Céu Cor de Rosa
Capítulo 1
, sentada ao canto da sala de reuniões, observava atentamente . O modo como ele se apoiava contra a parede, braços cruzados e o cenho franzido, era quase uma marca registrada quando algo o incomodava. Ela sabia que a missão dada pela senhora i — organizar a exposição de artes e cultura da escola — não era exatamente empolgante para ele. Para , no entanto, era uma oportunidade de mergulhar na beleza do trabalho dos alunos e mostrar ao mundo o que ela tanto acreditava: que a arte tinha o poder de transformar até os corações mais duros.
olhou de relance para ela, seus olhos castanhos escuros pareciam calcular a situação. , com seu sorriso suave, não conseguiu esconder a sensação de que ele estava apenas esperando uma brecha para contestar mais uma de suas ideias.
— Então, o que acha da proposta? — ela perguntou, tentando esconder o toque de curiosidade na voz.
fez um leve movimento com a cabeça, como se estivesse ponderando, mas o silêncio se arrastou por alguns segundos, tornando-se quase palpável. Ele não parecia convencido
— Eu acho que é… ambicioso — Ele disse, a palavra saindo de forma vagarosa, como se estivesse pesando o peso de cada sílaba. — Mas temos que ser realistas. Arte é subjetiva. E, entre tantas atividades e responsabilidades, não sei se teremos tempo para isso.
sentiu uma leve pontada de frustração, mas tentou não deixar transparecer. Ele sempre parecia enxergar a vida de uma forma mais prática, mais rígida, e isso a fazia questionar se ele realmente compreendia a magia por trás do que ela fazia todos os dias.
— Talvez o tempo seja um obstáculo, mas a transformação que a arte pode provocar vale o esforço — ela respondeu, mantendo a calma. — E é para isso que estamos aqui, não? Para dar aos alunos a oportunidade de expressar o que eles sentem e, quem sabe, despertar algo neles.
a observou por um momento, seus olhos se suavizando um pouco, mas ainda havia aquela tensão no ar. Ele não parecia convencido, mas talvez, apenas talvez, ela estivesse começando a plantar uma semente de dúvida.
, vendo que o silêncio se estendia demais, decidiu tomar a iniciativa. Ela se levantou lentamente, com uma graça tranquila, e caminhou até . Ele não a olhou de imediato, ainda fixado no que parecia ser uma série de pensamentos confusos. Ela parou ao lado dele, com uma expressão serena, como se estivesse oferecendo uma pequena chance para ele ver o que ela via.
— Porque não dá uma olhada nos trabalhos que temos? — Disse ela, sua voz suave, mas carregada de entusiasmo. — Nossos meninos são muito talentosos. Eu tenho certeza de que, se você ver o que estão criando, sua perspectiva vai mudar.
olhou para ela, seus olhos agora mais focados, mas ainda mantendo a postura de quem tentava não se deixar levar pela empolgação dela.
— Talvez… — ele murmurou… — Mas é que arte… bem, como eu disse, arte é subjetiva, . Não tem garantias de que alguém vai ver o que você vê.
sorriu levemente, tentando esconder a frustração. Ele nunca parecia compreender como o simples ato de expressar emoções através da arte podia ir além daquilo que os olhos viam.
— Eu sei — Respondeu , com um sorriso suave. — Mas é justamente por isso que precisamos mostrar a eles. Às vezes, a verdadeira beleza está em dar o primeiro passo, não em garantir o resultado.
Ela fez um gesto em direção à mesa da diretora, onde alguns papeis estavam espalhados, mas os verdadeiros tesouros estavam em outro lugar — na sala das artes, onde as criações dos alunos estavam expostas.
ainda estava hesitante, e podia perceber que ele não estava exatamente convencido. Ele permanecia firme contra a parede, com os braços cruzados, o cenho franzido. A diretora, que os observava silenciosamente, então se aproximou.
— Eu entendo que você tenha reservas, mas o que está dizendo faz sentido, . Nossos alunos têm muito potencial, e essa exposição é uma chance de mostrar o que estão criando com tanto empenho. É importante que você vá até a sala de artes e veja com seus próprios olhos. Às vezes, ver a arte de perto pode mudar toda a percepção. — Disse a diretora i, sua voz firme e persuasiva.
deu um passo à frente, sorrindo de maneira quase imperceptível.
— Vai ser uma experiência interessante, eu prometo. Não é apenas sobre o resultado final, é sobre o processo, sobre como eles colocam o coração em cada trabalho. — Ela olhou para com um olhar gentil, esperando que ele cedesse.
olhou de uma para a outra, primeiro para a diretora e depois para . Ele parecia prestes a dizer algo, mas a expressão dos dois, especialmente a paciência de , o fez hesitar. Ele não gostava de se sentir pressionado, mas havia algo na maneira como ela falava sobre a arte que o incomodava, de uma maneira curiosa e até desconcertante.
— Está bem — disse ele finalmente, com um suspiro, como se já estivesse exausto de lutar contra a ideia. — Vou dar uma olhada, mas não espere que eu me apaixone por tudo o que vejo.
sorriu, contente com a pequena vitória.
— Só quero que você veja o que temos. Não precisa se apaixonar. Apenas… observe.
Com isso, se afastou da parede, ainda com a postura séria, mas desta vez mais disposto a seguir até a sala das artes. e a diretora o conduziram pelos corredores da escola, até o local onde as obras dos alunos estavam espalhadas. Enquanto caminhavam, não pôde deixar de perceber a tensão em seu corpo, mas também algo mais. Ele estava começando a se abrir, mesmo que só um pouco.
Quando chegaram à sala, a visão das várias criações artísticas começou a preencher o ambiente, e parou por um instante, olhando ao redor. As cores vivas nas telas, as formas únicas nas esculturas, e até os detalhes das peças mais simples começaram a atrair sua atenção. Ele ainda estava tentando entender o que estava vendo, mas a curiosidade finalmente parecia estar tomando o lugar da resistência.
— Veja… — apontou para uma escultura de argila no canto da sala. — Este aqui é um trabalho de um dos nossos alunos mais novos. Ele capturou algo profundo no formato e na textura. Há uma história inteira ali, se você olhar com atenção.
se aproximou, um pouco mais desconcertado do que antes. Ele olhou a escultura por alguns segundos, seu olhar se suavizando, mas ainda buscando algo a mais, algo que ele ainda não conseguia identificar.
— Talvez você tenha razão — disse ele, o tom agora mais pensativo. — Há algo de… interessante nessas peças.
sorriu para si mesma, satisfeita por ver que, pouco a pouco, ele começava a se envolver.
— Eu sabia que você conseguiria ver a beleza, só precisava do momento certo.
🎀🎀🎀
Capítulo 2
A sala dos professores estava tranquila naquela tarde, com apenas o som suave das teclas do notebook de quebrando o silêncio. Ele estava concentrado em seu trabalho, os olhos fixos na tela enquanto digitava, mas seu foco começava a ser desafiado pela presença silenciosa de à sua frente.
estava sentada de maneira calma, com a postura ereta, o caderno aberto diante dela. Ela parecia completamente absorvida no que estava anotando, a ponta do lápis movendo-se delicadamente sobre o papel. Seus olhos seguiam o movimento da caneta, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida e pensada. Ela estava tão focada que mal notava a atenção de sobre ela.
Ele, por outro lado, não conseguiu resistir a observar. A diferença entre os dois não poderia ser mais clara. Enquanto ele teclava rapidamente no computador, de vez em quando batendo a caneta contra o lado da mesa ou fazendo pequenas anotações rápidas em seu próprio bloco de notas, estava quieta e meticulosa, dedicada ao seu caderno com um cuidado quase… artístico.
Foi quando ele notou algo peculiar. Ele desviou o olhar do notebook e olhou para o caderno de , que parecia brilhar com uma suavidade incomum. O caderno, simples em sua capa, mas algo sobre ele o fez parecer… diferente. Rosa. Um tom claro e delicado. Ele não pôde deixar de olhar mais de perto. Quando ela virou uma página, ele percebeu que não era só o caderno, mas todos os itens sobre a mesa dela. A borracha, com uma cor rosada e suave, repousava ao lado da caneta, que também tinha a tampa em um tom rosa claro. O lápis, discretamente colocado ao lado da borracha, era da mesma cor, e até o pequeno laço que ela usava no cabelo, amarrado delicadamente, era rosa.
franziu o cenho, surpreso com a forma como tudo parecia harmonioso e tão… rosa. Era como se cada detalhe fosse meticulosamente escolhido, um reflexo da personalidade de . Ele nunca imaginaria que ela fosse tão dedicada aos pequenos detalhes, mas ao mesmo tempo, tão… delicada.
parecia não perceber o olhar de , já que estava imersa em seu trabalho. O silêncio da sala foi interrompido apenas pelo som de sua caneta riscando o papel com suavidade, uma suavidade que parecia refletir sua própria personalidade — calma, serena, minuciosa.
, no entanto, não pôde evitar um pequeno sorriso diante da cena. Ele se perguntava o que exatamente ela estava escrevendo ou desenhando, mas havia algo em sua forma de trabalhar que era tão oposto à sua própria maneira impulsiva de agir. Enquanto ele vivia em um ritmo acelerado, jogando-se em seu trabalho de forma quase caótica, parecia sempre controlada, calculando e planejando cada movimento com uma precisão impressionante.
Por um momento, ele se sentiu um pouco desajeitado, como se estivesse perdendo algum sentido de ordem que ela naturalmente possuía. Ele voltou a olhar para o seu notebook, mas não conseguiu mais se concentrar como antes.
— Você escreve muito? — perguntou, quebrando o silêncio, sua voz suave, mas com uma curiosidade genuína.
levantou os olhos, surpresa com a pergunta, mas sorriu com suavidade.
— Eu gosto de anotar minhas ideias e pensamentos. Às vezes, é uma forma de organizar a mente.
observou o sorriso dela, ainda intrigado com a maneira como ela se dedicava aos detalhes, enquanto ele, muitas vezes, se sentia sobrecarregado com a pressa e o ritmo frenético do seu próprio trabalho.
— Eu… nunca fui bom nisso — Ele admitiu, balançando a cabeça com um suspiro. — Eu prefiro resolver as coisas rapidamente, de forma mais prática.
sorriu de novo, mas dessa vez seu sorriso parecia mais compreensivo.
— Eu entendo. Às vezes, a pressa pode ser necessária. Mas, quem sabe, um pouco de pausa e reflexão também pode ajudar a ver as coisas de um jeito diferente.
a observou com uma expressão pensativa. Algo na maneira como ela falava parecia tão distante da sua própria abordagem apressada, mas ao mesmo tempo havia algo nela que o fazia querer desacelerar e refletir um pouco mais.
A sala dos professores ficou em silêncio novamente, mas agora, em vez do som constante de teclas batendo, havia um tipo de entendimento silencioso entre os dois. Uma diferença de personalidades, sem dúvida, mas talvez, apenas talvez, algo mais que eles poderiam aprender um com o outro.
Depois de algum tempo, a sala voltou a ser preenchida apenas pelo som dos movimentos suaves de com sua caneta e os ocasionais cliques do teclado de . Ele finalmente fechou o notebook, deixando escapar um suspiro discreto enquanto se recostava na cadeira. Seus olhos voltaram para , que ainda estava concentrada no caderno.
— — Ele chamou, a voz baixa mas firme, como se estivesse testando a reação dela.
Ela levantou os olhos imediatamente, curiosa:
— Sim?
ajeitou-se na cadeira, cruzando os braços sobre a mesa.
— Eu estava pensando… Acho que nós poderíamos começar a conversar sobre o evento. O que acha?
Os olhos dela brilharam, e ela fechou o caderno com delicadeza, colocando a caneta em cima.
— Claro! Acho uma ótima ideia.
Ela puxou a cadeira levemente para mais perto dele, cruzando as mãos sobre a mesa em um gesto de atenção total.
— Por onde você gostaria de começar?
hesitou por um momento, inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos na mesa.
— Bom, pra ser honesto, eu ainda não tenho uma ideia clara do que você imaginou para isso. Talvez você possa me dar um panorama geral antes de começarmos a dividir as responsabilidades?
sorriu, animada.
— Com certeza. Minha ideia é que o evento não seja apenas uma exposição das obras dos alunos, mas também um espaço para que eles possam interagir com a comunidade, compartilhar suas histórias e inspirações.
levantou uma sobrancelha, intrigado.
— Como assim, interagir com a comunidade?
— Bem, pensei em algo mais dinâmico. Além da exposição tradicional, poderíamos incluir pequenas oficinas. Cada aluno poderia demonstrar uma técnica ou compartilhar algo sobre o processo criativo. Isso tornaria tudo mais pessoal e acessível.
coçou o queixo, processando a ideia.
— Hum… Parece interessante. Mas isso significa mais trabalho na organização. E tempo. Você acha que é viável?
inclinou a cabeça, refletindo.
— Vai dar trabalho, sim. Mas acho que o resultado compensará. E também… bem, eu gosto de desafios.
O tom suave, mas determinado dela fez sorrir de canto.
— Desafios, hein? Eu não diria que essa palavra combina com rosa. — Ele lançou um olhar rápido ao caderno e aos itens sobre a mesa dela, provocando com um pequeno sorriso.
riu, descontraída.
— Ah, você ficaria surpreso com o que as cores podem fazer. Rosa também é força, sabia?
riu baixo, mas algo na resposta dela o fez pensar. Havia mais profundidade ali do que ele havia imaginado inicialmente.
— Ok, . Vamos fazer do seu jeito. Quero ver até onde esse seu rosa pode nos levar.
Ela sorriu, satisfeita.
— Você não vai se arrepender, .
Enquanto ela abria o caderno novamente e começava a listar ideias, ele a observou com mais atenção. Talvez trabalhar com não fosse tão ruim assim. E, quem sabe, ele até aprenderia algo novo nesse processo.
🎀🎀🎀
A partir daquele momento, e mergulharam na elaboração do cronograma e dos detalhes do evento. Ela, com seu caderno rosa sempre à mão, anotava cada ideia e sugestão com entusiasmo, enquanto ele digitava no notebook, estruturando o que discutiam de forma objetiva e organizada.
propôs começar com uma exposição tradicional das obras dos alunos, dividida por categorias como pintura, escultura e fotografia. acrescentou a ideia de criar um mapa interativo para que os visitantes pudessem explorar as peças com mais facilidade.
— Podemos disponibilizar QR codes ao lado de cada obra, direcionando para depoimentos em vídeo dos alunos explicando suas inspirações… — Sugeriu ele.
Os olhos dela brilharam.
— Isso é incrível! Além de conectar o público ao artista, daríamos uma dimensão mais pessoal à exposição.
Enquanto ajustavam o cronograma, discutiram a logística de montar as oficinas. sugeriu que os próprios alunos liderassem as atividades, mas insistiu que seria melhor selecionar alguns que se sentissem mais confortáveis com isso, para evitar pressões desnecessárias.
— Nem todo mundo tem facilidade para falar em público… — Ele ponderou.
— Você tem razão… — admitiu, fazendo uma nota no caderno. — Podemos deixar claro que participar das oficinas será voluntário. Assim, eles se sentirão mais à vontade.
A conversa fluiu com naturalidade, e mesmo as diferenças de estilo entre os dois — ela mais intuitiva e espontânea, ele mais pragmático e analítico — acabaram complementando o trabalho um do outro. Em pouco tempo, já tinham uma estrutura básica para o evento:
Abertura do evento: Um breve discurso dos alunos, com um representante de cada categoria.
Exposição principal: Galerias separadas por tipo de arte, com QR codes para vídeos explicativos.
Oficinas interativas: Sessões curtas lideradas por alunos selecionados.
Encerramento: Uma apresentação musical ou performance artística ao vivo.
No fim da tarde, ambos estavam cercados de anotações, desenhos e diagramas espalhados pela mesa. fez uma pausa, esticando os braços acima da cabeça e suspirando satisfeita.
— Estamos indo bem, não acha? — ela perguntou, olhando para .
Ele inclinou a cabeça, um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios.
— Até que sim. Quem diria que organizar um evento podia ser tão… criativo?
Ela riu, guardando as anotações e o caderno.
— Criatividade é o que faz tudo acontecer, . Bem-vindo ao mundo das cores.
Ele não respondeu, mas havia algo em seu olhar — uma mistura de admiração e curiosidade. Talvez, ele pensou, estivesse certa.
🎀🎀🎀
Capítulo 3
O dia finalmente chegou ao fim, e a sala dos professores estava silenciosa, exceto pelo som de papéis sendo guardados e teclas sendo pressionadas pela última vez. fechou seu caderno rosa com um gesto delicado, prendendo-o junto com seus outros materiais em sua bolsa.
desligou o notebook, encostando-se na cadeira enquanto observava se preparar para sair. Do lado de fora, as janelas refletiam o céu escuro da noite.
— Você parece animada… — Ele comentou, casualmente.
— Claro que estou! Conseguimos muita coisa hoje. — Respondeu com um sorriso sincero, pendurando a bolsa no ombro.
hesitou por um momento antes de perguntar, tentando soar desinteressado:
— Como você vai pra casa? Está tarde.
— De metrô, como sempre — Disse ela, tranquilamente. — É rápido e prático.
Ele franziu levemente o cenho, como se ponderasse algo, enquanto ela se dirigia para a porta.
— Boa noite, ! — acenou, animada, já a poucos passos de sair da sala.
Por um instante, ele ficou em silêncio, assistindo-a ir. Mas então, algo o fez chamá-la de volta…
— !
Ela parou e virou-se, curiosa.
— Sim, ?
levantou-se, ajustando o casaco.
— Eu posso te dar uma carona. Estou indo de carro, e… é perigoso voltar sozinha a essa hora.
piscou algumas vezes, surpresa pela oferta inesperada.
— Oh, não precisa se preocupar! Eu faço isso o tempo todo.
— Eu sei — Ele disse, caminhando até ela. — Mas hoje você não precisa. Vamos lá, não é problema pra mim.
Havia algo no tom dele — firme, mas sem ser invasivo — que fez sorrir.
— Bem, se você insiste… Obrigada, . É muito gentil da sua parte.
— Não é nada… — Ele respondeu, já saindo da sala com ela ao seu lado.
Enquanto caminhavam pelos corredores vazios em direção ao estacionamento, se pegou pensando que talvez não fosse tão distante quanto aparentava. E, do outro lado, ele tentava ignorar a pequena sensação de satisfação ao vê-la aceitar sua ajuda.
🎀🎀🎀
Ao saírem do prédio e chegarem ao estacionamento, abraçou a si mesma quando o ar frio da noite a envolveu. Era um daqueles ventos que cortavam mesmo as camadas mais grossas de roupas.
— Está esfriando rápido… — ela comentou, esfregando os braços.
, já com as chaves em mãos, apontou para um carro preto brilhante estacionado a poucos metros. Quando chegaram mais perto, parou por um momento, impressionada com o veículo. Era um modelo luxuoso, com detalhes reluzentes que refletiam a luz fraca dos postes do estacionamento.
— Esse é o seu carro? — Ela perguntou, surpresa evidente em sua voz.
Ele assentiu, destravando as portas com um clique.
— É só um carro… — Respondeu de forma casual, mas o sorriso de canto sugeria que ele estava acostumado com reações como a dela.
piscou, se lembrando de um detalhe que havia lido sobre ele antes de começarem a trabalhar juntos: além de professor, era herdeiro de uma das famílias mais ricas de Seul. Não era algo que ele fazia questão de mencionar, mas claramente estava ali, em pequenas coisas como aquele carro impressionante.
— Claro — Ela murmurou, meio para si mesma, enquanto entrava no veículo.
O interior era tão elegante quanto o exterior, com estofados de couro impecáveis e tecnologia de ponta. Assim que ligou o carro, um leve ronco ecoou, mas foi rapidamente abafado por uma música instrumental suave que começou a tocar.
Ele ajustou o aquecedor, percebendo como ainda esfregava os braços.
— Está melhor assim? — Ele perguntou, lançando-lhe um olhar rápido.
Ela sorriu.
— Muito melhor, obrigada.
Enquanto se ajeitava no banco, colocando a bolsa no colo, não pôde deixar de notar o objeto. Era, claro, rosa — como tudo mais que ela carregava. Ele arqueou uma sobrancelha, olhando de relance para ela.
— Deixa eu adivinhar… — começou ele, um leve tom divertido na voz. — Sua cor preferida é rosa?
riu, surpresa pela pergunta.
— É tão óbvio assim?
— Bem, considerando o caderno, a caneta, o laço no cabelo, e agora a bolsa… diria que é um palpite seguro.
Ela deu de ombros, sorrindo.
— Eu gosto de rosa, sim. Tem algo contra?
— Não — ele respondeu, balançando a cabeça. — Só achei… interessante. Não é exatamente uma cor discreta.
— Exatamente! — Disse ela, com um brilho nos olhos. — Rosa não precisa ser discreto. É vibrante, positivo. Um lembrete de que as coisas podem ser mais leves, mesmo em dias difíceis.
ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras dela enquanto dirigia para fora do estacionamento. Ele nunca tinha pensado no rosa desse jeito antes — e, talvez, nunca tivesse conhecido alguém como para explicar isso.
— Então, para onde vamos? — perguntou, ajustando os espelhos retrovisores antes de sair do estacionamento.
puxou o celular da bolsa rosa e abriu o aplicativo de mapas.
— Ah, eu moro no bairro Mangwon — respondeu, enquanto procurava o endereço exato. — É bem perto da estação de metrô, mas tem algumas curvas meio confusas. Vou te guiando.
— Perfeito. Só espero que você seja boa copiloto… — ele brincou, um sorriso leve no rosto.
Ela riu, digitando rapidamente o endereço e mostrando para ele.
— Pode deixar. É só pegar à direita aqui na saída e seguir em frente. Eu aviso quando for pra virar.
assentiu, concentrando-se na direção. Enquanto o carro deslizava suavemente pelas ruas de Seul, olhou pela janela, observando as luzes brilhantes da cidade e pensando em como a noite havia tomado um rumo inesperado.
— Depois desse cruzamento, você vai ter que virar à esquerda. — Disse ela, apontando com a mão.
— Entendido — ele respondeu, fazendo a curva com precisão.
A conversa fluiu com facilidade enquanto ela o guiava, pontuando com orientações entre algumas observações sobre o trânsito ou sobre os bairros que passavam.
— Aqui é onde costumam ter mercados noturnos aos sábados. — Comentou ela em certo ponto, indicando uma praça iluminada.
olhou de relance para onde ela apontava.
— Interessante. Nunca andei muito por essas bandas.
— É uma área tranquila, mas cheia de vida. Talvez você devesse explorar mais… — disse ela, com um sorriso encorajador.
— Quem sabe… — ele respondeu, sem se comprometer, mas guardando a sugestão na memória.
— Agora, vai em frente mais umas duas quadras — orientou novamente, enquanto o carro se aproximava de seu destino.
Enquanto dirigia pelas ruas iluminadas de Seul, quebrou o silêncio com uma pergunta curiosa:
— Fica muito longe de onde você mora?
Ele deu de ombros, os olhos fixos na estrada à frente.
— Nem tanto. Eu moro em Hannam-dong, então é uma boa distância, mas nada absurdo.
— Hannam-dong? — ela repetiu, arqueando uma sobrancelha. — Aquele bairro cheio de gente rica e famosa?
riu suavemente.
— Algo assim. Mas nem todo mundo que mora lá é famoso, viu?
sorriu, brincando:
— Bem, você é rico. Famoso, ainda não. Acho que dá metade do requisito, né?
Ele riu mais uma vez, mas não respondeu. Em vez disso, continuou:
— Você mora sozinho ou ainda com seus pais?
lançou-lhe um olhar breve, surpreso pela pergunta. Depois, voltou os olhos para a estrada, um sorriso divertido nos lábios.
— Moro sozinho. Por que perguntou? Parece que eu ainda moro com meus pais?
Ela riu, percebendo o tom leve dele.
— Não sei, talvez. Você tem aquele ar… como posso dizer… de alguém que não precisa se preocupar com as coisas básicas da vida, sabe? Tipo, tem quem lave suas roupas, faça sua comida…
— Ah, entendi — ele respondeu, claramente achando graça. — Então é isso que você acha de mim? Que eu sou um herdeiro mimado que nunca precisou fazer nada por conta própria?
levantou as mãos em rendição, rindo.
— Ei, você disse isso, não eu!
balançou a cabeça, divertido.
— Bom, para sua informação, eu sei muito bem lavar minhas próprias roupas e cozinhar o básico, obrigado. Mas confesso que prefiro pedir comida ou comer fora. Acho que é mais prático.
Ela o observou com um sorriso intrigado.
— Ok, confesso que estou surpresa. Você realmente faz suas próprias coisas?
— Faço sim senhora! — ele respondeu, fingindo indignação. — Você achava o quê? Que eu tinha uma governanta 24 horas à disposição?
— Bem… talvez. — Ela admitiu, dando de ombros com um sorriso travesso.
balançou a cabeça, ainda rindo.
— Você tem uma visão interessante sobre mim, . Vou precisar trabalhar para mudar isso.
— Ou talvez você só tenha que aceitar que está lidando com alguém que vê o mundo em tons de rosa. — Ela provocou, apontando para sua bolsa no colo.
— Justo! — Ele respondeu, rindo novamente.
🎀🎀🎀
O carro desacelerou quando apontou para o prédio à frente, um edifício modesto e aconchegante com algumas luzes acesas nas janelas.
— É aqui… — Ela disse, apontando para a entrada principal.
estacionou o carro cuidadosamente ao lado da calçada. Ele olhou para o prédio e depois para ela, ainda com um leve sorriso nos lábios.
— Você mora aqui há muito tempo?
— Alguns anos — respondeu enquanto pegava sua bolsa. — Gosto daqui. É tranquilo e tem tudo o que preciso por perto.
— Bem, parece um bom lugar… — ele comentou, desligando o motor do carro.
já estava prestes a abrir a porta quando hesitou, olhando para ele.
— Obrigada pela carona, de verdade. Você não precisava fazer isso, mas foi muito gentil.
deu de ombros, os olhos fixos nela por um instante mais longo do que o esperado.
— Não foi nada. Já estava no caminho, de qualquer forma.
Ela sorriu, inclinando levemente a cabeça.
— Não estava, e nós dois sabemos disso. Ainda assim, obrigada. Boa noite .
— Boa noite, . — Ele respondeu, observando enquanto ela saía do carro e caminhava em direção à entrada do prédio.
Antes de desaparecer pelas portas de vidro, virou-se uma última vez e acenou. ergueu uma mão em resposta, um pequeno sorriso ainda em seu rosto enquanto a observava entrar.
Quando ela desapareceu de vista, ele encostou a cabeça no banco por um momento, soltando um suspiro.
— Cor de rosa, hein? — Murmurou para si mesmo, ligando o motor novamente antes de partir pela rua iluminada.
🎀🎀🎀
Capítulo 4
A sala dos professores estava cheia do som baixo de conversas, papeis sendo folheados e a máquina de café funcionando sem parar. já estava lá, sentado em uma das mesas perto da janela, completamente focado em seu notebook. Havia alguns papeis espalhados ao redor dele, e sua expressão mostrava concentração absoluta.
entrou na sala com um sorriso leve, cumprimentando alguns colegas que estavam próximos à máquina de café. Ela se juntou a eles, ouvindo as conversas descontraídas sobre as aulas e os planos para o fim de semana.
Enquanto enchia seu copo com café, ela olhou para , que parecia alheio a tudo ao seu redor. Ele nem sequer notou quando ela entrou na sala.
— Ele parece ocupado, como sempre. — Comentou um dos professores, percebendo o olhar de .
— É, ele está sempre assim… — Ela respondeu com um pequeno sorriso.
Depois de um momento, uma ideia passou pela cabeça dela. Pegou outro copo descartável e o encheu com café também, acrescentando um pouco de açúcar e creme, lembrando-se de que ele provavelmente preferiria assim.
— Vou levar isso para ele… — disse , mais para si mesma do que para os outros.
Ela caminhou até a mesa de , segurando os dois copos de café. Ao se aproximar, ela parou por um segundo, notando como ele estava absorto em seus pensamentos. Ele passava os olhos pelo notebook, franzindo o cenho de vez em quando e rabiscando algo em uma folha ao lado.
— Bom dia, . — Ela disse, finalmente quebrando o silêncio ao se aproximar da mesa.
Ele levantou os olhos rapidamente, parecendo um pouco surpreso ao vê-la.
— Bom dia, .
— Trouxe café para você… — ela disse, colocando o copo na mesa ao lado dele. — Pensei que talvez precisasse de uma pausa.
olhou para o café e depois para ela, um leve sorriso surgindo em seu rosto
— Obrigado. Você nem precisava fazer isso.
— Eu sei… — Respondeu com um encolher de ombros. — Mas você parece que já está a todo vapor. Achei que um pouco de café não faria mal.
Ele pegou o copo e deu um gole, deixando escapar um suspiro satisfeito.
— Está perfeito. Obrigado mesmo.
Ela se inclinou levemente para olhar os papeis na mesa.
— Já está adiantando algo para o evento?
— Algo assim — ele respondeu, com um sorriso de canto. — Você sabe como é. Ainda tem muito trabalho a fazer.
— Bom, é para isso que eu estou aqui — disse com um sorriso confiante. — E agora, com café, você não tem desculpa para não continuar.
Os dois riram suavemente, e por um momento, relaxou, deixando sua postura rígida desaparecer.
se inclinou um pouco mais para analisar as anotações espalhadas pela mesa de .
— Posso? — ela perguntou, apontando para um dos papeis com um gesto suave.
— Claro! — Ele respondeu, movendo o notebook um pouco para o lado para dar mais espaço.
Ela pegou a folha e começou a examiná-la com atenção. A caligrafia dele era meticulosa, quase formal, e as ideias estavam dispostas em tópicos organizados, com pequenos gráficos esboçados nas margens.
— Você é bem detalhista, não é? — ela comentou, passando os olhos pelas anotações.
— Digamos que gosto de tudo planejado… — Ele respondeu com um sorriso de canto.
soltou uma risada baixa.
— Bom, isso é bom. Vai nos poupar muitos problemas quando o evento realmente começar a ganhar forma.
Enquanto ela continuava analisando as anotações, apontando aqui e ali algumas ideias que poderiam ser ajustadas ou ampliadas, a sala dos professores começou a se esvaziar lentamente. Alguns colegas se despediam com acenos rápidos, enquanto outros recolhiam suas coisas e saíam para dar início às próximas aulas.
percebeu o movimento periférico, mas sua atenção foi capturada por algo mais próximo: .
Ela estava tão concentrada nas ideias dele que parecia não notar que agora estavam quase sozinhos na sala. Seus olhos corriam pelas palavras com intensidade, e ela mordia levemente o canto do lábio inferior enquanto ponderava sobre algo.
Ele se pegou observando mais do que deveria. O modo como a luz suave da sala destacava as mechas de seu cabelo, o laço rosa que prendia parte dele com delicadeza… tudo nela parecia refletir um cuidado que ele não estava acostumado a notar.
Foi então que seus olhos se desviaram para a bolsa que ela havia colocado ao lado da cadeira. Era, claro, rosa. Ele não pôde evitar um sorriso quase imperceptível.
— Está tudo bem aí? — perguntou de repente, erguendo o olhar para ele.
disfarçou rapidamente, endireitando-se na cadeira e apontando para as anotações.
— Ah, sim, estava só pensando. Você viu algo que precisa de ajuste?
Ela franziu o cenho levemente, como se não tivesse certeza de sua resposta.
— Talvez só reorganizar essa parte aqui… — disse, apontando para um dos tópicos. — Mas, no geral, está ótimo. Você fez um bom trabalho.
— Obrigado. — ele disse, a voz mais baixa do que pretendia. — E… obrigado de novo pelo café. Acho que foi o que me manteve focado até agora.
sorriu, ajeitando os papeis na mesa.
— Bem, se precisar de outro, é só pedir. Acho que trabalhamos bem juntos.
não respondeu imediatamente, apenas assentiu, ainda processando a sensação estranha e agradável que a companhia dela parecia trazer.
🎀🎀🎀
O pátio da escola estava lotado, com os alunos espalhados em grupos, curiosos com a movimentação. Uma plataforma simples havia sido montada para o anúncio, com um microfone no centro e um banner pendurado no fundo, exibindo as palavras “Feira Cultural da Primavera” em letras coloridas.
ajeitou o microfone, lançando um olhar para ao seu lado. Ela sorriu encorajadoramente, segurando em mãos uma folha com os pontos principais do discurso.
— Bom dia a todos — começou, sua voz firme ressoando pelo espaço. Os murmúrios diminuíram à medida que os alunos se concentravam nele. — Estamos muito animados em anunciar que, nas próximas semanas, nossa escola realizará a tão esperada Feira Cultural.
deu um passo à frente, segurando o microfone que ele lhe passou.
— Este é um evento para celebrar a criatividade, o talento e o esforço de cada um de vocês. Teremos exposições artísticas, apresentações musicais, peças teatrais e até uma competição culinária.
O burburinho voltou por um momento, misturado a sorrisos e expressões animadas. aproveitou a atenção e continuou, com sua voz suave mas firme:
— Essa será uma oportunidade incrível para mostrar o que vocês sabem fazer de melhor, seja na pintura, na música ou até na organização. E claro, queremos que todos participem, seja como criadores ou como público.
retomou o microfone, sua expressão ligeiramente mais relaxada.
— Os detalhes e regras para inscrição estarão disponíveis nas salas de aula e no mural da entrada. E se alguém tiver dúvidas ou precisar de ajuda, é só procurar por nós que somos os professores responsáveis. Estamos aqui para apoiar vocês.
Os dois se entreolharam, compartilhando um momento de cumplicidade antes de pegar o microfone mais uma vez.
— Ah, e mais uma coisa: haverá prêmios para os melhores projetos em cada categoria!
Isso gerou uma reação imediata. Alunos começaram a conversar animadamente, e algumas mãos se ergueram com perguntas, mas levantou a mão para pedir silêncio.
— Por fim — ele disse, com um sorriso discreto. — Queremos lembrar que este evento não é só sobre vencer ou competir. É sobre se expressar e mostrar quem vocês são. Estamos ansiosos para ver o que cada um de vocês pode trazer para essa feira.
Quando terminaram, o pátio estava tomado por um entusiasmo palpável. olhou ao redor, satisfeita com as reações.
— Você foi bem. — Ela sussurrou para , enquanto desciam da plataforma.
— Você também. — ele respondeu, com um sorriso. — Acho que conseguimos prender a atenção deles.
— Agora só precisamos garantir que eles se inscrevam… — Ela brincou, e ele riu, acompanhando-a enquanto voltavam para a sala.
🎀🎀🎀
, sempre pontual e com um sorriso acolhedor, começava seu dia no departamento de Artes, onde dava aulas de pintura e escultura. Sua abordagem era calorosa e paciente, sempre encorajando seus alunos a se expressarem livremente e a explorarem suas emoções através da arte. Ela iniciava suas aulas com uma breve reflexão sobre o que significava ser um artista, como a arte poderia transmitir não apenas beleza, mas também mensagens e sentimentos profundos.
Ela caminhava entre os alunos, oferecendo palavras de apoio e ajustes técnicos, enquanto os jovens trabalhavam em suas telas e esculturas. O ambiente na sala de aula era sempre descontraído, com música suave ao fundo e um cheiro de tinta fresca no ar. se esforçava para criar um espaço seguro, onde todos se sentissem confortáveis para explorar suas habilidades, sem o medo de errar.
, por outro lado, lecionava disciplinas mais teóricas, como História da Arte e Design. Sua aula, ao contrário de , tinha um ritmo mais estruturado. Ele começava com apresentações detalhadas sobre movimentos artísticos, analisando o contexto histórico e os impactos de artistas renomados. Enquanto falava, ele mantinha os alunos atentos com sua maneira precisa de ensinar e com exemplos práticos de como as teorias que discutiam se aplicavam às criações contemporâneas.
Embora fosse mais sério e introvertido que , se dedicava profundamente aos seus alunos. Ele se mostrava impassível a distrações, mas sempre dava atenção às perguntas, incentivando os estudantes a pensarem de maneira crítica sobre o que estavam aprendendo. Sua relação com os alunos era mais distante, mas muitos o respeitavam pela maneira como ele conseguia fazer conexões entre as artes e o mundo real.
No intervalo, se juntava frequentemente aos outros professores, conversando sobre a vida e oferecendo palavras gentis para quem precisasse. , por outro lado, costumava ficar em silêncio, focado no seu notebook, trabalhando nas lições do dia seguinte ou organizando os detalhes do evento da feira cultural. Se alguém o chamava para conversar, ele respondia com educação, mas rapidamente voltava à sua rotina, um pouco mais isolado.
Quando o sinal para o almoço tocava, aproveitava para reunir os alunos para discussões informais sobre projetos, sempre buscando dar espaço para que eles falassem sobre seus próprios desafios e inspirações. , embora com um estilo diferente, também participava ativamente de reuniões de planejamento com os professores, organizando as ideias para os próximos projetos ou buscando maneiras de tornar o ambiente de aprendizado mais eficiente.
Ao final do expediente, quando a maioria dos alunos já havia ido embora, os dois frequentemente se encontravam na sala dos professores, ainda trabalhando no cronograma do evento da feira. revisava os detalhes artísticos e criativos, enquanto verificava os aspectos logísticos e administrativos. Embora suas abordagens fossem diferentes, a parceria entre eles se fortalecia com o tempo, e ambos podiam contar um com o outro para completar as tarefas com eficiência.
No fim de cada semana, antes de ir embora, deixava um pequeno bilhete ou uma lembrança para seus alunos, algo que os motivasse a continuar criando, enquanto aproveitava para revisar as notas das avaliações e organizar os próximos tópicos de suas aulas.
Assim, embora com ritmos e métodos de ensino diferentes, e eram pilares de apoio para os alunos, cada um à sua maneira. E, ao final de cada dia, o ambiente da escola parecia um pouco mais acolhedor e inspirador, graças ao equilíbrio que eles traziam com seus talentos complementares.
🎀🎀🎀
Capítulo 5
Nos dias seguintes, a escola se encheu de energia com os preparativos para a feira cultural. e dividiram as responsabilidades, transformando a sala dos professores em uma espécie de centro de operações para o evento.
No primeiro dia, eles organizaram o recebimento das inscrições dos alunos. era um mar de paciência, ouvindo cada estudante com atenção enquanto eles explicavam suas ideias e projetos. Sua maneira gentil e encorajadora fazia com que até os mais tímidos se sentissem à vontade. , mais reservado, focava em registrar as informações e validar os detalhes técnicos, garantindo que tudo estivesse em ordem. Ele não pôde deixar de admirar a forma como conectava-se tão facilmente com os alunos, mesmo tentando ignorar o calor que isso despertava nele.
No segundo dia, ambos trabalharam na triagem das inscrições. Sentados lado a lado, discutiam quais projetos estavam prontos para serem aprovados e quais precisavam de ajustes. insistia em dar oportunidades a alunos que ainda estavam desenvolvendo suas habilidades, argumentando com paixão que a feira era uma chance de aprendizado. , inicialmente mais rígido, acabou cedendo, contagiado pelo entusiasmo dela. Ele percebeu que, embora pensassem de maneiras diferentes, havia algo incrivelmente harmonioso na forma como colaboravam.
No terceiro dia, os dois se dedicaram a responder dúvidas dos alunos. Enquanto explicava com gestos animados e um sorriso constante, mantinha sua abordagem objetiva, mas surpreendeu-se ao perceber que os estudantes começaram a procurá-lo mais, talvez influenciados pela presença inspiradora de sua colega. Ele tentou ignorar o quanto a presença de estava começando a mexer com ele, mas a forma como ela ria ao ajudá-lo a resolver pequenos contratempos, ou como parecia iluminar qualquer ambiente em que entrava, tornava cada vez mais difícil se manter indiferente.
À noite, enquanto organizava os papeis sozinho, se pegava pensando nos pequenos detalhes dela: o entusiasmo ao falar de arte, o jeito cuidadoso com que tratava cada aluno, e até o perfume floral que ela sempre usava. Ele balançava a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, lembrando a si mesmo que estavam ali para trabalhar.
Mas, a cada dia, ele sentia que a tarefa mais difícil não era organizar o evento, e sim conter o crescente encanto que despertava nele.
🎀🎀🎀
caminhava em direção ao estacionamento, o dia cansativo finalmente chegando ao fim. Com a pasta em uma mão e o celular na outra, ele percorria os corredores silenciosos da escola. A essa hora, quase todos já tinham ido embora, mas, ao passar pela sala de artes, um leve brilho o chamou a atenção. A luz estava acesa, e, ao espiar pela porta entreaberta, viu lá dentro.
Ele parou, hesitando por um momento. Do lado de fora, encostado no batente, ele a observou. Ela estava tão absorta no que fazia que parecia nem perceber a presença dele. Com um pincel delicado entre os dedos, ela pintava com concentração, o rosto próximo à tela, enquanto um pequeno sorriso se formava em seus lábios.
A cor rosa dominava a tela. Era um tom vibrante, cheio de vida, que combinava perfeitamente com o jeito dela. Cada pincelada parecia contar uma história; havia uma leveza no movimento de sua mão, mas também uma intensidade que ele não havia percebido antes.
Por um instante, se pegou sorrindo. Ela parecia completamente no seu elemento, como se aquele fosse o lugar onde mais pertencia. Era diferente do ambiente de trabalho, onde ela era meticulosa e prática. Aqui, havia algo mais livre, mais íntimo.
Ele não sabia por quanto tempo ficou ali, apenas observando. A cada detalhe que notava — o laço rosa no cabelo preso, a pequena mancha de tinta em sua bochecha, o brilho de satisfação em seus olhos enquanto dava mais uma pincelada — ele sentia a barreira que vinha tentando manter se desfazer um pouco mais.
Finalmente, ele limpou a garganta, chamando suavemente:
— Trabalhando até tarde, senhorita ?
se sobressaltou ligeiramente, virando-se na direção dele. Ao vê-lo parado ali, relaxou e sorriu, com o pincel ainda na mão.
— Ah, professor ! Não esperava companhia a essa hora.
— Eu poderia dizer o mesmo — respondeu ele, entrando na sala. — Não sabia que tinha o hábito de pintar fora do horário de trabalho.
— Às vezes, as ideias simplesmente vêm, sabe? E eu não gosto de deixá-las escapar. — Ela apontou para a tela, com as bochechas levemente coradas. — É algo para o evento. Achei que um toque de cor poderia inspirar os alunos.
aproximou-se, os olhos fixos na pintura. Ele não entendia muito de arte, mas havia algo na tela que parecia pulsar vida, exatamente como ela.
— Rosa de novo? Você realmente tem algo com essa cor, não é?
Ela riu, ajeitando o laço no cabelo.
— Não consigo evitar. Rosa é alegria, é paixão, é esperança… tudo que eu quero transmitir.
Ele a olhou, mais atento do que gostaria, e murmurou:
— Está funcionando.
o encarou com uma expressão curiosa, mas antes que pudesse perguntar, ele desviou o olhar, fingindo examinar a tela.
— Bem, parece que você está no caminho certo. Mas não deveria ficar tão tarde aqui sozinha.
Ela sorriu suavemente.
— Obrigada pela preocupação, . Só mais alguns retoques e já vou embora.
— Certo. Vou esperar para garantir que você vá direto para casa — respondeu ele, com um tom firme que não permitia contestação.
piscou, surpresa, mas não pôde deixar de sorrir ao perceber o quanto ele parecia mais atencioso do que deixava transparecer.
hesitou por um momento antes de entrar completamente na sala. Fechou a porta suavemente atrás de si e cruzou os braços, observando enquanto voltava a pintar. Ela parecia à vontade novamente, como se a presença dele não a incomodasse nem um pouco.
Depois de alguns minutos de silêncio, ela perguntou, sem desviar os olhos da tela:
— Por que você sempre fica até tarde também, ?
A pergunta o pegou de surpresa. Ele passou a mão na nuca, desviando o olhar momentaneamente para o chão.
— Acho que… — começou ele, mas parou, escolhendo as palavras.
continuava pintando, mas agora parecia esperar a resposta dele com mais atenção. umedeceu os lábios, ponderando se deveria realmente responder ou apenas dar uma desculpa vaga. Mas algo no ambiente, talvez a vulnerabilidade que ela demonstrava ao se dedicar à arte, o encorajou a ser honesto.
— Porque não há muito esperando por mim do lado de fora. — Ele deu um sorriso sem humor, enfiando as mãos nos bolsos. — Minha vida fora daqui é… bem, digamos que é um pouco solitária.
parou de pintar por um instante, virando-se para ele com a expressão suavizada. Não havia pena em seus olhos, apenas um interesse genuíno.
— Solitária como? — perguntou, com delicadeza.
suspirou, encostando-se a uma das mesas.
— Minha família é… distante. A gente se fala, mas não é como se tivéssemos muita conexão. E amigos? Bom, a maioria já seguiu caminhos diferentes. Acho que o trabalho acaba sendo o lugar onde sinto que faço parte de algo.
largou o pincel, agora completamente focada nele.
— Eu não imaginava… Você sempre parece tão focado, tão seguro de si.
Ele deu uma risada curta.
— Isso é o que acontece quando você se acostuma a manter tudo para si. No fim das contas, trabalho e rotina acabam sendo uma distração confortável.
inclinou levemente a cabeça, como se estivesse tentando entender melhor.
— Mas você nunca tentou mudar isso? Fazer algo que o tire dessa… solidão?
a olhou nos olhos, surpreso com a franqueza dela.
— Acho que nunca pensei muito sobre isso. Talvez eu tenha me acomodado.
Ela sorriu de leve, voltando a pegar o pincel.
— Bom, então talvez a feira cultural seja um bom começo. Fazer parte de algo mais… humano, quem sabe?
ficou em silêncio, absorvendo as palavras dela. Algo sobre a simplicidade e sinceridade de fazia com que ele se sentisse um pouco menos desconfortável consigo mesmo.
— Talvez você tenha razão — respondeu ele, finalmente.
Ela riu, um som leve e suave, voltando a pintar com um toque mais solto. Ele a observou em silêncio por mais alguns minutos, sentindo uma sensação estranha, como se algo dentro dele começasse a se abrir lentamente.
começou a andar pela sala, observando os trabalhos espalhados pelas mesas e prateleiras. Ele pegou algumas esculturas inacabadas, estudou desenhos pendurados em um painel e até analisou algumas paletas de cores. Era visível que ele tentava entender melhor o mundo que era tão natural para .
Enquanto caminhava, seus passos o levaram de volta até ela. estava completamente imersa na pintura, com o pincel deslizando pela tela em movimentos precisos e delicados. Ele parou bem atrás dela, observando-a por um momento em silêncio, fascinado pela leveza com que ela manejava as cores.
inclinou-se levemente para mais perto, o suficiente para que sua respiração fosse sentida no cabelo e nas costas de . Ela congelou por um instante, surpresa pelo calor daquela proximidade. Um arrepio sutil percorreu sua espinha, tão discreto que ela se perguntou se ele havia notado.
— Rosa… de novo — ele disse, a voz baixa, quase um sussurro, próximo ao ouvido dela.
estremeceu levemente, apertando o pincel um pouco mais forte entre os dedos. Virou a cabeça de lado, mas não completamente, ainda relutante em encará-lo tão perto.
— É… — Ela limpou a garganta, tentando manter o tom casual. — Rosa é uma cor cheia de possibilidades, sabe? Pode ser vibrante, delicada, ou até melancólica.
permaneceu onde estava, seu olhar ainda fixo na tela.
— Melancólica? Não parece muito o seu estilo.
Ela sorriu, um sorriso pequeno e tímido, ainda focada em sua pintura.
— Acho que todos temos um pouco de melancolia, mesmo quando preferimos focar nas cores mais alegres.
Ele ficou em silêncio por um instante, ponderando a resposta dela. Então, com um tom levemente provocador, disse:
— Você sabe que essa é a resposta perfeita para uma pergunta que não fiz, não sabe?
finalmente virou a cabeça para ele, rindo suavemente, embora seu rosto estivesse ligeiramente corado.
— Talvez seja minha maneira de tentar te confundir.
ergueu uma sobrancelha, finalmente se afastando um pouco, mas não completamente.
— É uma tática interessante, professora .
Ela voltou sua atenção para a tela, embora seu coração ainda estivesse acelerado pela proximidade. Ele permaneceu ali por mais alguns minutos, observando-a trabalhar, agora com um olhar mais contemplativo. Havia algo em que o puxava como uma corrente invisível, e ele começava a perceber que não seria fácil se desvencilhar disso.
🎀🎀🎀
olhou ao redor, percebendo que havia materiais espalhados por toda a sala. Ele se aproximou de uma mesa cheia de pinceis e tubos de tinta e começou a organizá-los sem dizer nada. o observou por um momento, surpresa, mas logo sorriu e voltou ao trabalho, sentindo-se agradecida pela ajuda inesperada.
— Você não precisava fazer isso — disse ela, enquanto arrumava algumas telas menores.
— Não é como se eu tivesse algo mais importante para fazer agora — ele respondeu casualmente, colocando os pinceis em um suporte próximo.
Os dois continuaram guardando os materiais em um ritmo quase sincronizado, cada um focado em uma parte diferente da sala. Em certo momento, pegou uma caixa de tintas enquanto se abaixava para recolher alguns papeis. Quando ela se levantou e ele se virou ao mesmo tempo, os dois se esbarraram.
Foi um momento rápido, mas que pareceu durar mais do que deveria. Os corpos colaram por um instante, e os narizes quase se tocaram. arregalou os olhos, sentindo o calor dele tão próximo, enquanto o olhar de vacilava, indo dos olhos dela para seus lábios por uma fração de segundo.
— Ah… desculpe — ela murmurou, tentando dar um passo para trás, mas seus pés pareciam presos no chão.
também ficou paralisado por um momento, sua respiração tão próxima que fazia os fios soltos do cabelo dela se moverem levemente. Ele umedeceu os lábios, hesitante, como se estivesse tentando decidir se deveria dizer algo ou apenas se afastar.
— Não foi culpa sua — ele finalmente disse, a voz mais baixa do que o normal.
A proximidade era quase desconfortável de tão íntima, e, ao mesmo tempo, nenhum dos dois parecia com pressa de se afastar. sentiu o coração acelerar, suas mãos ainda segurando alguns papeis enquanto ela tentava desviar o olhar dos olhos intensos de .
Por fim, ele deu um pequeno passo para trás, quebrando o momento, embora a tensão ainda pairasse no ar.
— Acho que já guardamos tudo, né? — ele perguntou, tentando soar casual.
assentiu, embora sua voz saísse quase como um sussurro.
— Sim… está tudo pronto.
Os dois trocaram um último olhar antes de se afastarem completamente, ambos conscientes de que aquele instante havia sido mais do que apenas um simples esbarrão.
🎀🎀🎀
Do lado de fora da sala de artes, trancava a porta enquanto esperava ao lado, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. O silêncio entre eles era confortável, mas havia algo não dito pairando no ar desde o momento dentro da sala.
— Eu te levo para casa — ele disse de repente, sem encará-la diretamente, a voz baixa e quase hesitante.
parou, as chaves ainda na mão, e olhou para ele com uma expressão surpresa e ligeiramente divertida.
— De novo? Eu não quero te incomodar.
— Não é incômodo. Já estou aqui mesmo — respondeu ele, tentando soar casual, mas seu tom traía um leve desconforto.
Ela sorriu, fechando a bolsa depois de guardar as chaves, e começou a caminhar ao lado dele em direção ao estacionamento. Enquanto andavam, a noite estava silenciosa, o frio da brisa fazendo-a ajeitar o cachecol ao redor do pescoço.
se lembrou da conversa na sala de artes, especialmente de quando ele mencionou sua solidão. A lembrança a fez olhar para ele de soslaio, estudando a expressão neutra em seu rosto enquanto caminhavam sob as luzes amareladas do estacionamento.
Ela abriu a bolsa, pegando o celular para verificar as horas, e, impulsivamente, parou de andar, fazendo com que ele também parasse e a olhasse com curiosidade.
— O que foi? — ele perguntou.
— Nada — ela disse com um sorriso, guardando o celular de volta. — Eu só estava pensando… já que ainda não é tão tarde assim e você mencionou aquela coisa de ser solitário… o que acha de pararmos para comer alguma coisa? Talvez um soju ou uma cerveja para acompanhar…
arqueou uma sobrancelha, claramente pego de surpresa pela sugestão.
— Você quer sair para beber comigo?
— Por que não? — respondeu com naturalidade. — Um pouco de companhia e comida boa nunca fizeram mal a ninguém.
Ele hesitou, claramente ponderando se deveria aceitar. Sua rotina geralmente envolvia ir direto para casa e evitar esse tipo de interação fora do trabalho, mas o sorriso dela era desarmante, e havia algo em sua espontaneidade que tornava difícil dizer não.
— Tá bom, mas só se você prometer que não vai me culpar por qualquer ressaca amanhã — ele brincou, finalmente cedendo.
— Fechado! — disse, sorrindo amplamente.
Eles continuaram caminhando até o carro, o clima entre os dois mais leve e descontraído, como se aquele pequeno convite tivesse dissipado qualquer tensão que restava entre eles.
Enquanto dirigia pelas ruas de Seul, o silêncio no carro era quebrado apenas pelo som baixo da música que tocava no rádio. , olhando pela janela, pareceu se lembrar de algo e virou-se para ele com um sorriso.
— Já pensou onde vamos parar? — ela perguntou.
— Não faço ideia — ele respondeu, rindo baixinho. — Você sugeriu, então acho que é sua responsabilidade decidir.
inclinou a cabeça, pensativa.
— Hum, podemos ir a um bar tranquilo… Ou prefere algum lugar com comida tradicional?
olhou para ela de relance, divertido.
— Você tem mais energia do que parece para alguém que passou o dia inteiro trabalhando.
— Eu sou movida a bons momentos — ela retrucou com um sorriso, e depois estalou os dedos, como se tivesse acabado de ter uma ideia. — Que tal aquele pequeno restaurante de tteokbokki na esquina da rua principal? É simples, mas o tteokbokki deles é incrível, e eles servem soju.
Ele riu suavemente, balançando a cabeça.
— Você parece ter um carinho especial por lugares acolhedores.
— Claro! — respondeu, animada. — Lugares assim têm mais alma, sabe? Sem frescuras, só boa comida e boas conversas.
— Parece justo — ele concordou, sorrindo levemente. — E, honestamente, acho que algo mais simples combina mais com a noite.
Ela assentiu, satisfeita, e então passou a dar as direções para o pequeno restaurante. A conversa fluiu naturalmente, ambos parecendo mais relaxados agora que o destino estava decidido.
olhou de canto de olho para enquanto ela explicava animadamente como descobriu o restaurante. Algo na maneira como ela falava, cheia de paixão por algo tão simples, o fez sorrir sem perceber. Talvez aquela noite fosse diferente de todas as outras que ele costumava passar sozinho.
🎀🎀🎀
O carro parou em frente ao pequeno restaurante de tteokbokki. A luz amarelada do letreiro iluminava a entrada simples, mas acolhedora. desceu animada, respirando fundo o aroma que vinha da cozinha.
— Você vai adorar — ela disse, puxando a porta de vidro com um sorriso que parecia iluminar a noite fria.
a seguiu, tentando não reparar no quanto a empolgação dela era contagiante. Eles se sentaram em uma mesa próxima à janela, o ambiente aconchegante preenchido pelo som das panelas e risadas ocasionais dos outros clientes.
pediu o tteokbokki e uma garrafa de soju, enquanto ele apenas observava, como se tentasse decifrá-la.
— Você deveria tentar escolher algo também, sabe — ela comentou, divertida, quando percebeu o olhar dele.
— Acho que vou deixar você ser minha guia por essa noite — ele respondeu, com um sorriso discreto.
Quando a comida chegou, acompanhada por pequenos pratos de acompanhamentos, serviu o soju em dois copos. Ela levantou o seu, esperando que ele fizesse o mesmo.
— A um bom trabalho e a… boas companhias? — ela brincou, levantando a sobrancelha.
— Boas companhias, com certeza — ele concordou, batendo levemente o copo no dela antes de beber.
A conversa fluía facilmente entre uma mordida no tteokbokki e outra. Ela contou sobre como descobriu o restaurante com alguns colegas anos atrás, enquanto ele dividia pequenas histórias de sua infância e juventude. Apesar de reservado, começava a se abrir, algo na energia dela o deixando mais à vontade.
Ele, no entanto, não conseguia deixar de observá-la. A forma como ela ria de algo bobo que ele dizia, ou como ajeitava o laço rosa no cabelo distraidamente entre uma conversa e outra. Até mesmo os pequenos gestos, como ela limpando os dedos com um guardanapo após provar o molho picante, pareciam fasciná-lo.
também notava detalhes sobre ele. A maneira como ele segurava o copo de soju com elegância, os traços fortes de seu rosto suavizados sob a luz amarela do restaurante, e o leve sorriso que surgia quando ele achava graça de algo.
Conforme a noite avançava e a garrafa de soju ia esvaziando, ambos estavam mais descontraídos, rindo de histórias que antes poderiam parecer sem graça. percebeu que estava sorrindo mais do que o habitual e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que o silêncio habitual de sua vida não fazia falta.
Quando o último pedaço de tteokbokki foi comido, inclinou-se para trás na cadeira, suspirando satisfeita.
— Eu te disse que valeria a pena.
— Não vou discordar — ele admitiu, olhando para ela por um momento antes de pegar a conta.
Enquanto saíam do restaurante, o ar frio da noite os envolveu novamente. abraçou os próprios braços, enquanto ele, mais uma vez, se pegava pensando em quanto ela conseguia transformar algo simples em algo especial.
— Pronta para voltar? — ele perguntou, abrindo a porta do carro para ela.
— Pronta. E obrigada por ter vindo — ela respondeu com um sorriso genuíno, entrando no carro.
, enquanto dava a partida, percebeu que a noite havia sido diferente de todas as outras. E, mesmo tentando resistir, ele sabia que algo dentro de si começava a mudar.
🎀🎀🎀
O carro deslizou suavemente pelas ruas tranquilas enquanto eles voltavam. A atmosfera dentro do veículo era diferente daquela de antes; não havia silêncio desconfortável, mas sim uma espécie de calmaria carregada de algo mais. mantinha os olhos na estrada, mas sua mente estava parcialmente presa à risada dela, ao brilho nos olhos que o acompanhara durante toda a noite.
Quando chegaram ao prédio de , ele parou o carro e desligou o motor. A luz fraca do poste iluminava parcialmente o interior, criando um contraste entre sombras e pequenos reflexos nos rostos de ambos.
— Obrigada por hoje. Foi divertido, de verdade — ela disse, virando-se para ele, os olhos suaves e sinceros.
— Foi. Você tem bom gosto para lugares — ele respondeu, o tom casual, mas a intensidade do olhar dele revelava algo mais.
soltou o cinto de segurança e hesitou por um segundo, como se decidisse algo em sua mente. Então, inclinou-se na direção dele, os lábios pressionando suavemente a bochecha dele em um gesto caloroso e inesperado.
ficou paralisado por um instante. O calor e a suavidade daquele toque o pegaram de surpresa, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, virou o rosto por reflexo, exatamente quando ela estava se afastando. O movimento os deixou a poucos centímetros de distância, o ar entre eles carregado de eletricidade…
Os olhos dela encontraram os dele, arregalados por um momento, antes de suavizarem. Ele podia sentir a respiração quente dela contra seus lábios, o perfume delicado de seu shampoo misturado ao momento. Era como se o mundo ao redor tivesse parado, e os dois estavam presos em uma bolha particular, onde só eles existiam.
Então, sem pensar, ele diminuiu a distância. O toque inicial foi hesitante, como se ambos testassem o terreno. Os lábios se encontraram com uma suavidade inicial, mas logo se moldaram com uma mistura de urgência e curiosidade.
O beijo era quente, cheio de emoção contida. Ele sentiu o gosto doce do soju misturado com algo que era unicamente dela. Sua mão foi instintivamente para o rosto dela, os dedos deslizando pela pele macia, como se quisesse confirmar que aquilo era real.
, por sua vez, deixou-se levar, sentindo o calor dele se espalhar por seu corpo. O beijo não era apenas um toque físico; era um encontro de algo mais profundo, algo que ambos estavam relutantes em admitir até então. Ela sentiu um arrepio subir pela espinha quando a mão dele tocou levemente seu pescoço, como se ele tivesse descoberto um segredo que nem ela sabia que tinha.
Quando finalmente se afastaram, ambos estavam ofegantes, os olhos arregalados como se tentassem processar o que havia acabado de acontecer. O silêncio no carro era denso, mas não desconfortável.
— Eu… — ele começou, mas a voz saiu rouca, e ele limpou a garganta antes de continuar. — Isso não estava nos planos.
ainda sentia os lábios formigando. Ela riu baixinho, tentando aliviar a tensão, mas não conseguia esconder o leve rubor que subia por seu rosto.
— Acho que os melhores momentos nunca estão.
a encarou por mais um instante, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. Ele sabia que aquele momento mudaria tudo entre eles. E, pela primeira vez em muito tempo, ele não sentia vontade de fugir.
manteve os olhos fixos nos dele, o silêncio entre eles falando mais do que qualquer palavra poderia dizer. Havia algo no olhar dela, uma mistura de determinação e doçura, que o desarmava por completo.
Antes que ele pudesse reagir ou sequer pensar em dizer algo de novo, ela inclinou-se novamente, dessa vez levando a mão ao rosto dele, seus dedos tocando de leve sua mandíbula, como se pedisse permissão sem precisar dizer uma palavra. Então, seus lábios encontraram os dele mais uma vez.
Dessa vez, o beijo foi diferente, mais intenso, mais decidido. se entregou completamente, sua outra mão indo para o pescoço dele, enquanto os dedos deslizavam suavemente por sua nuca, fazendo-o se arrepiar. não conseguiu resistir; suas mãos, que antes estavam repousadas ao lado, encontraram a cintura dela, segurando-a com firmeza, mas sem agressividade.
O toque entre eles se aprofundava, a conexão crescendo a cada segundo. Ele inclinou-se levemente, puxando-a para mais perto, até que não houvesse espaço entre os dois. Seus dedos se moveram para as costas dela, enquanto os dela traçavam pequenos círculos no pescoço dele, causando uma deliciosa mistura de calor e arrepio.
O beijo era uma mistura perfeita de paixão e ternura, um encontro de duas pessoas que pareciam finalmente estar se permitindo sentir o que antes evitavam. A respiração deles era ofegante, e o som do beijo preenchia o silêncio do carro.
Quando finalmente se afastaram, olhou para ela, o rosto corado e os lábios ainda entreabertos. Ele balançou a cabeça levemente, a confusão evidente.
— … Isso… — Ele hesitou, suas mãos ainda em sua cintura. — Isso é certo? Somos colegas. Se alguém descobrir…
Ela sorriu, um sorriso tranquilizador, enquanto tocava suavemente o rosto dele, o polegar acariciando sua bochecha.
— Ninguém precisa saber de nada agora, . Não há pressa. Temos tempo para nos conhecer, para descobrir o que isso significa para nós.
Ele fechou os olhos por um instante, absorvendo as palavras dela. Quando os abriu novamente, havia uma vulnerabilidade que ela não esperava ver.
— Mas e se… E se eu estragar tudo?
Ela riu baixinho, inclinando a cabeça.
— Você não vai. Sabe por quê? Porque eu não vou deixar.
Ele piscou, surpreso com a confiança dela.
— Só… não fuja de mim, nem desse sentimento — ela continuou, a voz suave, mas firme. — Vamos ver onde isso nos leva, juntos.
suspirou, sentindo o peso das próprias dúvidas começar a diminuir. Ele assentiu lentamente, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
— Tudo bem, . Vamos ver onde isso nos leva.
Ela sorriu de volta, um sorriso brilhante e cheio de esperança. Por um momento, o mundo parecia menos complicado, e os dois estavam prontos para enfrentar o que viesse.
🎀🎀🎀
O festival de cultura foi um sucesso estrondoso. A escola estava vibrante, com alunos mostrando seus talentos em diversas formas de arte, de pinturas a apresentações de música e dança. O pátio estava repleto de vida, risos e conversas animadas, e os professores, especialmente e , estavam orgulhosos do que haviam ajudado a criar. Todos os detalhes que haviam planejado se encaixaram perfeitamente, e a dedicação de todos os envolvidos foi claramente refletida no entusiasmo dos alunos e na energia positiva que permeava o ambiente.
O evento finalmente chegou ao fim, com os últimos alunos deixando o pátio, cansados mas felizes, e os professores começando a se preparar para a arrumação do local. e ficaram para ajudar na organização, depois que os outros colegas começaram a sair. O silêncio se instalou enquanto eles recolhiam as últimas coisas e guardavam os materiais.
Eles trocaram olhares ocasionais, como se as palavras sobre o sucesso do evento fossem desnecessárias, já que ambos sabiam o quanto haviam trabalhado e o quanto o resultado fora gratificante.
— Foi incrível — comentou com um sorriso cansado, mas sincero, enquanto organizava as últimas coisas.
olhou para ela, sentindo algo diferente agora, mais claro, mais próximo. Ele estava cansado, mas a satisfação do trabalho bem feito e a presença dela ali ao seu lado fez com que ele se sentisse mais vivo do que nunca.
— Sim, superou minhas expectativas — ele disse, aproximando-se dela, a voz mais suave do que ela esperava. — Você realmente sabe como fazer as coisas acontecerem.
sorriu, mas antes que pudesse responder, , que sempre havia sido mais reservado e controlado, se aproximou de repente, como se não conseguisse mais resistir. Em um movimento inesperado, ele a beijou.
Foi um beijo rápido, mas cheio de intensidade, como se todo o sentimento que ele havia guardado até aquele momento viesse à tona. , surpresa a princípio, se entregou ao beijo com a mesma paixão que ele transmitia, sentindo o mundo desaparecer por um momento. Quando se separaram, ambos estavam respirando pesadamente, os corações batendo mais rápido do que antes.
— Isso foi… — começou, mas a interrompeu com um sorriso leve.
— Eu sei. Eu não devia, mas não aguentei mais. — Ele fez uma pausa, parecendo pensar nas palavras certas. — Eu só… precisava fazer isso.
olhou para ele, o sorriso em seus lábios transformando-se em algo mais doce, mais pessoal. Aquelas palavras, aquele momento, pareciam selar algo que ela sabia ser verdadeiro.
— Não precisa se preocupar, — ela respondeu, tocando seu braço suavemente. — Eu também queria.
E ali, naquela escola vazia, no final de um dia bem-sucedido, os dois sabiam que algo novo começava, algo que nem eles mesmos podiam prever completamente, mas que ambos estavam dispostos a explorar.
A história deles, de algum modo, estava apenas começando.
Fim
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