Clearing in Incheon

  — — disse Hana ao se aproximar de mim.

  — Sim. — Voltei meu olhar da prancha de cortes do projeto da galeria para ela. — Aconteceu alguma coisa? 

  — Descobriram um cálculo errado na estrutura do telhado de treliça — respondeu ela. 

  — Mais essa. — Bufei de leve.

  A pressão era grande em cima de mim. Ser uma profissional estrangeira não era fácil naquela construtora, principalmente quando os subordinados eram todos nativos. Me levantei da minha cadeira e segui em direção à porta.

  — Vamos resolver isso com o engenheiro estrutural — disse já saindo pela porta. — Aquele telhado é extenso demais para ser calculado errado. Você parou a execução na obra? 

  — Sim. Até resolvermos o problema — respondeu ela me seguindo.

  Seguimos pelo corredor até chegar na sala do engenheiro Park. Ele estava despojado e à vontade deitado em seu sofá, cochilando, bem no horário do trabalho. Senti meu sangue ferver ao ver a cena. Dei alguns passos até a mesa dele e, pegando as pastas, as bati sobre mesa, o assustando.

  — Ah — ele ergueu o corpo após o susto e me olhou surpreso —, arquiteta Miller. O que faz aqui? 

  — Vim para saber o que o meu engenheiro estrutural faz em seu momento de trabalho que não o deixa se empenhar — respondi em tom de ironia —, pois mais uma vez ele calculou a estrutura errada. — Ponderei a minha voz que já se mantinha elevada. — O que você quer? Matar pessoas? — disse mais alto ainda.

  Eu sabia que nesse momento todo o escritório já estaria atento aos meus gritos.

  — Se não está satisfeito, engenheiro Park, peça demissão, mas não me faça um serviço porco colocando a vida das pessoas em risco — joguei as palavras em fúria e voltei para a porta. — Você tem 12 horas para consertar seu erro e me entregar o cálculo certo. Depois disso passe no RH com sua carta de demissão.

  Saí da sala sem deixá-lo se justificar. Já estava cansada de suas desculpas. Desde que recebi a proposta do CEO da construtora, para ser a arquiteta chefe, pedi de imediato carta branca para escolher com quem trabalharia, algo que já levantou revolta em outros profissionais mais antigos. Não me importei, pois sabia quem eu era e como eu trabalhava. Tinha as melhores recomendações de grandes escritórios de arquitetura de Londres. Meu sistema de trabalho era a base do autoritarismo. Se o respeito não vier por bem, virá na base do medo.

  — Arquiteta Miller, tem certeza disso? — perguntou Hana minha assistente. 

  — Se o funcionário não tem comprometimento com o projeto em desenvolvimento, não serve para trabalhar aqui — expliquei a ela. Hana assentiu sem mais questionamentos.

  Voltamos ao trabalho para revisar as pranchas do projeto de uma casa moderna de container. As horas se passaram comigo relutante em voltar mais cedo para casa, mesmo cansada só queria terminar meu trabalho com perfeição.

  Ao cair da noite, guardei as pranchas do projeto que apresentaria no dia seguinte ao cliente. Peguei minha bolsa, tranquei minha sala e segui para o estacionamento do prédio. Entrei no meu carro e segui para casa. Assim que cheguei no prédio onde morava, segui de elevador até meu andar. Caminhando pelo corredor, comecei a sentir um cheiro gostoso de comida. Foi quando a fome apareceu me lembrando que não tinha almoçado naquele dia.

  Ao girar maçaneta da porta e entrar em meu apartamento, me deparei com Jong Suk na cozinha preparando o jantar. Senti meus olhos brilharem com a cena. Ele havia chegado mais cedo dos seus compromissos de trabalho. Fechei a porta a trancando e segui até ele.

  — Boa noite — disse ao dar um selinho nele. — Quando chegou? 

  — Não tem muito tempo, demoramos na sessão de fotos hoje — respondeu ele ao sorrir levemente.

  Jong Suk não entrava muito em detalhes sobre sua vida profissional, e nem eu, este era o nosso combinado para que nosso casamento escondido desse certo. Ele era uma pessoa reservada quanto sua vida pessoal, o que ajudava muito já que era uma celebridade e sua imagem era bastante pública. O mais louco é que nos tornamos próximos de forma rápida. Fomos apresentados por um amigo em comum, foi bem no início da minha mudança para Incheon. Depois disso… Já se completava um ano e sete meses de casados.

  — Tudo bem na construtora? — perguntou ele. 

  — Demiti o engenheiro estrutural — respondi com tranquilidade.

  — Imaginei que faria isso mais cedo ou mais tarde — comentou ele. — Sempre reclamou dos erros de cálculo dele.

  — Eu ainda demorei demais para fazer isso, dei várias chances. — Me sentei na banqueta e fiquei o observando cozinhar. 

  — O que importa é que não chegará mais em casa revoltada com o mau trabalho dele. — Jong Suk sorriu. 

  — Sim — concordei.

  Ficamos mais um tempo em silêncio, até que ele terminou o jantar e saboreamos a comida.

  — Eu te amo — disse ele ao me abraçar por trás, assim que saiu do banho. 

  — Eu também te amo — me declarei também.

  Ele me virou para ele e pude ver o sorriso em seu rosto. Logo um beijo foi iniciado com a iniciativa dele, de forma doce e suave foi ficando gradativamente mais intensa e maliciosa, principalmente com o toque de suas mãos sobre meu corpo.

  Aquela era a melhor parte do dia, chegar em casa e vê-lo ali cozinhando para mim, me esperando. Mesmo que em raros momentos ele tivesse que viajar a trabalho… Eu sabia que Lee Jong Suk sempre voltaria para casa.

  Para mim.