All Your Love

  — , nós vamos conversar! — Foi o que exclamou assim que avistou o ex-namorado e o ex-cunhado se aproximando das portas do aeroporto.

  Pouco mais de um mês havia passado desde o término ofensivo com . Ofensivo porque ele sequer havia lhe dado a chance de entender por que estavam terminando. Os dois eram melhores amigos desde a infância e um casal há três anos, para ela, tudo parecia perfeitamente bem até não estar mais e lhe dar as costas simplesmente.

  Ela precisou de um bom tempo para entender de fato que aquela frase que o namorado havia dito era um adeus e um término. não podia acreditar que depois de uma vida juntos, aquela era a forma como havia decidido terminar tudo. Sua reação inicial foi a descrença, obviamente, o que a levou a tentar falar com o rapaz para entender o que havia acontecido. Ela havia feito algo que o magoara? Seria possível que ela havia interpretados todos os sinais dos últimos anos erroneamente? Eles não estavam apaixonados um pelo outro? Mas não estava a fim de dar explicações, então a raiva tomou lugar nas emoções da moça.

   ficou extremamente irritada, frustrada e com raiva da situação que a havia colocado ao terminar a relação. Que diabos estava acontecendo? Naquela fase, xingou e amaldiçoou o mundo, culpando , mas o sentimento que havia nutrido pelo ex-namorado e melhor amigo de uma vida não permitiu que a raiva permanecesse por muito tempo.

  Logo, ela se viu perguntando a todos ao seu redor se havia interpretado as coisas errado, talvez alguém tivesse notado algo que ela não viu.

  — Sei lá, eu sempre disse que o relacionamento de vocês era meio estranho… — Sara murmurou enquanto assistia televisão em seu quarto. — Vai ver ele também se cansou do seu jeito meio frio. — Deu de ombros.

   estava pronta para se defender quando um sinal de alerta se fez presente em sua mente. Ela poderia – provavelmente estava – estar interpretando as coisas da forma como queria porque sua mente não seria parcial naquela situação, mas… Ela queria acreditar que conhecia por tempo o suficiente para poder se dar ao luxo de interpretar suas ações.

  A moça ainda mantinha certo contato com o irmão mais velho de e através dele, soube que o ex-namorado e melhor amigo estaria no aeroporto no dia seguinte para buscar o irmão que voltava de uma viagem de negócios.

  Agora, lá estava ela, frente a frente com o homem que havia levado seu coração consigo naquele dia, um mês atrás.

   a encarava com ar surpreso e um tanto desconcertado. Com certeza ele não esperava vê-la ali, mas a moça não arredaria pé até que tivesse uma conversa decente com .

  — Eu… Vou esperar vocês lá no café — o irmão do rapaz murmurou, um pouco desconfortável com o clima que havia se formado entre o ex-casal.

   estava pronto para falar quando o interrompeu, uma expressão séria que ele poucas vezes havia visto no rosto da moça.

  — , não se atreva a fugir — disse ela, já imaginando o que o rapaz tinha a dizer —, não dessa vez.

  — … Tudo o que eu tinha para te dizer eu já disse.

  — Tudo bem, mas eu não disse! — a mulher exclamou dando um passo largo em direção ao homem, que, por impulso, recuou alguns centímetros. — Eu não acredito que você teve a audácia de terminar comigo daquele jeito, !

   encarou a ex-namorada com certo espanto… Eles teriam aquela conversa ali? No meio do aeroporto? Depois de um mês?

  — Sabe, eu fiquei me perguntando se eu tinha feito algo errado, se eu tinha te magoado de alguma forma…

  — Você não-

  — Shh, agora é a minha vez de falar, ! — interrompeu o ex-namorado mais uma vez. — Eu fiquei tão puta com você, ! Eu queria poder te socar quando a minha ficha caiu! Mas nem para isso você se dignou a me ver, o que, diga-se de passagem, só piorou a minha raiva de você.

  A moça respirou fundo, mas manteve o olhar sobre o ex para deixar claro que ainda não tinha terminado seu monólogo.

  — Depois que a ficha caiu, fiquei me perguntando o que você quis dizer com aquilo de “meu amor só vai até aqui” — fez aspas com os dedos — e por muitos dias eu pensei que significava que você tinha deixado de gostar de mim. — Suspirou, tristonha. — Eu estava pronta para aceitar o fato, sério. Se você não me amava mais, então não tinha o que eu pudesse fazer. — ergueu o dedo para silenciar , que havia aberto a boca na tentativa de dizer algo. — Mas uma parte de mim dizia, ainda diz, que não era esse o caso.

  A moça encarou o ex-namorado e percebeu que talvez ela não tivesse se enganado. Era uma pontada de culpa e remorso que estampava a expressão do rapaz a sua frente. Aquela constatação fez com que a mulher tomasse coragem para prosseguir.

  — Eu posso estar ficando louca e querendo enxergar coisas onde não há nada, mas… Quero acreditar que eu ainda te conheço bem o suficiente.

  — , o que-

  — Não foi por você ter deixado de me amar que terminou comigo — disse ela por fim. — Foi porque você pensou que o que você tinha para me dar e me deu até aquele momento, não era o bastante.

   viu quando a expressão de surpresa e dor passaram pelo rosto de , ele abriu a boca algumas vezes, tentando arrumar o que dizer, sem sucesso. Ela estava certa. E aquilo fez o alívio tomar conta de seu ser e as lágrimas começaram a rolar pelo rosto da mulher.

  — Seu boboca! — exclamou entre uma fungada e outra. — Você acha mesmo que eu passaria três anos da minha vida com alguém que não supre minhas necessidades em um relacionamento? Três anos passando os melhores momentos da minha vida ao lado de alguém que eu não amo e não me ama? — Cada frase proferida era acompanhada de um tapa no peito de , que permanecia parado, sem saber como reagir. — ! — ela gritou e desabou nos braços do (ex?) namorado, que a abraçou com força, segurando as próprias emoções.

  Depois de enfim ter conseguido parar de chorar, os dois se encontravam sentados à mesa de um dos cafés do aeroporto. Ambos se encaravam, tentando encontrar as palavras para conseguirem se expressar.

  — Eu sinto muito, … — murmurou, finalmente. — Depois do que Sara disse e depois de ver os relacionamentos de todos ao meu redor…

  — — a moça o interrompeu novamente —, eu disse que não sou a minha irmã e nós não somos todos! — exclamou, quase indignada. — Eu… nós não precisamos ficar a todo momento nos tocando e atracando em público ou verbalizar um “eu te amo” a todo instante. Nós sabemos o que sentimos um pelo outro, nós conseguimos ter os melhores momentos simplesmente estando juntos, mesmo sem fazer nada… Tudo o que precisamos é um do outro e você quis nos tirar isso!

   encarou o ex-namorado que parecia perplexo e mergulhado em reflexão. Ela sabia que não havia pensado no fato de que os dois tinham ficado juntos por todo aquele tempo porque a forma de amar de ambos era o suficiente para sustentar a relação.

  — O seu amor é muito mais que suficiente, seu bobo — murmurou enfim, sem esperar uma resposta em retorno. Juntou seus lábios com os de e soube de imediato que eles permaneceriam juntos, porque todo o amor dele e todo o amor dela era tudo o que os dois precisavam.