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The Beauty And The Beast

12. Miracles in December

  Derbyshire – Inverno de 1847

   ver.:

  — Minha lady — disse Sophie, ao adentrar a biblioteca —, bom dia.
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  — Bom dia — mantive meu olhar na janela, estava observando conversando com meu pai.
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  Ainda estávamos brigados, o que era um absurdo segundo as palavras da senhora Poppy, mas eu me mantinha contínua em meu pensamento, não o deixaria tocar em mim até que confiasse por completo em meus sentimentos por ele. Talvez pudesse ser meu orgulho ferido em admitir que estava errada por ter brigado com ele, de fato, Freya ter se casado com Ulrich havia se tornado algo tão insignificante para mim.
  Entretanto, o que me irritava era sempre me lembrar da forma em que Freya havia mencionado sobre seu dote, isso deixava meu coração congelado de raiva, se me amava mesmo, jamais esconderia algo deste nível de mim.
  — A senhorita está bastante pensativa esses dias — comentou ela permanecendo perto da porta.
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  — Vou aprendendo com a convivência. — disse de forma espontânea me referindo ao meu marido. — Sabe se Margareth já acordou?
  — Sim, eu vi a senhorita Margareth indo cavalgar com lady Evelyn — respondeu ela.
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  — Cavalgar? — desviei meu olhar para ela confusa. — Desde quando tem cavalos novamente em Lewis Castle?
  — Chegaram hoje pela manhã, na primeira hora do dia. — explicou. — A senhorita Margareth se empolgou tanto que quis cavalgar de imediato.
  — Eu não saí do quarto esta manhã — sussurrei a causa de minha surpresa.
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  Voltei meu olhar para a janela, fixando meu olhar no motivo de termos cavalos novamente no castelo: Winchester. Certamente deve ter feito isso para ganhar mais pontos com meu pai ou o restante da minha família, ou somente inutilmente tentando me agradar; se aproximar de mim era tudo que ele mais tentava fazer ao longo daqueles meses de silêncio de minha parte.
  Sophie era, sem dúvida, a melhor e mais discreta dama de companhia que eu já havia visto, ela estava passando todo o tempo comigo em silêncio, comentários curiosos ou inoportunos jamais viriam dela e isso era a melhor parte. A única coisa que me preocupava era, ainda, o primo de começar a demonstrar certo interesse por ela. Já sabia de sua fama de libertino, o que intensificava ainda mais minha preocupação.
  — — disse Margareth, ao bater na porta —, está ocupada?
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  — Não, Marg. — virei minha face para sua direção. — Já se cansou dos cavalos novos?
  Infelizmente um tom de ironia escapou de minha voz.
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  — Estou sentindo um tom diferente vindo de você. — ela adentrou o quarto e fechou a porta. — Está tudo bem?
  — Sim — cruzei os braços e deu um suspiro cansado.
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  — Estou vendo que não. — ela caminhou um pouco mais em minha direção. — Poderia nos deixar a sós, Sophie?
  — Claro, com sua licença — Sophie se afastou de mim, indo em direção a porta.
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  — Desculpe-me, Marg, estou um pouco de mau humor hoje — a olhei arrependida.
  — Percebe-se. — ela veio ao meu encontro e me abraçou. — Ainda estão brigados?
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  — Sim.
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  — Não se preocupe, não disse nada sobre isso a ninguém — assegurou ela.
  — Não sei como irei me sustentar no natal — disse sentindo um aperto em meu coração.
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  — , não deveria se reconciliar com ele? — sugeriu ela. — Tenho certeza que é o que o senhor Winchester mais quer, ele é louco por você.
  — Não, não sem que ele tenha certeza que meus sentimentos são reais. — mantive-me séria. — Não quero que novamente nosso casamento seja baseado somente no dinheiro que ele tem.
  — Então mostre a ele o que pensa sobre isso. — Marg tocou de leve em meus braços me fazendo descruzá-los. — Ele só vai saber que gosta dele verdadeiramente, se demonstrar isso.
  Ela estava teoricamente certa.
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  — Deixe de orgulho — insistiu.
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  — Vou pensar sobre isso — assegurei.
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  — Hum… Vamos falar sobre outra coisa. — Marg me puxou para longe da janela e me fez sentar na cama com ela. — Freya disse que tem uma surpresa para nos contar no natal, o que acha que vai ser?
  — Se tratando da Freya… Nem consigo imaginar — suspirei fraco.
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  — Verdade… Se bem que a surpresa mais louca foi seu casamento. — ela me olhou meio curiosa. — Você deveria ter ido à igreja.
  — Sophie me representou muito bem. — disse em um tom tranquilo. — E não estava me sentindo bem naquele dia.
  — Eu fiquei intrigada pelo senhor Winchester ter ido. — comentou ela. — Mudando de assunto, você vai mesmo viajar para o Japão com ele?
  — Como soube sobre isso? — a olhei intrigada, havia mencionado de nossa viagem há somente dois dias.
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  — Eu discretamente ouvi a senhora Poppy comentando sobre isso — respondeu ela com um olhar sapeca.
  — Já estou entendo este seu olhar. — cruzei os braços. — Não me faça pedir isso ao .
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  — — ela segurou minha mão fazendo uma carinha de criança abandonada — Eu fui para Ásia, nem sei quando poderei ter outra oportunidade, deixei-me ir com vocês, só desta vez.
  — Você disse isso da última vez, quando fomos para Espanha no final do outono — a olhei séria.
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  — Sei que você precisa de privacidade, mas quem teria privacidade com a senhora Poppy no mesmo ambiente? — seu argumento tinha fundamentos, porém…
  — Mesmo a família dele estando presente, Marg, não quero ter que… — me calei por um momento, vendo seu olhar. — Tudo bem, pedirei a ele para ir conosco.
  — Sério? — seu olhar se encheu de esperança. — Sério mesmo?
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  — Sim — sorri de leve.
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  — Você é a melhor irmã do mundo… — ela me abraçou empolgada. — E direi isso na presença de Freya.
  — Não precisa causar discórdias. — comecei a rir retribuindo o abraço. — Comece a preparar suas coisas no baú, só por precaução, iremos logo após o natal.
  — Ahhhh!!! — ela se levantou e começou a dar alguns rodopios pelo quarto. — Já estou sonhando com esta viagem.
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  Eu ri um pouco de seu deslumbramento, Margareth ainda era uma criança inocente que só pensava em se divertir, o que me deixava feliz em poder lhe proporcionar dias alegres. Logo ouvimos alguns toques na porta, Sophie entrou com suavidade e veio até mim.
  — Minha lady, seu pai a solicita — disse num tom mais baixo.
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  — Meu pai? — voltei meu olhar para Marg, que também me olhava com curiosidade.
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  Assenti brevemente e segui em direção a porta, Marg me deu o braço ficando ao meu lado, enquanto Sophie nos seguiu a uma certa distância. Assim que terminamos de descer a escadaria principal do Lewis Castle, avistei um rosto novo e conhecido.
  — Pierre — disse Marg com uma entonação de surpresa — O que faz em Derbyshire?
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  — Pierre veio passar o natal com nossa família — explicou papai com um olhar de satisfação.
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  Ele sempre fazia este olhar quando conhecia alguns amigos importantes de , e como Pierre era filho de um renomado conde francês, tinha certeza que sua satisfação estava ainda mais elevada.
  — Mon cherí — Pierre deu um daqueles seus sorrisos galanteadores e logo pegando a mão de Margareth beijou suavemente as costas — Gostaste da surpresa?
  — Imensamente — ela sorriu com alegria, mas se conteve um pouco por causa de nosso pai.
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  — Minha lady Winchester — Pierre se curvou em respeito, ele já sabia que não gostava que outros homens me beijasse as mãos — É um prazer vê-la novamente.
  — Sinta bem-vindo a Lewis Castle.
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  — Oh sim, já estou honrado só de estar aqui. — ele olhou rapidamente ao nosso redor. — Este lugar é encantador, assim como as pessoas quem pertence.
  Olhei rapidamente para Marg, seus olhos fixos em Pierre brilhavam ainda mais pelo elogio.
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  — Agradeço as palavras sinceras. — disse segurando um pouco mais firme na mão de Marg para que suavizasse sua face deslumbrada. — Vieste sozinho?
  — Sim, meu pai e Belle tiveram outros compromissos inadiáveis — explicou ele.
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  — E Louise? — perguntou Marg.
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  Minha irmã havia se tornado amiga, e muito íntima, da prima de Pierre, a qual lhe prometera ajudar conquistá-lo. De fato, Marg estava apaixonada por aquele francês bon vivant.
  — Deixarei vocês por algum tempo. — disse meu pai voltando seu olhar para mim, assim como Marg, ele também havia me dito para fazer as pazes com meu marido. — Tenho alguns compromissos para esta tarde. Pierre, mais uma vez, seja bem-vindo.
  — Merci, mi lord — agradeceu ele.
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  Assim que papai se afastou, pude perceber a presença de , como sempre com seu olhar inteiramente voltado para mim. Confesso que a empolgação de Margareth e a surpresa de ter Pierre conosco havia prendido toda minha atenção para aquele possível futuro casal.
  — Permita-me mostrá-lo a Lewis Castle? — se ofereceu Margareth.
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  — Adoraria sua companhia, mas acho que não seria bem visto adentramos o castelo sozinhos — disse ele um pouco preocupado com o que eu pensaria.
  — Sophie se juntará a nós. — Margareth olhou para mim como sempre olhava quando queria algo de mim. — Não é?
  — Claro. — assentiu sem saber dizer não a ela. — Sophie, poderia acompanhá-los?
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  — Como quiser, minha lady. — assentiu ela.
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  — Agradeço — Marg deu um suave porém apressado beijo em minha bochecha, se afastando pousou sua mão no braço de Pierre que já estava a sua espera.
  Sorri com gentileza ao vê-la animada por novamente ter a oportunidade de estar perto dele, seu interesse era visível. Assim que se afastaram também, meu olhar se voltou para por um breve momento, seu olhar, mesmo triste, continuava intenso e sua face ainda que séria, transmitia suavidade.
  — Espere. — disse ele ao segurar minha mão, assim que deu o primeiro passo para me retirar. — Por favor.
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  — Hum — virei minha face para sua direção, permanecendo com meu olhar abaixado.
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  Ele me puxou para mais perto e me abraçou, meu coração se acelerou de imediato e todo o meu corpo se aqueceu. Um sentimento de arrependimento tomou conta de mim, percebi que não somente ele sentia a minha falta, mas eu também estava sentindo a sua, todos aquele meses me mantendo afastada dele só estava nos trazendo solidão, mesmo vivendo em um mesmo ambiente.
  — Perdoe-me por te afastar de mim — sussurrou ele, senti ainda mais tristeza em sua voz.
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  Por que ele estava pedindo desculpas, seu a culpa era minha per tê-lo afastado?
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  Senti a primeira lágrima rolar pelo meu rosto, me agarrei um pouco mais em seu colete, me aninhando em seus braços, aquele abraço que me fazia sentir segurança estava de volta em minha vida. Naquele momento decidi em meu interior que nunca mais me afastaria de , queria para sempre estar em teus braços, sentir o teu amor sem reservas.
  — Eu te amo — sussurrou ele me fazendo chorar ainda mais. — Não chore, apenas sorria e deixe-me chorar em seu lugar.
  Eu me agarrei ainda mais a ele, meu coração que estava apertado todo aquele tempo ficou mais leve e em paz, senti que tudo estava se encaixando novamente em minha vida.
  — Oh, não sabia que estavam aqui — disse uma voz indesejada que parecia ser de Freya.
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   se virou para a sua direção, enquanto eu fiquei de costas secando minhas lágrimas, desejando que ela não tivesse nos interrompido.
  — Está tudo bem? — a segunda voz era de Ulrich.
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  — Sim — respondeu em seu habitual tom sério e firme.
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  — Acabamos de chegar, Freya, acho que devemos nos acomodar — sugeriu Ulrich.
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  — Freya. — uma terceira voz surgiu ao lado, de Evelyn. — Minha filha querida, não sabia que já havia chegado.
  — Acabamos de desembarcar da carruagem, ordenei aos criados levarem nossas bagagens aos quartos — respondeu ela com um tom de satisfação, já que eles estavam voltando de sua viagem de lua de mel aos Estados Unidos.
  — Como está, sir Ulrich? — perguntou Evelyn. — A viagem lhe fez muito bem.
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  — O casamento me fez muito bem — corrigiu ele.
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  — Oh, senhor Winchester e , o que fazer aqui? — perguntou minha madrasta.
   permaneceu em silêncio pegando em minha mão.
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  — Já estávamos de saída — sempre de poucas palavras, ele me guiou para frente.
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  Nem me dei ao trabalho de dizer uma só palavra a eles, segui meu marido para a direção que ele estava disposto me levar. Caminhamos um pouco mais a diante até chegarmos ao campo de lavandas, era meu lugar favorito da Lewis Castle, de alguma forma me fazia querer lembrar de uma parte de minha vida que havia se perdido em meu acidente.
  — Gosto daqui. — sussurrei de leve vendo os flocos de neve que cobria toda a extensão do campo. — Sinto que é um lugar especial para mim, só não sei o motivo.
  Ele permaneceu em silêncio. Voltei meu olhar para ele e vi que a tristeza ainda permanecia em seu olhar, me senti um pouco chateada por isso.
  — O que houve, disse algo errado? — perguntei.
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  — Não. — ele deu um sorrido de canto. — Estou feliz por estar aqui com você, neste lugar especial.
  Seu olhar ficou um pouco mais feliz, eu o abracei novamente.
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  — Por mais que não consiga me lembrar o motivo de gostar daqui… — sorri de leve. — Agora formarei uma nova lembrança para torná-lo ainda mais especial.
   envolveu seus braços em mim e logo senti uma gota cair em meu ombro, certamente era uma lágrima sua que caíra sem permissão, o que me fez querer saber ainda mais seus sentimentos e emoções que demonstrava com tanta facilidade quando estávamos a sós. Declarei internamente que aquele lugar seria o pedaço em toda a Lewis Castle que nos representaria.
  Fechei os olhos sentindo o perfume dele envolvendo meus sentidos, pensando como poderia uma pessoa me amar tanto assim, amar alguém com tantos defeitos como eu. Internamente e externamente, não era como as belas moças da Inglaterra, possuía várias cicatrizes que jamais se apagariam, mas que me ajudavam a lembrar que mesmo tendo perdido algumas memórias naquele acidente de quando criança, algo importante havia acontecido.
   já sabia sobre o acidente e minha perda de memórias, também e principalmente que Ulrich havia me salvado de afogar, pois estava inconsciente após ter batido a cabeça em uma pedra. Nem mesmo me lembrava de como eu tinha caído, só sabia que havia sido um pouco depois que ganhei as cicatrizes nas minhas costas, porque Margareth me contou em segredo.
  Talvez por causa daquele acidente, me sentia incompleta, até que me casei com ele.

– x –

  — Feliz natal — disse meu pai ao me abraçar.
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  — Feliz natal, papai. — retribui o abraço. — Agradeço por nos convidarem.
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  — Lewis Castle sempre será seu lar. — disse ele com um olhar carinhoso. — Apesar de ter tantos lares.
  — Lar é onde está nosso coração. — sorri para ele. — Um pedacinho do meu está aqui também.
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  — Minha querida — ele parecia mais emocionado que o normal —, sinto-me tão aliviado por estar feliz com o senhor Winchester.
  — Deixe esses sentimentos de lado, sei que ainda se sente culpado por um casamento arranjado, mas estou grata a Deus por esse casamento. — segurei em sua mão. — Apenas se sinta feliz por sua filha.
  Voltei minha face para o lado sentindo alguém se aproximar, era e seu olhar de sempre.
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  — Feliz natal — senti que sua voz estava direcionada a mim, aparentemente meu pai também sentiu, tanto que se retirou discretamente.
  — Feliz… — sorri automaticamente mantendo meu olhar nele — Eu te amo.
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  Ele deu um sorriso singelo, seu olhar se encheu de alegria e parecia estar emocionado. Eu ainda não sabia como reagir, quando ele demonstrava com tanta clareza em suas expressões faciais, os seus sentimentos, somente conseguia sorrir na mesma proporção de seu espontâneo sorriso.
  — Pronto, Freya, já saboreamos a ceia e logo abriremos os presentes, já pode nos contar sua surpresa — disse Margareth de forma impaciente por todo o mistério que nossa irmã estava fazendo.
  — Não seja tão apressada assim, criança. — repreendeu nosso pai rindo. — Deixe que sua irmã diga a seu tempo.
  — Freya sempre faz suspense com suas notícias — reclamou Marg se colocando ao lado de Pierre que segurava o riso.
  — Confesso que estou um pouco curiosa também. — disse Evelyn ao pegar outra taça de vinho. — Freya não quis contar nem para sua própria mãe.
  — Bem, é que ainda haviam algumas dúvidas, porém, agora podemos afirmar para todos. — explicou ela com aquele sorriso desagradável de superioridade em sua face. — Estamos esperando nosso primeiro herdeiro.
  Seu olhar veio diretamente em minha direção, fazendo-me sentir um gosto amarga na boca.
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  — Oh, querida! — Evelyn a abraçou de forma carinhosa. — Um herdeiro, estou tão emocionada.
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  — Meu parabéns, Ulrich, vamos torcer para que venha um menino forte e cheio de saúde — disse meu pai um pouco surpreso.
  Certamente papai esperava ter seu primeiro neto vindo de mim, porém, após tantos alarmes falsos, comecei a pensar que não havia nascido para isso, estava quase completando um ano de casada e não havia engravidado. Por outro lado, Freya, com poucos meses, já daria a Ulrich um herdeiro, isso me fazia novamente lembrar de minhas cicatrizes, em instantes senti segurar minha mão como se estivesse demonstrando estar ao meu lado sempre, e encostando sua face em meus cabelos, meu corpo se arrepiou.
  — Deseja sair daqui? — sussurrou ele.
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  Assenti em silêncio.
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   me guiou até a porta e subimos as escadas até nosso quarto. Todos já sabiam da minha dificuldade em engravidar, por um deslize da senhora Poppy, que acabou comentando com Evelyn. Assim que entramos no quarto, me direcionei para a janela, mas não soltou minha mão, me puxou para mais perto aninhando-me em seus braços, seu gesto me fez sentir ainda mais segura e protegida.
  — Obrigada — sussurrei segurando minhas lágrimas.
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  — Sua dor também é a minha dor. — sussurrou de volta com carinho. — Nós ficaremos bem, apenas descanse em meus braços.
  Deus era mesmo bom comigo, por ter me dado alguém como para me apoiar e me alegrar, meu marido, mesmo com toda a sua intensidade no seu amor, me transmitia paz e tranquilidade, a calmaria que sempre desejei ter em minha vida. Estava começando a gostar de todas as noites dormimos juntos no mesmo quarto, era um dos lados dos burgueses que eu mais apreciava.
  — Estarei sempre em seus braços — sussurrei novamente dando um suspiro aliviado.
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  — É o lugar que eu sempre desejo que esteja. — ele acariciou meus cabelos. — Eles sempre estarão abertos para você, somente você.
  Outro arrepio veio-me ao corpo, senti-me aquecida por dentro juntamente com o pulsar mais forte de meu coração.
  As horas se passaram…
  No meio da madrugada decidi me levantar, já estava a um tempo sem conseguir voltar a dormir e decidi procurar por algum livro que pudesse me fazer sentir sono. Eu poderia até mesmo terminar minhas últimas páginas de O conde de Monte Cristo, mas estava tão encantada com a riqueza daquela história que não queria terminá-la assim com tanta rapidez. Assim que me levantei da cama, voltei meu olhar para que dormia em seu sono profundo, sorri um pouco e vesti o longo casaco francês que havia ganhado de de presente.
  Desci as escadas com calma devido ao escuro, só estava segurando um castiçal de prata com uma vela que já pequena não iluminava muito. Foi um pouco confuso minha coordenação ao definir em que direção eu ia, à noite era um pouco mais complicado para conseguir encontrar a biblioteca. Entretanto, quando cheguei ao corredor certo, comecei a ouvir alguns risos vindo de mais ao fundo.
  Assim que adentrei silenciosamente a biblioteca, paralisei com a cena que estava diante de mim. Ulrich estava deitado no tapete em frente ao sofá, com seu corpo sobre o de uma das criadas que trajava somente as peças íntimas, sua face ao olhar para trás e me ver ficou rígida, assim como seus olhos surpresos.
  — — sussurrou ele.
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  Mesmo meu corpo congelado pelo impacto de ver meu cunhado tendo intimidades com uma serviçal na casa onde fui criada, minhas pernas conseguiram se mover para fora daquele lugar. Segui pelo corredor de forma apressada, porém senti uma mão me segurar de forma forte.
  — Espere , eu posso explicar. — disse ele como se estivesse traindo a mim e não a sua esposa. — Por favor.
  — Não deve-me nada. — disse me soltando. — Não é a mim a quem precisa se explicar.
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  Dei alguns passos para trás e voltei o mais rápido que pude ao meu quarto. Assim que entrei fechei a porta e a tranquei, elevei a mão em meu coração e olhei para cama, não estava deitado, voltei meu olhar para a janela e lá estava ele olhando o lado de fora, pensativo.
  — Achou o que procurava? — perguntou como se soubesse de algo.
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  — Não. — sussurrei direcionando meu corpo para a direção da cama. — Vou me deitar.
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  Permaneci em silêncio sobre aquilo durante todos os outros dias em que ficaríamos em Derbyshire, não sabia se contava ou não para Freya, pois a mesma poderia dizer que era mentira de minha parte. Porém, Ulrich não se conteve em sempre tentar me abordar em algum canto para se explicar, por isso sempre mantinha Sophie por perto para que ele não se aproximasse de mim.
  Finalmente o dia de nosso embarque para o Japão chegou, o navio já nos aguardava no porto de Liverpool, onde possuía seus maiores investimentos e empreendimentos. Felizmente Margareth conseguiu a autorização de meu pai e Evelyn, após estrategicamente meu marido a convidar para ir, seus pedido para meu pai quase valiam como uma ordem. Sophie, como minha dama, já iria, assim como a família de , a surpresa seria com a companhia de Pierre, que resolveu não voltar para Paris e seguir viagem conosco.
  Assim que adentramos o navio, segurei meu riso, já imaginava que minha viagem jamais poderia ser com privacidade, mas pelo menos teriam momentos de alegria e diversão, burgueses tinham um humor mais leve que os nobres, apesar dos exageros em suas gargalhadas.
  — Espero que esteja se sentindo bem acomodada — disse ao entrar na nossa cabine que era a cabine do capitão.
  — Sim, estou. — assenti mantendo meu olhar para o vidro que compunha um pequeno vitral no meio de toda aquela armação, forros e estruturas. — Imagino que seja pela vista que tenha reservado a cabine do capitão para nós dois.
  — Pode se dizer que sim, além do conforto — admitiu ele dando mais alguns passos até mim.
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  — Hum — continuei com minha atenção ao mar.
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  — Estava mais silenciosa do que eu no jantar. — observou ele ao chegar atrás de mim e colocar suas mãos frias em minha cintura. — Aquilo ainda te preocupa?
  — Aquilo o quê? — perguntei confusa.
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  — Não precisa mais agir como se eu não soubesse. — explicou ele. — Aquela noite não foi a primeira dele fora de seu quarto, e sabemos que não seria a última.
  Céus! também sabia da traição de Ulrich, o que me faz sentir que sua frase quando entrei no quarto naquela noite, era sobre isso, explicava o motivo dele não ter insistido em perguntar onde eu estava como sempre.
  — Não está assim por causa de Freya, não é? — perguntou ele. — Está assim porque acha que farei o mesmo com você.
  — Perdoe-me por pensar tal coisa. — mantive meu olhar para frente, envergonhada por não conseguir encará-lo. — Durante toda a minha vida, vi sempre esta parte dos casamentos entre os nobres, os senhores traindo suas esposas sem a menor preocupação, até mesmo o meu pai, o vi uma vez quando criança, estava às portas fechadas na biblioteca com uma amiga de Evelyn, estávamos comemorando o aniversário de um nobre com um baile de máscaras.
  Lembrar de todas as cenas que havia presenciado quando pequena, de senhores que traíam suas esposas, fazia meu coração se encher de receio e tristeza. De repente, os abraços de envolveram em minha cintura, senti seu tórax encostar em minhas costas e um breve, porém significativo beijo em meu pescoço, que fez meu corpo se aquecer.
  — Jamais pense tal coisa de mim novamente. — sussurrou ele. — Assim como meus olhos e pensamento estão sempre em você, és a única com direitos e deveres sobre meu coração e meu corpo.
  Eu ri baixo daquelas palavras, um pouco engraçadas, mas no fundo sérias e sinceras.
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  — Sou teu, mesmo em dias que não me queira — sussurrou ele.
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  — Sempre irei te querer. — voltei meu olhar para ele. — Eu te amo.
  Não que estivesse mais fácil dizer que o amava, porém, aquela pequena expressão de três palavras era a única forma que conseguia expressar verbalmente o que meu corpo já expressava.

Eu que era egoísta e só sabia de mim mesmo
Eu que era negligente e desconhecia os seus sentimentos
Eu não consigo acreditar que eu tenha mudado assim
O seu amor continua mexendo comigo assim.”

– Miracles in december / EXO

13. Indestructible

Tóquio (Japão) – Primavera de 1848

   ver.:

  Eu estava encantada com cada detalhe da arquitetura de Tóquio. Visitar o oriente era realmente uma oportunidade única, o que me fazia ficar ainda mais curiosa em saber sobre como havia feito amizade com aquele tal nobre japonês. Em Tóquio, nos hospedamos na casa de um comerciante, que era representante dos negócios do meu marido em toda a Ásia Oriental, o senhor Kagami era muito gentil e tinha uma esposa adorável chamada Sakura.
  A senhora Sakura além de dócil, havia me aconselhado bastante sobre o que eu deveria comer para me ajudar a engravidar, e assim como todos que eu conhecida, ela também era muito curiosa para me conhecer.

  — Vamos — disse assim que terminei de despedir de Margareth.
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  — Sim. — assenti, me distanciando um pouco de minha irmã. — Tenha juízo, Marg.
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  — Pode ir tranquila. — a senhora Poppy pegou na mão de Marg e colocou em seu braço. — Vou cuidar muito bem de sua irmã, como se fosse minha filha.
  Eu tentei dar um sorriso despreocupado, mas não sabia se era algo positivo ou não, afinal, a senhora Poppy era um tanto liberal demais. segurou em minha mão e me olhou com tranquilidade, o que me fazia me sentir um pouco mais segura em deixar minha irmã para trás. Assim, entrei na carruagem e seguimos, os outros ficariam mais dois dias em Tóquio, dessa maneira poderia comparecer a um evento da nobreza em que havia sido convidado, mas como sempre, não queria participar.
  Enquanto isso, nós dois seguimos na frente com destino a Kyoto, onde uma casa que havia sido finalizada de sua construção recentemente já nos aguardava. Alguns dias na estrada, até que finalmente chegamos diante daquela linda e encantadora casa, extremamente diferente da francesa e da londrina, a arquitetura japonesa era bem mais vibrante, principalmente em suas cores.
  — O que achou? — perguntou ele ao segurar minha mão.
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  — Não encontro palavras para expressar-me. — sim, eu não encontrava mais nada. — Sinto-me ainda mais admirada.
  — Imaginei. — ele sorriu. — Assim como as outras, esta também é a sua, sinta-se à vontade para fazer dela o que quiser, só não poderá vender.
  Raramente ele brincava em seus comentários, o que me fez rir um pouco.
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  — Não a venderia. — sorri um pouco voltando meu olhar para a porta por onde entramos. — Aqui é tudo tão diferente.
  — Ainda não viu nada.
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  O olhei surpresa! Ainda havia mais coisas para se ver?
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  — Venha ver o seu jardim — disse ele me puxando para a lateral da sala.
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  Eu já havia visto alguns quadros retratando os delicados porém exuberantes jardins orientais, mas nunca em toda a minha vida, imaginei que teria um feito exclusivamente para mim, era ainda mais do que um sonho. Certamente eu era a mulher mais feliz do mundo, mais até que a própria rainha Victoria.
  Aquele jardim era ainda mais bonito e envolvente que as pinturas, o aroma que exalava deixava todo o ambiente perfumado, certamente era proposital estarmos ali em plena primavera. Logo mais à frente, após os pequenos bonsais, estava uma grande árvore de cerejeira, toda florida com suas flores cor-de-rosa abertas.
  — Sakura — disse ele.
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  — O quê? — o olhei.
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  — Aqui esta árvore recebe o nome de Sakura — explicou ele.
  — É linda. — voltei meu olhar para a árvore. — Tudo aqui é incrível.
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  — Sim. — ele sorriu. — Venha, precisamos descansar um pouco para amanhã.
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  — Amanhã? — eu comecei a segui-lo de volta para a casa. — O que faremos amanhã? Não ficaremos em Kyoto?
  — Sim, mas não aqui. — respondeu ele tranquilamente. — Quero te levar a um lugar especial, o meu lugar especial.
  — Hum. — sorri levemente curiosa para saber que lugar era esse. — Pensei que esta casa fosse o seu lugar especial aqui.
  — Não, entenderá quanto estiver lá. — explicou ele.
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  — E quanto aos outros? — perguntei. — Vão também?
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  — Não. — respondeu ele. — Eles virão para esta casa e ficarão aqui; o lugar que te mostrarei, só você poderá ir.
  Assenti sem fazer mais perguntas, mesmo que pudesse me preocupar com Margareth, confiava ou pelo menos tentava confiar que a senhora Poppy cuidaria bem de minha irmã deslumbrada.

  Na manhã seguinte, acordamos bem cedo, ao sair por uma passagem que ficava atrás do jardim, seguimos em uma outra carruagem, um pouco mais simples até um certo ponto da estrada. Como havia me presenteado com algumas roupas da cultura japonesas, havia me vestido com um de seus presentes e estava me sentindo um pouco mais confortável, com aquele quimono com o tecido de linho, já que a seda era um tanto quanto mais quente.
  Apesar de estranhar um pouco, estava me divertindo ao usar roupas mais simples do que costumava vestir, ver trajando o mesmo tipo de roupa me deixava ainda mais intrigada, pois ele continuava charmoso e atraente ao meu olhar. Assim que descemos da carruagem, eu me afastei um pouco olhando para o horizonte o sol já estava caminhando para se por. Ao se aproximar de mim, segurou em minha mão e me guiou bosque a dentro.
  Caminhamos muito e um pouco mais, até que chegamos a uma pequena e escondida trilha, naquela altura do dia eu já estava me perguntando se meu marido estava perdido em seu senso de direção. Porém mantive-me em silêncio e continuei o seguindo, fazendo algumas paradas pelo caminho para retomar o fôlego, logo ao escurecer senti minhas pernas bambearem um pouco e me apoiei nele, foi neste momento em que encontramos o que ele tanto procurava.

  — ? — disse uma voz desconhecida no meio de todo aquele breu.
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  — Por um momento pensei que estivesse perdido — disse ele ao segurar firme em minha cintura para me dar mais segurança.
  — Eu também — sussurrei de forma que ele não pudesse ouvir.
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  — Venha comigo. — o homem que também tinha traços japoneses riu um pouco. — É uma surpresa vê-lo aqui.
  — É bom estar de volta — disse num tom mais suave, ao começarmos a andar novamente.
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  — E vejo que está acompanhado. — comentou o homem indo na frente. — O ancião vai ficar feliz em vê-la.
  Me ver? Mais uma pessoa que me conhecia antes mesmo de eu saber sobre. Seguimos aquela trilha até chegarmos no que parecia um pequeno vilarejo, que se estendia em tendas sobre toda a colina. Olhei para tentando entender que lugar era aquela e que relação eu teria com nossa visita ali, não estava conseguindo ver nada de especial até aquele momento.
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  — Jovem Taikyu. — disse um senhor ao se aproximar de nós. — Algo me dizia que o veria em breve.
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  — Takashi sensei. — disse curvando de leve sua cabeça como modo de respeito. — Eu disse que voltaria.
  — Sim, você disse. — o homem desviou seu olhar para mim. — Seja bem vinda… Daichi os levará para a tenda, certamente estão cansados.
  Assenti de leve e voltei meu olhar para meu marido, parecia confortável naquele lugar, seu rosto transparecia uma tranquilidade fora do comum, o que me fez sentir que estávamos bem e seguros ali. Ao entrarmos, me guiou até uma cama feita de almofadas e futon, com um suporte de bambu por baixo de uma baixa altura, assim como as mesas daquele país.
  — Que lugar é este? — perguntei assim que ficamos a sós.
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  — Meu lugar especial. — respondeu ele ao se encostar em um pequeno armário de madeira que tinha aos pés da cama. — Perdoe-me por trazê-la em um lugar tão simples…
  — Qualquer lugar estando com você, me sinto confortável. — disse o interrompendo. — Seja em um luxuoso castelo ao sul da Rússia, ou aqui, nesta tenda.
  Ele sorriu com alegria de imediato, seu olhar carinhoso veio de encontro ao meu.
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  — Fico aliviado por isso. — ele respirou fundo. — Passei pouco mais de um ano aqui, mas sinto que de todos os lugares do mundo, este é o que mais desejava estar com você.
  — Sinto-me por completo honrada por estar aqui. — sorri com leveza. — Mas devo confessar que estou muito cansada, chegar aqui foi…
  — Eu sei. — ele riu baixo. — Confesso que perdi-me em um trecho do caminho, mas felizmente chegamos.
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  — . — disse uma mulher ao adentrar a tenda, seu sorriso era delicado assim como os traços de seu rosto. — Fiquei feliz ao saber que estava aqui, trouxe um pouco de chá para relaxá-los.
  — Agradeço a gentileza, Michimiya. — disse ele ao pegar a bandeja de sua mão. — Ficaremos bem.
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  — Tenham uma boa noite — a mulher suavizou um pouco mais seu sorriso e olhou para mim com gentileza e curiosidade, certamente deveria saber sobre mim.
  — Cada vez fico mais curiosa por ver que pessoas que nunca vi, sabem tanto sobre mim — comentei assim que a mulher saiu.
  — Devo enfatizar ainda mais o quanto você é importante para mim? — ele me olhou com serenidade e se ajoelhando em minha frente, colocou a bandeja entre nós. — Aceita chá?
  — O que mais devo saber sobre você? A cada dia me surpreende mais — comentei mantendo meu olhar nele.
  — Confesso que gostaria…. — ele se calou.
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  — Gostaria? — insisti.
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  Ele sorriu e me beijou de leve, um toque suave e doce que, mesmo sabendo que o propósito era me distrair de minhas perguntas, consenti na mesma proporção. Nossa noite naquele lugar foi um tanto admirável de minha parte, e a cada momento em que ele me interrompia com um beijo, pude perceber o quão à vontade aquele lugar o deixava, tanto que, na manhã seguinte, nem me lembrava se havíamos ou não lembrado de desfrutar do chá.
  — Suponho que seu nome seja — disse a mulher ao adentrar na tenda.
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  Eu havia acabado de acordar e não estava lá, terminei de me espreguiçar e voltei meu olhar para ela, não entendia o porquê, mas sempre sentia-me incomodada quando uma mulher sorria para meu marido. Bem, eu sabia o porquê, tinha ciúmes dele, por mais que não gostasse de admitir tal sentimento, porém, algo que me deixava ainda mais frustrada é por sempre aquelas mulheres como Michimiya e Belle, ou até mesmo Louise, parecerem conhecer ele bem mais do que eu.
  — Sim. — sorri de leve. — Sou lady Winchester.
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  — Então ele finalmente conseguiu ficar ao seu lado — comentou ela.
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  — O que quer dizer com finalmente? — aquilo me deixava por de modo confusa.
  — Michimiya? — entrou. — O que faz aqui?
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  — , vim saber se havia dormido bem. — ela voltou seu olhar para ele. — Estava conversando com meu pai?
  — Sim. — ele respirou fundo voltando seu olhar para mim. — Michimiya, poderia nos deixa a sós?
  — Claro — ela sorriu meio sem graça e se retirou apressadamente.
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  Voltei meu olhar para a bandeja de frutas que ele havia deixado aos pés da cama, para mim.
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  — Tudo bem? — perguntou ele num tom preocupado.
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  — Ficará quando eu realmente descobrir a verdade. — voltei meu olhar para ele. — Por que sinto que sempre está escondendo algo de mim? Algo que seja muito importante?
  — Perdoe-me por isso. — ele respirou fundo. — Posso te convidar para um passeio após o café?
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  Assenti em silêncio. Ele sorriu estendendo sua mão para a bandeja e me fez sentar novamente ao seu lado na cama. Após o café, saímos da tenda e me deparei com o lugar lindo e fascinante onde estava, a claridade do dia realçava a beleza da natureza em nossa volta. Antes de nos distanciarmos do vilarejo, trocou algumas poucas palavras com o ancião e o homem que nos trouxera, de nome Daichi. Havia descoberto que o nobre japonês a quem nos enviou aquele presente era ele, um velho amigo que havia salvado há anos.
  Logo seguimos por uma trilha diferente da que viemos, subindo um pouco a colina, adentramos um pequeno túnel formado por grandes rochas e assim que passamos por um estreito rio, chegamos a uma escadaria.
  — Onde estamos? Isso parece ser um templo — perguntei observando aquelas paredes em ruínas, mas que certamente possuía muitas histórias a serem contadas.
  — Você disse que queria me conhecer, com mesma intensidade da qual eu te conheço. — disse ele ao segurar em minha mão. — É por isso que estamos aqui, este lugar é parte do que sou hoje.
  Mantive meu olhar nele.
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  — Desejo mais do que tudo que saiba quem eu sou… Porém, mesmo não conseguindo dizer claramente, permita-me mostrá-la. — seu olhar parecia esperançoso. — Ainda que aos poucos.
  — Será um prazer. — assenti dando um leve sorriso. — É o que mais quero.

Este indestrutível e inquebrável,
Vínculo que nunca vai se quebrar,
Nossas almas são almas gêmeas,
Por exemplo,
Mesmo se parecer que você está prestes a cair de um penhasco,
Eu definitivamente não vou soltar a sua mão.

Indestrutível…
Porque eu vou proteger você até o fim.”

– Indestructible / Girls’ Generation

14. Keep Your Head Down

Londres – Primavera de 1844

   ver.:

  Finalmente eu estava de volta a Londres, após todos aqueles anos fora, estava com saudade e minha família além de curioso por notícias de lady . Porém, antes de voltar para casa tinha que me estabelecer naquela sociedade onde os aristocratas achavam que eram os superiores.
  — O que pretende fazer de início, senhor? — perguntou Lee, um leal amigo que conheci recentemente e se tornou meu braço direito.
  — Mostrar aos nobres que Londres possui um novo hóspede. — voltei meu olhar para frente e sorri de canto, estava ansioso por aquele momento. — Vamos começar com o melhor imóvel da cidade.

  — Disso eu já cuidei. — assegurou ele. — O corretor está a nossa espera, senhor.
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  Seguimos até a carruagem alugada que nos levou ao lugar combinado pelo corretor. O homem trajava um terno aparentemente desgastado, consegui notar um pequeno rasgo nos punhos da manga direita. Seu modo de falar era de uma pessoa apressada, típico de corretores de imóveis que já havia encontrado.
  — É um imenso prazer lhe conhecer, senhor Winchester — disse ele esticando a mão em cumprimento.
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  — Igualmente. — respondeu Lee por mim aceitando o cumprimento em meu lugar. — O senhor Winchester está ansioso para ver seu imóvel.
  — Ah, sim claro. — o homem logo recolheu sua mão envergonhado pela minha reação. — Sigam-me por favor, verão que separei a melhor propriedade de Londres para o senhor.
  O homem começou a caminhar em nossa frente. Eu sabia que depois daquela compra, muitas pessoas iriam saber sobre mim, meu nome correria não somente naquela cidade, mas em toda a Grã-Bretanha. Por isso, continuaria agindo de forma fria e silenciosa, não demonstraria nenhuma reação muito chamativa e cativante entre as pessoas, mas faria com que toda a sociedade me respeitasse.
  — A entrada desta casa é por aqui senhor, vai perceber que mesmo sua construção sendo antiga, a estrutura é muito boa — comentou ele assim que nos aproximamos da grande porta de madeira.
  Estrutura boa, observei cada detalhe do lugar. A casa estava caindo aos pedaço, além das várias teias de aranha que se destacavam mais que aquela decoração antiquada do período renascentista.
  — Eu por curiosidade andei ouvindo um pouco sobre seus negócios, senhor Winchester. — comentou o corretor como se quisesse tirar alguma informação mais importante sobre mim. — Estou admirado que um britânico tenha conquistado laços econômicos com o oriente, suas mercadorias e frotas estão ficando muito famosas e mencionadas…
  — O senhor Winchester agradeceria se não fizesse perguntas ou comentários que não estejam relacionados a propriedade — disse Lee o interrompendo.
  — Ah, sim, claro. — ele respirou fundo. — Então, o que achou, senhor?
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  Olhei para Lee e assenti com o olhar para que seguisse com o planejado, eu já sabia qual propriedade ele estava me mostrando, a quem pertencia e o quão importante era a localização, a parte mais nobre e rica da cidade.
  — O senhor Winchester gostou do lugar, está interessado tanto na propriedade, como em sua localização, já imaginávamos que nos traria aqui — comentou Lee.
  — Como? — o homem pareceu surpreso.
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  — Tenho certeza que podemos fechar o negócio, meu senhor aqui presente faz questão de pagar pela propriedade à vista e em raras moedas de ouro — continuou meu mordomo fiel.
  — Ficarei honrado em preparar todos os documentos necessários — o corretor deu um sorriso aliviado.
  Por certo ele estava mesmo precisando vender aquele imóvel, já que a família de nobre a qual pertencia estava na falência e precisava urgente do dinheiro. Para minha surpresa, os documentos ficaram prontos de forma rápida e precisa, como Lee tinha muitos conhecimentos de leis e direito, serviu a ele o dever de analisar cada linha da escritura e documentos. Assim que tudo foi oficialmente transferido, registrado e a propriedade passou para meu nome, Lee entregou ao corretor o pagamento pela venda, assim como uma pequena bonificação pela sua discrição.
  — O senhor acha mesmo que ele ficará em silêncio? — comentou Lee assim que entramos no quarto em que eu estava hospedado no luxuoso Hotel Kingdom Mont’ Blanc.
  — Após gastar seu bônus com bebidas e prazer, tenho certeza que não. — caminhei até a janela. — Vamos para o segundo passo, contrate o melhor e mais requisitado arquiteto, quero colocar aquela casa a abaixo e construir uma melhor e mais luxuosa ainda.
  — Como quiser, senhor — assentiu ele.
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  — Não me importo quando o valor que irá gastar, quero que a construção se inicie o mais rápido possível. — suspirei fraco olhando as carruagens que passavam pela rua. — Prepare também nossa partida para amanhã, vamos para Nottinghamshire.
  — Voltará para casa, senhor? — sua voz era de ansiedade.
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  — Sim, além da saudade, sinto que tenho bons negócios a fazer por lá. — ri baixo. — Sinto-me ainda mais preparado para mostrar aos nobres que seus títulos não valem mais nada nos dias de hoje.
  — Devo concordar que a burguesia está mesmo sendo notória, principalmente em Londres.
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  — Os farei desejar conhecer o dono do sobrenome Winchester — disse com firmeza e segurança.
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  Lee riu baixo, ele sabia parte do meu propósito inicial, tinha certa confiança em contar-lhe algumas coisas, já que me devia sua vida, sabia que a sua lealdade era real e eterna.

  Mais dias se passaram até que finalmente cheguei ao meu antigo lar, não me preocupei em me instalar ao ser anunciado perante a nobreza local, meu foco era minha família.
  Assim que a carruagem parou em frente àquele humilde casebre que já mostrava traços ainda mais fortes de desgaste, meu coração se apertou em ver que minha família passava por uma situação ainda pior do que quando eu havia partido. Estava ansioso para saber se ainda moravam ali e como haviam passado todos aqueles anos em que estive fora.

  — Anjo? — disse uma voz feminina e trêmula, certamente de minha mãe.
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  — Mãe. — me virei para trás e a olhei, estava um pouco suja de barro. — Sou eu.
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  — Meu . — ela veio ao meu encontro e sem se importar com a roupa, me deu um forte abraço. — Minha criança, que saudade.
  — Sinto o mesmo, minha amada mãe — segurei as lágrimas de saudade que se formaram no canto de meu rosto.
  — Onde esteve todo esse tempo? — ela passou a mão em minha face. – Oh, céus, como está bonito! E eu estou te sujando.
  Ela se afastou um pouco pela vergonha de estar suja.
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  — Não, seu abraço me aquece. — eu a puxei novamente e a abracei, como sentia falta do seu colo. — Senti falta disso.
  — Ah, minha criança, deve ter sofrido tanto longe de casa — sussurrou ela em lágrimas.
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  Sim, eu sofri um pouco longe do amor dela, mas meu sofrimento valia pelo resultado que hoje havia em minha vida. Minha mãe me convidou para entrar novamente em casa, ela me contou detalhadamente algumas coisas importantes que haviam acontecido enquanto eu estava fora, e enfatizou várias vezes que se fez forte e permaneceu viva para me ver novamente. Ela dizia que todas as noites pedia a Deus para cuidar de mim e me trazer de volta para casa, certamente ele ouviu sua oração.
  — Então todos esses anos não serviu para que ele aprendesse. — concluí ao ouvi-la dizer sobre as inúmeras dívidas do meu pai. — Os nobres que deviam a ele, não o contrário.
  — Seu pai sempre teve medo da aristocracia, por isso…. — ela limpou suas lágrimas. — Sinto por não tê-lo ajudado como deveria.
  — ? — disse uma voz conhecida e muito surpresa. — , é você mesmo?
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  — Sim. — voltei meu olhar para porta, era Aidan com seu olhar curioso e espantado para mim. — E você está bem crescido.
  — É claro que estou. — ele veio ao meu encontro e me deu um abraço de irmão caloroso. — Por onde andou todo esse tempo? O que fez? De onde veio aquela carruagem? Essas roupas são tecidos finos.
  — Você conhece de tecido? — perguntei me interessando.
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  — Sim, um pouco.
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  — Bom saber. — sorri de canto já pensando em alguns negócios que poderia fazer e envolveria Aidan nisso. — Eu estive bem todo esse tempo, estava conquistando meu espaço na sociedade.
  — E conseguiu? — perguntou ele curioso.
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  — Logo saberão. — respirei fundo. — E o papai? Onde está?
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  — Indo para o matadouro — disse minha mãe num tom dramático de sempre.
  — Como assim? — olhei para Aidan, a fim de que me explicasse melhor.
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  — Meu tio foi entregar sua última criação de javali a um nobre que insiste em cobrá-lo por uma dívida que não existe. — ele suspirou fraco. — Aqueles filhotes são nossa última ninhada, os pais também foram mortos e levados por outro nobre.
  — Você sabe ao certo onde fica a casa deste nobre? — perguntei.
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  — Sim, conde Dominos — assentiu ele.
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  — Então me leve até lá — disse.
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  — Mas assim, querido? — minha mãe segurou em meu braço. — Está todo sujo por minha causa.
  — Tenho roupas limpas na carruagem, eu ficarei bem. — sorri gentilmente para ela e voltei meu olhar para meu primo. — Vamos, quero chegar lá o mais rápido possível.
  Aidan assentiu e seguiu para a porta. Ele iria na frente com o cocheiro para mostrar-lhe o caminho, Lee me acompanhou do lado de dentro da carruagem me ajudando a me trocar para ficar apresentável novamente. Assim que chegamos ao castelo do tal nobre, já avistei meu pai ajoelhado ao chão aparentemente pedindo desculpas; tive que respirar fundo várias vezes antes de sair e ir ao seu encontro.
  — Não deveria cobrar uma dívida de alguém cuja mesma não pertence — disse em um tom mais firme e elevado.
  A partir daquele momento, eu seria o que jurei ser diante dos nobres.
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  — Quem é você, criança, para falar assim com um nobre como eu — o homem todo pomposo me olhou com arrogância.
  — Eu sou o dono desta dívida. — mantive meu olhar nele. — Por isso, devolva os filhotes que erroneamente aceitaste.
  — E sob qual direito pensas que pode exigir isso? Quem és para dizer tais afirmações? — insistiu o tal conde.
  — Winchester. — assim que falei, senti o olhar do meu pai vindo em minha direção. — Este é meu pai, portanto, sua dívida é minha, e vim quitá-la.
  Eu estalei minha mão e Lee que estava atrás de mim jogou um pequeno saco de moedas de ouro.
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  — Creio que isto seja o bastante, para uma dívida que nem existe. — entonei meu tom com arrogância. — Agora, vamos falar da vossa dívida comigo.
  — Minha dívida? — o olhar dele que já estava crescido no saco de moedas, se voltou para mim com espanto. — Não lhe devo nada.
  — Como disse, este senhor é meu pai e tudo o que deve a ele, deve a mim também. – sorri de canto com prepotência. — E terei o imenso prazer de cobrar cada moeda.
  O nobre engoliu seco.
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  Sim, felizmente, todos aqueles anos fora, Aidan e minha mãe haviam cumprido a promessa de anotar cada dívida que os nobres faziam com nossa família. Eu não estava ali somente para fazer justiça, estava também para deixar gravado meu nome naquela província e começaria tomando aquele castelo para mim.
  Mesmo que não tivesse como comprovar que aquele nobre me devia, eu tinha o Lee, que conseguiria fazer isso legalmente sem nenhum problema. Assim, da mesma forma em que meu pai foi humilhado todos aquele anos pelo conde Dominos, a humilhação voltou dobrada ao ser despejado de seu majestoso castelo, porém, a facada final foi ter todos os outros bens confiscados e ainda saber que meus pais morariam ali.
  Era o início de uma nova vida para eles e continuação dos meus planos. Rapidamente se espalhou a notícia que o filho bastardo do pobre açougueiro tinha voltado para casa rico e cheio de influência. Isso acabou por desencadear uma série de convites para festas e recepções, formalidades estas que não me contive em enviar meus pais como meus representantes.
  — Queria ser uma mosca para ver a cara daqueles nobres interesseiros ao verem meus pais no meu lugar. — ri baixo imaginando. — Eles sempre humilharam minha mãe por tudo, agora terão que conviver com eles.
  — O senhor está seguindo muito bem o curso de seu propósito. — comentou Lee. — Após duas semanas aqui em Nottinghamshire, conseguiu adquirir três propriedades rurais, dois castelos e muitas riquezas em obras de arte e mobília. O que fará agora?
  — Ainda não terminei de cobrar a todos as dívidas que tinham com meu pai. — respondi. — Primeiro, vou reaver o que deveria ser da minha família a muito tempo, depois, irei estabelecer meu investimento aqui, esta cidade é a melhor em termos rurais e preciso expandir o açougue, já que agora pertence a mim oficialmente.
  — Quando voltaremos para Londres, senhor? — perguntou ele.
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  — Em breve. — virei meu olhar para ele. — Já contatou com o arquiteto?
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  — Sim senhor, Monie François é um dos melhores arquitetos que existe atualmente, é muito conhecido na França. — Lee ponderou um pouco em continuar a falar. — Ele sugeriu que somente uma reforma e restauração fosse feita, já que a construção dispões de um alto valor histórico.
  — Não gosto muito da ideia de reformar — disse relutante.
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  — Senhor, ele me garantiu de o projeto ficará tão moderno quanto possível, e que a reforma só valorizaria ainda mais a propriedade, mesmo que a decoração possa ser diferente da original, tudo ficará ao seu gosto — assegurou.
  — Bem, se o valor de minha mansão será aumentado, tem minha autorização para a reforma, mas ao final de tudo, não quero nem por um momento me lembrar daquela visão de como está agora — o olhei sério e inexpressivo.
  — Será como ordenado — Lee assentiu e se retirou da sala.
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  — Oh, meu querido. — minha mãe adentrou com um largo sorriso no rosto. — O que achou de minhas roupas?
  — Está linda, mamãe — sorri para ela gentilmente.
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  — Fiquei tão emocionada quando entrei na biblioteca e aquela estilista francesa estava lá me esperando, senti-me tão importante, meu anjo — ela deu um suspiro de alegria.
  — A senhora é importante — continuei a olhando com carinho.
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  Estava feliz em poder finalmente ver minha mãe confortável e com um brilho no olhar, o mesmo brilho de quando eu a salvei.
  — Ando curiosa para saber como ficou tão rico — comentou ela, seu olhar estava mesmo curioso.
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  — Passei por muitas coisas até conseguir o que tenho hoje, mas a motivação de todas foi a senhora e ela — confessei.
  — Lady ? — seu olhar de curiosidade deu lugar para a admiração. — Depois de todos esses anos, ainda pensa nela?
  — Sim. — adimiti. — Depois de todos esses anos, meu coração ainda a deseja mais do que tudo o que poderia desejar nesse mundo.
  — Oh, meu querido. — ela me abraçou. — Desejo que conseguia realizar este sonho que parece ser tão distante.
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  — Sempre terei esperanças — sorri.
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  — E tenho orgulho disso, principalmente o que está fazendo por seu pai. — ela acariciou minha face. — Você é mesmo o nosso anjo.
  — Eu só quero minha família em segurança.
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  Minha mãe me abraçou novamente, me senti agradecido por tudo o que havia conquistado longe de casa, além da riqueza que um dia poderia acabar, eu tinha algo que nem os nobres poderia tirar de mim: conhecimento e perseverança.

Por que você é assim? Por que você é assim?
Já sou o cara mau da história.”

– Keep Your Head Down / TVXQ

15. Love Again

Londres – Outono de 1848

   ver.:
  Acordei no meio da madrugada e percebi que não estava no quarto, me levantei com certa dificuldade, estava sentindo um estranho desconforto em meu corpo. Me apoiei de leve na parede respirando fundo, até que tudo se estabilizou dentro de mim, então saí do quarto e segui pelo corredor até chegar às escadas. Logo o som do piano começou a surgir, era ele quem estava tocando na sala.
  — ? — sussurrei ao descer o último degrau, voltando meu olhar para ele sentado em frente ao piano.
  Tinha que admitir que ele tocava ainda melhor do que eu, era algo que sempre me surpreendia, um burguês possuir tanta sutileza ao tocar as notas de um piano, um instrumento tão delicado. Assim que ele terminou a sonata de Mozart que estava tocando, seu olhar veio de encontro a mim, como se soubesse de minha presença.
  — Perdoe minha ausência em nossa cama. — disse ele dando um sorriso singelo. — Senti uma breve agitação dentro do meu peito, não quis acordá-la.
  — Confesso que foi estranho despertar e não vê-lo no quarto, mas ouvi-lo tocar é reconfortante. — assim que dei o primeiro passo para sua direção, senti uma forte pontada em meu ventre, levei a mão nesta região encolhendo um pouco meu corpo — Ai…

  — ? — logo se levantou e veio me amparar.
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  — … — fechei os olhos sentindo a dor ficar ainda mais intensa, minhas pernas ficaram um pouco bambas.
  — O que foi? O que está sentindo? — ele tentou me apoiar um pouco mais, porém, meu corpo desfaleceu até chegar ao chão.
  — Estou… — não conseguia falar de tanta dor, quando os abri olhos novamente ergui minha mão e a vi com sangue, desci meu olhar e minha camisola já estava ensanguentada.
  — Lee! — gritou ele ficando um pouco mais preocupado com meu estado. — Lee…
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  — … — neste momento eu já somente sussurrava seu nome como um pedido de socorro.
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  Não conseguia distinguir mais sua voz ou o que acontecia ao meu redor, somente senti sendo envolvida em seus braços e carregada até o quarto, porém perdi a consciência no meio do caminho devido a intensidade da dor que sentia. Eu despertei com a claridade do sol em meu rosto, ao invés do meu marido, a pessoa que estava sentada ao meu lado era a senhora Poppy, que segurava com carinho minha mão.
  Confesso que nunca havia provado do amor de uma mãe, Evelyn nunca havia me visto como uma filha, principalmente quando pegava escondido as traições de meu pai, ela sempre descontava em mim sua raiva. Mas a senhora Poppy estava me mostrando que carinho de mãe era independente do sangue, assim como ela havia adotado , também já me considerava sua filha de coração.
  — Oh, minha querida. — seu olhar gentil ainda tinha algumas lágrimas presas no canto. — Está melhor agora?
  — Estou sim, senhora Poppy. — tentei sorrir, mas não consegui. — Onde está ?
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  — Conversando com o doutor Green. — ela respirou fundo. — Lamento o que esteja passando. Sei como se sente.
  Sim, ela sabia. A senhora Poppy era a que mais me entendia, ela também havia sofrido muito ao perder tantos possíveis filhos com abortos espontâneos, aquele era mais um que eu perdia, mais um pelo qual meu coração chorava e me fazia sentir ainda mais inútil. Apesar de sempre dizer que herdeiros não importavam, eu sabia que se tivéssemos um ele ficaria feliz também, todos estavam ansiosos por isso, principalmente minha sogra que sempre dizia orar a Deus para que lhe desse netos.
  — … — sussurrei ao olhar para a porta e vê-lo.
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  — Fico mais aliviado que tenha acordado — disse ele num tom moderado, mas sentia sua aflição no olhar.
  Sorri fracamente para ele.
  — Poderia nos deixar à sós? — disse ele para sua mãe.
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  — Claro, querido. — a senhora Poppy se levantou e me dando um beijo de leve na testa, se afastou em direção a porta. — Vou estar lá em baixo orientando os empregados.
  — Não precisa, pode ir para casa — disse ele.
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  — Precisa sim. — seu olhar firme para ele, o deixou um pouco pensativo. — Não pode abraçar o mundo todo.
  Ela saiu do quarto como se estivesse segura de que ele não a contestaria mais tarde, não conseguia entender o que ela havia dito com aquela expressão, mas estava somente feliz por ele me abraçar.
  — Como está se sentindo? — ele se aproximou da cama e se sentou na beirada, ao lado onde eu estava.
  — Estou… Sobrevivi fisicamente — eu definitivamente não estava bem por dentro.
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  — Não isso que perguntei — ele me conhecia mais do que eu mesma me conhecia.
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  — Não me sinto bem. — tentei segurar, mas uma lágrima escorreu de meus olhos. — Me perdoe…
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  — Por que pedes isso? — ele acariciou minha face secando a lágrima. — Acaso tenho te cobrado algo?
  — Não… — sussurrei deixando meu olhar baixo. — Mas me sinto mal por não conseguir nem mesmo te dar um herdeiro, casaste com uma mulher estragada.
  — Aos meus olhos, és a melhor mulher do mundo. — ele tocou em meu queixo, me fazendo olhar para ele. — Jamais repita isso.
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  — Mas…
  — … Tudo o que mais quis no mundo todo eu já tenho. — ele sorriu com carinho, seu olhar de ternura me tranquilizava. — Seu amor.
  Ele se levantou e deu a volta na cama, então se deitou em cima da colcha, ficando perto de mim, delicadamente me fez pousar minha cabeça em seu peito, me aninhando em seus braços. Fechei meus olhos e tentei deixar meu corpo relaxado em seus braços, mesmo com todas as dores físicas, meu coração se apoiaria em meu amado marido, além de sua família, que sempre fazia de tudo para me deixar ainda mais distraída e confortável em situações como essa.

– x –

  — Minha lady . — disse Sophie ao entrar em meu quarto.
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  — Sim. — eu estava sentada em frente ao espelho penteando meus cabelos. — O que deseja?
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  — Sua irmã Margareth está na biblioteca, deseja ter uma audiência com a senhora — explicou ela.
  — Margareth? — eu estava estranhando aquela atitude de minha irmã. — Ela nunca foi tão formal assim comigo.
  — Bem, devido de sua recuperação… — Sophie deu uma breve pausa. — Minha lady, ela parece muito aflita.
  — Peça a para vir em meu quarto, melhor conversarmos aqui — ordenei a Sophie.
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  — Como queira, minha lady.
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  Sophie se retirou do quarto, passei aqueles minutos de espera terminando de pentear meus cabelos, até que Margareth finalmente adentrou o quarto. De imediato pude perceber sua aflição, até mesmo seus olhos inchados não conseguiam ser escondidos pela suave maquiagem, me deixando ainda mais preocupada.
  — Marg o que aconteceu? Andou chorando? — me virei para ela, lançando um olhar sereno, porém preocupado.
  — , perdoe-me… — antes mesmo que ela conseguisse terminar a frase, desabou sobre o chão em lágrimas, como uma criança arrependida de alguma travessura.
  — Margareth? — me aproximei dela com cuidado e segurando suas mãos, a fiz se levantar, guiando-a até minha cama para que ficássemos mais confortáveis. — Minha irmã, o que aconteceu? Nunca fostes assim? Sempre exalou alegria por onde andastes.
  — Estou a um passo da forca — disse em ainda em lágrima, começando até a soluçar, abaixou a cabeça olhando para seus dedos que se cruzavam.
  Margareth sempre teve um lado dramático em suas palavras quando estava triste ou jurada de castigo por Evelyn, mas nunca a vi daquela forma tão abalada e desamparada, o que me fazia temer que havia feito algo ainda mais grave.
  — Marg, olhe para mim. — disse num tom mais sério. — O que você fez?
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  Ela ergueu sua face lentamente e me olhou com seus olhos marejados de lágrimas, pelo seu olhar, eu já começava a cogitar que seria algo extremamente sério.
  — Margareth, se não me disser, não poderei te ajudar — insisti.
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  — … Você sabe que eu e o lord Pierre nos tornamos bem próximos. — ela começou em sussurros. — Principalmente após nossa viagem ao Japão…
  — Margareth, o que vocês dois fizeram? — a esta altura de sua demora em dizer o que estava acontecendo, eu já temia pelo pior.
  — , eu juro… Eu juro que não queria te preocupar com meus problemas, principalmente uma semana depois de você ter perdido seu bebê, mas… — ela começou a chorar novamente.
  — Eu sei, Margareth, sei que só podes contar comigo, Freya jamais te apoiou em todo esse tempo. — respirei fundo. — Agora, me diga o que vocês fizeram…
  — Sabe aquela noite, no baile de máscaras que a família do senhor Kohaku nos ofereceu em Kyoto…
  — O que tem aquele baile?
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  — Eu pedi para que me retirasse mais cedo e voltei para casa junto com você e … — ela começou a explicar, me deixando ainda mais inquieta por dentro. — Eu não retornei ao meu quarto.
  — O quê? — a olhei com um pouco de indignação.
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  — Esperei para que vocês apagassem as luzes e como sabia que não sairiam do quarto, eu saí novamente para me encontrar com Pierre no jardim — ela suspirou fraco, deixando mais algumas lágrimas.
  — Não… Não… Margareth, por favor, me diga que não é o que estou pensando — me repreendi em pensar que minha irmã faria algo tão imprudente.
  — Mas é… Não sou mais… — ela voltou a chorar com mais intensidade se deitando em meu colo. — Perdoe-me por trair sua confiança.
  Eu não consegui ter nenhum tipo de reação. Respirei fundo ao sentir uma breve tontura e desci meu olhar para ela, que mais e mais chorava em meu colo, agora estava explicado em partes sua aflição e por que só poderia contar comigo. Porém, perder sua pureza antes do casamento não havia sido a parte mais grave do momento, as regras de Margareth estavam atrasadas e estava começando a desconfiar que estava grávida.
  — Margareth, aquela não foi a única vez, não é? — perguntei de forma mais séria ainda, a fazendo erguer seu corpo. — Diga-me tudo, sem mais segredos.
  — Não, não foi. — respondeu em sussurros. — A última vez foi na noite anterior a sua partida no final do verão.
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  — Não acredito. — me levantei da cama respirando fundo novamente. — Você passou todo o inverno e verão mentindo para mim, para todos? Margareth, sua traição passou dos limites aceitáveis, se é que existe algum.
  — … Por favor, não conte ao papai, ele me mataria, minha mãe me esquartejaria. — sua voz ficou ainda mais aflita e seu olhar de piedade.
  — Eu deveria fazer isso mesmo, mas não o farei. — passei a mão em meus cabelos tentando me acalmar, pois ainda estava debilitada de saúde. — Por certo que estou começando a ter ainda mais certeza de que está grávida, e quando a barriga aparecer? O que pretender fazer?
  — Fugirei de casa. — disse ela de forma impensada. — Melhor isso, do que ele me colocar em um convento ao sul da Itália e jogar a chave fora.
  — Deixe de ser ainda mais imprudente e dramática. — desviei meu olhar para a porta, após ouvir alguns toques. — Entre…
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  — Perdoe-me atrapalhá-las. — Sophie adentrou com uma bandeja de chá nas mãos. — Mas imaginei que quisessem um pouco de chá para acalmar os nervos.
  — Obrigada Sophie, sua percepção é sempre bem-vinda. — disse a elogiando por sua atitude. — Podes deixar em cima da escrivaninha, caso chegar, peça-o para não vir ao quarto agora.
  — Oh, o senhor Winchester já chegou, minha lady. — comentou ela — Eu o informei da visita de Margareth, ele está no escritório neste momento.
  — Agradeço, pode se retirar.
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  Ela fez uma breve reverência e saiu do quarto, enquanto isso, eu servi as xícaras com o chá e entreguei uma para Marg.
  — Tome, ficar chorando agora não resolverá esta desventura que causaste a si própria — disse enquanto ela pegava a xícara.
  — Obrigada, — disse ela em sussurros.
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  — Já que viajou de Derbyshire até Londres, passe o resto do dia aqui e volte para casa amanhã — a aconselhei.
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  — Não posso voltar para casa, não sem uma desculpa convincente. — retrucou ela se preocupando ainda mais. — Minha mãe tem me perguntado muito sobre meus dias com você, principalmente sobre a amizade que fiz com Pierre.
  — Então Evelyn já está desconfiando. — imaginei. — Precisamos pensar no que fazer, acho melhor que passe alguns dias aqui então.
  — Mas e o senhor Winchester? — perguntou ela receosa.
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  — Tenho certeza que ele não negará um pedido meu.
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  De fato, nunca me negava um pedido, até mesmo quando o pedia para ficar em casa tendo reuniões importantes, havia acontecido isso na semana passada, eu estava tão triste e enfraquecida que não queria me afastar dele nem um momento sequer. Pela primeira vez meu marido havia passado cinco dias consecutivos em casa, e a maior parte deles ao meu lado, acariciando meus cabelos.
  — Ficará tudo bem, Margareth — assegurei, só poderia contar com uma pessoa para me ajudar a salvar a garganta de minha irmã caçula.
  Eu a levei até o quarto que geralmente se hospedava e pedi a Sophie para enviar uma criada que organizasse o lugar para minha irmã ficar mais confortável. Desci até o escritório e bati na porta antes de entrar, estava desenhando algo em um pequeno caderno de bolso.
  — Te incomodo? — perguntei num tom baixo, dando suaves passos até ele.
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  — Nunca. — ele fechou o caderno e o guardou na gaveta que estava aberta. — O que desejas?
  — Você — sorri de leve.
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  — Suas palavras sinceras estão acelerando meus batimentos. — ele se levantou da cadeira. — Apesar do sorriso, sei que não está tranquila pelo seu olhar.
  — Como posso esconder algo de um marido assim? — ri um pouco, porém voltei a suavizar minha face a deixando um pouco séria. — Me conhece mesmo.
  — Você nem imagina o quanto. — confirmou ele. — O que a está preocupando?
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  — Sei que já fez muita coisa por minha família, nem mesmo tenho o direito de fazer algo a mais… — comecei tentando escolher as palavras certas.
  — Sabes que não gosto de rodeios, sei que não está aqui somente para pedir que Margareth fique alguns dias — disse ele num tom mais sério ainda, seu olhar de segurança me fazia sentir ainda mais confiante em compartilhar aquele problema com ele.
  — Sim. — assenti. — Minha irmã foi muito imprudente…
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  Assim que comecei a contar toda a história para ele, sua face continuou a mesma, como se já desconfiasse, como de fato era verdade.
  — Não deixarei que nada de ruim aconteça a Margareth. — disse ele pegando em minha mão e me puxando para mais perto dele. — Fique tranquila, ainda está convalescendo do que houve.
  — Vou tentar. — sussurrei me aninhando em seu tórax, sentindo seus braços me envolvendo. — O que pretende fazer?
  — Primeiro, trarei o responsável para que arque com o que fez, depois falarei com seu pai — respondeu ele com segurança.
  — A parte do meu pai é que me preocupa, ele preza sua honra acima de tudo, além do orgulho també. — nesta parte estava minha insegurança.
  — Desde o dia em que nos casamos até hoje, houve algo que pedistes e não tenha sido realizado? — perguntou ele.
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  — Bem… — mordi o lábio inferior. — Eu ainda não te conheço por completo.
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  — Por isso todas as noites eu conto algo sobre mim que ainda não sabe. — respondeu ele. — Acaso não disse que seria aos poucos?
  — Odeio quando me confronta assim. — ele estava certo. — Admito, então.
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  Senti ele rindo baixo de mim.
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  — Apenas espere por mim — sussurrou ele.
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  — Irá para Paris? — me afastei um pouco para poder olhar em seus olhos.
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  — Sim, e retornarei a tempo para o baile de aniversário de sua madrasta — assegurou.
  — Então falará com o papai lá? — presumi.
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  — Estamos lidando com algo urgente. — confirmou. — Tenho certeza que seu pai não faria algo tão impensado no aniversário de sua esposa.
  — Que mente… — ri baixo. — Como consegue pensar em todos os detalhes com tanta rapidez?
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  — Hum… Esta é outra parte de mim que vou lhe contar algum dia — respondeu ele dando um sorriso enigmático.
  — Poderia ser hoje — sugeri.
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  — Hoje, irei ler um livro para minha linda esposa. — retrucou ele. — Apesar de ser um tanto quanto difícil estar ao seu lado e não poder tocá-la com mais intensidade.
  — Sabes que ainda estou me recuperando… — o repreendi por suas palavras e intenções.
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  — Sabes que te esperarei o tempo que precisar. — ele piscou de leve, me fazendo rir. — Sonho com o dia em que poderei te beijar com mais paixão ainda.
  — … — eu ri um pouco mais. — Devo lhe aconselhar a se banhar em águas geladas?
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  — Ainda não cheguei nesse nível, mas devo confessar que só de olhar para minha esposa, meu corpo se arrepia.
  — Pare de dizer essas coisas, me deixa sem graça.
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  — São meus mais profundos e sinceros sentimentos — ele aproximou seus lábios dos meus, me dando um breve e suave beijo.
  — Será que o jantar está pronto? — perguntei me afastando um pouco dele.
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  — O que aconteceu? — ele me olhou estranhamente.
  — Nada — me afastei um pouco mais.
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  — Pare e diga.
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  — Não irei confessar que meu corpo também se arrepia ao se aproximar do meu marido. — disse indiretamente seguindo em direção a porta. — Vou para a biblioteca, nos vemos no jantar.
  Saí rindo do escritório, mas tinha certeza que ele também riria das minhas palavras.

– x –

  Foi difícil esperar o retorno de ? Sim, foi muito difícil, apesar de saber que ele não deixaria Pierre fugir da responsabilidade, principalmente por ser uma pessoa tão importante para os negócios do conde Remi. Margareth estava ainda mais aflita e ansiosa do que eu, principalmente após recebermos uma carta dele avisando para irmos a Derbyshire na frente, para mim, era mais do que normal, sempre era o último a chegar nas festas, ele gostava de uma entrada triunfal, porém Marg…
  — O que será que ambos estão falando? — perguntou ela pela décima vez olhando para o corredor da Lewis Castle que dava para o escritório.
  — Poderia ficar um pouco mais calma, Margareth? Assim vai levantar suspeitas de sua mãe — disse.

  — Até o final da noite ela saberá mesmo — retrucou.
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  — Mas não precisa ser agora. — a repreendi. — Olhe para todos esses convidados e se distraia.
  — Não consigo, — ela me olhou com piedade.
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  — Tudo bem — eu a peguei pelo braço e juntas fomos pelo corredor até chegar na porta do escritório.
  Ficamos em silêncio tentando ouvir o que se passava lá dentro.
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  — Você pode mandá-la para um convento, deixar seu neto a própria sorte e causar ainda mais sofrimento a sua família, ou poder aceitar minha ideia e casá-la com o responsável por isso.
  — E achas que tenho dinheiro para o dote? Quem pagaria?
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  — Eu, acaso, não paguei o de Freya?
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  Tudo ficou em silêncio e logo a porta do escritório se abriu, saiu tranquilamente como se soubesse que eu estava ali aos ouvidos, ele sorriu de canto para mim disfarçadamente e seguiu pelo corredor. Então nosso pai saiu do escritório, seu olhar foi diretamente em Margareth que estava se escondendo atrás de mim, era um olhar de decepção e tristeza.
  — Entre, Margareth, precisamos conversar — disse ele num tom frio.
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  — Pai… — tentei interceder.
  — Já interferiu demais nesta história, , volte para seu marido, garanto que não farei nenhum mal a tua irmã — garantiu ele.
  — Sim senhor — fiz uma breve reverência contrariada e me retirei de lá.
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  Por um breve momento me perdi em meus pensamentos, meu pés seguiram em uma direção incerta até que cheguei no jardim, continuei caminhando um pouco mais pela lateral do castelo até que me deparei com a cena mais inesperada, considerando aquele momento. Freya estava parada pouco mais a frente com seu corpo estático, eu dei um passo para o lado e inclinei meu pescoço, logo meu olhos viram Ulrich agarrado a uma criada do castelo.
  Levei a mão em minha boca tentando segurar minha reação, ele percebendo que havia alguém perto, se afastou da criada e olhou em nossa direção, seu olhar atravessou Freya como se ela não existisse e veio direto para mim. Minha irmã, percebendo isso, se virou, seu corpo entrou ainda mais em choque ao me ver ali, antes mesmo que qualquer tipo de lágrima, seja raiva ou frustração, caísse de seus olhos, ela se retirou.
  — — mesmo Ulrich sussurrando, conseguia entender nitidamente meu nome, algo que me fez recuar um pouco.
  Então, naquele instante, senti alguém pegar em minha mão entrelaçando nossos dedos.
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  — Vamos, querida. — disse com um tom um pouco mais intenso. — Não há nada para você aqui.
  Ele estava certo, Ulrich não era problema meu e eu estava grata a Deus pelo marido que eu tinha, era o homem que conseguia a cada dia superar minhas expectativas.

Quero me levantar novamente e ver você de novo, que esperou por mim
Quero voltar e dizer que eu te amo.”

– Love Again / SM The Ballad

16. Back Seat

Londres – Verão de 1850

   ver.:

  — Minha lady… — disse Sophie ao adentrar o quarto.
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  — Sim, desejas algo? — me afastei do espelho e a olhei. — voltou?
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  — Não senhora… Há uma visita na sala de estar, desejando uma audiência com a senhora — respondeu ela ponderadamente.
  — E quem deseja isso? — perguntei curiosa.
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  — Sua irmã, lady Meagher — respondeu.
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  — Freya? Freya está aqui? — por essa eu não esperava.
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  Sophie confirmou com a face. Respirei fundo tomando coragem, não sabia a razão de sua visita e estava com receio de saber, desci até a sala e a recebi cordialmente, então a convidei para tomar um chá na biblioteca, assim poderíamos conversar com mais privacidade ainda.
  — Confesso que estou surpresa por sua visita. — disse num tom baixo me sentando na poltrona perto da janela, ela havia se acomodado na poltrona ao lado da minha. — Como estão as coisas em Limerick? Estive lá no final do outono passado, mas não pude ficar muito tempo.
  — Está tudo igualmente como sempre esteve — seu tom de voz estava estranhamente baixo e sem traços da sua habitual prepotência.
  — E como está a pequena Emilly? Aposto que fazendo muita bagunça como fazíamos quando criança — ri baixo me lembrando de nossa infância.
  — Ela é uma doce filha… — Freya suspirou fraco.
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  — Freya? Está tudo bem com você? — a olhei um pouco mais preocupada, então toquei de leve em suas mãos e peguei carinhosamente. — Somos irmãs, pode desabafar, se quiser.
  — Perdoe-me — sussurrou ela.
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  — Pelo que te perdoaria? Você não me fez nada, nem me lembro.
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  Eu realmente não me lembrava de nada que ela já havia me feito, estava tão feliz com e meu casamento, que as dores do passado haviam ficado no passado, eu somente dedicava meus dias em ser feliz no meu casamento.
  — Por tudo. — explicou ela. — Por todos os anos que eu tentei te atacar e te fazer sofrer, principalmente por ter me casado com Ulrich para te afrontar.
  — Pensei que gostasse dele. — sussurrei de volta meio confusa. — Mas não me importo com isso, eu já não sentia mais nada por ele quando se casaram.
  — Percebi… Eu não gostava dele naquela época, mas sob influência da minha mãe, acabei me casando. — confessou ela permanecendo em seu tom baixo. — Só hoje eu sei o quanto está me custando isso.
  — O que está acontecendo? Freya?
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  — O que sempre aconteceu desde o início, nunca fui amada de verdade. — admitiu ela segurando as lágrimas no canto dos olhos. — Pensei que seria mais feliz depois que a Emilly nasceu, mas novamente estava enganada…
  Eu não sabia o que dizer, mas já imaginava do que ela estava falando.
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  — Sei que já faz muito tempo, mas juro que depois daquela noite do baile de aniversário da mamãe, pensei que não aconteceria mais… — ela levantou seu olhar. — Como sou inocente no amor…
  — Lamento por aquele dia… — disse num tom ainda mais baixo. — Confesso que já sabia sobre as traições de Ulrich, mas… Fiquei com medo de contar que sabia.
  — Imagino, me conhecendo bem… — ela suspirou fraco novamente. — Te trataria com arrogância…
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  — Esqueça essa parte do passado, você está aqui e sempre serei sua irmã. — a tranquilizei, dando um sorriso suave. — Vou te ajudar no que puder.
  Sabia que Freya estava passando por muitas brigas em seu casamento, principalmente pelas traições de seu marido e o aparecimento de alguns possíveis bastardos, toda a sociedade sabia sobre isso e comentava pelas suas costas. Minha irmã estava sofrendo muito e eu permanecia triste por ela, nunca imaginei que isso ocorreria e Ulrich se mostraria tão medíocre e sem caráter.
  — Você veio a Londres sozinha? — perguntei.
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  — Não, felizmente Emilly pode vir comigo, vamos ficar por pouco tempo e irei para Derbyshire visitar minha mãe — explicou ela.
  — E Ulrich? Está em Limerick?
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  — Não… Não vamos mais morar em Limerick. — respondeu ela. — Estamos de mudança para Liverpool.
  — Não entendo, lady Lira nunca cogitou a ideia de deixar seu castelo. — estava estranhando aquilo. — Mesmo após a morte do conde.
  — Estamos cortando alguns gastos — admitiu ela com certa dificuldade.
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  — Imagino o motivo.
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  — Margareth andou contando algo? — indagou ela.
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  — Oh não, já tem alguns meses que não vejo Margareth, agora que é uma mulher casada, nossa caçula só tem olhos para o marido, ou melhor, para a vista do seu quarto em Paris — brinquei a fazendo rir um pouco.
  — Verdade, sempre quis morar na França, acabou se casando com um francês para realizar o sonho — comentou ela.
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  — Todas sonhamos um pouco, e realizamos algo em nossas vidas. — disse de forma sentimental. — Apesar de tudo, seu olhos brilham quando menciona o nome de Emilly.
  — Minha filha é um presente de Deus. — ela sorriu com alegria, finalmente. — Queria trazê-la, porém anda um pouco resfriada, infelizmente sua saúde é frágil.
  — Desejo melhoras a ela, aquela pequena é muito graciosa. — abaixei meu olhar em direção a sua barriga que já estava volumosa. — E como está este bebê? Sinais de que é um menino forte?
  — Pelo contrário, é um ser quieto e calmo. — ela tocou em sua barriga. — Tenho desejado tanto que seja um menino.
  — Estou torcendo por você — sorri de leve.
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  — E você? — ela me olhou. — Sinto que está mais tranquila sobre esse assunto.
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  — Verdade… No início, até estava ansiosa e temerosa por causa dos meus abortos espontâneos, mas me apoiou muito naquele tempo, sinto-me mais leve e conformada se caso não conseguir engravidar mais. — confirmei. — Apesar de lá no fundo querer dar-lhe um herdeiro.
  — Também torço para que consiga… Você merece. — ela suspirou. — Perdoe-me novamente…
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  — Pelo quê? — a olhei assustada.
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  — Senti uma ponta de inveja agora. — ela parecia um pouco constrangida por admitir. — Para ser sincera, sempre senti, mas é que seu casamento parece ser tão perfeito, me fez perceber que nem todos os nobres são dignos de serem nobres.
  — Nenhum casamento é perfeito, às vezes eu perco para o trabalho dele — brinquei.
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  — Mas mesmo assim, o olhar do senhor Winchester permanece em você. — ela limpou delicadamente uma pequena lágrima no canto do olho esquerdo. — Quem me dera que isso acontecesse pelo menos uma vez.
  Novamente não sabia o que dizer para ela, mas a única coisa que poderia fazer não me negaria, me aproximei dela e a abracei confortavelmente para que se sentisse um pouco amada, mesmo que por sua irmã. Terminamos de tomar nosso chá tranquilamente, Freya me contou algumas coisas sobre a nova casa deles em Liverpool, Ulrich estava investindo uma pequena parte de sua herança em construções ferroviárias.
  Eu a acompanhei até a porta e assim que retornei para a sala, dei algumas instruções sobre o jantar para Isla, queria algo especial para esta noite, já que meu marido havia deixado um bilhete acompanhado de uma rosa, dizendo que chegaria cedo para o jantar. Passei a maior parte do meu dia lendo na biblioteca, acho que já tinha lido todos aqueles livros pelo menos umas duas vezes, apesar de sempre ganhar mais alguns ao longo dos meses.
  — Minha lady. — disse Sophie perto da janela, estava tentando me fazer companhia. — Desconfio que o senhor Winchester esteja chegando.
  — Hum? — voltei minha atenção para ela. — Mais cedo do que eu esperava.
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  Fechei o livro e me levantei da poltrona, estava curiosa pelo motivo que meu marido estava em casa mais cedo, assim, deixei o livro em cima da poltrona e saí da biblioteca. Assim que cheguei na sala, estava conversando com Lee, por certo dando suas ordens finais do dia. Esperei silenciosamente até que ele terminou e se virou para minha direção.
  — — ele deu um sorriso carinhoso.
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  — Pensei que demoraria mais um pouco — comentei.
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  — Estava ansioso para te ver — assim que ele deu o primeiro passo em minha direção, seu corpo despencou ao chão já perdendo a consciência.
  — ? — eu elevei minha voz indo até ele e me ajoelhando o peguei em meus braços. — !
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  — Senhor! — Lee se abaixou também, demonstrando o mesmo nível de preocupação que eu. — Senhor…
  — , fale comigo… — eu abracei de leve, sentindo sua pele um pouco fria como se estivesse sem vida. — !
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  — Deixe-me ver… — Lee segurou em seu braço para medir o pulso. — Ainda está batendo, temos que levá-lo para o quarto.
  — Sim — assenti sem saber o que fazer nem como reagir, eu só queria que meu marido voltasse a consciência.
  — Isla! — gritou Lee com urgência.
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  — Oh! Senhor Winchester! — assim que ela encontrou na sala acompanhada de Sophie, ambas ficaram assustadas.
  — O que aconteceu, minha lady? — perguntou Sophie me ajudando a me levantar, enquanto Lee erguia o corpo de ainda desacordado.
  — Eu não sei… — disse já me desesperando um pouco.
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  — Isla, mande Liam buscar o médico com urgência. — ordenou Lee para ela. — Prepare toalhas limpas e água quente, temos que manter a temperatura equilibrada em seu corpo.
  Isla assentiu com a face e saiu apressada em direção à cozinha, sem demora, ajudei Lee a levar para o nosso quarto, eu estava tão agoniada com sua situação que não queria nem por um minuto ficar longe dele. Assim que Lee o colocou sobre a cama, pedi para Sophie esperar pelo médico no sala e o acompanhar até o quarto, enquanto isso, ajudei Lee a tirar aquela roupa pesada de , o deixando com roupas mais leves e confortáveis.
  A cada vez que eu tocava seu corpo frio, o meu se arrepiava de medo que algo mais sério pudesse estar acontecendo com meu marido, não queria nem mesmo imaginar que ele não acordaria. Permaneci sentada ao seu lado todo o tempo, fiz questão de eu mesmo trocar os panos úmidos de sua testa, não me importava com mais nada, somente com ele.
  — Então, doutor Gale? — perguntei ansiosa assim que o médico terminou de examiná-lo. — O que aconteceu com ele? Quando vai acordar?
  — Bem, minha lady pode ficar despreocupada, felizmente o senhor Winchester ficará bem. — garantiu ele com convicção. — Mediante aos relatos de seu dia a dia, a forma em que tudo ocorreu e seu estado físico atual, não há dúvidas que ele teve um breve ataque de exaustão.
  — Exaustão? — eu não sabia muito bem o que era, mas já estava ainda mais preocupada.
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  — Acontece muito entre os burgueses, principalmente aqueles que, como o senhor Winchester, trabalham muito. — explicou ele. — O corpo não consegue acompanhar o ritmo acelerado que o trabalho exige, poucas horas de sono, refeições incorretas e nenhum tempo para descanso, tudo isso vai acumulando de uma forma até que o corpo não resiste e se sobrecarrega, causando isso.
  — Mas ele vai ficar bem mesmo? — indague.
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  — Ficará mediante a muito repouso e pouco estresse. — recomendou confirmando. — Então, recomendo que ele fique por algum tempo afastado do trabalho.
  — Como pedirei a um burguês para se afastar dos seus negócios? — ainda mais , o mais requisitado e rico dentre todos.
  — Fácil ou não, minha lady, se não desejas perder a vida de vosso marido, recomendo que ele fique afastado de todo o estresse — assegurou o médico de forma séria e alarmante.
  — E quando ele vai acordar? — perguntei.
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  — Quando o seu corpo estiver mais estável e forte — respondeu prontamente.
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  Assenti, o agradecendo por suas precauções, e pedi a Lee para acompanhá-lo até a porta e acertar os valores da sua visita, pedi a Isla que preparasse uma bandeja com algumas frutas frescas para que ele comesse ao acordar. Sophie se ofereceu para ficar no quarto em companhia comigo, mas preferi ficar sozinha com ele, minha preocupação era tão grande que só pensava em ficar ao seu lado até acordar.
  As horas foram se passando e sem perceber acabei adormecendo em seus braços, despertei com ele acariciando meus cabelos, a primeiro momento fiquei sem reação, mas após a cena no seu corpo caindo ao chão voltar a minha mente, meus olhos se encheram de lágrimas. Ergui meu corpo me sentando novamente e o olhei, aquele sorriso fofo estava em seus lábios com um olhar confuso e arrependido.
  — Perdoe-me por fazê-la se preocupar comigo — disse ele em sussurro, parecia ainda estar cansado.
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  — Não me peça desculpas, só prometa-me que não irá se matar de tanto trabalhar. — o olhei ainda temerosa por tudo que havia acontecido. — Não suportaria a ideia de te perder por minha causa.
  — Não se sinta…
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  — Só me prometa isso. — insisti. — Sei que tudo o que faz é por mim, mas prefiro uma vida sem luxos e com você, do que estar rodeada de joias e sem o homem que amo.
  Seu doce sorriso se firmou ainda mais no rosto.
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  — O que falo é sério — assegurei com firmeza.
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  — Eu sei, está no seu olhar. — consentiu ele. — Só me sinto inútil por não poder beijá-la agora, após essa declaração.
  — Bobo. — eu ri de leve. — Está melhor agora?
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  — Sim. — ele suspirou fraco. — Acho que entendo porque tive vontade de voltar ainda mais cedo hoje.
  — E por qual motivo?
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  — Precisava ver seu rosto para me lembrar que tenho que ser forte. — disse ele se remexendo um pouco. — Mas, vamos deixar estes acontecimentos de lado, o que importa é que agora posso olhá-la novamente.
  — Quase morri de susto, e você fala sobre isso com tanta tranquilidade. — suspirei. — Agradeço a Deus por não ter sido nada grave, você é o melhor presente que Ele me deu, não quero perdê-lo.
  — Jamais me perderá. — ele segurou em minha mão. — Você também é o meu presente.
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  Ele sorriu novamente para mim e voltou seu olhar para a bandeja de frutas que estava na mesa ao lado da cama, então desviou o olhar para mim novamente com uma intensidade sugestiva.
  — Devo acreditar que estas frutas são para mim? — indagou.
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  — Sim. — eu sorri de volta. — E deves comer tudo.
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  — Oh, não sou tão vegetariano assim para comer todas estas frutas sozinho. — ele riu. — Além do mais, uma pessoa adoentada não deve comer tanto assim.
  — Você sabe que não vou deixá-lo sair daqui. — comentei em relação a sua possível intenção de voltar ao trabalho.
  — Sou o seu marido, não precisa me sequestrar. — brincou ele tranquilidade.
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  — Você sabe o que eu quis dizer. — me mantive séria, mesmo com aquele olhar fofo em minha direção. — , seguirei com todo cuidado as recomendações médicas para você, não me arriscarei a deixá-lo se sobrecarregar novamente.
  — O que quer dizer com isso? — ele ergueu um pouco mais seu corpo.
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  — Que não o deixarei trabalhar até que se recupere totalmente, nem que eu tenha que me trancar neste quarto e jogar a chave fora — disse com toda a ousadia que possuía naquele momento.
  — Jogar a chave fora? — me fez um olhar malicioso para mim, dando um daqueles sorriso de canto. — Não é uma má ideia.
  Eu comecei a rir por causa daquele olhar.
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  — Deixe de pensamentos maliciosos, senhor Winchester. — o repreendi tentando ficar séria. — Deves tirar este tempo para descansar.
  — Achas mesmo que conseguirei ficar somente deitado nesta cama, estando com você aqui?
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  — Prefiro não comentar sobre seus pensamentos. — ri um pouco mais pegando a pequena tigela de porcelana em que estava algumas frutas cortadas. — Que tal se alimentar agora?
  — Você me acompanha?
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  Assenti dando um sorriso suave.
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– x –

  — Pensei que estivesse dormindo — disse assim que entrei no quarto.
  — Já estava me preparando — ele fechou aquele pequeno caderno que sempre usava para fazer alguns esboços e o colocou embaixo do travesseiro.
  — Então, irei te acompanhar. — caminhei até a cama retirando hobby de seda e me deitando ao seu lado. — Eu vi quando o Lee saiu do quarto com alguns papéis…
  — Fique tranquila, ele sabe que eu não posso ficar estressado — assegurou ele, já imaginando que eu estava preocupada, e com razão.
  — Digo exatamente sobre isso, mas sei que, mesmo seguindo meu pedido, sua mente em alguns momentos se transfere para seus problemas — admiti.
  Uma vez burguês sempre será burguês e era um dos homens mais responsáveis que eu já havia conhecido em minha vida.
  — Viu, você está começando a me conhecer melhor. — ele me aninhou em seus braços. — Deixemos as preocupações de lado e vamos dormir, tê-la em meus braços todas as noites é o que me realiza.
  Assenti e fechei os olhos, não demorou muito até que eu pegasse no sono… Porém, no meio da madrugada, despertei e percebi que estava acordado, além de não estar deitado ao meu lado, me remexi na cama e discretamente aproximei minha mão por debaixo do seu travesseiro, constatei que o pequeno caderno não estava lá. Mantive meu olho fechado todo aquele tempo, fingindo estar dormindo, então senti a movimentação dele em direção a cama.
  Logo seu corpo se encostou no meu e suavemente passou seu braço por debaixo de mim, para me aninhar a ele, assim o fiz me mantendo como se estivesse adormecida, me encolhendo um pouco e respirando tranquilamente.

  — Eu te amo… — sussurrou ele de leve, começando a acariciar meus cabelos.
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  Eu tentei não deixar que meu corpo me denunciasse, mas meu coração se acelerou um pouco com suas palavras sinceras.
  — Desejo tanto que possa se lembrar de mim um dia… — continuou ainda em sussurro. — Queria conseguir mostrá-la o quanto é especial para mim…
  Ele continuou sussurrando mais algumas coisas, enquanto acariciava meus cabelos. Mas durante todo aquele tempo que ainda fiquei acordada, minha mente só conseguia pensar em uma coisa que ele tinha dito: Que eu pudesse me lembrar dele um dia. Aquilo me fez imaginar que antes do nosso casamento, antes de seu retorno a Londres, talvez lá no fundo da minha memória perdida, minha vida já havia cruzado seu caminho.
  Conforme os dias foram passando com se recuperando em nossa casa, seus problemas iam ainda mais se acumulando no trabalho, mesmo com Lee sendo seu representante, não era a mesma coisa. Porém, sob meu pedido, ele nem cogitava a ideia de quebrar a promessa que havia me feito.
  — As coisas continuam um pouco delicadas com os funcionários, além dos muitos comentários sobre a saúde do senhor, acham que seus negócios estão decaindo. — explicou Lee para ele, havia me pedido para ficar no quarto enquanto Lee e ele se reuniam para tratar dos seus negócios.
  — Então Londres acha que fiquei doente por supostamente estar em falência? — riu de forma espontânea. — Esta sociedade realmente quer me ver na pior.
  Me mantive em silêncio, mas por dentro estava mais do que indignada por desejarem o pior de .
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  — Senhor, creio que tenhas que comparecer a esta reunião com estes comerciantes. — insistiu Lee. — Sei que ainda está em recuperação, mas eu sou somente um empregado aos olhos destes homens.
  — Eu…
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  — Eu irei — disse num tom um pouco mais elevado, porém seguro.
  — O quê? — me olhou surpreso.
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  — Se aqueles comerciantes insistem que precisam ver você para assinar esses papéis, eu irei em seu lugar. — expliquei. — Como sua representante direta, Lee cuidará de tudo, como sempre.
  — És uma dama, minha querida, não acho que ficarás confortável diante daqueles homens… — ele me olhou com carinho. — Não precisas fazer isso por mim.
  — Faço por nós dois, sei que este negócio é muito importante para você, tenho visto o quanto seu olhar continua preocupado. — insisti. — Sei que se parar nem que por um instante seu tratamento, algo de pior pode lhe acontecer, desde de antes de nos casarmos você tem me dado várias demonstrações de amor… — respirei fundo com toda a minha coragem escondida. — Deixe-me fazer isso, desta vez.

“Não fique nervosa
Está tudo bem, garota
Você não deve ter medo neste momento.”

– Back Seat / JYJ

17. Stand by Me

Nottinghamshire – Outono de 1846

   ver.:
  Passei aqueles últimos dois anos cobrando as dívidas dos clientes do meu pai, a cada nobre que passava pela minha lista, meu patrimônio na região de Derbyshire só aumentava, ver o olhar de ódio de cada um daqueles aristocratas para mim, enquanto tomava suas poucas riquezas era como ver uma obra de arte. Enquanto isso, em Londres, o arquiteto François continuava a reforma e restauração da mansão, o que estava me custando uma boa quantia, porém, segundo suas palavras, ao final da obra, toda a sociedade ficaria se corroendo de inveja.
  — Senhor Winchester — disse Lee ao adentrar meu escritório com uma pasta na mão — Aqui estão os documentos finais de todas as propriedades, mobiliário e obras de arte que agora pertencem ao senhor.

  — Agradeço a agilidade e competência — desviei meu olhar do jornal The Times para ele.
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  Lee assentiu brevemente com a face e depositou a pasta na mesa em minha frente.
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  — Felizmente agora com o selo real, as pessoas não poderão mais dizer que o senhor… — ele parou por um momento — A dívida daqueles lordes se tornou oficial aos olhos da família real britânica.
  — Pelo menos uma boa notícia — suspirei fraco ao me lembrar de breves boatos que minha mãe havia contado sobre lady Lewis, em sua forma não discreta no jantar passado.
  — Seu olhar de preocupação me faz pensar que deseja algo mais. — observou ele como se estivesse analisando minhas expressões. — O que ainda lhe incomoda, senhor?
  — O boato sobre a possível corte entre ela e um tal conde de Limerick, preciso saber se é verdadeiro — engoli seco minhas próprias palavras, ao imaginar que poderia mesmo ser real.
  — Irei pessoalmente investigar, senhor — assegurou.
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  — Não. — me levantei de minha poltrona e olhei brevemente para a pasta. — Agora que temos toda esta fortuna, preciso continuar concentrado no que farei a seguir, seus serviços aqui são mais necessários.
  — Mas, senhor… — ele tentou insistir, sabia que também era um assunto importante.
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  — Isla. — decidi, apesar de tê-la contratado recentemente, Lee a conhecia de alguns anos e confiava nela, então eu sabia que poderia depositar esta tarefa. — Tenho certeza que ela será tão discreta quanto você.
  — Como queira, senhor, mandarei Isla em meu lugar. — assentiu ele prontamente. — Mais alguma ordem?
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  — Prepare todas as coisas para o leilão das propriedades e dos móveis, decidi que ficarei somente com as obras de arte por enquanto — ordenei dando alguns passos até a estante de livros.
  — Sim, senhor.
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  — Sobre o banquete que minha mãe está preparando para seu aniversário de casamento, se certifique de que tudo saia como ela quer. — o olhei novamente. — Principalmente a presença dos convidados.
  Lee deu um sorriso discreto como se soubesse o peso de meu pedido, aquela seria a primeira vez que abriria os portões do nosso castelo para dar um banquete aos nobres de Nottinghamshire. Eu achava desnecessário alimentar os nobres que sempre os humilharam, mas se isso deixava minha mãe feliz e cicatrizava o orgulho ferido do meu pai, era um dinheiro bem gasto. Meu fiel mordomo se inclinou com suavidade e depois saiu em direção aos seus afazeres, iniciaremos naquele momento a segunda parte do meu plano, triplicar meus lucros com toda a dívida arrecadada.
  Meu pai já havia se dado por vencido, a ideia de se aposentar dos negócios e viver tranquilamente com minha mãe naquele castelo lhe agradava. Felizmente, eu tinha Aidan para me auxiliar nos negócios locais. Transformaria meu primo em um sábio homem de negócios como eu, afinal, ele ficaria ali com meus pais administrando o açougue e a nova loja de tecidos da qual havia lhe presenteado.
  Todo o meu progresso financeiro era bom, finalmente havia me estabelecido no topo da sociedade inglesa, porém, uma grande parte de mim se sentia incompleta, essa parte já tinha definido a causa e o nome: Lady Lewis. A cada vez que pensava nela, sentia meu coração doer, algo que consumia por dentro de uma forma descomunal.
  — Ah… — soquei a parede sentindo uma leve raiva tomar conta de mim ao me lembrar daquele boato.
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  Um nó se formou em minha garganta, me voltei para a pequena mesa ao lado da janela e despejei um pouco de vinho no cálice, fiquei olhando aquele líquido por um tempo até que o engoli, parecia uma brasa acesa descendo dentro de mim. Imaginar comprometida a outro homem me dilacerava por completo, não conseguia mais entender até que proporção aquele sentimento que havia nutrido todos aqueles anos por ela me levaria. Só havia a visto raras duas vezes e atualmente já estava entregue a ela sem que soubesse.
  Ela certamente nem se lembraria mais da pobre criança que um dia alimentou, enquanto eu revivia aquele dia todas as noites em meus sonhos. O gosto amargo logo invadiu minha boca e em um surto de raiva e frustração, apertei o cálice de vidro que estava em minha mão, o quebrando.
  — Oh, querido! — disse minha mãe ao adentrar o escritório. — O que aconteceu?
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  — Estou bem — abaixei minha mão, fingindo, e a olhei com suavidade.
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  — Oh! — ela se aproximou de mim já pegando em minha mão ferida. — Pode mentir para si mesmo, mas não para sua mãe.
  Sorri de canto, ela realmente me conhecia, mesmo depois de anos longe de casa, o amor de minha mãe só havia aumentado, talvez fosse seu carinho a base que me mantinha ainda de pé.
  — Não estou mentindo — estava sim.
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  — Eu te conheço, anjo. — ela sorriu enquanto continuava a retirar os cacos de minha mão. — Sei que não é somente sua mão que está ferida, mas também este coração aí dentro. — sempre sincera e direta comigo, nenhum detalhe lhe passa despercebido. — Hum…
  — O que foi?
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  — Eu e minha boca grande, não deveria ter comentado aquilo no jantar. — ela parecia rígida em sua auto repreensão, enquanto limpava o sangue com seu lenço. — Deus sabe o quanto peço para me ponderar nos comentários.
  — Fique tranquila em seu coração. — a tranquilizei mantendo minha voz suave, mesmo sentindo as dores dos seus cuidados com minha mão. — Preciso saber a realidade, para poder me preparar de forma correta.
  — Ainda vai insistir neste sentimento? — ela me olhou admirada. — Não sei se devo ficar preocupada com isso ou aliviada por não desistir deste amor, apesar de ser o único lado de ama… Bem, perdoe-me, querido.
  — Por dizer a verdade? Não há nada para se perdoar, a senhora está correta em suas palavras, sou o único que ama e devo ser o único que se lembra — suspirei fraco.
  — Ainda me fascino com a história que contou. — ela sorriu. — Por isso ainda acredito que vai dar certo, oro todas as noites para que dê.
  — Agradeço o apoio, minha mãe — sorri de volta.
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  Estava feliz por tê-la comigo agora. Minha mão iria cicatrizar sem problemas, mas meu coração só o tempo iria dizer, o rasgo era grande e parecia que não se fecharia tão cedo, algo me dizia que más notícias viriam.

– x –

   — Tenho que admitir, esta festa está saindo melhor do que imaginava. — disse Aidan ao adentrar no meu quarto. — Principalmente depois de dois meses de planejamento, pensei que tia Poppy jamais marcaria a data da grande noite.
  — Que bom que todos estão se divertindo. — disse mantendo meu olhar voltado para a janela, vendo os convidados espalhados pelo jardim. — Afinal, este banquete é para isso mesmo.
  — Vejo que não está de fato animado com tudo. — observou ele. — Algo te preocupa? Algo relacionado à carta que recebeste há três dias?
  — Não consigo esconder nada de minha família? — sorri de canto direcionando meu olhar para minha mãe que estava rindo, enquanto conversava com algumas damas esposas dos comerciantes locais.
  — Pode até ser enigmático com os outros, mas conhecemos suas mudanças de humor pela forma de olhar para as coisas. — explicou ele de forma clara e objetiva. — Depois que recebeu aquela carta, ficou ainda mais sério e silencioso do que já é, poderia até apostar que é algo relacionado a sua lady e obviamente ganharia.

  — Certamente ganharia. — concordei. — Esta vem sendo minha única preocupação atualmente.
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  — Você deveria relaxar mais… — aconselhou ele erroneamente. — Não querendo ser pessimista, mas já sendo… E também, existem mais mulheres neste mundo.
  — Eu poderia até perder meu tempo te explicando que ela é a única para mim, mas sei que sua mente de libertino promissor não iria entender. — desviei meu olhar para ele finalmente, meu primo estava com uma taça de champanhe na mão. — Então, deixarei que aproveite seus dias, até ser esfaqueado por este sentimento.
  — Que isso. — ele fez uma careta estranha. — Fala do amor como se fosse algo mortal.
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  — Para mim está sendo, um doce veneno que me mata aos poucos a cada dia.
  — Está bem melancólico hoje, tem certeza que não quer se divertir no banquete? — insistiu.
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  Recusei apenas com o olhar, voltando minha atenção a janela. Ali estava a imagem que queria, Isla passando discretamente pelos convidados. Respirei fundo e me virei.
  — Aproveite a festa por mim. — disse a Aidan ao passar por ele e abrir a porta. — Mas tenha cuidado, deve ser responsável pelos seus atos no dia seguinte.
  — Não se preocupe, , jamais traria problemas ao meu primo favorito — ele piscou de leve e tomou o último gole do champanhe.
  — Sou seu único primo — ri baixo ao saírmos do quarto.
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  Seguimos juntos até o corredor que dava para o salão principal, desviei meu caminho em direção ao escritório, assim que entrei, Isla e Lee já estavam me aguardando como se soubesse que iria para lá. Estava aflito pelo que Isla havia escrito em sua carta, mesmo que fosse confirmar suas palavras, eu estava pronto para aquilo.
  — Diga, sem rodeios — engoli seco mantendo meu olhar nela.
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  — Senhor Winchester, é verdade. — confirmou os boatos. — Infelizmente lady vem mantendo a corte com Sir Ulrich Meagher do condado de Limerick, suas famílias são próximas há muitas gerações, além de se conhecerem desde criança, descobri que sir Ulrich a salvou de se afogar no rio há alguns anos.
  Então era isso. Fechei meus olhos sentindo minha mente paralisada com aquilo, um sentimento de derrota tomou conta de mim, fazendo aquela raiva voltar ainda mais intensa. Fechei meus punhos por um instante me imaginando frente aquele homem e socando sua cara, logo me virei para trás e, abrindo os olhos, peguei o vaso de decoração que estava na mesa ao lado da minha poltrona e o lancei contra parede.
  — Ah… — Isla soltou um pequeno grito de susto, mas logo tampou a boca com as mãos.
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  — Senhor, este vaso… — Lee tentou, porém desistiu.
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  — Eu não me importo com o vaso! — alterei minha voz voltando meu olhar para Isla. — Continue.
  — Senhor, acho melhor deixar isso para amanhã, está começando a ficar fora de si.
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  — Eu mandei ela continuar — senti meu olhar de fúria atravessar Isla, como se ela fosse a causa do meu problema.
  — Isla, saia — ordenou Lee.
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  — Não — retruquei.
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  — Saia, agora! — insistiu Lee, num tom mais alto.
  Sem pensar duas vezes ela saiu já assustada com minha reação.
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  — O que você pensa que está fazendo? — fechei meu punho novamente sentindo ainda mais raiva. — Quem você pensa que é?
  — Eu estou fazendo o meu trabalho. — ele se impulsionou vindo em minha direção e socou minha cara sem receio. — Lembre-se, antes de ser seu mordomo, sou seu amigo.
  — Não é mais — eu o soquei de volta, descarregando tudo de ruim que estava dentro de mim.
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  Sim, Lee era meu amigo, ele devia sua vida a mim por tê-lo salvo nos meus tempos de pirata, mas o principal é que ele era oficialmente minha consciência. Eu sabia que tinha um lado negro cheio de revolta dentro de mim, o ódio que sentia dos nobres me cegava em alguns momentos, sentimento que me acompanhava desde o tempo em que vivia na workhouse do senhor Cooper. Precisava de alguém que me ajudasse a controlar toda aquela raiva, e após uma boa briga cheia de socos e verdades jogadas em minha cara, ele sempre conseguia me fazer voltar à razão.
  A verdade é que eu não estava preparado para nada daquilo, nunca havia cogitado a ideia de não tê-la em meus braços, isso aumentava ainda mais minha agonia e frustração. Ingênuo de minha parte achar que ser o homem mais rico da Inglaterra me daria a chance de estar com ela, lá no fundo eu ainda era a pobre criança que entrou em sua cozinha e depois a viu partir com as costas machucadas.
  Toda vez que me lembrava que havia se machucado por minha causa, meu desejo de ter estado em seu lugar aumentava ainda mais. Metade do meu escritório estava quebrado, tanto eu, como ele estávamos sentados ao chão agora rindo de tudo aquilo, a última vez que havíamos brigado, eu nem lembrava mais.
  — Imagino sua dor — disse ele jogando o lenço que estava no seu bolso para mim.
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  — Agradeço, meu amigo — peguei o lenço e logo limpei o sangue que escorria de minha boca.
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  Lee havia passado por uma desilusão amorosa há alguns anos, a mulher que enfeitiçara seu coração era casada, após muitas coisas em sua aventura amorosa, ele descobriu que seu marido existia, em um jantar de negócios em que eu era o convidado principal. Ah, sim, me lembrava perfeitamente daquele dia, foi o último que brigamos, e ele era a pessoa da vez que precisava voltar a razão.
  — Mas ainda não acabou. — disse ele, de forma tranquila. — Se voltar a pensar com calma e frieza.
  — Como não acabou? — o olhei confuso, sentia fortes dores no maxilar.
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  — É somente uma corte. — explicou ele. — Ela ainda não se casou com o tal…
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  — Não ouse repetir o nome dele. — o interrompi já entendendo, suspirando fraco. — Você está certo, me deixei levar pela frustração e raiva, tenho que pensar com calma.
  — Agora meu amigo está de volta — ele riu, inclinando seu corpo até deitar no chão.
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  — Certamente não deixaria Isla voltar aqui para contar o resto, não é?
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  — Não. — afirmou ele rindo novamente. — Isla ficará longe de você por tempo indeterminado.
  — Eu jamais faria algo contra ela. — o olhei meio ofendido. — Sabe minha opinião sobre tal ato.
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  — Sim, eu sei, não é pela Isla, ela sabe se defender. — ele respirou fundo. — É por você, já estava ansioso pela carta, acha mesmo que não percebi suas oscilações de humor?
  — Já entendi que você e minha família me conhecem bem — admiti.
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  — Vamos agir com cautela, temos que conhecer o inimigo e saber bem quão afundo é esta ligação entre as famílias. — sugeriu ele sabiamente. — Além do mais, cortes estão relacionadas a dotes, o que me faz ficar interessado nas finanças do pai dela, não deve ser fácil manter um castelo, principalmente em tempos onde a maioria da nobreza anda endividada.
  — Boa observação. — me acheguei um pouco mais para perto da parede e encostei minhas costas nela. — Seria sorte se o pai dela estivesse com dívidas.
  — Seria um milagre, meu amigo, e vamos atrás disso. — ele ergueu seu corpo e sorriu de canto. — Mantenha este coração firme e tranquilo, ainda podemos reverter essa situação.
  — Como posso agradecer por ser minha consciência? — o joguei de volta seu lenço.
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  — Continuando a ser a minha também. — ele riu ao se levantar. — Vou pedir para prepararem um chá para você, precisa descansar.
  — Eu estou bem. — disse me levantando junto. — Este lugar que parece mal.
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  Nós rimos como dois bobos.
  — Vamos sempre nos lembrar que brigar é feio — disse a ele indo em direção a porta.
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  — Concordo. — ele saiu primeiro e olhou para o corredor à frente. — Acho melhor passar por este lado, assim evitará esbarrar nos seus pais e ter que explicar os hematomas.
  — Não precisava me socar com tanta força — levei a mão em meu queixo.
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  — Vá para o quarto e durma um pouco, logo a dor passa — aconselhou.
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  — Não me importo com a dor física, sabe disso — ignorei um pouco, porém segui para o corredor.

  Os dias se passaram e alguns problemas surgiram com os carregamentos que chegaram de minha frota no porto de Liverpool, era a primeira vez que me ausentava tanto tempo de casa desde havia retornado. Porém, passar aqueles dias longe do castelo e afundado nos negócios, preencheram minha mente com assuntos importantes e afastando pensamentos sobre e o tal sir.
  — Com isso resolvemos todos os problemas futuros — disse ao examinar a assinatura do antigo proprietário da área exclusiva que eu havia comprado no porto para que meus navios pudessem atracar.
  — Ainda me surpreendo com o valor dessas pessoas — comentou Lee permanecendo de pé diante da minha mesa.

  — Para você ver que todos tem um preço, só é preciso saber qual — expliquei como satisfação.
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  — Bem, então devo lhe dar mais uma boa notícia — pelo seu tom de voz, parecia algo que iria me animar ainda mais.
  — Surpreenda-me — levantei meu olhar para ele.
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  — Digamos que tenho o valor do lorde Isaac Lewis, conde de Carnarvon e pai da sua amada lady.
  Agora ele havia despertado tanto o meu interesse, como o meu coração congelado pela frustração. Eu gostava quando Lee ativava seu lado detetive, não sabia de onde tirava tanto informante que lhe trazia fatos precisos sempre, algo que me beneficiava muito. Lorde Isaac Lewis era um nobre importante na região de Derbyshire, seu perfil de homem equilibrado para a sociedade aristocrata era somente fachada, seu pequeno vício em jogos já havia consumido grande parte de sua fortuna e lhe causado muitas dívidas.
  Outra curiosidade é que lorde Lewis possuía uma longa lista de amantes, supostamente responsável pela outra parte da fortuna perdida, com suspeitas de dois filhos bastardos, certamente o valor do silêncio de suas amantes havia sido bem alto. Mas não era somente isso, além de , a primogênita do primeiro casamento, ele se casou novamente e teve mais duas filhas. Um nobre que mantém quatro mulheres não deve gastar pouco, principalmente para manter as aparências.
  Quanto mais Lee me relatava todos as informações sobre a família Lewis, mais minha mente trabalhava em como poderia usar aquilo em meu favor, até que chegamos ao ponto certo. O pai de poderia estar com os dias contatos por atrair dívidas com uma perigosa família do sul da Itália. Aconteceu há alguns meses em uma de suas viagens com a família pelo país. Segundo meu mordomo, lorde Lewis perdeu uma quantia considerável para eles em uma aposta de corrida de cavalos, sua maior fraqueza.
  — Bem, estou inclinado a pensar que faremos um desvio em nossa rota — comentou Lee, já entendendo meu olhar.
  — Vamos para Derbyshire, tenho uma leve sensação que uma corte será desfeita.
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  — Mal posso esperar para vê-lo realizar seu desejo. — disse ele num tom satisfatório. — Esperou muito por isso.
  — Você não imagina o quanto — concordei.
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  Sim. Eu havia esperado por aquilo, o momento em que poderia finalmente me aproximar de , porém, agiria com mais cautela ainda. Para um nobre orgulhoso como Isaac Lewis deveria ser, não seria fácil ouvir de um burguês a proposta que eu já estava articulando em minha mente. Entretanto, a faria sem receio, ele precisava salvar o pescoço da guilhotina que a tal família italiana estava preparando, algo que somente o meu dinheiro o ajudaria.
  — Agora sim, meu coração voltou a bater de verdade. — sussurrei ao me voltar para a janela e olhar as carruagens passando pela rua. — Consigo sentir lá no fundo que ela será minha.

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  — O quê? Como ousa me fazer essa proposta? — lorde Lewis elevou seu tom de indignação. — Me convidou à sua casa para isso?
  — A escolha é sua. — mantive meu olhar sereno sentado em minha poltrona. — Porém, reforço que deveria pensar em sua família, uma esposa e três filhas, na sociedade em que vivemos, as mulheres não ficam com a herança quando os maridos morrem. Certamente suas propriedades irão para seu primo, não é mesmo?
  Era um tanto cruel fazer aquilo, mas estava fazendo lembrar sua realidade, o que deu certo, pois senti que estava tentando acalmar-se por dentro.
  — Não posso estragar assim os planos de minha família, o noivado já está acertado e com data marcada. — retrucou ele. — Dei minha palavra.
  — Sim, e já sabe como pagará o dote? Certamente a família Meagher, mesmo sendo amiga, são inteiramente tradicionais quanto a isso. — sorri de canto disfarçadamente. — Já pensou nos custos do casamento? Acho que é a família da noiva quem cuida disso.

  — Por que ela? — ele me olhou intrigado. — Tenho três filhas, por que ?
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  — Não importa. — respirei fundo e me levantei. — Não deveria estar feliz? Pagarei uma fortuna em dívidas e a única coisa que peço, é a mão de vossa filha em casamento.
  — Estarei vendendo a minha filha. — retrucou ele. — Sou um cavalheiro, minha consciência…
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  — Deveria ter pensado nisso antes, mas em uma coisa eu concordo, não quero comprá-la como se fosse um objeto — o interrompi.
  Jamais queria transformá-la nisso e subjetivamente, aquela proposta estava fazendo isso, eu a amava sim, havia passado todos aqueles anos desejando tê-la em meus braços, mas não faria de forma obrigada.
  — O que propõe então? — agora o seu olhar ficou confuso.
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  — Eu pagarei toda a sua dívida. — afirmei com segurança. — Com uma simples condição.
  — Qual? — perguntou.
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  — Assimilando agora minhas palavras iniciais, jamais forçaria lady a se casar comigo, entretanto…
  — Entretanto?
  — Em troca de minha benevolência, você não deixará que ela se case com nenhum outro homem — finalizei minhas condições de forma plausível.
  Eu poderia estar sendo egoísta demais com aquilo, mas tinha um motivo, não conseguiria e nem teria forças suficiente para vê-la nos braços de outro homem.

“Podia este sentimento ser amor
Ainda agora, sou bastante tímido
Nem consegui dar um passo para perto de você
Então por favor, espere pelo meu amor”

– Stand By Me / SHINee

18. Brown Eyes

Nottinghamshire, inverno de 1850

  Todos os preparativos já estavam sendo concluídos, com a ajuda da senhora Poppy, nossa recepção de ano novo seria de causar impacto. Exatamente ao estilo . Nossa escolha inicial seria a Wincher Hall em Londres, porém transferimos para o castelo que adquiriu para seus pais, em Nottinghamshire.

  — Está tudo bem? — perguntou ao se aproximar de mim.
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  — Sim — mantive meu olhar para a janela, observando a movimentação dos criados organizando as mesas no jardim da frente.
  — Pensativa. — ele envolveu seus braços em minha cintura e beijou meu pescoço de leve. — Se não estiver confortável, podemos cancelar.
  — A menos de sete horas da comemoração? — o olhei surpresa por suas palavras. — Seus convidados da América?
  — Basta apenas pedir — assegurou ele.
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  Eu sabia que todos os meus pedidos sempre seriam atendidos à risca por ele, mesmo que isso lhe custasse algo em seu trabalho.
  — Não. — voltei meu corpo em sua direção e o olhei. — Eu ouvi quando disse ao Lee que este banquete renderia-lhe muitos negócios nos Estados Unidos.
  — Você já fez muito por meus negócios…
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  — Nossos negócios. — o corrige com delicadeza ao sorrir de leve, permanecendo com o olhar suave. — O que é seu, é meu, é o que sempre diz.
  — Minha esposa se tornou uma burguesa? — brincou ele sorrindo de canto.
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  Vi uma ponta de orgulho em seu olhar.
  — Talvez, pela convivência com o melhor burguês de Londres, ou melhor, do mundo.
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  Seu olhar intenso sobre mim fazia-me sentir a cada vez mais seus sentimentos sinceros e arrebatadores, e agora ainda mais a gratidão por minha ousadia em ter lhe representado no momento de sua recuperação da exaustão. Foram dias complexos e tortuosos em que me deparei com o desgaste físico e emocional que os negócios de causavam-lhe.
  Provei de suas frustrações, porém, ao mesmo tempo tive o prazer de estar ainda mais próxima do meu marido e transmitir-lhe momentos ainda mais alegres.
  — Terei que me retirar agora. — anunciou ele. — Buscarei meus convidados no centro comercial.
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  — Estarei aqui à sua espera me aprontando.
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  Ele deu um beijo de leve no topo de minha testa e se retirou. Permaneci por alguns minutos observando o movimento no jardim, até que a criada bateu na porta e anunciou que a senhora Poppy solicitava minha presença na cozinha. Eu havia deixado a maior parte da organização em seu controle, por ter bem mais experiências que eu.
  — Algum problema, senhora Poppy? — perguntei ao me aproximar dela.
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  — Estou em dúvida quanto à sobremesa, não sei qual opção escolher, e quero que veja a disposição das frutas na mesa central do jardim. — ela parecia um tanto ansiosa e eufórica ao mesmo tempo, como de costume. — Receio que não tenha ficado do seu agrado.
  — Minha sogra, tenho certeza que ficou, és mais experiente do que eu em recepcionar essas festas que promove. — sorri de forma graciosa, olhando-a com gratidão. — Sinto-me grata por sua ajuda com os preparativos, não conseguiria sozinha.
  — Todo o meu carinho por vós, é reflexo do seu amor por meu filho, não imaginas o quão bem faz ao meu anjo — ela sorriu de volta.
  — Acredite, meu amor por ele nasceu do amor dele por mim — disse com franqueza.
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  — Isso me alegra, você trouxe um brilho único para os olhos do meu anjo. — ela suspirou. — Então, o que faremos com a sobremesa?
  — Sabes que não limita recursos em suas recepções, então deixe as três opções, elas me parecem bem degustativas — respondi voltando meu olhar para as bandejas de cristais com os manjares.
  A senhora Poppy me deu o braço e me guiou pelas partes do castelo mostrando a decoração final que escolhera, dentre as opções que o decorador havia nos dado. As horas foram passando e Sophie me ajudou a aprontar-me. A pedido do meu marido, minhas vestes foram o vestido de seda chinesa rosa pastel com bordados de fios de ouro em forma de arabescos, seu mais novo presente de viagem; acompanhado do sapato que comprei na última viagem a Paris.
  No momento em que desci as escadaria principal que levava ao grande salão, avistei rapidamente meu marido bem ao centro conversando com alguns nobres de Liverpool, que haviam sido convidados, Ulrich estava entre eles obviamente. Como era de se esperar, o olhar de já estava direcionado para mim, era visível e notório, algo profundo e intenso que fazia qualquer pessoa acreditar que havia anos que ele não me via.
  Aos poucos fui percebendo outros olhares vindo em minha direção, a dos convidados, tanto os cavalheiros quanto as damas, o que me deixou um tanto constrangida.
  — Está ainda mais bela — elogiou ao parar em minha frente.
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  — Sinto-me um pouco envergonhada pelos olhares, mas feliz por ter gostado.
  — Olhe somente para mim, e não notará os outros ao nosso redor — aconselhou.
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  — É assim que faz? Comigo? — indague.
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  — Independente do momento, meu olhar sempre estará em sua direção — sua voz segura e firme.
  Meu corpo se arrepiou de imediato, seguido por uma aceleração em meu coração. Talvez eu jamais consiga me acostumar com a intensidade do seu olhar em mim, mas já conseguia interpretá-lo em alguns raros momentos, de forma bem superficial.
  — Precisamos dar atenção aos nossos convidados — eu disse.
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  — Minha vontade agora era de expulsá-los e ficar somente com você.
  — Disponho deste mesmo pensamento — sussurrei de volta.
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  Rimos baixo como se fôssemos duas crianças tramando alguma travessura, então ele segurou em minha mão e me guiou até o grupo de senhores americanos.
  — Senhores, gostaria de apresentar-lhes a senhora Winchester — anunciou .
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  — É um prazer conhecê-los — os cumprimentei fazendo uma breve reverência.
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  Assim que trocamos os cumprimentos, eu me afastei dos senhores e segui em direção para onde Margareth e Freya se encontrava conversando com outras senhoras.
  — Aqui está ela, senhora Winchester — disse Freya com aquele seu jeito debochado, mas com um sorriso amigável.
  Felizmente tínhamos superado bem nossas indiferenças há algum tempo.
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  — Eu estava com saudades. — Marg veio ao meu encontro e me abraçou. — Paris ficou mais vazia sem você.
  — Ahh… — sorri para ela retribuindo o abraço.
  — Onde está seu marido? — perguntei curiosa por não vê-lo ainda.
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  — Pierre não pode vir graças a alguns assuntos familiares relacionados a irmã dele — respondeu ela com uma ponta de frustração.
  — E o pequeno príncipe? — perguntei me referindo ao filho deles.
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  — Com sua preletora em algum lugar brincando com a prima.
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  — Estão aprontando, com certeza — Freya riu.
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  — E como foi a vinda de vocês? Como estão as coisas em Liverpool? Paris? — as olhei.
  — Tranquilo e silencioso — contou Freya.
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  — A minha foi monótona. — reclamou Marg. — Nunca imaginei que a vida de casada pudesse ter momentos entediantes.
  — Verdade — concordou Freya.
  — Falem por vocês — tentei sussurrar sem sucesso.
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  — Ah , todos nós sabemos que você é uma exceção à regra — explicou Freya.
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  — Aproveitando a deixa, preciso comentar sobre seu vestido. — continuou Marg. — Ele está roubando a atenção de todos nesta festa.
  — Presente do . — comentei. — Ele voltou de uma viagem a Xangai com este vestido embrulhado em um pacote dentro de uma caixa de uma madeira nobre.
  — Ainda faz questão de falar em detalhes. — Freya deu de ombros. — Não me deixe mais frustrada ainda.
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  — Desculpe-me.
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  — Eu aposto que esse presente foi proposital. — Marg alisou de leve o tecido. — O senhor Winchester adora mostrar seu poder de forma sutil.
  — Tudo que faz é proposital — assegurei.
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  Voltei meu olhar para a direção em que meu marido estava, um forte suspiro saiu involuntariamente de mim ao me deparar com seu olhar em mim, enquanto conversava com os senhores americanos.

– x –

  — ? — peguei-me surpresa assim que ele pegou em minha mão e saiu a me guiar pelo jardim. — Para onde estamos indo?

  — Você verá — respondeu ele com seu jeito misterioso.
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  — Mais uma surpresa? — perguntei inocentemente.
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  Ele sorriu de canto e, parando, me olhou com carinho, o que me deu a entender que a resposta era positiva. Continuamos o caminho até chegar na entrada da torre leste, aquela parte do castelo estava em reforma há alguns meses e eventualmente interditado. Inicialmente pensei que entraríamos, porém desviamos para uma trilha ao lado e seguimos por entre alguns arbustos altos, o caminho parecia como um labirinto, até finalmente chegar a uma estufa totalmente de vidro.
  Nunca havia visto uma construção assim, diferente e ao mesmo tempo bela, conseguia ver nitidamente os objetos e vasos de camélias no seu interior. Ao entrarmos, logo o aroma das flores se percebeu residindo no ambiente.
  — É tão lindo — disse num tom baixo, enquanto contemplava o lugar.
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  Senti meus olhos brilharem.
  — O que mais achou, além de lindo? — ele soltou minha mão e fechou a porta da estufa.
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  — Não consigo encontrar palavras para descrever. — voltei meu olhar para ele. — A cada dia você consegue me surpreender ainda mais.
  — Fico feliz que tenha gostado — ele manteve a suavidade no olhar e sorriu de leve.
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  Em instantes o show de fogos se iniciou, era uma surpresa dele para os convidados, em celebração da passagem do ano.
  — Que lindo! — sussurrei novamente.
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  — Feliz ano novo. — disse ele ao me abraçar por trás segurando em minha cintura. — Preparei este momento para você, até mesmo os fogos.
  — Mas não era para os seus convidados? — novamente minha ingenuidade.
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  — Eles apenas se beneficiariam do momento, mas não era para eles— respondeu.
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  Mantive meu olhar para o alto, vendo o céu receber todo aquele brilho colorido. Uma sensação boa passou por meu corpo, então voltei minha atenção para ele e nossos olhares se encontraram, na intensidade do dele, seu amor era transmitido com clareza e facilidade. Não precisava nem mesmo das palavras, nunca precisou, desde o momento em que o vi pela primeira vez no dia do nosso casamento.
  —
  — Eu te amo — disse ele me interrompendo.
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  Sorri de forma automática e espontânea, já perdida naquele olhar envolvente que só meu marido conseguia transmitir. Não contive-me no anseio por um beijo seu e antes que ele pudesse se aproximar, meus lábios involuntariamente foram de encontro aos dele. Logo senti meu coração disparar com o toque de suas mãos em meu corpo, me envolvendo em seus braços.
  Internamente senti-me aquecida, me entregando a cada segundo. Como sempre, conseguia fazer-me perder a noção do tempo e espaço, como se o mundo ao nosso redor não existisse e houvesse somente nós dois no infinito e nosso intenso amor.
  Ali eu era amada, desejada e estava segura. Mesmo que não houvesse nenhum toque ou palavra, seu olhar já me demonstrava tudo isso.

“Eu sei que ele me ama, porque é tão óbvio
Eu sei que ele me ama porque em mim ele confia
E ele sente minha falta, se não está me beijando
E quando ele me olha, seus olhos castanhos mostram sua alma.”

– Brown Eyes / Destiny’s Child

19. Need U

Derbyshire – Primavera de 1847

   ver.:
  Durante todo o inverno tive que me ausentar, a estação mais fria do ano e eu estava longe de casa, longe de todos. Lee havia me acompanhado naquela viagem até Paris, meu segundo objetivo seria estabelecer meus negócios na França, nos hospedamos na casa de Remy Chermont, meu mais novo amigo. Ele, assim como lady , de certa forma era o que me fazia suportar os nobres.
  — Bonjour, . — disse Belle, ao adentrar a biblioteca com seu jeito eufórico de ser. — Senti sua falta na mesa do café.
  — Não queria atrapalhar uma comemoração em família — respondi tranquilamente, mantendo minha atenção ao livro que estava lendo.
  — Como se você também não fosse. — ela se aproximou se forma sinuosa. — Papai praticamente o considera um filho.
  Eu ainda me sentia um pouco desconfortável com a forma que as moças francesas se comportavam, eram bem mais ousadas que as inglesas. Não podia negar que Belle era uma moça atraente, seus lábios delicados estavam sempre destacados pelo batom vermelho, acompanhado pelos decotes chamativos de seus vestidos.
  Eu, como sempre, fingia não notar suas suaves investidas em mim, mesmo que já houvesse discretamente declarado seus sentimentos em cartas. Em meus olhos a via como uma criança mimada que não aceitava perder, primeiro que eu não seria como um brinquedo em suas mãos, segundo, meu coração já pertencia a outra pessoa, jamais olharia para Belle. O que me deixava preocupado, pois minha amizade com vosso pai era de suma importância para meus negócios no país.
  — Eu aprecio muito a amizade de vosso pai, mas eu já possuo uma família. — fechei meu livro e a olhei suavemente. — Não deveria estar em outro lugar?
  — Que outro lugar seria mais interessante que estar aqui em vossa companhia? — ela mordeu o lábio inferior, natural de sua forma de tentar seduzir-me.
  — Um passeio pelas ruas de Paris, pelo que vi, o dia está lindo hoje. — respondi desviando meu olhar para a janela. — Você não estava ansiosa para fazer compras?
  — Meu desejo por gastar o dinheiro do meu pai já se foi. — ela se aproximou ainda mais de mim. — Sabe que quando está na cidade, não consigo fazer mais nada além de querer lhe fazer companhia.
  — Agradeço a gentileza e hospitalidade, mas sabe minha posição quanto a isso — voltei meu olhar mais sério para ela.
  —
  — Não voltemos a este assunto. — a interrompi antes que pudesse fazer todo o seu drama, sobre eu não corresponder seus sentimentos. — Meu coração sempre irá pertencer a outra.
  — Lady ? — ela cruzou os braços, sua face se preencheu de decepção e frustração. — E se ela não o quiser? Como ficará?
  — Não importa, mesmo se isso acontecer, ela é a única a quem eu quero. — deixei que toda a minha sinceridade transparecer em meu olhar de segurança. — Sinto-me mal por ter que lhe dizer isso novamente, não a quero nenhum mal e menos ainda machucá-la, mas o que busca em mim, jamais terá. Espero que entenda desta vez.
  Eu respirei fundo, vendo em seu olhar algumas gotas de lágrimas se formarem, deixei o livro na poltrona em que estava sentado e me voltei para a porta. Assim que retornei para o hall de entrada da mansão, Remy e Pierre conversavam perto da porta de entrada.

  — Aqui está ele, o homem mais silencioso da Inglaterra — brincou Remy rindo um pouco.
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  — Em minha concepção, és o mais silencioso do mundo — reforçou Pierre.
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  — Ao longo dos anos, percebi que se pode aprender muito com o silêncio — retruquei de forma singular.
  — Eis aqui um sábio homem de negócios. — Remy olhou para seu filho. — Aprenda com ele.
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  — Prefiro me divertir a gastar meus anos com preocupações, sou um nobre, meu pai — Pierre riu e se dirigiu para entrada da sala.
  — Ah, essas crianças. — ele deu um suspiro e desviou o olhar para mim. — Vejo algumas preocupações em seu rosto.
  — Não tente me decifrar. — sorri de canto e voltei meu olhar para a porta. — Mas tenho algo a dizer.
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  — Porque será que já imagino o que seja? — ele parecia pensar um pouco sobre: — Belle.
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  — Não quero que nenhum mal entendido fique entre nossa amizade — disse prontamente.
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  — Sei o quanto minha filha está obcecada por você, também tenho conhecimento sobre seu posicionamento quanto a isso. — ele suavizou seu olhar. — Belle sempre foi uma criança mimada, não vamos nos preocupar com seus sentimentos volúveis, temos assuntos importantes para tratar.
  E tínhamos mesmo, antes de voltar para Londres, queria finalizar todos os meus assuntos comerciais na França. Lee, como meu advogado nas horas vagas, estava encarregado de todas as partes jurídicas como sempre. E como esperado, meu nome já era famoso e conhecido por toda Paris, concluindo a fase três dos meus planos.
  — Silencioso e pensativo. — comentou Lee enquanto analisava alguns contratos com os comerciantes da cidade. — Posso saber o que anda confabulando em sua mente?
  — Você não consegue me decifrar? — o olhei de forma irônica. — Me diga você, o que eu estou pensando?
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  — Duas palavras. — disse ele segurando o riso. — Lady .
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  — Cinquenta por cento correto. — respirei fundo. — Confesso que estou inconformado com a resposta dela…
  — Foi o senhor mesmo que lhe deu duas opções. — suas palavras soaram com ironia também. — Ela escolheu não se casar, apesar da outra condição.
  — Não iria me sentir bem a obrigando se casar comigo — mantive meu olhar sincero para ele.
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  — De alguma forma, não está mais em dívida com ela. — Lee tentou me levar ao lado positivo de tudo isso, porém não via aquilo como uma dívida. — Você salvou a vida do pai dela, assim como ela salvou a sua.
  — Queria que fosse simples assim. — suspirei fraco me levantando da poltrona. — Apenas pagar a dívida do pai dela e me esquecer de tudo.
  — Então, após essa temporada aqui, quando voltaremos? Já estamos no início da primavera. — indagou ele. — Ainda temos a parte final do seu plano.
  — Acho que está mesmo na hora de voltar para casa. — assenti dando alguns passos até a janela. — Não está sendo confortável me hospedar aqui na casa de Remy.
  — Isso me leva a crer que vai comprar uma casa em Paris — constatou com exatidão.
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  — Gostaria que cuidasse disso antes de partirmos. — confirmei meu desejo. — Da próxima vez que vier a Paris, quero passar em minha própria mansão.
  — Seu desejo é uma ordem senhor — ele sorriu de canto e desviou o olhar para os documentos novamente.
  Mais dias se passaram com a preparação para minha partida, decidi não fazer uma despedida demorada antes do embarque, pois sabia que em breve retornaria a França para fazer mais negócios ainda. Sentia que aquele ano o progresso havia chego de vez em toda a Europa, eu certamente me beneficiaria de todas as formas possíveis, já que a melhores mercadorias estavam sendo comercializadas através das minhas embarcações.
  — Oh, meu anjo — minha mãe veio ao meu encontro, assim que eu e Lee adentramos minha nova residência em Londres.
  — Como sabiam que eu estava retornando? — perguntei após ser abraçado por ela.
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  — Para ser sincero, não sabíamos. — respondeu meu pai da porta de entrada para a sala. — Recebemos uma carta do arquiteto avisando do término da obra, então viemos para ver como ficou.
  — E o que acharam? — perguntei curioso.
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  — Esplêndido! — minha mãe soltou um sorriso de animação e se aproximou do meu pai. — Deveríamos fazer uma comemoração por isso.
  — Não — disse num tom sóbrio e sério.
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  — Mas…
  — Não quero nobres na minha casa. — continuei não a deixando insistir. — A senhora já obteve uma grande festa de aniversário de casamento, não é o bastante?
  — Ah, mas aqui é Londres — ela cruzou os braços como uma criança mimada, era fofo aquele seu lado, eu queria vê-la feliz, mas não cederia desta vez.
  — Não irei repetir — me mantive sério e virei para as escadas.
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  Estava cansado demais e frustrado demais para isso. Assim que entrei no meu quarto, o principal da mansão, Lee entrou em seguida com outros dois empregados que carregavam minha bagagem. Assim que eles saíram, Lee me entregou uma carta antes de fechar a porta, a primeiro momento achei estranho, mas meu coração acelerou ao ler que era o remetente.
  — Lady Lewis… — sussurrei sentindo um pouco de falta de ar.
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  Caminhei até a janela, mesmo ainda não sabendo o conteúdo da carta, já sentia minhas pernas um pouco bambas. O que ela queria naquela carta? Abri a gaveta da escrivaninha e peguei a lâmina para cortar a aba do envelope, assim que retirei o papel, senti um breve e suave perfume feminino, provavelmente dela. Respirei fundo, ao desdobrar aquele papel e comecei a ler.
  Para minha surpresa, era uma carta de agradecimento por tudo que eu estava fazendo por sua família, principalmente por não obrigá-la de fato a se casar comigo. Meu olhos percorriam cada uma daquelas palavras um tanto intrigado e surpreendido, várias coisas se passaram por minha mente enquanto lia. Principalmente por ela ter escrito um trecho do livro Orgulho e Preconceito ao final da carta.
  — Cordialmente, lady Lewis. — sussurrei novamente. — Qual o propósito desta carta? Você quer me enlouquecer?
  Sim, certamente ela queria me enlouquecer ainda mais. As palavras de gratidão que percorria por toda aquela carta ficaram gravadas em minha mente, algo que tomou parte do meu pensamentos por dias e mais dias. O que não me deixava concentrar nos negócios e menos ainda assuntos familiares.
  — Senhor Winchester — disse Lee ao entrar em meu escritório.
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  — Me lembro vagamente de tê-lo enviado a uma missão — desviei meu olhar do jornal para ele, curioso pelo seu retorno rápido.
  — Acredito que o que me traz aqui é ainda mais importante — retrucou ele.
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  — Surpreenda-me.
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  — Lorde Lewis em pessoa está no hall desta casa, pedindo uma audiência com o senhor — seu olhar sereno me fazia pensar que aquilo era algo bom e positivo.
  — Ele adiantou o assunto? — mesmo com a segurança de meu amigo, fiquei um pouco receoso. — Será que ele quer mais dinheiro e está cogitando a ideia de usar sua filha desta vez?
  — Não sei senhor, mas parece importante. — ele respirou fundo. — Acho que deveria recebê-lo, tudo é possível.
  — Seguirei seu conselho. — sorri de canto. — Diga-o para entrar e peça a Isla que traga chá, acho que os nobres gostam disto.
  — Sim, senhor.
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  Lee se retirou prontamente. Não demorou muito até que retornasse anunciando a entrada de lorde Lewis e nos deixando a sós. Seu ar parecia menos superior do que da primeira vez que nos encontramos em Derbyshire, um breve silêncio se instalou entre nós, até que ele deu alguns passos para mais perto de minha mesa.
  — Acredito que já tenha recebido a carta de minha filha — iniciou ele, com uma certa dificuldade.
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  Assenti com o olhar.
  — Mesmo que minha filha tenha escrito aquela carta a próprio punho, ainda me senti na obrigação de agradecer novamente em pessoa. — ele curvou a face levemente como uma cordial reverência. — Sinto que devo minha vida, agora, ao senhor.
  — Não me deve nada. — mantive a seriedade em minha face, analisando as suas expressões. — Cumpri minha palavra, basta cumprir a vossa.
  — Este é mais um dos motivos de minha visita. — acrescentou ele. — Haverá um casamento.
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  — Como? — eu me levantei da minha cadeira confuso.
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  — Minha querida voltou em sua decisão. — ele respirou fundo, senti um certo peso em sua voz. — Ela aceitou vosso pedido de casamento.
  Ao ouvir aquelas palavras, todo o frio do inverno que ainda mantinha meu coração congelado, deu lugar ao sol e calor da primavera. A esperança estava retornando para minha vida.

– x –

Lewis Castle…

   ver.:

  — — Marg deu alguns toques na porta e entrou — Atrapalho vossa leitura?
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  — Não — voltei meu olhar para ela na porta — Pode entrar, tenho tido insônia há algumas noites, somente os livros me acalmam.
  — Por causa da carta que enviou para o senhor Winchester? Ou pela vossa decisão de se casar com ele? — ela adentrou um pouco mais a biblioteca e veio se sentar ao meu lado. — Seu olhar parece preocupado.
  — Não consegui pensar em outra coisa durante todo o inverno. — suspirei fraco fechando o livro. — Por que um homem como ele, que poderia ter qualquer mulher de Londres, insistiria em me ter?
  — Te assusta ser tão desejada por alguém? — Freya, apareceu misteriosamente encostada na porta.
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  — O que fazes aqui? — Marg perguntou.
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  — Você nunca soube ser silenciosa em suas escapadas na madrugada. — explicou ela. — Mas estou surpresa por não ter ido à cozinha desta vez.
  — Estávamos conversando — explicou Marg não dando importância às palavras de Freya.
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  — Não me respondeu — reforçou Freya desviando o olhar para mim.
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  — Não sei, para ser honesta, o que me motivou a voltar em minha decisão foi a curiosidade — respondi de forma sincera.
  — Devo admitir que também estou curiosa. — Marg disse de forma empolgada. — Ouvi dizer que o senhor Winchester é um homem muito reservado, misterioso e que nunca comparece nas recepções em que é convidado, ele sempre manda a família no lugar.
  — Uau, Margareth, meus parabéns, só falta mostrar a árvore genealógica dele. — Freya riu debochadamente. — Ah, me esqueci, ele é bastardo, não é? Talvez seria mais interessante se ele fosse um daqueles velhos burgueses que estão a um passo da morte.
  — Ai Freya, não seja desagradável. — Marg fez uma singela careta para ela. — Está com inveja porque ele não a quis, o senhor Winchester pagou uma fortuna só para ter a oportunidade de se casar com a , nenhum homem faria isso por você.
  — O senhor Winchester é um burguês, que honra tem em uma nobre se casar com pessoas dessa classe? — Freya intensificou seu olhar se superioridade, algo que sempre me incomodava de sua parte.
  — Pare as duas com essas trocas de carinho. — disse mantendo meu tom suave. — Agradeço por suas pesquisas, Marg, fico feliz que tenho você para me contar sobre as pessoas, e Freya, sei que também está curiosa para saber quem ele é… Afinal, ele nunca se mostrou de fato para a sociedade desde que voltou a Inglaterra.
  — Seria engraçado se ele não aparecesse na igreja no dia do casamento. — brincou Marg rindo, mas depois ela me olhou séria. — Será que ele a aceitará? Afinal, você o rejeitou primeiro.
  — Se o senhor Winchester for uma pessoa rancorosa… — Freya sibilou um pouco, mordendo seu lábio inferior. — Será que ele ficou furioso ao ser rejeitado pela desejada lady ?
  Eu não havia pensado desta forma, mas lá no fundo as insinuações de Freya tinham fundamento. Talvez, tê-lo rejeitado de início poderia ter sido um gatilho para despertar-lhe uma ira sobre minha família, afinal, não conhecia de fato o senhor Winchester, nem imaginava do que ele poderia ser capaz de fazer.
  — Freya, por favor, não devemos encher a mente de com isso. — Marg a repreendeu. — Se analisarmos bem, um homem quando está rancoroso por ser rejeitado não iria esperar o inverno passar, certamente ele teria nos expulsado do castelo como fez com muitos nobres após seu retorno.
  — Vai me dizer que estamos aqui no conforto ainda por causa da ? — ela me olhou com desdém, querendo ignorar a suposta realidade.
  — Sim. — Margareth assentiu com firmeza. — Vamos pela lógica, ele pagou todas as dívidas do papai, não porque é um homem bom, mas porque seu desejo era se casar com a , mesmo ela tendo o rejeitado, o senhor Winchester cumpriu com sua palavra e não nos fez nenhum mal. Não há outra resposta para isso.
  — Por que um homem que nem conheço faria tal coisa por mim? — desviei meu olhar para Margareth.
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  — Esta, de fato, é uma boa pergunta — disse Freya suspirando fraco.
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  — De qualquer forma, não voltarei atrás agora. — disse com firmeza. — Mesmo que inicialmente seja por curiosidade, irei me casar com o senhor Winchester, somente assim conseguirei as respostas de que preciso.
  Eu estava mais que decidida, ainda que todos achassem que fosse pelo dinheiro, eu me casaria com ele para saber os motivos de seu interesse por mim. Senhor Winchester, o homem que a pouco tempo já estava tomando meus pensamentos para si.

“Venha para mim.
Me aceite, eu preciso de você.”

– Need U / Monstar X

20. What Is Love

Manhattan – Verão de 1852

   ver.:
  Finalmente estávamos desembarcando no porto de New York City. Segundo o senhor meu marido, os Estados Unidos da América era o país do progresso e novas oportunidades, para minha não surpresa, ele já estava planejando nossa mudança há muito tempo. , além de silencioso, também era cauteloso e estrategista em seus negócios, mesmo que arriscando em alguns caso, nunca jogava para perder.
  Assim que olhei para o céu azul da nova cidade, senti que iniciamos uma nova fase em nossas vidas, na primavera passada havia se completado cinco anos desde nosso casamento. Segundo ele, meu presente estaria aqui nesta nova cidade.
  — Bem-vinda à América. — disse ele ao se colocar em meu lado. — Não é tão tranquilo quanto Londres, mas aos poucos vamos nos acostumar.
  — Se acha que podemos ter uma boa vida aqui, então tudo ficará bem. — voltei meu olhar para ele. — Desde que fiquemos juntos.

  — Jamais sairia do vosso lado. — ele sorriu de canto mantendo seu olhar em mim. — Vamos para sua surpresa?
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  — Confesso que estou com um breve frio na barriga. — me encolhi um pouco segurando em seu braço. — Apesar de saber que vossas surpresas para mim sempre me deixam sem fôlego.
  — Por favor, não deixe de respirar então — ele riu discretamente, me fazendo rir também.
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  Seguimos na carruagem, do porto até o bairro chamado Upper East Side. Seus planos de mudança para um novo país já completavam três anos sem que eu soubesse, o motivo para a demora era a propriedade que ele havia comprado na parte residencial do bairro. Pelo que percebi, teríamos a elite de Manhattan como vizinhos, algo que não me admirava, jamais deixaria de viver em um ambiente assim, principalmente por sua importância no mundo dos negócios.
  Vendo as ruas da cidade, era óbvio o contraste do luxo de Londres para a vagarosa construção de Manhattan, passamos por um extenso terreno onde obras aconteciam a todo vapor; segundo , estavam construindo algo grande que no futuro seria um parque em meio a cidade, assim como o Hyde Park em Londres. A carruagem parou em frente a uma luxuosa mansão que ficava a esquina da rua, assim que desci acompanhada por Sophie, senti um tanto fascinada pela beleza que compunham a fachada do lugar.
  — Bem-vinda a Camellia House — sussurrou ele em meu ouvido de forma maliciosa.
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  Me encolhi sentindo meu corpo arrepiar, voltei meu olhar para ele.
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  — Deu o nome da minha flor favorita para nossa casa? — sorriu suavemente.
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  — Pensei em dar o da sua mãe, mas sei que a flor representa ela também. — explicou ele. — Espero que…
  — Eu adorei. — o interrompi de forma suave e respeitosa. — Você sempre me surpreende.
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  — Ainda é pouco para tudo que… Seu amor vale mais que tudo o que faço por você. — ele sorriu de volta.
  Contive minha emoção em forma de lágrima.
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  — Podemos entrar? — perguntei ansiosa.
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  — Por favor — ele estendeu a mão.
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  Sorri novamente e segurei em sua mão, meu coração já estava inteiramente acelerado, não só pela surpresa, mas também por suas palavras. Seu amor era real, não somente declarações vazias ou presentes caros, a cada abraço, beijo e carícia, sentia intensamente a verdade em seus sentimentos por mim.
  Como esperado, a mansão era tão linda por dentro, quanto havia visto por fora. Muitos quartos, uma biblioteca só para meus momentos de leitura, duas salas de estar minuciosamente decoradas com luxo, requinte e valiosas obras de arte, além dos outros ambientes que seguiam a mesma linha de riqueza. Certamente era a mansão mais bonita de toda a cidade, se tratando do meu marido.
  — Tudo aqui é lindo — disse ao entrarmos em nosso quarto, que por sinal, era mais amplo que da Wincher House.
  — Que bom que gostou — ele permaneceu perto da porta me observando.
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  — Eu amei. — virei minha face para ele, dando um sorriso tímido. — Obrigada.
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  — Pelo quê? — sua face suavizou um pouco.
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  — Por me amar. — dei alguns passos para ele. — Mesmo não podendo te dar filhos…
  — Já conversamos sobre tal assunto. — ele segurou em minha mão e me guiou para mais perto me abraçando. — Não quero que volte a ter pensamentos que te deixam triste, apenas construa mais lembranças felizes comigo.
  — Sei exatamente o que pensa… — sussurrei depois de um longo suspiro. — Mas, lá no fundo, sabemos que faria diferença se tivéssemos filhos… Sinto como se fôssemos incompletos.
  — Não sinta isso… — ele se afastou um pouco de mim e tocando de leve em minha face, me fez olhá-lo. — Permita-se sentir o meu amor, assim não sentirá este vazio.
   me beijou suavemente no início, porém, ao envolver seus braços em minha cintura, começou a intensificar mais. Em cinco anos de casados, seus beijos não haviam mudado, meu corpo ainda se incendiava a cada toque seu, minha mente paralisava com suas intensas demonstrações de amor. Realmente, não imaginava que nossa primeira entrega de amor na nova casa seria naquele momento, talvez por querer afastar todos os maus pensamentos de mim, a única forma disso era com seu amor e carinho.
  Meu corpo não parava de arrepiar, sempre correspondendo ao seu, meu coração acelerado que aquecia meu corpo e sim, meus pensamentos se voltaram para ele, como estar em seus braços me faziam sentir segurança. Felizmente, eu era a mulher mais abençoada de todo o mundo, estava grata a Deus pelo meu marido, certamente, após longos anos me culpando pela morte de minha mãe em meu parto, a vida havia me dado de presente.
  Se eu não podia ser completa dando-lhe um filho, havia outra coisa que me faria completa. Saber quem realmente ele representava em minha vida, antes de nosso casamento.
  — Eu ainda não me esqueci — sussurrei ao apoiar minha cabeça em seu tórax.
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  — Não se esqueceu? — ele continuou acariciar meus cabelos. — Do que fala?
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  — De quem você é. — ergui meu corpo e o olhei. — Você ainda não me disse, fizemos um acordo, lembra?
  — Terei que beijá-la para lhe fazer esquecer? — ele sorriu de canto, com um olhar malicioso.
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  — … — o olhei séria, puxando mais um pouco o lençol para me cobrir. — Você me levou ao templo em Tóquio, me apresentou aos seus amigos piratas, me mostrou aquela velha casa em Nottinghamshire… Mas eu sei que ainda falta o ponto principal.
  — Somente saber que eu te amo não é o bastante? — ele manteve o sorriso em sua face, seu olhar mostrava a satisfação por minha insistência.
  — Sabe que não, consigo sentir que me ama a muito mais de cinco anos… Desde a nossa primeira noite, sua intensidade, seu toque, como se conhecesse cada pedaço de mim. — fechei meus olhos. — Isso me deixa louca.
  — Gosto de saber que está louca pelo seu marido — ele se aproximou, aproveitando minha fragilidade momentânea, me beijou novamente.
  — … — sussurrei o afastando de leve. — Sei o que planeja, confesso que seus beijos me deixam em paralisia, não deixarei ter controle da situação desta vez.
  — Engano seu. — seu olhar intenso sobre mim estava lá, algo que me tonteava. — É você, sempre você quem está no controle de tudo, acredite, todo o meu corpo reage a partir do seu.
  Respirei fundo.
  — Pare de dizer tais coisas — desviei meu olhar para o lado envergonhada.
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  — Tudo o que tenho, conquistei porque meu objetivo era alcançá-la — mais uma vez a sinceridade em sua voz era nítida.
  — É isso que me deixa louca. — voltei meu olhar para ele me sentando na cama. — Como pode uma pessoa que nunca vi, nunca toquei, me amar tanto a ponto de passar por tudo o que passou para me ter?
  — Tem certeza que nunca me viu? — ele ergueu mais seu corpo se sentando também, então se aproximou mais e passando sua mão por baixo do meu braço, tocou em uma das minhas cicatrizes das costas. — Como isso aconteceu?
  — Minhas cicatrizes… — toquei em sua mão a afastando um pouco, eu sempre sentia algo diferente quando ele as tocava. — Você as conhece, sempre as conheceu, não é?
  — Elas deveriam ser minhas. — um tom amargo saiu de forma natural dele, o fazendo desviar o olhar. — Estão aí por minha causa.
  Meu coração acelerou novamente. Como poderia? Como?
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  —
  — Pode não se lembrar, pelo acidente que teve… — ele suspirou fraco.
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  — Quando eu caí no rio e sir Ulrich me salvou, o médico disse que eu havia batido minha cabeça e provavelmente perderia algumas memórias que pudessem ser importantes ou dolorosas. — sussurrei ao me lembrar daquele dia, então voltei meu olhar para ele — Você fazia parte, não é?
  — Sim. — ele voltou seu olhar para mim. — Éramos crianças quando aconteceu, eu havia fugido de uma workhouse, havia dias que não comia, foi quando encontrei o Lewis Castle… — ele riu de leve. — Tentei me esconder, mas você estava em cima de uma árvore.
  Eu ri baixo, aquilo confirmava que era realmente eu, lady aventureira.
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  — Pensei que fosse a filha da empregada ou coisa assim, até que me deu a chave da cozinha e…
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  — E? — toquei de leve em uma cicatriz que tinha perto do ombro direito, de imediato constatei o resultado final de minha pequena tentativa de ajudá-lo. — Não deu certo.
  — Não… De madrugada, você voltou a plantação de lavanda, deixou uma trouxa com comida. — ele respirou fundo. — Foi quando eu vi as marcas de sangue em suas costas.
  — Senhorita Moore. — conclui respirando fundo também. — Não foi culpa sua,
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  — Foi sim, você tentou me ajudar e…
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  — Aquela mulher nunca gostou de mim, não foi a primeira vez que apanhei, mais tarde descobri que era por causa da minha mãe, ela nutria um amor platônico por meu pai nos tempo que eram mais jovens, ela sonhava se casar com ele. — segurei as lágrimas que se formaram no canto dos olhos. — Evelyn sempre se fez de cega, por eu ser a filha da mulher que meu pai tanto amou, por ele trair ela com as empregadas, não se importava se eu apanhava da senhorita Moore…
  Ele limpou de leve uma lágrima que escapou de meus olhos.
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  — Eu, não sei o que dizer…
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  — Sobre?
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  — Você me ama desde aquele dia? — aquela, sim, estava sendo a maior de todas as surpresas que ele poderia ter me dado. — … Como? É… Como uma pessoa é capaz disso? Esperar tanto tempo por outra?
  — Aquela não foi a nossa única vez. — disse ele ao acariciar minha face novamente. — Quando fugi de casa, não era minha intenção virar um pirata… Em Liverpool.
  — O ataque ao baile… — disse ligando algumas peças de forma precisa.
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  — Você se lembra disso?
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  — Sim, foi o dia em que mais tive medo. Era você? O garoto que me protegeu — o olhei ainda mais surpresa e agora sem fôlego.
  — Sim, era eu. — assentiu com um sorriso. — Eu havia lhe visto mais cedo, sabia que era você pelo seu sorriso, então, ao cair da noite, quando vi que atacariam aquela mansão, não consegui pensar em nada, a não ser te proteger.
  — Foi aí que virou um pirata — conclui.
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  — Ocasionalmente, sim, não havia planejado entrar para a pirataria — concluiu ele se levantando da cama.
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  Permaneci em silêncio o observando caminhar até sua maleta, retirando de dentro um pequeno caderno, voltou para cama e me entregou.
  — Eu me lembro disso… Por várias vezes o vi mexer nele, mas nunca me deixou ver — comentei ao pegar o objeto um tanto desconfiada.
  — Com isso, não há mais nenhum segredo de minha parte. — ele se sentou de frente para mim e permaneceu me olhando tranquilamente. — Abra e veja.
  Voltei meu olhar para o caderno e o abri, logo na primeira havia um desenho meu, cada detalhe do meu rosto feito perfeitamente. Passei algumas páginas e vi outros desenhos de quando eu era criança. Meu corpo se aqueceu novamente, voltei meu olhar para e a única coisa que conseguia pensar, era como iria retribuir a ele todos esses anos que me amou em silêncio.
  Impulsionei meu corpo em direção ao dele já fechando meus olhos, deixei que meus lábios encontrassem os dele por si só. Automaticamente, toda aquela intensidade havia retornado em seus beijos e carícias, fazendo meu corpo estar em perfeita sincronia com o dele sem o menor esforço. Desta vez minha entrega seria completa, eu sabia a verdade, mesmo não me lembrando, eu sabia a razão por ele ter se casado comigo. Ele já me amava primeiro.

– x –

  — Não deveria estar de pé — disse ele ao adentrar o quarto.
  — Contei as horas desde que Isla mandou aquela carta. — disse ao me virar para ele. — Isso me deixou ansiosa, o que me fez ficar na janela a sua espera.
  — Fiquei preocupado. — ele fechou a porta e se aproximou de mim. — Não imagina o que me passou pela cabeça quando li.

  — Me desculpe, te fiz vir correndo, certamente atrapalhei seus negócios — me senti um pouco culpada por aquilo.
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  — Jamais atrapalharia algo em minha vida. — ele sorriu e acariciou minha face. — O que importa é que está melhor agora.
  — Sim, felizmente… Não só melhor, como tenho uma notícia, não sei dizer se é boa ou ruim — ponderei um pouco nas palavras, ainda não sabia como contar a ele, poderia ser mais uma preocupação em nossas vidas.
  — Apenas diga, depois veremos como classificar — retrucou ele tranquilamente.
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  — Já tem alguns meses que minhas regras estão atrasadas… Não quis falar nada, poderia causar tumulto sem necessidade… — respirei fundo. — Até que viajou há algumas semanas para a Flórida e eu comecei a ter alguns enjoos que foram se intensificando e Isla teve que lhe enviar a carta.
  — Então, é o que estou pensando… — ele respirou fundo, parecia confuso em seus sentimentos, talvez estivesse temendo que algo mais grave pudesse acontecer comigo desta vez. — Eu não…
  — . — segurei em sua mão e encostei em minha barriga. — Só tem quatro meses que estamos aqui, a maior parte do tempo você ficou longe de casa por causa dos negócios, seria um milagre pensar que isso é resultado da nossa primeira noite em Manhattan.
  — Seus olhos estão brilhando — ele me olhou um pouco fascinado.
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  — Talvez Deus esteja olhando para nós desta vez. — sorri espontaneamente. — Sinto que desta vez seremos abençoados e… Ele vai nascer.
  Eu acreditava fortemente nisso… Novo país, nova vida… Há três anos eu não engravidava, mas era sim um milagre, minha esperança de ser mãe havia retornado ainda mais forte. Nossa família seria completa!
  — Vamos esperar por ele então. — disse sorrindo com suavidade e acariciando minha barriga. — Não sairei de perto de vocês desta vez… Nem por um minuto.
  Eu me aninhei em seu corpo, deixando algumas lágrimas de felicidade rolarem pelo meu rosto.
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  — Não chore… — sussurrou ele envolvendo seus braços em minha cintura com cautela.
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  — São lágrimas de alegria… Minha felicidade está multiplicando hoje — expliquei deixando as lágrimas rolarem.
  — Isso me deixa ainda mais feliz também. — sussurrou novamente apoiando seu queixo no alto da minha cabeça. — Eu te amo.
  — Eu também te amo — sussurrei de volta.
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  Os meses se passaram e, como prometido, parou sua vida de burguês para ficar em tempo integral perto de mim. Divertido estar com meu marido todo o dia sem ter que disputar, mesmo de sem necessidade, sua atenção com os negócios, porém, neste tempo percebi que todos os momentos em que estava longe de mim, fazia meu desejo em tê-lo novamente aumentar ainda mais.
  Foi então que entendi finalmente os segredos sobre o casamentos dos burgueses serem um sucesso, que a senhora Poppy me contou há tempos atrás. Segundo suas palavras, a distância era uma forte arma para o casamento, pois gera saudade, algo crucial para manter a chama do amor acesa. Quando ficamos longe de quem amamos por um determinado tempo, a única coisa que pensamos em fazer quando estamos perto, é sempre transmitir nosso amor e receber na mesma proporção.
  Entretanto, se tratando de , nossa chama jamais apagaria, principalmente por ele não poder me tocar mais intensamente, neste período de minha gravidez.

  Finalmente o grande dia havia chegado, de forma surpresa e inesperada. havia ido ao porto buscar meu pai e Margareth, que decidiu vir sem seu marido, a família de meu marido havia desembarcado há duas semanas para acompanhar os possíveis momentos finais de minha gravidez. Felizmente, quando aquele alarmante líquido começou a escorrer de mim, estava em meu quarto conversando com Sophie, que desesperada começou a gritar por ajuda a Isla e a senhora Poppy.

  — Poppy… Está doendo… — disse ao me deitar na cama com a ajuda de Sophie.
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  — Eu sei, querida, mas dar tudo certo, não se preocupe. — ela se virou para Isla. — Mesmo que Zachary saia às pressas para buscar socorro, o médico não vai chegar a tempo.
  — Então faremos o parto? — Isla a olhou preocupada.
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  — Sim — assentiu minha sogra.
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  — A senhora sabe fazer isso? — a olhei assustada.
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  — Sim, fui eu quem fez o parto do Aidan. — ela virou seu olhar para Isla. — Traga toalhas limpas, água quente, uma bacia, tesoura e faca.
  — Sim, senhora — Isla saiu às pressas do quarto.
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  Senti uma forte dor que me fez gritar de imediato, foi neste momento em que entrou correndo no quarto.
  — ! — sua face parecia mais pálida ainda, seu olhar preocupado e ansioso ao mesmo tempo.
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  — AAHHHHHHHHH!! — eu não conseguia respirar direito por causa da dor, tudo que me minha a mente era gritar para conseguir suportar aquilo.
  — Tirem ele daqui. — disse a senhora Poppy se referindo ao filho. — Quero todos os homens fora deste quarto.
  — Não — protestou, mas Lee o segurou pelo braço o arrastando para fora.
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  — Segure a mão dela, Sophie, para ajudá-la.
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  — Sim. — ela virou seu olhar para mim e tentou suavizar seu rosto com um sorriso singelo. — Fique tranquila, senhora, vai dar tudo certo.
  Como eu poderia ficar tranquila naquele momento, tudo que eu sentia era dor e mais dor… Teria que ser forte pelo meu filho, para trazê-lo ao mundo, mas aquilo estava a cada segundo me deixando sem forças. Logo Isla adentrou o quarto, antes de fechar a porta, vi de reflexo a face de estático do lado de fora, mais um grito de dor saiu de mim de forma instantânea, o atormentando ainda mais do outro lado.
  — Agora preciso que faça toda força que conseguir, precisamos colocar esta criança para fora. — disse a senhora Poppy. — Isla, quero que pressione a barriga dela para ajudá-la a empurrar esse bebê.
  — Sim senhora — prontamente Isla subiu em cima da cama e começou a forçar sua mão em minha barriga me ajudando.
  Certamente eu jamais esqueceria aquele momento, aquela sensação, aquela dor… Quanto mais força eu fazia, mais dor eu sentia, meus gritos estavam ficando cada vez mais altos e nem imaginava como que a mão de Sophie estava sobrevivendo a mim. Assim que finalmente meu filho nasceu, senti que ainda estranho ainda acontecia dentro de mim.
  — Ainda está doendo — disse recuperando o fôlego que ainda me restava.
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  A senhora Poppy me olhou como se já soubesse a resposta e, entregando o bebê para Margareth, que havia entrado no quarto após o primeiro choro do bebê, voltou seu olhar para mim.
  — Eu sabia que sua barriga estava grande demais para uma criança só — explicou ela.
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  — Não pode ser… — disse sentindo-me cansada.
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  — Querida, você precisa ser ainda mais forte, temos outra criança aí dentro. — encorajou minha sogra. — Não pode desistir agora.
  — Oh céus… Ela estava grávida de gêmeos — Marg soltou um suspiro de euforia misturado a preocupação.
  — Eu continuo aqui, senhora, estamos com você — disse Sophie ainda segurando minha mão.
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  Assenti pedindo a Deus para me ajudar, se o milagre era duplo, não iria recusar depois de cinco anos frustrada. Respirei fundo e, ao comando de minha sogra, Isla de ajudou a empurrar meu segundo bebê. Eu estava cansada, fraca, mas ainda buscava fôlego para não desistir dele. Mais uma vez soltei outro grito de dor, algo que certamente faria enlouquecer do outro lado ao imaginar que havia outra criança dentro de mim.
  Assim que ouvi o segundo grito de choro, senti as lágrimas descerem em meu rosto. Neste momento não tinha nem mesmo mais forças para segurar a mão de Sophie, minha visão foi ficando embaçada e escura, a última coisa que vi foi a porta se abrindo.

– x –

  — … — foi a primeira palavra que consegui sussurrar ao recobrar a consciência.
  Meu corpo ainda não respondia às ordens da minha mente, era como se cada músculo meu estivesse adormecido, aos poucos a sensação de dor foi retornando, certamente tudo em mim ainda não havia voltado ao eixo normal. Após longos momentos de dor, seria óbvio ainda sentir cada pedaço de mim dolorida. Forcei meus olhos se abrirem sem um pouco sucesso, mas na quarta tentativa finalmente a claridade que entrava pela janela atingiu minhas fracas pupilas.

  — … — sussurrei novamente.
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  — Estou aqui, meu amor — ele logo segurou em minha mão, senti o movimento do seu corpo se sentando ao meu lado.
  — Como eles estão? — minha maior preocupação eram meus filhos.
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  — Deveria querer saber como você está — disse ele tentando me repreender.
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  — Somente me diga — senti que minha voz estava baixa, minha fraqueza não me permitia fazer esforço para nada, me perguntava como ainda conseguia respirar, estava cansativo até mesmo puxar o ar para mais pulmões.
  — Eles estão bem, Margareth e minha mãe estão cuidando deles — respondeu , senti sua outra mão acariciar meus cabelos.
  — Você disse eles? — minha visão foi se ajustando aos poucos, permitindo-me ver com clareza a face dele
  — Sim. — assentiu dando um sorriso singelo. — São dois fortes meninos.
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  Soltei um suspiro de satisfação e felicidade!
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  — A espera valeu a pena… Temos dois lindos herdeiros… Somos uma família completa agora. — ergui lentamente minha mão e toquei sua face, deslizando meus dedos em seus lábios. — Acho que quero um beijo, em comemoração.
  Ele abriu um largo sorriso.
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  — Não está fraca demais para isso? — brincou ele beijando de leve minha mão e a segurando.
  — Seu beijo me dá energia — retruquei.
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  — Por que não disse logo? — ele foi se aproximando mais e mais de mim, até que seus lábios tocaram os meus de forma suave por um longo tempo.
  Fisicamente, minha teoria não havia dado certo, mas por dentro me sentia, sim, mais forte, ele estava ao meu lado. De certa forma, sempre esteve todo o tempo, mesmo na época que eu nem mais me lembrava dele, eu estava em seus pensamentos, subjetivamente, seu amor estava comigo.
  Agora, diretamente, eu viveria aquele amor para sempre.

“Eu perdi minha mente, no momento em que te vi
Exceto você, tudo ficou em câmera lenta
Diga-me, se isso é amor
Compartilhando e aprendendo,
Incontáveis emoções todos os dias com você
Brigando, chorando e abraçando
Diga-me, se isso é amor.”

– What is Love / EXO

Epílogo

  Manhattan – Primavera de 1863

   ver.:
  Eu estava curiosa para saber o que levou a viajar às pressas para Flórida, principalmente pelo país estar iniciando uma tortuosa situação com os rumores de uma Guerra Civil. Minha preocupação com ele fazia-me passar horas em frente à janela do quarto olhando rua, esperando seu retorno.

  — Mamãe — disse meus filhos em um coral adentrando o quarto sem a menor formalidade.
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  — Crianças. — voltei meu olhar para eles. — O que disse sobre entrarem assim no quarto das pessoas? Devem ser educados e formais.
  — Nós somos, mamãe. — Simon deu um sorriso bobo. — Mas só cinquenta por cento de nós.
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  — O quê? — ri sem entender o motivo. — Por que somente a metade?
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  — Porque na outra metade somos burgueses — explicou Dimitri tranquilamente, seu olhar sereno me lembrava o de .
  — Burgueses também são educados. — retruquei em repreensão novamente. — Seu pai jamais entraria no quarto das pessoas sem bater.
  — Por que ele bateria? Tudo aqui é dele.
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  — Simon — o olhei profundamente, porém desviei meu olhar para a janela novamente ao ouvir o barulho de uma carruagem.
  Senti meu coração pulsar mais forte. Os meninos se aproximaram da janela em curiosidade, certamente também estavam com saudades do pai silencioso e observador que possuíam. Assim que os cavalos pararam em frente à entrada de nossa casa, desce primeiro, sendo seguido por Lee, então, quando pensei que já entrariam na casa, duas crianças desceram logo após.
  Havia tristeza em suas faces, pareciam acuadas. A garota parecia ser mais velha, aparentava ter a mesma idade que meus filhos, sua pele curiosamente era mais bronzeada que o normal, não chegava ao tom dos negros recém-libertos que trabalhavam na fábrica de . Porém, o menino mais novo tinha a pele clara como a neve, ele estava encolhido se agarrando ao braço da garota, certamente assustado.
  Me afastei da janela e disse para as crianças ficarem me esperando em seus quartos, desci depressa para a sala de estar, precisava saber o que estava acontecendo.
  — — disse assim que terminei de descer as escadas e vê-lo entrar pela porta.
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  — Bom dia — ele manteve seu olhar sério.
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  — Fiquei preocupada, não sabia mais no que acreditar, os jornais dizem muitas coisas — desabafei dando um suspiro fraco.
  — Me desculpe lhe causar este transtorno, mas… — ele olhou para as crianças. — Não podia deixá-los lá.
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  Quando ele me contou a fundo o motivo, senti meu coração apertar pelo sofrimentos deles. Aquelas duas crianças tinham perdido sua única família, eram filhos de um velho amigo de , que ele havia conhecido no tempo em que estava em Xangai, um comerciante que tentou novas oportunidades na América e convenceu meu marido a fazer o mesmo.
  Jenie e seu pequeno irmão Will estavam sozinhos em meio ao fogo cruzado que a Guerra Civil estava causando ao sul do país. Após o pai ser morto cruelmente por apoiar a abolição, foram amparados por conhecidos até meu marido resgatá-los.
  — Bom dia, crianças. — sorri de forma gentil. — Estão com fome?
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  Jenie olhou para seu irmão, que assentiu com o olhar, então ela voltou sua atenção para mim, ainda receosa.
  — Não tenha medo. — estendi minha mão para ela. — Venha, vou preparar para vocês um delicioso brunch.
  O pequeno Will se afastou um pouco de sua irmã e se aproximou de mim. Eu me senti um pouco estranha naquele momento, como se minha mente estivesse me fazendo lembrar algo que já tinha vivido antes. De forma inesperada, flashes passaram em minha cabeça como um filme, me fazendo lembrar do dia em que conheci .
  Logo, um forte sentimento de conforto e acolhimento tomou conta de mim, assim como no passado eu senti uma enorme vontade de ajudar meu marido e mantê-lo tão seguro quanto eu me sentia. Eu também estava sentindo neste momento, que cuidaria daquelas crianças com o mesmo amor que cuidava de minha família…

“Não há ninguém como você,
Mesmo se eu olhar em volta é tudo igual
Onde mais procurar?
Uma boa pessoa como você,
Uma boa pessoa como você,
Um coração bom como o seu,
Um presente bom como você”

– No Other / Super Junior

  Amor: A caridade gerou a gratidão, a gratidão gerou o amor, o amor mudou duas vidas.”
  [ Nós amamos porque Ele nos amou primeiro. – 1 João 4:19 ] – by: Pâms

Fim

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