Capítulo 15 — Sem Máscaras, Só Nós
Eu segurei o braço dela antes mesmo de pensar no que estava fazendo.
Era impulso. Era instinto. Era… ela.
parou, rígida, como se estivesse decidindo entre me encarar ou continuar seguindo em frente como se eu fosse só mais uma lembrança ruim. Mas ela virou. Lenta. Hesitante. E os olhos dela — aqueles olhos que eu jurava já ter aprendido a decifrar — eram uma bagunça de coisas que ela não sabia como esconder.
— O que você tá fazendo aqui? — minha voz saiu mais rouca do que eu gostaria. Ela ergueu o queixo, a armadura intacta, mas eu conhecia as rachaduras.
— Vim… — a palavra vacilou nos lábios dela, coisa rara — Vim te parabenizar. Pelo novo trabalho. — Forçou um meio sorriso que não chegou nem perto dos olhos, mostrando o vinho que estava na mão direita. — Mas vejo que você já… seguiu em frente.
A forma como ela olhou brevemente para a porta aberta atrás de mim — onde a risada abafada da Clara e do Marcos ainda ecoava — foi como levar um soco sem usar as mãos.
— A Clara é minha irmã, . — falei, baixo, para não assustar o que ainda existia entre nós. — Aquele cara na sala é o namorado dela.
— Ah. — ela soltou, tão baixinho que pareceu mais pra ela mesma do que pra mim. O rosto dela perdeu parte da cor.
Soltei devagar o braço dela, como quem solta algo frágil demais para se arriscar a quebrar.
— Vem. — pedi, em voz baixa. — Vamos conversar. Por favor.
hesitou. A velha — a que calculava todos os riscos — teria dado meia-volta na hora. Mas essa … essa que estava parada na minha frente, com o coração nos olhos mesmo que tentasse esconder… ela só assentiu, sem palavras.
Dei um passo para o lado, abrindo espaço para que ela entrasse. E, quando ela passou por mim, o perfume dela — familiar e devastador — me acertou em cheio.
Fechei a porta da sala devagar. O silêncio entre nós era tão denso que eu podia quase tocá-lo.
Não queria que a Clara e o Marcos ouvissem — ou vissem — o que estava prestes a acontecer. Então, sem soltar a mão dela, fiz um gesto com a cabeça em direção ao corredor, porque certas conversas merecem ser protegidas do resto do mundo. Mesmo que o que estivesse para acontecer ali, entre quatro paredes, fosse doer pra caralho.
— Vamos pro meu quarto. — falei, num tom que não aceitava muita discussão.
hesitou por um segundo. Só um segundo. Depois assentiu. O caminho até lá foi curto, mas parecia que cada passo pesava toneladas.
Empurrei a porta e entrei primeiro, abrindo espaço pra ela passar. O quarto estava do jeito que sempre foi: simples, pequeno, meio bagunçado — mas cheio de pedaços meus: fotos pregadas na parede, um sketchbook aberto na escrivaninha, a cama desfeita e uma camisa jogada na cadeira.
entrou devagar e olhou tudo. Como se absorvesse cada detalhe. Como se, pela primeira vez, estivesse realmente vendo quem eu era fora das gravatas, fora das paredes de vidro da empresa.
Ela parou diante da parede de fotos. Fotos de família. Eu pequeno na praia. Clara de chapéu de aniversário. Meus pais sorrindo em algum Natal antigo. Eu fiquei ali, encostado na porta, só observando. Deixando ela ver.
Sem máscaras. Sem cenário.
virou lentamente para mim. E pela primeira vez naquela noite, ela parecia… perdida.
— Você… — ela começou, a voz rouca — …você tem tanto aqui. Tanta vida. Tanta… história.
Dei um passo pra mais perto dela.
— E você, ? — perguntei, baixo. — O que você tem?
Ela piscou rápido. Como se quisesse afastar algo que ameaçava transbordar.
— Não vem aqui só pra fugir, . — insisti, minha voz saindo mais firme agora. — Você veio porque precisa dizer algo. Então diz. Eu tô aqui. Eu aguento.
Ela fechou os olhos com força. Respirou fundo. Quando abriu, havia uma dor crua brilhando neles.
— Eu sou uma covarde. — sussurrou. — Eu… — a voz falhou e ela engoliu em seco — eu estraguei tudo porque não sei amar. Porque amar, pra mim… sempre significou perder.
Fiquei em silêncio. Deixei ela falar. Deixei ela se despedaçar. Porque às vezes… é só assim que a gente consegue juntar os pedaços de volta.
— Meu pai… — ela começou, o queixo tremendo — ele foi embora. Me deixou. Deixou a minha mãe. Saiu daquela casa como se a gente fosse nada.
se abraçou, como se ainda sentisse o frio daquele dia.
— E minha mãe… — continuou, a voz um fiapo — ela nunca me abraçou pra dizer que ia ficar tudo bem. Ela me ensinou a ser dura. A desconfiar. A não precisar de ninguém. — Fechou os olhos de novo. — Porque depender de alguém… significa dar a eles o poder de te destruir.
— Então eu cresci assim. Me armando. Me blindando. Construindo um mundo onde ninguém podia me alcançar.
— Até você. — ela disse, num sussurro quebrado.
O peito doía só de vê-la assim.
— Você me viu. Você… me desarmou. E eu não soube lidar. — ela apertou as mãos contra o peito, como se quisesse se segurar. — Então eu fiz o que sempre fiz. Empurrei. Fingi que não importava. Fingi que era só mais um erro que podia consertar com silêncio.
As lágrimas desciam agora. Silenciosas. Sem drama. Só… verdade.
Dei os últimos passos e a puxei pra mim, sem pedir permissão. Ela desabou nos meus braços, o rosto enterrado no meu peito, os ombros sacudindo com o choro contido por anos — décadas.
Passei uma mão pelos cachos dela, sentindo a textura suave, apertando-a contra mim como se pudesse, de alguma forma, protegê-la de tudo que já doeu.
No meio do meu quarto bagunçado. No meio de todos os medos dela. No meio de tudo que nunca foi dito.
Depois de um tempo — minutos, talvez horas — ela ergueu o rosto, os olhos vermelhos e a expressão vulnerável de um jeito que eu nunca tinha visto.
— Me desculpa. — ela sussurrou, a voz embargada. — Por tudo. Pelo medo. Pela covardia. Por ter te ferido quando tudo que eu queria… — a voz quebrou de novo — era te amar do jeito certo.
Segurei o rosto dela entre as mãos, forçando-a a me olhar.
— Você ainda quer tentar? — perguntei, baixo, rouco, sentindo cada palavra nascer direto do peito.
fechou os olhos, e uma nova lágrima rolou, mas quando abriu… havia algo novo ali. Algo mais forte que o medo.
— Quero. — ela disse, sem hesitar dessa vez.
Mas não foi só um beijo. Foi um mergulho. Uma rendição.
Beijei como quem volta pra casa depois de se perder por tempo demais. Como se, naquele toque, eu pudesse apagar cada palavra não dita, cada medo que a afastou de mim.
Os lábios dela tremiam contra os meus no começo — hesitantes, como se ainda lutassem contra a própria vontade. Mas quando suas mãos se agarraram aos meus ombros, como se precisassem de algo para se ancorar, eu soube.
Ela estava ali. Inteira. Pra mim.
Minha mão subiu pela curva delicada das costas dela, puxando-a ainda mais para perto, sentindo o calor, a entrega. se encaixou em mim como se nunca tivesse pertencido a outro lugar.
O beijo se aprofundou, urgente e doce ao mesmo tempo, como se dissesse tudo que a boca dela sempre teve medo de falar.
Era amor. Cru, vulnerável, inegável.
Sem máscaras, sem defesas.
O beijo foi se desfazendo devagar, como quem ainda tentava se manter preso ao momento por mais um segundo, mais um suspiro, mais uma batida de coração.
Nossas testas se encostaram. A respiração dela batia quente contra a minha pele. E então, com a voz rouca e embargada, ela disse:
— Eu amo você, . — Aquelas palavras saíram baixas, mas carregadas de uma força quase física. — Eu amo você… muito. Mais do que eu sei lidar. Mais do que eu pensei que fosse capaz de amar alguém.
Fechei os olhos, sentindo o peso e a leveza que vinham junto com aquela confissão. Porque vindo dela, que ergueu muralhas tão altas e paredes tão frias, aquelas três palavras valiam mais do que qualquer promessa no mundo.
— Você não tem ideia… — minha voz saiu rouca, falhada — não tem ideia do quanto eu esperei pra ouvir isso de você. Eu te amo.
Segurei o rosto dela entre as mãos, com uma ternura desesperada, como quem segura algo precioso demais para deixar escapar.
— Não importa o tempo que leve — continuei, os olhos cravados nos dela — eu vou passar o resto da vida te provando que amor não é abandono. Não é dor. Não é perda. É isso. — beijei a testa dela. — É a gente. Aqui.
soltou um soluço baixo, se permitindo se aninhar contra mim, como se, finalmente, estivesse aceitando que podia descansar. Que podia confiar. Abracei-a forte, sentindo seu cheiro, sua pele quente, o tremor leve que ainda percorria seu corpo.
E, agora, sabia disso também.
Terminamos o nosso abraço, ajeitou a blusa com discrição, passando a mão pelos próprios cabelos, enquanto eu apenas observava — ainda meio zonzo com tudo o que tínhamos dito e sentido minutos atrás.
Ela deu um passo em direção à porta, mas hesitou. Olhou para mim por cima do ombro, os olhos escuros brilhando com uma mistura de nervosismo e doçura que era rara de se ver nela.
— Eles vão te amar. — murmurei, caminhando até ela, com um sorriso que eu mal conseguia segurar.
Ela então parou de novo. Respirou fundo. E antes que eu pudesse abrir a porta, a mão dela tocou meu braço, me detendo.
— … — disse, hesitante, baixando um pouco o tom de voz — Antes de… antes de eu sair dessa porta e me apresentar pra sua família… — ela mordeu de leve o lábio inferior, procurando as palavras — me fala um pouco sobre
ela. Sobre vocês.
Eu pisquei, surpreso pela pergunta tão simples e tão… íntima.
— A Clara? — sorri de leve, apoiando o ombro na parede, só pra me manter em pé enquanto olhava pra ela. — Minha melhor amiga antes de ser minha irmã. Vive me infernizando, me provocando… mas é metade do que me mantém são nesse mundo. É como… — procurei uma comparação à altura — como uma âncora. Não importa quão perdido eu esteja, ela me puxa de volta.
abaixou os olhos por um segundo, como quem grava algo precioso.
— Eu quero conhecê-la. — murmurou, tão baixo que parecia um pedido. — Quero conhecer tudo. — levantou o olhar e, por um segundo, não havia muralhas ali, só a vulnerabilidade crua dela. — Não só… — ela respirou fundo — …não só o seu corpo, . Eu quero conhecer cada partezinha da sua vida. Cada pedaço que você deixou escondido até agora.
Meu peito apertou. De um jeito bom. De um jeito que só ela conseguia. Dei um passo para mais perto, segurando o rosto dela entre minhas mãos com delicadeza.
— Então vem. — sorri, encostando minha testa na dela por um instante. — Deixa eu te apresentar direito pra tudo que é meu.
fechou os olhos por um segundo, se permitindo apenas sentir. Depois, assentiu, com aquele sorrisinho que era só dela — metade arrogante, metade vulnerável.
Abri a porta do quarto, e o cheiro de pizza e risadas invadiu o corredor.
— Sobrevivência básica: não estranha o jeito da Clara. — sussurrei no ouvido dela, enquanto saíamos do quarto
Quando chegamos à sala, Clara estava de costas para nós, terminando de colocar os pratos na mesa improvisada da cozinha. Marcos estava do outro lado, tentando abrir uma garrafa de refrigerante como se fosse uma operação cirúrgica.
Foi Clara quem nos viu primeiro. Ela se virou, deu uma olhada rápida — e quase deixou o prato cair.
— Opa! — soltou, com um sorrisão de quem já estava armando alguma. — Temos visita. Oficialmente, agora?
Ergueu uma sobrancelha para mim de um jeito tão óbvio que eu quis cavar um buraco no chão e me esconder.
— Boa noite. — disse, tão educada quanto elegante, estendendo a mão para a Clara.
Minha irmã aceitou o cumprimento, mas com aquele brilho travesso nos olhos.
— Clara. E você… bom, você é a , né? — riu. — Já ouvi muita coisa sobre você. Tipo…
muita mesmo.
Eu pigarreei, tentando abafar o constrangimento. Marcos, coitado, parecia não saber se ria ou se mantinha neutro para não apanhar de ninguém.
— Espero que tenha ouvido as partes boas. — respondeu, com um sorriso que surpreendeu até a mim: genuíno, leve, com aquele toque afiado que só ela tinha.
Clara riu, já se sentando à mesa como se nada fosse mais natural.
— Algumas partes boas… outras traumatizantes. — provocou, lançando um olhar significativo pra mim. — Mas relaxa, eu também sou ótima em pegar no pé do .
— Já percebi. — respondeu, os lábios curvando em um sorriso divertido.
Sentamos à mesa e o jantar começou meio atrapalhado — Marcos tentando servir as fatias de pizza, Clara derrubando guardanapos, e eu tentando impedir que minha irmã transformasse aquilo num circo, mas não adiantou muito.
— Então, já posso saber? — Clara perguntou, com aquele ar de quem estava apenas esperando a hora certa de atacar. — Vocês tão namorando oficialmente ou a gente ainda chama de “amizade colorida 2.0”?
Eu abri a boca para desconversar, enrolar, sair pela tangente como sempre. Mas antes que eu pudesse emitir qualquer som, — impecável, segura e mais linda do que nunca — cruzou as pernas com elegância e disse:
— Estamos namorando. — como quem afirma uma sentença sem medo.
Eu pisquei, pego totalmente desprevenido. Clara deu um gritinho de comemoração, batendo palmas como uma criança.
— Eu sabia! — exclamou, quase derrubando o copo de refrigerante. — Marcos, anota aí: eu
sabia!
— Eu… tô anotando. — respondeu Marcos, rindo baixo, provavelmente aceitando que naquela casa, era mais seguro só seguir o fluxo.
Enquanto Clara comemorava como se tivesse ganhado na loteria, eu olhei para . Ela só me encarava, calma, tranquila, como se dizer aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
E naquele olhar dela — sem muralhas, sem máscara — eu entendi. Ela não só queria estar ali. Ela escolheu estar ali. Conosco. Comigo.
A noite seguiu com pizza, piadas ruins e lembranças de infância que a Clara insistia em jogar na roda, só pra me envergonhar mais a cada fatia devorada.
— Vocês sabiam que o tinha um ursinho chamado Sr. Fofura até os doze anos? — Clara disparou, com a boca cheia de pizza.
— Clara! — reclamei, jogando um guardanapo nela.
, sentada ao meu lado, soltou uma gargalhada verdadeira — aquela que eu raramente ouvia.
— Sr. Fofura? — ela repetiu, ainda rindo, virando-se para mim com um brilho nos olhos que eu não via há muito tempo. — Isso explica tanta coisa…
— Traição dentro da própria casa. — murmurei, fingindo indignação enquanto pegava outra fatia de calabresa.
Marcos riu junto, completamente à vontade. apoiou o cotovelo na mesa, inclinando o queixo na mão, e me olhou como quem olha um segredo que acabou de desvendar.
— Eu gosto disso. — disse, num tom baixo que talvez só eu tenha escutado. — De ver você assim. Rindo. Relaxado. Sem o peso do mundo nos ombros.
— Isso aqui é quem eu sou de verdade. — falei, de volta, sem filtros.
Ela sorriu pequeno, aquele sorriso de canto que dizia tudo sem precisar de tradução. Marcos levantou a taça de refrigerante como se fosse um brinde improvisado:
— Então… a nós! — disse, meio encabulado, mas sincero.
— A nós. — repetimos, quase em uníssono, rindo, brindando com copos de vidro e latas amassadas de refrigerante.
E eu… eu só conseguia pensar em como era fácil amá-la daquele jeito.
Talvez, pela primeira vez, eu estivesse vendo a que ela sempre guardou — e ela estivesse, finalmente, se permitindo ser vista.
Tão lindo que doía, mas doía do jeito certo.
O jantar já tinha virado mais conversa do que comida. As risadas diminuíram, a luz amarelada da cozinha deixava tudo com um clima aconchegante, e eu sabia que era hora de encerrar a noite. Pelo menos, para os convidados.
Empurrei a cadeira para trás e olhei para , que ainda segurava a mão entrelaçada à minha.
— Vamos? — perguntei, com um sorriso leve. Ela assentiu, ajeitando discretamente a bolsa no colo. — Vou te levar em casa. — completei, já me levantando.
Foi aí que Clara soltou uma risada alta e debochada, segurando a barriga.
— Levar? — perguntou, ainda rindo. — Você vai pegar carona, isso sim! O carro é dela, gênio.
Marcos, que tentava se conter, lançou um olhar cúmplice para Clara e riu junto, com aquela risadinha maliciosa que só tornava a cena mais óbvia. ergueu uma sobrancelha, divertida, e eu revirei os olhos, cruzando os braços.
— Vocês são insuportáveis. — murmurei, fingindo irritação, o que só fez eles rirem mais.
apenas se levantou, com aquela compostura elegante de sempre, como se estivesse acima daquela bagunça toda — mas o sorriso escondido no canto da boca a entregava.
— Vamos. — disse ela, olhando pra mim de um jeito que só nós entendíamos agora.
Peguei a chave do carro que ela estendeu pra mim e seguimos até a rua, ela tinha deixado estacionado em frente a nossa casa. Clara ainda soltava uns “boa sorte, hein!” entre risinhos enquanto fechava a porta.
No carro, a atmosfera mudou. O silêncio entre nós era confortável. Expectante. colocou uma playlist baixa no celular — jazz suave — e eu dirigi pelas ruas adormecidas da cidade, uma mão no volante, a outra sobre a perna dela, num toque discreto, mas cheio de significado.
Quando estacionei em frente ao prédio dela, olhei para a fachada iluminada, depois para ela.
— Eu não tô pronto pra te deixar ir ainda. — confessei, a voz rouca de tão sincera.
tirou o cinto devagar, se inclinou na minha direção e sussurrou:
Sem pensar duas vezes, desliguei o motor e seguimos para o apartamento dela. Nenhum dos dois precisava dizer nada — estava escrito na maneira como nossas mãos se encontraram no elevador, na forma como ela encostou a cabeça no meu ombro no caminho até a cobertura.
A porta da cobertura se fechou atrás de nós com um clique suave, abafando o mundo lá fora.
Ficamos ali, parados no corredor iluminado pela luz baixa. Olhando um para o outro como se, de repente, não soubéssemos como atravessar o pequeno espaço que nos separava. Ou talvez… soubéssemos bem demais.
deu um passo na minha direção. Pequeno, quase imperceptível, mas foi o suficiente para quebrar o feitiço.
Minhas mãos encontraram seu rosto, moldando as linhas suaves que eu já conhecia tão bem. E, dessa vez, ela não recuou. Não levantou muralhas. Apenas fechou os olhos sob meu toque e se entregou.
Aproximei meu rosto do dela e, por um segundo, apenas respirei seu cheiro — aquela mistura inconfundível de sabonete caro e algo que era só dela. Meu coração batia forte, rápido, urgente.
— … — ela sussurrou, a voz rouca de emoção.
Não como quem toma. Não como quem rouba.
Beijei como quem agradece.
Foi um beijo lento, profundo, carregado de tudo que a gente tinha guardado — a saudade, o medo, o amor recém-confessado. Minhas mãos deslizaram pela sua cintura, sentindo a curva quente do corpo dela se moldar ao meu. Ela se pendurou no meu pescoço, puxando-me para mais perto, como se tivesse medo que eu escapasse de novo.
Entre beijos, tropeçamos rindo baixinho até o quarto.
se sentou na beira da cama, puxando-me pela camisa, desabotoando cada botão com uma delicadeza quase reverente. Como se estivesse, de fato, me descobrindo pela primeira vez.
Eu a observei, hipnotizado, enquanto ela tirava os próprios sapatos, a blusa branca simples deslizando pelos braços até cair no chão, suas roupas íntimas tendo o mesmo destino. O cabelo solto, bagunçado, emoldurava o rosto dela de um jeito tão bonito…
Me ajoelhei na frente dela, com as mãos firmes em suas coxas, e beijei seu ventre exposto, seu estômago, seu coração. Sentia cada arrepio dela sob meus lábios. Cada suspiro dela se misturava ao meu.
Desci os beijos até sua boceta, com a reverência de quem sabe exatamente o valor do que tem nas mãos.
se apoiou para trás, os dedos cravando nos lençóis, o corpo arqueando na minha direção como se fosse impossível resistir. Seus gemidos, primeiro contidos, logo se tornaram mais audíveis, mais desesperados, à medida que ela se rendia ao que sentia — a nós.
— , eu quero tanto te chupar… — murmurei, com a voz rouca de desejo.
Os olhos dela, brilhando com fome e entrega, encontraram os meus. E, sem hesitar, se moveu, posicionando-se sobre mim, as coxas firmes ao redor da minha cabeça, o perfume dela me deixando bêbado antes mesmo do primeiro toque.
Quando ela abriu as pernas, eu mergulhei fundo, faminto.
Lambi sua boceta com a devoção de quem tinha encontrado a melhor parte do mundo ali. Cada gemido que escapou dos lábios dela era como combustível correndo pelas minhas veias, me fazendo querer mais, me fazer melhor.
— … — ela gemeu, arrastado, a voz embargada pela necessidade. — Mais… mais rápido, porra!
O sorriso que se formou em meus lábios se perdeu entre suas curvas.
Acelerei os movimentos, focando em seu clitoris, explorando cada reação, cada tremor. se movia sobre mim, se esfregando, procurando mais, buscando seu próprio ritmo, enquanto eu a incentivava, a segurava, a puxava para mais perto da minha cara, se é que aquilo era possível.
Meus dedos deslizaram para dentro de sua boceta no mesmo compasso da minha língua em seu clítoris, aprofundando o prazer, arrancando gemidos ainda mais altos — gemidos que ela não tentava mais conter.
Ela se entregava inteira. E eu a levava até o limite, com gosto, com fome, com amor.
— Meu Deus, eu tô quase… — Ela falou, enquanto gemia alto. Cada suspiro, cada rebolada dela contra a minha boca, cada súplica rouca, era como escrever na pele dela que ela era minha — e eu era dela.
Quando senti os tremores intensos atravessando o corpo dela, diminuí o ritmo, prolongando a onda de prazer que a dominava, lambendo sua boceta com mais suavidade até senti-la quase desabar sobre mim.
ofegava, os olhos fechados, o corpo ainda em espasmos leves, as coxas tremendo ao redor da minha cabeça. Um sorriso satisfeito se formou nos meus lábios antes de, com cuidado, segurá-la pela cintura e guiá-la de volta para a cama.
Subi devagar, beijando sua barriga, passando pelos seus seios, onde eu suguei rapidamente seu mamilo direito, até finalmente encontrar seu rosto. abriu os olhos, ainda turvos de prazer, e sorriu — um sorriso pequeno, terno, verdadeiro. Um sorriso só meu.
Beijei seu queixo, a linha do maxilar, cada pedacinho como se estivesse mapeando seu corpo de novo. Quando nossas bocas finalmente se encontraram, o beijo foi calmo, diferente do primeiro. Um beijo de adoração, de reverência.
Ela me puxou para mais perto com as mãos trêmulas, como se não quisesse — como se não pudesse — me deixar afastar nem um centímetro. Seus dedos entrelaçaram nos fios do meu cabelo, e eu senti seu corpo ainda quente sob o meu.
— … — ela murmurou, a voz rouca. — Eu senti tanto a sua falta.
Parei o beijo apenas o suficiente para encostar minha testa na dela.
— Eu também. — sussurrei, olhando nos olhos dela. — Muito.
fechou os olhos por um instante, como se absorvesse minhas palavras. Como se quisesse gravá-las sob a pele.
Ainda colados, nossos corpos buscaram naturalmente mais.
me puxou para si, com as pernas envolvendo minha cintura, um pedido silencioso que eu entendi sem precisar de palavras. Nossos olhos se encontraram — e naquele instante, havia ali uma certeza que nunca existiu antes.
Eu me alinhei a ela devagar, sentindo a ponta do meu pau roçar contra a entrada de sua boceta, e respirei fundo, como se pudesse guardar aquele momento para sempre. Com cuidado, sem pressa, a penetrei, deslizando para dentro dela de forma lenta, profunda, reverente.
soltou um suspiro rouco, arqueando o corpo contra o meu, recebendo-me como se finalmente estivéssemos ocupando o espaço que sempre foi reservado para nós.
Ficamos assim, unidos, apenas sentindo. O calor, o pulsar, o coração dela batendo forte sob o meu peito.
Eu comecei a me mover, lento, ritmado, cada estocada mais uma jura silenciosa, mais uma promessa entre nossos corpos. me acompanhava, os olhos fechados primeiro, depois abertos, fixos em mim, como se estivesse tentando decorar cada traço, cada sensação. Minhas mãos deslizavam por suas costas, seus quadris, sua cintura, como se eu pudesse gravá-la em minhas memórias, tatuá-la em mim.
— Olha pra mim,
amor… — pedi, com a voz rouca.
abriu os olhos de novo, tão abertos, tão vulneráveis, tão cheios de amor que me atravessaram como uma lâmina suave.
— Eu tô aqui. — ela sussurrou, com um sorriso trêmulo, como se prometesse mais do que apenas presença. — Sempre estive.
Acariciei seu rosto com as costas dos dedos, sem parar de me mover dentro dela, sentindo cada gemido, cada suspiro arrancado pela minha pele tocando a dela.
— Eu não vou deixar você sozinha. Nunca. — falei contra sua boca, selando a promessa com um beijo terno, desesperado, que misturava tudo que a gente era e tudo que a gente ainda queria ser.
soltou um gemido baixo, os quadris se moldando ao meu ritmo, os olhos cravados nos meus, sem fugir.
— Me ama assim… — ela pediu, quase num choro, a voz falhando entre um suspiro e outro. — Sem medo. Sem parar.
— Eu já amo. — respondi, afundando o rosto no pescoço dela, respirando seu cheiro, seu amor, sua entrega. — Sempre amei.
Aumentei o ritmo aos poucos, sentindo o prazer se construir entre nós com a mesma intensidade de tudo que sentíamos, de tudo que nunca foi dito, mas que agora estava ali, estampado em cada toque, em cada gemido abafado contra a pele do outro.
sussurrava meu nome entre os dentes, como se fosse uma prece. E eu… eu gemia baixinho contra sua boca, perdido nela, perdido naquele amor que era tão grande que parecia impossível caber só dentro de nós dois.
Quando ela gozou, foi lindo. Seu corpo inteiro estremeceu contra o meu, como se cada célula estivesse explodindo de prazer. jogou a cabeça para trás, os lábios entreabertos, e gemeu meu nome —
““ — num som sôfrego, rasgado, carregado de entrega e êxtase. Era como se, naquele gemido, ela despejasse tudo: o prazer, o amor, o medo, a entrega que ela nunca tinha permitido a ninguém.
Senti meu próprio clímax se aproximando rápido, avassalador. Foi então que , ainda ofegante, puxou meu rosto com as duas mãos, os olhos brilhando de desejo e algo mais, algo só nosso.
— Goza na minha boca… — pediu, num sussurro rouco, cheio de entrega.
Meu corpo inteiro reagiu. Saí de dentro de sua boceta com cuidado, tremendo, e ela se ajeitou rapidamente, se ajoelhando à minha frente, tão linda, tão minha, olhando pra mim como se eu fosse tudo.
Segurei seu queixo com uma das mãos, tentando prolongar o momento só um pouquinho mais, mas era impossível. Bastou o calor da boca dela se abrindo, a língua úmida tocando meu pau, para que eu me desmanchasse ali, gemendo seu nome, entregando tudo o que eu era.
Ela engoliu tudo, cada parte de mim com a mesma devoção com que me amava — sem medo, sem reservas.
Quando terminei, encostou a testa na minha, os olhos fechados, nossas respirações misturadas, nossos corpos ainda trêmulos, mas tão completos como nunca tinham sido antes.
— … — ela sussurrou, a voz rouca pelo prazer. — Você tem ideia do que acabou de fazer comigo?
Sorri contra seus cabelos, beijando o topo da sua cabeça.
— Se for o mesmo que você fez comigo… — murmurei, a voz ainda falha — …então eu nunca mais vou ser o mesmo.
Ela soltou um riso baixinho, sem forças para mais, e eu senti seus lábios tocarem meu peito, bem sobre onde meu coração batia desgovernado.
Ficamos assim. Só respirando juntos. Só sentindo. Até que, no meio do silêncio confortável, ouvi sua voz de novo — suave, hesitante, mas tão sincera que me desmontou:
Passei a mão em seus cabelos cacheados, afastando-os do rosto dela, antes de responder:
ergueu os olhos até encontrar os meus. Brilhavam de um jeito que era só dela, só nosso.
— Não desiste de mim. — pediu. — Mesmo quando eu for difícil. Mesmo quando eu errar. Mesmo quando eu esquecer que posso ser amada.
Apertei-a contra mim, sentindo a garganta fechar com a intensidade do que ela pedia — do que ela se permitia sentir.
— Nunca. — prometi, a voz quase quebrada. — Eu não desisto de você, . Nunca.
E ali, naquele quarto, naquela cama bagunçada, naquele pedaço pequeno de mundo só nosso… Eu soube que, finalmente, ambos tínhamos encontrado o que sempre buscamos sem saber: um lar. Um no outro.
— … — ela chamou, com a voz mais inocente do mundo, deslizando uma perna por cima da minha cintura.
— Hm? — murmurei, já desconfiando da travessura. Ela sorriu. Aquele sorriso devastador.
— Acho que a gente merece um segundo round… — sussurrou no meu ouvido, a mão descendo perigosamente pela minha barriga.
Soltei uma risada rouca, puxando-a pela cintura, invertendo nossas posições de um jeito que arrancou um gritinho surpreso dela.
—
Princesa… — murmurei contra sua boca, antes de beijá-la com fome renovada — …você vai acabar me matando.
— Que seja uma morte maravilhosa. — ela riu contra meus lábios, entrelaçando as pernas nas minhas costas, puxando-me para ela sem nenhuma vergonha.
E eu… eu mergulhei nela de novo.
Na vida que, finalmente, era nossa.
E, pela primeira vez, o mundo lá fora podia esperar.
👠💻
A noite anterior tinha sido um fio interminável de beijos, carícias e confissões sussurradas. Depois que nossos corpos finalmente se acalmaram, me puxou para o banheiro, onde dividimos um banho quente, lento, cheio de toques que não queriam dizer adeus à pele do outro.
Entre risos abafados e beijos encharcados de espuma, lavei seus cachos com uma delicadeza que arrancou dela um olhar tão doce que meu coração quase se partiu. Ela retribuiu, passando os dedos com calma pelo meu cabelo, como se estivesse tentando memorizar cada traço meu com as mãos.
Voltamos para a cama ainda molhados, apenas enrolados nos lençóis, grudados, o corpo dela colado ao meu de um jeito que parecia feito para caber ali. Dormimos entrelaçados, como se o mundo inteiro tivesse se resumido àquele colchão.
E, pela primeira vez, eu dormi em paz.
Acordei com o calor do sol filtrado pelas cortinas batendo de leve no meu rosto.
Mas não foi isso que me despertou. Foi o toque suave dos dedos dela passeando pelo meu peito, seguido de um sussurro rouco no meu ouvido:
— … — a voz dela arranhava, preguiçosa, deliciosa — …quero você de novo.
Abri os olhos devagar, dando de cara com a mulher mais linda que já tinha passado pelos meus sonhos — e agora, pela minha realidade. estava em cima de mim, os cabelos cacheados emoldurando seu rosto ainda amassado de sono, e um sorriso preguiçoso que só ela sabia dar.
— Você não cansa de mim? — brinquei, passando as mãos pela sua cintura nua.
— Nunca. — respondeu, antes de me beijar devagar, com uma doçura que desmontou qualquer tentativa de resistir.
Fizemos amor de novo, mais lento dessa vez, com uma ternura que me deixou sem fôlego. Cada toque dela dizia: “Eu fico.” E cada suspiro meu respondia: “Eu quero que fique.”
Depois, rindo como adolescentes que sabem que quebraram todas as regras, voltamos para o chuveiro.
Outra desculpa para não desgrudar.
Ela me lavava com as mãos leves, brincava com os respingos, passava os dedos molhados pelas minhas costas como se pudesse redesenhar meu contorno só para ela. Eu fazia o mesmo, rindo das cócegas, beijando a ponta do nariz dela, o ombro, a clavícula. Era tudo tão simples. Tão íntimo. Tão
nosso.
Minutos depois, estávamos na cozinha impecavelmente branca e moderna da cobertura da . O mármore brilhava sob nossos pés descalços, o aroma de café caro se misturava ao perfume suave dela, e a luz natural da manhã filtrava pelas enormes janelas de vidro que cercavam o apartamento.
, usando uma camiseta minha que tinha ficado lá — e nada mais —, tentava, com uma expressão concentrada e divertida, operar a máquina de café automática que, apesar de caríssima, parecia exigir um diploma para ser manuseada.
— Isso aqui é de qual era? — ela resmungou, batendo de leve na máquina, sem muita paciência. — Revolução Industrial?
Soltei uma gargalhada, cortando frutas com uma habilidade que ela, claramente, não dominava.
— É só tecnológica demais pra quem está acostumada a mandar fazer café perfeito, Srta. . — brinquei, piscando.
— Tem personalidade de sucata chique. — retrucou, rindo baixo, antes de aceitar a xícara que estendi para ela.
Sentamos à pequena ilha de mármore, nossos joelhos se tocando de vez em quando, dividindo café, torradas e pedaços de frutas frescas que admitiu não ter comprado — tinha sido a governanta, claro.
A simplicidade daquele momento — mesmo em meio ao luxo — era o que fazia tudo mais perfeito.
Foi no meio de uma mordida num pedaço de mamão que ela soltou, de forma tão casual que quase passou despercebida:
— A gente podia… viajar no próximo feriado.
Pisquei, surpreso, o garfo pairando no ar por um segundo.
— É. — ela deu de ombros, o tom despreocupado, mas o brilho nos olhos a entregando. — Um lugar só nosso. Onde ninguém conheça a CEO nem o certinho. Só… nós dois.
Tão diferente de tudo o que já vivi com ela — ou com qualquer outra pessoa. Dei um sorriso torto, sentindo meu coração bater mais rápido só de imaginar.
— Então vamos. — murmurei, deslizando a mão sobre a dela, entrelaçando nossos dedos. — Vamos pra qualquer lugar que tenha você.
desviou o olhar por um segundo, como quem luta contra um sorriso bobo. Um sorriso lindo, meio tímido, meio atrevido — 100% .
E eu soube, naquele instante, com a mesma certeza de quem sente o sol esquentando a pele depois de uma longa tempestade:
Continua
Nota da Autora: Gente… eu não sei nem como começar essa nota sem surtar porque… ELES. FINALMENTE. ESTÃO. JUNTOS!!! 🥹🔥 Depois de tanta fuga, tanta tensão, tanto desencontro, tanto orgulho, tanto medo… Arthur e Alice, agora, são eles. Sem máscaras. Sem desculpas. Só amor, só entrega, só pertencimento.
E olha… se ficou alguma dúvida de quão absurdamente apaixonado o Arthur é pela Alice, esse capítulo tratou de deixar isso ESCANCARADO! E, sim, ela também ama ele desse jeitinho: inteiro, intenso e sem volta.
E pra deixar mais especial? Tivemos esse encontro absolutamente tudo da Clara com a Alice! Um encontro que entregou tudo: aquele jeitinho debochado da Clara, aquele clima de “agora a família tá completa”, aquele alívio cômico que a gente AMA e… aquele selo oficial de que eles não tão mais brincando de amorzinho escondido. Eles são um casal.
E, sim, meus surtos, minhas queridas e meus queridos… estamos oficialmente entrando na reta final da fanfic. É aquele momento agridoce de pensar “meu Deus, eles estão vivendo o que a gente tanto torceu…” mas também perceber que o fim tá logo ali, acenando. Segura na minha mão, respira fundo, que daqui pra frente é emoção atrás de emoção. Porque quando o amor vence… a vida vem e bagunça tudo. 👀
Obrigada por estarem aqui, lendo, torcendo, surtando comigo. Essa história só é tão especial porque vocês fazem parte dela também. 💙
Nos vemos no próximo capítulo, porque, meus amores… AINDA TEM MAIS! 🔥