Chaos – Tales: Dream Glow
estava empolgada para aquela noite. Jin, o senhor Kim que vivia salvando sua vida no trabalho, a havia chamado para “um encontro de verdade” naquela tarde. Kim Seokjin era o fotógrafo que disponibilizava as imagens mais perfeitas e que melhor casavam com as campanhas publicitárias que ela trabalhava, e há poucos meses, havia sido o grande salvador de seu mundo ao encontrar seu caderno de anotações sobre possíveis novos enredos para as histórias que gostava de escrever como passatempo. Desde aquele dia, os dois mantinham uma rotina de trocas de mensagens e encontros casuais no café da sexta avenida.
A moça se olhou no espelho analisando a escolha que havia feito para o “encontro de verdade”. Era algo simples e discreto, mas a deixou satisfeita. Dando um último toque no cabelo meio preso, ela sorriu para si mesma e rumou para fora de sua casa. Apesar de aquele não ser o primeiro encontro com Jin, se sentiu nervosa por alguma razão. Ela não costumava sair em encontros “sérios” com alguém, e se sentia meio estranha por estar fazendo aquilo com ele. Ao mesmo tempo, as coisas eram tão gostosas e simples na companhia de Jin, que ela não podia pensar em não dar uma chance a aquilo. Seja lá o que fosse que estivesse acontecendo.
pegou o metrô há algumas ruas de sua casa, mandando uma mensagem para Jin, avisando que em poucos minutos estaria no café da sexta avenida, onde combinaram de se encontrar. A cada minuto que passava, ela se sentia mais ansiosa. E se justamente aquele encontro fosse decisivo na vida futura dos dois? E se eles não soubessem o que dizer? Aquele pensamento a fez rir consigo mesma. Havia mais do que semanas que eles conversavam e não havia sequer um dia que um não tivesse o que dizer para o outro.
Quando a gravação anunciou a sua estação, saltou do vagão e teve que se segurar para se manter caminhando como uma pessoa normal e não sair correndo para o ponto de encontro com Jin. Ela respirou fundo várias vezes para tentar fazer o frio na barriga ir embora, mas estava sendo difícil. Quando se deu conta, já estava na calçada paralela à calçada em que Jin esperava em frente ao café deles.
Ao avistá-la, Jin sorriu e acenou, ela fazendo o mesmo, o nervosismo e a ansiedade dando lugar à animação. esperou que o farol ficasse verde para pedestres e olhou para os lados antes de atravessar, estava na metade do caminho quando ouviu uma buzina raivosa e os faróis altos de um carro em alta velocidade miraram em sua direção. Ela não teve tempo de raciocinar direito, logo o impacto do carro a fez voar para longe. Em um segundo ela estava ali, no outro… Bem, no outro ela continuou ali, como um fantasma. Foi a coisa mais esquisita que já tinha sentido em toda sua vida. No momento em que o carro bateu em seu corpo, ela sentiu como se tivesse sido arrancada dele… E dada as circunstâncias, talvez tivesse sido exatamente aquilo que acontecera.
viu Jin largar as flores que segurava e correr em direção ao seu corpo inerte no meio da rua. Viu quando ele fez menção de tocá-la, mas um homem que estava por perto o advertiu que tocar na vítima de atropelamento poderia piorar a situação. Ela não pôde deixar de sorrir quando Jin tirou o blazer que vestia para cobri-la numa tentativa de deixá-la aquecida, talvez?
Em alguns minutos, a rua que antes estava tranquila, acabou por ficar tumultuada com os curiosos e as viaturas da polícia que havia sido acionada. ouviu os policiais fazendo perguntas sobre o acidente e também estava lá quando a ambulância chegou, os paramédicos colocando seu corpo com cuidado na maca. Ela ouviu quando os socorristas negaram a entrada de Jin na ambulância e também de certa forma “acompanhou” o rapaz que seguiu o veículo de emergência na mesma velocidade desesperada para o hospital mais próximo.
Era estranho se ter como fantasma. Será que ela já havia morrido e era aquilo que havia de fato se tornado, um fantasma? Talvez ela só estivesse sonhando, Deus sabia que ela costumava ter os sonhos mais malucos que uma mente podia criar, então… Talvez ela estivesse viva, se contorcendo em sua cama naquele exato instante.
Durante as horas que se seguiram, se manteve entre ir e vir da sala de cirurgias onde seu corpo recebia os cuidados necessários, e a sala de espera, onde Jin estava sentado um pouco afastado dos três melhores amigos de .
Ela estava lá quando um enfermeiro foi dar notícias sobre seu estado para todos. Estava lá quando Jin pareceu estar prestes a desmoronar ao saber que apesar de todos os esforços da equipe médica, tudo o que se podia fazer era esperar, e que seu estado era delicado. Ela estava lá quando seu senhor Kim saiu do hospital sem dizer nada e entrou no carro. Ela estava quando Jin pareceu olhar em seus olhos e disse que ele arrumaria tudo e que tudo ficaria bem… Ela esteve lá, até não estar mais.
Jin estava ao lado de mais uma vez. Ele nunca deixava de estar lá, afinal, era a sua . Ele levava livros para ler para ela, contava sobre o que estava acontecendo nos dias com as pessoas conhecidas, e às vezes até deixava as músicas favoritas dela tocando ao fundo.
Já faziam três meses desde o acidente, desde que havia sido atropelada e entrado em coma. Fazia três meses que Kim Seokjin ia religiosamente ficar ao lado de , talvez na esperança de que aquele fosse o dia em que ela acordaria. Ele lia o conto da Bela Adormecida para a melhor amiga quando no meio da história gargalhou, quase desesperado.
Seokjin se lembrou da história que sempre contava de sua tia, que quando a pequena nasceu, tia Maggie – o tipo de tia excêntrica que toda família costumava ter – fungou de forma triste dizendo “ah, que pena, ela vai fechar os olhos e não acordar muito antes do que se espera”.
— Eu me sinto a Bela Adormecida toda vez que me lembro dessa história! — Era o que falava antes de cair na gargalhada após, mais uma vez, relembrar o fato.
E por mais de vinte anos aquela história permaneceu como sendo apenas uma história curiosa de família. Até o acidente, quando tia Maggie murmurou um “eu sabia…” triste. Jin não conseguia evitar de pensar que tia Maggie havia feito o papel de Malévola para , apesar do pensamento ser ridículo. Mas lá estava , sua Bela Adormecida, que ao contrário do conto, não tinha nenhuma certeza de despertar mesmo com o beijo do bravo príncipe que enfrentaria todo tipo de provação para salvá-la.
Jin deixou um riso sem humor escapar. Ele queria ter podido ter a chance de dizer o que realmente sentia por muito antes, mas o medo de estragar aquela amizade havia sido muito maior. Então, lá estava ele, encarando a melhor amiga desacordada, imaginando o que poderia ter sido se ele tivesse dito.
— Eu te amo, … — Jin murmurou segurando a mão da moça. — Não só como amiga e muito menos como irmã… — Riu baixinho lembrando que ambos sempre disseram que se amavam, mas nunca da forma certa.
Num impulso que vinha sendo reprimido por meses, talvez anos, Kim Seokjin se inclinou e juntou seus lábios nos da melhor amiga. Ele esperava que talvez ela magicamente despertasse e correspondesse àquele beijo, ela podia simplesmente despertar e brigar com ele por aquele gesto, “ela podia simplesmente despertar” era o que ele pensava quando separou seus lábios dos dela.
— Você precisa voltar logo, . — Jin acariciou de leve o rosto da moça. — Pra eu poder te dizer…
Jin parou de falar quando o monitor cardíaco fez um barulho um pouco diferente do padrão, logo em seguida, um resmungo baixo pôde ser ouvido.
— O que você quer me dizer…? — A voz fraca e baixa de pôde ser ouvida e Jin quase não conseguiu acreditar nos próprios ouvidos.
— ?
A moça tentava manter os olhos abertos, ainda parecia sonolenta e confusa quando Seokjin mergulhou em sua direção para um abraço apertado, lágrimas escorrendo silenciosas por seu rosto.
— Eu também te amo… — ela murmurou rindo baixinho, sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Alguns dias haviam passado desde que havia despertado. Muita coisa ainda estava confusa na mente da moça, mas um sentimento martelava em seu peito desde que havia aberto os olhos.
— Eu sonhei com uma vida enquanto estava em coma — murmurou para Jin, que mais uma vez estava no quarto de hospital lhe fazendo companhia. — E você estava lá, mas eu não sabia que era você. — Ela riu quando viu a expressão confusa do melhor amigo em sua direção. — No sonho, eu te conheci por acaso. Eu tinha perdido meu caderno de anotações e foi você quem o encontrou. — Ela sorriu ternamente. — Nós passamos a conversar e a nos dar bem, como nos damos aqui… Eu estava indo para o nosso primeiro “encontro de verdade” quando um acidente aconteceu.
Jin mordeu o lábio inferior de forma nervosa. Só a menção da palavra “acidente” já lhe causava um arrepio.
— Você devia ter se visto. — riu divertida. — Você voltou no tempo para me salvar, mesmo significando que talvez a gente nunca pudesse se conhecer de novo. — A moça sorriu quase triste. — Eu achei isso fofo, mas ao mesmo tempo irritante. — gargalhou quando viu a expressão confusa do melhor amigo. — Você me tinha lá, mesmo que quase morta, mas achou melhor ir embora — explicou.
— Ao mesmo tempo que penso que talvez eu faria a mesma coisa que esse outro Jin se tivesse esse poder, eu nunca seria capaz de te deixar, … — Seokjin murmurou segurando a mão da melhor amiga.
— Eu sei. — sorriu entrelaçando os dedos com os de Jin. — E é por isso que eu te amo, senhor Kim.
O sorriso que ela deu era igual, mas ao mesmo tempo diferente, o que fazia Jin pensar que talvez, aquele “eu te amo” finalmente estivesse passando a significar a coisa certa entre eles.
Fim
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