Capítulo 1
Algumas informações sobre funcionamento e estrutura de uma usina nuclear podem ter sido alteradas para melhor adaptação da história.
O que você quer ser quando crescer?
Quando somos crianças ou já na fase adolescente, nos deparamos com esse tipo de pergunta. Às vezes ela é feita com a expectativa de receber uma resposta fantasiosa de uma criança que sonha em ser astronauta. Outras, com a intenção de fazer com que a pessoa que recebe a pergunta pense em seu futuro e, no momento certo, faça a escolha correta.
Boreigh nunca teve essa opção.
Esperou ansiosamente para que essa pergunta fosse feita diretamente a ela em algum momento –
qualquer momento -, mas, mesmo quando estava em meio a amigos, o assunto morria assim que abria a boca para responder.
Tudo porque, desde que nasceu, é destinada a ser uma única coisa: herdeira.
Há quem diga que ser herdeiro seja uma profissão. Não é fácil receber um negócio que vem de geração e tomar o cuidado para não quebrá-lo. A maioria das pessoas enxergam como se fosse uma dádiva de Deus, quando, na verdade, se parece mais com uma maldição.
Durante toda a vida, as escolhas de foram feitas por ela: qual roupa lhe cabe melhor, qual cor combina melhor, qual o tipo de sorriso deve esboçar em frente a grupo x, enquanto outro se adequa melhor ao grupo y; qual curso deve se formar, quantas línguas precisa falar e ter experiência profissional antes de chegar à presidência; suas amizades foram escolhidas à dedo e, provavelmente, seu casamento está marcado desde quando ainda era um plano na vida dos pais.
Todo esse controle sufocante se deve porque sua mãe, Alana Boreigh, é a presidente da maior empresa de controle nuclear do mundo.
Basicamente, todos os anos as usinas nucleares precisam passar por inspeções de alta performance e passar os dados às organizações mundiais para evitar uma possível guerra por poder. Desde o desastre de 1986 em na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia soviética, os líderes de países ao redor do mundo exigem inspeção pesada para a segurança dos cidadãos e da humanidade. O pai de Alana, Aaron Boreigh, trabalhou como diretor de 7 usinas diferentes nos Estados Unidos, até decidir criar a Boreigh Nuclear e oferecer o melhor serviço de inspeção já vista no mundo. Após o desastre nuclear de Fukushima, no Japão, os departamentos de energia nuclear dos países que possuem usinas passaram a contratar a Boreigh Nuclear para realizar o serviço de inspeção, tornando-nos oficialmente a empresa responsável por distribuir os selos de segurança e nível de radioatividade de cada um.
Por serem a única empresa no mercado, não há concorrência; dessa forma, o preço de mercado é algo em torno de seus bilhões de dólares. Tal importância foi o único fator determinante para o futuro de . Quando Alana, sua mãe, decidir se aposentar daqui a alguns anos, a pessoa que subirá em seu lugar será , e não seu irmão mais velho, .
– Ela não tem capacidade para liderar uma empresa deste porte! – ouve a voz do irmão gritar por detrás da porta que separava o escritório de Alana, do hall de espera enorme no último andar do Boreigh Nuclear. –
Eu já acompanhei diversas operações na Rússia e na França, tenho a confiança das pessoas mais importantes lá…
– E insiste em mudar toda a mesa de acionistas. – a mulher finaliza a conversa.
– Eles só querem o dinheiro da empresa! Mal sabem como a energia é gerada!
– O que os torna muito mais fáceis de serem convencidos. Por que você acha que a empresa continua sendo passada dentro de nossa família, ao invés de haver uma votação democrática?
Um pequeno sorriso tomou conta dos lábios de . A presidente, desde o início, havia ganho a discussão.
tentou, por mais alguns minutos, discutir com a mulher, apenas porque era orgulhoso demais para enxergar que havia perdido a batalha. Saiu fervorosamente da sala, batendo o pé e passando a mão pelos cabelos já bagunçados. Quando viu a irmã mais nova sentada no sofá esperando sua vez de entrar na sala, fez uma careta e apontou para ela:
– Eu não sou sua inimiga – a mulher disse, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa –, você sabe que, por mim, você fica com tudo.
Ele abriu a boca para discutir, mas logo a fechou. Perder outra discussão não era uma opção. Assim, em passos rápidos e irritados, seguiu para o elevador, provavelmente para voltar à sua sala em um dos andares inferiores.
A diferença de idade entre os dois irmãos é de 3 anos. O mais velho, desde quando pequeno, tem uma personalidade agressiva e competitiva. Inicialmente, ele era o favorito para assumir a presidência; mas tanto Alana, quanto Aaron possuem um olhar aguçado sobre quem cuidaria da empresa em seguida. Quando voltou das férias de verão no sul da África aos 16 anos, após fazer serviços sociais em prol dos animais e das famílias carentes, a presidente e o ex-presidente anunciaram que ela seria a próxima presidente.
Aquilo balançou com a relação dos dois irmãos, que até então era normal. Nunca foram do tipo unidos, mas jamais se consideraram rivais. No entanto, com o anúncio, passou a agir de forma mais fria e arrogante com , ainda assim nunca entrando no caminho da irmã.
– Ele quer conquistar a presidência por mérito próprio. – Violet, noiva de e herdeira dos donos de uma das maiores lojas de departamento de luxo do mundo, disse uma vez. Ela e foram colegas de escola desde quando mais novas e, para a sorte de Violet, ela sempre foi apaixonada pelo irmão da amiga. – Pode não parecer, mas ele ama você.
deu o melhor para não revirar os olhos. Violet possui uma visão ilusória sobre o amor. Envolvida em seus filmes de época e livros de cabeceira, ela acredita no amor como uma coisa linda e não tóxica, como na verdade ele é. nunca se importou com a pessoa com quem se casaria; quando Alana e Jonathan anunciaram o noivado dele com Violet, estava no meio da faculdade e pouco se importou; seu foco era trabalhar seu currículo para a presidência.
– Senhorita , a senhora Boreigh pediu para que entre. – Anne, a secretária e fiel escudeira da presidente anunciou, tirando a mais nova dos devaneios.
Respirou fundo e se levantou. sabia que havia problema por aí. Sempre que a mãe a chamava para visitá-la em sua sala, uma nova obrigação surgia. Da última vez fora mandada para o Japão, para acompanhar a inspeção base da usina de Tóquio e verificar a probabilidade dele ser reativado. Os acionistas esperavam uma resposta positiva da jovem, mas a presidente apenas disse: “faça o seu trabalho”, o que basicamente é manter as coisas como estão e garantir mais um ano de pagamentos do governo japonês.
Alana Boreigh é como um terror noturno. Você sabe que ela está lá, mas não consegue se mexer, tendo, ao mesmo tempo, a sensação de estar prestes a ser atacada.
Para quem não a conhece, a matriarca da segunda geração dos Boreighs pode parecer a mulher mais inofensiva do mundo. Sempre com o cabelo arrumado e a maquiagem em dia, ela se veste com o terninho uniforme quando vem para o trabalho, mas fora da empresa gosta de apostar em roupas mais básicas. Seu tom de voz nunca sobe um decibel e raramente é vista sem um sorriso no rosto.
No entanto, ao entrar nas garras dela, Alana consegue extrair até a última gota de veneno da cobra mais venenosa do mundo, ou então parar, somente com o olhar, o felino mais agressivo já visto. Tudo com um sorriso no rosto e a voz calma e serena.
– Como está a usina de Arkansas?
A mulher parou de digitar em seu computador e ergueu os olhos por trás dos óculos de leitura.
– Eles estavam com duas inspeções atrasadas. Nos testes de evacuação e no nível de radiação ao redor da usina.
Os dedos se afastaram do teclado e se cruzaram à borda da mesa.
– Uma multa de 4 milhões com carga de 2.5 milhões.
Retornou sua atenção ao monitor e voltou a digitar tranquilamente. À carga, elas se referem ao que é pago por fora para que a empresa possa fazer a inspeção e não repassar às organizações mundiais, evitando uma multa ou pausa nas atividades da usina. Basicamente, a parte corrupta da empresa.
– Muito bem – ela disse –, você irá para Kariwa, no Japão.
A jovem inclinou a cabeça para o lado, confusa. Havia ido ao Japão há menos de 6 meses, o que significa que não é para fazer um serviço de inspeção. Alana, como sempre observadora, percebeu o movimento que fiz, respondendo à dúvida da filha enquanto digitava:
– É tempo de você saber como funciona o reator mais modernizado do mundo. É possível que esse seja o futuro das usinas nucleares do mundo. Quero que você saiba, através da vivência, como funciona o sistema de segurança dele e descubra novas maneiras de inspecioná-la, para que possamos aplicar a partir dos próximos anos.
– Anne enviará a você todas as informações de sua transferência.
se levantou da poltrona e se preparou para sair.
– Vamos jantar com seu avô hoje à noite. Ele quer sua presença.
A mais nova olhou no relógio, que marcava quase cinco da tarde. Os planos de terminar o relatório de Arkansas e ir para casa descansar foram frustrados.
A casa de Aaron Boreigh sempre foi a mesma desde que se conhece por gente. Ao contrário da mãe e do pai, que mudam a cada 5 anos, o avô nunca deixou a residência que viveu sua vida inteira de casado com a avó, que faleceu quando ainda era pequena por causa de um câncer.
– Quando vocês pretendem se casar? – Aaron perguntou para e Violet, sentados em seu lado direito, de frente para e Jonathan, sentados no lado esquerdo de vovô.
– É o que me perguntam todos os dias – Jonathan abriu um sorriso para , que não esboçou nenhuma reação –, você precisa aumentar a família, meu filho. Gerar herdeiros.
– Para quê? – ele perguntou. – Eles não irão servir de nada para a família.
Aaron limpou a garganta, incomodado, e olhou para Alana, que apoiou os talheres na mesa e olhou para o filho.
– Violet é filha única. Assim como você, ela possui responsabilidades para com a família dela. Não marcamos o noivado de vocês para que ficassem brincando de namoro por anos.
abriu a boca para responder, mas achou aquele um momento propício para impedir uma guerra no meio do jantar e deu um pequeno chute na canela do irmão. Ao receber o olhar dele indignado, piscou forte e olhou para Violet, que encarava o próprio prato calada. Ao perceber que sua noiva estava incomodada com a resposta que ele havia dado, respirou fundo e encostou-se na cadeira, mudando o assunto de si.
– Por que vocês não estão tentando casar ?
Quando Jonathan abriu a boca para responder com um sorriso no rosto, Alana respondeu:
– não precisa casar agora. Um casamento só irá atrapalhar nossos planos.
– Ela pode, então, se divertir com quem quiser? – o pai dos dois irmãos olhou para a única filha com um sorriso no rosto e enviou-me uma piscadela.
A moça suspirou. Jonathan passa todo o seu tempo entre o golfe e o cassino. Casou-se com Alana após tê-la engravidado de , e foi como ganhar na loteria. A regra sempre foi clara: seja discreto com as polêmicas. É extremamente carismático, auxilia Alana a fechar negócio até mesmo com os empresários mais difíceis e adora se envolver com mulheres diferentes. Jonathan Stone nunca precisou trabalhar; para Alana, essa opção é ainda melhor. Vindo de uma família humilde do Kansas, o homem não se importa de ser um parasita da família Boreigh, desde que possa sempre jogar seu golfe, viver no luxo, viajar com frequência e dormir com diferentes mulheres todas as semanas.
– Você acha que é como Rachel? – o olha com rancor. O filho odeia o próprio pai. Assim como ele quer se livrar de todos os acionistas incompetentes, seu sonho é fazer com que Jonathan haja como um pai de família e vá ajudar nas despesas de casa. – Ela tem responsabilidades.
– Ela se divertiu infinitamente menos do que você, – o pai lhe respondeu em tom paciente. Sua maior qualidade é saber lidar com pessoas que o odeiam. – Não sei como
você não engravidou ninguém até agora.
Quando se levantou para avançar no próprio pai, a voz de Alana soou no ambiente tão baixo quando costuma falar:
Foi como se o ar congelasse. olhou para Violet, que tinha os ombros encolhidos e parecia querer se enfiar em um buraco no chão. voltou a se sentar e Jonathan se endireitou em sua cadeira, enviando um pequeno sorriso ao filho.
– irá para o Japão. – a mulher anunciou. – Partirá amanhã à noite e permanecerá lá até segundas ordens.
– Japão? – perguntou. – Por que ela voltaria para lá?
– Ela tem responsabilidades a cumprir.
– Provavelmente coisas que um presidente deve saber, filho. – Jonathan aproveitou a deixa para provocá-lo. fechou os olhos, clamando paciência, enquanto Aaron balançava a cabeça em desaprovação e, antes que ou Alana pudessem falar, o ancião resolveu dar a voz:
– Pois eu achei que minha neta pararia um pouco em Nova Iorque. Ao contrário de você, Alana, eu acho que poderia sair com alguém até que seja decidido quem será o noivo dela.
– O
senhor escolheu alguém para ?
– Minha neta é mais popular do que você imagina, Alana.
Dessa vez foi quem olhou surpresa para o avô.
– É claro que sim, querida. Mas já que você está indo para o outro lado do mundo, talvez não seja o momento certo de apresentá-la a alguém a longo prazo. A distância geralmente é um problema para os relacionamentos – olhou para Jonathan e Alana, e então encarou a neta com um olhar significativo para que ela entendesse a associação.
A caçula suspirou e, em tom de tédio, disse:
– Podemos voltar a falar do casamento do ?
Nota da autora: Eu sei. Eu mal dou conta de uma fanfic e estou logo postando duas em andamento.
Mas me julguem, porque sou uma autora ansiosa que adora colocar as coisas no ar e então sofrer com o prazo de atualização. 😀
Fazia muito tempo que não escrevia uma fanfic de ação. Para falar a verdade, depois de Weak e o trabalhão que ele deu, eu havia determinado nunca mais me colocar nessa fria, mas olha eu aqui!
Vocês mal sabem a quantidade de vídeos, textos e documentários sobre usinas nucleares e suas consequências eu assisti, só para ter uma noção mínima de como escrever essa história. Pode ser que eu não siga tudo perfeitamente? Definitivamente, rs. A conclusão que cheguei depois de todos os filmes e documentários, foi que é muito mais fácil inventar e fingir que é assim mesmo, e não complicado e repleto de coisas químicas e físicas e biológicas e políticas como na verdade é. Rs.
Mas 95% das informações serão bastante reais, porque eu não gastei meses de estudo e pesquisa para nada, né? Vamos valorizar o trabalho da autora. Quem sabe depois de todo esse trabalhão, eu realmente aprenda a lição e não invente moda de novo?
Eu espero que a fanfic, mesmo com toda a politicagem e tramas que irá haver, seja divertida de ser lida.
Como disse nas notas, pode ser que ela se torne restrita, porque eu não me aguento, né? Hehehe. De nada (?).
Vejo vocês no próximo capítulo!
Capítulo 2
– Por que ela está te mandando para o Japão? – a voz de surgiu quando se preparava para sair da casa do avô.
Alana estava presa no escritório com o pai, enquanto Jonathan havia ido embora, provavelmente para ir a alguma festa. só queria chegar em casa, tomar uma taça de vinho e se afogar em uma banheira com espumas até o corpo inteiro relaxar.
– Falando com uma amiga – ele apontou para trás –, responda minha pergunta.
– Você precisa parar de negligenciá-la, – manteve o assunto, vendo-o revirar os olhos.
– Deixe que eu cuido do meu relacionamento.
– Obrigada – ela dispensou o funcionário da casa que havia trazido o carro. Parou à porta do veículo e olhou para o irmão antes de entrar – Sabe por que você não foi escolhido para ser o sucessor?
fingiu tédio, colocando as mãos nos bolsos da calça do terno, mas manteve sua atenção na irmã.
– Porque você não se casou.
– É verdade – disse. – É impressionante como você não consegue ler a mamãe e o vovô. Eles gostam do papai tanto quanto você. E sabe o que o papai é? Um eterno solteiro. Não tem responsabilidade nenhuma com a nossa família; é egoísta e só quer saber de seus próprios interesses.
Jogou a própria bolsa no banco passageiro e apoiou no teto do carro para encarar o irmão, que agora já não tinha mais uma expressão de deboche no rosto:
– Você está noivo da Violet há 6 anos e ainda nem comprou uma aliança. Ela está com um anel que ela mesma comprou para poder não passar vergonha na frente das amigas, porque você está ocupado demais pensando em como ser presidente da empresa, sendo que a resposta para isso está debaixo do seu próprio nariz. Você mal consegue cuidar de uma família, que dirá uma empresa inteira.
– Você sequer tem um noivo, como pode falar que ter uma família é pré-requisito…
– Eu sou mulher. Você é homem. Pode me chamar de machista, , mas quando vovô criou a empresa, ele tinha uma família inteira estabelecida; mamãe, por outro lado, nunca teve um marido presente. É só somar 1 mais 1. A referência para ser o próximo presidente é a família, não um profissional competente, mamãe já disse isso centenas de vezes.
entrou no carro e baixou o vidro do passageiro para lhe dizer uma última coisa antes de acelerar para longe:
– Nós dois temos responsabilidades diferentes na vida, . Você pode ficar com a presidência, mas precisa aprender a jogar melhor os jogos que quer ganhar.
— B O R E I G H N U C L E A R —
Ela olhou para a casa em que viveria nos próximos dias… ou meses. Ou anos.
De luxuoso, provavelmente somente seus pertences pessoais, que havia levado de Nova Iorque. A casa, no entanto, possuía todo o básico para viver. Um quarto, uma cozinha, uma sala. Tudo em tamanho mediano. É possível que somente a sala da mansão do avô fosse equivalente a essa planta inteira.
Mas nunca se importou com o luxo – ou a falta dele.
Depositou a bolsa na mesa de jantar e foi direto para a porta balcão que mostrava um pequeno jardim onde poderia trabalhar tranquilamente sem precisar ficar sendo perseguida por trabalhadores eficientes competindo entre si para mostrarem quem é melhor. Japoneses, americanos, franceses, russos… todos eram iguais quando se tratava em querer mostrar serviço para a Boreigh Nuclear, afinal, é muito mais vantajoso trabalhar em uma empresa que visita centros nucleares, do que viver todos os dias dentro de uma.
– Há um pequeno mercado virando a esquina – o funcionário japonês designado para servir de assistente disse em um inglês sem sotaque -, um carro estará à disposição para a senhora.
– Com um motorista, espero – olhou de soslaio para o funcionário, que fez uma pequena reverência. Não era seguro para ela, e nem para os cidadãos, tê-la dirigindo do lado “errado” da direção.
– O número dele está no cartão que deixei em cima da mesa. Ele fala inglês fluente também. Poderá ligar para mim fora do horário útil.
A próxima presidente abriu um pequeno sorriso. Talvez os japoneses
fossem mais eficientes do que os outros.
– Sim, senhora. Todos os serviços públicos são acessíveis aqui.
Então ela não tinha o que reclamar. Não era uma pessoa com frescuras, mas tinha suas preferências quanto a alguns produtos; além disso, ela estava na Ásia, o que significava que gastaria boa parte do seu tempo livre testando produtos de beleza, até achar um que não fizesse sua pele coçar.
– Quando posso visitar a fábrica?
Akito, o assistente, limpou a garganta. O ato chamou a atenção da superior, já que nenhum funcionário faria isso sem ter um motivo.
– Sobre isso… – ele se aproximou ligeiramente curvado, mostrando sua submissão à chefe. Não que ela fosse se ofender, seja qual fosse a notícia; ainda assim, o tom de voz que ele usou foi o de alguém que fazia questão de abaixar a cabeça e aceitar as consequências – A senhora foi designada a trabalhar na equipe de mecânica.
olhou para Akito, que encolheu os ombros ao perceber que a chefe rapidamente havia compreendido a mensagem. Estava sendo colocada em uma posição inferior, praticamente a de um estagiário. Sabia muito bem como funcionava a mecânica de uma usina nuclear; um de seus primeiros trabalhos – e exemplo de classe – que apresentou na faculdade, consistia nos componentes principais utilizados em uma usina.
– Quem designou a posição?
Akito assentiu levemente. Por fazer parte de uma das culturas mais orgulhosas do mundo, ele sabia que, sendo quem era, trabalhar em uma posição equivalente a de alguém sem formação superior era algo próximo de uma humilhação.
Alguém “lá em cima” queria dificultar a visita da herdeira do Boreigh Nuclear.
O lábio de se curvou levemente para cima.
Eles estavam mexendo com a pessoa errada.
— B O R E I G H N U C L E A R —
– Você pode ficar aqui até segunda ordem.
Sem respeito. Com um ligeiro tom de arrogância. Olhares feios.
já havia lidado com isso antes. Ter nascido em um berço de ouro e pulado algumas etapas ditas essenciais para pessoas sem privilégios faz com que ela pertença a um grupo seleto que, quando envolvido com outros comuns, tornam-se intocáveis e isolados.
A melhor maneira de lidar com a situação, é permanecer humilde em seu espaço, fazendo o trabalho sem deixar que os outros pisem demais em si. Eles podem tentar diversas coisas, mas sabia como lidar com os que apostavam em golpes baixos. No fim, era ela quem sempre ganhava.
Seu trabalho consistia em somente garantir que as peças mecânicas estivessem funcionando corretamente. Algumas deveriam ser trocadas para manter a usina funcionando em seu melhor estado, mas só quem podia fazer a troca eram profissionais especializados, portanto, precisava fazer reportes diários dos locais avaliados para seus supervisores, que decidiriam se ela tinha ou não razão.
O primeiro mês foi um verdadeiro desastre.
Mesmo com ela deixando explícito o motivo de algumas trocas serem feitas com mais urgência, os supervisores não deram-lhe a devida atenção.
– Você pode ter poder lá no seu lugar, mas aqui, quem manda sou eu – disse o senhor Kawamura, um dos supervisores responsáveis pela divisão em que ela estava alocada.
– Quando alguém mais alto na hierarquia diz – o homem a cortou e jogou a papelada que ela havia trabalhado por dias em sua cara –, você cala a boca, abaixa a cabeça e obedece.
Sua mão fechou-se em um punho, enquanto respirava fundo para não fazer o que seu irmão sempre fazia: simplesmente usava do seu poder de direito.
Não. Ela acredita que a vingança é um prato que se come frio. Haveria a oportunidade perfeita para colocar aqueles arrogantes em seus devidos lugares; sua maior preocupação, agora, era como fazer com que eles a ouvissem e trocassem as malditas peças antes que elas pudessem ser um problema para a usina mais moderna do mundo.
A solução veio no dia seguinte, quando , o único jovem que havia a acolhido e a tratado com respeito, suspirou exausto ao seu lado durante o intervalo da manhã.
– Não fique assim – ele disse -, eles estão com inveja. Acham que podem oferecer à senhora as dificuldades que qualquer pessoa enfrenta na vida, só porque não precisa necessariamente passar por elas.
– Já disse para parar de me chamar de senhora, temos praticamente a mesma idade.
– Nove meses faz bastante diferença aqui na Ásia.
– Bem, eu não sou daqui da Ásia, então entre nós dois você pode me tratar como uma igual.
soltou um pequeno sorriso e enxugou o suor da testa. Aquela região da usina era mais quente que o normal; além do mais, ainda que estivessem no fim do verão, a região praiana era abafada em algumas semanas de agosto.
– Se seus amigos conseguem esquecer quem sou, acho que você também é capaz. – bebeu uma garrafa d’água.
concordou e bebeu um gole de sua própria água. Os dois permaneceram calados até ele passar um sanduíche para , oferecido na cantina dos funcionários para aqueles que não queriam fazer a refeição no refeitório. Pelo menos 3 vezes na semana, os dois escolhiam algum lugar longe dos demais colegas para fazerem a refeição.
– Por que você decidiu trabalhar aqui? – ela perguntou entre uma mordida e outra.
– Sou da região. Não tive muitas opções.
continuou calada, esperando ele decidir entre falar sobre sua história ou não. Sabia que os japoneses eram considerados pessoas mais introspectivas e introvertidas, mas ela também era e por isso respeitava a decisão dos outros.
– Sou o único filho homem. Minha irmã se casou com um cara que precisou se mudar para Okinawa, então é meu dever ajudar meus pais a se manterem.
– Meu pai é serralheiro. Há bastante trabalho para ele, por conta da usina. As pessoas que vêm para Kariwa gostam dos móveis dele e por isso ele sempre está na ativa; mas nunca fui bom com artes manuais, então optei por vir para cá.
– Se você não precisasse cuidar dos seus pais, o que faria?
– Não sei, nunca pensei muito nisso. Gosto de viver um dia de cada vez. Talvez eu quisesse viajar para algum lugar, conhecer pessoas diferentes das que vejo por aqui. Ver praias que não sejam as de Niigata.
O apito anunciando o fim da folga soou e os dois se colocaram em pé, cada um terminando a garrafa de água que carregaram, jogando todo o resíduo do lixo antes de voltar para seus afazeres.
Antes de pegar a prancheta e voltar ao trabalho, olhou para e disse:
– O que você acha de trabalhar comigo?
Capítulo 3
Não porque ele não queria trabalhar com , mas porque não queria tomar os créditos de alguém que fez todo o serviço.
informou-o sobre seu plano de passar aos supervisores os relatórios mais importantes, enquanto ela se ocupava com os menores.
– Se eles continuarem ignorando meus relatórios, a usina pode uma hora dar problema, e então fazer a troca não será a solução adequada. Você deve ter uma noção do que uma usina nuclear com problema pode causar para o país.
É claro que, apesar de todos os riscos, eles ainda eram muito pequenos para a usina. poderia estar exagerando na magnitude, aproveitando-se da ingenuidade do colega devido à falta de conhecimento dele sobre o funcionamento do sistema, mas ela gostava que as coisas ocorressem da maneira certa, e poderia, futuramente, usar essa situação de agora em prol do colega e também dos superiores que precisavam de devida lição.
No fim, ela acabou ganhando a discussão e, como era esperado, foi muito melhor aceito pelos superiores; seus relatórios não eram aprovados com tanta rapidez como daqueles designados favoritos, mas ainda assim eram aprovados.
A voz do irmão mais velho quase reverberou pelo quarteirão inteiro.
Ele havia feito uma videochamada com para discutirem o projeto de inovação para que mais governos no mundo aderissem ao uso de usinas nucleares; apesar do perigo caso algo desse errado, havia ainda muitos benefícios, como a não emissão de gases estufa e o fato das usinas poderem trabalhar 24 horas por dia, 7 dias da semana sem interrupção, nunca sendo afetado pelas condições climáticas, fornecendo continuamente energia para o país. Contudo, a maior intenção da Boreigh Nuclear é garantir trabalho e rendimento por mais décadas e, quem sabe, centenas de anos.
Quando perguntou o que ela estava fazendo no Japão, já que não encontrou nenhum relatório importante vindo de lá, respondeu em dois minutos, fazendo com que o irmão achasse que era uma piada.
– Estou falando sério. – ela disse em um tom que sempre usava quando queria provar um ponto.
Viu o rosto do irmão sair do tenso para o lívido.
– Você é uma Boreigh! – ele quase gritou. – Como podem ter te colocado nessa posição? Alana sabe disso?
– É claro que sabe. – falou. Ela mesma havia confirmado com a mãe, após o fim do primeiro dia de trabalho, se era isso mesmo o que deveria ser feito. Alana não hesitou em dizer para a filha seguir as ordens dos empresários responsáveis, até que encontrassem uma brecha para ela ser alocada no devido lugar.
Foi somente após o segundo mês de trabalho que entendeu o motivo de estar trabalhando naquela área. Não importa quão moderno seja uma empresa, sempre haverá falhas. E é a partir delas que a Borough Nuclear ganha seu verdadeiro dinheiro.
– Confie em mim, , sei exatamente o caminho a seguir.
O irmão permaneceu olhando para , como se tentasse decifrar o que ela queria dizer. Ao mesmo tempo, a mais nova enxergava ali a preocupação daquele que estava tentando agir na corrente oposta. desejava ser o anti-herói, mas não havia nascido para isso. Seu jeito impulsivo era somente uma casca da bondade que havia ali dentro; aparentemente, só a noiva dele parecia enxergá-lo com precisão.
– Você ainda não comprou a aliança para Violet.
olhou para o lado imediatamente. Era o que ele fazia quando queria fugir do assunto, desviava os olhos e permanecia calado.
– Se você não a quer, deixe-a ir.
– Quem disse que não a quero? – a resposta veio tão imediatamente que até a pegou de surpresa.
– Hum… suas… atitudes? – ela falou, tentando ser delicada em não constatar o óbvio.
– Não se envolva em meus assuntos pessoais.
– É difícil. Violet é minha amiga.
– Diga a ela que você não quer saber da nossa relação.
– Não acho que ter 2 Boreighs a tratando mal seja melhor do que a situação como está. Comprar uma aliança e fazer um pedido decente não leva muito tempo. Se você não sabe planejar uma coisa dessas, contrate alguém que o faça.
– Preocupe-se em arranjar você mesmo um parceiro a quem atazanar.
abriu um sorriso. Seu irmão nunca perdia uma briga, mesmo que, para ganhar, ele tivesse que agir como uma criança birrenta.
Os dois conversaram sobre alguns assuntos pertinentes ao trabalho que estava fazendo; sempre queria saber absolutamente tudo o que a irmã fazia, como se, através dela, ele pudesse compreender o que a mãe e o avô realmente queriam de um herdeiro. Ela apenas respondeu a todas as perguntas sem questioná-lo; sabia que ele estava sob muita pressão.
10 dias depois, estava revisando o formulário que havia feito para no setor 7 da usina, conversando com os supervisores que eram mais amenos com sua presença; após quase 2 meses trabalhando no local, foi possível mudar a opinião de um ou outro para facilitar seu desempenho; ainda assim, era quem entregava os relatórios e recebia os créditos no lugar de . Para compensar, o colega aprendeu através da leitura do material, caso alguma pergunta fosse feita, e passou a melhorar seus próprios relatórios.
– Boreigh – uma voz masculina soou no ambiente, chamando a atenção da mulher.
– Sim – ela respondeu, deixando seu relatório de lado para se aproximar do supervisor que a encarava com um olhar mesquinho. sabia que viria mudança pela frente. Estava escrito no rosto do homem que ele não estava satisfeito com o que estava para acontecer.
– Por favor, me acompanhe.
Silenciosamente seguiu o homem pelo labirinto do setor 7. Passou por diversos companheiros de time, alguns abrindo um pequeno sorriso ao pensar que ela estava prestes a levar uma bronca; arregalou os olhos e tentou entender algo, mas apenas fechou os olhos e sinalizou com a cabeça que estava tudo certo.
A sala do supervisor possui uma estrutura de algo que parece ter sido improvisado, ainda que fosse um ambiente permanente. Assim que entrou no espaço, pôde sentir um perfume diferente do desodorante forte que os homens em posições mais altas usavam, como se quisessem diferenciá-los dos subordinados que passavam o dia inteiro em meio às máquinas. O novo perfume não podia pertencer a outra pessoa senão uma mulher; mulher essa vestida em um terno social com uma maquiagem que só quem realmente sabia se maquiar sabia fazer.
– Eu assumo daqui, senhor Takashi, obrigada.
– Eu poderia… – o homem praticamente implorou para ser útil à mulher, que não desviou os olhos de ; ela sustentou o olhar. Não a conhecia, portanto, não sabia o que esperar.
– Sim senhora… estarei… estarei por perto, caso… – e com um aceno com a mão da mulher, o supervisor de deu um sobressalto e se apressou em deixar a sala agora perfumada por um novo aroma para as duas.
As duas permaneceram caladas, a mulher encostada sob a mesa do supervisor, enquanto permaneceu calada próximo à porta de entrada.
– Meu nome é Tsuru Oshiwa. Sou representante de nosso imperador.
Imediatamente, curvou o corpo em cumprimento, recebendo de volta um pequeno sorriso e um balançar de mão.
– Não é necessário para mim. – ela disse. – Sou apenas uma representante.
permaneceu calada. Já não era de muitas palavras; também não gostava de oferecer munição para pessoas a quem não conhecia, principalmente aquelas que, aparentemente, possuíam muito poder… ou acesso a alguém com ele.
– Com o aquecimento global, nosso país está se tornando um alvo forte de ataques naturais… os quatro elementos da natureza não costumam ter misericórdia apenas porque estamos tentando sobreviver – ela disse, desencostando-se da mesa e passando a caminhar ao redor da pequena sala. – O número de terremotos previstos para este ano é alarmante o suficiente para que nosso querido imperador se preocupe com as usinas.
– Até onde sei, as usinas são de responsabilidade do governo e não do império.
– É por isso que estou aqui sozinha, e não com um dos subordinados do primeiro ministro. – a mulher prontamente respondeu. se calou. – Recebemos os relatórios das últimas duas inspeções de todas as usinas, inclusive da de Fukushima. Nosso imperador compreende o motivo pelo qual a Boreigh Nuclear negou a reativação dela e teme que o mesmo aconteça com outras usinas, inclusive esta.
”Você deve saber quanto é investido nestas usinas. Nesta, em particular, causou um grande furor entre os cidadãos. A cicatriz de Hiroshima e Nagasaki ainda prospera em todos nós. Ninguém quer passar por aquilo de novo. Fukushima muito recentemente nos causou uma enorme preocupação. É por isso que queremos ter a certeza de que os relatórios estão vindo conforme a verdadeira situação das usinas.”
A sobrancelha de foi erguida.
– Você está querendo dizer…
– Não – Tsuru logo respondeu –, o que eu quero dizer, é que, apesar de não parecer, existe corrupção entre nós neste país. Um simples relatório alterado a mandato de alguém de uma patente maior pode causar um desastre mortal em cima de nosso país nos próximos anos.
”É por isso que nosso imperador exigiu uma nova inspeção feita somente para ele.”
– Para uma inspeção na magnitude que Sua Majestade Imperial deseja, é necessário a movimentação de uma equipe maior do que podemos esconder. – respondeu, pensativa. – Para uma inspeção cotidiana são usadas pelo menos 50 mãos de obras qualificadas.
– Não para esta inspeção.
A sobrancelha de voltou a se erguer.
– Existe uma equipe de elite formada por membros exclusivos de diversas áreas de defesa e honra do Japão. Pessoas selecionadas a dedo pelo próprio imperador, trabalhando todos os dias para garantir o equilíbrio e a paz japonesa. Você trabalhará com eles.
– Não tenho certeza de que isso seja possível. Existe muito conhecimento–
O silêncio prosperou, ainda que os olhos estivessem presos um ao outro em um diálogo sem fim. E então, com um simples movimento de mãos, Tsuru passou uma pasta para , que levou apenas um momento antes de desviar o olhar para a arma que ela havia trazido.
Era mais do que uma arma. Era uma própria bomba nuclear causada por Alana Boreigh. Por dentro, suspirou. Sabia que este dia seguiria.
Um dos motivos pela qual não estava extasiada com a herança da Boreigh Nuclear era porque sabia como Alana era soberba. Como toda a arrogância da mãe levaria a um problema que seria dever de seu sucessor domar.
não sabia no que estava se metendo ao querer herdar a empresa.
Era claro que ela não deixaria toda aquela verdade passar por diante de seus olhos, sendo apenas uma confirmação para a mulher de lábios vermelhos e olhos afiados saber que seu plano havia funcionado.
– Você está falando com a Boreigh errada.
– Eu estou falando com a Boreigh certa.
O que ela poderia querer com ? O que ela poderia oferecer de benefício, que a mãe não? Talvez o orgulho cego de Alana não permitisse que ela avaliasse cada escolha. A CEO da Boreigh Nuclear sempre foi certa de suas escolhas, por isso sempre as fez com rapidez e eficiência. Aparentemente, algumas das escolhas no início de sua carreira não foram tão eficientes e certeiras assim.
Tsuru Oshiwa, de alguma forma, havia cavado até o fundo do poço para encontrar as escolhas que Alana errou ao fazê-las, e agora as apresentava em forma física à filha como forma de chantagem.
– Não sabemos quanto tempo mais Alana Boreigh reinará na empresa. Nosso imperador acredita na progressão e no sucesso dos sucessores.
Balela, pensou. Ela já ouviu coisas muito mais lisonjeiras que essa por menos. Odiava que as pessoas achassem que ela poderia ser ganha com um ou dois elogios.
Oshiwa pareceu saber disso, pois os cantos dos lábios voltaram a se erguer com um sorriso.
– Você é a pessoa que queremos.
– O que a Boreigh Nuclear ganha com essa ameaça?
– Além de não ter sua CEO exposta?
– Você acredita que isso pode nos destruir? – encostou seu corpo na divisória feita para separar o supervisor, dos subordinados. – Estou decepcionada com essa subestimação.
Afinal, todo mundo sabia que Alana Boreigh estava prestes a se aposentar.
– E o que você quer para fazer o trabalho? – o tom de voz de Tsuru não era de aborrecimento, mas diversão. Ela era tão inteligente quanto e sabia exatamente como lidar com as adversidades.
– É preciso mais do que uma ameaça. Sou a próxima na sucessão do posto.
– Exatamente. – Tsuru disse. – É por isso que você é a pessoa perfeita. – ela confirmou o que já imaginava. – Quem não gostaria de um trabalho de suma importância no currículo? Ou está inclinada a só receber os trabalhos que sua querida mãe manda?
– É preciso mais do que um tremor de terremoto para fazer esta e as demais usinas perderem o controle. – falou. – O receio que o imperador enfrenta não justifica o pedido do serviço. A não ser…
O olhar de Tsuru endureceu. Ela havia, sim, subestimado . Achou que uma garotinha nascida em berço de ouro não teria malícia para entender a política do mundo; que ela era ingênua como seu irmão mais velho, cego pela vontade de subir ao poder.
– Com quem o governo do Japão está planejando negociar uma nova usina? – a pergunta de foi certeira, não dando chance da representante do imperador inventar uma desculpa. Ela havia enjaulado o leão em sua própria cela. Havia a rondado e então dado a cartada final.
– Você não precisa saber.
– Ah, mas eu preciso. Preciso saber para quem estou trabalhando. Quem irá ler as palavras que irei escrever. Sei aonde quer me mandar para averiguar as condições. Lá não é um lugar fácil de trabalhar. Há mais riscos do que você imagina. Mais exposição do que normalmente dizem. Se quer me mandar para baixo, então precisa saber que eu só desço com a subordinação correta.
10 minutos. As duas sabiam que era o tempo que Tsuru Oshiwa tinha para responder . Havia mostrado mais cartas do que poderia. Um acidente não resolveria a questão. poderia resolver seu próprio problema dali mesmo. Tsuru, por outro lado, não podia tomar decisões sem o aval de seu superior. E no Japão a hierarquia de posição era muito clara.
– Saber irá te levar a uma posição complicada, Boreigh.
Sabia que o Japão estava brincando com um fogo muito mais forte do que um incêndio. Um fogo tóxico, que matava e deixava gravado por bilhões de anos sua marca.
Sabia também que, fazendo esse trabalho, ela estava arriscando mais do que sua sucessão ao posto. Estava arriscando o nome de sua família inteira.
Pois o Japão estava, com toda a certeza, mexendo com um dos maiores inimigos do país de origem de . E eles não eram um país fácil de se lidar.
– O Japão não irá considerar outra empresa senão a Boreigh Nuclear enquanto o imperador e seus herdeiros estiverem no poder.
Os olhos de Tsuru brilharam com algo que viu ser admiração. Sim, ela é uma mulher ousada que sabe negociar seus próprios negócios.
A representante se dirigiu para a porta e disse:
– Vejo você amanhã, Boreigh. Vamos fechar o nosso negócio.
Tsuru olhou por cima do ombro e, pouco antes de abrir a porta para sair, disse:
Capítulo 4
Às 7 da manhã, recebeu um telefonema dizendo que não era necessário se apresentar no turno matinal. Imediatamente soube que a representante do imperador havia mexido os pauzinhos.
Quando o relógio marcou 8 horas, a campainha de sua residência tocou.
Ao abrir a porta, três pessoas passaram por ela. Tsuru Oshiwa estava à frente, acompanhada de dois homens.
O primeiro, Kentaro Arata, era um senhor que se apresentou como advogado do imperador. já havia contactado seu próprio advogado, que mencionou estar disponível para atendê-la independente do horário que fosse nos Estados Unidos.
O outro, , era mais jovem. Devia ter a idade de , se ela chutasse. Tsuru o apresentou como o líder da equipe que trabalhará com ela na inspeção completa. Seu olhar dizia a para que não se aproximasse; durante todo o tempo ele se manteve calado, a expressão dura e sem intenção de dizer uma palavra desnecessária que fosse.
– Ele é um soldado que possui mais experiência com usinas nucleares do que qualquer outro aqui na Ásia. – Tsuru olhou para o homem com orgulho.
– É mesmo? – ergueu uma sobrancelha. Alguém tão jovem não poderia saber tanto assim.
– veio da Coréia do Sul; um país que vive o terror da probabilidade de ser alvo de forças nucleares vindas do norte.
– Bombas nucleares funcionam de forma diferente das usinas.
– Elas oferecem o mesmo risco, quando utilizadas de forma irresponsável – a voz de surgiu pela primeira vez. não demonstrou o tremor que sentiu ao ouvir o timbre grave que o homem tinha, muito menos mostrou-se abalada pelo olhar afiado e penetrante que ele enviou.
Preferiu manter-se calada. E então um jogo de olhares começou entre os dois. parecia irredutível, mas havia sido criada dentro da família Boreigh, com uma mãe alfa, um pai ausente, um avô exigente e um irmão mais velho competitivo. Qualquer outro desafio que ele quisesse colocar na vida dela não seria o suficiente para fazê-la desmontar.
Foram interrompidos por uma risadinha. A cabeça dos dois viraram ao mesmo tempo para Tsuru, que os encarava com humor.
– Tenho certeza de que vocês irão se dar muito bem.
Enquanto olhava para séria, o soldado lhe dava as costas.
O pensamento dos dois era o mesmo: Tsuru estava errada. Eles se dariam terrivelmente mal.
– B O R E I G H N U C L E A R –
– A avaliação precisa ser feita a partir dos setores mais seguros, até os níveis mais baixos – apontava para as áreas que se referia no enorme mapa aberto em cima da mesa de jantar de sua casa.
Após o almoço, Tsuru deixou a residência para voltar a Tóquio e os demais integrantes da equipe formada pelo imperador entrou. O grupo consistia em engenheiros nucleares, cientistas, biólogos, físicos, biomédicos e hackers. Ainda assim, a quantidade de pessoas não chegava a 10.
apresentou ao grupo. Informou a todos qual seria o papel dela e, para a surpresa da mulher, ouviu do próprio comandante que a opinião dela era a que mais importava no grupo.
– Mais que a de um físico ou engenheiro nuclear? – um dos homens perguntou e apontou para si e outro colega.
O comandante olhou sério para o colega, que abriu um pequeno sorriso. logo soube que aquele grupo era mais do que um bando de profissionais altamente capacitados reunidos pelo imperador. Eles eram amigos.
– Ela conhece mais sobre a estrutura das usinas e seu funcionamento do que qualquer um de nós.
– E é ela quem vai assinar tudo no fim – a única outra mulher no grupo sem ser se colocou ao lado do comandante. – Você assinaria algo que não concordou em fazer, Tora?
– Não está mais aqui quem perguntou – o homem ergueu as mãos em rendição e enviou um olhar para em seguida. O sorriso de canto delatou o que ela imaginava: eles estavam se divertindo.
Ela decidiu ignorar o nível de intimidade que aquele grupo tinha. Se desse certo, eles teriam que se envolver por não mais do que um mês, por isso, não havia necessidade nenhuma dela tentar ser simpática. Apesar de ser extremamente eficiente em tudo o que fazia, ser carismática não era o seu ponto forte.
Explicou por cima como era feita a avaliação completa nas usinas, mas, pela questão ser confidencial e de caráter urgente, eles precisariam pular algumas etapas, completando-as com os relatórios enviados pelos próprios funcionários da empresa e relatórios feitos pela Boreigh Nuclear em avaliações anteriores. Este seria o trabalho de Juno, um jovem de 26 anos especialista em se infiltrar no sistema operacional das empresas sem deixá-las perceber que ele esteve lá.
– Vamos começar por baixo – disse, contradizendo o que havia dito.
– Não podemos. É perigoso.
– A cada nível que descemos, são raios maiores de radiação; não sabemos como está o funcionamento das turbinas ainda; enviei um pedido de reavaliação do nível de urânio, pois o que vi em uma das análises das semanas anteriores não condiz com o que estava no relatório feito no mês passado.
– Ou seja, um motivo maior para a gente resolver isso. – o capitão da equipe mencionou.
não disse mais nada. Não perdia tempo orando para mau defunto. não parecia ser o tipo de profissional que voltava atrás em suas palavras, se não havia um motivo concreto para tal.
O que, no entanto, surpreendeu Boreigh, foi a atitude do líder da equipe em justificar sua escolha, já que os demais perceberam que a nova integrante não estava satisfeita com o rumo do projeto.
– Começar por cima significa sermos vistos com mais frequência por pessoas que não precisam saber de nós. – ele disse, apontando para as camadas superiores da usina, onde os engenheiros e técnicos ficavam, todos os dias, acompanhando o funcionamento das máquinas. – Não podemos nos infiltrar como funcionários, porque somos demais e um tanto… chamativos. – olhou para Lumi, a outra mulher presente no grupo. Apesar de ter descendência japonesa, o pai de Lumi é polonês, fazendo com que seus traços mestiços fossem bem mais característicos, os cabelos quase raspados e tingidos em um loiro quase branco, a altura de 1,75cm, os piercings em várias partes do rosto, além do fato de 60% do seu corpo estar coberto de tatuagens.
– Ora, obrigada – a mulher agradeceu o elogio e enviou uma piscadela para , que abriu um pequeno sorriso.
– Ter pessoas nos reportando para superiores pode atrapalhar o fluxo do projeto. Não queremos que nosso serviço acabe nas mãos das pessoas erradas. – olhou para todos, que não hesitaram em permanecer calados, consentindo com a afirmação. – Só há uma pessoa que irá acessar nosso relatório, e ela é o Imperador do Japão.
– Qual a probabilidade de causarmos um estrago se acessarmos o sistema incorreto? – Juno, o mais jovem do grupo, olhou para com uma expressão de desinteresse, apesar de seus olhos dizerem o oposto.
A mulher se pôs a pensar. Havia muitas formas de se causar um estrago somente digitando um código errado no sistema.
– Geralmente, quando precisamos fazer alguma alteração que exija uma mudança dessas, precisamos desligar algumas partes mais críticas dos reatores, para que qualquer erro, por menor que seja, não faça um dano catastrófico que exija o desligamento completo da usina, ou pior.
– Ou seja – Tora, o homem que havia feito a brincadeira mais cedo, disse com um olhar de diversão para o mais novo –, você está ferrado.
A piada não pareceu afetar Juno em nada. Seus ouvidos focaram na resposta de e passaram a arquitetar o tipo de coisa que deveria fazer para entrar no sistema da usina e gerar um pequeno susto para que a entrada do grupo fosse justificado nas próximas semanas.
– Juno e Dave ficarão do lado de fora. É importante saber se o raio de contaminação sobe ou desce durante o nosso trabalho. – voltou a falar. – Não vamos fazer nada que possa piorar o funcionamento da usina, mas não temos como evitar, caso algo já esteja ruim dentro dela. Além disso, precisamos de pessoas do lado de fora para qualquer eventualidade.
Ninguém pareceu ser contra o capitão, que pausou alguns minutos para dar a chance de alguém mostrar uma ideia melhor.
– Qual a melhor forma de começarmos a avaliar o núcleo sem passarmos pelos níveis superiores? – olhou para , que apertou os lábios pensativa enquanto encarava o mapa. Em dois minutos, seu dedo apontava para um local no lado de trás da usina.
– Ninguém utiliza essa entrada e saída, porque há um risco por conta dos sedimentos. Nós precisaríamos vestir roupas adequadas para passar por ela, e pode levar cerca de 15 minutos para chegarmos até o monitor. – olhou para o labirinto que seria chegar até o local onde encontrariam o monitor responsável por mostrar os dados de funcionamento do reator. – Não é melhor lançar na agenda da usina um teste de evacuação para que a entrada seja feita de forma mais tranquila?
O grupo se entreolhou, como se considerando o fato de que uma pessoa não treinada para este tipo de serviço tivesse a melhor ideia até agora.
olhou para Juno, que teclou algumas coisas em seu notebook.
– Sexta-feira é melhor. O diretor não estará na usina. Há uma reunião importante com os acionistas da empresa responsável pela usina, e ele precisará se ausentar com outras pessoas de alto escalão. É o dia perfeito, na verdade. Ele
nunca está presente nos testes de evacuação. – falou rapidamente para o mais novo, que voltou seu olhar para a tela, após o capitão assentir silenciosamente, concordando com a sugestão.
– 17h. O plano de evacuação deve levar até 15 minutos para acontecer. Todos saem rapidamente, mas voltam na velocidade normal, o que pode levar até 40 minutos para voltarem a seus postos, principalmente aqueles nos andares inferiores.
– Ainda melhor se eles simplesmente não voltarem – Akito comentou, mas Tora balançou o dedo na frente do biomédico da equipe.
– É uma usina nuclear. Ela não para de trabalhar fora do horário útil. Existem turnos.
– Eles dificilmente acessam os andares inferiores após as 18h. – considerou a ideia de Akito. – O trabalho da maioria é apenas garantir que a temperatura esteja adequada e que os reatores e as turbinas estejam funcionando devidamente. Tudo isso é feito através de computadores.
– Ou seja – Lumi complementa com um pequeno sorriso –, se a gente não fizer merda, a probabilidade de sermos pegos é mínima.
sorriu mais uma vez para Lumi, algo inédito, na própria opinião. Não podia gostar tanto daquelas pessoas. Elas não estavam ali para serem suas amigas.
O grupo permaneceu calado com apenas o som de Juno digitando em seu computador portátil. aproveitou para olhar para os demais integrantes, que utilizaram do breve tempo para prestarem atenção em seus próprios negócios… exceto o capitão.
Assim que o olhar da americana cruzou com o do coreano, uma faísca surgiu entre eles. Certamente não uma faísca qualquer, mas a do tipo que, se dado um passo maior para dentro da zona limite do outro, sabe-se lá o tipo de explosão que poderia eclodir entre eles.
– Pronto. – Juno quebrou o silêncio e também o contato no olhar dos dois. Ninguém pareceu perceber, por isso, ambos fingiram que nada havia acontecido.
Mesmo um mundo de informações ter sido trocadas com uma simples troca de olhar.
Nota da autora: Era para eu ter atualizado em 2023. Para ter dado um último gostinho de BN antes desse ano maravilhoso começar. Mas aconteceu que eu tive menos tempo do que imaginava.
Bom! Antes tarde do que mais tarde!
Quero desejar um feliz 2024 para todas vocês, leitoras queridas!
Que possamos nos encontrar em várias fanfics este ano! 🙏
Obrigada desde já pelos comentários e companhia no decorrer de 2024 <3
Nosso herói chegou! Ufa!
Me digam o que acharam da vibe do time e do querido que surgiu das sombras e já mostrou quem manda.
Quem aí viu um conflito de personalidade? Hehehehehe AMO!
Capítulo 5
Os dias até a sexta-feira da missão passaram extremamente rápidos.
O horário de trabalho de havia sido diminuído por ordens de cima, o que significava que Tsuru Oshiwa havia mexido alguns outros pauzinhos após o capitão ter passado todos os detalhes do plano elaborado pela equipe.
No entanto, o tempo livre não era à toa. Durante todo esse tempo, o grupo se reuniu em um espaço privado em um galpão afastado da cidade, onde podiam conversar livremente sobre qualquer assunto, sem correrem o risco de estarem sob o alvo de escutas. Apesar de não ser uma peça de risco do governo japonês, a equipe e principalmente sim possuíam certa visibilidade.
– Este é o pendrive que vocês irão colocar no monitor, para que eu possa pegar todas as informações necessárias – Juno entregou a peça para o capitão, que observou-o com atenção –, essa é a reserva – ele entregou a outra peça a Tora, combatente formado em física nuclear e responsável por ocupar a posição de vice-capitão. – O ideal é voltar com as duas, mas em caso de emergência, vocês podem destruí-la.
– E as informações? – Tora perguntou, analisando a peça da mesma forma que havia feito.
– Ele é um catalisador, não armazena informação – Juno respondeu –, eu só preciso de um acesso fácil. É como se vocês estivessem levando o cabo da internet até o computador. É mais rápido e seguro do que depender de um sinal que pode vacilar a qualquer momento.
– Quanta modernidade – Akito abriu a boca, abismado com o fato de que a tecnologia hoje era muito mais poderosa e perigosa do que quando ele era criança.
– Pare de falar assim – Dave, biólogo, disse com uma careta –, me faz sentir ultra velho.
Lumi soltou uma risadinha.
Os dois integrantes mais velhos do grupo, Dave e Akito, permaneceram resmungando enquanto Lumi e Tora riam e provocavam ainda mais.
– Quanto tempo você precisa para extrair todas as informações necessárias? – perguntou, quebrando o ar leve que pairava entre todos. Juno olhou para cima e fez uma expressão pensativa.
– Quantos dados seriam necessários para um relatório exigido pelo imperador? – Juno olhou para , que abriu um pequeno sorriso sarcástico.
– Para o que ele quer, provavelmente desde a abertura.
– 20 minutos. – o mais novo voltou o olhar para , que apertou os lábios. – Consigo fazer em 14, se não houver oscilação.
olhou para o mapa aberto à frente de todos. Calado, seus olhos andavam de um lado para o outro, até que ele finalmente olhou para Akito.
– Talvez seja melhor você permanecer com a equipe beta. – Quando o biomédico e ex-general do exército japonês abriu a boca para se opor, o capitão disse: – É importante nos assegurar de que a equipe externa esteja segura e preparada para qualquer eventualidade.
– Nós só precisamos descer, pegar os dados e voltar – Tora disse de forma relaxada, colocando um chiclete na boca. – É bom que haja alguém de combate com esse grupo.
Akito não tentou dizer mais nada. Assentiu, compreendendo a importância de seu papel na equipe menor. Se Juno e Dave passassem por qualquer apuro, a equipe que entraria na usina não conseguiria sair dentro do prazo, correndo risco de exposição aos funcionários, e também à radiação presente nos níveis mais baixos.
Como sempre, o capitão estava atento a qualquer pequeno detalhe que pudesse causar uma dor de cabeça maior. deu os créditos ao homem mentalmente. Não havia compreendido exatamente qual o seu papel ali. Poderia simplesmente receber todos os dados em sua casa e fazer o relatório conforme o imperador gostaria. Mas assim como Akito, resolveu permanecer calada, fazendo o que fazia de melhor: observando e aprendendo.
– B O R E I G H N U C L E A R –
A sexta-feira foi de tensão.
Por mais que estivesse habituada a fazer visitas em usinas e lidar com a pressão de sua própria mãe, não era sempre que ela era convidada a participar de um plano ultrassecreto encomendado pelo Imperador do Japão, muito menos obrigada a descer até os níveis mais baixos, onde já havia ouvido alguns boatos de que, mesmo com a modernidade, ainda haviam pessoas que, após se aposentarem, sentiam os resquícios da radiação em seus órgãos e pele.
– Você não comeu nada no almoço – entregou um sanduíche natural embrulhado perfeitamente em papel alumínio –, minha mãe sabe fazer um dos melhores.
– Obrigada – ela aceitou o alimento junto com a garrafa de suco que recebiam no bandejão do almoço. – Acho que peguei uma gripe.
– É a mudança na temperatura – olhou ao redor – aqui dentro é muito quente, e lá fora o tempo está começando a ficar mais frio. É preciso vir com um agasalho mais forte para a hora de ir embora.
– Você está no turno noturno hoje?
– Não. Vou ficar no domingo, eles pagam melhor. – abriu um sorriso. – E você? Como está aproveitando o seu tempo livre?
– Tenho muito trabalho no meu outro emprego – ela decidiu dizer. Não era inteiramente uma mentira. Seu papel como futura presidente da Boreigh Nuclear lhe dava, sim, muito mais trabalho do que um simples operário.
– Ah… sim. – o colega balançou a cabeça. – Eu me esqueço que você é alguém que não deveria estar aqui conosco.
– Com os meros mortais – apontou para o lugar em que estavam.
– Eu gosto de estar aqui. É mais fácil do que ter de ver a cara de todos aqueles supervisores todos os dias.
– Nossa – fez uma careta –, tem razão.
A conversa com o colega fez com que ela se sentisse ligeiramente melhor. Voltou a realizar as análises normalmente, tentando não olhar muito para o relógio, e buscando estar no local certo, na hora em que o alarme de treinamento de evacuação soasse.
Às 17h em ponto, o alarme soou.
Imediatamente, pranchetas e outros acessórios foram deixados no chão, e todos os funcionários seguiram para as saídas de emergência mais próximas.
correu para a saída 3, onde um estreito corredor permitiu que ela se escondesse e encontrasse com Tora, que havia se esgueirado pelos dutos e caído ali com a roupa de proteção que a mulher deveria usar.
Após 5 minutos, o local estava completamente vazio.
– Vamos – Tora disse para , olhando cautelosamente para todos os lados e procurando caminhar somente pelos pontos cegos das câmeras de segurança. , alguns dias antes, havia aprendido o quanto havia de erro naquele sistema de segurança. Ou os japoneses eram arrogantes demais e confiavam na segurança local, ou muito burros de deixarem tantos pontos cegos. – Grupo delta se dirigindo ao quinto andar.
–
Positivo – a voz de soou no fone de ouvido que havia colocado. –
Cuidado com as câmeras.
Tora olhou para a companheira e fez uma careta, como um subordinado costuma fazer longe de seus superiores.
–
Sem caretas. – o capitão completou, assustando os dois e fazendo com que os demais integrantes dessem risadinhas.
O caminho até o quinto andar foi rápido e sem problema. Em quase 4 minutos cravados, Tora e encontraram com e Lumi, enquanto Juno passava orientações de caminhos mais curtos e rápidos até o oitavo andar, onde estava localizado o monitor dos reatores principais.
Tora quem liderou a caminhada. Junto dele, uma máquina portátil que calculava o nível de radiação mostrava se o caminho escolhido era ou não adequado para o grupo.
–
Estão perto do reator 2. – Juno falou ao fone. –
Estou com o sistema preparado. É só inserir o pendrive.
– Teremos vantagem se voltarmos a nos separar e a outra equipe se dirigir para o reator 1? – perguntou.
–
Estamos dentro do prazo. Se quiserem, estou com o computador pronto para o trabalho simultâneo.
O capitão não respondeu de imediato. Fez sinal para que caminhassem até a primeira fase do plano. A partir de lá, decidiria o que era melhor para a equipe.
Não foi difícil encontrar o monitor, muito menos fazer o trabalho. Enquanto Tora inseriu o pendrive junto do monitor para que Juno começasse a extração, passou a ordem para que Lumi desse uma volta nos arredores para verificar se havia alguém que não obedeceu o alarme de evacuação e pudesse comprometer o trabalho deles.
Por curiosidade, se aproximou do monitor de leitura. Havia visto alguns modelos na faculdade e também nas demais usinas que visitou durante os anos anteriores – empresários e físicos mostravam protótipos e maquetes do material para que fosse mais palpável e real para os clientes e também para a Boreigh Nuclear entender o plano de construção e expansão. Havia estudado diversas vezes os monitores de leitura e seu funcionamento; precisava sempre de muita informação para que pudesse vender a ideia de novas usinas no mundo.
Foi exatamente por isso que ela segurou no punho de Tora, o impedindo de mexer em qualquer outra coisa que não fosse o pendrive.
– Algo está errado. – ela disse, os olhos grudados no monitor.
Pegou a máquina portátil que indicava o nível de radiação da mão do vice-capitão e voltou o olhar para o monitor. Nenhum dos dois homens presentes ousaram retrucá-la. Apesar de Tora ter formação como físico nuclear, certamente o homem não tinha tanta experiência quanto a herdeira da Boreigh Nuclear.
, por outro lado, se pôs atrás da mulher, cuja cabeça não parava de trabalhar, os olhos passeando do monitor para o nível de radiação indicado na máquina de Tora.
– Alguém mexeu nesse monitor. – ela olhou para , que imediatamente levou a mão ao fone de ouvido.
– Beta, confiram quando foi a última vez que a medição manual foi feita no reator 2.
–
Confirmado – Juno respondeu, certificando de que a ordem havia sido recebida.
Menos de dez segundos depois, um palavrão soou no ouvido de todos os integrantes da equipe. A resposta do caçula do grupo veio em um tom mais grave que o normal:
Antes mesmo de ou pensarem no passo seguinte, Lumi exclamou:
E um som de tiro soou para todos.
Capítulo 6
A reação imediata de foi olhar para Tora e sacar uma de suas armas junto do vice-capitão.
– Você cuida do monitor. Beta, teremos que diminuir o tempo de extração.
–
Posso entrar aí imediatamente – a voz de Akito soou no fone de todos.
– Delta, como você está? – , com a voz calma, perguntou, ao mesmo tempo que seu braço trabalhava para empurrar contra a parede, colocando-se à frente dela, servindo como um muro de proteção.
–
Preciso de mais tempo – Juno soou ao fone. –
Só peguei vinte por cento.
– Delta – chamou por Lumi novamente. pode enxergar a urgência no tom de voz do capitão, ao mesmo tempo que o homem mantinha a postura fria e ereta. – Beta, tente acessar as câmeras próximas do reator 2. Precisamos saber quem está aqui.
Dessa vez foi possível ouvir a voz ofegante da soldado.
–
Eles fugiram. São quatro. Acertei um, mas não o suficiente para derrubá-lo. Correram na direção norte.
– A saída de trás – imediatamente disse, relembrando ao grupo do local que havia apontado para utilizarem de entrada e saída do plano.
– Eles não sairão por pelo menos 9 minutos – relembrou da rota que haviam cogitado utilizar. – Beta, pegue toda e qualquer câmera ligada a essa saída. Precisamos saber quem são. Delta, onde está?
–
Conferindo se não há mais ninguém.
–
Negativo – Juno disse –
, estou vendo todas as câmeras próximas do reator 2. Não há ninguém.
– Eles devem saber dos pontos cegos. – Tora diz. – Posso ajudar a Delta. Precisamos ir para o reator 1, não é?
mexeu a cabeça para que o vice-capitão seguisse em frente com sua sugestão. Entregou o pendrive que ele carregava para Tora, que entendeu o recado. O homem imediatamente se afastou com a arma em punho.
– Beta-B, averigue os arredores. – manda a ordem para Akito, que responde um ‘positivo’. – Precisamos saber se alguém ouviu o som aí em cima.
–
Parece que não – Juno responde –
Estou de olho nas câmeras externas. Até agora nada. Civis caminhando lentamente de volta a seus postos ou em direção à saída.
– Procure também por automóveis. Quanto tempo mais para a extração?
–
Dois minutos. Não vejo movimentações.
Enquanto ouvia o grupo se comunicando entre si para descobrir quem era o outro grupo que havia invadido o trabalho, ficou de olho no monitor. Queria aproveitar a oportunidade de ver o funcionamento de um o máximo que conseguia, para poder comparar mais tarde com tudo o que havia estudado.
– Existe a possibilidade de voltar com as informações originais antes da última medição manual? – perguntou a qualquer pessoa que pudesse ouvi-la. Viu a cabeça do capitão virar para o lado, tendo uma visão da mulher no canto do olho.
– Beta. – mandou a ordem.
–
Positivo, vou fazer isso assim que a extração acabar – Juno confirmou.
–
Estou a um minuto do Delta-B – ela responde meio minuto depois. –
Seguindo com a rota.
– Beta-B. – chama por Akito.
–
Tudo limpo. Devo ir em direção à saída?
– Negativo – responde. – Confira nossa rota de saída. Beta-C, preciso de uma atualização no nível de radiação da usina nos últimos minutos.
–
Leve oscilação dentro do padrão, nada alarmante.
–
Extração do reator 2 finalizada. Atualizei as medidas para os dados originais antes da última medição – Juno diz no fone.
imediatamente olha para o monitor com olhando para ela de canto de olho. O capitão estranha o silêncio da cientista, ao mesmo tempo em que a cabeça da mulher move-se para cima e para baixo, do monitor para a máquina de medição.
– Precisamos sair daqui imediatamente.
–
Precisam sair daí imediatamente. – Dave, o Beta-C, diz ao mesmo tempo que .
– O nível de radiação… – aponta para o monitor e então para a máquina de medição, que começa a apitar.
– Delta, abortar. Saiam imediatamente. – ele ordena para Lumi e Tora, que respondem com um ‘positivo’, ao mesmo tempo que segura no braço de e a puxa para correrem.
A mulher retira o pendrive do monitor e tenta seguir o ritmo do capitão, que garante a segurança dela até encontrar com Lumi e Tora cinco minutos depois no terceiro andar, onde sairiam pela saída de emergência que Juno havia desativado o alarme para que pudessem entrar e sair sem chamarem a atenção.
– Beta, nada nas câmeras? – o capitão olha para o relógio. Já haviam passado bem mais de 15 minutos.
– Merda. – ele diz. – Preparar para retirada. Encontre-nos na saída sul.
– Eu preciso bater o cartão de saída – diz para o capitão, que a encara sério. Antes que ele pudesse dizer algo, a voz de Dave surgiu no fone.
–
Não é uma boa ideia você voltar lá. Precisamos medir se você está com alguma radiação.
– A Águia irá resolver sua saída. – diz se referindo a Tsuru Oshiwa, puxando de volta para o caminho que todos faziam. – Beta-C, prepare o medidor, chegamos em 4 minutos. Delta, como eles eram?
Lumi olhou para e entregou um casaco.
– Todos usavam esse uniforme e máscaras apropriadas. Acho que a missão não era acabar com tudo, mas sim fazer as medições.
– Ou alterações – Tora corrigiu a colega, enviando um olhar sério para seu capitão.
não disse nada, afinal, esse não era o trabalho dele. Olhou de canto para , que tinha uma expressão séria mesmo quando corria. A cabeça da cientista estava a mil. Quem poderia fazer alterações na medição da usina? Por qual razão?
– Por agora, Beta-A, ligue para a Águia e solicite o auxílio com a saída da Alfa-S. Peça para nos encontrar no ponto A em uma hora.
Ao fundo, a sirene apontando a mudança brusca no nível de radiação soou, causando comoção entre os funcionários do turno.
– Precisarei voltar – disse já ofegante. Quando enviou um olhar dizendo-lhe que já haviam combinado o que fariam em seguida, disse: – Com a sirene ativa, é esperado que eu vá para averiguar o que pode estar errado. Minha empresa aprovou o aval de funcionamento desta usina, não posso simplesmente sumir quando um apito berra no ouvido de todo mundo dizendo que eu errei.
O capitão não lhe respondeu nada, mas também não a contrariou. Assim que avistaram o local onde a equipe Beta estava posicionada, o homem anunciou:
– Comece pela S. Ela precisará voltar.
Ninguém ousou retrucá-lo. Enquanto Dave fazia o trabalho de averiguar o nível de radiação em , quase nula e sem perigo, o resto da equipe se livrava das roupas de proteção, desligava os meios de comunicação e guardava em um saco plástico o casaco utilizado pelas pessoas que haviam mexido no monitor.
– Há um caminho livre para você chegar sem que haja desconfiança – Juno diz ainda no computador.
– Eu a acompanho – diz, mas logo o corta.
– Vou sozinha. Não podemos correr o risco – ela diz para o capitão, que a encara sério. A mulher entrega a chave de sua casa para o homem – Vão na frente e encontrem com Oshiwa. Tenho certeza que serei inútil nessa parte da discussão – voltou seu olhar para Juno. – Assim que eu voltar, poderemos discutir sobre os dados do reator 2. Li os últimos relatórios que a Boreigh Nuclear lançou e recebeu da cabeça da usina sobre ele.
Ao se deparar com o silêncio da equipe, manteve o olhar com , que a encarava sem expressão certa. Estava sério, mas não parecia aborrecido por ela tomar sua frente nas próximas atividades de sua equipe.
– Vá – ele diz. – Acompanharemos pelas câmeras de segurança. Vá pelo caminho mais aberto.
assentiu e respirou fundo, saindo correndo ao som das sirenes ao fundo.
olhou para Dave, que terminava de verificar Tora. Sua equipe lhe encarava; alguns com um sorriso no rosto, outros querendo segurar o riso.
– Coloque as câmeras do caminho da doutora na tela, Juno – Akito quem quebrou o silêncio – Nosso capitão quer acompanhá-la.
Juno e Dave não puderam evitar dar uma pequena risada, que logo sumiu ao receber o olhar cortante de .
Lumi, por outro lado, não pareceu ser afetada pela expressão mortal do capitão e foi logo direto ao ponto:
– Vá pelo caminho mais aberto? – ela deu um tapinha no ombro do homem. – É sério?
– Eu disse que ele precisava ter saído mais – Tora comentou, guardando a prova, o casaco, em segurança até que fosse entregue a Tsuru. – Olha só o que a falta de namoro faz.
O capitão não disse nada, mas ninguém gostou quando ele fez o grupo estacionar no local onde estavam pousando, para em seguida irem a pé com todos os apetrechos de trabalho até a residência de Boreigh.
– B O R E I G H N U C L E A R –
– Onde você esteve? Achei que tinha ficado para trás – perguntou quando se juntou a ele dentro da usina.
– O que está fazendo aqui? Você disse que não é o seu turno.
O colega ergueu os ombros.
– A maioria de nós voltou para ver se poderíamos ser úteis em alguma coisa. Nunca ouvimos a sirene fora da situação de teste de evacuação. Você acha que…
– Não – o cortou e olhou para os superiores presentes correrem de um lado para o outro – Preciso ir até lá.
arregalou os olhos e virou para olhar na direção da movimentação.
– Acha que eles deixarão você ajudar?
A mulher abriu um sorriso e apontou para o relógio.
– Estou fora do horário de trabalho, o que quer dizer que vou como uma representante da Boreigh Nuclear.
– Ah – o colega riu e deu um passo para trás, fazendo uma reverência para que ela seguisse em frente. – Se precisar de alguma coisa, estarei passando nervoso aqui embaixo.
O que encontrou foi uma equipe noturna discutindo entre si o que pode ter sido.
– Talvez a última vez que alimentaram o bóreo…
– E se bloquearmos a entrada da água?
– Já ligaram para o diretor?
– Bloquear a água só causará um superaquecimento, colocando a usina realmente em perigo. – disse, chamando a atenção de todos.
– O que está fazendo aqui? Técnicos base não têm permissão de entrar…
– Não vim como técnica – ergueu a sobrancelha para o homem à sua direita –, vim como a representante da Boreigh Nuclear, que fez a última inspeção nesta usina. – olhou para os demais homens espalhados pela enorme cabine – Alguém, por acaso, pensou em avaliar novamente o nível de radiação? O que está sendo apontado no monitor? Dei uma olhada lá embaixo, e nada parece estar fora do padrão.
Viu de relance que a tela principal da cabine apontava que o problema estava exatamente no reator 2, o que significava que a equipe que havia mexido nas informações do monitor mais cedo queria causar uma catástrofe.
– Você não tem permissão de fazer nada, mesmo sendo parte da empresa que verifica…
– Eu tenho permissão de fazer qualquer coisa que possa colocar a vida das pessoas em risco, ou você não sabe que quem dá o aval para esta usina funcionar sou eu? – ergueu uma sobrancelha para o homem à direita. – Se quiser, chame os diretores, posso falar diretamente com eles, já que, aparentemente, você está mais preocupado em ter uma mulher estrangeira fazendo o devido trabalho, do que lidar com a sirene que não para de soar e que a cada segundo aterroriza mais e mais os moradores da região.
Ninguém ousou dizer nada. Um dos homens teve a esperteza de fazer o que pediu e atualizar o sistema para que desse novamente o nível da radiação do monitor. Imediatamente a sirene parou de soar e as luzes vermelhas se apagaram, dando espaço para as verdes.
O homem que discutia com a encarou, e a mulher somente ergueu uma sobrancelha.
– É preciso de um novo treinamento sobre situações de emergência. A equipe claramente não está preparada para lidar com pequenos sustos como este. – ela pegou o celular e digitou alguns números. – Não se preocupe, falarei diretamente com quem manda aqui.
E esperando o outro lado atender a ligação, se retirou da sala. Desligou o telefone sem falar com ninguém assim que se afastou e saiu do campo de visão de todos.
Encontrou o colega de trabalho a aguardando no mesmo lugar que haviam se separado.
– Voltou ao normal? – a encarou ainda com os olhos arregalados, mas os ombros visivelmente mais relaxados, assim como os demais funcionários.
– Um problema no sistema e falta de preparação da equipe noturna. – disse com um pequeno sorriso. – Nada demais. Vou solicitar uma revisão do monitor e da segurança.
– Ah… – respondeu aliviado, olhando para os colegas, que juntos suspiraram sabendo que poderiam dormir tranquilos. – Bem, então vamos embora.
– Eu preciso passar meu cartão de saída – sorriu sem graça – Na hora do treinamento eu acabei me esquecendo.
O colega abriu um pequeno sorriso e colocou as mãos no bolso do jeans.
– Vamos lá, eu te faço companhia.
– Não se preocupe – sorriu – Posso ir sozinha. É rápido.
– Exatamente. É rápido. – o homem disse com um sorriso. – Hoje é sexta, então posso dormir tarde. Meu próximo turno é só domingo mesmo.
A mulher ergueu os ombros e agradeceu a companhia.
– O que costuma fazer para relaxar? – ele puxou o assunto com ela, enquanto a assistia dar baixa em sua saída. – Eu suspeito que tenha algo a ver com trabalhar ainda mais, mas vou fingir que você não é uma doida
workaholic.
riu e assegurou que a alça de sua bolsa estivesse segura em seu ombro, caminhando lado a lado com na direção do estacionamento, onde encontraria com o motorista que a levaria para casa.
– Eu gosto de beber um drinque, comer besteira e assistir a filmes.
– Veja só, ela é um ser humano normal! – anunciou para os demais funcionários que saíam ao mesmo tempo que eles. Todos encararam os dois como se fossem doidos, enquanto ria da palhaçada de do colega. – O que está esperando?
– O motorista – ela olhou para o celular –, era para ele estar aqui.
– Lado errad– ah – ponderou e então começou a rir. – Acho que são vocês quem dirigem do lado errado.
– O quê? 98% do mundo dirige do lado esquerdo.
O homem fez uma careta e levantou os ombros.
– O que só prova que vivemos em um mundo todo errado. Pegue. – entregou um capacete para , que o encarou boquiaberta. – Não se preocupe, na moto não há risco de dirigir do lado errado.
– Te dando uma carona. Seu motorista te deu um bolo e são quase oito da noite. Você provavelmente vive na vila, não é? Não dá nem 15 minutos. – colocou o próprio capacete e ligou a moto. Ao ver que permaneceu parada com o capacete em mãos, voltou a tirar o capacete que vestia e a encarou. – Você tem medo de moto?
– Não preciso de carona, meu motorista vai chegar a qualquer momento.
suspirou e desligou a moto.
– Tudo bem. Podemos esperar 15 minutos. – ele desceu da moto e encostou na mesma – É o tempo que ele levaria para chegar de onde quer que estivesse da vila.
Só que o motorista não chegou. ligou para o secretário, que se desculpou pelo inconveniente e garantiu que arranjaria alguém em até 30 minutos. então, ao ouvir a solução do funcionário de , abriu os braços com um sorriso e entregou o capacete na direção dela.
– Tudo bem – suspirou e pegou o capacete de –, tenho carona.
– Certeza. Obrigada. – e desligou, respirando fundo e colocando o capacete.
– Você perdeu, tipo, metade da introdução do filme com essa espera – brincou pouco antes de acelerar para longe da usina.
Assim como ele havia dito, em menos de 15 minutos a moto estacionava no endereço dito por .
– Obrigada – ela sorriu para ele enquanto arrumava o cabelo bagunçado pelo vento e o capacete.
– À disposição – o amigo sorriu –, andar de moto nessa região é uma boa escolha, até em dias com pouca chuva. É bastante tranquilo.
– Bem, vou me certificar de melhorar meu seguro saúde, você sabe, só para o caso de ser acidentalmente atropelado por uma direção maluca.
– Ei, sou uma ótima motorista!
– Da próxima vez
você me dá uma carona então.
ergueu uma sobrancelha e assistiu o colega acelerar para longe da casa dela.
Assim que se virou, viu que as luzes de sua casa estavam acesas. Lembrou-se de que a equipe do imperador estava lá apenas aguardando por ela. Estranhou, pois não viu nenhum carro estacionado perto.
Antes de abrir o pequeno portão para entrar em casa, no entanto, viu a sombra de um homem sair de perto da janela.
Nota da autora: Não, a fanfic não morreu, é só a autora que é uma doida mesmo, e acaba se esquecendo de betar a própria fic porque tem outras que chegam e ela coloca na frente.
Tchonguices à parte, eu gostei bastante desse capítulo por diversos motivos, hahaha. Ele entregou muito do que a fanfic aborda: um hater (hater?) to lovers, um triângulo amoroso, um girl power com fatos e mistério, porque eu adoro! Hahahaha
Obrigada por não desistirem de mim, mesmo demorando séculos para atualizar <3
Capítulo 7
– Eles pertencem a um grupo chamado Goldwing Nuclear – Tsuru começou falando.
Assim que entrou na própria residência, encontrou a casa completamente alterada com os apetrechos necessários de uma base de comunicação, provavelmente montada por Juno, que trabalhava incessantemente no relatório do reator 2, extraindo todas as informações mais importantes.
A assistente direta do imperador, vestida em seu terno vermelho usual, sentava na ponta da mesa de jantar de madeira nunca usada para servir refeições. estava ao seu lado, em pé, as mãos cruzadas atrás do corpo e as pernas levemente afastadas, enquanto os demais integrantes permaneceram sentados ou em pé ao redor da sala.
Um
obentô foi servido a ela como jantar, mas a mulher resolveu deixar a comida de lado, já que haviam coisas mais importantes para dar atenção do que uma comida pronta.
– Eles tentaram contrato com o governo japonês há dois anos, mas não conseguiram. Não havia credibilidade o suficiente e a ONU insistiu que fechar com empresas menores para diminuir custos, mas aumentar riscos, só faria com que eles fossem mais rigorosos na hora de exigir os relatórios.
– Nunca havia ouvido falar sobre esse grupo. O que eles podem ganhar causando caos em uma das centenas de usinas ao redor do mundo? – Tora pergunta sentado do lado oposto de Tsuru, a postura mais relaxada que a da assistente do imperador e do capitão da equipe.
– Destronar a Boreigh Nuclear – disse, os olhos fixos na mesa.
Ela já havia ouvido falar na Goldwing Nuclear. A empresa havia sido criada por um ex-funcionário, assim como o seu avô Aaron; no entanto, diferente do patriarca da família Boreigh, o líder da Goldwing teve um histórico de corrupção e rebeldia por onde passou. Foi só dois anos após a ascensão da Boreigh Nuclear que Michael Goldwing abriu a nova empresa, achando que poderia ter alguma chance de fazer a fortuna que Aaron Boreigh havia feito. Mas Aaron, além de mais inteligente, tinha um outro ponto a seu favor: sua reputação.
Assim, a Boreigh Nuclear varreu a nova empresa, e todas as outras que vieram antes e depois dela, como se fossem pequenos resquícios de pó. E então nunca mais se ouviu falar delas.
– E o que isso afeta em nosso trabalho? – o vice-capitão volta a perguntar.
– Se há uma empresa querendo boicotar outra colocando nossa população em perigo, tudo muda em nosso trabalho. – Tsuru Oshiwa diz pensativa.
– Para eles terem conseguido entrar com facilidade na usina e feito o trabalho em pouco tempo, então certamente há alguém lá dentro disponibilizando toda a agenda e o mapa de serviço dos turnos. – diz. – Qual a probabilidade das golas brancas estarem envolvidas?
Tsuru parou para pensar. A pergunta de era extremamente pertinente. Se algum dos diretores, coordenadores ou gerentes da usina, chamadas pelos serviçais de golas brancas devido ao uniforme mais refinado, estivesse envolvido no esquema daquela tarde, então era quase certo que alguém além deles também estivesse.
As duas, assim como o capitão, sabiam do motivo pelo qual aquela missão foi criada. Para que o imperador soubesse se o governo estava fazendo um bom negócio ao considerar os países próximos dele, extremamente perigosos, como possíveis aliados de negócio no meio nuclear. Se os próprios estavam envolvidos no problema desta tarde, a equipe estaria trabalhando não a favor do imperador, mas contra o governo do Japão.
– Precisamos ter muito mais cautela a partir daqui. – Oshiwa disse. Era tudo o que poderia dizer, já que precisava discutir o ocorrido com o imperador. O homem sem dúvidas tomaria a decisão que ela apontasse ser a melhor, mas ainda assim a última palavra precisava ser dele. – Temos que diminuir o prazo de entrega.
– Temos que saber quem são exatamente esse pessoal, e se teremos problemas com eles da próxima vez – finalmente toma a frente. Tsuru o encara séria. Não é comum ter seu capitão questionando suas decisões. – Hoje demos sorte de termos encontrado uma equipe desarmada ou despreparada para o ataque, mas com Lumi atingindo um deles, seria muita ignorância partirem para uma próxima sem a devida preparação. Não podemos nos arriscar às escuras dessa forma.
Tsuru respirou fundo. Não gostava da cautela excessiva do capitão , mas um dos motivos pelo qual confiava cegamente no homem, era porque ele sempre concluía seu trabalho com sucesso.
– Vou aumentar o budget de investimento. Façam as melhorias necessárias para realizar o trabalho o mais rápido possível. Tenho certeza de que não sou a única a querer resolver tudo isso logo – olhou para , que assentiu. A mais jovem concordava com Oshiwa, mas ainda mais com . Havia passado pela surpresa mais cedo e não queria imaginar como seria estar no meio de uma guerra. Não tinha preparação física, nem psicológica para lidar com um joguinho de pega-pega com armas.
Após discutir com a equipe por mais meia hora, a representante se despediu do grupo, deixando o resto para que o capitão resolvesse com seus integrantes. Exigiu, apenas, que fosse lhe enviado relatórios diários sobre as decisões do grupo.
– Precisamos saber mais sobre essa empresa – olhou para Juno, que assentiu com a cabeça. – E pensar em um novo plano para chegarmos até o reator 1. – voltou seu olhar para Tora, que fez um sinal de comando recebido. – Também precisamos de um estudo melhor do mapa local. – passou a ordem para Dave, que murmurou um ‘sim senhor’. – Boreigh ainda precisa verificar o que mudou do que foi extraído hoje, de seus próprios relatórios. Vamos aproveitar amanhã para estudarmos melhor isso. Voltamos a nos falar à noite.
– Sim senhor – o grupo, com exceção de , falou junto.
– Vão descansar – o capitão mandou.
De forma eficiente, o grupo se movimentou, guardando todo o material necessário para ser transportado de volta para o local onde estavam hospedados, um pouco afastados da cidade. Ao abrirem a porta, lembraram que, por punição do capitão, haviam vindo a pé, o que significava que havia uma caminhada de 30 minutos de volta para o local de descanso.
Entre resmungos e palavrões, os cinco integrantes se despediram de e começaram a fazer o caminho de volta.
– Tranque as portas e janelas – diz para , quando viu que era o último a sair. Entregou um objeto que cabia na palma da mão da mulher. – Se ouvir qualquer coisa estranha, aperte este botão. Estarei aqui em 5 minutos.
– Não tenho medo de baratas – a cientista comentou, vendo o olhar do capitão brilhar um resquício de diversão em sua direção. Os dois permaneceram calados sob a luz da porta da frente e da lua crescente no céu. – Sei me virar bem, mas obrigada.
Com um discreto movimento de cabeça, assentiu e olhou mais uma vez ao redor, apenas como um hábito de segurança, e se afastou de , caminhando atrás do grupo que já havia virado a esquina.
apertou os lábios e esperou o homem sumir nas sombras antes de entrar em casa. Trancou a porta e encostou nela. Levou a mão ao coração, que batia um pouco mais rápido do que o normal.
”Foi um dia e tanto.” Pensou, justificando a velocidade mais rápida do órgão.
Mas até fechar os olhos para dormir, tudo o que conseguiu enxergar foi os olhos de um homem que não deveria mexer consigo.
– B O R E I G H N U C L E A R –
O sábado começou como outro qualquer.
acordou cedo e fez o exercício matinal. Sentiu as pernas um pouco doloridas da correria e da tensão do dia anterior, mas mesmo assim concluiu sua rotina.
Após o café da manhã, sentou-se para continuar lendo o relatório extraído por Juno do monitor do reator 2. Na noite anterior conseguiu apontar algumas diferenças, mas nenhuma que pudesse fazer polêmica com qualquer pessoa ou organização.
Pediu a seu assistente nos Estados Unidos, para que fizesse uma pesquisa sigilosa sobre a Goldwing Nuclear e tudo o que pudesse envolver a Boreigh empresa ou família. Seu sexto sentido lhe dizia que uma empresa não iria simplesmente fazer uma usina derramar radiação gratuita só para provar uma mentira. Poderia haver mais que isso, algo mais… pessoal.
Na hora do almoço, decidiu ir até algum restaurante local ou simplesmente um mercado. Precisava sair de casa para espairecer a mente. Ficar lá somente a faria permanecer com a cabeça enterrada entre relatórios e trabalho. Tinha que aproveitar a oportunidade do erro do dia anterior para pressionar os superiores responsáveis pela usina; talvez fazer alguns dos homens que a tratou mal até então tremer de medo, ou, quem sabe, começar uma limpeza interna na sujeira que era alguns integrantes daquela administração porca.
A vila inteira cheirava à brisa do mar. O sol estava alto, mas não havia calor naquela época do ano, só refrescância, por isso, sentiu vontade de comer algum fruto do mar com vista para a infinitude da água. Caminhou lentamente até a orla e passou a procurar por algum lugar bom para comer.
Acabou achando um pequeno restaurante com uma fila enorme. Quanto mais tempo puder permanecer longe de casa, melhor. Precisava respirar ar fresco e descansar a mente e a alma de todos os problemas. Sempre foi o tipo de pessoa que gosta de respeitar as necessidades humanas de sair, se divertir, descansar e não fazer absolutamente nada. Sabia quando precisava parar.
– Oh! É a ! – ouviu uma voz lhe chamar.
Ao olhar para uma mesa localizada bem à frente, com vista privilegiada para o mar, encontrou com óculos de sol e um sorriso enorme no rosto. Diferente do uniforme cinza da usina, ele vestia uma camisa de manga curta azul claro e uma bermuda laranja. Estava compartilhando a mesa com outras duas pessoas, que pararam de conversar para prestar atenção na nova moradora da vila.
– Veio almoçar? – ele perguntou.
– É, estava dando uma volta e vi que era hora do almoço.
– Está sozinha? Pode se sentar aqui com a gente! – apontou para um assento ao seu lado.
– Não precisa, eu vou entrar na fila…
– Acabamos de sentar! – ele a cortou. – Vai ter uma cadeira vazia de qualquer forma, então aproveite para comer mais rápido! Além disso, pode conhecer meus amigos de infância, Taiga e Kimi.
– Sente-se conosco – Kimi, uma mulher que vestia uma jardineira com saia e camiseta rosa por baixo apontou para o espaço vazio à frente dela –, vai ser mais divertido ter uma garota com quem conversar. Eles só sabem falar de baseball e videogames.
Os dois homens fizeram caretas, mas não se ofenderam com o que a amiga havia dito. Olharam para com grande expectativa, o que a fez se sentir obrigada a aceitar o convite:
– Bem… então vou aceitar, obrigada.
descobriu, naquele almoço, que Kimi e Taiga eram um casal que havia se casado há alguns anos. Eles tinham um pequeno mercado próximo da casa de , o que fez com que ambos se oferecessem para levar qualquer coisa que precisasse para a nova amiga em tempo recorde.
– O que você costuma fazer nos finais de semanas livres, ? – Kimi perguntou interessada. – Eu queria poder um dia ir para Tóquio ou alguma cidade grande. Saí poucas vezes de Kariwa, mas esses dois ficam me enrolando. Acho que se eu conseguir uma amiga, podemos pegar o trem no sábado e voltar no domingo!
– Parece uma boa ideia – disse apenas por simpatia. Ela vivia em Nova Iorque e sempre adorou um ambiente mais tranquilo. Não tinha ânimo para voltar à correria da cidade grande, muito menos para agradar uma mulher que nunca mais veria após o término de seu trabalho na usina.
– Vamos combinar! – Kimi bateu as palmas animada. – Me avise quando você tiver um final de semana inteiro livre, cuidarei de comprar as passagens e alugar um quarto para nós.
– Vai com calma, Kimi – Taiga, o marido, disse amorosamente –, você acabou de conhecê-la e já está a adotando como se fosse um cachorrinho.
– Mas ela é tão linda! – Kimi olhava para com os olhos brilhando. – Não é, ?
O colega que até então prestava atenção na conversa com um sorriso no rosto, se surpreendeu com a inclusão na conversa e se engasgou com a cerveja que bebia.
Kimi olhou com um sorriso maroto no rosto e se aproximou de , à sua frente, que se inclinou também quando viu o sinal da nova amiga.
– Ele está solteiro faz 3 anos. A Sana, sua ex, o deixou para se casar com um cara que a levaria para longe de Kariwa.
olhou para , que ainda se recuperava do susto e limpava com o guardanapo de papel, a sujeira que havia feito. Se lembrava da conversa que havia tido com o colega na usina. A responsabilidade que ele tinha de permanecer com os pais, enquanto a irmã vivia longe de casa com a própria família.
Depois de meia hora, anunciou que precisava ir. Havia gasto quase duas horas com aquele almoço, e precisava com urgência resolver algumas questões, antes que e sua equipe combinassem um horário para discutir todos os problemas maiores e como eles fariam para resolver.
A nova colega mandou que acompanhasse para casa, mesmo com ela insistindo não precisar, já que era uma caminhada de no máximo 15 minutos. Contudo, nenhum dos três integrantes do grupo foi capaz de convencer Kimi do contrário, e por isso e acabaram fazendo o caminho de volta juntos.
– Desculpe pela Kimi – coçou a nuca sem graça –, queria dizer que era o álcool, mas ela não bebeu e você provavelmente vai ser abordada por ela outras vezes daqui pra frente.
– É assim desde quando éramos crianças – ele riu -, ela se casou com o Taiga porque tomou a iniciativa, caso contrário, ele nunca se ligaria em nada.
– Mas os dois me parecem dar bastante certo.
– Ah, sim! – respondeu entre risos. – Eles são perfeitos um para o outro.
Em seguida, um silêncio tomou conta da caminhada. Apenas 5 minutos haviam passado desde o restaurante, então havia pelo menos outros 10 para gastar juntos. Enquanto gostava do silêncio, olhava para os lados em busca de um assunto não tão tedioso para tratar com a colega de trabalho. Contudo, assim que encontrou um motivo para voltar à conversa, ouviu alguém dizer:
avistou o corte de cabelo diferente e as tatuagens ao sol. Lumi abria um sorriso ao reconhecer a cientista. Junto dela, toda a equipe, incluindo o capitão, caminhava na direção da dupla.
– Passamos na sua casa, mas acho que você sentiu fome antes – a mulher disse de bom humor.
– Eu falei que nós almoçamos tarde – Tora reclamou e Dave olhou feio para o amigo.
– Ora, do pirralho, é claro! – o vice-capitão falou, seus cabelos escuros modelados em um alto topete – Ficou acordado até de manhã com os jogos de videogame dele e mal me deixou dormir.
– Eu estava usando fone – o mais novo do grupo falou em tom de tédio.
– Foi a luz, mané, a luz!
– Onde foi que você almoçou? Tem algum lugar legal por aqui? – Lumi olhou para com um sorriso.
– Olhe a educação. A está acompanhada. – Akito disse e se virou para . – Desculpe a nossa amiga, ela é hiperativa e um pouco fora de si. Sou Yuki.
ergueu uma sobrancelha para Akito, que havia se apresentado com um nome diferente do que ele usava entre o grupo. Manteve-se calada quando Dave se uniu ao amigo e disse:
Um por um, os membros da equipe foram se apresentando com nomes que não tinham nada a ver com os nomes reais. foi o último a falar, mas não pareceu muito empolgado para se apresentar a .
– Relaxa, ele é sempre mau humorado – Lumi falou para , que abriu um pequeno sorriso. – Nós o chamamos de Kim.
– Certo, eu sou . Trabalho junto com na usina.
– Vocês almoçaram juntos? – Tora perguntou, um olho na dupla e outro no capitão.
– Sim – respondeu –, ali no restaurante na orla.
– Tem um restaurante na orla? – Dave deu um passo mais perto, as mãos apoiadas na barriga. – Peixe?
– Tem vários tipos de frutos do mar – disse de boa vontade –, se correrem, talvez consigam pegar ele aberto. Fecha às três.
– Nossa! – Dave olhou no relógio, que marcava duas e meia. – Foi mal, mas vou indo na frente pegar mesa!
Com um aceno, e se despediram dos três homens que mais falaram e Lumi, que antes de se afastar sorriu com segundas intenções para , erguendo uma sobrancelha e então fazendo um sinal de positivo com a mão, mas de forma bem sutil.
Enquanto abria um pequeno sorriso para conter a vontade de rir, Juno passou por ela, se despedindo.
O último a se mover foi , que permaneceu olhando para e com o olhar mais frio e antipático do mundo.
– Seis horas. – foi tudo o que disse antes de voltar a andar. Trocou um olhar com , que procurou sustentar, mas viu que o homem estava acostumado a lutar batalhas mais fortes do que as que ele teve até então.
– Uau. Ele tem presença. – comentou quando estava longe o suficiente dos dois.
– É… – disse sem graça, caminhando de volta para casa.
– Ele trabalha na sua empresa?
– O quê? – a mulher olhou para o colega, que percebeu que a cabeça dela não estava presente na caminhada que faziam.
– Não é nada… – ele disse e abriu um pequeno sorriso sem graça.
Durante o caminho de volta, os dois voltaram ao silêncio que estava antes de serem abordados pela equipe. incomodada com o olhar seco de , e incomodado com a existência do soldado.
Continua
já começamos assim, sem escolhas kkkkkkkkkkkkk o lado ruim de ser herdeira (confesso que queria ser uma kkkkkkkkkk)
queria
eu falo que quero fingindo que não tem esse outro lado KKKKKKKKKKKKKK
o gato como, certeiro
ih, me erra
quem é rachel? 🤔
Será que esse bofe de Nova York é o Wonwoo? 👀 seria tudo eles se encontrando no Japão e depois o avô apresentando ele sem saber de nada HAHAHAHAHAHA eu gostei desse primeiro capítulo, e espero super que a pp possa tomar as suas decisões sem a mãe querer atrapalhar. Acho que a Alana, apesar dos pesares, talvez pense na felicidade da filha em algum momento, mas penso que o avô que será o mais de boas com o que a neta escolher kkkkkkkkkk o pai dela, bom, parece não se importar como a Alana se importaria, então creio que ele também será de boas. E Scoups, larga do meu pé. A culpa não é minha que tu nasceu nessa família 😒 to com dó da Violet, espero que a pobi possa ser feliz.
Agora, sobre a nota da autora: não te julgo pq tenho 4 em andamento por ser ansiosa e querer postar logo HAHAHAHAHA
E simm, é um assunto que envolve muuuita coisa! Imagino a quantidade de tempo que você ficou estudando, mas isso só prova que você é uma ótima autora que se importa com a sua história 😌
Já pode mandar o próximo capítulo!
Ps: que capa linda, viu? hehehehe 🤭
Ps 2: adorei a nota da fic falando do Wonwoo 😂 eu coloco um aviso desse tipo também nas nota da autora HSBDJSJSBDJSJSN
larga do meu pé, homi
hehehehehehe toma distraído
hehehehehe
já to adorando a queen que sai recrutando os amigos HAHAHAHA
Scoups, meu querido, se você não entende o básico do funcionamento da sua família, não é culpa minha, viu? Espero que a Violet possa ser feliz e terminar esse casamento, nem um anel o bofe foi capaz de comprar, pai amado.
Sobre o homem da empresa: tua hora vai chegar. Estarei bem plena aguardando a vingança rs
Não tem como, eu amo o DK em todas as fics que ele aparece JSHAVDSGDSHGD já quero ver mais da amizade do pop enquanto espero o Woo dar o ar da graça <3
Ah, esqueci de falar: ansiosa pra próxima att hehehehehe
Sonho
Pode ficar, irmãozinho kkkk
Bom mesmo, Scoups, não me faça te odiar, tu não sabe as fanfics que eu crio u.u
EU RI ALTO COM A COMPARAÇÃO KKKKKK
Sim, por favor, deixem minha solteirice que tô de boa
grosso u.u
gzus
CARAIO, 6 ANOS É MANCADA, HOMEM. TOME PROVIDÊNCIAS, OU VAI OU TERMINA DE VEZ
mano, só em fanfic mesmo pra eu dar lição no Scoups
HEHEHEHEHEHHEHEH
grosso. tá na minha lista de personagens de fanfics, só me aguarde
amém
Já odeio meio mundo da história OAHDPOANSDPOASDP
Sinto que vou querer socar o Nunu quando ele aparecer, procede, produção? Mas pelo menos vai ter meu DK pra ajudar a iluminar esse caminho que além de não ser fácil, ainda é difícil.
Eu não tenho ideia de pra onde vai essa história, mas tenho interesse e tava com saudade de um enredo de mais ação da sua parte :B
Achei ótimo que eu não precisei nem escrever meu nominho ali, já me apoderei da história e já tenho na mente que essa Hellen sou eu mesma HAHAHAHAHHA
ESPERANDO ATT YAAAAAAAAAAY
MEU SONHO (RISOS)
nossa, que pena que eu tenho dessa Violet, tadinha. A bixinha tem todos os sinais de que está entrando em um relacionamento abusivo. T.T
hahahha o tapa na cara bem merecido.
GOXTO ASSIM.
HAHAHAHA li a nota da autora e me identifiquei demais. Tô aqui sofrendo para terminar as três em andamento, mas outras cinco no pente kkkkk
Ainda assim, apesar de saber o caos que é, apoio sim que você nos traga essa história pq já tô roendo as unhas de curiosidade! *-*
Especialmente ansiosa pelo PP <3
o bofe chegou \o/
obrigada pelo otimismo, amg
hehe
amo hehehe
eu adorei ela! espero que possamos ser amigas hihi
pode simmm
eu adoro esses momentos hehehehe
Já quero o próximo capítulo!
Adorei a parte da negociação e como a nossa herdeira é certeira e esperta, e obviamente adorei que o Wonu apareceu hihi
Já tô shippando sem esforço algum, ansiosa pra quando chegar aqueles momentos de alta tensão que terminam com um beijo HEHEHEHEHE
e curiosa também para ver como que será a execução do plano no dia que eles foram pra usina
é claro que ia dar merda na hora da missão, mas tô super curiosa para saber como eles vão lidar com isso HEHEHEHE
JÁ PODE MANDAR O PRÓXIMO CAPÍTULO!!!
EU ADOREI ESSE CAPÍTULO!!!!
me senti assistindo uma série de ação hehehehehe
e eu adoro essas tropes, apesar de não gostar de triângulo amoroso pq acabo torcendo pro segundo prota hehe (mas nessa eu já imagino com quem a gata ficará, então)
E EU AMO COMO A PROTA FALAAAAAA. a gata não deita pra ninguém e é super inteligente <3
aceito mais capítulos hehehehehe
não tem como não shippar os dois, quero romanceeeeeeee
hehehehehehehe
MEU AMOOOOOR <3
heheheheehhehe
podemos resolver isso com um trisal <3
já posso pedir pela att? hehehehe
Também sinto falta dessa aqui, viu?
Aguardando a att também 🤓💜