Dançando Sozinho
Nota inicial: Essa história é um spin-off de outras duas do mesmo universo. Comece por “Perigo”, depois leia “Pouco”, se quiser conhecer melhor os personagens.
Da última vez que vi o , ele saía pela porta da minha casa dizendo:
“Seu coração não existe, mas o lado bom é que tem espaço pra caramba no seu peito oco, para amar também”. Desde então, não vi mais o . Ele não respondia as minhas mensagens, não caía mais nas minhas provocações, e sequer, eu conseguia encontrá-lo nos mesmos lugares de antes. Também, não é como se eu houvesse procurado. Eu só continuei fazendo as mesmas coisas, nos mesmos lugares, com as mesmas pessoas.
Apesar de não querer nada sério, com a cafonice de amor que o cismava insistir, eu sentia falta dele. Da foda dele, mas principalmente, da amizade dele. E foi quando sem querer, sem a menor intenção de pensar no , eu esbarrei com o dito cujo aleatoriamente. Suzanne havia me convencido a ir para o Bukowski em Botafogo, com Martinha, Luana e alguns amigos da Lu. O bar era um dos nossos preferidos e também, era a parada obrigatória do toda vez que a gente ia para Botafogo. Mas como eu já havia ido ali várias vezes desde o dia que nós “terminamos” — ou melhor, desde que, ele surtou e decidiu não mais me ver —, e em nenhuma dessas vezes o avistei por ali, não imaginei que o veria.
Luana convidou três amigos do trabalho para fazer casal com Suzanne, Martinha e eu, já que ela estava de rolo com um
boyzinho do condomínio dela, mas apenas dois haviam ido. Eu já deveria saber que a noite seria uma bosta, quando me deparei com aquele encontro às cegas furado.
Lá pelas tantas da madrugada eu quis ir beber no balcão, afinal, a mesa em que estávamos continha três casais se amarrotando de tanto beijar. Era o fim da picada! Logo eu, a que todos diziam “devassa”, ficando de vela no grupo. Praga do !
“Praga do ! Sacana do caralho!”, eu quis gritar quando ao pegar meu drinque olhei para o lado e ouvi aquela risada safada dele. Não estava sozinho, aliás. Ao seu lado, uma loira e um metro e sessenta e poucos, não parava de conversar e fazê-lo rir. Os dois pareciam estar tão sintonizados! Ela falava mais do que uma arara em bando e o idiota do não parava de rir e sacudir os braços, empolgado como se ela estivesse falando de Star Wars, ou qualquer outra
nerdice que ele amava.
Olhei para trás e minhas amigas ainda estavam focadas em seus amantes, enquanto eu ali… Estupefata naquele balcão, sentada há uns cinco bancos depois do encarava meu copo. O barman me perguntou alguma coisa, mas eu não conseguia escutar direito devido ao som alto.
— O quê? — perguntei para ele, um tanto confusa. — Falou comigo?
— Outra dose? — Ele perguntou de novo apontando meu copo vazio.
Em que momento virei aquilo tudo sem notar? Apenas acenei negativamente e me levantei daquele banquinho pronta a ir embora. Já estava bêbada e sem nenhum fogo na bunda, afinal, a noite toda havia sido uma merda. Não, não tinha nada a ver com o ! Não mesmo!
Pffff… Até parece!
Peguei a minha bolsa na cadeira da Martinha e ela se assustou, enfim, separando a boca dela, da boca do cara que eu nem sabia o nome.
— ! Vai aonde? — Martinha perguntou.
— Ué, amiga, achei que você já tinha até se arranjado! — Luana falou bêbada, estranhando minha presença ali.
Que ótimo, elas nem lembraram que eu estava ali. Mas, na verdade, que culpa tinham? Me arranjar com alguém e sumir na surdina era o que eu costumeiramente fazia, mas não naquela noite.
— Eu me arranjei com o senhor
John Walker ali no balcão, e por isso estou indo galera! Boa transa para vocês… — Saí sorrindo e jogando beijinhos com as mãos para todos, mas não esperei falarem nada.
Suzanne se levantou me chamando, eu vi, mas só acenei de volta e gritei um
“tá tranquilo, divirtam-se manas” e ela voltou a sentar-se dando de ombros.
Acendi um cigarro do lado de fora do bar, enquanto esperava um Uber. Eis que a porra da risada divertida do se fez ouvir de novo, e ele parava bem ao meu lado na esquina, de costas para mim. Quando vi que era ele, me virei rápida como uma bandida e caminhei na direção oposta, escondendo-me um pouco atrás da amendoeira da esquina. Furtiva, fiquei olhando na direção deles e o vi olhando para o lado em que eu estava, com a sobrancelha fechada como se tivesse me reconhecido.
— Droga! — sussurrei, e então o meu carro chegou e o dele também.
Entrei apressada sem querer ser vista e então me peguei pensando: “Por que eu estava fugindo?”.
— Ficou doida ? Você não deve nada a ele! — esbravejei comigo mesma.
— Senhorita? — O motorista do carro que eu havia entrado apressada, me chamou e me encarava como se eu fosse louca — Qual o destino?
O carro de trás ultrapassou o nosso e eu só conseguia pensar em uma coisa: ele não levaria aquela loira para casa dele, não é?
— Segue o
Honda Civic da frente, por favor!
Embora estranhasse, o motorista fez o que pedi. Após passarmos por algumas avenidas que nos direcionavam à Lagoa de Freitas, o motorista decidiu falar incisivamente:
— Eles parecem ir ao festival de música da Lagoa. É para lá que a senhorita quer ir? Porque se não me der um bom motivo para seguir esse carro, tenho que te pedir que me diga um ponto fixo para te deixar! Não vou ficar seguindo carro de ninguém de madrugada em pleno Rio de Janeiro, moça!
Suspirei frustrada e respondi:
— É o meu ex-namorado. — precisei mentir, mas o que diria, além disso, também! E continuei me justificando ao cara do Uber: — Só quero saber para onde ele vai.
— Ah, entendi. Mas eu não vou me meter em confusão não. viu?
— Só preciso saber aonde ele vai parar, moço. Depois vou para casa. Sem confusões metendo você, juro.
O motorista não aceitou bem, mas continuou o trajeto e estava certo. Um festival de música acontecia na Lagoa e eles haviam parado lá. Logo que vi ambos descerem do, Honda, finalizei a corrida do Uber e instintiva desci.
— Valeu Jorge! — gritei o nome do motorista que só acenou negativo com a cabeça finalizando a corrida no painel dele.
Paguei pelas entradas e perguntei que evento era aquele, para a moça do guichê.
— É o
Rio Pop Festival que acontece nas madrugadas de hoje, amanhã e domingo. É um evento novo aqui na Lagoa.
— Ah tá… — falei e entrei.
Procurei pelo e pela loira enquanto caminhava entre pessoas bonitas, cheirosas, alcoolizadas ou nem tanto. Havia um estande enorme que vendia as bebidas e comidas e um palco com DJ no centro. Fiquei perambulando entre as pessoas, igual um peru tonto! Que ideia de jerico!
Desistindo de encontrar o , fui andando para mais perto da orla da lagoa aonde havia alguns bancos de concreto. O lugar não estava tão cheio, era espaçoso e a multidão bem espalhada, mas ali perto da música não havia como achá-los. Então subi no banco de concreto como uma última tentativa. A porra do DJ não ajudou em cacete nenhum, quando começou a tocar Callum Scott dizendo
“Somebody said you got a new friend…”.
“Alguém disse que você ganhou uma nova amiga, mas ela te ama mais do que eu? E há um grande céu negro sobre minha cidade. Eu sei onde você está, aposto que ela está por perto, e sim, eu sei que é estúpido, mas eu preciso ver por mim mesmo. Estou no canto, observando você beijá-la, e eu estou bem aqui, por que você não consegue me ver?”
À medida que a música lenta tocava, eu ouvia as palavras daquela canção sentindo um maldito aperto no peito. Eu não havia sentido aquilo antes, não daquele jeito! Há alguns anos fechei o meu peito totalmente para aquele tipo de coisa. E me pegou como uma paulada na cabeça notar que, era ciúme. A música estava embalando o abraço do com a tal loira, eles riam e sussurravam no ouvido um do outro algumas coisas e se mexiam em uma dança tranquila e apaixonada. E lentamente eu assistia aquela praga que ele jogou em mim acontecendo bem no efervescente das minhas veias:
ciúme.
Eu estava com ciúme e uma vontade surreal e bêbada de passar entre aquelas pessoas no caminho até eles, chegar lá e arrancar a mulher dos braços do . E então ele a beijou. A mão primeiro foi até a nuca dela acariciando os cabelos da mulher, e ele com certeza deu um leve aperto na região ao mesmo tempo, em que a mão dele apertava a cintura dela, porque era assim que ele fazia e eu sabia. Depois ele esfregou a ponta do nariz na bochecha dela e sorriu antes de brincar com os lábios da mulher e beijá-la lentamente e molhado. Ele estava de costas para mim, mas eu sabia disso tudo, porque era assim que ele fazia.
Foi naquele instante que notei que eu nunca mais iria beber uísque e ficar de vela para alguém na mesma noite, porque o improvável aconteceu: tinha um inferno de lágrima escorrendo dos meus olhos e sim, eu estava buscando culpar a loucura disforme da noite, no fato de que havia ficado de vela e bebido uísque, como uma superstição ruim recém-inventada.
— Moça? — Um carinha subiu no banco de concreto do meu lado e tocou meu ombro me chamando ao ver que eu estava a própria estátua viva do evento, faltando só o chapéu e as moedas —
‘Tá tudo bem?
Olhei para ele e comecei a rir devagar, sacudindo meu cabelo e olhando meus pés. A mão molhada com minha lágrima recém secada, me fez dizê-lo:
— Cara, a filha da puta da Martinha não podia estar certa, né?
— Quem? — Ele me perguntou confuso.
— Aquela piranha da Martinha! É culpa dela! Canso de falar que a gente não pode sair dizendo as coisas ao vento assim, porque o universo pega essas palavras e depois esfrega na nossa cara! — Eu explicava mexendo as mãos, agitada, como se estivesse mostrando a ele a cena de meses atrás na minha casa entre mim e Martinha.
— Gatinha, eu não
‘tô entendendo você, mas estou bem curioso para entender se quiser explicar. — O cara falou pegando minha mão e fazendo-me encará-lo de pé ao meu lado em cima do banco de concreto.
— É que a Martinha falou que ele era o cara, que homem como ele era ouro e que eu ia ver outra pessoa pegar o bilhete dourado e não saberia lidar com isso! — Falei para o rapaz em pé na minha frente, apontando com meu dedo a direção do .
O moreno dos olhos cor de mel profundos, seguiu a direção do meu dedo e viu o e a loira ainda se beijando.
— Ah, entendi.
Pô que merda, hein? A filha da puta da Martinha… — Ele repetiu o que eu disse me fazendo rir. Acho que ele pensou que a Martinha era a loira.
Enquanto eu ria e sentia uma vontade absurda de chorar, sem saber o motivo. Mentira! Sem querer dar nome ao motivo real… O rapaz que me encarava parou de rir e começou a me esmiuçar com olhos curiosos. Lancei um último olhar para o e suspirei antes de me aproximar daquele homem desconhecido de pé do meu lado, e puxar a camisa dele.
— Posso te beijar? — perguntei.
— Só se você me deixar agradecer a Martinha depois. — Ele respondeu e a gente riu. Então nos beijamos.
•••
“E eu estou dando tudo de mim, mas eu não sou o cara que você vai levar para casa. Eu continuo dançando sozinho, oh. Eu só quero dançar a noite toda, estou todo bagunçado, estou tão fora da linha! Saltos altos e garrafas quebradas, estou girando em círculos. Estou no canto, observando você beijá-la, e eu estou bem aqui, por que você não consegue me ver?”
Eu tinha quase certeza que havia visto a atrás daquela árvore. Porém, desde que deixei a casa dela meses atrás eu ignorava qualquer impressão de tê-la visto, porque era comum que eu imaginasse aquela diaba na minha vida toda santa hora!
Estava certo que em algum momento a gente se esbarraria no Bukowski ora ou outra. Porém, os cabelos ruivos e longos não poderiam ser dela, não é? A tinha os cabelos curtos, coisa que eu adorava aliás… Não, não era ela! Fiquei olhando para a mulher que entrou no
Uber da frente apressada, mas Lidiane logo chamou minha atenção para o nosso carro chegando. Entramos no automóvel e quanto mais a nossa conversa fluía, mais eu estava interessado em sair com ela de novo. Era a terceira vez que saíamos juntos naqueles últimos dois meses e eu achei que teria a minha tão esperada chance de esquecer a filha da mãe da . Era isso, era a Lidiane quem me ajudaria a esquecer a mulher que, até meses atrás, eu imaginava sendo a mulher da minha vida.
A merda é que eu estava errado, e não era a Lidiane, porque quando a voz de Callum Scott mencionou:
“And I’m givin’ it my all, But I’m not the guy you’re takin’ home…” eu só consegui me lembrar da . Da boca da , dos olhos dela, do toque e de sua pele e eu estava beijando Lidiane do mesmo jeito que eu beijava a . Que maldição era aquela mulher!
Atordoado, me afastei da loira buscando a certeza de que não eram os olhos da ruiva ali. E não eram, então Lidiane sorriu e eu voltei a beijá-la. Desesperadamente eu tentava encontrar nela, outro beijo que não fosse o mesmo que eu encontrava com , e insisti nos lábios e corpo da loira, aflito para dar certo. No entanto, durante todo aquele momento, a música tocando e a infeliz possibilidade de ter visto ou tido uma miragem da lá no Bukowski, arrancaram de mim a certeza de que eu a esqueceria um dia.
Me separei da Lidiane tentando esconder a frustração. A noite estava indo tão bem, mas… Sabe-se lá Deus o motivo, mas eu sentia um aperto no peito e uma culpa absurda porque eu ainda queria que fosse a ruiva ali comigo.
— Que fofos! — Lidiane ecoou me afastando de si.
Estávamos abraçados e ela via alguma coisa às minhas costas, e me girou para olhar. Eu e outras pessoas no local observamos o casal de malucos em cima do banco de concreto da Lagoa, se beijando lentamente e de um jeito tímido. Parecia ser a primeira vez deles fazendo aquilo.
— Vou filmar, me empresta o seu telefone, !
Lidiane falou puxando meu aparelho do meu bolso, abrindo a câmera e eu sorri um pouco desencaixado, concordando. Ela caminhou à minha frente para filmar, e eu fiquei observando aquela cena na tela do meu telefone um tanto aéreo, até que reconheci a roupa da mulher. Ela parecia aquela na saída do Bukowski.
Meu coração começou a acelerar as batidas e minha boca abria e fechava com uma respiração pesada porque… Filha da puta! Era a ! Era mesmo a beijando aquele cara! Ela mesmo a na saída do bar! Era
a minha que, na verdade, nunca foi realmente minha, beijando um estranho no meio da Lagoa de Freitas. E chamando atenção como ela gostava e pior: tendo a cena registrada bem no caralho da tela do meu telefone!
“Tão longe, mas ainda tão perto. As luzes se acendem, a música morre, mas você não me vê parado aqui. Só vim me despedir…”
Quando pensei em tirar o telefone de Lidiane, ela e o cara se afastaram e ele sorriu para ela tocando o rosto de . Ela não respondeu, só soltou um sorriso e olhou na minha direção de repente. Era como se ela soubesse que eu estava ali, e então nossos olhares se cruzaram como não faziam há meses.
Fim
Ai, a agonia, ELES NÃO CONVERSAAAAAM!
Agora vão ficar separados? Ou vão finalmente se acertar? Vou querer a continuação, seja ela com um “ficamos melhores separados” ou com um “viveram felizes para sempre” HAHAHAHA
UAHSUAHSUASH Corta pra cena final de avenida Brasil os dois se olhando hahaahaha, Te aviso quando vier o próximo cap da novela.
Interessante o que acabei de ler aqui, existe muitos artigos em seu blog relacionado a este que acebei de ler gostei de seu blog.
cine vision v6