Capítulo 1
“Veio como uma onda, ao ponto de não conseguirmos nos recompor. Nós lutamos como fogo, até o ponto em que nosso amor se transformasse em cinzas.”
– Você não entende nem as minhas poesias, quem dirá os meus silêncios…
– Talvez eu não entenda, . Mas não é por falta de tentativa. Você se esconde nos seus próprios labirintos, e eu fico aqui, tentando alcançar um mapa que você nunca entrega.
– E se o mapa não existe? E se tudo o que eu sou são essas palavras tortas e esses silêncios?
– Então me deixa entender o vazio também. Não quero apenas as partes bonitas, . Quero você por inteiro, até o que dói.
– Mas e se você não gostar do que encontrar?
– E se eu já estiver apaixonada pelo caos?
desvia o olhar, respirando fundo. dá um passo à frente, mas mantém a distância respeitosa.
– Eu sei que você tem medo. Eu também tenho. Mas não vou fingir que não quero tentar, mesmo que o amor entre nós pareça impossível às vezes.
– Às vezes parece mais fácil deixar queimar do que tentar reconstruir.
– Mas é exatamente nas cinzas que tudo renasce.
Silêncio. Eles trocam olhares intensos, onde as palavras não ditas pesam mais do que qualquer verso.
e sempre tiveram essa estranha conexão, onde as palavras pareciam insuficientes e, ao mesmo tempo, excessivas. Era uma dança constante entre aproximação e distância, como ondas que nunca se cansavam de bater na mesma praia.
Eles haviam se conhecido em um café pequeno e discreto no centro da cidade. Ele estava sentado em uma mesa no canto, rabiscando versos em um caderno velho, enquanto folheava um livro de filosofia na mesa ao lado. Quando ele a viu pela primeira vez, não foi o sorriso dela que chamou sua atenção, mas a expressão de curiosidade tranquila que parecia ler o mundo com outros olhos.
O primeiro contato foi breve. Um comentário casual sobre o livro dela, seguido de uma troca hesitante de palavras. Mas, de alguma forma, aquelas conversas esporádicas se tornaram rotina. Ele voltava ao café sempre no mesmo horário, e ela também. Até que, sem perceberem, as mesas separadas deram lugar a uma única mesa compartilhada.
sempre foi o caos em forma de poesia. Ele carregava o peso de traumas antigos, mágoas mal resolvidas e uma tendência quase masoquista de mergulhar no próprio sofrimento para encontrar inspiração. , por outro lado, era racional, prática, mas com um coração que se recusava a endurecer. Ela acreditava que mesmo as dores mais profundas poderiam ser curadas, desde que se estivesse disposto a tentar.
Eles nunca rotularam o que tinham. Não era namoro, mas também não era apenas amizade. Havia beijos roubados no meio de discussões intensas, abraços que pareciam promessas em noites silenciosas, mas também havia dias de afastamento, quando as diferenças entre eles pareciam insuportáveis.
costumava desaparecer por dias, afundando-se em sua própria cabeça, enquanto , com o coração na mão, tentava não enlouquecer com a ausência dele. Ela sabia que ele voltaria, mas isso não tornava as ausências menos dolorosas.
“Você não pode continuar fazendo isso”, ela dissera uma vez, os olhos brilhando com lágrimas que ela se recusava a deixar cair.
“Não pode ir e vir como se eu fosse uma pausa na sua tormenta. Eu sou um porto, , mas até portos têm limites.” “E se eu não souber como ancorar?” ele respondeu, com a voz baixa, carregada de um desespero que ele tentava esconder.
Apesar de tudo, eles continuavam presos um ao outro. Como se algo maior os unisse, algo que não conseguiam explicar. Era amor, mas um amor torto, imperfeito, cheio de rachaduras. Um amor que os testava constantemente, mas que também os fazia crescer de maneiras que eles jamais imaginariam.
Enquanto se expressava através de versos melancólicos, era o equilíbrio que ele não sabia que precisava. Mas ela também se descobria vulnerável ao lado dele, encarando seus próprios medos e inseguranças. Eles eram opostos, sim, mas talvez fosse exatamente essa tensão entre as diferenças que mantinha o fio invisível que os ligava.
Ainda assim, a pergunta pairava no ar: quanto tempo mais eles poderiam continuar assim? Quanto tempo o amor deles suportaria as cicatrizes que iam acumulando?
Por enquanto, tudo o que eles tinham eram momentos. E, naquela noite, com os olhares intensos que trocavam, era difícil dizer quem estava tentando salvar quem.
– De peito aberto, eu aceito a minha solidão. Eu aceito, eu não fujo mais.
As palavras de ficaram suspensas no ar, como uma lâmina afiada que cortava algo profundo dentro dela. sentiu os olhos marejarem, mas piscou rapidamente, recusando-se a deixar as lágrimas caírem. Não agora. Não na frente dele.
Ela o observou por um instante, tentando entender a profundidade daquelas palavras. Ele não estava apenas falando sobre estar sozinho; ele estava escolhendo isso. Escolhendo a solidão como um escudo contra o mundo, contra ela, contra tudo que eles poderiam ter sido juntos.
– Então é isso? Sua voz saiu mais baixa do que ela esperava, quase um sussurro.
não respondeu de imediato. Ele apenas desviou o olhar para o chão, como se estivesse buscando uma resposta que não sabia dar.
– Não é sobre você, . É sobre mim. Sempre foi.
Aquilo doeu mais do que ela queria admitir. Porque, no fundo, ela sabia que era verdade. Ela sempre sentiu que lutava contra uma parede invisível, contra um vazio dentro dele que ela nunca seria capaz de preencher.
Sem dizer mais nada, deu dois passos lentos até a cama dele, onde sua bolsa estava jogada de forma desleixada. Com mãos trêmulas, ela a pegou, segurando-a com força, como se fosse a única coisa que a mantinha firme naquele momento.
– Eu esperei, . Esperei que você me deixasse entrar. Esperei que você quisesse lutar por nós. Mas acho que sempre soube que, no fim, seria eu quem teria que ir embora.
Ele levantou os olhos, e por um momento, ela pensou que ele fosse pedir para ela ficar. Que ele fosse dizer algo que desfizesse o nó em seu peito. Mas tudo o que viu foi o mesmo olhar perdido de sempre, um olhar que parecia implorar por algo que ele não sabia como pedir.
Essas palavras quebraram o pouco que ainda restava de esperança dentro dela. Mas, em vez de responder, ela apenas assentiu lentamente. Porque não havia mais nada a ser dito.
deu meia-volta e caminhou até a porta. Antes de sair, parou por um breve segundo, respirando fundo. Não olhou para trás. Não podia.
Quando a porta se fechou atrás dela, o silêncio no quarto de era ensurdecedor. Ele permaneceu sentado, imóvel, encarando o vazio, como se cada palavra dita tivesse levado um pedaço dele junto com ela.
E do outro lado, caminhava pela rua deserta, segurando as lágrimas que ameaçavam escapar. A cada passo, sentia o peso daquele adeus definitivo. Ela sempre soube que amá-lo seria difícil. Mas nunca imaginou que o mais difícil seria deixá-lo.
Naquela noite, ambos aceitaram suas próprias solidões. Ela escolheu seguir em frente. Ele escolheu continuar preso a si mesmo. E talvez fosse exatamente assim que deveria ser.
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Capítulo 2
“Eu te amo de um jeito bagunçado, isso torna difícil encontrar as palavras para dizer. Não há melhor hora ou lugar…”
estava sentado em uma das mesas do fundo da cafeteria, absorto nos próprios pensamentos, quando a porta se abriu. O som do sino tocou suavemente, e ele levantou os olhos, sem esperar encontrar ninguém em particular.
Mas, ao vê-la, seu coração deu um salto no peito.
entrou com um sorriso largo no rosto, rindo de algo que sua amiga havia acabado de comentar. A luz suave do fim da tarde iluminava seu rosto de maneira quase etérea, e a visão dela, tão natural e tão cheia de vida, fez algo em se mexer de forma desconcertante. Ele mal se deu conta, mas o ambiente ao seu redor parecia desaparecer, como se tudo o que ele conseguisse focar fosse ela.
e sua amiga se aproximaram do balcão, conversando animadamente enquanto faziam seus pedidos. O barista, um jovem com um sorriso simpático, estava claramente tentando acompanhar o ritmo da conversa, mas os olhos de permaneciam fixos nela, como se fosse impossível desviar o olhar.
Ele não sabia por que estava tão nervoso. Não era como se fosse a primeira vez que a visse depois daquele encontro tenso, mas havia algo diferente no ar. Algo que ele não conseguia decifrar.
Ela parecia à vontade, como sempre, mas ele podia ver as pequenas hesitações, os gestos que traíam uma inquietação interna. Talvez ela estivesse, assim como ele, tentando encontrar uma maneira de lidar com o que não foi dito entre eles.
Quando e a amiga se sentaram em uma mesa perto da janela, se viu sem saber o que fazer. Ele queria levantar, ir até lá e conversar com ela, mas o medo de parecer invasivo o segurava no lugar. O que ele diria? O que eles diriam?
Ele se perguntava se ela ainda sentia o mesmo…
E então, como se o universo tivesse decidido por ele, a amiga de olhou para o lado, percebeu sua presença e deu-lhe um sorriso simpático. a seguiu com o olhar e, ao vê-lo, congelou por um breve instante. Seus olhos se encontraram, e por um segundo, pensou que ela fosse simplesmente desviar o olhar, mas ela não o fez.
Ela sorriu, aquele sorriso que sempre conseguia derreter qualquer parede que ele tentava erguer ao redor de seu coração. Foi o sorriso dela que sempre o fazia sentir que, de alguma forma, as coisas entre eles poderiam se ajeitar, mesmo quando tudo parecia perdido.
A visão dela ali, diante dele, fez seu peito apertar. Ela o estava olhando com uma intensidade que ele não sabia como lidar, e de repente, todas as palavras que ele havia ensaiado em sua mente pareciam insuficientes.
A amiga de comentou algo e a tirou da momentânea imersão, mas o olhar que ela trocou com ele foi o suficiente para fazer seu coração acelerar. Ela ainda estava ali, ainda estava presente, e isso era tudo o que ele conseguia processar naquele momento.
levou a mão ao peito, tentando acalmar a respiração. Sentir sua presença depois de tudo parecia quase surreal. Ele ainda não sabia o que fazer com os sentimentos que estavam aflorando dentro dele. A única coisa que sabia era que, ao vê-la novamente, ele se sentia perdido em algo que não conseguia controlar.
Com um esforço visível, ele se levantou e se aproximou da mesa delas, sentindo uma mistura de ansiedade e esperança.
O que ele diria? Seria tarde demais? Quando chegou mais perto, a amiga de sorriu e fez um gesto amigável para que ele se sentasse. o observava, os olhos carregados de algo que não sabia identificar, mas que parecia ter a ver com algo inacabado entre eles.
– Posso me juntar a vocês? – perguntou, a voz mais rouca do que ele gostaria, mas suficiente para romper o silêncio.
olhou para ele, e por um breve momento, o que quer que houvesse entre eles parecia tão perto, tão palpável. Ela assentiu lentamente, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. sentou-se, sentindo a tensão crescente, mas ao mesmo tempo, uma estranha sensação de alívio, como se finalmente estivesse começando a enfrentar aquilo que sempre teve medo de encarar.
puxou a cadeira e se sentou ao lado da amiga de , sentindo o peso do momento se dissipar ligeiramente com o som das risadas delas. Por um instante, ele apenas observou, absorvendo o clima leve e descontraído que parecia rodeá-las.
– Então, , semana passada você sumiu daqui, hein? – comentou a amiga, Eunha, com um sorriso curioso e um olhar astuto, como quem estava testando o terreno.
piscou, pego de surpresa, mas logo suavizou a expressão, inclinando-se para trás na cadeira.
– Precisava de um tempo longe das distrações. Às vezes, é bom mudar de cenário. – Respondeu, com um tom casual, embora soubesse que ela queria mais do que aquilo.
– Distrações? Esse café é um refúgio, não uma distração – retrucou Eunha, brincalhona, mas com uma pontada de provocação. – Você e a praticamente descobriram este lugar juntos, não foi?
, que até então estava em silêncio, olhou para Eunha, sentindo a tensão aumentar ligeiramente. Ela sabia que a amiga estava tentando arrancar alguma verdade, mas não tinha certeza se queria ouvir a resposta naquele momento.
desviou o olhar para , seus olhos encontrando os dela por um breve instante antes de responder.
– Sim, foi aqui que tudo começou – disse ele, sua voz mais baixa agora, quase como uma confissão. – Mas às vezes, é bom dar um passo para trás e… pensar.
Eunha arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, interrompeu, com um tom que era ao mesmo tempo leve e decisivo.
– Está tudo bem, Eunha. Nem todo mundo precisa estar aqui o tempo todo.
Eunha olhou entre os dois, percebendo a troca de olhares que dizia muito mais do que qualquer palavra. Ela deu de ombros e sorriu.
– Certo, certo. Só achei curioso, já que você parecia ser um cliente tão fiel, .
– Fiel eu sou… – respondeu ele, com um sorriso de lado. – Apenas precisei de uma pausa.
A conversa se dissipou em tópicos mais leves, mas o subtexto do que não foi dito pairava entre ele e . Ambos sabiam que havia muito mais a ser discutido, mas aquele momento não era o lugar para isso – pelo menos, não enquanto Eunha estivesse por perto.
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O garçom se aproximou da mesa com as canecas fumegantes de cappuccino e o prato de bolo de cenoura coberto com uma generosa camada de chocolate. Eunha rapidamente agradeceu com um sorriso caloroso e começou a organizar o espaço na mesa para acomodar os pedidos.
aproveitou a oportunidade para sinalizar ao garçom.
– Pode trazer mais um espresso para mim, por favor. Sem açúcar, como sempre.
O garçom assentiu, desaparecendo entre as mesas. Enquanto isso, Eunha cortava um pedaço do bolo com entusiasmo, e pegou sua caneca, soprando levemente o líquido quente antes de tomar um gole.
Por alguns instantes, ninguém falou nada. O som de talheres contra o prato e as conversas distantes das outras mesas preenchiam o ambiente. observava de soslaio enquanto ela saboreava seu cappuccino, os lábios curvados em um pequeno sorriso distraído.
– O bolo está ótimo, você devia provar – disse Eunha, oferecendo um pedaço com o garfo.
riu, balançando a cabeça.
– Eu já comi antes. Sei que é bom.
, com as mãos apoiadas nos joelhos, pigarreou suavemente, atraindo a atenção das duas.
– Eu não quero atrapalhar vocês… – começou ele, sua voz baixa e carregada de sinceridade. – Se preferirem, posso mudar de mesa e deixar vocês à vontade.
ergueu os olhos, encontrando os dele. Sua expressão era serena, mas havia algo nos olhos dela que o fez hesitar.
– Não está atrapalhando, – respondeu calmamente, colocando sua caneca de volta no pires. – A menos que você ache que não quer estar aqui.
Ele prendeu a respiração por um momento, refletindo sobre as palavras dela, antes de balançar a cabeça.
– Não, eu quero. Só não quero ser um incômodo.
Eunha, percebendo o clima mais denso entre os dois, tomou um gole longo do próprio cappuccino, decidindo não intervir.
– Então fique! – disse com firmeza, mas sem hostilidade. – Se você quer estar aqui, , então apenas… fique.
O garçom voltou naquele momento, depositando o espresso de na mesa, interrompendo a troca de olhares intensa entre ele e . agradeceu brevemente, pegou a xícara e tomou um gole, sentindo o calor do café atravessar sua garganta enquanto tentava ignorar a aceleração em seu peito.
A conversa voltou de forma tímida e espaçada, mas havia algo no ar que nem o cappuccino doce, nem o espresso forte podiam mascarar: o peso das palavras não ditas.
levou a xícara de espresso aos lábios mais uma vez, mas, em vez de se concentrar no sabor amargo e familiar, seu olhar vagueou em direção a . Ela estava inclinada ligeiramente para frente, mexendo distraidamente no cappuccino com a colher, enquanto Eunha falava sobre alguma anedota do trabalho.
Por mais que tentasse, ele não conseguia afastar os olhos dela por muito tempo. Cada pequeno gesto, cada curva de seus lábios quando ela sorria ou franzia a testa em pensamento, parecia magnetizar sua atenção.
Havia algo de incrivelmente reconfortante e, ao mesmo tempo, inquietante em tê-la tão perto novamente. Ele sentia o calor familiar no peito, aquele que sempre surgia quando estava ao lado dela, como se ela tivesse a habilidade de acender algo dentro dele que ele nunca soube nomear.
percebeu o olhar dele por um breve momento e ergueu os olhos, encontrando os dele. Foi apenas um instante, mas parecia carregar o peso de dias sem se verem. Ela desviou rapidamente, voltando sua atenção para o cappuccino, mas a ponta de suas orelhas ficou levemente avermelhada.
soltou um suspiro silencioso e pousou a xícara no pires com cuidado. Ele sabia que não deveria olhar tanto, mas era como se algo dentro dele insistisse em absorver cada detalhe, como se temesse que aquela proximidade fosse passageira demais.
Eunha, ainda falando, parecia alheia ao que acontecia entre eles, mas claramente não estava. Ela continuava mexendo no cappuccino, sem realmente bebê-lo, como se aquele simples ato fosse uma forma de esconder o leve desconforto que sentia sob o olhar de .
Ele decidiu desviar o olhar por um momento, fixando-o no anel de espuma que sobrara na borda de sua xícara de espresso. Mas, inevitavelmente, seus olhos voltaram para ela. Ele sabia que deveria dizer algo, quebrar aquela tensão silenciosa que se instalara entre eles, mas não tinha certeza de como começar.
Quando Eunha fez uma pausa na conversa para cortar mais um pedaço do bolo, finalmente ergueu o rosto, encarando de novo. Desta vez, ela manteve o olhar, os olhos carregando uma mistura de questionamento e algo que ele não conseguiu decifrar.
Ele sentiu o calor subir ao rosto e desviou rapidamente, fingindo ajeitar o relógio em seu pulso. Porém, o efeito dela já estava completo. Ele não precisava de palavras para saber: ainda tinha o poder de deixá-lo completamente vulnerável.
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Capítulo 3
“Eu sei que você está pesado na minha consciência, e não há ninguém dormindo ao lado do seu travesseiro. Se você vai ser minha constante, você tem muito que descobrir e eu também.”
A brisa da noite era leve, trazendo consigo o aroma distante de café e o som abafado das ruas movimentadas. Do lado de fora da cafeteria, as luzes amareladas iluminavam suavemente a calçada. Eunha se despediu com um sorriso rápido, ajustando a alça da bolsa no ombro.
— Meu carro chegou. Vou deixar vocês… conversarem — disse ela, lançando um olhar sutil para antes de se afastar.
apenas assentiu, enfiando as mãos nos bolsos do casaco, enquanto manteve o olhar fixo no chão por alguns segundos. Agora sozinhos, o silêncio entre eles parecia mais pesado do que antes, mas também carregava uma tensão silenciosa que nenhum dos dois se apressou em quebrar.
foi o primeiro a falar, a voz baixa, quase hesitante.
ergueu os olhos para ele, surpresa pela pergunta simples, mas genuína.
— Eu estou bem… na medida do possível. — ela deu de ombros. — E você?
Ele hesitou por um instante, chutando levemente uma pedrinha no chão.
— Não sei. Acho que estou tentando descobrir.
apenas assentiu, sentindo o peso daquela resposta pairar no ar. A brisa passou por eles de novo, fazendo-a apertar o casaco ao redor do corpo.
— E… você já seguiu em frente? — A pergunta escapou dos lábios de antes que ele pudesse medir o impacto.
franziu o cenho, inclinando ligeiramente a cabeça.
Ele passou a língua pelos lábios, desviando o olhar por um momento.
— Digo… se você está conhecendo alguém. Saindo com outra pessoa.
o encarou em silêncio por alguns segundos, surpresa pela direção da conversa.
— Por que isso importa pra você, ? — A voz dela era calma, mas havia um toque de provocação, como se quisesse entender de onde vinha aquela pergunta.
suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Eu só… pensei que talvez você tivesse seguido em frente. Não sei.
cruzou os braços, o olhar fixo no dele.
— E se eu tivesse? Isso mudaria alguma coisa?
Ele abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. O silêncio entre eles ficou ainda mais denso.
— Você sumiu, . E agora quer saber se eu estou com outra pessoa?
Ele sentiu o rosto esquentar, mas manteve a postura.
— Não é isso. Eu só… — parou, buscando as palavras certas. — Quero entender onde a gente está.
riu sem humor, balançando a cabeça.
— Acho que nem você sabe, .
Por um instante, ficaram apenas se encarando, como se cada um esperasse que o outro quebrasse o muro invisível entre eles.
— Eu não estou com ninguém, se é isso que quer saber — Disse por fim, a voz mais baixa.
sentiu o peito apertar, mas não sabia se era alívio ou algo mais confuso.
— Então por que parece que você está tão distante de mim?
sorriu de lado, mas seus olhos não acompanharam o sorriso.
— Talvez porque você tenha sido o primeiro a se afastar.
Aquelas palavras ficaram suspensas no ar, cortando qualquer resposta que pudesse ter.
Por um momento, o mundo lá fora seguiu seu ritmo — carros passando, vozes distantes — mas ali, na calçada da cafeteria, tudo parecia parado.
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“Eu te amo de um jeito bagunçado, isso torna difícil encontrar as palavras para dizer. Não há melhor hora ou lugar…”
ficou em silêncio por alguns segundos, digerindo as últimas palavras de . O vento frio passou entre eles, trazendo um arrepio sutil que a fez apertar ainda mais o casaco ao corpo. Ele percebeu o gesto e, sem pensar muito, murmurou:
— Você ainda mora aqui perto, não é?
ergueu o olhar, um pouco surpresa pela pergunta, mas assentiu lentamente.
— Sim, só algumas ruas daqui.
respirou fundo, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
— Posso te acompanhar até em casa. Está escurecendo.
arqueou uma sobrancelha, analisando a expressão dele. Não havia arrogância ou segundas intenções naquela oferta. Era só , do jeito que ela conhecia — ou achava que conhecia.
— Você nunca se preocupou com isso antes — Ela provocou suavemente, sem perder o tom leve.
deu um meio sorriso, olhando para o chão.
— Antes eu não precisava me preocupar. Agora… não sei. Achei que seria bom.
hesitou por um instante, mas acabou soltando um suspiro resignado.
Sem dizer mais nada, os dois começaram a caminhar lado a lado. Os passos ecoavam suavemente nas calçadas vazias, acompanhados pelo som distante de carros passando. O silêncio entre eles era confortável, mas carregava uma tensão tênue, como se cada um esperasse que o outro puxasse um assunto.
chutou levemente uma folha seca no caminho, quebrando o silêncio.
— A Eunha parece estar cuidando bem de você.
— Ela tenta. Mas, às vezes, nem eu consigo cuidar de mim.
Ele olhou para ela de canto, absorvendo aquelas palavras.
Ela parou por um segundo, virando-se parcialmente para ele.
Ele encontrou o olhar dela e, por um momento, pareceu que o mundo desacelerava.
— Mais do que você imagina.
desviou o olhar, continuando a caminhar. O prédio dela logo apareceu à vista, iluminado por uma luz fraca na portaria.
Eles pararam em frente ao portão, e o silêncio voltou a se instalar.
hesitou, passando a língua pelos lábios antes de falar.
— Obrigado por não ter me mandado embora.
soltou um sorriso cansado.
— Eu já fiz isso uma vez. Não acho que conseguiria de novo.
Ele apenas assentiu, sentindo o peso daquela frase.
Ela deu as costas, caminhando até a porta. permaneceu parado, observando-a até que ela desaparecesse dentro do prédio.
Só então ele soltou o ar que nem percebeu que estava prendendo e virou-se para ir embora, sentindo que, apesar de todo o peso entre eles, algo havia mudado. Talvez não fosse suficiente para consertar o que havia se partido, mas era um começo.
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Capítulo 4
“Acho que preciso, acho que preciso de um pouco de espaço…Entre seu nome e meus lábios eu preciso de um espaço. Eu mando suas ligações e seus beijos para o espaço sideral, eu sei que queria provar, mas meus sentidos voltaram. Agora eu sei que preciso de um pouco de espaço. Você colocou muito e pouco no meu prato, não quero ser alguém que você vai odiar (vai odiar, vai odiar)… Eu preciso da sua chave para a minha casa, estávamos nos movendo muito rápido. Agora eu sei que preciso de um pouco de espaço.”
deixou as chaves caírem preguiçosamente sobre a mesa da sala enquanto chutava os sapatos para longe. A casa silenciosa a envolvia com um conforto estranho, contrastando com a turbulência dentro dela.
Ela largou a bolsa no sofá e puxou o celular do bolso. A tela acendeu, iluminando o cômodo escuro, e o coração dela deu um leve salto ao ver a sequência de notificações.
Chamadas perdidas: (5) Mensagens não lidas: (3) suspirou, passando a mão pelo rosto.
Ela desbloqueou o celular com hesitação. As mensagens eram curtas, espaçadas entre as ligações.
“Desculpa… acho que fui longe demais ontem.” “Só me responde, por favor.” largou o telefone no sofá e cruzou os braços, encarando o teto.
era assim. Sempre foi. Um furacão de intensidade que chegava sem avisar, bagunçava tudo e depois desaparecia, deixando-a recolhendo os pedaços. Ele se afastava quando mais precisava ficar, e se aproximava quando ela finalmente começava a respirar sozinha.
“Ele quer espaço, mas não sabe ficar longe.” Ela se lembrou de todas as vezes em que ele a afastou com palavras duras e silêncios pesados, apenas para depois aparecer com poesias confusas ou desculpas vazias. Como se o caos que ele carregava fosse justificável pelo breve calor que oferecia nos momentos de proximidade.
Mas, no fundo, sabia que também era parte desse ciclo. Ela se acostumou a aceitar migalhas de presença, a tentar decifrar seus silêncios, a esperar que ele escolhesse ficar.
“E eu continuo aqui, esperando algo que ele nem sabe se pode me dar.” O celular vibrou de novo, mas não teve coragem de olhar. Não agora.
Ela se levantou lentamente e caminhou até a varanda. O vento frio tocou seu rosto, trazendo um pouco de clareza. Talvez o que precisava não era de respostas, mas de enfrentar o próprio turbilhão. E talvez, pela primeira vez, também precisasse escolher não ser puxada para dentro dele.
Com um último olhar para o celular silencioso sobre o sofá, ela sussurrou para si mesma:
— Acho que eu também preciso de espaço.
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O celular vibrou novamente sobre o sofá, interrompendo o silêncio que dominava o apartamento. fechou os olhos por um instante, respirando fundo antes de pegar o aparelho.
Na tela, uma nova mensagem de piscava.
: “Estou aqui embaixo. Posso subir?” O coração dela disparou, misturando surpresa e exaustão. Ele realmente estava ali, na porta do prédio.
passou a mão pelos cabelos, ponderando se deveria ignorar ou responder. Mas algo dentro dela—talvez o resquício daquele afeto bagunçado—não conseguiu resistir.
: “Estou descendo. Eu vou abrir.” Ela calçou o primeiro par de chinelos que encontrou e pegou o casaco pendurado na cadeira. O caminho até o elevador parecia mais longo do que o normal. Enquanto descia, sentia o estômago se apertar, como se estivesse prestes a mergulhar em algo que sabia não ter controle.
Quando chegou ao hall de entrada, lá estava ele. , encostado na parede do prédio, com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. A luz fraca do poste iluminava seus traços cansados, mas os olhos dele se levantaram assim que a porta de vidro se abriu.
Por um instante, nenhum dos dois disse nada.
cruzou os braços, sentindo o frio da noite.
— Você realmente não sabe a hora de parar, não é? — ela murmurou, sem dureza na voz, apenas cansaço.
— Eu… não consegui ficar longe. Precisava te ver.
Ela soltou um suspiro lento, desviando o olhar por um segundo.
— Vamos subir antes que algum vizinho resolva reclamar.
Ele apenas assentiu, e se virou, sentindo os passos dele atrás dos seus. O elevador subiu em silêncio, preenchido por uma tensão que ambos conheciam bem.
Quando chegaram ao apartamento, ela abriu a porta e entrou primeiro.
— Fica à vontade. — disse, sem muita convicção, deixando a porta entreaberta para ele entrar.
passou devagar pelo batente, observando o espaço com um olhar perdido. Era familiar, mas ao mesmo tempo estranho.
Ela deixou o casaco no encosto do sofá e cruzou os braços.
Ele permaneceu em pé, perto da porta, como se tivesse medo de invadir demais.
— Quero entender o que está acontecendo entre a gente. Se ainda tem algo… ou se eu já perdi você de vez.
sentiu o peito apertar. Parte dela queria acreditar nas palavras dele, mas outra parte sabia o quanto era fácil se perder de novo naquele ciclo.
— Senta. — foi tudo o que disse, apontando para o sofá.
E ali estavam eles. Sozinhos. No meio do que sobrava deles.
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permaneceu em pé por alguns instantes, observando sentado no sofá, com o olhar perdido, como se procurasse algo no silêncio do ambiente. Ela respirou fundo, sentindo o peso das palavras que estava prestes a dizer. Sabia que não seriam fáceis, mas eram necessárias.
Deu alguns passos lentos até ficar de frente para ele. levantou o olhar, encontrando o dela. Havia algo de sereno, mas definitivo na expressão de .
— Hoje… — ela começou, com a voz baixa, mas firme. — Hoje somos pessoas que se amam e se preservam na memória.
franziu levemente o cenho, como se tentasse entender onde aquilo ia chegar.
— Eu falo de você pros meus amigos como alguém que ajudou a pavimentar meu caminho. — Ela fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — E a minha consciência sobre mim mesma. Sobre o que mereço ou não dentro de um relacionamento.
Os olhos de vacilaram, e ele pareceu prender a respiração.
— Você elevou a régua, . Estabeleceu um padrão que, daqui pra frente, eu quero cada vez maior. — A voz dela não tremia, mas carregava uma melancolia suave.
Ele abriu a boca, mas não disse nada. Apenas a observava, atento a cada palavra.
— Foi você quem me mostrou a necessidade de rir das tristezas e de me alegrar com as pequenas coisas do dia a dia. — esboçou um sorriso fraco, como se lembrasse de momentos esquecidos. — Que me fez dançar na rua de pés descalços e com a alma encantada pela beleza que habita o mundo.
Ela passou a mão pelos cabelos, desviando o olhar por um instante, antes de voltar a encará-lo.
— Foi você quem transformou a palavra
intimidade em uma tatuagem que hoje levo na pele… e na membrana mais honesta do pensamento.
O nome dele saiu como um sussurro, carregado de significado.
O silêncio que se seguiu pareceu engolir tudo ao redor. Ele baixou a cabeça, apertando as mãos sobre os joelhos.
— Eu… — tentou dizer algo, mas a voz falhou.
não esperava uma resposta. Na verdade, nem sabia se queria ouvir alguma.
Ela respirou fundo e deu um passo para trás.
— Eu precisava que você soubesse disso. Só isso.
Então, virou-se devagar e caminhou em direção à porta da varanda, deixando sozinho com tudo aquilo.
Ele permaneceu por alguns segundos sentado, absorvendo cada palavra que havia deixado no ar. O peso daquelas confissões parecia ecoar dentro dele, preenchendo o silêncio do apartamento. Mas, entre tudo o que sentia, havia uma certeza:
ele não podia deixar que ela se afastasse mais. Com passos lentos, mas decididos, ele se levantou e caminhou em direção à varanda. A luz suave da cidade iluminava o contorno de , que observava o horizonte com os braços cruzados, tentando encontrar alguma paz no caos interno.
Sem dizer nada, se aproximou por trás e a envolveu delicadamente com os braços. Sua mão repousou sobre a cintura dela, e ele encostou a cabeça no ombro de , fechando os olhos por um instante. Ela sentiu o calor do corpo dele e ficou imóvel, surpresa, mas não afastou o toque.
A voz de saiu baixa, quase como um sussurro carregado de sinceridade:
— Penso em você e te desejo todas as coisas lindas e grandes também.
sentiu a respiração dele aquecer sua pele, e seus olhos se fecharam por reflexo.
— Pois hoje… — ele continuou, com a voz mais firme, mas ainda suave — mergulho em mim e vejo que sou oceano. Que sempre fui e serei.
Ele fez uma breve pausa, sentindo o coração acelerar contra as costas dela.
— E que, na verdade, você se mostrou sem medo de mergulhar… de descobrir e vivenciar toda essa intensidade que se alojou no meu corpo e que pronuncia meu nome.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável. Era denso, cheio de significados não ditos.
engoliu em seco, sentindo os olhos arderem. O corpo dela relaxou aos poucos sob o abraço dele, e por um momento, ela permitiu-se apenas sentir…
manteve o rosto próximo ao pescoço dela, sem pressa, como se aquele instante pudesse remendar todas as palavras não ditas.
— Eu nunca tive medo de você, . — A voz de saiu baixa, quase trêmula. — Só tive medo de não ser suficiente.
Ele apertou os braços em torno dela, como se quisesse dissipar qualquer dúvida.
— Você sempre foi mais do que suficiente.
permaneceu abraçado a por mais alguns segundos, sentindo o calor dela contra seu peito. O mundo parecia desacelerar, e o silêncio da noite só tornava aquele momento ainda mais intenso. Ele deslizou uma das mãos pela cintura dela, puxando-a levemente para mais perto. virou o rosto devagar, os olhos encontrando os dele, tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.
Os olhares se prenderam por um instante, como se palavras fossem desnecessárias. O ar ficou denso, carregado de tudo o que nunca foi dito. E então, sem hesitar, inclinou-se lentamente, seus lábios encontrando os dela em um beijo calmo, mas cheio de significado.
Era um beijo que começava suave, explorando com cuidado, como se ambos estivessem redescobrindo algo esquecido. Os lábios de responderam com a mesma delicadeza, mas havia uma urgência escondida ali, como se tivessem medo de que aquele momento escapasse. aprofundou o beijo, a mão subindo até a nuca dela, os dedos se entrelaçando nos fios de cabelo. O mundo sumiu ao redor, restando apenas a intensidade do toque, o sabor familiar e ao mesmo tempo novo.
Quando os lábios finalmente se afastaram, manteve os olhos fechados por um segundo, como se quisesse segurar aquele instante. Ao abrir, encontrou o olhar de , e a respiração ainda descompassada escapou em um sussurro:
— Você é a linha tênue entre ter fé e esperar às cegas.
sorriu de lado, mas seus olhos estavam sérios, fixos nela. Ele ergueu uma das mãos e acariciou suavemente o rosto de , o polegar traçando a curva da bochecha.
— Espero que você se lembre de tudo quando as luzes da cidade se apagarem. — A voz dele saiu baixa, quase rouca. — Espero que você se lembre de quem você é… e de quem você foi. E do que fomos ou poderíamos ter sido.
sentiu o peito apertar, como se cada palavra dele atravessasse direto seu coração.
— Eu espero que você se lembre de mim quando fixar o olhar na estrela mais brilhante do céu noturno… porque, apesar da distância, o céu ainda é o mesmo. E as estrelas ainda brilham como antes. — se aproximou mais, a voz se tornando um sussurro contra os lábios dela. — E o sentimento ainda pulsa, ainda arde, como no primeiro toque.
Antes que pudesse responder, a puxou de volta para um beijo mais intenso, mais urgente. Não havia mais hesitação. Era um beijo carregado de saudade, de desejo contido, de tudo o que ambos tentaram esconder. As mãos dele a seguravam firme, como se temesse que ela desaparecesse. E correspondeu com a mesma intensidade, sentindo o calor dele atravessar cada parte de seu corpo.
A noite parecia testemunhar aquele reencontro, e por um momento, nada mais existia. Apenas eles, presos em um beijo que misturava passado, presente e todas as possibilidades do futuro.
Fim