Alianças de Papel

   encarou aquele papel enrolado que estava sobre sua penteadeira e sorriu. Não conseguia acreditar que havia aceitado aquilo de . Se fosse anos atrás talvez ela tivesse dado um berro de irritação e jogado a coisa mais próxima em direção a ele, mas naquele momento ela estava, como os poetas diriam, louca de amor. Aquele papel enrolado minuciosamente era sua aliança que havia chegado com um pedido de casamento que todos sabiam que viria, só não sabiam quando.

   e se conheciam desde a infância, sendo o melhor amigo de seu irmão mais velho. Os dois não tinham muito em comum à primeira vista, amava o luxo que seus pais podiam lhe oferecer, vinha de uma família mais simples, se comparada a dela; ela gostava de ir para festas nos fins de semana, enquanto ele ficava em casa para estudar ou aproveitar para descansar; ele queria tentar uma bolsa na faculdade, ela não estava muito interessada em fazer um esforço a mais. Quem via de fora, via o estereótipo da patricinha e do garoto ignorado. Mas não foi bem assim por tanto tempo.

  Ao entrarem na faculdade os dois começaram a perceber que começavam a ter mais coisas para conversar, ela cursando química e ele audiovisual, uma troca de caminhos inesperada para quem os conhecesse no colegial onde ele era o estudioso que adorava fazer experiências no laboratório e ela a garota que gostava de imagem e design.

   não sabia bem quando aquela amizade de anos havia virado o que quer que eles fossem no início da relação. Nenhum dos dois queria estar em um relacionamento sério quando as coisas foram acontecendo, mas estavam dispostos a tentar manter aquilo que sentiam um pelo outro e deixar acontecer.

  — Eu tô começando a sentir saudade disso todos os dias… — murmurou dando um beijo na testa de que estava abraçada a ele enquanto esperavam a chuva passar sob uma marquise.

  — O que, se ensopar todo e morrer de frio? — a garota perguntou brincando.

  — Esqueceu de colocar um “com você” no final da frase.

  — Bobo.

  — Mas eu sinto sua falta todos os dias. — Ele continuou.

  — A gente se vê praticamente todos os dias, . — ergueu o olhar para poder encarar o melhor amigo de seu irmão, agora o seu algo mais.

  — Mas eu sinto sua falta mesmo assim. Na hora que eu te deixo todos os dias eu já começo a sentir saudades.

  — E o que isso significa? — ela perguntou voltando a se aninhar no abraço.

  — Sei lá… — ele murmurou. — Só sei que eu gostaria de poder dar nome ao que nós somos… Se você não se importar…

   lembrava de ter ficado estática por alguns segundos, tentando processar o que havia sido dito, e logo em seguida ter dado um gritinho de surpresa e alegria quando tudo começou a fazer sentido. Ela também queria poder dar um nome ao que eles dois eram, então foi com o mínimo de esforço que ela respondeu que não, ela definitivamente não se importava. E foi naquele dia que eles de fato haviam se tornado namorados.

  Depois disso eles viveram o que poderia ser descrito como um romance de cinema, obviamente nem tudo era sempre perfeito, mas era perfeito o bastante para continuar existindo. Depois de terminarem as faculdades ambos decidiram se mudar para um loft juntos e se lembrava nitidamente que havia sido ali que o símbolo do noivado deles havia surgido.

  — Não é muito grande e a gente vai ter que ter uma certa criatividade para a decoração e a banheira, mas… — murmurou enquanto olhava para o loft que havia alugado e estava convidando sua namorada para se mudar junto.

  — , se for com você eu não me importo para onde a gente vai. — Ela observou o lugar com um sorriso. — Eu usaria até mesmo uma aliança de papel se viesse de você.

   sorriu e se aproximou da garota que amava a abraçando com força.

  — Vou me lembrar disso, . — Ele riu selando seus lábios com um beijo terno.

  E lá estava, quatro anos depois, a aliança de papel.

  Quando colocou aquele aro de papel envernizado em seu dedo como quem não queria nada, no meio de um jantar romântico em um restaurante, não estava entendendo muito bem.

  — Uma…

  — Aliança de papel. — finalizou a frase da namorada com um sorriso.

  — Mas o que… — parou de falar e ergueu o olhar para o namorado. — Não! — exclamou não acreditando.

  — Só se você aceitar. — sorriu de lado.

  — É claro que eu aceito! — Ela deu um gritinho contido e se levantou para poder abraçar e encher de beijos o agora seu noivo.

  — Eu ainda não sei como viemos parar aqui. — abraçou sua noiva por trás ao perceber que ela observava a aliança de papel que ele havia lhe dado.

  — E a gente precisa? — riu se virando para poder beijá-lo.

  — É só que quem diria que um dia a gente ia estar se mudando juntos, construindo uma vida nós dois e prestes a nos casar?

  — A gente nunca sabe o que pode acontecer. — riu. — Mas o que eu sei é que eu quero você. Quero estar com você nos melhores dias, nos piores, quero poder estar aqui quando você tiver que enfrentar uma segunda-feira corrida… Droga, eu quero até mesmo todas as suas complicações!

   riu e abraçou com força, enchendo-a de beijos no rosto sob protestos.

  — Você sabe que eu não gosto quando faz isso! — Ela riu fingindo limpar o rosto.

  — Você é a única que eu quero, .

  — E você é o único que eu quero, meu amor.