Capítulo 17
Alonso Perroni
Estacionei meu carro e respirei fundo olhando para o prédio do hospital, virei o rosto e vi as flores que comprei para levar para Vincenzo, era tão difícil ter que passar por aquilo de novo e, dessa vez, era ele, meu melhor amigo. Peguei o vaso, a minha bolsa e saí do carro indo em direção à entrada, cheguei na recepção e me identifiquei, sendo permitida a minha entrada logo em seguida para o quarto 204, onde ele estava internado. Caminhei a passos lentos, estava sem pressa alguma, com medo de como iria encontrá-lo, se estaria tão frágil quanto sua mãe há longos anos.
Eu precisava ser forte por ele e por Gio.
Vi que a porta do quarto estava aberta, puxei o ar mais uma vez e dei alguns passos, parando em frente a porta, vi Giovanna sentada na beira do colchão e Vince deitado naquela cama de hospital, porém, ele estava bem, mesma expressão de cafajeste e um sorriso no rosto por algo que Coppola falou. Sorri com alívio de ver aquela cena, fechei os olhos agradecendo a quem estivesse me ouvindo e então ouvi meu nome.
— !
Sorri e entrei, deixando minha bolsa e o vaso de flores em cima da primeira mesa que vi, Giovanna levantou para eu ter espaço para abraçar Vince, então o envolvi em meus braços e apertei o nosso abraço. Estava feliz em vê-lo bem, agradecida por não estar debilitado ou triste por já estar ali há tanto tempo.
— Eu estou bem, . — Afastei apenas para poder olhá-lo nos olhos. — Graças a você e seu pai.
— Não… — Neguei com a cabeça e me endireitei ficando ao lado da minha melhor amiga, que me abraçou.
— Modéstia não combina com você, — falou Gio e eu a olhei, irritada. — Aí está a nossa . — Balancei a cabeça, rindo.
— Obrigado, — agradeceu Vincenzo e eu apenas assenti pegando em sua mão.
— Meu agradecimento é você ficar bem e voltar pro bar, Cristian e você trabalharão juntos a partir de agora.
— Ótimo, mais tempo para os meus serviços particulares.
— Com a Giovanna até pode ser… — Ela arregalou os olhos e apertou meu braço, fazendo com que eu parasse minha frase no meio e olhasse para ela sem entender nada. Vince franziu o cenho, confuso, e pelo pânico da loira, pude deduzir que ela não tinha se declarado pra ele... ainda. Revirei os olhos antes de dizer: — Foque no bar de agora em diante, ok?
— Você que manda… — Ele fez continência e eu apontei o dedo para ele fazendo careta. — Que foi?
— Pare com isso! — ralhei de forma brincalhona. — Virou obrigação pros meus empregados desde que você inventou…
— Bom saber que pelo menos iria deixar um legado.
— Vai se foder, Vince — falei soltando o ar com força.
Nós três gargalhamos e era tão bom estar com eles novamente, pena que a minha paz não durou muito e meu telefone começou a tocar. Olhei para o visor e era Giulia; esperava não ser mais nenhuma surpresa desagradável como um vídeo meu aos beijos com , essa história estava acabada.
— Oi, Giu.
— Vem pra casa… agora. — De novo essa…
— Agora, ! — berrou ela, interrompendo a minha frase e desligou, me deixando completamente confusa, mas ela não faria algo do tipo se não fosse importante.
— Desculpa, mas eu preciso ir, algo aconteceu em casa. — Guardei o celular no bolso da minha calça.
— Tudo bem, e fiquei feliz de ver você, . — Vincenzo sorriu.
— Vince vai ter alta semana que vem… — falou Gio, animada.
— Isso é maravilhoso! — Abracei ele novamente. — Se cuida, tá bom?
— Giovanna está cuidando muito bem de mim. — Ele piscou para ela e eu fiz uma careta.
— Jantar lá em casa, nós três, tudo bem? — Assenti que sim.
— Eu amo vocês.
— Que bicho te mordeu, ? — perguntou Giovana e eu apenas revirei os olhos antes de deixar o quarto e logo o hospital.
Cruzei o estacionamento mexendo no celular e vi as últimas mensagens no grupo com as minhas irmãs, elas tinham me marcado diversas vezes e eu fiquei ainda mais preocupada, comecei a caminhar mais rápido. Olhei para o lado enquanto guardava o telefone na minha bolsa e vi Ettore e Austin sobressaltados, eles estavam em outro carro estacionado a poucos metros do meu. Eu apenas fiz sinal que estava tudo bem. Assim que estava atrás da direção, coloquei o cinto e fui na maior velocidade que a rodovia permitia até em casa. Entrei a passos largos à procura da Giulia, fui até a sala de segurança e ela não estava lá, franzi o cenho e mandei mensagem no grupo perguntando onde elas estavam e tudo que recebi foi:
quarto da Bea.
Abri a porta de supetão e Beatrice surgiu de trás de mim fechando e trancando a porta, olhei assustada com a cena de filme de terror. Giulia andava de um lado para o outro sem parar e Luna estava na varanda, fumando, o que era uma novidade. Fechei os olhos, unindo minhas sobrancelhas e os abri novamente antes de perguntar:
— O que caralhos está acontecendo?
— Acho melhor te mostrar… — Beatrice respirou fundo e foi até as portas duplas do closet dela. Caminhei até ela, ficando ao seu lado. — Tá pronta?
— Vai logo, Beatrice.
Assim que ela abriu as portas, eu cobri minha boca para um grito não sair. Eu esperava qualquer coisa das minhas irmãs, sinceramente, mas aquilo era loucura.
— O que vocês fizeram? — Olhei para elas com os olhos arregalados.
— Agora a gente explica. — Luna fechou a porta da varanda, assim como minha irmã ruiva fechou as do closet ao som dos gritos abafados deixando a boca da mulher que estava lá dentro.
— Beatrice ouviu a Carolyn no telefone… — Cruzei os braços esperando algo que explicasse a futura noiva de amarrada e amordaçada dentro do closet da Beatrice. — Ela falava com alguém sobre um plano pra controlar a
Vincere, .
Franzi o cenho, ficando completamente chocada com aquilo, eu não gostava da mulher pelo simples motivo de ela parecer fútil, superficial e arrogante, mas ela ser uma infiltrada para derrubar a
famiglia mudava todo o cenário. Minha expressão mudou completamente, assim como meu temperamento e minha postura diante daquilo tudo. Elas fizeram bem em prender essa vagabunda, quem ela acha que é pra invadir a nossa casa e tentar tomar o que é nosso por direito?
— Já fizeram ela falar?
— Essa parte é com o . — Beatrice levantou as mãos em rendição e sentou na cama. Respirei bem fundo e eu não falaria com o idiota até o momento que fosse extritamente necessário.
— Ele está há dias torturando diversos homens pra conseguir informação, vamos dar um tempo pra ele, ok? — explicou Giulia e eu olhei pra ela, confusa.
— Quando foi que isso- — Deixei a frase morrer, sem acreditar que de novo os segredos estavam por todo lugar. — Giu, o que tá acontecendo?
— Sigilo.
— De nós?! — reclamou Bea, indignada.
— Papai pediu.
— Era só o que me faltava… — Revirei os olhos. — Qual a missão, Giulia? — Ela ficou em silêncio, tentando olhar para outros lugares que não fossem meus olhos, mas fui até ela e parei em sua frente. —
Parlare, Giulia Perroni! — Os Delantera voltaram!
—
Mannaggia! — xingou Beatrice gesticulando as mãos. — Ela é um deles?
— Vai saber, agora temos que arrancar algo dela! — falou Luna, nervosa.
Massageei minha testa em busca de alguma razão ou uma luz em minha mente, aquilo não podia estar acontecendo, era uma merda atrás da outra. Logo quando achei que estava tudo resolvido e que eu seguiria tomando conta da minha boate, se casaria e seria feliz bem longe de mim e tudo ficaria bem. No entanto, eu esqueço que ser dessa família quer dizer que a única coisa que não vamos ter na vida é paz. Soltei o ar me preparando e abri as portas do closet, olhei para minhas irmãs perguntando se elas iriam e as três me seguiram. Giulia fechou as portas e então me aproximei da loira e tirei o pano da boca de Carolyn.
— Vai, desembucha.
— Não sei o que quer de mim…
Revirei os olhos e dei um tapa na cara dela, assustando minhas irmãs, menos Giulia, óbvio, e Carolyn mantinha o rosto virado para o lado, surpresa por eu ter feito aquilo.
— Você vem a minha casa, seduz , enrola a minha irmã — apontei para Luna — e agora quer me fazer de otária?
Non sono un idiota. — Não sei o que sua irmã escutou, mas ela está louca — falou com tamanha arrogância que me fez ficar com mais raiva do que já estava.
— Vai xingar minha irmã também?! — Estalei minha palma de novo no rosto dela, dessa vez com mais força, o que fez sua pele ficar vermelha. —
Se pazza, puttana? — Eu sou apenas a prometida de . — Ela começou a chorar e fazer cena, eu apenas revirei os olhos fortemente e andei de um lado para o outro pensando no que eu poderia fazer para fazer ela falar. — Só quero dar uma família a ele…
— Não ouse… — Parei em frente a ela, apontando o dedo em sua cara
— Ele me contou o quão trágica é a história de vocês…
— Não ouse usar isso pra se safar, sua vadia. — Ela levantou a cabeça e me olhou de forma investigativa, franzi o cenho, confusa. — sofreu tanto quanto qualquer uma de nós e não merece ser traído dessa forma.
— Você gosta dele… — falou ela, baixo, como se tivesse se dado conta daquilo naquele momento.
— O quê? — Dei um passo para trás.
— É sobre isso, não é? — Ela riu, soltando o ar pelo nariz, desacreditada. — Vocês dois têm um caso por baixo dos panos… — Carolyn fez uma careta.
— Não fale do que não sabe… — Neguei com a cabeça, veementemente.
Senti um vazio me tomando, aquela sensação de estar sendo ameaçada e acuada em um canto da parede me tomou. Um calafrio percorreu meu corpo se instalando em meu estômago. Olhei rapidamente para as minhas irmãs que seguiam ao meu lado, mas eu sentia que elas me julgavam em suas mentes.
A raiva surgiu em mim, não só pela situação ou por ela falar em voz alta algo que todas nós sabíamos, porém, decidimos em conjunto enterrar aquilo naquela sala de segurança, assim como Giulia achou melhor deletar aquele vídeo, transformando de uma vez só aquilo em um segredo nosso. Também me deixava irritada o fato de a mulher invadir minha casa e me afrontar daquela forma, nos desrespeitando embaixo do nosso próprio teto e ainda achar que pode falar um absurdo desses como se soubesse de algo.
— Tá escrito na sua cara! — Ela abriu a boca como se estivesse chocada. — Você está apaixonada por ele!
— Cala a boca! — Parti pra cima dela desferindo tapas, mas Beatrice me segurou e começou a me puxar para trás.
— Que nojo, vocês são doentes!
— Sua escrota, eu vou matar você! — berrei, completamente sem controle algum da minha raiva, aquilo tinha me atingido de forma mais profunda do que eu achei que seria.
— Vamos sair daqui… — Bea lutava para me tirar de perto da mulher enquanto eu me debatia querendo agredir Carolyn.
Giulia se juntou à ruiva e me levaram pra fora, Luna colocou a mordaça novamente na francesa e fechou as portas.
—
Calmati, . — Giulia balançou meus ombros.
Senti meu coração pulsando em minha garganta, por que eu me descontrolei tanto?
Não podia ser verdade, não era, eu sabia que não era. Eu nunca gostei do , o que aconteceu foi um lapso, um desvio de caráter momentâneo, apenas um desejo incontrolável, delirante eu diria, de duas pessoas que se odiavam, foi só isso. Porque eu sinto que se não fosse pelas minhas irmãs eu teria matado aquela vagabunda com as minhas próprias mãos? E por que a sensação que eu tenho dentro de mim é que eu teria gostado disso?
— Ela está me assustando... — comentou Luna, amedrontada, fazendo-me acordar dos pensamentos obscuros em minha mente e voltar a mim.
— Descubram tudo o que puderem sobre ela, enquanto isso, ninguém sabe onde ela está, entenderam? — ditei, olhando para elas, que assentiram. Saí dali pisando duro, eu precisava de um ar e, principalmente, de uma bebida.
Saí dali batendo a porta com força, caminhei sem rumo pelo corredor, eu estava completamente desorientada, passei a mão pelo rosto e agachei no meio do corredor. Apoiei a cabeça em meus joelhos, minha vontade era de gritar e colocar tudo aquilo para fora, sentia meu coração acelerado e pulsando em meus ouvidos.
Me sentia sufocada e perdida.
— O que aconteceu?
Abri os olhos de vez, encarando o chão, ao ouvir aquela voz. parecia ter o timing perfeito para me pegar desprevenida. Levantei a cabeça devagar e vi ele me olhando de maneira curiosa, fiquei de pé e puxei meu blazer, ajeitando-o.
— Nada aconteceu.
— Sério? — perguntou, debochado. — Por isso estava no meio do corredor agachada… Bem comum uma pessoa em seu juízo perfeito fazer isso.
— Estou sem tempo pra você, . — Comecei a andar para passar por ele, mas fui segurada pelo braço, fazendo com que eu olhasse em seus olhos.
— Não quero que saia de casa — ordenou ele, como se eu fosse uma maldita criada.
— Como? — Franzi o cenho.
— Não vou repetir, .
— Me solte — falei, séria.
— Se me prometer manter essa bunda em casa…
— Você realmente acredita que tem algum poder sobre mim, não é?
— Sabemos que sim… — falou, vangloriando-se.
Aquele sorriso libertino tomou seu rosto e tudo que escutei foi a voz da Carolyn em minha mente. Puxei meu braço de maneira brusca e tomei distância dele, assustada, e aquilo fez ele me olhar de forma confusa. Os olhos negros foram direto para os meus, me analisando, e eu nunca conseguia não me sentir presa a eles, nem que fosse apenas por alguns segundos.
— O que você-
— Tenho mais o que fazer, … — Virei as costas e saí andando sem deixar ele terminar o que falaria.
— Perroni, não ouse sair dessa casa! — gritou , mas eu já estava descendo a escada com pressa.
Peguei minha bolsa em cima da mesa no hall e entrei em meu carro. Fiquei olhando para a mansão e diversas coisas me passaram pela cabeça, desde o maldito dia em que caí na tentação pela primeira vez até o momento em que aquela cadela falou aquele absurdo. Fechei os olhos e soquei o volante diversas vezes enquanto gritava o máximo que meus pulmões permitiam.
Abri os olhos e olhei para frente, assim que vi na porta de entrada dei partida no carro e saí cantando pneu. Olhei pelo retrovisor e o carro dos meus seguranças vinha logo atrás de mim, suspirei aliviada por ele não ter colocado todo o exército atrás de mim.
—
Cazzo!! — berrei dando outro soco no volante.
Eu precisava ir para a boate, Beatrice estava em casa e isso significava que a
Fascino estava sem alguém para administrar a noite. Mesmo sabendo que não me encontrava em meu juízo perfeito, eu precisava de algo que distraísse a minha mente. Entrei pela porta sem nem mesmo dar boa noite aos meus seguranças ou barmans. Apenas subi a escada com um único objetivo: secar aquela garrafa de vodca.
Entrei em meu escritório e joguei minha bolsa no sofá, abri a gaveta e ao tirar a tampa da garrafa, nem mesmo pensei em um copo, virei o líquido transparente e o senti queimar em minha garganta. Mordi o lábio com força enquanto me apoiava na mesa e encarava o carpete vermelho, nem mesmo me dei conta de quando comecei a chorar.
O que porra tava acontecendo comigo?
Quando desci, bêbada demais para dirigir meu próprio carro, pedi para que Austin e Ettore me levassem para um hotel. Eu não queria estar em casa, não queria ver minhas irmãs, não queria vê-lo… Queria, por uma noite, esquecer que eu fazia parte da
famiglia. Eu só precisava de um tempo sozinha com minhas frustrações e pensamentos obscuros demais para serem falados em voz alta.
Um deles foi dito em alto e bom som e eu não gostei da sensação de ouvi-lo.
E não só foi dito na minha frente como minhas irmãs também estavam lá para ver o meu descontrole emocional diante daquilo. Não podia ser a verdade, eu não aceitaria se fosse, eu lutaria todos os dias contra seja lá o que fosse aquilo. Eu pedi mais bebida pelo serviço de quarto e bebi até achar que fosse o suficiente para calar as malditas vozes dentro da minha cabeça.
Alonso Perroni
Acordei com batidas fortes na porta e com muito esforço consegui abrir os olhos, ergui meu corpo e olhei para os lados vendo uma garrafa de whisky quase na metade. Ouvi as batidas novamente e levei a mão até a cabeça, a dor estava presente, latejante. Desci da cama e peguei um robe. Fui até a porta e abri ela devagar, vi transtornado, me olhando daquele jeito possesso, mas sem perder a pose que só ele conseguia, e então respirei fundo já sabendo o que viria, dei as costas e caminhei em direção ao banheiro.
— Por que faz tão pouco da minha autoridade, ?! — Ele entrou no quarto e bateu a porta atrás de si. Entrei no banheiro, ignorando sua pergunta, e comecei a escovar os dentes com a escova que o hotel dava de brinde, logo vi ele no reflexo do espelho. — Falei para não deixar a mansão.
— Não sei se já se deu conta em que século estamos — virei e apontei a escova de dente para ele enquanto falava —, mas eu sou uma mulher livre, . — Voltei para a pia cuspindo a pasta e lavei a boca, me enxugando na toalha e virando novamente para encará-lo. — Não obedeço homem nenhum.
— … — alertou, passando a mão no rosto, claramente indignado. — Você sumiu!
— Eu estava com meus seguranças, que tenho certeza que você ligou para saber onde eu estava, já que está aqui.
— É óbvio que liguei! — gritou, e eu apenas ignorei minha cabeça latejando por causa da ressaca e caminhei até o quarto com ele em meu encalço. — Você some por uma noite inteira logo depois… — ele não continuou, apenas suspirou e mexeu no cabelo, nervoso. — Me escute dessa vez, sim?
— Conseguiu alguma informação? — falei sentando na cama e cruzando as pernas, vi seus olhos serem indiscretos em minhas coxas, que escapavam do pano do robe, e revirei os olhos. — Aqui, — indiquei meus olhos com o indicador e ele logo subiu o olhar, pigarreando. — Com os Delantera, talvez?
— Como você-
— Não importa — cortei o que ele iria dizer. — Você deveria ter me comunicado… — Levantei e virei de costas, peguei minha calça e a coloquei passando por baixo do robe, abotoei e fechei o zíper me virando para ele novamente. — Isso é importante, nós também precisamos estar em alerta caso eles estejam pensando em nos atacar.
— Tem um infiltrado na
Vincere,
cazzo, por isso mandei ficar em casa.
— E esse foi o problema, você não quis me informar pois acha que manda em mim. — Tirei o robe e joguei em cima da cama.
— ! — Peguei minha blusa que estava nas costas de uma poltrona e vesti. — Não fode, porra, você sabe o que passamos. — Ele se aproximou de mim.
— Por isso mesmo! — Encarei-o com raiva e bati o indicador no peito dele, irritada por achar que eu sou uma donzela em perigo que precisava ser protegida a todo custo. — Não sou idiota, você sabe melhor do que eu que devemos seguir com a rotina… — Peguei meu blazer, bolsa e saí andando para fora do quarto. — Bom dia, Austin, Ettore. — Sorri para eles, que apenas balançaram a cabeça me cumprimentando. — Não podemos deixar eles desconfiarem que sabemos… — vinha logo atrás de mim e meus seguranças na sequência, tomando uma certa distância respeitosa, continuamos a caminhar pelo corredor em direção ao elevador. — Acaso não sabe como o inimigo pressente essas coisas? Sem falar que pode ser alguém em qualquer lugar na
Vincere, até na Itália.
— Você sempre minimizando o fato de que pode ser alguém próximo e que você pode estar em risco…
Parei em meio ao corredor e virei para ele, pendendo a cabeça para o lado antes de falar:
— Acha mesmo que só eu corro riscos, ?
— Não ache que um sobrenome falso te mantém em segurança, — sussurrou ele entre dentes, aproximando-se de mim, aqueles olhos sempre parecendo me desafiar, aquilo sempre me deixava possessa.
— Sei bem que não…
— Então não me conteste, vá direto para casa e fique lá…
— Infelizmente… — Olhei para o meu relógio de pulso e busquei seus olhos — a
Fascino abre em algumas horas. — Dei de ombros olhando para ele.
Vi sua expressão mudar e ele me empurrou na parede com força, arregalei os olhos e senti meu coração acelerar, assim como meus seguranças levaram um susto pela movimentação repentina e travaram onde estavam. Ninguém nunca tinha visto eu e brigarmos daquela forma, nem mesmo eu tinha visto ele perder a cabeça em um lugar público.
— Não me tire do sério — travou o maxilar —, sei que odeia quando eu ajo por impulso, . Então, caso não queira que eu mate cada filho da puta que ousar olhar errado pra você, fique em segurança.
Minha respiração estava descompassada, sentia meu corpo trêmulo, mas não era de medo, eu o conhecia, mais do que gostaria até. Aquela sensação era receio, receio do que eu estava sentido com tão perto de mim, falando de maneira tão protetiva, segurando meu ombro e minha cintura com possessividade. Aquilo era impróprio de tantas maneiras, e eu soube ali que nem toda a bebida do mundo poderia manter aqueles pensamentos sujos longe da minha cabeça.
— Ok — foi tudo que eu disse.
[...]
Soquei com mais força o Fred, nome que eu tinha dado para o boneco de borracha que era mais um saco de pancadas na nossa academia, estava descarregando a minha raiva de ter que ficar presa naquela casa. só podia ter surtado, ficou tanto tempo torturando homens que perdeu a habilidade de interpretar a realidade. Não era possível que ele estava pensando racionalmente prendendo todas nós em casa como se algum idiota fosse capaz de se aproximar de nós depois da segurança ter sido reforçada.
Eu tinha pedido para Cristian tomar conta da boate depois daquele ataque de , fazia 8 dias que eu estava trancada naquela casa e eu já não sabia mais o que fazer. Chutei mais uma vez o boneco, senti meu coração pulsar na minha garganta, fechei os olhos e respirei fundo. Eu já estava enlouquecendo antes mesmo de não ter que ficar sem distrações, eu precisava do meu trabalho para me manter longe dos pensamentos obscuros que rondavam a minha cabeça.
Eu estava entrando em pânico dentro daquela casa, eu precisava ir pra minha boate e naquele dia eu iria, não tinha um ser humano nessa terra que me fizesse mudar de ideia. Tomei um banho depois do almoço, me arrumei e sem ninguém me impedir, fui até a
Fascino. Com Ettore e Austin na minha cola, é claro. Entrei na boate, feliz apenas por estar ali, dei boa tarde aos meus barmans e pedi para que Christian fizesse um martini.
— Ontem veio uma mulher aqui querendo falar com você.
— Uma mulher… Não disse o nome ou o que queria comigo? — Franzi o cenho olhando para o ruivo que colocou a taça com minha bebida no balcão balançando a cabeça negativamente.
— Ela só disse que voltaria. — Assenti, dando de ombros. — O detetive veio de novo também… — Soltei o ar, revirando os olhos. — A sorte foi que os homens vieram recolher o que sobrou mais cedo.
— Eu queria que Estevan cuidasse de algo mais importante do que ficar enchendo a porra do meu saco.
— Acho que o cartel de drogas da Espanha é bem importante, . — Ele riu e eu mostrei o dedo do meio para ele.
— Idiota.
— Boa tarde. — Olhei para o lado, vendo Beatrice.
— Fugiu de casa também? — falei rindo.
— está insuportável. — Ela revirou os olhos e sentou ao meu lado. — Me dá um desse também, Cris.
— É pra já. — O barman virou e foi para o fundo do bar preparar o drink.
— Estava com saudade da namorada? — Peguei minha taça e dei um gole, rindo divertida.
— Vai me tirar pra brincadeira, ?
— Só fiz uma pergunta… credo. — Levantei as mãos em rendição e ela revirou os olhos.
— Eu quero falar uma coisa com você… sobre aquele assunto. — Ela me encarou insinuando que eu soubesse qual era o assunto, e eu realmente sabia; Carolyn.
— Vamos pro escritório.
Ela me explicou como estava fazendo com a vadia francesa. Dava comida a ela, levava ela no banheiro para fazer as necessidades, amarrada é claro, e a diaba não abria o bico. Beatrice até tentava arrancar alguma coisa dela, porém, Carolyn parecia treinada para suportar aquilo e muito mais. No entanto, eu ainda achava que a gente estava pegando leve, então eu disse que depois do fim de semana de Natal a gente interrogaria ela de uma forma mais… eficaz.
Pensei até em um jeito de o papai e de não desconfiarem do sumiço dela, apesar dos dois estarem ocupados o suficiente para não ter dado falta da inconveniente. Falei para Beatrice pegar o celular de Carolyn e enviar uma mensagem para dizendo que passaria as festas com o pai dela em Paris. Seria a desculpa perfeita e isso nos daria tempo para arrancar dela tudo que precisávamos.
— E dá um jeito de calar a boca do Estevan, paga alguém na polícia pra tirar esse merda da nossa cola.
— Vou pedir para o Filippo resolver isso. — Beatrice levantou e olhou para mim. — Não esqueça que papai chega hoje e ele quer todos em casa para jantar.
— Alguma ocasião especial?
— Semana que vem é Natal, vai saber o que ele planeja. — Ela deu de ombros e saiu do escritório.
Soltei meu peso na cadeira e olhei para cima, encarei aquele teto como se fosse a salvação dos meus problemas, tudo estava tão confuso em minha cabeça, nunca fiquei tão perdida na minha vida. Era coisa demais para absorver, resolver e entender. Respirei fundo e peguei um cigarro, acendendo-o, puxei a fumaça para os meus pulmões fechando os olhos e agradecendo por aquilo estar me acalmando.
Eu precisava pensar com clareza.
Perroni
Quando cheguei em casa depois de descobrir que tínhamos um infiltrado, estava estranha, agachada no corredor como se estivesse sendo atormentada por algo ou alguém, tentei ler seus olhos, eles sempre me diziam o que eu queria saber. Entretanto, não gostei do que vi direcionado a mim, não entendi o que estava se passando, mas eu iria descobrir. Se ela quisesse sair de casa mesmo quando dei uma ordem direta, ela teria companhia e estaria sendo vigiada de perto.
Eu tinha uma informação que ninguém tinha, aquele soldado falando o nome dela antes de morrer ainda me assombrava, mas era exaustivo sentir essa necessidade de protegê-la, ela era a única que se revoltava comigo por querer cuidar dela. era como um cavalo selvagem, só queria liberdade e se alguém ousasse ir contra seus desejos, pagaria um preço. Eu não estava gostando do quanto eu estava tendo que pagar desde que o que eu sentia por ela tinha tomado todas as horas do meu maldito dia. Aquilo era preocupante e inadequado, mas eu não conseguia lutar contra, quanto mais eu tentava me distanciar, parecia que cada vez mais algo me possuía.
tinha se tornado um vício pior do que qualquer droga. Desci a escada devagar, sentindo bem o mármore sob meus pés, meu corpo parecia levemente retesado, a tensão tomava conta de mim a cada passo que eu dava. Fazia algum tempo que todos nós não fazíamos as refeições juntos. Meu pai estava na Itália, a verdade era que ele passava mais tempo lá do que na Espanha. Como ele mesmo dizia: quem deveria cuidar da Espanha eram os herdeiros da
Vincere, liderados por mim e por . Seria uma tarefa árdua já que não nos entendemos nem nas decisões banais.
— Como foi essa temporada sem o pai de vocês em casa? — perguntou Otelo enquanto levava um pedaço de carne de cordeiro à boca.
— Muito trabalho, papai — respondeu Luna, sorrindo.
— Quero propor umas férias pra vocês.
— Férias? — Giulia franziu o cenho olhando para o nosso pai.
— Sim, estão trabalhando muito… — Ele deu um gole em seu vinho e continuou: — O que não é algo ruim, estou orgulhoso dos meus filhos. Quero passar o Natal na Itália, com a família reunida na nossa antiga casa.
Vi arregalar os olhos e trocar olhares com minhas irmãs, o que achei estranho, o que elas estavam aprontando?
— Não vejo necessidade de deixarmos tudo aqui e irmos para a Itália, pai — argumentou Beatrice. — Podemos organizar uma festa maravilhosa de Natal aqui na mansão.
— Está na hora de voltarmos para a Itália para uma comemoração em família, Beatrice — insistiu Otelo.
— Papai, Vincenzo ainda está se recuperando, sabe que gosto que ele e a Giovanna passem o Natal com a gente.
Vi que meu pai ponderou, estava pensando, pisquei os olhos devagar, esperando o que ele resolveria, tudo com meu pai era assim. Se tivesse sido eu a falar, definitivamente já estaríamos brigando ou coisa pior. No entanto, minhas irmãs tinham um poder sobre Otelo que eu nunca entenderia. Olhei para , que conectou seu olhar ao meu por alguns instantes, gostaria de saber por que estava tão difícil ler seus olhos.
— Tudo bem, tem razão. Podemos fazer essa viagem ano que vem, com Vincenzo e Giovanna presentes.
— Obrigada, papai — agradeceu com um sorriso e uma expressão de felicidade genuína, ela… suspirei tentando manter meus pensamentos em silêncio.
[...]
Filippo tinha seguido o homem que vendia drogas nas boates da Espanha por alguns dias e descobriu tudo que podia. Parecia realmente ser apenas um moleque tentando ganhar a vida de uma forma não convencional, o problema é que quem vende as drogas no país somos nós, e ele não sairia impune. Um susto deveria ser o suficiente para amedrontar um jovem imprudente, meu primo cuidaria disso, pois naquele momento eu só conseguia enxergar na minha frente, com aquele vestido vermelho, minúsculo, rindo, bebendo e conversando com minhas irmãs e Giovanna.
Eu estava sem o menor espírito natalino, mas eu precisava estar ali presente ou Otelo me mataria pessoalmente. Meu pai levava as datas comemorativas a sério, diferente do pai de Carolyn, e o estranho foi ela me mandar mensagem na semana passada dizendo que tinha ido para Paris. Eu achei estranho, mas vai que o espírito natalino que me faltou tivesse surgido de forma inesperada no velho? Apesar das circunstâncias em que nós nos encontrávamos fossem complicadas, eu esperava de verdade que ela se divertisse com o pai e a tia. Otelo conversava animado com uns amigos próximos que ele convidou para passar o Natal com a gente.
Eu, desde que desci aquela escada, seguia sentado na mesma poltrona, e já estava com a minha terceira ou quarta dose de whisky. Minha cabeça não parava de pensar sobre o intruso, olhava para todos os soldados, desconfiado e procurando uma falha para interrogá-los. Vi Giulia se aproximando e troquei a perna que estava apoiada no joelho, dando um gole no whisky e esperando com o que o pingo de gente ia vir me perturbar agora. Ela sentou ao meu lado e ficou em silêncio, apenas bebericando o suco de uva em sua taça, sabia que era suco pois ela detestava bebida.
— O que houve, Giu?
— Nada, só quis sentar um pouco… Elas já estão alteradas — apontou para as irmãs, revirando os olhos —, não sabem ficar dentro do limite.
— Talvez elas queiram cruzar o limite, Giulia. — Levei o copo à boca dando de ombros e a vi olhar para mim de um jeito inquisidor.
— Como cruzou com a , ? — Me engasguei com o whisky e quase cuspi tudo no tapete. — Guardanapo? — Vi o papel branco e quadrado em minha frente sendo balançado pelos dedos de Giu e o puxei de sua mão para secar minha boca. — É tão impulsivo assim que não soube controlar seu pinto dentro das calças?
— Você não sabe do que tá falando, Giulia.
— Ah, verdade — ela colocou o dedo no queixo, como se ponderasse algo —, vocês não transaram… — Seus olhos azuis me miraram e ela concluiu: — Ainda…
Giulia levantou e saiu em direção à cozinha, eu estava perplexo, o que ela quis dizer com “ainda”? Ela sabia de algo que eu não sabia? Olhei diretamente para que me olhava com a testa franzida, porém, logo tirou a atenção de mim e voltou a olhar para Beatrice. Fiquei completamente perdido com tudo aquilo, quando foi que a Giulia soube tanto? contou tudo que aconteceu para ela? Não era possível, mesmo que eu soubesse da confiabilidade que elas têm umas nas outras, ela não contaria.
Enquanto pensava na probabilidade de todas as minhas irmãs saberem de tudo e o quanto isso seria problemático em níveis que nem queria pensar, vi Filippo entrar na sala cumprimentando todos e vindo diretamente em minha direção com uma expressão que eu não estava gostando.
— Podemos falar?
Acenei e levantei, deixando meu copo na mesa ao lado da poltrona em que estava, fomos até a biblioteca e então me sentei na cadeira de meu pai, esperando ele me contar a má notícia em plena véspera de Natal.
— Aquela transação deu errado, .
Fechei os olhos e suspirei. As mulheres trazidas para trabalhar em nossas boates pelo mediterrâneo sempre deram certo. Se os Delantera estivessem por trás disso também eu faria questão de matar o responsável com minhas próprias mãos.
— Mande Nero ir até lá e fazer dar certo.
— Elas estão presas na polícia federal, . Provavelmente aquele detetive que não sai do nosso pé está lá se achando o melhor dos policiais por ter impedido a entrada de imigrantes ilegais.
— Mudaram o produtor de passaportes? — Ele balançou a cabeça em negativo. — Então por que pegaram elas, Filippo?! — falei mais alto, me levantando. — Espero saber detalhes do porquê isso deu errado depois de tantos anos.
— Sim, .
Respirei fundo tentando controlar a minha raiva, meu humor estava péssimo, dias e mais dias torturando homens; me tirando do sério; minhas irmãs aprontando alguma coisa que eu ainda iria descobrir o que era e agora mais essa. Eu poderia ter paz pelo menos no Natal, mas não, como um feriado religioso seria bom com o preferido do príncipe do inferno?
Saí da biblioteca e olhei para a porta lateral que dava acesso à área da piscina, vendo uma silhueta e apenas o brilho da brasa de um cigarro. Andei lentamente já tirando minha carteira do bolso e colocando um cigarro nos lábios. Assim que estava do lado de fora vi o corpo encostado na parede, as pernas cruzadas, o vestido vermelho colado e os olhos verdes me encarando como se eu atrapalhasse seu silêncio. Apenas andei mais um pouco e acendi meu cigarro, ficando em silêncio, que era o que parecia que ela tinha ido buscar ali fora, longe de todos.
— Papai parece feliz. — Ela estava olhando para frente, encarando um ponto qualquer do jardim e eu olhei de soslaio em sua direção. — É realmente estranho vê-lo assim…
— Ele tem motivo pra isso…
— Sabe qual é? — sempre era pega pela curiosidade.
— A nossa empresa vai abrir uma filial de nossas lojas aqui na Espanha — falei, sem mais.
A empresa têxtil da
Vincere, que meu pai construiu em homenagem a minha tia, ia muito bem. O único negócio legal que a nossa família tinha e que não dava tanta dor de cabeça.
— Acreditava que a
Vittoria inc ficaria apenas na Itália para sempre.
— Talvez seja um jeito de Otelo mostrar que nossa tia conseguiu acabar com eles mesmo sendo assassinada. — Sorri sem humor.
— Ótima forma de enxergar as coisas. — Ela desencostou da parede e virou o corpo em minha direção, fazendo com que eu fizesse o mesmo.
— Não acho um jeito tão ruim de expandir os negócios, afinal, estamos aqui — expliquei.
— Não estou reclamando, gosto de pensar que vou ter uma loja nossa bem aqui para pegar as minhas roupas.
— Já sei que vou gostar da próxima coleção… — Dei um trago em meu cigarro dando um sorrisinho travesso e vi seus olhos cintilarem com o reflexo da luz verde do jardim ao me olhar. — Você está bem?
— Que tipo de pergunta é essa? — A vi dar alguns passos para frente enquanto tragava o seu cigarro.
— Está diferente, .
— Diferente? — Ela jogou o cigarro e pisou na bituca para apagá-la. Logo olhou pra mim e continuou: — Estou a mesma de sempre, , talvez você tenha se acostumado com uma versão minha que não existia até você trazer ela pra fora, mas fiz questão de afogá-la com muito álcool antes que fosse tarde. — Fiquei um pouco confuso com o que ela falou e meu impulso foi pegá-la pelo braço. — Não vamos mais fazer isso — disse ríspida, ainda de costas.
Ela já tinha deixado claro que nada do que aconteceu nos últimos meses voltaria a acontecer, além de ter dito com todas as letras que era para eu tentar de verdade com Carolyn. Tudo o que eu não esperava, fiquei frustrado, chateado e até um pouco surpreso com o que ela sugeriu. Contudo, eu sabia que uma das qualidades de era ser racional em qualquer momento, seja ele ruim ou não.
Fazia tanto tempo que eu não conseguia lê-la tão facilmente e isso me deixou em dúvida se ela realmente estava me afastando porque queria ou porque era preciso.
— , me diz o que passou pela sua cabeça naquele dia… Que estava agachada no corredor. — Vi seus ombros penderem, como se ela fosse se arrepender de falar o que viria pela frente.
Senti um arrepio cruzar minha coluna e larguei seu braço, dando um passo para trás e vendo ela ir, distanciando-se cada vez mais de mim e, olhando sua nuca, um sentimento de amargura me atingiu e por mais que ela estivesse certa sobre tudo isso, a parte de mim que sentia algo por ela já não era mais possível afogar como ela fez.
Capítulo 19
Alonso Perroni
Mal consegui passar pelo jantar intacta, olhar para depois do que falei para ele era quase como se sentisse uma faca girando em meu estômago. Eu não sabia exatamente o que ele queria que eu dissesse, mas disse o que senti naquele dia, lembro de como eu entrei em pânico quando lembrei das palavras de Carolyn, fiquei tão apavorada que bebi para esquecer, para apagar meus pensamentos e talvez até matar aquela parte de mim que pensava tanto que meu meio-irmão seria algo além do que ele é.
Eu estava confusa e meio perdida.
Cheguei em meu quarto após o jantar de Natal e ainda segurava um copo com whisky, fui até a varanda para fumar e senti um alívio por estar sozinha. Longe dos olhares que me queimavam, dos que me julgavam e dos que me matavam por dentro um pouco mais a cada minuto. Depois de me sentir tonta e cansada o suficiente, deitei em minha cama e chorei, as lágrimas saíam sem dificuldade alguma e eu nem sabia o motivo de ter chorado copiosamente naquela noite.
Quando acordei pela manhã senti uma imensa vontade de vomitar e foi o que fiz, corri para o banheiro.
Tomei banho, me arrumei para o café e quando abri a porta, vi uma sacola de papel vermelha e linda no chão com meu nome, franzi o cenho e a peguei, voltando para dentro do quarto novamente. Abri o pacote com cuidado, vi uma caixa de veludo quadrada e abri. Um colar com uma peônia e três cobras em volta, conhecia esse símbolo, algo que pra nós, principalmente da
Vincere, era tido como o símbolo de poder dentro da
famiglia. Todos nós usamos o anel com a peônia e as cobras em nosso anelar, mas Otelo e sempre usam um broche do lado esquerdo do peito, papai deveria estar tentando me mostrar que, de uma forma ou de outra, eu também sou a
prossima. Sorri feliz pelo gesto.
Deixei a caixinha em cima da cômoda e assim que abri a porta novamente dei de cara com Beatrice. Franzi o cenho pela expressão dela não ser nada boa, olhei para baixo e ela tinha um celular em mãos. Deixei que entrasse no quarto e então virei para encará-la, fechando a porta atrás de mim.
— O que houve?
— Leia isso aqui. — Ela me entregou o celular no aplicativo de mensagens, comecei a ler e não entendi absolutamente nada. Olhei para ela novamente e balancei a cabeça em negativo. — Exatamente. São códigos, , alguém está trabalhando junto com a Carolyn.
— Esse celular é dela?
— Não era óbvio? — Ela sentou na minha cama e mordeu o lábio olhando para cima, como se pensasse em algo. — Pelo histórico, esse número liga sempre a mesma hora duas vezes por semana — explicou ela e eu comecei a rolar a conversa para cima.
— Cadê as mensagens antigas?
— Não tem nada, apenas as mensagens que a pessoa mandou depois que ela foi presa pela gente.
— Sem um padrão vai ser impossível decifrar isso… — Bufei em reclamação. Precisávamos de respostas e tudo que a gente recebia eram mais perguntas.
— Talvez a Giu consiga.
— Eu também tenho fé na nossa irmã, Bea, mas calma aí… são mensagens aleatórias demais…
— Temos que tentar…
Nos entreolhamos e a gente sabia que tínhamos que fazer isso, descobrir quem era que ajudava Carolyn, principalmente se fosse o intruso que estava na
Vincere. Era a nossa chance de descobrir tudo, mas antes eu queria tentar arrancar algo daquela vagabunda. Chamei Beatrice para vir comigo, caminhamos pelo corredor em direção ao quarto dela, quando viramos, vi de costas e Luna bem à sua frente. Coloquei o celular em meu bolso de trás e continuamos nos aproximando deles.
— Tem certeza que ela não mandou nenhuma mensagem pra você?
— Sim, a última coisa que ela me disse foi que iria para Paris para as festas — falou Lu, disfarçando seu nervosismo, se ela ficasse ali mais alguns minutos perceberia.
— Luna! — chamei e ele virou para trás. — Estava procurando você, vamos… — Passei por ele e puxei minha irmã pela mão.
— Bom dia para vocês também.
—
Ciao, . — Acenei com a mão para cima enquanto me afastava com minhas irmãs.
Quando chegamos ao quarto de Beatrice eu tranquei a porta e virei para Luna para perguntar:
— Ele caiu?
— Sim, mas quase não consegui esconder.
— Mais um pouco e Luna confessava tudo… Você é uma péssima mafiosa. — Beatrice revirou os olhos se jogando na cama.
— Vamos logo ao que interessa que eu tenho coisas a fazer.
Caminhei até o closet e o abri, vendo a megera amarrada na cadeira, fazia mais de uma semana desde o dia que ela me desafiou dentro da minha própria casa. Desde o dia em que ela me fez repensar tudo que se passava em minha cabeça sobre . Respirei fundo e puxei o celular do bolso, assim como tirei a mordaça de sua boca, ela me olhou com aquele ar arrogante que dava vontade de socar a cara dela, porém, iria me controlar.
— Pode explicar? — Mostrei a tela do aparelho para ela, no entanto, nenhuma mudança em sua expressão. — Estou esperando…
— Não faço a mínima ideia.
Minhas irmãs entraram no closet, ficando um pouco atrás de mim, aguardando alguma resposta, e acreditava que também pela minha aura maligna toda vez que eu estava olhando para aquela loira parisiense, elas estavam ali para evitar o pior.
— O celular é seu e não sabe? — Arqueei uma das sobrancelhas e ela deu de ombros. — Vamos ter que rastrear de onde vem, então…
— Que diferença faz pra vocês? — Ela alterou a voz, bingo, tinha algo ali. — Se tivessem provas que sou uma traidora já teriam me matado ou, no mínimo, contado para — falou como se fosse algo para se vangloriar, como se ela fosse mais importante para ele do que eu. — Ele iria acabar com essa loucura. — Empinou aquele nariz plastificado.
Eu ri em deboche, coloquei o celular em meu bolso e dei alguns passos ficando mais próxima dela, abaixei, deixando meu rosto quase colado ao dela enquanto ainda exibia meu sorriso mais perverso.
— Acredite… você não iria querer sabendo que suspeitamos de você. — Olhei bem nos olhos dela e continuei: — Na mão dele você já estaria sangrando em todas as partes do corpo, jogada em um chão sujo e exausta da tortura sem nenhuma piedade. E caso não falasse nada, no mínimo, já estaria com uma bala entre seus olhos. — Toquei o centro de sua testa com o indicador e a vi engolir em seco com os olhos arregalados. Aquilo fez eu me sentir bem e eu tinha um certo receio de quando esse tipo de coisa fazia eu me sentir assim. — Agradeça por sermos tão boazinhas com você.
Coloquei a mordaça nela novamente e saí do closet com minhas irmãs em meu encalço. Fechamos as portas e falei para elas darem o celular para Giulia descobrir de quem era aquele número. Precisávamos ter algum avanço nas nossas suspeitas, estava começando a desconfiar que algo estava acontecendo e se não tivéssemos provas a tempo, tudo isso iria acabar de um jeito que eu não queria.
[...]
— Vamos almoçar, ? — Olhei para trás enquanto colocava meu brinco e vi Giulia na porta do banheiro. — Nossa, está se arrumando tanto para um almoço comum por quê?
— Eu vou sair depois. — Peguei um casaco de tricô terracota e vesti. — Nenhum avanço, Giu? — Continuei me arrumando enquanto ela me seguia pelo closet.
— Ainda não, mas podemos localizar o número se conseguirmos manter a pessoa no telefone por tempo suficiente.
— Da próxima vez eu ou a Beatrice atendemos e você faz o seu trabalho. — Peguei minha bolsa e coloquei a bota de salto grosso.
— Pode deixar. — Ela sentou na cama. — Pra onde vai?
— Deu pra monitorar minhas saídas, Giulia? Já basta o .
— Não perguntei por mal, credo. — Ela revirou os olhos e levantou, indo em direção à porta.
— Vou pra casa da Giovanna, Vince recebeu alta.
— Ótimo! Fico feliz que ele esteja bem…
— Vamos. — Passei por ela e abri a porta, caminhamos pelo corredor extenso e descemos a escada. Larguei minha bolsa na mesa do hall, como de costume, e fomos nos sentar à mesa, onde todos já se encontravam. — Desculpe a demora, papai.
— Tudo bem, princesa. Onde vai toda arrumada?
— Vou comemorar a saída do Vincenzo do hospital.
— Que bom, filha. — Ele acariciou meu ombro e pediu para os empregados servirem o almoço.
— Obrigada por ter ajudado no tratamento dele, pai.
— Tudo por você.
Sorri e virei para frente, vi me encarando, ele parecia receoso com alguma coisa, talvez até um pouco preocupado. Decidi ignorar quando meu pai pegou os talheres e todos nós fizemos o mesmo, dando início a nossa refeição. Eu estava sentindo uma aura vinda de que não estava dando para ignorar. Olhei para ele novamente, suas ações pareciam calculadas e ele mexia os olhos e balançava a cabeça como se estivesse discutindo com ele mesmo em sua cabeça.
O que porra estava acontecendo?
Terminei minha salada e peguei alguns legumes, batata gratinada e um pedaço de coelho. Cortei a carne e continuei comendo, devagar, apreciando o tempero de Marta, ela era uma cozinheira maravilhosa, agradecia meu pai todos os dias por ter trazido ela da Itália. Ouvi pigarrear e Otelo virar o rosto para olhá-lo.
— Preciso dizer que… — vi seus olhos irem até os meus e logo voltar ao meu pai — decidi me casar com Carolyn.
Senti um calafrio percorrer meu corpo inteiro e parecia que eu tinha esquecido como respirava. Aquilo não podia estar acontecendo. Por isso ele estava perguntando dela para Luna, por isso o receio de falar algo em minha frente, ver minha reação era algum divertimento para o sadismo dele? Meu pai ainda falava qualquer coisa animado, enquanto batia amigavelmente no ombro do meu meio-irmão, quando me levantei de supetão.
— ? — Beatrice, ao meu lado, olhou para mim surpresa.
— Preciso ir.
Caminhei com pressa para não dar chance de ninguém perguntar nada, peguei minha bolsa e a chave, entrei em meu carro e saí dali. Eu estava correndo tanto que Ettore e Austin quase me perderam de vista na saída do bairro. Meu estômago estava embrulhado, meu coração batia forte e minhas mãos formigavam. Parei o carro no acostamento, meus seguranças frearam atrás de mim logo em seguida. Vomitei todo o almoço e assim que passei o dorso da mão pelo meu nariz senti as lágrimas.
—
Ma che diavolo! (
Mas que diabos!) —
Va tutto bene, signorina ? (
Está tudo bem, senhorita ?) — perguntou Ettore ao se aproximar do meu carro.
—
È tutto perfetto, non vedi? (
Está tudo perfeito, não vê?) — Respirei fundo e dei a volta no carro.
—
Perdono. (
Perdão.) — Meu segurança me acompanhou e deu sua mão para me ajudar a subir no carro novamente. —
Hai bisogno di acqua? (Você precisa de água?) —
No, ho bisogno di giudizio! (
Não, eu preciso de juízo). — Peguei um lenço do meu porta-luvas e me limpei. —
E una bottiglia di whisky. (E uma garrafa de whisky.) — Posso organizzare. (Posso providenciar.) — No, andiamo. (
Não, vamos.) Fechei a porta do carro e segui caminho para a casa de Giovanna. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas eu senti algo que nunca havia sentido, eu precisava ser racional e entender o que tinha sido tudo isso. Contudo, aquele não era o momento, precisava estar focada em Vincenzo, comemorar a recuperação dele e fingir estar completamente bem por uma noite inteira.
Eu olhava para eles e sorria, mesmo estando com uma tempestade acontecendo dentro de mim. Era impossível não ficar feliz por eles finalmente assumirem e entenderem que deveriam estar juntos desde o colegial. Giovanna e sua teimosia foram um grande problema, Vince até tentou por algum tempo convencê-la de que deveriam ficar juntos, porém, tudo que ela queria era sem compromisso. Precisou nosso melhor amigo ficar doente para ela perceber a besteira que estava fazendo ao não se entregar de corpo e alma ao nosso barman preferido.
Foi muito agradável o nosso dia, cozinhamos juntos, como nos velhos tempos, enquanto a gente tomava várias garrafas de vinho. Nosso jantar foi delicioso e a conversa melhor ainda, fazia tanto tempo que não ficávamos juntos sendo apenas os bons amigos que éramos. Sem responsabilidades e preocupações, era bom aquela sensação de pertencimento, de estar em casa e de querer construir mais memórias com os meus melhores amigos. Eu amava eles, e amava ainda mais o fato de eles finalmente estarem juntos como um casal.
Acordei no sofá de Copolla sem saber o porquê, a claridade me incomodava, mas não tanto quanto o tilintar de louça que eu estava ouvindo. Olhei em direção a cozinha e vi os dois de costas, conversando baixinho enquanto faziam algo no fogão. Sentei no sofá e respirei fundo, me espreguiçando, peguei meu celular e tinha algumas chamadas e mensagens das minhas irmãs. Apenas bloqueei o aparelho novamente e decidi que não iria lidar com aquilo no momento.
— Bom dia, dorminhoca. — Vince me deu uma xícara com café.
— Achei que você já estaria na
Fascino a essa hora — falou Giovana se aproximando.
— É, eu também. — Passei a mão pela minha testa e suspirei.
— Água e aspirina, Vince.
— Ele não tá na boate, Gio, pare de dar ordens, credo — reclamei.
— Se for por ela eu gosto de ser mandado, , não me importo. — Vi ele dar um beijo na loira e sorrir.
— Ai, que nojo. — Peguei meu celular e levantei, indo em direção ao corredor. — Romance logo cedo…
Tranquei a porta do banheiro e fui olhar as mensagens das minhas irmãs, a maioria era perguntando por que eu tinha reagido daquela forma com o anúncio de , ou por que eu não contei onde Carolyn realmente estava para acabar com aquilo tudo. Era difícil explicar algo que nem eu mesma sabia, eram muitas perguntas e eu não tinha a resposta para nenhuma delas. Estava tarde, eram quase 14 horas e eu estava de ressaca, na casa da Giovanna, com a mesma roupa de ontem e sem querer ir para casa.
Tomei banho, pedi uma roupa emprestada da minha melhor amiga, comemos juntos e eu fui direto para a Fascino. Dei boa tarde aos meus funcionários, caminhei até o balcão do bar e sentei na banqueta. Cristian me olhou e sorriu, aproximando-se.
— Martini? — perguntou.
— Será que ele vai curar a ressaca que estou sentindo? — Pressionei os dedos em minha fonte.
— Eu gosto sempre de pensar que sim. — Eu sorri e confirmei com a cabeça, pedindo para ele preparar um.
Peguei meu celular na bolsa e respondi para as minhas irmãs:
estou bem, só precisava sair dali antes que contasse tudo sobre a Carolyn. Precisamos investigar mais a fundo. Bloqueei a tela do celular e esperava que elas não notassem o quanto estava desorientada com toda essa situação. Seria difícil notar por mensagem, mas se tratando de Giulia, eu espero qualquer coisa, a garota é inteligente e observadora. Cristian colocou a taça em minha frente e beberiquei meu drink.
— Gostoso como sempre. — Ele deu um sorrisinho safado e eu ri. — Você também, Cris… Continua gostoso como sempre.
— Quem, eu? — Torci o lábio e cerrei os olhos com a cara de pau do ruivo. — Me sinto lisonjeado, . — Empinou o nariz perfeitamente esculpido e continuou secando os copos.
— Não seja cínico. — Sorri, brincando com Cris, até que escutei vozes alteradas na porta da boate e olhei com o cenho franzido. — O que está acontecendo? — Cristian saiu de trás do balcão e se colocou em minha frente. — Muito obrigada, Cris, mas acho que não precisa de tanto… — Parei de falar assim que vi alguns policiais e logo o detetive que me tirava do sério.
— Alonso. — Levantei da banqueta, achando tudo aquilo muito estranho. — Está presa.
— O quê? — Eu ri com a possibilidade, enquanto os dois policiais se aproximavam de mim, porém Cristian não deixou eles chegarem perto, fazendo-os frear os pés. — Está me prendendo pelo que exatamente, Estevan?
— Por contratar imigrantes ilegais e consequentemente, provarei que isso tudo não passa de tráfico humano feito por essa sua boatezinha…
— Você só pode estar brincando… Está me acusando sem provas?
— Esses três contratos fazem parecer que eu vim sem provas, senhorita Alonso? — Ele mostrou três papeis em sua mão e não era possível que isso tivesse dado errado.
Como? Como fomos pegos em algo que fazemos há anos!? Usar o contrato de trabalho com as nossas boates era algo que fazíamos para trazer mulheres de outros países para prostituição. Não na minha boate, obviamente, já que não concordava muito com isso, mas eu não me metia nessa parte dos negócios do meu pai. Contudo, não participar não queria dizer que eu não soubesse ou não estivesse sendo conivente.
A prostituição era coisa antiga, nenhuma das mulheres era obrigada a vir e nem eram tratadas como produto. A
Vincere dava casa, comida e roupas, além de elas virem sabendo com o que iriam trabalhar, porém, todos sabemos que pagamento por sexo é proibido por lei.
— Tá tudo bem, Cris. — Coloquei a mão em seu ombro e sorri para ele, que deu um passo para o lado. Virei de costas para os policiais me algemarem, ficando de frente para o meu barman e amigo. — Ligue para Beatrice. — Ele apenas acenou com a cabeça e eu sussurrei a última frase: — Diga para Ettore e Austin não me seguirem.
— Vamos logo, senhorita Alonso, não tenho todo o tempo do mundo — falou Estevan mais alto, fazendo os guardas me levarem.
Eu apenas tentava manter a calma, sabíamos o que não fazer nesses casos, fui todo o caminho calada e, quando me colocaram naquela sala horrorosa de interrogatório, não respondi nada. Eu iria esperar o advogado chegar e quando vi Lorenzo entrar pela porta respirei aliviada, agora, com o advogado da
famiglia, eu estaria salva, inocentada de qualquer acusação e em breve sairia dali. Fiquei calada, apenas escutando meu advogado conversar com aquele imbecil do Estevan. A gente deveria ter dado cabo dele enquanto era tempo, agora ficaria muito suspeito se ele sumisse de repente. A não ser que acontecesse um acidente; sacudi a cabeça espantando pensamentos que eu tentava manter abafados.
— Eu preciso ouvir a senhorita Alonso. Ela tem que dar explicações, afinal, o nome da boate dela está no papel. — Olhei para o detetive, olhei para o papel em cima da mesa e inclinei meu corpo para ler.
— Eu não assinei isso.
— É o nome da sua boate.
— E daí? — Cruzei os braços. — Não tem a minha assinatura e nem a assinatura de nenhum dos responsáveis pela
Fascino.
— Você quer me enrolar, senhorita Alonso? — Ele apontou no papel e disse: — Aqui tem o carimbo da
sua boate.
— Bom, isso pode ser muito bem falsificado, assim como os passaportes das moças… — disse, dando de ombros e vi Estevan ficando possesso, aquilo estava até sendo divertido.
— Agora que você não tem mais argumentos ou provas para manter a minha cliente sob custódia, estamos indo.
— Você não pode-
— E caso impeça… — Lorenzo o interrompeu — será bem pior pra você, senhor Martinez.
Estevan esticou a mão nos dando passagem e eu queria sorrir, mas me contive, caminhei tranquilamente ao lado do meu advogado e ele e o detetive seguiram conversando qualquer coisa que eu já não dava mais atenção. Só conseguia pensar que eu queria ir para casa, apesar de saber todos os protocolos da
Vincere a seguir, aquilo tinha me tirado do eixo.
— Está liberada, senhorita Alonso, mas acredito que nos veremos em breve. — Estevan esticou a mão para apertar a minha, mas fui surpreendida com entrando em minha frente.
— Duvido muito disso… — Meu meio-irmão me empurrou para fora da delegacia sem nem mesmo deixar eu falar nada.
Esse idiota achava que era dono da cidade, não era possível.
Perroni
Eu estava mesmo receoso, era uma decisão que eu não queria tomar, mas depois de ter falado que sentiu medo de mim, tudo ruiu. Eu sempre fiz questão de fazer de tudo para ela ter raiva de mim, não queria que ela sentisse medo, medo é algo muito profundo, latente, um sentimento que te deixa em alerta para lutar ou se defender. Não queria que ela precisasse se defender de mim, não queria que ela olhasse para mim e sentisse perigo. Escutar aquilo tinha sido cruel até para mim, a sensação que me tomou naquela noite, o desapontamento comigo mesmo de ter deixado chegar naquele ponto, foi devastador.
Eu precisava me afastar dela.
Eu precisava deixá-la em paz.
Eu precisava pensar como um maldito Perroni.
Então, mesmo sem conseguir entrar em contato com Carolyn, eu sabia que ela queria casar comigo, afinal, ela tentava demais, parecia sempre mais disposta do que eu a fazer dar certo, seja lá que relação estranha fosse essa. Quando informei que iria casar, eu não esperava que fosse simplesmente levantar e sair da mesa de almoço sem dar a mínima explicação e me deixar com o olhar inquisidor do meu pai em cima de mim.
Eu estava fodido.
E eu sabia disso no momento que meu pai me chamou no escritório. Seu rosto estava impassível, mas eu sabia que algo o incomodava, aprendi a ler meu pai ainda muito jovem para evitar as penitências do treinamento. Eu não podia desapontá-lo ou teria o que merecia. No geral sempre fui muito observador nas expressões humanas, era um atributo necessário na tortura, por isso eu era tão bom no que fazia.
— Tem algo que queira me contar, ?
Aquela pergunta soou como se ele soubesse de alguma coisa, mas eu conhecia meu pai o suficiente para saber que ele estava querendo me encurralar para descobrir o que eu sabia que escondia.
— Não, deveria ter? — devolvi de maneira desleixada e sentei na cadeira em frente à sua mesa. Ele apenas me olhou com a sobrancelha grossa arqueada, parecia não acreditar em sequer uma palavra do que eu falava e errado ele não estava, afinal, eu estava mentindo na cara dura. Contudo, enquanto ele não fizesse uma pergunta direta, eu poderia contornar a situação.
— Por que sua irmã saiu daquela forma?
— Como eu vou saber, pai? — Dei de ombros e ele levantou, foi até o canto da sala, onde tinha uma mesinha com bebidas, serviu dois copos com whisky e me alcançou um.
— Quero que descubra, nunca vi fora de si, é a mais centrada das irmãs, não podemos perder a racionalidade dela.
— Farei isso. — Virei a dose e levantei, virando de costas para sair da biblioteca.
— E … — Virei, olhando para ele novamente. — Espero que você não tenha nada a ver com isso. — Apenas acenei com a cabeça e saí dali.
Caminhar parecia algo que eu tinha esquecido, como eu conseguia fingir algo que me deixou tão desnorteado? foi imprudente ao sair daquele jeito, a reação dela foi pior do que eu esperava. Tinha chegado num ponto que eu não fazia a menor ideia do que passava pela cabeça dela. Não seria fácil apenas seguir em frente, ignorar o que aconteceu como se não fosse nada, porque às vezes eu achava que tinha sido tudo.
tinha me deixado quebrado.
Não só meu pau.
Não só minha mente.
Minha vida parecia quebrada.
[...]
— ! — Ouvi o grito e virei, vendo Beatrice no fim do corredor. — … foi presa.
Meu pai tinha ido para a Itália de manhã cedo. Com a nova filial da Victoria vindo para a Espanha, Otelo precisava quase que estar em dois lugares ao mesmo tempo. Almocei tranquilamente com minhas irmãs, a indomável nem estava em casa e confesso que aquilo tinha me incomodado um pouco. Achei que o dia iria ser calmo depois de tanto fritar meu cérebro a noite inteira pensando, tentando entender o que tinha dado nela pra reagir daquele jeito, inclusive, a algo que ela mesma sugeriu. E agora essa, presa…
— Cristian me ligou, Estevan levou a por tráfico ilegal de imigrantes.
— Como esse filho da puta… — Massageei minha testa e suspirei. — Chame Filippo e peça para ele pegar o carro. — Virei e fui em direção ao meu quarto pegar meu celular e minha arma. Eu iria fazer com que ele se arrependesse de ter se metido com ela.
Expliquei para Beatrice que ela deveria ficar em casa, logo eu estaria lá com , ela não iria passar nem uma noite naquele lugar; eu não deixaria. Entrei no carro e Filippo entrou do outro lado, Nero estava dirigindo e eu virei para o meu primo.
— Eu disse pra você resolver esse problema.
— Eu paguei quem precisava, parece que o susto tem que ser maior a esse detetive teimoso.
— Já que chegou a essa conclusão sozinho, faça com que esse desgraçado ande na linha, antes que eu mesmo coloque uma bala na cabeça dele!
—
Si, . Nero estacionou em frente à delegacia e eu desci, ajeitei meu terno e subi degrau por degrau, sentindo meu sangue ferver a cada minuto que eu enxergava o lugar que estava sendo mantida presa. Aquela espelunca, cheia de marginais e nada elegante, aquilo não chegava aos pés do chão que ela merecia pisar e ela não deveria nunca ter tido o desprazer de conhecer aquele lugar. Cheguei no balcão e olhei bem o guardinha que estava ali sentado.
— Alonso.
— Está em interrogatório.
— Infelizmente — olhei para a pequena placa de metal, grudada naquela farda horrorosa —, senhor Miguel, eu estou com pressa.
— Senhor Perroni. — Olhei para o lado ao ouvir meu nome. — Deve ser meu dia de sorte, dois de vocês na minha delegacia. — Estevan mantinha um sorriso presunçoso no rosto e minha mão chegou a coçar para apertar o gatilho na cara desse otário.
— Estou só de passagem, Estevan. — Fui em direção a ele. — Onde está ?
— Tá sendo difícil interrogá-la, acho que vai demorar…
— Escuta aqui seu-
— . — Respirei fundo e trinquei os dentes, enquanto o advogado da família mantinha sua mão em meu ombro. — Tudo bem, senhor Martinez? Eu sou o advogado da , Lorenzo Rossi, e o senhor não poderia mantê-la em interrogatório sem um advogado.
— Claro. — Ele sorriu cínico, intensificando ainda mais o meu ódio por ele. — Por favor, me acompanhe, senhor Rossi.
Estevan se distanciou e Lorenzo virou para mim, pedindo para eu me acalmar que ele resolveria. Precisei sentar naquela sala de espera e me controlar para não invadir aquela sala e tirá-la de lá. Eu estava com ódio líquido correndo pelas minhas veias, minha vontade era arrebentar a cara daquele cretino daquele detetive. Enviei mensagem para Filippo, pedi para que resolvesse com os de cima o quanto antes. Se meu pai descobrisse que ela estava ali, eu não queria ser Estevan e nem ninguém naquela delegacia, não queria nem mesmo ser eu, pois algo sobraria para mim, definitivamente.
Depois de quase 40 minutos, vi saindo com Lorenzo, ela não tinha me visto, estava totalmente aérea a qualquer coisa que não fosse nosso advogado e o detetive. Levantei e me aproximei para ouvir a conversa.
— Está liberada, senhorita Alonso, mas acredito que nos veremos em breve. — Ele tentou apertar a mão dela, mas entrei em sua frente, encarando fundo nos olhos daquele detetive medíocre.
— Duvido muito disso… — se assustou ao me ver, no entanto, nem deixei que reclamasse, não ali, coloquei a mão em suas costas e a guiei para fora da delegacia. Ela podia gritar comigo o quanto quisesse dentro do carro, a caminho de casa, seja lá onde fosse, mas não ali.
Chegamos na rua e Filippo segurava a porta do carro para que nós entrássemos. entrou e eu vi Lorenzo se aproximando, fazendo com que eu esperasse ainda do lado de fora.
— Trate tudo a respeito disso comigo, tudo bem?
— Sim, senhor Perroni. — O advogado acenou e saiu andando pela calçada.
— Você realmente precisa estar em todos os lugares ao mesmo tempo? — falou assim que entrei no carro.
— Nero, saia do carro — ordenei e ele obedeceu. — Foi presa, , o que queria que eu fizesse?
— Beatrice é uma bocuda!
— Ela ligou para o nosso advogado, não era isso que queria?
— E avisou você de brinde. — Ela cruzou os braços e bufou.
— Acha que quero ter que vir tirar você da cadeia? — Ela seguiu impassível olhando para a frente. — Acha mesmo que foi fácil me controlar para não estourar a cabeça daquele imbecil?
— Não seja tão exagerado, Lorenzo resolveu rapidinho. — Vi as orbes verdes revirarem.
Puxei seu queixo lentamente com o indicador e polegar e a fiz olhar para mim, seus olhos arregalaram. Eu estava sem um pingo de paciência, não tinha como, não diante daquela pose arredia que sempre mantinha.
— Você nunca deveria ter que pisar em uma delegacia e, se depender de mim, nunca mais vai.
Ela riu debochada e disse:
— Nós somos da
Vincere, , você acha mesmo que pode impedir que isso aconteça?
— Eu não acho, , eu faço. — Soltei ela para baixar o vidro, acenei para Nero e Filippo entrarem e partimos para casa.
Não imaginei que a discussão se estenderia o caminho inteiro, cada vez mais eu sentia tudo engasgado em minha garganta, eu queria falar tudo, mas não podia, não em frente ao nosso primo e Nero. Aquele assunto era pessoal, pessoal demais. Assim que Nero estacionou, nós descemos e entramos em casa, seguia irritada, brigando sozinha, já que vim calado apenas ouvindo.
Assim que subimos a escada, eu a puxei pelo braço e sussurrei em seu ouvido:
— Já que está tão falante, vamos conversar.
— Me solta, !
Empurrei ela para dentro do meu quarto e tranquei a porta. Virei para ela e perguntei de maneira séria:
— Por que fez aquilo ontem?
— Aquilo o quê?! — Ela cruzou os braços.
— Você sabe do que eu estou falando, ! — Caminhei até ela, ficando frente a frente. — Você disse para eu casar com Carolyn e fez aquela cena em frente ao nosso pai?
— Eu… Eu não… — Vi ela engolir em seco e me virei de costas com a mão na cintura e pressionando a ponte do nariz. — Não fiz cena alguma, só precisava sair.
— Vai continuar a negar algo que até nosso pai percebeu?
— O quê? — Ela se sobressaltou. — O que o papai falou?
— Pediu para saber por que você estava agindo desse jeito! — gritei.
— Estou do mesmo jeito de sempre! — Ela caminhou em direção à porta. — E me deixa em paz, temos outras pessoas na
famiglia para resolver assuntos banais.
— Você ser presa é um assunto banal? — perguntei, irritado.
— Você já viu quem somos? — Ela virou para mim e abriu os braços, como se mostrasse onde estamos. — Quem é a nossa
famiglia, ?
— Isso não quer…
— Isso quer dizer que nós
somos o crime — ela me interrompeu. — Ser presa não é nada! Para de ser neurótico.
— Você sempre minimizando tudo…
— , me esquece! — Ela girou a chave e saiu do quarto batendo a porta.
Dei alguns passos e me joguei na cama, soltando o ar pelo nariz, sentindo meu corpo quente de raiva e ao mesmo tempo as palavras dela ecoavam em minha mente.
[...]
Eu estava cansado, depois de tantos Delanteras interrogados eu não iria interrogar um bostinha vendedor de drogas qualquer, já bastava o idiota que tentou matar ser um mero mandado pela concorrência. Mandei Nero fazer o serviço e esperei do lado de fora, sentado em uma cadeira na varanda da nossa casa de campo. Fumava meu cigarro, esperando pacientemente, ouvindo os gritos do homem de onde estava. Nero era sanguinário, sempre foi, era bom ter alguém assim para te dizer o que é demais, pois se ele, que beirava a psicopatia, achasse algo extremo, eu sabia que deveria controlar melhor a situação.
Filippo surgiu pela porta, trazendo um copo de whisky para mim, entregou-me o copo baixo e eu beberiquei o líquido âmbar. Aproveitava a brisa e o ar puro do campo, fazia tempo demais que não ficava apenas contemplando a natureza.
— Nero conseguiu arrancar dele. — Apenas olhei de canto de olho, aguardando o restante da informação. — Ele era apenas uma distração para o verdadeiro Delantera se infiltrar na
Vincere.
— Então o infiltrado está aqui na Espanha! — Soquei a mesa fazendo o copo bambear. — Enterre esse filho da puta. Vivo.
— Sim, . — Vi ele sumir das minhas vistas.
— Quando eu te achar, Luca, você vai desejar não ter nascido… — Peguei o copo e tomei o restante da bebida.
Assim que saímos da casa, tentei mais uma vez ligar para Carolyn, o celular dela chamava até cair. Era impossível que nada tivesse acontecido, a garota tinha sumido já fazia três semanas, nem uma mísera mensagem depois do Natal. Achei que ela voltaria para o ano novo, mas nem isso. Eu estava preocupado pelo simples fato de que minhas irmãs odiaram a mulher, tirando Luna, e elas estavam esquisitas. Era tão errado eu desconfiar delas, mas estava difícil não o fazer, principalmente depois daquele rompante de na mesa do almoço.
Capítulo 20
Alonso Perroni
estava sendo irracional, impulsivo e idiota, onde já se viu invadir a delegacia daquela forma e dar na cara que estava no limite por eu ter sido presa, a impulsividade dele ainda nos arrumaria uma merda grande. Depois de um caminho longo demais até em casa e uma discussão com de brinde, tomei um longo banho e deitei na minha cama com um pijama confortável, coloquei os fones e aproveitei o momento para pensar. Digerir tudo que tinha acontecido, principalmente ontem, aquilo não parecia nada com algo que eu já tivesse sentido antes. Minha cabeça girou quando disse aquilo, o tempo pareceu passar devagar em frente aos meus olhos.
Uma sensação de… abandono.
Meu coração palpitou, parecia sentir o sangue correndo em cada veia do meu corpo, cada pulsar da pressão. Mordi o lábio e abracei um travesseiro com força. Eu me sentia sozinha, aquele vazio começou a me alcançar de novo, eu precisava de uma bebida. Levantei e desci a escada com meu
headfone tocando alto. Preparei uma dose dupla de whisky e subi para o meu quarto novamente. Agradecia por não ter cruzado com ninguém no caminho.
Eu precisava me sentir anestesiada.
E foi assim que dormi.
Acordei com Giulia me sacudindo e eu fiquei completamente desorientada com ela berrando, dizendo para eu acordar que ela tinha que fazer uma reunião com todas nós. Quando consegui finalmente focar no que estava acontecendo, entendi que precisávamos ir até a sala de Giu com urgência. Isso já me fez acordar disposta e sobressaltada, o que tinha acontecido agora?
Os Perroni não tinham um minuto de paz.
Nem vesti uma roupa, coloquei um robe e segui Giulia até sua sala, onde Luna e Beatrice já estavam, da mesma forma que eu, pijama, robe e uma cara de sono, para não falar do ódio em suas expressões por terem sido acordadas. Giu sentou na cadeira e começou a abrir arquivos e então o rosto de um homem, que aparentava ter a mesma idade do nosso pai, apareceu na tela.
— Esse é o pai da Carolyn — começou Giulia e nós ficamos tentando entender por que estávamos olhando para uma foto do cara. — O nome verdadeiro dele é Carlos Diaz…
— O quê?! — todas nós berramos.
— Como você descobriu isso? — perguntou Luna.
— Quando ele foi pesquisado, anos atrás, por quem fazia a segurança da
Vincere, ninguém checou a árvore genealógica. — Ela digitou mais algumas coisas e apareceu uma mulher. — Essa é a Camille, tia da Carolyn, ou, mais conhecida na Espanha como: Izabel Delantera, esposa do Consigliere dos Delantera, aquele que Filippo matou.
Nossas bocas ficaram entreabertas, eu não podia acreditar, como ele havia conseguido se infiltrar desse jeito nos nossos associados e, pior ainda, colocou o projeto de esposa dentro da nossa casa. Respirei fundo e tentei acalmar meus nervos, eu precisava pensar racionalmente como sempre, não era à toa que eu achava que deveria ser uma das escolhidas para comandar a
Vincere, meu psicológico inabalável, minha vontade de fazer a
Vincere prosperar e, claro, minha forma de pensar. Não podíamos simplesmente jogar essas informações na cara de Carolyn, ela iria negar tudo.
Pensa, .
— Eu preciso… — andei de um lado para o outro tentando me acalmar — respirar.
— Espera, … — pediu Beatrice e eu olhei para ela. — Precisamos decidir o que vamos fazer…
— Ela deve ser a infiltrada que está na
Vincere — falei, preocupada.
— Mais um motivo para falarmos com ou até mesmo… com o papai — comentou Luna.
— Me deem algumas horas, preciso pensar.
Saí dali sem acreditar, estava tudo debaixo do nosso nariz esse tempo inteiro? Como meu pai foi tão descuidado dessa forma? Confesso que eles foram astutos, mas não melhor que os Perroni, ninguém nos engana e sai vivo para contar a história. Fui para o meu quarto e fiquei lá até a hora de ir para a
Fascino. Eu já estava com muita coisa na cabeça para conseguir raciocinar e engolir aquela informação tão de repente, precisava de tempo, e acreditava que isso nós tínhamos.
Entrei na
Fascino precisando de três martinis, e acreditava que ainda seria pouco, encostei no balcão onde coloquei minha bolsa e chaves, e pedi para Cristian o meu drink favorito.
— Aquela mulher está esperando você já tem algum tempo… — Ele apontou com o queixo e eu me virei, franzi o cenho e voltei a olhar meu barman.
— Quem é?
— Não disse o nome. — Ele colocou meu drink em minha frente, respirei fundo e peguei a taça antes de andar até a mesa que a mulher estava.
— Boa tarde, posso ajudá-la? — Ela olhou para mim e fiquei um pouco surpresa ao ver seu rosto, ela parecia…
— … — Ela olhou para mim surpresa, como se visse alguém que não vê há muito tempo, seus olhos brilhavam e eu comecei a achar estranho. — Podemos conversar?
— Podemos, mas gostaria de saber quem é você. — Sentei na cadeira em frente a ela e cruzei as pernas.
— Meu nome é Alessia… — Beberiquei meu martini enquanto esperava ela dizer o que fazia ali e o que queria comigo. — Eu sou… sua mãe.
Senti como se o mundo tivesse parado, um zumbido tomou conta da minha audição e tudo desapareceu ao meu redor, só restávamos nós duas, em um lugar completamente escuro e silencioso. Eu estava sonhando? Não era possível que tudo pudesse acontecer em um dia só. Acordei do meu choque com o barulho da minha taça se quebrando no chão. Movi meus olhos devagar para baixo, vendo os cacos de vidro espalhados. Finalmente consegui ouvir meus batimentos soando em meus tímpanos, minha respiração era lenta e eu seguia encarando os cacos de vidro, perdida em pensamentos.
Ainda lembro quando tinha apenas 6 anos, lembro, pois, Marta me contou essa história. Eu a chamei de mãe pois via quase todos os meus colegas da escola com as mães e como era ela que cuidava da gente na maior parte do tempo, fazia sentido na minha cabeça infantil. Com toda a delicadeza, Marta disse que ela não era minha mãe, que eu e as garotas tínhamos apenas o nosso pai, Otelo, ele era a nossa família. Então foi aos 10 que pensei pela primeira vez sobre a possibilidade de ter sido abandonada, lembro de ter pesadelos terríveis e acordar gritando, daí surgiu o meu problema de insônia.
Otelo não tinha muito tempo para cuidar de nós, mas fazia o que podia, mas ser buscada na escola por seguranças ao invés do nosso pai era frustrante. Quando cheguei aos 13, Otelo finalmente nos contou sobre as nossas mães, então foi a primeira vez que entendi que éramos órfãs, mesmo tendo um pai e uma casa sob nossas cabeças, nossas mães tinham escolhido que, por dinheiro, dariam suas filhas ao
Don da máfia. Era estranho pensar dessa forma, mas era a realidade.
— Desculpe, eu não queria assustar você.
Levei meus olhos até a mulher ruiva de olhos azuis, foi como quebrar um espelho em mil pedaços e tentar juntar os cacos, furando os dedos, porém querendo saber o que apareceria no reflexo quando ele estivesse inteiro novamente.
— Você… — minha voz saiu um sopro, então puxei o fôlego e continuei: — está mentindo.
— Não estou, , me escute, eu sou sua mãe e da Beatrice.
Engoli o bolo de saliva que se formava em minha garganta, essa história estava muito errada. Ela não era bem por aí e sobre esse assunto eu sabia os detalhes, afinal, ficava remoendo em minha cabeça há longos anos.
Eu ri, desacreditada e falei:
— Quer dinheiro, é isso?
— Não! — exaltou-se e suspirou, controlando seu comportamento, continuou: — Eu quero apenas… recuperar o tempo perdido, filha, eu me arrependo todos os dias de ter deixado você.
— Não me chame assim! Eu não sou nada sua…
— Precisa acreditar em mim, . — Alessia estava quase implorando para ter um voto de confiança.
Eu não ia deixar aquele pesadelo voltar a minha mente, não agora, não quando tudo já estava bagunçado demais para sequer pensar que essa poderia ser uma possibilidade.
— Podia ao menos ter pegado uma fonte mais confiável. — Levantei e me inclinei para mais perto da mulher e falei: — Nosso pai comprou cada uma de nós de uma puta sem coração diferente. — Comecei a caminhar em direção ao bar.
— Aquele homem não é seu pai!
Ouvi a confissão ao mesmo tempo que a cadeira arranhou o chão de madeira e travei onde estava, minha respiração parecia ter parado, engoli em seco e meu peito parecia pesado. Mordi o lábio e lágrimas saíram dos meus olhos sem nenhum aviso. Minha vida inteira seria uma mentira se aquilo tudo fosse verdade, não podia ser. Otelo era o meu pai, a única família que eu tinha era ele e minhas irmãs, se isso fosse verdade, o que restaria?
Não era, não podia ser.
Aquela mulher estava ali no intuito de me desestabilizar, talvez fosse mais um dos Delantera que descobriu um ponto fraco meu e estava usando isso para nos separar. Só podia ser isso. Olhei para a frente e vi Cristian me encarando preocupado, respirei fundo e comecei a andar novamente.
— O que eu posso fazer pra que acredite em mim?
Parei onde estava mais uma vez, limpei as lágrimas rapidamente e virei, encarando a mulher que já estava chorando, o desespero era nítido, mas eu não iria comprar aquele teatro. Fiz uma expressão altiva e encarei ela com raiva.
— Nada — falei, ríspida. — Você não pode fazer nada porque tudo que diz é mentira e veio até aqui para me atormentar por dinheiro!
— Eu não quero o dinheiro sujo de Otelo!
Arregalei os olhos em surpresa e um certo pânico. Como ela sabia? Ela realmente estava falando a verdade? Não, não podia ser.
— Se o que diz é verdade, você já quis o dinheiro de Otelo uma vez, o que estaria te impedindo agora?
— Quero o amor da minha filha, algo muito mais importante que dinheiro.
Olhei para ela com um certo receio, aquela dúvida que eu sempre tive lá no fundo da minha mente, pedindo para que eu descobrisse a verdade. Anos remoendo aquilo, anos sentindo que me faltava algo, que talvez ali não fosse o meu lugar. Depois de adulta, escolhi negar a mim mesma a vontade de acessar tal sentimento, eu estava no lugar certo, aquela era a minha família, minha vida e eu sempre escolhi acreditar no meu pai.
— Enrico, tire essa mulher daqui. — Virei as costas e peguei minha bolsa e chaves no balcão.
— , por favor, me escute! — Ela gritava e se debatia enquanto meu segurança a levava para fora. — Eu vou provar! Eu vou provar!
Vi a tal da Alessia ser colocada para fora e eu ainda tentava respirar fundo para me controlar, fechei os olhos e soltei o ar devagar pelos lábios, sentindo uma dor absurda no meu peito. Minha garganta parecia fechada e respirar se tornava difícil cada vez que minha mente tentava encaixar as peças.
— Está bem, ? — Olhei para Cristian, totalmente apática, e acenei com a cabeça.
Virei as costas e subi para o escritório, assim que estava em meu território seguro, gritei a dor que sentia em meu peito com todo o ar dos meus pulmões. Joguei tudo que estava em cima da mesa no chão e quebrei o cinzeiro de vidro na parede, parecia que a dor iria me rasgar o peito, e destruir algo iria me ajudar de alguma forma. Eu gritei mais forte, sentindo meu peito arder, encostei na mesa e meu choro foi silencioso a partir dali. Quando vi, estava no chão, abraçada aos meus joelhos e olhando a bagunça que eu tinha acabado de fazer. Abri a gaveta ao meu lado e puxei a garrafa de vodca, tirei a tampa e virei direto do gargalo.
Que dia infernal, já tinha começado ruim e foi piorando com o passar das horas, era uma merda atrás da outra. Dei outro gole na garrafa. Apesar de escolher a história que acreditei a vida inteira, agora essa mulher tinha trazido uma dúvida que não me aterrorizava há anos. O rosto da tal Alessia vinha em minha mente e tudo que eu via era Beatrice, ela era muito parecida com a Bea.
Céus, e se ela estivesse falando a verdade?
Não!
Outro gole.
Será que essa era a pessoa que estava trabalhando junto com Carolyn? Como não obteve respostas, essa Alessia veio com esse plano para me desestabilizar? Filha da puta!
Outro gole.
Olhei para o lado e vi minha arma encaixada embaixo da mesa. Virei a garrafa mais uma vez e senti o amargo da vodka descer em minha garganta, fechei os olhos e senti um pouco da tontura do álcool. Tinha bebido muito rápido, mas não importava, iria arrancar tudo daquela vagabunda francesa. Enfiei a arma em minha cintura, peguei minha bolsa e saí do escritório com pressa.
— , a Beatrice está lá na cozinha e disse…
— Depois, Cristian. — Passei por ele rapidamente e saí da boate, entrei no meu carro e dei a partida.
De tudo que passava em minha cabeça, a pior delas era pensar que meu pai teria mentido para mim. Não ficaria chateada se ele tivesse me criado como filha dele, mas esconder isso de mim seria demais. Aquela mulher só poderia ter ido até ali a mando de Carolyn, ou até mesmo do pai dela que nem sequer mandou mensagem para o celular dela desde que a prendemos.
Que bela bosta de pai.
Estacionei o carro de qualquer jeito na frente de casa devido ao alto teor alcoólico no meu sangue e entrei, eu só queria uma coisa, saber todos os planos daquela mulher, e eu iria, ah, como eu iria. Peguei a chave reserva do quarto de Beatrice que estava guardada em meu quarto, na gaveta da cômoda, abri a porta e entrei, caminhei até o closet e abri as portas duplas. Eu só notei que estava ofegante quando parei e olhei para o rosto de Carolyn, senti meu coração martelar em meu peito e a raiva esquentar meu corpo. Dei alguns passos e arranquei a mordaça dela, mantive uma distância segura, não queria fazer nenhuma besteira.
— Já descobrimos quem é seu pai, Carolyn, agora você pode parar com o fingimento.
— Do que está falando? — Ela tentou se fazer de desentendida.
— Corta o papel da mocinha que nesse filme você é a vilã, Carolyn. — Apontei para ela enquanto a olhava com uma raiva descomunal.
Vi sua expressão se transformar diante dos meus olhos, ela começou a rir ainda de cabeça abaixada, aos poucos, levantou os olhos para me encarar como se ela estivesse solta e eu presa naquela cadeira. Por um momento foi como me senti, presa em um lugar que talvez eu não pertencesse mais, que talvez nem fosse para eu estar ali. Se Otelo não fosse meu pai, o que sobraria para mim naquela família?
— Acredita mesmo que eu seja a vilã? — Ela riu, debochada. — Vocês mataram meu tio! — gritou, seus olhos escureceram de raiva e sua expressão era mortal, de quem arrancaria minha cabeça caso ela não estivesse presa.
— Ele matou o meu primeiro, então acredito que estejamos quites.
— Estamos longe de estar quites! — gritou ela, enraivecida, era nítido que ela queria se soltar dali e me matar, aquela era a verdadeira Carolyn. — Vocês expulsaram a gente da nossa casa, da nossa cidade, do nosso país!
— Vocês provocaram isso, mataram a minha tia, quem deveria estar buscando vingança era meu pai. — A palavra chegou a pinicar na minha língua, agora eu nem mesmo sabia se ele era meu pai ou não. Do que eu estou falando? Entrando no jogo dessa vadia por causa de uma atriz. — Por que mandou uma mulher fingir ser minha mãe?
— Quê? — Ela franziu o cenho.
— Ainda não cansou de fazer cena? — Avancei para cima dela e gritei: — Óbvio que foi você que mandou uma atriz se passar por minha mãe e dizer que Otelo não é meu pai!
— Você realmente está alucinando…
Tirei a arma de trás da minha cintura e coloquei na cabeça dela:
— Estou alucinando essa arma também, Carolyn? — Vi seus olhos arregalarem. — Pare de me enrolar, diga logo o que quer! Veio desgraçar a minha família…
Que eu nem sabia se realmente era a minha família agora.
Dei batidas na minha cabeça e espremi os olhos, lágrimas começaram a deixar meus olhos e eu sentia uma dor que me possuía cada vez mais, aquilo era insuportável, eu só queria respostas.
— Abaixa essa arma, … — Sua expressão mudou de raiva para preocupação. — Eu juro, eu não mandei…
— Não minta pra mim! — gritei, interrompendo-a, balançando a arma na direção dela. — Desde que chegou aqui tudo começou a desandar… O problema é você e se — destravei a arma e mirei bem em sua cabeça — eu acabar com você, os problemas acabam.
— … — Ela começou a chorar, desesperada. — Eu juro, por favor, abaixa essa arma…
— Cadê a mulher que estava rindo e me confrontando ainda agora? — Eu comecei a rir e olhei para ela com piedade. — Conte tudo sobre Alessia… toda a verdade!
— Mas eu não conheço essa mulher! — gritou ela, angustiada em provar sua inocência.
— ! — Ouvi a voz grossa gritar o meu nome e, com o susto, meu dedo apertou o gatilho, o estouro alto e seco ecoou pelo closet, virei a tempo de ver a cabeça de Carolyn pender para a frente e logo o sangue começar a pingar.
Eu travei onde estava, meu coração parecia que tinha parado de bater junto com o dela, tamanho foi meu choque, mas foi uma angústia silenciosa, latente dentro de mim. Meu corpo adormeceu como se eu tivesse perdido o controle dos meus músculos, meus olhos estavam vidrados nela, meu coração acelerou de repente e me ajoelhei perto dela.
Ela não estava se mexendo!
Levantei seu rosto e vi aqueles olhos sem nenhum brilho, olhando diretamente dentro dos meus.
— Não. Não, eu não fiz isso.
Senti a mão dela agarrar meu pulso e tive um sobressalto fazendo meu corpo gelar com um calafrio, pisquei os olhos e ela continuava parada, estática; morta. Senti meu corpo pesar toneladas e caí sentada no chão, minha mente estava me pregando peças.
— ! — Ouvi ao longe e virei para trás, percebendo , que parecia confuso com aquilo tudo.
— Eu matei… — falei baixo, olhando novamente para Carolyn, as lágrimas escorriam em meu rosto e eu não conseguia me mexer. — O que eu faço agora? Eu… Por quê?
— ... — Senti a mão de em meu ombro. — Pode soltar agora… — Não entendia o que ele queria dizer, mas meus olhos arderam e fui voltando a mim, pisquei lentamente tentando controlar minha respiração e senti meu rosto molhado, só então consegui notar que ele estava agachado ao meu lado, sua mão acariciava meu braço indo em direção à arma que eu ainda segurava firmemente e nem tinha percebido. — Solta, . — Ouvi a voz baixa de próximo do meu ouvido e sua mão acariciou a minha, fazendo eu abrir meus dedos devagar e deixando que ele pegasse a arma. — … Fala comigo…
Ele segurava meu rosto tentando olhar em meus olhos e, em um rompante, eu o abracei, eu não conseguia mais parar de chorar. Por um momento me senti bem por ter feito aquilo, como se aquilo tivesse chegado ao fim, mas eu era uma assassina agora.
— Eu sou… uma assassina, … — falei abafado, com o rosto enfiado em seu peito, em prantos.
— Foi um acidente, . — Ele seguiu me abraçando, acariciando minha cabeça. — Vai ficar tudo bem.
— Fui eu que matei, ela está morta, ! — gritei ao me afastar dele. — Eu atirei aquela bala… Alguém está morto por minha causa!
— , calma… — Ele foi me abraçar novamente, mas comecei a me sentir claustrofóbica, levantei e comecei a andar para fora daquele closet, eu precisava de ar. — , pra onde você vai?! — Ele me seguiu pelo corredor. — Espera! — Ele me puxou pelo braço.
— Me solta, — falei séria, amassando a gola de sua camisa. — Me solta!
— Você precisa se acalmar antes que a Giulia escute algo, assim como escutei os gritos de vocês.
— Como vou me acalmar?! — Olhei para baixo, sentindo as lágrimas se formando ainda mais e vi minhas mãos com sangue. — Minhas mãos… Minhas mãos…
— Vem comigo. — Ele me pegou no colo e eu não conseguia parar de encarar o sangue na minha pele.
entrou no meu quarto e fechou a porta com o pé, só entendi o que ele estava planejando quando senti a água quente escorrer pelo meu corpo, molhando todas as minhas roupas, assim como as de . Ele me colocou no chão devagar e então olhei para ele, vendo que seguia me encarando como se esperasse uma resposta, no entanto, naquele momento eu não sentia que conseguiria falar. Vi o líquido vermelho escorrer e ir embora pelo ralo, como se não fosse nada. Uma morte em minhas mãos, eu tinha tirado a vida de alguém.
— … — Seus dedos levantaram meu rosto pelo maxilar e eu olhei em seus olhos. — Vai ficar tudo bem.
— Como vai ficar tudo bem?
— Confia em mim? — Acenei que sim com a cabeça. — Então termine de tomar banho e venha comigo. — foi sair do box, mas eu segurei ele.
— Fica. — Vi seus olhos negros me medirem, o cabelo pingando água e sua camiseta regata branca, quase transparente, mostrando várias das tatuagens que ele tinha escondidas pela pele. — Eu não quero ficar sozinha… — Ele balançou a cabeça em positivo e voltou, fechando o vidro e então eu abracei ele me permitindo chorar em silêncio.
Era bom.
Seus braços me seguravam com carinho, seu queixo apoiado em minha cabeça e sua mão fazendo carinho em minha nuca era tranquilizador. A diferença entre meu coração em sofrimento, batendo rápido enquanto o dele batia calmamente me deixava mais confiante de que tudo poderia mesmo ficar bem.
Depois de colocar um pijama, ouvi dando ordens para que levasse o corpo para o porão. Saí do meu closet e ele já estava com outra roupa, assim que me viu, falou no celular que precisava desligar. Caminhei até a cama e sentei, ainda olhava minhas mãos e a imagem da cabeça de Carolyn pendendo para a frente ainda vinha em minha mente. Senti uma mão em meu ombro, olhei para o lado, espantada, sentindo o coração acelerar, mas era que tinha sentado ao meu lado, então eu relaxei, soltando o ar.
— Prefere conversar amanhã? — Acenei que sim. — Tudo bem, você quer que eu traga algo? — Balancei a cabeça em negativo. — Eu preciso resolver algumas coisas…
— Não me deixe sozinha, por favor…
— Eu prometo que eu volto em alguns minutos. — Ele acariciou meu rosto, por mais que sempre que tínhamos contato físico alguma faísca de desejo aparecesse, naquele momento eu sentia que ele só queria me acalmar e me fazer ficar bem. — Vamos, deite.
Eu me recostei na cabeceira da cama e ele cobriu minhas pernas com o cobertor, minha respiração continuava difícil, como se algo pressionasse meu peito. Meu corpo estava tenso, retesado, e minha mente não conseguia apagar o que eu tinha acabado de fazer e o que eu tinha visto.
Agora eu era uma assassina.
— Eu já volto, .
Vi levantar e sair do meu quarto, eu sabia o que ele ia fazer, ouvi ele no telefone, ele iria resolver a questão do corpo e provavelmente a limpeza do closet da minha irmã. Eu matei Carolyn, ainda não conseguia acreditar, eu sempre mandei soldados matarem, mas dar uma ordem te deixa longe da real perspectiva de matar alguém. Fechei os olhos devagar e tentei me acalmar, pensar em outra coisa que não fosse a morte que eu causei. Por uma desconfiança, um erro, talvez ela não tivesse mandado aquela mulher lá, talvez ela…
— Fique orgulhosa de ter matado uma Delantera. Abri os olhos, assustada, mas eu continuava sozinha, meu coração começou a bater mais rápido de novo enquanto eu olhava para todos os cantos do meu quarto, buscando de onde tinha vindo aquela voz tão familiar. Recolhi minhas pernas para junto do meu corpo, assim como meus ombros, meu estômago revirou e senti minha boca secar.
— Você deve ser a vergonha do legado da Cosa Nostra. Dessa vez a voz feminina se fez mais próxima, me forçando a olhar para o lado vazio da cama depressa, e foi assim que vi Carolyn sorrindo de um jeito vil, com aquele buraco em sua testa e o sangue escorrendo pela pele e nos cabelos loiros.
— Ah! — gritei caindo da cama, me arrastei para longe até encostar minhas costas na parede e quando abri os olhos, não tinha ninguém no colchão ou no quarto. Mordi o lábio com força e me encolhi, sentada no chão, abraçando meus joelhos. — Não, isso não é real, não é real… — Eu me abraçava e me balançava procurando refúgio daquilo, eu só podia ter entrado em um pesadelo. Senti meu rosto formigar, o ar parecia não entrar em meus pulmões devido a minha garganta parecer cada vez mais fechada. As lágrimas molhavam meu rosto e eu apertava cada vez mais meus olhos fechados, tentando ignorar o que tinha acabado de acontecer. — Não é real, ela está morta…
— !
— Ela tá morta… — eu repetia sem parar, tentando me convencer de que tudo aquilo não passou de um delírio. — Eu a matei.
— … — Apenas senti me abraçando. — O que houve?
— Ela… estava aqui… ela estava aqui — falei aos prantos, entre soluços e lágrimas. — Ela não vai me deixar em paz…
— Eu não vou sair do seu lado, eu prometo.
— Ela estava morta… Eu vi. — Ele me segurou e me puxou para mais perto dele, ouvi seu coração batendo ritmado com o meu, em alerta, preocupado comigo, e era uma merda admitir, mas não existia mais ninguém que eu quisesse ali comigo naquele momento.
— Vai ficar tudo bem — ele acariciou minha cabeça —, vai ficar tudo bem.
As always, eu olhando pro Juan somente aparecendo em cena, falando “oi” e saindo, é tipo:
🫵🫵🫵
Sorry not sorry, Juan IANSDPOASNDP
E esses dois se provocando. Isso na vida real ia me irritar facinho HAHAHAHAAHAH
Mas vamos falar sobre Vincenzo – e a Giovanna. Eu espero que ele fique bem e tenha uma vida longa e boa. E eu ri demais com a Gio falando sobre não se importar da Pietra continuar dando pra ele, MORRI ASPONDASPODMSAOPDMASPDO
Hahahahaha amg, vc tá nuito encucada com o pobre do Juan, vamos só aproveitar mais um barman gostoso nos dando o ar da graça 🤤
Matteo já todo errado desde o começo por se apaixonar pela “irmã” (já colocando as aspas porque TENHO ESPERANÇAS) e ainda vai e se deixa levar pela Carolyn e ainda se deixa ser visto pela Pietra. PQP, Matteo, tu não se ajuda também, hein?
E a Pietra devolvendo o favor com o Juan… Juan nem liga de ser usado, né, moço? O importante é o que importa e é o que tá valendo IOHASDOIHADO
Vamos ver como as coisas vão “se resolver” ou “se complicar” nessa história nos próximos capítulos.
Matteo, vê se toma tento u.u
Bea nesse final, tô só o gif de “tô de olho” com ela HAHAHAH ALGO DE ERRADO NÃO ESTÁ CERTO COM ESSA REAÇÃO DELA
E a Luna mostrando que pode até parecer inocente, mas santa não é (e nem boba HEHEHEH)
Cada hora aparece mais coisas nessa família, gzus amado, só espero que termine tudo “felizes para sempre” 🙏
Sabemos que a característica de ser uma péssima mentirosa é de família kkkkkk e a Luna toda inocente só que não rs
E continuamos a saga de Matteo tentando disfarçar mas falhando miseravelmente. Mas, por enquanto, vamos fingir que a gente acredita que tudo isso é preocupação de irmão para com a irmã querida, né HHEHEHE
Eu também curto paella com frutos do mar (mesmo o camarão em dando dor no estômago, <3 frutos do mar), nunca nem vi carne de coelho na vida HASOIDNASOPDNAPSOD
Eu imagino se Carolyn vai ser uma bitch bem bitch ou só uma pedra no sapato mesmo. Mas de qualquer forma, esperamos poder chutar ela pra longe em breve (porque já chega o drama do incesto, ainda tem que aparecer gente pra atrapalhar mais, né? Não u.u)
Matteo é outro que não sabe esconder nada que passa pela cabeça, as reações são impulsivas, como todo ele kkkk ai, Paella é hma delícia, e sim, prefiro com frutos do mar, .as na Espanha a tradicional é com carne de coelho mesmo, n sei dizer se gostaria, nunca comi coelho kkkkk
Carolyn chegou pra infernizar, disso temos certeza
Preciso de mais capítulos, estou em abstinência 😪
Tem tantoos capítulos pra vir, more! Fica tranquila que vem aí 🥰 Se atrasar briga com a beta 👀 kkkkkkk
TÔ DOIDAAAAA PRA GIU EDSCOBRIR HAHAHAHAH Eu quero que a Carolyn morra. PFVR amiga, não faça ela engravidar ok? Eu vou ter mto desgosto com isso. Otelo podia desconfiar logo tb, que raio de mafioso cego é esse? Otelo desconfiando, percebe que tem que contar a verdade que um dos dois não é filho dele. E ai o casal começa o drama de viver um amor revoltado.
E a merda foi jogada no ventilador, minha gente HAHAHAH
Uma descobrindo o segredo amoroso da outra, AMO. Mas a Bea acho que deixou algumas pistas do que estava acontecendo, não deixou?
E Juan mostrando sua versatilidade no trabalho, hum? Mas ainda não saiu da minha lista de suspeitos. Suspeitos de quê? Não sei, mas eu suspeito dele HAIONASODINASODNO
Essa hora sempre chega hahahaha
Amiga, vc pegou Juan pra cristo kkkkk coitado
Não acredito que você terminou o capítulo desse jeito! Aaahhhhhhh preciso de mais, muito mais! Não me diga que a Giu não vai falar com o irmão sobre isso e ouvir ele confessando o que sente, e depois ela investigando a família descobre que eles nem são irmãos de verdade! Não me diga que Juan e Pietra irão se envolver mais serem namoradinhos, e atiçar o modo vingativo do meio irmão que vai investigar ele enquanto morre de ciúme! Não me diga que elas não vão descobrir que Carolyn e Juan são parceiros infiltrados!? Aí nossa, não me diga!!!
Amigaaaa hahahahaha você está empenhada em gerar teorias conspiracionistas hahahaha não tô me aguentando 😂😂
EU NÃO VOU TIRAR JUAN DA MINHA LISTA DE SUSPEITOS E TENHO DITO.
Tudo bem que eu já suspeitei até do primo Filippo na história em um certo momento (e às vezes torno a suspeitar HAHAHAH), MAS JUAN É MUITO SUSPEITO. E a entrada dele na história foi muito conveniente, SUSPEITO, MUITO SUSPEITO.
Agora vaamos ver onde tudo isso vai dar e quantos mais vão cair HEHEHEEH
Tadinho no Filippo, ele sempre foi um bom menino 🥹❤️
hahahaha a grande pergunta é essa, quantos vão cair?
E o moço ainda acha que pode falar em tom de ordem com a menina? Tu já foi melhor que isso, Matteo u.u
E essa Carolyn… Vou dizer nada não, só que Juan continua na minha lista (ele nem surgiu na conversa, mas essa sou eu HAHHAHAAH)
Adorei que as meninas se juntaram no clubinho próprio das mafiosas pra tentar resolver as coisas sozinhas, vamos ver se vai ser efetivo 💪
Eu já falei que ela não falou medo de quê ela ficou, senhor. Acalma o culo aí.
E essas coisas que costumavam dar certo agora dando errado, SUSPEITO o timing, hein? Ficar de olho no mundo todo porque nessa vida nada é 100% confiável, a gente confia com um lado e com o outro desconfia HAHAHA
A Giulia é maravilhosa demais, aff as tiradas dela com todo mundo HAHAHH AMO ELA DEMAIS <3
Giulia é perfeita, amo o quanto ela é cirúrgica sem ngm pedir kkkkk
Gzus, o timing todo errado pra Pietra falar e pro Matteo decidir sobre casamento, aí surge a polícia toda errada também (mentira, ela tá certa, mas pqp)…
E eu acho que se essa coisa da Carolyn é séria, ela tinha o plano perfeito em mãos se não fosse tão descuidada. Ela se infiltraria na surdina na família e, se quisesse, arruinaria ela por dentro sem ninguém nem saber. O Matteo já tava ali e o Otelo também não sabia nem o que atingiu ele (nem que tinha sido atingido –‘), tava na mão, mas a arrogância do ser humano, né 🙄🙄
Vamos ver o que nos aguarda agora, né…
Impressionante como tinha a faca e o queijo na mão e foi pega por um descuido, burra né, amg? Pediu pra ser descoberta, onde já se viu fikr conversando sobre um assunto desses como se fosse a dona da casa? 🤪 Pediu por isso…
Preciso de mais pelo amor de Deus
Vem muito aí, amg hahahahaa
🫢🫢🫢🫢 😱😱😱
Essa é a reação do capítulo.
Eu não tava esperando por isso e muito menos assim.
Mas o Juan ainda tá na minha lista HASHAHAHAHAHH
Amiga, foi babado escrever esse capítulo, então a sua reação é mais do que maravilhosa! Hahahaha Eu amo causar emoções com minhas histórias, então eu tô no caminho certo hahaha E você segue cismada com o Juan, tadinho kkkkk ❤️😘
Finalmente a chave que eu precisava pra ela se deleitar no fakebrother uhuuuuu… Sabia que alguém não era filho de Otelo!
Eu amei demais o que aconteceu nesse capítulo 🤩