4 Estações do Amor: Madrugada de Outono
Outono Sollary
Esta é a história de como nos tornamos amigas e fizemos a esperançosa promessa de nos casar em um ano. As quatro donzelas mais encalhadas e desafortunadas de Londres, na busca pela tão sonhada aliança no dedo e um amor verdadeiro.
Mia Fletcher, Annia Sollary, Sollary e Nalla Miller.
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Londres – 1847
Acordar cedo não era uma dificuldade para mim. E naquela madrugada, a tristeza fora minha companheira até clarear o dia. Ainda não acreditava na notícia que estragou minhas férias em Milão. Annia não tinha concordado com a ideia de retornarmos mais cedo para casa, porém solidarizou-se com minha dor. Após nossa mudança para Londres, mantive meus pensamentos reprimidos para não importunar minha irmã.
A pedido de minha mãe, meu pai havia concedido-a organizar um baile para que toda a cidade conhecesse suas belas filhas. Eu não me importava muito com aquilo, mas ver ela empolgada dando ordens aos criados, deixava-me mais tranquila. Desci as escadas pela manhã, segurando um livro enquanto observava toda a movimentação em nossa casa, ao passar pela sala pedi a Isla que levasse meu café da manhã no jardim. Um dia ensolarado deveria ser bem aproveitado.
— Como podes fazer isso comigo? — sussurrei ao ler novamente a carta de , contando sobre o noivado.
Voltei meu olhar para porta e vi minha irmã se aproximar, dobrei rapidamente a carta e coloquei em uma página aleatória do livro. Fingi estar lendo, para que não desconfiasse de nada. Ela já me recriminava tanto por não ter me declarado para ele quando tive a oportunidade.
— . — Disse ela meu nome ao me aproximar e me sentar na cadeira em minha frente.
— Bom dia, flor do dia. — movi o olhar para ela e sorriu com graça. — Caiu da cama?
Annia nunca foi de acordar cedo como eu.
— Nem mencione tal coisa, parece-me que a diversão de nossa mãe é mandar e mandar. — Reclamou chateada com a situação que sempre se repetia em seus dias.
— Nossa mãe sempre foi assim. — Voltei o olhar para o livro, desinteressada em suas lamúrias, segurei o riso.
— Mas agora que temos posses, está pior. — Retrucou ela.
Senti a aproximação de alguém.
— Senhorita Sollary, seu desjejum. — Disse o mordomo ao colocar uma bandeja sobre a mesa.
Esperamos ele se retirar e Annia voltou seu olhar para mim.
— Você pensou sobre o que conversamos no jantar de ontem? — perguntou ela.
— Sobre casamento? Ainda não estou inclinada a este assunto. — Respondi mantendo minha atenção no livro.
— Mamãe disse que já estamos na idade de casar, bem, no meu caso segundo ela, estou quase ultrapassando a idade. — Ela pegou uma uva e colocou na boca, saboreando-a. — Ter 20 anos não significa estar velha demais para se casar.
— Diga isso aos nossos pais. — Ri de leve. — E a sociedade em que vivemos, eu só tenho 17 anos e nossa mãe perguntou-me sobre meu enxoval.
— Ah, que pressão. — Annia bufou de leve. — Pelo menos você não me pressiona a isso já que não está ávida para se casar.
— Bem, se a pessoa cujo meu coração acelera fosse o noivo, casar-me-ia amanhã mesmo. — Minha voz soou uma falsa esperança.
— Deveria ter se declarado ao antes dele entrar para o serviço militar. — Comentou continuando a saborear seu brunch. — Agora, ele conheceu outra dama e está noivo, perdeu a chance.
— Infelizmente, terei que me contentar em ser somente a amiga de infância. — Não pude conter meu olhar de tristeza.
Não sabia exatamente quando este amor tinha surgido dentro de mim. era onze anos mais velho que eu e via-me como uma irmã mais nova que nunca teve, por ser filho único. O conheço desde sempre, cresci com suas visitas repentinas em nossa casa quando morávamos em Liverpool, nossos pais sendo amigos. Meu coração sempre acelerava com ele por perto, e depois que me contou com empolgação que se tornaria um militar. A coragem se afastou de mim e não contei o que sentia por ele.
Deixei minha irmã no jardim e voltei ao meu quarto. As lágrimas se apresentavam de tempos em tempos, até que a noite apareceu e os convidados começaram a chegar. Pensei em bater no quarto de Annia para descermos juntas, porém minha mãe apareceu no corredor e me arrastou para a sala. Segundo ela, queria me apresentar a uma pessoa especial. Eu deveria ter batido na porta de Annia. Pois a pessoa a quem foi-me apresentada era ninguém menos que a noiva de : Freya Pompeo.
— É um prazer conhecer a famosa . — Disse Freya ao sorrir delicadamente.
— Gostaria de dizer o mesmo. — Mantive um sorriso forçado no rosto. — Porém, estou intrigada por dizer que sou famosa.
— sempre fala sobre vossa pessoa. — Explicou ela. — Fiquei com tanta curiosidade em conhecê-la, que não me contive em pedir aos meus tios que me trouxessem a este baile.
— Bem, agora me conhece. — Voltei meu olhar para o lado, vendo mais pessoas chegarem.
— Se está procurando por ele, não pôde vir. — Disse ela, deixando a voz um pouco mais séria.
— O que disse? — voltei meu olhar para ela. — De quem está falando?
— , meu noivo e vosso amigo. — Explicou ela, com um tom superior. — Ele não veio, recebi uma carta pela manhã, infelizmente sua dispensa militar foi adiada por mais um tempo.
— Ah, entendo.
— Mas isso alegrou-me um pouco, pois terei mais tempo para os preparativos do casamento. — Continuou ela. — Espero que possa ir.
— Eu também. — Tentei disfarçar minha angústia. — Com sua licença, mas preciso receber outros convidados.
Me afastei dela o mais rápido que pude e procurei o canto mais escondido para derramar minhas lágrimas. Não conseguia conter a dor em meu coração, e o choro que prendia há dias. Ver Freya em minha casa, falando sobre seu noivado com com a aliança no dedo, me feria ainda mais. Disfarcei um pouco ao perceber a aproximação de Annia.
— Por que me olhas assim? — perguntei a ela, limpando discretamente a última lágrima que insistia em cair.
— Está tudo bem? — perguntou ela sentando-se na cadeira ao meu lado. — Aconteceu algo?
— Acabo de ver a noiva de com seus tios. — Respondi num tom mais baixo. — Ela usava o anel de noivado.
— , nem sei como consolá-la, sabes o que acho a respeito deste seu sentimento, quanto mais o nutrir, mais ficará machucada. — Annia tentou chamar-me a razão.
Entretanto eu já estava machucada.
— Eu sei, mas não consigo deixar de amá-lo. — Me voltei para ela sentindo meus olhos marejados de lágrimas. — Amo , mas ele nem mesmo sabe desse sentimento, e dizê-lo neste momento só tornaria tudo mais difícil e nossas vidas mais distantes.
— Bem, terá que deixar de amá-lo, pois agora que nossos pais querem nos casar, será bem mais complicado poder escolher. — Ela voltou seu olhar para os casais dançando de forma divertida ao som dos músicos. — Não quero me casar com qualquer um, sabes que sou exigente em minhas escolhas.
— Sei muito bem. — Ela riu baixo. — Contudo, ainda possui mais chances de ser feliz e realizada.
Abaixei meu olhar, cruzando meus dedos. Não me sentia nem um pouco motivada com aquele baile. Após alguns minutos perdida em meus pensamentos, a aproximação de uma jovem moça despertou-me a atenção.
— Boa noite, senhoritas. — Disse ela com um sorriso delicado no rosto, já se sentando na cadeira vaga, ajeitando seu vestido rosê para que não amassasse.
Fiquei curiosa para saber quem seria a dama que se aproximou de nós com tanta naturalidade assim.
— Fale por você. — Disse minha irmã voltando seu olhar para frente.
— Não seja mal-humorada, Annia, ela só nos cumprimentou. — Eu a repreendi de imediato e sorri para a moça de forma meiga. — Boa noite, bem-vinda à nossa casa.
— Sua casa? — a moça parecia impressionada por minha revelação. — São filhas dos anfitriões?
— Sim. — Annia bufou um pouco voltando seu olhar para ela. — E nem assim os bons cavalheiros nos convidaram para dançar, nem mesmo uma pequena valsa, é frustrante não ter bons partidos nesse baile.
— Os convidados ainda estão nos conhecendo, Annia. — Olhei para minha irmã. — Você é muito pessimista.
— , e você é tão otimista. — Ela cruzou os braços.
— Bem, se serve de consolo para vosso coração, eu sou conhecida na cidade e nenhum cavalheiro teve a decência de me tirar para uma dança. — Desabafou a moça ponderadamente.
Annia soltou uma gargalhada maldosa, enquanto eu segurava o riso.
— Está pior que nós. — Comentou minha irmã.
— Nós percebemos quando o cavalheiro puxou sua amiga para o centro do salão e você ficou como um vaso de planta na porta. — Não contive-me em soltar uma risada mais tímida. — Você é nova na cidade? Como diz que a conhecem?
— Eu não sou nova, somente estava afastada de Londres e retornei recentemente. — Explicou ela. — Sou Mia Fletcher, vim morar com meus tios.
Ela apontou discretamente para eles, do outro lado da sala.
— E por que retornou? — perguntei com olhar curioso.
— Porque preciso me casar para curar minha honra diante da minha família. — Explicou Mia.
— Você não é mais pura? — Annia lançou lhe um olhar malicioso.
— Não, não é isso, sou pura sim. — Sua voz soou estar ofendida ela indagação. — Eu estou viúva, só isso.
— Viúva? E pura? — uma das criadas contratadas para a recepção que estava próxima adentrou na conversa, ela tinha uma bandeja em sua mão.
— Criada, o que está fazendo ouvindo a conversa alheia? — minha irmã a repreendeu de imediato.
— Desculpe-me,senhorita. — A criada abaixou o olhar envergonhada.
— Ah, não, não brigue com ela, certamente sua situação está pior que a nossa, sendo da classe trabalhadora, não deve ter um pretendente. — Eu disse em sua defesa.
Lembrava-me vagamente daquela criada chegar pela manhã para ajudar nos preparativos do grande baile.
— Errada a senhorita não está. — Confessou a criada. — Pelo menos, ambas as senhoritas são de famílias importantes, por certo, até o final desta recepção terão olhares dos cavalheiros para vós.
— Não estou muito certa disso. — Annia bufou novamente. — Mas a considerar meus padrões para um bom cavalheiro, prefiro que nenhum deles se aproxime de mim.
Nós rimos dela e suas palavras.
— Como se chama, criada? — perguntei.
— Nalla Miller, senhorita Sollary. — Respondeu ela.
— Ah, sem muitas formalidades, Nalla, pode me chamar de . — Sorri de leve para ela, que parecia ser uma boa pessoa. — E pode ficar por aqui se quiser, observei que tens trabalhado muito.
— Agradeço, senhorita, mas não quero levar uma bronca da senhora Moodle. — Disse acanhada.
— Eu direi a ela que está nos servindo particularmente. — Pensei em uma solução que parecia convincente.
Nalla assentiu com o olhar agradecido.
— Bem. — Annia olhou para Mia. — Ainda estou curiosa, como pode ser viúva?
— Estava noiva de um casamento arranjado, porém meu noivo faleceu, passei esse tempo em luto. — Respondeu Mia.
— E ele morreu há quantos dias? — perguntou Nalla.
— Há um ano. — Continuou ela.
— Você está de luto há um ano? — fiquei boquiaberta com vossa resposta.
— Sim, mas agora virei a página. — Assegurou Mia em um suspiro. — Sinto que não posso esperar por mais tempo, quero viver o amor e com minha idade, estou quase sem esperanças.
— Quantos anos tem? — a olhei atenta.
— 20.
— Com 20 anos você fica um ano de luto? Como pode? — Annia se mostrou indignada.
Eu estava em choque com sua história. Será que ela o amava tanto assim para passar um ano em luto? Não a julgaria se fosse o caso. Eu era uma pessoa que amava em silêncio.
— Você também tem 20 anos e está solteira, Annia. — Retruquei.
— Estou solteira porque não quero me casar com qualquer homem, além do mais, em Liverpool nunca tivemos muito prestígio, por isso viemos a Londres. — Annia explicou. — Pior é você que chora por um homem comprometido.
— Ele é casado? — Mia perguntou curiosa.
— Não, mas está noivo. — Disse em sua defesa, minha irmã não deveria ter mencionado tal assunto. — Ele é meu melhor amigo desde a infância, não me culpem por amar meu melhor amigo.
— Vocês parecem tão encalhadas quanto eu. — Comentou Nalla em sussurro.
Nós a olhamos.
— Perdoe-me pelas palavras duras. — Nalla se encolheu.
— Eu deveria te repreender agora, mas suas palavras são honestas. — Annia disse arqueando a sobrancelha direita. — Estamos mesmo assim.
— É deprimente. — Comentei dando um suspiro fraco. — Não se preocupe, Nalla, a verdade é cruel para todos.
— Estou cansada disso. — Mia se pronunciou. — Eu proponho uma promessa.
— O quê? — a olhei intrigada.
— Vamos nos ajudar e encontrar nossos futuros maridos, partiremos em busca do amor e nos casar no próximo ano. — Ela explicou sua ideia olhando-nos empolgada. — O que me dizem?
— Acho que podemos começar avaliando as possibilidades. — Annia deu um sorriso malicioso. — Você conhece muitas pessoas em Londres, Mia?
— Não, mas sei de uma pessoa que pode nos ajudar. — Sorriu de volta.
Mia parecia ser uma pessoa muito bem informada, o que deixou Annia bastante empolgada a saber algumas fofocas locais, e se atualizar quanto aos cavalheiros que deveríamos evitar. Lord Baker estava nesta lista. Enquanto isso, Nalla, a garota tímida, demonstrou-se uma pessoa mais realista que não tinha sonhos grandes. Talvez por não ter família e ter passado parte da vida em orfanatos. Em Liverpool eu e Annia não tivemos muitas amigas, ou melhor, não tivemos nenhuma. A entrada de Mia e Nalla em nossas vidas era uma novidade empolgante.
— Não há muitos jovens atraentes na cidade, mas aqui temos alguns nomes bem promissores. — Disse a sra. Fletcher ao se reunir conosco.
A sra. Fletcher parecia ser uma pessoa divertida e compreensiva, sendo de família da nobreza, o fato de ter se casado com um burguês mostrava sua simpatia por pessoas de nossa classe. Apesar de ter notado alguns olhares de reprovação ao se deparar com a presença de nossa humilde amiga Nalla. Não entendia o motivo, ela tanto quanto nós merecia sonhar com um futuro melhor, do que apenas ser a criada de famílias ricas.
— Para ser honesta, atualmente ando mais interessada em como terei dinheiro para comer no dia seguinte, do que ter uma corte. — Confessou Nalla ao se sentar na cadeira ao lado da janela.
— Está sem trabalho? — Mia perguntou, soou um tom preocupado.
— Sim, fui dispensada pela senhora Moodle. — Respondeu ela.
— Nós até poderíamos oferecer um emprego em nossa casa, porém, nossos pais não podem empregar mais pessoas. — Disse de imediato, queria ajudá-la de alguma forma.
— Não se preocupem, eu vou tentar na confeitaria, dizem que estão contratando. — Nalla se mostrou otimista.
— Eu tenho uma vaga lembrança de estarem precisando de uma tutora para cuidar de uma criança. — A senhora Fletcher se pronunciou. — Se não me engano, o senhor Sebastian Bellorum ficou viúvo e não se casou novamente, precisa de pessoas para cuidar da filha doente.
— Viúvo?! — Annia não conseguiu conter meu olhar de malícia para Nalla. — Este é o ponto chave da informação.
— Oh, não, Annia, não me olhe assim. — Nalla se encolheu com vergonha. — Se eu conseguir o emprego, já me darei por satisfeita e ficarei muito grata.
— Nalla, deixe de bobeira, nossa promessa é para nos casar e não arranjar um emprego. — Mia disse chamando-a ao propósito inicial.
— Eu não tenho família para me amparar como vocês, Mia, preciso ser realista. — Retrucou ela com firmeza.
— Não se preocupe, minha jovem, se este for o caso, eu mesma lhe darei uma carta de recomendações para que consiga o emprego. — A sra. Fletcher se mostrou solidária a ela.
— Então, voltemos ao assunto inicial, a lista de nomes. — Annia disse empolgada. — O amor tem pressa para todas nós.
Todas rimos e continuamos com a sra. Fletcher nos apresentando aos cavalheiros solteiros e mais cobiçados de Londres. Enquanto nossa esperança se mantinha acesa com nossos encontros semanais e cartas compartilhadas de motivação, a vida se encarregou de mudar todos os planos para nós quatro. A começar por Mia que precisou viajar novamente para Limerick. Segundo sua carta, havia uma possibilidade da promessa de seus avós ser honrada, pois seu noivo falecido tinha um irmão mais velho, que atualmente se dedicava a vida de celibato sendo um aspirante a padre.
Enquanto isso, as situações em nossa casa se tornaram bem mais delicadas, após o jantar oferecido ao sr. Baker e seu filho Cedric Baker. Annia não gostava daquele libertino conquistador, que passou todo o jantar com os olhos fixados em minha irmã como se a desejasse profundamente. Após desfrutarmos do banquete que a nova cozinheira fizera a partir dos cortes nobres enviados pelo açougueiro, nos reunimos na sala de música. Meu pai pediu para que eu tocasse algumas músicas para divertir nossos convidados.
Sentei-me na banqueta e comecei a dedilhar as teclas do piano. Aos poucos, comecei a me lembrar de quando ensinou-me uma bela canção de Mozart, minha favorita atualmente. Tudo estava em paz, até que o assunto mais impactante da noite se iniciou.
— Bem, mais uma vez agradeço pelo convite. — Introduziu lord Baker. — Sinto-me honrado por meu filho finalmente ter encontrado a noiva perfeita.
— Noiva?! — Annia disse num tom alto, fazendo-me parar de tocar e olhá-la.
Assim como minha irmã, também me sentia perplexa pelo anúncio apresentado.
— Sim, minha querida. — Meu pai olhou para ela com orgulho. — Hoje pela manhã aceitei um acordo com lord Baker, e seu filho a partir de hoje é vosso noivo.
Olhei para minha irmã que visivelmente não se sentia feliz com a notícia. Me sensibilizei com sua situação desafortunada. Voltei-me para o piano e continuei a tocar, após o olhar de pedido de meu pai. Os convidados se despediram pouco depois do brinde entre nossos pais, selando o noivado. Annia confrontou nossos pais, do seu jeito rebelde de ser.
— Como podes, papai? Comprar-me um marido? — a indignação transbordava no olhar de minha irmã.
— O que estás dizendo, Annia? — perguntei não entendendo suas palavras.
— Que nosso pai está usando-me em seus negócios, e que lord Baker se casará comigo para saldar as dívidas do pai. — Sua voz ríspida revelou a verdade para todos ouvirem, até mesmo os criados.
— Abaixe esse tom, Annia. — Disse minha mãe com firmeza. — Vosso pai só está fazendo o que é melhor para as filhas.
— Ah, sim, então o que é melhor para mim? Ter um casamento como o vosso? Arranjado e por conveniência, onde vosso marido dorme todas as noites no quarto da criada? — Annia estava mesmo furiosa e revoltada com tudo aquilo, a ponto de mencionar o assunto proibido em nossa família.
Nossa mãe deu-lhe um tapa em sua cara, sem piedade.
— Mãe! — soltei um grito de imediato, e tentando conter-me, levei a mão na boca, assustada com a cena.
— Nunca mais ouse pronunciar tais palavras. — Ordenou nossa mãe, se segurando para não olhar para a governanta.
— Já chega as duas. — Meu pai elevou sua voz, levantando-se do sofá. — Eu sou o chefe desta família, e deves fazer o que eu mandar.
Seu olhar ameaçador. Nunca o tinha visto assim.
— Isla, conduza-a para seus aposentos. — Ordenou meu pai a governanta. — E não sairá de lá até segunda ordem.
Assim que Annia foi levada, também me retirei da sala em silêncio e segui para meu quarto, estava tão desnorteada com os últimos acontecimentos sobre o tal noivado de Annia quanto a mesma. Não demorou muito até que minha mãe entrasse e fechasse a porta. Seu olhar sereno deixou-me temerosa sobre o que poderia dizer a mim.
— Não se preocupe, querida, tudo se resolverá. — Ela forçou um sorriso.
— Do que falas, mamãe? — perguntei confusa.
— Vejo que ficaste triste pela notícia do casamento de vossa irmã, contudo, saiba que eu e vosso pai estamos procurando um noivo para ti também. — Explicou ela. — Em breve, também se casará.
— O quê? — respirei fundo, controlando o desespero que se apresentava dentro de mim. — Não estou triste por isso, e não penso em casar-me agora.
— , estás na idade de se casar, não vou deixá-la ficar velha como sua irmã. — Retrucou ela.
— Mamãe, a diferença entre minha idade e de Annia é de três anos, e ela não está velha para se casar, não diga estas palavras. — Defendi minha irmã.
— Sem questionamentos. — Ela tocou na maçaneta da porta. — Em breve também lhe apresentarei vosso futuro noivo, e se casará conforme o desejo de seu pai.
Engoli a seco suas palavras e a observei se retirar. Meus olhos encheram-se de lágrimas, que não impedi que caíssem. Meu coração já estava em prantos pelo noivado de , agora tudo seria bem pior ao me imaginar nos braços de outro homem.
Como poderia eu casar-me sem amor? Com alguém que não conheço?
Na manhã seguinte, recebi uma carta de dizendo ter chegado a cidade recentemente, pedindo para me ver em particular. Por mais que nossos pais fossem amigos, minha mãe mantinha uma certa implicância com ele. Talvez por achar que nossa proximidade como amigos poderia atrapalhar-me fazer um bom casamento, ou algo assim. Afinal, nunca tive coragem de contar e ela meus sentimentos. Minha mãe infelizmente sempre se mostrou uma mulher amarga que jamais teve a oportunidade de conhecer o verdadeiro amor. Certamente por isso apoiava o casamento arranjado de Annia.
Minutos após o almoço, pedi para dar um passeio pela cidade na companhia de uma das criadas, já que Annia continuava presa em seu quarto. Usei o habitual argumento de querer visitar a delicatessen de doces e sobremesas recém-inaugurada. Minha mãe assentiu, pedindo para que lhe comprasse alguns brownies.
Bem no meio do caminho, consegui distrair a criada e me afastar dela. Senti um pouco da adrenalina de provavelmente estar fazendo algo escondido. Comecei a rir sozinha, até que uma mão tocou em meu braço me puxando para longe do fluxo da avenida principal. Era vestido com sua farda militar vermelha. Deixei-me ser guiada por ele, e seguimos por mais algumas ruas até chegar ao parque da cidade.
— Ficas muito bonito em vossa vestimenta. — Disse ao abrir um largo sorriso para ele.
— Agradeço, fico feliz por ter gostado. — Ele abaixou seu olhar demonstrando frustração repentina. — Freya se sente incomodada com minha farda, vive dizendo que deveria retirar-me do serviço militar.
— Não dê ouvidos a ela, este é seu sonho, , deves segui-lo. — O encorajei como sempre fazia.
— Logo ela será minha esposa, talvez devesse ouvi-la. — Retrucou ele. — Por isso estou aqui.
— Como assim? Não entendo. — O olhei preocupada. — Aconteceu algo, ?
— Sim, preciso dos conselhos e do apoio de minha irmã adotiva. — Ele voltou seu olhar para mim.
Sabia que o termo “irmã adotiva” referia-se a mim. Eu odiava quando me chamava assim. Sempre me lembrando que aquele era o único olhar que manteria a meu respeito. Algo que machucava ainda mais meu sofrido coração.
— E que conselho vieste pedir? Sobre deixar o serviço militar? — perguntei curiosa.
— Não. — Ele suspirou fraco. — Sobre… Se devo realmente casar-me com Freya.
Senti-me zonza por aquilo, minhas pernas falharam um pouco. Logo a mão de tocou em minha cintura amparando-me de imediato. Ele demonstrou preocupação por mim.
— Está tudo bem? — perguntou.
— Sim. — Respirei fundo, porém sentindo o perfume que vinha dele, estremeci por dentro. — Acho que é pelo calor, hoje está um dia quente, não achas?
— Sim, está quente. — Ele guiou-me até um dos bancos, onde nos sentamos.
O silêncio pairou sobre nós por alguns minutos. Eu não sabia como reagir ao fato dele possivelmente estar indeciso em casar-se com Freya ou não.
— Por que se sente indeciso agora? — quebrei o silêncio ao fazer-lhe a pergunta.
— Não sei. — Ele suspirou fraco. — Venho pensando sobre isso desde o ano passado, quando mencionei sobre casar-me com ela… Talvez, não… — ele voltou seu olhar para mim. — Eu deveria ter-lhe perguntando antes de mencionar tal coisa a Freya.
— A mim? Sobre casar-se com ela? — dei uma risada fraca de desespero. — Oras, , o que tenho eu com sua vida? Sou somente vossa amiga…
— És a pessoa em que mais confio e apoio-me neste mundo . — A sinceridade em sua voz, arrepiava meu corpo.
— Pare de pronunciar tal coisa. — Voltei meu olhar para frente, escondendo minha tristeza. — Sou apenas a criança que viste nascer e cuidou como uma irmã mais nova… É assim que me vê.
As lágrimas começaram a se juntar no canto dos olhos. Disfarcei um pouco para limpá-las.
— ?! — ele segurou minha mão. — O que está acontecendo?
— Nada. — Soltei-me dele e me levantei. — Preciso voltar, a criada deve estar em prantos a me procurar e ainda devo comprar brownies para minha mãe.
— Tem certeza de que está mesmo bem? — perguntou ele.
— Sim, estou. — Dei um passo para trás. — Ficará por mais tempo em Londres?
— Irei para Bradford amanhã. — Respondeu ele.
— Não iria para Liverpool? — perguntei intrigada.
— Minha mãe adoeceu um pouco e achou melhor recolher-se em nossa propriedade em Bradford.
— Bem, aproveite a paisagem e refresque sua cabeça no lago de suas terras, assim não ficará com indecisões em sua cabeça. — O aconselhei.
Me despedi dele e segui para a delicatessen, precisava dos meus álibis, os brownies, para enfim retornar para casa.
Passaram-se os dias e recebemos uma carta de Mia, contando as novidades que ocorriam com ela. Ao que tudo indicava, não estava muito diferente de nós. E seguia lutando por sua felicidade. No dia seguinte, escrevi juntamente com Annia uma resposta a ela e enviamos outra carta a Nalla também. Nossa amiga desafortunada havia se mudado para Derbyshire para trabalhar na casa da família Bellorum, e relatava passar por diversas dificuldades.
Cada uma de nós com sua novidade e contratempo do destino, com a distância, não conseguiríamos nos ajudar fisicamente e somente as cartas poderiam nos motivar a não perder as esperanças.
Assim, a sorte estava lançada para as quatro amigas.
– x –
Quando dizemos que a vida é imprevisível, não imaginamos que ela pode nos surpreender a cada momento. Saber sobre o mal-estar da sra. Dominos, foi somente a ponta do iceberg que faria o barco da minha vida naufragar. A mãe de tinha escrito uma carta a minha mãe, pedindo para que eu viajasse a Bradford, para assim ajudá-la nos preparativos do jantar oficial de noivado de seu filho único. Com a saúde frágil, eu era a única pessoa em quem confiava de organizar tudo de acordo com seus sonhos.
Seria demais para meu coração suportar isso. Contudo, a sra. Dominos me considerava tanto que não consegui negar seu pedido e parti para cumprir minha missão. Ao descer da carruagem e olhar para a Don House, as lembranças de quando criança me tomaram com intensidade, fazendo algumas lágrimas aparecerem de surpresa. Estar ali pelo motivo que eu estava trazia tristeza e angústia ao meu coração.
— . — A sra. Dominos me olhou com carinho e logo abraçou-me. — Que bom que vieste, não sei o que faria se tivesse recusado.
— Jamais recusaria um pedido vosso. — Sorri de leve para ela. — És como uma segunda mãe para mim.
— Que linda, você. — Ela acariciou minha face. — Uma pena que meu filho não a veja como uma mulher, seria tão bom que fosses a noiva dele, e não aquela esnobe filha de aristocratas.
Suas palavras deixaram-me paralisada. Uma surpresa a sra. Dominos não gostar de Freya e aparentemente não aprovar o futuro casamento de vosso filho. Mais ainda, ela queria que eu fosse a noiva dele. Pela primeira vez após todo aquele tempo de dor, meu coração se aqueceu um pouco.
— Bem, existem certas ocasiões em que os pais não conseguem escolher com quem os filhos se casam. — Disse a ela, tentando consolá-la.
— E por falar no assunto, como está o noivado de vossa irmã? Soube recentemente. — O olhar dela ficou curioso.
— Devo confessar-lhe que nos pegou de surpresa. — Sorri disfarçando meu choque. — Annia ainda mais, porém já se acostumou com a ideia, presumo eu.
— Que bom, pois tenho certeza que vossos pais não a deixariam desistir. — Ela soltou uma gargalhada alta e meio maldosa.
A sra. Dominos me guiou até o quarto onde ficaria. Não sei dizer se foi proposital, mas ficava ao lado do quarto de . Assim que ela saiu deixando-me sozinha, desfiz as malas e guardei as poucas roupas nos armários. Aproximei-me da janela e fiquei olhando por toda a extensão das terras da família Dominos. Foi quando vi cavalgando em direção a casa. Me afastei da janela e saí do quarto.
Descendo as escadas, o vi passando pela porta de entrada. Seu olhar parecia mais vívido e animado.
— . — Ele abriu um largo sorriso ao me vez.
Daqueles sorrisos que me derretiam por dentro.
— Bom dia, tenente Dominos. — Disse mais formal pela presença de seus pais.
— Ah, por favor, sem o tenente, não estou a serviço. — Ele riu de leve e se aproximou mais. — Quando chegou?
— Há poucos minutos. — Respondi, desviando meu olhar para sua mãe que mantinha um sorriso no rosto ao nos ver próximos.
— Estou feliz que esteja aqui. — Ele manteve o sorriso no rosto, mas com um olhar diferente.
Caminhamos todos para o jardim, onde aproveitamos o frescor do dia para saborear um brunch preparado para minha chegada. O verão tinha terminado e uma nova estação iniciava em nossas vidas. Descansei um pouco à tarde, até que me reuni na biblioteca da casa com a sra. Dominos para falar do jantar de noivado. Não consegui atentar-me às suas palavras, pois a cada vez que o nome de Freya era pronunciado, uma pontada de dor me surgia.
Pensei que minha primeira noite ali seria um tanto quanto tranquila, porém a insônia me atacou de repente e perdi o sono. Me levantei da cama e senti um pouco de sede, desci para o primeiro andar e caminhei até a cozinha. Após pegar um copo de água, ouvi um barulho vindo da biblioteca. Não deveria, mas me aproximei da porta e vi entre a fresta, sentado no chão aparentemente em lágrimas. Cortou meu coração vê-lo assim, e sem saber o motivo. Toquei a porta para que abrisse e entrei no cômodo.
— . — Sussurrei me aproximando dele. — Está tudo bem?
— Sim. — Ele fechou os olhos, certamente para que eu não confirmasse que chorava. — Está tudo bem, volte a dormir.
— Não. — Me abaixei, ajoelhando em frente a ele e pousei minha mão em seu ombro. — Posso dizer que o conheço desde o dia em que nasci, , não podes mentir para mim, conheço todas as vossas variações de humor.
— . — Ele me olhou.
Seus olhos estavam um pouco vermelhos.
— Diga… O que está acontecendo? — insisti.
— Quer mesmo saber?
— Sim.
Ele impulsionou seu corpo para cima do meu e beijou-me de forma doce e intensa. Minha mente paralisou aos seus movimentos rápidos, assim como meu coração acelerou também. Não era certo o que estávamos fazendo, mas era o que eu esperava a tanto tempo, que esvaziei minha consciência por um tempo e somente aproveitei o curto espaço de tempo.
— , não podemos. — Disse afastando-me dele. — Está comprometido… E sou sua irmã, não é mesmo?
— .
— Não diga mais nada, vou para meu quarto. — Me levantei apressadamente e segui para o quarto.
O que deveria ser a madrugada de outono mais triste, se tornou a mais intensa de minha vida. Um turbilhão de emoções e sentimentos tomou conta de mim. Com aquele beijo, será que não me via mais como uma simples criança que sempre protegia do escuro? Quanto mais tentava fugir do ocorrido na biblioteca, mais eu pensava sobre isso e sentia o gosto do seu beijo, desejando ser novamente tocada por mais lábios.
Mais dias se passaram. Enviei cartas as minhas amigas e certamente Annia também. Nossos desabafos em palavras nos traziam forças para aguentar os contratempos da vida. Nalla em sua carta, relatou que passava por alguns conflitos com o sr. Bellorum, mas que tinha se apegado muito a pequena Molly, filha dele. Mia continuava em sua busca tendo o padre, ou melhor, Vincent Tenebrae, como seu guia para encontrar o noivo perfeito para ela. Já minha irmã, em sua carta, contava-me sobre a conversa que tivera com Isla, sobre casamentos arranjados.
No geral, não estava fácil para nenhuma de nós.
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Era complicado fingir que nada tinha acontecido. Principalmente com os olhares nada discretos de para mim, o que me fazia não ficar sozinha em um mesmo ambiente com ele. O que eu estava fazendo? Em toda a minha vida desejava que ele me olhasse não como uma criança e sim como uma mulher, sua quem sabe futura esposa. E agora, eu só tentava me esconder e lutar contra sua aproximação.
Na primeira tarde de inverno do mês, ainda na Don House, recebi o convite de casamento de Mia. Algo que me deixou surpresa e alegre ao mesmo tempo. Eu voltaria para Londres no dia seguinte, já que o sr. Dominos cancelou o jantar de noivado após o Natal, devido a um desentendimento com o pai de Freya a respeito do dote dela. Não me continha iludir-me ao pensar que tudo estava caminhando a meu favor. Mas como poderia ficar feliz pela tristeza dos outros? Quando a conheci, Freya se mostrou feliz e empolgada pela ideia do noivado.
Mais semanas se passaram.
O casamento de Mia foi realizado em um domingo, manhã de primavera, no castelo dos pais do lord Tenebrae regado ao perfume das flores do campo. Um vasto banquete foi oferecido para os amigos íntimos. Era nossa primeira vez reunidas após a distância imposta.
— Não acredito que puderam vir. — Disse Mia ao nos abraçar. — Sinto-me feliz por vê-las tão bonitas e coradas.
— A primavera trouxe alegrias, assim como seu casamento. — Comentei bem sorridente.
Deixei escapar um brilho em meu olhar. Com meu coração aquecido e alegre pela felicidade de minha amiga. A vida não parecia ser tão carrasca quanto pensava antes.
— Estamos mesmo muito felizes por sua conquista. — Disse Nalla.
— Quem bom que o sr. Bellorum a deixou vir. — Mia sorriu para nossa amiga.
— Sim, foi um tanto conturbado, mas ele deixou sim. — O olhar de Nalla estava triste, apesar do sorriso em seu rosto.
— E você, Annia? Se casará no início do verão. — Mia sorriu. — Estou feliz pela data escolhida, já terei voltado de minha lua de Mel em Roma.
— Pois é, meu pai quem escolheu a data. — Annia confirmou nada empolgada.
— Você vai para Roma? — fiquei boquiaberta. — Meu sonho era conhecer esta cidade.
— Sim, foi um pedido de Vincent, ele quer me mostrar o monastério em que vivia. — Explicou ela.
— Se casou com um padre. — Annia brincou, lançando-lhe um olhar malicioso. — Será que ele é virgem também?
— Annia? Olha os modos, que pergunta. — A repreendi.
Nós quatro rimos daquilo.
Era bonito e motivador ver a felicidade de nossa amiga. A primeira de nós a se casar. O sinal de que nem tudo estava perdido e o amor poderia ser real. O verão chegou e curiosamente dias após o casamento de Annia, fomos convidados a passar alguns dias na Don house. O aniversário da sra. Dominos se aproximava e ela desejava comemorar cercada pelos amigos.
Numa calorosa noite de verão, me recolhi mais cedo, logo após o jantar. Ainda não conseguia encarar , mesmo com seu beijo presente em meus pensamentos. Passei um tempo ao lado da janela com as cartas de minhas amigas e minha irmã nas mãos. Voltei meu olhar para os papéis e sorri. Era divertido ler os relatos de minha irmã sobre seu plano de seduzir o marido. Ela estava mesmo inclinada a não perder o foco do olhar de seu marido.
Foi quando ouvi batidas em minha porta. Quem seria a esta hora? Deixei as cartas em cima da mesa ao lado da cama e segui para a porta. Abrindo, meu corpo gelou, ao ver os olhos de .
— O que desejas? — perguntei em sussurro para que nossos pais não ouvissem. — Deveria estar na sala com nossos pais.
— Eu sei, mas não consegui, por pensar muito em vós. — Confessou ele.
— Em mim?
— Permita-me entrar um instante? — pediu.
Assenti um pouco relutante, e o deixei entrar.
— Não deves ficar dizendo essas coisas. — Disse-lhe ao fechar a porta. — Imagine o que diriam se nos ouvissem.
— Meus pais sabem. — Afirmou ele.
— Sabem? Sobre o quê?
— Meus pensamentos, não escondo nada deles. — Admitiu ele, olhando-me atentamente. — O noivado foi cancelado, não pelo dote, mas por um pedido meu.
— Um pedido seu? O que o levou a isso? Disse para não se deixar ficar indeciso sobre isso.
— Não estou indeciso, nunca estive tão certo de meus sentimentos como estou agora. — Assegurou ele com um olhar esperançoso. — Entretanto, eu preciso confirmar algo, senão, não conseguirei seguir em frente.
— O que precisa confirmar? — perguntei.
— O que sentes por mim? — respondeu com outra pergunta. — Você me ama?
Meu coração acelerou. O que ele pretendia com esta pergunta?
— Que pergunta, claro que te amo, és meu amigo. — Dei um sorriso de nervoso.
— Não foi isso que vos perguntei. — Ele se aproximou de mim e tocando de leve em minha cintura, seu olhar ficou intenso. — , me amas?
— Esta pergunta, nunca quis tanto ouvi-la. — Confessei.
Não me importava mais com o que poderia acontecer. A confirmação do rompimento de e Freya já estava estabelecido. E claramente ele sentia algo por mim.
— Mas… — continuei insegura. — Tenho medo de responder a esta pergunta e acabar me machucando mais uma vez.
As lágrimas foram se formando no canto dos meus olhos.
— Lembro-me de quando foi para o exército, tentei me declarar e não deixaste. — A primeira lágrima caiu. — Então, veio a carta dizendo que cortejava Freya, matando-me ainda mais por dentro.
— . — Seu olhar parecia arrependido. — Perdoe-me por te causar tanto sofrimento… Por tê-la visto nascer, por termos crescido juntos, ser tão mais velhos que vós, sempre relutei em vê-la como uma mulher… Repetia a mim mesmo que eras somente a criança de quem eu deveria cuidar e não deixar afogar-se no lago… Mas cresceu e se tornou uma linda mulher que me toma os pensamentos a todo momento.
— O que quer dizer com isso?
— Que me aproximei de Freya para tentar te esquecer e não me apaixonar por vós. — Confessou ele. — Entretanto, não se pode esquecer a pessoa que ama.
Não me contive em segurar em sua mão e entrelaçar nossos dedos. Nossos olhares fixos um no outro. foi se aproximando cada vez mais, até que seus lábios tocaram os meus, fazendo meu corpo arrepiar. Dentro de mim, a certeza de que estaria sempre ao meu lado foi crescendo mais e mais.
Aquele beijo não selava somente nosso amor, iniciava nossos sonhos e planos para uma vida juntos, após nosso casamento.
Em seus braços, eu sempre estaria segura.
A resposta é você
Minha resposta é você
Eu te mostrei tudo de mim
Você é o meu tudo, eu tenho certeza
Eu serei mais cuidadoso e te protegerei
Então o seu coração nunca será machucado
Eu nunca me senti assim antes
Como se minha respiração fosse parar.
– My Answer / EXO
“Escolhas: Esta não é a história que eu quero lembrar, é a história que eu quero viver.” – by: Pâms
Eu tava com o coração na mão por esses dois.
E Demeter até aqui faz o meu tipo, fazer o quê, né HAHAHAHAHAHAHAH
Comentário originalmente postado em 21 de Agosto de 2021