Bouncy to Freedom
O brilho opressivo da Cidade Branca pairava sobre seus cidadãos como uma prisão feita de luz. Fluxos infinitos de hologramas e outdoors digitais tremeluziam vendendo sonhos vazios, enquanto drones passavam entre os prédios como vespas, mantendo um olhar atento sobre as ruas e outros moradores.
Os ricos residiam nos arranha-céus, intocados pelo caos abaixo, vivendo o melhor da vida e ignorando por completo os problemas da outra parte da cidade. Já os níveis mais pobres – a Cidade Baixa – pertenciam aos rebeldes, aos esquecidos, aqueles que sabiam que liberdade era apenas uma palavra, a menos que você lutasse por ela.
E foi na Cidade Baixa que nasceu. Foi vendo a diferença e a injustiça nos tratamentos, a diferença no olhar e nas condições de vida, que ele cresceu odiando tudo aquilo. não suportava nada daquilo, ele queria mais, queria mudanças.
Quando criança, ele queria crescer o suficiente para chegar à Cidade Branca, mas foi na outra parte da cidade que ele encontrou seu melhor amigo. E, principalmente, foi lá também que ele conheceu .
A Cidade Branca podia ter muito do que ele queria, mas jamais a teria. E foi ao se encontrarem que o seu sonho cresceu e amadureceu junto ao dela. Ele não queria mais deixar a Cidade Baixa, ele queria mudá-la.
correu por um beco em ruínas com lixo espalhado por todos os lados e pichações nas paredes. O peso familiar de sua arma multiuso bem presa em sua cintura, fazendo alguns barulhos sempre que ele pulava de um lado para o outro. Ele podia ouvir os drones acima, mas eles não o pegariam esta noite – não com a adrenalina correndo em suas veias, tornando cada passo mais rápido; naquele momento ele se sentia invencível. Seu fone de ouvido chiou segundos depois, tirando-o de seus devaneios:
“, você está em posição?” Era , a voz por trás de cada transmissão da Cidade Baixa, aquela que poderia incendiar uma cidade inteira com apenas uma música; e era aquilo que eles iriam fazer naquela noite. sorriu com a calma em sua voz — crescera no meio do caos, assim como ele. Talvez fosse por isso que se dessem tão bem.
“Quase lá. Diga ao Emmett para se preparar nos telhados. Não quero surpresas”, respondeu, saltando sobre um carro quebrado.
Emmett, o irmão mais velho de , estava agachado em um telhado há poucas quadras de distância, seus olhos atentos examinando o local;
“Já estou aqui”, respondeu, sua voz cheia daquele sorriso confiante que conhecia muito bem. “Eu configurei o bloqueador — os drones não serão um problema.”
O coração de batia mais rápido, não pela corrida, mas pela antecipação do que eles estavam prestes a fazer.
Por semanas, a Bouncy planejou esse assalto.
O alvo deles? A Central Music Broadcast Station, o coração da máquina de propaganda da cidade. Toda a música tocada lá era controlada pelo governo com o objetivo de pacificar as massas, mas, hoje à noite, isso iria mudar. Hoje à noite, eles iriam sequestrar as ondas de rádio.
“, você está pronta para fazer mágica?” perguntou enquanto se abaixava atrás de uma parede, observando a torre de transmissão brilhante à distância.
Ela pulsava com uma batida calma, uma falsa promessa de paz que o deixava enjoado.
A risada de ecoou pelo fone de ouvido, calma como sempre, mas com aquele toque de sarcasmo tão característico.
“Você duvida? Só me leve para dentro e eu vou garantir que esta cidade ouça a verdade. Alto e claro.”
sentia a adrenalina pulsar mais forte enquanto atravessava os últimos metros, serpenteando pelas ruas até a torre aparecer acima dele.
O plano era simples: infiltrar-se na estação, conectar o feed de no sistema central e transmitir sua mensagem. As pessoas precisavam ouvir como a liberdade soava — crua, sem filtros e poderosa.
Mas nada era simples na Cidade Branca.
Conforme e Emmett se aproximavam, uma sirene repentina soou. Luzes vermelhas piscaram pelo complexo.
– Droga, eles nos avistaram, xingou baixinho. “Temos companhia.” Disse em seu comunicador, alertando os amigos.
Sem hesitar, Emmett entrou em ação, correndo e pulando de telhado em telhado, seus movimentos fluidos e rápidos. “Eu cuido deles. Você entra!” Disse logo mirando nos drones e desabilitando os sistemas de segurança.
cerrou os punhos, ativando sua arma.
Pegou uma tampa de metal do lixo mais próximo, tal como os heróis faziam em filmes para salvar alguém em perigo, e correu em direção à porta, colidindo com a entrada da estação enquanto guardas armados se moviam para pará-lo.
Seu escudo absorveu a primeira saraivada de balas e, com um movimento rápido, ele desarmou o guarda mais próximo, fazendo-o cair no chão. Pelo menos para isso a vida na Cidade Baixo servia, seus moradores sabiam lutar muito melhor do que a outra parte da população.
Atirou na perna de mais um dos guardas e seguiu pelos corredores elegantes, procurando o que precisava.
Se aquilo fosse o clímax de um filme, ele já poderia ver tudo acontecendo em câmera lenta, a calmaria antes da tempestade.
se moveu com propósito, guiado pelo som fraco da voz de em seu ouvido.
Ele sabia que ela já estava preparando a transmissão, seus dedos voando pelo painel de controle no esconderijo.
“Estou em posição”, murmurou, desviando de outro guarda enquanto corria por um corredor estreito em direção à sala de transmissão central.
Ele podia ouvir o barulho de botas e o barulho metálico de drones seguindo logo atrás dele, mas não parou. Quando ele irrompeu na sala de transmissão, a visão do painel de controle central enviou uma onda de satisfação através dele.
Era isso.
O coração das mentiras da cidade, e eles iriam quebrá-lo completamente.
“Vamos começar!”, disse, sua voz baixa e focada.
conectou o dispositivo ao terminal central, seus dedos se movendo rapidamente enquanto ignorava os protocolos de segurança. A tela piscou uma, duas vezes, e então o sinal criptografado de assumiu.
De repente, a batida opressiva familiar da música do governo foi cortada.
O silêncio caiu sobre a cidade por um breve momento.
Então, a voz de encheu as ondas de rádio.
“Cidade Baixa, você está me ouvindo? Este é o som da liberdade. Este é o som da rebelião.”
Um baixo pesado caiu, vibrando em cada alto-falante, cada fone de ouvido, cada canto da cidade. A batida era eletrizante, um chamado às armas, um grito de guerra.
As pessoas nas ruas pararam, seus olhos se arregalaram quando perceberam o que estava acontecendo.
A Bouncy tinha conseguido. A cidade estava ouvindo.
As ruas estavam vivas agora, cidadãos correndo de suas casas, atraídos pela música.
A revolução tinha começado.
recostou-se no painel de controle, ofegante, mas sorrindo enquanto observava o caos se desenrolar nos monitores.
O governo havia perdido o controle e as pessoas estavam se levantando, seus espíritos inflamados pelo som que havia desencadeado.
“, já temos o controle da estação, dá o fora agora!” A voz de chegou aos seus ouvidos pelo comunicador e ele não precisou pensar duas vezes antes de correr em direção à janela mais próxima, atirando-se do terceiro andar.
Aquilo provavelmente renderia no mínimo uma costela fraturada, mas não era como se ele se importasse ou se não tivesse passado por dores maiores. Pelo menos dessa vez valeria à pena. Eles ainda não estavam livres, não estavam nem perto de assumir o controle, mas naquela noite a Cidade Baixa estava mais viva do que nunca.
Agora ele só precisava voltar ao esconderijo e curtir o resto da noite de caos antes da Bouncy planejar o próximo passo para a liberdade.
Aquele era só o começo.
Fim
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