Natashia Kitamura
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Breath

  2012 | 2º Colegial

  O verão já havia passado de seu ápice. Mesmo assim, o calor permanecia, como se controlasse sua própria estação da maneira que lhe conviesse. Achar a sombra de uma árvore na escola era como encontrar um bebedouro no deserto, meramente impossível. Suspirei, pensando se deveria voltar à sala de aula e enfrentar o mormaço ameno pelos ventiladores instalados que milagrosamente funcionavam – por pouco tempo, já que estávamos apenas no primeiro mês de aula. Como hábito, o primeiro dia era gasto com apresentações, recomendações, esperanças e animação; na minha opinião, uma perda de tempo. Os alunos do terceiro ano apareceram durante a apresentação do novo diretor à nossa sala para divulgar as atividades diárias que eles toda turma fazia para reunir dinheiro para viajarem no final do ano. Um hábito já aderido por muitos anos pelos anos do último ano. Como sempre, ninguém dos anos abaixo se interessam em colaborar, se arrependendo ao chegar na posição de mais velhos da escola, já que tudo o que vai, volta.
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  Contudo, naquele ano havia uma novidade. Depois de três anos seguidos sem o ingresso de nenhum aluno novo em nossa sala, o diretor veio anunciar a entrada de uma nova garota, que por motivos de saúde estava tendo aulas particulares em casa, mas com a melhoria, decidiu ingressar na escola e ter bons momentos com colegas de sala reais. Quando ouvi sua história, me perguntei por que alguém iria querer vir até o professor, quando ele facilmente ia até o conforto de sua casa lhe ensinar.
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  - Meu nome é . – a ouvi dizer com uma voz baixa, mas determinada, enquanto ela combatia seu medo de se posicionar à frente dos colegas de sala. Seus cabelos eram brilhantes e pareciam muito limpos e escovados incontáveis vezes durante a manhã. Seu uniforme estava impecavelmente branco e bem passado.
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  - Você pode se sentar na quarta fileira, ao lado de , o garoto de cabelos quase brancos. – o professor da sala apontou para o lugar vago ao meu lado. Olhei para os lados para confirmar a característica que recebi sobre meus cabelos. Eles, de fato, estavam quase brancos. Em uma brincadeira sobre o nazismo que eu e meus amigos fizemos, acabamos descolorindo nossos cabelos para tentarmos parecermos mais alemães; uma idiotice, agora que ouvi o adjetivo que provavelmente marcou minha imagem com a novata.
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   caminhou em passos curtos, mas rápidos, posicionando-se ao meu lado. Vi em suas mãos trêmulas o nervosismo de estar em um ambiente desconhecido.
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  Ela não gostava de falar muito, mas sorria bastante e era inteligente, por isso, muitas pessoas acabavam abusando de sua boa vontade para pedir que fizesse os trabalhos e deveres de casa.
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  - Hey – a chamei, depois que Leonel se retirou com uma expressão satisfeita, assim que deixou o bloco de folhas de almaço para ela terminar o trabalho de trigonometria. -, não é por nada, mas não seria melhor se você começasse a recusar os trabalhos das pessoas? Você não fica atributada?
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  - Um pouco. – a ouvi confirmar. – Mas assim terei certeza de que sempre haverá pessoas que falarão comigo com um sorriso.
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  Seu modo de pensar me chamou a atenção. Uma pessoa que não se importa em ser usada, desde que recebesse sorrisos todos os dias era um perfil bastante inédito para mim.
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  Passamos a andar mais juntos de acordo com que os professores pediam para eu colaborar com eles pelo menos uma vez em nossas vidas e evitar o desconcerto da novata em ter de aguardá-los decidir uma parceria por ela. Geralmente é o que novatos passam. Eles são deixados de lado por terem chego por último, é a lei da juventude escolar. Entretanto, como sou a pessoa mais rebelde que se senta ao lado dela, era óbvio que os professores se esforçariam em me colocar em uma má situação.
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  Não sou do tipo que se preocupa em se manter sempre ao lado dos meus amigos, por isso, quando os professores anunciavam trabalho em grupo, perguntava para a novata se ela não estava afim de fazer parceria comigo.
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  Com nossos encontros vespertinos para realizar os trabalhos, se mostrou uma garota alegre e mais tagarela. Falava sobre viagens, principalmente. As que gostaria de fazer, mas que não podia por estar muito doente. Ela teve uma forte pneumonia e perdeu dois anos de experiência escolar, porque os médicos achavam melhor que se mantivesse dentro de casa, onde o ambiente estaria sempre limpo, arejado e umidificado. Quando entrei em sua casa pela primeira vez, entendi a razão dela querer desesperadamente sair e fazer amizades. A casa era enorme; enorme o suficiente para uma garota se sentir solitária.
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  - Pedi que fizessem torradas de alho. – ela comentou, em uma das tardes que passei em sua casa para realizar os trabalhos. Seus pais, ausentes, nunca cheguei a conhecer. Pausei minha escrita para raciocinar quando ela anunciou nosso lanche.
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  - Como sabe que gosto de torradas de alho? – perguntei. Em minha mente, não era normal uma pessoa gostar de um alimento que deixa um bafo horrível para outras pessoas.
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  Desviei meus olhos do caderno para e a peguei com as bochechas muito vermelhas.
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  Naquele dia, disse que já me conhecia faz um tempo. Durante suas caminhadas diurnas aos sábados me via passar por ela para visitar dona Helo, da padaria, que me dava torradas de alho fresquinhas para me deliciar no caminho de volta para casa. Saber que iria recebê-las de graça sempre foi motivo suficiente para me fazer sair da cama às oito da manhã para caminhar. Ela mencionou que também era uma cliente frequente de dona Helo, que acabou informando a ela sobre mim e onde estudava. Antes que eu pensasse em acusa-la de stalker, disse que foi uma coincidência ela ingressar na mesma escola que eu. Seus pais escolheram porque fica perto de casa, onde ela pode facilmente ir e voltar sem haver problemas com sua frágil saúde. Além disso, colocaram-na de manhã, pois a tarde o clima é muito mais confuso, não dá para saber o que acontecerá.
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   foi a primeira garota que se confessou para mim. Todos sempre disseram saber que eu recebia, com frequência, cartas de amor e declarações por SMS e telefonemas, mas isso nunca foi uma verdade. Eu só sempre fui muito tagarela, conversando com qualquer garota que surgisse em minha frente, passando a imagem de garanhão, quando não havia nenhuma malícia em nossas conversas. O fato de estar no time de futebol do colégio e mudar de cor de cabelo com frequência faz com que as pessoas achassem que eu era uma pessoa descolada. Pelo contrário, até que era bastante calmo.
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  Ela foi uma das poucas pessoas que compreendeu meu estilo de vida despreocupado. Sua compreensão e o interesse em ouvir tudo o que eu tinha a dizer acabou por me encantar depois de um tempo juntos. Assim, passamos a caminhar juntos todos os sábados de manhã para comermos torradas de alho, repetindo o lanche na parte da tarde, quando ela mesma preparava-os para mim no forno de sua casa.
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  As coisas ficaram ruins quando começou a faltar na escola no final de Outubro, quando nosso status de relacionamento já estava sério. Ela nunca faltava, mesmo quando alegava cólica e eu lhe emprestava meus agasalhos para aquecer o local e amenizar a dor – ela disse, uma vez, que às vezes dizia estar com a dor da cólica só para usar meu moletom. Falou que agasalhos de garotos sempre eram macios e cheirosos; depois disso, passo perfume todos os dias.
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  No dia seguinte ela estava de volta, mas três dias depois, acabou faltando novamente. E esse vaivém começou a se tornar frequente até eu resolver visita-la ao sentir sua ausência pelo quinto dia seguido. Decidi não ligar, porque achei que ela poderia não querer minha visita. Se eu chegasse de surpresa, ela seria obrigada a me aceitar em sua casa para saber o que estava acontecendo.
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  A gripe que pegou não queria se curar e seus pais disseram estarem preocupados com sua saúde. Quando a vi deitada em sua cama sozinha por, mais uma vez, ser trocada pelos seus pais por clientes de suas profissões, me senti mal por não poder fazer nada senão demonstrar o meu amor, que eu não sabia se era amor, mas me disseram que era. Quem nunca amou só sabe o que é quando finalmente lhe dizem, é o que meu amigo havia me dito na época que me fez abrir meus olhos para aceitar a declaração de .
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  O colégio permitiu que ela fizesse as provas e entregasse os trabalhos, mesmo faltando. Por nunca ter faltado e faltando somente um mês para o fim das aulas, o colégio concordou que ela poderia estar ausente, desde que entregasse tudo e fizesse a prova final para não repetir o ano inteiro. Contudo, em meados novembro, sua saúde piorou, me preocupando.
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  - Você precisa estudar para Biologia 1, … – minha voz era baixa para que não machucasse seus frágeis ouvidos. Vi sua expressão dolorosa por fazer um pedido que era impossível dela realizar agora. – Se você estudar, realizo um pedido seu.
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  - Um pedido? – um súbito interesse apareceu em seu rosto. Concordei com a cabeça, decidido que se for para ela não repetir o ano, eu estava disposto a realizar qualquer pedido. – Então, eu gostaria, se passar de ano… – seu fôlego estava fraco, fazendo com que desse longas pausas durante uma frase e outra. – Que você me convidasse para ser sua companheira na valsa de formatura.
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  Levantei as sobrancelhas, surpreso com seu pedido de longo prazo. Naquele momento, me senti feliz por ter uma garota que pensava em nosso futuro sempre um ano à frente. Concordei em realizar seu pedido quando o final do ano seguinte chegasse.
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  Como parte de nosso trato, estudou biologia e passou tranquilamente em todas as matérias, me fazendo ainda mais feliz por continuar tendo-a em minha sala no ano seguinte.
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  2013 | 3ª Colegial – Final do ano

  Olhei para o buquê de flores brancas e minhas mãos e o céu escarlate da primavera que anunciava o seu fim. O Natal está chegando, mas não me sinto em clima natalino. Caminho com meu smoking da formatura até seu túmulo.
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06.06.1995 – 23.12.2012
“Com as asas de um anjo, seguiu para o céu, seu verdadeiro lar.”

  Respirei fundo, soltando o ar que preenchia meus pulmões. Encostei no túmulo atrás de mim, encarando a cama de pedra escura com seu nome estampado ali. Era um túmulo novo, comprado por seus pais por ser a primeira e única filha que chegou a falecer. Ouvi dizer que a mãe enlouqueceu e o pai não tem mais interesse em perder seu tempo com o trabalho; mas o tempo já passou e o que eles fizeram durante a vida de podem fazer agora sem se preocupar com a saúde dela.
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  Sinto meus lábios tremerem pela saudade.
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   foi muito rápido. Em um dia, estávamos em seu quarto comemorando nossas aprovações com nossos boletins repletos de números em azul; no outro, eu estava no hall do hospital com meu pijama, gritando com a atendente para que me dissessem para onde levaram a minha namorada.
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  Namorada. Nunca cheguei a dizer para ela nosso status de relacionamento. Nunca cheguei a fazer um pedido oficial ou dar-lhe um objeto que simbolizasse nossa união. Estive tão preocupado em ter sua companhia e em oferecer-lhe a minha, que acabei não me atentando aos detalhes.
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  Sinto minha primeira lágrima cair, de acordo com que as boas lembranças começam a preencher minha vista. Seu sorriso, sua vontade de viver, a alegria de ser recebida com sorrisos pelas pessoas da nossa sala. Todos que pediam para ela realizar o trabalho gratuitamente para que pudessem gastar esse tempo com festas e paqueras; todos eles, caridosamente, perderam algumas horas de seus dias na véspera de natal para comparecer ao velório de . Um ato que jamais esperei ver dos alunos folgados que convivi durante meus anos no colégio.
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  Fungo o nariz sem saber o que fazer. Quanto mais penso nela, mais meu coração dói por tê-la perdido. Um ano é muito pouco quando se queria viver mais um de acordo com nossos planos. Por causa da dor, há um tempo decidi que seria melhor esquecê-la para viver minha vida e deixa-la em uma parte de minha memória para os dias que estivesse disposto a enfrentar sua ausência, mesmo ainda a amando. Tentei realizar minha decisão, mas nunca consegui. No final, acabo implorando para qualquer santo que exista para que faça disso tudo um sonho onde eu acordo com o corpo suado e nervoso, mas que olhe para o lado e sinta a respiração serena de enquanto dorme.
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  Mas entre nós dois, sou o único que ainda respira e tem de arduamente viver uma vida solitária. Quando olho para trás, a única coisa na qual não me arrependo, é de ter passado todos os momentos possíveis ao lado dela. Mesmo com nossas crises e os choros que não senti remorso em ouvir, permaneci junto a ela e aguardei que o momento ruim passasse para que mais uma vez pudéssemos ter um novo bom momento juntos para ser guardado em minha memória.
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  Não é a primeira vez que visito seu túmulo este ano. A verdade é que passei a vir com mais frequência do que à padaria da dona Helo. Depois da morte de , nunca mais quis comer torradas de alho, porque o cheiro sempre me lembrava ela.
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  Limpo minhas lágrimas com a manga do terno e arrumo o cabelo, desencostando-me do túmulo de trás para me preparar para ir embora.
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  - Você está bem hoje? – minha voz fraca sai de minha boca, sem me importar em haver pessoas próximas estranhando ao ver um garoto de 17 anos falar sozinho com um túmulo enquanto carrega um buquê de flores em mãos. – Vim lhe avisar que não voltarei tão cedo. Passei em medicina; não é a mais renomada, mas ainda assim é medicina. Serei pediatra e prometo a você que não deixarei que outro garoto no mundo sinta a dor que sinto desde quando você foi embora. Estamos no século 21, as pessoas não devem mais morrer de pneumonia. – suspiro e deposito o buquê no vaso embutido ao túmulo. – Não vim aqui só para me despedir. – abri um pequeno sorriso e toquei na pedra de mármore, imaginando seu rosto corado me olhando sem graça, como sempre fazia quando tomava essa atitude. – Hoje, vim cumprir a promessa que fiz a você no ano passado. – agachei em frente ao túmulo e, olhando para seu nome estampado, respirei fundo antes de finalmente dizer: – Quer ir ao baile de formatura comigo?
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Fim

  Nota: Escrevi essa fanfic e a continuação dela durante a madrugada passada, quando estava ouvindo uma música coreana. A música falava sobre um casal que foi obrigado a se separar, mas ambos não conseguiam seguir em frente por causa da dor da saudade deixada pelo outro. Achei muito bonita para uma fanfic e quando se trata de drama, sou capaz de escrever 3894728943289 de shortfics, hahaha!
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Ray Dias
Ray Dias
11 meses atrás
  Olhei para o buquê de flores brancas e minhas mãos e o céu escarlate da primavera que anunciava o seu…" Read more »

Meu coração gelou

Ray Dias
11 meses atrás

Nat, eu estou aos prantos! Eu achei muito linda a forma como ele se aproximou dela de forma leve e despretensiosa, e o jeitinho que se tornou alguém importante para ela. Esse casal merecia mais. Ele está certo: morrer de pneumonia em pleno século 21 é revoltante. Eu queria muito que eles não tivessem passado por isso, no entanto, o legal na narrativa é que você dosou essa relação entre eles de modo que nós não nos apegássemos tão intensamente. Ou seja, mesmo desenvolvendo um carinho entre eles, foi uma relação que aconteceu gradualmente,
mas de forma tão inicial, que não foi aquele amor arrebatador, sabe? Afinal, eles estavam fadados ao fim. E deu pra sentir que apesar da saudade e da experiência de perder seu primeiro amor, ele vai superar. Já vou ler a continuação acreditando que não vou chorar de novo. Tu me ajuda, ein!


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