A Maldição de San Valentin
Projeto Especial Criativo | 4ª Temporada – Amigo Secreto
História dedicada à autora Effy Stanfield.
PARTE 1
Olhei ao redor duas vezes. Talvez três, antes de encaixar meu carro perfeitamente no cubículo destinado a ele. As vagas haviam sido sorteadas novamente, a pedido da maioria dos condôminos, que reclamavam que as melhores vagas pertenciam às pessoas com menos necessidade de espaço – pessoas como eu, que tinha um pequeno Ford K ao invés dos reclamões que dirigiam enormes SUVs. Não que eu me importasse; para ser sincera, a vaga isolada veio a calhar em um bom momento.
– ? – fechei meus olhos em pesar antes mesmo de trancar o carro. Maldita hora que decidi fazer as compras do mês em mercado que não era 24 horas. Só porque o quilo do tomate estava mais barato e eu simplesmente não consigo viver sem minha fruta favorita. – , do 151A?
Prazer, meu nome é . do 151A. Também conhecida como a guru do amor. Pelo menos é assim que as pessoas se referem a mim.
Se você me perguntar, lhe direi que sou mais uma amaldiçoada.
Minha família tem um dom. Veio de mãe para filha. Filha mais velha, considerando que sou a primeira de quatro garotas, e minha mãe é a mais velha de duas.
Nós, como meu pseudônimo diz (o segundo, não o que informa o número do meu apartamento), trazemos o amor que a pessoa deseja. Não é como aqueles anúncios “TRAGO SEU AMOR IMEDIATO” ou qualquer outra farsa que as pessoas inventam para abusar das mais, hum, sensíveis.
Meu dom é bem simples. As pessoas trazem a foto de quem quer que se apaixone por elas, eu visualizo a foto, dou algumas dicas do que a pessoa tem de fazer – só para ela não se sentir excluída do processo todo – e jogo um pó produzido por uma árvore de cerejeira que cresce na fazenda dos meus avós. A árvore, mágica, é sempre muito eficiente em proliferar seus pólens e produzir mais árvores, de modo a acompanhar as gerações da nossa família.
Uma vez por ano, no dia de São Valentin, ao invés de sair em encontros com meus amores (nunca tive um), devo comparecer ao ritual de renovação de votos, onde eu, mamãe e vovó prometemos usar o pó para benefício geral, não próprio. Como qualquer coisa que se parece com uma profissão, há regras a serem seguidas:
1. Não desacreditar no poder do amor;
2. Quando lançar a magia, exalar os sentimentos mais sinceros (é bem difícil, mas com o tempo a coisa vai se tornando mais automática);
3. Não desejar o mal do casal a ser unido;
4. Nunca negar atendimento a um(a) necessitado(a) (o ser que criou essa regra não sabe quão importuno foi);
E, o mais importante:
5. Não quebrar a corrente do amor.
Não ache que a cada vez que atendemos uma pessoa, ganhamos algo em troca. Não podemos cobrar pelo serviço, já que a regra fundamental da magia de San Valentin diz que cada vez que cobrarmos, perderemos um item importante de nossa vida. Contudo, se as pessoas, por vontade própria, querem me dar um agrado, não preciso recusar, já que gratidão para muitos significa bens materiais. Além disso, vovó costuma dizer que San Valentin nos presenteia com itens valiosos, de modo a nunca deixar que passemos por dificuldades, afinal, o Santo também entende que seres humanos precisam ser recompensados. Isso pelo menos garantiu que eu nunca tivesse problemas financeiros ou em qualquer outra área que não fosse o amor. Não que eu tenha sorte e seja rica. Eu só não tenho o azar de perder um emprego e não encontrar outro, ou morar em um lugar legal, com um proprietário gente boa. Ou ganhar quilos desnecessários. Posso comer muita coisa e não engordar tanto.
É claro que eu já tentei cobrar. Não sou uma boa samaritana como mamãe ou vovó, que vivem para realizar o pedido das pessoas em ser felizes com seus amores. Quando dei início à magia, assim que completei 18 anos, usei meus poderes para separar Carla, de Diego, o ex-namorado da minha melhor amiga, que a traiu e fez questão de espalhar para a escola inteira.
Foi aí que percebi que não importa se minhas razões são para o bem de uma pessoa. Eu não posso acabar com o amor de outra, muito menos julgar a veracidade dela, e não ser punida.
Minha punição, como devem ter percebido (eu disse mais cedo), foi o atraso do amor em minha vida.
Mas , use a magia em você mesmo. Eu o faria, se ele funcionasse.
Mamãe disse que essa foi a punição que San Valentin me deu por ter quebrado o amor de duas pessoas, mas não quer dizer que eu não vá, nunca, encontrar o meu amor. Eu apenas não posso utilizar a minha magia (criada para exatamente isso) em mim mesma.
E assim se explica a razão de eu não querer, na maior parte do tempo, ou apenas metade dela, atender as pessoas que correm atrás de mim.
– A Juliana Maraú passou o seu endereço, ela disse que você poderia me ajudar…
Olhei para a mulher assim que tranquei meu carro. Ela não devia ter menos do que 30 anos. Usava um conjunto de saia lápis e camisa social, o que significava que perdeu grande parte da vida dela estudando e trabalhando, até perceber que estava na hora de arranjar um namorado, mas já era tarde demais para cometer erros “adolescênticos”.
- Seu nome? – perguntei, tentando não parecer incomodada por sua súbita visita. Assim como qualquer outra pessoa que trabalha com consultas, eu tenho uma agenda. Se você quer ser atendida, agende. Mas se aparece de surpresa, que bom para você que uma das regras, a número 4, diz bem claro que eu não posso negar qualquer atendimento.
- Gabriela. – ela respondeu.
Mexi a mão para que ela continuasse.
- A-ah… Luz. Gabriela Luz.
- Só isso?
- É. Eu deveria ter marcado hora? – ela morde o canto do lábio.
Balanço a mão e pego as compras.
- Nah, me siga.
Gabriela Luz me acompanhou hesitante e silenciosamente. Segurou a porta do elevador para mim e então a sacola com uma das minhas compras, para que eu pudesse destrancar a porta de casa.
- Fique à vontade. Ali. – apontei para um conjunto de poltronas e sofás que havia na sala. Era minha sala de espera.
Depositei as compras na cozinha e olhei no relógio. Lá se vai a chance de tomar um café da tarde, antes da bateria de atendimentos que iria receber até às dez da noite. Suspiro e preparo um chá, pelo menos para forrar a barriga, e tiro a comida congelada que costumo preparar nos finais de semana, para poupar o tempo durante a semana.
- Aceita algo para beber? – grito para Gabriela, que grita em retorno negando.
Vou até uma pequena sala, localizada a uma porta de distância da sala de estar/espera. Lá, o ambiente é perfumado pela mini-cerejeira que devo manter no ambiente onde faço minha magia. A cerejeira extrai o melhor das pessoas, fazendo com que se torne mais fácil de eu saber se os sentimentos delas, pelos amores desejados, são genuínos, facilitando a magia.
Borrifo um pouco de água e retiro algumas folhas que caíram. Abro a janela para tornar o ambiente mais fresco e preparo uma pequena manta para o caso da pessoa sentir frio.
- Você tem uma foto da pessoa? – pergunto, quando volto à sala de espera e vejo Gabriela roendo uma de suas unhas.
- Sim. – ela retira da bolsa.
- Legal. Existe um pequeno ritual que é necessário você fazer para que eu consiga trabalhar. – falo, vendo sua postura se endireitar, algo comum quando começo a dar as orientações. – Primeiro, você precisa ficar descalça. Pode usar as meias, mas preciso que tire os sapatos. – imediatamente, Gabriela retira os sapatos de salto desgastados e sem graça dos pés. – Segundo, desligue o celular. Não é modo avião, é desligar mesmo. O aparelho solta ondas que podem atrapalhar a magia. – mais uma vez, de imediato, a mulher obedece à orientação. – E por último, você não pode ter mais nenhuma outra pessoa senão essa da sua foto em sua mente.
- Tudo bem.
- Entre. – fiz um leve sinal para que ela me acompanhasse.
Antes mesmo de Gabriela entrar, o som da porta abrindo chama minha atenção, mostrando , minha melhor amiga e a pessoa com quem divido o apartamento. Nós decidimos morar juntas porque sempre fomos inseparáveis, desde a época do colégio. Quando eu disse à que viria para a capital, para estudar administração, ela disse que iria me acompanhar e então poderíamos morar sozinhas.
Não moramos sozinhas até dois anos depois de nos formarmos na faculdade. Até eu encontrar um emprego em uma empresa multinacional fantástica e conseguir pagar por um apartamento legal. é minha parasita. A falta de uma figura materna a fez se tornar uma pessoa mais prática e menos sentimental. Seu pai, um médico que realmente gosta do que faz (a ponto de trocar os dois filhos pelo trabalho) não gostou muito quando ela disse que viria para São Paulo, para fazer uma faculdade de psicologia. Ele achava que, por conta de seu gene, poderia arriscar em medicina como seu irmão mais velho e, pelo menos, seguir a carreira de psiquiatria. Mas ela não quis. O único traço que manteve (teimosamente) da mãe, foi a profissão.
- Estou atrasada? – ela olhou no relógio de parede.
- Não. – mandei um olhar de quem dizia “fui abordada na rua”. Era muito comum isso acontecer. Eu e costumamos brincar que a propaganda mais eficiente que existe, é o boca-a-boca.
Deixei minha amiga de fora, para que ela pudesse preparar as coisas conforme estamos acostumadas. Enquanto isso, observei Gabriela sentada em seu lugar, olhando bastante para a mini-cerejeira. Abri um pequeno sorriso. Só quem possui um sentimento puro tem sua atenção desviada para a árvore.
- Bem – me sento em frente à mulher, que se remexe em sua cadeira. –, você pode deixar sua foto aqui no centro da mesa. Bem em baixo dessa luz rosa. Eu farei algumas perguntas para você. Não tem problema se você não souber responder; caso aconteça, é melhor que diga “não sei”. Para que a magia funcione, você precisa ser sincera com ela. Se não houver sinceridade, a magia não irá funcionar.
Vi a mesma reação de 80% das demais pessoas: inquietação, ansiedade, nervosismo e excitação.
- Você sabe o nome inteiro dele?
- Sei.
Peguei uma folha sulfite cor de rosa e o entreguei a ela com uma caneta.
- Esse é o formulário do seu amor. Eu farei a pergunta em voz alta e, se você souber a resposta, basta escrevê-la aí. Se não souber, como disse, não tem problema. Antes, gostaria de deixar algumas coisas informadas.
Gabriela me olhou com atenção.
- O amor é uma faca de dois gumes. Minha magia traz o amor para você, com a pessoa que você deseja, mas não é ela que irá garantir o amor eterno. Como qualquer outra situação de nossas vidas, existe o livre arbítrio. Isso faz com que seus sentimentos ou da pessoa dessa foto mude, podendo resultar em casamento e final feliz, ou também um término. A magia que vou praticar aqui é somente para trazer este amor – aponto para a foto do homem. – até você. Mantê-lo, desenvolvê-lo e sustenta-lo é uma responsabilidade somente sua.
- Isso quer dizer que ele pode querer terminar comigo?
- Se você mudar de sentimentos, a magia irá saber. E se você decidir que, no final das contas, ele não é a pessoa certa, o encantamento irá finalizar. Isso pode resultar em você terminando ou ele.
- Como um relacionamento normal.
- Exatamente. – respiro fundo. – A única coisa que eu faço, é trazê-lo para você e fazê-lo se apaixonar por ti. O resto, como deve estar ciente, é somente com você.
Gabriela mordeu o lábio, nervosa, mas acabou concordando com a cabeça. As pessoas que vêm nunca pensam que para tudo se existe o outro lado da moeda. Ninguém, quando faz a propaganda da minha magia, diz que existe uma possibilidade do relacionamento não dar certo. O que realmente importa, é que para o calor do momento, eu trarei o amor que a pessoa quer para ela, desde que seja plausível, concreta (vocês não têm noção do tanto de adolescente que vem com a foto do artista favorito).
- Compreendendo a magia, peço que assine aqui, mostrando que está ciente de que foi avisada sobre todas as consequências que o amor pode causar.
Ninguém nunca não assinou. Tampouco recebi reclamação de um amor não ter dado certo ou alguma pessoa vir me cobrar justificativas pela magia não ter funcionado. Prefiro pensar que todo mundo é inteligente em compreender as minhas explicações, ao invés de achar que é uma obra de San Valentin para que eu não perca a animação de trabalhar para ele.
O nome do alvo é Gustavo da Costa Ologré. Ele é um dos sócios da empresa em que Gabriela Luz trabalha e nunca deu sinal de sequer saber da existência dela, mesmo a mulher trabalhando no escritório há sete anos.
- Ele já namorou praticamente todas as mulheres do escritório. – Gabriela disse, envergonhada. – E mesmo eu tendo tentando de todas as maneiras esquecê-lo, eu não consigo.
- Para você, o que falta em ti para que ele a perceba?
- Hum… minha… aparência? – ela tocou nas pontas de seus cabelos. – Talvez… confiança?
Gabriela Luz não é uma mulher feia ou com falta de confiança. Para sobreviver em um dos maiores escritórios de advocacia de São Paulo, ela é, no mínimo, muito capacitada e inteligente. Sua aparência se deve ao excesso de dedicação ao trabalho e, ao meu ver, isso não deve ser um obstáculo para que ela não seja percebida. A timidez é a verdadeira causa de sua falta de sucesso em ser percebida não só por Gustavo Ologré, mas por todos os outros funcionários do escritório.
- Existirá um problema nessa magia, que irei lhe dizer antecipadamente. – ergui um dedo assim que terminei minha análise após toda a conversa. Gabriela arregalou os olhos, assustada por ter mais uma condição depois de todas as regras que ouviu no início da consulta. – A magia fará com que Gustavo da Costa Ologré a perceba e se apaixone por você. No entanto, a felicidade e o amor é um sentimento que emana do ser humano. Ao ser amada, você irá mudar, e essa mudança fará com que outras pessoas a percebam. Isso quer dizer que pode haver ciúmes e insegurança do seu amor. E caberá a você saber lidar com ele.
- Tem como a magia evitar que ele se sinta inseguro?
- Tem como o seu amor mostrar a ele que você só possui uma pessoa em seu coração.
Essa é somente uma das maneiras que fui orientada a agir para não desanimar ou fazer o cliente perder a fé na magia. Informar sobre os obstáculos é um bônus que costumo sempre passar em minhas consultas; isso faz com que as pessoas não se deixem relaxar, achando que a magia fará todo o trabalho sozinho, quando, na verdade, tudo dependerá da própria pessoa.
- Certo. – Gabriela concordou.
Olhei bem em seus olhos antes de suspirar e fazer um movimento leve com as mãos. Um girar de pulso e o foco no amor que Gabriela sente por Gustavo… pronto.
- Devo fazer alguma coisa? – ela perguntou.
- Não vá com muita sede ao pote. – digo, olhando para a fotografia do homem. Ele é uma pessoa que está acostumada em ter várias mulheres em seus braços. Se Gabriela souber lidar com ele sem pressa, tenho fé que eles serão um casal para a eternidade.
- Quanto devo a você? – ela pergunta, pegando sua bolsa.
- Nada. – respondo, guardando a folha com a assinatura de Gabriela, concordando que havia sido informada de tudo o que precisava e jogando o sulfite rosa com os dados do amor dela na fragmentadora, para que não haja nenhum resquício do trabalho dos dois no ambiente. Além disso, também acalma o cliente, fazendo-o ver que não guardo nenhuma informação sobre o alvo.
- Posso deixar algo mesmo assim?
- Como quiser.
Uma nota de cem reais foi colocada na mesa. Não demonstrei a minha verdadeira alegria de ter começado meu dia com um valor alto. Geralmente as pessoas vão embora agradecidas ou deixam alimentos, ou objetos que acreditam serem úteis para mim.
Assim que Gabriela Luz sai, olho ao redor, onde a mini-cerejeira faz a limpeza do ambiente. Quando a névoa rosada some por completo, apenas digo:
- Próximo!
PARTE 2
- Você precisa melhorar essa sua vida social. – diz para mim no dia seguinte, uma sexta-feira, quando nos encontramos no metrô para irmos até o shopping assistir a um filme. Não deixei que marcassem nenhuma consulta para essa sexta, porque é o lançamento de um filme que estava louca para ir, e como havia acabado de terminar com seu ex-namorado (de novo), precisava da amiga para fazer o step.
- Eu saio bastante. – me limito a responder.
Não é mentira. Eu saio. Muito. Vou a bares, baladas, shows, teatros, museus, parques, shoppings… sozinha ou na companhia de uma, ou mais pessoas. Já que não posso usar minha magia comigo, tenho que me esforçar para conseguir encontrar com um cara que goste de mim.
Mas, como é de se esperar, não é tão fácil assim.
Não é que eu seja magra (lembra da forcinha de San Valentin?), mas estou, sim, acima do meu peso ideal. Isso não significa que eu seja feia. Acredito que estou na média. Meus cabelos escuros são muito lisos e pesados, por isso sempre o mantenho com um corte repicado, tornando-o mais leve e esvoaçante. Não ajuda muito na hora de fazer penteados, mas quando soltos são uma maravilha. Minhas pernas são tortas e tenho uma barriguinha pendurada. Fora isso, sou bem legal. Altura legal, seios legais, bumbum legal, aparência, no geral, legal. Além disso, minha personalidade não é tão ruim. Topo 90% dos convites que me fazem para sair, não faço birra com a divisão da conta (só quando não consumo nada) e sou uma ótima ouvinte (e também falante). Como disse, na média.
O problema é que os paulistanos não se importam com as garotas na média. Eles querem as peitudas demais, magras demais, bundudas demais, maquiadas demais, simpáticas demais, com atitudes demais ou modelos demais.
Sou facilmente descartada pelos homens por quem mostro interesse e também pelos que não dou a mínima. Nunca fui em um encontro e, o pior de tudo, ainda sou virgem.
Virgem. Você conhece uma pessoa virgem aos 27 anos? Quero dizer, virgem por obrigação, não opção.
Sim, eu mesma. , do 151A.
Como uma integrante da minha família amaldiçoada por San Valentin, acredito muito no amor e que se o beijo não foi com uma pessoa amada, pelo menos o ato sexual seja. Isso me garantiu o prêmio de virgem do século 21.
Se me arrependo? Não.
Não que eu tivesse tido a opção de aceitar ou recusar, mas prefiro pensar que em algum momento, em algum bar, balada, happy hour, evento… alguém sentiu uma atração sexual por mim e eu decidi que não.
- Eu posso te reapresentar meu irmão. Eu juro que ele está mais legal.
- Legal e seu irmão são duas coisas que não batem em uma frase. Uma tenta chutar a outra para longe.
O irmão mais velho de , , também mora em São Paulo. Porém, ao contrário da minha amiga, ele é a pessoa mais bem-sucedida que já ouvi falar (afinal, não o vejo desde os 13 anos, quando ele tinha 17 e veio para a capital após passar no vestibular). Seu relacionamento anterior com a filha do diretor do melhor hospital de São Paulo garantiu seu posto importante no lugar. Mesmo após o término, o agora ex-sogro não permitiu que o relacionamento pessoal dele afetasse o profissional. É por isso que agora faz quatro anos que é o neurocirurgião mais requisitado entre os profissionais da área, em toda a nossa região Sudeste.
- Ele mudou. Viu que não adiantava de nada ser um mala como o nosso pai. – ela disse, passando pela catraca da saída do metrô. – Além disso, já faz 15 anos.
- Já vi muita gente que fazia 20 anos que não encontrava e continuava sendo a mesma pessoa chata.
- Isso porque você pegou ranço dela.
- Exatamente o que acontece com seu irmão.
revira os olhos e decide não falar mais nada.
- Lucas te ligou? – procuro mudar de assunto.
encolhe os ombros e vejo-os estremecer em um calafrio.
- Graças a Deus não, aquele verme.
- Você não tem certeza se ele te traiu.
- E prefiro nem ter. – ela jogou os cabelos com as mechas louras para trás dos ombros. – Se ele não tinha culpa no cartório, então por que ainda não me ligou?
- O treino…
- Quando estávamos namorando, ele me ligava sempre que podia. Agora que eu o peguei com a vaca da Bianqui, dane-se eu?
Suspiro, deixando a conversa de lado. É claro que não irei discutir com sobre o assunto. Se ela disse que pegou os dois se amassando no vestiário do clube, então é nela quem devo acreditar (até porque nunca tive uma relação íntima com Lucas, para poder ficar do lado dele). O problema é que já é a décima primeira vez que me faz utilizar da magia para ela, e não dura nem um ano até ela decidir que não era o moço que esperava.
- Você não devia ir a uma terapeuta?
- Eu vou a uma terapeuta. – ela me responde, um pouco ofensiva.
- Então por que você insiste em atirar para todos os lados?
- Porque sei que uma hora irei acertar. Psicologia positiva. – ela dá o seu sorriso de modelo de propaganda.
É assim que ela convence as pessoas de que ela está certa e é incrível. Também é assim que ela conquistou 80% de seus clientes. Mesmo a quantidade não passando de 10 pessoas.
- Já não está na hora de você pedir aquela ajuda ao seu irmão? – perguntei a ela já na escada rolante, dois andares abaixo do cinema.
- De jeito nenhum. Meu pai com certeza irá saber e fará com que eu volte para Valinhos. Eu não quero voltar para lá. Sou uma mulher da cidade grande.
- . – olho para ela quando saímos da escada e andamos em direção à próxima. – Você tem 29 anos e só tem 10 pacientes.
- Eles pagam bem.
- Eles não pagam bem o suficiente para nós dividirmos um valor justo da moradia. – ergui uma sobrancelha. – E se eu casar?
- Você quer dizer, se você decidir que quer morar sozinha? – ela ri.
- Vai se ferrar. – dou-lhe um empurrão.
Ela balança a cabeça e suspira.
- Eu estou tentando, amiga. Muito. Mas não está fácil. Quero focar mais no trabalho do que na vontade de arranjar um homem, mas é mais forte que eu. E eles aparecem do nada! – entramos na última escada rolante. – Mas vou conseguir receber tanto quanto você até o final do ano!
- Você disse isso ano passado.
- Mas dessa vez é de verdade!
Ri, porque sabia que ela só falava da boca para fora. Eu, na verdade, não me importava em pagar sozinha o aluguel e condomínio do apartamento, porque gosto muito da companhia de . Sei que ela não passa por muitas dificuldades financeiras, já que o pai cismou de que ela precisa formar a própria carreira sozinha, assim como o irmão mais velho fez (ainda assim, recebe uma mesadinha de consolação), e por isso nós mentimos que dividimos o valor da moradia por igual a ele.
- Ah! Só uma coisa! – ela me para, quando sigo em direção à fila do guichê de ingressos. – Eu marquei um encontro.
- Um encontro? – ergo a sobrancelha e olho ao redor.
- É! Duplo! Eles são incríveis, juro. O Fausto, meu parceiro, é maravilhoso, é cirurgião plástico e faz academia no mesmo lugar que eu…
- Não me diga… – digo, semicerrando os dentes. – Que o meu parceiro é o seu irmão?
Eu jamais deixaria de reconhecer . Apesar de estar completamente diferente, alguns traços permaneciam os mesmos, como o meio sorriso de quem achava estar sempre à frente, e o corte de cabelo playboy. Além disso, ele era muito parecido com , que não era, de jeito nenhum, feia. Ver as mulheres que passavam por ele quebrarem seus pescoços para terem mais um momento admirando-o me deixou ainda mais irritada. Ele não podia crescer e ser feio?
- E aí, ? – Fausto, que estava ao lado de e só percebi agora sua presença, foi direto até minha amiga, depositando um beijo em sua bochecha. – Prazer, sou Fausto.
- .
- Um nome típico do nosso interior. – sorri (droga de dentes brancos e perfeitamente alinhados). – Quanto tempo.
Abro um pequeno sorriso e olho para , que já entrava em uma conversa com Fausto, claramente interessado nela.
- Pelo jeito, ela a arrastou até aqui. – comentou, tirando meu olhar do “casal”.
- Ah… podemos pensar assim, sim.
deu uma risada. Colocou as mãos nos bolsos e olhou ao redor, até dizer:
- Quer pipoca?
- Claro. – ergui os ombros e o acompanhei até a fila, sendo seguida por Fausto e . – Você quem apresentou ele para ela? – fiz sinal para os dois atrás de nós, que já faziam muito bem o papel de quem estava ali sozinho, não em um encontro duplo.
- A pedido dele. – justifica. – Como você está?
- Bem. Você?
- Bem. Achei que sexta-feira fosse o dia ideal para vocês duas irem a uma festa.
- Festa? – abri um pequeno sorriso irônico.
- Não é o que garotas da idade de vocês fazem?
- . Eu e temos 29…
- tem 29.
- O que são dois meses? – fiz uma careta, vendo-o rir. – Nós não vamos mais a festas. E você? Por que não está trabalhando?
- Médicos têm folgas.
- Não você. Pelo que diz. – completo, a fim de fazê-lo entender que não tenho interesse nenhum nele, e que sou apenas uma boa amiga para sua irmã mais nova, nos momentos em que ela quer desabafar.
- omite muita coisa, como o encontro de hoje, por exemplo.
- Nós – aponto para nós dois. -, não estamos em um encontro.
para e olha para mim antes de conferir se já era a nossa vez de ir até o caixa.
- Uau. – sorriu. – tem razão quando disse que você ainda tem sentimentos por mim.
- O quê? – olho para trás, mas os dois já não estão mais conosco. – Aonde aquela tratante foi? – volto a encará-lo, lembrando exatamente do porquê de não suportar , mesmo depois de anos. – Para sua informação, eu nunca tive sentimentos por você.
- É mesmo? – ele cruzou os braços.
- Exato.
- Nem quando nos beijamos?
- Muito menos quando nos beijamos. – tento, ao máximo, não corar com a lembrança do meu primeiro beijo, que joguei no lixo e disse não importar tanto quanto a primeira vez, porque foi um filho… hum. Uma pessoa maldosa que no dia seguinte aceitou o pedido de namoro de uma garota da sala dele e foi para São Paulo com ela fazerem a faculdade juntos e viver um grande amor de adolescência. Até as festas da turma de medicina começar.
Vi sua posição relaxada, o que me deixou ainda mais nervosa.
Quer dizer? Dane-se o filme.
- Aonde você vai? – ele falou mais alto ao me ver saindo da fila para comprar a pipoca.
- Embora.
- Nós éramos os próximos. – ele disse logo atrás de mim.
- Bom filme.
- , qual é? – segurou meu braço, me impedindo de descer a escada rolante. – Eu estava só tentando descontrair. Faz quase 15 anos que não nos vemos, sobre o que mais eu falaria?
- Tudo, menos o nosso beijo.
- E por que não? Foi tão ruim para você?
Não. Pensei. Não foi ruim. Ruim foi ver você com outra garota no dia seguinte. Ruim foi saber que você continuou namorando ela por um ano inteiro depois de ter aceitado o pedido dela. Ruim foi eu não ter recebido nem uma mensagem de desculpas por ter pisado no meu coração e chutado para o outro lado do mundo.
Se eu pudesse ter escolhido um amor para acabar, teria sido o seu, seu imbecil. Pelo menos me sentiria vingada.
- Foi péssimo. – respondi, dando-lhe as costas.
Ignorei quando ele me chamou e tentei me desvencilhar dele sem parecer uma louca no meio do shopping.
- Nós precisamos falar sobre isso. – ele diz, sério.
- Não precisamos falar sobre nada. – olho para sua mão segurando meu antebraço, mas ele não parece perceber minha indireta. – Olha, vamos só fingir que não nos encontramos hoje. Como você disse, faz praticamente 15 anos, podemos viver o resto da vida sem nos ver.
- Caramba, . – me soltou. – Eu não sabia que você me odiava.
- Eu não odeio ninguém, . Eu só evito as pessoas que não gosto.
Vi seu olhar sustentar o meu e então aceitar minha repulsa. Ao contrário de , eu não tive muitas experiências amorosas para poder chamar de pior ou saber que aquilo não foi nada em comparação. Para o azar dele, o que ele fez foi exatamente a pior coisa relacionada ao amor que aconteceu comigo, então não é como se eu fosse deixar de lado toda a humilhação e desilusão que senti no dia seguinte ao meu primeiro beijo.
Achei, honestamente, que era especial. Foi no dia de San Valentin, mais conhecido como o dia dos namorados. Só podia ser um sinal, não é? Tudo bem ser amaldiçoada pelo dom da família e então mais uma vez por ter atrapalhado o relacionamento de um casal. Eu estava para completar 15 anos em 3 meses e era a única garota da minha turma que não havia beijado ninguém. Achei que poderia ser especial. 3 meses antes do dia fatídico, veio dizer que estava interessado em mim, e então todo o resto do nosso grupo de amigas apostou nessa união, inclusive eu.
Só que ninguém venceu. Nem elas, muito menos eu. Para ser sincera, só eu fui a prejudicada na questão toda. Só eu não consegui superar aquela vergonha.
- Você está de carro? – ele pergunta, quebrando o silêncio, me tirando do transe e lembrando que eu não havia mexido um músculo para longe dele, após confirmar meu desgosto em vê-lo.
Mas alguém tem de desgostá-lo, não é? Ninguém é amado por absolutamente o mundo inteiro. Tenho quase certeza de que sou a única que não gosta de (e uma ou três ex-namoradas dele), e não tem problema. Ninguém é perfeito, afinal.
- Vou pegar o metrô. – disse, voltando a caminhar a volta até o andar térreo.
- Eu te levo.
- Não precisa.
- Não vou deixar você voltar sozinha.
- Não é a primeira vez.
suspirou.
- Pare. – disse, voltando a me segurar. – Você deve se lembrar do quão teimoso eu sou. Não vou conseguir dormir sem saber a real razão do seu desgosto. Foi porque eu dei o seu primeiro beijo? Isso, de alguma forma, quebrou o encanto daquele seu feitiçozinho?
Apertei os lábios. nunca acreditou na magia de San Valentin. Eu ainda não me decidi se isso era ou não uma coisa boa, mas auxiliou no meu ranço por ele. Apesar de às vezes chamar de maldição, não sou totalmente avessa à ideia de ajudar as pessoas a ter o amor que elas querem.
- Se você tem uma boa memória, retorne a 15 anos atrás e avalie tudo novamente. – digo, soltando meu pulso de sua mão. – Foi mal o encontro. Vá até algum bar, você terá uma parceira em um estalar de dedos.
- Eu sabia. – disse, assim que me virei. – Você gostava de mim.
Apertei os lábios e virei apenas meu rosto em sua direção.
- Quando vim para São Paulo com a Bianqui. Você gostava de mim. – ele fez uma careta.
- É claro que não. – olho para o lado.
- Então é o quê, ? Porque não faz sentido! Pelo amor, nós somos adultos. Não podemos ficar nos prendendo ao passado desse jeito. 15 anos!
- Quase 15 anos. – eu sabia que estava sendo birrenta, mas não conseguia, de jeito nenhum, deixa-lo ter a última palavra.
suspirou e colocou as mãos na cintura.
- O que aconteceu lá atrás…
- Exatamente, . O que aconteceu, aconteceu. Você esqueceu, eu não. O problema é meu. Obrigada. Passar bem. – e dei-lhe as costas.
Era como se eu tivesse voltado no tempo, quando vi que ele realmente havia aceito o pedido de namoro da Bianqui. Seu olhar encontrou o meu por uma fração de segundo. Uma fração que tentei enxergar o significado de tudo aquilo, mas que no final só resultou em vergonha. Agora, era como se eu estivesse revivendo tudo, mas sem minhas amigas e saberem que eu havia cedido.
Porque eu não cederia.
Ouvi o suspiro de e então o silêncio. Isso significava que ele havia desistido. Ótimo, porque eu não queria ouvir nada do que ele tinha para dizer. Se é que ele tinha.
Dou alguns passos, não porque estava curiosa em ver se ele tentaria me impedir, mas porque meu celular vibrou, notificando para eu voltar ao jogo que havia parado depois que saí do trabalho. Limpei minha garganta, esperando que ninguém tivesse visto, e voltei a andar.
Foi somente quando entrei no vagão do metrô, que vi que havia me deixado ir. Não foi desapontamento o que senti. Foi alívio. Claro. Porque eu não queria mais ouvir um ‘A’ dele. Nem uma desculpa ou comentário convencido de que eu era apaixonada por ele. Pff. Apaixonada. Me poupe.
O caminho para casa foi de 40 minutos. Tive que trocar de linha somente uma vez e pegar um ônibus cuja parada era no quarteirão de baixo do prédio onde eu e morávamos.
Quando virei a esquina, vi sua silhueta parada na porta de entrada do prédio. devia ter vindo de carro.
Nervosa, peguei meu celular e encostei na parede da esquina mesmo, mas em um lugar em que ele não podia me ver. Tentei ligar para , mas ela me ignorou.
Literalmente.
Ouvi o som da chamada ser atendida, e então encerrada.
- Vaca.
- A não vai te salvar dessa, . – a voz de surgiu atrás de mim, causando-me um calafrio até as pontas dos meus cabelos.
- Como você… – olhei para ele, chocada.
- Tenho uma boa visão e você foi só um pouco estabanada em se esconder.
- Ah. – olhei para minha bolsa toda arreganhada, com os objetos em seu interior bagunçados por terem sido remexidos com pressa. Além disso, meu cardigan estava quase na cintura, sendo sustentada pelos meus braços, que estavam flexionados.
- Podemos conversar agora?
Ele não iria desistir.
- Ta. – sentei no degrau da loja fechada da esquina. é um médico renomado, cujos encontros são, no mínimo, em restaurantes com pelo menos uma estrela Michelin. Ele jamais admitiria ter uma discussão no meio da rua, à noite, e sujar a calça de seu terno caro.
Mas foi exatamente o que ele fez.
- O que está fazendo? – olhei para ele, assustada.
- Você não quer que eu fique em pé o tempo todo, não é? – ele sorriu. – Quero dizer, do jeito que é teimosa, vai levar um tempo até eu conseguir fazer você me dizer a verdade.
Ele se acomodou da maneira que achou melhor e então olhou para mim.
- Você gostava ou não de mim?
- Não.
- Então odiava Bianqui?
- Eu nem a conhecia.
- Queria ter dado seu primeiro beijo em outro garoto?
- Não.
- Então quer dizer que estava interessada em mim.
Droga.
- Não faz diferença.
- Bem, para mim faz.
Olhei para ele, mais surpresa do que há pouco. olhava para o céu e mantinha seus braços apoiados nas pernas. O degrau era um pouco baixo demais para a altura dele e suas pernas eram bastante compridas, o que o fazia estar em uma posição ridícula e muito desconfortável, mas ele não parecia se importar.
- Eu gostava de você. – ele disse.
- Quê?
riu.
- Mas você era muito nova. Eu tinha meu orgulho idiota naquela época.
- Você era totalmente idiota.
- Só na frente dos meus amigos.
Bem. Isso é verdade.
- Você é quatro anos mais nova. Eu tinha 17, você tinha 13 ou 14 – corrigiu-se quando viu meu olhar. – Já parou para pensar nas piadas que fariam de mim naquela época? – ele riu. – Era tudo o que me importava. E aí todo mundo falou que a Bianqui era a garota mais bonita do colégio. Quando ela se declarou e me pediu em namoro, eu achei que não havia saída. Era ou aceitar, ou negar e dizer que curtia uma criança de 13… 14 anos. Eu não pensei que 4 anos pudesse ser uma diferença ridícula no futuro.
- Pois é. – foi tudo o que consegui dizer. E não posso me orgulhar disso, tampouco posso me culpar, afinal, meu cérebro acabou de entrar em pane.
disse que gostava de mim na época em que eu gostava dele (agora que ele admitiu, tudo bem eu admitir também). Olhando pelo lado dele, realmente parecia uma situação horrível.
- Isso é passado. – tento desconversar.
riu.
- Você acredita em maldição? – ele perguntou. – Deve acreditar. – concluiu, após se lembrar do meu dom. – Eu acho que fui amaldiçoado por você.
- Por mim?
- É. – ele suspirou. – É verdade que estive em vários relacionamentos. Alguns legais, outros péssimos. Mas nenhum durou. E sabe por quê?
- Acho que não quero saber.
- Porque sou teimoso.
- Como? – o olhei, confusa.
- Na minha cabeça, nossa história não acabou. – apontou para nós dois. – Você não terminou comigo depois daquilo, e eu não terminei com você.
- Isso não faz sentido, você sabe, né?
- Médicos também viajam na maionese. – ergueu os ombros. – Então eu preciso colocar um ponto final.
Meu estômago revirou. Mesmo vivendo durante todos esses anos com a lembrança adormecida, parece que meu corpo, junto de minha mente, souberam trabalhar muito bem unidos para me fazer lembrar do que eu sentia por naquela época. Nunca cheguei a pensar em um ponto final. Em fechar esse capítulo da minha vida. Enxergar que agora é a hora… é tudo muito… repentino.
Mas não me deixou pensar muito mais no assunto. Não me deixou tomar uma decisão se eu queria ou não colocar um ponto final na única coisa que achei que poderia vencer com meus esforços. Vencer San Valentin e sua maldição.
Sem nem sequer dar uma dica de seu próximo passo, ele passou um braço sobre meus ombros e, com o outro, puxou meu rosto em sua direção até grudar seus lábios nos meus.
Não foi como o meu primeiro beijo. Mas foi como se fosse o primeiro novamente. Aconteceu tudo como quando se é nova e não se conhece as sensações. O susto, as borboletas no estômago, a insegurança de estar fazendo errado, o “ah, dane-se” que deixava as mãos finalmente terem uma função no ato.
Ele não finalizou o beijo de uma vez. Tão cedo separou nossos lábios, me deixou dar apenas uma respiração completa, para então voltar a me beijar, dessa vez com a certeza de que eu retribuiria.
Porque é claro que eu retribuiria. San Valentin acabou de me lembrar que não me esqueci do meu primeiro amor.
- Admita. – diz, bem ao pé do meu ouvido, quando arrastou sua boca dos meus lábios até lá. – Você tentou usar sua magia para me fazer apaixonar por você, não foi?
Abri um pequeno sorriso para ele e olhei em seus olhos antes de dizer:
- Eu prefiro dizer que fui amaldiçoada por você.
riu com minha resposta, porque ele sabia. Não foi a magia de San Valentin que nos uniu. Foi a maldição que o Santo colocou em nós dois quando, há 15 anos, viu que era o homem que eu queria para a minha vida.
Desde aquela época, San Valentin já havia o separado para mim.
Era só uma questão de tempo.
Socorro, confesso que demorei um pouquinho pra ler porque fiquei nervosa, uma história de Natashia Kitamura dedica a mim é demais pro meu coraçãozinho hahaha
Eu adorei demais, ainda mais sendo baseada em uma música das minhas Misturinhas <3
Eu amei toda a ideia dela ter que ajudar as outras pessoas a encontrarem seus amores e não poder usar nela mesma, isso mostra que quem for se apaixonar por ela vai ser naturalmente.
Enfim, foi uma honra ser sua amiga secreta nesse especial, Nat <3
Comentário originalmente postado em 13 de Outubro de 2018
UHSAUSHAUHSAUHUSHAUHAUSH “Só porque o quilo do tomate estava mais barato”. A vida adulta nos humilha.
Eita, aposto que não funciona direito pra si. Só pros outros.
Tô achando que vou devotar o Santo.
EU AMEEEEEEEEEEEEEEEI O NOME!
isso me doeu
eu seria uma delas kkkkkkkkkkkkk ai jeon jungkook, tu que não deixe sua cueca perto de mim
Mano eu gargalhei dela sendo pega em flagrante! kkkkkkkkkkkkkk
Só tenho uma coisa a dizer: que San Valentin sacana! Amei a fic ! ♥