Dawn in Anyang

  Seria somente mais um trabalho se o paciente não fosse um ator famoso de doramas. Eu me sentia desconfortável em trabalhar com celebridades, mas não tinha outra opção e o pagamento ajudaria muito com as despesas do remédio da vovó. Não posso considerar que temos uma boa vida, e conquistar o que temos agora foi com esforço e muita dor. Meus pais faleceram quando eu tinha quatro anos, filha de um coreano e uma argentina, meu destino foi morar com minha avó Hana em Anyang, cidade coreana. Triste e árduo me acostumar no início, para me acostumar com a nova rotina, a nova cultura.

  Meu trabalho duro resultou em minha formação como enfermeira, trabalhando de forma impecável no hospital universitário da cidade, até que mudei o foco de trabalhar em hospital e foquei em ser enfermeira acompanhante. Atualmente trabalhava cuidando dos pacientes em suas residências enquanto durar o tratamento. Era isso que faria agora.

  O paciente? Kim Woo Bin, o ator de doramas famosos e aclamados como School 2013 e The Heirs.

  — Bom dia, senhor Kim — disse ao me apresentar. — Sou sua enfermeira, Park .

  — Bom dia — disse ele, sua voz estava baixa, com o olhar caído.

  A primeira coisa que fiz antes de me apresentar formalmente em sua casa, foi ler seu prontuário. Entender o que acontecia com o físico, mas também os relatórios do psicólogo. Havia boatos que sua namorada o havia deixado após a descoberta de sua doença, um dos motivos para escolher se tratar em Anyang. Além de ser uma cidade pequena, mesmo que desenvolvida, sua casa era localizada um pouco afastada do centro da cidade, mantinha seus traços da arquitetura tradicional coreana, que proporcionavam maior interação com a natureza, com seus jardins orientais bonitos e relaxantes. Seria uma boa terapia para que ele se fortalecesse.

  — Agradeço mais uma vez por confiar em mim e meus serviços, tem minha palavra que vou trabalhar duro em sua recuperação — disse com confiança.

  — Agradeço por isso.

  Por ter feito uma cirurgia para a retirada do câncer na faringe, sua voz permanecia prejudicada, já imaginava isso. Os médicos já tinham me passado toda a sua rotina de medicamentos, assim como os exercícios vocais para estimular a recuperação das cordas vocais. Não seria fácil mantê-lo motivado a continuar a lutar, mais ainda por ter poucas pessoas por perto para incentivá-lo. Isso era outro ponto, uma lista regrada de pessoas que poderia ter contato com ele, e nesta lista tinha nomes de outros atores conhecidos como Lee Minho e Lee Jong Suk.

  Após repassar todos os remédios e os horários de sua alimentação e exercícios, me instalei no quarto de hóspedes perto da cozinha. Ajeitei rapidamente as coisas no guarda-roupas e voltei para cozinha. Fiquei surpresa ao descobrir que ele gostava de cozinhar, e que seria ele o cozinheiro nos dias que seguiriam. Haveria uma faxineira para deixar a casa limpa, mas na maior parte do tempo, seria eu e ele. Estranho e também seria minha primeira vez sozinha com um paciente na mesma casa.

  — Aqui está, senhor Kim, a segunda rodada de remédios — disse ao abrir a caixinha com os remédios já separados por horários.

  — Obrigado. — Ele pegou os comprimidos e os jogou na boca, então pegou o copo e tomou toda a água.

  — Daqui algumas horas repetiremos a dose — brinquei.

  — Posso pedir um favor?

  — Sim — assenti.

  — Poderia me chamar pelo meu nome? Ficaremos aqui por um tempo, ficarei mais confortável se me tratasse menos formalmente — pediu.

  — Como quiser, Woo Bin. — Sorri de leve para ele com gentileza, fazendo-o retribuir o sorriso com outro.

  Assim seguiram as semanas. Minha missão, além de coordenar remédios e exercícios, era acompanhar sua evolução e dar assistência às recaídas possíveis, devido à sua imunidade baixa, algo que aconteceu no quinto mês, quando ele se permitiu caminhar na chuva contrariando minha desaprovação. A consequência disso? Kim Woo Bin ficou com 38.7º de febre três dias direto, me deixando mais do que desesperada. Devido ao tempo ruim, nem mesmo o médico pude chamar.

  — O que eu faço? — disse respirando fundo, tentando me acalmar.

  Sempre que o olhava, perdia o foco e meus sentimentos desesperados tomavam conta de mim. Woo Bin estava tremendo, em alguns momentos delirando, em outros pedindo para que eu me acalmasse.

  — Só fique aqui — disse ele ao abrir os olhos e pegar em minha mão. — Me esquente, por favor.

  — Como faço isso? — perguntei preocupada.

  Ele me puxou para cima dele e me abraçou.

  — Apenas fique aqui, eu ficarei bem — sussurrou ele. — Só preciso de você.

  Meu corpo estremeceu com aquilo. Não sabia se era por suas palavras ou pela alta temperatura do seu corpo, entretanto, não me mexi e permaneci onde estava, realizando seu pedido. Confesso que durante aqueles meses ali, nos tornamos bem próximos a ponto de dizer que somos amigos, algo nunca acontecido com outro paciente. Mas quando se fica 24 horas por dia na mesma casa com uma pessoa, seria estranho não se aproximar dela. Ainda mais se passar horas e horas conversando, a estimulando a falar com cuidado.

  Me permiti fechar os olhos e acidentalmente tirei um cochilo. Quando acordei e abri os olhos lentamente, a visão de Woo Bin olhando para mim com um sorriso escondido no rosto, fez meu coração acelerar. O que eu estava fazendo? Ele era meu paciente! Me levantei rapidamente e afastei.

  — Me desculpe, eu não deveria ter permitido isso acontecer — disse atordoada com tudo.

  — Está tudo bem, eu estou melhor agora — disse ele.

  — Mas eu não. — Me retirei de seu quarto e fui para o meu.

  Respirei fundo após trancar a porta. Precisava absorver o que tinha acontecido e o que estava sentindo. Eu não podia me deixar levar pelas minhas emoções e nem me dar ao luxo de me apaixonar por um paciente meu, ainda mais sendo ele uma celebridade.

  As horas se passaram e me forcei ao máximo para continuar agindo como uma profissional de forma indiferente ao ocorrido. Sempre que Woo Bin olhava para mim, desviava meu olhar e me mantinha séria.

  — . — Ele segurou em minha mão, assim que me levantei do sofá para ir dormir.

  — Sim. — O olhei.

  — Podemos conversar? — perguntou ele.

  — Podemos deixar para amanhã? — retruquei. — Você se esforçou muito hoje com as visitas que recebeu, precisa descansar sua voz.

  — Se eu não disser hoje, não conseguirei nunca mais. — Seu olhar ficou triste, de partir o coração.

  — Senhor Kim… — sussurrei.

  — Não me chame assim, por favor. — Ele continuou segurando em minha mão. — Me diga, por que não posso ter sentimentos por você?

  Paralisei com sua pergunta. Ele tinha sentimentos por mim?

  — Eu… — Respirei fundo. — Eu sou sua enfermeira e…

  Nem mesmo consegui terminar a frase. Fui interrompida por um beijo apaixonado dele, que me fez perceber seus sentimentos reais e sinceros por mim. É inacreditável para mim, uma celebridade se apaixonar por uma enfermeira desconhecida.

  Mas havia acontecido.

  Kim Woo Bin revelou isso naquele beijo, que espontaneamente foi retribuído de minha parte com certa intensidade.