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– Sim, a vilã é exatamente quem você acha que é. Uma parasita idosa que está só desperdiçando oxigênio, pois não agrega em absolutamente nada. Soa propositalmente idêntico.

Cruel Warmth

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PARTE 01.

RAVEN’S CODE.

PRÓLOGO.

  TUDO COMEÇA QUANDO UM BRUXO PURO-SANGUE SE APAIXONOU POR UM TROUXA.
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  Uma história que parecia se repetir com frequência no mundo bruxo. Um bruxo considerado puro-sangue, nascido dentro de um nome poderoso e respeitado, apaixonar-se por um mero humano trouxa apenas revelava a tragédia encravada no âmago de corações que não podiam ver barreiras, mas apenas buscar reconhecer semelhantes. Inescapável, certamente. Evitável.
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  A família Rozenn, porventura, era reconhecida no mundo bruxo — especialmente na França — não apenas por sua beleza estonteante, capaz de enlouquecer bruxos (graças, provavelmente, à herança das antigas criaturas chamadas Veelas), como também por sua pureza sanguínea intacta. Mantinham a tradição de envolver-se apenas com bruxos puro-sangue, permitindo que suas habilidades não apenas florescessem, mas alcançassem profundidade — sobretudo no que dizia respeito às poções.
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  Essa tradição não carecia do apoio de muitos no mundo bruxo. Contudo, os jovens dessas famílias, por vezes, preferiam desertá-la, escolhendo, por vontade própria, a solidão infundada do mundo trouxa, a submeter-se ao eterno tormento de casar-se com um desconhecido apenas para manter segura a linhagem de sangue. Eram famílias com habilidades consideráveis, que cultivavam uma presença fixa em escolas renomadas no mundo mágico, como a Beauxbatons — e, eventualmente, em outra instituição mais adequada às expectativas da matriarca da família: a temida Durmstrang.
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  Blanche Rozenn nasceu durante uma noite de intensa tempestade, no fim do verão francês. Dizia-se que, desde pequena, a menina havia vindo ao mundo com o único propósito de tornar-se uma força a ser reconhecida. Determinada, habilidosa e focada em seus objetivos, não havia quem realizasse um feitiço tão bem quanto Blanche Rose-Marie Rozenn. No entanto, sua verdadeira habilidade estava nas palavras. Garota ladina e sagaz, era facilmente uma das mais carismáticas e expressivas alunas de Durmstrang. Pouco não conseguiria com algumas palavras bem arranjadas e um tom de voz doce e amigável. Pouco não conseguiria com aquele sorriso charmoso e convidativo.
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  Conforme cresceu, aceitou a proposta feita por sua família de unir as casas Greengrass e Rozenn. Após uma breve negociação, ficou decidido que Edwin Greengrass seria o responsável por trocar seu sobrenome e assumir o posto de herdeiro da família Rozenn. Com um ano de casamento, Blanche e Edwin — agora estabelecidos em Paris — receberam, em sua mansão, a pequena Joanne Karine Rozenn, primogênita do casal. Nomeada em homenagem à avó materna, a garotinha era fisicamente idêntica à mãe, exceto pelos olhos herdados do pai. Como era comum entre as crianças Rozenn, seus cabelos platinados — quase brancos — carregavam a fama de serem fruto de um pacto antigo com uma criatura mágica ancestral.
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  É claro, não passavam de lendas. Mas o folclore que envolvia o poder da Casa Rozenn jamais fora desmentido. Quaisquer que fossem as intenções por trás da manutenção da tradição, o objetivo era sempre lembrar a todos da importância que a linhagem carregava.
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  Blanche e Edwin ainda se tornaram pais de mais três meninos antes da chegada do último filho.
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  A história, até aqui, tornava-se mais complexa. Após quase doze anos de casamento, o casal — conhecido por sua imagem impecável — ocultava do olhar público as incoerências e dificuldades causadas pelos ressentimentos de um relacionamento arranjado. Convidados pelo Ministro da Magia a mudarem-se para Bucareste, receberam, como extensão da oferta, a oportunidade para Blanche Rozenn tornar-se uma das professoras de Durmstrang. Uma posição de grande prestígio, jamais negada pela agora matriarca da família Rozenn.
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  E foi nesse novo cenário que ela conheceu o admirável professor de Arte das Magias das Trevas, conhecido apenas como Vladimir Krasny.
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  Um homem bonito e imponente, de postura intrigante, olhos intensos e observadores — capazes de captar pequenos detalhes que até mesmo os mais atentos poderiam deixar escapar por mero acaso ou distração —, e uma quietude gentil que parecia sempre ser um convite para que se orbitasse ao seu redor. Os cabelos destacavam-se entre os rostos pálidos que povoavam Durmstrang, e sua gentileza, certamente, desafiava a postura mais fria das famílias puro-sangue de bruxos que compunham o Instituto. Talvez tenha sido por isso que Blanche Rozenn se encantou pelo homem soturno ou, igualmente, fosse apenas o despeito causado pelo marido, que agora preferia trabalhar com maior frequência no Ministério da Magia da Romênia, parecendo estar determinado — quase obcecado — a entender o componente há muito desaparecido do mundo bruxo, conhecido como Magia Ancestral. Quaisquer que fossem as desculpas pérfidas e irrisórias que Blanche pudesse usar para justificar sua traição, o fator-chave ocorreu: ela se envolveu com o belo e silencioso professor de Artes da Magia das Trevas.
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  O caso durou cerca de três anos, período em que Blanche Rozenn lecionou, antes de retornar, mais uma vez, a Paris. E, desse caso extraconjugal, nasceu sua última criança, que recebeu apenas o nome de River, ou como Edwin Greengrass-Rozenn a chamava afetuosamente: Rio. Para pouca surpresa de todos, embora ainda os deixasse perplexos, Blanche Rozenn não sobreviveu ao último parto. Já enfraquecida pela perda de sangue, morreu pouco antes de sua última criança nascer, perdendo a oportunidade de ter um último confronto com seu marido, Edwin, sobre a paternidade da criança.
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  Ficou claro, no momento em que a criança saiu de seu ventre, que não carregava o mesmo sangue de Edwin. Não era apenas a pequena estrutura que levantava suspeitas, mas também os pequenos detalhes que se tornaram evidentes conforme a criança crescia. Primeiro, a herança característica da família Rozenn não se manifestou na constituição de Rio que, por obra do destino — ou de um certo carma —, possuía cabelos , tal como o pai biológico, e não os loiros pálidos naturais de um Rozenn. Igualmente, possuía os olhos , intensos e profundos, e não os azuis quase prateados da família. A dissonância era tamanha que, mesmo para uma criança, seria evidente a infidelidade da mãe para com o pai. E, ainda assim, Edwin Greengrass-Rozenn, de alguma forma, não guardou ressentimento da criança, mesmo tendo todo o direito de fazê-lo — levando em consideração que Rio era a prova viva da infidelidade de sua falecida esposa.
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  Embora alguns o chamassem de tolo e até mesmo depravado por sua postura, Edwin Greengrass-Rozenn não mudava. Pelo contrário, demonstrou profunda compaixão ao tomar a criança como sua no instante em que segurou o pequeno corpinho que protestava entre soluços, sem hesitar. Sua falecida esposa poderia ser a culpada, mas não a criança que ela havia carregado. Portanto, o ressentimento partiu de sua primogênita, mesmo contra a vontade do patriarca da família, e tomou forma nas atitudes de Joanne Karine Rozenn, que não demorou a influenciar os outros irmãos. Com o passar dos anos, à medida que as crianças cresciam, a discrepância no tratamento dos filhos de Edwin por parte de estranhos tornava-se visível. Talvez fosse por isso que o patriarca tendesse a favorecer sua filha mais nova.
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  Veja bem, não é que Edwin não amasse os outros filhos com respeito e dedicação, como fazia com Rio. Talvez, fosse a natureza de Blanche, profundamente marcada em Joanne, que o fazia, mesmo contra sua vontade, repudiar os mais velhos e ter um ponto mais suave e gentil para com a caçula. Ou, talvez, fosse a percepção de que a única criança que realmente parecia carregar um resquício de sua própria gentileza e compreensão fosse justamente Rio — e nenhuma outra. Ou, ainda mais perverso, ressentido pela traição da esposa, desejasse suprir todas as necessidades da criança para que Rio jamais precisasse sequer se lembrar de quem sua mãe ou pai biológico haviam sido. O suficiente para que nada lhe faltasse além dele.
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  E, de fato, Rio nunca precisou de mais ninguém em sua vida além de Edwin.
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  Quando a família se mudou para Londres, pouco mais de dois meses após Edwin adoecer, chegou o momento de Rio decidir para qual escola desejaria ir. Com o histórico da família puro-sangue, seria bem aceita em qualquer lugar onde quisesse trilhar seu caminho. No entanto, quando a carta de Hogwarts chegou, Rio prontamente a descartou, preferindo seguir os passos anteriores da família e ingressar em Durmstrang. É claro que Edwin não aceitou bem a decisão, considerando o histórico e as memórias amargas que guardava daquele lugar, mas, igualmente, não questionou a escolha da filha, pois não lhe cabia tal papel.
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  Teria apoiado Rio independentemente de onde seu caminho a levasse, mesmo que lhe apertasse o coração o receio de perdê-la para a Romênia — novamente.
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  A escolha de Rio por seguir para Durmstrang não se devia ao desejo de pertencer à sua família, pois há muito já havia enterrado a vontade de ser aceita pelos irmãos. Devia-se unicamente ao desejo de provar-se superior a Joanne. Joanne, que não hesitava em usar palavras cruéis e violentas contra a existência de Rio, logo percebeu que o talento da irmã superava o dos demais membros da família. O interesse de Rio pelas Artes das Trevas não estava ligado à execução de feitiços obscuros nem ao desejo de tornar-se um bruxo das trevas, mas nascia puramente da necessidade de se defender de Joanne.
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  Enquanto Joanne despertava cada vez mais a atenção de colegas e professores — exibindo, desde tenra idade, a habilidade herdada da mãe, Blanche, de encantar e convencer com as palavras —, rapidamente se tornou uma estrela entre os futuros colunistas do Profeta Diário. Rio, por outro lado, demonstrou uma impressionante aptidão para a metamorfomagia — talvez a mais notável que já passara pelos salões de pedra de Durmstrang. E foi isso que a levou até ele.
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  Nomeado Django, em homenagem ao tio-tataravô — conhecido na comunidade como o Bardo por suas cantigas ridículas, porém grudentas —, o garoto trouxa cresceu em uma pequena comunidade Romani, no coração de Cluj-Napoca. Espírito livre, sorriso cativante e personalidade calorosa, Django não se preocupava com muitas coisas além das próximas peripécias e de como convencer alguém a lhe oferecer comida de graça. Embora nascido em uma família trouxa, os Vatra não eram desprovidos de magia — apenas a concebiam de maneira diferente. Sua visão de mundo moldava sua percepção, mas, ainda em tenra idade, Django conseguia ver os rastros da Magia Ancestral ao seu redor.
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  Ele a via envolvendo seus irmãos mais novos e sua mãe, Esmeralda. Via magia na maneira como seu pai dedilhava o violão e cantava “O Dadoro” para os filhos quando não queriam dormir e a fogueira ardia intensa demais para que seu calor fosse ignorado. Django a enxergava também nos rostos desconhecidos daqueles que desapareciam entre paredes ou andavam com varinhas em punho. Às vezes, gostava de esgueirar-se entre vielas estreitas até alcançar pubs onde tais criaturas se reuniam para beber algo vagamente semelhante à cerveja.
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  E foi lá que, aos dezesseis anos, ele viu Rio pela primeira vez.
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  Apaixonou-se — não pela aparência, mas pela essência de Rio. Era uma figura curiosa: enquanto muitos tendiam a se encaixar em algum ponto do espectro de gênero, Rio subvertia essa concepção à sua própria maneira. Não era uma coisa ou outra — era apenas Rio, de beleza imensurável e timidez encantadora. Na maior parte do tempo, quando Django encontrava Rio, ela usava roupas masculinas e os cabelos estavam curtos. Django gostava especialmente quando ela usava tons de verde, que faziam os cabelos parecerem ainda mais intensos. Gostava de poder emprestar-lhe roupas, nas noites em que ela dormia em sua casa.
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  Os pais de Django nunca questionaram profundamente quem era Rio; apenas a acolheram como parte da família, com ternura e afeto. Por isso, não houve hesitação quando Rio se viu diante do dilema que tantos bruxos puro-sangue enfrentam ao se apaixonarem por um trouxa.
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  Nem mesmo Edwin, seu amado pai, pôde tolerar tamanha “traição” vinda justamente de sua filha preferida. É verdade que, no leito de morte, ele a perdoou. Mas já fazia tempo que Rio havia sido expulsa da família e relegada, sem piedade, ao mundo dos trouxas — consequência direta da influência de sua irmã mais velha.
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  Por um breve período, a perseguição de Joanne cessou.
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  Ocupada com sua carreira de escritora e agora como a nova matriarca da família Rozenn, estava atarefada demais para se preocupar com Rio. E uma vez que a irmã havia sido banida e vivia uma vida simples com seu agora marido, Django, pouco podia fazer para interferir nos próprios planos de ascender ao Ministério da Magia. Joanne influenciava alguns azêmolas da sociedade bruxa com palavras vazias, convenientes ao ódio que cultivava — sem perceber que o fazia por pura debilidade emocional e enfado existencial. Seja como for, por um breve momento, Joanne estava satisfeita com a bajulação infundada que recebia por suas palavras habilmente arranjadas para fazê-la soar bem.
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  Mas então, Rio e Django tiveram uma criança.
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  A criança herdara de Rio sua aparência, mas era de Django a sua personalidade. Curiosa, admiravelmente sagaz e perspicaz, era tão boa em observar detalhes quanto o seu avô biológico podia; tal como o pai, não apenas enxergava os rastros de Magia Ancestral, como, surpreendentemente, a manuseava quando estivesse se concentrando muito. E isto despertou não apenas o interesse de Joanne, como, igualmente, seu senso de direito sobre a garotinha. Verdade seja dita, Joanne jamais iria aceitar ser menos que alguém, principalmente Rio, a quem jogava toda culpa —— aquela que sequer possuía culpa alguma. Joanne precisava vilanizar alguém para que pudesse suprir o doloroso fato que se recusava a reconhecer que a pessoa mais nojenta que poderia ter conhecido a encarava todos os dias pelo espelho.
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  Orgulhosa, não demorou muito para que Joanne iniciasse uma verdadeira Caça às Bruxas. Alegou uma série de crimes que Rio jamais poderia ter cometido, contudo, uma vez que Joanne havia conquistado a credibilidade que precisava, tampouco importava se suas palavras possuíam algum fundamento ou não; desde que ela o dissesse, alguns bruxos inescrupulosos rapidamente a usariam como “verdade absoluta” para fundamentar seus próprios desejos pessoais e suas agendas. Para o desgosto de alguns poucos membros do parlamento, o Ministério da Magia não havia demorado tanto para aceitar as acusações difamatórias de Joanne, e como tal, tentarem capturar Rio e Django.
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  Mas o ódio que Joanne havia propositalmente incitado, não eram apenas pequenas chamas facilmente controláveis. Uma vez que o medo era instaurado e o ódio “justificado”, tornavam-se labaredas gigantes que consumiam tudo pelo caminho, até que houvesse apenas cinzas. E talvez Joanne não tivesse a intenção de ver a dizimação de seus parentes, ou, talvez, lhe trouxesse para sua existência miserável, o conforto de uma validação muito esquecida em sua mente infantil. A validação de que ela era a melhor —— mesmo que não fosse. A validação de uma insegurança que em nada possuía conexão se não a si mesma.
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  Mas uma vez que havia o desejo de cegar-se, um acreditaria em quaisquer mentiras que lhe fossem ditas; mesmo as que dizia a si mesmo.
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  Após a morte violenta e trágica de Rio e Django, a pequena garotinha, na época com apenas 3 anos, havia sido deixada sob a tutela de Joanne Karine Rozenn. A tutora não tardou em criar uma nova história, aclamada, que havia vendido inúmeras cópias para os bruxos de todo o mundo; uma doença perigosa e facilmente contagiosa que percebera que sua sobrinha possuía. Causada pelo sangue sujo de um trouxa e um sangue-puro, o resultado poderia acarretar nas lacerações contínuas dos pequenos membros das crianças, criando inúmeras cicatrizes na pele que o marcavam como doente. Devido a isto, um planejamento maior havia sido feito pelos bruxos de Durmstrang, que temiam que seus alunos pudessem vir a apresentar tal doença, e, como tal, extinguiu-se propositalmente a entrada de bruxos mestiços.
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  É claro que houve, de certa forma, resistências para com o novo livro de Joanne Karine Rozenn, e que isso a tornara mal vista em lugares mais progressistas, todavia, agora como a Vice-Diretora de Durmstrang, era apoiada por inúmeros pais e estudantes do Instituto que presavam fortemente para manter o sangue bruxo sempre puro. O que poucos poderiam saber era que as poderosas exibições de magia que Joanne Karine Rozenn fazia em suas celebrações, na verdade vinha exatamente de uma canalização conectada diretamente com a garotinha acorrentada nas catacumbas abaixo do castelo de Durmstrang. E as cicatrizes que se formavam nos braços da menina eram apenas as marcas deixadas para trás de sua crueldade, causadas pela Magia das Trevas.
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  Porque Joanne jamais seria algo melhor do que uma mera parasita.
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CAPÍTULO 01 • A WARM HEART IN COLD LAND.

  AS CATACUMBAS SE ABRIAM PARA UM POÇO DE CORPOS APODRECIDOS.
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   desabou contra o chão coberto por pedras retangulares, porosas e umedecidas pela calefação precária do lugar, cuidadosamente enfileiradas. O impacto, que lhe roubou o ar, a cegou momentaneamente por completo. A dor pulsava por seus membros; o ar faltava-lhe nos pulmões de forma tão dolorosa que pequenos pontinhos de luz explodiam ao redor de suas pálpebras, brilhando e piscando como pequenas estrelas, enquanto os músculos sofriam pequenos espasmos.
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  Não era apenas o cheiro insuportável dentro das catacumbas, nem o sangue pungente, com uma textura pegajosa, que grudava em sua pele de maneira nauseante e a incomodava profundamente. Eram, igualmente, os risos que acompanharam sua queda. desejou poder chorar — na verdade, ela estava soluçando sem parar fazia algumas horas já, o suficiente para que seu abdômen doesse e seu diafragma parecesse em chamas com o movimento de contração contínuo —, mas, a essa altura, não restavam sequer lágrimas em seu rosto que pudessem lhe fazer alguma justiça. Ainda assim, obrigou-se a levantar-se. Obrigou-se a correr o mais rápido que conseguia. Obrigou-se a manter o olhar focado no caminho à sua frente. Obrigou-se a não olhar para trás. Custasse o que custasse, ela não deveria olhar para trás. Não importava o quanto seu instinto a mandasse fazê-lo. Não importava o quão próxima a criatura parecesse estar. Ela não deveria olhar para trás. Não importava o quanto o Basilisco rugisse ao tentar alcançá-la com suas presas grandes e afiadas.
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   ofegava. No lugar das lágrimas, agora havia apenas suor escorrendo por seu rosto amortecido, misturando-se com o sangue de desconhecidos — e o próprio —, marcando sua face com a brutalidade da perseguição em andamento. As risadas ecoando pelas paredes, com condescendência e desprezo, formavam um coral já familiar para a garota — não era, por isso, menos cruel. desejou novamente chorar, mas não conseguia mais. Seu corpo havia chegado ao limite; importava-se apenas com a sobrevivência. Questionava-se o que diabos poderia haver de tão errado com ela — pois deveria haver algo de errado, não havia outra resposta plausível. Quando uma pessoa lhe dizia que você era ruim, talvez houvesse algum erro de julgamento. Mas quando inúmeras pessoas diziam isso… então, talvez, realmente existisse um problema severo em você.
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   desejava apenas entender. Se seus amigos pudessem simplesmente lhe contar o que havia de tão errado com ela, se pudessem dizer onde estava errando tão dolorosamente, talvez — apenas talvez — ela pudesse finalmente consertar o que havia dentro de si e ser como eles queriam. Talvez assim pudessem, finalmente, ser amigos de verdade. Ou, ao menos, não rissem com tanto alarde dela. Talvez até a aceitassem. Gostassem dela. Ou, ao menos, parassem de colocá-la em situações em que sua única escolha era correr ou chorar por sua vida. Ela sabia que achavam engraçada a situação. Sabia que as risadas talvez não fossem maldosas — era apenas o jeito deles, cada um se divertia como bem queria. Mas ainda assim doía ouvir risos a cada queda, a cada novo corte que se abria em sua pele.
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   só queria entender por que, quando as pessoas olhavam para ela, tudo o que viam era… aquilo. Uma sangue-ruim. Às vezes, acreditava nas palavras da tia Joanne, sobre ter nascido um monstro e sido a causa da morte de seus pais. certamente não queria ser um monstro; só não sabia como não ser um. Não queria fazer mal a ninguém. Só queria ter um amigo — qualquer um, ela não se importava. Esse amigo nem precisava gostar dela. Apenas… não rir alto quando ela caísse no chão já seria suficiente. não conseguia entender por que a odiavam tanto assim. Por que a detestavam se ela não havia feito nada? Era tão… injusto! E, em paralelo ao sentimento de impotência, restava-lhe apenas o cansaço.
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  Alguém tão jovem só poderia aguentar uma determinada quantidade de corações partidos.
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  Talvez devesse deixá-los odiá-la. Talvez não houvesse nada dentro de si que fosse digno de ser amado. Talvez ela realmente fosse um problema e merecesse ser tratada assim. Era uma boa punição. Se tivesse escolhido nascer como uma sangue-ruim, então merecia a correção, certamente. Talvez, como sua tia Joanne sempre dizia, estivesse choramingando e praguejando por ser uma criatura insensível e monstruosa demais — egoísta em seu âmago —, sem enxergar o ponto de ser punida daquela forma por ter sangue trouxa em suas veias. Era impossível que tantas pessoas estivessem erradas sobre ela. merecia ser tratada assim, mesmo que não entendesse exatamente o porquê.
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   caiu com força, outra vez, tropeçando contra um corpo — e gritou, em completo pavor.
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  O corpo estava coberto de larvas, a esta altura. Apodrecido e desgastado pelo tempo que já havia passado lá embaixo, nas catacumbas, a umidade do ar e os gases que exalavam dele tornavam os corredores ainda mais quentes e repulsivos. O cheiro era insuportável. Mas, por mais estúpido que parecesse — especialmente para alguém que estava sendo perseguida por um basilisco em meio às catacumbas abaixo do Instituto Durmstrang —, estava com mais medo das larvas.
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  Ela havia passado a odiá-las e temê-las como se fossem seus verdadeiros bichos-papões. Portanto, o grito que rompeu de sua garganta — forte o suficiente para deixá-la rouca — bastou para que a serpente sibilante a localizasse outra vez.
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  A garota tentou se levantar, bem a tempo de se lançar contra um vão entre as paredes arredondadas das catacumbas, rolando várias vezes pela escadaria quebrada, com pedras retangulares faltando em determinados pontos, até se chocar contra a parede atrás de si.   Mais um corte se abriu, desta vez em sua nuca, e conteve um soluço de dor. Seus olhos estavam embaçados o suficiente para distorcerem a luz, enquanto ela prendia a respiração com força, trêmula, observando com horror o corpo rastejante do basilisco deslizando pelos corredores das catacumbas — tão próximo dela que algumas escamas haviam arranhado seus braços cheios de cicatrizes.
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   achou que finalmente fosse desmaiar. Podia sentir sua pressão alcançar um pico e, então, despencar. Sua cabeça parecia girar no lugar, e ela soltou um soluço baixo, engasgado, enquanto seu corpo se dobrava para a frente e ela esvaziava o estômago. O vômito não revelava nada além de bile — provavelmente porque ela não comia havia dois dias, uma consequência de uma imprudência que fora devidamente punida por Joanne.
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  Com a adrenalina e o instinto de sobrevivência martelando em sua mente, amortecendo tudo ao redor, não esperou para saber se ali encontraria seu fim. Certamente, mesmo que morresse, seu espírito ainda não conseguiria compreender a própria passagem.
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  Soluçando, obrigou-se a levantar-se mais uma vez, cambaleando cegamente, tateando a parede até encontrar um pequeno vão à sua direita — e voltou a correr por sua vida.
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  Seus músculos já estavam trêmulos pelo esforço e pela exaustão física; não demoraria muito para que desabasse no chão permanentemente. Talvez fosse mais fácil se ela simplesmente…
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  Quando caiu, desta vez, não conseguiu se levantar novamente. Ouviu o rugido do basilisco avançando em sua direção, o bafo cálido e putrefato atingindo seu rosto, enquanto ela fechava os olhos com força, encolhendo-se, esperando pela mordida. Esperava o momento em que as presas venenosas da criatura se fincariam em sua pele, retalhando os músculos e dilacerando os ossos. Mas a mordida nunca chegou.
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  Ao longe, ela pôde ouvir o grito de um galo. ouviu um gorgolejo, mas não abriu os olhos para verificar de onde viera. Só os abriu quando sentiu a vibração do corpo da criatura chocando-se contra o chão — reverberando pelo seu corpo e fazendo seus dentes baterem uns contra os outros — antes de registrar que o basilisco que a perseguia agora estava morto. não soltou um suspiro de alívio. Pelo contrário, tremeu com mais força, sentindo um medo ainda pior do que o de ser presa de uma criatura como aquela.
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  Seus olhos desviaram-se do corpo da cobra — agora jazendo ao seu lado — para encarar os saltos stilettos que estalavam contra o chão de pedras retangulares, úmidas e cobertas pelo sangue dos outros que estavam presos nas catacumbas. desejou poder fugir — desejou tão forte que sentiu uma pequena dor ao redor das têmporas, enquanto fechava os olhos —, mas, como sempre, não havia ninguém para resgatá-la.
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  Ninguém nunca veio resgatá-la. Ao menos, não daquele monstro.
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  – Chega! – A voz de Joanne Karine Rozenn ecoou pelas catacumbas com intensidade, reverberando entre as pedras com um tom de aprovação mal disfarçado. Seus olhos azul-prateados, gélidos como a neve, desviaram-se momentaneamente do rosto de para encarar os alunos que se escoravam na entrada das catacumbas, com olhares ansiosos e divertidos. – Isso é tudo por hoje. Estão dispensados.
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   não se moveu. Continuou ali no chão, tremendo, encarando suas mãos — agora cortadas, cobertas de sangue e com pequenas queimaduras causadas pelo veneno do basilisco. Coberta de suor e sangue, era difícil ignorar a sensação pegajosa da própria pele.
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  Os risos cessaram, substituídos por resmungos desapontados.
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  A vice-diretora de Durmstrang bateu algumas palmas para retomar a atenção dos alunos do primeiro ano, passando os últimos avisos enquanto os encaminhava para a próxima aula com o velho professor Krasny, em História da Magia. Diferente das outras crianças, não os acompanhou.
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  Como sangue-ruim, não podia acompanhá-los mesmo que quisesse. Sua tia Joanne dizia que já havia conseguido mantê-la nos terrenos do Instituto a muito custo, em meio a longas deliberações com os demais professores da borda estudantil daquela instituição mágica. Pedi-los para aceitá-la como uma de suas alunas era um absurdo impensável — quase uma heresia. , todavia, era permitida a ajudar os colegas de turma em seus treinamentos, quando necessário. Uma espécie de cobaia, ouvira o professor Volkov dizer certa vez, embora não compreendesse totalmente o significado da palavra, tampouco como ela se aplicava a si. Supunha que talvez fosse esse o único motivo que ainda a mantinha ali. Ao menos, não completamente esquecida.
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  De toda forma, a presença de bruxos mestiços ou vindos de famílias trouxas era terminantemente proibida nos terrenos de Durmstrang. não sabia dizer se sempre fora assim, ou se essa política fora instaurada mais recentemente. A única coisa de que tinha certeza era que, embora não pudesse estudar ali, também lhe era proibido sair — ou buscar refúgio em qualquer outro lugar do mundo. Uma vez, viu, pelas janelas, uma coruja carregando uma carta. O papel branco se destacava contra os bancos de neve por causa do pequeno selo vermelho.
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  Tia Joanne matou a coruja e queimou a carta com a varinha.
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   nunca entendeu exatamente por que ela fizera isso, mas desde então — já fazia um ano — nenhuma outra coruja se aproximou. O que quer que houvesse naquela carta, irritara profundamente sua tia, pois naquela semana, se alimentou apenas dos restos de pão mofado de uma caixa perto da despensa — com exceção de uma ou outra maçã que Kaprizen, um dos elfos domésticos do Instituto, lhe deu às escondidas.
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  Assim que as catacumbas se esvaziaram por completo, tia Joanne voltou o olhar para . Havia algo de assustador no olhar da mulher que paralisava a menina. até mesmo temia respirar de forma errada diante da tia. Engoliu em seco, os olhos voltando lentamente na direção da mulher de cabelos platinados e olhos prateados fixos em seu rosto. desejou, mais uma vez, simplesmente desaparecer. Mas desta vez, não vieram insultos nem tapas. Joanne apenas estalou os lábios, em desaprovação, indicando com o queixo que a menina se levantasse, estendendo-lhe a mão.
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  – Ande, está na hora do seu tratamento – disse Joanne Karine Rozenn com um tom de voz baixo, quase tranquilo — completamente oposto ao desespero e medo que ainda pulsavam da menina como ondas contínuas. – E vamos cuidar dessas suas novas feridas.
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•••

  O quartinho onde vivia não possuía sequer 10 metros quadrados.
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  Durante o inverno, era insuportavelmente gélido. No verão, sufocante e cálido. Quando não estava suando, estava tremendo. Às vezes, os dois ao mesmo tempo, em um intervalo ridiculamente curto. As paredes lhe causaram claustrofobia no início, mas com o tempo, se acostumou a manter os olhos fechados e fingir que estava dentro de alguma das telas que vira uma vez, há muito tempo, no escritório de sua tia. Um prado vasto e verde vívido, com pequenas flores silvestres espalhadas ao acaso, guiando talvez para uma floresta escura — mas que, sem sombra de dúvida, parecia mais segura que as catacumbas de Durmstrang.
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   se encolheu outra vez sob os lençóis puídos e finos, observando com tristeza as próprias mãos. Uma nova cicatriz se formava onde tia Joanne lançara o feitiço. Da ferida, esvaía-se um brilho esbranquiçado de magia, espiralando pelo ar em formas abstratas, enquanto a menina esperava o sono. Estava tão cansada de fugir do basilisco que não conseguia dormir. Seus músculos doíam tanto pelas quedas e fugas que mover-se na cama tornava-se penoso.
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  Virou-se de lado, de frente para a parede, soltando um gemido baixo de dor. Fechou os olhos com força, implorando outra vez — para o que quer que estivesse ouvindo — que viesse resgatá-la. Talvez até mesmo Azkaban fosse um lugar melhor. Talvez passar fome nas ruas fosse melhor
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  O ar gelado que atravessava as paredes de pedra lhe dava algum alívio, especialmente naquele espaço abafado. Dependendo de como apoiava o nariz contra a parede, quase conseguia imaginar que a corrente fria era ar puro. Às vezes, das fissuras nas paredes, surgiam sussurros. Baixos, sibilantes, que espiralavam por seus ouvidos de forma quase convidativa. Eram altos o suficiente para serem reconhecidos como vozes, e ainda assim, baixos demais para se entender o que diziam.
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  Quando mais nova, até tentou entender as palavras. Mas a repetida frustração a levou a crer que, fosse o que fossem aqueles sussurros, não eram destinados a ela.
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   fechou os olhos com mais força, tentando obrigar-se a dormir, quando o eco suave e distante de música atravessou as paredes.
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  Ela não se lembrava de sons ou melodias como aquelas. Presa desde pequena nas catacumbas, raramente autorizada a subir aos pátios do Instituto, pouco conhecia do mundo exterior. Aquele som não era agressivo, tampouco causava dor aos ouvidos — não lembrava ratos, nem o basilisco. Era estranho, desconhecido, mas ainda assim… belo. Com um fungar baixinho, se sentou na cama, usando o dorso das mãos enfaixadas para limpar o rosto, piscando inúmeras vezes a fim de clarear a visão — mesmo que não conseguisse ver a um palmo de distância.
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  Era arriscado. Extremamente arriscado. Se sua tia descobrisse que havia tentado se aventurar novamente pelos corredores de Durmstrang, estaria em apuros por meses. Mas, ao mesmo tempo, a garota — que passava a maior parte do tempo trancada naquele quartinho, tentando ler à luz de uma fissura com os livros que Kaprizen contrabandeava em gestos de compaixão — estava curiosa. Queria ouvir só mais um pouquinho.
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   tateou as paredes de pedra com cuidado, esgueirando-se por entre pequenos vãos. Observou, escondida, alguns alunos sentados em bancos de pedra ou escorados na entrada, rindo e conversando entre si. Alguns eram mais velhos, outros pareciam ter sua idade, sentados em círculo, gargalhando enquanto comiam doces ou giravam suas varinhas praticando feitiços. Algo dentro do peito de pareceu se partir. Ela queria tanto fazer parte daquilo. Às vezes, imaginava-se sentada com eles, ouvindo suas risadas, compartilhando algum doce. Perguntava-se como seria o sabor. Seriam doces de verdade? Ou mais amargos?
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  Mordeu o lábio inferior ressecado e lançou um olhar assustado para trás, em direção ao seu pequeno quartinho, antes de disparar silenciosamente, o mais rápido que conseguia, apesar da exaustão dos músculos — evitando chamar atenção de possíveis colegas… ou dos zeladores do Instituto.
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  – Sangue-ruim! – gritou um dos meninos de sua idade, sentado na rodinha, seguido por uma gargalhada e um comando de “perseguição”.
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   arregalou os olhos, percebendo tardiamente que havia sido pega em flagrante e, como em todas as vezes em que isso acontecera, não demorou para que as outras crianças dessem prosseguimento à perseguição contra a garotinha.
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   correu como se sua vida dependesse disso.
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  As crianças lhe arremessaram livros e até mesmo lançaram feitiços em sua direção. Nenhum Feitiço Imperdoável, é claro — seja lá o que isso significasse para eles —, mas feitiços que poderiam levitá-la, caso assim desejassem, ou prendê-la novamente em um dos lustres. Ou pior: fazê-la se coçar até que sua pele estivesse em carne viva.
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   sabia que gritar apenas os incentivaria mais. Então virou bruscamente à esquerda, descendo novamente as escadarias, em direção à sala da tia Joanne, que certamente já deveria ter escutado a comoção de gargalhadas e os gritos de comando das outras crianças.
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  No desespero, virou à direita, depois novamente à direita, até encontrar um vão na parede. Espremeu-se ali com toda a força, mordendo com força o lábio inferior quando a pressão machucou seu ombro esquerdo, tentando desaparecer entre a parede do Instituto e uma estátua. Prendeu a respiração, mesmo que seus pulmões estivessem desesperados por oxigênio, e implorou a qualquer entidade superior que a estivesse ouvindo para que a fizesse passar despercebida, até que todas as crianças se entediassem de caçá-la pelos corredores da Durmstrang e voltassem aos próprios interesses — antes que sua tia Joanne a encontrasse.
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  Sabia que o castigo viria de qualquer forma. Pelo menos poderia protelar um pouco antes de recebê-lo.
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  Mesmo que fosse um instinto tolo, fechou os olhos com força assim que viu as crianças passarem correndo por ela. Sabia que não demoraria para que percebessem o erro, e como ela mesma havia se encurralado. Todavia, a última coisa que esperava ver era o Professor Krasny.
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  O velho homem, de cabelos grisalhos misturados aos fios acobreados e olhos obsidiana como os dela, fingiu abaixar-se para recolher alguns dos livros que os estudantes haviam derrubado enquanto a perseguiam. Sem desviar o olhar dos volumes, sussurrou com um sotaque russo pesado:
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  – Siga as luzes.
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   piscou, surpresa com o comentário, mas ouvir os passos dos colegas retornando na direção dela foi suficiente para fazê-la sair imediatamente de seu esconderijo e seguir, ao pé da letra, as palavras do Professor Krasny.
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  Ela voltou a correr, os pés chapinhando no chão de pedras irregulares, escorregadio por pequenos amontoados de neve que derretiam nos terrenos do castelo — enfeitiçado para manter a neve longe.
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  Ainda escutava gritos e, por um breve segundo, sentiu-se tentada a olhar por sobre o ombro para verificar de onde vinham e quem a chamava. Certamente reconhecia as vozes de seus agressores, cada uma delas gravada no fundo da mente, espiralando sempre que tinham oportunidade. Mas então, lembrou-se vividamente do basilisco que a perseguia durante as aulas da tia, e como morria de medo de olhar para trás. Como supunha que a criatura de hálito fétido e presas venenosas poderia estar à espreita naquele mesmo corredor.
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  Então apenas correu. Correu o máximo que pôde, os olhos piscando em busca das luzes que o Professor Krasny dissera para seguir.
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  E então… lá estavam elas.
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   ouviu os sussurros outra vez, desta vez mais altos, espiralando não apenas dos telhados, como costumava ver, mas agora também ao seu redor — pontos brilhantes de bioluminescência, vivos, pulsando.
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  Ela parou de correr, esfregando os olhos, o cenho franzido. Olhou em volta, confusa e ao mesmo tempo fascinada, erguendo a mão direita para comparar com a nova cicatriz que a Professora Joanne observara. Uma pequena luz espiralava do ferimento e pairava no ar — não como os pontos que giravam livremente, mas parecida… não gêmea, apenas próxima.
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   teria se perdido ali.
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  Teria ficado admirando, com a fascinação de quem nunca vira o céu direito, mas ainda sonhava com ele. Que observava as estrelas de longe, imaginando como seria a sensação de apenas contemplá-las, assistindo ao passar dos seus infinitos anos enquanto ela mesma se desfazia em esquecimento e poeira.
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  A voz da tia ecoou em alto e bom tom, comandando-a para parar, e não pôde evitar: desta vez, obedeceu ao que os sussurros lhe diziam.
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  Direita.
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   virou à direita.
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  Esquerda.
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  Virou. E então novamente à esquerda. Esquerda.
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  Desceu, aos tropeços, uma escadaria em espiral, seguindo as luzes e os sussurros que a guiavam. Então novamente direita, direita, esquerda. Seguiu reto, depois novamente à direita. Os olhos de obsidiana voltaram-se instintivamente para o caminho que se abria à sua frente, e ela prendeu a respiração ao se deparar com uma das entradas das catacumbas — mas, desta vez, algo era diferente.
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  O corredor que se abria agora parecia mais… estranho do que ela se lembrava. deu um passo para trás, hesitante.
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  Uma fina camada, que parecia gelo, formava-se na entrada abobadada do corredor. Em vez de apenas revelar o breu das catacumbas do Instituto, refletia outro lugar. Um lugar estranho e completamente desconhecido. O chão de pedra era mais uniforme e escuro, com pontos duplos de luz se movendo rapidamente. Havia torres semelhantes às de Durmstrang — ou ao que se lembrava de ter visto poucas vezes — ou pequenas casinhas, lado a lado, apertadas e quase do mesmo tamanho, meio distorcidas pela penumbra de gelo.
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   prendeu a respiração outra vez, virando-se na direção da tia. O rosto de Joanne era uma máscara de frustração e fúria contida, marchando em sua direção.
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  A garota ofegou, agarrando a frente da blusa puída com força, os olhos arregalados saltando da imagem da tia para a visão distorcida pelo gelo à esquerda.
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  Céus, sua tia iria matá-la! Ela tinha certeza!
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  Durante todos os anos em que vivera ali, a regra fora sempre clara: pior do que se fazer notar era humilhar a tia Joanne diante dos colegas e estudantes. Pior do que ser percebida era se colocar à frente de Joanne. deveria ser como um fantasma — apenas assombrar, jamais pedir ou exigir algo. Ela não tinha direito algum. Era um monstro, aceito ali apenas pela misericórdia daqueles que ainda esperavam que fosse útil para alguma coisa — uma cobaia, nada mais.
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  E agora, havia se feito notar. Pior: havia desafiado as regras da tia Joanne, a expusera ao ridículo diante de todos.
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  Tia Joanne iria matá-la. Não, dessa vez estava mesmo encrencada!
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  Ofegante, em pânico, a garotinha agiu por puro instinto e desespero. Disparou em direção à fina camada de gelo que cobria a entrada do corredor — como uma membrana embaçada, impossível de compreender. Um passo após o outro. Sentiu as unhas da tia Joanne cravarem-se em seu ombro esquerdo, mas, desta vez, deixaram apenas arranhões e vergões para trás, quando a garota se projetou adiante, desabando no vazio.
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  – ! – o grito da tia Joanne desapareceu no instante em que afundou no portal.
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  Então, tudo escureceu.
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CAPÍTULO 02 • TWIST AND SHOUT, BABY.

  O PORTAL A FEZ CAIR NO MEIO DE UMA RUA MOVIMENTADA.
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   gritou — alto, aterrorizada — raspando a garganta e fazendo-a doer, enquanto tentava se obrigar a levantar. Seus olhos dispararam, em pânico, na direção dos carros que avançavam ao seu redor, entre a cacofonia de buzinas, gritos e até xingamentos mal-educados dirigidos a ela, mas que se perdiam no vento e na velocidade do trânsito, misturando-se uns aos outros. tentou correr até um ponto seguro. Seus pés descalços tocavam com força o asfalto poroso, umedecido pela garoa; as panturrilhas, dolorosamente tensas, começavam a dar sinais de câimbra pelo esforço contínuo; os cabelos grudavam na nuca, no rosto e nas costas, enquanto o vento os lançava para trás, algumas mechas invadindo seus olhos. teve certeza de que iria morrer — teve ainda mais certeza quando os faróis se moveram em sua direção e a cegaram parcialmente. Ela só teve tempo de se encolher, cobrindo o rosto com os braços, esperando pelo impacto.
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  — OI! ENLOUQUECEU?! QUER SE MATAR, GAROTA IDIOTA?! — o grito veio de um carro que freou bruscamente, em um idioma esquisito que, surpreendentemente, conseguia entender, graças às poucas interações da tia Joanne com os outros tios. O carro cantou pneu e acertou um poste à sua direita. A menina piscou, surpresa, tremendo em choque, encarando o rosto furioso do motorista. Seu medo foi tanto que ela sequer esperou para ouvir mais: obrigou-se a correr novamente, tropeçando e caindo, levantando-se de novo — e de novo — até alcançar o ponto mais distante que conseguia. Até não conseguir mais correr.
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•••

  Desabando no chão, em algum ponto estranho da cidade barulhenta — uma interseção entre uma avenida movimentada e um parque cheio de árvores verdes, pessoas caminhando, correndo com seus cachorros ou subindo em pequenas caixas de madeira para debater acaloradamente sobre a guerra no Vietnã — seja lá o que fosse isso, realmente se perguntou que diabos era um “Vietnã” para causar discussões tão intensas —, ela finalmente se permitiu relaxar.
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  Seu corpo doía de exaustão e esforço físico; os pulmões queimavam; os músculos se contraíam, dando sinais de uma cãibra iminente. Ela sentia-os pesados e pulsando no ritmo acelerado dos batimentos cardíacos. Seus lábios estavam secos, assim como a garganta, e por uma fração de segundos, apenas tossiu — forte, sem parar — tentando recuperar o fôlego. Quando a tosse cessou, a menina respirou fundo, sentindo o cheiro de grama, poluição, urina, carbono queimado, e algo mais denso, carregado pelo vento vindo das árvores.
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  A grama, apesar de um pouco molhada, pinicava curiosamente a pele sensível de , fazendo-a se encolher e abrir os dedos instintivamente.
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   não fazia ideia de onde estava. Nem para onde o portal a levara. Na verdade, nunca havia visto um lugar como aquele. Podia ouvir as pessoas conversando em um idioma familiar, porém ainda estrangeiro. Conseguia entendê-lo com relativa clareza, mas ele não soava tão familiar quanto quando seus tios sussurravam em voz baixa com a tia Joanne.
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  Ela se lembrava de ter visto o avô Edwin uma única vez, e ele também usava aquele idioma. Soava estranho. Mas, ainda assim… ela não estava completamente perdida, certo? Certo?
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  Ela exalou fundo mais uma vez, engolindo em seco, e por um momento apenas aproveitou a cacofonia silenciosa da cidade. Ao longo dos anos, imaginou como seriam as cidades — ou lugares diferentes das catacumbas de Durmstrang —, mas verdade seja dita, ela nunca imaginou algo assim. Era muita informação, muito movimento, mas, ao mesmo tempo, transmitia um certo alívio.
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  Ali, era simplesmente ninguém. Invisível aos olhos alheios. No máximo, receberia um comentário maldoso ou outro — e só. Ali, ninguém se importava com ela o suficiente nem para olhar. era tão insignificante que ninguém sequer olhava para ela. E nunca havia se sentido tão livre.
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  A sensação era inebriante. se esticou, pela primeira vez em muito tempo, sentindo a grama pinicar sua pele e o ar frio envolvê-la, apesar da temperatura amena. Então, ergueu os olhos — para longe dos postes de luz, da sinfonia dissonante dos carros, dos prédios — e olhou para o céu pela primeira vez na vida.
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  Um suspiro de admiração escapou quase imediatamente.
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  Era estonteante.
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  Tantos pequenos pontinhos cintilantes espalhados pela malha de azul profundo, permeada por manchas alaranjadas e rosadas, escurecendo gradativamente com o tempo. Até as nuvens carregadas da chuva outonal pareciam fascinantes para . Ela se perguntou como seria tocá-las. Qual seria sua textura? Elas desapareceriam antes mesmo de serem alcançadas?
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   finalmente se sentou, coçando a cabeça com uma careta, olhando ao redor. Com a adrenalina diminuindo e o cansaço controlado, a menina percebeu que, desta vez, estava realmente perdida. Completamente perdida.
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  Levando a mão direita ao peito, agarrou o tecido da camisa, os dedos se cravando no pano como se aquilo pudesse facilitar sua respiração — não facilitou.
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  Franzindo o cenho, ela começou a entrar em pânico. Como voltaria para casa agora? Mas… que casa? Durmstrang não era sua casa. Tia Joanne não era sua família. Ela deixara isso claro vezes suficientes para que entendesse que jamais faria parte, não importa o quanto tentasse. Tia Joanne também não apreciaria seu retorno a Durmstrang. Para ser sincera, nem sabia se poderia — ou queria — voltar.
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  Ela estava à beira das lágrimas, assustada com o futuro incerto, quando alguém aparatou ao seu lado. se encolheu, protegendo a cabeça, mas então o vento trouxe um cheiro de pinho e algo invernal, com um toque cítrico que lembrava limão.
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  Ela soube, imediatamente, que não era tia Joanne nem os irmãos dela. Era o Professor Krasny.
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  Mas por que ele estaria ali?
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  — Levei quase cinco anos, mas fico feliz que finalmente tentou sair das catacumbas — disse o Professor Krasny com um tom mais contido, sem a agressividade que costumava usar nos corredores de Durmstrang. apenas o encarou, confusa e assustada. Do que ele estava falando? — Venha agora. Preciso levá-la à Pousada Três Vassouras. Não temos muito tempo. Não posso pedir que confie em mim, mas posso levá-la até alguém que cuidará de você. Não precisará se preocupar com Joanne Rozenn, se não quiser.
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  Ele ofereceu a mão, estoico como sempre, mas algo em seus olhos parecia mais gentil e compreensivo do que jamais foram. Mesmo assim, hesitou.
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  Ele bateu sua bengala escura — com a cabeça em forma de dragão — duas vezes no chão, mais por hábito que por necessidade. Em seguida, retirou discretamente sua varinha do casaco pesado, de acácia, pouco flexível. lembrava-se dessa descrição. Ele observou a rua ao redor com cuidado para não atrair olhares curiosos. Então, com um movimento rápido e preciso, estendeu a varinha para a beira da calçada.
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  Pouco tempo depois, ouviu o guincho de um pneu. Encolheu-se pelo som alto. E então, seus olhos encontraram o ônibus roxo. Ela agarrou a própria mão, segurando-a com força, enquanto o Nôitibus Andante virava a esquina.
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  Pela velocidade, ele deveria ter atingido ao menos quatro carros, mas, com um feitiço, encolheu-se até o tamanho da palma de uma mão e deslizou entre os veículos até parar diante deles. Buzinou duas vezes.
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  O cobrador, escorado na porta, virou-se para eles palitando os dentes e ajeitando o bigode fino, curvado como um caracol:
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  — Bem-vindos ao Noitibus Andante, transporte de emergência para bruxas e bruxos perdidos. Eu sou Branislav Shunpike, o condutor — informou ele, com aparência de alguém nem jovem, nem velho, cabelo desgrenhado sob o capuz e um cheiro estranho de algodão doce queimado.
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   hesitou, surpresa e receosa, olhando para o Professor Krasny, que permaneceu impassível.
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  Era estranho vê-lo fora dos corredores de Durmstrang. Ele destoava dos outros professores. Ainda possuía a mesma carranca silenciosa que os outros professores de Durmstrang, mas se destacava como um dedão podre em meio aos outros, principalmente, por causa de seus cabelos. Ainda que agora fossem grisalhos, eram de um acobreado vivido, profundo, e divergia dos outros cabelos pálidos, loiros ou platinados que boa parte da Durmstrang parecia possuir. Não possuía a palidez que tia Joanne e seus irmãos possuíam, pelo contrário, era pálido, sim, mas não de um jeito etéreo ou doentio.
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  — Desculpe, senhor, não transportamos adultos que sabem aparatar. Nosso serviço é exclusivo para jovens bruxos ou doentes. Entretanto, tenha um bom…
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  — Eu sei — cortou Krasny, seco. franziu o cenho, incomodada com o tom. — É para ela — disse ele, apontando . Ela quase comentou que não tinha dinheiro, mas se calou quando ele apenas acenou, como se a viagem já estivesse paga. — Para a Pousada Três Vassouras. Minnie estará esperando por ela.
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  — Mas, professor, eu não… — começou a dizer, mas antes que terminasse a frase, o professor Krasny já havia aparatado novamente, desaparecendo sabe-se lá para onde. abriu a boca para chamá-lo de volta, mas rapidamente a fechou com força. Qual era o sentido de chamar por alguém que já havia desaparecido? Era desperdício de saliva, supunha. Ela suspirou pesadamente, agarrando a frente da blusa e se encolhendo, enquanto encarava o condutor com olhos grandes e assustados, calculando como deveria proceder a partir de agora. — Não tenho bagagem, senhor — admitiu a menina, gesticulando apenas para as roupas que usava, puídas e com algumas manchas de momentos não muito gloriosos nas catacumbas.
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  — Bem, então não vamos esperar a grama crescer! Ande! Ande! Não temos o dia todo! — agitou o condutor Branislav Shunpike, gesticulando para que se movesse. A menina se questionou como poderia ser tão lenta mesmo tentando entrar o mais rápido que conseguia no ônibus. — Cama 11 para a menina de 11. Muito bem, devemos advertir para a possibilidade de náuseas, distorções visuais. Você tem direito a esta cama, uma porção de guisado e bebida quente à sua preferência. No entanto, não tem o direito de escolher a música a ser tocada. Sente-se bem, aperte o cinto e… lá vamos nós!
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   soltou um gritinho, seguindo Branislav até o assento que lhe havia sido reservado. Observou a cadeira transformar-se, surpreendentemente, em uma cama longa — e, estranhamente, mais confortável do que sua própria cama jamais fora. Olhou com uma ponta de suspeita para o excêntrico condutor, então se sentou, testando-a por um breve momento. O colchão era macio e afundava com seu peso; não era doloroso nem pinicava. Todavia, não teve muito tempo para aproveitar, pois Branislav deu o comando ao motorista, que imediatamente acelerou. Ela gritou baixo, agarrando-se à lateral da cama com toda a força que conseguia, enquanto o ônibus se movia com uma velocidade absurda.
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  Uma das três cabeças penduradas à frente do para-choque do ônibus falava agitadamente. Possuía dreads e contas de metal no cabelo. se questionou se o estilo era rastafári ou algum tipo de encantamento do século XVII — talvez um pirata? — pois certamente soava de forma curiosa. Ela tentou acompanhar as palavras, mas em algum momento, o sotaque pesado e a velocidade da fala tornaram tudo incompreensível. Sua atenção se desviou então para a música que ecoava de um rádio pendurado precariamente na frente. apertou os lábios, inclinando-se para frente — quase se desequilibrando e batendo na janela à sua direita com a curva fechada — ao reconhecer lentamente o ritmo.
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  Lembrava-se de ter ouvido aquela música mais cedo, vinda do corredor, com risadas desconhecidas, mas convidativas. Por uma fração de segundo, se perguntou quem seriam as pessoas que riam tão livremente nos corredores de Durmstrang. Embora jamais fosse conhecê-las ou imaginá-las a recebendo de braços abertos, tudo o que ela podia fazer agora era ouvir a música…
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  — Senhor Shunpike? — chamou a menina, tentando não soar hesitante como antes. Pela primeira vez, sentiu-se em casa. Não que aquele ônibus fosse magicamente se transformar em sua casa — a verdade era que não possuía uma —, mas sentiu-se, pela primeira vez em toda a sua breve existência, não apologética. Não se sentia culpada por chamar o excêntrico condutor, nem temia reações agressivas. Sentiu-se, enfim, em casa dentro de seu próprio corpo. — Pode me dizer qual é o nome dessa música que está tocando?
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  Branislav Shunpike pareceu incomodado com a pergunta. Estreitou os olhos, analisando o rosto da menina com atenção e impaciência. Por uma fração de segundo, esperou por um rosnado ou por um tapa que a silenciaria — mas não foi isso que aconteceu. Ao contrário, Branislav apenas deu de ombros, desinteressado.
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  — A curiosidade tende a matar o gato, senhorita ! — resmungou, revirando os olhos, dando um passo para a esquerda quando o ônibus fez outra curva fechada que lançou contra a cama à frente. gritou baixinho, pedindo desculpas à senhora doente deitada ali, e tentou se agarrar a uma barra de ferro à sua direita. Os nós dos dedos ficaram brancos de tanto apertar. Seus olhos de obsidiana misturavam entretenimento, diversão pessoal e absoluto pavor. Era loucura? Com certeza. Mas havia algo de divertido nisso também. — Estes, senhorita , são os Beatles! Trouxas podem ser arcaicos e desinteressantes por vezes, mas não dá para negar que, especialmente tratando-se de música, eles são os melhores nisso!
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   o encarou com uma ponta de confusão. Seu cenho se franziu, e ela mordeu a língua para não dizer um petulante: “o senhor falou, falou e não disse nada”. Talvez não tenha sido tão bem-sucedida em ocultar a expressão, pois certamente estava visível.
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  — Twist and Shout — resmungou Branislav, irritado. abriu um sorriso largo, os olhos brilhando. Percebeu que gostava da reação do mais velho — irritado por não poder enganá-la, mas sem ser ameaçador. se perguntou, internamente, o que mais poderia fazer para irritar alguém sem acabar em confronto físico.
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  Seus olhos desviaram-se para a janela à direita. Sentiu o estômago se contrair com a velocidade que o ônibus parecia adquirir. As janelas viravam borrões distorcidos, manchas de cores indistinguíveis. tentou respirar pelo nariz e soltar pela boca — mas tampouco parecia estar funcionando. A pulsação martelava contra as têmporas, gerando uma dor esquisita, como um choque, enquanto o ônibus encolhia até ter a largura de uma mão. E então, como num sopro, tudo parou.
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  Sua garganta estava seca. Os ouvidos zumbiam tão alto que era incômodo. Ela piscou algumas vezes, ofegante, ainda agarrada à barra de metal. Tentou espiar pela janela para ver onde diabos estava, mas sequer teve tempo para registrar — já era conduzida para fora do ônibus. torceu a barra da blusa entre os dedos enquanto descia e dava de cara com uma viela de pedra e casinhas antiquadas, levando até uma praça ampla, com lojas igualmente antigas. Um vilarejo medieval, de madeira, pedra e vidro. Mais ao fundo, à direita, viu com clareza o letreiro da Pousada Três Vassouras.
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  A menina engoliu em seco, esfregando inconscientemente as pontas dos dedos na barra da blusa, prendendo a respiração. Reconhecia que agora não havia mais volta. Era um recomeço. Mas o que, pelos céus, deveria fazer com isso? Era só uma criança de 11 anos!
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  Timidamente, começou a se mover. Os músculos ainda doloridos, as câimbras a fazendo mancar. Seu caminhar era desajeitado. Abraçou a si mesma, observando com curiosidade contida algumas figuras excêntricas — bruxos, certamente. Sabia que pertencia ali. Era uma bruxa, como eles, mas ainda assim, mesmo ali, alguns olhares de desconhecidos que a faziam desejar se esconder — abrir um buraco sobre seus pés e desaparecer.
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  A noite não estava fria, mas , certamente, estava congelando.
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  — Com licença, senhor? — chamou, hesitante, aproximando-se de um elfo doméstico. Apertou os lábios ao vê-lo parecer surpreso com a deferência. Mas, ao encarar o rosto de , seu olhar se tingiu de desprezo. Ela engoliu em seco, tentando não se encolher. — Sabe onde posso encontrar uma pessoa chamada Minnie…? — começou a perguntar, mas o elfo sibilou entre os dentes, irritado.
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  — Prole de sangue-ruim. Madame Walburga sempre diz que esta raça irá destruir o nome dos bons bruxos… — resmungou ele. trincou os dentes. Provavelmente, não importava onde estivesse, ela não poderia escapar do fato de que sempre seria uma sangue-ruim.
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  Apresentava-se de forma mais curvada, menor e um pouco lento, não parecia muito idoso, mas certamente não parecia jovem. Suas maçãs do rosto eram mais delimitadas pela pele, e havia uma pequena flacidez na altura de suas bochechas, o nariz pontiagudo era torto, e os olhos um pouco mais avermelhados do que era normal, parecendo estar lacrimejando. se questionou internamente se seriam os olhos o problema para seu mal humor aparente.
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  — Não quis ofendê-lo.
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  O elfo doméstico franziu o cenho, voltando-se para encarar , parecendo ser pego outra vez de surpresa por suas palavras, e então, estalando os lábios:
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  — Fará bem retornar para onde veio, menina, aqui certamente não é um lugar para alguém como você… — O elfo doméstico começou a dizer, mas foi interrompido abruptamente pela abertura da porta da Pousada Três Vassouras. engoliu em seco, dando um passo para trás, e usando a porta aberta como um escudo, observando com olhos arregalados o homem que se projetava para fora do aparente bar e pousada.
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  Ele cheirava a cerveja amanteigada e algo doce.
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  — Eu assumo que minha adorável irmã o mandou para bisbilhotar novamente meus próprios assuntos sem ser percebido, não é, Monstro? — O homem disse com um tom de voz calmo e direto, até mesmo pragmático, mas podia sentir algo diferente, estranho, que não condizia com sua paciência e clara tranquilidade. Algo mais como exasperação, do que um tom contemplativo. O elfo doméstico, Monstro, pareceu envergonhar-se e ao mesmo tempo empertigar-se com o comentário vindo do bruxo, a censura soando-lhe mais amarga do que poderia imaginar que de fato o fosse, enquanto encolhia os ombros ossudos. O bruxo suspirou pesado, parecendo revirar os olhos, e então estendeu uma carta para o elfo. — Pois diga a Walburga que meus interesses nesta noite se alinham com os dela. Para Sirius, antecipadamente, para que aplaque sua inquietação, agora, suma daqui.
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  O rosto de Monstro pareceu se iluminar ao receber das mãos do bruxo uma carta que poderia jurar já ter visto antes. O mesmo tipo de papel pesado e grosso que envolvia o pergaminho, com um selo vermelho destacando-se ao centro. Havia, igualmente, um brasão, mas nunca havia tido uma oportunidade de observá-lo mais a fundo embora lembrasse um pouco, de certa forma, o de Durmstrang.
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  O bruxo agitou suas mãos, dispensando do elfo, incitando-o a mover-se mais rápido, e então Monstro desapareceu. piscou, esfregando seus olhos, questionando-se se a essa altura o sono já estava fazendo-a ver coisas, mas descansar ainda não era uma opção. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, no entanto, os olhos azuis cinzentos do bruxo de cabelos escuros como a noite, um pouco desalinhados pela brisa suave, repousaram nela, e o rosto dele se empalideceu. Vestia-se totalmente de preto, com roupas discretas, mas possuía algum tipo de colar por baixo de suas roupas refinadas oculto pelo colarinho de sua camisa branca e o colete preto com bordados minuciosos como vinhas e cravos verdes decorando o tecido grosso, de prata.
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   o viu abrir a boca, aparentemente para lhe dizer alguma coisa, mas nada saiu. Ela deu um passo instintivo para trás, respirando pesado, de maneira irregular e rápida, já considerando correr.
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  — Minerva… — O bruxo chamou com um sotaque sofisticado, pesado, que lembrava aos irmãos de tia Joanne, especialmente dois que pareciam morar em um lugar chamado Reino Unido. Embora ele tenha se referido a uma outra bruxa que se aproximava de onde ele estava, congelado na entrada da Pousada Três Vassouras, os olhos do bruxo permaneciam fixos no rosto de .
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  — Pelos céus, Alphard, o que está acontece… — A bruxa com chapéu pontudo, olhos grandes expressivos e um rosto que, de alguma forma, embora fossem levemente severos, eram, igualmente doces, começou a dizer tocando no ombro do bruxo, mas então sua voz igualmente desapareceu no segundo que seu olhar repousou sobre a menina. olhou ao seu redor, pronta para gritar, dando mais um passo para trás, as mãos se fechando em punhos firmes, trêmulos. A menina viu a bruxa mais velha levar as duas mãos em direção, surpresa, e então uma de suas mãos desvirtuou-se para repousar sobre seu peito, igualmente trêmula como as de , mas com a diferença de ser permeada apenas pela surpresa, e não o medo, como se ela estivesse tentando sentir seus próprios batimentos cardíacos. — Pelo céus, não pode ser, Rio, é você?
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CAPÍTULO 03 • RED AS PURE AS BLOOD.

Krasny • 1971

  O TREMELUZIR DA VELA, QUE NÃO TARDOU A SE APAGAR, ANUNCIOU A CHEGADA DELA.
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  Ainda assim, o velho bruxo pouco fez menção de mover-se de onde estava. Os olhos moviam-se pacientemente pelo tomo aberto à sua direita, anotando com uma letra cursiva elegante, em um pergaminho limpo, suas próprias observações em relação à maldição que estava estudando, a fim de encontrar uma alternativa para a mesma. Estava sentado em uma de suas mesas preferidas da biblioteca de Durmstrang, feita de madeira de jacarandá, com pequenos veios tingidos de um tom mais escuro devido ao verniz utilizado e com discretos arranhões onde a ponta de seu aparo havia raspado acidentalmente, quando pressionado com muita força contra o pergaminho. Era uma mesa resistente e maciça, localizada em um ponto estratégico. Ficava no segundo andar da biblioteca, em um patamar extenso, com o assoalho de madeira que rangia sob a distribuição de pesos, embora fosse suficientemente robusto para sustentar as outras mesas espalhadas na entrada, antes que inúmeras estantes abarrotadas de livros se estendessem para trás. Uma série de escadarias — estas menores que as espirais que levavam ao segundo andar da biblioteca — enroscavam-se na parede de pedra do local, abrindo-se para passagens abobadadas com portas de metal, vidro e uma pequena cobertura de trepadeiras, levando a um espaço externo do Instituto Durmstrang, onde um jardim costumava ficar.
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  Durante o inverno, o jardim era enfeitiçado para espelhar uma estufa, sem privar as plantas do sol ou da água da chuva. Era um espaço que Vladimir Krasny sabia que os alunos, especialmente os mais velhos, gostavam de frequentar para se distraírem ou socializar — levando em consideração o que jovens de quinze e dezesseis anos tinham em mente sobre socializar. Apenas sentar e jogar conversa fora, às vezes; alguns mais ousados tentavam quebrar as regras explícitas sobre demonstrações públicas de afeto, mas não tardavam a ser impedidos por algum feitiço de Vladimir Krasny. Era uma forma que o velho bruxo havia encontrado de passar algumas horas em paz no Instituto. A presença de alunos depois das sete horas da noite era terminantemente proibida, portanto, Vladimir Krasny sabia perfeitamente bem que não era um aluno que se aproximava de sua mesa.
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  O ponto estratégico no segundo andar não era escolhido em vão. O professor Krasny era meticuloso até mesmo na maneira como se posicionava nos espaços. Suas costas sempre ficariam voltadas para as paredes, e ele sempre estaria voltado para a frente de um corredor ou porta. Chame-o de paranoico ou maluco, mas o velho bruxo não era o tipo de pessoa que desconsiderava um ataque imediato, fosse de quem quer que fosse.
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  Os passos ecoaram à sua esquerda, vindos da escada em espiral, um pequeno rangido escapando da balaustrada de mogno escuro, esculpida com temática voltada à Floresta Negra — testrálios cuidadosamente esculpidos sobre suas patas dianteiras, envoltos por algo que parecia ser espinhos, que sempre se moviam um pouco quando alguém repousava suas mãos sobre o apoio, liberando o acesso silenciosamente. As velas, enfileiradas em pequenos, porém perceptíveis castiçais de prata — agora um pouco enferrujados pela umidade do inverno e do tempo — tremeluziam, anunciando que quem havia parado à sua frente era, exatamente, quem ele esperava encontrar.
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  Vladimir Krasny tencionou a mandíbula com força, o músculo bem marcado de sua mandíbula quadrada saltando um pouco com o movimento, e um pequeno exalo escapou por suas narinas — não por causa de sua própria natureza impaciente, muito menos de resignação — apenas um suspiro silencioso, acirrado, derivado de sua empáfia pessoal para com as teatralidades e palhaçadas da bruxa.
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  Mas afinal, quem era ele para julgar alguém por sua postura pessoal?
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  — Admira-me o sadismo, mas, após tanto tempo, você já deveria saber que isso não irá funcionar comigo, Joanne — Vladimir se pronunciou calmamente, seu tom de voz baixo revelando até uma monotonia crescente de uma alma enrijecida por vãs tentativas de tormentos pouco significativos.
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  O velho bruxo repousou seu aparo sobre o suporte atrelado ao pequeno e quadrado pote de tinta preta, enfeitiçado para que desaparecesse sob o toque de qualquer outra pessoa que não fosse Krasny, e então, dobrando a folha em dois, queimou-a, observando-a desaparecer no ar, mentalmente sussurrando o feitiço, torcendo que aparecesse no local certo, desta vez.
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  Vladimir voltou sua linha de olhar para a pessoa que se aproximava. É claro, ver Joanne Karine Rozenn transfigurada em Rio não havia sido consideravelmente algo agradável de presenciar, mas, igualmente, Krasny não era conhecido por seu lado emocional aflorado. Se ele sentira raiva, dor ou até mesmo pesar, fez questão de ocultar de seu rosto tais emoções, apenas observando a bruxa com indiferença.
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  — Vamos continuar com os jogos, Joanne? Ou, desta vez, será direta comigo?
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  Joanne, transfigurada em Rio, inclinou a cabeça para o lado, o gesto estranhamente mais felino do que deveria ser, enquanto os olhos de obsidiana — refletindo um tom próximo dos dele — cintilavam com um brilho anômalo. Vladimir Krasny ergueu o queixo um pouco mais, observando-a com cuidado.
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  O rosto de sempre havia sido uma cópia perfeita do rosto de Rio; a menina tinha o mesmo formato de olhos, as mesmas sobrancelhas, as mesmas cores de Rio, com exceção pela tonalidade da pele e textura dos cabelos — estas, heranças de Django , lembrava-se Vladimir Krasny perfeitamente bem. Mas a imitação de Joanne era perturbadora pela falta daquele brilho que Rio, e até mesmo , compartilhavam de inteligência. Era discreto, mas nato, e talvez, se fosse colocar em perspectiva, hereditário: uma curiosidade intrínseca, um anseio por observar e buscar sempre alguma coisa para se desvendar, para se compreender; Joanne jamais conseguiria replicar.
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  — Se não soubesse melhor, Joanne — Vladimir Krasny se pronunciou com calma, recostando-se contra a cadeira enquanto os olhos mantinham-se fixos no rosto transfigurado da bruxa —, diria que, no fundo, na verdade, seu desejo nunca foi poder ou aclamação, mas sim vestir a pele de alguém que jamais poderá ser.
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  Os olhos de Joanne, agora os de Rio, se estreitaram com irritação, mas a bruxa não lhe respondeu.
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  — A que se deve toda essa teatralidade? — Vladimir suspirou pesado, limpando as pontas de seus dedos na lateral do tecido de sua calça de alfaiataria, antes de cruzar os braços sobre o peito. Uma mecha de seu cabelo acobreado — agora mais grisalho e longo — pendeu sobre seu rosto, enquanto observava a bruxa oportunista.
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  — Só achei que fosse você quem gostasse de jogos, professor Krasny — Joanne abriu um sorriso doce, e talvez a crueldade do gesto se desse justamente com maior efetividade do que nenhuma palavra de ódio ou acusações seriam capazes de alcançá-lo, exatamente porque Vladimir nunca havia visto tal gesto no rosto da criança que, de certa forma, havia ajudado a criar — e jamais poderia ver. Vladimir compreendia o problema de toda a situação, compreendia a dimensão de suas próprias escolhas e o que muito provavelmente deveria ter feito não só com Blanche — tão culpada quanto — como com o velho obcecado Greengrass e seus filhos, especialmente Rio. E não culpava sua criança por sequer desejar tê-lo por perto.Verdade seja dita, não era o sangue que determinava parentalidade e família, mas Joanne sabia onde cortar para piorar a ferida.
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  — Dissimulações, mentiras e omissões parecem ser uma boa característica para a família Krasny, não? — Joanne disse, desta vez não parecendo interessada em simular a voz de Rio ou, muito provavelmente, já não se lembrava mais do tom.
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  Krasny trincou os dentes, assentindo lentamente às palavras, sem desviar o olhar.
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  — Sempre achei que era uma característica hereditária, um DNA corrupto e inferior e, veja só, se não estou certa! Há quanto tempo tem estado em contato direto com aquela desculpa patética do diretor de Hogwarts, Krasny? Desde o último inverno? Apenas recentemente? Vamos lá, me conte um pouco mais, estou curiosa para saber sobre seus próprios planos.
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  Vladimir apertou os lábios, desviando os olhos momentaneamente para o livro e, então, para Joanne novamente. Por uma fração de segundos, o silêncio se instaurou na biblioteca, permeado apenas pelo tic-tac constante do relógio ao fundo do primeiro andar. Os olhos do velho bruxo percorreram o rosto de Rio, encontrando as pequenas falhas na poção de Joanne, o que não condizia com o que Rio um dia havia sido. Sua pele estava um tom mais pálido do que a de Rio, os cabelos dois centímetros mais longos, o corte pixie propositalmente mais raspado nas laterais e na nuca, o que Joanne, aparentemente, nunca havia percebido.
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  Joanne não era minuciosa, não quando se tratava de outra pessoa que não fosse ela mesma.
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  — Sua análise sobre meu caráter pouco me afeta, Joanne — disse Vladimir, em um tom de voz baixo e cauteloso, quase paternalista, estreitando os olhos enquanto a observava. Então, umedeceu os lábios, suspirando pesadamente. Vladimir apoiou os dois cotovelos sobre a mesa, unindo as sobrancelhas, observando-a com atenção. — O que fiz com você, com sua família, não foi justo. Eu entendo e peço desculpas por isso. — O queixo de Joanne se contraiu de uma forma que era unicamente dela, não de Rio. Vladimir permaneceu impassível. — Não era, e jamais foi, minha responsabilidade cuidar do envolvimento de sua mãe com seu pai. Cabia apenas a ela lidar com as emoções dele, e não Rio. No entanto, foi, admito, minha responsabilidade afastá-la quando tive a chance. E falhei. Sei que minhas decisões, como as dela, magoaram você e os seus. E estaria mentindo se dissesse que não eram minhas intenções, pois não me importava. E, ainda hoje, não me importo. Mas entendo seu ressentimento. Todavia, isso precisa acabar. Você não pode passar o resto da sua vida usando-me como sua justificativa.
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  Joanne bufou, abrindo um sorriso afiado, e Vladimir Krasny percebeu como aquela poção, que havia mudado sua forma, distorcia não apenas a imagem de Rio, mas a própria visão dela. Vladimir Krasny sabia, por experiência própria, que era possível criar-se monstros, que decisões equivocadas eram, muitas vezes, as responsáveis por fazê-los, mas, olhando agora para Joanne, Krasny não pôde deixar de se questionar: teria sido ele quem a tornara quem era? A fazê-la divertir-se com as máscaras que usava? Ou ele fora apenas aquele que esbarrou naquela porta e a abriu?
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  — Quem você pensa que é para dizer como devo me sentir ou não, Krasny? — Joanne rosnou entre dentes, inclinando a cabeça novamente daquela forma quase felina e inquietante. O sorriso que se espalhou pelo rosto de Joanne, agora transfigurado no de Rio, não enviou uma onda de medo, mas fez Vladimir considerar alçar sua varinha. — Por favor, pare de agir como se eu fosse uma garotinha perdida em busca de conselhos. Eu não sou. Já estabelecemos que é perceptível minha superioridade até mesmo diante de você, Professor Krasny. O que outros bruxos levam anos para aprender, eu só preciso de um pouco de força de vontade e um mês, talvez menos. É por isso que a pureza deve ser mantida. Se minha mãe foi estúpida o suficiente para se envolver com um vira-lata como você, então a falta de caráter não é minha. Mas não se convença…
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  Vladimir uniu as sobrancelhas, pela primeira vez mostrando-se desconfiado das intenções de Joanne.
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  — Então por que está aqui?
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  — Porque você me entretém — Joanne deu de ombros singelamente. Seus olhos — os de Rio — desviaram-se para o livro aberto que Vladimir lia anteriormente e, então, encontraram os dele, brilhando como os de um gato. Ela usou a língua para cutucar seu canino, sorrindo. — De todas as pessoas que já conheci, você, Professor Krasny, é o mais patético. Mas preciso ser honesta: seu truque em envolver Albus Dumbledore? Foi quase inteligente.
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  Vladimir não respondeu. Novamente a observou, desta vez colocando-se de pé com um movimento lânguido e lento, cuidadosamente planejado para não chamar a atenção de Joanne para o livro outra vez, mas sim manter sua atenção em seu rosto.
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  — Você pretende esclarecer suas palavras ou deixar os enigmas para trás de vez? — Vladimir retorquiu, fechando o livro à sua frente, os dedos apertando com tanta força a capa dura do objeto que ficaram embranquecidos. Ele repousou o livro atrás de si, enquanto a outra mão finalmente envolvia sua varinha. — Muito bem, sendo assim, tenha uma boa noite, Vice-Diretora Rozenn. Assumo que, com tudo o que está acontecendo, você irá precisar.
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  Vladimir Krasny se inclinou para frente em uma mesura cortês — não porque de repente sentisse algum tipo de respeito pela bruxa — e fez menção de retirar-se dali. Os dedos firmes mantendo o livro atrás de si, enquanto o velho bruxo, com a varinha presa à mão, puxava sua capa com mais força. Sua retirada foi cortada prematuramente quando a voz de Joanne voltou a ecoar pelo espaço.
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  — é minha, Professor Krasny — Joanne o interrompeu, igualmente pondo-se de pé e ajeitando o colete verde-escuro que um dia havia pertencido a Rio, parecendo momentaneamente perder-se em seus próprios pensamentos ao admirar as roupas do laço fraterno que havia condenado à morte há alguns anos. Era curioso como Joanne, embora movida pelo ódio, parecesse na verdade sentir satisfação em colocar-se sob a pele de Rio. Fazia com que Vladimir Krasny se questionasse se Joanne havia desprezado de fato Rio ou se havia algo ali a mais. Uma propensão à obsessividade, como o pai dela possuía. — E ordeno que a devolva.
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  Vladimir estreitou os olhos, observando-a com cuidado agora. Havia algo perigoso em Joanne, algo que o velho bruxo parecia ter subestimado erroneamente, mas que agora começava a ressurgir. De repente, a culpa pareceu tornar-se ainda maior ao pensar na figura raquítica e encolhida, um pouco atrofiada, da garotinha nas catacumbas, com olhos assustados e expressão esperançosa, sempre dizimada pela crueldade que lhe rodeava. Teria Krasny cometido mais um erro em sua vida? Teria ele calculado mal, mais uma vez, ao considerar Joanne mais bondosa do que deveria?…
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  — Falando assim, quase faria um leigo acreditar que não é nada além de um objeto sob sua posse, Joanne — Vladimir disse, categoricamente calmo, os dedos apertando sua varinha com mais força. — é sua sobrinha, Joanne, esqueceu-se disso?
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  Joanne, transfigurada como Rio, apenas deu de ombros, desdenhosa.
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  — é o que os pais dela sempre foram: vira-latas, Professor Krasny. Mas ao menos ela é útil, por ora — Joanne disse, revirando os olhos e, então, inclinando a cabeça para o lado, estreitando os olhos ao registrar a varinha na mão do velho bruxo. — Não vamos começar uma briga desnecessária, Professor Krasny, não há necessidade de usar sua varinha comigo. Eu não sou seu inimigo.
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  — Útil? — Vladimir Krasny ecoou, tenso. — O que quer dizer com isso?
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  Joanne não respondeu, os olhos ainda fixos na varinha do velho bruxo, parecendo calcular seus próximos passos. Vladimir a empunhou, apontando na direção do peito de Joanne, transfigurada em Rio, e a bruxa ergueu as mãos para cima, em um gesto instintivo de rendição — que Vladimir não acreditou nem por um segundo ser honesto.
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  — O que você fez com a menina, Joanne? — demandou Vladimir Krasny, mas Joanne apenas soltou um riso nasalado, desdenhoso. — Não me faça perguntar outra vez, Rozenn.
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  — O quê? Você vai fazer o quê, Professor Krasny? Vai me amaldiçoar? Ou está pensando em ser mais ousado e usar alguma maldição proibida? Cuidado, agora. Se seus novos aliados sequer sonharem que você está pensando em usar a maldição da morte, então passará bastante tempo em Azkaban — Joanne ronronou com um tom quase irônico. Professor Krasny não se intimidou, todavia, com o jogo de poder que ela havia tentado iniciar ali. Os olhos de Rio, aos poucos, começaram a se desfazer, evidenciando que a poção deveria estar perdendo seus efeitos.
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  — Chega, Joanne! Me responda! — cortou Vladimir Krasny entre dentes, dando um passo na direção da bruxa, esquecendo-se de ocultar o livro desta vez, concentrado apenas no que realmente Joanne estava planejando e, especialmente, no que ele não havia visto que ela tenha feito com . — O que você fez?!
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  — Eu? — Joanne deu de ombros, passando a mão esquerda pelos cabelos como os de Rio e Vladimir Krasny, sem perceber que uma das mechas havia retornado ao tom branco como neve. — Ora, não seja tolo, Professor Krasny. Nunca achou estranho que Rio, sendo quem era, fosse se apaixonar justamente por alguém como aquele vira-lata romeno? Por favor, meu pai passou a vida inteira obcecado por Magia Ancestral, e Rio convenientemente se apaixonou pela única pessoa que, até agora, temos conhecimento, desde o século XIX, que pode identificá-la?
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  Professor Krasny uniu as sobrancelhas, dando um passo para trás, meio cambaleante, pego desprevenido. Por uma fração de segundos, demorou a compreender o que a bruxa estava dizendo. Os olhos do velho bruxo moviam-se de um lado para o outro, considerando as palavras de Joanne. Até onde sabia, com o pouco que havia podido observar à distância, a ideia de que Rio poderia ter se envolvido com Django puramente por um interesse calculista soava quase ilusória, de tão contrastante com a realidade. Mas, então, havia aquela pequena parte dentro de si que não poderia deixar de questionar se não havia algo nas atitudes de Rio que expusesse tais intenções prematuramente e que ele havia escolhido ignorar.
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  — Oh… — Joanne exclamou, soltando um riso baixo, sadicamente divertida, enquanto estreitava os olhos. — Você não achava que Rio era capaz de ser tão calculista quanto meu pai? Uau… Eu acreditava que você possuía algum distúrbio psicossomático ou, no mínimo, alguma deficiência cognitiva, mas essa ingenuidade? Tenho que admitir, lhe cai muito, muito bem, Professor.
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  — Eu entendo que você me despreze, Joanne, mas depois de todo esse tempo, essa sua obsessão com Rio já foi longe o suficiente! Quando vai perceber que isso foi longe demais? — rosnou Vladimir Krasny, agora evidenciando uma irritação que soava estrangeira em seu rosto sempre taciturno e coeso. — Já não basta tudo o que escreveu? Já não basta o que fez com eles?!
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  — Eu não fiz nada! — retorquiu Joanne, com um tom estridente, mais alto que o normal, retirando a varinha oculta no colete e empunhando-a.
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  Vladimir estreitou os olhos. Observou que a mão direita da bruxa — a que segurava a varinha — apresentava um leve espasmo, o tremor comprometendo a maneira como ela, provavelmente, executaria sua magia.
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  — Rio teve o que mereceu! E aquele vira-lata também! — cuspiu ela, inspirando entre dentes trincados. — Não tenho culpa se outras pessoas são mais sãs do que idiotas como você! Eu só entreguei o que todos acreditavam, nada mais!
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  Vladimir soltou um bufar baixo, um sorriso quase incrédulo surgindo em seus lábios finos.
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  — É nisso que tenta se convencer agora? Que apenas expôs o que todos pensavam? Que não teve culpa de nada? Nem mesmo de influenciá-los a temer algo que sequer compreendiam? — Vladimir balançou a cabeça, descrente, dando um passo cauteloso para a esquerda. Firme, preciso. — Tente outra mentira, Joanne. Esta já está ultrapassada, mesmo para você. – O velho bruxo se endireitou, assumindo uma postura de combate, erguendo o queixo, imponente. — Observei você durante todo esse tempo, Joanne. Esse ódio que gosta de fingir sentir pelos não-mágicos… esse desprezo que finge ter por Rio… e, no entanto, continua a transfigurar-se nele. — Vladimir abriu um sorriso, desta vez sem a expressão contida e distante do velho professor. Era um sorriso cruel, que deixava vislumbrar o monstro oculto sob a máscara que Joanne, tão cuidadosamente, usava. Ótimo. Facilitaria o que ele precisava fazer. — Você não os odeia, odeia? Quer ser como eles. Quer ser admirada por eles. Respeitada. Mas sabe que jamais conseguirá. Nem mesmo seu pai pode amá-la, Joanne… por que diabos outros o fariam?
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  — Crucio! — rosnou Joanne entre dentes.
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  — Expelliarmus! — rebateu Vladimir Krasny, bloqueando o feitiço e lançando-se para a esquerda, girando e, então, desferindo seu próprio feitiço.
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  A varinha de Joanne tremeu em sua mão, mas não teria escapado de imediato se a bruxa não estivesse com espasmos. Vladimir exalou entre dentes, avançando em sua direção, largando o livro que tentava ocultar para focar apenas nela. Agarrou o colarinho da blusa de Rio, empurrando Joanne contra a estante mais próxima, apoiando a varinha sob sua mandíbula. — Última chance, Rozenn. O que você fez com minha neta? — rosnou Vladimir, sua voz soando duas oitavas abaixo do normal — um aviso silencioso de perigo.
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  Pela primeira vez, o semblante sádico de Joanne vacilou. Ela ergueu as mãos instintivamente, num gesto de rendição, ou ao menos para demonstrar que não representava ameaça imediata. Vladimir não moveu um centímetro.
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  — Tudo bem, tudo bem, eu digo… — começou Joanne, ofegante, quando Vladimir apertou mais forte seu colarinho, puxando o tecido para sufocá-la. — Eu digo… — repetiu ela, os olhos obsidianas de Rio finalmente desaparecendo, dando lugar aos olhos prateados dos Rozenn. Vladimir Krasny nunca sentira um ódio tão forte. Naquele momento, a fúria queimava por suas veias. — Uma ligação — explicou Joanne, com um grunhido baixo, tentando se soltar do aperto, sem sucesso. — Eu fiz um feitiço de ligação… ligando a garota a mim — admitiu ela entre dentes, sustentando o olhar surpreso e controladamente furioso de Vladimir. Ele apertou ainda mais sua varinha. — Sejamos honestos… ela é um desperdício de habilidade! Eu, pelo menos, sei o que fazer com todo aquele potencial… — começou Joanne, soltando um riso baixo quando Vladimir ameaçou lançar-lhe um feitiço. — Não! Não faça isso — quase riu —, porque… o que você faz comigo, faz com a garota também. Eu posso drenar a magia dela, mas o que acontecer comigo, acontece com ela. — O sorriso que surgiu em seus lábios era quase incandescente.
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  Vladimir Krasny arregalou os olhos, horrorizado.
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  — Se me matar… você mata ela também!
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  Pela primeira vez, em todos os seus anos naquele lugar, Vladimir Krasny não soube o que responder à bruxa à sua frente. Por uma fração de segundo, seu aperto vacilou.
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  — Ah, por favor, já chega dessa atuação. Todos sabemos que você nem se importa tanto assim com a menina. Você só quer imunidade dos idiotas britânicos para não ir para Azkaban — rosnou Joanne.
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  Os olhos de Vladimir queimaram o rosto da mulher. Suas mãos, sempre estáveis, tremeram levemente com a acusação. O sorriso de Joanne aumentou, satisfeito.
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  — Ah, então era este o plano, hein? Entregar a garota para a tutela de Dumbledore e assegurar que ninguém viesse atrás de você quando “descobrissem” sua colaboração em mantê-la nas catacumbas, hein? — Joanne riu baixo, desdenhosa. — Agora, esse é o Professor Vladimir Krasny que eu conheço.
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  Vladimir grunhiu baixo, pressionando a ponta da varinha com mais força contra o pescoço de Joanne, observando-a abaixar lentamente as mãos — sem, contudo, perder o ar de divertimento sombrio que pairava em seu rosto, desfazendo-se da poção que a fizera parecer Rio.
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  — Ainda pode conseguir o que quer, Krasny. Inferno, estou disposta a ajudá-lo, se for preciso. Só me diga onde a garota está e pronto… está tudo resolvido — tentou Joanne. Mas Vladimir Krasny não respondeu.
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  Joanne revirou os olhos, exasperada, resignada com o silêncio do velho bruxo. Murmurou, com desprezo:
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  — Tudo bem, eu a encontro sozinha.
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  Ela estendeu a mão em direção à varinha, conjurando:
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  — Accio.
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•••

  AJEITANDO A LAPELA DE SUA CAPA, ELE VOLTOU SEU OLHAR BREVEMENTE PARA O ESPELHO, COM UM SORRISO SATISFEITO.
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  Não estava impecável, mas era bom o suficiente por enquanto. Ajeitou os cabelos novamente, alinhando-os com a perfeição que se esperava dele — e que ele, certamente, exigia de si mesmo — antes de terminar de abotoar as mangas de sua camisa branca com abotoaduras de prata, ostentando o emblema de Durmstrang.
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  — Professor Krasny! Professor! — a voz de Volkov ecoou pelos aposentos antes mesmo de ele perceber a intromissão em suas preparações para a noite.
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  Endireitando-se, voltou-se na direção de Volkov, que surgiu descabelado, ofegante, com os olhos pretos arregalados e uma palidez crescente. Ele já sabia o que o outro viria dizer, mas, fosse por sadismo ou mera curiosidade, permitiu que Volkov prosseguisse.
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  Repousou as mãos unidas à frente do corpo, acenando com a cabeça para que seu colega continuasse.
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  — É a Vice-Diretora Rozenn! Na biblioteca, senhor! Alguns alunos… acabaram de encontrá-la… senhor, a Professora Rozenn está morta!
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CAPÍTULO 04 • THE CAT’S TALE.

• 1971.

  ELA ACORDOU EM UM QUARTO ELEGANTE, CHEIRANDO A CANELA, CHÁ E CRAVOS.
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   não soube dizer ao certo quanto tempo havia passado desacordada, mas certamente não tinham sido poucos dias, já que, quando voltou a abrir os olhos, seu corpo inteiro parecia latejar com uma dor irritante e contínua. Não era forte o suficiente para incomodá-la, mas o bastante para se fazer notar. Além disso, sentia-se febril, e sua cabeça girava. A menina sentou-se na cama macia, franzindo o cenho e coçando o couro cabeludo, confusa, observando o espaço ao redor com uma ponta de desconfiança.
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  O quarto cheirava a incenso, canela e um chá forte que vinha de sua esquerda. Ela franziu o cenho, esticando as pernas e sentindo o tecido gelado dos lençóis que se enroscavam em seus calcanhares e tornozelos, como se tentassem empurrá-la de volta para a cama. Ainda coçando o couro cabeludo, tentava entender como havia ido parar ali — e onde, exatamente, estava.
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   se empurrou para a lateral da cama, sentindo-se estranha diante da maciez do colchão, um claro contraste com seu pequeno quarto em Durmstrang. Desceu, esticando os dedos dos pés descalços, e sentiu o frio do assoalho de madeira percorrer as solas. Voltou o olhar para uma das cômodas de madeira escura e elegante, onde um gato malhado se encontrava empoleirado. inclinou a cabeça, encarando o animal e se perguntando se poderia acariciá-lo ou se seria arisco. Algo na rigidez do gato a fez hesitar.
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  Desviou então sua atenção para o restante do espaço, e abriu um sorriso quase animado ao perceber o chapéu pontudo da bruxa que havia encontrado na Pousada Três Vassouras. Curiosa como a criança que era, o testou na cabeça, rindo baixinho consigo mesma ao ver que ficava muito maior do que deveria. Recolocou o chapéu sobre a cadeira antes de analisar o ambiente, dando uma voltinha pelo lugar, impressionada.
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   tinha pouca noção de coisas caras ou luxuosas. Para ela, luxo era uma cama mais macia e lençóis limpos. Aquele lugar parecia saído de um sonho febril onde a opulência, ainda que discreta, se fazia presente. As paredes estavam cobertas por um papel de parede antigo, com floreios e emblemas em um tom bege discreto que a lembravam de algo que havia visto em Durmstrang sobre o século XIX — vitoriano, ela tentou lembrar, ao fundo da mente. Os móveis, embora poucos, eram elegantes, feitos de madeira escura, provavelmente mogno, com entalhes delicados que lembravam vinhas ou brasões minuciosos, como se feitos à mão.
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  À sua esquerda, havia uma janela grande, meio abobadada, elegante, mas levemente embaçada. Dava visão para o movimento contínuo do lado de fora. apertou os lábios, abrindo e fechando as mãos inúmeras vezes enquanto se aproximava. Ficou na ponta dos pés, esforçando-se para alcançar a tranca prateada da janela. Usando toda a força do corpo, empurrou-a para frente, projetando-se levemente enquanto tentava recuperar o equilíbrio. Seus olhos arregalaram-se ao perceber a altura em que estava. Onde quer que fosse aquele lugar, certamente era um prédio alto, próximo a um centro urbano barulhento, com carros coloridos buzinando e pessoas andando apressadas. Ela devia estar na cobertura de algum edifício.
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   prendeu a respiração, segurando com mais força no parapeito da janela, e inclinou-se para frente, tentando enxergar além…
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  — Eu recomendo que não considere fugir. Não faria bem algum à senhorita e seria extremamente inconsequente. — A voz familiar da bruxa que havia conhecido na Pousada Três Vassouras ecoou pelo quarto. Ela vinha do gato malhado empoleirado sobre a cômoda, que agora voltava à sua forma original.
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   soltou um gritinho baixo, afastando-se da janela e se virando para a bruxa com os olhos arregalados. Encolheu-se um pouco, sem saber o que fazer.
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  — Muito bem, querida, é bom ver que você está finalmente acordada. Peço desculpas se acabei assustando você. Venha, volte para a cama e tome a Poção de Wiggenweld. Vai se sentir melhor. Vamos, volte a deitar-se.
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   se afastou da janela, aceitando ser guiada pela bruxa mais velha. Sentou-se na cama novamente, apoiando as mãos nas laterais do colchão e balançando os pés para frente e para trás, observando a mulher com curiosidade. A princípio, não disse nada — apenas acompanhou com o olhar a movimentação da bruxa pelo quarto. Havia nela uma aura de respeito e confiança. Parecia um pouco austera, notou , mas não de uma maneira ruim, como sua tia Joanne. Seus olhos, grandes e expressivos, pareciam gentis e amigáveis — quase atenciosos, embora não soubesse bem o que isso significava, só havia lido em livros. Supôs que se tratava de alguém que prestava atenção.
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  Ela tinha maçãs do rosto proeminentes, pele clara, poucas rugas marcando a testa e ao redor da boca, olhos de um verde intenso e cabelos escuros como a noite presos em um coque perfeitamente estruturado. Suas roupas eram tradicionais, como as que havia visto sob os casacos de pele de alguns professores em Durmstrang — de linho, com um padrão xadrez curioso e discreto.
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  Era alguém admirável, ou pelo menos alguém que queria impressionar ou ser como a mais velha, mesmo sem entender bem o motivo.
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  — O que aconteceu? Onde estou? Você é a tal Minnie? — perguntou com um tom incerto, acompanhando a bruxa com o olhar enquanto aceitava, com um aceno de cabeça, a xícara com a poção. Fez uma careta ao ver a substância gosmenta e esverdeada, levou a xícara até o nariz, cheirou e se esforçou para não vomitar.
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  — Minnie? Suponho que sim, mas só meus amigos me chamam assim — respondeu a bruxa, com um ar meio conspiratório. sorriu discretamente e assentiu devagar.
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  — Então… isso significa que somos amigas agora, né? Eu nunca tive muitos amigos, então não sei como funciona direito, mas eu gostaria, se você quiser — disse com sinceridade, tentando esconder a ponta de esperança que tingia sua voz infantil. Imaginava como seria ter um amigo… e se Minnie não iria rir dela como os outros em Durmstrang.
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  A bruxa mais velha bufou suavemente, repousando a mão nas costas da menina e acariciando-a com um gesto estranho.
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  Não era agressivo — o que surpreendeu . Era como se Minnie a acariciasse da mesma forma que fazia com um animalzinho que encontrasse pelo caminho. Era reconfortante. Pela primeira vez, a menina não se sentia tão perdida e sozinha.
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  — Ay, não posso dizer muito sobre isso, mas posso considerar as possibilidades… se você for corajosa e tomar a poção — disse Minnie, lançando-lhe um olhar significativo.
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  Prendendo a respiração, levou a xícara à boca e engoliu a poção, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Tinha um gosto marcante — uma mistura de ervas e outras coisas mágicas que quase a fizeram engasgar. Ainda assim, obrigou-se a tomá-la até a metade da xícara.
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  — É nojento — murmurou, limpando a boca com o antebraço.
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  Minnie riu suavemente, pegando a xícara de suas mãos e colocando-a na mesa de cabeceira.
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  — Por que estou aqui? O professor Krasny me disse para seguir as luzes, e eu segui. Depois caí numa estrada que não sei onde era, e tudo o que ele disse foi para procurar você! Estou encrencada? Fiz algo errado? Eu juro que não foi minha intenção, Minnie.
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   começou a falar, agora um pouco mais preocupada, enquanto brincava ansiosamente com os dedos.
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  — Oh, não, querida, você não fez nada de errado — apressou-se em dizer a bruxa, abraçando de lado e esfregando-lhe as costas com um olhar cauteloso. — Mas isso também não é um convite para aprontar, mocinha — completou, estrategicamente. Suspirou fundo, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Há coisas que não posso explicar ainda. Complicações de adultos que ninguém jamais deveria ter que pensar, mas das quais não se pode escapar. O que espero que você guarde é que, por um breve tempo, conheci seus pais. E ambos eram pessoas admiráveis. Foram, como você mesma disse, meus amigos.
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   piscou, surpresa — não pelas palavras, mas pelo tom. Então era assim a sensação de alguém não estar com raiva dela? Que estranho…
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  — O que aconteceu com eles? O que realmente aconteceu? Eles só foram embora? — questionou, finalmente dando voz a uma pergunta que espiralava pelo fundo de sua mente desde que era pequena. — A tia Joanne me disse que eles morreram, mas também falou que me abandonaram logo que nasci, que eu trazia má sorte para eles, então precisaram se livrar de mim. Foi isso mesmo que aconteceu?
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  Minnie pausou por um longo momento, considerando as palavras de enquanto se ajeitava ao lado da menina. Apoiada com uma das mãos sobre o joelho, virou-se na direção da garota com uma ponta de surpresa. piscou algumas vezes, tentando afastar as lágrimas, e então franziu o cenho, encarando o rosto da mais velha à espera da resposta.
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  — Oh, por Merlin, minha querida — Minnie exclamou baixinho, unindo as sobrancelhas e negando com a cabeça. — Talvez eles não tenham sido as pessoas mais cuidadosas que já conheci, mas, pelos céus, eles amavam você. Isso nunca foi uma dúvida. Não posso falar com tanta certeza sobre Rio, pois sempre foi um mistério para mim, mas Rio era gentil, uma pessoa notável. Dominou a transfiguração como ninguém e tornou-se um metamorfomago excepcional. Mas eu conheci seu pai, Django — Minnie fez uma breve pausa, calculando suas próximas palavras, estreitando os olhos, ponderando com a cabeça. — E, embora ele tenha se recusado a seguir o caminho de um bruxo, certamente teria tido um futuro brilhante em Hogwarts, se desejasse.
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  — Mas ele não vivia na Romênia? — questionou, genuinamente confusa, e Minnie soltou um riso compreensivo, ainda que divertido.
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  — Seu pai era um romani, minha querida. E os romanis são um grupo de pessoas nômades, que se movem frequentemente porque compreendem que sua casa está nas pessoas que os acompanham — jamais em um lugar fixo — Minnie explicou com suavidade, e inclinou a cabeça para o lado, considerando as palavras da mais velha, ainda um pouco confusa com o conceito, mas aceitando-o quase imediatamente.
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  — Então meu pai era um… não mago? — perguntou, e Minnie piscou, parecendo ser pega desprevenida com a denominação.
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  — Não mago…? — ela ecoou, e então soltou uma exclamação baixa, assentindo em compreensão. — Ah, sim, você quer dizer um trouxa, certamente, querida. Ele era um trouxa, mas isso não significa que não tivesse habilidades mágicas.
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   soltou uma exclamação de compreensão ao ouvir a explicação da mais velha, os olhos cintilando com uma mistura de insegurança e animação com o prospecto de ter ao menos alguém que a compreendesse de certa forma.
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  — Ele podia ver as luzes como eu?
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  — Luzes, querida? Do que está falando…? — Minnie começou a dizer, mas foi interrompida pela porta do quarto sendo aberta pelo bruxo que se lembrava de ter visto junto com Minnie na Pousada Três Vassouras.
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  Agora, em um espaço bem iluminado e alinhado, o homem parecia estranhamente elegante e imponente. Poderia muito bem ser algum tipo de príncipe ou nobre — sua postura era impecável, ao ponto de a menina sentir a necessidade de se endireitar instintivamente. Era ereto e elegante, com algumas marcas de expressão nos cantos dos lábios e na testa. se perguntou quanto desgosto o mais velho poderia ter sentido na vida para que aquelas marcas estivessem gravadas ali; achou indelicado considerar a pergunta — ela sequer o conhecia direito. Tinha uma mandíbula firme e um queixo levemente proeminente, bem marcado. Os cabelos eram pretos como tinta, profundos, e os olhos, de um cinza-ardósia intenso, ficavam levemente azulados dependendo da iluminação do lugar. Com barba bem aparada e roupas elegantes, se perguntou o quão rico ele poderia ser.
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  Ela continuou balançando as pernas para frente e para trás, observando ora o rosto de Minnie, ora o do bruxo, percebendo que havia algo acontecendo entre os adultos que eles não desejavam compartilhar com ela. Encolheu os ombros, tentando decifrar o que aquilo significava para si.
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  — Precisamos movê-la para o apartamento de Django logo, Professora McGonagall. Órion deseja usar este espaço para uma reunião, e não quero arriscar que meu irmão ou sua família a encontrem — o homem disse, ajustando as mangas do terno de alfaiataria, arregaçando-as e deixando expostos os antebraços, que possuíam marcações. franziu o cenho, surpresa, encarando os braços do homem e comparando-os com as marcas que tia Joanne havia feito nela. Enquanto as dele possuíam tinta preta — algumas até mesmo coloridas —, as suas mais se pareciam com cicatrizes do que com desenhos.
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  — Achei que teríamos ao menos mais um pouco de tempo… Ainda nem tive chance de explicar para sobre Hogwarts ou sobre o testamento de Django! — exclamou a Professora McGonagall, já se levantando e alisando a saia rapidamente, mais por hábito do que por necessidade. a observou, colocando-se de pé também, mas sem saber ao certo o que fazer.
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  — Muito bem, então. Vou deixar nas suas mãos a responsabilidade de informar a senhorita sobre o código de conduta bruxo e, é claro, as regras de Hogwarts — Professora McGonagall voltou-se para com um olhar de aviso que teria feito a menina se encolher, se não houvesse uma ponta de divertimento nele. percebeu que, embora rígida, McGonagall não a puniria trancando-a em uma catacumba escura. Isso já era algo bem positivo. — E quanto a você, senhorita , espero que tenha decorado as regras de Hogwarts e que se vista apropriadamente. Na próxima vez que nos virmos, saberemos de qual casa você será, e estou torcendo para que vá para a Grifinória. Só Merlin sabe como precisamos de batedores mais rápidos! — A professora bateu palmas, visivelmente animada com a ideia de batedores — o que quer que fossem —, e marchou para fora do quarto, transformando-se novamente em um gato malhado.
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   soltou uma exclamação baixinha, arregalando os olhos e inclinando-se para o lado para observar o gato descendo as escadas com puro e inquestionável fascínio.
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  — Uau… pode me ensinar a fazer isso? Posso ser um gatinho também? Você pode conjurar um Reducio em mim e eu posso morar no bolso do seu paletó — sugeriu, voltando-se para o bruxo com os olhos brilhando, incandescentes como lamparinas, cheia de expectativa.
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  O bruxo pausou os movimentos por um segundo, lançando um olhar para e então negando com a cabeça de forma dramática. Uma mecha de seu cabelo escuro como tinta caiu sobre os olhos cinzentos.
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  — Para alguém que nunca teve contato com Django, você, com certeza, é filha dele — o bruxo, tal como Alphard, que Professora McGonagall havia mencionado, resmungou baixo, parecendo exasperado. não pôde deixar de notar a ponta de afeto na forma como ele pronunciou o nome de seu pai. Inclinou a cabeça, perguntando-se o que aquilo significava, aproximando-se timidamente de Alphard e se projetando para frente, observando o que ele estava colocando nas malas, enfeitiçadas para se organizarem rapidamente.
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  — Você não me respondeu — pontuou com um sorrisinho, tentando ajudar o bruxo a fechar a mala grande, mesmo sabendo que um gesto de varinha resolveria tudo em segundos. Ainda assim, ela percebeu que talvez ele gostasse de fazer as coisas manualmente por conforto. , com olhos curiosos, tentou imaginar o que poderia ser um conforto para ela; não fazia ideia.
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  O bruxo bufou, negando com a cabeça.
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  — Ensinar você o feitiço de Animagus? Primeiro: isso seria uma quebra das regras. É bom que você tenha em mente que bruxos menores de idade não são permitidos a fazer magia fora de Hogwarts. E isso inclui todos os lugares — Alphard ajeitou a lapela do casaco e, em seguida, pôs-se de cócoras à frente de . Ajustou o pijama dela, certificando-se de que não estava apertado e de que os botões estavam bem fechados; depois tentou domar, em vão, alguns fios rebeldes de seu cabelo.
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  — Cuidaremos do seu cabelo quando chegarmos. Agora, em segundo lugar: o feitiço de Animago é extremamente complexo e meticuloso. Se algo der errado, as consequências podem ser severas. Portanto, não, , eu não vou ensinar nada disso a você.
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   fez um bico, lançando-lhe um olhar desapontado.
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  — É , não .
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  Desta vez o bruxo quase sorriu. Endireitou-se, pegou a mala e estendeu a mão para a menina.
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  — Para mim, você sempre será . Muito bem, pronta?
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  Alphard Black manteve a mão estendida, aguardando que a segurasse para que, enfim, pudessem partir.
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•••

  Lá pelo final da tarde, finalmente havia conseguido deixar de sentir-se nauseada pela aparatação.
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  Havia igualmente desistido de pedir para que Alphard Black — a quem ela descobrira ser seu padrinho — lhe ensinasse a se tornar Animaga, decidindo que descobriria por si mesma e que, eventualmente, faria dar certo.
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  Depois de passarem boa parte do dia caminhando discretamente pelas vielas do Beco Diagonal, ouvindo atentamente enquanto Alphard explicava onde ela poderia ir — e de onde deveria manter distância por conta de certas presenças perigosas —, se contentou em escutar, com um sorriso largo, as histórias de Alphard com seu pai e as aventuras que viveram em sua juventude.
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  Não ficou assim tão surpresa ao ouvir o quão próximo Alphard Black era de Django . De fato, o que a surpreendeu foi perceber que eles eram praticamente inseparáveis. se perguntou como deveria ser ter alguém assim em sua vida — alguém tão próximo que se deslocaria de lugares distantes apenas para vê-la, mesmo que isso levasse tempo e fosse difícil.
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  Ela ouviu sobre as travessuras que Alphard e Django aprontavam quando pequenos, como Django se recusara a ir para Hogwarts por não desejar ser um bruxo, ou acreditar naquele tipo de coisa — embora a família tivesse suas próprias crenças, sabedorias e compreensões de magia. Restavam apenas as férias para que os dois se vissem. E eles aproveitavam esses momentos para explorar os lugares ao redor, como quando tentaram vislumbrar a academia de magia francesa, Beauxbatons, e acabaram quase morrendo durante a fuga. Foram parar na Escócia. Ou quando Alphard inventou uma desculpa qualquer ao pai, dizendo que desejava fazer intercâmbio em Durmstrang, mas, em vez disso, passou todas as férias no acampamento de Django e da família .
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   o acompanhou na escolha dos livros para o ano letivo em Hogwarts, e até mesmo se divertiu causando um pequeno caos ao escolher sua coruja. A que chamou sua atenção era pequena, parecendo ter acabado de sair dos estágios de filhote para quase adulta. Tinha penas pretas, brancas e amarronzadas, grandes olhos castanhos-escuros, penugem suave ao redor do bico preto, e duas penas maiores no topo da cabeça que lembravam orelhas felinas. — esse era o nome da coruja, como acabou descobrindo — era uma coisinha teimosa, mas bem afetuosa. “Uma coruja-orelhuda”, esclareceu Alphard, lançando-lhe um olhar cauteloso, como se lesse com facilidade os planos que a menina tramava — incluindo suas duas tentativas de abrir a gaiola.
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  Compraram uma varinha para — madeira de alerce com núcleo de pena de fênix, 12 ¼ polegadas, e flexibilidade rígida — e até mesmo um caldeirão. ficou mais do que contente ao bisbilhotar o livro de Feitiços Avançados e tentar conjurar “Lumos” enquanto incentivava a fazer um ninho nos cabelos presos em um coque desfeito pelas garras do animalzinho.
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   aconchegou-se entre a nuca e as costas de , tirando um cochilo tranquilo enquanto Alphard Black a ajudava a se instalar no velho apartamento empoeirado, acima de uma loja de discos bem legal, em Soho — um lugar que havia pertencido a seu pai.
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  — Meu pai costumava morar aqui? — questionou assim que passou pela entrada do apartamento.
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  Não era tão impressionante quanto o de Alphard, próximo à Grimmauld Place, mas certamente havia um ar mais boêmio e artístico no espaço. Ela se surpreendeu com o quão confortável parecia.
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  Três cômodos, incluindo o banheiro, com aspectos vitorianos como o apartamento de Alphard, mas muito mais decorado: plantas perto da janela abobadada, espelhos e quadros na parede e junto à pequena lareira, tapetes com padrões geométricos e paredes com papel de parede escuro e discreto. Lamparinas e lâmpadas espalhadas como se estivessem congeladas no tempo, mas ainda atuais. Fótons coloridos, discos de vinil, e roupas extravagantes. quase riu ao encontrar um lenço azul-claro, levemente prateado, com medalhões de latão gravados costurados, finalizado por uma renda delicada feita à mão.
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  — Seu pai nunca morou aqui — não de fato, pelo menos. Antes de conhecer Rio, eu morava aqui, junto com ele — explicou Alphard, com um tom calmo e gentil, mas que carregava uma ponta de tristeza.
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   franziu o cenho, contemplativa, observando-o com atenção enquanto tentava prender o lenço na cabeça. Seria aquilo um coração partido? Por uma fração de segundo, ela se perguntou o que Alphard Black não estava lhe contando.
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  Mas sua atenção foi interrompida pelos dois elfos domésticos que mantinham vigilância esporádica no local: Hawkes e Astra.
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  Eles não pertenciam à família de — eram apenas amigos — e tinham um pequeno cômodo com camas apropriadas e roupas próprias. achou adorável o chapéu fedora adaptado de Hawkes e a calça pantalona de Astra.
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  Astra prontificou-se a ajudar a encontrar roupas e um estilo com o qual se sentisse confortável. Já Hawkes, embora mais reservado, rapidamente lhe entregou um mapa de Londres e ensinou truques e locais onde ela poderia encontrar o que precisasse.
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  Ficou combinado com Alphard que eles verificariam todos os dias, para garantir que estivesse se adaptando, segura e longe de encrencas — ou do risco de se expor acidentalmente aos trouxas, já que Alphard não poderia vigiá-la o tempo todo.
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  Mais tarde, Astra acabou sentada no carpete com , perto da vitrola, ouvindo Beatles — precisamente o álbum Twist and Shout. se perguntou por que aquela música era tão boa, e por que sempre surgia nos momentos mais inesperados. Queria ou não, ela estava se tornando uma de suas favoritas — embora não tivesse certeza se realmente gostava dos Beatles. Quatro garotos juntos? Isso só podia significar encrenca. Talvez divertida, mas ainda assim, encrenca.
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  Enquanto isso, Hawkes auxiliava Alphard em silêncio na cozinha, e tentava conjurar Lumos.
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  — O que eu disse sobre fazer magia fora da escola? — rosnou Alphard, entrando na sala de estar, que também servia de sala de jantar graças à mesa de centro de carvalho onde estava debruçada, lendo e rabiscando seu novo livro.
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  — Para não ser pega — murmurou com um sorrisinho. bicou sua testa três vezes como advertência. fez uma careta, levando a mão à testa e massageando o local. — Ai! O que foi que eu te fiz? — murmurou, encontrando os olhos de com os grandes castanhos escuros. A ave piscou duas vezes, e se perguntou se existia um feitiço para se comunicar com corujas.
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  — Exatamente, para não ser… por Merlin! ! Eu disse para não fazer! — exclamou Alphard, impaciente, soltando um suspiro pesado e apoiando as mãos nos quadris. Ele a observou em silêncio, olhos estreitos. — Eu quero saber por que sua coruja está na sua cabeça e não na gaiola?
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  — A gaiola parece desconfortável, mal tem espaço para ele esticar as asas — disse suavemente, soltando um risinho engasgado quando bicou sua testa mais uma vez e esfregou a cabeça cheia de penas em seu nariz.
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  Ela espirrou baixinho e tentou pousar o animal gentilmente na mesa de carvalho antiga e rangente do apartamento em Soho. sacudiu a varinha novamente.
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  — Lumos — murmurou, mas nada aconteceu.
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  — Tem certeza de que eu devo mesmo ir para Hogwarts, senhor Black? Posso ficar por aqui mesmo, se for mais fácil. Eu só cresci ao redor de pessoas mágicas… isso não significa que eu também sou.
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  Alphard suspirou suavemente, enrolando o guardanapo em sua mão e então se sentou ao lado da menina com um olhar curioso, porém cauteloso.
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  — Pode me chamar só de Alphie — Alphard pontuou com um olhar significativo para , que assentiu, fazendo uma caricia na barriga de , que imediatamente começou a bicar o pulso da menina; não com força o suficiente para machucá-la, mas o suficiente para retribuir o gesto. — Sua tia fez um número com você, não foi? — o homem disse por fim, apertando os lábios e ajeitando-se ao lado de , lançando um olhar em forma de aviso para a menina ao tomar-lhe sua varinha. Alphard girou a varinha de por entre os dedos, como um baterista, havia dito Astra, e então bateu bem de leve com a ponta da varinha de no nariz na menina. — Hogwarts não aceitaria ninguém que não fosse merecedor de fazer parte da escola. De fato, não foi só o seu pai que havia recebido uma carta de aceitação. Rio também ganhou uma, mas escolheu seguir para Durmstrang. E você mesma recebeu uma, logo no início deste ano. Como sua tia havia dito que você não possuía interesse algum em tornar-se uma bruxa, o tópico foi deixado de lado, e, eventualmente, esquecido.
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  — Então o que mudou? — Questionou .
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  — Vladimir Krasny escreveu para nós — Alphard disse, soltando um pequeno pigarro, e encarou Alphard curiosa, mas, ao mesmo tempo, preocupada. Professor Krasny poderia ser muitas coisas, mas não era assim tão interessado em . Ao menos, a menina havia acreditado. Alphard pausou por um breve segundo, parecendo imitar Professora McGonagall e considerar quais palavras iria usar e quais não, ao continuar com seu relato. — Ele escreveu também uma excelente indicação para que você fosse transferida para Hogwarts, já que nossas aulas seriam mais desafiadoras do que Durmstrang estava lhe oferecendo.
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  — Mas senhor Bla… digo, Alphie — começou a dizer, confusa. — Durmstrang não aceita sangue-ruins, e eu sou uma. Não tem como ele ter feito isso, porque eu nunca estudei em Durmstrang.
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  Alphard apertou os lábios, encarando o rosto de e então uniu as sobrancelhas, sério.
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  — Ouça, , eu não me importo com o que você deseje se tornar daqui para frente, com o que deseja fazer, mas peço, e espero que mantenha em mente minhas palavras agora — Alphard começou a dizer, sua voz um pouco mais dura do que ela havia percebido que eram quando tratava-se dela. — Não irá usar essa palavra nunca mais. — Alphard entregou a varinha de de volta para a menina, e então suas mãos calejadas e ásperas envolveram a mão da menina, guiando-a em um gesto mais alongado e com um floreio, incentivando a menina a acompanhar o gesto. — O valor de um bruxo não está no sangue que ele carrega, querida, mas na habilidade e nos valores éticos que carrega. Você poderia ter o nome mais poderoso que já existiu entre os bruxos e isso não o fará mais valoroso que uma poça de lama.
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  Alphard assentiu para , incentivando-a enquanto movia seus lábios, de modo que pudesse entender a maneira com que a articulação da palavra deveria ser feita, e então tentou de novo, dizendo desta vez, com mais confiança: “Lumos” e observou fascinada quando luz surgiu na ponta de sua varinha. sorriu, revelando as covinhas que pertenciam a Django e ninguém mais enquanto encarava Alphard com olhos obsidianas cintilando.
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  — Obrigada.
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  — Sabe, seu pai me disse uma vez bem aqui que seríamos uma família — Alphard suspirou pesado, apoiando seu cotovelo sobre a mesa de carvalho, e então seu rosto contra sua mão, encarando a menina com atenção e uma ponta de saudosismo distante. — É claro, isso foi antes dele conhecer Rio e eles fugirem para a Romênia. Preciso dizer que, de certa forma, acabei o ressentindo por isso. Então, quando soube o que aconteceu com você e seus pais, acreditei que o melhor a se fazer era deixar que sua tia lhe desse abrigo. — Alphard desviou os olhos de para então encarar a vitrola com o vinil ainda ecoando, enquanto Astra apressava-se para escolher outro disco de Django ali. — Cometi um erro ao fazer isso, especialmente porque Django teria detestado ver a quebra de meu próprio voto. Mas agora que está aqui, acredito que finalmente vou poder ter a família que sempre quis, se assim quiser também, é claro.
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   sentiu seu coração disparar com a ideia de ter uma família. Ela nunca havia tido uma, e, embora estivesse contente em estar ali, não conseguia deixar de sentir-se incomodada com a possibilidade de tia Joanne a encontrar ali. Até agora tudo parecia como um sonho muito bom, e , pela primeira vez, sentia-se aterrorizada com a possibilidade de acordar.
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  — E o que isso significa, Alphie? — questionou, mais para obter a confirmação em si, do que por algum tipo de confusão.
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  Algo atravessou o rosto de Alphard Black e a menina viu uma certa hesitação que não lhe era característica. Um pesar que brilhou em seu rosto, e talvez até mesmo um pouco de raiva contida. A mistura de emoções no rosto do mais velho fez com que a menina se sentisse de repente insegura do que as palavras que estavam por vir poderiam significar.
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  — Significa que sua tia está morta, querida. Eu sinto muito por isso — Alphard disse com um tom de voz bem, bem suave e cauteloso. franziu o cenho, surpresa, encarando o homem com uma ponta de descrença, mas quando ele não se desmentiu, sentiu uma onda atordoante de culpa, e encolheu-se contra a mesa de carvalho enquanto se perguntava se havia sido sua culpa. Foi somente após alguns longos momentos em silêncio, quando Alphard o quebrou, colocando gentilmente uma mão no ombro da menina, que conseguiu ao menos se livrar do estupor que havia se alastrado por seu peito. — Mas significa também que agora você tem a mim, caso deseje assim, e poderemos ser uma família. Além disso, eu tenho um sobrinho também que irá começar seu primeiro ano em Hogwarts, veja só, se tiver um pouco de sorte, tenho certeza que vocês dois poderão ser amigos.
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  — Eu iria gostar disso — confessou com sinceridade, prendendo a varinha dela em seus próprios cabelos e então, estendendo sua mão na direção de Alphard Black para ajudá-lo a se levantar. É claro que uma menina de 11 anos jamais conseguiria ter força o suficiente para levantar um homem adulto como Alphard era. Embora fosse magro, ele não era raquítico, mas ainda assim Alphard fez questão de exagerar um pouco seus movimentos ao colocar-se de pé, a fim de fazer a menina acreditar que havia conseguido erguê-lo, e, certamente, ela havia. — Então, sobre fazer magia fora de Hogwarts, e seu eu… — começou a dizer, e Alphard imediatamente preparou-se para dizer ‘não’ a quaisquer asneira que a menina perguntasse.
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  E, certamente, não seriam poucas.
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Continua…

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Natashia Kitamura
Admin
1 mês atrás

Ai que raiva dessa Joanne invejosa e imatura! É claramente uma pessoa que vive para destruir as outras, ao invés de construir um bom caráter.
Gostei bastante da atitude do pai das meninas, apesar de não ter protegido a enteada no momento em que ela mais precisou. Foi preciso a dona morte aparecer para ele compreender que não é sobre sangue-puro, mas sobre ter quem ele se importa próximo. Ugh. É muito o que acontece hoje em dia. As pessoas vivem muito o agora e se esquecem que o amanhã está chegando.
Eu adorei o backstory dos personagens, de como tudo tem um gatilho e uma consequência.
Tenho certeza de que toda essa construção vai ser muito bem aproveitada nos próximos capítulos! Animadíssima para lê-los!

Lelen
Admin
1 mês atrás

Podemos cuspir em Joanne já? Ela vai competir com a Umbridge em quem é mais nojenta e indigna de qualquer sentimento?
Eu me surpreendi com a atitude inicial do Edwin em acolher a criança como filha dele, achei que ele ia ser tipo macho escroto de orgulho ferido, mas foi um bom homem, apesar de ter deixado “de lado” os outros filhos.
Agora, como que essa criança vai sair desse cenário, coitada?

Adorei que a casa da pp vai ser Corvinal porque bem lá no fundo, apesar de eu querer muito ser sonserina, eu sou da Corvinal HAHAHA
E adorei mais ainda que vamos ter dois pares românticos DE UMA VEZ e que eles são Sirius e Remo. Eu sou todinha do Sirius, falei. Mas meu coração dá umas falhadas pelo Lupin também. QUE BOM QUE NÃO VOU TER QUE ESCOLHER HEEHEHEHEHEH

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  TUDO COMEÇA QUANDO UM BRUXO PURO-SANGUE SE APAIXONOU POR UM TROUXA." Read more »

Começou do jeito que só tragédia anunciada começa: puro-sangue + trouxa = caos. Já sei que vou sofrer.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Conforme cresceu, aceitou a proposta feita por sua família de unir as casas Greengrass e Rozenn. Após uma breve negociação,…" Read more »

Ela casando e o homem virando Rozenn no sobrenome, TUDO. A lore familiar aqui tá chique demais!

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  E foi nesse novo cenário que ela conheceu o admirável professor de Arte das Magias das Trevas, conhecido apenas como…" Read more »

Opa, entrou o professor misterioso e sexy das artes das trevas… Eu já sei que vai dar problema!

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  O caso durou cerca de três anos, período em que Blanche Rozenn lecionou, antes de retornar, mais uma vez, a…" Read more »

TRÊS ANOS de caso com o boy dark academia. Blanche se jogou no drama. Alerta de bebê ilegítimo aceso!

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Ficou claro, no momento em que a criança saiu de seu ventre, que não carregava o mesmo sangue de Edwin.…" Read more »

Blanche morrendo no parto… e o bebê é do Vladimir. MEU DEUS. Já tô sentindo o peso desse enredo.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Enquanto Joanne despertava cada vez mais a atenção de colegas e professores — exibindo, desde tenra idade, a habilidade herdada…" Read more »

A metamorfomagia dela… uau. Já vi que a magia aqui é profunda. Rio é absurdamente poderosa.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Apaixonou-se — não pela aparência, mas pela essência de Rio. Era uma figura curiosa: enquanto muitos tendiam a se encaixar…" Read more »

E O ENCONTRO, MEU DEUS. O começo do romance, tudo tão sensível, tão fora do padrão. ARREBENTOU!

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  A criança herdara de Rio sua aparência, mas era de Django a sua personalidade. Curiosa, admiravelmente sagaz e perspicaz, era…" Read more »

E ENTÃO NASCE A CRIANÇA! Já tô com vontade de proteger com minha vida.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Orgulhosa, não demorou muito para que Joanne iniciasse uma verdadeira Caça às Bruxas. Alegou uma série de crimes que Rio…" Read more »

Joanne projetando seus próprios demônios na Rio, como sempre. Eu odeio essa mulher com gosto.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Após a morte violenta e trágica de Rio e Django, a pequena garotinha, na época com apenas 3 anos, havia…" Read more »

E então… o ponto final. Eu estou DESOLADA. A morte deles me deixou em pedaços.

Nyx
Nyx
1 mês atrás
  Porque Joanne jamais seria algo melhor do que uma mera parasita." Read more »

A última frase foi um soco. Joanne é um monstro, e eu quero justiça. Rio, Django e a filha não mereciam esse fim.

Nyx
Nyx
1 mês atrás

Já tinha lido no site ao lado, mas é claro que eu ia marcar presença aqui também, né? 🫶🏼 Essa história é especial demais pra não receber meu surto em todos os lugares possíveis! Voltar pra esse enredo só confirmou o quanto ele é potente, bem escrito e inesquecível. Rio e Django vivem no meu coração com força. Parabéns demais por essa obra!


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