Boys Do What They Can
Tá legal, o que você faria se amasse uma garota que sequer presta atenção em você, mal sabe da sua existência, mas que você simplesmente sabe de tudo sobre ela? Essa é a minha história. Quem sou eu? Ah, ninguém, só um cara que faz o que pode para a garota que faz o que quer…
era a amiga da melhor amiga da minha irmã, ou simplesmente a vizinha a três casas da minha. Eu sempre vivi naquela rua e vi os primeiros passos que deu quando se mudou para lá. Acredita em amor a primeira vista? É, nem eu, é por isso que quando a vi pela primeira vez achei ela sem graça demais. Por um ano inteiro eu nem liguei para aquela garota magrela que nem cumprimentava, até que no ano seguinte, se mudou para o colégio onde eu, minha irmã e todo mundo que conhecemos estudava, e eu passei a prestar maior atenção nela.
Não me pergunte como isso aconteceu, mas o fato é que a garota sem graça, em um ano cresceu e se tornou completamente interessante. não tinha se tornado popular na escola, mas também não passava despercebida entre as pessoas.
Tem ideia do quanto tentei me aproximar dela depois disso? Mas ela nunca tinha tempo pra mim, “preciso estudar; estão me chamando; estou atrasada; estou de saída…“; são alguns exemplos do que ela sempre me respondia quando eu dava as caras querendo conversar ou convidá-la pra sair.
Estava perdendo as esperanças quando me deu a brilhante ideia de ‘pesquisar’ o tipo de cara que gostava e depois, ‘me tornar’ esse cara pra ela… Eu tava tão desesperado por uma chance com a garota, que fui iludido o bastante para ouvir a sugestão de … Andei observando os caras com quem ela costumava sair e sinceramente? Não havia nenhuma ligação de aparência ou intelecto entre eles, eram todos diferentes uns dos outros, e cara, isso não ia me ajudar em nada!
deu mais uma de suas ideias brilhante: falar com minha irmã.
— Você tá bêbado, maninho? — foi o que perguntou quando fui pedir sua ajuda. — Por que quer saber essas coisas?
— Porque… Porque… Ah, estou fazendo uma pesquisa — disse a primeira coisa que me veio à mente.
— Desculpe, irmãozinho, mas vai ter que se virar para descobrir o que quer. — deu de ombros me deixando na mão.
Bela irmã eu tenho, hum? Eu faria de tudo para poder ajudá-la (depois de tirar uma com a cara dela, claro) e é assim que ela me dá crédito?
Foi aí que tive a minha ideia imbecil. Se minha irmã não me ajudaria, e obviamente nem aquela melhor amiga dela que era amiga da , então eu perguntaria diretamente a fonte do meu interesse…
— Você bebeu? — perguntou erguendo a sobrancelha dela da forma que só ela sabia fazer. Mas cara, por que é que todo mundo perguntava isso, se eu estava bêbado?
— Hm… Não — respondi começando a me xingar mentalmente por ter tido aquela ideia fantástica.
— Então por que é que tá me perguntando essas coisas?
— Bom… Porque quero uma chance com você e… Quero ser o cara que você quer. — Sorri tentando parecer despreocupado no que eu dizia.
ficou alguns segundos me encarando espantada e depois suspirou.
— Certo, te dou a chance de ser o cara que eu quero — ela murmurou por fim. — Gosto de caras nerds para fazerem o dever pra mim, pode fazer isso? — perguntou e agora quem tinha se espantado era eu.
— O quê?
— Ah, tudo bem se não puder fazer isso, posso ligar para o Frederic e…
— NÃO. Tudo bem, eu faço! — exclamei interrompendo-a. sorriu satisfeita e me fez entrar em sua casa para me dar o dever que eu deveria fazer por ela.
Uma semana se passou, e cara, queria um cara diferente a cada dia!
Eu já tinha me passado por nerd; por irresponsável; por certinho sem graça; por briguento e ciumento; por nadador do time de natação da escola… Fora que é claro, fiquei com dor de cabeça de tanto estudar, levei bronca dos meus pais por pegar o carro deles sem permissão; apanhei por ter ficado com aparência de perdedor; bati num bando de moleques que segundo estavam dando em cima dela, e claro, depois de ganhar nos 100 metros livres eu quase me afoguei.
Ótimo, maravilha tudo isso… Ao menos ela me dava um selinho depois de cada dia de cão que eu levava… Ah não, espera, até cachorro tinha vida razoavelmente melhor que a minha…
Numa noite ela disse que eu podia levá-la para jantar em algum lugar que eu escolhesse, mas deixou bem claro que era bom eu acertar no gosto dela. Resolvi que a levaria num restaurante mais natural com várias opções de salada, já que era a única coisa que eu a via comer.
Peguei emprestado – e com autorização – o carro dos meus pais e busquei em sua casa. Achei que acertaria na escolha do restaurante, mas quando entramos lá e ela pegou o cardápio…
— O que é isso, ?! — ela exclamou metendo o cardápio na minha cara. — Salada inglesa, salada oriental, salada tropical… Salada, salada, salada?! — disse apontando para o menu. — Tá me chamando de gorda, é isso, ?! — A exclamação que ela soltou foi quase um grito histérico.
— Não, , eu só… — Tentei dizer.
— Não me chama de ! — Ela levantou de seu lugar para me encarar do alto, chamando a atenção de várias pessoas ao nosso redor. — Está me chamando de gorda! — parecia a ponto de chorar.
— , eu não quis…
— Não quis, mas é o que parece! — choramingou. — E depois de me chamar de gorda ainda quer que eu aceite namorar com você! — exclamou. Percebi que uma mulher balançara a cabeça negativamente para mim e outra olhava compreensivamente para .
— Quer saber? — Me levantei também. — Eu queria mesmo te pedir em namoro, queria ser o cara perfeito, o cara dos seus sonhos… — murmurei. — Mas ser esse cara pra mim é impossível. E você não é nem a sombra do que pensei que fosse — disse por fim e saí do restaurante.
Mas que merda, ! Eu tinha feito tudo o que você tinha mandadopedido, sido o que você queria que eu fosse, mas você era só de longe a garota com quem eu sonhei.
Fui pra casa pelo caminho mais longo. Não quis nem pensar em sozinha naquele restaurante sem ter alguém pra levá-la pra casa, ela tinha um celular e podia muito bem pedir para alguém ir buscá-la.
Dei voltas e mais voltas na cidade antes de voltar pra minha casa, quando cheguei lá, nada de especial me esperava. Fui até a cozinha pegar alguma coisa pra comer e quando terminei de beber o último gole de suco de laranja, a campainha tocou.
Aparentemente eu era o único presente em alma lá, então fui até a porta ver quem era.
— O que veio fazer aqui? — perguntei a uma arfante parada na minha varanda.
— Quero falar com você — disse isso pausadamente recuperando o fôlego.
— O quê? Veio aqui brigar e gritar comigo por ter te deixado no restaurante? — perguntei e um peso em minha consciência surgiu.
— Não, não vim aqui brigar com você, . Apesar de que, a dor nas minhas pernas está me fazendo querer te matar por ter me feito andar até aqui — murmurou me encarando, mas parecia divertida.
Ah, valeu , o peso na minha consciência aumentou muito agora!
— Olha, , sinto por ter te causado essa dor na perna, mas dá pra dizer logo o que quer? — resmunguei, mas fiz aquilo contra minha vontade.
— Te dou outra chance de ser o cara que eu quero — disse simplesmente.
“Essa garota é inacreditável!” era tudo o que conseguia pensar enquanto a encarava pensando no que responder. Eu seria completamente rude ou daria o fora daquilo tudo delicadamente? Rude ou delicado? Certo, delicado. Por mais que fosse um pé no saco, eu ainda gostava dela.
— Valeu, , mas vou recusar. Sabe, essa semana me fez perceber que é impossível ser o cara que você quer e também me fez ver que eu não sei ser nada além de mim mesmo. — Dei de ombros. Eu esperava que ela ficasse completamente histérica e começasse a me bater, mas tudo o que fez foi sorrir.
— É esse! — Ela sorriu se aproximando um pouco e me deixando confuso.
— Esse o quê? — disse recuando um pouco desconfiado.
— É esse o cara que quero que seja! — exclamou e pulou pra cima de mim agarrando minha nuca.
Daquele dia em diante, se tornou a garota que eu sempre imaginei, senão melhor.
atualmente…
— O que está fazendo, senhor ? — com seus 26 anos, perguntou sentando ao lado do noivo no sofá do apartamento que tinham acabado de comprar.
— Ah, droga, ! Era para ser surpresa! — reclamou depois de ter o livro em que estava ‘trabalhando’ tirado de suas mãos.
— Memórias de sobre ? — A garota leu o título. — O que é isso? — ela perguntou erguendo a sobrancelha.
— Resolvi escrever minhas memórias sobre você, sabe, os pensamentos que tive quando te vi pela primeira vez, os tempos no colégio…
— Escreveu sobre quando você foi me perguntar qual era o tipo de cara que eu gostava? — ela perguntou rindo.
— Claro, claro, isso não podia faltar, podia? — sorriu e puxou sua futura esposa para um beijo.
As coisas teriam ‘esquentado’ se não cortasse o beijo se levantando.
— Amor, vou sair com as meninas, lava a louça? — perguntou.
suspirou.
— Garotas fazem o que querem… — cantarolou.
deu meia volta e parou às costas do namorado, atrás do sofá.
— E garotos fazem o que podem… — cantarolou no ouvido do rapaz que sorriu e a puxou de volta para o sofá, onde ela caiu desajeitada e rindo, logo sendo calada por beijos seguidos de beijos.
Fim
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