a saída facilmente. — Um dia, quando chegar a hora, nós vamos dar um jeito. Se for o que você quer, é claro.
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  Nós.
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  Nós vamos dar um jeito.
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  Um casamento de 15 dias e estava se colocando em paridade comigo, assumindo um problema inteiramente meu como igualmente dele. Um casamento de 15 dias e ele já estava fazendo planos para os próximos 15 anos. Um casamento de 15 dias de 365, minuciosamente calculados.
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  Baixei a cabeça, mortificada. Afinal, quem era o homem com quem eu me casei?
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  — E quanto ao que você quer, senhor três meninos e uma menina? — sussurrei, atônita.
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  — Eu já disse, . Eu quero que você me deixe tentar. — ele selou minha testa e se pôs de pé em seguida. Mais uma vez, fácil. — Não demore muito a ir pra cama, tá bem? Você precisa descansar.
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   se preparou para me deixar a sós e eu, estarrecida, reprisei os fatos, incrédula do rumo que a brincadeira tomou. Elaborei mil terorias sem sentido, cada uma mais improvável que a anterior, me perguntando num relance de pensamento se meu marido era mesmo forjado de essência ou se tudo era uma teia muito bem tecida para me capturar e garantir o sucesso da fusão das empresas.
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  Meu juízo de valor estava contaminado. Depois daquilo, eu não sabia de mais nada.
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  — ?
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  — Sim? — assustei.
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  — Obrigado por me deixar entrar. — ele agradeceu, tímido. — Prometo que não vou quebrar nada.
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  Sorri, mas só eu sabia o quanto aquilo custou ao meu espírito abatido. Ao que tudo indicava, era eu quem tinha o potencial massivo de destruir tudo.
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Capítulo 7: A água-de-colônia

(POV: )

  O sorriso que me deu quando a deixei na sala foi o mais indecifrável dentre todos que eu recebi dela. Minha esposa tinha pelo menos três maneiras distintas de sorrir e cada uma queria dizer uma coisa diferente. Aquele, entretanto, permanecia um mistério. Era aflito, mas nem por isso menos bonito, e também era genuíno, com um fundo de vulnerabilidade que, em vez de enfraquecê-la, a fortalecia. Ou então era simplesmente um sorriso de pânico depois de eu declarar tão casualmente que estava aberto a outras formas de ter os filhos que ela não sabia que eu queria.
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  Eu jamais compreenderia a diferença entre gerar e adotar uma criança, assim como eu jamais entenderia o quão excruciante era para ter que lidar com essa impossibilidade, mas eu sabia que o fato de ela ter me confiado tamanha aflição apontava que estávamos no caminho certo. Ao menos eu esperava que sim. Eu queria acreditar que aquela confissão significava que ela pensava no que estava por vir, que ela projetava alguma perspectiva para nós. Que, aos poucos, o casamento fingido ganhava seus contornos de realidade e um futuro se delineava.
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  A junção das empresas progredia (a passos de tartaruga, mas progredia) e depois de aliar-se a O’Brien Group, a Three Swords desfrutava de pequenos frutos de uma colheita que prometia ser bem farta: nomes influentes começaram a entrar em contato e portas começaram a se abrir para a nossa iniciativa. , por outro lado, aplicava o capital recebido com muita cautela, angustiada com a inércia do seu tio Morgan, que lhe dificultava o acesso aos livros de contabilidade e, consequentemente, às informações que poderiam apontar a causa inicial do buraco em que os O’Brien estavam metidos.
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  O motivo da recusa tinha vários espectros e passava direto pelo ego ofendido do senhor antiquado e machista, que se negava a ter suas contas questionadas por uma jovem de 23 anos que, diga-se de passagem, já se provava muito mais competente do que ele. Minha opinião beirava o favoritismo e poderia soar tendenciosa, uma vez que se tratava da minha esposa, porém, não era um ponto de vista ou um achismo, era um fato. O’Brien Arata era brilhante e intuitiva e estava convencida de que as respostas para a ruína da companhia estavam no gerenciamento interno. Ela não pararia até descobrir a origem do vazamento e saná-lo.
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  E a determinação dela me exercia um encanto inquebrável, que se estendia além do âmbito profissional e se alastrava por lugares cada vez mais íntimos da minha vida pessoal, inclusive pela prateleira do meu banheiro.
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  Fazia um mês que eu não usava mais o meu Tom Ford. Além de evitar os espirros, preferia o frescor da água-de-colônia, coisa que eu, adepto de fragrâncias densas e marcantes, jamais teria considerado antes dela. Era uma cartela aromática que eu ainda estava aprendendo, cheiros que eu julgava sem graça e fracos de presença, mas que, para ela, eram instigantes. Eu não entendia direito. Os óleos eram muito suaves, a concentração era baixa e o perfume não poderia ser notado a quilômetros de distância. Qual o ponto em usar, afinal?
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  “Você veste o perfume, e não o contrário”, ela explicava e eu não compreendia. Mesmo assim, eu cedi.
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  Mais uma vez.
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  Levantei subitamente, agitado ao perceber o quão facilmente eu me moldava às vontades dela. Como veio parar tão cedo embaixo da minha pele? Eu deveria tê-la sob meu domínio, não o contrário. Era o que eu fazia. Eu conquistava as coisas, as mais difíceis, e quanto mais desafiadoras, mais força eu encontrava para alcançá-las. Como , com o saldo de uma noite juntos e dois beijos trocados, estava tão perto de me domar?
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  Quem sabe fosse esse o meu castigo por ignorar os sinais. inverteu nossas posições quando transamos e, como costumam dizer, quem vai por cima é quem dita as regras do relacionamento. Embora, no nosso caso, as regras estivessem todas registradas em contrato. O único poder que sobrava para ser disputado era apenas uma questão de quem faria o outro se render primeiro.
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  Por mais que eu odiasse admitir, estava vencendo.
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  Caminhei até a janela e afastei as cortinas, deixando a luz da lua invadir o quarto e achando graça da minha situação. Eu sabia muito bem ser só, mas, agora, só pra variar, eu não queria. O que eu realmente queria era fazer aquele casamento de contrato funcionar. Era quase uma questão de honra.
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  Apesar de termos muito tempo pela frente, esse era relativo para nós de um jeito irritante. Tudo era cedo ou tarde demais para a nossa relação, sem meios-termos. Era cedo para termos um alicerce confiável e era tarde para a espontaneidade dos inícios. Pulamos etapas demais e agora estávamos num limbo, algum lugar entre ter uma química incrível e as incertezas do pouco tempo de convivência permeando.
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  Voltei para o travesseiro, insone. A construção da base desse casamento exigiria muito de mim. valeria a pena?
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  Meus instintos diziam que sim, mas minha cabeça gritava que eu deveria ser menos passional. Normalmente, eu saberia qual dos dois ouvir, mas em se tratando dela, era como navegar em águas turvas e desconhecidas.
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  Felizmente, eu nunca tive medo de mergulhar.
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  Flechas não voltam atrás.
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⚔️

  O dia seguinte trouxe os primeiros sinais da primavera e uma mais leve, relaxada ao ponto de cantarolar na cozinha enquanto virava panquecas. O cheiro só não era melhor que a reboladinha fofa que ela dava ao se preparar para virar a massa, se sacudindo junto com a frigideira. A cena toda podia ter saído de um filme de comédia romântica, salvo pelo figurino da minha esposa que, em vez de uma camisa de botão minha e mais nada por baixo, estava completamente vestida e pronta para trabalhar.
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  Mas era uma sexta-feira. E se eu me lembrava bem, me devia algo às sextas-feiras.
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  — Eu não sei se você estava anotando o placar do nosso jogo de ontem, mas eu ganhei. — entrei na cozinha, desenhando a figura dela no ar. — Cadê você só de calcinha?
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  — Primeiro de tudo, bom dia pra você também. — ela levantou a espátula e eu achei que ela fosse me bater com ela. — Segundo, eu não estava falando sério.
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  — , eu sou um cara bem-humorado, mas tem certas coisas com as quais eu não brinco. — agravei o tom de voz e juntei o cenho. — Promessas envolvendo roupa íntima estão no topo da lista.
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  — Ah, não. — ela fez um biquinho irônico. — Eu quebrei seu coração, Arara?
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  — Para alguém que diz não gostar de trocadilhos, você até que tem muitos para o meu sobrenome.
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  — É nosso, agora.
  Sorri sem perceber. não precisava adotar meu último nome ou fazer o café da manhã, mas essas tímidas escolhas, aparentemente livres de muita importância, adquiriam um significado maior quando ela usava o termo “nosso”. Por mais bobas que fossem, eu as entendia como avanços, passos frágeis de uma criança aprendendo a andar, meio cambaleante, mas com um destino em vista.
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  Bom, era isso ou eu estava delirando, enxergando somente o que eu queria enxergar porque fui seduzido pela história dos meus avós sobre casar com o fogo baixo. Enquanto isso, sem a menor ideia das minhas divagações matinais, preparou-se para uma manobra mais arriscada que meus pensamentos esperançosos e agarrou o cabo da frigideira, afastando-a do fogo por indução na bancada.
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  — Lá vai. — avisou, colocando a língua para fora e jogando a panqueca no ar para virá-la.
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  — Uau. Eu me casei com uma ninja. — observei a panqueca voltando certinho para o apoio. — Que outros truques você sabe?
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  — Que tal esses? — elencou as opções de cobertura. — Geleia de morango, mel e calda de chocolate.
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  — Parece ótimo, mas eu tenho um regime restrito. Isso tudo aqui não se mantém sozinho. — apontei para mim mesmo. — O único doce que eu posso ter pela manhã é você, querida.
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  — Não faz isso comigo, vai. — outro biquinho, dessa vez, manhoso. amassou levemente as panquecas empilhadas com a pontinha da espátula, orgulhosa da massa no ponto perfeito. — Elas ficaram super fofinhas, você tem que provar! Seu tanquinho vai sobreviver a um pouco de açúcar, eu tenho certeza.
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  — Sabotando a minha dieta. — estalei a língua em reprovação. — Está tentando me transformar num marido relaxado e barrigudo pra ninguém mais olhar pra mim?
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  — Sua barriga parece uma barra de chocolate de tão dividida. Fique tranquilo, as pessoas vão olhar.
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  — E você vai? — escorei no balcão, jogando charme.
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  Surpresa, . O único olhar que eu quero é o seu.
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  — Já que você gosta de transitar pelas áreas comuns de cueca, eu acho que não tenho alternativa. — ela foi até a geladeira, analisando rapidamente os itens e as sobras que Kira deixava separadas em potes herméticos. — E já que minhas panquecas foram cruelmente desprezadas, vamos para o plano B. Tem o bastante pra fazer uma bela omelete aqui. Algum pedido especial?
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  — Vários, mas todos envolvem lambuzar você com alguma coisa.
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  — Você quer parar de gracinha? — ela fechou a porta com uma indignação adorável. — Tô tentando te fazer um café da manhã pra agradecer pela nossa conversa de ontem.
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  — Então agradeça. — instiguei, dando a volta no balcão e indo até ela. — Diga: “Obrigada, , você é um ótimo ouvinte e é muito gostoso também.”
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   suspirou alto e, com um esforço visível, controlou seu rolar de olhos. Apoiei o braço na porta de inox atrás dela, prendendo-a contra o eletrodoméstico, e me deliciei com o atraso que ela deu na respiração. Porém, traído mais uma vez pela imprevisibilidade da minha esposa, eu, que esperava uma esquiva malcriada, recebi um beijo estalado no rosto em vez disso.
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  Todas as vezes em que eu achei que tinha a , era ela quem me tinha.
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  Era novo. Era excitante. Era perigoso.
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  E era também um beijo grato demais para as minhas intenções no momento.
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  — Você realmente fez eu me sentir melhor, então… — ela suspirou, vencendo a si mesma. — Obrigada, .
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  — Não há o que agradecer. — senti meu rosto esquentando, o outro lado também pedinte. — Agora você diz o quanto eu sou gostoso e eu aceito aquela omelete.
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  — Sabe, você gosta muito de falar sobre os meus muros, mas e os seus? — saiu do meu cerco e voltou a abrir a geladeira, tirando de lá o que precisava e transferindo pra mim a tarefa de segurar tudo. — Essas suas piadas são um mecanismo de defesa.
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  — Ah, não. — arrumei os ovos, os legumes e o queijo na ilha da cozinha conforme ela ia me entregando. — Não sou tão profundo assim.
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  — Tem certeza? — ela procurou outra assadeira entre as louças e pegou também a tábua de corte e o jogo de facas. — Depois de ontem, eu sinto que sei mais sobre você. A gente deveria fazer isso mais vezes.
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  — A parte da conversa ou a parte em que você se jogou em cima de mim e tentou me atacar?
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  O riso debochado que soltou ficou mais ameaçador quando ela retirou a faca do amolador e eu me vi refletido na lâmina perfeitamente afiada. Mesmo que eu corresse risco de morte ou mutilamento, o que ela esperava? Que eu fosse perder a chance de aporrinhá-la por ter sugerido trégua no nosso contrato? Eu não a deixaria esquecer disso tão cedo.
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  — Ok, vamos deixar uma coisa bem clara. — ela segurou o cabo da faca com força. — Eu só fiz uma pergunta, e nem foi pra valer. — o objeto foi agitado no ar. — Eu teria você se eu quisesse.
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  — Você me acha tão fácil assim? — por um instante, jurei que a vi mirar na minha jugular.
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  — Acho. — sentenciou, colocando enfim o utensílio de volta na ilha e apontando a disposição dos ingredientes. — Agora, lave esses, corte aqueles e bata essas claras em neve.
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  — E você vai fazer o que além de admirar meu belo traseiro enquanto eu cozinho? — dobrei as mangas da camisa, naturalmente inclinado a obedecer a série de ordens.
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  — Eu vou coordenar. — ela pegou um avental de uma das gavetas nos armários e me estendeu. Um quê de alívio ao vê-la tão confortável e tão ciente de onde tudo estava na minha cozinha. Aliás, na nossa cozinha.
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  — Achei que você que ia fazer o café pra mim. — arrumei o acessório na frente do tronco, vendo-a morder a parte interna das bochechas quando amarrei o nó com firmeza.
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  . Amarrações. Possibilidades.
  — Mudei de ideia. Kira te acostumou muito mal.
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  — Isso quer dizer que eu também vou ter que fazer meu próprio almoço?— comecei lavando os tomates.
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  — Você deu sorte hoje, foi convidado para um almoço de negócios. — ela voltou a vasculhar a geladeira, escolhendo agora algumas uvas verdes. — Já ouviu alguma coisa sobre Alfred Mattia Chevalier?
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  — O CEO da Chevalier Industries? — salivei de desejo pela fruta na boca dela. — Ele quer almoçar com a gente?
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  — Com você, na verdade. Segundo a secretária que recebeu a mensagem, ele perguntou apenas pelo representante da Three Swords.
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  Algo parecido com orgulho e satisfação me atravessou ao saber do convite. Alfred Chevalier era exatamente o tipo de perfil influente que queríamos atrair e um almoço com “o representante da Three Swords” significava que nossa marca individual já estava ganhando força e circulando entre grandes companhias. Era uma ótima notícia, porém, tanto a expressão quanto a entonação que usou refletiam uma pontada de descontentamento.
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  — Ele é do ramo industrial, está interessado na metalurgia da Three Swords para modernizar os equipamentos. — ela continuou, lastimosa.
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  — Por que você parece desapontada? — estranhei a chateação dela. — A O’Brien Group já tem uma parceria com o Alfred, certo?
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  — Não o tipo de parceria que eu queria ter… — ela pinçou mais algumas uvas, suspirando.
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  Foi quando o artigo que eu li sobre a Chevalier Industries saltou na minha memória junto com a foto que ilustrava a matéria: o próprio Alfred, que envelhecia tão bem como um vinho, com a barba grisalha mais épica e bem-feita que eu já tinha visto na vida.
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  — Sério, ? Você tem fetiche em caras muito mais velhos?
  — Se eles forem enxutos e charmosos como o Alfred, sim. — ela se justificou prontamente. — Além do mais, ele tem uma elegância italiana irresistível…
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  — Ele também tem idade para ser seu avô. Ele não tem uma neta na casa dos vinte e poucos?
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  — Laura, que se ofereceu gentilmente para me fazer companhia enquanto você conversa com o meu coroa dos sonhos. — mais um suspiro apaixonado e chegou mais perto de mim, trazendo consigo a vasilha de uvas.
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  — Vocês são amigas? — abri a boca num pedido implícito.
  — Sim, e o namorado dela por acaso é meu advogado. Estudamos juntos na Saint Peter. — ela encaixou gentilmente a uva entre os meus dentes. — Viu? Eu sou quase da família.
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  — Ah, é? — respondi de boca cheia. — Então por que você está casada comigo e não com o velho?
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  — Porque ele olha pra mim do mesmo jeito que olha pra Laura. É uma pena. — enfadou-se. — Se eu tivesse uns anos a mais, eu poderia ser a senhora Chevalier.
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  — É confiante assim na sua capacidade de fisgar um milionário?
  — Deu certo com você, não foi? — ela levou mais uma uva aos lábios, deslizando-a lentamente por eles.
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  Não que eu precisasse, mas quis me dar uma amostra do seu poder de sedução ao desistir da fruta e me oferecê-la, agora premiada com o gosto dela.
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  E pra isso ela fez questão de enfiar o dedo na minha boca.
  Mordi a oferta, lambendo a pele da uva e buscando na textura lisa algum resquício de que pudesse me saciar. Em vão. A fome que eu tinha dela era muito voraz para uma mísera uva beijada.
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  — Alfred marcou às 13h, no Carbone. — ela continuou, alheia ao fato de eu quase ter entrado em combustão.
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  — Você decorou até o nome do restaurante que ele escolheu. — terminei de bater as claras. — Quer ir no meu lugar?
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  — Adoraria, mas não posso dar um bolo na Laura. Além disso, eu tenho um compromisso ainda mais divertido hoje: pressionar o tio Morgan sobre aqueles livros de contabilidade. — seguia me monitorando. — Coloque um pouco de manteiga na assadeira ou vai grudar.
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  — Por que acha que ele tem resistido tanto em te entregar esses livros? — obedeci, pegando o pincel de silicone para untar a base.
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  — Acho que ele se sente exposto. — ficou na ponta dos pés e espiou o andamento da omelete por cima dos meus ombros. — Os registros fiscais da empresa são responsabilidade dele, é bastante coisa, mas não é um trabalho tão difícil assim. Admitir que está falhando numa tarefa simples como essa é humilhante pra ele.
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  — Ele não tem outras atribuições na diretoria?
  — Meu pai o afastou aos poucos depois da morte da minha tia Agnes. — ela explicou enquanto me passava os outros ingredientes. — Morgan não ficou nada satisfeito com a decisão, mas ele não era acionista majoritário, então não teve escolha. Desde então, ele tem sido cada vez mais grosseiro, reativo… E tem bebido cada vez mais.
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  — Eu achei mesmo que sentia cheiro de álcool toda vez que ele falava.
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  — O cantil no bolso dele não te deu a dica?
  — Não prestei muita atenção nele quando fomos apresentados. — sorri, medindo-a. — Tinha uma visão melhor competindo.
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  — ?
  — Vocês têm o mesmo nariz, mas eu ainda prefiro o seu. — pincelei a pontinha da cartilagem de manteiga e reclamou, bufando.
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  — Termina isso logo antes que eu acabe cozinhando você. — ela se limpou, emburrada.
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  Dei uma risada contida, saboreando a irritação dela, o melhor tempero para qualquer refeição. Depois de comer, o dia começou oficialmente com reuniões e planejamentos de metas para mostrar aos acionistas o aumento discreto e promissor dos lucros. A correria da jornada dupla, que me fazia cumprir horários em ambas as empresas, fez a hora do almoço e o meu compromisso com Alfred Chevalier chegarem num piscar de olhos.
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   havia me designado uma sala temporária na O’Brien Group, pensando no meu conforto e privacidade durante os dois dias da semana em que eu me dedicava exclusivamente ao expediente no meu novo empreendimento, no entanto, a sala da era o meu destino mais frequente ao longo do dia, fosse para perguntar algo, encher a paciência dela ou, como a motivação da vez, avisar que eu estava de saída para encontrar a sua paixão da terceira idade.
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  A assistente na antessala já não se dava mais ao trabalho de me anunciar, limitando-se apenas a um aceno de cabeça positivo ou negativo para indicar se minha esposa estava ou não ocupada, porém, não encontrando a secretária no seu posto, adentrei o local e só me parei quando ouvi, através da porta encostada, uma voz feminina que eu não conhecia.
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  — Você tem se virado sozinha esse tempo todo?
  — Sim. Mas por mais macio que meu travesseiro seja, Laura, não tem o mesmo efeito de um homem. — respondeu à amiga, que agora eu sabia quem era. — Você sabe como é.
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  — O que eu sei sobre travesseiros é que o me faz morder o meu, então eu realmente não tenho como te ajudar.
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  — Vadia. Mas eu te invejo.
  — Alguma coisa sobre os asiáticos, né? — Laura sugeriu.
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  Culpado por estar ouvindo, me preparei para sair, mas uma última confissão feita por fincou meus pés onde estavam — e lançou meu ego nas alturas:
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  — É ele, Laura. O é a melhor transa da minha vida.
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  Inflei o peito, envaidecido.
  Ah, senhora Arata. Eu vou fazer você repetir isso só pra mim. Ah, se vou.
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  — Pobre O’Brien! — Laura desdenhou. — Casou com o seu pau perfeito, que pesadelo!
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  — É um pesadelo! Temos um contrato que proíbe relações sexuais, esqueceu?
  — A não ser que vocês dois queiram! , esse é literalmente o seu problema mais fácil de resolver. Basta você estalar os dedos. Talvez nem isso.
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  — Não vai ser tão fácil assim. Ele vai me fazer implorar e você sabe o quanto eu sou orgulhosa.
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  Por acaso é seu primeiro dia como mulher? Jogue um charme, pare de usar sutiã, chame atenção para a sua boca quando estiverem conversando. Você sabe o que fazer pra colocar um cara na sua cama.
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  — Hm… houve uma breve pausa.Eu não tinha pensado por esse lado.
  — Então comece a pensar.
  “Comece sim, por favor”, foi o apelo que quase escapou através do meu sorriso convencido e me fez decidir que era hora de interferir na conversa. Eu já tinha ouvido exatamente o que eu precisava ouvir.
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  Atrapalho? tossi alto propositalmente e apareci na sala.
  Não dessa vez. , levemente pálida, trocou um olhar rápido com a amiga. , essa é Laura Chevalier.
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  Prazer em conhecê-lo, . uma moça toda tatuada me estendeu a mão.
  —O prazer é todo meu. — aceitei o cumprimento e me curvei no automático.
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  — Isso é familiar. — Laura riu, voltando-se para . — faz igualzinho.
  Eu gostaria muito de conhecê-lo. Deveríamos marcar um jantar entre os casais qualquer dia.
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  — Nós adoraríamos receber vocês. — concordou e apanhou a bolsa. — Laura, você deveria levar o seu avô…
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  — Não na frente do seu marido, ! — Laura censurou.
  — Eu já dei essa batalha por perdida. — abri a porta para as duas, deixando Laura passar na frente e interceptando com um beijo rápido de despedida. — Divirta-se, querida. Vou sentir saudades.
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  — Eu também, docinho. — rebateu, sarcástica, limpando o excesso do batom dela na minha boca.
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  — Não se preocupe, , eu prometo que vou devolvê-la logo. — Laura anunciou, já na antessala. — Obrigada por me emprestá-la por essa tarde, aliás.
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  Eu que agradeço, Laura. lembrei do valioso conselho que ela deu à minha esposa. Eu que agradeço…
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⚔️

  Conforme os meses foram passando, a sexta-feira foi se tornando um dia mais difícil. Além da decepção que era ter me tomado o sonho das “sextas só de calcinha”, o cansaço acumulado durante a semana refletia no meu corpo indisposto, que lutava para completar minha rotina de exercícios físicos e me fazia demorar mais que o normal para cumprir as séries do dia.
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  Eu detestava fazer cardio, mas era isso ou nada desde que a maneira divertida de queimar calorias havia sido suspensa. recusava-se a me pedir uma quebra no contrato e a greve de sexo imposta por esse capricho da minha esposa vinha pondo meus hormônios em fúria. A coisa estava ficando crítica e já afetava outras áreas da minha vida, me colocando a ponto de subir pelas paredes especialmente depois da revelação que eu ouvi por acidente. Saber que o sexo era tão bom para ela quanto era para mim e que o único motivo por não estarmos tirando proveito disso era o fato de ser mimada e geniosa era frustrante.
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  Pressionei o botão da esteira, esperando minhas pernas se recuperarem conforme a rolagem desacelerava, e apertei o cabo de apoio com os dedos suados. Os calos nas mãos arderam, atestando a maior prova da gravidade do meu jejum sexual: para aliviar o estresse do tesão suprimido, eu passei a levantar o dobro de peso nos equipamentos e o aumento da carga me feriu as palmas, sobretudo a esquerda. A aliança também dificultava os exercícios, muito mais pelo medo de arranhá-la do que por qualquer outra coisa, e por diversas vezes me ocorreu o pensamento de tirá-la, afinal, eu treinava sozinho numa academia construída em casa…
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  Mas eu preferia usá-la o tempo inteiro porque parecia incômodo não fazê-lo. Eu já estava habituado à joia, nutria certa afeição por ela e, além disso, ela fazia as pessoas me perguntarem sobre a .
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  E a tinha se tornado recentemente um dos meus assuntos favoritos.
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  Fiz um desaquecimento breve, sentado e descalço na frente do espelho, e os músculos tensionados pela corrida amornaram. Tirei a camisa encharcada, sentindo meu peito incendiar do meu próprio esforço, e enxuguei o suor com uma toalha que ficou tão encharcada quanto. A garganta seca pediu por um isotônico e eu fui até o frigobar, acabando com mais da metade da bebida num longo gole, quando tanto as luzes internas do refrigerador quanto as do restante da academia apagaram-se de repente.
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  Contei alguns minutos mentalmente, esperando o estalo do gerador de energia acender tudo novamente, mas a luz não retornou. Em vez disso, foi o meu celular, esquecido perto de uma das máquinas, que iluminou uma parte do caminho ao receber uma chamada.
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  — Tudo em ordem, Tyler? — perguntei assim que atendi, reconhecendo que o número que me ligava era da segurança externa da casa.
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  — Acabamos de falar com a companhia de energia, houve uma pane geral na área e o gerador foi comprometido. O eletricista está a caminho, mas já adiantou que o religamento vai demorar algumas horas. — Tyler explicou, objetivo. — Alguma orientação, senhor?
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  — Reforce a ronda e coloque alguém em todas as entradas — respondi de imediato. — Mande verificar a garagem também.
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  Tyler confirmou a ordem e eu desliguei, surpreso com a minha reação. Uma queda de energia confirmada pela companhia elétrica não deveria ser motivo para tanto, por que eu estava tão preocupado?
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  Era bem óbvio, na verdade. .
  A presença da minha esposa na mansão mudava a configuração de tudo, principalmente das minhas prioridades. Desde a chegada dela, fui tomado por um instinto de proteção novo, um senso de atenção que a mantinha sempre em algum lugar da minha mente e fazia eu me perguntar todo o tempo como ela estava, quais das suas eventuais necessidades eu poderia antecipar, se a geleia favorita dela estava em estoque na nossa despensa, enfim, detalhes aos quais eu não precisava me ater antes, mas que, agora, me ocorriam naturalmente.
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  Mais que um dever conjugal, eu encontrava uma satisfação inigualável em cuidar da . Foi por essa razão que minha primeira ação foi procurar minha esposa pela casa mergulhada no breu e garantir que ela não estivesse precisando de nada — ao mesmo tempo em que eu torcia internamente para que ela precisasse de algo. Para que ela precisasse de mim.
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  Subi as escadas e atravessei o corredor em direção ao quarto dela, me deparando com a porta fechada. Bati algumas vezes e, não obtendo resposta, arrisquei girar o trinco e entrar sem ser convidado, avisando da intromissão à medida que avançava pelo cômodo.
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  — ? Você está aqui? — continuei andando, seguindo com a luz do celular uma trilha de peças de roupa deixadas pelo caminho e ouvindo um barulho de água se movendo.
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  Uma onda de calor súbita me esquentou de cima a baixo. O rastro do vestido, do sutiã e da calcinha pelo chão apontava outra porta, entreaberta e fracamente iluminada, do cômodo conjugado.
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   estava no banho.
  Espreitando pela fresta, pude ver velas eletrônicas espalhadas pela cuba e pelo tablado da banheira, onde ela, imersa na água, recostava a cabeça numa toalha. De olhos fechados, cantarolava uma música reproduzida nos fones sem fio, movendo os lábios discretamente no ritmo que embalava o banho. Não reconheci a música, mas reconheci a dor fina que irradiou pela minha virilha, diferente da dor do pós-treino e muito, muito semelhante à dor da saudade.
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  — ? — recuei com bastante dificuldade e falei do lado de fora. — Desculpa entrar assim, mas eu preciso falar com você.
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  — ? — ouvi novamente o movimento da água. — É você?
  — Sim, sou eu. Olha, estamos sem luz, mas-
  — Eu não consigo te ouvir direito. — ela me cortou. — Você quer entrar?
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  Se eu quero entrar e ver você molhada e reluzente numa banheira? Claro que eu quero.
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  — Tem certeza? — falei no lugar. — Você não acha melhor eu-
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  — Eu não ouvi nada! Entra logo!
  E lá estava eu novamente, obedecendo como um cachorrinho.
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  Um cachorrinho excitado e completamente hipnotizado pela visão diante de mim.
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  A água exalava um cheiro insinuante conforme se movia, lentamente, fazendo subir um perfume cítrico e revitalizante por entre as bolhas de sabão que cobriam a superfície e o corpo nu dentro dela. Avancei mais alguns passos, com os olhos fixos e sem pudor algum, e ela apoiou a mão na borda da banheira.
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  A aliança tiniu baixinho contra o porcelanato e tirou de mim um sorriso. Assim como eu, ela também usava o tempo inteiro.
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  Cerrei os punhos, nervoso. O pouco que as velas eletrônicas revelavam não era suficiente e o fato de estar escorada nas laterais da cuba redonda não me deixava ver tudo o que eu queria. Àquela altura, no entanto, as sugestões pareciam muito mais perigosas que a visão explícita e o aroma que envolvia todo o ambiente era tão convidativo e sensual que fez meu pulso acelerar.
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  Doce ironia. Logo eu, que nunca fui fã de perfumes fracos…
  — O que houve? — ela quis saber, colocando os fones na parte seca do tablado de pedra que envolvia a banheira.
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  — A energia caiu na casa toda. — guardei uma distância que considerei segura, deixando o celular na pia. — Eu só queria saber se você estava bem.
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  — Obrigada pelo aviso, mas eu nem percebi. — apontou as luzes baixas das velas a pilha.
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  — Parece que vai demorar um pouco pra voltar. — prolonguei o assunto como pude. Eu não queria me mover dali.
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  — Tudo bem. — brincou com a água, mantendo um contato visual intenso. — Gostei do figurino. Um pouco curto e justo pra você, mas ficou bom.
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  — Não é o meu favorito, mas ajuda na hora de malhar. — passei as mãos pelo short de compressão que, no momento, comprimia bastante coisa.
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  — Céus. — ela ralhou, espirrando um pouco da água. — É sexta-feira à noite e você está se exercitando. Você deveria relaxar um pouco, sabia?
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  — Alguma sugestão? — perguntei, cheio de intenções.
  — Um bom banho ajudaria.
  Meus músculos esquentaram outra vez. Era exatamente a resposta condicionada que eu pretendia, mas eu queria mais. Eu queria um convite claro, endereçado a mim, com meu nome no envelope e tudo.
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  — Minha banheira não é tão legal quanto a sua. — observei.
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  — Não tem hidromassagem?
  — Não tem você.
  — Nenhuma tem, a não ser a minha. — sorriu leve, orgulhosa. — Gostaria de se juntar a mim?
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  — Se algum dia eu responder não pra essa pergunta, você tem minha permissão para me dar um tapa.
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  — Só a título de informação, em quais as outras ocasiões eu tenho autorização para bater em você?
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  — Você quer mesmo saber? — dei um meio sorriso, andando em direção ao chuveiro.
   rolou os olhos, mais uma vitória pessoal. Liguei a água morna para tirar o sal do suor antes de entrar na banheira, fervendo por antecipação, e o contato iminente me pôs trêmulo. De costas, removi a única peça que vestia e meu membro saltou para fora, rígido e dolorido de vontade. Passei a água pela nuca, respirando quente e descompassado, e meu corpo inteiro ardeu a ponto de implodir, de escapar pelas extremidades. Todo o sangue que correu para baixo me fez falta na cabeça e me deixou levemente tonto, me obrigando a encostar na parede e deixar a água correr pelas minhas costas.
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  — Algum problema? — estranhou a demora.
  — Você acordou o meu amigo. — olhei para baixo e fechei a válvula do chuveiro. — Ele está bem feliz de te ver, não quero te assustar.
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  — Não seja por isso, nós já nos conhecemos.
  Virei sob o olhar atento da minha esposa, que apertou a borda da cuba com força e se torceu discretamente, cruzando as pernas. Saber que eu era desejado fez meu órgão latejar e eu entrei na banheira de frente para ela, me encaixando no lado oposto e derramando água no processo. A temperatura me agradou de imediato, assim como a companhia, e eu deixei escapar um suspiro arrastado que fez quebrar bem na minha frente, fincando as unhas no próprio joelho e mordendo o lábio. Sorrimos, indecentes como parceiros de um crime. O que estávamos fazendo era “proibido” e ambos sabíamos onde as unhas dela iriam parar no final da noite.
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  — Se importa?
   arrastou o pé pelo começo da minha barriga, numa descida cada vez mais arriscada em direção ao meu membro pulsante bem abaixo de si. Segurei o tornozelo, pressionando-o contra a minha rigidez, que agradeceu por aquele toque vibrando e ansiando por mais. Bem mais. Levei o pé dela de volta à altura do meu peito, suando de excitação prévia, e a deixei “pisar” nele conforme eu fazia a massagem que ela pediu tão descaradamente. Uma bela preliminar para enganar o corpo inquieto e sedento, a propósito, mas eu tinha pressa das vias de fato, intermediadas apenas pela camada fina da água e pelas pernas da entre as minhas, disputando espaço e me provocando ao mesmo tempo.
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  — Você é bom nisso. — ela balbuciou, colocando os braços para fora da banheira e arqueando o pescoço.
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  — Eu sou bom em muitas coisas. — rebati, aplicando pressão no calcanhar dela. — Já me chamaram até de “a melhor transa da minha vida”.
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  Um riso desmedido ecoou quando reconheceu a autoria da declaração, mas também não investiu esforço algum em negar ou se defender. Em vez disso, ela relaxou a outra perna, esticando-a e encontrando mais uma vez a minha região dura, e passeou por ali de um modo torturante. Apertei o pé que eu massageava com as duas mãos, puxando-a para mais perto, e a manobra fez com que ela descolasse as costas da porcelana e movesse a água em meu favor, revelando os seios flutuando.
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  A espuma diluída mostrava mais do que deveria e, de repente, a meia-luz se tornou uma aliada, valorizando-lhe as curvas banhadas pela atmosfera quente e sugestiva. não deu a mínima para a ausência de cobertura no corpo, naquele ponto, a transparência lhe envaidecia, lhe conferia poder sobre a situação e, mais do que tudo, poder sobre mim.
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  — Já faz bastante tempo desde que nos vimos assim, não é? — ela começou, baixinho.
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  — Tanto que chega a doer.
  — Ah, é terrível. — me descobria por baixo da água com o pé livre. — Essa tensão que você não consegue acalmar… A pele indócil…
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  — Eu sei o que você está fazendo, . — confessei, quase entrando em erupção com a brincadeira paralela.
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  — E?
  — E eu vou deixar você fazer.
   avançou sobre mim como uma fera rodeando a presa antes de um ataque indefensável. Paralisado pelo transe em que ela me colocou, apenas assisti quando ela se arrumou no meu colo, deixando os seios ensaboados deslizarem pelo meu tronco úmido e livre de atrito. A tensão superficial da água exercia uma atração ainda maior sobre os nossos corpos, misturando-os um ao outro, fundindo-os numa confusão deliciosa e molhada, e eu cresci imediatamente ao senti-la resvalar o sexo sobre o meu.
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  Antes mesmo que eu a penetrasse, ela tomou meus lábios num beijo tão voraz, tão desesperado e tão intenso que quase equivalia ao próprio ato em si. Bebi daquela boca entorpecente e irresistível, aceitando de bom grado que seria ela a condutora do nosso prazer, e desceu os quadris encaixando a si mesma no órgão pronto para recebê-la.
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  Há muito tempo pronto para recebê-la.
  A dureza da água foi quebrada pela minha, nenhuma física era capaz de explicar a urgência que eu tinha de estar dentro dela. Qualquer resistência que o meio líquido pudesse exercer foi derrotada por um único movimento — preciso, apertado e devasso — da minha esposa montando em mim. sentava como bem queria, ditava a velocidade, controlava o ritmo e aprisionava o meu fôlego, me permitindo reavê-lo somente quando julgava necessário, breves segundos de ar, apenas, porque logo tornava a tomá-lo de mim em beijos cada vez mais obscenos.
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  E se eu tivesse que escolher entre beijá-la e respirar, então eu morreria sufocado na boca dela.
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   me manteve na sua deliciosa agonia, dividindo comigo a vertigem gostosa dos corpos se satisfazendo. Jogava o pescoço para trás, arrebatada, depois, como se voltasse a si, soltava um gemido prolongado, descendo e subindo sem nunca parar os quadris, freneticamente, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra. O movimento indecente a punha ofegante, bamboleando a cabeça de um lado para o outro, e me impeliu também a me erguer e me empurrar contra ela, tomando pela primeira vez o domínio da situação.
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  O grito do meu nome e o som imoral da água transbordando conforme eu a invadia foram os sinais de que ela se deixava vencer, sugando o ar que roubou de mim entre os dentes cerrados com uma força animalesca e instintiva. Nossos olhares se encontraram e houve um aviso não verbal de que eu estava muito perto de gozar, quando segurou as laterais do meu pescoço e me enterrou novamente na água rasa que restava na banheira, interrompendo nosso fluxo.
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  — Agora não. — ela rogou, me beijando devagar para me convencer. — Eu preciso de mais.
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  Uma pontada fulminante se espalhou por toda a minha extensão, puxando músculos e rasgando a pele, inconformada com a ideia de parar o que estávamos fazendo. Ao recobrar a consciência, meu cérebro afogado em libido finalmente entendeu que agora eu tinha exatamente na posição que eu queria e uma risada grave rompeu quando eu a coloquei na condição de submissão que eu tanto esperei.
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  — Então peça.
   rangeu os dentes outra vez, impaciente, e soltou um urro baixinho, voltando a se insinuar sobre mim.
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  — Peça, . — apertei a cintura dela, impedindo que ela sentasse e me cobrisse por completo. — Peça “por favor”.
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  — … — sofreu, insatisfeita com apenas a ponta dentro de si. — Por favor…
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  — Por favor o quê?
  — Me fode! — implorou. — Me fode, por favor!
  Levantei num impulso de força movido unicamente pela adrenalina do tesão, trazendo junto do meu corpo e nos colocando de pé. Ela choramingou alto e enrijeceu a postura quando nos desligamos, reclamando da ruptura violenta, e eu ignorei a falta lancinante que também senti para colocar o primeiro pé fora da banheira, forrado pela toalha felpuda que caiu em algum momento. Meu peito roçou pelo dela em agonia, deixando o sabão escorrer entre nós, e eu ajudei a sair da água, nos mantendo em cima da toalha por segundos (que pareceram uma eternidade) para nos secar o suficiente para andar sem causar um acidente. Guiei nossos corpos queimando em febre até a cama dela, onde a empurrei impetuosamente, e me joguei em seguida. Não eram necessários mais beijos. Não havia espaço para preliminares. deslizava embaixo de mim, suada e cheia de espuma, e eu, duro, a invadi, alucinado.
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  — Era isso que você queria? — pressionei levemente o pescoço dela conforme me esforçava.
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   prendeu o lábio inferior, recusando-se a responder, e apertou as pernas lisas em volta da minha cintura. Cego pela insolência, calibrei a força das mãos e acertei um tapa na nádega esquerda, fazendo-a me entregar um gemido agudo.
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  — Eu te fiz uma pergunta, . — continuei, incansável. — Era isso que você queria?
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  — Sim! — ela gritou, eufórica, e cravou as unhas nas minhas costas. — Isso!
  A água-de-colônia se misturava ao suor dela e se transformava num cheiro único, inebriante. Eu me empurrava com tamanha loucura e ela me recebia com tamanha paixão que a essência secreta se fazia revelada, acessada apenas no contato pele a pele, um privilégio de poucos. Desfrutei dela com adoração, venerando o corpo perfumado, e fui tomado pela sensação maravilhosa de descobrir um vício oculto, guardado só pra mim.
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  Porque um perfume encorpado podia ser notado a quilômetros de distância, mas a água-de-colônia exigia a intimidade de dois corpos nus devorando-se em tudo.
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  Ah, . Eu entendo agora.
  O tempo foi ficando mais manso a cada vez que ela repetia meu nome, meiga e suplicante, me arrastando cada vez mais fundo. O ápice se aproximava numa verdadeira contaminação de sentidos: o toque tinha gosto, o beijo tinha textura e o sexo tinha cor, as mais carnais e as mais vermelhas possíveis. Ali, no êxtase do alívio e da recompensa chegando, ela se saciou junto comigo, fazendo a perna tremer e bater contra a minha costela. Me derramei dentro dela num prazer grosso feito azeite, todo céu e pecado, e deixei no ouvido alheio uma verdade saída do meu âmago:
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  — O’Brien, você é minha dopamina.
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  Nota da autora: Esse trem desgovernado está ganhando seus rumos e contornos conforme você lê. Bem-vinda à minha primeira história em andamento que está, de fato, em andamento! Não sei direito o que vai acontecer, mas se você ficar comigo até o final, a gente descobre juntas onde isso vai dar! Obrigada pela leitura!

Capítulo 8: Beijos na testa

(POV: )

  — ?
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  A voz da foi a primeira coisa que eu ouvi antes mesmo de abrir os olhos. Nu, pesado e dormente, afundei na cama bagunçada, úmida de espuma de banho e outras coisas que atestavam o que tínhamos feito. Anestesiado pelo torpor do sono que ainda tomava conta de mim, murmurei um gemido sem sentido, não me dando sequer o trabalho de me mover. Minhas costas, deitadas no fino lençol de elástico — a única peça de cama que resistiu ao nosso sexo instintivo —, sentiram a ardência familiar das unhas que voltaram a rasgá-la. A pele foi despertando aos poucos, preguiçosa, recuperando-se do cochilo profundo que, pelas minhas contas, havia sido de meia hora, mas uma meia hora revigorante, como há muito eu não dormia.
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  — , acorda! — minha esposa me sacudiu. — Nós estamos atrasados.
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  — O quê?
  — São nove horas!
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  Impossível.
  — Nove horas? — tateei pelo travesseiro, cego pela luz ignorante do dia óbvio. — Tipo, nove horas da manhã? Eu dormi tudo isso?
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  — Nós dormimos. — , um borrão de astigmatismo sentado na beira da cama, tentava colocar um dos brincos e me cutucava com certa força. — Levanta, a gente tem que trabalhar.
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  — Mas… — esfreguei os olhos e puxei um pedaço de lençol para me cobrir. — Hoje é sábado.
  — Nós marcamos reunião com aquele representante de Los Angeles, eu esqueci totalmente! Não podemos deixar o cara esperando!
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  Ela pôs o celular no ouvido com a impaciência de quem estava tentando pela enésima vez, numa representação quase caricata das girl boss bem-sucedidas e sem paciência para flores e chocolates. E como uma atividade por vez não bastava e soava um enorme desperdício de tempo, tentava fechar a pulseira no punho direito enquanto sustentava o telefone com o ombro, deixando-o cair na cama com um urro de frustração pela chamada não atendida. O colo vermelho acusava uma espécie de alergia leve, provavelmente desencadeada pelo calor da movimentação intensa de um atraso, e o hidratante mal espalhado se acumulava na fenda entre os seios, sustentados por um sutiã básico.
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  Mas nada sobre a era básico. Até o creme acetinado na pele irritada parecia uma coisa de outro mundo.
  — Claro que quando eu mais preciso do , ele evapora. — ela bufou. — Mas na hora de ser inconveniente e atrapalhar meu primeiro encontro, ele estava lá!
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  Franzi o cenho e levantei, ainda resistente, amarrando o lençol na cintura.
  — Você levou seu irmão no seu primeiro encontro?
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  — Ele deveria me dar uma carona, mas quando descobriu que marcamos no cinema, ficou com medo do que Chad Williams poderia fazer com a irmãzinha dele numa sala escura. — ela soltou um começo de palavrão para a pulseira que não fechava.
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  — E o que Chad Williams fez com você numa sala escura? — pedi o pulso dela num gesto que disse “vem aqui” e coloquei o acessório com algum desgosto pelo nome revelado.
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  — Nada, empata-foda estava lá, você não prestou atenção?
  — Eu ainda nem acordei. — reclamei, apertando as têmporas.
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  — Então acorda! Se a gente correr, ainda dá tempo de colocar a culpa no trânsito. Tyler dirige, eu já mandei ele pegar as chaves. Lave o rosto, vista uma camisa, uma calça e seja breve! Não quero o tio Morgan com aquele bafo de uísque no meu ouvido me dando sermão sobre horário!
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   não esperou terminar as próprias frases e saiu andando em direção ao banheiro, alvoroçada, falando rápido e dando mais ordens pelo caminho. Bocejei alto, perdendo algumas delas e prevendo uma dura repreensão por isso mais tarde, no entanto, sabendo que era inútil queimar os dois neurônios funcionais que eu tinha prestando qualquer atenção ao que ela dizia. Fora o fato de eu ter acabado de acordar e meu corpo letárgico ainda estar processando como raios eu consegui dormir tanto tempo, a silhueta que se esgueirava na cuba e arrebitava uma bunda redondinha bem ao alcance da minha palma era uma visão criminosa.
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  Criminosa sim, porque não havia outra palavra que pudesse descrever de lingerie borrifando colônia em si mesma, tingindo os lábios com um balm vermelho que ela passava eroticamente com os próprios dedos, arrumando a calcinha minúscula (o som indecente do elástico estalando…) e decidindo como usaria o cabelo, jogando-o pra lá e depois pra cá, prendendo-o acima da nuca, simples assim. Bem na minha frente. Bem depois de termos feito amor.
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  Quis enfiar a cabeça na privada na hora.
  “Fazer amor…”
  Não foi isso que fizemos.
  Se tivéssemos “feito amor”, eu seria o primeiro a acordar e ficaria assistindo dormir mais um pouco. Eu afastaria o cabelo dela dos olhos e lhe contornaria o perfil, e ela se moveria minimamente em resposta, ronronando baixinho. Então, eu faria uma manobra mais ousada, desenhando as costas expostas dela e conseguindo um pequeno espasmo e um arrepio com isso. despertaria meio irritada, sem saber se gostava do carinho ou se tinha raiva de mim por ter interrompido o seu sono. Ela me diria alguma provocação com a voz rouca e eu começaria a rir, beijando os ombros descobertos pelo lençol…
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  Se tivéssemos “feito amor”, ela ainda estaria enroscada nos meus braços. Se tivéssemos “feito amor”, eu mesmo teria cancelado aquele compromisso idiota apenas para “fazermos amor” de novo.
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  Peguei uma das escovas de dente novas do armário e apertei o tubo de pasta de um jeito tão descolado da realidade que foi preciso dar uma breve conferida se aquilo era mesmo creme dental e não, sei lá, protetor solar. O falatório sem pausa de ecoava insistente e, embora as palavras fossem direcionadas a mim, o olhar dela estava voltado para o espelho, onde eu também me obriguei a fixar os olhos para ter algum contato visual enquanto ela tagarelava sobre tudo no mundo, menos sobre a mancha roxa que eu descobri no meu pescoço.
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  A origem do hematoma era igualmente prazerosa e indiscutível. A culpada pelo ato, munida agora de uma máscara de cílios, abria a boca involuntariamente para aplicar o produto e só por isso cessou seu monólogo e se permitiu respirar. Assistindo-a absorta em sua tarefa, a lembrança nítida dos beijos e dos toques continuava me dominando, abrindo espaço apenas para os comandos simples de gargarejar a água e cuspir a espuma de menta, como se aquilo pudesse expulsar também a fantasia impregnada no meu cérebro.
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  Por mais que “juntar as escovas de dente” tivesse um quê confortável de ironia, não era a manhã seguinte que eu imaginava ter depois de casado. A transa impulsiva que nos fez pular a parte do preservativo (já que o risco de gravidez ou de alguma doença não existia) terminou com ambos caindo num sono tão profundo de exaustão que sequer houve tempo para uma conversa de travesseiro, ou um beijo de boa noite na testa…
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  Joguei a água no rosto dessa vez, rindo sozinho.
  Eram subestimados, os beijos na testa.
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  — … — me enxuguei rapidamente, decidido. — Você não acha que devemos conversar? Sobre ontem?
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  — O que tem pra conversar?
  Que tal como nós dois ficamos depois disso? A noite de ontem não mudou nada? O que eu faço com essa marca de mordida que você deixou no meu pescoço? E o seu cheiro na minha pele, ? Como eu esqueço dele? Como eu durmo agora sem você?
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  — Nada. — suei frio. — Eu só queria saber se você está bem.
  — Eu estou ó-t-i-m-a! — ela fechou a embalagem do rímel e bateu com ela no meu peito descontraidamente. — Dopamina em dia. Muito obrigada, aliás. — piscou.
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  Piscou e saiu.
  Definitivamente, não fizemos amor. Fizemos biologia.
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  E já era capaz de seguir com as próprias pernas enquanto eu ainda podia senti-las roçando pelas minhas.
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⚔️

  Mãos apertadas e mais alguns pedidos de desculpas pelo atraso depois, o tal representante de Los Angeles saiu da sala de reuniões tentando o melhor que pôde para controlar os pulinhos de alegria. A proposta foi tão boa que ele até fez vista grossa para o meu hematoma, cuja gola da camisa, por mais que eu puxasse, não conseguia cobrir. riu todas as vezes que me viu arrumar o estrago com os mesmos dentes que fizeram a obra de arte, agora pintada de um violeta avermelhado num fundo meio verde ou azul, enfim, uma cor que não tinha nome.
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  Mas tinha dona.
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  As unhas não eram mais as únicas demarcadoras de território e minha esposa se mostrava mais do que feliz com o mapeamento que vinha fazendo do meu corpo, criando sua própria cartografia no que ela achou ser uma terra sem lei. Bom, da minha parte, não haveria resistência. Se ela queria fincar as bandeiras da sua exploração pela minha pele, se ela queria plaquinhas com o seu nome num terreno dócil e suscetível, se ela queria brincar de exercer o controle, então, sim, eu a deixaria descontar subconscientemente, com mordidas, arranhões e o que mais ela quisesse, a raiva que ela sentia por todas as coisas que não podia controlar de verdade.
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  Eu deixaria qualquer coisa desde que ela me tocasse e essa necessidade era novidade para mim.
  Ao menos na empresa, diante de um público que acreditava que éramos pombinhos apaixonados, eu podia me dar o gosto desse contato. Alisar o joelho dela por baixo da mesa, acompanhá-la com a mão apoiada na base das costas ao transitar pelo prédio, entrelaçar os braços nas caminhadas mais longas, quem sabe até arriscar um beijo na testa.
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  Ri mais uma vez. Aquele estava sendo um tema recorrente.
  Eram subestimados, os beijos na testa.
  — Perfeito. — assobiou, olhando para o contrato assinado com a tara de um adolescente de 14 anos. — E com a taxa de juros lá embaixo. Como você fez isso?
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  — Eu posso ser bem encantador, docinho, você deveria saber.
  — Eu nem vou discutir. — ela bateu os papéis e pôs a mão nos quadris como se duvidasse de mim. — Ainda não acredito que você conseguiu um convite pra inauguração do restaurante que ele comprou. Sabia que já tem fila de espera? A lista é exclusivíssima, nem a Laura conseguiu.
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  — Como é mesmo o nome do lugar?
  — The Baratie.
  — Nome esquisito. — torci o nariz. — Aposto que a comida também é. Nunca ouvi falar de um chef especialista em crustáceos.
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  — Eu só conheci uma pessoa que sabia temperar aqueles bichos malucos do fundo do mar sem deixar tudo com gosto de borracha…
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  — Desde que não sirvam o Bob Esponja e o Patrick, eu vou ficar bem.
   soprou uma risada, interrompida apenas por uma presença impossível de ignorar e um cheiro tão detestável quanto.
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  — Pelo visto, o casal reverteu o atraso e salvou o dia. — Morgan anunciou-se com um hálito de um álcool muito forte para aquela hora da manhã.
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  — Mais do que isso, fechamos com muita vantagem. A porcentagem ficou-
  — Os detalhes da sua supercompetência não me interessam, querida sobrinha. Eu só vim buscar uma cópia do contrato para registro.
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  Antes que eu pudesse vestir minha armadura reluzente e sair em defesa da donzela moralmente ofendida, se encarregou de me informar que aquela era uma batalha sua ao menear a cabeça e me impedir de falar. E de mandar o velho para o quinto dos infernos.
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  — Eu mesma faço isso, tio. Eu anexo aos relatórios anteriores que você ficou de me entregar. Onde estão?
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  — Ainda insistindo em analisar as contas, ? — ele amargou. — Está tentando mostrar para o papai que você é capaz?
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  — Meu pai sabe muito bem que eu sou capaz. A maior prova disso é que eu estou aqui fechando os contratos, e não você.
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  A quinta série dentro de mim quase assobiou “Ouch! Morgan saiu ferido!”, mas eu me contive. A segunda reação, no entanto, foi a mais difícil de segurar, porque havia algo na postura incisiva e no modo como casualmente girava seu salto agulha contra o porcelanato que me deixava estranhamente excitado. Morgan, por sua vez, ignorou a cortada e sacou o frasco metálico da cintura com dedos grosseiros e amarelados, provavelmente pela nicotina, o vício que costumava acompanhar o alcoolismo. Deu um gole impaciente na bebida e, como se ela não tivesse surtido o efeito desejado, esfregou a boca com desgosto, desistindo da cópia pela qual era responsável e deixando a sala.
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  — A maioria das pessoas fica mais agradável quando bebe. — observei, vendo dar a volta na mesa e se aproximar devagarinho. — Não funciona com o seu tio.
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  — Funciona com você? — ela parou a poucos centímetros de mim, calculando como arrumar minha gola. — Adoraria te ver bêbado um dia.
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  — Pra você poder se aproveitar do meu lindo corpinho? Achei que você gostasse de mim pelo meu cérebro.
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  — Eu gosto de você pelo seu potencial de ganhos. — ela sorriu de canto, brincando com o botão aberto. — E você tem olhos legais.
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  — Então você admite que gosta de mim?
  — Só o necessário.
  Até mesmo os meus ossos tremeram. Não dava pra ir correndo colocar Careless Whisper pra tocar num alto-falante, mas já era um começo. Eu bem cogitei cantarolar o refrão ou fazer alguma piadinha que a irritasse, mas o elogio repentino e o modo como os caninos dela apareceram devagarinho entre a boca vermelha denunciaram que ela estava prestes a me pedir algo.
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  — O que você quer, ? — vi através dela. — Qualquer coisa. Eu faço.
  — Por que acha que eu quero alguma coisa? — ela puxou meu colarinho e só então eu percebi que ela ainda não tinha me soltado.
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  — Porque você está sorrindo igual ao Coringa. — olhei para as mãos dela apoiadas no meu peito.
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  Mais um território conquistado, a propósito.
  — Essa situação com o tio Morgan se prolongou demais. — fechou os olhos e suspirou. — Eu preciso agir.
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  — Qual o plano?
  — Eu quero investigá-lo. Oficialmente. Mas para uma intervenção desse nível, eu preciso que toda a diretoria seja unânime.
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  Não era necessário ser um vidente para saber o que Donna e Arthur, meus sogros, e , meu cunhado, pensariam de um inquérito interno sobre Morgan. A rusga entre eles ficou bem evidente todas as vezes em que a diretoria se reuniu para decidir algo e, se eu conhecia a mulher diante de mim (e eu estava começando a achar que conhecia), com certeza a espertinha já teria posicionado pais e irmão ao seu favor antes de falar comigo. Como minha mãe costumava dizer, quando se tratava dos negócios, “não dava ponto sem nó”.
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  Infelizmente para ela, eu também não.
  — Você só depende do meu voto. — decretei.
  — Sim, de certa forma-
  — Não, não foi uma pergunta. — balancei o indicador. — Você está nas minhas mãos.
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  Eu consegui ouvir os pensamentos dela na hora e eram mais ou menos assim: “eu vou arrancar esses três brincos, a tua orelha e te fazer engolir tudo”.
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  — Você quer mesmo ir por esse caminho? — perguntou, inquieta.
  — Só até você admitir que precisa de mim.
  — Você disse que faria qualquer coisa! — a mimada me deu um empurrão inofensivo.
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  — Eu faço, mas eu quero ouvir você dizer.
  Dei a volta na mesa, fazendo questão de me sentar na “cadeira do chefe”. Assistir O’Brien Arata lutar contra si mesma e perder era sempre um espetáculo que merecia ser apreciado de camarote.
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  — Tá. — ela debruçou-se sobre o tampo, fervendo como um vulcão. — Eu preciso de você, .
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  — Interessante. — cocei o queixo. — E por que você precisa de mim?
  — Porque eu não tenho escolha.
  — Uh, resposta errada. — levantei e ameacei sair.
  — Ok, ok! — nossos corpos se chocaram quando me interceptou no meio do caminho. — Eu preciso de você porque você é um administrador brilhante.
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  — Brilhante e bonitão? — arrisquei.
  — Brilhante e bonitão. — ela concordou.
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  — E bom de cama também?
  — E bom de cama também.
  — Agora tudo junto, do início?
  — Eu preciso de você, você é um administrador brilhante, bonitão, bom de cama e um marido incrível. Satisfeito?
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  O ato falho me desarmou por completo. não percebeu a confissão que fez.
   não percebeu que admitiu sem querer que me achava “um marido incrível”. Ela achava?
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  Minha vontade era de tascar um beijo nela ali mesmo, de segurá-la pelo rostinho pequeno e sacudi-la, dizendo: “por que você me maltrata tanto, sua criaturinha geniosa por quem eu estou fatalmente atraído? Por que eu consigo tirar 200 kg de ferro do chão, mas não consigo tirar os seus 60 kg da minha cabeça?”
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  Foi quando a palavra “contrato”, escrita em algum papel em cima da mesa, surgiu e me acertou como um chute nas bolas. me quis ontem, na banheira, mas ela me queria hoje, ali, naquela mesa? O fato de termos infringido uma cláusula do contrato anulava todo o resto e nos dava a liberdade para beijos espontâneos? Eu não tinha a menor ideia. A regra era não fazer nada sem que ela pedisse, mas ela pediu, então isso queria dizer que eu poderia tê-la quando quisesse agora? Porque eu queria tê-la, toda hora. Só não sabia dizer se era por um princípio de paixão ou se era por ela, de certa forma, ser proibida pra mim, dado que desafios e conquistas sempre foram o meu grande tesão. Em todos os cenários, minhas mãos estavam atadas e eu odiei cada segundo daquela rara ocasião em que eu não podia fazer o que eu queria.
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  Claro que não todos os segundos. A frase “você é um marido incrível” ainda ecoava nos meus ouvidos e a gentileza acidental foi mais que suficiente para me motivar a cutucar o nariz arrebitado na minha frente e dizer:
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  — Comece a investigação, eu vou te dar todo apoio. Mais alguma coisa que eu possa fazer por você, sua alteza?
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   aproveitou nossa proximidade e jogou os braços por cima dos meus ombros, me chamando para um abraço.
  — Use gola alta hoje à noite. — sussurrou no meu ouvido.
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  O “pedido” me causou um calafrio e uma vontade inexplicável de atendê-lo. A necessidade de mandar, ou melhor, de mandar em mim, qualquer ordem que fosse, era tão natural para a minha esposa quanto respirar. Mesmo nos dias da semana, quando ela dispunha de um assistente e vários estagiários se estapeando pela vaga, quem tinha que buscar o café dela era eu. Na cafeteria do outro lado da rua, no horário mais movimentado e com os adicionais mais difíceis de lembrar. espiava pela janela da sua sala, esperando o exato momento em que a fila estivesse quilométrica, para aparecer dizendo que queria um mocha (com espuma à parte, chocolate meio amargo e outros duzentos fricotes…)
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  Fingia reclamar só para não perder a pose. Depois que a fila andava, que o atendente finalmente entendia todos os detalhes do pedido e que eu conseguia atravessar a rua equilibrando tudo e sem ser atropelado, ela sorria com a cara mais lavada do mundo e me soltava um “obrigada, docinho”.
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  Esse agradecimento, eu odiava admitir, me fazia balançar o rabinho de tão feliz, rabinho esse que eu estava ansioso para balançar novamente, brigando com o relógio para mostrar que obedeci mais uma ordem: usar a roupa que ela exigiu. E quando a hora de sair para o jantar chegou, eu fiz tudo do jeitinho dela, colocando inclusive a água-de-colônia.
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  Quem sabe ela gostasse do cheiro. Ou quem sabe ela me jogasse um biscoito e afagasse a minha cabeça dizendo que eu era um bom menino.
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  A gola alta caiu bem, apesar de um peitoral todo marcado chegando antes de mim fugir um pouco do meu estilo discreto. Cobri tudo com um blazer enquanto , ao contrário do que eu pretendia, exibia ostensivamente o seu decote, amplo o suficiente para atrair um predador ou um recém-nascido faminto.
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  — Parece que eu vou ter alguma competição aqui. — inflei o peito quando ela surgiu.
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  — Onde? — ela me olhou de cima a baixo. — Eu prefiro os meus.
  — Eu sinceramente prefiro os seus também.
  Tomei um soco no bíceps, um pouco mais forte que o de costume, e a pugilista riu e disparou na dianteira, achando que eu não pensaria muito na dor se a bunda dela estivesse dançando dentro do vestido em direção à garagem. E ela achou certo.
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  — Posso levar o Audi? — pediu, escorando-se na lataria.
  — E eu vou de passageiro princesa?
  — Por favor! — ela atacou com a jogada infalível de cruzar os braços na frente do corpo, espremendo os seios um contra o outro.
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  Não tinha como dizer não para a mais primitiva e universal fantasia masculina: uma gostosa num carrão.
  — Não arranha o meu bebê. — joguei as chaves que apanhou no ar e entramos.
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  Os pedais a confundiram um pouco no início e ela estancou na saída, colocando meu coração na garganta. Ela segurava a direção como uma boia de salvamento, a postura rígida, procurando acostumar-se ao ritmo da máquina e, sem perder muito mais tempo em entendê-la, simplesmente começou a conduzi-la aos trancos e barrancos, saindo da garagem desastrosamente, mas com a audacidade que lhe era nata.
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   era prática e assertiva o tempo todo. Nada de aproveitar a maciez da embreagem ou de sentir o vento no rosto, o importante era chegar ao destino, mesmo que fosse cantando pneu e trucidando meu motor no processo.
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  — Jesus. — roguei baixinho no quarto solavanco da noite.
  — Shhh, fica quieto.
  — Eu estava quieto quando você avançou aquele sinal vermelho, agora eu tô com medo de morrer. Ou pior, de arranhar meu Audi.
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  — Para de ser exagerado. — o câmbio tremeu, pedindo engrenagem. — Nunca fez uma barbeiragem no trânsito?
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  — Só quando eu tinha 15 anos e peguei o carro do meu pai escondido.
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  — Rebelde. — acusou.
  — Pelo menos eu não fui ao cinema me agarrar com Chad Williams. — resmunguei.
  — Eu já disse, nada aconteceu com o Chad no cinema. — ela reforçou com um cansaço divertido e desviou os olhos da estrada por um instante. — Só depois, na festa de formatura.
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  — Safada. — devolvi.
  — Olha quem fala! O que você fez na sua festa de formatura?
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  — Fiquei em casa.
   meteu a marcha errada e eu tive outro princípio de AVC.
  — Fala sério!
  — Pergunte ao Gordon. — apertei a tira do cinto de segurança, apreensivo.
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  — Não posso confiar no seu irmão, ele vai confirmar qualquer história sua. — ela enfim engatou a marcha certa.
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  — Pelo andar da carruagem, a única coisa que ele vai precisar confirmar é o meu testamento. Onde foi que você aprendeu a dirigir, hein?
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  — Eu tenho uma pergunta melhor, por que você não foi ao baile?
  — Meu par terminou comigo no dia anterior. — falei sem importância.
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  Dessa vez, brecou o carro e a freada brusca me fez descolar as costas do assento.
  — , mas que porr-
  — Ela te dispensou!? — a voz dela subiu uns três tons, tamanha foi a incredulidade, e agarrou o encosto do meu banco com as unhas estourando no estofado novinho. — Você, Arata, tomou um fora? — as buzinas fizeram-na lembrar que havia trânsito e ela voltou a “dirigir”. — Balela. Aposto que destruía corações por aí.
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  — Obrigado pela parte que me toca, mas na escola a única coisa que eu destruía era a matemática. — me ajeitei, tenso, rememorando os oito dígitos do meu seguro de vida. — Eu era um típico nerd asiático, ela só queria passar nos exames finais e…
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  — Quando ela conseguiu o que queria, ela te largou. — ela completou no automático e um relance vazio e indecifrável passou pelo seu semblante na hora, rápido como um relâmpago.
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  — Acabou sendo uma coisa boa. — segurei a alça no teto do carro e pisei repetidamente no meu freio imaginário. — Por causa disso, eu mudei o cabelo, o guarda-roupa, comecei a malhar…
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  — Isso que eu chamo de glow up. — assobiou e derrapou por uma curva sem ligar a sinaleira. — Pena que não nos conhecemos antes, eu era bem popular no colégio. Eu poderia ter te levado ao baile, sabia?
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  — Você nunca olharia pra mim. Eu não era Chad Williams, o capitão do time de futebol.
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  — Como sabe que ele era o capitão do time de futebol?
  — Ele ficou com você no baile, certo? O capitão do time sempre fica com a garota mais bonita da escola.
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  — E como sabe que eu era a garota mais bonita da escola? — ela ruborizou, deixando transparecer que estava lisonjeada.
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  — Porque você ainda é a garota mais bonita de qualquer lugar. — falei com uma certeza científica. — Vamos ser francos, senhora popular, se tivéssemos estudado na mesma escola, você nem ia saber da minha existência. Eu vivia enfiado no clube de xadrez.
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  — Bom, para a sua informação, eu também jogava xadrez. — mais uma parada repentina, finalmente, na frente do restaurante de nome estranho. — E eu chutaria a sua bunda com tanta força que você ia ficar chorando por um mês inteirinho.
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  — Chute o nerd, todo mundo faz isso. Mas adivinha quem tem a garota mais bonita da escola agora? — pisquei.
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  — Xeque-mate. — os berloques da pulseira dela arranharam o painel. — Quer que eu abra a porta pra você, docinho?
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  — Achei que você nunca fosse perguntar, querida.
  O manobrista mudou de cor quando abriu a porta do motorista e deu de cara com uma mulher deslumbrante em vez de um empresário careca e engomado, coisa que havia aos montes ali. desceu e contornou o Audi, destravando a minha porta e oferecendo a mão para me ajudar. Aceitei, derretido pelo sorriso dela e zonzo pelos flashes de alguns fotógrafos da imprensa local na frente do estabelecimento, que acharam que nossa inversão de papéis inusitada renderia uma nota descontraída na coluna social.
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  — Sorria, senhora Arata. — escoltei minha esposa pela cintura marcada. — Vamos vender felicidade.
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   posou para as câmeras juntando as duas mãos no meu ombro e ajustando a personalidade para o modo público de casada, ao passo que eu, que detestava fotos, tiraria um milhão delas apenas para envolver o corpinho pequeno demais e descoberto demais para a temperatura que fazia lá fora.
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  — Aqui, docinho. — removi o blazer, colocando-o sobre ela. — Melhor assim?
  — Boa jogada. — ela esticou o pescoço, olhando ao redor. — Mas os fotógrafos não viram.
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  — Não fiz para eles verem. — indiquei o caminho. — Eu sou um cavalheiro.
  Nos conduzimos até a recepção, onde alguém tirou meu blazer da e nos levou com mil simpatias aos nossos lugares. O ambiente era cativante, apesar dos tons de azul e branco remeterem de um modo muito óbvio à especialidade do chef: frutos do mar. As paredes adornadas por quadros com ilustrações marítimas e peças decorativas inspiradas no oceano, âncoras de bronze e cordas de veludo, dialogavam com os lustres imitando redes de pesca, que iluminavam suavemente as mesas, dispostas de forma espaçosa e intimista.
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  Eu achei tudo bem brega, mas esperei o maître terminar de nos acomodar para dizer.
  — Decoração náutica, que original.
  — Levaram o tema muito a sério. — ergueu uma sobrancelha e indicou outra mesa do salão com a cabeça. — Está cheio de piranhas.
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  Segui o olhar dela e vi, no ângulo paralelo ao que estávamos, várias cabecinhas de cabelos loiros acompanhadas por vários cabeções com cabelo nenhum. O grupo de seis pessoas, aparentemente três casais, gesticulava calculadamente e inspirava falsidade de longe, medindo sorrisos e palavras.
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  — Conhece eles? — perguntei enquanto o maître nos entregava os cardápios e saía à francesa.
  — Só as mulheres. — analisou. — Da Saint Peter.
  — Quem são?
  — Garotas loiras demais da fraternidade legal demais que eu era morena demais e inteligente demais para entrar.
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  — Você pode não ter entrado na fraternidade, mas fisgou o milionário mais jovem e mais bonito. — arrisquei mais uma olhada. — Os delas estão caindo aos pedaços.
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   riu, escondendo o rosto atrás do menu. Eu me sentia nas nuvens quando conseguia fazer as covinhas saltarem.
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  — Enfim, espero que elas não me vejam. Não quero que nada estrague meu jantar. — ela procurou pelo maître, que prontamente surgiu de volta para anotar os pedidos.
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  Abrimos com uma seleção de ostras frescas acompanhadas de um vinagrete de frutas cítricas que, a princípio, não me animou em nada. Isso porque eu achava que ostras eram trabalho demais para comida de menos. Sem falar que não havia nada de apetitoso numa coisa servida na carcaça do próprio animal — um animal que era uma gelatina mole dentro de um esqueleto de cálcio duro e cortante. Nem era preciso experimentar para saber que aquilo tinha gosto de minhoca
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  — Prova. — pediu quando viu minha careta para o prato.
  — Dizem que ostras são afrodisíacas. — cutuquei uma delas, relutante. — É por isso que você quer que eu coma a meleca do oceano?
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  — Tem um monte de proteína nisso aí, você que é viciado em academia vai gostar. Prova logo pra eu poder dizer “eu te avisei”.
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  — Tá, mas se eu ficar todo aceso e excitado, a culpa vai ser sua.
  — E quando não é? — me serviu a concha e eu aceitei mais desconfiado que um bandido interrogado pela polícia.
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  Para a minha surpresa, a carne macia e cozida no ponto certo tinha um sabor suave, que lembrava a água do mar. O gosto salgado e intenso que desceu pela minha garganta era melhor do que eu imaginava e, mesmo que eu tentasse mentir, meus olhos arregalados e fascinados entregariam tudo.
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  — Eu te avisei. — ela cantarolou.
  — Avisou sim, e você fica tão sexy quando tem razão.
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  — Esse é o ponto, docinho, eu sempre tenho razão.
  Foi a minha vez de rir largado e pedir a cartela de vinhos para regar o jantar que já prometia ser mais do que agradável. Em meio à loucura do trabalho e dos dias sem fim no escritório, era revigorante ter um tempo de qualidade com a minha esposa, disputando-a apenas com uma lagosta grelhada ao molho de ervas finas em vez de acionistas estressados e um tio Morgan causando problemas. Era maravilhoso assisti-la gesticular, falar, mastigar, enfim, ser ela mesma, reclamando que mal conseguia respirar de tanto que comeu.
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  — Eu não sei como você vai entender isso, mas eu quero me casar com essa lagosta. — saboreou a última garfada.
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  — Que bom que você falou primeiro. Ia ficar estranho pra mim.
  — Sério? O mesmo cara que odiava crustáceos?
  — Eu sei admitir quando estou errado. — bebi o Chardonnay. Pelo menos ter a como piloto no carro da morte me permitia o prazer de Dionísio. — Na verdade, eu gostei tanto que vou chamar o chef aqui para cumprimentá-lo pessoalmente. — fiz um sinal para o maître buscar o responsável.
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  O local não era o melhor em termos de paisagismo, mas a qualidade da comida e do atendimento eram inquestionáveis. Demorou o equivalente a um gole para que as portas da cozinha se abrissem do outro lado do salão e um rapaz de cabelo descolorido dentro de um dólmã azul-marinho começasse a andar na nossa direção, esbanjando um sorriso muito fácil e muito aberto. Conforme ele se aproximava, era possível distinguir tatuagens nos antebraços, expostas pelas mangas dobradas, e as mãos enfiadas nos bolsos como se elas não servissem para mais nada na Terra além de cozinhar. Eu teria reparado em outros fatores, como as mulheres acompanhadas de seus maridos quebrando os pescoços para admirar a figura masculina que se destacava, mas senti , trêmula, apertar meu joelho por baixo da mesa e tirar meu foco da figura sorridente para ouvi-la dizer de queixo trincado as palavras mais amargas da noite:
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  — Alerta de ex-namorado.
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  A lagosta quase voltou.
  — O quê?
  — Aquele é Skylar, meu ex-namorado. — ela continuou rápido e entre dentes, antes que ele nos alcançasse. — Eu terminei com ele há alguns anos.
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  — Quantos anos? — tentei manter a cara de paisagem quando percebi que ele vinha sorrindo o caminho inteiro exclusivamente para .
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  — Não muitos. — ela seguia explicando a história com o maxilar travado e acenando para o chef. — Ele ficou arrasado.
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  Eu também ficaria, mas, àquela altura, eu já o odiava.
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  — Por que terminaram?
  — Quando me conheceu, ele tinha uma vida inteira planejada, . — ela respirou pesado. — Uma vida que não me cabia porque envolvia filhos. Ele não sabia da minha condição e eu não queria interferir nos planos dele, então eu terminei.
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  — Você nunca contou a verdade?
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   simplesmente meneou a cabeça.
  — E por que você contou pra mim?
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  Ela entrelaçou os dedos nos meus e me encarou no fundo dos olhos.
  — Porque você me pediu pra te deixar tentar. — me apertou mais forte. — Eu estou deixando.
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  Engoli em seco, tentando entender o que tinha acontecido naqueles quarenta segundos tão densos e sabendo que seria impossível assimilar algo, uma vez que o chef já estava a alguns passos de nós. Zonzo pelo vinho e pelo contexto fornecido, resolvi me ater aos fatos concretos, e um dos fatos concretos era que, assim que levantamos juntos, a atenção de foi direto para as nossas mãos dadas. Apenas nesse momento o sorriso incansável enfraqueceu, mas não durou muito tempo.
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  — Bonita! — ele cumprimentou em espanhol e abriu os braços para . — Fiquei tão feliz quando soube que você estava aqui!
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  — Oi, ! — ela aceitou o abraço e eu desviei a vista. — O que você está fazendo aqui em Nova York? Pensei que estivesse no paraíso das Ilhas Canárias!
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  — Eu estava, mas vim abrir minha primeira filial do Baratie! — ele anunciou envaidecido.
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  — E quando é que vai embora? — deixei escapar e ganhei uma cotovelada na costela. — Eu quero dizer, quanto tempo vai passar conosco?
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  — Alguns meses, até a cozinha se estabelecer e começar a funcionar sem mim. — ele se dignou a me olhar por um átimo, finalmente se dando conta de que eu era uma pessoa e não um acessório. — E aí eu vou voltar de vez para a Espanha, já que… — tornou a ser o centro da visão dele. — Já que eu não tenho mais motivos para ficar.
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  Como é que é, Mania?
  — , conheça meu marido, Arata. — cortou a tensão e nos apresentou oficialmente.
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  — Prazer em conhecê-lo. — ele estendeu a mão e eu achei que ela ficaria melhor se continuasse no bolso dele. De preferência, bem longe da .
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  — Igualmente. — retribuí o cumprimento. — Parabéns pelo restaurante, eu e minha mulhertivemos uma ótima experiência.
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  — Muito obrigado. E parabéns pelo casamento, eu li nos jornais. — ele voltou a rondar como um pitbull desejando um pedaço de carne. — Aliás, eu fiquei um pouco confuso com a notícia. — a fala veio recheada de ressentimento e acompanhada de uma olhada por cima do nariz. — Achei que você não estivesse pronta para um compromisso tão sério, mi bonita. O que mudou?
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  — Eu mudei. — soltou casualmente. — A vida me surpreendeu.
  — Do mesmo jeito que você me surpreendeu naquela banheira de hotel em Canárias?
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  Senti o golpe, que ganhou requintes de crueldade quando os olhos de vidro do homem-peixe brilharam vividamente, como se ele estivesse ali, ao vivo, repassando o filme do encontro na banheira na cabeça. Um desarranjo generalizado me fez suar frio e eu me esforcei para vencê-lo e não demonstrar a onda de ciúme que se apoderava de mim, mas era incômodo demais pensar que e o diabo da Tasmânia tiveram uma experiência similar à nossa. É claro que eu não era ingênuo a ponto de achar que ela nunca tinha feito algo “menos convencional”, mas eu fui tolo o suficiente para acreditar que aquele sexo na água tinha sido uma coisa só nossa, enquanto, na verdade, era também um capítulo do passado dela que eu preferia não saber.
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  Mas agora eu sabia, e eu tinha que administrar aquela informação.
  — Isso não vem ao caso agora, . — interveio com uma risadinha, voltando a procurar pela minha mão. — O que eu quero saber foi o que você colocou naquela lagosta, estava divina! — ela recostou a cabeça no meu ombro. — Meu marido não é muito fã de frutos do mar, mas hoje ele mudou de ideia, não foi, querido? — um carinho inesperado no meu rosto me fez virar a cabeça e olhar para ela, que me plantou um selar bem rápido nos lábios formigando de vinho.
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  Toma essa, cozinheiro.
  As mãos do loiro de farmácia voltaram para os bolsos e o semblante adquiriu traços leves de desânimo. O assunto, de repente, tornou-se neutro e entramos num tópico mais seguro, desviando da gafe que ele cometeu de propósito. Por mais imaturo que fosse, o fato de encontrar maneiras diferentes de me tocar e me incluir na conversa bem nas fuças do cabeça de bagre me dava um sentimento infantil de superioridade e deixava a minha testosterona gritando “é, mexilhãozinho, eu ganhei a sereia”.
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  A sensação era boa. Muito boa. E ficou melhor ainda quando a conversa se encaminhou para os finalmentes.
  — Foi bom te ver, . — começou as despedidas, oferecendo uma mão que o cara de camarão vencido beijou e demorou a soltar.
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  — Foi melhor ainda ver você. — galanteou e depois me estendeu as patas outra vez. — E . Que bom que eu finalmente descobri quem roubou minha bonita.
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  O “bonita” não me irritou, porque era bonita mesmo, em espanhol, em japonês e até em latim… O problema era o “minha”. O “minha” me deu nos nervos.
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  — Não vejo a como algo a ser roubado, mas, sim. Fui eu. — exagerei na pressão do aperto de mão dessa vez. — Boa sorte na Espanha.
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  Assisti o cozinheiro se afastando com um prazer inigualável, torcendo para que ele nunca mais voltasse do inferno tropical de onde tinha saído; já , agora de braços cruzados, me estudou por completo com uma feição pouco amigável.
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  — Nossa, hein. Deu pra sentir o cheiro dos hormônios daqui. Só faltou você fazer xixi em mim pra demarcar território.
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  — Eu me segurei, o Chardonnay me deixou bem apertado. — a bexiga reclamou da garrafa que tomei. — Pode me dar licença por um minuto?
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  — Seja rápido, o pode voltar pra me roubar de você e me levar pras Ilhas Canárias.
  — Acho que ele vai ter que entrar na banheira castelhana dele sozinho. — tentei fazer soar como uma piada, mas uma nota de amargura fugiu e eu apressei o passo para o toalete para encobri-la.
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  Na pia (e é claro que a cuba tinha a forma estúpida de concha), umedeci a mão para esfriar a nuca, enrijecida desde a interação catastrófica. Eu detestava me sentir daquele jeito, enciumado, “ameaçado” e, principalmente, bancando o bobão. Ter um ex e ter transado com ele numa banheira ou sei lá onde não deveria ser motivo para tanto desconforto e eu comecei a questionar a origem disso. Não demorou muito para entender que a chateação toda vinha de uma expectativa que eu mesmo criei, e a revelação maliciosa do platinado arranhou alguma coisa dentro de mim.
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  E outra coisa arranhou, lá fora, tão alto que foi possível ouvir do banheiro masculino.
  Um pouco mais à frente, no corredor que dava acesso aos lavabos, as loiras que reconheceu mais cedo conversavam (ou melhor, cacarejavam) animosamente entre si, fora das personagens centradas e elegantes nas quais estavam na frente dos maridos. Normalmente, nada ali me despertaria reação alguma a não ser tédio, mas o nome citado foi quase um convite para escutar o assunto alheio.
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  — Você viu a ? — a primeira começou. — Continua com a mesma cara de abuso da faculdade.
  — Eu vi! E você, hein, Brittany? — a loira número 2 falou para a número 3. — Ainda queria bancar a legal e falar com ela!
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  — Eu odeio ela também, só achei que seria educado dar os parabéns pelo casamento!
  — Casamento muito suspeito, né? Feito às pressas… Aposto que ela tentou dar o golpe do baú. Que outro motivo aquele homem maravilhoso teria para se casar com O’Brien?
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  — Ela sempre se achou muito espertinha. Talvez ela seja mesmo, fisgando uma delícia daquelas. Eu comeria ele todinho de hashi.
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  — Você comeria qualquer um justamente porque não tem quem faça isso com você em casa.
  — E você tem? Casar com velho milionário dá nisso. Ganhe dinheiro, perca uns orgasmos. A gente se vira como pode.
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  — Nem me fala. Watson não levanta mais nem com a pílula azul.
  — Pelo menos o seu ainda tenta. O Rogers só dura meio minuto, depois vira pro lado e dorme.
  — Enquanto nós passamos fome, a pele da desgraçada da está reluzindo. Acham que ele gosta mesmo dela?
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  — Claro que não. O visco deve ser injeção de colágeno. Aquele cara é areia demais pro caminhãozinho dela.
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  — Eu ainda me pergunto como ela conseguiu.
  — Golpe da barriga. Com certeza foi golpe da barriga.
  O festival de futilidade não tinha feito meu sangue ferver até a última alfinetada. Fazer comentários maldosos sobre uma ferida que minha esposa carregava, mesmo que poucas pessoas soubessem dela, era sórdido demais. Além disso, todos os encontros inconvenientes que aquele jantar tinha proporcionado me levaram a me inclinar às encenações do nosso joguinho de aparências. Ouvir a conversa da turma da cirurgia plástica amplificou minha vontade de dar o troco e me fez sentir na obrigação de “vingar” a mulher que estava comigo; mais do que isso, de mostrar que eu queria estar com ela. E quando meu lado competitivo se sentia estimulado, o diabinho no meu lado esquerdo não descansava até conseguir me seduzir.
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  O anjinho levou vantagem na disputa, repetindo “não vale a pena” como um mantra hipnótico, e eu passei pelas três sem que elas me percebessem ou desconfiassem que eu estava ouvindo (o que não foi muito difícil, já que elas estavam obcecadas demais consigo mesmas para notar qualquer coisa). De longe, depois de fazer o papel de espião e vencer a luta moral, avistei em pé ao lado da nossa mesa, pronta para sair — e ansiosa para botar as mãos no Audi outra vez.
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  — Nem faz essa cara que você não tem escolha. — ela me recebeu com a palma estendida. — Está alcoolizado.
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  — E ainda dirigiria melhor que você. — me deixei ser guiado até a área externa.
  Na calçada, na parte coberta por um toldo, a movimentação constante dos manobristas era feita com muito cuidado e discrição. A fachada do restaurante, com um grande portão de ferro forjado e um letreiro luminoso exibindo o nome do estabelecimento (o nome muito feio do estabelecimento), aos poucos foi se enchendo de clientes que, assim como nós, aguardavam seus carros. Entre os que esperavam, as loiras 1, 2 e 3 e seus respectivos carecas chegaram, pondo-se a uma distância considerável de nós, porém não o suficiente para permitir que continuássemos nos ignorando mutuamente. empalideceu, visivelmente desconfortável com a ideia de ser abordada por pessoas que não tinham nada de genuíno para oferecer, e eu entendi o desespero. Lidar com gente oca por dentro fazia parte da vida social que nosso mundo demandava e o que eu li na pálpebra trêmula dela ao ver a gangue das siliconadas malvadas chegando foi um pedido de socorro estampado.
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  — Elas estão olhando pra cá?
  — Fixamente. E cochichando.
  O anjinho (coitado!) ainda gritou “não desça ao nível delas!”, mas o diabinho me convenceu a colar a boca no ouvido da e sugerir:
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  — Quer dar um showzinho?
  — Sempre. — ela sequer titubeou. — O que você tem em mente?
  Dispensei as explicações e coloquei o plano em ação. Assim que o manobrista estacionou o carro e devolveu as chaves para , eu não perdi tempo e a amassei contra a lateral do veículo, enfiando as mãos por baixo do cabelo dela e envolvendo-a num beijo explícito demais para um lugar público e com plateia. Pedi passagem com a língua, caminho conhecido por nós, que nunca obedecemos regras de etiqueta na hora de beijar, e continuei massageando o pescoço dela através dos fios soltos que se emaranhavam nos meus dedos, bagunçando as ondas que ela gastou horas fazendo com babyliss.
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  O batom que ela retocou depois do jantar foi parar na minha boca, borrando-a de um modo obsceno, e respirávamos como dois alunos pegos em flagrante nas arquibancadas do ginásio, tomados de adrenalina. Puxei o lábio inferior dela com os dentes para sensibilizar o beijo, que já fazia um barulho ofegante e por pouco não se enquadrou como atentado ao pudor, e por fim, sorri embevecido, certo de que agora as loiras teriam um bom motivo para falar. E de que eu teria mais uma coisa para pensar no chuveiro…
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  — Vamos logo pra eu poder tirar esse vestido de você, docinho. — apalpei de mão cheia a bunda imprensada contra o Audi.
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  — Querido! Não na frente das pessoas! — limpou os cantos da boca e arrumou o cabelo, fingindo só então ter tomado conhecimento dos nossos espectadores atentos. — Ah, oi, meninas! Como vão?
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  Cada loira respondeu um “oi” mais xoxo que a anterior.
  — Desculpem por isso, eu adoraria bater papo, mas eu preciso ir. — minha esposa puxou o vestido, me olhando atravessar até meu lado da porta. — Sabem como é, eu tenho um marido insaciável.
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  Eu já estava dentro do carro quando entrou trôpega e bateu a porta, golpeando o volante com soquinhos de empolgação.
  — Caramba, isso foi demais! — ela me acertou um tapa sonoro na coxa. — Por que você não me avisou do plano?
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  — Napoleão Bonaparte foi avisado do inverno russo? — esfreguei a perna. — Tática de guerra, meu bem.
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  — Você viu a cara delas? — gargalhou alto.
  — Para quem tem aqueles velhos caquéticos como parceiros sexuais, um beijo assim é o equivalente a um filme pornô. — apreciei a animação dela, tão grande que a fez arrancar sem afivelar o cinto. — Eu juro que vi a loira número 2 cruzar as pernas.
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  — Qual delas era a loira número 2? — ela perguntou ao mesmo tempo em que procurava de onde vinha o bipe do sensor.
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  — E faz diferença? — avancei no gancho do motorista e puxei a fita na frente do corpo dela, travando-a.
  — Não faz! Eu me sinto tão bem! — ela pisou sem dó no acelerador.
  — Será que você pode se sentir bem dentro do limite de velocidade? — minha vista embaçou quando o ponteiro do velocímetro subiu.
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  — Eu te chamaria de estraga prazeres, mas depois disso, eu não consigo.
  — Teria sido a noite perfeita se não fosse o cozinheiro de sotaque atravessado. — disparei sem vontade.
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  — Chef. E você mesmo admitiu que ele tem talento.
  — Tem que ter talento pra fritar peixe?
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   soltou um “uau” mudo e formou um biquinho manchado soprando a queimadura.
  — Ele te chateou pra valer, não foi?
  — Nah. — bufei. — Só achei desnecessário ele mencionar o episódio da banheira. Pensei que tinha sido uma coisa nossa. — olhei pela janela e vi meu próprio reflexo espelhado no fumê. Se estivesse chovendo (e se a não fosse uma maníaca na direção), seria a cena perfeita de um clipe triste.
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  — Não sabia que isso era importante pra você. — ponderou após um instante. — Ter coisas que fossem só nossas.
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  — Eu também não sabia. — minha voz foi morrendo ao confessar.
  — Nesse caso, obrigada por me contar. Prometo levar isso em consideração daqui pra frente.
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  — Deixa eu adivinhar. — me voltei para ela. — Isso quer dizer que você está me deixando tentar?
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  — Não. — nossos olhares se cruzaram profundamente. — Isso quer dizer que eu também estou tentando.
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⚔️

  Abafei um grito no travesseiro. Tinha raiva da minha cabeça que não parava nem na hora de deitar, do meu corpo que não sabia descansar e reagia à inércia com uma dormência insuportável e da cama que não me deixava confortável em posição nenhuma. Dormir era complicado. Não deveria, era só fechar os olhos e ficar parado. Por que eu não conseguia? Não era uma habilidade que vinha instalada de fábrica em todo ser humano?
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  Deixando a indignação usual de lado, era preciso admitir que parte da agitação naquela noite em específico se devia a uma série de acontecimentos, com o espanhol pirateado cabeceando a lista e as palavras da no carro seguindo o primeiro colocado. Dizer abertamente que estava tentando era um progresso para alguém naturalmente cauteloso como ela. Tentar implicava se colocar em posição de vulnerabilidade, ficar suscetível ao erro, e não gostava de errar. Tentar tirava as rodinhas de treino da bicicleta, não oferecia garantia de retorno e exigia uma certa exposição.
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  Eu sabia bem. Eu tinha passado a vida inteira tentando. Eu estava tentando ser o orgulho do meu pai, eu estava tentando sustentar um império inteiro sem suar, eu estava tentando vencer a insônia e eu estava tentando transformar um casamento arranjado num final feliz, porque, afinal de contas, se a vida te der limões, você sabe, faça uma limonada e a porra toda.
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  Limonada metafórica à parte, eu nem sabia se podia chamar de “minha” a vida vivida em função dos outros, gasta para agradar terceiros e ser conveniente em todas as ocasiões. Talvez por isso eu quisesse tanto que aquele casamento desse certo: porque eu queria uma vida minha. Algo construído por mim. Limões espremidos com cubos de gelo, folhas de hortelã e uma camada de açúcar na borda do copo. É, era isso, uma vida minha, fresquinha, feita na hora. Ácida também, porque às vezes a vida tinha dessas, mas aí você faz uma careta, bebe tudo e descobre que, bem lá no fundo, o gosto é doce.
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  Porque é sua vida.
  E a minha estava misturada a de outra pessoa, uma pessoa que dormia do outro lado do corredor e tinha um beijo viciante, um gosto viciante, um cheiro viciante e outras várias qualidades que poderiam causar dependência química.
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  Eu seria capaz de numerar os atributos da minha esposa de mentirinha até amanhecer, mas duas batidas na porta interromperam minha divagação. A visita, que só podia ser dela àquela hora da madrugada, me pôs de pé num rompante, imaginando que as ostras nojentas tinham causado algum mal-estar ou, num cenário muito melhor, surtido o tal efeito afrodisíaco, no entanto, quando eu atropelei a mim mesmo para abrir a porta, o que eu vi foi uma saudável e não excitada vestida num baby doll do tamanho da minha sanidade.
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  — ? O que você está fazendo aqui?
  — A posição sexual mais perigosa de todas. — ela entrou sem esperar pelo convite. — Seja gentil, tá? Vai ser a minha primeira vez.
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  — Do que você tá falando?
  — Eu vou dormir de conchinha com você. — anunciou, puxando a ponta do cobertor e analisando o espaço disponível. — Você tem um lado de estimação?
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  Dei de ombros.
   se acomodou na cama, testou a fofura do travesseiro e não gostou do resultado, pegando mais um e juntando os dois atrás das costas, inclinando-se para ver se estavam do seu agrado. Remexeu-se ainda mais um pouco e eu segui com a mão congelada na maçaneta da porta, aguardando a ordem de deixá-la aberta ou fechada, conforme a preferência da nova inquilina (com jeito de proprietária) do cômodo.
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  — Me explica de novo que eu ainda não entendi. — optei, enfim, por fechar a porta.
  — Você ficou chateado com o e o lance da banheira, então eu vou te dar uma coisa que eu nunca fiz com ninguém.
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  Só deu tempo de colocar um joelho em cima da cama antes de paralisar outra vez.
  — Você nunca dormiu de conchinha?
  — Não. — ela afundou mais um pouco, achando um meio-termo entre sentar e deitar. — Eu guardei isso pra você. Vai ser a coisa só nossa que você queria.
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  Pular no colchão para expressar meu entusiasmo não era uma opção porque apresentou a ideia como se estivesse dizendo que “acabou o pão” ou qualquer outra frase sem importância, então eu somente torci o rosto na melhor feição de indiferença que pude. Contudo, bastou fazer a primeira menção de engatinhar até ela que a linguagem corporal a traiu, deixando evidente que o nervosismo que subia pela minha medula espinhal a atingia em algum ponto também, obrigando-a a amassar as barras do lençol. O cheiro suave do amaciante subiu, impregnando o ar de aconchego e acolhimento, e minha cama, cenário onde eu era derrotado noite após noite, de repente tornou-se o lugar mais atraente e calmo que já existiu. Mas como tudo que é novo assusta e todo aquele conforto era novo, eu não soube o que fazer com as mãos nem com os espasmos causados pela falta de camisa e pela presença inesperada, tomando a pior das decisões e me parando numa posição curva e ridícula no meio do colchão.
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  — Não precisa fazer isso, . — precisava sim. — Não é muito confortável dormir comigo. — durma comigo, por favor.
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  — Ah, é, eu estou muito desconfortável no momento. — ela bocejou, camuflando o nervosismo. — Você quer ser a de dentro ou a de fora?
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  A de dentro, sempre a de dentro.
  — Podemos alternar os turnos. — sorri fraco.
  — Ótimo. — virou-se, apontando meu lugar. — Então a gente começa comigo usando esse peitão de travesseiro porque eu não gostei desses aqui.
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  Me arrumei ao lado dela, que facilmente se arranjou sobre o meu tronco nu e me abraçou o peito depilado e liso. Agradecendo internamente por ter escolhido o dia certo para raspá-lo (um costume que desenvolvi porque ajudava na aerodinâmica dos exercícios e atendia a minha vaidade), concentrei a respiração toda no diafragma para evitar um soluço de ansiedade. Apesar de cada fibra do meu ser aplaudir o enlace e ter aprovado a textura que a loção aloe vera deixou na região, eu tinha receio de me mexer, de relar a mão no lugar errado e fazê-la sair dali ofendida e me odiando por ter maldado as suas intenções, as quais, a julgar pela mansidão com que ela se movia em cima de mim, eram totalmente sinceras. Como todas as atitudes dela, afinal. Fosse sentando em mim descontroladamente ou apenas procurando um afago, era 100% investida em tudo que fazia.
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  Eu pensava em cada mínimo aspecto com tanta força que faltava oxigênio para as sinapses e logo mais seria possível sentir o cheiro da fumaça saindo pelas minhas orelhas. Quando o pé da subiu pela minha canela e ela descansou o joelho na altura da minha coxa, eu não soube como reagir nem à manobra, nem àquela leve fricção de um perfil muito aveludado e quentinho procurando se encaixar entre, sem falsa modéstia, músculos rígidos que não estavam acostumados a receber afeto. Foi por isso que, mesmo que fosse quatro de julho com todos os fogos da cidade de dentro de mim, eu me limitei apenas a levantar os braços como um boneco de posto de gasolina e esperar que ela ficasse à vontade.
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  — Você pode me abraçar agora. — ela arrastou o queixo pela minha pele. — Ou é a sua primeira vez também?
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  — Eu só estou um pouco nervoso. — continuei praticamente imóvel.
  — Por quê?
   ergueu a cabeça para me olhar e a mão dela, sutilmente apoiada no meu peito, atritava o ouro da aliança contra o meu mamilo, causando um arrepio gostoso pelo contato com a área sensível. Puxei o ar bem devagar, carregado com o frio na barriga que antecedia uma confissão, e decidi que aquela atmosfera de intimidade era o momento propício para ser visceralmente honesto.
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  — Porque quando estamos a sós, fora da nossa farsa, meu instinto continua sendo te tocar ou te beijar, . Principalmente desde que a gente… — me pausei com a lembrança e com o susto de quase ter dito “fazer amor”. — Desde que a gente ficou junto. Mas não se preocupe, eu não vou encostar em voc-
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  Os lábios dela me surpreenderam, selando a minha boca inquieta e anulando todos os argumentos que eu tinha para reafirmar que eu não faria nada que ela não quisesse. Eu teria ficado boquiaberto se não estivesse tão ocupado retribuindo a investida que me deixou atônito e extasiado na mesma proporção — com uma margem tendenciosa para o êxtase. Acontece que só conseguia suavizar, no intervalo de um dia, a transição nada tênue de um sexo biológico para uma sessão fofa de conchinha. E ela fez isso sem esforço nenhum, com um beijo impulsivo, definitivo, que dizia que ela já estava tão farta daquele contrato quanto eu. Um beijo transbordando de vontade, que fez minhas mãos criarem vida própria, atrevendo-se a deslizar por dentro da camisa fina e acariciar a curva sinuosa da lombar, aproveitando a chance tão generosamente ofertada para apreciar o que havia escondido ali.
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  — Não me assusta mais desse jeito. — ela partiu o beijo de repente, recobrando a consciência.
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  — De que jeito? — demorei a aterrissar.
  — Dizendo que não vai encostar em mim.
  A seriedade com que ela me fitou marcou a primeira vez que eu vi qualquer vestígio de temor nos olhos de raposa que ela tinha, sempre afiados e seguros, e o aparente pânico que minha fala despertou nela baixou-lhe a pressão timidamente. Esfreguei as mãozinhas geladas dela, encostando a boca nas falanges trêmulas para transmitir algum calor nelas, e fechei os olhos, crendo que a escolha atenuaria o impacto do que eu tinha para dizer.
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  — Eu não sei bem como agir agora que quebramos as regras, . — tive palpitações por toda parte. — Em que termos nós estamos?
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  — Nos nossos. — decretou com firmeza e os olhos voltaram a ser duas lâminas.
  — Que seriam?
  — Você não precisa da minha permissão toda vez que encostar em mim, . — se debruçou ainda mais e colocou meu outro braço na cintura fina com convicção. — Se um dia eu não quiser mais o seu toque, você vai saber.
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  — E como eu vou saber se você quer?
  — Eu sempre quero. — sussurrou, presa no meu hálito, e me brindou com outro selar. — E como prova disso, eu vou deixar você me fazer cafuné até eu dormir.
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  — Foi você quem invadiu o meu quarto. — contornei as linhas do rosto dela com as pontas dos dígitos, como se uma trava tivesse sido removida do meu cérebro e eu estivesse autorizado a acessar todos os pedacinhos possíveis de O’Brien. — A missão de me fazer dormir é sua.
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  — Achei que você não conseguisse dormir de jeito nenhum.
  Sorri meu maior sorriso.
  — Eu consigo com você.
  A partir daí, começamos a nos aninhar um no outro, descobrindo nossos pontos de junção, testando posições e abraços, todos eles, de lado, “coalinha”, de urso, até chegar à conchinha perfeita: eu, envolvido pelos bracinhos curtos e uma perna pendurada nos meus quadris, e atrás de mim lutando para abarcar tudo, respirando morno e risonho na minha nuca e deixando no meu ouvido seus desaforos deliciosos, bem baixinho (“você é grande demais”, “nisso que dá viver de frango e batata-doce”, “por acaso você tá treinando pra virar um Cavaleiro do Zodíaco?”)
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  — É sério que você nunca fez isso? — quis saber depois que ela encerrou o “reclame aqui”.
  — Sim. — ela fungou atrás da minha orelha. — Estou me saindo bem como virgem de conchinha?
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  — É cedo pra dizer, eu vou precisar de mais provas.
  — Você tá tirando vantagem de mim, Arata? — ela mordeu meu lóbulo em repreensão.
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  — Nem se eu quisesse, você é muito selvagem. — fui até o céu com a mordida.
  A risada dela foi se esvaindo e se perdendo pelas paredes do quarto, dando lugar a um silêncio confortável que se instalou em sintonia com nosso fôlego ressonando mansinho, anúncio de uma noite bem-dormida. Mas eu não queria dormir, muito menos que a noite acabasse, eu queria desfrutar de tudo que eu pudesse daquela experiência inédita, finalmente, só nossa.
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  — O protocolo da conchinha dita que agora temos que trocar confidências. — joguei no ar, manhoso.
  — Eu topo. — concordou num tom desperto e relaxado ao mesmo tempo. — Me diz alguma coisa sobre você que ninguém sabe.
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  — Uma vez eu empurrei meu irmão da escada e coloquei a culpa no cachorro. — foi o maior segredo que meus neurônios embriagados de conseguiram apontar.
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  — Eu tô falando sério.
  — Eu também tô falando sério, eu nunca contei isso pra ninguém.
  — E eu nunca contei que mergulhei o aparelho do no aquário antes dele colocar na boca. — desenhava as veias nos meus braços enquanto falava. — Me dá os podres de verdade.
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  — Tá. Você quer artilharia pesada? — me virei dentro do abraço, deixando meu rosto abaixo do dela na esperança de ganhar mais beijos. — Então lá vai. Quando eu tinha 6 anos, eu roubei a peruca do meu tio e colei na cara pra fazer o papel de Moisés.
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  — O quê? — ela riu agudo.
  — Era uma peça de Natal na escola.
  — O que Moisés estava fazendo no Natal se no tempo dele Jesus nem tinha nascido?
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  — Eu sabia que tinha alguma coisa errada, o cristianismo não é muito popular no Japão.
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  — Mas as perucas eram? — mexeu nos meus brincos.
  — Ah, sim. Meu ojisan nunca aceitou a calvície.
  — Nem eu, não quero ficar casada com um careca. Se seu cabelo começar a cair, eu saio fora. Aliás, deixa eu ver essas entradas.
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   penteou meu cabelo para trás, vistoriando meu couro cabeludo e puxando os fios das laterais, conseguindo com isso não uma expressão de dor, mas um risinho fino de leveza que fez meu nariz franzir.
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  — Tudo em ordem por aqui. — foi o veredito dela.
  — Então eu mereço um beijo de boa noite?
   achou que sim. E o beijo veio. Demorado. Terno. Na testa.
  O beijo veio como uma confirmação da nossa afinidade, cumprindo todas as promessas e superando todas as expectativas. A fama em torno do gesto se justificou no ato, e eu finalmente entendi o encanto sobre ele. Havia um elemento doce, calmante, especial. Era como selar um pensamento, tranquilizar uma mente cansada, jurar proteção.
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  Eram mesmo subestimados, os beijos na testa.
  Ou então eles só eram bons assim porque vinham dela.
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   estendeu meu pedido, me beijando não só a testa, mas o rosto inteiro, espalhando vários beijinhos pela minha bochecha e queixo e terminando tudo com um beijo lento nos lábios. Suspirei, extasiado, a cara inteira ardendo de um jeito gostoso e o corpo tendo explosões involuntárias de dopamina, como se eu estivesse levando mil choquinhos ao mesmo tempo. O coração deu uma pirueta, uma cambalhota, um duplo-carpado e, por fim, se cansou e se rendeu, voltando a bater como deveria, embalado pelo carinho que fazia na minha tez. Uma tranquilidade temperava tudo, uma sensação de sono chegando e uma certeza de que eu dormiria bem.
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  Porque ela estava ali.
  — … — balbuciei, querendo reiniciar toda vez que ela resvalava o mindinho pelo espaço entre as minhas sobrancelhas. — Eu gosto do jeito que você dá boa noite.
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  Ela me apertou brando em resposta:
  — Então espera até você ver como eu dou bom dia…
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  Aquilo me adoçou a alma. Aquilo significava que, de manhã, ela ainda estaria aqui.
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Capítulo 9: Duas rodas

(POV: )

  Já fazia bastante tempo desde a última vez em que eu tinha acordado com um braço musculoso em volta da minha cintura. Na verdade, eu não lembrava da última vez.
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  O senso comum era pensar no sexo como o maior ato de intimidade de um casal, mas, para mim, havia várias outras coisas que atestavam cumplicidade e confiança entre duas pessoas e, portanto, eram mais difíceis de ter e de proporcionar. Dormir de conchinha era uma delas. Tomar um banho junto era outra. Era simplesmente surreal cogitar ter companhia em momentos de tanta exposição e vulnerabilidade, deitar ao lado de um cara e sentir segurança suficiente para ficar no estado inconsciente e indefeso de um sono profundo, ou conversar casualmente sobre o dia e a vida lá fora dividindo a mesma banheira… O fato era que Arata me deixava confortável nas duas situações e eu não sabia o que fazer com isso. A única coisa que eu sabia era que ele ficava muito, muito lindo quando dormia.
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  Apesar do histórico de insônia (ou talvez por causa dele), o sono dele era pesado, denso, ferrado mesmo. Era estranhamente satisfatório assistir. Dormir bem era tão inédito para ele como dormir junto era inédito pra mim e me dar conta disso ao observá-lo só tornou aquele repouso ainda mais precioso e intocável, porque eu sabia o quanto ele precisava, enfim, descansar. E ele tinha escolhido fazer isso do meu lado, com o nariz enfiado na minha nuca e uma mão que me puxava instintivamente para mais perto, como se ele quisesse conferir de tempos em tempos se eu ainda estava ali.
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  Para a minha surpresa, eu estava.
  Depois de abrir os olhos vagarosamente, não havia muito o que ver, até porque o que me envolvia naquela cama perpassava por outros sentidos além da visão. O cheiro de pairava por todo o lugar, o colchão era mais fundo no lado em que eu estava (prova de que ele tinha um lado de estimação e que tinha escolhido cedê-lo para mim) e a temperatura do ar-condicionado que ele regulou quando eu reclamei do frio aumentou o calor do corpo enorme, que cobria o meu de um jeito familiar e gostoso. Parecia saudade acumulada.
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  E foi a saudade dele que me manteve aquecida durante a noite.
  Nós finalmente podíamos nos tocar sem culpa, sem intermediários e sem o pretexto de estar na frente de outras pessoas. Só nós dois, cedendo às vontades que custamos a admitir, aproveitando os toques e descobrindo as sensações que a nossa pele tinha guardado uma para a outra. A novidade em torno da situação toda era semelhante à embriaguez, me deixava mole e febril, como se eu tivesse acabado de entornar vários shots de tequila sem nada no estômago, só as borboletas. Mas eu não tinha bebido nada além do , e não tinha provado nada além dos beijos que se repetiram até os dois adormecerem — coisa que eu realmente fiz, quem sabe até melhor do que ele. Não era a primeira vez que eu dormia com alguém, mas era a primeira vez que eu descansava, queeume permitia ser abraçada, ninada, e isso tornava tudo bem diferente. baixava a minha guarda com doçura, me desarmava com a sua sinceridade e a sua vontade incansável de fazer aquilo dar certo apesar das minhas resistências. A verdade era que ele tinha conquistado, pacientemente, cada pedacinho de mim que ele desfrutava agora, e ele merecia o prazer daquela intimidade que eu nunca dei a ninguém.
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  Do lado da cômoda, alguns livros empilhados disputavam minha pouca capacidade de leitura, que só serviu para identificar dois deles, um sobre MBA e outro em cujo título eu custei a acreditar: Conselhos Práticos Para Recém-Casados. Era doce e hilário na mesma medida, o que me dividiu entre abafar uma risada e deixar um beijo na mão morena que repousava no travesseiro. Acabei fazendo os dois ao mesmo tempo, cuidando para ser imperceptível e não acordá-lo, já que eu queria absorver mais daquele pequeno mundo particular que criamos. O Apple Watch dele mostrava que ainda eram 8 da manhã e um ícone piscava, sinalizando os quilômetros da última corrida e quantas vezes o coração dele bateu por minuto.
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  Eu me perguntei sem querer se alguma delas foi por mim.
  Guardei o pensamento e voltei minha atenção para as pálpebras imensas que não deram sinal algum de despertamento mesmo depois que eu me mexi, virando dentro do abraço alheio para ficar de frente para o rosto relaxado, admirando os traços suaves e marcantes ali. O cabelo escuro escorria pelo travesseiro, um pouco bagunçado, mas numa aura imperturbada que fazia tudo nele ficar ainda mais bonito. O som da respiração dele era o único que atravessava o quarto ainda escuro graças ao blackout nas cortinas, e ele puxava o ar mais fundo algumas vezes, completamente calmo e sereno, talvez até sonhando, eu arriscaria dizer. Ele não estava roncando, mas era alto o bastante para ouvir. Era bom. Eu gostava.
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   ressonou por mais alguns instantes e inclinou a cabeça num movimento sutil de quem estava acordando, testando o próprio corpo para decidir se iria acordar de uma vez ou se deixar vencer pelos famosos cinco minutinhos. Os cílios preguiçosos apertaram-se e meu reflexo foi fingir que estava dormindo para não ser pega em flagrante namorando todas as nuances do meu marido adormecido.
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  Senti um toque leve afastar meu cabelo dos ombros e contornar meu perfil. Me movi minimamente em resposta, ronronando baixinho. fez uma manobra mais ousada, desenhando as minhas costas expostas e conseguindo um pequeno espasmo e um arrepio involuntário com isso. Fiquei indecisa entre bancar a irritada por ele ter interrompido meu sono falso ou confessar que eu estava gostando do carinho, então meu cérebro dorminhoco resolveu solucionar o impasse com uma provocação que saiu rouca, no momento em que ele beijou meus ombros descobertos pelo lençol.
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  — Que horas você tirou minha blusa, Arata?
  — Hora nenhuma. — os lábios dele continuaram marcando minha pele nua. — Mas que bom que eu acordei pra ver.
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  — Do que você tá falando?
  — Você tira a roupa enquanto dorme. Não sabia? — ele riu baixinho e quente no meu ouvido. — Acabou de entrar no top 3 das minhas coisas favoritas sobre você.
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  — Você tem três coisas favoritas sobre mim?
   murmurou uma confirmação no meio dos beijos que ele seguia espalhando.
  — Pode me contar uma delas?
  — Pode dormir comigo outra vez? — ele rebateu com a voz amanhecida.
  — Esperto. — dei dois tapinhas no braço dele e me espreguicei em seguida, fazendo o lençol descer e revelar meus seios. — Muito conveniente pra você dormir com uma mulher que começa a se despir no meio da noite. Isso é, se fui mesmo eu e não você.
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  — Ah, foi você sim. Quebramos o contrato, mas eu continuo te respeitando.
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  — Então isso aí no meio das suas pernas é respeito? — denunciei que conseguia senti-lo na minha coxa.
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  — Eu disse que te respeito, não que eu estou morto. — arrumou a confusão dos nossos corpos, ameaçando puxar o resto do lençol. — Aliás, você se importa se eu der mais uma olhada? Preciso de alguma coisa para pensar no banho.
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  Ri sem vontade, arqueando o pescoço na esperança de que ele entendesse que eu queria ser beijada ali.
  — Você realmente toma banho pensando em mulher pelada?
  — Eu faço tudo pensando em uma mulher pelada. — ele atendeu meu pedido implícito e encontrou a curva do meu pescoço.
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  — Que romântico. Quando eu estiver na sua cabeça, coloca uma roupa em mim, por favor.
  — Receio que isso não vá ser possível. — ganhei o primeiro selar do dia. — Eu tenho a imagem de você nua tatuada no meu cérebro e posso vê-la quando eu quiser. Tudo que eu preciso fazer é me concentrar e… — fechou os olhos e assobiou. — Uou, lá está você!
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  — !
  — Você não pode me impedir de fantasiar com você, . É meu direito como marido.
  — E onde isso está escrito? — apertei o rostinho amassado. — Naquele livro sobre casamento que você tá lendo?
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   rapidamente levantou a vista num misto de desespero e frustração, voltando a se enterrar no meu peito logo na sequência.
  — Não era pra você ter visto isso…
  — Eu achei adorável.
  — Mesmo?
  — Sim. — comecei um cafuné que fez ele fechar os olhos outra vez. — Você é uma gracinha quando quer.
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  — Que bom que o livro está funcionando. — ele beijou minha clavícula, aproveitando a liberdade dos nossos novos termos. — Eu só quero que a gente dê certo.
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  Ele realmente queria, eu conseguia ver o fogo nos orbes inchados dele. Eu só não tinha entendido ainda o motivo. Se fosse pela simples fusão das empresas, não precisaria ter feito metade das coisas que ele fez vivendo comigo, era só se trancar no quarto dele e, quando ninguém estivesse nos observando, fazer de conta que eu não existia. Por que ele insistia tanto em nós? Era o desafio? Um capricho? Era… eu?
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  — Por que você faz tudo isso? — disparei, chamando o olhar dele de volta ao meu.
  — Tudo o quê?
  — Tudo o que você fez até agora. — mantive o rosto dele nas minhas mãos, tentando enxergar através dele. — Você aceitou todas as mudanças que eu fiz na sua casa, você acatou minhas decisões na empresa, você teve todo o cuidado de não estragar o que era especial pra mim, você me levou no meu lugar favorito no mundo, você me defendeu das loiras enjoadas no restaurante e você… — precisei parar para respirar. — Você não saiu correndo quando eu te contei que não posso ter filhos. — suspirei e ele me olhou confuso, como se não tivesse feito nada demais. — Por que você investe tanto em mim, ?
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  O lábio inferior dele tremeu com a pergunta e eu ganhei um beijo na boca, o mesmo lugar em que ele me entregou a resposta.
  — Porque você é a primeira coisa que eu sinto em anos, O’Brien Arata.
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  Eu quis retribuir, dizer que ele também agia em mim feito a dopamina num organismo cansado, mas as palavras fugiram da minha mente atormentada pelo remorso. estava completamente imerso naquela relação, lendo livros, apoiando minhas decisões, fazendo de um tudo para me deixar confortável. Tentando. E o que eu tinha feito por ele? Nada. Eu tinha uma rota de fuga secreta, uma saída quase covarde que eu adotei antes mesmo de saber se eu precisaria dela. O plano do divórcio em um ano deveria estar em andamento no exato momento em que me beijava e abria o coração dele para mim e pensar naquilo colocava um gosto ferroso na minha boca. De todas as coisas que eu antecipei no nosso casamento, de todas as medidas preventivas que eu tomei, de todos os cenários que eu imaginei para me proteger, a única variável com a qual eu não contava era que fosse lutar por nós.
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  E foi bem ali, na nossa primeira manhã juntos, que eu decidi que eu também lutaria.
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👰🏻‍♀️

  Chequei o celular pela milésima vez. Receber uma mensagem não me deixava tão ansiosa desde que Laura tinha ficado de me confirmar a compra dos ingressos para o cruzeiro dos Backstreet Boys. Agora era o namorado dela quem estava me causando aflição: fazia aproximadamente 20 minutos que eu tinha mandado mensagem para o , meu advogado, dizendo que precisávamos conversar. Obviamente, ele não tinha respondido ainda e nem responderia tão cedo, uma vez que ele estava nas suas férias anuais na Coreia, mas isso não me impediu de ficar desbloqueando a tela freneticamente como se eu não tivesse mais nada para fazer.
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  Acontece que eu tinha o que fazer, e muito, por isso virei o celular para baixo, procurando me convencer de que não era a minha urgência que aceleraria alguma coisa no universo e dando seguimento às minhas tarefas do dia. Tirando meu estado de agonia interna, parecia mais uma segunda-feira de trabalho comum na O’Brien Group, até surgir na minha sala com o meu café numa mão e um senhor engravatado do lado.
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  — , podemos entrar?
  Assenti, reprimindo um sorriso ladino e vaidoso por ver meu marido (e também diretor da empresa) cumprindo sua atribuição extraoficial de trazer meu mocha quentinho da cafeteria do outro lado da rua.
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  — Esse é o senhor Davis. — apresentou e eu reconheci o nome. — Ele marcou uma reunião de urgência conosco. está a caminho.
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  — Senhor Davis. — estendi a mão e indiquei um lugar para ele. — O auditor fiscal da investigação sobre o tio Morgan, certo? Eu não esperava recebê-lo hoje.
  — Peço desculpas pela falta de aviso, senhora Arata. — Davis sentou-se e trocou um olhar rápido comigo, brilhando por causa do “senhora Arata”. — Mas eu fiz avanços nas análises dos dados que dispensam quaisquer protocolos. Eu precisava avisá-los sobre o que está acontecendo.
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  Não havia suspeitas de que havia algo muito errado com a contabilidade da O’Brien Group, no entanto, o tom de gravidade que a voz e o semblante de Davis assumiram eram mais preocupantes que o esperado, o que fez engolir em seco, um tanto incerto de seu lugar ali. Querendo ou não, aquela também era uma questão familiar, pois se referia a alguém que frequentava nossa casa, participava da ceia de Natal e de alguns almoços de domingo, e não meramente um funcionário ou acionista. Embora Morgan não fosse um parente sanguíneo, ainda havia uma certa consideração e apreço por ele, sentimentos que mantivemos apenas por conta da memória da tia Agnes, que infelizmente não teve a sorte de um marido digno. Ao que tudo indicava, Morgan era o pivô da falência da qual e a Three Swords estavam nos salvando, e o conteúdo daquela reunião mudaria o destino dele e do nosso arranjo familiar de um modo irreversível.
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  — Perdi alguma coisa? — apareceu pouco tempo depois, juntando-se a nós ao redor da minha mesa.
  — Eu vou direto ao ponto. — Davis cruzou as mãos firmes sobre o tampo de vidro enquanto sentava-se. — Eu encontrei diversas irregularidades nos registros. Os números foram manipulados através da emissão de notas frias. Foram anos e anos de sangramento, e ele partiu daqui de dentro.
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  Um silêncio tenso rapidamente tomou conta da sala, cortado por uma única palavra que soltou entre dentes.
  — Morgan. — meu irmão me olhou, buscando a confirmação. — Por isso ele não queria que você colocasse as mãos nos livros, . Ele estava…
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  — Desviando os fundos da empresa. Isso explica a falência iminente. — completei e dei um gole no café, que a situação toda fez descer amargo e frio.
  — Por que ele faria isso? — franziu o cenho. — Morgan tem participação direta nos lucros. Se nós afundarmos, ele afunda junto.
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  — Infelizmente, não. — Davis prosseguiu, visivelmente apreensivo, e apertou minha mão por baixo da mesa. — O dinheiro foi lavado e aplicado numa conta em nome dele no exterior, sob a fachada de uma empresa fantasma. É o clássico paraíso fiscal.
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  — Uma empresa fantasma?
  — Ele fundou uma “companhia”. — Davis sinalizou as aspas com os dedos. — Vários depósitos foram feitos em benefício de uma empresa chamada Morgan Enterprises, todos com o dinheiro que ele vem rouband- — houve uma pausa para ponderação e Davis reconsiderou a escolha do termo. — Desviando de vocês.
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  — Não vamos trocar miúdos, Davis. — balançou a cabeça. — Podemos enfeitar, mas isso não muda os fatos. Tio Morgan esteve nos roubando esse tempo todo.
  — Nada que a gente já não suspeitasse. — respirei fundo. — Ainda assim, é difícil de acreditar. — procurei por sem perceber, carente da confiança que ele me passava. — O que ele pretendia? Quebrar a O’Brien Group? E depois?
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  — Depois a empresa dele compraria a de vocês, transformando Morgan no único e legítimo dono. — Davis explicou, recostando-se na cadeira e apontando para num gesto incompleto. — Ele só não esperava que…
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  — Que eu fosse fazer isso primeiro. — concluiu, ainda sem me soltar e agora alisando as falanges dos meus dedos. — A Three Swords absolveu a O’Brien, meu investimento arruinou os planos dele.
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  — Bom, a fusão nos ganhou bastante tempo para fazer a investigação e ter provas suficientes para denunciá-lo. — Davis torceu os lábios no que parecia ser um sorriso de agradecimento. — Se a diretoria for unânime, como eu acredito que será, o Morgan vai parar na cadeia.
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  — Acha que o papai vai concordar com isso, ? — coçou a testa. — Eles sempre tiveram suas diferenças, mas o Morgan ainda é o viúvo da irmã dele. Ele ainda é…
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  — Família?
  A palavra nos atingiu como um soco e fomos nocauteados pela realidade. O ar irrespirável congelou nossas feições e a sensação de traição parecia ter se materializado bem diante de nós, cortante e dolorida. Por mais que a nossa relação com Morgan não fosse calorosa, por mais que não tivéssemos lembranças divertidas da infância e por mais que os atritos com o tio bêbado falassem mais alto que o parentesco, era difícil assimilar que, entre nós, na nossa família, havia um criminoso.
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  Soltei a mão de para cobrir o rosto, totalmente vexada. A vergonha não era uma emoção que eu costumava manifestar, e senti-la me acertar tão cruelmente naquele momento era ter que lidar com o peso de um fracasso coletivo. Todos nós erramos. Todos nós confiamos na pessoa errada. E todos nós estávamos, agora, em débito com os Arata por terem desarmado a bomba-relógio que estava bem debaixo do nosso nariz.
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  — … — envolveu as minhas costas rígidas, passando as mãos por elas em movimentos circulares. — Não se preocupe. Nós vamos resolver isso.
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  — Nós… — repeti baixinho. — Você continua achando que meus problemas são nossos.
  — E são. Eu não casei com você só pelo seu lindo corpinho. — ele cerrou os olhos, indiferente à conversa paralela que engatou com Davis. — Falando nisso, lá vem você outra vez. Olá, nua.
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  — Não me faz rir agora, eu acabei de descobrir que meu tio é um ladrão. — fiz uma expressão confusa, meio sorriso e meio choro entalado.
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  — Ei. — me levantou pelo queixo. — A que eu conheço vai saber exatamente o que fazer. Qualquer que seja a sua decisão, eu vou te apoiar. Você sabe.
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  Eu sabia. Eu sabia tanto que eu poderia beijá-lo ali mesmo, porém a presença do meu irmão mais velho superprotetor e de um auditor fiscal matava o clima, que, a propósito, não era nada agradável. Uma avalanche de novos medos desbloqueados começou a desabar na minha mente, sendo o maior deles ter que contar aos meus pais que muito em breve os almoços de domingo com o tio Morgan teriam que ser transferidos para uma penitenciária.
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  Dei outro gole no pior café da minha vida. O simples cogitar dessa punição soava como um exagero e eu tinha certeza de que meu pai, apesar de tudo, cuidaria para que a pena dele fosse domiciliar e reduzida, afinal de contas, ele era um viúvo atormentado pelo luto. Não seria essa uma ocasião que pedia um pouco de misericórdia? Quem poderia saber o que se passava dentro de alguém que perdeu uma parte de si? Cada um respondia de uma maneira diferente à dor e eu estava tentando o meu melhor para acreditar que a ganância que cegou Morgan era um desdobramento do sofrimento pelo qual ele havia passado, de modo que eu já estava achando tudo quase compreensível. Era “normal” se perder depois de ter perdido a esposa. Se eu perdesse o , eu também ficaria sem rumo.
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  Solucei. Constatar isso naquele momento foi completamente inesperado.
  Mas não deixava de ser verdade.
  Conforme eu encarava o homem ao meu lado, a conclusão a que cheguei foi ganhando força e se transformando em uma certeza imutável. Quis pensar que a ideia de perder o era tão perturbadora porque eu estava apenas acostumada com ele, mas o que era o casamento se não acostumar-se ao outro? Incorporar alguém na sua rotina, esperar por ele na hora das refeições, lembrar de não adoçar o suco porque ele cortou o açúcar da dieta e achar isso um diagnóstico de loucura, mas, ainda assim, respeitar essa vontade? Eu estava, sim, acostumada ao , ao som dos passos pesados dele perambulando pela casa, à luz que ele acendia na sala quando não conseguia dormir, à janela do meu quarto que só ele sabia como desemperrar, às piadinhas infames, aos brincos de pino balançando e roçando pelo meu pescoço quando ele me beijava… Eu estava acostumada a tê-lo na minha vida e aquilo representava a maior prova de que eu tinha me apaixonado por ele.
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  Eu queria ter notado em outro lugar, mas foi ali que eu notei.
  Eu me apaixonei pelo meu marido.
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  — , você não me insulta há uns dois minutos e eu estou ficando preocupado. — me acordou da minha epifania.
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  — Foram muitas revelações em pouquíssimo tempo. — confessei, mais assustada com a minha descoberta do que com a prisão em potencial de um membro da família. Um calor intenso misturado a um suor frio começou a irradiar atrás do meu pescoço e meu cabelo solto incomodou. — Pode pegar minha bolsa, por favor?
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  — Por favor? — repetiu, dirigindo-se imediatamente até o sofá mais ao canto da sala, onde a bolsa estava. — Você não está bem mesmo.
  — Eu sempre sou educada com você. — protestei, recebendo a bolsa da mão dele. — Aliás, muito obrigada. — abri o zíper e comecei a vasculhar os milhares de cacarecos ali sem achar o único de que eu precisava. — Droga. Por que eu nunca lembro de pegar uma liga de cabelo?
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  — Você quer uma água? — ele me observou improvisando um coque com uma caneta e me abanando em seguida. — Eu até espero você mandar eu fazer isso, já que você gosta tanto de dar ordens.
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  O jeito como ele sorriu me fez derreter e apagou todas as luzes de alerta que costumavam piscar sempre que o assunto era relacionamento e o risco de me envolver. No meio daquele terremoto e de tantas notícias ruins, foi capaz de me tranquilizar, de cuidar de mim, e todas as pequenas e grandes coisas que ele fez por nós vieram à tona varrendo qualquer vestígio de dúvida quanto àquele casamento arranjado. Ele era bom demais para ser real, e esse sentimento de ter acertado todos os números da loteria me fez agarrá-lo pelos ombros e sacudi-lo.
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  — De onde foi que você saiu, hein? — perguntei incrédula, ficando as unhas nos braços marcados pela camisa social e ganhando dele uma cara de confusão.
  — Fukuoka, no Japão. — foi a resposta estúpida e, droga, eu queria muito rir dela. — A propósito: ai! — ele reclamou com atraso.
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  — Eu tô falando sério. — prendi o lábio inferior com os dentes como se aquilo pudesse me frear, mas foi inútil. — , eu acabei de perceber que-
  — Longe de mim atrapalhar os pombinhos… — limpou a garganta e nos arrancou da nossa bolha. — Mas temos medidas importantes para discutir aqui e vocês estão deixando o senhor Davis constrangido.
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  — Só porque eu estou velho e passado não quer dizer que eu não entenda as paixões de dois jovens recém-casados. — Davis deu um tapinha em em reprovação, voltando-se para mim e em seguida. — Aliás, depois que tudo isso acabar, eu recomendo fortemente uma segunda lua de mel. Só lembro de ter visto vocês em jantares corporativos e isso não é nada bom. Confiem em mim, é preciso manter a chama acesa.
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  O conselho de Davis fez minha alma retornar ao corpo e me dar conta de que uma reunião extraordinária na minha sala não era a hora nem o lugar certo para finalmente admitir que eu gostava do cara com quem eu tinha me casado. Me obriguei a me acalmar, concentrando as forças em traçar um plano prático para neutralizar a ação parasitária do Morgan, mas as palavras “segunda lua de mel” corriam como veneno pelas minhas artérias.
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  As questões que se levantaram a partir daí fizeram faíscas acenderem nos meus neurônios descontrolados. Eu não conseguia tirar a vista de , deixar de reparar na manga da camisa sendo dobrada e nas mãos se movendo enquanto ele esboçava soluções e apontava caminhos. concordava com todos, balançando a cabeça e sorrindo pra mim como se entendesse o que eu estava sentindo e aprovasse a minha condição de encantamento por ninguém menos que Arata. Quando Davis capturou a completa atenção do meu marido, aproveitou para se aproximar de mim, jogando o peso do corpo dele contra o meu lateralmente e me empurrando de um modo inofensivo.
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  — E você não queria se casar com ele.
  — Quê?
  — Não se faz de burra que não combina com você. — meu irmão provocou. — Quando o souber que você desistiu do divórcio porque se apaixonou pelo , ele vai chorar de emoção.
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  — Quem te disse que eu estou apaixonada pelo ? — meu estômago gelou. Ainda era muito recente e muito surreal para verbalizar.
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  — Você e os suspiros que você dá toda vez que ele faz alguma coisa.
   bagunçou meu cabelo e eu acertei um peteleco na testa dele. Mesmo quando estávamos em ambiente de trabalho, ele não abandonava o posto de irmão implicante e por um instante eu achei que ele fosse me chantagear em troca do seu silêncio, como fazíamos quando éramos crianças. A nossa relação era o perfeito equilíbrio entre “eu poderia te matar agora mesmo” e “que bom que você me compreende”, e foi um verdadeiro alívio saber que meu segredo estava a salvo com alguém que eu amava tanto. Lá no fundo, era a pessoa que mais desejava o sucesso daquele casamento, não por causa do futuro da empresa, mas por causa do meu futuro. A verdade era que eu podia ter me protegido com o plano do divórcio e com as cláusulas do contrato, mas a minha maior rede de segurança sempre foi o cabeçudo do meu irmão.
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  — Tá feliz agora? Você tinha razão. — bufei.
  — Claro que eu tinha, eu sei mais das coisas do que você. — ele desarrumou meu cabelo outra vez.
  — Ok, vovô. Nossa diferença de dez anos te deixou muito mais sábio. — coloquei os fios de volta no lugar.
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  — É a função do irmão mais velho. Eu vou na frente e aprendo sobre a vida para que a minha caçula teimosa não se ferre tanto. Se pelo menos ela me ouvisse…
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  — Se pelo menos você não fosse tão chato…
  A defesa que engatou entrou por um ouvido e saiu pelo outro, pois na mesma hora em que ele começou a tagarelar sobre a sua superioridade e experiência, minha visão periférica captou uma breve manobra ao fundo da sala: o senhor Davis entregando um envelope selado ao . Dei pouca importância ao acontecido, certa de que se tratavam de provas a serem analisadas, coisa que faríamos mais tarde, e Davis começou as despedidas como se estivesse recolhendo os espólios de uma guerra. Uma guerra que estava apenas começando.
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  — Já que estamos todos na mesma página, fico no aguardo da próxima reunião assim que Arthur e Donna voltarem de viagem. — Davis foi apertando as mãos.
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  — Obrigada, senhor Davis. — agradeci quando chegou minha vez. — Nós o manteremos informado.
   e sua gentileza inquebrável acompanharam o auditor até a saída, prolongando a conversa num volume baixo demais para ser entendido de onde eu estava. Ao dispensá-lo, fechou a porta atrás de si e escorou-se nela, assimilando os eventos daquele encontro antes de se voltar para mim e , que alternava o olhar entre nós dois.
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  — Agora que estamos a sós… — meu irmão fez uma careta. — Quanto ao que o senhor Davis disse, sobre uma segunda lua de mel…
  — Ah, não. — pressionei o estômago, notando que o rosto de estava levemente desbotado. — Não me diga que você quer ter “a conversa” com a gente, .
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  — Você é minha irmã, por isso e pelo bem da minha sanidade mental, eu resolvi acreditar que você e o estão apenas assistindo televisão juntos. — ele agitou a cabeça em repreensão. — O fato é que o senhor Davis levantou um ponto sobre o qual eu queria falar com vocês há um tempo.
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  — Onde você quer chegar com esse papo, cunhadinho? — instigou, ainda sem muita cor.
  — Davis não é o único que está estranhando ver vocês apenas em compromissos formais. Os acionistas estão começando a suspeitar que foi um arranjo. — baixou a voz. — Vocês precisam ser mais vistos como casal casado, e não como casal empresário, entendem?
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  Eu e dividimos o mesmo suspiro seguido de um “oh” que despertou nossa memória. Exceto pelo noivado na Grécia, todos os nossos encontros, inclusive no restaurante do , tinham acontecido em virtude de um negócio fechado ou de um convite oficial que precisávamos atender. Redes sociais eram um bicho de sete cabeças tanto para mim quanto para ele, de modo que a única evidência de que éramos um “casal casado” eram os teatros que fazíamos em ocasiões específicas da agenda empresarial. Ninguém nos via fora dela, fazendo aqueles programas de filmes melosos baseados em fanfics, e era de se esperar que nossa discrição causasse desconfiança.
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  — Ele tem razão, . — cruzou os braços. — As pessoas nem imaginam que entre quatro paredes você não me dá sossego.
   tossiu em pânico.
  — O que sugere que façamos? — contornei a piada naturalmente. Eu estava mesmo acostumada ao .
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  — Mais programas públicos sem fins lucrativos, por assim dizer. — meu irmão propôs. — Que tal um hobby?
  — Podemos nos exercitar juntos. — foi a primeira opção do meu marido viciado em dopamina.
  — Talvez, mas a academia é um lugar privado. Precisamos de uma atividade em que vocês possam ser fotografados e virar notícia. Qualquer nota que sair numa coluna social já vai acalmar os ânimos e abafar esse burburinho.
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  — E se a gente andar de bicicleta? — deu de ombros. — É público, é romântico…
  — Seria perfeito. Mas a
  — Parece ótimo, vamos sim. — cortei, fuzilando meu irmão, que felizmente entendeu e se encolheu sem mais interrupções. , entretanto, estranhou a minha reação e eu me apressei para contorná-la. — ficou preocupado porque sabe que eu não gosto muito de andar de bicicleta, é só isso.
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  — Você não gosta? Acabou de ficar melhor ainda. — piscou e eu recorri ao velho hábito de revirar os olhos.
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👰🏻‍♀️

  Fiquei extremamente feliz quando vi que haviam banquinhos no High Line Park, o jardim suspenso escolhido por para a nossa aparição pública não oficial. Preguiçosa e relutante com a ideia de exercício físico, coisa que deixava meu marido nas nuvens, resolvi me sentar e aproveitar alguns minutos de paz enquanto ele buscava as bicicletas no carro, retirando-as da parafernália instalada no teto do SUV que ele não me deixou dirigir.
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  Eu não era uma pessoa muito diurna (especialmente levando-se em consideração que “diurno”, para , significava seis da manhã) e sempre acreditei que levantar assim que amanhecia só era bonito em livros de poesia, no entanto, o ar fresco da primeira brisa do dia era quase medicinal de tão bom, fato que eu constatei com certa raiva, porque significava que estava certo em gostar de acordar naquele horário. A última vez em que eu estive de pé tão cedo havia sido num dos muitos rompantes de meia-idade que meu pai atravessou, quando ele decidiu que seria uma boa ideia começar a pescar no lago da nossa casa de veraneio em Vermont e passou a nos levar até lá todos os finais de semana antes que eu e ficássemos velhos demais para isso.
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  O engraçado era que, apesar do mau humor por acordar de madrugada, a desculpa dele para nos reunir tinha funcionado e eu me lembrava com carinho dessas viagens. Vermont não ficava muito longe, mas já era aventura o bastante ficar espremida num carro com o excesso de bagagem da minha mãe, superpreparada para toda e qualquer situação, até mesmo as hipotéticas; meu irmão adolescente, ocupado em demonstrar sua rebeldia sem causa; e meu pai, cantando músicas e brincando de rimar para nos entreter das cinco horas e meia de trajeto para uma casa onde, como costumava dizer, “nós veríamos as mesmas pessoas que víamos sempre num espaço ainda menor”. Meu pai apenas ria e me olhava pelo retrovisor, declarando sem palavras o óbvio: só nós dois queríamos mesmo ir.
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  Claro que eu queria ir! Quer dizer, não era como se me faltasse afeto cotidiano nem como se meus pais me ignorassem durante os dias normais em Nova York, mas mudar o ambiente era praticamente nos forçar a ficar ainda mais na nossa própria companhia, fazer tudo sem a ajuda de empregados, dividir o mesmo cobertor grande, ver a mesma TV, sem mencionar o espetáculo cômico que era presenciar minha mãe tentando tratar o peixe esquisito que meu pai levou horas para capturar, fazendo cara de quem ia vomitar a qualquer momento. A risada cúmplice que eu trocava com meu irmão ao assisti-la se esforçar para transformar a gelatina aquática em um jantar decente ecoava na minha cabeça toda vez que eu acessava essas memórias.
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  As refeições não terminavam numa visita ao hospital porque o intelecto feminino supera o masculino desde que o mundo é mundo e minha mãe, um passo à frente do marido em tudo, escondia no freezer da casa peixes e outros mariscos frescos que pudessem substituir, sem que meu pai soubesse, qualquer que fosse a criatura duvidosa de água doce que ele achava ter pescado. Se o velho Arthur e eu dividíamos o “só nós queremos ir”, eu e a sábia Donna dividíamos o “deixa ele achar que é mais inteligente do que nós”, enquanto ouvíamos com as feições mais cínicas do mundo a façanha que ele inventava para descrever sua vitória sobre o tal peixe. Depois de escapar de uma infecção intestinal, íamos para a varanda colocar os pés na grama, e até mesmo saía do seu personagem revoltadinho quando meu pai pegava a bola do armário e anunciava que era a hora do futebol. O dia se fazia entre passes, faltas acusadas, risos e o som da corrente das bicicletas no último passeio da tarde antes de ir para a cama.
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  Lembrar da bicicleta me causou um frio na barriga e me fez ficar levemente tensa com o programa público que e eu estávamos prestes a fazer. Primeiro porque, após a nossa quebra de contrato, era estranho fazer algo “fingido”. Segundo porque, se não havia mais contrato, significava que aquele era o nosso primeiro encontro de verdade. E terceiro e mais importante, porque…
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  — Pronta? — apareceu na entrada do parque, onde eu o esperava, carregando as duas bicicletas tão facilmente como carregar duas maçãs.
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  — Eu tenho escolha?
  — Sua empolgação é contagiante, docinho. — ele pôs as bicicletas no chão, apoiando-as no banco, e removeu um dos capacetes do compartimento, prontificando-se a colocá-lo em mim.
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  — Eu deveria ter prendido o cabelo… — lamentei, deixando arrumá-lo para trás. — Mas eu nunca lembro de trazer uma liga.
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   ergueu o pulso na minha frente, mostrando um elástico preto ao redor dele, acima do relógio.
  É, tinha isso também. Além de lindo, inteligente e de ter um corpo escultural, não perdia um detalhe sequer.
  — Eu lembrei pra você. — ele desprendeu a liga do punho e me virou delicadamente, encarregando-se ele mesmo de amarrar meu cabelo num rabo de cavalo baixo. — Peguei porque sabia que você estaria ocupada demais pensando em mim. — sussurrou no meu ouvido antes de me virar de volta e ajustar a alça do capacete embaixo do meu queixo, deslizando pelo meu rosto tão suavemente que parecia uma troca de carinho. — Depois você me conta se o da sua cabeça anda vestido ou não.
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  Inferno. Agora que eu gostava dele, o gesto fofo falou mais alto que a gracinha.
  — Não testa o meu humor, você me fez acordar junto com o sol. — ameacei. — O paparazzi que contratou espera fotos românticas, não vai ficar legal se eu te bater ou coisa parecida.
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  — Ah, é. — olhou para baixo. — Eu tinha esquecido que era por isso que estamos aqui.
  A expressão e a postura dele desanimaram terrivelmente quando eu falei no paparazzi e só então eu ouvi como ele deveria ter ouvido. Minha falta de tato era ainda mais latente pela manhã e, sem querer, eu fiz estar com ele soar como uma obrigação. Em minha defesa, querer estar com também era uma novidade surpreendente dentro de mim, contudo, eu estava disposta a fazê-lo entender aquilo que, aos poucos, eu também estava aprendendo.
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  — Eu vou te mostrar porque estamos aqui.
  Puxei o rosto dele na direção do meu, apoiando ambas as mãos na nuca tensionada, que logo relaxou ao contato com meus dedos entrelaçados nos cabelos úmidos ali. Inclinei a cabeça levemente para evitar que o capacete machucasse a testa dele, e lhe plantei um beijo demorado nos lábios mornos e prontos para mim. percorreu a sua rota favorita pelas minhas costas até os meus quadris, estreitando nosso abraço, e a língua dele disputou dominância com a minha, fazendo uma ideia absurda de transar no carro mesmo piscar como um letreiro luminoso na minha mente inebriada dele. Ele não me beijava com o tédio conjugal, nem como se fosse a primeira vez, muito menos a última. Ele me beijava como se fosse a sua única chance, a oportunidade de uma vida, com uma sede que eu não sabia explicar, mas que eu sabia — graças a Deus, eu sabia — como saciar.
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  — Esse beijo não foi pelo fotógrafo, nem pela empresa, nem mesmo por você. Foi por mim. — ofeguei. — Eu te beijo por vontade, . Eu te beijo porque eu quero. Lembra disso, tá?
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  — Teria sido muito mais romântico se você não estivesse parecendo um playmobil com esse capacete. — ele riu e eu, ultrajada, quis sair dos seus braços, sendo facilmente vencida e mantida na minha “prisão”. — Mas eu vou lembrar mesmo assim. — ele me selou.
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  — Me larga. — pedi sem vontade. — Toda vez que eu sou legal com você, você faz uma palhaçadinha e eu me arrependo.
  — Você prefere um marido ranzinza que não te faz rir quando você quer ficar zangada? — ele esfregou o nariz na covinha do meu rosto, a evidência do riso que ele pontuou. — Eu já sei ler você todinha, senhora Arata. E eu adoro quando eu te ganho.
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  — Vamos acabar logo com isso? — ralhei, impaciente com a rapidez com que ele me quebrava. — Eu não aguento mais olhar pra sua cara.
  — Então você deveria sentar nela. — me deu outro selar antes que eu pudesse responder, abafando nossas risadas.
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  — ! — olhei em volta, o parque começando a encher. — Se alguém escutar isso?
  — O máximo que pode acontecer é ficarem com inveja de nós. — ele apanhou a bicicleta, estudando a área. — Olha só, não tem subidas muito íngremes, mas a gente vai devagarinho, certo? Eu vou pedalar do seu lado, então se você quiser parar, você me avisa.
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   subiu na bicicleta e eu não esbocei reação nenhuma (a não ser as bochechas ruborizadas ao ver as veias nos braços dele saltarem conforme ele acertava as marchas, ou as coxas torneadas apoiadas nos pedais e o peito quase explodindo na camiseta de compressão). Fora isso, eu continuei estática, olhando para a bicicleta como se ela fosse um problema de matemática.
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  — O que foi?
  — Eu não sei andar de bicicleta. — resmunguei.
  — O quê?
  — Eu não sei andar de bicicleta, tá? — falei mais alto.
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  — Então por que você concordou com isso?
  — Sei lá. — abri os braços e bati nas coxas. — Eu achei que tinha rodinhas.
   gargalhou, mas não qualquer gargalhada, foi daquelas gargalhadas que dobram a pessoa feito uma sanfona, fazendo-a balançar para frente e para trás na tentativa de cessar a risada. Acompanhei o episódio todo com ódio mortal, cogitando arrancar a aliança que brilhava na mão com que ele pressionava a barriga e fazê-lo engolir, porém, precisei disfarçar minha cara de fúria homicida ao ouvir os primeiros cliques nada discretos da câmera gigantesca do paparazzi.
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  — Você já acabou?
  — … — ele enxugou o canto dos olhos, recuperando-se. — Por que você não me disse antes?
  — Eu queria evitar esse seu showzinho aí. — exasperei, notando que o abdômen dele, marcado pelo tecido, ainda se ondulava de riso preso.
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  — Tudo bem. — ele respirou fundo, refeito. — Nunca é tarde, ok? Eu posso te ensinar.
  — Olha pra minha testa. Tá escrito que eu sou otária?
  — Não.
  — É porque eu não sou. Eu não vejo como me esborrachar no chão na frente do fotógrafo vai ajudar.
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  — Eu não vou deixar você cair. — ele ficou sério novamente, trocando a bicicleta por mim e cercando a minha cintura com as duas mãos. — Confia em mim, tá?
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  — Promete?
  — Prometo. — ele ergueu o mindinho para que eu enroscasse o meu.
  Selada a promessa, não havia mais nada a fazer senão encarar o desafio que eu vinha adiando desde os meus seis anos. Talvez eu devesse ligar para o meu pai e dizer que eu enfim tive coragem, uma vez que, quando eu era pequena, ele ansiava por esse dia. Em finais de semana alternados, orientação materna para que eu não me sentisse pressionada, papai me perguntava se eu queria tirar as rodinhas de treino e a resposta era sempre uma negação enfática. Não fazia sentido pra mim. Por que eu removeria algo que me dava apoio e me mantinha segura? Por que arriscar uma queda? Eu era apegada às minhas zonas de conforto e a tudo que me transmitia qualquer garantia, mesmo que fosse contra um simples joelho ralado. Aí, de repente, um japonês entrou na minha vida e me fez desativar as defesas que eu levei anos para construir, isso sem levantar nenhuma ofensiva, apenas me cercando de cuidado e de atitudes capazes de amolecer um coração, tipo o elástico no pulso.
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  Foi no momento em que ele se afastou para guardar a bicicleta dele de volta no carro que eu me perguntei como o tinha conseguido me convencer. Eu tinha feito isso mesmo? Eu tinha concordado em subir numa coisa com duas rodas, projetada para cair, só porque ele disse que iria me amparar? Desde quando palavras eram suficientes pra mim?
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  Apertei o rabo de cavalo, puxando duas pontas do cabelo, e endireitei o capacete. Desvendar como ele tinha vindo parar embaixo da minha pele não era importante agora. O importante era endurecer as minhas pernas já trêmulas e aprender algo novo. E eu nem estava falando de andar de bicicleta. Eu estava falando de confiar.
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  — Esse é um grande passo na vida de uma criança. No seu caso, de um adulto. — ele pressionou minha orelha, acariciando o lóbulo. — Você quer mesmo fazer isso?
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  — Eu achei que não, mas… Você me faz querer umas coisas que eu nunca pensei que fosse querer.
  — Isso se aplica só a esse caso específico ou você está falando de posições sexuais também?
  Soquei a placa tectônica que ele chamava de peito em represália. Minha pobre bicicleta foi levantada no ar como um pedaço de papel, carregada por enquanto ele procurava um lugar plano para a minha aula prática, encontrando-o a poucos metros dali, num espaço verde cujo tapete de grama poderia suavizar a queda que eu já dava por certa. Passei a perna direita pelo selim, relutante com a ideia de tirar meus pés do chão, e verificou a altura antes que eu sentasse. Meus dedos suavam no guidão e eu tive medo, um medo escancarado que moveu meu marido a bater contra o couro da sela sonoramente para demonstrar seu governo sobre a bicicleta e, naquele contexto, sobre mim.
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  — Eu tô te segurando, tá vendo? — ele passou a mão pelas minhas costas. — Sente meu braço atrás de você? — fiz que sim com a cabeça. — Eu não vou te soltar até você estar pronta. Vamos no seu tempo.
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  Sorri. Se houve algo que fizemos desde que casamos, era ir no meu tempo. respeitou todas as estações que eu atravessei, esperou pacientemente por aquela que fosse propícia e, enfim, ela havia chegado. Agora, nossa primavera começaria com meus dois pés abandonando o chão, metafórica e literalmente.
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  Encaixei o pé direito no pedal mais alto e dei o primeiro impulso sem muito equilíbrio. me escoltava pela parte traseira do selim e me ajudava a vencer o balanceio da bicicleta segurando o guidão junto comigo, impedindo que a haste metálica vacilasse e girasse o eixo da roda frontal sem necessidade. As mãos firmes dele me conduziram na primeira volta completa da corrente e a bicicleta andou timidamente para a frente, movendo-se devagarinho. Eram pouquíssimos centímetros, mas eram meus. Ou melhor, eram nossos.
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  — Muito bem. — ele incentivou num volume baixo e orgulhoso. — Agora assuma o controle. Você sabe como controlar enquanto monta, é só imaginar que a bicicleta sou eu.
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  — Não acredito que eu quero aprender a andar sozinha só pra poder te atropelar. — rebati, ainda pedalando com as pernas tais quais às do Bambi no gelo.
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   soltou o guidão primeiro e antes que ele largasse o selim também, meu pé direito me freou instintivamente, arrastando-se na grama e inclinando a bicicleta para o lado. Cambaleei um pouco e fui salva pelo meu marido, que manuseou tanto a mim quanto ao veículo com maestria, evitando que os dois caíssem e presenteassem o paparazzi com uma foto vergonhosa. Ele soltou uma risada pequenininha, fazendo um ar quente bater contra meu rosto, e aproveitou a chance para me dar um beijo na ponta do nariz.
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  — Não precisa ter medo, . Eu já disse que não vou deixar você cair.
  — Fala isso pra bicicleta. — me preparei para subir de novo. — Ela claramente me odeia.
  — É por isso que eu estou aqui. — reassumiu sua posição. — Você tava quase conseguindo, vamos.
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  Repetimos a mecânica, mas, dessa vez, uma carga de adrenalina me energizou. Canalizei a sensação gostosa de liberdade que foi percorrer aquele mínimo trecho e logo voltei a serpentear na bicicleta, acertando o trajeto com a ajuda do meu marido, que já precisava iniciar uma corrida para continuar me acompanhando. Perdi a hora em que ele me soltou, mas soube que ele permanecia me seguindo pelo som dos brincos batendo um contra o outro conforme ele corria, mantendo-se por perto mesmo que não me tocasse mais. O vento ganhou efeito à medida que eu aumentava a velocidade, comandando o guidão e os pedais sem ajuda, e um sentimento de leveza tomou conta de mim, me lançando num estado de euforia inexplicável.
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  Eu estava andando sozinha, mas a impressão era a de estar flutuando.
  O percurso que era reto passou a apresentar seus primeiros declives, desestabilizando a minha rota e afetando meu controle. O susto pela parte difícil do trajeto me impeliu a acionar o freio bruscamente e a parada repentina me obrigou a fincar os pés no chão novamente, saindo de cima da bicicleta e deixando que ela caísse para um lado e eu, para o outro. Numa fração de segundo, antes que a minha cara fosse de encontro à grama, me interceptou e se embolou comigo, pulando a bicicleta e me tomando nos braços a tempo de inverter nossas posições e me fazer cair em cima dele.
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  — Eu consegui? — gritei, apoiada nos peitos amortecedores. — Eu consegui mesmo?
  — Conseguiu! — me esmagou num abraço. — Você andou sozinha!
  Eu poderia culpar a emoção pela conquista, mas eu não estava mais na fase de apontar culpados pelo meu impulso de beijar o , então eu o fiz em justiça à minha confissão de beijá-lo por vontade. Ele retribuiu mais alegre pelo feito do que eu, apertando meu tronco quase a ponto de me fundir com ele, e como se voltasse a si de um transe hipnótico, prendeu meu rosto com as duas mãos e o examinou com pressa.
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  — Você tá bem? Se machucou?
  — Os airbags foram liberados a tempo. — bati no peitoral.
   tirou meu capacete e puxou meu pescoço, enfiando a mão por baixo dos fios do penteado frouxo e querendo soltar. O cheiro úmido da terra e das plantas nos encobriu e ele me entregou um beijo calmo, sem língua nem ânsia, apenas com o prazer do efêmero, saboreando o momento que, para nós, assumiu traços de eternidade quando ele soprou um segredo na minha boca.
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  — Você me beija por vontade, . Eu te beijo porque eu preciso.
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👰🏻‍♀️

  Minhas coxas ainda estavam assimilando o impacto do passeio. Depois de conseguir a primeira volta com sucesso, foi difícil querer parar e acabamos gastando o domingo inteiro no High Line Park sanando meu mais recente vício de andar de bicicleta. celebrou minha vitória, que também era dele, e ao voltarmos para a casa, as fotos que motivaram nossa saída já nem eram mencionadas. Foi como se a realidade tivesse sido congelada e nos dado uma trégua, neutralizando no intervalo de um dia todos os problemas que tínhamos que enfrentar.
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  O banho gelado ajudou no processo de revigoração e aliviou as dores da pedalada, para as quais recomendou diversos remédios, um mais indecente do que o anterior, obviamente. Meu celular continuava sem a notificação que eu esperava e o assunto pendente do divórcio estava começando a me causar aflição. Em vez da resposta de , tudo o que chegava era referente ao caso do tio Morgan: mais provas, mais protocolos, mais processos cabíveis e mais notícias difíceis de engolir, que me motivaram a abandonar o aparelho no andar de baixo, largando-o na mesa do escritório para tentar ficar longe daquele caos. já havia atualizando nossos pais acerca do infortúnio e agora era apenas uma questão de tempo para destituir Morgan do cargo e colocá-lo à disposição da justiça. A propósito, de acordo com o último e-mail do senhor Davis, um mandato oficial estava sendo emitido e chegaria ao meu tio em semanas, possivelmente no endereço da empresa.
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  Eu não gostaria de estar lá para ver. Na verdade, ultimamente, só havia um lugar onde eu gostaria de estar.
  Resisti durante o começo da noite, mas minha obstinação enfraqueceu no decorrer dela, não mais encontrando fundamento em ficar socada no meu canto, muito menos em dormir sozinha. A luz familiar do outro lado do corredor permanecia acesa, iluminando a fresta entreaberta, e me ocorreu que o fato de nunca fechar a porta do próprio quarto poderia ser um convite.
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  Se não fosse, eu faria ser.
  Não vesti robe ou calcei pantufas, a coragem exigia que eu saísse descalça e com a roupa do corpo, do contrário, eu pensaria demais e cutucaria os bichinhos medrosos que roíam o meu crânio. Era mais um costume ao qual eu cedia, e ele foi tão viciante que eu só precisei de uma única exposição para querê-lo todas as noites: dormir com se tornou uma necessidade básica com status de luxo, e como eu não gostava de me negar nada, eu fui até o quarto dele resoluta, já com o punho em riste para me anunciar na porta.
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  Mas a porta se abriu por completo antes que a minha sombra cruzasse a faixa de luz.
  — Eu vim ficar com você. — anunciei ao ver meu marido aparecer numa calça de moletom.
  — E eu estava indo te buscar.
  Qualquer filtro de pensamento se perdeu quando eu pus os olhos no cós baixo, propositalmente baixo. tinha aquelas entradas marcadas apontando um caminho que fazia garotas inteligentes ficarem burras, e eu estava muito, muito propensa a desligar meu lado racional quando ele me tomou em mais um beijo que me trouxe em definitivo para dentro do quarto. Ansioso pelas preliminares, arrastou a mão por trás das minhas pernas e subiu numa cadência torturante, tateando pela minha bunda na procura pela calcinha que não estava lá e prendendo um gemido na garganta.
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  — Eu disse que vim ficar com você. — arfei, lânguida. — Não disse que era só pra dormir.
  A íris dele se adensou, escurecendo e me devorando além do tato, nos dirigindo até a cama sem partir o contato visual. Sentou-se primeiro, ciente do seu lugar e da minha preferência, e a submissão dele aumentou meu desejo de um modo que me causou tontura. Meu ventre vibrou, reverberando calafrios por toda a minha extensão como ondas que recuavam e avançavam apenas para ganhar mais força e me arrastar mais fundo, numa atração cega e visceral que fazia minha carne clamar pela dele. Para a minha felicidade, me satisfazia em tudo.
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  Absolutamente tudo.
  — Vai ser assim na maioria das vezes. — coloquei o joelho ao redor dos quadris dele, insinuando onde eu sentaria. — Se acostume.
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  — Você está me ouvindo reclamar?
  — Eu só ouço você gemendo. — empurrei o tronco dele, fazendo-o deitar. — Eu adoro, a propósito. Caras não costumam fazer isso.
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  — Eu não tenho outra escolha. — apertou a seda da minha camisola, deixando o tecido justo na minha pele febril. — Você fica linda quando está em cima de mim. — as mãos deslizaram rumo ao meu colo e circularam meus seios. — E eu nem preciso falar sobre esses dois aqui.
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  O volume na calça dele ficou evidente e eu umedeci como consequência da sua rigidez, marcando o moletom da minha excitação prévia. sugou o ar entre os dentes e me levou ao encontro dos lábios ávidos, ao passo que nossas intimidades se reconheciam e pediam por menos camadas entre elas. Meu cabelo misturava-se ao suor que se acumulava na nuca e caía sobre a face sôfrega do homem abaixo de mim, que sequer reclamava do fato de não poder respirar direito. Impaciente, interrompi o beijo, desgrudando as mechas do pescoço molhado pelo calor típico que vinha junto com , e ele riu sádico quando eu finquei as unhas no seu abdômen para jogar o cabelo para trás com a mão livre.
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  — Eu aprendo rápido. — ele levantou o punho, exibindo outro elástico preto.
  Puxei a liga e soltei sem aviso, fazendo-a chicotear contra o pulso acelerado dele, cujo reflexo foi revirar os olhos de prazer pela dor fina. Tirei o elástico e a mão dele descansou na fenda do meu decote, amassando o que pôde ali e me estimulando a rebolar discretamente em cima dele enquanto prendia o cabelo num coque alto. A camisola era a próxima da lista, e eu fiz questão de removê-la lentamente, dando oportunidade para que ele fizesse o mesmo com a calça que, conforme eu suspeitava pelo nosso atrito delicioso, não tinha mais nada por baixo.
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  O comprimento aquecido encontrou meu caminho sensível quando eu sentei de volta, latejando contra meu sexo urgente. Encaixei a ponta dentro de mim, deslizando numa fricção que ardia e se aliviava sozinha, e a falta desesperadora que eu sentia foi preenchida conforme se perdia e se achava no meu interior. Iniciei o vai e vem, rebolando em ambos os sentidos, investindo o tempo que eu precisava para cobri-lo por inteiro na única ocasião em que não depender de camisinha era algo que trazia conforto. Senti-lo sem barreiras era libertador e, ao mesmo tempo, cativante, como se a ausência de algo nos permeando nos fizesse pertencer ainda mais um ao outro.
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  A posse já não era mais uma disputa, mas, sim, uma cessão mútua. Na banheira, agimos por instinto; na cama dele, agíamos por sintonia, atendendo aos desejos subliminares, escondidos na intensidade dos movimentos e nos grunhidos que só nós dois sabíamos decifrar. Acelerei o ritmo, apressada pela recompensa, e por mais prazeroso que fosse quicar no colo dele, demorei mais do que o usual para atingir o êxtase, resultado inconsciente das preocupações pesando nos meus ombros. Levemente frustrada, choraminguei agudo ao abrir os olhos cerrados de tesão e notar que estava contendo a si mesmo para me garantir que eu chegasse lá. Ele não era nada egoísta na hora do sexo, coisa rara entre os homens, e essa característica aliada à subserviência com que ele me tratava fazia o orgasmo ir se tornando paupável ao ponto de me fazer salivar.
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  Exausta, deixei que ele me impulsionasse para cima ao arquear os quadris e passei as mãos para trás, buscando apoio nas coxas endurecidas pelo esforço. Fora de controle, ele fechou o cerco na minha cintura e empurrou a si mesmo com um vigor que curou qualquer sintoma da fadiga muscular ou de formigamento. Era bom, não só pela biologia, mas pela afinidade que ultrapassava os limites dos nossos corpos. Quando estava dentro de mim, éramos um encontro de almas, ora no tempo de um, ora no tempo dos dois, ora no tempo dele, do jeito dele, com a fome dele, devastadora e impiedosa, que fazia eu me entregar por completo.
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  Quando estava dentro de mim, eu não precisava pensar.
  Eu não precisava agir.
  Eu só precisava senti-lo.
  E eu o sentia difuso a uma fisgada violenta, aviso inconfundível do esperado ápice se aproximando, quando a agonia toda se desfez, espalhando-se pela minha pele como um bálsamo quentinho e revitalizante, um fervor que fortalecia e amansava meu corpo na mesma medida e relaxava os órgãos contraídos do pré-gozo, soltando nossas feições contorcidas numa expressão da mais pura satisfação e regozijo compartilhados, pois assim que eu gozei, prolongou meu orgasmo chegando junto e escorrendo no meu íntimo apertado.
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  — De nada. — ele suspirou e eu continuei subindo e descendo, dessa vez pela respiração arquejada dele.
  — Cala a boca. — respondi debilitada. — Eu posso ter fingido.
  — O jeito que você grita o meu nome não mente. A sua armadura cai quando você geme pra mim, O’Brien Arata. — ele checou a própria arritmia segurando o peito com a mão da aliança.
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  Saí de cima dele e me joguei na cama, vitimada pela vertigem e pelos espasmos involuntários que se repetiam pelos meus membros inferiores. O silêncio confortável e intrínseco pairou sobre nós, servindo de trilha sonora para a nossa completa recuperação, e assim que houve fôlego suficiente para falar, eu virei na direção dele, que ainda sustentava um sorriso aberto carimbado de orelha a orelha.
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  — Posso fazer uma pergunta?
  — Claro.
  — Por que a tatuagem de flecha? — risquei o desenho no antebraço relaxado.
  — Eu sempre tenho um alvo.
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  — Hm. — balbuciei, manhosa. — No que você está mirando agora?
  — No momento, em você. — abriu os olhos e me encarou até o âmago. — Quer tomar um banho comigo?
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  — Sim, amor.
  Oi?
  Que porra foi essa, ?
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  — O que você disse? — alçou o tronco num pulo.
  — Sim, por favor.
  — Você me chamou de amor. — ele saltou sobre mim, prendendo meus pulsos contra o colchão.
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  — Não chamei.
  — Chamou sim!
  — Não chamei, não tem uma gota de sangue no seu cérebro agora, você não sabe do que tá falando.
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  — Você me chamou de amor, chamou sim! — ele distribuiu vários beijos pelo meu rosto e eu me agitei, indefesa.
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  — !
  — Durma comigo. — ele parou subitamente, deixando a fala intrusiva escapar.
  — Você é maluco? — ri, catatônica pelo pedido fora de contexto. — Nós acabamos de fazer isso.
  — Eu estou falando de você dormir aqui, na minha cama, todas as noites. No meu quarto. — ele persistiu, ainda detendo meus braços e pernas. — No nosso quarto, aliás. — me liberou, sentando-se sobre os joelhos dobrados, esquecido da sua nudez e das marcas vermelhas que eu deixei nele. — Vem, . Eu deixo você mudar o que você quiser aqui.
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  — Outra reforma? — ergui uma sobrancelha. — Tem certeza?
  — Eu não ligo, você pode até pendurar um pompom cor de rosa em mim e me obrigar a usar pijamas combinando.
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  Levantei, analisando tudo por cima do nariz, contemplativa e calculando as vantagens. , na expectativa pelo meu veredito, acompanhava os desenhos que eu fazia no ar, como se estivesse armando uma conta, e mordia a parte interna das bochechas conforme me estudava com seu faro aguçado, querendo pescar qualquer pista que fosse.
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  Tolinho. Como se existisse outra resposta possível para aquela pergunta.
  — Tá bem. — concordei, afinal. — Eu me mudo pra esse quarto.
  Fui derrubada novamente e coberta por mais beijos de comemoração. A animosidade foi diluindo aos poucos, amenizando-se em meio às conversas sobre as mudanças na decoração e a nova logística de arrumação do closet, para onde insistiu que eu transferisse todas as minhas peças e, com isso, anulasse qualquer possível desculpa para voltar ao quarto antigo. Fomos nos acalmando, rendidos ao doce torpor da nossa nova liberdade, do poder recém-conquistado de decidir por nós com base nos nossos sentimentos e no nosso querer, sem as amarras das cláusulas e sem as mordaças de um acordo forçado. Do fardo que abandonamos ali, sobrava apenas o cansaço por tê-lo carregado por tanto tempo, cansaço esse que foi se apoderando e nos vencendo, tornando o banho uma ideia quase abortada.
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  — … — me chamou num fio de voz. — É a dancinha que você faz quando as coisas saem do jeito que você quer, como você chama meu nome pela primeira vez no dia e os seus beijos na testa.
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  — O que é isso? — quis saber, convicta de que ele estava delirando da fadiga.
  — Minhas três coisas favoritas sobre você.
  Meu marido apagou em seguida, deixando comigo o gosto de ternura pelas últimas palavras dele antes de cair num sono profundo, as quais eu acolhi com um beijo na testa para selar uma por uma na lembrança. A quietude que o abrandou passou para mim, me seduzindo com a proposta de um cochilo no meio daquela bagunça que nos tornamos e me persuadindo a adormecer. Não sabia qual textura era mais convidativa, se a derme caramelada dele ou se os lençóis macios ainda marcados e cheirando a nós, porém, atendi minha intuição de me aninhar no que parecia ser mais aconchegante, e era, sem dúvida, o peito exposto do homem que eu chamei de amor.
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  “Amor”. Um vocativo que eu nunca pensei que conseguiria usar.
  Em outra época, a “gafe” me manteria insone e atacaria minha gastrite, então, conseguir dormir tranquilamente logo após cometê-la foi um choque — um choque maravilhoso, entretanto, um choque. A percepção do tempo enganou e nos mergulhou noite adentro num descanso que só se encerrou com os raios de sol deitando ouro no parapeito da janela, nos avisando do dia que começava apesar da falta de jeito com que adormecemos. A claridade baixa banhava o chão, ganhando alguns metros, contudo, surtindo pouco ou nenhum êxito, ganhou um aliado na missão de nos despertar: o alarme de soando no seu horário desrespeitoso de seis da manhã.
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  — Desliga! — reclamei, dengosa. — Se esse negócio continuar tocando, eu não venho mais.
  — Bom dia, esposa. — já acordou fazendo o que eu pedi. — Dormiu bem?
  — Sim, mas eu quero dormir mais. — afofei o travesseiro que eu não lembrava de ter pegado.
  — Eu odeio quebrar o clima, mas é segunda-feira e o Davis precisa da nossa assinatura em aproximadamente 12 documentos…
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  — Argh. — afundei a cara na fronha. — Eu ainda nem li todos os anexos que ele mandou. — tentei enxergar, resistente. — E você?
  — Eu ia, mas você não vai acreditar. — lançou seus braços em minha volta, me encurralando. — Uma gostosa invadiu o meu quarto e me jogou contra a parede, eu não tive escolha a não ser transar com ela até cair duro.
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  — Uau! — fingi espanto. — Ela devia ser muito gostosa mesmo.
  — Ah, ela é. Mas é um pouco emocionada, sabe? — ele meteu o nariz no meu pescoço. — Me chamou de “amor” e tudo.
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  Me debati debaixo dele em vão, envergonhada do meu ato falho e pretendendo negá-lo até a morte, porém, minha reação só comprovava o que eu tinha feito, e estava bem claro que não deixaria meu deslize cair no esquecimento. A manobra mais sensata era desviar do tópico e distraí-lo com um assunto de maior importância.
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  — O convite do banho ainda tá valendo? — afastei o cabelo dele para trás. — A gente toma uma ducha e vai pra empresa mais cedo olhar a papelada, pode ser?
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  A sugestão foi aceita com levantando-se primeiro para preparar a água. Dividimos o chuveiro e as provocações de praxe, mais divertidas agora, e ele ficou pronto na brevidade cômoda masculina, necessitando apenas da água-de-colônia borrifada e de mais um elástico em cima do relógio para finalizar a arrumação antes de mim. Inconformada por vê-lo sem mais atribuições, tratei de delegar algumas, entre elas, buscar minha roupa e minha necessaire de maquiagem do meu futuro ex-quarto.
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  — Mais alguma coisa, vossa alteza? — ele se debruçou na porta do banheiro, aparecendo no meu campo de visão pelo espelho onde eu me maquiava.
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  — Meu celular está no escritório. — apliquei um batom nude escuro, espremendo os lábios. — Pode pegá-lo pra mim? Eu desço em cinco minutos.
   fez uma referência, zombando da minha mania de esbravejar ordens, e eu realizei os toques finais com algumas joias e apanhando a bolsa para encontrá-lo no gabinete com cara de biblioteca, único cômodo da casa que eu deixei intocado. Era um ambiente agradável para trabalhar e para pensar também, e não raro eu o utilizava com esse fim, inspirada pelos livros na estante de madeira nobre e pela acústica favorável, que impedia que o barulho lá de fora entrasse e que o de dentro fugisse.
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  Desci as escadas salteando os últimos degraus, batendo meu salto contra o piso até o escritório, onde eu avistei o contorno de escorado em sua mesa, de costas. Fiz questão de chacoalhar os berloques da pulseira para não assustá-lo com uma entrada grosseira e fui chegando mais perto dele, emitindo tantos sons quanto pude. A princípio, estranhei a inércia alheia e minha intuição começou a gritar que havia algo ruim carregando a atmosfera, o que foi confirmado quando não esboçou nenhuma mínima reação à minha presença, permanecendo imóvel.
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  — ?
  Uma mudez talhante se concretizou.
  — , tá tudo bem? — insisti.
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  Ele girou o corpo vagarosamente, revelando meu celular na sua mão. Os olhos dele, embora molhados, se assemelhavam a duas pedras, tão sólida e dura foi a forma como eles repousaram sobre os meus. Uma bruma de dor o transpassou num relance, como se ele tivesse sido atingido por uma lança invisível, e um pavor gelado partiu minha espinha, misturando-se à confusão que se instalou como um redemoinho crescente e destruidor entre nós.
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  — Isso chegou assim que eu peguei. — me mostrou a tela e a mensagem na barra de notificação.
  A mensagem do .
  — … — ele tirou meu nome do fundo das entranhas. — Você pretende se divorciar de mim?
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Continua

  Alerta para o noticiário de atualizações: enfim descobriu o culpado pela falência da empresa, mas quem recebeu uma revelação ainda mais devastadora foi . Saiba qual em Dopa(mine).

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Lelen
Admin
6 meses atrás

Amo essas histórias de casamento por contrato HEHHEHE
E quem não deve ser esse rapaz do bar, não é mesmo?
Amei ter uma fic com o Mackenyu, fazia um tempo que tava querendo ler uma, agora tenho ❤
Esperando a att 😍

Comentário originalmente postado em 21 de Junho de 2024

Betiza
Betiza
6 meses atrás

UAAAAAAAAAAR, ILANE DO CÉU! EU DEI UM GRITOOOOOOO! graças a deus você voltou a escrever, eu amo tanto tanto tanto a sua escrita, juro por Deus! To louca no próximo capítulo já

Comentário originalmente postado em 25 de Junho de 2024

Lelen
Admin
6 meses atrás

Esse Mackenyu tá que tá HAHAHA
E obviamente nenhum dos dois vai deixar fácil pra se ajudar, né?
Vai ser meio enemies to lovers? Curto (passo raiva? passo, mas curto kkkk)
Tô só imaginando no que essa história toda vai dar também EHEHEHEH

Betiza
6 meses atrás
  — Eu sei o seu gosto. — ele lambeu os lábios, ainda de olhos fechados. — Isso é melhor ainda." Read more »

Ele é muito bandindinhooooo

Betiza
6 meses atrás

AI SOCORROOOOOOOOOOO, eu quero mais, preciso de mais, eu já to muito rendida nesses dois, Ilaneeeeeeee, vc me paga

Betiza
5 meses atrás

Mais do que ansiosa para essa lua de mel dos meus docinhos. Fico rendidada em todos os casais que você escreve, como pode? A maior que temos <3

Lelen
Admin
4 meses atrás

Iha que chegou o diaaa!
Esse Mackenyu é muito apaixonante, aceitamos na vida real HEHEEHEH
Os dois já apaixonandinhos, coisa lindinha <3
O que teremos agora, humm?

Betiza
3 meses atrás

Ai Ilane… o que eu posso dizer do capítulo? Assim, ver ela se rendendo aos poucos por ele me fez dar vários sorisinhos! E eu sou muito rendida pelo Mackenyu, falo sérioooooooooooooo! Que pp *-*

Betiza
1 mês atrás

Como eu já te disse: meu capítulo favorito da vida. Você sempre entregando muito quando se trata de passar os sentimentos dos personagens, ai Ilane <3

Lelen
Admin
7 dias atrás

Que tio Morgan receba tudo o que ele merece <3
E eu amo quando o homem fica todo bobinho pela mulher, mas esse final de capítulo foi tipo um tapinha na cara, assim, de leve HASOIDNASOIDNOI

Betiza
6 dias atrás

Vim reler o capítulo por aqui e fiquei ainda mais triste. Sério meu coração tá quebrado… maaaaaaaaas sei que ainda virão águas turbulentas até o fim, to segurando sua mão e não solto. Como sempre: amo sua escrita e tudo que você trás com cada linha <3


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