Beauty Enough 2

  Eram quatro da manhã. Os olhos doíam e a cabeça mais ainda. Sua boca abre exageradamente, formando um enorme ‘O’. O cansaço era visível em sua expressão, e também no modo em que sentava no sofá atrás da mesa cheia de botões. Suspira e joga o corpo para trás, encostando na cadeira e sentido sua coluna reclamar por ter mudado de posição tão rapidamente. Olha para o lado e vê jogado no único sofá da minúscula sala, de bruços e a boca levemente aberta com um resquício de baba. Por mais nojento que fosse, sentia inveja do amigo que caíra no sono facilmente há uma hora. Olhou através do vidro que havia a frente e ainda conversava com um amigo deles chamado Sean Alvarez que estaria ali para ajudá-los com o piano em duas músicas do álbum. Bocejou mais uma vez. Ele disse que ficaria ali para ajudar a manejar a mesa, mas com o som do piano em seus ouvidos, seus olhos já piscavam muito lentamente, quase não chegando a abrir:

  - ! – sua cabeça cai para frente rapidamente e então volta a levantar com o susto. Olha novamente para detrás do vidro e vê acenando, ou melhor, apontando para um dos instrumentos. Pela sala em que estava com o amigo deles, Sean, para se comunicarem era preciso apertar um botão para falar:

  - , são quase quatro e dez, não podemos dormir?

  - Estamos quase acabando, mais dez minutos! Pode ligar o neutralizador? – apontou novamente para o objeto.

   então suspira e aperta alguns botões, mexe em outros e lá estão e Sean sentados ao piano ouvindo Sean tocar. Com a cabeça fora do lugar, era claro que não conseguiria ajudar muito dando opiniões, os dois desistiram quando ainda eram duas e quarenta e cinco e havia voltado para seu quarto na outra casa.

  The Maine estava em processo de criação. As letras estavam prontas e eles sabiam exatamente quais músicas queriam tornar audíveis para os fãs. Para gravarem, escolheram ficar em um rancho no Texas para terem toda a tranquilidade do mundo. Ficariam apenas algumas semanas, mas para , semanas eram o bastante. Mesmo que a ideia tenha partido dele, o baterista esperava que eles fossem ficar mais próximos de Arizona ou mesmo de Santa Mônica, onde estava atualmente morando. Quando chegou com a ideia de gravarem no Texas, as esperanças de poder uma vez por semana visitar seus pais ou foram por água abaixo. Já estavam naquele rancho há uma semana e meia; haviam gravado cerca de cinco músicas, mas ainda sentia que estavam longe de irem embora.

  Olhou para o relógio de seu celular, que indicavam quatro e vinte e três. Olha mais uma vez para e Sean, e os dois pareciam entretidos. Não queria atrapalhá-los porque Sean não poderia ficar muito tempo no rancho com eles, então tinham de aproveitá-lo ao máximo. Mas nem os produtores estavam mais ali. Haviam ido embora às onze, mas a banda resolveu ficar mais um pouco para discutirem sobre as músicas em que Sean estaria participando. Quando bateu uma e quinze, disse ter de ligar para a namorada, então se retirou e não voltou mais. ficou ainda mais uma hora e meia até dizer que iria descansar, pois havia acordado cedo para pegar os instrumentos que chegaram na cidade próxima ao rancho. capotou logo no sofá, deixando o trabalho de ficar acordado até quando quisesse para .

  Suspira e resolve fechar os olhos para descansar um pouco a mente, mas foi piscar que estava dando tapinhas em seu ombro:

  - Hey, cara, acorda! – a voz de soava ao ouvido de , que resmungou e mexeu a cabeça que descansava no painel de controle. – Cara, já são dez da manhã, nós queremos começar a gravar a parte do !

   abriu os olhos lentamente e viu parado ao seu lado. Olhou para o lado e os produtores estavam ali rindo dele.

  - Cara, você nem me acordou quando saiu… – disse com a voz rouca de sono. levantou os ombros:

  - Eu dormi lá. – apontou para a sala atrás do vidro, onde , ao olhar, viu os tapetes um tanto desarrumados. – Vê se acorda, temos que aproveitar a manhã para gravar.

  - Eu já gravei. – disse se levantando e cumprimentando o pessoal que estava a postos.

  - Mudamos algumas coisas, eu e Sean. – disse. – Vamos precisar regravar algumas coisas. Não vai demorar, até porque já está aí.

  - Está? – se endireita em um pulo, vendo todos rirem dele. – Ela disse que só chegaria depois do almoço!

  - Sim, mas alguém enviou um SMS para ela implorando por comida de verdade. – diz apontando para , que ainda estava adormecido no sofá. deu uma risada e passou a mão no cabelo, tentando, em vão, arrumá-lo. – Continua feio. – diz, recebendo o dedo do meio de no meio da cara. – Tentei acordar o , mas você sabe como ele é quando quer continuar a dormir, veja se consegue.

   o fica encarando, até finalmente dizer:

  - Não me venha com essa cara de pidão, , nós combinamos que você não iria se distrair por causa de . Por isso concordamos que ela poderia vir.

  - Eu sei, eu sei, mas ela só vai ficar um final de semana e depois teremos que ficar mais duas semanas sem nos vermos… – diz entristecido.

  - Como se alguém que a vê 365 dias por ano fosse reclamar de ficar vinte e um dias sem vê-la. – diz com uma xícara de café em mãos. – Mesmo ela fazendo um ótimo café. – ele sorri cheirando a fumaça que saía da xícara. – Se eu fosse vocês, corria para o café, senão vai acabar; ela fez bastante, mas Tim e Larry estão lá. Com as bocas cheias. E as mãos também.

  Todos então foram obrigados a se dirigirem até a casa do lado, onde ficava a cozinha. Assim que entraram, ela estava infestada com o cheiro de café da manhã fresco.

  - Além de bonita, é uma boa cozinheira. – Tim disse com a boca cheia. , ao invés de se preocupar em pegar um lugar para sentar e comer, olhou ao redor. – Ela foi colocar uma roupa leve, chegou direto e preparou o café da manhã quando nos viu tentando fazer o nosso. – apontou para uma tentativa falha de fazer café manualmente. – Parecia até que ela sabia que nós precisávamos de uma cafeteira. – ele disse apontando para a máquina que estava com Matt na frente colocando seu sachê e esperando o café descer. – Esse aí é o melhor, e ela trouxe três caixas de sachês para nós!

  - Sua namorada é perfeita para nós, . – Sean diz sorrindo. – Estaríamos mortos se não fosse por ela estar aqui fazendo a comida.

  - Não pensem que ela é empregada! – disse, exasperado, fazendo todos rirem. – Não me digam que ela não trouxe os cupcakes…

  - Estão na geladeira. – ele ouve a voz da namorada logo atrás e se vira com o susto. – Bom dia para você também. – ela sorri e ele retribui, lhe dando um selinho e um longo abraço. Receberam algumas bolinhas de papeis dos amigos. – Eu acabei de limpar o chão! – se separa de rapidamente, fazendo os que tacaram, virem correndo pegar os pedaços de papel no chão, com medo de os ameaçá-los de não lhes preparar mais nada. Ela deu uma gostosa risada, provavelmente se divertindo com a seriedade que todos a levaram e voltou a abraçar o namorado. – É bom saber que meu namorado procura pelos cupcakes ao invés de mim. Acho que está muito mal acostumado.

  - Você quem me criou assim, não vem me culpar. – sorriu com as mãos ao redor da cintura dela. – Estou feliz que chegou mais cedo.

  - parecia prestes a se suicidar se ele ficasse sem comer algo “gostoso e gorduroso” por mais uma refeição. O que vocês têm comido para ele estar desesperado assim? Eu sei que ele é exagerado e tudo mais, mas ele ligou no meio da minha reunião para perguntar se eu havia recebido a mensagem. – disse com as mãos na cintura. Os presentes na cozinha deram risadas, pois não iriam dizer à namorada de , que era mais como uma irmã mais velha de todos, que eles estavam se alimentando de grãos, comida congelada, pizza e cerveja.

  - Que tal então se você fizer muita comida boa pra gente? – perguntou com um sorriso, perto da amiga, lhe dando um meio abraço e atrapalhando o entrosamento dela com o namorado. o empurrou para longe dela disse:

  - O que eu falei sobre acharem que ela é uma empregada? – colocou as mãos na cintura, em seguida olhou para : – Jen, não faça nada para eles.

  - Ah é? E o bonitinho aí fica com toda a belezura? – diz com o sanduíche pronto em mãos. Os presentes olham assustado para , que aparecera do nada sem fazer barulho algum, mas o susto maior veio logo em seguida:

  - OH MEU DEUS, CUPCAKES DA ! – ouvem a voz de gritar no outro lado da cozinha. Ninguém havia percebido o baixista sonâmbulo entrar na cozinha à procura de água e ir até à geladeira, se deparando com duas fornadas de cupcakes. – É O PARAÍS… , MEU AMORRRR!!! – ele grita com os cupcakes em mãos ao olhar para trás e se deparar com a garota entre um emburrado e um com o sorriso de quem estava se divertindo muito às custas dos outros.

  - EPA! EPA! PODE PARANDO AÍ COM ESSE AMOR TODO! – levanta os braços. – Qual é, pessoal! Respeito!! – aponta para si nervoso, recebendo várias risadas em retorno, o que o deixou ainda mais enfurecido. , que ria junto com todos, o abraçou e depositou um beijo em sua bochecha.

  - Que tal se vocês tomarem o café logo enquanto eu arrumo esse chiqueiro que vocês estão ultimamente chamando de lar? – ameaça olhar para a sala que estava ao lado da cozinha. Ouve risadas sem graça.

  - Não sabia que você varria e tudo mais, Jen. – Dirk, que se mantinha quieto para comer mais, diz. Ele tinha uma mania de comer devagar, o que o fazia sempre perder as boas guloseimas nos banquetes. Descobriu então que fazer os outros falarem muito enquanto ele comia era um grande ponto positivo para ele.

  - Você acha que eu sou rica por quê? Se eu pagasse para uma pessoa limpar toda bagunça que o faz lá em casa, eu teria que desembolsar milhões a cada mês! – ela olha para o baixista que se matava comendo vários cupcakes na frente da pia, aonde deixou alguns para comer sozinho.

  Os amigos presentes riem concordando. Era muito verdade que vivia mais na casa de do que em sua própria casa. Podia-se dizer que não somente ele, mas todos, já que era o único que morava fora de Arizona e eles tinham que aproveitar o verão em uma cidade praiana, indo com frequência para a casa de e . Porém, com todo o trabalho, viu que tinha pouco tempo para visitar sua família ou sair com seus amigos que não faziam parte da equipe, portanto, ele e estavam negociando mudarem a loja de Santa Monica para Phoenix. A garota não estava tão alegre para realizar a mudança, porque sabia que as mulheres californianas gastavam dez vezes mais que as arizonenses. esperava que os amigos pudessem ajudá-lo a convencê-la de ir para Arizona, por isso concordaram que seria uma boa oportunidade terem ela ali com eles no rancho. Dessa maneira cada um poderia ter sua própria chance de conversar com a amiga e tentar, com sucesso, fazê-la se decidir por Arizona.

  - E o almoço? – pergunta com a boca ainda cheia. Todos o encaram sérios, mas ao olharem para , as expressões mudaram de entediadas para uma animada, já que pela primeira vez em alguns dias (semanas), eles iriam comer comida de verdade. passa a mão no cabelo nervoso, mas ao ver olhar para cima pensativa, como sempre fazia quando queria se decidir por algo, desiste de tentar impedi-la de fazer o que os amigos queriam. Ela sempre faria tudo o que eles pedissem, principalmente porque eles estavam sempre cuidando de quando estavam em turnê.

  - Podemos almoçar na cidade e durante o almoço preparamos o menu do final de semana, que tal? – ela diz com um sorriso, recebendo a aprovação de todos. – Então vocês voltam para cá e eu fico lá fazendo as compras necessárias com quem não estiver fazendo nada, dessa maneira acho que não atrapalharei o trabalho de vocês por aqui. – ela cruza os braços com uma expressão feliz por ter pensado nessa ideia. Mais uma vez recebe a aprovação dos amigos, que voltam suas atenções à mesa, enquanto olha para com um sorriso e lhe dá um selinho, dois tapinhas em seu ombro e se dirige para fora da cozinha, indo para a sala para provavelmente começar a arrumação.

   se senta sério na mesa e ao levantar o rosto, vê os amigos o olhando com expressões de riso no rosto:

  - Que é? – pergunta. Foi o suficiente para as gargalhadas brotarem no ar. – Que é? – pergunta mais uma vez nervoso.

  - , você tem que controlar todo esse seu ciúmes! – disse.

  - É, foi você quem pediu para ela vir para cá para nós te ajudarmos. – concordou, terminando de tomar seu café. – Não precisa fazer essa cara feia.

  - Não tem nada de cara feia aqui, onde tem cara feia? – diz emburrado, tirando mais risadas ainda dos amigos. – Estou apenas nervoso porque queria passar um tempo com ela, só isso.

  - Cara, você tem o final de semana inteiro. – diz compreensivo, mas com o sorriso deboche de sempre. – Faça todo o seu trabalho hoje e estará livre para ela amanhã.

  - Nunca vi alguém tão dependente de uma namorada. – Tim comentou, recebendo um pedaço de pão na cabeça. – Ué! Vocês já namoram a mais de um ano e meio, mas mesmo assim os dois parecem que acabaram de se conhecer!

  - É verdade. – diz com a boca cheia. – Pelo menos vocês não têm aqueles apelidos no diminutivo toscos.

  Grunhidos de concordância foram ouvidos por toda a cozinha. deu uma risada e balançou a cabeça. Ele e odiavam esses apelidos infantis.

  Quando eram duas e meia, Dirk perguntou se não poderiam ir almoçar. Colocou a cabeça dentro da sala de gravação e chamou a atenção de todos.

  - Galera, vamos comer?

  - Mais meia hora! –  grita ao fundo. Estavam todos presentes, já que mais cedo pedira para não entrarem na sala, porque havia passado cera no chão. Como para chegar aos quartos era preciso passar pela sala, todos acabaram indo até à sala de gravação esperar a hora do almoço para irem até a cidade.

  - Eu daria meia hora, mas  está limpando e ela saiu do quarto de agora. Acho que ela está com fome e um pouco cansada, porque faz caretas toda vez que se levanta depois de limpar o chão. – Dirk aponta para trás, indicando a casa onde limpava arduamente.

   foi o primeiro a se levantar anunciando o fim da gravação para o almoço. Houve ainda algumas reclamações pela parte de , e alguns produtores, mas Tim explicou que de vez em quando exagerava na dose e acabava por se prejudicar. Fazia parte do trato de amizade deles cuidarem da garota quando ela estivesse passando dos limites. Dessa maneira, todos se levantaram e seguiram para fora, em direção aos carros com ar condicionado.  fora correndo para casa chamar a namorada e a viu limpando as janelas do quarto de e .

  - Hey. – abraça a cintura da namorada, que estava em pé em cima de uma cadeira. Ela olha para baixo e sorri. – Vamos comer?

  - Meia horinha?

  - Nós já demos meia horinha. Jen, se não formos agora chegaremos apenas às quatro na cidade e não haverá nenhum restaurante aberto para almoçarmos.

  Ela então olha para a janela e suspira, deixando seu peso cair em , que a pegou e a colocou no chão. Jogou o pano sujo dentro de um balde e o pegou, fazendo com que pegasse-o de sua mão para ajudá-la. Recebeu um beijo em agradecimento.

  - Terei que ficar no time da gravação depois do almoço. – disse. – Quiseram começar por Sean e havíamos acabado de iniciar em quando Dirk nos chamou, então terei que gravar mais tarde.

  - Tudo bem, faça isso logo e bem feito e amanhã passaremos o dia juntos. – ela sorriu e abraçou o namorado que deixou o balde no chão e a abraçou de volta bem forte.

  - Estava com muitas saudades de você.

  - E eu de você. – diz com a voz abafada. – É muito ruim voltar para casa e não ouvir os barulhos da sua bateria.

  - Então quando eu estou longe, você sente falta, é? Vou te lembrar disso quando vir brigar comigo por causa do barulho.

  - Você sabe que eu não posso ouvir nenhum ruído quando estou com enxaqueca! Não comece! – ele recebe um tapa no braço, mas logo começa a rir, abraçando a namorada mais uma vez. Ficaram um bom tempo ali parados, até receber dois tapinhas no ombro. Virou o rosto para o lado e viu Tim com os braços cruzados.

  - Estamos todos com fome agora, se o casal vinte puder apressar os passos e deixar os elogios para depois…
deu uma risada e antes que respondesse atravessado, pegou a mão do namorado e caminhou para fora da casa ouvindo gritos de ‘aleluia!’ e ‘até que enfim!’ Os dois acabaram entrando no carro com e e ouviam a conversa dos dois calados.

  - Então Jen – chamou a atenção da amiga, que desviou das mãos de para ele. -, estou sabendo que vocês estão pensando em se mudar para Phoenix.

   olhou para , que fingiu estar dormindo e suspirou:

  - Ainda não temos certeza.

  - E por quê?

  - Porque tem muita coisa em jogo, meu trabalho está todo na Califórnia.

  - Mas o trabalho de está em Arizona. – responde.

  - É diferente, . – diz séria. – grava em Arizona, aqui, em outros lugares, tem turnês e tudo mais. Ele nunca está parado em um lugar por muito tempo, e eu tenho somente uma rotina do trabalho para casa.

  - Mas você estará mais perto de nós! – insiste. sorri e não o responde. – Por que não?

  - Minha vida está em Santa Monica. Sei que quer ficar mais perto da família e de vocês, eu falo para ele ir visitá-los de vez em quando, mas por causa do meu trabalho, não posso ter o luxo de ir toda semana para Phoenix. Eu já tenho uma clientela por lá, ganho bem…

  - Jen. Você tem dinheiro o suficiente para não precisar trabalhar por um bom tempo, e o resto dos anos você pode apenas depender do , ele anda salvando muito dinheiro para caso precisem.

  - Não quero depender de . Sei que soa feminista, mas não quero parecer uma dondoca que gosta de cuidar da vida dos outros como meio de diversão. Me sentiria muito mal em ter minhas contas todas pagas por ele e não ter nada para fazer o dia inteiro. Além disso, meu trabalho é algo em sociedade, não posso simplesmente cair fora. Até porque um terço do grupo está com filhos, o outro para casar e eu cuidando de tudo.

   faz uma careta. Sabia que era verdade. ficava muito mais tempo nas lojas e viajando em escala para as outras cidades para acompanhar o serviço deixado pelas amigas. O que para ele não era nada justo. A garota sempre cuidou do trabalho das amigas, mas quando era hora dela se divertir, nenhuma delas tinha tempo para cobri-la. Durante todo o tempo que viviam juntos, e não tiveram uma oportunidade de viajarem juntos ou aproveitarem uma semana inteira sem alguém do trabalho ligando para um dos dois. Isso era o que mais o aborrecia. Diferente dos namorados normais, o baterista culpava às amigas de , que apenas olhavam para seus próprios umbigos.

  Durante o resto da viagem, , e foram conversando sobre assuntos alheios, enquanto pensava em maneiras de convencer a namorada a se mudarem para Phoenix. Estava parecendo impossível. Mas para quem visse o casal que eles formavam… O que era impossível?

  Até chegarem à cidade mais próxima, fora quarenta minutos de estrada. Ao chegarem no restaurante, ele estava consideravelmente vazio, o que fez com que o proprietário do lugar ficasse feliz por ver um grande grupo entrando para comer. Durante o almoço, o grupo ficou conversando muito sobre tudo o que deveriam e faltava fazer. Quando chegou na hora da sobremesa, resolveu iniciar o assunto sobre o menu do final de semana, e então todos desataram a falar ao mesmo tempo, deixando um tanto quanto desnorteada e extremamente emburrado.

  Ao fim do almoço, tinha uma enorme lista de compras, onde Sean, Tim e Dirk iriam acompanhá-la para ajudá-la — a carregar os carrinhos, como disse. Por não poder ficar com a namorada, o baterista era o mais apressado para voltar ao rancho, assim poderiam fazer sua parte do dia mais rápido e quando a namorada voltasse, ficaria com ela por mais tempo.

  O supermercado não era lá grande coisa, mas de acordo com os garotos, soube que não poderia não encontrar tudo o que precisava. Talvez não da mesma marca que usava, mas tinham certeza de que teria todos os ingredientes necessários. Em parte, eles tinham razão. A garota facilmente achou o que precisava da primeira folha, mas quando chegou na segunda, não haviam alguns temperos que ela costumava usar, então teve de pensar o que poderia substituí-los.

  - Então, Jen. – Tim se aproxima enquanto Dirk e Sean cuidavam das listas cinco e seis. A banda aproveitou que o grupo iria ao mercado e acrescentaram na lista algumas outras coisas, como o shampoo anti-caspa do , o gilete de quatro lâminas do , papel higiênico de folha dupla, cotonete do e outros mais. Era uma grande compra. – Qual a diferença entre as consumistas de Phoenix e as de Santa Mônica?

   olhou para o amigo e abriu um sorriso.

  - Agora estou entendo. – balançou o dedo em sua direção. Ele fizera a expressão de confuso. – pediu para vocês me convencerem a ir morar em Phoenix!

  - Não sei do que está falando. – Tim responde rapidamente, colocando as mãos no bolso. – Apenas quis puxar assunto, desculpe.

  A garota ficara sem graça, suas bochechas corando. Tim deu uma breve risada e disse:

  - Mas sério. Qual a diferença?

  Ele a vê olhar para cima e pensar por alguns segundos. Agora entendia o que queria dizer sobre a garota pensar em tudo antes de responder a uma pergunta simples. Então, a viu apenas levantar os ombros e dizer:

  - As garotas de Phoenix não tem muito o estilo da minha loja, por isso, não gastariam comprando roupas nelas. As de Santa Mônica gastam cerca de cinco a dez mil dólares cada vez que vem na loja, a cada duas ou três semanas.

  - Uau. – Tim abrira a boca. – As arizonenses realmente não gastam tudo isso.

  - As californianas acham tudo isso barato. – ela diz. – Olha, eu não me importaria de ir se houvesse um bom público por lá, mas as lojas estão indo bem e com as minhas sócias sempre ausentes, eu sou a única que tenho que tocar elas para frente, entende? Ficar longe de toda e qualquer loja existente aqui nos Estados Unidos seria um suicídio.

  - Entendo. Mas, veja bem, você já passou dos vinte e cinco. E precisa mesmo descansar um pouco. E não é por nada, mas o de vez em quando fica bem estressado porque voltou um final de semana para casa e você não estava lá porque teve que ir para alguma outra cidade.

  - Eu sei. Não o culpo. – ela responde cabisbaixa. – Eu queria lançar uma loja em Phoenix para poder mudar para lá, mas a clientela não tem o mesmo gosto, então não valeria a pena.

  - Eu só acho… Não sei, opinião pessoal, não se ofenda! – Tim vê a garota balançar a cabeça. – Eu só acho que o está fazendo muito por vocês dois na relação, e quando é a hora dele pedir algo, você não pode fazer porque tem de colocar as suas lojas em primeiro plano. Só que desde o início de namoro, o colocou você em primeiro plano.

   aperta os lábios. Aquilo fora um soco no estômago, mas não podia ficar bravo com Tim. Sabia que ele tinha razão. Milhares de vezes se culpava por não poder fazer muito por . Via o namorado sempre ir até onde ela estava, mas toda vez que ele perguntava se poderiam passar o final de semana em Phoenix, ela dizia que não podia.

  Suspira em cansaço, porque não conseguia pensar em uma maneira de balancear as duas vidas, profissional e pessoal, sempre saía perdendo. Vendo a expressão de Tim e pensando que chegara neste ponto de ter de desabafar com os amigos… não sabia que estava assim tão mal.

  Sente uma mão em seu ombro e então ouve Tim falar:

  - Ele não reclama porque está cansado, ele reclama porque ele quer ficar todo tempo grudado em você. Isso parece até uma obsessão para nós, mas sabemos que isso acontece porque ele não passa o tempo todo que quer na companhia de quem ele quer.

   abre um pequeno sorriso e assente, demonstrando que entendera a situação. Ao ver Tim lhe dar as costas para procurar os ingredientes da lista quatro, o sorriso se desfaz.

  Ela não havia entendido nada do que deveria.

  Chegaram no rancho depois de cinco horas. Já era quase meia-noite quando começou a desempacotar tudo e retirar as coisas da sacola. Isso porque entrou na cozinha enquanto ela começava a desempacotar as coisas de geladeira para reclamar do cheiro de produto que estava no quarto dele e de . Como apressara para sair, ela não conseguira terminar de limpar o quarto dos dois; teve de colocar as coisas no freezer e na geladeira de qualquer jeito e correr para o quarto, pois estava acabado por ter dormido pouco na noite passada.

  Demorou cerca de quarenta minutos até ela conseguir terminar tudo e a expulsá-la do quarto para deitar na cama com cheiro de limpeza que ela havia acabado de arrumar. A garota foi limpar os panos que usou e então voltou para a cozinha, onde todo mundo fazia um lanche com o que ela havia acabado de comprar. Sem reclamar, ela pegou o que não estavam utilizando e começou a guardar.

  - Vai uma ajuda, Jen? – pergunta. A garota sorri apenas, mas continua guardando as compras. O amigo inicia a ajuda, mas não termina, pois fora chamado para ajudar a verificar alguns sons que achara que não ficara bom.

   apenas terminara de arrumar as compras quando eram duas e meia da manhã, mas deveria deixar o café da manhã preparado, pois os meninos passavam a madrugada compondo e acordavam famintos no dia seguinte. Com apenas som do vento batendo na casa, ela sentia seus músculos reclamarem, já que havia acordado às cinco da manhã no dia anterior, para ir até o rancho salvar a vida de .

  Sentiu dois longos braços enlaçarem sua cintura e um beijo no dorso de seu pescoço. Automaticamente seu corpo relaxara, deixando sua cabeça pendurar para trás e ver o sorriso de .

  - Está na hora de você dormir… – ele diz. Ela sorri.

  - Preciso terminar só de fazer esses sanduíches.

  - Eles não são aleijados, Jen, conseguem fazer isso pela manhã.

  - É, eu vi mesmo hoje, quando cheguei. – os dois riem.

  - Tudo bem. Vou ser direto então. Eu estou indo para a cama… – sussurrou em seu ouvido. sorriu e abriu a boca:

  - Ahh, sim… Agora eu entendi. Bem, estava mesmo bastante cansada. – começou a guardar as coisas, mas não a deixara terminar. Sorriu e deixou-se levar pela mão até o quarto que dividiriam. estava dormindo com e , mas como estava ali, a suíte – que ficava com Tim -, passara para o casal durante o final de semana.

  A intenção era de acabar com a saudade, mas tudo o que viu, foi adormecer assim que encostou a cabeça no travesseiro. Abriu um sorriso e se deitou ao lado da namorada, a abraçando antes de fechar os olhos e dormir.

  Quando abriu seus olhos no dia seguinte, não pode ver a garota ao seu lado. Com a preguiça matinal, se espreguiçou e enrolou quinze minutos na cama, até decidir se levantar e fazer sua higiene. Tomou um banho, escovou os dentes, colocou uma roupa leve por causa do calor texano que fazia afora. Ao colocar os pés para fora do quarto, quase caíra de bunda no chão por causa da cera que haviam acabado de passar. Correção: Que havia acabado de passar.

  - Amor, cuidado! – corre para ajudá-lo a se manter em pé.

  - O que está fazendo?

  - O que mais, ? Limpando! – ela ri com a pergunta óbvia do namorado.

  - Jen, você deveria estar descansando e me esperando para passarmos o dia juntos.

  - Oras, qual o problema de eu limpar enquanto você dormia?

  - O problema é que você fica cansada de noite e nós não conseguimos aproveitar a presença um do outro! – ele diz mais alto nervoso.

   nada responde. Fazia tempo que não gritava assim com ela. Entendia que ele estava estressado por causa das gravações; achava que seria melhor se ajudasse no que fosse possível para que ele não se sentisse mal. Aparentemente, ela estava errada, como sempre. Toda vez que tentava fazer algo bom para , acabava por aborrecê-lo ainda mais. Pensa no que Tim havia dito no dia anterior. Observa o namorado passar as mãos pelos cabelos e então bufar. Apertou a mão na vassoura que segurava e aguarda por alguma reação dele.

  - Eu vou tomar o café da manhã. – apenas diz e se afasta.

   o acompanha com os olhos, e quando ele saiu de seu campo de visão, suspira e encosta na parede do corredor. Fecha os olhos e resmunga qualquer coisa. Ela havia vindo para visitá-lo, não para ser a faxineira da banda.

  - Burra! – bate a mão na testa.

  - E aí ? Vão pra onde hoje? – Dirk pergunta durante o café da manhã de todos.

  Quando percebem que não há nenhuma resposta, desviam suas atenções para , que continuava a passar manteiga no pão com uma cara fechada. Se entreolham para ver se alguém sabia de algo, mas ninguém parecia entender a reação do amigo.

  - . Aconteceu alguma coisa? – pergunta.

  - Não quero falar sobre isso. – o amigo diz aborrecido. Sem dizer mais nada, ele morde o pão com raiva, não desviando o olhar da mesa.

  Fora assim durante a manhã. Quando estavam para almoçar, resolveu sentar na varanda da casa, onde via o sol ardente queimar seus ombros apenas com o mormaço. Sente uma sombra em sua frente, e ao olhar para cima, estava em pé.

  - Vamos almoçar fora?

  - Achei que você fosse cozinhar para eles.

  - Deixei pré-pronto, mas queria fazer algo só com você.

  - Acho que está um pouco tarde para nós fazermos algo.

  - …

  - Eu estou nervoso, , nervoso! Achei que tivesse vindo para ficar comigo!

  - Eu vim…

  - Mas não parece! Você quer o tempo todo ficar fazendo tudo para eles e até agora não houve um momento que fomos só eu e você! Sabe, eu me mudei para Santa Mônica, porque sabia que se dependesse de você, nós não iríamos nos ver nunca!

   arregalou os olhos ao ver falar dessa maneira com ela. Mas nada se compara ao sentimento que se instalou nela quando o ouviu dizer aquelas palavras. Abriu a boca para pedir para dizer novamente, mas pela sua expressão, ela sabia muito bem o que ele havia dito.

  Sem dizer mais nada, se levantou e rumou para dentro da casa, deixando sozinha na varanda. Depois de alguns minutos em pé, a garota se sentou onde o namorado estava sentado até a pouco e fechou os olhos, encostando-se na cadeira.

  - Podemos conversar? – ao abrir os olhos, vê com dois copos nas mãos. – Trouxe copos d’água, sei que esse calor dá muita sede.

  - Obrigada. – ela aceita. – Ele falou com você?

  - Não. – se senta na cadeira ao lado do dela. – Mas não é muito difícil entender as atitudes dele, você sabe.

  - Acha mesmo que sei? – ela pergunta ironicamente. – Se eu soubesse, não estaríamos brigados.

  - Pode ser. – ele concorda. – Escuta, Jen. Eu sei o quanto você gosta do , mas você sabe que não tem sido uma boa namorada.

  A garota assente. O que aqueles caras tinham para darem de sinceros para cima dela agora?

  - Sinto que tenho liberdade para falar com você, porque somos amigos também e sei que se acontecer algo entre vocês dois, você confia em mim o suficiente para vir falar sobre o assunto.

  - Tudo bem. – ela falou.

  - Você sabe o quanto ele te ama. Sabemos que você também o ama nesse tanto, mas em um relacionamento, apenas sentir não é o suficiente. Você tem que demonstrar também, não só falar. Veja bem, quando disse que iria para Santa Mônica, eu sabia que era porque ele não queria que você se descolasse de lá para vir até Phoenix. Ele se comprometeu em comparecer em todos os eventos e reuniões necessárias e nunca reclamou por ter de pagar aluguel e transporte, coisa que antes ele não precisava. Mas então, seis meses depois, ele está exausto e insatisfeito com a falta de sua companhia.

  - , eu sei que sou ausente. Mas não consigo simplesmente deixar meus negócios de lado…

  - , você tem que ter prioridades. Não são dois dias na semana que fará você falir. O que custa dedicar o sábado e domingo para o ? Olha, ele não é que nem a maioria das pessoas que tem um emprego onde ele tem obrigatoriamente o sábado e domingo de folga.

   olha para o corpo de água com o gelo agora derretido. Sempre soube que não era boa com relacionamentos, achara que fosse agora que ela e namoravam a mais de um ano e meio. Mas com todos falando sobre as reações do namorado quando estão longe… Talvez ela continuasse sendo um desastre.

  - Eu vou conversar com ele. – ela olha para , que sorri. Ao vê-la sair, os membros da banda saem para conversar com o amigo.

  - E então? – pergunta.

  - Ela vai conversar com ele. – diz e todos sorriem. Agora sim ela estava no caminho certo.

  Durante três horas não foi possível saber o que estava acontecendo entre e dentro do quarto dos dois. Os amigos já estavam ficando impacientes por terem de esperar os dois saírem do quarto.

  - Devem estar fazendo aquilo, me entendem? – finalmente diz depois de um tempo dentro da cozinha, onde todos tentavam, inutilmente, fazer a janta.

  Ouve as risadas, pois todos haviam pensado a mesma coisa, apenas com uma diferença de horas. Ouviram então a porta se abrir:

  - Ah, deve ser com peso na consciência porque nos deixou de barriga vazia! – Dirk diz animado, sendo o primeiro a se aproximar da porta.

  Ao contrário do que imaginaram, não viram uma com um sorriso sem graça pedindo desculpas por atrasar com a janta; viram uma com as bochechas vermelhas, os olhos inchados e a mala de carrinho com a bolsa em mãos.

  - What the f… – começa a dizer, mas tampa sua boca.

  - Jen, o que aconteceu? – pergunta se aproximando da amiga, olha para trás dela, mas não estava lá. – Cadê o ?

  A garota levantou os ombros e fungou o nariz.

  - Sabe, um casal que termina demais nunca daria certo mesmo. – é a única coisa que diz, não percebendo todos arregalarem os olhos e tentarem dizer algo, porém, tudo o que aconteceu foi verem a garota sair apressadamente da casa.

  - Mas o que… O que foi… – apontava para os dois lados, onde um estava o corredor para os quartos e o outro a porta que saíra.

  Os amigos se entreolharam e finalmente disse:

  - Eu vou falar com ela.

  - Vou com você. – Tim se apressou a sair de casa atrás de .

  - Eu vou falar com ele. – disse, correndo em direção ao quarto. resmungou algo e correu atrás do amigo.

   , Sean, Dirk, Matt e Larry ficaram na cozinha ainda pasmos com o que havia acabado de acontecer.

  - Acho que teremos que fazer a janta então? – diz depois de um tempo, tendo os amigos suspirando.

  - ! – Tim e gritavam para a garota que terminava de fechar o porta-malas de sua picape. Antes mesmo dela conseguir abrir a porta do motorista, se pôs em sua frente. – Jen, o que aconteceu?

  Ouviu a garota fungar e então olhar para ele:

  - Nós terminamos. Foi isso o que aconteceu. Agora deixa eu ir embora. – tentou abrir a porta, mas Tim colocou a mão, impedindo.

  - Mas por que decidiram terminar do nada? Achamos que vocês estavam se reconciliando.

  - Essa era a ideia! – disse nervosa. – Mas de que adianta? Eu sou uma péssima namorada, sempre fui! O quer alguém que o acompanhe, eu não sou assim! Não sou dessas que desiste da vida por causa de um cara!

  Os dois se entreolham culpados. Mesmo que não tenham dividido a conversa que haviam tido com a amiga, ambos se sentiam maus por terem se expressado de uma maneira que fizesse a amiga achar que era uma péssima pessoa.

  - Durante todos esses anos de namoro… – ouviu a garota começar a falar mais calma com a voz embargada. – Durante todo esse tempo tentou ser o melhor para mim. Ele tinha algum tipo de complexo de inferioridade com beleza que eu nunca entendi o porquê, mesmo todo mundo dizendo que estava na minha cara. Mesmo assim… Ele sempre deu o melhor dele. – ela olhou para baixo e sentiu o choro voltar. – E no final das contas, eu sou o problema da nossa relação. Sou eu quem sou feia por dentro e por fora, que faço ele sofrer assim e sentir tudo sozinho.

  - Jen, não é assim… – abraça a amiga que começara a chorar pesadamente. Tim fazia carinho nas costas da garota e troca um olhar com , ambos pensando no que poderiam fazer para ajudá-la a melhorar. – Veja bem, você não é a culpada. Você não tem culpa de gostar do que faz e ser uma garota independente.

  - Mas vocês disseram…

  - Você disse também? – os dois mexeram a boca sem soltar som, olhando acusadamente um para o outro, fechando os olhos aborrecidos e passando a mão no rosto.

  - Olha, nós só dissemos aquilo porque achamos que você estava procurando uma maneira de ficar mais perto do . – Tim disse entrando no campo de visão da amiga. – Não porque queremos dizer que você é a culpada da relação não estar indo bem.

  - Vocês estão bem para mim. – diz.

  - É! Jen, olhe… Ninguém é perfeito. O não gosta de você por causa de suas perfeições, há vários defeitos em que você que provavelmente ele ache bonito, apenas porque é você, entende?

  - Mas ele disse que não queria um relacionamento em que só ele oferecesse e não recebesse nada em troca.

  - Ninguém quer, Jen. – disse, se afastando da amiga. – Você também não quer. E não é que a maneira de resolver isso é fazendo o que ele quer. Há outras soluções para um problema.

  A garota olha para os dois amigos e então olha para o chão, balançando a cabeça, os vendo soltar o ar, exaustos.

  Quando e entraram no quarto, pensaram em ver detonado como fora na outra vez que ele terminou com . No entanto, tudo o que viram foi um garoto deitado na cama jogando Temple Run em seu iPad.

  - Hey. – diz se aproximando e se sentando na cama. – Vamos conversar?

  - Não. – responde rudemente. – Na verdade, sim. Por que diabos vocês se intrometeram na minha relação e de ?

  - Wow, wow, wow! Vamos parando aí, senhor advogado. Não fomos nós quem nos intrometemos na sua relação, mas você quem pediu para nós ajudarmos.

  - Eu pedi para vocês me ajudarem a convencê-la a ir para Phoenix, não para convencê-la de que ela é o problema da nossa relação!

  - O quê? – se aproximou rapidamente, se sentando na cama também. – Quando ela falou isso?

  - Em um dos momentos que estava chorando, ou talvez naquela hora que ela começou a gritar e tacar as coisas dentro da mala. – fingia ironia enquanto dizia.

  - , não fomos nós quem colocamos essas coisas na cabeça dela, então pode parando com essa ironia toda.

  Veem o amigo bufar e passar a mão no rosto.

  - Nós terminamos. Fim.

  - Vocês terminaram ou você terminou?

  - Acham que eu sou idiota? – diz nervoso. – Por que eu traria ela para esse fim de mundo para terminar com ela? É ÓBVIO QUE ELA QUEM TERMINOU COMIGO!

  - Por quê? – pergunta.

  - Por quê? Porque algum idiota falou pra ela que eu reclamo da ausência dela!

  - Mas você reclama… – diz e recebe o olhar nervoso de .

  - EU DESABAFO, É DIFERENTE! Cara, por que falar isso pra ela? Vocês sabem a cena que eu vi? Eu vi pedindo desculpas por ser uma péssima namorada e dizendo que sempre soube que ela era o problema da relação! Ela!

   fecha os olhos e balança a cabeça:

  - Ela não parava de se culpar e isso me encheu! Estou esgotado!
  - , isso não é razão para terminar…

  - Não, mas ouvir as desculpas dela e em seguida ela dizer que não vai mudar por causa de mim…

  Os amigos suspiram sem saber o que dizer. Olham um para o outro e então para .

  - Você sabe que deveria ir correr atrás dela, se a ama…

  - , cara! Eu sempre corri atrás dela! Por que sou sempre eu quem tenho…

  - ! Ouve a si mesmo! – interrompe o amigo. – A terminou com você por causa de um complexo de inferioridade estúpido! Você acha mesmo que ela terminou com você porque não te ama mais? Provavelmente as pessoas que meteram besteiras na cabeça dela estão tentando se redimir conversando com ela – troca olhar cúmplice com , que concorda com a cabeça. -, mas ela é tímida o suficiente para não conseguir te encarar depois de ter dito o que ela disse.

   nada diz. Olha seu bonequinho em Temple Run morrer seguidamente por ele não dar pause e então aparecer a tela de ‘Game Over’. Olha para e que o olhavam ansiosos por ver alguma reação.

  - Ela ainda está aí? – pergunta para os dois, que confirmam. – Chorando?

  - Acho que sim. – diz. aperta os lábios. Odiava ver chorando, quanto mais por causa dele.

  Suspira e se levanta, tendo os amigos logo atrás de si. Ao chegar na cozinha, aqueles que tentavam cozinhar o veem entrar e é o primeiro a vir correndo até ele:

  - Pelo amor do que é mais sagrado para você, reata com a e faça ela vir fazer o jantar dela. Eu estava tão feliz no almoço, meu sonho não pode acabar assim, foi só uma refeição! , pensa nos seus amigos e na sua…

  - , cala a boca! – Sean se aproxima e tapa a boca do amigo.

  - Obrigado. – diz e os amigos fazem um joinha. Olha para a porta que dava para fora da casa e caminha até ela.

  Ao sair, vê entre e Tim, que consolavam a amiga e tentavam fazê-la parar de chorar. Se aproxima lentamente sério por ver os dois culpados pelo suposto fim de seu relacionamento. Ao verem se aproximar, engolem seco. Tim, que não estava sendo segurado por , dá alguns passos para trás. , vendo que estava preso, dá um sorrisinho para o amigo em meio de desculpas, mas tudo o que ele viu foi mexer a boca e dizer para os dois “Vamos conversar depois.” Olhou para que chorava com seus olhos fechados, como se quisesse fugir da dor, balança a cabeça para , que a desvencilha de si e então segura na mão da garota.

  - Hey… – diz, a fazendo olhar para cima com os olhos muito vermelhos e soluçando. – Eu só quero que você me ame com toda a sua força. Acha que consegue fazer isso? – sorri para a garota que volta a chorar, concordando com a cabeça e o abraçando forte.

   olha para e Tim que observavam o casal com um sorriso e faz uma cara feia, os expulsando do local. Ao vê-los se retirarem, abre um sorriso e volta a abraçar a agora namorada-de-novo.

  - Você está fazendo o bolinho frito, né?

  - , você disse que queria comida saudável.

  - Desde quando bolinho frito não é saudável? – o baixista coloca as mãos na cintura, vendo olhá-lo com uma expressão de riso. – Não ouse rir da minha cara!

  - Nem pensei na possibilidade… – a garota sorria enquanto voltava a encarar a cebola que cortava.

  - Você está fazendo o bolinho, né? – pergunta novamente.

  - !

  - Mas são os seus bolinhos! – o amigo bate o pé no chão.

  - Ela já está fazendo as suas panquecas, dá para sossegar o facho e deixar ela picar a cebola para o meu hambúrguer de amêndoas? – puxa o amigo pela gola e o faz sentar.

   havia decidido ficar até o final das gravações do CD com a banda. Depois de convencida por todos, e principalmente e Tim, que estavam tentando se redimir com pelo quase término do namoro do amigo. Para os homens que viviam na casa, era uma bênção saberem que havia uma garota para limpar e cozinhar para todos eles.

  - É uma grande satisfação te ter aqui, Jen. – adentra na cozinha depois de um tempo. – Entrar aqui e sentir o cheiro de comida de verdade… Não tem preço!

   ri sem graça e olha para , que a ajudava a cortar o pepino para a salada:

  - Agora eu entendi o lance da “empregada”. – falou para o namorado, que levantou os ombros.

   aproveitava o tempo livre para ficar com a garota, principalmente quando não havia alguém – diga-se – perguntando qual seria o menu da próxima refeição.

  Eram quase onze horas quando a garota terminou de colocar a mesa para todos, que já atacavam o que viam pela frente. Mesmo sendo bastante trabalhoso, ela não se importava em cozinhar e ver todos comendo famigerados e sempre elogiando suas comidas. Era melhor do que a época que morava sozinha e fazia aulas de culinária para ninguém comer. Além do mais, o combinado entre eles era ela cozinhar e todo o resto arrumar a cozinha. O trato estava sendo bem feito; uma vez que os meninos ficaram com preguiça, ficou um dia inteiro sem cozinhar, o que os fez seguir as regras como haviam combinado.

  - Hey – ouve chamá-la atrás de si. – Vem cá, quero te mostrar uma coisa. – ele pega na mão da namorada e a puxa para a casa onde gravavam.

  - Precisam que eu limpe aqui? – ela começa a olhar para o local.

  - Não, não. – solta da mão e puxa uma cadeira de rodas. – Senta, eu quero te mostrar uma música que nós fizemos.

  - Sério? – os olhos de se arregalam. – Eu posso mesmo? Tipo, mesmo? Antes de todo mundo?

  - É, por que não poderia?

  - Bem… Achei que fosse ser surpresa para todos.

  - É, mas você é você. E acho justo eu te mostrar uma música que me lembra você.

  - Eu? – a garota abre a boca enormemente, não acreditando que ele tinha uma música que lembrava a ela.

  - Você. – ele ri e pega os headphones, colocando um na cabeça dela e outro na dele. – Pronta? – ao vê-la concordar com a cabeça animada, aperta alguns botões no painel à frente e o som de Thinking Of You começa a tocar.

   ria de acordo com que ouvia a música e prestava atenção na letra. sempre tinha mania de relacionar algumas músicas com ela, como dissera que fez no início do relacionamento com Into Your Arms.

  Ao ouvir os últimos acordes, viu o garoto encará-la com um sorriso nos lábios.

  - Ainda não está completamente pronto, mas não acho que vá mudar muito para o CD… – ele diz desligando os botões que havia ligado há pouco.

  - É perfeita. E… Nossa, , você lembra de mim! – ela sorri descrente.

  O baterista dá uma risada e arrasta sua cadeira de rodinha para mais perto dela. Ao vê-lo se aproximar, o sorriso diminui para um mais tímido e os dedos deslizam pelo cabelo, colocando-os atrás da orelha. Quanto mais se aproximava, mais a respiração pesava. Era como se nunca tivessem se beijado antes. Porém, antes de seus lábios se tocarem, a garota sussurrou:

  - Adivinha só…

   se afasta e a olha confuso.

  - Eu conversei com as meninas… Minhas sócias… Sobre nossa situação. E as coisas não andavam da maneira que nós gostávamos… – ela dizia com um sorriso que não entendeu por que estava ali, afinal, não parecia uma boa notícia. – Eu estava cuidando de tudo e elas recebiam o mesmo tanto que eu… Somos amigas e elas sabiam que era uma questão de tempo até eu reclamar, por isso… A sociedade acabou.

  Ao abrir a boca para consolá-la, mas antes de tentar dizer algo, a namorada o interrompeu:

  - Eu estava pesquisando o local de comércio em uma cidade chamada Phoenix. Conversei com um empresário sobre as oportunidades de lá. Ele disse que se eu tivesse interesse em investir no negócio dele, eu poderia não ganhar o mesmo tanto que eu ganhava em Santa Mônica, mas teria a chance de ter dois negócios em ramos diferentes e acabar, talvez, ganhando mais dinheiro do que eu ganhava.

   não conseguia entender o que ela queria dizer.

  - Então eu pensei, sabe, se valia a pena largar tudo e ir para Phoenix. Esse empresário está mesmo muito interessado em ter um investimento, até porque, a situação para ele agora não é boa e eu apenas teria que entrar com o dinheiro. Acompanhei um pouco o trabalho dele e vi que ele é um cara sério com o negócio que ele tem.

  - O que você está querendo dizer? – pergunta. abre um sorriso.

  - O nome do empresário é Tim… Kirch.

  Os olhos de arregalaram ainda mais do que quando ouvira que ele pensara nela em uma das músicas novas.

  - Você…

  - Que tal ligar para os seus pais e confirmar aquela reunião na imobiliária?