Barco de Papel
sentia o vento frio da manhã bagunçar seu cabelo enquanto caminhava pela margem do lago. Fazia anos que não voltava ali, mas algo naquele dia a empurrou de volta. Talvez fosse o peso da rotina ou a saudade de tempos mais simples. Nas mãos, carregava um barquinho de papel como aqueles que costumava fazer na infância com .
. Só de pensar no nome um nó se formava em sua garganta. Ele fazia parte de cada canto daquele lago. Era como se tudo ainda guardasse um pedaço deles, mesmo tanto tempo depois. A distância entre os dois não tinha começado com o término, mas com as pequenas ausências, os desencontros. Depois de quase uma década juntos – primeiro como amigos inseparáveis, depois como namorados apaixonados – acabaram indo por caminhos diferentes. foi embora da cidade para conquistar uma carreira. ficou, fincando raízes em um lugar que ele sempre quis deixar para trás, mas que para ela sempre foi seu lar.
Agora, anos depois, ela soube sem querer, ele estava de volta. Mas não veio sozinho.
agora estava casado com , uma mulher bonita, brilhante e exatamente o tipo de pessoa que sempre imaginou que ele merecia.
Ela não esperava encontrá-lo, mas o destino, como sempre, parecia gostar de brincar com suas expectativas. Quando levantou os olhos, lá estava ele parado a poucos metros dela, com um sorriso hesitante que trazia mais memórias do que ela podia suportar.
— !
— . — Ela tentou sorrir, mas sentiu a tensão nos lábios. — Não sabia que estava na cidade.
— Voltei faz pouco tempo, mas só de passagem. — Ele se aproximou, os passos cuidadosos, como se temesse assustá-la. — E você…? — Hesitou por alguns segundos — Ainda dobrando barquinhos…?
Ela ergueu o pequeno barco que tinha nas mãos e deu de ombros.
— Alguns hábitos não se perdem, não é?
sorriu, mas havia algo nos olhos dele, uma sombra de nostalgia e arrependimento que reconhecia bem, porque também sentia.
Ele olhou para o lago como se os anos não tivessem passado e eles ainda fossem aqueles jovens cheios de sonhos, soltando barquinhos e fazendo promessas ao vento.
— Lembra de quando dizíamos que nossos barquinhos iam chegar ao oceano? — perguntou ele.
— Eu lembro… A gente achava que nada poderia pará-los.
Houve um momento de silêncio. olhou para as mãos, agora sem os barquinhos, mas carregando uma aliança dourada que reluzia à luz do sol.
— , eu… — começou, mas parou. O que poderia dizer? Que sentia falta? Que às vezes, ao fechar os olhos, ainda conseguia ouvir a risada dela? Que se arrependeu de suas decisões? Aquilo não era justo com ela, e muito menos com .
— Não precisa dizer nada. — Sorriu, dessa vez de verdade, embora os olhos estivessem brilhando com lágrimas que ela se recusava a derramar. se aproximou do lago e colocou o barquinho na água, observando enquanto ele flutuava devagar, sendo levado pela correnteza. — Acho que, às vezes, não importa o quanto tentemos, o vento leva os barquinhos para lugares diferentes.
ficou em silêncio ao seu lado, olhando para o barquinho que se afastava. Parte dele queria segurar aquele momento para sempre, mas sabia que não podia.
— Eu espero que ele chegue longe.
— Eu também.
Ela se virou para ele e, por um instante, tudo o que queria era abraçá-lo, mas sabia que aquilo seria injusto com ambos. Então, com um último sorriso se afastou, deixando-o parado ali, enquanto o barquinho seguia seu curso.
O vento no lago ainda era o mesmo. podia senti-lo enquanto caminhava lentamente pela trilha que margeava a água, o som das folhas secas sob seus pés ecoando pela paisagem silenciosa. Era o lugar que ela sempre procurava quando precisava pensar, quando o peso dos dias parecia demais para carregar sozinha.
Tirou do bolso um outro barquinho de papel – frágil, amassado em algumas partes, mas ainda flutuável. Era uma cópia dos tantos que fez ao longo dos anos, mas este tinha um significado especial. Na base, rabiscado com uma caneta azul há muito desbotada, estava escrito: “Não importa onde o vento nos leve, sempre vou te encontrar.”
não sabia por que ainda guardava aquilo.
Talvez fosse uma forma de manter viva uma parte de si mesma que parecia cada vez mais distante. Talvez fosse a memória de que ela não conseguia deixar ir completamente. Era como se tudo ali ainda carregasse vestígios do passado que ela tentava enterrar.
E já estava mais do que na hora de seguir em frente, conquistar seu próprio mundo e deixar aquilo para trás. Sabia que, parte de si sempre levaria aquelas memórias e seu coração sempre teria um espaço especial para ele, mas tinha que deixar aquilo para trás se ainda quisesse ter um futuro. Quantas vezes deixou oportunidades passarem, ainda presa ao passado?
Respirou fundo uma vez, olhando para o lago antes de se agachar na margem e colocar a dobradura sobre a água, empurrando-a gentilmente com a ponta dos dedos, até que a correnteza o levasse para outro lado.
Ficou parada por alguns instantes, olhando-o se distanciar e sentindo o vento em seu rosto. Deixou uma lágrima solitária cair por seus olhos antes de sorrir para si mesma.
Estava na hora de navegar em outras águas.
Perfeitoo!! Amei!