Capítulo 11
O paraíso
Suspirei com o peito carregado e rolei inquieto no chão frio. ficou com a única cama do quarto e eu, com um cobertor dobrado duas vezes e meu braço como travesseiro. Insone, minha única alternativa para esquecer aquela discussão (e o fato de a mulher por quem eu era apaixonado estar dormindo bem pertinho de mim num babydoll de seda
minúsculo) era pegar o livro que ela tinha me emprestado e abrir numa folha aleatória, aproveitando a luz dos relâmpagos para tentar ler e me distrair.
Não ironicamente, enquanto eu atravessava meu inferno particular, a página sorteada contava a chegada de Dante ao paraíso. Dante parecia comigo, aliás. Ele não se achava digno de toda aquela bem-aventurança. Eu entendia. Como alguém que teve que lutar muito por qualquer coisa, que nunca teve nada fácil ou sem esforço, parecia impossível que assim, de repente, as portas do paraíso pudessem se abrir. Atravessar o limbo, o purgatório e até mesmo o inferno era familiar para mim, era a parte da jornada que eu conhecia. Mas o paraíso? O paraíso eu nunca vivi.
Eu sempre custei a acreditar quanto coisas boas aconteciam comigo. Para quem está acostumado a viver na sombra, a luz pode cegar.
Talvez tenha sido esse o meu caso. Um bom emprego e a mulher dos meus sonhos parecia ambicioso demais. Eu me sentia quase na obrigação de perder um deles.
Entretanto, chegar ao Hamptons ou mesmo apresentar o tal artigo eram as minhas menores preocupações no momento. O atraso na viagem era um imprevisto contornável, o tempo que me atormentava era o que eu tinha perdido com a . O tempo que eu poderia ter gastado aproveitando a companhia dela, mas que inconscientemente eu preferi gastar dando ouvidos à minha insegurança.
Insegurança. A piada infame que me sabotava e me perseguia.
A madrugada seguia impiedosa e o chão cada vez mais frio parecia feito de pregos. Quando um clarão iluminou todo o cômodo e o som do trovão ecoou segundos depois, balançando a frágil estrutura do quarto, eu desisti do livro e levantei de imediato. Trovejava muito mais dentro da minha cabeça e só havia uma pessoa capaz de me fazer enfrentar aquela tempestade interna.
Conforme eu suspeitava, acordou com um susto por causa do estrondo, abraçando os próprios joelhos e encolhendo-se na cama que acomodaria perfeitamente nós dois. Era óbvio. Para alguém que não gostava da chuva, era de se esperar que ela também tivesse medo dos trovões.
E ao vê-la ali, apertando os olhos e os punhos, o que tinha sido dito no calor de uma briga não importava mais.
— Mingyu… — ela chamou, incerta.
— Eu sei, eu sei. — sussurrei, pronto para cuidar dela. — Eu tô aqui.
Sem dizer mais nada, engatinhei até a cama e ajeitei no meu colo, abraçando o corpo pequeno. Apertei gentilmente o rosto dela contra o meu peito e fiz um carinho no cabelo curto, sentindo exalar da pele acetinada o cheiro de hidratante de lavanda que eu já conhecia. aceitou o carinho sem qualquer resistência e encaixou-se na curva do meu pescoço, me permitindo perceber a respiração normalizando conforme ela se acalmava. Me dediquei a lhe oferecer consolo e passamos um bom tempo enroscados um no outro, até a discussão que tivemos se resumir a nada. Até aquele afago nos envolver numa atmosfera só nossa. Até eu perceber que tê-la nos meus braços fazia eu me sentir inteiro.
Porque quando a estava no meu peito, eu sabia o homem que eu queria ser. Repousei na cabeceira, escondendo-a perto do meu coração acelerado. Outro trovão ecoou pelas paredes, um dos grandes, e me apertou mais.
— Shhh… — meus dedos massagearam a nuca dela. — Não fica com medo. Eu tô aqui. — repeti.
— É tão alto. — ela, ainda trêmula, puxava minha camiseta de dormir. — Por que precisa ser tão alto?
— Porque é o barulho da saudade. — sibilei, como se contasse uma história de ninar. — Sabia que um trovão são só duas nuvenzinhas se abraçando?
— Você tá inventando isso agora! — ela ergueu o rosto e ralhou baixinho.
— Mas você tá rindo, então tá funcionando. — desenhei o sorriso, contornando os lábios dela com os dedos.
— Está. Isso ajuda bastante. — me prendeu no olhar dela. — Mas não me solta ainda, tá?
— Eu não estava pensando nisso.
Abracei a cintura dela e afundei o nariz no cabelo bagunçado, tentando acreditar naquele perfume, naquele calor, naquele toque aveludado apertando meu braço. Me apeguei a todos os elementos possíveis para me convencer de que aquilo era real, de que aquela cena, que era meu último pensamento antes de dormir, não era mais uma fantasia intangível.
Eu estava, de fato,no paraíso.
— Me desculpa pelo que eu falei. — ela pediu.
— Me desculpa por ter sido um completo idiota.
— Você não foi um completo idiota. — a voz dela eriçou o meu pescoço. — Só meio.
— Eu estou aqui por
vontade. — confessei. — Você sabe disso, não sabe?
contornou meu maxilar, mapeando os sinais do meu rosto, suave. O céu ficou em silêncio e ela sorriu brando:
Meus dedos percorreram a face macia e afilada, perfeita em todos os traços e curvas, desde a boca até os olhos, que agora estavam quase fechando, relaxados. Passei alguns minutos decorando-a, me perdendo e me achando nela, e aninhou-se ainda mais, recusando-se a adormecer.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Qualquer coisa. — assenti com medo de me mover e perdê-la.
— Por que você fala meu nome enquanto dorme?
Meu coração respondeu antes de mim, acelerando violentamente bem embaixo do rosto da . Ela aparou meu peito com a mãozinha pequena, sentindo as batidas e, ciente delas, manteve inquebrável o contato visual.
— Porque eu vou dormir pensando em você. E aí eu sonho com você. — admiti, simplesmente. —
Todas as noites.
se moveu minimamente e mais uma vez eu me vi cativo no olhar castanho. Beijei a testa dela e deixei meus lábios demorarem ali, até que eles desceram sozinhos pela tez branca e levantou o rosto ao encontro deles.
Nossos lábios se provocavam, raspando um no outro. Respiramos ali o mesmo ar.
— Ah, … — intercedi. — Eu estou cansado só de sonhar. Eu quero viver. Eu quero
te viver. Segurei o rosto dela, mirando o alvo. Mirando a boca, com a sede de um homem que vagou por um deserto. Com a avidez de quem espera há muito tempo. separou os lábios delicadamente, convidativa, tão perto de mim que compartilhamos o mesmo fôlego. Era a iminência de um beijo, não havia dúvidas. Aquele lapso de paraíso, em que os olhos vão fechando e a boca vai abrindo, ansiosa por encontro e saciedade, até o ponto de junção finalmente acontecer.
Nos chocamos gentilmente numa sincronia que parecia ensaiada. Pressionamos os lábios, extravasando todo o desejo acumulado, deixando as línguas se provocarem e se saciarem juntas, como se dançassem sozinhas e por vontade própria. Eu sentia sorrir, satisfeita a cada encostar dos nossos lábios, interrompidos somente quando um de nós precisava buscar ar. Mas o ar não parecia tão importante, tão necessário, tão vital, então nos beijamos de novo. E de novo. Com demora, com delicadeza, com vontade e com todos os predicados que tínhamos direito. era carnuda e macia, um descanso na boca, uma dormência deliciosa, uma sensação quente e arrebatadora.
E doce. Doce feito uma fruta.
Não havia mais para onde fugir ou canto escuro onde eu pudesse me esconder. Já estávamos sugestionando movimentos enquanto nos beijávamos. Estava para acontecer. Tinha passado da iminência e beirado o irremediável, sem jeito.
— … — supliquei. — Você não quer fazer isso assim, num lugar feito esse-
— Não fale por mim, Kim Mingyu. Você não sabe o que eu quero, eu é que sei. — ela trilhou a linha da minha barba com beijos lentos, enquanto as unhas brincavam pelo meu abdômen por baixo da camisa. —
E eu quero você. Já faz muito tempo.
— Como você não percebeu? Eu fiz você me chamar pra sair. Por que você acha que eram dois ingressos no seu presente de Natal? — ela me selou o queixo. — Eu te emprestei meu livro favorito e marquei os versos que eu mais gosto pra você. — outro selar, no canto dos lábios. — Eu continuei encontrando você para trabalhar num texto que
já estava bom. — mais um, agora no arco do cupido, e as mãos por dentro da camisa alisavam meu peito. —
Eu te toco o tempo inteiro, Mingyu. — um sussurro lascivo e, agora, unhas. — Entendeu agora por que eu explodi com você? Porque você é péssimo em ler as entrelinhas!
Quebrei por dentro. me deu os sinais e eu duvidei de todos.
Eu sempre custei a acreditar quando coisas boas aconteciam comigo. — Me ensina a ler você, . — roguei, entorpecido pelo ar denso, acariciando o rosto dela. — Todos os desenhos, todas as letras, todos os caminhos dessa tua pele quente e perfumada.
Nos entregamos em mais um beijo. Exploramos a boca um do outro, desbravando cantos, mordendo lábios, testando limites. me instigou com uma investida mais quente e mais cheia de língua que me fez acelerar o pulso e sentá-la nas minhas coxas. Ela se arrastou pelas minhas pernas fazendo o short enrolar, e apoiou as mãos na minha nuca buscando algum atrito entre nossas intimidades separadas por moletom e seda. Uma fisgada interior me avisou que eu estava crescendo e um tiro de adrenalina fez meu coração bombear mais sangue conforme se insinuava em cima de mim, disposta a se satisfazer. Qualquer resquício de racionalidade sumiu quando chupou meu pescoço e soprou um gemido contra a minha pele arrepiada.
— Me demita. — pedi ofegante. — Me demita agora.
— O quê? — ela parou por um momento, confusa.
— Eu não vou ter você como a sua sombra. — salivei de vontade e urgência. — Eu quero ter você como eu mesmo.
A camisa começou a pesar no meu corpo febril e eu me livrei dela em desespero. beijou meu peito e derrapou pela minha barriga, sensível dos arranhões, e eu desaprendi a respirar quando ela continuou aquela descida tentadora, arrastando o rosto e a língua por mim sem perder nenhum músculo, nenhum gomo, nenhum pedaço do meu tronco escapou de ser aderido pela língua promíscua e pelos dentes inquietos, que só encontraram descanso quando bateram no cós da calça do meu pijama. sorriu abafado no tecido, afundando a cara na área irrigada e latente e acariciando o comprimento clamante por liberdade. Afastei o suficiente para o membro saltar e bater no rosto dela, e correu pelas minhas coxas antes de me apertar gentilmente com as duas mãos.
Flertei com o delírio quando ela me tocou ali.
Trinquei o queixo, soprando o ar entre os dentes, quando ela encostou os lábios na ponta inchada e puxou a pele para cima e para baixo. Me assisti alucinado dentro da boca da , a cabeça subindo e descendo num ritmo torturante que me fazia transitar entre enlevo quando ela me guardava e aflição quando ela me descobria.Vim na borda, limiar da loucura, duro e gotejando, mas tirei forças das entranhas para impedi-la.
— Não sem você, . — segurei o rosto dela, tonto.
O beijo que ela me deu ao sentar de volta no meu colo me permitiu sentir meu gosto direto da boca dela. Os seios acenderam e ficaram marcados na blusa caindo pelos ombros, o short agora estava enfiado na bunda e a quantidade de roupa nela, ainda que escassa, me deixou impaciente. A despi da parte de cima e quase entrei em colapso quando massageei o par farto, firme e lindo.
— Vem logo, por favor. — mordeu o lábio, dançando na minha ereção antes de sair de cima dela. — Eu estou pronta.
Pus a mão para fora da cama e tateei minha mochila no chão, com fé inabalável na lembrança de que tinha guardado algum preservativo ali. Minha memória não me traiu e eu rapidamente tirei a calça e vesti o membro, beijando até enfraquecê-la e convencê-la com facilidade a se deitar e me deixar cobrir o corpo gostoso dela com o meu. Ela não parava de me provocar com as unhas e, por mais que houvesse uma sensação diferente e satisfatória naquela ardência ao ser rasgado, eu prendi as mãos dela acima da cabeça, segurando os pulsos.
— Eu tenho uma apresentação importante amanhã, lembra? Não posso aparecer com marcas no meu corpo.
— Você vai ter que me amarrar. — soltou, tão simples quanto respirar. — Eu não garanto nada.
Senti meu pau tremer com aquele pedido. Era impossível raciocinar com o cérebro e o corpo mergulhado em libido como eu estava, e a minha gravata estendida bem ao meu alcance fez minha cabeça dar um giro. No entanto, era perigosa a ideia de abster do movimento das mãos quando eu estava tomado de tanto desejo que poderia, sem querer, machucá-la. Eu era indiscutivelmente maior que ela, conseguia fechar-lhe a cintura com facilidade. Movido por instinto e cego pela carne dela eu a deixaria, para ser eufêmico, roxa.
— Isso pode ser perigoso. — minhas têmporas incharam. Eu queria aquilo. Eu queria muito aquilo. — Já faz muito tempo pra mim, . Eu tenho te esperado há meses.
— E quanto tempo você acha que faz pra mim? — ela afundou os dedos no meu cabelo e me fez um cafuné, me obrigando a olhar para ela. — Eu confio em você.
— Não é de hoje que você me maltrata, Chevalier. Eu tô com
muito tesão acumulado. Tudo em você. Só em você. — confessei enquanto ela arrumava os fios da minha franja. — Você tem certeza?
arqueou o braço e puxou a gravata, estirada numa cadeira bem perto da cama, dada a metragem do quartinho. Esfregou rosto e lábios no acessório, testando se a textura era do seu agrado, depois repetiu o movimento no meu rosto, me acariciando com o pano. Fechei os olhos, inebriado.
— Eu tenho. — ela me entregou a gravata e a si mesma.
Beijei os punhos antes de atá-los, como um pedido de licença. Estiquei um pedaço do tecido, segurando a ponta dobrada, e passei a extremidade livre através do laço em torno dos pulsos de , amarrando o que sobrou no arame que enfeitava a cabeceira da cama.
— Me fala, tá? — olhei fundo nos olhos dela, buscando confirmação visual do seu consenso e conforto.
— Assim está bom. — puxou as mãos presas, certificando-se de que o nó não se desfaria ou a apertaria em exagero. — Só não demora, por favor. — ela fechou as pernas nos meus quadris e se contorceu um pouco, irrequieta. — Eu quero muito você dentro de mim.
Caí de boca nos seios dela em resposta, usando a mão oposta à que me apoiava no colchão para encaixar os montes na minha língua afoita. ergueu os quadris conforme eu resvalava por suas letras e desenhos gravados, sugando tudo. Choramingou quando eu desci os dedos pela barriga e umbigo, prevendo onde eu chegaria e o que eu faria lá.
Puxei o short e a calcinha para baixo, sem nem reparar na cor, alisando e beijando as pernas dela enquanto a libertava das últimas peças de roupa. Contornei a saliência úmida do sexo alheio, procurando com paciência o botão inchado, guiado pela intensidade dos gemidos que deixava fugir. Circulei a área ao encontrá-la, estimulando-a a me receber, e finalmente a adentrei com dois dedos. Contemplei a cena com calma, saboreando aquele espetáculo visual que era se torcendo indefesa presa à cama, refém do meu domínio sobre o prazer dela, que ela me concedeu tão deliciosamente molhado.
— Mingyu… — me chamou, sôfrega. — Eu estou vindo.
Subi a língua pelo pescoço e raspei os dentes no lóbulo da orelha dela, brincando com o brinco de pérola:
—
Vem. — pedi calmamente e chegou, desmanchando na minha mão encharcada.
Não esperei que ela terminasse o último arquejar do meu nome e penetrei o caminho estreito, fazendo-a gritar por mim dessa vez. Sorri fraco. As paredes do hotel eram bem finas e certamente os outros hóspedes ouviram implorar por mim. O que era por si só excitante pra um caralho.
Me esforcei invadindo-a, tão apertado, tão gostoso e tão certo que nos fizemos uma só carne. Até a respiração soava igual, éramos sombra e luz se confundindo. Ficamos naquele entra e sai apressado, forte, urgentes de nos sentirmos em tudo, indiferentes ao barulho do ferro rangendo e batendo contra a parede. Que quebrasse a cama, que caísse o quarto. Éramos um do outro e isso era tudo o que importava.
— Eu te quero há tanto tempo, … — enterrei mais fundo. — Só hoje eu já ardi por ti tantas vezes… — jurei no ouvido dela, incansável.
soltou um gritinho agudo para anunciar seu segundo orgasmo da noite, grunhindo manhosa na minha boca e me fazendo escorrer e fincar os dentes na primeira extensão de pele que encontrei. A doce vertigem do gozo me dominou e eu relaxei dentro dela, concentrado apenas em não esmagá-la com os músculos dormentes do meu corpo saciado.
— Eu vou ficar dolorida de você uma semana. — ela riu melódico, apertando as pernas em volta da minha cintura.
— Eu solto você todinha numa massagem, prometo. — deslizei pela coxa de e dei um tapinha na nádega esquerda.
Saí de dentro dela e comecei a me mover para libertá-la da amarra, fazendo um carinho nos braços e aplicando uma leve pressão para aliviá-los do peso por terem passado muito tempo suspensos. Os pulsos tinham manchinhas vermelhas bem discretas, mas ainda assim, minha reação a elas foi de preocupação.
— Ei. — segurou meu queixo, alisando meu maxilar. — Relaxa. Você só me deu prazer.
— E você me deu a melhor noite da minha vida. —beijei , sem querer que acabasse.
— Conseguimos evitar marcas visíveis em você, hã? — dedilhou meu tronco amornado de um cansaço gostoso. — Mas você vai ter que se apresentar com a gravata amassada.
— Eu te perdôo. — formei um biquinho. — Mas só se você tomar um banho comigo.
— Não sobrou muita água quente, eu não tenho escolha. — riu e foi parando o carinho. — Aliás, já vai amanhecer, é melhor a gente ir.
— Espera. — pedi, beijando a tatuagem de coração atrás da orelha com a qual eu namorava em segredo. — A gente pode ficar aqui assim só mais um pouquinho?
— Quanto é o pouquinho? — ela se arrepiou, manhosa, virando o pescoço e pedindo por um beijo do outro lado. — Você ainda tem que conquistar o mundo, lembra?
sorriu, e os versos que eu tinha lido há pouco saltaram na minha memória:
“Nos olhos seus ardia um tal sorriso,
Que, encarando-a, cuidei tocar o fundo
De ventura no eterno Paraíso…”
Capítulo 12
O caminho, o devaneio e o guardanapo
Passados a visita do mecânico, o restante da viagem e os procedimentos de check-in no Hamptons, sobraram alguns minutos para aproveitar o café da manhã do hotel luxuoso, o completo oposto de onde dormimos na noite anterior. “Dormir” é um modo educado de dizer, é claro.
Eu estive dentro da . Depois de um acontecimento como esse, eu não ia conseguir dormir nunca mais. Só a lembrança me deixava energizado, eufórico e, mais do que tudo, com saudade.
Algumas coisas eram viciantes depois de uma única exposição. Chevalier era uma delas.
— Toma. — ela me entregou um copo de isopor quentinho depois que eu bocejei. — Você tá precisando de um café.
— Eu tô precisando é de um beijo. — sussurrei.
espalmou as mãos no meu peito e arrumou minha gravata, mordendo os lábios ao lembrar o que fizemos com ela. Na ponta dos pés, ela me plantou um beijo tranquilo e doce, e eu tive que dobrar um pouco os joelhos para que ela me selasse a testa logo depois. Eu estava surpreendentemente calmo para alguém que, dali a exatos vinte minutos, falaria para uma plateia que incluía o doutor James Atkinson e meus possíveis futuros chefes. Aquele era exatamente o tipo de situação que, em condições normais, me deixaria inquieto feito um siri numa lata.
Mas eu não estava em condições normais. Eu estava com a . E o fato de ela estar me entregando todos os beijos que eu pedia era o melhor calmante do mundo.
— Eu sei que você vai se sair melhor do que qualquer um aqui. — ela prensou meu lábio e demorou os olhos nos meus, me carregando de confiança. — Como você está se sentindo?
— Se eu disser que estou apavorado, eu ganho outro beijo? — perguntei, já formando um biquinho.
— Se eu te beijar de novo, eu vou acabar te tirando daqui e te levando pro meu quarto.
— Eu topo. — peguei a mão dela e ameacei correr.
— Fugindo do trabalho? — a boca da formou um círculo perfeito. — Quem é você e o que você fez com Kim Mingyu?
— Ele não é mais o mesmo desde que uma certa moça tatuada apareceu na vida dele.
Deixei um selinho na e respirei bem fundo, meio em transe, sem acreditar. Aquele evento havia guiado meus passos desde que eu saí de Anyang e eu encarei o dia do simpósio como o norte numa bússola, crente de que era o meu destino final. No entanto, me fez “virar meu pescoço travado para os lados” e perceber que, na verdade, aquele era apenas o começo, o ponto de partida para uma vida que eu queria construir, tijolinho por tijolinho, fase por fase, com os olhos não só no prêmio, mas na jornada. O estágio na CS&M era apenas
uma linha de chegada e o mais importante estava pelo caminho.
O mais importante era o sol que eu vi nascer com a nos meus braços.
E o quanto ela estava incrivelmente linda no jogo dos Giants a que assistimos.
O mais importante era a risada que ela deu quando eu a girei no ar, dançando a tarantela.
E todas as coisas sobre literatura que ela falava durante o jantar.
O mais importante eram os beijos que trocamos, que eu esperava que fossem os primeiros de muitos.
Que eu esperava que fossem os primeiros de todos.
— Ouvindo as vozes na sua cabeça de novo? — me despertou do devaneio com um carinho atrás da orelha.
— Só confabulando. — sorri. — Sonhando acordado.
— Achei que você estivesse cansado de sonhar.
— Está tudo começando a virar realidade. — alisei o perfil dela e acabei o café num só gole. — Marie te respondeu?
— Se atrasaram um pouco, mas já estão descendo. — checou o celular e limpou meu bigode. — Houve um acidente e o míope precisou trocar de roupa.
— Do tipo “a tarada da minha amiga deixou uma marca de chupão no pescoço do namorado dela”.
O café quase voltou quando imaginei a cena.
— Eles não se chamam de namorado. — joguei o copo e o pensamento fora. — Eles se chamam de “neném”.
fez uma careta e riu logo em seguida. E foi bem ali que eu voltei a devanear e comecei a pensar em oficializar as coisas. Eu não era o namorado ainda, mas eu queria ser
. Eu queria chamar a de
minha.
— E lá vem o feliz casal. — ela apontou a entrada com a cabeça, acenando para os dois.
Wonwoo se aproximou, mais míope do que nunca, e Marie olhou para a amiga de cima a baixo, fazendo uma análise completa do estado dela. A pele da estava com um viço “inexplicável” para alguém que passou a noite em claro e eu sorri cheio de mim, me sentindo responsável pelo brilho, efeito do orgasmo duplo.
— Bom dia, e sua sombra. — Marie cumprimentou desconfiada, cruzando os braços. — Você está adorável hoje, . Como foi a viagem?
— Nas suas palavras, adorável. — sorriu para mim e fez Marie descruzar os braços, enroscando-se na amiga. — Vem, vamos pegar mais café. E uma Coca-Cola pra você.
— Você me deixando tomar Coca-Cola a essa hora da manhã? — Marie aceitou o convite. — Alguém está mesmo de bom humor.
As duas se afastaram, cheias de segredos e risadas, falando e gesticulando muito no idioma secreto das melhores amigas. Eu queria ser uma mosquinha para poder ouvir a conversa, contudo, Wonwoo me lembrou porque estávamos ali.
— Você quer repassar alguma coisa? — ele abriu uma pasta com a cópia do artigo. — Talvez a parte em que você exemplifica a averbação…
— Dando ênfase à aplicação dela no código. — completei, pegando a pasta dele. — Estou bem confiante nessa parte, eu só queria dar uma olhada em… — folheei as páginas, lembrando de cada frase escrita ali. — Nada, na verdade. Nós já ensaiamos isso umas oitocentas vezes, tanto eu como você sabemos esse texto de trás pra frente.
— A te relaxou mesmo, hein? — Wonwoo desdenhou. — Por que vocês não dormiram juntos antes? Você ia ficar bem mais fácil de conviver.
— Quem te contou sobre a ? — meu estômago esfriou. — A Marie não sabe ainda. — dei mais uma espiada nas duas. — Aliás, elas estão fazendo isso agora.
— A Marie conhece a tão bem quanto eu conheço você. Ela diz que a é o Mingyu dela. — Wonwoo tomou a pasta de mim. — E eu conheço a sua cara de quem transou, ok? É um evento raro, mas acontece. — ele alfinetou tediosamente. — Tô feliz por você, blá blá blá e etcetera, mas agora a gente precisa se concentrar.
— Que nem você se concentrou nesse chupão aqui? — puxei a ponta da gola alta dele.
— Para com isso! — ele se desvencilhou, perdendo a cor quando e Marie terminaram as bebidas e começaram a andar na nossa direção. — Não faz essas brincadeiras perto da Marie, ok? — ele resmungou baixando o volume da voz.
— Você tá com medo que eu te deixe com vergonha na frente da sua namorada,
neném? Plaft! Uma mãozinha bem pequena, mas bem zangada, estalou na minha nuca. Não percebi que a distância entre nós e as garotas tinha diminuído tanto até Marie me acertar com o pescotapa.
— Deixa o neném em paz, ouviu? — Marie me repreendeu e correu em meu socorro, soprando o local atingido.
Não doeu tanto, mas eu exagerei na reação para garantir ser mais mimado. Wonwoo e Marie entreteram-se um do outro e eu descansei no ombro da , aproveitando o carinho na nuca e reclamando apenas quando ela me soltou para cumprimentar uma mulher que surgiu entre nós.
— Não acredito! — gritou e deu pulinhos no lugar antes de dar um abraço apertado na moça que chegou com um belo bronzeado e uma cara de quem não queria estar ali. E de quem não gostava de abraços. — Denise!
Hm. Denise. A amiga que compartilha fotos de tanquinhos. — Mingyu, essa é minha amiga e futura bióloga marinha, Denise Andrews. — nos apresentou. — Você já conhece a Marie e o Wonwoo.
— O nerd e a crente. Ou melhor, ex-crente. — Denise piscou para Marie e ela fingiu coçar o nariz para mostrar o dedo do meio em resposta. Pelo visto, era assim que as duas se comunicavam, já que nenhuma era fã de contato físico.
— O que você tá fazendo aqui tão cedo? — entregou mais um abraço e Denise se encolheu toda. — Suas temporadas na Tailândia duram no mínimo um mês, achei que você ia ficar mais tempo fora.
— Eu também achei, mas infelizmente tive que voltar pra dar aula de monitoria para um carinha aí. — ela revirou os olhos. — A professora Linn, minha orientadora, me ligou no meio de um luau. É mole? Eu estava rodeada de asiáticos belíssimos e agora eu tô aqui. — ela lembrou que eu e Wonwoo estávamos presentes. — Sem ofensa.
— Nesse caso, vamos torcer para que o seu aluno também seja um asiático belíssimo. — deu risada do infortúnio da amiga.
— O que eu sei com certeza é que ele está tão ferrado nas notas que mais nenhum monitor quis assumir a bronca, sobrou pra mim. — Denise apontou o próprio rosto, impaciente. — Agora olha pra mim, . Vê se eu tenho cara de centro de reabilitação de macho?!
— Pelo visto, a sua orientadora acha que sim. Ela está por aqui, eu te ajudo a encontrá-la. — se ofereceu.
— Primeiro precisamos encontrar nossos lugares. — Marie verificou o relógio. — Está na hora do show dos dois aqui.
De repente, um rápido arrepio que eu não deixei durar muito tempo percorreu minha espinha. Eu estava pronto. Um pouco ansioso, mas pronto.
— Eu vou estar bem ali torcendo por você. — apontou uma cadeira vazia na primeira fila e voltou a me beijar rapidamente. — Agora vai lá e acaba com eles. — ela olhou para os lados antes de apertar minha bunda.
Assustei e ri ao mesmo tempo. Havia mais algumas pessoas na antessala, todas tão nervosas quanto nós, estudantes cuja vida profissional e acadêmica dependia daquela apresentação, mas, felizmente, ninguém notou a cena. Exceto pela Denise, que acompanhou tudo e encrespou a boca num sorriso que pediu, sem que ela dissesse nada, que a atualizasse da nossa
situação depois.
Tomamos nosso lugar no palco e o auditório foi enchendo. Wonwoo não parava de ajustar os óculos e eu comecei a respirar entrecortado, parecendo uma mulher em trabalho de parto e irritando meu melhor amigo.
— Você vai se apresentar com o útero, é?
— Boa sorte,
hyung. — desejei, ignorando o comentário, e demos nosso aperto de mão super-maneiro-e-descolado que inventamos quando éramos crianças.
— E então, Padawans? Podemos começar? — o Dr. James chegou por trás de nós, nos entregando os microfones.
— Aí uma coisa que eu não esperava ouvir hoje. — Wonwoo riu, mais solto. — Nosso orientador fazendo referências a Star Wars.
— Eu sou como vocês. Um nerd.
— Ou nesse caso, nosso Obi-wan. — completei, colocando o equipamento.
— Que a força esteja com vocês. — ele desejou e deu início à apresentação.
Assim que nosso artigo foi projetado na tela, procurei pela no público, achando graça da rapidez com que eu conseguia encontrá-la: meus olhos já estavam condicionados a achá-la em qualquer multidão. Acenei timidamente quando a vi, igual a uma criança de jardim de infância prestes a entrar numa peça escolar, e ela me desejou um “boa sorte” mudo, sorrindo para mim tal qual Beatriz sorria para Dante em sua
Divina Comédia, ajudando o poeta a enfrentar as próprias sombras
. Se Beatriz era a musa, era a minha luz.
O que veio depois disso virou um grande borrão na minha cabeça, recortes da adrenalina tomando conta, eu engatando as falas no automático e James Atkinson balançando a cabeça positivamente durante toda a palestra. Reconheci os slides com os últimos tópicos, aliviado por estar chegando ao fim e por Wonwoo não ter desmaiado ainda, e meu amigo encerrou a apresentação sendo encoberto pelo som das palmas da plateia. Afastei o microfone da boca para que o meu suspiro não fosse reproduzido pela caixa de som e, tão logo nos olhamos e fizemos um balanço rápido da palestra, começamos a rir um para o outro. Puxei Wonwoo para um abraço rápido de “fim da linha”, mas tive que soltá-lo porque, no instante em que o público começou a dispersar, James se interpôs novamente entre nós, batendo nas nossas costas.
— Esplêndido! Meus parabéns! — o Dr. Atkinson elogiou e Wonwoo sinalizou com um discreto toque no meu braço que os dois senhores que o acompanhavam eram os chefes de admissão do escritório. — Se importam se eu exibir vocês dois para os senhores da Cravath, Swaine & Moore?
Os dois engravatados sorriram e estenderam as mãos ao mesmo tempo. Foi uma pequena confusão de cumprimentos e eu acabei apertando a mão do Wonwoo. Mais de uma vez.
— Senhor Jeon, senhor Kim. Excelente premissa a do artigo de vocês. — um deles disse. — Vamos conversar na cobertura.
Busquei no meio da aglomeração outra vez, testando nosso contato visual e nossa comunicação à distância. Ela arregalou os olhos para mim, curiosa, e eu apontei para cima para indicar para onde estávamos indo. Um joinha e um beijinho jogado no ar foram os sinais de que ela tinha entendido a mensagem e subimos na frente.
Na cobertura, as luzes quentes e baixas e o som abafado daquelas músicas que tocam em lounges embalaram uma produtiva conversa com James e os donos da firma, que terminou com data e hora marcadas para uma entrevista. Eu me agitava tanto debaixo da mesa que o tampo tremia discretamente, balançando as bebidas chiques, e eu quase derrubei tudo quando eles nos propuseram frequentar o escritório previamente, para nos inteirarmos da logística do local.
Fingi naturalidade durante a reunião toda, mas quando Wonwoo e eu fomos deixados a sós, eu estava a ponto de explodir:
— A gente conseguiu! — gritei, segurando a cabeça do meu amigo e apertando as bochechas dele. — Wonwoo, a gente conseguiu!
— Cuidado! Meu óculos! — ele respondeu, espremido.
— Que teu óculos, me abraça! — intimei, abrindo os braços.
— Carente. — ele reclamou, mas me atendeu. — Onde estão as meninas?
— Eu avisei a . — senti meu coração palpitando. — Devem estar no elevador.
— Devagar demais para a Marie Bee. — Wonwoo constatou. — Vou encontrá-la nas escadas.
Wonwoo saiu disparado e eu sentei no banco alto perto do bar, me sentindo um pouco tonto e trêmulo. Comprei uma água, transbordando de alegria por ter meu pedido de estágio aceito, mas pensando em outro pedido, mais importante e ainda pendente, que fazia as palmas das minhas mãos suarem. Eu precisava achar a e fazer a pergunta que eu queria ter feito ontem, quando ela estava enroscada no meu peito, mas fiquei com medo de a minha língua presa me atrapalhar na hora e me fazer parecer ridículo, então tive uma ideia quase infantil.
Peguei um dos guardanapos em cima do balcão e rabisquei um “quer namorar comigo?” apressado.
Soou fofo e romântico na minha cabeça.
— Com licença, é você o mais novo contratado da Cravath, Swaine & More? — apareceu e pulou no meu abraço, me beijando o rosto várias vezes. — Ah, Mingyu! Eu tô tão feliz por você!
— Eu também tô muito feliz por mim. — ri, manchado de batom.
Afundei no pescoço dela, achando meu lugar entre o ombro florido e a clavícula alta. Deslizei o nariz por aquela pele cheirosa e fiquei ali, me embriagando daquele abraço, me permitindo assimilar todos os acontecimentos do dia e da noite anterior, principalmente. me apertava macio, alisando os músculos do meu braço e das minhas costas. Não tínhamos pressa e ela também não deu indícios de que me soltaria tão cedo, mas segurei a cintura dela e me afastei minimamente, segurando o guardanapo dobrado entre os dedos.
— Eu preciso te dizer uma coisa, . — segurei o queixo dela. — Eu não sei o que você quer daqui pra frente, eu não sei o que a noite de ontem significou pra você, mas pra mim ela foi… o paraíso.
Você é meu paraíso.
— Você não sabe mesmo ou só está fazendo charme? — me deu um selar longo, acompanhado das mãos entrando pelo meu cabelo e me afagando a nuca entre os fios. — Sorte sua que eu posso repetir quantas vezes você quiser, seu dengoso. — ela continuou, raspando os lábios pelo meu perfil. — Eu quero você.
— Você disse isso ontem, mas… — respondi manhoso, enfraquecido pelo passeio que fazia pelo meu rosto, prometendo me arrebatar num beijo a qualquer momento. — Como eu vou saber que não foi só conversa de cama, hum?
enfim cessou a provocação e me respondeu com uma língua dançante. O nosso ponto de junção era perfeito, e agora que eu estava mais baixo que ela por estar sentado numa banqueta, pude descobrir a nova e maravilhosa sensação de beijá-la com meu rosto arrastando pelo começo do decote alheio. Rocei pela corrente aura que ela usava, resvalando a língua para brincar com o pingente, e baixei mais a cabeça, beijando o busto dela para marcar seu coração. me segurou contra o peito antes de me pegar pelo queixo e erguer meu rosto, buscando meus olhos.
— Eu
ainda quero você, Kim Mingyu. Com a sua língua presa que bate nos dentes, com a sua gracinha de sinal na bochecha e até com seu time de futebol que é terrível. — ela espalhou a mão pela minha mandíbula e me apertou. — Não deu pra entender quando eu gemi seu nome enquanto você cravava esse canino lindo e pontudo no meu pescoço? — tive o rosto sacudido. — Para de se autossabotar nos círculos do inferno e entra nesse paraíso logo, porque você também é o meu!
Fechei o cerco na cintura dela, me enterrando novamente no lugar secreto que fiz para mim naquele corpo. Meti a mão no bolso lateral e abri a mão de para entregar o guardanapo dobrado, marcado pela minha caligrafia
peculiar e um desenho que eu arrisquei.
— Eu preciso dar nome às coisas. — expliquei. — Deixar tudo oficial.
— Você vai me fazer assinar um contrato? — brincou e leu o pedido. — Não assino nada sem a presença do meu advogado.
— Você só precisa responder à pergunta.
— Adorei a flor. — ela apontou o desenho, risonha. — E isso aqui…
— O guardanapo não ajudou, mas era pra ser um coração. Porque coração representa amor, né? — confessei e tive um mini-infarto. Eu tinha falado a famosa “palavra com a”.
— Mingyu… — ela quase cantou, iluminando-se. — Quer dizer que você…
— Sim. Eu te amo, Chevalier.
— Então por que você ainda não marcou sua resposta? — sorri destreinado. — Eu quero fazer uma caixa de lembranças com esse papel!
puxou a caneta do bolso da minha camisa e virou-se para abrir o guardanapo no balcão. Abracei-a por trás, colando nossas bochechas, e pude ler minha letra, canhota e questionável, mas que julgava divertida. As opções eram “sim”, com um coração (ou qualquer coisa perto disso) e “não” com uma carinha triste.
— O mesmo cara que me virou do avesso ontem à noite agora me pede em namoro por bilhetinho. — ela devolveu o guardanapo com o “sim” marcado. — O que eu faço com você, Kim Mingyu?
— O que você quiser. Eu sou todinho seu. — virei para mim, mantendo-a contra o balcão.
— A partir de hoje, você não pode brincar de sombra com mais ninguém, ouviu? — ela decretou e eu passei meu nariz pelo dela antes de beijá-la novamente.
— Mais ninguém. — murmurei no meio do beijo. — Só você. Só a minha luz.
Epílogo
O cobertor fofinho e a notificação do síndico
Coloquei a última flor na água, verificando pela milésima vez a posição dos vasos espalhados pelo apartamento. As velas eletrônicas estavam com pilhas novas, os travesseiros no chão e as pétalas de rosas deram um toque especial. Ficou bem bonito. Quase não dava pra ver as caixas empilhadas no cantinho da sala, a pintura estava pronta, sem o cheiro desagradável da tinta, e o janelão imenso que se estendia da base do piso até o teto tinha os vidros mais transparentes da cidade depois que eu passei horas subindo e descendo da escada para alcançar todos os cantinhos. Eu tinha até baixado um aplicativo de meteorologia para conferir as fases da lua e, de acordo com ele, teríamos uma belíssima lua cheia iluminando o cômodo através dos vidros que eu limpei tão bem.
Depois da formatura, dos trâmites de legalização do visto e de ser efetivado no escritório, eu iniciei a busca por um apartamento que me agradasse e coubesse confortavelmente no meu orçamento. Encontrei o que eu queria num charmoso bairro residencial, pertinho do centro, do trabalho e do metrô. Um prédio simpático de apenas seis andares, com vista para um jardim e uma padaria em frente, que fazia um mil folhas aprovado pela . A cozinha estava equipada e eu já tinha quase tudo o que eu precisava.
Quase tudo. Faltava ela.
Queria esperar até que estivesse tudo pronto, todos os móveis montados e no seu devido lugar, mas não consegui. Por mais que eu gostasse do apartamento novo, ele seria só um monte de tijolos sem ela comigo e eu não via a hora de dormir e acordar com a minha .
Minha … Ainda era inacreditável (e gostoso) dizer isso.
A vaga temporária que ela tinha conseguido no The New York Times virou uma vaga efetiva pouco antes de ela se formar, quando ela passou pelo processo de seleção brilhantemente. Alfred, Dorota e eu comemoramos cada fase avançada com um bolo confeitado e, na maioria das vezes, Dory e eu chegamos a divergir sobre a cor da cobertura e dos granulados. A disputa me rendeu uma ordem de restrição à cozinha da governanta — e alguns beliscões —, mas nenhum dos puxões de orelha de Dorota me machucou tanto quanto as lágrimas que eu a vi derramar quando enfim tive coragem de revelar meu plano de “lhe tirar” a .
A parte mais difícil não era consolar a Dory, nem mesmo enfrentar o olhar severo de Alfred me sabatinando quanto ao futuro que eu planejava para a neta dele, ou as cabeças de animais expostas no escritório. O mais difícil e o que me deixava realmente nervoso era o que eu estava prestes a fazer.
Busquei no jornal e, assim que ela entrou no carro, tudo o que ela sabia era que estávamos indo conhecer meu novo apartamento. Exceto que ele não era só meu.
demorou um pouco a entender quando eu destranquei a porta e demos de cara com a iluminação e decoração românticas (ou tão românticas quanto eu consegui). A risada dela reverberou pelo vão e ela me abraçou apertado, feliz pela conquista, e iniciamos um delicioso jantar no cenário que eu havia montado na sala. Ela comeu e me inteirou do seu dia no trabalho, tecendo, como de costume, inúmeras reclamações ao seu colega de sala: ninguém menos que o agora jornalista formado, Boo Seungkwan, contratado pelo The Times como redator. A função de era, basicamente, revisar (e contestar) o que ele escrevia.
Por mais que eu me divertisse com as trocas de insultos e com a insistência da em esconder o grampeador e outros artigos da mesa de Seungkwan, eu estava apreensivo demais para me concentrar nas peripécias dos dois “arqui-inimigos” tendo que trabalhar juntos. Eu estava mais concentrado em ficar o tempo inteiro olhando a embalagem escondida atrás de mim de relance, como se ela fosse sumir dali se eu não a checasse a cada cinco minutos.
Ainda sem notar a minha surpresa, levantou-se para se servir de mais vinho na sua xícara (eu ainda não tinha taças ou vidraçarias finas) e procurar uma colher para comermos o brownie com cobertura direto da travessa, já que eu havia preparado com a ajuda de Dory e esquecido de desenformar. Foi quando ela se deu conta de que havia algo suspeito.
— Tudo bem, amor? — ela quis saber, e eu ainda tinha borboletas com o apelido. — Você mal comeu.
— Estou ansioso pela sobremesa.
— A sobremesa sou eu? — ela piscou, sentando-se novamente no tapete e dando a primeira colherada modesta.
— Sempre. — sorri. — Mas dessa vez também tem isso. — finalmente entreguei a caixa de presente.
— É doce? — ela largou a colher e eu dei uma risada mais relaxada.
— Eu espero que seja. Figurativamente.
engatinhou até mim, ajoelhando-se ao meu lado para abrir o embrulho. Quando ela enfim o fez, os olhos vidraram no rosto lindo e lágrimas grossas queriam cair.
— Mingyu… — ela sussurrou. — Você quer que eu tenha uma chave do seu apartamento?
— Não. Eu quero que você tenha uma chave do nosso apartamento. — expliquei, enfim, colocando a cópia na mãozinha dela. — Vem morar comigo, . — fechei o punho dela e o beijei.
Ela demorou a esboçar reação e eu me agitei no meu lugar, sentindo comichão por dentro e um formigamento intenso de cima a baixo. Me pus de pé, trazendo junto, e a puxei pela mão até o meio da sala, me apressando em pegar o cobertor embolado numa das caixas, parte do meu arsenal de argumentação. Eu tinha ensaiado um puta discurso para convidá-la para morar comigo e, na hora h, ele se evaporou completamente da minha memória. Em vez disso, tudo o que eu consegui foi:
— Eu comprei esse cobertor bem fofinho pra você, olha. — ergui o rolo macio e o apertei nervosamente. — E eu até já lavei, tá limpinho e cheiroso. Ah, eu escolhi esse apê com o quarto virado para o poente porque eu sei que você ama ver o sol. E tem essa janela bem grande, eu acho que vai ser um bom lugar pra você ler. É. Um cantinho da leitura, só pra você. — continuei tagarelando, assistindo o sorriso de abrir lentamente enquanto tentava me lembrar da lista que eu tinha feito para impressioná-la. — A cama deve chegar essa semana, eu encomendei pela internet, as avaliações eram muito boas… — senti meu estômago gelar de ansiedade e a língua presa desenrolar sozinha. — Mas eu posso trocar se você não gostar, viu? Eu posso deixar essa casa do jeito que você quiser, , você pode mudar tudo de lugar que eu…
grudou o peito no meu e tocou meus lábios, me silenciando. Respirei fundo, ouvindo meu próprio pulso acelerado e me recuperando do monólogo gigante. Ela me beijou demorado, assentindo, e me fazendo um cafuné que me acalmava (quando era isso que ela queria). fazia o que bem entendia de mim e ela sabia.
— Você pensou mesmo nisso tudo pra mim?
— Sim. Sempre.
— Eu amei. Eu amei muito! — ela me beijou o rosto várias vezes. — Mas você esqueceu o principal…
— O que é? — arregalei os olhos. — Eu sei que não chega nem perto do tamanho da sua casa, mas me diz o que falta, eu arrumo.
— Mingyu… — prensou meus lábios novamente. — O principal é você.
— Então você vem? — sorri com os caninos que ela tanto gostava.
— Eu já estou aqui. — roçamos os narizes. — Isso é tudo que eu sempre quis.
— Um cantinho da leitura? — amoleci com o carinho.
— Uma casa. Intimidade. — ela explicou mansinho. — Eu quero acordar às duas da manhã, fazer amor com você e voltar a dormir. Eu quero sentir o seu cheiro nos lençóis e nas roupas que eu vestir. Eu quero passar a noite inteira assistindo você sonhar.
— Desculpa, eu não ouvi mais nada depois que você falou em fazer amor. — confessei.
Rimos juntos, concordando em inaugurar o apartamento e dormir a nossa primeira noite ali, debaixo da janela, sob a luz da lua. Depois de arrastar o colchão até o local escolhido (e de separar o cobertor fofinho), , já totalmente à vontade, simplesmente se despiu do vestido e das roupas íntimas, deixando-as espalhadas pela sala e se jogando na cama improvisada no chão. Entendi o convite e, enquanto tirava a blusa, uma fina chuva começou a cair, desenhando padrões de gotinhas no vidro que se repetiam na pele nua dela.
— Mingyu… — ela me chamou quando eu me deitei delicadamente sobre o corpo tatuado. — Quando eu tô com você, eu gosto até da chuva.
Não tive outro ímpeto, não havia nada que eu quisesse mais no momento, meu ser inteiro pulsou de urgência e meus lábios pediram pelos da , chocando-se sutilmente contra os dela num beijo que nos arrancou o ar.
A chuva e a lua viram a primeira vez que nos amamos na nossa casa.
***
Pus a bolsa a tiracolo ajustando a alça no ombro, pronto para sair para trabalhar, quando um envelope embaixo da porta me chamou a vista. Tinha o timbre do edifício, algo até bem elaborado, dada a simplicidade do condomínio de apartamentos. Abri, incrédulo do conteúdo, e ri para dentro, apertando os olhos. Aquele papel definitivamente iria para a nossa caixa de lembranças. Uma lembrança com um quê de vaidade minha, mas, ainda assim, uma lembrança válida. Válida e divertida.
— Fiz seu café, amor. — surgiu no fim da cozinha, início da sala, com o meu copo térmico. Ela vestia o meu moletom da Saint Peter.
Minha namorada usando minhas roupas. Um detalhe delicioso.
— O que é isso na sua mão?
— Nada. — encolhi os lábios e o papel, tentando segurar o riso. — Não é nada.
— Mingyu! Me fala! — ela insistiu, esquecendo o copo no balcão americano e aproximando-se.
— Uma notificação do síndico, mas nada com o que se preocupar. — procurei despistar minha namorada fofoqueira, sendo derrotado pela minha própria boca se torcendo em espasmos de riso.
— E o que tem de tão engraçado nela? Me deixa ver! — ficou na ponta dos pés quando eu levantei o braço e a carta, impossibilitando o acesso.
— Ok, ok. — usei a mão livre para segurar a cintura dela, ainda mantendo o papel no alto. — Não surta, tá? É só uma reclamação por barulho excessivo.
— Barulho excessivo? Quando foi que nós fizemos barulho excessivo? — o rosto dela desbotou.
— Ontem à noite, quando você derramou calda de chocolate em mim e lambeu o meu-
— Ai, meu Deus! — ela gritou, depois fechou os punhos e bateu os dois no meu peito, vermelha de vergonha e de raiva de mim. — Eu sei o que foi que eu fiz! Cala a boca, Mingyu!
— Tarde demais, a gente deveria ter calado a boca ontem, às duas da manhã… — ri, lendo as especificações da nossa “violação à lei do silêncio” no papel.
— Não tem graça! — apanhei outra vez. — A gente acabou de se mudar! O que vão pensar de mim agora?
— Vão pensar que você tem um namorado que te ama e que arde de vontade de você. — larguei a notificação num canto, segurando o rosto de e selando-lhe a testa. — E que o eco no nosso apartamento é muito grande, talvez porque ainda não tenha muitos móveis… — completei, abraçando-a.
— Não faz piada, Kim! — aceitou o abraço, abafando a raiva no meu peito. — Como eu vou colocar a cara fora do apartamento sabendo que o resto do prédio me ouviu gemer?
— Nos ouviu gemer, amor. — corrigi, descendo as mãos para a bunda dela e mudando o tom. — Você também trabalhou muito bem. Como sempre.
— Mingyu, por favor! — ela grunhiu.
— É… foi isso mesmo que você gemeu ontem. — lembrei da cara de prazer da e do corpo doce de chocolate, achando graça feito um canalha.
se soltou de mim fazendo um bico, buscando o papel que eu joguei para ler as letrinhas miúdas. Encaixei o queixo entre o ombro e o pescoço dela, abaixando um pouco para igualar a altura, e a envolvi novamente num abraço por trás, sussurrando:
— Se alguém falar qualquer coisa pra você, chame o seu segurança. Eu te protejo. — beijei a bochecha quente dela. — Sou a sua sombra, lembra?
— Não mais. — suspirou longo, também largando a notificação. — Você é o meu namorado. Que me obriga a fazer barulho excessivo. — ela riu contido. — Talvez eu precise de um advogado.
— Ao seu dispor, minha luz. — virei para mim e a beijei.
Fim?
CENA BÔNUS 2
(POV Mingyu)
Seungcheol dedilhou no violão e afinou as cordas, arrumando seu equipamento para mais uma apresentação na churrascaria que virou ponto de encontro entre nós, Wonwoo e o melhor amigo de Cheol, um rapaz mais quieto, mas tão gente boa quanto, chamado Hansol.
Que estava atrasado, por sinal. De acordo com a mensagem, ele tinha se distraído em mais uma de suas frequentes visitas ao New York Aquarium, o aquário da cidade, e perdido a noção do tempo.
— Ele vai toda semana. — Seungcheol explicou, desenrolando os cabos. — Fizeram até uma carteirinha de VIP pra ele.
— O que ele tanto faz no aquário? — ajudei a mover uma caixa de som pesada que Seungcheol apontou. — Achei que você que era o estudante de Biologia Marinha.
— Ele diz que gosta de olhar os peixes. — deu de ombros. — E quanto a mim, eu preciso mesmo dar uma melhorada nas minhas notas se quiser continuar o curso. Vou até pegar monitoria.
Liguei os pontos e pensei na amiga da , também aluna de Biologia Marinha e recém-chegada da Tailândia. Pelo visto, Seungcheol era o culpado pelo retorno precoce, mas eu achei melhor guardar a informação para mim e deixar ele sofrer sozinho a raiva de Denise por ter tido as férias interrompidas.
— Uau. — Wonwoo enfim chegou ao restaurante, que já estava bem cheio. — Esse povo todo tá aqui só pra ver o Seungcheol tocar?
— E encher a cara de carne e cachaça. — ele completou, colocando-se diante do microfone, e eu e Wonwoo nos dirigimos à nossa mesa cativa, mais nos fundos.
— A gente pede logo alguma coisa ou espera o Hansol? — perguntei quando nos sentamos.
— Já, já. — Wonwoo suspirou e espalmou as mãos sobre a mesa, nervoso. — Eu tenho que te dizer uma coisa muito importante, Min.
Wonwoo arrumou o óculos que não estava escorregando, mais uma evidência indiscutível do seu nervosismo. As mãos estavam trêmulas e suadas, segurando com toda a força do mundo um pequeno envelope.
— Meu Deus. — ameacei um escândalo. — Você vai me pedir em casamento, Jeon Wonwoo? Aqui? Numa churrascaria?
— Não. — ele se descontraiu por um breve momento. — Você sabe que se eu fosse fazer isso eu te levaria no parquinho onde a gente se conheceu.
Lembrei da cena com nostalgia. Wonwoo, um pingo de gente com quem ninguém queria brincar, sentado sozinho no balanço com suas perninhas curtas e seus óculos fundo de garrafa. Eu disse que poderia empurrá-lo se ele fizesse o mesmo por mim depois e ele aceitou. Desde então, nunca nos separamos.
E desde então, nunca chegou minha vez no balanço e o folgado nunca me empurrou de volta.
— O que você tem aí, então? — indiquei o envelope amassado.
— Um convite. — Wonwoo me entregou o volume.
— Pra aquele musical na Broadway que você está me devendo? — me agitei na cadeira antes de abrir, empolgado. — Aquele que era pra você ter me levado, mas preferiu levar a Marie Bee?
— Porque ela fica melhor que você de vestido.
— Você não sabe disso, eu tô fazendo as séries direitinho na academia. — inflei o peito. — Eu tô gordo, por acaso?
Meu melhor amigo arfou tão pesado que embaçou as lentes. Lá na frente, no palco, Cheol começou a cantar uma versão acústica de Baby, do Justin Bieber. Tinha bastante Justin Bieber no repertório dele, aliás.
— Nós não moramos mais juntos, então eu esqueci o quanto você fica sensível quando está no seu período menstrual. — Wonwoo zombou. — Abre logo.
Rasguei a ponta do envelope cor-de-rosa, obra que eu atribuí a Marie Bee. Havia, de fato, um papel que parecia um ingresso, mas além dele, havia também uma polaroide. A foto era uma imagem em escalas de cinza, toda borrada, e eu não consegui identificar o que era.
Até eu ler o texto do “ingresso”.
— B-… — balbuciei, lendo em voz alta. — “Bebê a caminho?”
Wonwoo sorriu para mim com os olhos cheios de lágrimas, ampliadas pelo grau do óculos, fungando.
— Lê do outro lado. — ele pediu e as íris ficaram inundadas.
— “Aceita ser o padrinho?” — repeti o que estava escrito e peguei a polaroide com o ultrassom, prestes a chorar também.
Encarei Wonwoo, encantado. Aquele mesmo cara, que sempre foi míope, que sempre cuidou de mim, que sempre usou minhas coisas sem pedir permissão, que sempre foi meu irmão de outra mãe, ia ser… pai.
Pai! Papai! Appa!
— Responde logo, porra! — ele bateu na mesa de leve. — Eu tô quase parindo aqui.
— Eu aceito! — me levantei e gritei, atraindo a atenção dos clientes e de Seungcheol, que esticou a cabeça, espiando de longe.
— Aceita? — Wonwoo levantou junto.
— Aceito! Eu aceito!
As pessoas imediatamente começaram a aplaudir, achando que se tratava de um noivado. Nem tinha como culpá-las. Dois marmanjos se abraçando e chorando, era exatamente o que parecia. Ainda assim, Wonwoo encarou nosso público, querendo articular uma explicação para o mal-entendido.
— Obrigado, mas não é nada disso, é que-
— Ei! — Seungcheol interrompeu, falando no microfone. — O que está acontecendo aí?
— A gente vai ter um bebê! — respondi aos berros, apontando para mim e Wonwoo.
— A gente? — Wonwoo entrou em pânico e as pessoas ao nosso redor celebraram ainda mais o “casal”.
— Ah, não, não, não! — Seungcheol parou o show. Removeu a corda do violão de si e colocou o instrumento no chão, indignado, andando até nós. — Vocês não vão ter um bebê sem mim, eu quero fazer parte disso.
Wonwoo desistiu de fazer seus esclarecimentos e, quando Cheol nos alcançou, apenas aceitou o abraço triplo. Quando nos soltamos, além de clientes muito confusos (com o que agora parecia um “trisal”), encontramos também o Hansol, parado igual a um boneco do The Sims, sem a menor ideia do que estava acontecendo:
— Eu acho melhor eu começar a fingir que não conheço vocês…
Nota da autora: Essa história faz parte do S-VERSO, um universo compartilhado por três escritoras dividindo o mesmo neurônio e protagonizadas pelos membros da Hip Hop Unit do grupo SEVENTEEN. Embarque nesse surto! Aqui vai a lista das fics de cada membro e suas respectivas malucas, digo, autoras.
Sight, my Sight (WONWOO, M-Hobi)
Shadow, my Shadow (MINGYU, Ilane CS)
Sea, my Sea (SEUNGCHEOL, Daphne M)
Secret, my Secret (HANSOL, Daphne M)
Nos vemos por aí!