Aquelas coisas não ditas
— Você sabe que hoje é o dia, né? — perguntou encarando o amigo erguendo a sobrancelha.
apenas soltou um suspiro longo e pesado. Ele sabia. Impossível não se lembrar, mas era o que ele queria fazer, esquecer.
— Sabe também que tá sendo bem babaca se não fizer nada, né? — murmurou ainda mais sério, vendo o amigo se remexer desconfortável no sofá em que estava sentado na sala do dormitório em que dividiam. — Tá, eu fiz minha parte como seu amigo, então… — O rapaz deu de ombros e foi em direção ao seu quarto no segundo andar.
sacou seu celular do bolso da calça e ligou a tela vendo as notificações. Havia uma mensagem de , apenas uma que ele se recusava a abrir desde o dia anterior. Ela estava indo embora e ele não ia fazer nada…
era integrante do BTS, mundialmente famoso, amado por milhões de pessoas, rico, bonito, e com mais algumas outras várias coisas que deveriam fazê-lo muito mais do que feliz… Mas lá estava ele. Largado no dormitório, completamente infeliz. Tudo por causa de uma única pessoa.
e haviam se conhecido há pouco mais de oito meses em uma campanha que a modelo e o BTS haviam feito juntos para uma marca famosa, os oito mantiveram contato durante algum tempo pelo fato de terem que divulgar a campanha juntos, e então uma certa amizade cresceu entre e a garota.
era alguém radiante que raramente não tinha um sorriso no rosto, as coisas deviam estar muito ruins para fazê-la mudar de expressão, admirava aquilo nela. Ela estava há quatro meses em Seul para um curso, o que fez com que a maioria do grupo de kpop acabasse por se aproximar ainda mais dela… E consequentemente, a admiração de cresceu ainda mais.
O ânimo já brilhante do rapaz ficou ainda mais radiante durante esses meses, o que não passou despercebido pelos fãs e muito menos pelos integrantes do grupo.
— Você parece muito mais…
— Vivo. — completou a frase de que encarava um tanto surpreso.
— É, acho que dá para se colocar desse jeito…
— Eu me sinto muito mais vivo! — exclamou com um largo sorriso no rosto.
— E dá pra dizer o motivo dessa animação toda? — perguntou erguendo a sobrancelha.
— Pff… — deixou escapar. — Acho que não preciso nem dizer que o motivo tem nome e sobrenome e atende por .
pareceu ainda mais espantado com a informação, mas após pensar por alguns segundos, percebeu que fazia realmente sentido. A amizade que havia começado há quatro meses, havia se fortalecido muito depois da garota aparecer em Seul para um curso, afinal.
— Bom, a realmente se aproximou muito mais de nós… — murmurou pensativo.
— Ah, você já viu a cara de bocó que esse aqui faz quando olha pra ela? — perguntou apontando para .
— Yah! — o outro reclamou. — Ela é só uma ótima pessoa para se ter por perto. — murmurou um pouco contrariado.
— Hm… Sei. — revirou os olhos.
Naquele instante achava que devia ter levado aquele comentário de mais a sério. Talvez não estivesse naquela situação agora. Ou talvez, se tivesse tido a coragem necessária para falar o que realmente importava, as coisas não fossem tão dolorosas como estavam sendo…
observava dançar na sala de ensaios e vez ou outra tentava imitar seus movimentos, mas não com muito sucesso.
— Até que você não é ruim — o rapaz murmurou parecendo intrigado e ao mesmo tempo satisfeito. — Se quisesse ingressar na carreira de dança, com certeza se daria bem com alguns treinos. — Sorriu para a moça que deu um pulinho de alegria.
— Ouviu isso, ? — perguntou saltitando para o lado do rapaz que até aquele instante só observava. — Acho que talvez eu devesse tentar uma vaga para dançarina auxiliar de shows — ela murmurou pensativa, logo se pendurando no braço de , que sorriu.
— Eu não faria isso, você roubaria toda a atenção dos artistas — ele brincou.
— Não seria problema se fosse com vocês. — sorriu dando um tapinha leve no braço do rapaz antes de sair correndo ao encontro de e que acabavam de chegar.
encarou novamente a última mensagem de :
“Espero que esteja tudo bem com você, me responda quando puder. :)”
Ela não tinha se despedido, não havia dito adeus. Mas também não ia mudar de ideia e ficar. estava se mudando para a Inglaterra, deixando todo o resto para trás. O deixando para trás.
Aquela sensação de solidão só aumentou para quando ele recebeu aquela notícia há algumas semanas. Durante quase toda a sua carreira artística ele havia vivido de uma forma que achava ser completa, até encontrar com e perceber que, na verdade, por mais que estivesse rodeado por pessoas – que assustadoramente pareciam saber mais sobre ele do que ele mesmo – ele nunca deixou de sentir aquela solidão enorme dentro do peito que aparentemente somente tinha o poder de afastar.
Agora a solidão parecia algo palpável e esmagador. E a culpa era dele mesmo. Ele podia ter dito algo, qualquer coisa para ter feito ela ficar. Mas tinha sido covarde no último instante, e ao invés de dizer o que realmente sentia para o pequeno raio de sol que era aquela garota, disse apenas um “eu fico feliz por você” e foi embora.
olhou para o relógio na tela do celular e finalmente se levantou pegando um boné e uma máscara e saindo do dormitório com as chaves do carro na mão. Ele ainda podia conseguir.
Disparou pelas ruas de Seul o mais rápido possível sem causar acidentes e depois de longos minutos, ele finalmente chegou no aeroporto internacional, estacionou em qualquer vaga e consultou o número do voo de , correu para a entrada e foi pedir informação de direções. chegou a tempo de ver o avião para a Inglaterra decolando e aquele peso em seu peito apertou. Tinha chegado tarde e aquele voo levava todos os seus sorrisos e motivação, todos os sentimentos bons e a felicidade. queria ter o poder de voltar no tempo, de se tornar o vento ou mesmo a chuva para impedir que aquele avião partisse, mas nada ia mudar agora. Tudo por causa daquelas coisas não ditas.
Fim
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