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Capa por Julia N.

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  • A ideia para o enredo de A Garota das Borboletas veio enquanto eu pensava em alguma história para participar de uma antologia da Editora Wish sobre “florestas”;
  • Praticamente toda a história veio à mente depois que eu acabei sonhando com o enredo;
  • A história toda foi escrita em algumas horas;
  • É um dos enredos que eu mais gosto/me orgulho de ter escrito, já que acabou se tornando uma reflexão sobre a vida e a morte.

A Garota das Borboletas

1 – Quando o menino segue uma borboleta

  Kamui Murakami tinha apenas seis anos quando sua mãe adoeceu e não pôde mais ir trabalhar para conseguir o sustento dos dois. O pai do menino havia falecido alguns anos antes de alguma doença que nenhum médico da pequena vila aos pés da grande montanha sabia curar; desde então, a mãe de Kamui, Makoto, vinha trabalhando nas plantações de arroz ali perto, mas agora que estava doente, o menino precisava arrumar um jeito de conseguir comida para ambos.
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  Ele saía de casa cedo para pedir que alguém o empregasse, mas todos os fins de tarde chegavam com o mesmo resultado: ninguém queria dar um emprego para um menininho que não sabia de nada.
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  Mesmo assim, Kamui não desistia, as providências que sua mãe havia juntado estavam acabando e ele precisava arrumar comida para que ela conseguisse se recuperar da doença.
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  Como sempre, logo de manhãzinha, o menino saiu de casa depois de deixar ao lado do leito da mãe um pão e um copo de leite que ele havia conseguido com muito esforço de um senhor que vinha de vez em quando vender suas iguarias na vila.
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  Era cerca de meio-dia e ele ainda não tinha conseguido arrumar ninguém que o quisesse contratar, diziam que ele era pequeno e mirrado demais, não poderia servir para muita coisa nos trabalhos pesados dos quais a vila vivia. Ele encarava cada trabalhador que aparecia para almoçar naquele momento tentando avaliar se ao menos teria chances de pedir por um trabalho. Seu estômago roncava por não ter comido nada além de uma pequena fatia de pão antes de sair de casa. Mas ninguém ligava.
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  Kamui estava tentando se esconder um pouco do sol escaldante quando viu uma borboleta lilás parada no tronco de uma árvore próxima. Ele seguiu até ela e a observou admirado. Era uma borboleta tão bonita… O menino fez menção de tocá-la, mas o inseto bateu as asas com leveza e saiu voando para uma árvore mais além. O garotinho, ainda encantado, continuou a seguir a borboleta todas as vezes em que ela voava para mais longe, foi então que percebeu o quanto havia adentrado a floresta ao pé da montanha. E que o lugar era denso. E que ele estava perdido.
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  Kamui olhou para todos os lados tentando se lembrar de onde tinha vindo, mas aquelas árvores eram todas iguais para ele… Então, subitamente as lágrimas vieram. Ele estava desesperado. E se não conseguisse mais voltar para a vila? O que seria de sua mãe se ele não voltasse? Algum aldeão se lembraria da existência de Makoto Murakami? A cada pensamento seu coraçãozinho se apertava mais de pura angústia, até que ele sentiu alguma coisa tocar de leve seu dedo.
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  Kamui ergueu a cabeça, que antes estava encostada aos joelhos enquanto chorava, e percebeu que a borboleta que o fizera se perder havia pousado em seu dedo.
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  Ele a observou enquanto fungava e ergueu a mão lentamente para ver a borboleta mais de perto. Foi quando ela alçou vôo novamente, voou alguns metros e então parou no ar. Kamui sentiu como se aquele pequeno inseto colorido e elegante o estivesse chamando e o esperando para que o seguisse. E foi o que ele fez, seguiu a borboleta sem olhar para mais nada, sem pensar. E a borboleta o levou até uma clareira. Uma clareira com um pequeno chalé. Uma clareira com um pequeno chalé e uma garota agachada que cuidava de um jardim.
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2 – Quando o menino conhece a garota das borboletas

  — Boa tarde, Kamui — disse a garota de costas para o novo visitante, ainda dando atenção ao seu jardim. — E bem-vindo de volta, Kaneko-kun.
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  Kamui permaneceu onde estava, apenas observando a estranha garota que falava sem se voltar a qualquer lugar em específico. Ele na verdade estava com certo medo de se aproximar. Havia ouvido dos anciãos da vila que no meio daquela floresta havia uma bruxa, e aquela garota poderia ser a tal bruxa!
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  — C-como sabe meu nome? — perguntou desconfiado e pronto para correr.
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  A garota deu um pequeno riso e se levantou espanando a poeira de suas roupas nada adequadas. Ela usava calças!
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  — Eu sei de muitas coisas sobre vocês.
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  Ele queria muito perguntar o que ela queria dizer com “vocês”, mas não teve tempo e nem coragem para abrir a boca novamente.
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  — Você chegou bem na hora do almoço. — A garota se virou finalmente com um sorriso doce nos lábios. Suas feições eram suaves e seu rosto possuía uma “beleza clássica” como os adultos da vila definiriam. — Gostaria de entrar para almoçar? Sei que deve estar faminto.
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  Kamui ia negar, mas bem naquele momento seu estômago roncou audivelmente, o que fez a garota gargalhar e ele sentir suas bochechas esquentarem.
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  — Venha, Kamui, não precisa ficar com vergonha. Eu o estava esperando de qualquer forma.
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  — Você é a bruxa malvada da floresta? — o menino se ouviu perguntando antes que pudesse se refrear.
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  Mais uma vez a garota estranha gargalhou parecendo se divertir. Aproximou-se um pouco do menino e se abaixou até que seu rosto ficou à altura do visitante.
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  — Eu pareço ser a bruxa má da floresta?
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  Kamui ficou sério e observou atentamente a estranha. Ela era estranha com suas roupas inapropriadas para uma moça. E também por morar aparentemente sozinha na floresta. Mas também tinha um olhar doce e um sorriso afável…
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  — Não senhora… — ele respondeu finalmente fazendo a garota rir de novo. — Mas quem é a senhorita?
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  — Por enquanto pode me chamar de Shiori. Shiori Sasaki.
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  — Sou Kamui Murakami, muito prazer. — Ele se inclinou numa reverência de forma respeitosa.
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  Shiori sorriu e se aproximou bagunçando os cabelos negros e lisos de Kamui que fez uma careta.
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  — Vamos, o almoço está pronto! — exclamou sorridente a garota o puxando em direção ao chalé.
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  A primeira coisa que Kamui reparou quando adentrou o local foi que a pequena casa não se parecia em nada com as casinhas de sua vila. Os chawans que estavam esperando à mesa eram feitos de porcelana e havia uma coisa parecida com um fogão à lenha, mas muito mais sofisticado. Será que ela realmente não era a bruxa má da floresta?
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  A segunda coisa em que Kamui reparou foram os jarros. Os jarros empilhados de forma ordenada em várias prateleiras a um canto do chalé. Haviam lagartas e casulos neles e em alguns poucos, borboletas.
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  — Aqui está, uma boa refeição para um bom rapazinho! — Shiori exclamou servindo a comida em um dos chawans.
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  O menino sentiu o cheiro da comida e não conseguiu evitar em sair correndo para comer, murmurando um “itadakimasu” rápido e atacando o que lhe foi servido.
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  Quando Kamui terminou de comer, Shiori pareceu satisfeita.
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  Apesar dele ter estado muito ocupado com a deliciosa comida, ele não deixou de reparar na movimentação de borboletas ao redor de Shiori e como ela parecia de alguma forma se comunicar com elas. Estava prestes a falar sobre isso, mas foi interrompido antes mesmo de abrir a boca.
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  — Leve isto para sua mãe. — A garota empurrou em sua direção sobre a mesa uma trouxinha de pano contendo obentou. — Creio que deva haver o suficiente para vocês dois até o jantar.
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  Kamui abriu a boca e arregalou os olhos de surpresa. Ia recusar, mas lembrou-se de sua mãe adoentada.
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  — Não precisa ter vergonha — Shiori disse sorrindo. — E volte quando precisar. Gosto de companhia. — Piscou. — Mas agora vá, sua mãe deve estar preocupada.
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  Kamui pegou a trouxinha e agradeceu mais de uma dezena de vezes pela gentileza da jovem garota estranha da floresta e saiu correndo.
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  — Caso se perca, siga as borboletas! — Ouviu-a dizer.
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3 – Quando o menino retorna ao chalé

  Havia alguns dias que Kamui tinha visitado a estranha garota das borboletas pela primeira vez. O obentou que ela havia lhe providenciado para aquele dia ele fez com que durasse por muito mais tempo. Claro que grande parte tinha sido para a mãe, ela estava se recuperando e agora já tinha voltado ao trabalho, mas por ainda estar um tanto fraca, ela estava recebendo muito menos que o normal, que já não era muita coisa. O menino continuou a sair de casa para procurar alguém que o empregasse. Ele precisava ajudar a mãe!
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  Estava procurando por algumas frutinhas para comer na hora do almoço quando se lembrou de Shiori, a garota das borboletas. Será que algum dos aldeões a conhecia? Ele ainda não havia tido a chance de conversar sobre isso com a mãe, mas estava curioso. Kamui olhou para o lado, para um dos galhos finos da árvore na qual tinha escalado à procura de frutas. Ali estava uma borboleta azul pousada tranquilamente. “Caso se perca, siga as borboletas”, foi o que a garota na floresta tinha dito.
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  Ele não estava perdido e nem precisando de ajuda, mas estava curioso sobre Shiori.
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  — Hei, borboleta… — murmurou baixinho se inclinando cuidadosamente em sua direção para não a espantar. — Você é uma das amigas da senhorita Shiori? — perguntou.
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  Ele se sentiu um pouco bobo por estar falando com um inseto e por um momento ter esperado que ele o respondesse com palavras. Era só uma borboleta! Mas assim que terminou de pensar aquilo, as asas azuis da borboleta começaram a se mexer, pronta para alçar voo. Ao perceber – e sem entender muito bem o porquê – que ela logo voaria, Kamui desceu às pressas da árvore e olhou para cima. A borboleta estava voando, mas parecia estar esperando por ele. O menino agradeceu mentalmente por isso.
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  Ele perseguiu a borboleta por um longo caminho com uma alegria que sequer sabia de onde havia surgido. Manteve seu olhar fixo no pequeno ponto azul à sua frente e só percebeu que tinha chegado ao seu destino quando ouviu um cantarolar animado que vinha de uma clareira já conhecida.
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  Kamui se deteve onde estava. Ele não sabia se era bem-vindo naquele instante. Da primeira vez em que encontrou a garota das borboletas ela havia sido muito simpática e cordial, mas ela poderia não querer companhia naquele dia. E se ela fosse a bruxa que todos falavam e só o tivesse atraído para lhe fazer mal daquela vez?
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  — Não seja bobo, Kamui-kun. — Ele ouviu a voz fina da dona da cabana no meio daquela clareira ecoar. — Eu não sou bruxa e já disse que adoro companhia! — Ele viu a garota de calças surgir pela porta de sua casinha e acenar em sua direção.
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  O menino prendeu a respiração como quem tinha acabado de ser flagrado fazendo algo muito ruim, mas então seu cérebro deixou o susto passar e seu raciocínio volto.
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  — Como é que sabe o que acabei de pensar?! — exclamou apontando acusadoramente para a garota. — Eu não disse em voz alta.
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  Shiori pendeu a cabeça para um lado parecendo um tanto pensativa.
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  — Não falou? — perguntou por fim.
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  — Não!
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  — Oh, bem, então vamos fingir que você falou. — Ela piscou de forma marota. — Quer entrar para comer alguma coisa?
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  Kamui balançou a cabeça negando.
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  — Será que pode me ajudar com algumas coisas? — Shiori perguntou sorrindo.
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  O menino a encarou desconfiado.
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  — Preciso de ajuda com as plantas — ela explicou —, pode regá-las para mim?
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  O menino Murakami avaliou a expressão da menina ainda desconfiado, mas se aproximou um pouco mais.
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  — Você me conta por que mora aqui na floresta sozinha?
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  Shiori o encarou por um tempo de forma pensativa, como se avaliasse se ele era de confiança ou não.
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  — Eu posso pensar no seu caso, pequeno Kamui — ela disse finalmente. — Mas precisa me ajudar com as plantas primeiro. — Apontou para um balde com água e Kamui concordou, a curiosidade falando mais alto em seu interior.
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4 – Quando a garota das borboletas começa a falar

  Depois de passar a metade da tarde ajudando em algumas tarefas de Shiori, Kamui percebeu o quanto ainda era fraco para conseguir convencer algum aldeão de sua vila a emprega-lo. Ele estava cansado só em ajudar a carregar alguns tantos de terra até um ponto da clareira por algumas poucas horas, imaginava se conseguiria carregar coisas mais pesadas pela vila por um dia inteiro.
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  — Muito obrigada, Kamui-kun — a garota estranha da floresta murmurou entregando um lenço de algodão branco e limpo para o menino que agradeceu e limpou o suor de seu rosto. — Vamos tomar um chá, acho que merecemos descansar. — E dizendo isso, saiu andando em direção ao seu chalé.
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  Kamui correu para acompanhar a garota e quando entrou na casinha, o cheiro de chá quente invadiu suas narinas. Ele não sabia como ou quando Shiori havia preparado a bebida, já que pelo que havia visto, ela não tinha parado de trabalhar por um único segundo sequer. Será que ele havia cochilado por alguns instantes ou algo do tipo?
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  — Sente-se, Kamui. — A garota sorriu servindo o chá em duas xícaras de porcelana sem alças. — Você deve estar com muita fome, me desculpe, mas tenho apenas senbeis para lhe oferecer hoje — murmurou apontando o prato com vários dos biscoitinhos de arroz.
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  O menino agradeceu e se sentou à mesa.
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  — O chá ainda está muito quente, talvez você queira fazer algumas perguntas enquanto espera que esfrie — a garota murmurou casualmente enquanto observava algumas borboletas que voavam ao seu redor.
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  Kamui teria sido capaz de engasgar com a própria saliva se não estivesse com tanta sede. Ela havia mesmo dito aquilo?
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  — Será que eu posso beber um pouco d’água, Shiori-san? — perguntou enquanto sua respiração voltava ao normal.
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  — É claro. — Ela sorriu em resposta apontando para um balde de água no canto da cozinha.
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  Kamui pegou uma xícara que se encontrava perto do balde e a encheu de água limpa e fresca. Após saciar sua sede, correu de volta para o lugar onde estivera sentado antes.
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  — Eu posso mesmo perguntar algumas coisas? — o menino perguntou ansioso, o que fez a garota à sua frente rir.
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  — Sim, eu só não prometo responder.
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  O menino sentiu seu ânimo murchar. Ele tinha tantas perguntas que poderia fazer, mas não havia nenhuma garantia de que as respostas viriam. Mesmo assim, ele decidiu começar.
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  — Por que você mora aqui, no meio da floresta?
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  Shiori brincava com uma das borboletas enquanto respondia.
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  — Eu gosto de pessoas, mas pessoas não costumam gostar muito de mim.
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  — E por que elas não gostam de você?
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  A garota parou de encarar as borboletas e voltou seu olhar para o pequeno menino curioso.
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  — Porque sou diferente delas. — Sorriu.
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  Kamui pensou naquelas palavras e em todos os sentidos que a frase poderia ter. Claro que Shiori parecia estranha usando calças como um menino, mas nada que realmente pudesse ser considerado um problema; ela estaria se referindo a um diferente diferente?
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  Ele decidiu deixar aquela questão para mais tarde.
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  — Onde estão seus pais? — perguntou. A garota não era muito mais velha do que ele. Já não era uma criança, claro, mas ainda era jovem e aparentemente morava sozinha no meio de uma floresta.
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  — Meu pai está muito ocupado trabalhando — Shiori disse voltando a se entreter com as borboletas. — E eu fico aqui para ajudá-lo em algumas coisas.
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  O menino assentiu sentindo algo como empatia. Ele também ficava em casa enquanto sua mãe ia trabalhar e, quando podia, fazia as tarefas domésticas por ela. Ele a amava muito, mas às vezes sentia que sua mãe o odiava, talvez por ele não ser maior e mais forte para poder levar dinheiro para casa?
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  — Você é um bom menino, Kamui-kun. — A garota sorriu o encarando novamente, como se pudesse ler seus pensamentos.
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  Será que ela pode mesmo saber o que estou pensando? Se perguntou.
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  — Talvez eu possa… — ela murmurou e o menino levou um pequeno susto.
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  — Quem é a senhorita, Shiori-san? — perguntou intrigado.
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  — Acho que já podemos tomar nossos chás. — Ela o interrompeu ignorando completamente sua última pergunta. — Melhor beber antes que esfrie demais.
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  E foi assim que as chances de continuar perguntando sobre várias coisas para a garota das borboletas terminou. Com chá e biscoitinhos de arroz.
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5 – Quando o menino descobre um segredo

  Kamui tinha levado uma grande bronca da mãe por ele ter ficado fora o dia inteiro e não ter feito as tarefas da casa, o que magoou muito o menino. A mãe gritou e esbravejou às vezes dizendo o quanto ele era inútil. E ele apenas chorou o restante da noite. Ele queria poder ajudar mais com a casa e o dinheiro, mas como sempre, nenhum dos aldeões queria lhe dar um emprego e a culpa não era exatamente sua. Ele tinha apenas seis anos e não era forte, os empregadores preferiam os meninos com mais carne, aqueles que pareciam ter a força de um búfalo.
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  No dia seguinte à bronca da mãe, Kamui tratou de limpar a pequena casa logo depois que ela saiu para o trabalho, o que não levou mais de uma hora ao todo. A casa da família Murakami era modesta. Logo que terminou os afazeres, saiu em direção à floresta, e daquela vez não precisou procurar muito por alguma borboleta. Uma dezena delas pareciam estar esperando por ele um pouco adiante dos limites da vila. Como sempre, o menino as seguiu e logo se viu em frente ao chalé de Shiori Sasaki.
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  A garota já o esperava com um pequeno sorriso nos lábios.
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  — Bom dia, Kamui-kun — saudou.
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  — Bom dia, senhorita Shiori.
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  Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes até que a garota encarou o menino com curiosidade.
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  — Parece que ontem foi uma noite difícil para você… — murmurou ela.
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  Kamui não estava pensando em falar sobre o que havia acontecido no dia anterior para ninguém, então ficou surpreso quando se viu abrindo a boca.
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  — Mamãe brigou comigo.
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  Shiori balançou a cabeça assentindo.
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  — Quer falar sobre isso?
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  O menino fez que não com a cabeça sentindo seu peito apertar ao se lembrar da bronca e do quanto havia ficado magoado.
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  — Tudo bem, então. — A garota deu de ombros. — Você quer continuar suas perguntas?
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  O garoto levantou o olhar e arregalou os olhos ao ouvir a pergunta. Não perdeu tempo em palavras, apenas assentiu com veemência.
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  Shiori pegou o garotinho pela mão e o puxou para se sentarem em cima de uma pedra de frente para o canteiro de flores ao lado do chalé que estava repleto de borboletas de várias cores.
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  — Sabe, às vezes os adultos acabam fazendo coisas que nos magoam sem perceber… — a garota das borboletas murmurou sem encarar o menino.
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  — Você acha que minha mãe me odeia? — ele perguntou sentindo um nó na garganta se formar.
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  A garota olhou para o céu com ar pensativo e fazia alguns gestos com a cabeça como se pudesse ouvir alguém falando consigo.
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  — Não acho que ela te odeie, Kamui — ela finalmente respondeu. — Acho que ela só não sabe direito como te amar.
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  Kamui encarou Shiori com um pequeno “o” formado em sua boca. Ele não sabia dizer se aquela resposta era boa ou ruim. Sua mãe não o odiava, mas também não o amava?
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  — É confuso, eu sei. — A garota acrescentou. — Mas sua mãe passou por coisas que a deixaram… Triste.
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  — A morte do papai?
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  — Também — Shiori afirmou.
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  — Como você sabe dessas coisas? — o menino perguntou ficando sério. Daquela vez ele queria uma resposta concreta.
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  Shiori encarou o céu mais uma vez e sorriu com alegria para os raios de sol e as nuvens brancas de aparência fofa.
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  — Se eu contar, promete não ficar com medo e continuar a vir me visitar? — ela perguntou sem tirar os olhos do céu.
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  Kamui ergueu as sobrancelhas confuso com a pergunta. Por que ele ficaria com medo? Talvez ela fosse mesmo a tal bruxa malvada da floresta que todos temiam…
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  — Eu prometo — disse mesmo assim.
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  — Lembre-se de que uma promessa deve ser cumprida.
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  O menino assentiu com firmeza e a garota gargalhou.
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  — Eu sou uma shinigami — Shiori disse e esperou.
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6 – Quando a garota das borboletas se explica

  Kamui virou-se bruscamente em direção à garota que estava sentada ao seu lado, toda feliz e cheia de vida, sua presença lhe trazia paz e serenidade… Não, ele deveria ter ouvido errado.
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  — Vocês humanos têm o costume de encarar a morte como uma coisa muito ruim… — a garota murmurou fazendo uma leve careta. — Nós não somos tão ruins assim.
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  — Mas vocês matam… — Kamui argumentou, ainda entorpecido pela informação.
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  Shiori estalou a língua.
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  — Nós não matamos ninguém, são os seres vivos que morrem. Nós, shinigamis apenas aparecemos para recolher as almas de vocês.
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  O menino continuou olhando para a garota boquiaberto. Ela estava mesmo falando a verdade?
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  — É claro que estou dizendo a verdade. Se eu não fosse uma shinigami não seria capaz de ouvir seus pensamentos. — Shiori apontou com um tanto de descaso.
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  Kamui não sabia bem como reagir. Uma ceifadora, ele estava falando com uma ceifadora!
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  — Pensei que shinigamis eram invisíveis aos humanos…
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  — Costumamos ser — a garota disse. — Mas eu gosto de humanos e gosto de estar com eles, conversar. Porém, a maioria deles parece sentir que há algo de diferente em mim, por isso fui expulsa da vila onde você mora. Os aldeões tinham medo de mim pois eu estava sempre presente nos momentos de morte.
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  Kamui ficou pensativo e assentiu. Talvez ele mesmo sentisse medo se a tivesse conhecido de uma forma diferente, mas não sentia. Ele sentia paz em seu interior quando estava ao lado daquela garota estranha, como se nada de mau pudesse lhe acontecer.
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  — Eu queria poder viver entre os humanos, como um deles. Meus irmãos me alertaram que era uma escolha estúpida, mas eu não me arrependo. Tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas ao longo de minha vida, se é que posso chamar assim, pessoas como você, Kamui.
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  — Seus irmãos?
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  — Os outros shinigamis. — Ela deu de ombros. — Eles são todos trabalho e nada de diversão. São muito chatos e adultos — resmungou.
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  — Ontem você me disse que seu pai…
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  — Papai está ocupado cuidando de algumas coisas, por isso precisa da ajuda dos filhos para que tudo não vire uma terrível bagunça.
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  — Você é filha de… Deus?
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  — E não somos todos nós? — Shiori perguntou com um sorriso amável nos lábios.
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  O silêncio reinou durante alguns instantes, Kamui estava tentando digerir toda aquela história que mesmo para uma criança era difícil de entender.
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  — Você não vai sair correndo e nunca mais voltar, vai? — a ceifadora perguntou num tom um pouco preocupado.
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  — Não, acho que não — o menino respondeu um pouco na dúvida. Ele não tinha medo dela, mas… — Então shinigamis não são criaturas que ficam soprando em nossos ouvidos para que nos matemos?
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  A garota fez uma expressão que dizia que aquilo era ultrajante.
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  — É claro que não fazemos essas coisas! Nosso pai nos criou para que as almas dos humanos pudessem ser recolhidas em paz, sem medos, com tranquilidade.
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  Kamui baixou o olhar se sentindo um pouco chateado por ter deixado a garota ofendida, mas era o que os aldeões diziam sobre shinigamis, que eles eram espíritos maus que faziam as pessoas enlouquecerem e se matarem.
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  — Desculpe… — murmurou ele.
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  — Não tem o que se desculpar, Kamui. Humanos temem aquilo que não conhecem e por isso acabam fantasiando sobre o que essa coisa pode ser, e então surgem as lendas. Que às vezes são bastante injustas, tenho que dizer. — Shiori fez bico ao terminar de falar.
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  — Por isso os aldeões têm medo da floresta? Porque sabem que você está aqui?
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  A garota assentiu confirmando.
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  — Mas você não é má…
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  — Eles acham que meu trabalho é algo terrível…
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7 – Quando o segredo das borboletas é revelado

  — A morte para vocês humanos é uma coisa assustadora, não é? — Shiori perguntou distraidamente.
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  — Perder pessoas que amamos é difícil. E morrer parece algo assustador…
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  A garota assentiu suspirando.
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  — Eu escolhi coletar minhas almas em forma de borboletas — ela disse em tom de confidência. — Acho elas majestosas e esplêndidas, assim como as almas devem ser.
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  — Então todas essas borboletas que te seguem… São almas de pessoas que morreram? — Kamui perguntou encarando as borboletas que os rodeavam. A garota assentiu. — E quanto às lagartas e casulos que você tem guardados na sua casa?
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  Shiori sorriu como se estivesse esperando por aquela pergunta fazia muito tempo.
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  — Também são almas, Kamui.
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  — Não entendo…
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  — Todas as almas passam por um ciclo. A maioria das almas que eu coleto chegam até mim em forma de lagartas. É a primeira fase, o momento em que elas ainda estão apegadas à essência terrena que foram antes. Algumas almas podem permanecer como lagartas por muitos anos.
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  — Por quê?
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  — Por não conseguirem aceitar que morreram ou por sentirem que ainda tinham coisas para resolver em vida — Shiori disse num tom um tanto triste. — A segunda fase é a do casulo. É quando a alma finalmente se liberta do que a prendia da vida anterior e está pronta para reencarnar.
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  “A reencarnação muitas vezes é necessária para que a alma consiga se purificar completamente e se redimir por coisas que fez em outras encarnações, assim podendo voltar para nosso pai.
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  “Mas para várias almas é necessário se passar até mesmo dezenas de vezes pela primeira e segunda fases por não conseguirem se purificar completamente de uma só vez.
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  “E por fim, temos a terceira e última fase, a borboleta. Quando uma alma finalmente é totalmente purificada, significa que ela está pronta para voltar para o lado de papai. E então a metamorfose está completa, com a borboleta saindo do casulo e ascendendo aos céus em liberdade plena.”
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  — Ninguém é capaz de pular as fases?
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  — Apenas as crianças possuem almas puras o suficiente para serem recolhidas diretamente como borboletas…
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  — E por que essas ficam aqui? — Apontou para os pontos coloridos voando ao redor do canteiro de flores.
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  — Algumas almas querem ficar um pouco mais na terra antes de partir. Mas não muito tempo, ou elas podem ser corrompidas e o processo de reencarnação recomeçará.
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  — Quer dizer que se uma borboleta ficar tempo demais aqui na Terra…
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  — Elas voltam a ser lagartas. Mas está tudo bem, a maioria das borboletas não tem motivo algum para permanecerem aqui por mais do que o tempo permitido. Elas aproveitam um pouco da liberdade aqui e depois voam até papai quase no mesmo dia em que saem do casulo.
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  Kamui assentiu um tanto aliviado.
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  — Foi você quem recolheu a alma do papai? — perguntou o menino sem encarar a garota.
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  — Sim.
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  — E como ele está…? — Kamui perguntou apreensivo.
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  — Venha comigo — Shiori murmurou se levantando e caminhando até seu chalé.
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  O menino a acompanhou e os dois entraram e pararam em frente à prateleira cheia de potes de vidro. A garota apontou para uma jarra que continha uma lagarta. Kamui se aproximou e seu coração se apertou ao ver que a alma de seu pai ainda estava presa na primeira fase.
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  — Por que ele ainda é uma lagarta, Shiori-san? — ele perguntou triste.
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  — Eu acho que ele ainda não conseguiu superar a perda.
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  — Que perda?
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  — Das pessoas que ele mais amava, você e sua mãe.
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8 – Quando o menino perde alguém

  Fazia dois anos que Kamui Murakami havia conhecido a garota das borboletas e descoberto seu maior segredo, mas mesmo assim ele continuou a ir visita-la regularmente, ajudando-a a cuidar de suas flores e de suas borboletas.
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  As visitas foram diminuindo porque ele havia conseguido um trabalho como ajudante de vendedor, ajudando a carregar as mercadorias para cima e para baixo pela vila e os vilarejos próximos. O relacionamento com sua mãe, no entanto, não havia mudado como ele achava que mudaria se arrumasse algo que ajudaria com as despesas. As broncas e gritos continuavam e aquilo deixava Kamui cada dia mais infeliz.
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  Ele não pôde estar com a mãe quando ela adoecera novamente, pois não podia deixar de ganhar o pouco de dinheiro que recebia, ou então as coisas piorariam e ele não poderia comprar comida para ajudar na recuperação da mãe. E também era a única coisa que podia fazer, já que não tinham dinheiro o suficiente para pagar o médico da vila.
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  Kamui estava voltando de outra vila quando uma aldeã o viu e correu em sua direção, seu rosto estava molhado, não de suor, mas de lágrimas. O menino sentiu que aquilo não era bom sinal.
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  — Kamui-kun, eu sinto muito… — a senhora disse tentando secar o rosto avermelhado. — Sua mãe…
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  — Não! — ele exclamou e saiu correndo em direção à sua casa sem deixar que a senhora terminasse de falar.
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  O menino entrou correndo em sua casa e viu algumas pessoas da vila ao redor do futon em que sua mãe estivera deitada por longos dias. Todos estavam com olhos marejados e vermelhos e Kamui abriu caminho entre elas.
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  — Mamãe! — chamou chacoalhando a mulher inerte e pálida, com toda a força que tinha. — Mamãe, acorde! — choramingou.
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  — Kamui-kun…
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  — Mamãe, por favor!
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  Alguns instantes se passaram sem resposta e as lágrimas se acumularam nos olhos de Kamui, que fungou tentando não chorar. Foi quando ele ouviu um sussurro que mais parecia um grasnado.
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  — Mamãe! — exclamou jogando-se em direção à mulher, a abraçando.
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  — Kamui… E-eu sinto m-muito… — ela gaguejou, a voz por um fio.
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  — Não diga nada, mamãe, eu vou cuidar de você!
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  — Kamui… D-desculpe… D-desculpe por não ser uma boa m-mãe…
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  — Por favor, mamãe… — ele choramingou, implorando mentalmente para que ela não dissesse mais nada e só se recuperasse.
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  — E-eu queria ter p-podido ser uma pessoa m-melhor.
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  — Você é, mamãe! A melhor do mundo! — ele exclamou com as lágrimas escorrendo por seu rosto.
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  — O-obrigada… M-meu filho… — ela gaguejou uma última vez e então sua respiração parou.
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  — Mamãe? Mamãe? MAMÃE, NÃO! — gritou com o desespero tomando conta de si. Kamui a chacoalhou mais vezes tentando fazê-la acordar, mas aquilo não aconteceu. E nunca mais aconteceria.
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  O sepultamento de Makoto Murakami havia sido breve. Não havia muita gente para lamentar e Kamui fora deixado sozinho junto ao túmulo da mãe que era marcado apenas por um amontoado de pedras. Ele chorou por horas ali. Até que uma mão encostou suavemente em seu ombro. O menino estava pronto para repelir qualquer aldeão que fosse, mas se surpreendeu ao reconhecer a face de Shiori que o encarava com um sorriso triste.
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  — Sinto muito, Kamui… — ela disse se abaixando ao seu lado.
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  O menino limpou o quanto pôde as lágrimas do rosto com as mãos, mas não havia tido muito sucesso.
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  — Minha mamãe, senhorita Shiori… Minha mamãe… — ele choramingou e então se agarrou à garota escondendo seu rosto no meio de um abraço.
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  — Shh… Vai ficar tudo bem… — Shiori murmurou acariciando a cabeça do menino.
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  Os dois ficaram vários minutos daquela forma, com Kamui chorando inconsolavelmente nos braços da ceifadora.
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  — Eu preciso coletar a alma dela agora, Kamui — a shinigami anunciou se separando do abraço.
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  — Por favor, não leve minha mãe…
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  — Você sabe que não é assim que funciona, Kamui-kun… Se eu pudesse, ela ainda estaria aqui com você.
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  O menino assentiu limpando as lágrimas novamente. Ele sabia que Shiori dizia a verdade. Não havia nada que pudesse fazer para ter sua mãe de volta. Ele então acompanhou a ceifadora até a sepultura de Makoto. A garota já estava agachada com um de seus potes de vidro em mãos, observando. Um pedacinho de terra se remexeu por um instante e então uma pequena lagarta de borboleta abriu caminho para fora da sepultura.
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  — Oi, mamãe… — Kamui murmurou observando tristemente a lagarta.
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  Shiori estendeu a mão e pegou a criaturinha com todo o cuidado colocando-a dentro do pote que trouxera.
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  — Vamos, você vai me ajudar a cuidar de seus pais agora, Murakami-kun.
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9 – Quando há uma exceção e sobre a garota das borboletas

  Shiori encarava os dois potes de vidro que se encontravam lado a lado em sua prateleira de almas ainda presas às suas vidas anteriores e suspirou. Havia anos que aquelas duas lagartas não cediam e permaneciam ali. Ela havia tentado de todas as formas fazer com que elas seguissem em frente, mas as duas almas pareciam infinitamente infelizes para conseguirem esse feito.
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  Naquele instante a ceifadora estava sozinha. Já não tinha mais a companhia de seu jovem amigo Kamui Murakami, e isso havia tempos. Logo depois da morte da mãe, Kamui tentou retornar ao seu dia-a-dia, indo trabalhar e voltando de noite para o chalé na floresta, mas um dia, o homem para quem o menino trabalhava foi confundido com uma pessoa que devia muito dinheiro a alguém importante de outra vila, o que custou a vida de ambos. Foi a primeira vez que Shiori Sasaki chorou ao coletar uma alma.
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  Kamui foi liberto da vida terrena diretamente em forma de borboleta, porém, sua alma não queria ascender aos céus como deveria. Ele ansiava por ficar junto de seu pai e sua mãe que ainda possuíam forma de lagarta.
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  — Você precisa ir, Kamui. Ou coisas ruins podem acontecer — Shiori disse pela décima vez no último dia limite do menino na Terra. — Vá, eu prometo cuidar dos dois até que eles estejam preparados para a próxima fase da vida — disse. — E uma promessa sempre deve ser cumprida. — Ela sorriu um sorriso triste.
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  A alma de Kamui pairou sobre Shiori por alguns instantes.
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  — Sim, eu já disse que prometo — a garota respondeu ao questionamento mudo para humanos, mas completamente compreensível para shinigamis.
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  A borboleta deu um pequeno rodopio e mais uma vez parou antes de finalmente alçar voo.
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  — Adeus, meu amiguinho. — Shiori acenou enquanto via a borboleta roxo-azulada desaparecer no céu.
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  Adeus, garota das borboletas, ela pôde ouvir a despedida ao longe.
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  Décadas se passaram desde que a ceifadora Shiori Sasaki havia encontrado uma amizade entre os humanos, agora estavam no século XXI e sua casinha na floresta havia virado uma bela floricultura conhecida por vender as mais belas flores pelo preço mais amigável da região.
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  Muitas coisas haviam acontecido desde que Kamui Murakami havia ascendido aos céus. A primeira guerra mundial, a segunda guerra, o Japão se tornando uma das maiores potências do mundo. As únicas coisas que permaneciam iguais eram o trabalho de shinigami de Shiori e o estágio de lagarta de Makoto Murakami.
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  Anos e anos se passaram, até mesmo Daisuke Murakami, o marido de Makoto, havia passado para a fase de casulo, mais ou menos há vinte e oito anos atrás, mas a senhora Murakami parecia se recusar a seguir em frente. Shiori podia ouvir o sofrimento daquela alma. Ela estava arrependida por não ter dado todo o amor e carinho que seu filho merecia e não percebia quanto o tempo havia passado.
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  A antiga garota das borboletas ainda encarava o potinho com a lagarta de Makoto que por algum motivo era a única que carregava consigo para quase todos os lugares que ia. Talvez fosse a promessa que fizera a Kamui, mas ela sentia que tinha a obrigação de estar com aquela alma sempre por perto.
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  Shiori estava distraída quando um novo cliente entrou em sua floricultura fazendo a sineta da porta tocar.
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  — Irasshaimase! — exclamou ao casal que entrava. Quando encarou o rapaz ela quase soltou um gritinho de surpresa. Não podia ser!
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  — Ah, olá, senhorita…
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  — Sasaki, Shiori Sasaki.
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  — Olá, senhorita Sasaki, eu estou procurando por uma camélia — o rapaz disse observando ao seu redor.
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  — E de que cor seria? — Shiori conseguiu disfarçar bem sua surpresa.
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  — Branca. — A moça que aparentava ter em torno de vinte e oito anos, respondeu.
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  — Só um momento — Shiori disse indo buscar as flores e logo voltando com um jarro cheio de camélias brancas prontas para serem juntadas em um buquê.
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  — Olha, como são lindas! — a cliente que acompanhava o rapaz exclamou encantada.
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  — Vou levar um buquê — o rapaz informou sorrindo. — Acha que sua mãe vai gostar? — perguntou para a moça.
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  — Vai amar, ainda mais com a surpresinha que estamos para contar — ela respondeu acariciando a barriga que possuía uma leve protuberância.
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  — Aqui está, senhor. — Shiori interrompeu a conversa para entregar o buquê de camélias ao rapaz.
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  — Muito obrigado. — Ele entregou o arranjo para sua companheira e sacou algumas notas da carteira que eram o suficiente para pagar pelas flores.
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  Ele já estava para ir embora quando seu olhar se voltou ao pote de vidro de Makoto que estava no balcão.
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  — Sabe, quando essa borboleta sair do casulo, tenho certeza de que será a mais bela. — Apontou e depois continuou seu caminho.
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  Shiori ergueu a sobrancelha e voltou seu olhar ao pote. Ele já não continha mais uma lagarta triste e solitária, mas sim um casulo recém-formado.
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  A ceifadora não conseguiu refrear um largo sorriso de alegria e também de estupefação. A alma de Kamui Murakami havia voltado à Terra mesmo depois de ter ascendido de volta a papai. Uma exceção raríssima acabara de passar por ela…
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  — Parece que a família toda irá se reunir em breve novamente… — ela murmurou para si mesma enquanto encarava o casulo de Makoto que estava pronta para reencarnar como a criança que se formava no ventre da companheira da alma de Kamui, que por coincidência ou não, possuía a alma de Daisuke.
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  Makoto Murakami renasceria ao lado das duas pessoas que mais a amaram em sua vida anterior.
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Fim

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Belle
Belle
2 anos atrás

Preciso de mais!! Quero saber sobre TUDO o que está acontecendo e sobre os personagens haaaaaa

Comentário originalmente postado em 22 de Junho de 2020


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