Loved You a Little

Eu já imaginava que algo estava errado quando recebi sua mensagem no meio da noite. Sollary sempre foi do tipo direta e precisa, quando cruzamos os corredores da empresa, seu olhar estava normal e sua postura a mesma impecável de sempre, afinal, ela não podia baixar a guarda diante da diretoria. A gerente de marketing mais perfeccionista que eu conhecia, havia entrado em minha vida da mesma forma que saiu, como um relâmpago destruidor.

E eu que achei que meu estágio na loja de departamentos Choice Place seria monótono e sem graça, mas bastou um esbarrão para fazê-la quase cair com suas pastas na mão, e segurá-la pela cintura para que seu olhar se voltasse para mim. Não foi proposital, eu estava com pressa e precisava despachar os documentos da senhora Philip, gerente de RH, até ao meio-dia. E depois disso, foram muitas horas extras ficando até tarde no escritório para descobrir os diversos segredos e encantos da mulher que todos temiam, admiravam, e muitos senhores desejavam.

Passei alguns minutos encarando o celular, lendo e relendo aquela mensagem para finalmente tentar entender o que ela queria. Se contava três semanas da minha transferência da equipe de marketing de volta para o RH, com a gerente Sollary me ignorando sempre que passava por mim nos corredores ou entrávamos juntos no elevador. A promessa de ser discreto estava valendo, e jamais tiraria proveito de nossas noites de diversão para subir na empresa e ser efetivado, contudo, o que me chateava mais é não saber o motivo para que ela mudasse tanto.

O que eu tinha feito de errado?

Troquei de roupa e peguei minha jaqueta, guardando o celular no bolso, peguei as chaves da moto e segui para rua, após trancar a porta. Ao mesmo tempo que estava curioso para saber o que ela queria, tinha medo de não ser o que eu queria que ela dissesse. Eu quebrei as regras ao me apaixonar pela minha chefe e algo lá no fundo me dizia que eu deveria arrancar isso de mim, antes que isso me machucasse ainda mais.

— . — ouvi o sussurro vindo dela, após desligar a moto.

Mesmo a noite estando fria pelo final do outono, ela estava sem blusa, apenas com sua camisa feminina de linho e a calça social preta de todos os dias, seu olhar distante, e parcialmente observador, enquanto eu descia da moto. Nosso ponto de encontro da vez era uma praça próximo a empresa, e mesmo com o cair das folhas, continuava bela e refrescante.

— Devo dizer que estou curioso para saber o motivo de estarmos aqui? — iniciei, olhando-a com seriedade.

Ela sorriu de canto, o que me matava por dentro. E desviando o olhar para frente, começou a caminhar, para que eu a seguisse. Assenti com uma respiração funda e fiquei dois passos atrás, apenas a observando.

— Por mais que nenhum de nós deva satisfação ao outro, sei que preciso dizer algumas palavras a você. — continuou ela, deixando o tom mais baixo e suave.

— E o que você vai dizer? Vai me convidar para ser o padrinho do casamento? Ou dos seus filhos?

Tentei não ser sarcástico ou irônico sem sucesso. Mas sim, aquela era a informação fresca que todo o prédio comentava, a fofoca dos corredores: A gerente de marketing está noiva do diretor financeiro. E aqui vai minha indagação: Desde quando eles estavam juntos? Minha garganta ardia de raiva por isso.

Ela continuou andando em silêncio, parecia sem rumo e reflexiva. Odiava ser jogada contra parede ou pressionada.

— Sei que não fui muito sincera com você. — ela parou de repente e se voltou para mim — Mas me lembro bem de lhe dizer para não se apegar, que não havia nada sério entre nós.

— Como disso no início, não me deve nada. — dei impulso para me retirar.

Entretanto, ela segurou em minha mão, me parando e me beijou com a doçura de sempre alinhada a intensidade que causava toda a malícia em meus pensamentos. sabia bem meu ponto fraco.

— Por que faz isso comigo?! — sussurrei, enquanto mantinha nossos rostos próximos sentindo sua respiração.

— Não quero que me odeie, mas… Eu e você, não… Não podemos ser o que deseja. — disse ela, num tom mais baixo ainda — Por mais que eu quisesse.

— Então o que sente por mim? Nada? — perguntei, controlando minha frustração interna — Eu fui apenas uma mentira para você?

Eu deveria tê-la escutado… Não deveria ter me apaixonado.

E agora, estava eu com meu coração acelerado pelo calor do seu corpo e ao mesmo tempo, em pedaços pela frieza de suas palavras.

— Você é bem menos do que isso para mim. — ela me olhou com seriedade, porém o rosto sereno — É uma verdade que eu não posso viver…

Nem mesmo a deixei terminar a frase, e interrompi com o beijo que ela jamais esqueceria… Eu não me importava com as consequências e nem se ao amanhecer não existisse mais um coração em mim, eu apenas queria congelar aquele momento para tê-la pela última vez em meus braços e sentir o calor do seu corpo da forma mais intensa possível.