Natashia Kitamura
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Bipolaridade

Baseada na música Last Nite por The Strokes.

  Olhei ao redor e não me vi mais frequentando aquele lugar. Era como se um dia o pato percebesse que seu bico era diferente dos cisnes ao redor. Como se o cachorro vira lata realizasse que seu dono o tratava diferente daquele companheiro de raça pura. Como se Plutão visse que já não é mais considerado um planeta.
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  Nite. Que nome para um bar. Quem lesse e pensasse sobre seu significado, poderia pensar diversas coisas. No fim, as milhares possibilidades sobre o nome não fariam sentido algum, já que Nite significa nada mais, nada menos do que o nome do cachorro que o dono sempre amou. O mais interessante é ver todas as pessoas, as mesmas pessoas, aparecendo no Nite às sextas-feiras de noite depois do serviço, sem se importar que o dono do lugar seja um tanto paranoico com o falecido animal.
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  Assim que você entra, logo sente o cheiro de uma mistura de nicotina com o adocicado da maconha. Por mais que o fumo fosse proibido legalmente, ninguém em Nite parecia preocupado o suficiente para esconder ou pedir um trago a alguém. Vi algumas pessoas sorrirem para mim, me reconhecendo. Passar quatro anos ali, todas as sextas-feiras, fazia com que você criasse um círculo de relacionamento maior do que se fosse uma garota que fosse a uma balada para catar garotos bêbados.
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  De qualquer maneira, quando fechei a porta atrás de mim, por causa do ar condicionado – que me pergunto até hoje se funciona mesmo -, me exprimi entre todo aquele pessoal até chegar onde sempre ficávamos, no fundo do bar, com as melhores poltronas. Isso porque um dos integrantes de nosso grupo era Alden, o sobrinho do dono maluco do Nite e o gerente do Nite. Por ser o primeiro a chegar dentre todos, sempre colocava, às sextas, a placa de “Reservado” somente para nosso grupo.
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  Fui cumprimentado logo, e as pessoas me olhavam diferente das outras noites. Me sentei na cadeira de sempre, com meus amigos da faculdade. Recebi o grande copo de cerveja e olhei para Nick, meu amigo mais próximo de todos.
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  - Como é que você está? – pelo que entendi, ele estava representando todos os meus outros amigos, que agora formavam um círculo ao meu redor e me olhavam em uma mistura de compaixão, compreensão e curiosidade. Soltei uma risada nasal e dei um gole na cerveja:
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  - Bem.
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  - Bem? – ele perguntou. – Cara, você não parece bem.
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  - São seus olhos. – brinco, o fazendo revirar os olhos. – O que te faz achar que não pareço bem?
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  O vi olhar para os outros presentes no círculo e todos levantaram os ombros. Eu sabia que não estava bem, fazia um tempo que me sentia bem até demais. O negócio era que eles achavam que eu estaria mal, e por isso fazem perguntas como se eu estivesse mal.
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  A questão é que quando você está em um grupo por muito tempo, as pessoas tendem a se intrometer em sua vida pela simples razão de vocês se encontrarem com frequência.
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  Eu namorei por quatro anos, até que ontem, nós resolvemos dar um tempo em nosso relacionamento. Eu cheguei em nosso apartamento e, diferente das outras noites, não a encontrei em frente à TV assistindo à novela, nem em seu escritório terminando alguns moldes das roupas que criava, mas sim sentada em nossa cama, abraçada com seu travesseiro. Quando abri a porta e comecei a desabotoar minha cabeça, vi seu olhar ansioso e nervoso. Pelas pernas que balançam em um tique como sempre faz quando está nervosa, percebi que ela queria conversar comigo sobre um assunto que não seria de agrado meu, dela ou nosso.
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  - Está incomodada com algo? – pergunto me sentando na cama para retirar os sapatos que apertavam meus calos. A senti se remexer atrás de mim e virei meu rosto, vendo apenas metade dela em meu campo de visão.
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  - Eu não estou muito bem. – comentou. Fechei meus olhos. Da última vez que ela falara assim, foi porque sua cadela que cresceu com ela e tivera de ficar na casa dos pais porque em nosso apartamento não eram permitidos animais, falecera. – Sabe, eu acho que estamos um pouco… Distantes.
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  - … – viro meu corpo de modo que ela percebesse que eu estava prestando atenção, mas não dando a mínima para o que ela estava sentindo e que poderia passar em alguns dias, como sempre acontecia. – É claro que estamos distantes, eu trabalho o dia inteiro na fábrica, você trabalha o dia inteiro no ateliê e só nos vemos durante a noite.
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  - Não é isso. – ela revira os olhos. Suspiro e dobro minha perna ainda vestindo minha calça social. Mesmo trabalhando em uma usina, fazer parte da área administrativa me era exigido que usasse traje social no serviço. Menos às sextas, por isso, podia sempre ir do trabalho direto para o ateliê de busca-la para seguirmos até o Nite de metrô. – Você não acha que nossa vida está um tanto rotineira?
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  - , você comentou há dois anos que queria que sua vida fosse rotineira, lembra? Quando disse que queria morar comigo? – reclamei, a vendo bater as mãos no travesseiro.
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  - Você poderia me levar a sério? Por favor? – me encarou séria. – Olha, , eu não sou desta cidade, as pessoas com quem devo ter amizade, na verdade, me odeiam porque sou uma concorrente de potencial que pode derrubá-las, e as que tenho amizade se preocupam mais com você do que comigo! Você poderia, por gentileza, fazer o favor de calar essa sua boca e me ouvir ou ao menos tentar me entender?
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  Nada respondi. Era verdade que não se adaptara à minha cidade.
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  Nós nos conhecemos no segundo ano da faculdade dela, e meu quarto. Ela havia vindo à minha cidade para uma festa que uma amiga dela de colégio havia a convidado, já que as duas se separaram quando o ano acadêmico se iniciou. Assim, acabamos nos pegando e na semana seguinte, nos encontramos novamente, onde acabamos transando e, de alguma maneira, nos apegando ao outro. Semana sim, semana não eu ia até a cidade dela para nos encontrarmos e naqueles que eu não ia, ela escolhia se queria vir até meu apartamento pousar por aqui. Quando me formei um ano e meio depois, ela veio até mim falar sobre nós morarmos juntos. Como eu já trabalhava na usina e ganhava bem, não podia me dar ao luxo de pedir as contas só porque ela queria morar comigo. Obviamente era uma coisa boa para mim e minha mãe tentou me convencer de que o trabalho no banco na cidade de também não era uma péssima escolha. Porém, não senti que seria uma boa ideia porque não gostava da cidade dela, e não gosto do irmão mais velho dela, que vive jogando a indireta de que homens de usina são como caminhoneiros. Solitários e loucos por uma vagina. Sempre achei que ele não conhecesse direito os caminhoneiros, já que tio Martin não é nada do jeito que ele falou. A questão é que deu um jeito, seis meses depois, de transferir seu curso para uma faculdade na cidade vizinha à minha. Dessa maneira, me senti responsável por fazê-la ter um bom lugar para se viver, já que seus pais sempre foram protetores demais com ela e quando os visitei para conhecê-los, a casa dela era completamente fora do meu padrão; do tipo, só terei daqui a cinquenta anos, se começar uma economia de cinco mil por mês. O mínimo que eu poderia lhe oferecer, era este apartamento no centro da cidade, com vários transportes públicos ao redor e um shopping logo no fim da rua. Depois de um ano, comprei um carro porque vi o modo como ela ia vestida para a cidade vizinha e não achei bom os pais dela saberem que a donzela estava caminhando de salto alto no vagão do metrô. O carro é mais dela do que meu, exceto pelos dias que tenho de ir ao supermercado, atividade que ela odeia fazer. Assim, houve problemas para nós dois. Ela, sendo uma pessoa inocente, não se importou de deixar suas amizades e mansão na outra cidade apenas para vir morar comigo sozinha e sem nem uma secadora para suas roupas. Eu tive de pedir aumento por duas vezes para conseguir sustentar a mim e a ela.
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  Quando se formou, passou a trabalhar em um ateliê, onde cria roupas e vende os modelos por preços que estão acima da média, como ela mesma disse, mesmo esse ‘acima’ sendo apenas alguns centavos. Seus pais quiseram manda-la para Milão, eu concordei, mas ela disse que só iria se eu fosse junto. Não é surpresa para ninguém que ela acabou ficando no Brasil.
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  Levantei a cabeça para ela, aguardando as palavras saírem de sua boca. Mesmo que eu entenda o lado dela, mesmo que ela também tenha entendido o meu, minha cabeça não estava boa o suficiente para aguentar essas ladainhas. Hoje de manhã saiu uma nota de corte de gastos e que 70% dos funcionários seriam demitidos. Não sei se sou uma das pessoas, o anúncio será feito somente amanhã, mas seja o que for, não escolheu bem a hora para desabafar:
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  - Estou cansada de ser o seu segundo plano. De ser deixada de lado por você. – disse. Suspirei e coloquei meus sapatos de volta. – Aonde você vai?
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  - Eu não me importo com os seus sentimentos agora, . Não agora. – disse de uma vez, a vendo arregalar os olhos. Abotoei a fivela do cinto e saí do quarto, a deixando para trás pasma.
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  Não que eu tinha para onde ir. Meus pais faleceram antes mesmo de eu formar minha maioridade e meus avós não sabiam sequer que eu existia. Sem irmãos ou primos, tudo o que eu podia fazer era caminhar pela cidade, mesmo não sendo tão seguro assim. Era uma noite de inverno, mesmo assim, não estava frio o suficiente para me fazer ver a fumaça saindo pela minha boca. No entanto, em contraste com a temperatura do meu corpo, eu sentia frio.
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  Caminhei pelo bairro e acabei parando em um tipo de albergue onde a noite custava apenas vinte reais. Paguei com uma nota apenas e me deitei na cama de molas que fazia um barulho desgraçado com apenas um movimento de perna. Por ser quinta-feira, início da balada do pessoal, as molas dos quartos ao redor do meu e ao longo do corredor eram meu pior pesadelo. Sem conseguir dormir, fui até a janela e passei a encarar a noite, minha atividade favorita depois de fumar. Pensei em quando eu era uma criança e não entendia por que meus pais eram tão estressados e cheios de rugas no rosto. Não entendia como poderiam achar a vida tão dura, quando para mim parecia tão fácil de se viver. Quando eles morreram, me perguntei se deveria me sentir miserável por não ter a quem dar presente nas datas festivas, ou por não ganhar presentes, ou então ser acordado com um bolo de aniversário e o som das vozes desafinadas dos dois cantando a música que eu sempre gostava de ouvir. Nunca soube o que eu senti quando vi o caixão dos dois, um ao lado do outro. As poucas pessoas que apareceram disseram que iriam me ajudar com o que eu precisasse, mas a verdade é que nunca mais as vi depois daquele dia.
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  No dia seguinte não falei com . Liguei para a usina e disse que havia acordado com mal estar e iria faltar. Deixei o albergue perto do almoço e voltei para casa porque sabia que não estaria lá. Me troquei e não me importei em ficar por lá. Saí e passei a caminhar na cidade. Por meu trabalho ser afastado da cidade, não corria o risco de alguém de lá me encontrarem por ali. Com as mãos nos bolsos da jeans, vi os casais andarem de mãos dadas e dividirem suas felicidades em estarem juntos – ou por ser sexta-feira.
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  Sem perceber, olhei meu relógio quando era sete horas, horário que eu ia buscar no ateliê onde trabalhava. Peguei o ônibus até o local e quando foi sete e meia, hora que eu sempre chegava, a peguei olhando para os lados, como se estivesse esperando por alguém. Ao perceber que eu estava ali, não soube muito bem como reagir. Olhou para o chão, colocou o cabelo imaginário para atrás da orelha, balançou uma das pernas cobertas pela meia calça, encolheu os ombros e então os soltou por causa do suspiro. Tudo isso enquanto eu me aproximava em passos normais. Assim que cheguei, parei em sua frente, não me importando em saber se estava obstruindo a passagem de alguém. A calçada era larga e a rua não estava muito cheia, apesar de passar bastantes carros.
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  - Oi. – ela disse baixo. Abri um pequeno sorriso que ela sempre dizia ser convencido, mesmo não tendo nenhuma intenção de demonstrá-lo assim, e com um braço apenas, toquei em sua cintura e a puxei para perto de mim e toquei-lhe os lábios.
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  Mesmo não sendo um beijo quente. Mesmo eu não acariciando sua cintura como sempre fiz. Mesmo não envolvendo nossas línguas. Para o que tem acontecido conosco durante as últimas semanas, aquele beijo era a primeira demonstração de amor que eu dei a ela em semanas. Seus braços ao redor de meu pescoço me fizeram entender o tanto de saudades que ela sentia de mim. O corpo colado ao meu sem ao menos me esforçar me ver perceber que quem estava sendo deixado de lado ali não era eu, mas ela.
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  Quando nos separamos, encostou nossas testas, algo que sempre fazia quando se sentia envergonhada e não queria encarar meus olhos. Entrelacei meus dedos entre os seus e me senti na obrigação de dizer:
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  - Na verdade, eu me importo mais com você do que com o trabalho que estou prestes a perder. – falo, a vendo rir e então parar ao perceber o que tinha falado.
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  - Você foi demitido? – se separou bruscamente e me olhou assustada. Levantei meus ombros. – Por quê?
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  - Eu não sei. Não fui hoje ao trabalho. Não me senti bem para ir.
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  - Foi por que…
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  - Não se culpe. Não é sua culpa. – disse. A vi me olhar insegura e soltei uma risada por vê-la tão preocupada com algo que eu havia acabado de pedir para ela não se preocupar. – Vamos. – com a mão que estava com nossos dedos entrelaçados, a puxei em direção ao ponto de ônibus.
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  A verdade era que eu não havia sido demitido, mas com o rumor do número de demissões que seria feito na usina, outra entrou em contato comigo pela tarde, me oferecendo mais para um trabalho menos exaustivo. Mas não precisava saber disso por enquanto, ou irá querer comprar aquele cachorro que tanto quer, e isso significa mudar de moradia.
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  - Cara, a Meg me ligou ontem falando que a tinha ligado para ela aos prantos dizendo que você havia saído de casa depois de falar que não se importava com ela. – Paulo disse preocupado. Sorri.
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  - Eu a fiz sofrer um pouco, mas já pedi minhas desculpas. – comentei.
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  - Eu te disse que você era bipolar, não te disse? – Nick me deu um tapa na cabeça, enquanto meus outros amigos riam e voltavam a conversar entre si, já que a fofoca do dia não havia estourado.
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  Levantei meus ombros e sorri.
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  - Isso nunca fez mal a ela. – coloquei a mão dentro de minha jaqueta, onde a aliança de noivado estava guardada para mais tarde ser usada.
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Fim

  Nota: Esta é uma fanfic sem noção, eu sei. Senti um grande desespero quando ouvi a música, porque para mim, ela não fez sentido algum. Não que seja ruim, mas não me passou nenhuma história na cabeça e essa foi a única que consegui pensar com minha imaginação. De qualquer maneira, espero que tenham curtido (e entendido)!

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