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Sem curiosidades para essa história no momento!

Dezembro, Lembranças e Neve

PRIMEIRO CAPÍTULO:

  Portsmouth, New Hampshire, 18 de Dezembro de 2024:

  Conforme o Natal se aproximava, a cidade ficava ainda mais brilhante — e barulhenta, de acordo com . As luzes piscantes que decoravam cada esquina, as vitrines ornamentadas com guirlandas exageradas, e as músicas natalinas que tocavam sem parar em cada café e loja eram, para ela, um exagero quase insuportável. Enquanto muitos se deixavam contagiar pela euforia da época, sentia apenas o incômodo da pressa das multidões e da falsa alegria que parecia pairar no ar.
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  Às 7h30 da manhã, ela já estava na livraria que herdara de sua tia-avó, a qual ironicamente se chamava Encanto Natalino. O nome, assim como os enfeites temáticos espalhados pelas prateleiras, pareciam zombar de sua falta de entusiasmo pela época. tinha planos de fechar a loja definitivamente no início do próximo ano, pois as vendas eram escassas e ela não via razão para mantê-la. Sentada atrás do balcão, ela folheava um antigo livro de capa dura, mais para ocupar as horas vazias do que por real interesse.
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  — , querida, você não vai decorar a vitrine? — perguntou a senhora May, a vizinha que passava todos os dias pela livraria em sua caminhada matinal. Ela parou na porta, ajeitando o cachecol de lã.
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  — Para quê? — respondeu , sem erguer os olhos do livro. — Ninguém entra aqui mesmo.
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  Ora, não seja tão amarga. O Natal é uma época mágica! — insistiu a senhora May, sorrindo. — Você precisa acreditar mais.
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   apenas ergueu as sobrancelhas, preferindo não responder. Sabia que discutir com May seria como tentar argumentar com uma das decorações animatrônicas da cidade: inútil. A senhora, percebendo a resistência, deu de ombros e continuou seu caminho, deixando com seus pensamentos.
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  Às 9h, a rotina seguia seu curso habitual: um ou dois clientes entravam, mais para escapar do frio do que para realmente comprar algo. atendia com profissionalismo, mas sem grande entusiasmo, limitando-se ao essencial. Suas respostas eram curtas, e o sorriso, raro. Os livros eram organizados impecavelmente, pois ela encontrava certo conforto na ordem. A bagunça externa da cidade podia ser um caos, mas ali dentro, tudo estava sob seu controle.
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  Enquanto colocava um livro de volta na prateleira, se pegou olhando pela janela. A neve começava a cair devagar, cobrindo as calçadas com um manto branco que contrastava com as luzes coloridas. Ela suspirou, imaginando o quanto a cidade ainda ia se agitar antes da noite de Natal. Para ela, eram apenas dias que precisavam passar.
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  Porém, mal sabia ela que aquele seria o último Natal em que poderia se esconder atrás de sua apatia. Um visitante inesperado estava prestes a cruzar a porta da livraria, trazendo consigo não apenas perguntas sobre livros, mas respostas que ela nunca soube que precisava.
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❄️❄️❄️

  Às 16h, serviu-se de um chá nos fundos, observando pela pequena janela a neve que começava a cair. Depois voltou ao balcão, conferindo o relógio de tempos em tempos. À medida que o dia avançava, os visitantes diminuíam. O último cliente saiu às 17h30, comprando apenas um marcador de páginas.
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  Quando o relógio marcou 17h45, olhou para a rua. Não havia ninguém. “Ninguém mais vai aparecer hoje”, pensou. Decidiu fechar a loja mais cedo, algo incomum para ela, mas parecia um dia apropriado para terminar logo. Apagou as luzes principais, deixando as da vitrine acesas, e caminhou até a porta.
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  Quando estava prestes a girar o letreiro de “Aberto” para “Fechado”, o som do sino da entrada ecoou. Ela se virou, surpresa.
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  Um homem alto, de cabelos escuros e olhar penetrante, entrou na livraria trazendo consigo uma rajada de vento gelado. Vestia um casaco pesado, mas parecia alheio ao frio.
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  — Desculpe — disse ele, com um leve sorriso. — Espero não estar atrapalhando. Ainda está aberta, não?
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  Por um momento, hesitou. Algo na presença dele a deixou inquieta, mas ela se recompôs rapidamente.
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  — Ainda temos alguns minutos. Eu posso ajudar?
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  O homem olhou ao redor, como se já conhecesse o lugar.
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  — Talvez mais do que imagina — respondeu ele, enigmaticamente.
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❄️❄️❄️

SEGUNDO CAPÍTULO

   franziu o cenho involuntariamente com a forma que o homem respondeu a uma simples pergunta como aquela, mas ele deveria estar de passagem na cidade, já que carregava uma mala e turistas naquela época do ano era algo mais do que normal. Talvez ele só estivesse desesperado por um presente. Não é?
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  Ele tinha um ar intrigante, vestido com um sobretudo escuro e um cachecol de lã cinza, que parecia combinar perfeitamente com a noite fria lá fora.
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  — E como eu posso ajudar então? — voltou a perguntar.
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  O homem sorriu, mas não respondeu imediatamente. Ele se aproximou alguns passos, os olhos varrendo as prateleiras ao redor, como se examinasse o local.
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  — Essa livraria tem história — disse ele, finalmente, com uma voz baixa e calma.
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  — É o que dizem. Mas se está aqui só para admirar a arquitetura, sugiro que volte amanhã. Estamos fechando.
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  — Quinze minutos mais cedo? — ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.
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  Ela piscou, surpresa. Como ele sabia disso? Hesitou por um momento antes de recuperar a compostura.
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  — Sim, ninguém mais vai aparecer hoje. Então, a menos que queira comprar algo, estou fechando.
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  O homem riu suavemente, um som que pareceu tanto familiar quanto irritante.
  — Talvez eu tenha vindo para comprar, mas não um livro.
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   sentiu um calafrio. Havia algo em suas palavras que a desconcertava, embora não pudesse explicar exatamente o que era.
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  — Então diga logo o que quer, porque eu não tenho tempo para jogos.
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  Ele inclinou levemente a cabeça, como se estivesse avaliando-a.
  — Eu quero ajudá-la, .
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  A menção de seu nome a fez congelar. Ela não se lembrava de ter se apresentado. Seu nome não estava em nenhum lugar visível na loja.
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  — Como você sabe meu nome? — perguntou, a voz endurecida.
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  O homem deu um passo à frente, mas manteve uma distância respeitosa.
  — Eu sei muito sobre você. E sobre esta livraria. Digamos que… sou um amigo da família.
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   deu um riso seco.
  — Família? Boa tentativa. Não tenho família, só essa livraria que mais parece uma maldição.
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  — Talvez não seja uma maldição, e sim um presente — disse ele, com um olhar que parecia penetrar sua alma.
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  Antes que ela pudesse responder, ele estendeu um envelope amarelado, o papel desgastado pelo tempo. No verso, em uma caligrafia que ela reconheceu de imediato, estava escrito seu nome.
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  — Onde conseguiu isso? — ela perguntou, sua voz quase um sussurro.
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  — Do único lugar onde ele sabia que você encontraria: aqui.
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   pegou o envelope com dedos trêmulos. Ela o abriu, revelando uma carta escrita à mão:

  “Minha querida ,
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  Se você está lendo isso, significa que o destino decidiu nos colocar à prova. Mas acredite, há mais nesta livraria do que livros. Há segredos que esperaram tempo demais para serem revelados. Procure na seção de poesia, no livro que sempre foi meu favorito.”
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  Ela levantou os olhos, mas o homem já estava se dirigindo à porta.
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  — Espere! Quem é você? — ela chamou, mas ele apenas sorriu antes de desaparecer no por do sol da tarde fria, deixando-a com mais perguntas do que respostas.
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❄️❄️❄️

   segurava a carta com firmeza, os dedos trêmulos sobre o papel. Ela reconhecera a caligrafia no instante em que abrira o envelope. Era dele.
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  Seu avô.
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  O coração disparava em seu peito, como se cada batida tentasse acompanhar o turbilhão de pensamentos que inundava sua mente. Seu avô havia falecido anos atrás, mas aquela letra era inconfundível — elegante, quase formal, com curvas que só alguém que ainda usava canetas-tinteiro seria capaz de produzir.
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  Ela leu novamente as palavras, como se buscasse algum significado oculto.
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  A livraria parecia mais silenciosa do que nunca. Lá fora, o som distante de vozes e passos se misturava ao vento gelado que começava a soprar. Mas dentro daquele espaço, apenas o som de sua respiração preenchia o ar.
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  Ela olhou para a carta novamente, como se tentasse extrair mais do que as palavras ofereciam. O “favorito” dele… Ela sabia o que significava. Seu avô sempre falava com carinho de William Wordsworth, mencionando como os poemas do autor o haviam acompanhado em momentos difíceis.
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  “Isso é loucura,” murmurou para si mesma, tentando racionalizar o que acabara de acontecer. Mas a curiosidade, tão persistente quanto incômoda, já estava enraizada.
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  Com passos hesitantes, ela caminhou até a porta e a trancou novamente, virando a placa para Fechado. Apagou as luzes principais, deixando apenas o brilho das luminárias mais próximas para iluminar o caminho até a seção de poesia.
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  Era uma parte da livraria que ela raramente frequentava. Poesia não vendia como antes, e as prateleiras naquele canto pareciam carregadas de um ar melancólico. Seus dedos deslizaram por várias lombadas até encontrarem o que procuravam: uma edição antiga, encadernada em couro marrom, com letras douradas que destacavam o nome do poeta.
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  Ela puxou o volume com cuidado, sentindo o peso do tempo sobre o objeto. Ao abrir a capa, encontrou exatamente o que temia — ou talvez esperasse: uma dedicatória escrita com a mesma caligrafia da carta.
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  “Para minha neta, que um dia entenderá o valor das palavras e das memórias.”
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   engoliu em seco, a garganta apertada. O que ele queria que ela encontrasse?
  Virou as páginas com cuidado, até que algo caiu de dentro do livro e pousou no chão com um som abafado. Era um envelope menor, selado com cera vermelha.
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  Ela o pegou, o coração disparado, e abriu cuidadosamente. Lá dentro havia um bilhete ainda mais enigmático:
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  , o passado guarda respostas. Mas para encontrá-las, você precisará dar o primeiro passo. Procure no canto mais velho da livraria.”
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  O coração dela apertou. O canto mais velho. O porão.
  Por anos, ela evitara aquele lugar. Ele era pouco mais do que uma extensão abandonada da livraria, repleta de poeira e caixas esquecidas. Mas agora, parecia que tudo a conduzia para lá.
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   fechou o livro e respirou fundo. Antes de descer, deu uma última olhada ao redor da livraria, como se esperasse que o homem misterioso ainda estivesse ali, observando-a. Mas não havia ninguém.
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  Com passos firmes e o bilhete em mãos, ela começou a caminhar em direção à porta que levava ao porão.
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   olhou para a porta, seu coração batendo em um ritmo descompassado. O bilhete ainda tremia em sua mão, como se tivesse peso próprio, um peso que ela não sabia se estava pronta para carregar.
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  “Isso é ridículo,” murmurou, a voz ecoando no silêncio da livraria. “Estou aqui, me deixando levar por enigmas de uma carta escrita por um homem morto há anos. Que tipo de loucura é essa?”
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  Ela se virou, as mãos agora apertando o bilhete com mais força. A ideia de entrar no porão, revirar caixas e encontrar sabe-se lá o quê… Tudo parecia absurdo. soltou um suspiro irritado, esfregando o rosto com as mãos.
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  “Eu só estou cansada. É isso. Cansada e impressionável,” continuou resmungando para si mesma, como se tentar racionalizar a situação pudesse aliviar o peso do momento.
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  Caminhou até o balcão, onde deixou o livro e o envelope de forma abrupta. As palavras da carta ainda ecoavam em sua mente, mas ela as afastou com um movimento de cabeça. “Eu não tenho tempo pra isso. Nem paciência. Nem… coragem.”
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  O som da porta de vidro balançando levemente com o vento fez com que ela erguesse o olhar para o relógio na parede. Já eram quase 18h. Bem mais tarde do que pretendia ficar ali.
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  Decidida a deixar aquela aventura para um outro dia — ou para nunca mais —, começou a pegar suas coisas. Enfiou o casaco pesado sobre os ombros, pegou sua bolsa e apagou as luzes da livraria, deixando apenas a fraca iluminação externa iluminando o ambiente.
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  Antes de sair, parou e olhou para o balcão novamente. O livro, agora sob a penumbra, parecia ainda mais antigo, como se esperasse por algo.
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  “Besteira,” murmurou mais uma vez, sacudindo a cabeça.
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  Ela girou a chave na fechadura e saiu para o vento frio da noite.
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❄️❄️❄️

   caminhou pelas ruas de Portsmouth com passos apressados, o vento cortante trazendo consigo o cheiro de neve. As luzes natalinas brilhavam ao longo das fachadas, um contraste gritante com o humor sombrio que a acompanhava.
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  Ela entrou no pequeno prédio de tijolos onde morava, subindo os degraus desgastados até o segundo andar. O apartamento era modesto, mas aconchegante — o tipo de lugar que servia mais como refúgio do que como lar.
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  Assim que fechou a porta atrás de si, largou a bolsa e o casaco em uma cadeira próxima e caminhou direto para o banheiro. A sensação de estar cercada pelo calor do chuveiro parecia a única coisa capaz de afastar a inquietação que crescia dentro dela.
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  Ligou a água quente, esperando que o vapor começasse a embaçar o espelho. Enquanto tirava a roupa, seus olhos foram atraídos para o reflexo: o cansaço estampado em seu rosto, as linhas de preocupação que pareciam mais profundas naquela noite.
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  “Esquece isso,” murmurou para si mesma. “É só… uma carta. Um livro velho. Nada disso significa alguma coisa.”
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  Entrou debaixo da água quente, fechando os olhos enquanto o calor aliviava a tensão em seus ombros. Tentou se concentrar no som da água, deixando-o abafar os pensamentos que insistiam em voltar.
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  Mas era inútil.
  A caligrafia no bilhete, a lembrança do avô, o estranho que surgira na livraria… Tudo se entrelaçava em sua mente como uma história que ainda não fazia sentido. E quanto mais tentava afastar essas imagens, mais elas se aproximavam, como sombras persistentes.
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   passou as mãos pelo rosto, esfregando com mais força do que o necessário. “Pare com isso. Não tem nada lá. E mesmo que tivesse, que diferença faria?”
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  Ela sabia que estava tentando convencer a si mesma, mas o desconforto no fundo do peito não a deixava em paz. Era como se algo, ou alguém, a empurrasse para frente, pedindo que ela olhasse mais de perto, que enfrentasse o que quer que estivesse escondido naquele porão.
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  Depois de alguns minutos, desligou o chuveiro e se enrolou em uma toalha macia. O vapor preenchia o banheiro, tornando o ambiente mais abafado, mas também estranhamente acolhedor.
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  “É só o Natal mexendo comigo,” concluiu em voz alta, como se a afirmação pudesse ser suficiente para encerrar o assunto.
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  Vestiu um pijama confortável e foi para a cozinha preparar uma xícara de chá. Talvez o calor da bebida ajudasse a clarear os pensamentos. Mas mesmo enquanto mexia a colher na caneca, a sensação de que algo estava por vir não desaparecia.
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  Sentou-se no sofá, o chá entre as mãos, e olhou para as luzes de Natal piscando através da janela. No silêncio do apartamento, apenas o som fraco do aquecedor competia com o eco de suas lembranças.
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  E pela primeira vez em muito tempo, se sentiu à beira de algo que não sabia se queria enfrentar.
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TERCEIRO CAPÍTULO:

  Portsmouth, New Hampshire, 19 de Dezembro de 2024:

  O despertador tocou pontualmente às sete da manhã, preenchendo o quarto com seu som irritante. estendeu a mão para desligá-lo, ainda com os olhos fechados. Depois de um suspiro pesado, abriu os olhos, encarando o teto do pequeno quarto.
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  Ela não tinha dormido bem. As imagens da noite anterior — o bilhete, o livro, o homem misterioso — insistiam em invadir seus sonhos e transformá-los em um emaranhado confuso de emoções e lembranças.
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  “Mais um dia,” murmurou para si mesma, jogando as pernas para fora da cama.
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  Vestiu um suéter grosso, calças confortáveis e foi direto para a cozinha. Preparou uma xícara de café rápido e comeu uma torrada enquanto olhava pela janela. O mundo lá fora parecia mais tranquilo do que o caos que sentia por dentro.
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  Assim que terminou o café, pegou suas coisas e saiu. O ar frio da manhã a recebeu com um golpe gelado, mas ela nem se incomodou. Caminhou apressada pelas ruas decoradas com guirlandas e luzes, as vitrines exibindo promoções de última hora para o Natal.
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  Quando a livraria surgiu em seu campo de visão, sentiu o corpo inteiro enrijecer. Ela não sabia o que esperava encontrar lá, mas, ao se aproximar, viu algo que fez seu coração dar um salto.
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  Ele estava lá.
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  Encostado na porta de vidro, o homem misterioso parecia completamente à vontade, como se aquele fosse o lugar mais natural para estar. Ele usava o mesmo sobretudo escuro da noite anterior, e a mala ainda estava ao seu lado, como se não tivesse saído dali desde que a vira pela última vez.
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   parou a poucos passos de distância, o coração disparado.
  — O que você está fazendo aqui? — perguntou, sua voz mais áspera do que pretendia.
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  O homem ergueu o olhar para ela, os olhos claros brilhando com algo que parecia… diversão?
  — Bom dia para você também, . — respondeu ele, ignorando o tom dela.
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  Ela franziu o cenho.
  — Você não respondeu minha pergunta.
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  Ele deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
  — Eu disse que voltaria.
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  — E você achou que a melhor hora para isso era logo de manhã cedo?
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  O homem sorriu de lado, um sorriso pequeno e enigmático.
  — Às vezes, certas conversas não podem esperar.
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  Ela revirou os olhos e destrancou a porta, empurrando-a para dentro.
  — Entre logo, antes que alguém ache que você está acampando aqui.
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  Ele pegou a mala e seguiu-a para dentro. não olhou para trás enquanto ligava as luzes e ajeitava algumas coisas no balcão, mas sentia o olhar dele a acompanhando.
  — Então? — disse, virando-se para encará-lo. — O que você quer agora?
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  Ele colocou a mala ao lado do balcão e cruzou os braços.
  — Quero ajudar você a encontrar as respostas que procura.
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   soltou uma risada curta, sem humor.
  — Respostas? Você não sabe nada sobre mim.
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  — Eu sei mais do que você imagina… — retrucou ele, os olhos fixos nos dela.
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  Por um momento, ficou sem palavras. Algo na voz dele, na forma como ele falava, fazia parecer que não era apenas uma conversa trivial. Havia algo maior ali, algo que ela não conseguia nomear.
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  — Seja como for — ela disse, tentando recuperar o controle. — Eu tenho um trabalho a fazer. Se não vai comprar um livro ou me explicar exatamente o que está acontecendo, sugiro que vá embora.
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  Ele inclinou a cabeça, como se estudasse cada palavra que ela dissera.
  — E se eu disser que o que está acontecendo aqui tem tudo a ver com você?
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   sentiu a garganta secar, mas manteve a expressão neutra.
  — Acho que você precisa parar de falar em enigmas e ir direto ao ponto.
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  O homem abriu a mala, puxando um envelope grosso e desgastado. Ele o colocou sobre o balcão entre eles e olhou para ela com seriedade.
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  — Tudo o que você precisa saber está aqui… — disse ele, empurrando o envelope em sua direção.
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   olhou para o objeto com hesitação. O que quer que estivesse ali, sabia que iria mudar tudo.
  — Por que eu? — perguntou, sua voz saindo quase em um sussurro.
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  Ele sorriu de lado novamente, mas dessa vez havia algo de suave em seu olhar.
  — Porque você é a única pessoa que pode resolver isso.
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   desviou o olhar do envelope e decidiu ignorá-lo — e ao homem também.
  Sem dizer mais nada, ela começou sua rotina habitual: pendurou o casaco no gancho atrás do balcão, girou a placa de “Fechado” para “Aberto” na porta e ajustou a iluminação da livraria. Tudo isso com passos firmes e movimentos calculados, tentando deixar claro que não estava interessada em continuar aquela conversa.
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  — Você não pode simplesmente entrar e agir como se fosse dono do lugar… — disse, quando percebeu que ele a seguira sem o menor sinal de constrangimento.
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  O homem olhou ao redor, ignorando completamente a repreensão dela. Passou os olhos pelas prateleiras abarrotadas de livros, inclinando a cabeça como se estivesse avaliando cada detalhe.
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  — Você não acha que está escuro demais aqui? — comentou, caminhando até uma luminária de canto e a ajustando, sem pedir permissão.
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  — Ei !— largou os papéis que começava a organizar no balcão. — Quem você pensa que é para mexer nas minhas coisas?
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  Ele se virou para ela com um sorriso que beirava a provocação.
  — Estou só ajudando. Luz é essencial para criar um ambiente acolhedor, sabe?
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   cruzou os braços, encarando-o com uma mistura de irritação e descrença.
  — Eu não pedi ajuda.
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  — Talvez você devesse — respondeu ele, sem perder o tom calmo e confiante. Em seguida, caminhou até o balcão e começou a reorganizar um pequeno expositor de marcadores de página que estava ali.
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  — Você é sempre assim? Invade espaços, faz o que bem entende e espera que as pessoas agradeçam?
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  Ele riu baixo, mas não respondeu de imediato. Continuou ajustando o expositor até que parecesse satisfeito com o resultado, então ergueu o olhar para ela.
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  — Na verdade — começou — Só estou tentando tornar seu dia um pouco mais interessante.
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  — Interessante? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Se sua ideia de interessante é me deixar ainda mais irritada, então parabéns, está funcionando.
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  — Ah, irritação é só o primeiro estágio… — disse ele, dando de ombros. — Logo você vai perceber que estou aqui para ajudar.
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   soltou um suspiro exasperado e pegou um bloco de notas, tentando ignorar a presença dele. Mas era impossível. O homem parecia ter decidido que fazia parte da livraria — ou talvez da vida dela.
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  Enquanto ela tentava anotar algumas coisas, ele continuou andando pelo espaço, tocando os livros, ajeitando objetos, e até limpando um pequeno resquício de poeira de uma prateleira com os dedos.
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  — Você tem algum problema com limites? — perguntou, sem conseguir evitar.
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  Ele sorriu de canto e respondeu sem olhar para ela:
  — Só os estabelecidos por quem não quer mudanças.
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   revirou os olhos, mas algo na resposta dele a fez se calar.
  Ela decidiu que a melhor estratégia era ignorá-lo completamente. Se aquele estranho queria bancar o decorador de livraria, que o fizesse. Ela pegou a pilha de papéis que havia deixado sobre o balcão no dia anterior e começou a revisar algumas anotações de vendas. Sua mente insistia em desviar para a presença invasiva dele, mas ela se forçou a focar nos números.
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  Alguns minutos se passaram, e o ambiente estava estranhamente silencioso. Quando finalmente ergueu os olhos, percebeu que ele a estava observando. Não com aquele ar de provocação que usara antes, mas de maneira intensa, como se estivesse tentando decifrá-la.
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  — Você poderia ao menos me dizer o seu nome? — perguntou, tentando esconder o desconforto que sentiu sob aquele olhar.
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  Ele hesitou, os lábios se curvando levemente em um sorriso quase imperceptível, como se considerasse se deveria ou não responder. Depois de um breve instante, falou:
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  — . — Sua voz era calma, mas firme. — Pode me chamar de
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   estreitou os olhos, analisando-o. Algo na maneira como ele disse seu nome parecia calculado, como se houvesse muito mais por trás daquela apresentação simplória.
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  — Certo, — respondeu ela, com um tom ligeiramente irônico. — E o que exatamente você está fazendo aqui? Porque, até onde sei, invadir livrarias alheias e mexer em tudo não faz parte do comportamento padrão de um turista.
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  Ele deu de ombros, as mãos nos bolsos do casaco.
  — Talvez eu não seja um turista padrão.
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  — Ah, que original. — Ela revirou os olhos e voltou a focar nos papéis, mas sentiu que ele sorria novamente, como se tivesse gostado da resposta.
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   se aproximou de uma das prateleiras próximas ao balcão e começou a passar os dedos pelas lombadas dos livros, parecendo à vontade demais para alguém que acabara de se apresentar.
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  — Você não tem nada melhor para fazer? — perguntou ela, sem desviar os olhos do que estava escrevendo.
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  — Não… — respondeu simplesmente. “lE você?
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  Ela largou a caneta, fechando os olhos por um segundo para não perder a paciência.
  — Olha, eu não sei o que você quer, mas se for um livro específico, posso ajudá-lo a encontrar. Caso contrário, sugiro que vá embora.
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   não respondeu imediatamente. Ele tirou um livro da prateleira e o abriu, folheando as páginas como se estivesse absorvendo cada palavra, antes de finalmente dizer:
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  — Talvez eu esteja aqui pelo que você ainda não sabe que está procurando.
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   se virou para ele, a expressão fechada.
  — Você gosta de falar por enigmas, não é? Muito conveniente para alguém que nem deveria estar aqui.
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  Ele fechou o livro com calma e devolveu-o à prateleira.
  — Enigmas são divertidos. Não acha?
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  Ela bufou, frustrada, e voltou a ignorá-lo, mas sentia que aquilo era apenas o início de algo que ela ainda não conseguia compreender.
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  O restante do dia de tomou um rumo completamente inesperado, como se a presença de tivesse alterado o curso habitual das coisas.
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  Logo após a breve troca de palavras, o sininho da porta da livraria começou a soar com uma frequência incomum para uma manhã de meio de semana. Um grupo de adolescentes entrou primeiro, rindo alto enquanto procuravam livros de fantasia. Depois, um casal de meia-idade apareceu em busca de um presente de Natal.
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  , ainda intrigada com , mal teve tempo para refletir. Ela estava ocupada demais procurando edições específicas nas prateleiras, ajudando clientes a escolher marcadores personalizados e lidando com pagamentos.
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  , para sua surpresa, não ficou apenas observando. Sem ser solicitado, começou a ajudar. Ele orientava clientes sobre livros como se fosse um funcionário da loja, sabia recomendar gêneros com facilidade e até organizava as filas que se formavam perto do balcão.
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  Em um momento, tentou repreendê-lo.
  — Eu não me lembro de ter contratado você.
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  Ele respondeu com um sorriso calmo:
  — Considere isso uma cortesia.
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  Apesar do incômodo inicial, ela não teve tempo para insistir na conversa. A livraria estava cheia como não ficava há anos. Entre risos, conversas animadas e sacolas cheias de livros indo embora com novos donos, notou que o movimento era quase mágico.
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  Quando o relógio finalmente marcou 18h, ela se apoiou no balcão, exausta, mas com um leve sorriso no rosto. O dia atípico tinha sido cansativo, mas surpreendentemente produtivo.
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  , que estava ajustando uma pilha de livros perto da entrada, olhou para ela e comentou:
  — Nada mal para uma terça-feira, não acha?
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   suspirou, relutante em admitir.
  — Eu nem sei o que aconteceu hoje. Foi como se…
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  — Como se algo diferente estivesse no ar? — Ele completou a frase antes que ela pudesse.
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  Ela o encarou, desconfiada, mas antes que pudesse perguntar algo, o sino da porta tocou novamente. O último cliente do dia entrou, e foi atender, deixando mais uma vez como um enigma sem solução.
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❄️❄️❄️

  Com o sino da porta anunciando a saída do último cliente, sentiu o peso do dia atípico finalmente cair sobre seus ombros. A livraria estava uma bagunça controlada — livros fora do lugar, embalagens abertas e o balcão coberto de anotações e recibos.
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  , sem que ela precisasse pedir, já estava ajudando a reorganizar tudo. Ele ajeitava as pilhas de livros com uma naturalidade irritante, como se aquele fosse seu lugar desde sempre.
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  — Você leva jeito, vou admitir. — comentou, enquanto recolhia algumas embalagens do chão.
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  — Eu sou bom com livros — ele respondeu com um sorriso despreocupado, ajeitando a última prateleira.
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  Quando terminaram de arrumar o básico, limpou as mãos em um pano e se virou para ele, cruzando os braços.
  — Certo, . Se eu fosse mesmo considerar contratar você, eu precisaria fazer uma entrevista. Não acha?
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  Ele levantou as sobrancelhas, surpreso, mas logo abriu um sorriso divertido.
  — Uma entrevista?
  — É assim que as coisas funcionam, sabia? Não basta aparecer e começar a trabalhar como se a livraria fosse sua.
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   deu um passo em direção ao balcão, apoiando-se casualmente nele.
  — Então que tal um jantar… e uma entrevista?
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   piscou, sem saber se ele estava brincando ou falando sério. A proposta foi inesperada, mas, ao mesmo tempo, algo em sua voz fez com que ela hesitasse.
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  — Um jantar? — Ela repetiu, tentando manter o tom indiferente.
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  Ele apenas sorriu, enigmático como sempre, e ajeitou o cachecol antes de caminhar em direção à porta.
  — Pense nisso… — disse antes de abrir e sair para a noite fria, deixando parada no meio da livraria, sem saber se estava mais intrigada ou irritada com aquele homem misterioso.
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   trancou a porta da livraria, guardando a chave no bolso do casaco enquanto a noite fria envolvia o centro da cidade. Quando se virou para atravessar a rua, viu parado do outro lado, encostado em um poste, iluminado pelas luzes natalinas. Ele parecia estar esperando por ela, com aquele sorriso leve que já começava a deixá-la inquieta.
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  Ela hesitou por um instante, mas então atravessou a rua com passos firmes. Ao se aproximar, cruzou os braços, tentando manter uma postura defensiva.
  — Tudo bem — disse, finalmente, parando a poucos passos dele. — Vamos fazer isso. Jantar e entrevista.
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   arqueou uma sobrancelha, claramente divertido.
  — Ótima escolha — respondeu, com um tom calmo que a irritava levemente.
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  — Não pense que isso significa algo — apressou-se a acrescentar, apontando um dedo na direção dele. — É só porque quero entender que tipo de pessoa acha que pode invadir minha vida desse jeito.
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  Ele riu baixinho, o som quente e despreocupado.
  — Entendido. Apenas um jantar e uma entrevista.
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   bufou, ainda incerta sobre sua própria decisão.
  — Tem uma pizzaria ali na esquina. Vamos resolver isso logo.
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  — Agora? — perguntou , surpreso, mas logo abriu um sorriso mais largo. — Perfeito.
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  Sem esperar uma resposta, ele a seguiu enquanto ela caminhava na direção indicada. A pizzaria tinha uma atmosfera aconchegante, com mesas de madeira e enfeites de Natal discretos. escolheu uma mesa no canto, longe da movimentação.
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  — Não se sinta confortável demais — disse ela, sentando-se e cruzando os braços.
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   puxou a cadeira oposta, sentando-se com uma naturalidade que a desconcertava.
  — Então, por onde começamos? — perguntou ele, com um olhar travesso.
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  — Eu faço as perguntas — retrucou , erguendo o cardápio para esconder o rosto por um momento.
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  Enquanto eles esperavam pela comida, a conversa oscilou entre perguntas práticas e comentários mordazes. Apesar de sua relutância inicial, não pôde deixar de notar como ele parecia saber exatamente o que dizer para quebrar suas defesas, mesmo que apenas por alguns instantes.
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  Conforme o jantar avançava, a livraria e o cansaço do dia ficaram temporariamente em segundo plano. Havia algo em , algo que ela não sabia se queria compreender ou simplesmente ignorar, mas que, de qualquer forma, fazia com que aquele jantar parecesse menos uma entrevista e mais um enigma esperando para ser desvendado.
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  O jantar prosseguia em um silêncio quase confortável. O som ambiente da pizzaria — risadas baixas, talheres tilintando, conversas em tons moderados — preenchia o espaço entre eles. cortava a pizza no prato com precisão quase metódica, enquanto comia com uma naturalidade irritante.
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  Quando o silêncio começou a pesar, ela ergueu o olhar e, com um tom descontraído, comentou:
  — Então, você existe mesmo. É uma pessoa real, afinal… você até come.
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   parou por um momento, o garfo no meio do caminho até a boca. Depois, riu alto, um som genuíno que fez algumas pessoas nas mesas próximas olharem curiosas.
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  — Achou que eu fosse o quê? — perguntou ele, com um brilho divertido nos olhos. — Uma assombração? Um ser místico que só você via?
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   tentou não sorrir, mas não conseguiu evitar o canto dos lábios se curvando discretamente enquanto ela fingia voltar a se concentrar no prato.
  — Quem sabe? — respondeu, com um leve tom de sarcasmo. — Sua entrada triunfal na minha livraria foi estranha o suficiente para justificar qualquer teoria maluca.
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  — Ah, então eu sou misterioso e estranho? — provocou ele, inclinando-se ligeiramente para frente. — Que combinação interessante.
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  Ela revirou os olhos, mas o calor subindo em seu rosto entregava que a provocação a afetava mais do que gostaria.
  — Não se empolgue, . Ser estranho não é exatamente um elogio.
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  Ele riu novamente, voltando a cortar sua pizza.
  — Estranho ou não, pelo menos consegui fazer você sorrir. Isso já é uma vitória.
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   ficou em silêncio por alguns segundos, tentando ignorar como ele parecia perceber coisas que ela preferia esconder.
  — Coma logo, . Tenho que abrir a livraria cedo amanhã.
  — Como quiser, chefe — respondeu ele, piscando em provocação antes de dar outra garfada em sua pizza.
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  Apesar do comentário dele, o resto do jantar fluiu mais leve, como se a risada dele tivesse quebrado parte da tensão. E, mesmo que ela não admitisse, algo naquela noite estava começando a parecer diferente.
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  Depois de terminarem a refeição, empurrou o prato vazio para o lado e pegou a bolsa. já estava com a carteira na mão, mas ela foi mais rápida.
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  — Eu pago a minha parte — disse ela, decidida.
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  — , não precisa. Deixe que eu…
  — Nem tente. Dividimos a conta — interrompeu ela, lançando-lhe um olhar firme que não deixava margem para discussão.
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  Ele suspirou, claramente divertido com a teimosia dela, mas acabou aceitando. Dividiram a conta, e quando terminaram, pegou seu casaco e levantou-se, pronta para sair.
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  — Obrigada pelo jantar — disse ela, com um tom que soava quase profissional.
  — Que tal me deixar acompanhar você até em casa? — sugeriu , já ao lado dela enquanto caminhavam para a saída.
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  — Não precisa — respondeu ela, imediatamente. — Minha casa não é longe, e eu sei me cuidar.
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  Ele ergueu as mãos em sinal de rendição, mas o sorriso no rosto dele mostrava que não parecia muito convencido.
  — Tudo bem, chefe. Boa noite, então.
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   assentiu e seguiu em direção à sua casa, as botas ecoando levemente contra o pavimento. A noite estava fria, mas clara, e o silêncio das ruas parecia reconfortante após o dia agitado.
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  No entanto, ao virar uma esquina, sentiu uma sensação estranha. Um leve arrepio percorreu sua espinha, como se estivesse sendo observada. Parou por um momento, fingindo ajustar o cachecol, e discretamente olhou para trás.
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  Lá estava ele. , a poucos metros, andando tranquilamente como se também estivesse voltando para casa, mas era óbvio que ele estava a seguindo.
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  Ela bufou, parando de repente e virando-se para encará-lo.
  — Você está me seguindo?
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  Ele parou no meio do passo, como se não esperasse ser confrontado tão rápido.
  — Não exatamente — respondeu, encolhendo os ombros. — Só quis garantir que você chegasse bem.
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  — Eu disse que não precisava — retrucou ela, cruzando os braços.
  — E eu ouvi. Mas sabe, é tarde, e as ruas podem ser perigosas.
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   o encarou por um momento, entre irritada e… tocada?
  — Se eu disser que não quero companhia, você vai insistir?
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   sorriu, aquele sorriso fácil e despreocupado que parecia desarmá-la.
  — Provavelmente.
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  Ela revirou os olhos, mas acabou soltando um suspiro resignado.
  — Tudo bem. Já que decidiu ser meu guarda-costas, ande logo. Não quero passar mais tempo no frio do que o necessário.
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  Sem dizer nada, ele se aproximou e acompanhou-a no restante do caminho. A presença dele, apesar de inesperada, não era tão desconfortável quanto ela temia. Mesmo que não admitisse, parte dela achava a companhia um pouco… reconfortante.
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  Quando chegaram à frente da casa de , parou por um instante, observando o lugar com atenção. Era uma casa pequena, de fachada simples, mas com um charme peculiar. As janelas tinham cortinas floridas que davam ao ambiente uma aura acolhedora, e havia um pequeno jardim na entrada, onde algumas luzes natalinas piscavam discretamente.
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   destrancou o portão e notou o olhar dele, que vagava pelo jardim e depois para a estrutura da casa.
  — O que foi? — perguntou, franzindo o cenho.
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   deu de ombros, um leve sorriso no rosto.
  — Não é nada. Só não esperava que você morasse em um lugar assim.
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  — Assim como? — retrucou, cruzando os braços, desconfiada.
  — Acolhedor — respondeu ele, dando um passo à frente. — Não sei por quê, mas imaginei algo mais… sério. Minimalista, talvez.
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   riu, mas sem muito humor.
  — Bem, o que posso dizer? Aparências enganam.
  Ele continuou olhando ao redor, notando detalhes como o banco de madeira sob a janela e os vasos de cerâmica cuidadosamente alinhados na varanda.
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  — É um lugar bonito. Combina com você, de certa forma.
  — Combina comigo? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Agora você vai dizer que também é um especialista em leitura de casas?
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  — Não. Mas sou bom em ler pessoas — respondeu ele, com aquele tom que a fazia questionar o quão sério estava sendo.
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  Ela balançou a cabeça, sentindo o coração acelerar um pouco com a forma como ele falava. Tentando ignorar a sensação, abriu a porta e se virou para ele.
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  — Bom, foi um longo dia. Acho que agora você pode ir, já que me trouxe sã e salva.
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   sorriu, mas não se moveu imediatamente.
  — Posso perguntar uma coisa?
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  — Já está perguntando.
  — Você não acha que, às vezes, o que a gente menos espera é exatamente o que estávamos precisando?
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   piscou, surpresa pela mudança repentina no tom dele. A pergunta parecia carregar mais significado do que ela queria admitir.
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  — Boa noite, — disse ela, escapando da conversa ao fechar a porta com um clique rápido, antes que ele pudesse responder.
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  Encostada contra a porta fechada, respirou fundo. Por mais que tentasse afastar, as palavras dele ecoavam em sua mente. O que ela menos esperava… exatamente o que precisava?
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  Lá fora, olhou para a porta por alguns segundos antes de dar meia-volta e desaparecer pela rua, um sorriso discreto no rosto.
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❄️❄️❄️

Quarto Capítulo

  Portsmouth, New Hampshire, 20 de Dezembro de 2024:

   caminhava pelas ruas ainda pouco movimentadas de Portsmouth. O ar frio da manhã mordiscava suas bochechas, e ela apertava o casaco ao redor do corpo, enquanto o vapor de sua respiração flutuava no ar. Apesar de estar acostumada ao inverno rigoroso da cidade, algo parecia diferente naquela manhã. Talvez fosse o resquício da estranha conversa da noite anterior com , que ainda ecoava em sua mente.
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  Ao dobrar a esquina, viu a fachada da livraria surgir, com suas letras douradas desbotadas e o letreiro indicando “ABERTO” ainda apagado. Mas algo chamou sua atenção: uma silhueta familiar encostada no batente da porta, com as mãos nos bolsos do casaco e um sorriso tranquilo no rosto.
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  .
  Ela parou no meio do caminho, respirando fundo antes de continuar.
  — Bom dia — disse ele assim que a viu se aproximar.
  — Está cedo demais para tanto entusiasmo — respondeu , franzindo o cenho, mas sem conseguir evitar um leve sorriso.
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  — Pensei que poderia ajudar a abrir a loja hoje — ele retrucou, ignorando o tom ácido dela e dando um passo para o lado enquanto ela destrancava a porta.
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  — Você faz isso com frequência? — perguntou enquanto empurrava a porta para abrir.
  — Isso o quê?
  — Decidir que vai trabalhar em uma livraria sem ser convidado.
   riu, um som leve e descontraído que ecoou pelo espaço vazio da livraria.
  — Digamos que eu gosto de ajudar onde sou necessário.
  — Ainda não decidi se você é necessário — ela murmurou, caminhando para trás do balcão e começando a organizar os papéis que havia deixado espalhados na noite anterior.
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  — Bem, pelo movimento de ontem, acho que está bem claro que sou.
   parou por um momento, levantando os olhos para ele, que ainda estava parado próximo à entrada, com aquele mesmo sorriso confiante.
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  — Você tem sempre que ter uma resposta para tudo?
  — Só quando sei que estou certo.
  Ela bufou, mas não conseguiu esconder a leve curva nos lábios.
  — Tudo bem, já que está aqui, pegue uma vassoura e faça algo útil — disse, apontando para o canto onde o utensílio estava guardado.
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   assentiu como se fosse um empregado exemplar, pegando a vassoura sem questionar.
  Enquanto ele começava a varrer, notou algo peculiar. Por mais que tentasse tratá-lo com certa distância, havia algo em que a desarmava. Talvez fosse o jeito despreocupado como ele se comportava ou a naturalidade com que parecia se encaixar na rotina da livraria, como se sempre tivesse feito parte dela.
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  E, apesar de si mesma, ela começava a se perguntar o que, exatamente, ele queria ao estar ali.
   estava reorganizando a pilha de papéis no balcão, perdida em pensamentos, quando uma ideia a atingiu como um raio.
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  Ela se virou abruptamente para , que estava tranquilamente varrendo um canto da livraria, como se realmente pertencesse àquele lugar.
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  — Espere um pouco — começou, estreitando os olhos. — Como você entrou aqui?
   ergueu os olhos para ela, uma expressão inocente no rosto que não convencia ninguém.
  — Você estava aqui fora quando cheguei. Como abriu a loja?
  Ele parou o movimento da vassoura, apoiando-a contra a parede enquanto caminhava na direção dela com um sorriso enigmático.
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  — É uma ótima pergunta.
  — Não brinque comigo, — disse ela, cruzando os braços. — A chave fica comigo. Não tem como você ter entrado antes de mim.
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  — Ah, mas eu não entrei antes de você.
  — Então como…
  Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse considerando como responder, mas acabou dando de ombros, um gesto que só aumentou a frustração de .
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  — Digamos que tenho meus métodos.
  — Isso não é uma resposta — retrucou ela, sentindo um misto de irritação e inquietação.
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   ergueu as mãos em rendição, mas o sorriso continuava lá, provocador.
  — Talvez um dia você descubra.
  — Talvez um dia eu chame a polícia — rebateu , embora soubesse que era mais provocação do que uma ameaça real.
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  Ele riu novamente, aquele som despreocupado que parecia sempre desconcertá-la.
  — Acho que você gosta mais da minha companhia do que quer admitir — disse ele, voltando para a vassoura e retomando o trabalho como se a conversa não tivesse acontecido.
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   suspirou, balançando a cabeça. Havia algo de profundamente irritante e, ao mesmo tempo, intrigante em . Algo que fazia com que ela quisesse entender melhor quem ele era — e o que estava fazendo ali.
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  O dia na livraria estava surpreendentemente movimentado mais uma vez. mal teve tempo de respirar entre atender os clientes, organizar as prateleiras e lidar com as vendas que pareciam não parar. Para sua surpresa, também estava à altura do ritmo frenético, ajudando com uma eficiência que a deixava tanto aliviada quanto intrigada.
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  Perto do meio-dia, enquanto o fluxo de pessoas começava a diminuir, ele sugeriu:
  — O que acha de fazermos uma pausa para almoçar?
   hesitou por um momento, olhando para os papéis que ainda precisavam de atenção e para a pilha de livros a serem organizados.
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  — Acho que podemos, sim. Mas só porque você está me ajudando a manter o ritmo.
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  Ele sorriu, pegando seu casaco rapidamente.
  — Considere isso uma recompensa pelo meu excelente desempenho.
  Ela revirou os olhos, mas não pôde evitar um leve sorriso enquanto pegava seu casaco e bolsa.
  Enquanto caminhavam pelo centro iluminado e decorado para o Natal, sentiu uma leveza que não experimentava havia algum tempo. O ar estava gelado, mas o sol fraco tornava o passeio mais agradável.
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  Foi então que , com a naturalidade de quem pergunta sobre o clima, soltou:
  — E então, você fez o que era pedido na carta?
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  O passo de vacilou levemente, e ela o encarou com os olhos semicerrados.
  — O que você quer dizer com isso?
  Ele ergueu as sobrancelhas, como se fosse óbvio.
  — Você sabe, o livro que deveria buscar.
  — Como você sabe sobre a carta? — A voz dela saiu firme, mas ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
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  — Eu sei de muitas coisas, . — deu de ombros, com um sorriso que parecia tanto tranquilizador quanto desafiador.
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  Ela parou de andar, cruzando os braços e o encarando.
  — Eu não gosto de enigmas, .
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  Ele parou também, voltando-se para ela com uma expressão mais séria.
  — Às vezes, respostas vêm na hora certa. Talvez você devesse confiar no processo.
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   soltou um suspiro exasperado, mas algo em seu olhar indicava que ele tinha conseguido plantar uma semente de curiosidade e inquietação dentro dela.
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  — Você é insuportável, sabia? — murmurou, retomando o caminho.
  — Já me disseram isso antes — respondeu ele, acompanhando-a com passos tranquilos.
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❄️❄️❄️

  Enquanto continuavam caminhando, manteve o olhar tranquilo sobre . Ele parecia medir cada movimento dela, como se entendesse algo que ela mesma ainda não compreendia.
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  — Se quiser, posso te acompanhar até o porão da livraria — disse ele de repente, com um tom despreocupado. — Caso tenha medo.
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   parou abruptamente, virando-se para ele com uma expressão de incredulidade.
  — Medo? — repetiu, cruzando os braços. — Por que eu teria medo do porão da minha própria livraria?
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   deu um sorriso provocador, inclinando levemente a cabeça.
  — Não sei. Talvez porque seja um lugar escuro, cheio de segredos… e porque você parece hesitar toda vez que ele é mencionado.
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  Ela revirou os olhos, claramente irritada com a provocação.
  — Não preciso de companhia, obrigada. Já passei tempo suficiente sozinha naquele porão para saber que o único perigo lá é tropeçar em caixas de livros antigos.
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  — Ainda assim — insistiu ele, com um brilho divertido nos olhos. — Não custa nada ter alguém por perto. Só por precaução.
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   estreitou os olhos, desconfiada.
  — Você está tentando me convencer a ir lá agora, não é?
  Ele deu de ombros.
  — Só estou dizendo que, quando você decidir, estarei por perto.
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  Ela soltou um suspiro frustrado e retomou o caminho, balançando a cabeça.
  — Você é impossível, sabia?
  — Ou talvez eu só esteja aqui para te ajudar — respondeu ele, com um sorriso enigmático.
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  A ideia ficou pairando na mente de enquanto continuavam o trajeto. Ela não queria admitir, mas algo dentro dela começava a considerar a possibilidade de realmente descer ao porão com . Afinal, o que ele sabia que ela não sabia?
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  Ao chegarem ao restaurante, mal teve tempo de abrir a boca antes que o proprietário, um homem robusto de cabelos grisalhos e avental manchado de molho, exclamasse:
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  — !
  O tom era uma mistura de surpresa e entusiasmo, o suficiente para fazer erguer as sobrancelhas em pura curiosidade. Ela olhou de para o homem, claramente esperando alguma explicação.
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  — Olá, senhor Park — respondeu , com um sorriso polido, mas um tanto desconfortável.
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  O senhor Park se aproximou, limpando as mãos no avental.
  — Faz tempo que não te vejo! Como anda a vida?
  — Tudo tranquilo — respondeu rapidamente, desviando o olhar por um instante. — Só de passagem por aqui, como sempre.
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   estreitou os olhos. Como sempre? Ele já esteve aqui antes? A pergunta ficou presa na ponta da língua, mas o sorriso meio forçado de a fez guardar o comentário para si mesma.
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  — Que bom! E vejo que trouxe companhia — disse o senhor Park, lançando um olhar para com um sorriso acolhedor. — Seja bem-vinda.
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  — Obrigada — respondeu ela, um pouco desconcertada com a troca de olhares que acontecia à sua frente.
  O senhor Park parecia prestes a dizer algo mais, mas cortou a conversa, apontando para uma mesa perto da janela.
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  — Vamos sentar ali. Estou morrendo de fome.
  Antes que pudesse argumentar, ele já estava caminhando até a mesa, deixando o senhor Park com um sorriso enigmático.
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  Quando se sentaram, ela não conseguiu se segurar.
  — “Como sempre”? — perguntou, apoiando os cotovelos na mesa e encarando .
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  Ele suspirou, abrindo o cardápio para evitar seu olhar.
  — Não é nada demais. Conheço o senhor Park de outras vezes em que passei por Portsmouth, só isso.
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  — Claro, só isso — repetiu , com um tom que deixava claro que não acreditava plenamente.
   ergueu os olhos, seu sorriso retornando, mas agora mais travesso.
  — Curiosa?
  — Nem um pouco — mentiu ela, pegando o cardápio com firmeza e o abrindo como se aquilo encerrasse a conversa.
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  Mas, enquanto fazia o pedido, não conseguia afastar a sensação de que havia muito mais naquele homem do que ele estava disposto a contar. E, aparentemente, a pequena cidade natalina não era tão estranha a ele quanto ela imaginava.
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   mal terminou de pedir quando , sem cerimônias, tirou o cardápio da frente dele e o encarou com um olhar sério.
  — De onde você conhece o meu avô? — perguntou, sem rodeios.
  Ele piscou, surpreso com a pergunta direta, mas logo recuperou a compostura.
  — Seu avô? — repetiu, como se estivesse ganhando tempo para formular uma resposta.
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  — Não se faça de desentendido, . O senhor Park o reconheceu, e você claramente conhece mais dessa cidade do que deixa transparecer. Então, vou perguntar de novo: como você conhece o meu avô?
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  Por um momento, ele pareceu ponderar. O sorriso travesso havia desaparecido, substituído por algo mais sério, quase melancólico. Ele baixou o olhar para as mãos entrelaçadas sobre a mesa e então voltou a encará-la.
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  — Digamos que ele e eu já cruzamos nossos caminhos algumas vezes — respondeu, sua voz baixa, mas firme.
  — Isso não é uma resposta — retrucou , inclinando-se levemente para frente. — Meu avô era um homem reservado. Ele não cruzava caminhos com ninguém assim, do nada.
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   soltou um suspiro, cruzando os braços e se recostando na cadeira.
  — E você? Quanto sabe realmente sobre ele?
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  A pergunta a pegou de surpresa, mas não deixou isso transparecer.
  — O suficiente.
  — O suficiente para não saber sobre o porão até encontrar a carta? — Ele arqueou uma sobrancelha, o tom desafiador.
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   sentiu o sangue ferver, mas não deixou que ele percebesse. Ela estava acostumada a manter uma fachada calma, mesmo quando a mente fervilhava de perguntas.
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  — Meu avô tinha seus segredos. Mas não estamos falando sobre mim agora — rebateu.
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   sorriu de canto, como se tivesse gostado da troca de farpas.
  — Não se preocupe, . Vou te contar tudo o que você quiser saber. No momento certo.
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  Ela bufou, cruzando os braços e desviando o olhar para o senhor Park, que estava ocupado servindo outra mesa.
  — Você é insuportável mesmo — murmurou, mais para si mesma.
  — Insuportável, mas útil — replicou ele, pegando o copo de água à sua frente.
   sentiu uma mistura de frustração e curiosidade. Algo em a deixava inquieta, como se ele soubesse exatamente como puxar as cordas certas. Mas ela não deixaria esse jogo barato durar muito tempo. Ainda não.
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   suspirou, tentando afastar os pensamentos que havia provocado. Quando o senhor Park voltou à mesa, ela rapidamente fez seu pedido:
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  — Uma salada com frango grelhado, por favor.
   arregalou os olhos e inclinou-se na direção dela.
  — É isso? Só uma salada?
  — Sim, isso mesmo — respondeu ela, sem dar muita atenção.
  Ele franziu o cenho, claramente insatisfeito.
  — , você sabe que está no meio de um dia agitado, certo? Isso não vai te sustentar até o final do expediente.
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  Ela revirou os olhos e se voltou para o senhor Park.
  — Ignore os comentários dele. Só traga a salada, por favor.
  O senhor Park sorriu, claramente achando graça na troca, antes de se afastar para preparar o pedido.
  — Estou falando sério — continuou , cruzando os braços. — Você deveria comer algo mais substancial. Uma salada é comida de coelho.
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  — E o que você sugere, então? Um banquete de Natal no meio da tarde?
  — Um bom prato de arroz, carne e vegetais não seria má ideia — respondeu ele com um sorriso travesso.
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  — Eu gosto de coisas leves no almoço — ela retrucou. — Além disso, quem disse que preciso da sua opinião sobre o que como?
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  — Só estou preocupado com sua energia, . Não quero que desmaie no meio da livraria — respondeu ele, levantando as mãos em um gesto de rendição.
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  Ela bufou, balançando a cabeça.
  — Não se preocupe, . Sei cuidar de mim.
  Ele deu de ombros, mas não parecia convencido.
  — Tudo bem. Mas não venha reclamar se acabar faminta antes do dia terminar.
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  — Você é chato — murmurou ela, olhando pela janela na tentativa de ignorar o sorriso satisfeito no rosto dele.
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  Poucos minutos depois, o senhor Park voltou com a salada dela e o prato generoso de , que incluía arroz, carne assada e uma porção de vegetais.
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  — Assim se come — provocou , olhando para o próprio prato e depois para o dela.
   fingiu ignorá-lo enquanto começava a comer, mas a provocação dele trouxe um sorriso quase imperceptível ao rosto dela.
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❄️❄️❄️

  De volta à livraria, o frio do lado de fora contrastava com o calor acolhedor que emanava das luzes e do aroma dos livros antigos. destrancou a porta, e segurou-a aberta para que ela passasse, lançando um sorriso despreocupado que ela tentou ignorar.
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  Assim que o expediente recomeçou, coisas curiosas começaram a acontecer novamente. Um casal entrou buscando um livro para presentear o filho, mas saiu com dois exemplares que eles próprios tinham lido durante a adolescência, comentando sobre como aquele lugar lhes trouxe nostalgia.
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  Pouco depois, uma mulher de cabelos grisalhos apareceu perguntando por um título obscuro que nem sabia que existia no estoque. , entretanto, encontrou o livro com uma rapidez impressionante, quase como se soubesse exatamente onde ele estava.
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  — Isso é incrível — disse a cliente, emocionada. — Meu pai costumava ler isso para mim quando eu era criança. Nem acredito que encontrei!
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   observava a cena com atenção, cada vez mais intrigada com a facilidade que demonstrava em lidar com os clientes e em encontrar livros que pareciam perdidos no tempo.
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  Mais tarde, um menino entrou com os olhos brilhando, segurando moedas cuidadosamente contadas na palma da mão. Ele queria comprar um pequeno livro de contos, mas o dinheiro não era suficiente.
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  — Espere aqui — disse , antes de desaparecer entre as estantes. Ele voltou com um exemplar mais antigo do mesmo livro, que custava um pouco menos. — Que tal este? É uma edição especial, com ilustrações.
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  O garoto saiu radiante, apertando o livro contra o peito.
  — Como você sabia que tínhamos aquele livro? — perguntou , cruzando os braços e estreitando os olhos.
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   apenas deu de ombros, com um sorriso enigmático.
  — Instinto.
  Conforme o dia avançava, parecia que a livraria tinha ganhado vida própria. Os clientes vinham e iam, compartilhando histórias emocionantes e reencontrando pedaços do passado em meio às prateleiras.
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  — Isso é surreal — murmurou , enquanto ela e organizavam alguns livros no balcão.
  — Talvez seja apenas a magia do Natal — respondeu ele com um brilho divertido no olhar, enquanto empilhava cuidadosamente mais alguns exemplares.
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   não sabia se acreditava em magia, mas não podia negar que o dia tinha algo especial. E, de alguma forma, sentia que tinha tudo a ver com isso.
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❄️❄️❄️

  O fundo da livraria era mais tranquilo, afastado do movimento principal dos clientes. As prateleiras ali eram mais antigas, algumas precisando de reparos, e se ocupava em reorganizar os livros que estavam fora de ordem. , como sempre, parecia disposto a ajudar, mesmo sem ser oficialmente contratado.
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  — Você sabe que não precisa ficar aqui até tão tarde, não é? — disse ela, sem tirar os olhos de uma pilha de livros.
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  — E perder a chance de explorar o universo fascinante de uma livraria? Nunca — ele respondeu com aquele tom leve que parecia irritá-la e diverti-la ao mesmo tempo.
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  Enquanto trabalhavam, um dos suportes de uma prateleira rangeu alto, e alguns livros começaram a escorregar.
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  — Cuidado! — exclamou, tentando segurar os volumes que caíam.
  No mesmo instante, se inclinou para ajudar, e os dois acabaram se esbarrando. perdeu o equilíbrio e, em um reflexo rápido, segurou-a pela cintura, impedindo que ela caísse.
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  — Você está bem? — perguntou ele, a voz próxima e suave.
  Ela olhou para cima, os olhos se encontrando. Por um momento, tudo pareceu suspenso no ar — os sons da livraria, as preocupações do dia, até mesmo o peso das dúvidas que ela carregava. O toque das mãos dele em sua cintura era firme, mas gentil, e o calor que emanava dele contrastava com o frio lá fora.
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   sentiu o coração acelerar, e, por mais que quisesse desviar o olhar ou dizer algo para cortar o clima, não conseguiu. parecia tão sereno, quase hipnotizante, com aquele sorriso que carregava um mistério que a intrigava e irritava ao mesmo tempo.
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  — Talvez você devesse considerar usar menos salto em ambientes perigosos como este — brincou ele, com um tom provocador que a fez estreitar os olhos.
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  Antes que ela pudesse responder, o som da campainha da porta ecoou pela livraria, anunciando a chegada de um cliente.
  — Parece que seu admirável ajudante precisa de uma pausa — ele disse, soltando-a com cuidado.
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   se recompôs rapidamente, ajustando a blusa e desviando o olhar enquanto murmurava algo ininteligível.
  — Eu vou atender o cliente — disse ela, tentando soar casual enquanto caminhava em direção ao balcão, sentindo as pernas um pouco trêmulas.
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  Quando ela olhou para trás, já estava de volta aos livros, como se nada tivesse acontecido, mas o sorriso no rosto dele sugeria que ele sabia exatamente o impacto que tinha causado.
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  O restante do dia passou de maneira inesperadamente tranquila, mas a tensão do momento no fundo da livraria ainda pairava no ar. se ocupou atendendo os clientes, organizando prateleiras e evitando qualquer troca de olhares prolongada com . Ele, por outro lado, parecia perfeitamente à vontade, como se nada tivesse acontecido.
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  Conforme a noite se aproximava, os últimos clientes foram saindo, agradecendo pela atenção. passou pelo balcão, anotando as vendas e organizando alguns papéis, enquanto fechava as cortinas das vitrines.
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  — Parece que foi um dia cheio novamente — comentou ele casualmente, caminhando até ela.
  — É, aparentemente você atrai sorte ou algo assim — respondeu , sem levantar os olhos das anotações.
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  Ele riu baixo, uma risada que ela sentia reverberar mais do que gostaria de admitir.
  — Pronta? — perguntou de repente, com um tom que parecia carregar um significado maior do que a simples pergunta.
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   parou o que estava fazendo e olhou para ele, confusa.
  — Claro, estou sempre pronta para ir embora — respondeu, pegando sua bolsa e se dirigindo à porta.
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   deu uma risada leve, aquela que soava como se ele soubesse algo que ela não sabia.
  — O porão, .
  Ela congelou por um instante, encarando-o com uma mistura de incredulidade e impaciência.
  — Ah, você ainda está com isso? — murmurou, tentando soar indiferente, mas o peso da carta e o mistério ao redor de voltaram a rondar sua mente.
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  Ele cruzou os braços, encostando-se na estante ao lado, com aquele sorriso tranquilamente provocador.
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  — Não precisa ir sozinha. Afinal, estou aqui para ajudar.
  Ela estreitou os olhos, balançando a cabeça como se tentasse se livrar de algum pensamento intrusivo.
  — Certo… Vamos acabar logo com isso.
  E com essas palavras, ela colocou a bolsa de lado, respirou fundo e começou a caminhar em direção à porta que levava ao porão. a seguiu, o silêncio entre eles carregado de expectativa.
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❄️❄️❄️

   parou diante da porta do porão. A madeira antiga exalava um cheiro leve de mofo misturado com tinta velha. O som das festas natalinas ao longe parecia abafado ali, quase inexistente. Ela segurou a maçaneta, hesitando por um momento, antes de soltar um suspiro e olhar para .
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  — Espero que isso não seja só mais uma perda de tempo.
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  — Talvez seja exatamente o oposto disso — respondeu ele, ainda com aquele sorriso tranquilo, mas com algo diferente nos olhos: uma mistura de paciência e algo que ela não conseguiu identificar.
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  Ela girou a maçaneta e empurrou a porta, revelando uma escadaria íngreme de madeira que descia para a escuridão. A luz fraca de uma lâmpada piscando no topo dava ao ambiente uma aparência ainda mais misteriosa.
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  — Ótimo — murmurou , cruzando os braços. — Claro que a lâmpada está quase queimando.
   passou por ela, descendo o primeiro degrau.
  — Vai ficar aí, reclamando, ou vai descer?
   bufou, pegou uma lanterna que estava pendurada ao lado da porta e começou a descer atrás dele, os degraus rangendo sob seus pés.
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  O porão era maior do que ela lembrava. Estantes velhas repletas de livros esquecidos estavam espalhadas ao longo das paredes, enquanto caixas empoeiradas se acumulavam em cantos aleatórios. No centro, havia uma mesa coberta com um pano escuro. acendeu outra lâmpada, que iluminou o espaço com uma luz amarela e suave.
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  — Faz quanto tempo que você não desce aqui? — perguntou ele, quebrando o silêncio enquanto examinava o lugar.
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  — Anos, provavelmente. Nunca tive motivo para vir — respondeu ela, passando a lanterna pelas prateleiras.
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  Ele se aproximou da mesa no centro da sala, levantando o pano para revelar uma pilha de livros antigos e um pequeno baú de madeira, fechado com um cadeado enferrujado.
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  — E agora? Encontrou um motivo?
   o observou por um momento, em silêncio, antes de se aproximar. Ela reconheceu o baú imediatamente.
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  — Esse era do meu avô — sussurrou, ajoelhando-se ao lado da mesa.
   a observava atentamente, mas não disse nada. Ela passou os dedos pelo cadeado, tentando abrir, mas estava preso.
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  — Droga, preciso da chave.
  — Ou você pode deixar que eu tente — sugeriu ele, inclinando-se levemente.
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  Ela levantou os olhos para ele, desconfiada, mas acabou cedendo.
  — Vai em frente, Sherlock.
   tirou algo do bolso: uma pequena chave de metal, antiga, que ele segurou entre os dedos.
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  — Como você tem isso? — perguntou , a voz repleta de surpresa e confusão.
  — Digamos que foi um presente do destino.
  Sem esperar uma resposta, ele colocou a chave no cadeado e o abriu com facilidade. O baú rangeu ao ser aberto, revelando um conjunto de cartas, fotografias e um pequeno caderno de capa de couro.
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   pegou o caderno com cuidado, seus dedos trêmulos. Na capa, estava gravado o nome de seu avô.
  — Isso… Isso não estava aqui antes. Eu tenho certeza.
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   apenas sorriu, mas dessa vez seu sorriso parecia carregado de algo mais profundo.
  — Talvez você só não estivesse pronta para encontrar.
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   abriu o caderno, suas mãos quase hesitantes, e começou a folhear as páginas. Cada palavra parecia puxá-la mais fundo em um passado que ela nem sabia que existia.
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  E, ao seu lado, permanecia em silêncio, observando com um olhar que parecia carregar segredos próprios.
  Conforme lia o caderno, a voz de seu avô parecia ecoar nas palavras rabiscadas naquelas páginas antigas. Eram anotações sobre a livraria, seus clientes, e… algo mais. Algo que fazia seu coração acelerar.
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  — “Aquele que entende o valor dos livros nunca estará sozinho”, — ela leu em voz alta, as palavras firmes mas carregadas de emoção.
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   inclinou-se ligeiramente, sua expressão curiosa, mas não interrompeu. Ele parecia saber o peso do momento para .
  — Ele escreveu sobre os livros como se fossem pessoas — ela disse, olhando para . — Meu avô acreditava que cada volume tinha uma história além do que estava escrito. Que cada dono deixava um pouco de si neles.
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  — Ele não estava errado — respondeu calmamente. — Livros têm uma alma, mesmo que as pessoas não percebam.
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   voltou sua atenção para o caderno, virando mais algumas páginas. Mas, de repente, algo chamou sua atenção. Um pequeno desenho no canto de uma página — um símbolo circular com detalhes intrincados.
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  — Isso parece um selo — comentou ela, apontando para o desenho.
   estreitou os olhos, olhando com atenção.
  — Parece mais um… marcador de localização. Algo que indicaria um lugar ou objeto específico.
   franziu o cenho, virando a página seguinte. Mais símbolos, seguidos por palavras que pareciam enigmáticas: “O livro não é apenas um objeto. Ele é a chave para a verdade que repousa abaixo de nós.”
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  Ela piscou, surpresa, e olhou para .
  — Isso soa como…
  — Uma pista? — ele completou, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
   sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Tudo aquilo parecia surreal demais, quase como se fosse parte de um enredo de ficção. Mas o olhar de , firme e atento, a mantinha ancorada na realidade.
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  — Acho que já tive emoção suficiente por hoje — disse ela, fechando o caderno com um suspiro.
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   inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando suas palavras.
  — Então você não quer descobrir o que isso significa?
  Ela ficou em silêncio por um momento. Queria — mais do que qualquer coisa, na verdade. Mas havia algo em que a deixava em dúvida. Ele era parte desse mistério ou apenas um espectador curioso?
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  — Quero… — admitiu, relutante. — Mas amanhã. Já está tarde, e eu ainda preciso organizar meus pensamentos.
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  Ele assentiu, parecendo entender.
  — Amanhã, então.
   recolheu o caderno e fechou o baú novamente, trancando-o com o mesmo cadeado. Quando se virou para , ele já estava no topo da escada, esperando por ela.
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  — Não vai me deixar sozinha aqui embaixo, não é? — perguntou, em tom de brincadeira.
  — Eu seria um péssimo acompanhante se fizesse isso — ele respondeu, estendendo a mão para ajudá-la a subir.
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  Ela hesitou por um segundo antes de aceitar, sentindo os dedos dele firmes ao redor dos seus.
  De volta ao térreo, trancou a porta do porão, guardando a chave no bolso.
  — Pronto. Mistério adiado para amanhã.
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   apenas sorriu, mas o brilho em seus olhos dizia que ele não acreditava que aquilo seria tão simples.
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  Quando saíram juntos da livraria, a noite já havia caído sobre Portsmouth, e o ar estava ainda mais frio. puxou o casaco para se proteger, lançando um último olhar para antes de se despedir.
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  Mas, mesmo enquanto caminhava de volta para casa, sua mente estava presa às palavras de seu avô e à presença de . Ela sabia que aquilo era apenas o começo.
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❄️❄️❄️

QUINTO CAPÍTULO

  Portsmouth, New Hampshire, 21 de Dezembro de 2024:

  O relógio mal marcava sete da manhã quando se aproximou da livraria, envolta em um casaco grosso e com um café na mão. O frio daquela manhã parecia mais intenso, mas ela estava determinada. A curiosidade sobre o que encontrara no caderno de seu avô não a deixara dormir direito.
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  Enquanto caminhava pela rua quase deserta, viu a livraria ao longe e… alguém em frente à porta.
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  — Não pode ser… — murmurou, apertando o passo.
  Lá estava ele, , com aquele sorriso despreocupado no rosto, como se estivesse ali há horas esperando por ela.
  — Bom dia, madrugadora — cumprimentou ele, as mãos nos bolsos do casaco.
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   parou a alguns passos dele, franzindo o cenho.
  — Como você sempre chega antes de mim?
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   apenas deu de ombros, o sorriso enigmático intacto.
  — Digamos que eu sou uma pessoa pontual.
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  Ela revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso.
  — Bem, hoje eu vim mais cedo porque… — Ela interrompeu a frase, ponderando se deveria compartilhar seu plano.
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  — Porque vai para o porão — completou ele, direto.
  — Como você… — Ela o encarou, desconfiada.
  — Não é difícil de adivinhar — respondeu ele com um tom divertido. — Você parecia intrigada ontem à noite.
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   soltou um suspiro e pegou as chaves para abrir a porta.
  — Tá, já que você sabe, vou aproveitar a sua presença. Pode me ajudar a carregar umas coisas?
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   abriu a porta para ela, entrando logo em seguida com a mesma familiaridade desconcertante de sempre.
  — Sempre disposto a ajudar — disse ele, enquanto ela colocava a bolsa no balcão.
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   suspirou novamente, indo direto para o porão. O dia ainda não havia começado oficialmente, e ela queria aproveitar aquele momento de calmaria antes que os clientes começassem a aparecer.
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  — Pode pegar aquela caixa ali no canto — — instruiu, apontando para um amontoado de papéis e objetos no fundo do porão.
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  Enquanto ele obedecia sem reclamar, ela abriu o baú novamente, retirando o caderno e os papéis que deixara lá na noite anterior.
  — Encontrei isso ontem — disse, mais para si mesma do que para ele.
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   colocou a caixa no chão ao lado dela e se ajoelhou para observar melhor.
  — Mais pistas?
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  Ela folheou o caderno, buscando os desenhos e as palavras que haviam chamado sua atenção.
  — Parece que sim… Mas ainda não sei como conectar tudo.
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  Ele permaneceu em silêncio, observando-a atentamente enquanto ela mergulhava nos pensamentos. Era como se ele tivesse uma paciência infinita para aquele processo, o que a deixava ainda mais intrigada.
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  — Você parece saber mais do que conta, — disse ela, sem tirar os olhos do caderno.
  — Talvez eu saiba algumas coisas… Mas estou aqui para ajudar, não para atrapalhar.
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   parou, levantando o olhar para ele, que a encarava com uma expressão que era difícil de decifrar.
  — E se o que está nesse caderno for algo importante? — perguntou ela, quase sem querer. — Algo maior do que eu posso imaginar?
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   deu um pequeno sorriso, inclinando a cabeça.
  — Então você terá que decidir se quer descobrir a verdade ou continuar vivendo como antes.
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   sentiu um arrepio, mas não respondeu. Havia algo naquelas palavras que soava como um desafio, e ela sabia que, de alguma forma, fazia parte daquele mistério.
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  — Vamos terminar de organizar isso — disse ela, desviando o olhar. — O dia ainda nem começou.
  Mas, no fundo, ela sabia que aquele dia seria diferente de todos os outros.
  Enquanto organizavam o porão, o silêncio entre e se tornou uma presença quase tangível. A luz fraca da lâmpada acima iluminava parcialmente o espaço, criando sombras que dançavam entre os livros e objetos antigos.
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   esticou o braço para alcançar uma caixa no alto da estante, e , que estava próximo, notou o esforço.
  — Deixa que eu pego — disse ele, com a voz calma, mas firme.
  — Eu consigo sozinha — rebateu, teimosa, mas antes que pudesse protestar mais, ele já estava atrás dela, pegando a caixa com facilidade.
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  Ele se inclinou ligeiramente sobre ela para colocá-la no chão, e a proximidade fez com que sentisse o calor dele, mesmo com o frio do porão. Por um instante, tudo pareceu suspenso: o ar, o tempo, os sons abafados da livraria acima.
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  — Você é sempre assim, teimosa? — perguntou ele, com um sorriso que ela não pôde ver, mas sentiu na voz.
  — Talvez — respondeu, virando-se para encará-lo, a poucos centímetros de distância.
  Os olhos dele a fixaram com intensidade, como se estivessem lendo algo além do que ela dizia. sentiu o coração acelerar, mas não desviou o olhar.
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  — Você sabe que não precisa carregar tudo sozinha, né? — Ele falou em um tom mais baixo, quase um sussurro.
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  — Eu estou acostumada — respondeu ela, mas a voz saiu mais suave do que pretendia.
  Por um momento, o mundo se restringiu aos dois. Ele parecia prestes a dizer algo, ou talvez a fazer algo, mas o barulho de um livro caindo de uma das caixas ao lado os fez recuar abruptamente.
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   se abaixou para pegar o livro, tentando disfarçar o rubor que subia pelas bochechas.
  — Talvez devêssemos continuar antes que tudo vire uma bagunça ainda maior — disse ela, tentando soar indiferente.
  — Talvez — respondeu ele, com um sorriso enigmático, antes de voltar ao trabalho, como se nada tivesse acontecido.
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  No entanto, a tensão no ar ainda pairava, um lembrete silencioso de que algo mais forte parecia crescer entre eles, mesmo que nenhum dos dois estivesse pronto para admitir.
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  O restante do tempo no porão foi preenchido com uma mistura de silêncio e diálogos ocasionais. tentava se concentrar nos livros e objetos antigos, mas sua mente voltava frequentemente para a proximidade que compartilhara com . Ele, por outro lado, parecia à vontade, como se a tensão de momentos antes não tivesse acontecido.
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  Quando finalmente subiram de volta à livraria, o ambiente acima parecia diferente. A luz natural do fim da tarde entrava pelas janelas, tingindo o espaço com tons quentes e dourados. suspirou aliviada, agradecida por deixar para trás a atmosfera intensa do porão.
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  Enquanto organizavam as últimas coisas antes de abrir a loja para o público, quebrou o silêncio.
  — Foi produtivo lá embaixo, não acha? — perguntou ele com um leve sorriso.
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  — Bastante — respondeu , sem olhar diretamente para ele, fingindo focar em um conjunto de marcadores de livros.
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  Ele não insistiu, mas o sorriso permaneceu em seus lábios, como se estivesse saboreando um segredo que só ele sabia.
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  Mais tarde…

  A livraria voltou a encher-se de clientes, e mergulhou no movimento. Mesmo assim, vez ou outra seus olhos encontravam enquanto ele ajudava algum visitante ou organizava uma estante. Ele parecia fazer parte daquele lugar, como se sempre tivesse estado ali.
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  Perto do fim do expediente, a loja começou a esvaziar. , sentindo o cansaço do dia, sentou-se por um instante no banquinho do balcão. surgiu ao seu lado, trazendo duas xícaras de chá fumegante.
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  — Aqui. Parece que você merece isso. — Ele entregou uma das xícaras a ela, sentando-se no outro banquinho.
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  — Obrigada. — Ela aceitou a bebida, deixando que o calor da xícara aquecesse suas mãos.
  O silêncio entre eles era confortável dessa vez, mas carregado de algo que não conseguia identificar. Quando ela terminou o chá, ele se levantou, estendendo a mão.
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  — Pronta para encarar o porão de novo amanhã?
  Ela bufou, cruzando os braços.
  — Não é como se eu tivesse escolha, certo?
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  — Não mesmo. — Ele riu, seus olhos brilhando com algo entre desafio e diversão.
  Ela sorriu, apesar de si mesma. Algo nele a desarmava, e isso a incomodava tanto quanto a intrigava.
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  Depois de mais alguns minutos ajeitando os últimos detalhes da loja, finalmente trancou a porta, sabendo que, amanhã, a presença de continuaria a desafiar suas certezas — e talvez abrir brechas para algo mais.
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❄️❄️❄️

   estava de joelhos na frente de uma caixa aberta, espalhando pelo chão algumas fotos antigas que encontrara enquanto organizava suas coisas. Cada imagem trazia memórias distintas: a infância cheia de livros e histórias contadas pelo avô, os almoços em família com conversas animadas e risadas, e sua mãe, sempre com aquele olhar ao mesmo tempo doce e severo.
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  Ela pegou uma foto específica, na qual estava com a mãe em um parque, ambas sorrindo. Foi tirada há muitos anos, antes de tudo mudar. suspirou, sentindo uma mistura de nostalgia e amargura. Sua mãe era a única parente viva que lhe restava, mas a relação entre as duas havia se desgastado ao ponto de não se falarem mais. Nem mesmo nas festas de fim de ano elas se comunicavam.
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  Ela passou os dedos pelo rosto da mãe na foto, uma pontada de saudade ameaçando escapar. Estava perdida nesses pensamentos quando ouviu uma voz vinda do lado de fora:
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  — !
  O som foi inesperado, e ela arregalou os olhos. Levantou-se rapidamente, indo até a janela da sala. Ao olhar para fora, deparou-se com parado na calçada, iluminado pela luz amarelada de um poste. Ele tinha as mãos nos bolsos do casaco, e um sorriso que misturava diversão e expectativa.
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  — O que você tá fazendo aqui a essa hora, seu maluco? — perguntou ela, com o cenho franzido.
  — Se arruma, vem para a praça comigo. — Ele disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
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  Ela piscou, confusa.
  — O quê? Não, eu já estava até indo dormir.
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   balançou a cabeça, ainda sorrindo.
  — Ah, por favor, . Eles vão fazer um recital de Natal. Vai ser incrível, você precisa vir comigo.
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  Ela cruzou os braços, olhando para ele como se quisesse acreditar que aquilo era uma brincadeira.
  — Recital de Natal? , sério, eu tô exausta.
  — Eu prometo que vale a pena. Só uma horinha, vai. Você não vai se arrepender. — A insistência dele era quase cativante, mas o brilho nos olhos de a fez hesitar.
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  Ela suspirou, derrotada, e balançou a cabeça.
  — Tá, me dá cinco minutos.
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  O sorriso de se alargou, e ele acenou animadamente.
  — Eu espero aqui!
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  Fechando a cortina, não conseguiu segurar um pequeno sorriso enquanto ia em direção ao quarto para pegar um casaco. O dia já tinha sido atípico o suficiente; por que não adicionar mais uma coisa à lista?
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❄️❄️❄️

   caminhava ao lado de , o frio da noite envolvendo os dois enquanto seguiam em direção à praça. Ele falava sobre como os recitais de Natal eram uma tradição na cidade, mas ela mal conseguia se concentrar nas palavras. Havia algo no ar – não só o cheiro de pinheiros ou o som distante de sinos, mas uma energia que fazia seu peito apertar.
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  Quando chegaram à praça, a visão era encantadora. Luzes brancas e douradas estavam penduradas entre as árvores, criando um teto de estrelas artificiais. Havia uma pequena multidão reunida, e no centro, um palco decorado com guirlandas e laços vermelhos. Um coral começou a cantar uma versão harmoniosa de Silent Night, suas vozes tão perfeitamente coordenadas que pareciam vir de outro mundo.
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  — Bonito, né? — comentou, observando-a de canto de olho.
  — É… mágico. — respondeu, ainda envolvida pela cena.
  Eles caminharam até ficarem mais próximos do palco. parecia estar mais interessado nela do que no recital, o olhar fixo em cada reação que ela tinha.
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  Enquanto o coral entoava as notas finais, flocos de neve começaram a cair. levantou o rosto, surpresa.
  — Não disseram que ia nevar hoje… — murmurou, estendendo a mão para capturar um dos flocos.
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  — Talvez seja um presente da noite. — disse, sua voz baixa e misteriosa.
  Os flocos brilhavam à luz das decorações, caindo suavemente, como se fizessem parte da música. Uma criança próxima agarrou o braço da mãe, apontando para o céu:
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  — Olha, mamãe! As estrelas estão dançando!
   levantou os olhos novamente e percebeu que as estrelas pareciam realmente mais vivas, piscando com intensidade incomum. Ela deu um passo para trás, sentindo uma pontada de nervosismo.
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  — , o que tá acontecendo?
  — Talvez… seja magia de Natal? — ele disse, com um sorriso pequeno, quase enigmático.
  Antes que ela pudesse questioná-lo mais, as luzes ao redor da praça se apagaram brevemente, deixando apenas a iluminação do palco e as estrelas no céu. As vozes do coral foram substituídas por uma melodia de violino que parecia encher o ar de emoção.
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   virou-se para , seus olhos refletindo a luz das estrelas e das lâmpadas do palco. Ele deu um passo mais próximo.
  — Eu sabia que você precisava ver isso.
  — Você sempre aparece e bagunça tudo… — sussurrou, com a voz quase falhando.
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  Ele sorriu de lado.
  — Talvez você precisasse de um pouco de bagunça.
  Antes que ela pudesse responder, inclinou-se lentamente. sabia que poderia afastar-se, que poderia dizer algo para cortar o momento, mas em vez disso, ficou imóvel. Seu coração parecia uma tempestade dentro do peito.
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  Quando seus lábios se encontraram, o mundo ao redor pareceu desaparecer. O beijo começou suave, como se ele estivesse testando o terreno, mas rapidamente tornou-se mais profundo, mais intenso. Havia uma energia naquele toque, algo que nunca havia sentido antes – como se o universo inteiro tivesse conspirado para aquele momento acontecer.
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  Os sons ao redor pareciam se misturar: o murmúrio da multidão, o som suave do violino e até mesmo os flocos de neve que caíam com delicadeza. Quando finalmente se separaram, percebeu que estava sem fôlego, e que também parecia sentir o impacto do momento.
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  Ele sorriu, tocando levemente o rosto dela com os dedos.
  — Eu estava esperando por isso desde o primeiro dia.
  — … — ela começou, mas as palavras fugiram.
  O som de aplausos irrompeu na praça, trazendo-a de volta à realidade. A multidão aplaudia os músicos no palco, mas sentia que aquilo também era uma celebração do momento que acabara de compartilhar.
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   segurou sua mão com firmeza, entrelaçando seus dedos aos dela.
  — Pronta para o próximo capítulo? — ele perguntou, com um brilho malicioso nos olhos.
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  Ela riu, balançando a cabeça, ainda sem acreditar no que acabara de acontecer.
  — Não sei o que vem a seguir, mas acho que sim.
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  Juntos, caminharam de volta pela praça, agora envoltos em uma nova conexão que parecia tão mágica quanto o recital que acabaram de presenciar.
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❄️❄️❄️

SEXTO CAPÍTULO:

  Portsmouth, New Hampshire, 22 de Dezembro de 2024:

   caminhava pelas ruas tranquilas de Portsmouth, com o ar gelado do inverno preenchendo seus pulmões. O vento carregava o cheiro de pinho e café, mas ela mal notava os detalhes ao redor. Sua mente estava presa na noite anterior, no momento em que tudo ao seu redor parecia ter parado, deixando apenas ela e . O beijo ainda estava fresco em sua memória, uma mistura de calor e confusão que fazia seu coração disparar cada vez que pensava nele.
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  Quando chegou à livraria, já viu a luz acesa e, pela vitrine, o perfil de organizando algo nas prateleiras. Ela respirou fundo, ajustando o cachecol ao redor do pescoço, tentando afastar os pensamentos antes de entrar.
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  — Bom dia, ! — a recebeu com um sorriso caloroso assim que o sino da porta soou. Ele parecia transbordar energia, como se a noite anterior tivesse tido um efeito completamente diferente nele.
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  — Bom dia. — Ela respondeu, mais reservada, caminhando até o balcão e pousando a bolsa ali.
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  Ele a seguiu com o olhar enquanto ela tirava o casaco, mas se mantinha concentrada em qualquer coisa que não fosse ele. Precisava manter o controle.
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  — Você tá bem? — perguntou, inclinando a cabeça, curioso com a atitude dela.
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  — Ótima. — Respondeu rapidamente, tentando parecer ocupada ao verificar o calendário no balcão. Mas sua mente estava em tumulto.
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  Depois de alguns instantes de silêncio, ela não conseguiu mais evitar. Se queria manter a sanidade, precisava de respostas. Virou-se para ele, os olhos firmes nos dele:
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  — Aonde você está ficando?
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   arqueou uma sobrancelha, surpreso pela pergunta direta.
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  — O quê?
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  — Você ouviu. Aonde você está ficando? E quanto tempo vai ficar? — Ela cruzou os braços, tentando manter a postura firme, mas o coração batia mais rápido do que deveria.
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  Ele desviou o olhar por um momento, coçando a nuca.
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  — Bom… Eu tô num lugar temporário, nada muito fixo.
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  — Isso não é uma resposta. — estreitou os olhos.
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   deu de ombros, soltando uma risada leve.
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  — Certo, tô numa pousada aqui perto. Quanto tempo vou ficar? Isso… depende.
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  — Depende de quê?
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  Ele a olhou nos olhos, e o sorriso brincalhão deu lugar a algo mais sério.
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  — De você.
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   sentiu o calor subir ao rosto, mas não desviou o olhar. Ela abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. sorriu novamente, mas desta vez com um ar de desafio, como se soubesse exatamente o que ela estava pensando.
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  — Não se preocupe. Eu não sou um problema tão grande assim, sou?
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  — Isso… ainda está para ser decidido. — Ela respondeu, virando-se para começar a organizar alguns papeis no balcão.
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  Enquanto ela tentava voltar ao trabalho, permaneceu encostado no balcão, observando-a com um sorriso de quem sabia que estava exatamente onde queria estar.
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   suspirou profundamente, tentando organizar os pensamentos e, principalmente, o coração. continuava ali, olhando para ela com aquele sorriso tranquilo que parecia ter o poder de desarmá-la completamente. Incapaz de aguentar o peso daquele olhar por mais tempo, ela pegou uma pequena pilha de papeis que havia deixado organizados no balcão.
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  — Aqui. — Disse, entregando-os para ele enquanto mantinha a expressão séria. — Os papeis da sua contratação finalmente ficaram todos prontos.
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   ergueu as sobrancelhas, surpreso.
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  — Minha contratação? Então é oficial? — Ele pegou os papeis, examinando-os com um sorriso divertido.
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  — Oficial só se você assinar. — respondeu, cruzando os braços.
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  Ele folheou os documentos, parecendo prestar atenção em cada detalhe, mas o sorriso não abandonava seu rosto.
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  — Sabe, isso é interessante… Eu nem pedi esse trabalho.
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  — Mas você agiu como se já fosse seu desde o primeiro dia. — Ela retrucou, arqueando uma sobrancelha.
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   deu uma risada baixa e balançou a cabeça.
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  — Touche. — Ele apoiou os papéis no balcão e olhou para ela. — Onde eu assino?
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   puxou uma caneta de um dos potes no balcão e a estendeu para ele.
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  — Aqui, aqui e… aqui. — Disse, apontando os campos necessários.
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  Ele assinou sem hesitar, entregando os papéis de volta para ela com um movimento exagerado, como se estivesse entregando algo grandioso.
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  — Pronto. Agora eu sou oficialmente seu funcionário. — Disse com m tom brincalhão, mas os olhos brilhavam com algo mais profundo.
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   pegou os documentos e os colocou em uma pasta, tentando ignorar o calor que subia por seu rosto mais uma vez.
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  — Espero que você seja tão eficiente quanto parece.
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  — Vou fazer valer a confiança. — Ele respondeu, inclinando-se levemente sobre o balcão, os olhos fixos nos dela.
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  Ela desviou o olhar, ocupando-se em guardar a pasta em uma das gavetas.
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  — Bem, tem algumas caixas novas na sala dos fundos. Você pode começar por lá.
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   soltou um suspiro dramático.
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  — Mal contratado e já sendo mandado pro trabalho pesado…
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  — Bem-vindo ao mundo real, . — Ela respondeu, e um pequeno sorriso escapou antes que pudesse impedir.
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  Ele riu e saiu em direção à sala dos fundos, deixando com a sensação de que tinha acabado de perder mais uma pequena batalha para ele.
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   sentou-se atrás do balcão, respirando fundo enquanto pegava novamente os papeis da contratação que acabara de assinar. Era um gesto automático, quase uma desculpa para desviar o pensamento do sorriso dele e, principalmente, do que acontecera na noite anterior. Mas, ao reler as assinaturas, algo chamou sua atenção.
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  O sobrenome dele.
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  Era de origem asiática, isso era óbvio, mas também não era completamente estranho para ela. “Kang”, ela murmurou para si mesma, franzindo o cenho enquanto os dedos passavam pelas letras no papel. Aquilo parecia familiar, mas não conseguia exatamente lembrar de onde.
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  Foi então que um pensamento surgiu em sua mente, algo enterrado no fundo de suas memórias. Seu avô. Houvera uma época, anos atrás, quando ela era adolescente, em que ele havia ficado meses fora em uma viagem misteriosa. Ele mencionava constantemente “negócios importantes” em outro país, mas nunca fora muito claro sobre o que estava fazendo ou onde exatamente estava.
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  Na época, achara que era apenas mais uma de suas excentricidades — seu avô sempre fora um homem enigmático, com histórias que pareciam saídas de um livro de aventuras. Mas agora, aquele sobrenome fazia algo dentro dela se acender. Será que havia alguma conexão?
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  Seu coração acelerou, e as perguntas começaram a se acumular na sua cabeça. Será que tinha algo a ver com aquela viagem? Com aquele período em que o avô dela esteve “desaparecido”?
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   fechou os papeis com força, tentando acalmar a mente.
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  “Isso é coincidência”, tentou dizer a si mesma. Mas algo dentro dela sussurrava o contrário. E era um sussurro insistente.
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❄️❄️❄️

  O restante do dia transcorreu em um ritmo curioso, repleto de pequenos acontecimentos que continuavam a reforçar o estranho magnetismo que parecia cercar . A livraria estava novamente cheia, com clientes entrando e saindo como se houvesse algo especial naquele lugar. Mais uma vez, parecia que o universo conspirava para fazer o dia ser movimentado e proveitoso.
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   ajudava com uma facilidade impressionante, seja atendendo os clientes com sua calma cativante ou reorganizando as estantes de forma impecável. , por outro lado, tentava ao máximo focar no trabalho, mas a presença dele era uma constante distração.
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  Por volta das 18h, o último cliente deixou a loja. O sino da porta soou, ecoando na livraria vazia. começou a apagar as luzes do salão principal enquanto ajeitava os últimos livros que haviam sido desordenados durante o dia.
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  Quando os dois se encontraram no centro da loja, as sombras das prateleiras ao redor pareciam criar uma bolha de intimidade entre eles.
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  Eles se encararam por alguns segundos, um silêncio cheio de expectativa se instalando. respirou fundo, tentando ignorar o nervosismo que sentia crescer.
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  — Preciso que você desça comigo até o porão — disse ela finalmente, quebrando o silêncio com uma voz firme, embora um pouco hesitante.
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   arqueou uma sobrancelha, um leve sorriso puxando os cantos de seus lábios.
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  — Finalmente pronta para enfrentar seus medos?
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  Ela revirou os olhos, cruzando os braços.
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  — Só vem comigo.
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  Ele assentiu, seguindo-a em direção à porta que levava ao porão. O ar ao redor parecia carregar algo mais do que a simples promessa de descer aquelas escadas; havia um peso, uma sensação de que aquela noite traria respostas… ou ainda mais perguntas.
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   girou a chave da pesada porta que levava ao porão, sentindo o coração acelerar. estava logo atrás, observando com curiosidade, mas sem dizer uma palavra. Ao empurrar a porta, um cheiro de madeira antiga e papel envelhecido escapou do espaço abaixo.
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  A escadaria de madeira rangeu sob seus passos, e a luz fraca da lâmpada pendurada no teto revelou um ambiente repleto de caixas, livros e móveis antigos. O porão era uma cápsula do tempo, um lugar que parecia ter permanecido intocado por décadas.
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  — O que exatamente estamos procurando? — perguntou, encostando-se em uma das estantes, com os braços cruzados.
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   não respondeu imediatamente. Seu olhar percorreu o ambiente até que encontrou um pequeno baú de madeira com ferragens desgastadas no canto mais distante. Era um item que ela lembrava vagamente de sua infância, mas nunca havia tido coragem de abrir.
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  — Isso — respondeu ela, apontando para o baú.
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  Com a ajuda de , ela arrastou o baú para o centro do porão. O ar parecia mais pesado, como se o ambiente guardasse segredos antigos. se ajoelhou, passando a mão pela superfície marcada pelo tempo. O baú tinha um cadeado enferrujado, mas a chave estava pendurada em um prego na parede ao lado.
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  Ela inseriu a chave no cadeado, que abriu com um estalo seco. Lentamente, levantou a tampa, revelando um amontoado de documentos, fotografias, cadernos e objetos pessoais que pertenciam ao avô.
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   pegou uma fotografia que estava no topo da pilha. Era uma imagem do avô em uma paisagem montanhosa, cercado por homens de diferentes origens. Seu olhar se fixou em um detalhe: um jovem entre eles, com traços familiares.
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  Ela ergueu a fotografia na direção de , o coração batendo mais forte.
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  — Esse é você? — ela perguntou, a voz carregada de incredulidade.
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   se aproximou, inclinando-se para ver a fotografia. Ele franziu o cenho, mas não pareceu surpreso.
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  — Não exatamente. Esse é meu pai — respondeu ele, a voz baixa, quase um sussurro.
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  A revelação fez o ar ao redor parecer eletrizado. começou a vasculhar os outros itens no baú, encontrando cartas e anotações que mencionavam viagens, descobertas e até mesmo enigmas que o avô dela havia deixado para trás.
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  — Meu avô sempre foi um homem misterioso, mas ele nunca falou sobre nada disso. E agora você aparece, sabendo coisas que nem mesmo eu sabia sobre ele. — Ela encarou , com uma mistura de desconfiança e curiosidade.
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  Ele deu um passo para trás, colocando as mãos nos bolsos.
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  — Há muitas coisas que ainda não posso dizer, . Mas o que você está encontrando aqui… talvez te ajude a entender por que estou aqui.
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  O olhar de era sincero, mas enigmático, como se ele carregasse um peso que não podia compartilhar completamente.
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   voltou sua atenção para o baú, encontrando um caderno de capa dura. Ao abrir, percebeu que as páginas estavam repletas de anotações em uma caligrafia familiar: do avô. Algumas páginas traziam esquemas detalhados, símbolos que pareciam antigos, e referências a algo que ele chamava de “A Porta”.
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  — O que é isso? — murmurou, mais para si mesma do que para ele.
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  , no entanto, se aproximou novamente, observando os desenhos com atenção.
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  — É o que você precisa descobrir — respondeu ele. — E, , talvez eu seja a única pessoa que pode te ajudar.
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  Ela o encarou, hesitante, mas sabia que ele tinha razão. As peças do quebra-cabeça estavam se revelando, e ela estava mais envolvida do que jamais imaginou estar.
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   fechou o caderno com um movimento firme, sentindo o peso do cansaço acumulado se intensificar. Ela encostou as costas contra uma das velhas estantes, os olhos se fechando enquanto tentava acalmar os pensamentos. A pressão de desvendar os mistérios do avô, a presença constante de e as emoções conflitantes a estavam desgastando.
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  — Então pare de fazer joguinhos e enigmas — ela disse, com a voz firme, mas carregada de frustração. — Me ajude, então. Eu estou cansada!
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  — Eu não estou tentando dificultar as coisas para você, — disse ele, a voz baixa, mas cheia de sinceridade. — Só… não é tão simples quanto parece.
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  Ela abriu os olhos, encarando-o com determinação.
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  — Simples ou não, eu preciso entender tudo isso. Meu avô me deixou algo que não faz sentido algum, e você parece saber mais do que diz. Então, se você está aqui para me ajudar, faça isso. Sem mais rodeios.
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   assentiu devagar, os lábios se curvando em um pequeno sorriso, quase imperceptível.
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  — Está certo. Sem mais enigmas — respondeu ele. — Mas você tem que prometer que, o que quer que a gente descubra, você não vai fugir disso.
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  — Fugir? — ela arqueou uma sobrancelha, sentindo uma pontada de desafio surgir. — Eu não sou de fugir, .
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  Ele se levantou, estendendo a mão para ajudá-la a se erguer.
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  — Ótimo — disse ele, com um tom mais leve. — Porque isso é só o começo.
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   aceitou a mão dele, levantando-se com um suspiro. Apesar de estar exausta, havia algo no olhar dele que a fazia acreditar que, juntos, poderiam desvendar os segredos que a assombravam.
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  Ela permaneceu de pé, ainda segurando a mão de por um instante a mais do que deveria. Quando percebeu, soltou-a rapidamente e cruzou os braços, tentando esconder o turbilhão de emoções que crescia dentro de si.
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  — E agora? — perguntou ela, tentando soar prática, mas a voz saiu mais suave do que pretendia.
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   não respondeu de imediato. O silêncio entre eles era pesado, carregado por algo que nenhum dos dois parecia disposto a nomear. Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles, o que fez recuar levemente até sentir as costas pressionadas contra a velha estante.
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  — … — começou, a voz baixa e cheia de hesitação, mas ao mesmo tempo firme. — Eu quero que você saiba que, por mais confuso que tudo isso seja, eu estou aqui com você. Não apenas por causa das pistas, ou do seu avô…
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  Ela engoliu em seco, os olhos presos nos dele, como se procurasse a verdade nas palavras que ele dizia.
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  — Então por quê? — perguntou, quase num sussurro.
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   ergueu a mão, hesitando por um breve instante antes de pousá-la de leve na lateral do rosto dela.
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  — Porque eu quero estar aqui. Com você.
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  O coração de parecia bater tão alto que ela teve certeza de que ele poderia ouvi-lo. Era insuportável a forma como estava tão perto, a voz dele tão próxima, o calor que emanava dele.
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  — Você é insuportável, sabia? — ela murmurou, tentando manter o controle, mas os lábios dela curvaram-se num sorriso involuntário.
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  — Isso é um elogio? — ele provocou, sorrindo de volta, mas com os olhos ainda fixos nos dela.
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  Antes que ela pudesse responder, inclinou-se lentamente, e ela não recuou. O espaço entre eles desapareceu, e seus lábios finalmente se encontraram novamente. Diferente do beijo na praça, este era mais profundo, cheio de intensidade e urgência, como se ambos soubessem que estavam ultrapassando um limite que não teria volta.
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   sentiu as mãos de em sua cintura, a puxando suavemente para mais perto, enquanto os dedos dela se apoiavam no peito dele, sentindo o ritmo acelerado de seu coração, que parecia espelhar o dela. Quando finalmente se afastaram, ambos estavam sem fôlego, mas o olhar que trocaram dizia mais do que qualquer palavra poderia.
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  — Você vai me deixar ainda mais confusa, sabia? — ela disse, a voz quase um sussurro.
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  — Talvez eu esteja aqui para fazer você encontrar as respostas certas — respondeu ele, sorrindo de forma enigmática.
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  Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso. Mesmo que sua mente estivesse cheia de perguntas, naquele momento, tudo parecia fazer um pouco mais de sentido.
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   respirou fundo, tentando se recompor depois do beijo. Ela se afastou alguns passos, buscando uma distância segura para organizar os pensamentos que corriam soltos em sua mente.
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  — Certo… — disse ela, voltando a si. — Se você está aqui para ajudar, então vamos começar de verdade. Nada de enigmas, . Apenas respostas.
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  Ele assentiu, com um sorriso mais contido dessa vez.
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  — Combinado. Vamos desvendar isso juntos.
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  Ela puxou um caderno de anotações e espalhou os papéis e pistas que tinham encontrado até agora sobre uma mesa improvisada no porão. Havia fotos antigas, cartas, um mapa que parecia indicar locais na Ásia e alguns recortes de jornais amarelados pelo tempo.
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  — Isso aqui… — ela apontou para o mapa. — Meu avô esteve nessas cidades. Algumas delas estão marcadas com datas. O que isso significa?
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   inclinou-se sobre a mesa, observando o mapa com atenção.
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  — Ele pode ter deixado algo nesses lugares, ou encontrado algo importante. Você mencionou que ele ficou sumido por meses, certo?
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  — Sim, ele dizia que estava em uma “expedição histórica”, mas nunca dava detalhes. Minha mãe sempre achou que era apenas uma desculpa para fugir dos compromissos familiares — respondeu .
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  Ela pegou uma das fotos e olhou para o homem sorridente ao lado de algumas figuras desconhecidas, provavelmente colegas de viagem. Ao virar a foto, havia uma anotação no verso: “Jinju, 1986. O começo de tudo.”
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  — Jinju… — ela murmurou, sentindo o peso da palavra. — Você conhece esse lugar?
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   hesitou por um instante, mas então respondeu:
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  — É uma cidade na Coreia do Sul. Histórica, cheia de mistérios. Eu estive lá uma vez. Pode ser o ponto de partida para entendermos mais.
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   encarou , buscando sinais de sinceridade. Ele parecia genuíno, determinado a ajudá-la.
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  — E você? — perguntou ela. — Como você sabe tanto sobre isso? Por que parece tão… envolvido?
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   respirou fundo, desviando o olhar por um momento antes de encará-la novamente.
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  — Porque meu avô e meu pai conheceram o seu pai. Eles trabalharam juntos em algum momento. Eu descobri isso há alguns anos e, quando comecei a investigar mais, tudo me trouxe até você.
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  As palavras de eram um misto de revelação e mistério, mas havia algo nítido em seu tom: verdade.
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  — Então, estamos ligados por algo que nem entendemos direito ainda… — disse, pensativa.
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  — Exatamente. E, se quisermos descobrir a verdade, vamos ter que juntar todas as peças.
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  Eles passaram o restante da noite analisando as pistas. ajudava a decifrar as anotações mais complicadas, enquanto fazia conexões entre os documentos. Aos poucos, o quebra-cabeça começava a fazer sentido: o avô de parecia ter estado em busca de algo que ele considerava valioso, não apenas historicamente, mas pessoalmente.
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  — Isso aqui… — apontou para uma das anotações no caderno. — Ele menciona “a chave para o legado”. Será que ele estava falando de algo literal?
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   segurou o caderno, analisando as palavras.
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  — Pode ser. Ou talvez seja uma metáfora. O que quer que seja, acho que estamos no caminho certo.
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   sentiu uma nova onda de determinação. Pela primeira vez, não estava sozinha nessa busca, e, com a ajuda de , as respostas pareciam mais próximas do que nunca.
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   e se concentraram nas anotações e nos papéis espalhados pelo porão. Ela escrevia rapidamente em um bloco de notas encontrado em uma das estantes antigas, enquanto ele organizava os documentos de forma mais metódica, separando por temas e datas.
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  — Então… — começou, enquanto anotava algo. — Se a frase “a chave para o legado” não for literal, talvez seja algo que ele achava que eu deveria continuar. Uma espécie de missão inacabada.
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   concordou, inclinando-se para olhar uma das cartas.
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  — Faz sentido. Ele claramente queria que você encontrasse isso, o que quer que seja. Essas cartas, mapas… foram todas deixadas para você.
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  Ela parou por um instante, apoiando o queixo na mão, pensativa.
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  — Mas por quê? Por que eu? Minha mãe nunca se interessou por essas coisas, é verdade, mas… Ele nem sabia se eu teria paciência para isso.
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   deu de ombros, com um sorriso leve.
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  — Talvez ele soubesse que você é exatamente a pessoa certa.
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   bufou, mas não conseguiu conter um sorriso de canto.
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  — E você, o que acha? Vamos encontrar algo importante?
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  Ele a olhou, sério por um instante.
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  — Acho que estamos mais próximos do que imaginamos.
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  O tempo parecia ter passado sem que percebessem. A pilha de papéis organizados por agora fazia sentido, e as anotações de começavam a formar um padrão. Eles trabalharam em silêncio por um bom tempo, com apenas o som das canetas e do farfalhar de papéis preenchendo o ambiente.
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  Foi quem notou primeiro.
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  — Você está bocejando.
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  — O quê? — olhou para ele, surpresa. — Não estou, não.
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  — Está sim — ele insistiu, apontando para ela com uma expressão divertida. — Isso é o que acontece quando você tenta vencer o cansaço.
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  — Não estou cansada — ela disse, mas bocejou novamente, traindo suas palavras.
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  Ele riu, e o som preencheu o espaço abafado do porão, trazendo um pouco de leveza ao momento.
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  — Certo, acho que é um sinal de que precisamos parar por hoje — ele sugeriu.
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   olhou para o caos organizado à sua frente e hesitou.
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  — Mas estamos começando a fazer conexões importantes…
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  — E você vai fazer conexões ainda melhores depois de uma boa noite de sono — respondeu, firme mas gentil. — Isso é um processo, . Não precisamos resolver tudo de uma vez.
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  Ela soltou um suspiro, percebendo que ele estava certo.
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  — Tá bom, você venceu.
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  Ele começou a recolher alguns papéis mais soltos, organizando tudo cuidadosamente.
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  — Amanhã podemos continuar de onde paramos. E prometo trazer café para você estar bem acordada.
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   sorriu de leve, enquanto ele guardava o caderno de anotações.
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  — Tudo bem. Mas se você não trouxer café, eu mando você embora.
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  Ele riu, balançando a cabeça.
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  — Pode deixar, patroa.
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  Subiram as escadas juntos, apagando as luzes do porão antes de fecharem a porta. Quando saíram da livraria, o ar frio da noite os envolveu, e sentiu a exaustão bater de vez.
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  — Vai direto para casa? — perguntou ele, enquanto trancava a porta principal.
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   ajeitou o cachecol no pescoço, sentindo o vento gelado da noite.
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  — Vou, sim. Já está tarde.
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   hesitou por um instante, antes de sugerir:
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  — Posso te acompanhar?
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  Ela virou o rosto para ele, a expressão suavizada pelo cansaço.
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  — De novo com isso?
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  — Não quero insistir, mas… é tarde, e o clima está pesado. Você sabe, nunca se sabe quem pode estar por aí.
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   suspirou, ponderando. Dessa vez, o cansaço e talvez um pouco da presença dele venceram sua resistência habitual.
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  — Tá bom, . Mas só dessa vez, não se acostume.
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  Ele abriu um sorriso satisfeito.
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  — Combinado.
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  Os dois começaram a caminhar lado a lado pelas ruas quase desertas da cidade. A conversa fluía de forma natural, com fazendo observações ocasionais sobre as ruas e as casas ao redor. percebeu que ele tinha um jeito peculiar de transformar o silêncio em algo confortável, como se não fosse necessário falar o tempo todo para se sentir à vontade.
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  — Sabe, você é teimosa — ele comentou com um tom descontraído, enquanto viravam uma esquina.
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  — E você é intrometido — ela rebateu, mas sem qualquer hostilidade na voz.
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  — Talvez seja mesmo. Mas, convenhamos, você precisa de alguém para te lembrar de descansar de vez em quando.
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  Ela riu, balançando a cabeça.
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  — Acho que você só quer uma desculpa para não me deixar sozinha.
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  — Talvez as duas coisas.
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  O tom leve da conversa dissipava o frio da noite, e se pegou relaxando mais do que imaginava. Quando chegaram à porta do prédio onde ela morava, ela parou e se virou para ele.
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  — Obrigada por me acompanhar.
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   colocou as mãos nos bolsos, inclinando levemente a cabeça.
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  — Sempre que precisar.
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  Por um instante, o silêncio caiu entre eles, mas não era desconfortável. Era cheio de algo que não sabia explicar, mas sentia profundamente.
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  — Boa noite, .
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  — Boa noite, . Durma bem.
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  Ela subiu as escadas, ainda sentindo o peso do olhar dele enquanto abria a porta do de casa. Ao entrar, um pequeno sorriso escapou, e ela não pôde deixar de admitir que, dessa vez, a companhia dele tinha sido exatamente o que precisava.
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SÉTIMO CAPÍTULO

  Portsmouth, New Hampshire, 23 de Dezembro de 2024:

   caminhava pelas ruas ainda cobertas de um leve manto de neve fresca. O frio da manhã mordiscava suas bochechas, e o ar gelado fazia com que sua respiração formasse pequenas nuvens enquanto ela se aproximava da livraria.
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  Ao virar a esquina, lá estava ele. , encostado na porta, com um sorriso descontraído no rosto e segurando uma embalagem de café para viagem com dois copos fumegantes.
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  — Bom dia — ele disse, com a voz tão calorosa que parecia aquecer o ar frio ao redor.
   parou diante dele, estreitando os olhos desconfiada, mas sem conseguir evitar um sorriso.
  — Você é sempre assim tão pontual?
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  — Só quando vale a pena — ele respondeu sem hesitar, oferecendo um dos cafés para ela. — Latte com um toque de canela, do jeito que você gosta.
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  — Como você sabe que eu gosto assim? — Ela pegou o copo, arqueando a sobrancelha.
  — Tenho meus métodos — ele brincou, e antes que ela pudesse responder, ele se inclinou para frente e a surpreendeu com um selinho rápido.
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   congelou por um segundo, os olhos arregalados, a mente tentando acompanhar o que acabara de acontecer.
  — ! — Ela exclamou, mais surpresa do que irritada, enquanto o calor subia para suas bochechas.
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  Ele deu de ombros, com um sorriso travesso.
  — É só um bom dia. Achei que merecia um toque especial.
  — Toque especial? — Ela balançou a cabeça, tentando esconder o rubor no rosto. — Você é muito atrevido, sabia?
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  — Já me disseram isso antes — ele respondeu, parecendo se divertir com a reação dela.
  Ela soltou um suspiro, sem saber se ria ou se o repreendia, mas acabou sorrindo de leve.
  — Entra logo antes que a gente congele aqui fora.
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   riu e a seguiu para dentro da livraria, fechando a porta atrás de si.
  Enquanto ela tirava o casaco e se preparava para mais um dia de trabalho, não conseguia evitar os pensamentos que rodopiavam em sua mente. O gesto dele, tão espontâneo, ainda fazia seu coração bater um pouco mais rápido.
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  E, pelo sorriso que carregava enquanto organizava alguns livros no balcão, ele sabia exatamente o efeito que causava.
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❄️❄️❄️

  A manhã na livraria transcorreu de forma tranquila, mas com uma energia palpável no ar. e trabalhavam em sintonia, quase como se tivessem feito isso juntos por anos. Entre organizar os livros recém-chegados e atender os poucos clientes que apareciam naquela manhã fria, a conversa fluía naturalmente, repleta de pequenas provocações e risadas ocasionais.
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  , sempre atento, parecia fazer questão de estar próximo, seja ajudando-a a alcançar livros nas prateleiras mais altas ou anotando pedidos especiais dos clientes. Apesar disso, tentava manter o foco no trabalho, ainda refletindo sobre o selinho inesperado que ele lhe dera mais cedo.
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  Quando o relógio marcava meio-dia, se aproximou, segurando dois sanduíches que havia preparado e trazido de casa, além de duas garrafas de água.
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  — Hora de uma pausa para o almoço. — Ele disse, colocando os itens no balcão.
  , que estava arrumando alguns papéis, levantou o olhar e arqueou uma sobrancelha.
  — Trouxe sanduíches para nós?
  — Claro. Se eu fosse esperar você sair para almoçar, talvez passássemos o dia todo sem comer.
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  Ela sorriu, aceitando o sanduíche.
  Os dois sentaram-se perto da janela, onde a luz do sol tímida iluminava o espaço. Enquanto comiam, o clima permaneceu descontraído, e os assuntos iam desde os livros preferidos de cada um até comentários sobre o movimento da livraria.
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  — Amanhã vamos abrir só até o meio-dia, por ser véspera de Natal — comentou casualmente, enquanto tomava um gole de água.
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   levantou o olhar, curioso.
  — Meio-dia? E o que você vai fazer depois disso?
  Ela deu de ombros.
  — Nada de especial. Geralmente, fico em casa, leio um pouco, talvez assista a algo na TV…
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  — Nada de visitas ou encontros familiares?
   hesitou por um momento, o olhar desviando para a janela.
  — Não, nada disso. Faz tempo que as coisas não são exatamente… normais na minha família.
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   não pressionou, apenas assentiu compreensivo.
  — Então, se você não tiver planos, podemos continuar as buscas no porão. Afinal, parece que estamos começando a encontrar respostas.
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  Ela riu baixinho.
  — Você não desiste, não é?
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  — Nem um pouco.
   balançou a cabeça, mas o sorriso no rosto mostrava que ela não achava a ideia ruim. O almoço seguiu leve, e mesmo sem dizer nada, ambos sabiam que estavam criando uma rotina que parecia estranhamente familiar e confortável.
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  O restante da tarde passou de forma produtiva na livraria. e trabalharam lado a lado, intercalando momentos de concentração com pequenas conversas descontraídas. O movimento foi modesto, com alguns clientes entrando para comprar presentes de última hora ou buscar encomendas feitas anteriormente.
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  , como sempre, se mostrou solícito e eficiente, ajudando os clientes a encontrarem o que precisavam e organizando os livros devolvidos às prateleiras. , por outro lado, dividia seu tempo entre administrar o caixa e reler as anotações feitas no porão.
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  Quando o relógio marcou seis horas, o céu já estava completamente escuro, e a livraria começou a esvaziar. caminhou até a porta e girou a placa para “Fechado”.
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  — Acho que por hoje terminamos — ele disse, se espreguiçando com um sorriso satisfeito.
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   olhou para ele, hesitante.
  — Pode ser que sim para você, mas eu vou ficar mais um pouco. Quero tentar descobrir mais coisas lá no porão.
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   franziu o cenho, preocupado.
  — Tem certeza? Você precisa descansar, .
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  Ela deu de ombros, caminhando até o balcão para pegar o caderno de anotações.
  — Estou acostumada a ficar até mais tarde aqui. E, sinceramente, não quero perder o fio da meada.
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  Ele cruzou os braços, encostando-se ao balcão.
  — Quer companhia?
  — Não precisa. Você já ajudou muito hoje — respondeu ela, mas a voz saiu um pouco menos firme do que pretendia.
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   não pareceu convencido, mas respeitou a decisão dela.
  — Tudo bem. Mas se você precisar de algo, me liga, ok?
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   sorriu de leve, grata pela preocupação.
  — Pode deixar.
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  Com isso, ele pegou o casaco e se despediu, lançando um último olhar na direção dela antes de sair pela porta principal. , por sua vez, soltou um longo suspiro, fechou a porta que levava ao porão atrás de si e desceu as escadas, pronta para mergulhar mais fundo nos mistérios que seu avô havia deixado para ela.
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   desceu as escadas do porão com passos firmes, mas o coração ligeiramente acelerado. O silêncio ali embaixo parecia mais pesado à noite, mas ela se acostumara a isso ao longo dos anos. Ao alcançar a mesa que usava como base de trabalho, soltou o caderno de anotações e espalhou os papéis que ajudara a organizar mais cedo.
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  Ela começou revisando as anotações feitas no dia anterior, tentando encontrar padrões ou conexões que não percebera antes. Cada carta, cada mapa, cada símbolo rabiscado parecia ter um propósito maior, mas era como montar um quebra-cabeça sem saber exatamente como a imagem final deveria ser.
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  “Uma chave para o legado.” As palavras ecoavam em sua mente enquanto ela passava os dedos por um pequeno mapa desgastado que havia encontrado entre os documentos. Havia marcas em pontos específicos e, no canto, um símbolo estranho que parecia um “T” estilizado.
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   franziu a testa, pegando uma lupa que estava ali por acaso. Ela examinou o símbolo mais de perto e percebeu pequenos traços que, à primeira vista, pareciam apenas detalhes decorativos, mas que poderiam ser algo mais.
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  — O que você quis dizer com isso, vovô? — murmurou para si mesma.
  Enquanto mergulhava nos papéis, sua mente vagava de vez em quando para . O selinho daquela manhã ainda pairava na sua memória, e ela se pegava sorrindo sozinha antes de balançar a cabeça e voltar ao trabalho. Era difícil ignorar como ele parecia disposto a ajudá-la, mesmo quando ela mesma não tinha certeza de onde aquilo a levaria.
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  Depois de algumas horas, encontrou uma carta que não havia lido com atenção antes. A letra familiar do avô preenchia a página:
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  “Minha querida neta, se você estiver lendo isso, é porque o momento chegou. Confie no instinto que corre em suas veias. Este legado é mais do que livros e mapas; é sobre a essência de quem somos. Você não está sozinha nessa jornada. Há aqueles que compartilham do mesmo sangue e do mesmo propósito.”
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  Ela parou, sentindo um arrepio subir pela espinha. As palavras pareciam destinadas a ela agora, como se seu avô soubesse exatamente o que ela precisaria ouvir.
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  Antes que pudesse interpretar mais, ouviu um ruído vindo do andar de cima. Parou, segurando a respiração.
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  — ?
  A voz inconfundível de ecoou pela escada. Ela levantou-se rápido, subindo até a porta do porão. Ao abri-la, viu segurando uma sacola de papel, com um sorriso meio culpado.
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  — Eu não consegui ficar em casa sabendo que você estaria aqui sozinha. Então trouxe comida.
   o encarou por um momento, surpresa, mas logo abriu espaço para ele entrar.
  — Você realmente não sabe respeitar a privacidade de uma pessoa, não é? — disse com uma ponta de humor, escondendo a gratidão.
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  — Só estou cuidando da minha chefe — respondeu ele, entrando e colocando a sacola sobre a mesa.
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  Enquanto ele tirava os recipientes de comida, ela o observou, sentindo algo aquecer em seu peito. Talvez, afinal, ela não estivesse tão sozinha nessa jornada quanto imaginava.
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   respirou fundo, sentindo o aroma da comida que trouxera se misturar com o ar envelhecido do porão. Enquanto ele terminava de organizar os recipientes na mesa improvisada, ela não conseguiu evitar que sua mente voltasse às palavras da carta de seu avô: “Este legado é mais do que livros e mapas; é sobre a essência de quem somos.”
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  — Você encontrou algo novo? — perguntou , enquanto se sentava, observando-a com curiosidade.
  Ela balançou a cabeça, mais para si mesma do que para ele.
  — Talvez. Meu avô era um homem peculiar, mas isso… isso é maior do que eu imaginava. Ele deixou tantas pistas, mas parece que ele queria que eu chegasse às respostas sozinha.
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   a encarou por um momento antes de pegar um pedaço de papel que ela deixara de lado mais cedo.
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  — Vamos por partes. O que sabemos até agora?
   suspirou, se sentando ao lado dele. Pegou o mapa desgastado que havia examinado antes e o colocou entre eles.
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  — Este mapa… os pontos marcados não são aleatórios. Eles correspondem a lugares específicos que meu avô mencionava em suas histórias. Lugares que ele visitou em viagens pelo mundo.
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   inclinou-se, analisando as marcas.
  — E este símbolo aqui? Parece um “T” estilizado.
  — Sim. Eu pensei que fosse apenas uma assinatura, mas agora acho que é mais do que isso. Pode ser um emblema, algo que ele criou para representar… não sei, talvez nossa família, nossa linhagem.
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   franziu a testa, pensativo.
  — E a carta que você leu? Ele mencionou “confie no instinto que corre em suas veias”. Isso soa como algo hereditário. Talvez ele acreditasse que você tivesse algum tipo de… conexão especial com esse legado.
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   o olhou, hesitando.
  — Meu avô sempre dizia que a família tinha um “chamado”. Algo que passava de geração em geração, mas ninguém nunca levava isso a sério. Só parecia uma dessas coisas que os velhos gostam de repetir.
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  — E se não for só isso? — sugeriu , com os olhos brilhando de entusiasmo. — E se ele realmente acreditasse que você era a pessoa destinada a continuar o que ele começou?
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   passou a mão pelos cabelos, pensativa.
  — Faz sentido… Ele sempre se referia ao passado como algo que precisava ser preservado, mas nunca explicou o porquê. E agora, com tudo isso…
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  Ela pegou outro papel, uma lista de objetos mencionados em uma das cartas.
  — Olha isso. Essa lista de itens. Alguns eu reconheço, porque estão aqui na livraria, mas outros… eu nunca ouvi falar.
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  — Como o quê? — perguntou , se inclinando para olhar.
  — Como esta “chave de jade”. Meu avô sempre mencionava uma viagem que fez à Ásia, mas nunca falou sobre trazer algo de lá.
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  Ela parou, arregalando os olhos.
  — Espere. Ele desapareceu por meses em uma viagem para a Coreia, lembra?
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   assentiu, intrigado.
  — Sim, você mencionou isso antes.
  — Minha mãe dizia que ele voltou diferente. Mais reservado, como se tivesse descoberto algo que não podia compartilhar.
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  Ela olhou para o símbolo no mapa novamente, como se estivesse enxergando-o pela primeira vez.
  — Acho que preciso encontrar essa chave de jade. Ela é a próxima peça do quebra-cabeça.
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   sorriu, inclinando-se mais perto dela.
  — E onde começamos a procurar?
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   mordeu o lábio, perdida em pensamentos.
  — Acho que o porão ainda guarda algumas respostas. Mas se não encontrarmos nada aqui, talvez… talvez tenhamos que buscar além da livraria.
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  O olhar de era firme, determinado.
  — Então vamos descobrir juntos.
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  O tom dele fez algo em se aquecer, e ela percebeu que, pela primeira vez, talvez estivesse realmente pronta para desvendar o mistério que seu avô deixara.
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   e se concentraram intensamente nos documentos restantes, suas mãos alternando entre folhear papéis amarelados e anotar possíveis conexões no bloco de notas. A atmosfera no porão era tensa, mas repleta de expectativa, como se algo prestes a ser revelado pairasse no ar.
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  — Olha isso — quebrou o silêncio, segurando uma carta dobrada com cuidado. — Está assinada pelo seu avô, mas tem um destinatário.
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   se aproximou rapidamente, espiando por cima do ombro dele.
  — “Para K.J. Kim, com esperança e lealdade.” — ela leu em voz alta. — Kim? Esse nome aparece em várias anotações dele.
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   assentiu, apontando para um trecho sublinhado na carta.
  — Aqui ele fala sobre “a chave que guarda a verdade”. Isso parece diretamente relacionado à tal chave de jade que mencionamos.
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  — Mas quem é K.J. Kim? — perguntou, mordendo o lábio enquanto folheava freneticamente outro caderno. — Deve ser alguém que ele conheceu na viagem à Coreia. Talvez tenha confiado algo importante a essa pessoa.
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   ficou em silêncio por um momento antes de pegar outro pedaço de papel que havia deixado de lado.
  — Espere, isso aqui… é um recibo. Ele é de uma remessa internacional enviada para Portsmouth.
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  — De onde? — perguntou, inclinando-se ainda mais para ler.
  — Da Coreia. É datado de um mês depois que ele voltou.
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  O coração dela acelerou.
  — Então a chave pode estar aqui, na cidade? Talvez até mesmo na livraria.
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  Eles começaram a procurar nos arredores com ainda mais determinação, revirando caixas, examinando objetos antigos e abrindo gavetas esquecidas. Depois de quase uma hora, parou ao lado de uma estante antiga, puxando uma pequena caixa de madeira que estava escondida atrás de uma fileira de livros.
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  — , veja isso.
  Ela correu até ele, ofegante, enquanto ele abria a caixa com cuidado. Dentro, havia um objeto envolto em tecido de seda. desdobrou o tecido com reverência, revelando uma pequena chave esculpida em jade verde.
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  — É isso. — sussurrou, com os olhos arregalados.
  A chave era incrivelmente detalhada, com um padrão intrincado que lembrava galhos de árvores se entrelaçando. No centro, o símbolo “T” estilizado estava gravado com precisão.
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  — É mais bonita do que eu imaginei… — ela murmurou, quase sem fôlego.
   olhou para ela, sério.
  — Isso confirma tudo. Seu avô deixou isso para você, . Ele sabia que você chegaria até aqui.
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  — Mas o que ela abre? — ela perguntou, segurando a chave como se fosse feita de vidro, tão preciosa parecia.
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   balançou a cabeça.
  — Ainda não sabemos, mas… — Ele apontou para o mapa. — Talvez a resposta esteja no próximo ponto marcado.
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   concordou, com uma determinação renovada brilhando em seus olhos.
  — Então é isso. Amanhã, depois do Natal, vamos até o próximo lugar.
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   sorriu, pegando o caderno para anotar o progresso deles.
  — Só se você prometer não tentar resolver tudo sozinha antes disso.
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  Ela riu, colocando a chave com cuidado de volta na caixa.
  — Prometo. Mas amanhã, , eu quero respostas.
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  Enquanto subiam as escadas para deixar o porão, sentia que, pela primeira vez, estava começando a desvendar o verdadeiro legado de seu avô. E, de alguma forma, sabia que essa era apenas a ponta do iceberg.
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OITAVO CAPÍTULO:

  Portsmouth, New Hampshire, 24 de Dezembro de 2024:

  A cidade estava ainda mais lotada e barulhenta do que o habitual. Carros buzinavam impacientemente enquanto pessoas carregadas de sacolas de compras se espremiam pelas calçadas, formando um caos típico da véspera de Natal. puxou o casaco para mais perto do corpo, encolhendo os ombros em uma tentativa de se proteger do vento cortante e da bagunça ao seu redor.
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  — Eu detesto essa época do ano — murmurou para si mesma, desviando habilmente de um grupo de adolescentes que corriam com gorros de Papai Noel. — Tudo vira um circo.
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  Assim que virou a esquina de casa, seu destino à vista, ela avistou vindo em sua direção. Ele caminhava depressa, o cachecol azul pendendo no pescoço de forma descuidada, o rosto marcado por uma expressão de urgência.
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  — ! — chamou, ofegante, quando finalmente a alcançou. Sem dar tempo para que ela processasse, ele segurou o braço dela e a puxou consigo.
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  — Ei, espera! O que está acontecendo? — protestou, tentando acompanhar o ritmo dele enquanto seus pés tropeçavam levemente no chão escorregadio. — Para onde você está me levando? Preciso abrir a livraria!
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  — Esquece a livraria por hoje — ele respondeu rapidamente, sem diminuir o passo. — Confia em mim, é importante.
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   tentou soltar o braço, mas ele estava decidido.
  — Importante o quê, ? Você sabe que não sou fã de surpresas, ainda mais numa manhã de véspera de Natal!
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  — E quem disse que você tem escolha? — ele retrucou, com um sorriso travesso, mas os olhos ainda brilhavam com algo que ela não conseguia decifrar.
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   suspirou, frustrada, mas percebeu que, conhecendo , era melhor ceder.
  — Se eu perder clientes por sua causa, você vai ter que compensar no próximo ano.
  Ele apenas sorriu, mas manteve o silêncio enquanto a conduzia pelas ruas, sem revelar para onde estavam indo.
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  Eles andaram por quase quinze minutos até que chegaram a uma construção abandonada na periferia da cidade. Era um prédio antigo, com paredes descascadas e janelas quebradas, cercado por uma atmosfera sombria que fez hesitar por um momento.
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  — Tá falando sério, ? — perguntou ela, franzindo a testa.
  — Calma, eu prometo que vai valer a pena — ele respondeu, puxando-a com mais delicadeza desta vez enquanto atravessavam o portão enferrujado.
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   olhou ao redor, desconfiada, enquanto eles entravam na construção. O interior era escuro e úmido, com cheiro de poeira e madeira velha. caminhava com confiança, como se já soubesse exatamente para onde ir.
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  — Você já esteve aqui antes? — ela perguntou, tentando esconder o desconforto.
  — Algumas vezes — ele admitiu, parando em frente a uma porta no fundo do corredor. Ele tirou do bolso um pequeno feixe de chaves e, com cuidado, escolheu uma delas.
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  — Espera… Isso é sobre aquela chave, não é? — perguntou, sua voz baixa enquanto as peças começavam a se juntar em sua mente.
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   apenas sorriu de canto e girou a chave na fechadura enferrujada. A porta se abriu com um rangido alto, revelando uma sala pequena e iluminada apenas por um feixe de luz que escapava de uma abertura no teto. No centro do cômodo, havia um baú de madeira antiga, com entalhes intrincados nas laterais.
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  — O que é isso? — perguntou, aproximando-se com cautela.
  — A chave que encontramos era só o começo — ele explicou, ajoelhando-se ao lado do baú e gesticulando para que ela fizesse o mesmo. — Isso aqui… é o que ela estava protegendo.
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  Ele girou a chave na tranca do baú, que se abriu com um estalo. segurou a respiração enquanto levantava a tampa, revelando o conteúdo: uma coleção de objetos antigos, mapas, e um diário com capa de couro.
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  — Isso… isso estava escondido aqui todo esse tempo? — ela perguntou, incrédula, passando os olhos pelo interior do baú.
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  — Não é incrível? — disse, a empolgação evidente em sua voz. — Isso pode ser a peça que faltava para entender tudo o que aconteceu.
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   olhou para ele, a surpresa ainda evidente em seu rosto, enquanto a curiosidade começava a vencer sua relutância. Ela sabia que aquilo era apenas o início de algo muito maior.
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  A loira sentou-se ao lado do baú, os olhos fixos nos objetos antigos. Ela passou a mão pelo diário, sentindo a textura do couro desgastado, e o abriu com cuidado. As páginas estavam repletas de anotações, esquemas e ilustrações que pareciam um emaranhado de ideias desconexas à primeira vista.
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  — Meu avô… — murmurou, sentindo uma mistura de emoção e confusão. — Ele sempre mencionava enigmas, histórias… mas eu nunca imaginei que ele tivesse deixado algo assim.
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  — O que exatamente ele dizia? — perguntou, observando-a com atenção.
   respirou fundo, tentando se lembrar.
  — Ele falava de um “tesouro da mente”, algo que não era ouro nem joias. Mas também dizia que ninguém o entenderia até o momento certo. Eu achava que eram apenas histórias para me entreter.
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   pegou um dos mapas do baú, analisando as marcas e anotações.
  — Isso aqui não é só história, . É um quebra-cabeça real. E parece que você é a peça central para resolvê-lo.
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  Ela fechou o diário e olhou ao redor.
  — Precisamos de tudo o que já encontramos. A chave, as cartas, as anotações… tudo. Vamos levar isso para minha casa e montar o quebra-cabeça.
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  A sala estava mergulhada no som abafado do relógio marcando os minutos. A mesa permanecia cheia de cartas, anotações e o diário do avô. mantinha os olhos fixos na última página que lera, as palavras pareciam vibrar em sua mente:
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  “Não existe cura para a dor que não passe pelo amor. Não existe vida plena sem reconciliação.”
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  — Isso é sobre a minha mãe — ela murmurou, quase sem querer admitir.
  , que estava sentado no braço do sofá ao lado, ergueu os olhos.
  — Claro que é. Você sabe disso desde o momento em que leu.
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   balançou a cabeça, frustrada.
  — Ele não podia simplesmente deixar um testamento como todo mundo? Uma conta bancária ou uma joia de família? Por que precisava ser isso?
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  — Porque ele sabia que esse é o tipo de coisa que realmente importa — respondeu com paciência. — E porque ele sabia que vocês precisavam disso.
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  Ela fechou o diário com força, empurrando-o para longe.
  — Eu não preciso de nada disso. Eu aprendi a viver sem ela.
   suspirou, inclinando-se para frente.
  — Você não aprendeu nada, . Você fugiu.
  — Fugir foi a única opção que ela me deixou! — ela rebateu, a voz elevando-se. — Depois que o meu pai morreu, ela simplesmente me ignorou. Eu era só uma adolescente, !
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  — E agora você é uma adulta. O que significa que você pode tomar a decisão de fazer as coisas diferentes.
  — Não quero fazer diferente — ela disse, cruzando os braços. — Não no Natal, não amanhã, talvez nunca.
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   ficou em silêncio por alguns segundos, os olhos buscando os dela.
  — Isso não é sobre ela, . É sobre você.
  Ela desviou o olhar, mas ele continuou.
  — Você está deixando o rancor definir quem você é. E eu sei que não é isso que o seu avô queria para você.
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   se levantou abruptamente, o som da cadeira ecoando pelo ambiente.
  — Não me diga o que ele queria ou deixava de querer! Eu já ouvi o suficiente, .
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  Ele também se levantou, a frustração finalmente transparecendo.
  — Então me diz o que você quer, ! Ficar sozinha? Continuar fingindo que não sente falta dela?
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  — Eu quero que você me deixe pensar! — ela explodiu. — É isso que eu quero.
  Ele deu um passo para trás, surpreso com a intensidade dela. Respirou fundo e assentiu.
  — Tudo bem. Eu vou dar espaço.
  Ele pegou o casaco e caminhou até a porta, mas antes de sair, virou-se para ela.
  — Só não esquece que o tempo passa, . E ele não espera ninguém.
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  A porta se fechou, e o silêncio voltou, mas desta vez era mais pesado, mais difícil de suportar.
   ficou de pé no meio da sala, olhando para a bagunça na mesa. As palavras de ecoavam na mente dela: “O tempo não espera ninguém.”
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  Ela sentou-se novamente, pegando o diário do avô. As páginas estavam cheias de histórias e conselhos que agora pareciam mais pessoais do que nunca.
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  “O perdão é uma escolha, não um sentimento. E é a escolha mais libertadora que você pode fazer por si mesma.”
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  Ela fechou os olhos, sentindo a pressão do que precisava fazer, mas a resistência ainda estava ali, teimosa.
  — Eu não consigo… — ela sussurrou para si mesma. — Não ainda.
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  Olhou para a janela, as luzes de Natal piscando do lado de fora, as casas decoradas e cheias de vida. O mundo seguia em frente, enquanto ela permanecia presa em seu próprio labirinto emocional.
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  Mas o que o avô teria feito?
  Essa pergunta ecoou em sua mente como um farol. Ela sabia que não podia ignorar para sempre, mas precisava de tempo para processar. Só não sabia se o tempo que queria era o mesmo que tinha.
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  Uma tentativa de clareza
   decidiu que precisava de algo para se sentir mais leve. Um banho parecia uma boa ideia — não resolveria seus problemas, mas talvez ajudasse a acalmar a mente.
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  No banheiro, o vapor começou a embaçar o espelho, ocultando o reflexo que ela mal reconhecia. Enquanto a água quente caía sobre sua pele, ela tentou organizar os pensamentos.
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  Primeiro, o avô. Ele sempre fora um pilar na vida dela. O homem que a ensinou a andar de bicicleta, a apreciar os pequenos detalhes da vida e, mais importante, a nunca perder a conexão com as pessoas que amava. “E o que eu fiz? Me afastei da minha mãe,” pensou, a culpa começando a pesar.
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  Mas então, havia a mãe. O relacionamento delas sempre fora complicado. Após a morte do pai, parecia que cada uma havia se recolhido para o próprio casulo de dor, incapazes de se alcançar. “Ela deveria ter sido o adulto da situação,” argumentava para si mesma. “Ela deveria ter vindo atrás de mim.”
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  Mas, agora, a verdade era clara: a reconciliação precisava partir de alguém. E talvez esse alguém fosse ela.
  A água quente começou a esfriar, mas continuou ali, apoiando a testa contra a parede de azulejos. A imagem de surgiu em sua mente. Ele era persistente, irritantemente certo em suas observações, mas também alguém que se importava profundamente. Ela odiava admitir, mas ele estava certo: seu avô queria que ela fizesse as pazes com a mãe, não apenas por elas, mas por ela mesma.
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  “E ?” A pergunta surgiu sem aviso, mas era impossível ignorá-la. Ele estava sempre ali, mesmo quando ela o afastava. Ele não tinha obrigação alguma de ajudá-la, mas fazia isso porque… porque se importava?
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   desligou o chuveiro, envolveu-se na toalha e voltou ao quarto. Sentou-se na cama, o cabelo pingando, enquanto olhava para o vazio. Sua mente girava entre três pessoas: o avô, a mãe e .
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  Era como se o avô tivesse deixado não apenas um legado, mas também um caminho a seguir, uma forma de enxergar a vida com mais compaixão e coragem. E, talvez, o primeiro passo fosse justamente dar o braço a torcer, mesmo que isso significasse enfrentar medos antigos.
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  “Eu preciso resolver isso. Com ela. Com ele. E talvez, comigo mesma.”
  Ainda não sabia exatamente como, mas sabia que não podia mais ignorar. Por enquanto, precisava se recompor. Amanhã seria Natal. E, talvez, uma oportunidade de começar de novo.
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❄️❄️❄️

   se levantou da cama depois de algum tempo refletindo. Decidiu que precisava fazer algo mais prático para ocupar a mente, então depois de se vestir começou a organizar algumas coisas pela casa. Limpou a pequena mesa da sala, arrumou a estante com os livros que estavam espalhados e, enquanto colocava ordem nas coisas, tentava também alinhar os próprios pensamentos.
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  Quando o relógio marcou meio-dia, seu estômago roncou. Preparou algo simples: uma sopa quente e um pedaço de pão que ainda tinha na cozinha. Comia lentamente, sem realmente sentir o gosto da comida, perdida em pensamentos.
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  Depois de lavar a louça, sentiu o peso do cansaço. O sono parecia convidativo e, apesar de relutar, decidiu se deitar no sofá. Adormeceu rapidamente, o som distante do mundo lá fora sendo substituído por uma tranquilidade momentânea.
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  Acabou sonhando.
  No sonho, ela estava em um campo aberto. O sol brilhava forte, e uma brisa suave fazia os cabelos dançarem. No horizonte, uma figura caminhava em sua direção. Reconheceu o avô imediatamente, com seu sorriso sereno e os braços abertos.
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  — Você está pronta para entender agora, minha menina? — ele perguntou, sua voz carregada de uma ternura familiar.
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  — Entender o quê? — respondeu, sentindo-se novamente como uma criança.
  — Que a vida não é sobre o que deixamos para trás, mas sobre como seguimos em frente. É sobre amor, sobre perdão. Sobre enxergar as pessoas que amamos enquanto ainda estão aqui.
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  Ela sentiu os olhos marejarem.
  — Mas… e se eu não souber como fazer isso?
  — Você saberá. Basta começar. O resto se ajeita.
  O avô deu um passo para frente e segurou suas mãos. Ela sentiu o calor do toque, como se fosse real.
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  — Confie em si mesma, . E não tenha medo de dar o primeiro passo.
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  Antes que pudesse responder, ele desapareceu, e tudo ao redor ficou em silêncio.
  Ela acordou com um sobressalto. O céu do lado de fora já estava tingido de laranja, marcando o fim do dia. Olhou para o relógio: eram 17h50.
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  Enquanto ainda processava o sonho, ouviu alguém chamando do lado de fora.
  — !
  Era a voz de . Ele chamava do portão, insistente, mas não irritado.
  Ela suspirou, levantou-se e foi até lá. Ao abrir o portão, encontrou-o parado com as mãos nos bolsos, o frio marcando o rubor em suas bochechas.
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  — Não vai querer passar a véspera de Natal sozinha, vai? — ele perguntou, com um sorriso que parecia carregar mais do que uma simples proposta.
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   cruzou os braços, olhando para ele.
  — Vou!
  — Estou dizendo que não. Vem, vamos fazer algo diferente — insistiu .
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   cruzou os braços e desviou o olhar.
  — Eu vou passar sozinha porque sempre foi assim. E está tudo bem.
  — Não, não está — ele retrucou, a determinação evidente em seu tom. — Eu não vou deixar você passar o Natal sozinha.
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  Ela soltou um suspiro exasperado, revirando os olhos.
  — Você é impossível.
  — E você é teimosa. Agora, vai me deixar entrar ou vou ter que pular o portão?
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   segurou o riso que ameaçava escapar. Resignada, ela abriu mais a porta e deu um passo para trás.
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  — Entra logo antes que eu mude de ideia.
   entrou com um sorriso satisfeito, tirando as luvas e esfregando as mãos para se aquecer.
  — Obrigado pela hospitalidade, senhora “estou bem sozinha”.
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  — Nem começa — ela respondeu, fechando o portão atrás dele.
  Mesmo com o clima tenso entre eles mais cedo, a presença de trazia uma leveza inesperada ao ambiente. Ela não sabia exatamente por que o deixara entrar, mas algo lhe dizia que, talvez, ela estivesse precisando disso mais do que admitia.
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   sentou-se no sofá com um suspiro, acomodando-se em um dos cantos. hesitou por um momento, mas acabou se sentando na outra extremidade, mantendo uma distância segura. O silêncio entre eles era quase palpável, mas não desconfortável. Seus olhares se encontraram algumas vezes, mas nenhuma palavra foi dita.
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  Ela mexia distraidamente nos próprios dedos, enquanto ele mantinha o olhar fixo em algum ponto indefinido da sala. Após alguns minutos de quietude, quebrou o silêncio.
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  — E a sua família? — perguntou, a voz baixa, mas curiosa.
   desviou o olhar para ela, suspirando profundamente antes de responder.
  — Na Coreia — disse, simplesmente, com um leve encolher de ombros.
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   o observou, captando um misto de saudade e aceitação em sua expressão.
  — Deve ser difícil estar tão longe deles… principalmente nessa época.
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  Ele sorriu de canto, sem muito entusiasmo.
  — É. Mas faz parte, não é?
  Ela assentiu, pensativa, sem saber exatamente o que dizer. Por algum motivo, aquilo a fez sentir um leve peso no peito, como se a solidão que ambos compartilhavam naquele momento os unisse de forma inesperada.
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   o observava atentamente, o olhar cheio de perguntas não ditas. O silêncio entre eles permaneceu por um momento antes que ela se inclinasse levemente, cruzando os braços.
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  — Então, você não tem nenhum problema com a sua família?
   riu baixinho, balançando a cabeça.
  — Nenhum. Na verdade, minha família é incrível. Sempre me apoiaram em tudo, mesmo quando eu cometi erros… e foram muitos.
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  Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada.
  — Então, por que veio parar aqui? — perguntou, ainda sem entender completamente.
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   desviou o olhar por um momento, como se estivesse organizando os pensamentos. Quando voltou a encará-la, havia algo sério e profundo em sua expressão.
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  — Como você me achou? E por que veio atrás de mim, ? — a voz dela saiu firme e direta, mas com um toque de vulnerabilidade.
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  Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos antes de começar.
  — Eu conheci seu avô em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Estava perdido, … completamente sem rumo. Achei que não tinha mais nada pelo que lutar ou viver. Foi quando, do nada, ele apareceu.
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  Ela franziu o cenho, inclinando-se um pouco mais.
  — Apareceu como?
  — Literalmente. Ele me encontrou em uma estação de trem, em Seul. Eu estava… pensando em fazer algo idiota — ele confessou, a voz carregada de um peso que ela não esperava. — Ele se aproximou, como se soubesse exatamente o que eu estava passando. Começou a falar comigo, contar histórias, compartilhar conselhos que pareciam saídos de um livro antigo, mas que faziam sentido de uma forma que eu nunca imaginei.
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   ficou em silêncio, absorvendo cada palavra.
  — Ele me fez ver que a vida não precisava ser perfeita para valer a pena. Que as pessoas que amamos e os momentos simples são o que realmente importam.
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  Ela engoliu em seco, as memórias do avô começando a inundar sua mente.
  — E… o que isso tem a ver comigo?
   desviou o olhar por um momento, parecendo hesitar antes de responder.
  — Antes de morrer, seu avô me fez prometer algo. Ele disse que havia alguém muito especial na vida dele, alguém que estava tão perdida quanto eu estava naquela época. E que, se ele não pudesse estar aqui para ajudar essa pessoa, eu deveria fazer isso por ele.
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  Os olhos de se arregalaram, o peso da revelação caindo sobre ela como uma maré.
  — Ele estava falando de mim…
   assentiu lentamente.
  — Ele acreditava que você só precisava de um empurrãozinho para enxergar o valor da vida de novo. Para perceber que ainda há amor, família… e que nunca é tarde para se reconectar.
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  Ela abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Sua mente estava uma confusão de emoções: choque, incredulidade, saudade… e algo que ela não conseguia identificar.
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   sentiu o nó em sua garganta crescer, apertando como se fosse sufocá-la. As palavras de ecoavam em sua mente, cada sílaba trazendo de volta memórias do avô, memórias de um amor que ela havia enterrado junto com ele.
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  Antes que pudesse se controlar, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Ela tentou conter o choro, mas foi inútil. Um soluço escapou, seguido por outro.
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  — … — começou, preocupado, mas ela não deu chance para ele continuar.
  De repente, como se um impulso tomasse conta dela, ela o puxou para um abraço apertado. Seu rosto se escondeu contra o ombro dele, e o choro veio com força. Um turbilhão de emoções a tomou: tristeza, culpa, arrependimento… mas também um estranho alívio.
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   ficou imóvel por um momento, surpreso, mas logo passou os braços ao redor dela, envolvendo-a com cuidado, como se temesse quebrá-la.
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  — Eu… eu não sabia — ela sussurrou entre os soluços, as palavras quase inaudíveis. — Eu me afastei de todo mundo… até dele. E agora… agora é tarde demais para pedir desculpas…
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  Ele afagou suas costas de leve, o gesto reconfortante, mas firme.
  — Não é tarde demais, . Não é tarde para fazer as pazes com quem ainda está aqui.
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  Ela o apertou ainda mais, como se pudesse se segurar àquelas palavras, àquela promessa de redenção. As lágrimas continuavam caindo, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que estava liberando algo que a vinha sufocando há anos.
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  — Ele acreditava em você, . E você não precisa fazer isso sozinha. Eu estou aqui.
  Ela não respondeu, mas o aperto em seus braços dizia tudo. Era como se, naquele abraço, ela estivesse se permitindo sentir outra vez, se permitindo acreditar que poderia consertar as coisas — com sua mãe, consigo mesma, e com a vida que ainda tinha pela frente.
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❄️❄️❄️

   abriu a geladeira, analisando os ingredientes disponíveis enquanto mexia em uma tigela na bancada. O clima estava mais leve agora, com o cheiro de algo simples, mas reconfortante, começando a tomar conta do ambiente.
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  — Parece que a gente vai improvisar, hein? — ele comentou, erguendo um pacote de queijo.
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  — Nada que eu já não esteja acostumada — ela respondeu, com um meio sorriso, enquanto misturava farinha e ovos.
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  O silêncio confortável os envolveu enquanto trabalhavam juntos, mas não conseguia afastar os pensamentos que a martelavam. Finalmente, largou a colher na pia e virou-se para ele.
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  — — começou, hesitando.
  — Hm? — Ele olhou para ela enquanto cortava tomates, as mãos habilidosas e precisas.
  — E os beijos? — ela disparou, cruzando os braços. — Faziam parte do plano também?
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   parou no mesmo instante, a faca imóvel na tábua. Ele ergueu os olhos para ela, surpreso, mas logo sua expressão se suavizou.
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  —
  — Porque se faziam, você é melhor do que eu pensava em cumprir promessas — ela continuou, tentando soar casual, mas sua voz tremia ligeiramente.
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  Ele largou a faca, respirou fundo e deu a volta na bancada, aproximando-se dela. Seus olhos estavam sérios, mas havia algo mais ali — algo caloroso e genuíno.
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  — Você pode não acreditar — começou, sua voz baixa e firme —, mas desde o momento em que seu avô me mostrou suas fotos, eu soube que queria você na minha vida, .
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  Ela piscou, surpresa.
  — Fotos?
  — Ele tinha uma foto sua na carteira. Me mostrou uma vez, quando estávamos conversando. Ele disse que você era teimosa, complicada e brilhante. E, mesmo assim, ele não parava de sorrir ao falar de você.
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   sentiu o rosto esquentar, o coração batendo acelerado.
  — Então, não, os beijos não faziam parte do plano — ele continuou, dando mais um passo à frente. — Mas eu não me arrependo deles.
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  O olhar dele encontrou o dela, e por um momento, o mundo pareceu diminuir, deixando apenas os dois ali, na cozinha iluminada por uma luz suave. Ela queria responder, mas as palavras pareciam presas na garganta.
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  — Então… o que fazemos com isso agora? — ela sussurrou, finalmente.
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  Ele sorriu, um sorriso tranquilo e cheio de significado.
  — Que tal descobrirmos juntos? — perguntou, a voz baixa, mas cheia de intensidade.
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   não respondeu de imediato, mas o brilho em seus olhos falava mais do que qualquer palavra poderia dizer. Ela sentiu o coração acelerar, como se algo estivesse prestes a se romper dentro dela, algo que ela nem sabia que estava segurando por tanto tempo.
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   deu mais um passo, diminuindo ainda mais a distância entre eles. Suas mãos ergueram-se hesitantes, parando no ar por um instante antes de pousarem suavemente nos braços dela.
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  — — ele murmurou, como se testar o som do nome dela em seus lábios fosse parte de uma confissão silenciosa.
  Ela não sabia o que a impulsionou, talvez fosse o peso de tudo que ele dissera, ou talvez fosse simplesmente a necessidade de se permitir sentir algo real depois de tanto tempo. Mas, antes que pudesse se conter, ela ergueu a mão e tocou o rosto dele, seus dedos traçando suavemente a linha do maxilar.
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  — Você é insuportável, sabia? — ela sussurrou, mas o tom de sua voz carregava mais doçura do que irritação.
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  Ele riu baixinho, e no instante seguinte, sem mais hesitar, fechou a distância entre eles.
  O beijo foi lento no início, como se ambos estivessem se dando tempo para absorver cada segundo. Os lábios dele eram firmes, mas gentis, movendo-se contra os dela com uma intensidade que a fazia esquecer de tudo — do jantar, da cozinha, até do ar ao redor.
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  Quando finalmente se afastaram, apenas o suficiente para se olharem novamente, deixou escapar um pequeno sorriso, seus olhos brilhando com algo entre felicidade e alívio.
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  — Isso responde sua pergunta? — ele provocou suavemente, a voz rouca.
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   não pôde evitar sorrir, sentindo o calor espalhar-se por seu peito.
  — Não sei… talvez você precise fazer de novo, só para eu ter certeza.
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  Ele riu, e antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, puxou-a para outro beijo, um pouco mais urgente, como se cada instante com ela fosse precioso demais para ser desperdiçado.
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❄️❄️❄️

  Os dois se acomodaram no sofá da sala, cada um com um prato equilibrado sobre as pernas e uma garrafa de vinho branco repousando na mesinha de centro. A TV, ligada em um volume baixo, transmitia uma programação natalina que parecia tentar resgatar um pouco da magia do feriado.
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   encarou a tela, mas sua atenção estava mais voltada para os próprios pensamentos do que para o filme que passava. Havia algo de reconfortante na cena, o calor do apartamento, a simplicidade do jantar improvisado e a presença de ao seu lado.
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  Enquanto ele ria baixinho de uma cena engraçada, se pegou refletindo. Quantos natais ela havia passado sozinha, ignorando a data como se não fosse importante? Por que, mesmo quando a mãe tentava uma reconciliação, ela insistia em manter a distância?
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  Seus olhos se desviaram para , que estava distraído saboreando o vinho. Ele parecia tão à vontade, como se pertencer àquele momento fosse a coisa mais natural do mundo. E talvez fosse. Ele era uma anomalia em sua vida, uma presença que chegou sem aviso, mas que agora parecia essencial.
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  “Eu estou diferente”, pensou. Era sutil, mas algo dentro dela havia mudado. Não era só por causa de , embora ele tivesse dado o empurrão necessário. Era como se todas as palavras de seu avô, os momentos em que havia se sentido perdida e agora a companhia de alguém que parecia acreditar nela, tivessem formado um mosaico de possibilidades que ela antes não enxergava.
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  — No que está pensando? — A voz de a trouxe de volta.
   piscou e percebeu que ele a observava com curiosidade.
  — Em como eu estava errada sobre muitas coisas — confessou, segurando o copo de vinho entre as mãos. — Sobre a vida… e sobre mim mesma.
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  Ele não disse nada, mas o olhar atento e o sorriso discreto indicavam que ele entendia.
  — Ainda dá tempo de consertar — disse ele, depois de um instante. — E você sabe disso, não sabe?
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  Ela respirou fundo, olhando novamente para a tela da TV. Uma família sorria enquanto decorava uma árvore de Natal, suas risadas enchendo a sala fictícia de um calor que mal se lembrava de ter sentido um dia.
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  — Talvez eu saiba — respondeu, baixinho.
  E, pela primeira vez em anos, ela realmente acreditou nisso.
  A noite dos dois continuou envolta em uma leveza que não sentia há muito tempo. Após terminarem o jantar, foram juntos para a cozinha lavar as louças. , com um sorriso travesso, decidiu espirrar um pouco de água na direção dela, o que a fez gritar em indignação e rir ao mesmo tempo.
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  — Ah, você vai ver só! — disse , armando-se com o esguicho da torneira.
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  O que começou como uma simples tarefa doméstica virou uma pequena guerra de água. Eles riam alto enquanto tentavam escapar das gotas ou planejar a próxima retaliação. Quando finalmente terminaram, ambos estavam um pouco molhados, mas o riso e a cumplicidade valiam a bagunça.
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  Depois de se secarem, voltaram para a sala. A programação natalina ainda passava na TV, mas nenhum dos dois realmente prestava atenção. se acomodou no sofá, e puxou-a para perto. Antes que percebesse, ela estava deitada com a cabeça apoiada no peito dele, sentindo a batida de seu coração. Ele acariciava seus cabelos, criando um silêncio confortável entre eles enquanto a noite avançava.
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  Pouco antes da meia-noite, suspirou e mexeu-se suavemente, despertando de seu devaneio.
  — Acho que já está na hora de eu ir — disse ele, levantando-se.
   o observou por um momento, sentindo uma pontada inesperada de vazio com a ideia de ficar sozinha novamente. Algo dentro dela hesitou, mas, antes que ele pudesse dar mais um passo em direção à porta, ela falou:
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  — … — Ele se virou, os olhos curiosos.
  — Sim?
  — Fica. Passa a noite aqui.
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  Ele pareceu surpreso, mas rapidamente se recompôs, um sorriso calmo surgindo em seu rosto.
  — Tem certeza?
  — Tenho. — Ela desviou o olhar por um instante, como se buscasse coragem. — Não quero passar o Natal sozinha.
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   não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele se aproximou novamente, sentou-se ao lado dela e segurou sua mão.
  — Então eu fico — disse ele, baixinho.
  E naquele momento, percebeu que, talvez, esse fosse o Natal mais significativo de sua vida.
   sorriu ao ouvir o pedido dela e, sem dizer mais nada, inclinou-se lentamente, seus olhos presos aos dela. não se moveu, mas seu coração disparava como se quisesse pular para fora do peito. Quando os lábios dele tocaram os dela, foi como se o mundo ao redor desaparecesse.
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  O beijo foi lento, cheio de emoções que palavras jamais poderiam descrever. Era um misto de alívio, gratidão e um sentimento novo, mas inegavelmente forte, que começava a se formar entre eles.
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  Quando se separaram, manteve os olhos fechados por um momento, absorvendo tudo. Então, abriu-os e sorriu levemente.
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  — Obrigada, — disse, com a voz suave.
  — Pelo quê? — ele perguntou, sua mão ainda acariciando delicadamente o rosto dela.
  — Por não ter desistido de mim… Por ter vindo até aqui, mesmo quando eu não queria enxergar o que era óbvio.
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  Ele sorriu, seu olhar cheio de ternura.
  — Nunca foi uma opção desistir de você, .
  Com um suspiro, ela tomou sua mão e o guiou até o quarto. Era simples, mas acolhedor, e olhou ao redor com curiosidade discreta antes de se sentar na beira da cama. se acomodou ao lado dele, observando-o.
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  — Feliz Natal, — disse ela, num tom baixo, mas cheio de significado.
  Ele virou-se para ela, com aquele sorriso que parecia iluminar até os cantos mais escuros de sua alma.
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  — Feliz Natal, .
  E assim, enquanto o silêncio da noite os envolvia, ambos fecharam os olhos, lado a lado, prontos para enfrentar o que o futuro lhes reservava, juntos.
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❄️❄️❄️

  Portsmouth, New Hampshire, 25 de Dezembro de 2024:

   despertou devagar, sentindo o calor dos primeiros raios de sol entrando pela janela. Espreguiçou-se e, ao virar para o lado, percebeu que o lugar ao seu lado na cama estava vazio. O lençol estava ligeiramente bagunçado, mas não havia sinal de .
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  Ela franziu o cenho, o sono dando lugar a um leve desconforto. Sentou-se devagar, os dedos puxando os cabelos para trás enquanto olhava ao redor do quarto em busca de algum sinal dele. Foi então que seus olhos pousaram em um pequeno pedaço de papel deixado sobre a cabeceira.
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  Com o coração disparado, estendeu a mão, pegando o bilhete com dedos trêmulos.
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  ,
  Precisei sair para resolver algumas coisas importantes, mas volto logo. Não se preocupe.
  

  Ela leu e releu as palavras, mas o vazio que começava a se formar em seu peito não cedia. “Volto logo.” Mas o que exatamente isso significava? Quanto tempo era “logo”?
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  O medo começou a tomar conta de seus pensamentos. E se ele não voltasse? E se tudo aquilo fosse só uma ilusão momentânea? Ela havia permitido que ele se aproximasse, que derrubasse as barreiras que construíra com tanto cuidado, apenas para… o quê? Para ele sair sem aviso e deixá-la sozinha?
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  Sua mente voltou a experiências passadas. Quantas vezes já havia se sentido abandonada? O afastamento da mãe, a morte do avô… era diferente, não era? Mas será que era mesmo?
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  Com um suspiro profundo, apertou o bilhete contra o peito, tentando controlar a onda de ansiedade. “Ele prometeu que não desistiria de mim”, lembrou-se. Mas mesmo assim, o medo persistia, cruel e teimoso.
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  Sem saber o que fazer, ela decidiu levantar e seguir com o dia. Mas algo no fundo de sua mente não a deixava em paz, um pequeno sussurro que repetia incessantemente: E se ele não voltar?
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   desceu para a cozinha, o bilhete ainda fresco em sua mente. Preparou uma xícara de café e colocou duas fatias de pão na torradeira. Enquanto esperava, abriu um livro que estava na bancada, tentando desviar seus pensamentos.
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  Sentou-se à mesa, a xícara de café quente entre as mãos, os olhos fixos nas páginas do livro. As palavras diante dela eram apenas borrões. Não importava o quanto tentasse, sua mente insistia em vagar, voltando para , para a noite anterior, e para o vazio que agora parecia maior do que nunca.
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  O bilhete parecia tão distante do calor e do conforto que ela sentira ao lado dele. Por que ele precisou sair? Ele volta mesmo?
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  Entre um gole de café e uma mordida no pão, sua mente começou a repensar as palavras do avô, as conversas da noite anterior e, mais do que tudo, a sensação de que algo dentro dela estava mudando.
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  “Você ainda tem tempo para consertar as coisas, .”
  Essas palavras ecoavam como um sussurro constante, trazendo consigo uma verdade que ela vinha evitando. Seu avô tinha razão. Ela não podia continuar fugindo de tudo e todos. Não podia continuar ignorando a ferida aberta com sua mãe.
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   olhou para o celular sobre a mesa. A ideia de ligar para sua mãe fez seu estômago revirar. Não se falavam há anos. O que ela diria? O que sua mãe pensaria?
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  Mas outra parte de si dizia que precisava tentar. Que não poderia viver para sempre com aquele peso no coração.
  Ela respirou fundo, o celular hesitando em suas mãos antes de finalmente desbloqueá-lo.
  Rolou até o número de sua mãe, sentindo as mãos trêmulas. Apertou para ligar e levou o celular ao ouvido.
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  O som dos toques parecia durar uma eternidade, e começou a duvidar de si mesma. Talvez ela nem atenda… Talvez seja melhor assim.
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  “Alô?”
  A voz familiar do outro lado da linha a congelou. Era sua mãe. O mesmo tom firme, mas com uma doçura que não ouvia há muito tempo.
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  Ela engoliu em seco.
  “Mãe… sou eu.”
  Houve um silêncio do outro lado, seguido por um leve suspiro.
  …”
  A voz da mãe parecia hesitante, quase incrédula.
  “Eu… eu sei que faz tempo, mas achei que… talvez fosse hora de conversarmos.”
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  Sua mãe ficou em silêncio por alguns instantes, mas quando respondeu, havia um calor inesperado em sua voz:
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  “Estou feliz que você ligou.”
   sentiu uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Talvez o avô tivesse razão. Essa ligação era o começo de algo que ela precisava há muito tempo.
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  Ela respirou fundo, ainda com o celular encostado no ouvido. Sua mãe estava do outro lado da linha, esperando.
  “Eu… Não sei bem como começar.” admitiu, passando os dedos pelo cabelo. — “Só sei que… que sinto muito.”
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  Houve um longo silêncio antes que sua mãe respondesse, com a voz embargada:
  “, eu também sinto muito. Nunca foi minha intenção que as coisas chegassem a esse ponto.”
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   apertou os olhos, lutando contra a torrente de emoções que ameaçava transbordar. As lembranças de discussões, mágoas e anos de silêncio voltaram à tona.
  “É difícil…” começou, a voz trêmula. — “Tudo isso… a ausência do vovô, as coisas que ele dizia… eu só…”
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  “Ele sempre acreditou em nós” — interrompeu sua mãe. — “Ele sabia que, no fundo, não importa quanto tempo passasse, encontraríamos um jeito de voltar uma para a outra.”
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  Essas palavras a tocaram profundamente, como se um peso estivesse sendo lentamente levantado de seus ombros.
  “Eu quero… tentar.” disse, a sinceridade em cada palavra. — “Não sei como, mas quero tentar, mãe.”
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  Do outro lado, ela ouviu sua mãe suspirar aliviada.
  “Isso é tudo que importa para mim, . Podemos dar um passo de cada vez.”
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  Elas ficaram em silêncio por um momento, um silêncio confortável, cheio de compreensão.
  “Você está bem” — sua mãe perguntou, quebrando o silêncio.
   olhou ao redor de sua cozinha, o livro esquecido, a xícara de café ainda quente. Pensou na noite anterior, nas palavras de , e no bilhete que ele deixara.
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  “Estou… tentando ficar.” — respondeu com honestidade.
  “Isso já é um grande começo.”
  Depois de prometerem conversar mais tarde, desligou a chamada. Ela ficou olhando para o celular em suas mãos por alguns segundos, sentindo um misto de alívio e vulnerabilidade.
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  Foi nesse momento que percebeu algo: a ligação foi o primeiro passo. O que viria depois ainda era um mistério, mas ela sabia que queria descobrir.
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  Com um suspiro, colocou o celular de lado e voltou a se concentrar no café da manhã. Enquanto terminava, um leve sorriso surgiu em seus lábios. Talvez, pela primeira vez em anos, as coisas estivessem começando a se alinhar.
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  E, de alguma forma, ela sabia que tinha sido parte essencial disso.
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❄️❄️❄️

   estava na sala, folheando distraidamente o livro que tentara ler durante o café da manhã, mas sua mente continuava a divagar. O som de batidas no portão a tirou do devaneio.
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  Ela franziu o cenho, mas seu coração acelerou ao reconhecer a voz inconfundível que a chamou:
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  — !
  Levantou-se imediatamente, deixando o livro de lado e caminhando até a janela para verificar. Lá estava , com o mesmo casaco pesado que ele usara na noite anterior, um sorriso cansado, mas genuíno.
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   abriu a porta e foi até o portão, cruzando os braços enquanto o encarava.
  — Resolveu voltar, hein?
  — Achei que você não fosse me deixar entrar. — Ele disse, brincando, mas havia uma pontada de seriedade em sua voz.
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  — E eu deveria? — ela retrucou, mas o canto de sua boca curvou-se levemente.
   deu de ombros.
  — Talvez não. Mas achei que deveria tentar mesmo assim.
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  Ela revirou os olhos, destrancando o portão para ele entrar.
  — Tá bom, entra logo antes que eu mude de ideia.
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  Ele entrou, e ela o seguiu até a sala. Quando se sentaram no sofá, finalmente perguntou:
  — Onde você foi?
  — Precisava resolver algumas coisas… pessoais. — respondeu, desviando o olhar por um momento. — Mas não queria sair sem deixar você saber.
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  Ela hesitou, observando-o com atenção.
  — Achei que… você tivesse desistido.
  Ele a encarou, surpreso.
  — Desistido de você? Nem por um segundo.
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  Essas palavras pegaram de surpresa. Ela desviou o olhar, sentindo-se exposta.
  — Eu liguei para minha mãe hoje. — contou de repente, como se precisasse preencher o silêncio.
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  Os olhos de se iluminaram.
  — Sério? E como foi?
  — Foi… difícil. — admitiu, encarando as próprias mãos. — Mas acho que foi um começo.
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  Ele sorriu, inclinando-se um pouco para frente.
  — Fico feliz por você. Seu avô teria ficado orgulhoso.
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   sentiu um calor se espalhar em seu peito.
  — Talvez você tenha razão.
  O silêncio que se seguiu foi confortável, como uma pausa para que ambos absorvessem o momento. Depois de um instante, se levantou.
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  — Você já almoçou?
  — Não.
  — Então, acho que podemos resolver isso.
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   sorriu, levantando-se para segui-la até a cozinha, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
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❄️❄️❄️

  Quando saiu do banho, sentia-se renovada, o vapor ainda em sua pele enquanto ajustava o robe ao redor do corpo. Caminhou descalça até a cozinha, onde encontrou lavando a louça do almoço. Ele parecia concentrado, mas havia algo tranquilo na maneira como esfregava os pratos, como se fosse uma tarefa que fazia parte de sua rotina diária.
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  Ela se escorou no balcão da pia, cruzando os braços enquanto o observava em silêncio.
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   terminou de enxaguar um prato e colocou-o no escorredor, mas não demorou para perceber que era observado. Sem desviar os olhos do que fazia, ele sorriu e disse:
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  — Já sei o que você quer saber,
  Ela arqueou uma sobrancelha, inclinando levemente a cabeça.
  — Ah, é? E o que eu quero saber?
  Ele desligou a torneira e se virou para encará-la, secando as mãos com calma antes de responder.
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  — Fui prolongar minha estadia na pensão. Minhas diárias acabavam hoje. — Ele fez uma pausa, seus olhos fixos nos dela, como se estivesse medindo cada palavra. — Também fui falar com a minha família. Disse a eles que não sei quando volto para a Coreia… e talvez nem volte.
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  O coração de deu um salto, mas ela manteve a expressão neutra, como se as palavras dele não a tivessem atingido com tanta intensidade.
  — E por quê? — ela perguntou, sua voz um pouco mais baixa do que pretendia.
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   deu um passo em sua direção, o olhar mais firme agora.
  — Porque eu não quero voltar, . Não quero deixar você.
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  A sinceridade nas palavras dele a desarmou completamente. tentou manter-se firme, mas sentiu seu coração se apertar.
  — Você não precisa fazer isso por mim — murmurou, desviando o olhar.
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  Ele deu mais um passo, agora muito perto dela.
  — Não é só por você. É por mim também. — Sua voz estava cheia de convicção. — Desde o momento em que seu avô me mostrou sua foto, eu senti que precisava encontrar você. Agora que encontrei, não vou simplesmente embora.
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   não sabia o que dizer. As palavras dele ecoavam dentro dela, quebrando barreiras que ela nem sabia que existiam.
  — … — começou, mas não conseguiu continuar.
  — Me deixe ficar, . — Ele estendeu a mão, tocando suavemente o braço dela. — Não só aqui, mas na sua vida.
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  Ela finalmente levantou os olhos para encará-lo, e o que viu no olhar dele era algo que ela não via há muito tempo: alguém disposto a lutar por ela. Por tudo.
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  Sem pensar muito, ela deu um passo à frente, encostando a cabeça em seu ombro.
  — Não sei o que dizer — confessou, a voz um sussurro.
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  Ele passou os braços ao redor dela, abraçando-a com firmeza.
  — Não precisa dizer nada. Só me deixe ficar.
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   permaneceu ali, com a cabeça apoiada no ombro de , sentindo o calor do abraço dele se espalhar por todo o seu corpo. Era como se, pela primeira vez em muito tempo, ela pudesse relaxar, como se a luta constante que travava contra si mesma finalmente tivesse cessado.
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  Quando ele a apertou um pouco mais, um suspiro escapou de seus lábios. Então, sem se afastar, ela assentiu devagar, os braços envolvendo-o com mais força.
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  — Fique — murmurou, sua voz carregada de emoção.
   relaxou visivelmente, como se aquelas palavras fossem tudo o que ele precisava ouvir. Ele se inclinou levemente, buscando o olhar dela. ergueu a cabeça, e seus olhos se encontraram, o brilho nos dele tão intenso que ela quase perdeu o fôlego.
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  E então ele a beijou.
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  O primeiro toque dos lábios foi lento, quase hesitante, mas tão carregado de sentimento que fez cada parte do corpo de despertar. Ela se sentiu tomada por uma onda de calor, um misto de nervosismo e excitação, enquanto seus dedos se entrelaçavam nos cabelos de , puxando-o para mais perto.
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  O beijo se aprofundou, e tudo ao redor deles pareceu desaparecer. O tempo deixou de existir, as dúvidas sumiram, e apenas o momento presente importava. Ele segurou delicadamente o rosto dela, como se fosse algo precioso, e ela não conseguiu conter o arrepio que percorreu sua espinha.
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  Havia uma urgência sutil no modo como os lábios dele se moviam contra os dela, uma intensidade que transmitia tudo o que não tinha conseguido expressar em palavras. Era mais do que paixão; era entrega, era promessa.
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   sentiu o coração disparar, o ritmo tão acelerado que parecia ecoar em seus ouvidos. O toque dele era firme, mas cuidadoso, e ela percebeu que estava correspondendo ao beijo com a mesma necessidade.
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  Quando finalmente se afastaram, os dois estavam ofegantes, os rostos próximos, os olhos conectados como se um pudesse enxergar a alma do outro.
  — Foi assim que eu soube — murmurou, a voz rouca, um sorriso tímido se formando em seus lábios.
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  — Soube o quê? — perguntou, ainda perdida nas sensações que tomavam conta de seu corpo.
  — Que você é a pessoa que eu quero ao meu lado — respondeu ele, os dedos deslizando pelo rosto dela em um gesto terno.
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  Ela não conseguiu responder. Não com palavras. Então, puxou-o de volta para outro beijo, deixando que tudo o que sentia transbordasse naquele instante.
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❄️❄️❄️

   estava sozinha na sala, depois que foi ao banheiro. O silêncio parecia gentil agora, como se fosse um abraço reconfortante em vez de algo que pesava em seus ombros. Seus olhos vagaram pela estante até se fixarem em um porta-retratos. Era uma foto antiga, um pouco desbotada, mas cheia de significado.
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  Nela, seu avô sorria, aquele sorriso tranquilo e acolhedor que ela sentia falta todos os dias. Com um pequeno suspiro, pegou o porta-retratos e se sentou no sofá, os dedos deslizando sobre a moldura como se quisesse absorver um pouco mais da presença dele.
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  — Você sempre soube, não é, vovô? — ela murmurou, os olhos fixos no rosto dele. — Sabia que eu precisava disso, que precisava de alguém como o para me mostrar o que eu estava evitando ver.
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  Houve uma pausa enquanto ela segurava a foto contra o peito, o coração apertado, mas de um jeito diferente desta vez. Não era tristeza; era gratidão.
  — Obrigada por nunca desistir de mim, mesmo quando eu mesma desisti — continuou, a voz baixa, mas carregada de emoção. — Obrigada por me mostrar que o amor ainda existe… e por me dar a coragem de acreditar de novo.
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  Ela deixou um pequeno sorriso escapar, mesmo enquanto uma lágrima solitária deslizava por seu rosto.
  Ao fundo, ela ouviu o som da porta do banheiro se abrindo e passos leves se aproximando. colocou a foto de volta no lugar, limpou a lágrima e virou-se, encontrando parado na entrada da sala, com um olhar curioso.
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  — Tudo bem? — ele perguntou, a preocupação suavemente evidente em sua voz.
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   assentiu, um sorriso agora mais confiante em seus lábios.
  — Tudo bem — respondeu, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, completa.
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  E enquanto ele se aproximava e a puxava para perto, ela sabia que aquele era apenas o começo de algo que seu avô sempre quis que ela encontrasse: amor, paz e um novo começo.
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❄❄❄ FIM. ❄❄❄

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Lelen
Admin
1 mês atrás

Sei que era com Taehyun, mas meu fave é o Soobin então já imaginei o Binnie aqui <3
Que tipo de diferença ele vai trazer para a vida da pp, hein?

Lelen
Admin
1 mês atrás
  — Talvez não seja uma maldição, e sim um presente — disse ele, com um olhar que parecia penetrar sua…" Read more »

Só é uma maldição se você deixar que se torne uma

Lelen
Admin
1 mês atrás

Ai, tô amando esse mistério todo na história!
E o moço nem deu o nome dele, posha. Volta, moço, volta logo!
Eu ia amar esse tipo de coisa na vida real, inclusive, se algum parente meu quiser me deixar uma livraria de herança, tô aceitando, pode deixar que vou dar o meu melhor pra cuidar bem dela, prometo <3
Quero saber mais dessa história da livraria e do moço misterioso que surgiu do além pra ajudar seja lá no que for HAHAAHHA

Lelen
Admin
1 mês atrás

Pra mim o Taehyun é tipo o “espírito de Natal” encarnado HAHAHAH
Quero saber a história desse rapazinho misterioso, mas lá no fundo eu ainda vou ter ele como um serzinho místico no maior estilo “A Christmas Carol” SHAOISHAO
E Taehyun, menino, é claro que eu tenho medo de porões, tu já viu filme de terror? Porque eu já vi milhares e nunca tem coisa boa no porão. HAHAHAHAH

Lelen
Admin
1 mês atrás

Eu tenho pra mim que o Taehyun é o espírito de natal da moça HAHAH
O espírito de natal dela está completamente perdido, é isso. Às vezes eu me pego pensando quando é que o Natal deixa de ser mágico para os adultos…

Lelen
Admin
21 dias atrás

Ai, gente, esse Taehyun (na minha cabeça continua o Soobin) é um charminho, amo demais <3
E ele não pode ser simplesmente humano, me recuso a aceitar se for isso, ele sabe coisas demais e tem o timing, não pode ser humano não 😂😂😂
O que vai rolar na véspera de Natal? É o dia das mágicas acontecerem, tô no aguardo AHAHAHAH

Lelen
Admin
18 dias atrás

Ok, o Taehyun não era um dos elfos do Papai Noel nem nada, mas não deixou de ser mágico pra Ágata porque trouxe o espírito de Natal dela de volta e é isso que importa.
Vovô super fã de enigmas, amei demais e me senti tipo em O Código Da Vinci HAHAH
Não tava esperando a revelação do Taehyun e na besteira que ele tava pensando em fazer, mas ainda bem que o vovô apareceu.
Vou considerar vovô Papai Noel sim, ele salvou o Natal – e a vida – de duas pessoas – e acho que de várias outras também <3


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