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Natashia Kitamura
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Temporada #014

Corre, corre
Los Hermanos

Esta história não possui capas prévias (:

Sem informações no momento.

De Volta

  A brisa que entrou no momento em que a primeira fresta da janela surgiu me lembrou você. Quando parado, o vento não dava sinal, mas aqui, na estrada, em uma viagem sem rumo, a ventania era até intensa.
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  Eu decidi tomar essa iniciativa porque você me incentivou. Sempre foi assim, você, sendo minha fonte de energia.
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  Olhei para o banco passageiro e vi você ali, sorridente. Os cabelos escuros esvoaçando de uma maneira que mais tarde com certeza você reclamaria. A pele bronzeada naturalmente e os olhos castanhos fechados, como se tivesse aproveitando uma massagem. Me senti sortudo, feliz, completo. Você encarava o céu azul, da maneira que sempre fazia. Às vezes batia certa inveja; o céu nunca fez nada além de existir, e mesmo assim conquistava sua atenção. Ele saía de sua boca por mais vezes do que eu pude contar. Houve, inclusive, um dia em que me perguntei se haveria algum momento em que eu também perderia a conta de quantas vezes você diria meu nome ou dissesse que me amava.
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  Voltei a prestar atenção na estrada. Sempre foi um desejo meu fazer uma viagem de carro sem rumo. Acreditava que esse tipo de ação era movida somente por loucos. Loucos por saírem de casa sem previsão de volta, de deixar o que conheço para trás e conhecer o novo. Malucos por gastar todo o dinheiro que tanto batalhou em juntar, com uma mera experiência.
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  Ainda assim, a ideia sempre aparecia ali na minha cabeça. E fui ainda mais louco em dividir esse segredo com você, que ao invés de rir, me incentivou. Mesmo quando eu esquecia, você me lembrava.
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  – Quando irá partir?
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  E eu ria.
[wpdiscuz-feedback id="tksyx0zyf7" question="Comente!" opened="0"]  Ria por achar graça você relembrar dos meus desejos malucos.
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  Admitia, dentro de mim, que você estava certa.
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  – Se você tem vontade de algo, então apenas faça. Deixe para julgar se a escolha for certa depois que já a tiver feito.
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  Você se deitou na grama e abriu os braços e pernas, ficando no formato de uma estrela.
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  – Não tem motivo para sofrer antes. Se é o que você quer, não pode ser pior do que fazer algo que não quer.
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  E dessa maneira, você sempre dizia as coisas certas.
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  Ainda assim, eu decidia não ir. Não queria ir, eu me dizia a mim mesmo. Se quisesse de verdade, então já teria ido.
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  – Está tudo bem… – eu disse, enquanto corria ao seu lado. – Ficará tudo bem…
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  Você assentiu, com um sorriso fraco.
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  – Me prometa – olhei fundo em seus olhos -, que fará aquela viagem.
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  – Sinto muito, mas a partir daqui somente membros da equipe.
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  Nada foi mais desesperador do que as mãos que me impediram de te acompanhar.
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  Nada foi pior do que vê-la partir, esperando por minha resposta.
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  Assim que minha boca se moveu em uma resposta, as portas automáticas já estavam quase fechadas. Ainda assim, sei que viu. Vi sua cabeça relaxar e um sorriso sereno tomar conta de seu rosto.
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  A estrada passava por uma praia. Apesar de o dia ensolarado, o local era isolado, por isso não havia muitas pessoas por ali. Estacionei num canteiro mais afastado e me sentei em um banco de madeira perto.
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  Encarei o céu com o coração apertado. Olhei para o lado e a vi ali de novo, com o sorriso e o ar tranquilo. Eu a via em muitos lugares. Desde que saí de casa, há um mês, eu a via em tudo quanto era canto. Às vezes, podia jurar que a sentia comigo.
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  Já fazia um mês e meio.
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  Parece que foi ontem.
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  Para ser sincero, ainda choro por causa da saudade. Lembro que você disse uma vez, quando assistíamos a um filme, que sua torneira das lágrimas estava quebrada. Não importasse quantas vezes visse aquela cena, chorava até o corpo inteiro doer. Agora entendo. O corpo realmente dói.
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  – Cuidado! – um grito soou e não foi o suficiente para que eu pudesse reagir e evitar o acidente.
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  Senti uma dor aguda na minha perna, que passou de acordo com que fui massageando. Talvez ficasse roxo.
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  – Meu Deus! Me desculpa! Perdi totalmente o controle da bicicleta! – a voz falava rapidamente e sem parar. No meio do torpor da dor, mal consegui processar tudo o que era dito. – Você está bem? Ai meu Deus, está doendo muito? Preciso chamar uma ambulância!
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  – Está tudo bem. – digo, um pouco sem ar. – Só preciso esticar a perna.
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  – Mas você está chorando.
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  Olhei assustado para a moça que estava curvada sobre mim.
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  Os olhos eram enormes e verdes. Os cabelos, por outro lado, era em um tom acobreado, bonito com a luz do sol cobrindo como um véu.
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  – N-não estou… foi só o choque.
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  Ela foi gentil em não insistir.
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  Limpou a garganta e arrumou a bicicleta.
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  – Desculpe.
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  – Não me machucou. – digo. – Foi só o choque, já passou.
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  – Não por isso. – ela disse, sem graça, e nada mais falou. Pude entender que ela havia compreendido a situação.
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  – Ah…
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  – Não quis te constranger…
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  – Está tudo bem. – respondo, mesmo assim, bastante constrangido.
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  Ela limpou a garganta.
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  – Também perdi uma pessoa. Semana passada.
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  Ergui meu olhar para ela, mas sua atenção estava na bicicleta.
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  – Era dele. – apontou para o objeto. – Estava me ensinando a andar. – em seguida, apontou para o espaço ao meu lado no banco. Prontamente fui para o lado, a deixando se sentar. – Acidente de carro e você?
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  – Bicicleta. – respondi, em seguida encarando a bicicleta da moça, que limpou a garganta sem graça e afastou a bicicleta de perto de mim. – Ela também gostava de andar. Mas estava chovendo.
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  – Não chove muito por aqui.
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  – Não sou daqui.
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  – Ah… – ela suspirou. – Recomeço?
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  – Promessa. Sempre quis viajar sem rumo de carro.
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  – Que legal. Deve ser uma aventura e tanto. – ela comentou, inexpressiva. – Está sendo, de algum modo, reconfortante?
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  – De jeito nenhum.
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  – Foi o que imaginei. – ela olhou para baixo e então para cima. Riu sem humor nenhum. – É engraçado como quando estávamos juntos, eu achava que o dia estava bonito justamente porque estávamos juntos. Mas hoje está tão lindo quanto antes.
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  Olhei para o céu e vi que ela tinha razão. O dia realmente estava bonito, só não estava… completo. Não de uma maneira que me deixasse feliz. Fazia diferença o sol estar ali e o céu não possuir uma nuvem; mas não para meu humor.
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  – Você pensou em… – ela fez um sinal de morte e neguei. – Eu também não. Quero dizer, a saudade, às vezes…
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  – Ouvi dizer que as pessoas que morrem “naturalmente” não vão para o mesmo lugar das que se suicidam. Não faria diferença eu tirar a vida; não a encontraria depois.
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  – É, ouvi falar disso também. Faz sentido.
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  – A vida é dura até depois da morte. – comentei, fazendo com que nós dois ríssemos. Foi ridiculamente amargo, mas refrescante. Eu queria poder sorrir num dia como aquele. Mesmo não estando feliz. Se estivesse o mais próximo disso, então já era alguma coisa.
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  – Você devia ir para Utah. – ela acabou com o silêncio. – É longe, mas um caminho bonito, se você for pela rodovia F. Se vai fazer uma viagem sem rumo, então deve escolher as melhores estradas.
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  – Se é sem rumo, eu não deveria decidir tudo de última hora?
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  – Você pode sempre decidir de última hora o próximo lugar que quer ir. – ergui uma sobrancelha e ela continuar. – Por exemplo, você pode escolher ir para Utah, mas se algo no meio do caminho disser para você ir a Vegas, então vá para Vegas. Decidir no caminho pode ser um tanto perdido, não é? Faz com que você encontre, às vezes, coisas que não quer.
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  – Como?
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  – Uma cidade chuvosa ou um cemitério. Eu não gostaria de ir nesses lugares, quando estou tentando cumprir uma promessa a alguém importante. Não gostaria de, lá na frente, olhar para trás e lembrar que um dos lugares do meu percurso quando ele me fez prometer que viajaria, era um cemitério, um aterro ou um bairro suspeito. Você não está viajando para curar uma dor com outra, não é?
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  – Não.
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  – Vá para Utah, então. Vai ser legal. Você pode escolher lá na frente entre vários caminhos.
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  – E o melhor é Utah.
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  – O melhor é aquele que você escolher.
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  Me vi, com clareza, conversando com você quando contava sobre esse desejo absurdo. Eu queria conhecer lugares dos Estados Unidos que não iria antes, porque não eram lugares comuns de se viajar a passeio. Pego de surpresa me faria mais alegre. Só que, desde que saí de San Diego, não deixei a Califórnia. Talvez porque você não tenha deixado também.
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  – Devo me apresentar? – perguntei, vendo-a me encarar, surpresa.
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  – Não. – ela comentou, se levantando. – Essa não é uma viagem para você conhecer novas pessoas, não é? É para ver novos lugares e cumprir com a sua promessa. – sorriu. – Mas se quiser, sou voluntária em um centro de reabilitação na zona oeste da cidade.
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  Ela voltou a colocar o capacete e pegou a bicicleta.
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  – Boa viagem, estranho. Tomara que encontre muitos lugares bonitos.
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  – Boa sorte com a bicicleta. – falei, vendo-a se colocar ao lado da mesma. – Tente não atropelar muitas pessoas.
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  – Isso eu não posso garantir. – sorriu e então acenou, virando-se e se afastando.
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  A observei ir embora, levando um tempo para voltar a encarar a praia quase vazia à minha frente. Peguei meu celular e digitei Utah, procurando alguns lugares que pudesse ser interessante. Não demorei a encontrar uma pousada simpática, que me ofereceria conforto, pessoas gentis e uma paisagem linda para as montanhas. Coloquei no GPS e selecionei o caminho que fazia a rota F. Voltei para o carro.
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  No caminho para Utah, me vi em um humor diferente. Vi você novamente, ao meu lado, sorrindo, dessa vez para mim. Sua atenção não estava mais no céu. Isso me fez sorrir ainda mais. Era isso o que eu mais gostava.
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  A vi apontar para frente, a tempo de eu olhar uma bifurcação com três opções. Rota A, Rota F e Retorno.
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  Encostei no acostamento, confuso. RETORNO. Parecia maior que as outras duas opções.
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  Olhei novamente para você, que abriu o sorriso tranquilo. Aquele que sempre queria dizer “confie em mim”.
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  – Sinto bastante a sua falta. – e acredito que sempre sentirei.
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  Peguei o celular e pesquisei “reabilitação zona oeste da cidade Z”. Incrivelmente, só havia uma naquela região, então só poderia ser aquela.
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  Olhei em sua direção novamente, mas não a encontrei. Pisquei forte, passei os dedos pelos olhos e olhei novamente. Você foi embora.
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  Pela primeira vez, percebi, não quis chorar. Olhei para as três placas e sorri. A estranha tinha razão, viajar com rumo é muito mais divertido.
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  Saí do acostamento e entrei na terceira opção.
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  RETORNO.
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  De volta à vida.
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  De volta à alegria de viver.
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  De volta com uma experiência que, realmente, só você me proporcionaria.
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Fim

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