Esta história pertence ao Projeto Adote Uma Ideia

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Ideia #227

Maraíza

// A Ideia
Seria um clichê as avessas, por assim dizer, narrado pelo PP. Uma CEO poderosa, bem desapegada, que já teve vários peguetes, se apaixona pelo novo secretário. Ela não costuma passar muito tempo com secretários(as) e o pessoal do RH mandou o PP para ficar enquanto eles tentavam contratar a terceira secretária; o ex chefe do PP promete que se ele não for demitido pela CEO ganharia um aumento. No começo ela é bem carrasco e ele sempre comenta com a irmã mais nova (que faz faculdade) o quanto a detesta. Ele se mostra ser bem tímido, mas os pensamentos dele seriam bem engraçados. O pp sente muito atração pela chefe, mas nunca admite. O momento que eles acabam se conciliando no trabalho é quando ele salva ela de uma reunião com a mãe, a quem ela tem um relacionamento difícil. Em um sábado à noite, ela liga pra ele pra que ‘salve’ ela de um date ruim. O pp fica irritado, porque tinha planejado passar à noite tentando quebrar um record de um jogo, mas mesmo assim vai com medo de perder o emprego. A chefe passa a viagem de carro reclamando porque o motorista não a respondia, que o encontro era ruim, e o secretário acaba surtando. Os dois brigam calorosamente e se beijam. Passam a noite juntos. De manhã, a chefe tenta oferecer uma boa proposta de demissão porque acha que não há como eles trabalharem juntos depois disso, mas ele nega. Diz que não irá acontecer de novo. Mas acontece várias vezes, principalmente no escritório. Eles acabam saindo juntos escondidos várias vezes. Nesse meio tempo, tem uma série de entrevistas com secretárias, mas a CEO não está interessada. Eles parecem estar realmente apaixonados, até que vaza uma foto deles juntos. Ela nega e diz que nunca ficaria com um homem quanto o PP na frente de alguns funcionários. O pp escuta e passa a ser muito frio com ela. Dias depois pede demissão e diz que ouviu o que ela disse. A briga esquenta e ele acaba saindo da empresa irritado. Passa-se algumas semanas e cai a ficha da PP que ela já estava apaixonada a mais tempo do que acreditava. Ela aparece na casa dele e acha que a irmã do PP era a nova namorada dele. O pp esclarece as coisas e eles admitem que gostam um do outro. A CEO chama ele pra trabalhar de novo, mas o PP nega porque não quer misturar as coisas. Ele gosta muito de desenhar e acabar entrando na carreira de ilustrador de quadrinhos.

// Sugestões
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// Notas
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Esta história não possui capas prévias (:

Sem curiosidades para essa história no momento!

Segredo de Escritório

Capítulo 9: O Romance e a Ruptura

  Cheguei em casa no fim da tarde, com a cabeça fervendo depois de um dia daqueles no escritório. Tudo o que eu queria era tomar um banho, comer qualquer coisa decente e esquecer que e-mails existiam. Mas assim que entrei, encontrei Clara esparramada no sofá, cabelo preso num coque frouxo, uma tigela de pipoca no colo e o notebook apoiado nas pernas. A trilha sonora de algum dorama romântico ecoava pela sala.
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  — Achei que você tivesse prova essa semana. — joguei minha mochila num canto, já tirando os sapatos. Ela levantou os olhos, ajeitando os óculos no rosto.
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  — Tenho. Amanhã. — respondeu, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
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  — E tá assistindo a dorama por quê?
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  — Prova de bioquímica. Eu já aceitei que vou morrer mesmo. — Sorri de canto e me joguei no sofá ao lado dela, pegando um punhado da pipoca.
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  — Você está exagerando. Você é inteligente demais pra morrer por causa de bioquímica.
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  — Ai, obrigada pelo incentivo, irmão. — Ela riu e bateu levemente no meu braço. — Mas enfim, não era sobre isso que eu queria falar com você. — Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo.
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  — Lá vem.
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  — É sério, . É sobre o Marcos.
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  Abri os olhos e me virei para encará-la. Só de ouvir o nome dele, minha desconfiança se acendeu de novo.
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  — O que que ele fez? — Ela bufou.
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  — Nada. Quer dizer, é exatamente isso. Nada. A gente sai, conversa o tempo todo, ele é carinhoso, atencioso, mas… sei lá. Nunca diz o que sente. E eu já tentei puxar o assunto, mas ele sempre desconversa ou muda de assunto com uma piadinha idiota. Tá me deixando doida.
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  Fiquei em silêncio por alguns segundos, observando o jeito como ela franzia a testa, o olhar perdido. Clara sempre foi de sentimentos profundos e expressões intensas. Quando ela gostava de alguém, era com o coração todo.
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  — E você tá gostando dele? — Ela hesitou só um instante, mas depois assentiu, com um meio sorriso tímido.
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  — Tô. Mais do que eu queria admitir, pra ser honesta. — Ela largou a tigela de pipoca no sofá e cruzou as pernas, apoiando o queixo nas mãos. — E eu pensei… talvez você, sendo homem, pudesse me dar uma visão masculina da coisa. Vai que esse comportamento todo é algum código secreto que eu não tô entendendo.
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  Ri baixo.
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  — Clara, se até hoje eu não entendo metade das mulheres, imagina tentar decifrar os caras. Mas, ó… às vezes o problema não é que ele não gosta de você. Pode ser que ele só esteja com medo de dizer. Ou não saiba como. Tem gente que é assim — enrola, trava, não sabe demonstrar. Mas… se ele continuar fugindo, talvez seja o caso de você perguntar de novo. De um jeito direto.
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  Ela me olhou, pensativa.
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  — E se ele disser que não quer nada sério? — Dei de ombros.
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  — Aí você vai sofrer, vai chorar, vai reclamar pra mim por uma semana inteira, e depois vai seguir em frente. Porque você é forte, Clara. Muito mais do que imagina. — Ela sorriu de lado e encostou a cabeça no meu ombro.
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  — Obrigada, irmão mais velho que às vezes presta.
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  — Sempre presto. Só que você é que não valoriza. — rebati, empurrando levemente a testa dela com os dedos.
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  Ela riu, e o som foi leve, confortável. Um som de casa. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas ouvindo o som distante da TV e o calor tranquilo da presença um do outro.
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  — Sabe… às vezes eu acho que, mesmo quando tudo parece meio caótico, a gente ainda se encontra aqui. Nesse sofá velho, dividindo pipoca. — ela murmurou, quase num pensamento em voz alta.
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  — A vida muda, Clara. Mas isso aqui? — apontei entre nós dois. — Não muda nunca. — Ela assentiu, abrindo um sorriso pequeno, mas sincero.
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  — Que bom.
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  E ali, naquele instante simples e cotidiano, eu soube: por mais que o mundo lá fora enlouquecesse, a gente sempre teria um ao outro.
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💻👠

  Na sexta-feira, enquanto organizava os últimos relatórios na minha mesa, ouvi o som distinto dos saltos de ecoando pelo corredor. O ritmo era firme, preciso, como sempre. Mas, por algum motivo, senti um arrepio de expectativa antes mesmo de levantar o olhar.
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  Quando ergui a cabeça, lá estava ela, parada ao lado da minha mesa, com um pequeno sorriso nos lábios. Não o sorriso afiado e calculado que ela costumava usar em reuniões, mas algo mais contido. Mais genuíno.
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  — , tenho um convite para você. — Sua voz era firme, segura. Mas havia algo ali, um tom diferente, algo que fez meu coração acelerar de imediato.
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  — Um convite? — perguntei, tentando manter a compostura enquanto ela cruzava os braços, observando-me com aquela intensidade característica.
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  — Sim. Um jantar. Hoje à noite. Só nós dois. — Ela fez uma pausa, como se ponderasse antes de continuar, escolhendo as palavras com cuidado. — Para ser honesta, estou com uma vontade enorme de comer comida coreana de um restaurante no Bom Retiro. Não quero ir sozinha.
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  Franca. Direta. Rara. Essa era uma faceta dela que eu via pouco e, exatamente por isso, me pegou desprevenido.
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  — Ah, entendi. — Respondi, tentando disfarçar o quão desconcertado aquilo me deixava. — Comida coreana? E por que eu? — arqueei uma sobrancelha, deixando um sorriso provocador escapar.
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   não vacilou.
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  — É um lugar afastado, discreto. Sem risco de… complicações. — Ela desconversou com elegância, desviando o olhar por um instante antes de voltar a me encarar. — E, além disso, sei que você gosta de comida coreana, . Achei que fosse uma boa companhia.
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  Engoli em seco, sentindo a tensão pairar entre nós. Ela nunca fazia convites casuais. Nunca se permitia algo que saísse do roteiro rígido que impunha a si mesma. Mas ali estava ela, quebrando suas próprias regras.
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  — Claro. Que horas? — Minha resposta saiu rápido demais, mas eu já estava perdido.
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  Um fantasma de satisfação brilhou nos olhos dela antes de responder:
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  — Oito horas. Te envio o endereço.
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  Ela me lançou um último olhar avaliador antes de se virar e sair, seus saltos ecoando mais uma vez pelo corredor.
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  Fiquei ali, observando-a se afastar, ainda tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Algo me dizia que aquela noite seria diferente. Que aquilo não era apenas sobre comida coreana.
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  Na presença de , eu me sentia um garoto de 10 anos tentando parecer adulto. O controle que aquela mulher tinha sobre mim era insano.
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  Passei o restante da tarde nervoso, tentando conter a avalanche de pensamentos sobre o convite. Cada vez que tentava me convencer de que era só um jantar casual, a voz de ecoava na minha mente, e meu coração acelerava de novo.
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  Assim que cheguei em casa, Clara, como sempre perceptiva, não demorou a notar que algo estava diferente.
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  — Você tá estranho. — Ela me analisou da cabeça aos pés com um olhar afiado, os braços cruzados. — O que aconteceu?
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  Fingi me concentrar na escolha de uma camisa no armário.
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  — Nada. Só… um jantar de trabalho.
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  Minha resposta saiu rápido demais. Clara arqueou uma sobrancelha, nada convencida.
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  — . — O tom dela era puro ceticismo. — Um jantar de trabalho? Tá na cara que você está mentindo. Me conta a verdade. É com a , né? — Suspirei, derrotado. Tentar enganar minha irmã era perda de tempo.
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  — Sim, é com a . Ela me convidou pra jantar num restaurante afastado no Bom Retiro. Disse que estava com vontade de comer comida coreana. — Clara arregalou os olhos, e um sorriso malicioso surgiu no rosto dela.
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  — Meu Deus, ! Você vai sair pra jantar com ela! Isso é um encontro!
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  — Não é bem assim — retruquei, mesmo que soasse como uma desculpa patética. — É só um jantar… casual. Pelo menos, é o que parece.
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  Clara franziu o cenho, seu entusiasmo sendo rapidamente substituído por uma expressão mais séria.
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  — … você tem certeza que isso é uma boa ideia? — Sua voz agora tinha uma preocupação genuína. — Eu sei que você gosta dela, mas você já parou pra pensar onde isso vai dar? — Desviei o olhar, tentando ignorar o aperto repentino no peito.
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  — Eu sei que não é simples — admiti. — Mas também não posso fingir que nada está acontecendo. — Ela suspirou, balançando a cabeça.
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  — Eu só não quero ver você se machucar. não é uma mulher qualquer. Ela tem um jeito… complicado. — Soltei um riso curto.
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  — Você acha que eu não percebi?
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  Clara suspirou, mas então revirou os olhos e apontou para o meu armário com indignação teatral.
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  — Tá bom, já que você tá decidido, pelo menos me deixa te ajudar a escolher uma roupa. Você é um desastre nisso.
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  — Sério? Vai ficar me zoando agora? — resmunguei, cruzando os braços.
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  — Sim. E você vai me agradecer depois.
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  Antes que eu pudesse protestar, ela já estava mexendo nas minhas roupas, puxando camisas e jogando algumas opções na cama.
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  — Essa azul aqui. Fica boa com seu tom de pele. E coloca aquela calça preta que você só usa em ocasiões especiais. Ah, e não exagera no perfume, pelo amor de Deus. — Soltei uma risada curta, pegando as roupas que ela separou.
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  — Você está mais preocupada do que eu.
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  — Óbvio! — Ela bufou, cruzando os braços. — Não é todo dia que meu irmão vai a um jantar com uma mulher como . Mas, sério, … toma cuidado. — O tom dela era brincalhão, mas o olhar permanecia preocupado.
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  — Eu vou ficar bem, Clara.
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  Ela não pareceu convencida, mas suspirou em rendição.
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  Depois do banho, vesti as roupas que Clara escolheu e parei em frente ao espelho, ajustando a gola da camisa azul. Meu coração martelava no peito. Uma mistura de ansiedade e expectativa me dominava. nunca fazia nada sem um motivo claro, e a incerteza sobre o que aquele jantar realmente significava só tornava tudo ainda mais eletrizante.
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  Antes de sair, Clara apareceu na porta do quarto, segurando uma gravata.
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  — Vai querer usar isso? — perguntou, com um sorriso leve, mas ainda com um resquício de preocupação nos olhos.
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  — Acho que não. — Ri nervosamente. — Já tá bom assim, né?
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  Ela se aproximou e ajeitou minha camisa com cuidado, como se fosse um ritual de despedida.
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  — Tá ótimo. — Seu olhar escaneou meu rosto por um instante antes de suavizar. — Boa sorte, . E, por favor… não faça nenhuma besteira.
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  — Vou tentar. — Brinquei, mas a verdade era que, quando se tratava de , manter o controle era a coisa mais difícil do mundo.
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  Saí do apartamento e chamei um uber até o endereço que havia enviado. O restaurante era discreto, com uma fachada elegante e iluminação suave. Um lugar pensado para ser reservado, íntimo.
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  Assim que entrei, meus olhos a encontraram de imediato.
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   estava sentada perto da janela, distraída, deslizando os dedos pela borda da taça de vinho. Mas o que realmente me fez prender a respiração foi a forma como o vestido preto delineava seu corpo, a forma como seus cabelos caíam sobre os ombros em cachos soltos, o batom vermelho que parecia chamar minha atenção para algo proibido.
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  Por um instante, esqueci como respirar.
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  Quando me aproximei, ela ergueu o olhar e me lançou um pequeno sorriso, claramente percebendo meu desconcerto.
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  — Pontual. Estou impressionada. — Sua voz veio com um toque de provocação enquanto indicava a cadeira à sua frente.
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  — Eu poderia dizer o mesmo sobre você. — Tentei soar casual, mas meu olhar a denunciava.
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  — Sobre mim? — arqueou uma sobrancelha enquanto servia um pouco de vinho na minha taça. — E o que exatamente te impressionou?
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  Abaixei o olhar para o vinho por um instante antes de encará-la novamente.
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  — Acho que você sabe.
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  Um brilho divertido dançou em seus olhos antes que ela levasse a taça aos lábios.
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  Durante o jantar, o jogo de provocações foi constante. tocava minha mão sutilmente, deixava a voz baixar quando dizia algo mais íntimo, sustentava meu olhar um pouco além do necessário. Pequenos gestos que diziam mais do que qualquer palavra.
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  — Você sempre foi tão reservado assim? — perguntou, deslizando os dedos pela borda da taça de vinho. Sua expressão era casual, mas os olhos estavam atentos, analisando cada nuance da minha reação.
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  — Talvez. Ou talvez você seja muito boa em me deixar sem palavras.
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  — Sem palavras? Isso não combina com você, . — Ela se inclinou ligeiramente para frente, o brilho provocativo em seus olhos se intensificando. — Achei que você fosse melhor em lidar com situações inesperadas.
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  Abaixei a taça, deixando-a na mesa.
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  — Digamos que você é um tipo diferente de desafio. — O canto dos lábios dela se ergueu, e a satisfação ali era evidente.
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  — Gosto de desafios. — ergueu a taça ligeiramente. — Ao inesperado, então.
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  — Ao inesperado. — Toquei minha taça na dela, mantendo meu olhar preso ao seu.
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  O silêncio se instalou entre nós por um instante, e deslizou os dedos pelo pé da taça, um gesto pensativo. Sua expressão mudou, como se estivesse decidindo até onde queria levar aquilo.
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  — Por que você me convidou para este jantar, ? — perguntei, minha voz baixa, mas firme. — O que exatamente você quer de mim?
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  Por um breve momento, ela pareceu hesitar. Seus olhos me analisaram com uma intensidade que me fez prender a respiração.
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  — Eu terminei com minha ficante. — Confessei. Meu peito apertou. — Porque tudo o que consigo pensar é em você.
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  As palavras saíram antes que eu pudesse segurá-las. Era algo que vinha me consumindo há dias, e não havia mais espaço para fingimentos. ficou em silêncio, e eu continuei:
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  — Não era justo com ela. Não quando eu… — Engoli em seco. Ela se inclinou um pouco mais, seu rosto iluminado pela luz suave do restaurante.
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  — Não quando você o quê, ?
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  A pergunta veio como um desafio sussurrado. Minha respiração ficou presa na garganta antes que eu finalmente soltasse:
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  — Não quando tudo o que quero é você. Não consigo tirar você da minha cabeça, . E, francamente, está me deixando louco.
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  Ela sorriu, mas não era um sorriso de triunfo. Era pequeno, carregado de algo mais profundo.
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  — Eu sei o que é isso.
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  O olhar dela se desviou momentaneamente antes de voltar para mim, agora mais vulnerável.
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  — Porque eu também só penso em você. E, por mais complicado que seja, você é tudo o que eu tenho agora.
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  A confissão me atingiu como um impacto silencioso. O que quer que estivesse acontecendo entre nós não era apenas um jogo. Havia algo mais ali, algo que nem ela parecia pronta para admitir completamente.
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  — Isso vai nos destruir, . — Murmurei, mas minha mão já havia encontrado a dela sobre a mesa. O toque era leve, mas carregado de intenções. Ela não recuou. Pelo contrário, apertou de leve meus dedos entre os seus antes de responder:
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  — Talvez.
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  E então, como se estivesse provando para si mesma que aquilo era real, ela se inclinou para frente e me beijou.
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  O contato foi intenso desde o início. Um misto de saudade e desejo acumulado. Um beijo que dissolvia qualquer hesitação, qualquer incerteza.
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  O mundo ao nosso redor desapareceu.
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  Quando nos afastamos, nossos rostos ainda estavam próximos, respirações entrelaçadas. pegou sua taça, levando-a aos lábios com um olhar que ainda ardia.
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  — Sabia que você fica ainda mais interessante quando tenta esconder o que está pensando? — Engoli em seco, mantendo o olhar preso ao dela.
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  — E o que exatamente eu estou pensando, Srta. ? — Ela sorriu, mordendo de leve o lábio inferior.
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  — Algo que seria inapropriado discutir aqui.
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  A tensão entre nós se intensificou. O jantar não importava mais. Nem o vinho, nem o restaurante.
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  Quando saímos, o ar da noite não foi suficiente para esfriar o que estava queimando dentro de nós.
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  Antes que eu pudesse pensar, puxei para um beijo ali mesmo, sob a luz suave da entrada do restaurante. Ela não hesitou. Suas mãos se prenderam aos meus cabelos, aprofundando o contato.
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  No caminho para o carro, nossos toques e beijos não diminuíram. Pelo contrário. A cada instante, a necessidade de mais se tornava insuportável. Quando entramos no carro, me lançou um olhar carregado de intenção.
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  — Não consigo esperar mais.
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  A voz dela saiu rouca, urgente.
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  O motor do carro ainda vibrava suavemente sob nós, mas nada além da respiração acelerada de e dos meus próprios batimentos descompassados importava.
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  Ela estava no meu colo, o vestido subindo lentamente enquanto suas mãos seguravam meu rosto, como se quisesse me sentir por inteiro naquele momento. Nossos olhos se encontraram, e algo dentro de mim se apertou. Havia um brilho diferente no olhar dela — não era apenas desejo. Era algo mais. Algo que me prendia ali de uma forma que eu não sabia explicar.
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  Eu a puxei para mais perto, nossas bocas se encontrando novamente, mas dessa vez, sem pressa. O beijo era lento, profundo, como se estivéssemos tentando gravar aquele momento um no outro. Suas mãos deslizavam pela minha nuca, puxando levemente meus cabelos, e eu deslizei as mãos pela curva de suas costas, sentindo a pele quente sob meus dedos.
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  A cabine do carro era pequena demais para conter tudo o que sentíamos.
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   suspirou contra minha boca quando minhas mãos exploraram suas coxas, subindo devagar, traçando o caminho até a barra do vestido que já estava erguido. O tecido escorregava suavemente entre nós, e eu aproveitei o espaço limitado para deslizar beijos pelo seu pescoço, sentindo-a se arrepiar sob meu toque.
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  — Você me deixa louca… — Ela murmurou contra a minha pele, fechando os olhos por um instante.
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  Eu sorri, puxando-a mais para mim, os dedos traçando círculos lentos em sua pele exposta.
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  — Isso é bom ou ruim?
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   abriu os olhos, e o que vi ali me tirou o fôlego. Não era apenas luxúria. Era entrega.
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  — Acho que estou começando a gostar de me perder com você.
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  O peso das palavras dela me atingiu de um jeito que eu não esperava. Ela estava se despindo para mim de um jeito que ia muito além das roupas.
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  Minhas mãos deslizaram pelo seu corpo, cada toque carregado de intenção e cuidado. Queria sentir cada parte dela, cada suspiro, cada pequeno arrepio. segurou minha camisa e a puxou com delicadeza, passando as mãos pelo meu peito nu, os olhos passeando lentamente pelo meu corpo.
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  — Eu gosto de te olhar assim… — Ela confessou, quase como se estivesse admitindo para si mesma.
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  Eu levei uma das mãos ao rosto dela, os dedos deslizando pela sua bochecha antes de capturar seus lábios novamente. A forma como ela se moveu contra mim fez com que eu soltasse um gemido baixo, o desejo e a ternura se misturando de forma perfeita.
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  No espaço apertado do carro, cada toque parecia mais intenso, cada movimento mais significativo. Eu a ajudei a se livrar da última peça de roupa, sentindo sua pele quente se pressionar contra a minha.
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   me guiou, seus quadris roçando contra os meus em uma provocação suave, mas sem pressa.
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  Dessa vez, não era sobre pressa.
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  Era sobre sentir.
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  Mas antes que qualquer um de nós desse o próximo passo, puxei a carteira do bolso da calça, encontrando uma camisinha.
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   observou em silêncio enquanto eu rasgava o pacote e a deslizava sobre meu pau com dedos ágeis. Ela mordeu o lábio inferior, os olhos fixos no meu, como se estivesse memorizando cada detalhe do momento.
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  Quando terminei, se inclinou, segurando meu rosto entre as mãos antes de sussurrar:
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  — Agora sim.
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  Eu deslizei as mãos lentamente por suas costas nuas, sentindo cada arrepio que percorria sua pele sob meu toque. arqueou levemente o corpo contra mim, a respiração entrecortada roçando minha boca. Minhas mãos se firmaram em sua cintura, guiando seus movimentos com cuidado, como se estivéssemos esculpindo aquele momento no tempo.
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  Seus olhos, escuros e intensos, estavam cravados nos meus quando ela começou a descer sobre mim, seu corpo se moldando ao meu com uma precisão quase dolorosa. Um gemido escapou de seus lábios quando sentiu cada centímetro do meu pau preenchê-la, e eu fechei os olhos por um instante, lutando para conter a onda de prazer que percorreu minha espinha.
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  Era quente, apertado, um encaixe perfeito que me fez soltar um suspiro trêmulo contra sua pele.
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   jogou a cabeça para trás por um momento, os lábios entreabertos em um suspiro longo enquanto seu corpo se acostumava ao meu. Meu olhar percorreu cada detalhe: a forma como seu peito subia e descia lentamente, a forma como seus dedos apertavam levemente meus ombros, como se buscasse ancorar-se em mim.
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  — Meu Deus, … — Ela sussurrou, a voz arrastada pelo prazer.
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  Segurei seu rosto com uma das mãos, puxando-a de volta para mim, nossos lábios se encontrando em um beijo lento e profundo, enquanto ela começava a se mover, experimentando o ritmo, a intensidade.
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  Cada deslizar de seu corpo contra o meu era uma provocação, uma promessa silenciosa de que não havia mais barreiras entre nós.
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  Eu deslizei a boca até seu pescoço, sentindo o gosto quente de sua pele, enquanto minhas mãos exploravam cada curva, cada ponto sensível que a fazia gemer contra mim.
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  Ela se moveu lentamente no início, como se quisesse prolongar o momento, absorver cada sensação. Seu quadril girava contra o meu em um ritmo suave, quase torturante, fazendo o prazer se acumular lentamente, criando uma tensão deliciosa entre nós.
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  Eu a segurei mais forte, minha boca deslizando até seu ombro enquanto minha outra mão descia até sua coxa, apertando-a levemente.
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   encontrou meu olhar novamente, um brilho intenso em seus olhos.
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  — Assim… — Ela sussurrou, segurando meu rosto com ambas as mãos, como se quisesse me manter ali, preso naquele momento com ela.
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  Eu nunca me senti tão conectado a alguém assim.
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  E, pela forma como ela me olhava, como seu corpo se moldava ao meu, como ela me segurava com uma necessidade quase desesperada, eu sabia que ela sentia o mesmo.
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  Nossos olhos se encontraram, e naquele momento, nada mais importava.
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   me beijou, e foi um beijo diferente de todos os outros. Profundo, íntimo, como se quisesse me deixar ali, preso naquele instante, para sempre.
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  — … — Ela sussurrou, e eu senti que poderia passar a vida inteira ouvindo meu nome em sua boca daquele jeito.
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  Meus lábios encontraram os dela novamente, abafando qualquer outro som que pudesse existir. O carro balançava levemente com nossos movimentos, a janela já completamente embaçada, mas nada disso importava. O tempo parecia suspenso, o mundo reduzido àquele pequeno espaço onde só existíamos nós dois.
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  Os movimentos se intensificaram gradualmente, o ritmo entre nós se tornando mais urgente, mais desesperado. agarrou meus ombros com força, as unhas cravando-se levemente na minha pele enquanto seu corpo estremecia contra o meu. Seus olhos, que antes me encaravam com desejo e desafio, agora estavam cerrados, a boca entreaberta soltando pequenos gemidos roucos que ecoavam no espaço apertado do carro.
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  Cada estocada era uma súplica silenciosa, cada toque um pedido para que aquele momento se estendesse um pouco mais. Minhas mãos firmaram-se em sua cintura, guiando seus movimentos, querendo senti-la por completo, querendo gravar cada detalhe dela em mim.
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  — Eu estou perto… — Ela sussurrou contra minha boca, sua voz trêmula, carregada de prazer e urgência.
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  O jeito que ela disse aquilo, quase como uma confissão involuntária, me atingiu direto no peito.
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  Eu a segurei mais forte, fazendo questão de prolongar aquele momento o máximo possível, mas sabendo que estávamos ambos à beira do climax. moveu-se contra mim, buscando aquele ápice, e eu a acompanhei, os corpos se encaixando em um ritmo perfeito, como se soubéssemos exatamente o que o outro precisava sem precisar dizer nada.
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  Então, finalmente, ela cedeu.
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  Seu corpo arqueou contra o meu, suas unhas apertaram meus braços com mais força, e seu nome escapou dos meus lábios como uma prece.
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   gemeu meu nome de um jeito que me destruiu e me refez ao mesmo tempo, e isso foi tudo o que precisei para me perder junto com ela.
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  Um último impulso, profundo, intenso, e então tudo se dissolveu em puro êxtase.
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  O ar no carro estava pesado, nossas respirações ofegantes misturavam-se no silêncio que veio depois. Meu peito subia e descia rapidamente, sentindo o peso delicioso do corpo dela ainda colado ao meu.
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   repousou a testa contra a minha, e um pequeno sorriso se formou em seus lábios, como se estivesse tentando processar tudo o que acabara de acontecer.
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  — Eu nunca fiz isso assim antes… — Ela murmurou, a voz baixa, quase como se estivesse admitindo algo para si mesma.
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  Eu passei os dedos pelos seus cabelos úmidos, afastando algumas mechas de seu rosto, sem conseguir evitar um sorriso em resposta.
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  — Eu também não.
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  Ela me olhou nos olhos, e naquele instante, senti algo diferente.
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  Algo intenso.
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  Algo que me fez querer segurá-la para sempre, mas não era o tipo de mulher que se deixava segurar.
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  E, mesmo assim, ali estávamos.
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  Conectados.
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  Irrevogavelmente.
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💻👠

  Os dias que se seguiram foram como um sonho — intenso, viciante e perigoso. Nosso relacionamento secreto florescia em gestos roubados e encontros clandestinos, cada vez mais íntimos. O escritório se tornara um tabuleiro de xadrez onde cada olhar sustentado, cada toque discreto, era um movimento calculado para manter nosso jogo longe dos olhares curiosos.
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  Mensagens trocadas durante o expediente, sorrisos disfarçados em meio a reuniões, noites passadas na casa dela, onde a formalidade se despia junto com nossas roupas. Era como se tivéssemos criado uma bolha, um universo só nosso, onde o tempo desacelerava e o mundo lá fora não existia.
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  Mas, por mais que eu me deixasse levar, a realidade sempre encontrava um jeito de se infiltrar.
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  — Você não acha que estamos nos arriscando demais? — perguntei uma noite, enquanto estávamos deitados no sofá da casa dela, a luz baixa do abajur lançando sombras suaves pelo ambiente.
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  , que traçava distraidamente padrões na palma da minha mão, apenas sorriu. Mas o brilho em seus olhos não era só diversão. Havia algo mais ali. Algo tenso, contido.
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  — Eu prefiro não pensar nisso, . — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Prefiro focar no agora.
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  Ela se inclinou para me beijar, seus lábios macios pressionando os meus, tentando silenciar qualquer protesto antes mesmo que ele tomasse forma, mas a dúvida persistia dentro de mim.
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  — E se alguém descobrir? — murmurei contra seus lábios assim que o beijo terminou, minha voz mais suave, mas ainda carregada de preocupação.
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   respirou fundo e abriu os olhos, seus dedos deslizando até minha nuca, como se quisesse me manter ali, ancorado a ela.
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  — Não vão. — Ela disse com firmeza, seu olhar prendendo o meu. — Eu me certifico disso.
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  O silêncio entre nós ficou denso, carregado de significados que nenhum dos dois ousava verbalizar.
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  — Eu não vou deixar nada interferir nisso… em nós.
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  O jeito como ela disse aquilo, com tanta convicção, mas com um vestígio de vulnerabilidade que ela tentava esconder, só tornava tudo ainda mais complicado. E, apesar dos meus receios, apesar do risco, eu não conseguia resistir ao que sentíamos.
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  Talvez porque, no fundo, assim como ela, eu também não queria que aquilo acabasse.
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  Mas meus pensamentos não estavam errados. Cada vez que eu olhava para ela, sentia a euforia e o medo se misturarem, como se estivéssemos pisando em um campo minado. Eu sabia que estávamos nos arriscando demais, e a realidade não demorou a nos atingir com toda a força. Tudo desmoronou antes mesmo que pudéssemos perceber o que havíamos construído.
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  Na quinta-feira, quando cheguei ao escritório, o burburinho já tinha começado. Uma foto de e de mim no estacionamento, entrando juntos no carro dela tarde da noite, havia vazado. Alguém do escritório espalhou a imagem. Não era exatamente comprometedora, mas sugeria o suficiente para alimentar especulações — e no ambiente em que trabalhávamos, bastava uma faísca para acender um incêndio.
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  No corredor, enquanto me dirigia para a reunião matinal, ouvi vozes vindas da sala de conferências. O tom sério e abafado me fez hesitar antes de entrar. Fiquei parado do lado de fora, próximo à porta entreaberta, quando reconheci a voz de um dos diretores.
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  — Srta. , sobre essa foto que está circulando… — O homem falou, o tom carregado de curiosidade e algo mais, julgamento, talvez.
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  Meu corpo enrijeceu.
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  — Não há nada a discutir. — A voz de cortou a conversa de maneira afiada, carregada de frieza e certeza.
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  Pela fresta da porta, vi sua postura impecável, irradiando autoridade, como sempre fazia quando estava no controle absoluto de uma situação. Mas então veio o golpe.
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  — A ideia de que eu estaria envolvida com um funcionário é absurda. Nunca faria algo assim. Até parece que não me conhece. Trabalhamos até tarde, eu lhe dei uma carona até sua casa, e foi só isso!
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  As palavras dela me atingiram como um soco no estômago.
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  Cada sílaba ecoava na minha mente como um trovão. A negação dela não era apenas sobre esconder nosso relacionamento — era sobre apagar completamente o que compartilhávamos.
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  Meu peito se apertou, a raiva e a decepção se acumulando de maneira sufocante. Me afastei lentamente, tomando cuidado para que ninguém me visse. Meu coração martelava forte, a respiração rasa.
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  Ela realmente acreditava que poderia jogar fora o que tínhamos com algumas palavras bem ensaiadas?
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  Respirei fundo, ajustei a gravata e forcei minha expressão a se tornar impassível. O coração ainda martelava no peito, a raiva borbulhando sob minha pele, mas eu não podia demonstrar nada. Se queria manter as aparências, eu lhe daria exatamente isso.
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  Com passos firmes, empurrei a porta da sala de reuniões e entrei. O burburinho cessou por um instante quando os olhares se voltaram para mim, mas logo voltaram às telas de seus computadores ou às anotações nas pastas.
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   estava sentada à cabeceira da mesa, a postura impecável, os dedos cruzados sobre a mesa como se nada tivesse acontecido. Seu olhar encontrou o meu por um segundo, e juro que vi um leve vacilo em sua expressão antes de ela recuperar sua máscara de indiferença.
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  — , sente-se. Precisamos revisar o relatório do próximo trimestre antes da apresentação ao conselho. — Sua voz era firme, sem vestígio de qualquer emoção.
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  — Claro, Srta. . — Minha resposta foi cortante, carregada de profissionalismo.
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  Puxei a cadeira ao lado de um dos analistas e abri minha pasta, folheando os documentos sem realmente enxergá-los. Minha mente ainda estava ecoando cada palavra que dissera momentos atrás.
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  ”Nunca faria algo assim.”
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  Cada vez que eu pensava nisso, sentia uma nova onda de frustração crescer dentro de mim.
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  Mas mantive a compostura.
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  Os minutos se arrastaram enquanto discutíamos números, projeções e estratégias. falava com segurança, respondia questionamentos, fazia observações precisas. Qualquer pessoa de fora diria que nada havia de errado.
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  Mas eu via.
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  O modo como ela evitava olhar diretamente para mim. O leve toque de impaciência quando revirava as páginas do relatório. A tensão na linha de seus ombros.
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  Ela sabia que eu tinha ouvido?
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  Quando a reunião terminou, os diretores começaram a se dispersar, e eu fechei minha pasta, me preparando para sair, mas antes que eu pudesse alcançar a porta, a voz de me chamou.
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  — , preciso falar com você.
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  Parei por um segundo, meus dedos apertando a alça da pasta com mais força do que o necessário. Virei-me, mantendo a mesma expressão neutra que tinha sustentado durante toda a reunião.
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  — Claro, Srta. .
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  Os poucos funcionários que ainda estavam na sala trocaram olhares rápidos antes de saírem, deixando apenas nós dois ali. O silêncio se estendeu por um instante enquanto se levantava da cadeira, ajeitando o blazer.
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  — Sobre a apresentação da próxima semana… — começou, mas parou, um suspiro escapando de seus lábios.
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  Esperei, os olhos fixos nela, sem me permitir demonstrar qualquer fraqueza. Ela hesitou antes de continuar, como se escolhesse cuidadosamente suas palavras.
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  — Eu preciso que você esteja totalmente focado. Sei que… algumas coisas podem estar causando distrações, mas quero garantir que isso não afete nosso trabalho.
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  Ah. Então era isso.
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  Queria fingir que nada havia acontecido. Assenti, forçando um pequeno sorriso frio.
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  — Não se preocupe. Sou profissional, Srta. . O trabalho sempre vem em primeiro lugar.
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   sustentou meu olhar por um instante a mais, como se buscasse algo em minha expressão. Mas eu não daria a ela nada.
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  Ela quis um distanciamento? Pois bem.
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  — Ótimo. — Sua voz soou mais baixa do que antes, quase relutante.
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  Virei-me e saí da sala sem olhar para trás.
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  Se queria seguir em frente como se fôssemos apenas chefe e funcionário, eu faria exatamente isso.
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  Mesmo que, por dentro, cada parte de mim gritasse o contrário.
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  Fui para casa de modo automático, assim como passei o dia inteiro. As luzes da cidade passavam borradas pelo vidro do ônibus, mas eu mal enxergava qualquer coisa além do nó que se formava na minha garganta. Meu peito estava apertado, um peso sufocante que eu tentava ignorar. Mas era inútil.
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  ”Nunca faria algo assim.”
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  As palavras de ecoavam na minha mente como um disco arranhado.
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  Ela não me viu ali. Não sabia que eu tinha ouvido, mas nada disso importava. O que importava era o que ela disse.
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  Cheguei em casa e fechei a porta com um pouco mais de força do que o necessário. Clara estava no sofá, com uma tigela de miojo no colo e o celular na mão, provavelmente assistindo a alguma série.  Quando ergui o olhar para ela, já a encontrei me encarando com a testa franzida.
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  — ? Que cara é essa?
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  — Nada. — Soltei a chave sobre o balcão e comecei a revirar os armários, fingindo que procurava alguma coisa para comer.
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  Mas Clara não era burra.
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  — … — Sua voz carregava a impaciência de quem já estava acostumada com minhas desculpas esfarrapadas.Ela largou o celular e a tigela e veio até a cozinha, cruzando os braços.
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  — Para de fingir que tá tudo bem. Eu te conheço, e essa sua cara de “não aconteceu nada” grita que aconteceu alguma coisa.
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  Fechei os olhos por um instante, soltando um suspiro pesado.
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  — Eu ouvi dizer que nunca se envolveria com um funcionário. — Clara piscou, surpresa.
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  — O quê?
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  — Ela não sabia que eu estava lá. Mas eu ouvi. Ela disse que a ideia de estar envolvida com um funcionário era absurda. Como se… como se nunca tivesse acontecido nada entre a gente. Como se fosse ridículo alguém sequer pensar nisso.
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  Minha voz saiu mais amarga do que eu pretendia. Clara ficou em silêncio por um momento, seu olhar suavizando enquanto absorvia minhas palavras.
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  —
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  Ri sem humor, passando as mãos pelo rosto, tentando conter a onda sufocante que se acumulava no meu peito.
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  — O pior é que eu queria só ficar puto, sabe? Eu queria que fosse só raiva. Mas não é.
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  Ela me analisou por um instante, inclinando a cabeça de lado, como se tentasse me decifrar.
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  — O que você está sentindo? — Engoli em seco, desviando o olhar.
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  — Eu tô completamente apaixonado por ela, Clara.
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  Dizer aquilo em voz alta tornou tudo ainda mais real. E então, sem aviso, senti meus olhos arderem. Clara descruzou os braços, seu rosto ganhando uma expressão séria, mas carinhosa.
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  — … — Virei o rosto, tentando respirar fundo, segurando aquilo.
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  — Eu não quero chorar.
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  — Mas você precisa. — Soltei um riso curto, trêmulo.
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  — Desde quando você virou a irmã mais velha?
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  — Desde que meu irmão idiota tá fingindo que não tá quebrado por dentro.
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  Ela deu um passo à frente e, antes que eu pudesse impedi-la, passou os braços ao meu redor, me abraçando apertado.
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  E eu desmoronei.
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  No início, foram apenas lágrimas silenciosas, mas logo se tornaram soluços pesados, sem controle. Clara não disse nada. Apenas ficou ali, me segurando enquanto eu finalmente deixava tudo sair.
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  Depois de um tempo, me afastei um pouco, limpando o rosto com as costas da mão.
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  — Eu tenho orgulho, Clara. Eu não vou mais correr atrás dela. Pra mim qualquer coisa que a gente tenha acabou! — Ela assentiu, sem soltar meu ombro.
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  — Eu sei que não vai. — Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela suspirou. — Mas isso não significa que não dói.
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  Infelizmente, ela estava certa.
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Nota da autora: Eu amo a relação da Clara e do Arthur, eles são o porto seguro um do outro 💜
A gente já sabia que isso ia acontecer, mas não deixa de doer no coração do pobre Arthur, né? Vamos ver como as coisas vão se desenrolar a partir de agora…

Capítulo 10: O Conflito

  Os dias que se seguiram foram marcados por um silêncio sufocante entre mim e . No escritório, as interações eram limitadas ao estritamente necessário, e mesmo essas trocas pareciam carregadas de gelo. Meu tom de voz era controlado, quase robótico, e eu evitava qualquer contato visual prolongado. , por outro lado, parecia desconfortavelmente consciente do espaço crescente entre nós, mas não fazia nada para diminuí-lo.
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  Se ela queria distância, eu a daria.
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  Na terça-feira, precisei entrar na sala dela para entregar os últimos relatórios da semana. Bati na porta com dois toques secos.
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  — Pode deixar aí. — disse ela, sem levantar os olhos do monitor.
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  Caminhei até a mesa, largando a pasta com mais força do que o necessário. Já estava de costas para sair quando a voz dela me alcançou novamente.
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  — , não esqueça de confirmar com a Fran o horário da próxima reunião com a Rafa Kalimann. Preciso disso organizado até amanhã cedo.
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  — Já está na minha lista. — respondi, sem encará-la.
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  Por alguns segundos, tudo o que ouvi foi o clique suave do teclado. Até que ela falou de novo, mais devagar dessa vez:
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  — Você está bem? — Parei no meio do passo, de costas para ela. Respirei fundo.
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  — Tô sim. — menti, a voz saindo seca, sem emoção.
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  — Você… não respondeu minha mensagem ontem. Nem falou nada sobre ir lá em casa hoje. — Virei apenas o suficiente para lançar um olhar breve por cima do ombro.
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  — Tenho uns compromissos hoje. Coisa de família.
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  Ela franziu o cenho, abrindo a boca para dizer algo, mas não dei chance. Virei novamente e saí, a porta se fechando atrás de mim com um clique firme.
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  Não olhei para trás. Não queria ver a expressão dela. Não queria que ela visse a minha.
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  O silêncio que deixei para trás dizia tudo o que eu não tinha coragem de admitir.
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💻👠

  Naquela mesma tarde, decidi que já tinha me anulado o suficiente. Peguei o elevador até o quarto andar — onde ficava o setor de Planejamento Interno, meu antigo time.
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  Aquela parte da empresa sempre foi mais agitada, com conversas atravessando as baias e o som dos teclados competindo com playlists aleatórias em fones de ouvido. Era um caos organizado… mas era meu caos.
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  Assim que entrei, Júlia — que trabalhava ali desde os meus primeiros meses na empresa — levantou os olhos da tela e abriu um sorriso largo.
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  — ?! Olha só quem resolveu lembrar que tem origem humilde! Pensei que já tinha sido corrompido pelos andares de cima.
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  — Impossível — respondi, forçando um sorriso de volta. — Só andei… ocupado.
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  — Ocupado demais pra passar no nosso café? — completou Felipe, do outro lado da baia, girando na cadeira com uma caneca nas mãos. — Aposto que a CEO te mantém acorrentado à mesa.
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  — Ela não precisa de correntes — emendou Beatriz, fingindo um tom dramático. — Um olhar da e até o ar para de circular. A mulher é um monólito.
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  — Gente… — murmurei, com um meio sorriso escapando antes que eu conseguisse conter. — Vocês continuam exagerados.
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  — Exagerados nada — disse Júlia, rindo. — A gente só tá tentando entender como você ainda anda com as próprias pernas depois de tanto tempo ali.
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  — Deve ser por isso que ele sumiu — provocou Felipe. — Tá traumatizado demais pra encarar a gente.
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  — Confessa, — Beatriz apoiou o queixo nas mãos. — Você piscou, ela te colocou pra organizar os arquivos de 2010, não foi?
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  — Por incrível que pareça… ainda não. — respondi, dando uma risada curta.
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  — E mesmo assim quer voltar, né? — Júlia arqueou a sobrancelha. — Só pode ser saudade do caos organizado daqui.
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  — Mais do que vocês imaginam. — respondi, e o sorriso que escapou dessa vez foi sincero.
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  Depois de trocar algumas piadas com o pessoal e sentir por alguns minutos o conforto de um lugar onde tudo era mais leve, segui pelo corredor até a salinha de vidro onde Rodrigo — meu antigo chefe — ficava. Bati duas vezes com os nós dos dedos na porta entreaberta.
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  — Posso? — Ele levantou os olhos do computador e abriu um sorriso genuíno.
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  — Olha só quem veio me visitar. Entra aí, .
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  Fechei a porta atrás de mim, sentindo aquele velho conhecido aperto no estômago. Rodrigo apontou para a cadeira em frente à sua mesa, e eu me sentei, tentando parecer mais tranquilo do que realmente estava.
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  — Como estão as coisas por lá? — perguntou ele, já com um brilho curioso no olhar. — Sobrevivendo à Srta. ?
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  — Sobrevivendo é uma palavra generosa — respondi, com um meio sorriso cansado.
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  Rodrigo soltou uma risada e se recostou na cadeira.
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  — Confesso que quando soube que você tinha sido redirecionado pra lá, achei que ia durar uma semana. Mas você ficou mais do que eu esperava.
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  — Fiquei porque… não tinha muita escolha, né? — falei, sem rodeios. — Foi isso ou rua. E, sinceramente, eu precisava do emprego.
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  O sorriso de Rodrigo desapareceu aos poucos, substituído por uma expressão mais sóbria.
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  — Eu sei. Foi uma situação difícil, . Você sabe que, se dependesse de mim, aquilo nunca teria acontecido. Mas os cortes foram exigência da diretoria geral. Tive que seguir a ordem de cima.
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  — Eu entendi. E não tô aqui pra reclamar disso depois de tanto tempo. — Respirei fundo, ajeitando o corpo na cadeira. — Na verdade, vim pedir uma coisa… queria voltar.
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  Rodrigo me encarou por alguns segundos, em silêncio. Depois soltou um suspiro lento e se inclinou sobre a mesa, entrelaçando os dedos.
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  — O setor está se virando, improvisando… mas sua vaga ainda tá oficialmente em aberto. — Ele me analisou por um instante. — Mas por que agora, ? Por que essa pressa pra voltar? O que mudou?
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  Desviei o olhar por um segundo antes de encará-lo de novo.
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  — Porque eu não tô mais confortável lá. — falei, sentindo a garganta apertar. — Não tô rendendo como antes, não tô bem. E acho que tá na hora de admitir isso. Eu só quero voltar pra onde eu funcionava. Onde eu me sentia parte de alguma coisa.
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  Rodrigo assentiu devagar, o rosto mais sério.
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  — … você sempre foi impecável aqui. Discreto, comprometido, confiável. Nunca precisei me preocupar contigo. E, sendo bem honesto, ainda não encontramos ninguém que fizesse o trabalho com o mesmo cuidado que você fazia.
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  Um alívio sutil começou a se formar no peito, e tentei não demonstrar demais.
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  — Eu só… queria conseguir respirar de novo. — confessei num sussurro quase envergonhado.
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  — Eu entendo. — Rodrigo cruzou os braços, pensativo. — Olha, não vou prometer nada agora, mas vou conversar com o pessoal lá de cima. Se a vaga ainda estiver tecnicamente em aberto — e pelo que eu sei, está — posso tentar te trazer de volta antes. Botar um pouco mais de pressão para que a escolha logo alguém.
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  Ele me lançou um olhar significativo e completou, meio num tom de provocação:
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  — Até parece que ela não quer mais te devolver…
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  Engoli em seco com essa fala. Porque eu sabia bem. Ela não queria me devolver, mas também não queria assumir o que a gente tinha. No fim, era isso: eu era só um brinquedo.
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  — Obrigado, Rodrigo. De verdade. Obrigado por me ouvir.
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  Ele soltou um meio sorriso e fez um gesto com a mão, como quem diz “relaxa”.
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  — Você sempre foi correto comigo, . E se tem uma coisa que aprendi nesse tempo todo… é que gente boa, a gente faz questão de manter por perto. A casa continua aberta pra você. — Assenti, sentindo um nó na garganta.
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  — Valeu mesmo. Eu só… quero voltar a ser eu.
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  — Sei. E, olha… foi bom te ver aqui de novo. Mesmo que só por hoje.
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  Levantei da cadeira. Rodrigo também se levantou, e estendemos as mãos um pro outro. O aperto foi firme, mas carregado de significado. Não era só profissionalismo. Era respeito. Era reconhecimento.
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  Agora, era esperar.
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  Voltei para o andar da diretoria com a cabeça cheia e o corpo mais leve do que quando tinha descido. Não era alívio completo, mas era o suficiente pra me manter de pé. A sensação de finalmente ter feito algo por mim, mesmo que pequeno, era estranhamente reconfortante.
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  O elevador subiu devagar, e quando as portas se abriram, dei de cara com o corredor familiar. O lugar onde eu vinha sobrevivendo nos últimos tempos… e onde, por algum motivo, também tinha me perdido.
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  Segui direto pra minha mesa. Alguns funcionários me lançaram olhares rápidos, outros nem notaram minha volta. O habitual.
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  Quando me sentei, puxei o computador e tentei retomar a rotina como se nada tivesse acontecido — como se eu ainda fosse o mesmo de antes. Mas não era. E talvez, finalmente, eu estivesse pronto para aceitar isso.
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  A porta da sala de estava entreaberta. Não tardou muito para ouvir os passos dela. Precisos, elegantes, como de costume. Ela parou ao lado da minha mesa, e seu perfume chegou antes da voz.
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  — Preciso de você na sala de reunião em quinze minutos. — disse, como sempre fazia. O tom era neutro, mas o olhar… o olhar demorou um segundo a mais do que deveria.
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  Levantei os olhos, e os nossos se encontraram. Não desviei.
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  — Tudo certo. — respondi, calmo. Quase frio. arqueou ligeiramente a sobrancelha, como se analisasse minha resposta.
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  — Algum problema?
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  — Não. — falei, voltando a encarar a tela. — Só focado no que preciso entregar.
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  Ela hesitou, e pude sentir. Como se estivesse prestes a dizer algo mais, mas desistiu na última hora.
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  — Certo. — disse apenas, mas a voz saiu mais baixa.
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  Quando ela virou de costas e entrou de volta na sala dela, não consegui evitar o suspiro que me escapou. O que antes era um furacão dentro de mim agora parecia uma brisa tensa, que ameaçava virar tempestade a qualquer momento.
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  Voltar pro meu setor era uma esperança. Mas até lá… eu ainda teria que conviver com os rastros do que fomos. E talvez, o mais difícil, com a maneira como ela ainda me olhava — como se quisesse entender quando exatamente eu comecei a escorregar pelos dedos dela.
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  E a resposta era simples: no momento em que percebi que, pra ela, eu era fácil de manter por perto. Difícil era me deixar ir.
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  A sala de reuniões estava vazia quando entrei. A mesa longa e envernizada brilhava sob a luz branca do teto, e as janelas panorâmicas deixavam a luz do fim da tarde invadir o ambiente. Peguei a pasta com os relatórios e sentei na cadeira de sempre, ao lado do projetor.
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   chegou segundos depois. Os saltos ecoaram no piso como uma batida ritmada e segura. Ela vestia um blazer preto acinturado, os cabelos presos em um coque impecável. A imagem perfeita da CEO inflexível. Menos os olhos — que traíam um incômodo que ela ainda não sabia disfarçar.
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  — Os números do segundo trimestre estão prontos? — perguntou sem rodeios, puxando a cadeira à frente da minha.
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  Assenti, estendendo a planilha impressa.
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  — Organizei os dados em três blocos: desempenho, retorno e projeção. Também adicionei comentários da equipe de vendas sobre os desafios do mês.
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   pegou o material, leu as primeiras linhas e, pela primeira vez naquela tarde, me olhou direto nos olhos. O silêncio pairou por dois segundos.
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  — Você ficou diferente. — disse ela, com uma calma desconcertante. Pisquei, tentando não reagir.
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  — Estou só tentando me concentrar. — Ela franziu levemente o cenho.
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  — Concentração nunca foi seu problema, . Você sempre esteve cem por cento aqui. Até agora.
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  Fiquei em silêncio por um momento, depois fechei a pasta.
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  — E talvez esse seja o problema. — se recostou na cadeira, cruzando os braços com um movimento lento.
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  — Você tá se afastando.
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  — E você tá percebendo só agora?
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  Ela me encarou por alguns segundos. A tensão era palpável, mas nenhum de nós cedia.
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  Antes que qualquer resposta pudesse ser dita, a porta se abriu. Dois gerentes da equipe de mídia entraram conversando, seguidos por mais três executivos. A sala se encheu rapidamente de vozes, papéis sendo abertos, cumprimentos formais.
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   retomou o controle na mesma hora. Virou para o projetor, pegou o controle, e adotou o tom firme de sempre:
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  — Boa tarde. Vamos dar início. Temos muitos pontos para tratar e pouco tempo.
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  E ali estava ela. Impecável. Inatingível.
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  Eu apenas me recostei na cadeira e respirei fundo, lembrando que essa seria, com sorte, uma das últimas reuniões ao lado dela.
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  Mas enquanto explicava os gráficos com frieza cirúrgica, seus olhos, de tempos em tempos, ainda encontravam os meus. Rápidos. Silenciosos. Quase como uma pergunta muda: “É isso mesmo, ?”
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  E eu não tinha certeza da resposta.
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  Naquela noite, em casa, Clara estava na cozinha, esparramada com o notebook aberto e um caderno cheio de anotações espalhadas pela mesa. A luz suave do abajur iluminava os rabiscos apressados e as fórmulas que se acumulavam nas páginas. Havia uma caneca de chá ao lado dela, e seus fones de ouvido estavam conectados ao celular, com uma playlist instrumental tocando baixinho ao fundo.
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  Ela mordiscava o fim de uma caneta, o cenho levemente franzido, enquanto fazia anotações rápidas. O som da porta se abrindo chamou sua atenção, e ela levantou o olhar, sorrindo ao me ver.
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  — Finalmente em casa cedo, hein? Não estou acostumada. — Ela riu, apoiando a caneca na mesa.
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  Deixei minha mochila sobre uma das cadeiras e me estiquei, sentindo o cansaço pesar nos ombros.
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  — Pois é. Um dia de folga do inferno corporativo. — Clara balançou a cabeça, mas ainda sorria.
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  — Por falar nisso, você precisa ouvir essa: o Marcos hoje me mandou mensagem no meio da aula pra perguntar se eu queria sair no fim de semana. — Minha sobrancelha arqueou automaticamente.
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  — Marcos, hein? Parece que ele está tentando impressionar.
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  Ela riu, mas desviou o olhar para o caderno, passando os dedos sobre a lateral da página.
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  — É, parece. Ele até disse que escolheu um lugar diferente dessa vez, já que da primeira vez a gente só ficou conversando na lanchonete da faculdade. — Me sentei à frente dela, cruzando os braços sobre a mesa.
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  — E vocês conversaram sobre o quê naquele primeiro encontro?
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  — Engenharia, claro. — Ela revirou os olhos, brincando. — Mas também falamos sobre filmes, família, e… ele até me perguntou sobre os meus projetos para depois da faculdade. Ele é bem focado, sabe? Quer estagiar numa empresa grande antes de se formar.
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  — E você? Tá curtindo a ideia de um segundo encontro? — Clara suspirou e deu de ombros, mas o sorriso no canto dos lábios a entregava.
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  — Talvez. Ele é legal, sabe? Tem um jeito meio tranquilo, meio nerd, mas eu gosto disso. E também não forçou nada. — Fingi uma expressão séria.
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  — Você quer dizer que ele ainda não tentou te beijar? — Ela riu e jogou a tampa da caneta em mim.
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  — Ainda não. Mas também, foi só um primeiro encontro. Ele respeitou meu tempo, e eu achei isso legal.
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  — Ponto positivo pra ele.
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  — Pois é. — Clara girou a caneca entre os dedos, pensativa. — Acho que esse encontro vai ser um bom teste. Quero ver se a gente realmente tem química ou se só funciona na teoria. — Cruzei os braços e a encarei com curiosidade.
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  — E se ele tentar te beijar dessa vez? — Ela hesitou por um segundo, mas então sorriu.
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  — Talvez eu deixe.
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  E, pelo brilho nos olhos dela, eu soube que Marcos estava, no mínimo, indo pelo caminho certo.
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  — E você? Que cara é essa? Isso tem a ver com a ? — Clara perguntou, me observando com aquela precisão que só ela tinha.
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  A menção do nome dela me fez congelar por um segundo. Suspirei, sabendo que não adiantava fingir. Com a Clara, nunca adiantava.
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  — Na verdade… pedi pra voltar pro meu antigo setor. — falei, a voz mais baixa do que eu esperava, como se só de dizer em voz alta aquilo se tornasse real.
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  Clara arregalou os olhos, surpresa.
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  — Sério? — Apoiei os cotovelos na mesa, escondendo o rosto nas mãos antes de encará-la de novo.
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  — Tá insuportável, Clara. Trabalhar com a … eu não tô conseguindo mais. Não é nem sobre o cargo, nem sobre as tarefas. É ela. É estar do lado dela fingindo que não sinto nada. Que não tem nada. E tem. — engoli seco, o peso daquilo me atravessando. — Me envolvi de verdade. E agora, toda vez que entro naquela sala, parece que tô sufocando.
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  O rosto da minha irmã suavizou na hora. Ela empurrou o caderno pra longe, o olhar agora totalmente em mim.
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  —
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  — Eu precisava sair antes que isso me destrua. — continuei. — Esse sentimento no peito não dá trégua. Tá me tirando do eixo.
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  — Você fez certo em pedir pra sair. — disse com firmeza. — E o Rodrigo? Como foi a conversa?
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  — Foi honesto. Disse que ainda não tem ninguém no meu lugar. Vai tentar me trazer de volta, disse que vai apertar um pouco a pra decidir logo essa substituição. Não prometeu nada, mas… só de ter ido lá, sabe? De ter falado com ele, pisado naquele setor de novo… foi como puxar a cabeça pra fora d’água depois de muito tempo embaixo.
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  — Você nunca devia ter saído de lá pra começo de conversa. — Clara comentou, balançando a cabeça com leveza. — Mas você não teve muita escolha.
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  Assenti, soltando um suspiro que parecia vir lá do fundo.
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  — E mais do que isso… eu acho que preciso repensar tudo. Hoje encontrei uns rascunhos antigos. Meus desenhos. Faz quanto tempo que eu não sento pra ilustrar de verdade? Deixei meu hobby de lado como se não significasse nada, e ele sempre foi uma parte enorme de mim.
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  Clara abriu um sorriso, aquele que dizia “eu avisei”, mas sem o tom de cobrança.
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  — Finalmente! Achei que ia ter que fazer uma intervenção oficial sobre isso.
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  — Eu sabia que você ia usar isso contra mim. — brinquei, sentindo a tensão ceder um pouco.
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  — E com razão. — Ela riu. — Você tem talento, . E mais do que isso: você tem amor pelo que faz. Se não for agora, quando vai ser?
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  Fiquei em silêncio por um instante, absorvendo aquelas palavras.
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  Clara se levantou, indo até o fogão com a panela na mão, provavelmente para fazer o tradicional miojo de fim de noite. Me lançou um olhar por cima do ombro, meio provocador, meio carinhoso.
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  — Quando esse caos passar, você vai sair dele mais você. E ninguém merece passar a vida tentando ser o que não é.
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  Sorri, deixando o cansaço escorrer dos ombros aos poucos. Estar ali, com ela, ouvindo sua voz, sentindo aquela paz silenciosa que a Clara sempre soube trazer… era como recuperar uma parte de mim que eu nem sabia que tinha perdido.
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  E, de alguma forma, isso era o bastante. Por agora.
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💻👠

  Na manhã seguinte, o clima no escritório estava estranho. Talvez fosse só coisa da minha cabeça, ou o peso do que eu vinha tentando carregar sozinho. Mas bastou abrir a porta da sala dela com força para eu saber que não era só impressão.
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  — . Sala. Agora. — A voz dela cortou o ar como uma lâmina.
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  Todo mundo se virou. Inclusive meus colegas mais próximos, que estavam por perto. Marcel me lançou um olhar de pena mal disfarçado.
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  — Eita, lá vai ele pro corredor da morte. — murmurou em tom de brincadeira.
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  — Foi bom te conhecer, campeão. — completou Anelise, com uma risadinha.
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  — Vocês dois são péssimos. — respondi, tentando parecer mais tranquilo do que realmente estava enquanto me levantava.
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  Caminhei até a sala dela, sentindo cada passo como se tivesse chumbo nas pernas. Quando entrei, já estava de pé, os braços cruzados, o rosto tenso. Ela fechou a porta com mais força do que o necessário.
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  — Quer me explicar o que está acontecendo? — disparou. — Eu fiquei sabendo pela diretoria, . Que você pediu pra sair. Que foi até o Rodrigo pra tentar voltar pro seu antigo setor. E que, por causa disso, estão me pressionando pra decidir logo sobre a maldita contratação da secretária.
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  Eu não respondi de imediato. Minha respiração acelerou, e minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo.
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  — Você não ia me contar? Ia sair assim? Fingir que nada aconteceu?
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  — O que você queria que eu dissesse, ? — explodi, a voz saindo mais alta do que eu pretendia. — Que trabalhar ao seu lado tem sido um inferno? Que eu acordo todo dia com a sensação de estar prestes a explodir porque a gente finge que nada tá acontecendo, quando tudo entre a gente mudou?
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  Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa, mas não recuou.
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  — Você acha que só você está sendo afetado, ? Você acha que é fácil pra mim também?
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  — Não, eu acho que pra você é mais conveniente fingir que isso aqui não tem consequências. Que pode me querer à noite e me ignorar de dia como se eu fosse só… parte da mobília do seu escritório!
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   se aproximou, o rosto vermelho, os olhos faiscando.
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  — Eu nunca te tratei como parte da mobília!
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  — Não? Então o que foi aquilo? As entrevistas sabotadas? A sua frieza depois que a porra da foto vazou? E o que você disse na reunião com os diretores, hein? Eu ouvi, . Eu ouvi você falando com todas as letras: “A ideia de você estar envolvida com um funcionário era absurda. Que você nunca faria algo assim.”
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  Ela empalideceu levemente, mas manteve a postura.
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  — Eu disse aquilo porque precisava. Eu estava sendo pressionada. A última coisa que eu queria era envolver você nisso.
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  — Envolver? — dei uma risada amarga. — Você já me envolveu! Droga! Cada vez que me puxou pra sua casa. Cada vez que me olhava daquele jeito no meio do expediente. Você me jogou nesse furacão e agora quer fingir que foi só vento?
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  Ela bufou, os olhos faiscando de raiva.
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  — E você queria o quê? Que eu saísse gritando pros quatro cantos do prédio que estou transando com meu secretário? Que colocasse minha reputação na linha porque você não sabe separar as coisas?
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  — Não, ! Eu queria que você fosse honesta. Comigo. Com você mesma! Eu não sou um brinquedo que você usa pra aliviar o estresse e depois empurra pra baixo da mesa quando alguém entra na sala!
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  — Você acha que é isso? Que eu tô brincando com você? — a voz dela falhou por um segundo, e ela engoliu em seco. — Eu tô tentando manter tudo de pé! O meu cargo, a minha reputação, e você… você se recusa a entender o que tá em jogo!
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  — Eu entendo perfeitamente o que tá em jogo. E quer saber? Eu tô cansado de ser o segredo sujo que você esconde. Cansado de sentir que, no fim do dia, tudo isso só importa quando te convém.
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  — Então por que você continua aqui?
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  — Porque eu me apaixonei por você, ! — gritei, o silêncio da sala sendo quebrado como um copo ao chão. — E isso foi o meu maior erro.
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  O silêncio que se instalou depois disso foi ensurdecedor. Os olhos dela brilharam com algo que eu não soube decifrar. Raiva? Tristeza? Medo?
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  Ela me encarou por um segundo que pareceu eterno, e então avançou.
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  Ela me puxou pela gravata com força, num gesto carregado de urgência e algo mais fundo — como se estivesse se agarrando à última chance de fazer tudo parar de desmoronar. E então me beijou. Não foi apenas um toque de lábios. Foi um mergulho. Um colapso. Um beijo bruto, desesperado, faminto. Um beijo que falava tudo o que ela não tinha coragem de dizer em voz alta: o medo de me perder, a raiva de sentir demais, o desejo que a corroía e que ela não sabia como controlar.
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  Seu corpo se colou ao meu como se buscasse abrigo, mas havia uma guerra dentro daquele abraço. Era um beijo carregado de dor e necessidade, de frustração e de confissão. Um beijo que queimava por dentro e deixava marcas que não se enxergam com os olhos — mas que ficam.
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  E eu cedi. Cedi porque era ela. Porque, mesmo em meio à raiva, à mágoa e ao caos, havia uma parte de mim que ainda era só dela. Porque meu corpo a reconhecia como lar e meu coração, mesmo machucado, ainda batia mais forte quando sentia a respiração dela contra a minha.
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  Mas, mais do que tudo, cedi porque naquele beijo havia verdade. Uma verdade crua, ferida, confusa — mas inegável. E, mesmo que as palavras fugissem, aquele beijo dizia: nós não somos mais os mesmos depois disso.
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  Mas então a realidade me atingiu com força, como um balde de água fria no meio do incêndio. Afastei-me, minhas mãos nos ombros dela, empurrando-a com suavidade — não por falta de vontade, mas como quem tenta resistir ao próprio vício. Estava ofegante, os lábios ainda trêmulos, tentando desesperadamente recuperar o fôlego… e a razão.
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   me encarava com os olhos arregalados, a respiração falha, como se também estivesse tentando entender por que tinha feito aquilo. Mas a verdade era que eu já sabia. E, mesmo assim, não podia mais continuar.
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  — Isso não conserta nada, . — falei baixo, mas firme. — Isso só… bagunça ainda mais.
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  Ela abriu a boca, pronta para dizer algo, mas eu ergui a mão, num gesto que pedia silêncio — ou talvez só proteção.
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  — Eu pedi minha transferência. E espero que você aprove logo. Porque, se tem uma coisa que aprendi nessa confusão toda… — engoli em seco, sentindo o peso das palavras — é que ninguém merece ser o rascunho da história de alguém.
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  Virei de costas e abri a porta da sala. Saí sem olhar para trás. E, pela primeira vez desde que tudo começou, senti que estava fazendo algo por mim. Que estava, enfim, escolhendo sair antes de me perder de vez.
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  Voltei para minha mesa com o rosto fechado e passos firmes, o tipo de expressão que até os mais curiosos sabiam não ser o momento certo para brincar. A sala caiu em um silêncio disfarçado, daqueles onde todo mundo continua trabalhando, mas com o olho no relógio e o ouvido atento.
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  Tereza, que digitava feito louca do outro lado da divisória, chegou a erguer os olhos, mas desviou imediatamente quando percebeu meu humor. Marcel e Anelise trocaram olhares rápidos, como quem queria comentar, mas decidiu não arriscar. Ninguém teve coragem de perguntar nada, mas dava pra sentir a curiosidade no ar. Um burburinho silencioso, abafado pela tensão que eu carregava no corpo inteiro.
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  Me joguei na cadeira, soltei um suspiro longo e comecei a responder e-mails como se a tela fosse a única coisa que me mantivesse em pé.
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  Foi quando a recepcionista avisou no grupo interno:
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  Recepção: A Rafa Kalimann chegou. Está subindo.
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  Levantei os olhos do monitor. Claro. A reunião. Como se eu já não estivesse num estado mental suficientemente fragmentado.
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  Poucos minutos depois, Rafa surgiu no corredor com sua presença imponente e aquele sorriso carismático que ela parecia carregar sempre, como se fosse imune à pressão de qualquer ambiente corporativo. Estava impecável, como de costume, e andava com a segurança de quem sabia exatamente o impacto que causava.
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  — Bom dia! — disse, animada, cumprimentando os funcionários com um aceno leve antes de se aproximar da minha mesa. — ?
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  Levantei de imediato, engolindo a irritação que ainda fervia no fundo da garganta.
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  — Sim, Rafa. Seja bem-vinda. a espera na sala de reuniões.
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  Ela sorriu, mas me analisou por um segundo a mais do que o necessário. Aqueles olhos sabiam ler entrelinhas.
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  — Obrigada, querido. E você… está bem? — Assenti com um sorriso mecânico.
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  — Tudo certo. Vou acompanhá-la até lá.
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  Enquanto caminhávamos juntos até a sala de reuniões, senti o peso da manhã inteira ainda colado em mim. Mas, por fora, meu rosto era neutro, profissional. Como sempre. Porque, mesmo despedaçado por dentro, o mundo lá fora não espera a gente juntar os cacos.
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  E, naquele dia, eu só precisava aguentar mais um pouco.
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  Nota da autora: Já passamos da metade da história, acredita? O surto tá ficando cada vez mais gostoso! Eu AMO ler o que vocês estão achando, então não parem de comentar, tá bem? Sério, cada reação de vocês alimenta a autora aqui mais do que café e playlist de romance proibido.
Sobre o capítulo de hoje: Arthur tentando fugir da Alice como se ela não fosse simplesmente A CEO DA PORRA TODA™️! 🫠 Mas será que dá pra escapar quando o destino (e o RH) conspiram contra você?
As consequências vêm aí… e talvez alguns sentimentos mal resolvidos também. 👀
Beijo enorme, e nos vemos no próximo! ❤️🔥

Capítulo 11: (In) Substituível

  Ouvi os saltos dela ecoando no corredor antes mesmo de vê-la. Era sempre assim — o aviso sonoro de que estava em modo CEO implacável. Voz firme, passos rápidos, olhar que atravessava a alma. E hoje, ela carregava uma pasta com currículos como se estivesse prestes a selecionar alguém para assumir o controle de uma missão espacial.
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  Passei perto da sala de reuniões e escutei a voz dela subir um pouco. Não era comum. raramente perdia a compostura — pelo menos não em público. Mas ali, entre os vidros da sala, dava para sentir o tom da tensão que pairava.
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  — Obrigada por ter vindo. — disse ela, já com a mão na maçaneta antes mesmo de a candidata se levantar. — Nosso time vai entrar em contato. Próxima, por favor.
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  A porta se abriu e uma jovem, de terninho bege e coque frouxo, saiu com a expressão de quem acabou de fazer uma prova de vestibular sem saber se foi péssima ou genial. Bianca, da recepção, deu um sorrisinho simpático para ela e, com um toque discreto no interfone, anunciou a próxima.
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  Na copa, três colegas se agrupavam, fingindo mexer no café enquanto trocavam cochichos e olhares cúmplices.
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  — Gente, essa já é a quinta? — perguntou Bruna, sussurrando como se a própria estivesse atrás da geladeira.
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  — Sexta, se contar a que entrou e saiu em sete minutos. — respondeu Isabela, segurando a risada.
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  — Imagina trabalhar com ela? — murmurou Marcel, abaixando o tom. — Tipo… ser a sombra da o dia inteiro?
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  — Só se me pagarem em barras de ouro e terapia vitalícia. — completou Bruna, rindo baixinho.
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  — E o ? Coitado, tá desde cedo com a cara fechada. Aposto que ele tá contando os minutos para passar o bastão.
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  As risadinhas se espalharam pela copa até que Anelise, parada mais adiante, mexendo em sua xícara de chá, se virou para o grupo:
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  — Vocês acham mesmo que não tinha nada entre eles? — soltou, arqueando a sobrancelha, a voz carregada de certeza.
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  Bruna riu, balançando a cabeça.
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  — Lá vem a teoria da conspiração… — provocou, enquanto Isabela e Marcel trocavam olhares divertidos.
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  Mas Anelise cruzou os braços e insistiu:
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  — Não é teoria. Eu vi. — Sua voz baixou um tom, ficando quase conspiratória. — Aquela foto que rodou aí pelo escritório? Fui eu quem tirou.
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  O grupo parou. As expressões mudaram de diversão para surpresa desconfortável.
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  — Aquele flagra no estacionamento? — perguntou Marcel, arregalando os olhos.
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  — Sim. — confirmou Anelise, com um brilho estranho nos olhos. — Tarde da noite. Eles entrando juntos no carro dela. Claramente… íntimos. Vocês acham que era só amizade?
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  — Ah, pelo amor, né… — retrucou Isabela, tentando rir. — Era só ele entrando no carro dela, sei lá. Não parecia nada demais na foto.
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  Anelise inclinou a cabeça, como quem guarda o golpe final.
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  — A foto pode até não mostrar tudo. — disse, batendo de leve na mesa. — Mas quem viu ao vivo… viu. Eu vi. O jeito como ele tocou nela, como ela hesitou antes de entrar no carro… — sorriu de canto, maliciosa. — Aquilo não é coisa de chefe e subordinado, não. É coisa de quem luta pra não fazer besteira.
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  O silêncio que caiu foi denso. As pessoas desviaram o olhar, mexeram nos celulares, pigarrearam — ninguém querendo dar razão, mas também sem coragem de chamar Anelise de louca.
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  — Tá exagerando, Ane. — Bruna tentou amenizar, mas a risada dela saiu forçada.
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  — Sei o que vi. — Anelise respondeu, firme, antes de sair da copa com a xícara nas mãos, deixando um rastro de dúvida no ar.
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  Eu fingia que não ouvia enquanto enchia minha caneca de café, tentando focar em qualquer coisa que não fosse o aperto que começava a crescer no peito.
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  Porque, no fundo, Anelise tinha razão. O que a gente tinha era mesmo íntimo demais. Intenso… tão intenso que aqui estava eu… apaixonado por ela.
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  Voltei para a minha mesa e deixei o barulho das teclas me distrair, mas o burburinho continuava ao redor. Candidatas entrando e saindo. Gente comentando. O clima da manhã era quase de reality show corporativo — só que sem prêmio, sem carisma e com uma jurada que ninguém queria decepcionar.
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  Na minha cabeça, tudo aquilo soava como uma despedida disfarçada. Cada currículo rejeitado era, de alguma forma, mais um sinal de que a ainda resistia a me substituir. Só que agora… não havia mais espaço para essa dúvida.
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  E mais tarde, ela mesma ia deixar isso bem claro.
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  Na hora do almoço, quando voltei da copa com uma caneca de café quase fria na mão, vi a porta da sala dela entreaberta. estava sentada à mesa de reunião, o blazer pendurado na cadeira, as mangas da camisa branca dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços — e sim, até isso nela era bonito de olhar. Os papéis dos currículos estavam espalhados à sua frente como se fossem mapas de guerra. Ou vítimas de uma emboscada bem calculada.
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  Ela parecia exausta. O rosto mais sério que o normal, uma das mãos apoiando a testa, os olhos perdidos por um segundo… só por um segundo. Porque, no instante em que me viu ali parado, ela ergueu o rosto e me fuzilou com o olhar.
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  Mas eu já estava perdido antes disso.
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  Linda. Gostosa. Inalcançável. , no auge do caos, ainda era a mulher mais irresistível daquele andar — e, infelizmente, a que mais ferrava com a minha sanidade.
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  Engoli o café amargo e murmurei para mim mesmo:
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  — Idiota… — Mas não disse se era ela ou eu.
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  — , pode entrar. — disse, a voz firme demais para quem parecia cansada.
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  Fechei a porta com cuidado e fiquei ali, esperando. Ela empurrou os papéis para longe como se estivesse assinando uma sentença.
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  — Escolhi uma. Mariana Tavares. Experiência razoável, postura profissional… e, mais importante, foi a única que não tentou puxar assunto sobre minha vida pessoal durante a entrevista.
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  Fiquei em silêncio. Não sabia muito bem o que ela queria que eu respondesse.
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  — Agora você está finalmente livre de mim, não é? — completou, com um sorriso curto, sem alcançar os olhos.
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  A frase bateu como um soco no estômago. Não pelo conteúdo, mas pela forma como ela disse. Como se a liberdade fosse um prêmio que eu estivesse ansiando. Como se o afastamento entre nós fosse tudo o que eu queria.
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  Tentei conter qualquer reação, mas acho que meus ombros denunciaram a rigidez.
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  — A diretoria quer que ela comece na segunda. — continuou, levantando e pegando alguns papéis na mesa. — E, como você foi… impecável enquanto esteve aqui, gostaria que ficasse pelo menos uma semana para treinar a Mariana. Ensinar os processos, mostrar os caminhos, essas coisas.
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  — Claro. — respondi, sem hesitar. Minha voz saiu mais baixa do que eu queria, mas firme.
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  Ela me encarou por alguns segundos, como se tentasse decifrar alguma coisa que nem ela mesma sabia que procurava.
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  — Vai ser melhor assim. — disse, mais para ela do que para mim. Assenti, sem saber muito bem o que fazer com as mãos.
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  — Então… é isso. Segunda-feira, você começa oficialmente a transição. — finalizou, voltando para trás da mesa, os olhos já mergulhados nos papéis como se a conversa tivesse acabado.
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  Mas o gosto amargo ficou. As palavras dela ecoavam na minha mente com um peso estranho: “Agora você está finalmente livre de mim.”
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  E, por mais que aquilo fosse verdade… por mais que aquilo fosse o que eu mesmo pedi, parte de mim não sabia se queria mesmo essa liberdade.
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💻👠

  A segunda-feira chegou com cheiro de café requentado e a promessa de mais uma semana caótica. E, com ela, chegou Mariana — a nova secretária da . Tímida, eficiente, vestida de forma impecável e com um sorrisinho nervoso que entregava tudo: ela queria causar uma boa impressão, mas já sentia o peso de onde estava pisando. Cumprimentou todos com educação, anotou nomes com pressa e carregava uma pastinha nas mãos como se fosse uma tábua de salvação. E ? Passou por ela como se fosse invisível. Nem um aceno. Nem um olhar. Nada. Bem-vinda ao mundo da Srta. .
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  — Você vai se acostumar com isso — comentei mais tarde, quando estávamos na copa e ela ainda tentava entender se aquilo era um teste ou um desprezo mesmo.
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  — Ela não me respondeu nem o “bom dia”… — Mariana murmurou, baixinho, mexendo no chá.
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  — Isso significa que você está no caminho certo. — Dei um gole no meu café e me encostei na bancada. — é assim. Não vai facilitar, vai te testar muito. Às vezes com silêncio, ou com tarefas impossíveis às 18h55 numa sexta-feira.
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  Ela soltou um riso nervoso.
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  — Parece… intenso.
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  — Eu diria que é mais como sobreviver numa floresta com uma chefe leoa. Ela sente cheiro de medo, mas, se você mostrar firmeza, ela respeita. E, em alguns casos, até manda emoji depois do expediente. — Sorri, lembrando dos absurdos que ela já me mandou domingo à noite. — No meu primeiro dia, ela pediu pra eu fazer uma apresentação em PowerPoint de última hora para uma reunião que começava em vinte minutos. E depois disse que era só um teste.
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  — E era?
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  — Não. Ela usou a apresentação.
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  Mariana riu mais abertamente agora, e eu relaxei também. Ensinar alguém para ocupar o lugar que foi meu… bom, não era fácil. Mas eu precisava fechar esse ciclo.
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  Na parte da tarde, fomos para uma reunião com alguns executivos da área comercial. Mariana entrou na sala com a prancheta na mão e os ombros tensos, sentou-se ao lado de e abriu o bloco de anotações. Eu fiquei no canto oposto, apenas observando… e, claro, pronto para intervir se precisasse.
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   começou a falar com a fluidez de sempre, mas logo lançou Mariana no fogo:
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  — Mariana, anote os pontos principais e me envie um resumo até o fim do dia. Quero enxuto e objetivo, sem floreios. — Ela nem olhou pra ela. Só disse, como quem solta um desafio no ar.
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  Mariana assentiu rápido, e eu reparei no jeito que sua mão tremia levemente com a caneta.
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  Aos poucos, fui me aproximando para ajudá-la, explicando um ou outro termo técnico, apontando nos slides… mas, antes que eu terminasse uma frase, ergueu a mão, sem desviar os olhos da tela.
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  — , deixe que ela anote. Vamos ver como se sai.
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  A voz era calma. Mas o recado estava ali, claro como cristal: ela queria ver se Mariana aguentava sozinha.
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  Engoli em seco e recuei, voltando ao meu lugar. Não porque queria, mas porque entendi o que aquilo era. queria testar os limites da Mariana… e talvez os meus também.
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  Mas a reunião continuou, e eu observei. Porque, se eu tinha aprendido algo ali, era que, com , nada era apenas o que parecia.
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  Quando a reunião terminou, ainda estava com a postura firme na cadeira, mas os olhos diziam que ela já estava em outro lugar — pensando, calculando, analisando. Mariana começou a recolher os papéis, mas, antes que pudesse deixar a sala, a voz de a cortou com precisão:
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  — Mariana, dá uma passada na diretoria e entrega essa pasta pro pessoal do financeiro. Quero saber se esses números batem com o que foi enviado semana passada.
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  — Claro, senhor… — Mariana respondeu de imediato, meio trêmula, já pegando a pasta em mãos.
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   parou por um segundo, estreitando os olhos como se estivesse calculando o nível de paciência que ainda lhe restava naquele dia.
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  — Não me chame de senhora. Me chame de Srta. . “Senhora” me dá dor nas costas só de ouvir — disse com o tom controlado, mas afiado, lançando um olhar que era quase um aviso.
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  Mariana assentiu depressa, corando até as orelhas.
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  — Desculpe, Srta. . Claro.
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  Ela saiu quase tropeçando nos próprios pés.
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  Fiquei ali, encostado na beirada da mesa, e não consegui evitar um sorriso discreto. Porque aquilo ali — a voz cortante, o jeito objetivo, a forma como o “senhora” a irritava — me levou direto de volta ao meu primeiro dia ali. E à primeira vez que ouvi a mesma bronca.
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  “Não me chame de senhora. Parece que estou contratando um mordomo. Me chame de… Srta. .”
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  Na época, achei que fosse apenas arrogância. Hoje… ainda acho. Mas agora sei que, de algum jeito estranho, era também o jeito dela manter as barreiras onde queria. Nomes, títulos, distância.
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  E eu? Eu tinha derrubado todas elas. Sem permissão. Sem nem perceber.
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  Até agora.
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   esperou que ela saísse e fechasse a porta antes de desviar o olhar para mim. Não disse nada de imediato, apenas me observou por um instante longo o suficiente para me deixar desconfortável. Eu fiquei onde estava, ao lado da mesa, com a caneta que usava para anotar detalhes ainda na mão, como se aquilo pudesse me proteger da intensidade do olhar dela.
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  — Então? — ela finalmente soltou, cruzando os braços. — Impressões?
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  — Ela é um pouco insegura — falei, direto. — Mas tem potencial.
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  Ela assentiu com um meneio breve de cabeça, desviando o olhar por um segundo antes de se levantar. Andou até o aparador para pegar uma caneta diferente — como se precisasse daquilo para ocupar as mãos, ou a mente.
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  Ao voltar, passou por mim no espaço estreito entre a mesa e a cadeira. Só que, dessa vez, tropeçou levemente no tapete. Um desequilíbrio rápido, mas suficiente para que meu reflexo fosse mais rápido que a lógica. Segurei-a pela cintura, firme, impedindo que ela caísse.
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  O toque foi imediato. O choque também.
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  A mão dela parou no meu peito, os olhos arregalados encontrando os meus, e, por um segundo — longo demais — tudo ao redor pareceu evaporar. A sala, o trabalho, a nova secretária. Tudo sumiu.
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  Só existia aquele contato. A respiração descompassada dela e a minha que nem existia mais.
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  Meu polegar roçou de leve a lateral da cintura dela enquanto eu ainda a segurava. Ela não recuou. Só ficou ali, imóvel, como se estivesse tentando não se render àquela proximidade. Como se soubesse exatamente o que aquilo significava.
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   se afastou devagar, endireitando o corpo, mas ainda com os olhos cravados nos meus. A caneta que ela tinha ido buscar estava agora esquecida na mão, os dedos ainda trêmulos.
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  — … — ela começou, mas não terminou. Eu já tinha dado dois passos pra trás.
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  — Melhor eu ir. — murmurei, sem saber se estava tentando convencê-la ou a mim mesmo.
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  Abri a porta e saí sem esperar resposta, o coração batendo tão forte que parecia querer sair pela garganta. Porque se eu ficasse ali mais um segundo… ia esquecer tudo. Inclusive quem eu era.
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  E naquele momento, eu precisava desesperadamente lembrar.
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  Cheguei em casa como quem volta de uma guerra que ninguém viu acontecer. Joguei as chaves no balcão da cozinha e fui direto pro quarto, ignorando a luz fraca que vinha da sala. Meu corpo estava exausto, mas minha mente… bom, essa continuava presa no corredor apertado da sala de reuniões, no toque dos nossos corpos, no cheiro do perfume dela misturado ao som abafado da minha respiração acelerada.
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  .
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  Por mais que eu tentasse fugir, ela continuava ali, presa em mim de um jeito que nem o banho mais quente do mundo conseguiria arrancar, mas eu tentei. Deixei a água cair sobre a cabeça, os ombros, o peito. Fechei os olhos e me obriguei a respirar fundo, como se isso bastasse pra me libertar de tudo que ela ainda causava em mim.
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  A forma como ela dizia meu nome. A maneira como me olhava. O toque acidental que parecia mais proposital do que qualquer coisa.
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  Minhas mãos escorregaram pela minha pele, guiadas mais pela memória dela do que pela necessidade física. Segurei meu pau, e foi inevitável começar a me tocar, pensando nela.
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  — … — o nome escapou num sussurro rouco, perdido no vapor do banheiro.
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  Imaginei suas mãos pequenas, delicadas, percorrendo meu corpo do jeito que só ela sabia. Seu cheiro, doce e inebriante, parecia impregnar até o ar ao meu redor. Fechei os olhos e a vi ali — deitada na cama, os cabelos bagunçados, o corpo nu me esperando, os olhos escuros me devorando com sede.
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  — Você é tão… — murmurei, sem terminar a frase, perdido no próprio delírio.
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  Meu quadril começou a se mover em busca de mais fricção, cada movimento desenhando o quanto ela me dominava. Era mais do que desejo carnal. Era fome dela. Da risada abafada no meu ouvido. Da voz manhosa me chamando entre gemidos.
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  ”Minha“, pensei, o peito apertando junto do prazer que crescia rápido, quase violento.
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  Imaginei montada em mim, com aquela expressão sacana que só ela fazia, a boca entreaberta, os gemidos escapando sem controle. Imaginei o calor, o aperto, o jeito como ela se movia só pra me torturar.
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  Minhas mãos se apertaram, o ritmo descompassado, guiado por essa lembrança tão viva que era quase real. O calor explodiu dentro de mim com um gemido rouco, urgente, sussurrando o nome dela entre os dentes.
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  — … porra… — ofeguei, apoiando a testa na parede fria.
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  Fiquei ali, tentando recuperar o fôlego, o corpo todo ainda vibrando, enquanto o nome dela continuava ecoando no meu peito.
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  .
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  Meu vício mais doce.
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  Meu caos favorito.
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  E, naquele instante, mais do que nunca, eu soube: eu era dela por inteiro.
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  Saí do banheiro enrolado na toalha, os cabelos pingando, o peito ainda em guerra. Me sequei, e vesti um samba canção, seria o meu máximo para aquela noite.
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  Foi então que encarei a escrivaninha, ou melhor, ela me encarou primeiro.
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  A luz do abajur aceso iluminava a superfície vazia, como se o papel em branco me esperasse, zombando do caos que morava em mim. Caminhei até ela devagar, como quem se aproxima de algo sagrado e perigoso ao mesmo tempo.
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  Sentei. Respirei fundo e abri o sketchbook.
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  Peguei o lápis. Encostei a ponta na primeira folha. E… nada. A folha em branco parecia zombar de mim, refletindo exatamente o que eu sentia por dentro: um vazio que nem eu conseguia explicar.
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  — Tá criando ou só fingindo que tá criando? — ouvi a voz da Clara na porta, leve, mas atenta. Ela encostou no batente, ainda de avental, o cabelo preso com uma caneta colorida.
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  Suspirei, largando o lápis.
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  — Tô… tentando. — respondi, sem encará-la. — Mas parece que quanto mais eu quero, menos sai.
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  Ela entrou no quarto, analisando a mesa. Os lápis enfileirados, o sketchbook aberto, a folha ainda virgem. Ela não disse nada por alguns segundos. Só observou. Depois, se sentou na beirada da cama.
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  — Sabe o que talvez ajude? — perguntou. — Cria um perfil.
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  — Um perfil?
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  — No Insta. Ou sei lá. Um lugar só seu. Onde o desenhista respire. Nem precisa mostrar pra ninguém agora. Deixa fechado, privado, escondido do mundo, se quiser. Mas começa. Vai postando só pra você lembrar que existe esse lado aí. Porque ele ainda tá aqui, só tá dormindo.
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  Fiquei em silêncio, encarando o papel como se aquilo fosse uma proposta indecente.
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  — Parece bobo, eu sei. — ela continuou, levantando com um sorrisinho. — Mas às vezes, a gente só precisa de um cantinho pra voltar a ser quem era.
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  Ela já estava saindo do quarto quando completou:
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  — Ah, e o jantar tá pronto, fui a melhor irmã do mundo, eu cozinhei, mas não se acostume. Mas sem pressão… quer dizer, só um pouquinho, porque se esfriar, a culpa é sua.
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  Deixou a porta entreaberta, e eu fiquei ali, parado, olhando para tela do celular como se ele tivesse acabado de ganhar um novo significado. Um perfil privado. Só meu. Um espaço onde ninguém esperava nada. Onde eu não precisasse ser bom. Só… eu.
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  Pela primeira vez em dias, algo se mexeu dentro de mim. Pequeno, tímido. Mas real.
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  Talvez ela tivesse razão. Talvez fosse esse o começo — de novo.
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  Naquela sexta-feira, o escritório tinha aquele clima estranho de fim de ciclo. As pessoas circulavam pelos corredores com mais calma, os celulares vibravam com mensagens de “happy hour?”, e o som das teclas parecia menos intenso. Mas, pra mim, era diferente. Era o meu último dia ali.
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  Mariana ajeitava as coisas na mesa dela, ansiosa, mas ainda um pouco insegura. O jeito como ela mexia nos papéis, conferindo e reconferindo as planilhas, me fazia sorrir de canto. Lembrava muito o meu primeiro dia — a mesma tensão disfarçada de eficiência.
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  — Respira, Mari. Você já pegou o jeito — falei, me encostando na beirada da mesa com os braços cruzados.
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  — Só fico com medo de esquecer alguma coisa… A não parece ser o tipo que tolera deslize.
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  — Não é mesmo — respondi com um sorriso enviesado —, mas ela também respeita quem segura as pontas. E você segura. Só precisa confiar mais no que já sabe.
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  Ela me olhou por um instante, como se estivesse processando aquilo.
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  — Eu tentei observar como você lidava com ela. Sempre tão calmo, tão… no controle.
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  — Hã… isso era só a fachada. Por dentro eu estava gritando metade do tempo. — Pisquei para ela. — Vai dar tudo certo. Se errar, aprende. E não esquece de bloquear o número dela depois do expediente de sexta.
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  Ela riu alto.
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  — Vou anotar isso num post-it. Obrigada, . De verdade. Por tudo.
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  — Vai lá. Sexta-feira te espera. — Toquei de leve no ombro dela e a vi desaparecer pelo corredor, com um ar nervoso e determinado ao mesmo tempo.
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  Fiquei ali por alguns segundos, em pé no meio da sala agora silenciosa. Meus olhos varreram o lugar: a mesa onde sentei durante semanas. O armário onde escondi minhas crises. O espaço entre as portas, onde o impossível quase aconteceu mais de uma vez. Parte de mim estava aliviada por sair dali. Mas a outra… ainda não sabia como dizer adeus.
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  Respirei fundo, caminhei até a porta de vidro ao final do corredor e bati duas vezes, antes de empurrar devagar.
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   estava sentada à mesa, o cabelo preso num coque desfeito, as mangas da camisa arregaçadas e os olhos grudados na tela do notebook. Quando me viu, ergueu os olhos e depois se recostou na cadeira, como se já esperasse.
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  — A Mariana saiu. Já tá tudo com ela. A partir de segunda… volto pro time de Planejamento. — Ela assentiu devagar, o maxilar tenso.
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  — Obrigada, . Por ter ficado essa semana.
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  — Eu fiquei porque achei certo. Ela precisava de um início menos caótico que o meu. — Falei com calma, mas algo no meu peito ainda estava preso.
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   se levantou, caminhando lentamente até o aparador, onde pegou uma pasta qualquer só para fingir ocupação. Quando falou de novo, a voz dela estava baixa, diferente.
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  — Sobre aquele dia… — murmurou — a nossa conversa. Eu… não devia ter falado da forma como falei. Eu só… não soube lidar com aquilo. Espero que você compreenda.
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  — Compreendo — respondi, mesmo que a ferida ainda doesse. — Mas entender não é o mesmo que suportar, .
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  Ela ficou em silêncio por um instante, depois cruzou os braços, o olhar grudado no chão.
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  — A gente podia continuar. Sem rótulo. Sem rastro. — Ela ergueu os olhos e me encarou. — Agora você tá em outro setor. Ainda é errado, mas… menos. A gente podia… continuar assim. Do nosso jeito.
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  Ela se aproximou devagar. O olhar dela era um convite claro. Um último apelo.
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  — … — murmurei. — Isso tá me consumindo. A gente se escondeu, eu me machuquei, me confundi. Não dá mais. Eu não posso mais viver pela metade.
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  Ela mordeu o lábio, os olhos brilhando com algo que eu não soube nomear. Um silêncio denso se instalou entre nós. Bastou um passo — um único passo dela — para que tudo ruísse.
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  Seus lábios encontraram os meus num beijo urgente, quase desesperado, como se ainda houvesse tempo de desfazer o que nos afastava. E eu… eu cedi. Porque era ela. Porque meu corpo ainda reagia como se não soubesse da dor. Como se só conhecesse o vício.
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  Minhas mãos seguravam sua cintura com força, puxando-a contra mim. gemeu baixo no beijo, e isso foi o suficiente para apagar qualquer resto de racionalidade. Em um movimento rápido, a ergui pelas coxas e a sentei na mesa. Suas pernas se fecharam ao redor da minha cintura com precisão, como se aquele fosse o lugar exato — e talvez fosse, naquele segundo.
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  Meus dedos deslizaram pelas coxas dela, subindo com firmeza até encontrarem a barra da saia. A mão dela se agarrou à minha nuca, puxando, pedindo mais. O beijo ficou mais quente, mais profundo, mais tudo. Beijei seu pescoço, mordi seu queixo, explorei sua boca como se ainda fosse minha.
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  — … — ela arfou, entre um suspiro e outro. Meu nome saiu como um pedido.
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  E eu beijei seus ombros, suas clavículas. Sentia o calor dela nas palmas das minhas mãos, os suspiros dela entrando direto na minha corrente sanguínea. Por um instante, era só isso. Ela. Eu. E o que sempre existia quando nos tocávamos.
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  Mas então…
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  A consciência me atingiu como um balde de água fria.
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  O que eu estava fazendo?
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  Minhas mãos hesitaram na cintura dela. A respiração ainda vinha entrecortada. O corpo dela colado ao meu, ainda pedindo. Mas eu não podia mais fingir. Isso não bastava.
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  Segurei seus ombros e recuei, ofegante. Meu coração batia tão alto que eu podia ouvir o eco na sala.
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  — Para. — sussurrei. — Isso só me machuca mais. Porque você sabe que eu… eu tô apaixonado por você, . E você só me procura quando o silêncio te incomoda. Quando tá tudo pesado demais pra carregar sozinha. E aí vem aqui e descarrega em mim.
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  Ela me olhou, como se não soubesse o que dizer. Como se, pela primeira vez, estivesse sem argumentos. A respiração dela também era instável, mas não dizia nada. Só me olhava.
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  — O que você sente por mim, ? — continuei, a voz ainda baixa, mas firme. — Seja sincera. É só tesão? É só ego? Ou tem um pingo de sentimento aí dentro?
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  O silêncio dela doeu mais do que qualquer resposta. Ela desviou os olhos por um instante, como se procurasse as palavras — ou fugisse delas.
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  — Porque, se você dissesse que sente… que sente mesmo… — dei um passo à frente, quase num apelo — a gente terminava isso aqui. Agora. Eu ficava. A gente encontrava um jeito.
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  Ela me olhou de novo. E então, devagar, balançou a cabeça.
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  Não havia lágrimas, não havia drama. Só uma entrega silenciosa ao que ela não conseguia ser. Àquilo que ela não estava pronta para admitir.
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  Engoli seco.
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  — Era isso. Era só isso que eu precisava saber.
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  Ela deu meio passo à frente, como se fosse dizer algo, mas parou. Talvez porque soubesse que não adiantaria mais.
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  Nos encaramos por alguns segundos, como se estivéssemos memorizando tudo antes do ponto final. Os beijos, os toques, as faíscas, as madrugadas escondidas. Tudo aquilo que poderia ter sido — e nunca foi.
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  — Boa sorte com a Mariana — minha voz saiu rouca.
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  — Boa sorte no Planejamento — a dela saiu mais baixa ainda.
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  Assenti lentamente. E então dei dois passos até a porta.
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  E fechei.
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  Não com raiva dela, pelo menos. Fechei com o tipo de dor que só existe quando a gente queria que tivesse dado certo, mas não deu. E agora, precisava seguir. Mesmo com o gosto dela ainda grudado na minha boca.
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  Mesmo com o coração dizendo que ainda queria. Porque, pela primeira vez… eu estava escolhendo não aceitar menos do que eu mereço.
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  No sábado, Clara praticamente me arrastou para uma feira de arte no centro. Disse que precisava de companhia, que queria “ver umas coisas bonitas” depois de uma semana puxada. E, bom… eu não tive força pra recusar.
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  Ainda estava meio anestesiado com tudo: a discussão com , o beijo, as palavras que não vieram, a ausência dela desde então. Era como se o silêncio depois do fim fizesse mais barulho do que qualquer briga entre nós. Eu só… seguia.
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  A feira estava cheia. Barracas coloridas, música ao vivo, cheiro de comida no ar. Clara andava animada, tirando fotos das bancas, comentando sobre as coisas com aquele entusiasmo leve que só ela tinha. Eu a seguia, mais em silêncio do que devia, com um copo de café numa mão e as mãos vazias do lado de dentro.
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  — Olha essa ilustração, ! Um gato de boina lendo Virginia Woolf. Isso é você em forma de felino. — Ela me mostrou a imagem no celular, rindo sozinha.
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  Soltei um riso baixo, balançando a cabeça.
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  — Achei que eu fosse mais cachorro triste do que gato intelectual.
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  — Você é os dois. Gato, cachorro e talvez um pouquinho de pombo dramático. — Ela piscou, voltando a mirar as bancas. — Mas vai passar. Esse vazio aí dentro. Só precisa encontrar alguma coisa que te lembre quem você é.
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  Continuei andando ao lado dela, desviando de uma moça com uma cesta de pães artesanais.
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  — E você acha que é aqui? No meio de estandes com pôster de Star Wars em aquarela?
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  — Eu acho que você precisa ver o mundo com mais cor. E, se isso não funcionar… a gente compra um pão de alho. Sempre funciona. — Ela deu de ombros, leve, como se curar o coração fosse uma coisa simples.
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  Eu apenas sorri. Porque, com ela, às vezes, parecia mesmo.
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  Foi numa das tendas mais discretas que parei de andar. Não sei se foi a paleta de cores nas ilustrações ou a forma como os traços pareciam meio desalinhados de propósito. Havia algo de imperfeito, mas sincero ali. Um cara mais velho, com boné desbotado e óculos tortos, vendia prints com uma plaquinha feita à mão: arte sem filtro.
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  Fiquei ali parado, folheando um sketchbook de capa dura. Meus dedos deslizavam pelas páginas em branco como se esperassem alguma resposta que não vinha. Foi aí que ele falou, sem tirar os olhos de um café que esfriava ao lado:
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  — Você nunca vai se sentir pronto — disse, com a naturalidade de quem repete aquilo todo sábado. — Ninguém sente. Você desenha mesmo assim, ou fica parado vendo os outros fazerem.
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  Olhei pra ele, surpreso. Ele não me conhecia. Mas parecia que sim.
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  Comprei mais lápis, apontadores e um novo sketchbook sem pensar duas vezes. Clara, que estava em outro estande vendo bijuterias, veio correndo atrás de mim quando percebeu que eu tinha desaparecido.
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  — O que você comprou? — perguntou, espiando por cima do meu ombro.
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  — Uma desculpa pra tentar de novo — respondi, sem tirar os olhos da capa do caderno.
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  À noite, já em casa, tomei um banho e sentei à minha escrivaninha. O sketchbook novo em cima da mesa, ao lado dos lápis. Organizei tudo com o cuidado de um ritual. Afiei as pontas. Alinhei as canetas. Respirei fundo.
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  E, pela primeira vez, deixei o traço vir sem meta. Sem cobrança. Só ele e eu.
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  Um traço. Depois outro.
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  Foi a primeira vez, em semanas, que eu me senti inteiro. Não por ter superado tudo. Mas por, finalmente, ter começado.
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Nota da autora: Eita que foi drama, viu? 😂
Alice ali, cheia de orgulho, sem conseguir dizer que quer o Arthur; Arthur, firme, sem aceitar menos do que eles se assumirem de vez; e nós? Sofrendo junto porque esses dois cabeçudos preferem se torturar do que ceder. Ai, ai… quem mandou se apaixonarem tão bonito? 💔
Mal sabem eles que o pior (ou o melhor?) ainda está por vir… 👀✨

Capítulo 12: Quando o silêncio fala

  O elevador parou no quarto andar com um estalo seco. Ajustei a alça da mochila no ombro, respirei fundo e saí, tentando me preparar para o que viria. O cheiro familiar de café barato e o burburinho das conversas atravessando as baias me atingiram de imediato. Era como voltar no tempo. Como voltar pra casa.
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  Antes que eu pudesse dar mais dois passos, Rodrigo surgiu do meio do setor, sorrindo largo.
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  — E não é que o fujão voltou? — anunciou, alto o suficiente para todo mundo ouvir.
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  As cabeças começaram a se virar na minha direção. Júlia, Felipe, Beatriz, Marcel. Rodrigo veio até mim e me puxou para um abraço rápido e desajeitado, típico dele.
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  — Bem-vindo de volta, campeão. Tava fazendo falta por aqui.
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  Alguns colegas se aproximaram também, batendo nas minhas costas, rindo, soltando piadinhas.
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   — Vai dizer que não sentiu saudade da nossa bagunça? — provocou Beatriz, já puxando uma cadeira extra para mim perto da copa.
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  Sorri. Ri. Devolvi os abraços, os apertos de mão. Parte de mim se sentia acolhido de novo naquele caos organizado, onde ninguém exigia perfeição absoluta, onde ser só humano bastava.
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  Mas, conforme os minutos passavam, algo dentro de mim não encaixava direito.
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  Rodrigo me mostrou minha nova estação de trabalho — a mesma de antes, com vista parcial para a rua, a cadeira meio bamba que eu sempre prometia ajustar. A equipe sugeriu um almoço de boas-vindas para a próxima semana. Beatriz já planejava decorar minha mesa com cartazes ridículos e memes.
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  E eu… eu deveria estar leve. Feliz. Mas no fundo, havia um desconforto estranho.
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  A cadeira do novo setor rangeu quando me sentei. Liguei o computador. Tentei focar nos e-mails que começaram a pipocar na tela, mas o eco dos saltos dela, o som de sua voz firme, o jeito como o mundo parecia girar mais rápido quando ela estava por perto… ainda estava ali, cravado em mim.
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  Eu tinha voltado, mas não completamente.
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💻👠

  Já fazia duas semanas que eu estava de volta ao setor de Planejamento. Duas semanas inteiras tentando reaprender a respirar fora daquela sala de vidro. Era estranho. Não de um jeito ruim, exatamente — mas como quem ainda carregava o eco de um lugar onde deixou parte de si.
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  Eu cruzava com às vezes, no elevador, ou no saguão. Sempre de longe. Sempre de forma profissional. Um aceno breve, um “bom dia” seco, ou, muitas vezes, apenas o silêncio confortável — ou desconfortável — que passava entre nós como uma corrente de ar.
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  Estava tentando me adaptar, focar e me convencer de que isso era o certo.
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  O que ajudava era meu novo ritual. Meu perfil no Instagram, aquele que a Clara tinha me convencido a criar, já contava com quase duzentos seguidores — a maioria amigos meus, dela, ou dos nossos pais. Nada muito grande. Nada que mudasse o mundo.
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  Mas, pra mim, era gigantesco.
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  Todo dia, antes ou depois do trabalho, eu postava uma ilustração nova. Pequenas cenas do cotidiano, retratos aleatórios, às vezes apenas rabiscos soltos. Coisas minhas, que eu tinha deixado adormecer por tempo demais.
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  Era estranho como um gesto tão simples podia me ancorar.
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  Era como se, a cada traço, eu estivesse dizendo para mim mesmo: você ainda está aqui. E eu estava. De um jeito novo. Mais cauteloso. Mais inteiro. Ou pelo menos, era o que eu achava.
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  O som da notificação do grupo interno da equipe da fez meu celular vibrar sobre a mesa, era um grupo que eu deveria ter saído, mas não sai. Peguei sem muita pressa — a maior parte do dia tinha sido tranquila —, mas a mensagem me fez arquear as sobrancelhas.
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  Equipe: URGENTE: Problema com relatório enviado ao cliente Rembrandt Group. Erro nos dados de projeção. Reunião de crise às 16h com diretoria.
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  Deslizei os dedos pela tela, abrindo o anexo. Bastou uma olhada rápida para entender: os números estavam trocados, projeções negativas enviadas como positivas. Uma confusão que, para um cliente como a Rembrandt, poderia soar como desonestidade.
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  Fechei o celular, sentindo a tensão se espalhar pelo corpo.
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  .
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  Era o tipo de erro que ela nunca perdoaria.
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  O burburinho não demorou a começar, óbvio que aquilo vazaria, e não tardou. Alguns colegas sussurravam no café, trocando olhares cúmplices e nervosos.
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  — Você viu? — cochichou Júlia, puxando Beatriz pelo braço. — Dizem que a levou chamada da diretoria. Da diretoria!
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  — A mulher que nunca erra! — completou Felipe, com olhos arregalados. — Se até ela tá levando bronca, a CEO da porra toda, o apocalipse corporativo chegou.
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  Forcei um sorriso discreto, mas a verdade é que um aperto desconfortável começou a crescer dentro de mim. Eu sabia que não era dela o erro. Pelo menos, não diretamente. Mariana. Era Mariana quem agora cuidava dos relatórios. Era o primeiro grande desafio dela e ela… tinha falhado.
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  Meu estômago revirou. Por ela. Mas também por .
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  Voltei pro computador, tentando focar no trabalho, até que o ambiente ao meu redor mudou de repente.
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  O silêncio pesado, os olhares curiosos e o barulho dos saltos.
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  Não. Não pode ser.
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  Levantei os olhos.
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  E lá estava ela.
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   atravessava o setor de Planejamento Interno como se fosse uma tempestade vestida de elegância. O blazer preto, perfeitamente ajustado ao corpo, realçava cada linha da postura dela — impecável, controlada, dominante. A saia lápis desenhava as curvas com precisão quase cruel, e os saltos finos batiam ritmados no chão, como uma trilha sonora de poder.
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  O cabelo estava preso num coque firme, sem um fio fora do lugar, mas era no rosto dela que meus olhos se perderam primeiro. A expressão inquebrável, os olhos afiados, o queixo levemente erguido — a imagem viva da mulher que comandava tudo sem precisar levantar a voz.
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  Linda. Inatingível.
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  E naquele dia, mais do que nunca, letal.
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  Mesmo irritada — talvez principalmente por isso —, ela parecia ainda mais bonita. Como se a tensão que ela carregava deixasse seus traços mais vivos, mais intensos. Era o tipo de beleza que não se explicava; só se sentia. E eu sentia. Cada passo dela reverberava em mim, cada movimento preciso, cada desvio mínimo dos olhos, cada respiração contida… Tudo me puxava como gravidade.
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  Quem não a conhecesse pensaria que ela estava apenas no controle, como sempre, mas eu sabia, eu conhecia a diferença. A rigidez no maxilar. O jeito como os dedos estavam levemente fechados, como se precisasse conter alguma coisa. A tensão no pescoço, mesmo sob a gola da blusa impecável.
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   estava irritada.
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  E ainda assim, era a coisa mais linda e perigosa que já tinha pisado naquele andar.
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   parou a poucos passos de distância. O setor inteiro parecia ter congelado. O som dos teclados diminuiu. As conversas morreram. Só o eco dos saltos dela ainda parecia vibrar no ar, como se o próprio prédio soubesse quem tinha acabado de chegar.
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  Ela me encarou com aquela intensidade silenciosa que era só dela — como se, em uma olhada, pudesse atravessar todas as barreiras que eu tentava manter de pé. Meu corpo inteiro ficou alerta. O coração batendo num ritmo descompassado, as mãos suando levemente.
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   não precisou elevar a voz, bastou um gesto mínimo — um aceno curto com a cabeça.
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  — , preciso falar com você. Agora. — disse, com aquela calma cortante que era quase mais perigosa do que se estivesse gritando.
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  Dei um passo em sua direção, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Rodrigo surgiu, como se tivesse sentido o cheiro da confusão no ar. Ele veio quase trotando do fundo do setor, ajeitando a camisa amassada e sorrindo de um jeito nervoso.
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  — Senhorita ! — cumprimentou, a voz dois tons mais alta que o normal. — Se precisar de uma sala para conversar, pode usar a minha. Fique à vontade! — apontou com uma mão apressada para sua própria porta, praticamente escancarando o espaço para ela.
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  — Obrigada. — respondeu, seca, sem perder tempo com sorrisos diplomáticos. Seus olhos não se desviaram de mim nem por um segundo.
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  O recado estava dado: era para mim.
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  Rodrigo me lançou um olhar quase solidário — como quem sabia que eu estava sendo jogado aos leões —, mas deu dois passos para trás, recuando como um bom sobrevivente.
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  Ajeitei rapidamente a gola da camisa e segui até a sala improvisada, sentindo todos os olhares me acompanharem como uma procissão silenciosa. Quando a porta se fechou atrás de nós, o mundo inteiro pareceu desaparecer.
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  Só restava ela.
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  E eu.
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  E algo no ar entre nós que parecia prestes a explodir.
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   caminhou até a mesa do Rodrigo com passos controlados, mas dava para ver na rigidez dos ombros que ela estava segurando o próprio temperamento com rédeas curtas.
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  Eu fiquei de pé, esperando, sem saber direito onde colocar as mãos — se no bolso, cruzadas, ou simplesmente largadas ao lado do corpo. No fim, só fiquei ali, tentando parecer mais inteiro do que estava por dentro.
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  Ela virou, enfim, para me encarar. O blazer preto moldava sua silhueta com perfeição cruel, e os olhos — normalmente tão afiados — agora carregavam algo mais. Uma tensão misturada com cansaço.
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  — O relatório do Rembrandt Group. — começou, a voz baixa, mas firme. — Houve um erro grave.
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  Assenti devagar, mesmo sem saber exatamente onde aquilo ia dar. Ela avançou um passo.
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  — Mariana… — hesitou por um segundo, e eu vi, vi de verdade, como foi difícil pra ela dizer o que viria a seguir. — A Mariana errou. Deixou passar dados trocados. O cliente recebeu o documento errado.
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  Fiquei em silêncio, absorvendo o peso daquilo. Era o tipo de erro que podia afundar uma negociação inteira. E, para alguém como , era mais do que um erro. Era um golpe.
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  — A diretoria me pressionou. — continuou, cruzando os braços como se precisasse de algo para se apoiar. Respirou fundo, sem drama, apenas com aquele jeito prático que escondia tudo o que ela não sabia dizer. — Eu nunca… fui pressionada desse jeito, eu sou quem pressiono as pessoas.
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  Minha garganta apertou ao ver a maneira como ela segurava as próprias palavras. , tão inquebrável, agora tinha rachaduras invisíveis. Dei um passo mais próximo, instintivamente.
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  — O que você precisa de mim? — perguntei, a voz saindo mais macia do que eu pretendia. Ela piscou devagar, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado.
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  — Preciso que me ajude a corrigir isso. — disse, por fim. — Discretamente. Antes que piore.
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  Engoli seco. Não porque não queria ajudar, mas porque vê-la assim, vulnerável daquele jeito silencioso, me fazia querer atravessar o maldito salão inteiro, colocar o mundo abaixo e dizer que ela não precisava carregar tudo sozinha. Mesmo sabendo que ela jamais pediria isso.
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  — Claro. — respondi, firme. — Me diga o que você precisa.
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   soltou o ar devagar, como se aquele pequeno gesto de confiança já fosse um alívio maior do que ela gostaria de admitir.
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  — Quero refazer o relatório do zero. Rever todos os dados. Checar cada informação. Preciso que você supervise isso comigo. — sua voz tremeu só um pouco, imperceptível para quem não a conhecesse tão bem quanto eu. — Preciso garantir que, dessa vez, seja impecável.
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  Assenti, sentindo algo quente se espalhar pelo peito.
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  Não era apenas trabalho.
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  Era ela confiando em mim. Ainda. Mesmo depois de tudo, mesmo depois do que fomos — ou quase fomos.
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  — Quando você quiser começar. — disse.
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  Ela me olhou por um instante, o olhar firme, mas com uma rachadura sutil na muralha que ela ergueu.
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  — Agora. — respondeu, como se qualquer outra opção fosse inaceitável.
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   saiu da sala do Rodrigo sem esperar por mim. Os saltos dela batiam firmes no chão, anunciando sua irritação como uma sirene silenciosa enquanto atravessava o setor.
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  Parei por um segundo, ajeitando a camisa e respirando fundo. Precisava pegar meu notebook antes de acompanhá-la — e, honestamente, também precisava de uns segundos a mais para recompor o que a presença dela fazia comigo.
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  Atravessei a baia, peguei o notebook e os documentos necessários, sentindo os olhares curiosos do setor pesarem sobre minhas costas. Quando voltei, já esperava no corredor, braços cruzados, impaciente.
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  Sem dizer uma palavra, ela virou nos calcanhares e seguiu em direção ao elevador. Eu a acompanhei em silêncio.
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  O trajeto até sua sala foi rápido — e silencioso. Quando chegamos, o cenário que nos recebeu foi ainda pior do que eu imaginava: Mariana estava sentada à própria mesa, com os olhos inchados de tanto chorar. Tentava disfarçar a vermelhidão com as costas da mão, mas era inútil. O rosto dela denunciava tudo: a vergonha, o medo, o peso esmagador de ter errado.
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   passou por ela como um furacão contido — sem diminuir o passo, sem desviar o olhar, mas não sem deixar claro o que sentia: bufou alto, um som carregado de exasperação que ecoou no corredor silencioso.
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  Meus olhos imediatamente se voltaram para Mariana. Ela já era pequena naquela cadeira, mas depois desse gesto… parecia ainda menor. Segurei o notebook com força e me virei levemente para trás, chamando-a num tom baixo, mas firme:
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  — Mariana. — sibilei. — Vem!
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  Ela me olhou, hesitante, como se não tivesse certeza se era uma ordem ou um convite. Assenti discretamente, incentivando-a. Mariana se levantou, ajeitando a barra do vestido com as mãos trêmulas, e nos seguiu com passos curtos e indecisos.
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   não olhou para trás. Entrou direto na sala de reuniões e se postou à cabeceira da mesa, o ar ao redor dela pesado como chumbo. Coloquei o notebook na mesa e abri o relatório. Mariana ficou de pé, sem saber onde se colocar.
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   cruzou os braços e a encarou como se fosse uma folha em branco prestes a ser rasgada.
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  — Você revisou esse relatório antes de enviar? — perguntou, a voz gelada. Mariana abriu a boca, mas nenhum som saiu de imediato.
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  — Eu… eu revisei, mas… — ela engoliu em seco —, mas eu não percebi que o arquivo estava desatualizado.
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  — Não percebeu. — repetiu, como se saboreasse o gosto amargo das palavras. — Um detalhe que poderia custar milhões à empresa passou despercebido porque você não percebeu.
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  Mariana baixou o olhar, e eu vi quando ela se encolheu ainda mais. se aproximou dela, devagar, como quem vai fustigar uma presa.
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  — Isso é inaceitável. — disse, cada sílaba mais cortante que a outra. — E eu não tenho tempo para babysitters.
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  Mariana tremeu visivelmente. E foi aí que eu não aguentei. Fechei o notebook com força, fazendo um som seco ecoar pela sala. me olhou, surpresa. Eu mantive o olhar firme no dela.
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  — Chega. — disse, a voz baixa, controlada, mas firme. Ela arqueou uma sobrancelha, o rosto numa máscara de frieza.
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  — , isso é uma questão de responsabilidade.
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  — E ela sabe disso. — rebati. — Você acha que ela não está sentindo o suficiente? Que ela não vai carregar isso por semanas, talvez meses? — Inclinei levemente o corpo à frente. — O que você está fazendo agora não é consertar o erro. É esmagar.
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  O silêncio caiu pesado entre nós. Mariana parecia prestes a chorar de novo, mas se obrigava a ficar de pé.
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   fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, como quem engolia a raiva. Quando voltou a me encarar, havia algo diferente ali. Não era apenas irritação, era algo que misturava frustração e… culpa.
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  — Você acha que eu sou cruel. — disse ela, a voz mais baixa agora.
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  — Não. — respondi sem hesitar. — Eu acho que você esquece que os outros também sentem. Que nem todo mundo é feito de aço como você.
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  As palavras pairaram entre nós, carregadas demais para serem ignoradas.
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   desviou o olhar. Por um segundo, a CEO inflexível que todos conheciam pareceu apenas… humana. Forte. Orgulhosa. Assustada.
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  Ela respirou fundo novamente e virou para Mariana, o tom menos cortante desta vez:
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  — Sente-se. Vamos refazer o relatório. Juntos.
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  Mariana piscou, surpresa, mas obedeceu de imediato, sentando-se na cadeira mais próxima. não disse mais nada. Apenas se sentou, abriu o notebook e começou a trabalhar. E eu… eu fiz o mesmo.
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  O silêncio entre nós era denso, carregado demais para ser confortável, mas, de algum jeito estranho, não era hostil. Era um silêncio de reconstrução, de quem sabia que, apesar dos estragos, ainda havia algo ali que valia a pena tentar salvar.
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  Enquanto revisávamos o relatório juntos, vi de relance a forma como ela, de tempos em tempos, olhava de soslaio para o que eu fazia — como se buscasse, sem admitir, a minha aprovação. Ou talvez, de forma ainda mais sutil, como se buscasse apoio.
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  E foi ali, naquele gesto quase imperceptível, que eu percebi. Minha opinião importava para . Não oficialmente, não verbalmente — ainda era a , afinal. Mas, de alguma maneira, eu já tinha atravessado barreiras que ela jurava serem intransponíveis. Eu já era alguém que ela… escutava.
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  E, naquele momento, mesmo com todas as feridas abertas, com toda a distância que tentávamos fingir que existia entre nós, isso foi suficiente para manter meu coração batendo firme no peito.
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  Porque às vezes, as vitórias mais importantes eram assim. Silenciosas. E talvez, só talvez, ainda estivesse aprendendo a vencer… sem precisar destruir quem tentava caminhar ao lado dela.
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  O tempo passou devagar enquanto a gente revisava o relatório, linha por linha, número por número. , metódica como sempre, corrigia as informações com precisão cirúrgica. Eu, mais atento do que nunca, apontava inconsistências sutis que, em outro momento, talvez tivessem passado despercebidas até para ela.
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  Mariana trabalhava em silêncio ao nosso lado, o semblante ainda tenso, mas já sem o pânico estampado no rosto. Às vezes, eu explicava alguma coisa a ela num tom baixo, paciente, e percebia o jeito que desviava os olhos da tela por meio segundo, como se estivesse anotando mentalmente a diferença de abordagem.
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  Era como se estivéssemos… sincronizados. De um jeito estranho e inesperado, como duas peças que tinham aprendido — à força — a funcionar juntas, mesmo quando o encaixe doía.
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  Quando terminamos de revisar o relatório, fechou o notebook devagar, como se pensasse no próximo movimento. Seus olhos, agora mais calmos, cruzaram com os meus, e ela respirou fundo antes de falar:
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  — Mariana, pode nos dar um momento, por favor?
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  A garota pareceu hesitar por um segundo, olhando de mim, para ela, mas assentiu rapidamente, recolhendo os papéis que restavam e saindo quase em um tropeço, fechando a porta atrás de si com cuidado.
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  A sala mergulhou num silêncio pesado. Só nós dois. De novo.
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   permaneceu sentada por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras a dedo. Então se levantou, caminhou lentamente até o lado oposto da sala e apoiou as mãos na mesa, de frente pra mim. Sem a máscara de CEO. Só .
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  — Eu queria agradecer. — disse, a voz firme. — Não só por ter ajudado com o relatório… mas por ter me feito enxergar que às vezes… eu erro a mão.
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  Pisquei, surpreso. Nunca tinha visto admitir algo tão… vulnerável.
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  — Você foi duro comigo — ela continuou, com um meio sorriso que não alcançou totalmente os olhos. — Mas era o que eu precisava ouvir.
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  Minha garganta fechou um pouco. Eu só consegui balançar a cabeça, aceitando o agradecimento silenciosamente, mas ainda não tinha terminado. Ela cruzou os braços, como se precisasse se proteger de alguma coisa, e soltou:
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  — Eu vi seu Instagram. — Minhas sobrancelhas arquearam de surpresa.
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  — Você… viu? — minha voz saiu mais rouca do que eu gostaria. assentiu, o olhar cravado em mim.
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  — Mariana comentou outro dia, enquanto eu assinava uns documentos. Curiosidade me venceu. Entrei. Vi suas ilustrações. — Ela fez uma pausa, e o canto da boca se curvou de leve. — Você é bom. Muito bom, .
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  O calor subiu pelo meu rosto antes que eu pudesse controlar. Tossi discretamente, desviando o olhar para o chão por um segundo antes de voltar a encará-la.
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  — É… algo que eu sempre gostei de fazer. — murmurei. — Desde moleque. — se aproximou um pouco mais, interessada.
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  — Então… por que Administração? — Suspirei, apoiando as mãos na beirada da cadeira.
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  — Porque desenhar não pagava as contas. — confessei, com um meio sorriso cansado. — Eu precisava de algo seguro, estável. E a faculdade de Administração parecia o caminho mais… sensato.
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   me estudou por um momento, como se enxergasse mais do que eu dizia.
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  — Mas sensato não é o mesmo que apaixonante.
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  Aquela frase ficou pairando no ar. Tão óbvia e tão… cortante. De alguma forma, sempre via através das defesas que eu tentava construir.
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  — Não. — admiti, baixinho. — Não é.
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  Ela se aproximou ainda mais, até estar de pé ao lado da cadeira onde eu estava sentado. A distância era pequena demais, íntima demais. Meu coração bateu forte, e eu precisei me concentrar em manter a respiração estável.
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  — Quando você desenha… — disse, baixando o tom de voz, como se confessasse um segredo — …é como se tivesse algo ali que… transborda. Como se fosse a sua verdade.
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  Olhei para ela, surpreso não só pelas palavras, mas pela sinceridade no olhar. não falava bonito à toa. Se ela dizia aquilo, era porque tinha sentido.
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  — Eu ainda tô tentando lembrar quem eu sou nisso tudo. — confessei num sussurro. — Mas… desenhar sempre foi o que me fazia sentir vivo.
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  — Então talvez… — ela começou, a voz suave — esteja na hora de começar a viver pra isso.
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  O peso daquela frase me acertou em cheio. Tanto pelo que dizia… quanto pelo fato de que era ela dizendo. . A mulher que raramente deixava espaço para sonhos. Estava ali, plantando um deles na minha frente.
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  Fiquei sem reação. Só conseguia encará-la, sentindo que algo entre nós mudava — mais uma vez. De um jeito lento, silencioso… mas inegável.
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   desviou o olhar depois de alguns segundos, como se tivesse se permitido demais. Pegou a caneta que estava esquecida na mesa, fingindo reorganizar papéis.
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  — Era só isso. — disse, voltando a vestir a armadura da CEO, ainda que um pouco trincada agora.
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  Assenti, sem conseguir impedir o sorriso discreto que se formava nos meus lábios. Levantei, peguei o notebook, e enquanto caminhava até a porta, me permiti olhar para ela uma última vez.
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   continuava de costas, fingindo trabalhar, mas a tensão sutil nos ombros dela entregava o que as palavras não diziam: ela sentia.
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  E, de algum modo, mesmo sem admitir, ela torcia por mim.
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  Por nós.
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  De um jeito que ela ainda não sabia nomear — mas que, no fundo, já existia.
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  Quando saí da sala de reuniões — ou melhor, da trincheira temporária montada pela —, tentei ajeitar o notebook debaixo do braço e puxar uma respiração que limpasse o caos interno. O corredor do andar da diretoria estava silencioso, profissional até demais. Ninguém comentava nada. Ninguém encarava. Mas eu sabia que, ali, as pessoas sabiam das coisas mesmo sem olhar, era o tipo de silêncio que pesava.
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  Apertei o botão do elevador e, enquanto as portas se fechavam, encostei a cabeça brevemente na parede de aço polido. “Finge costume, .” Era isso que me restava fazer.
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  Quando o elevador chegou ao andar de Planejamento, o cenário era completamente diferente. O burburinho habitual, as conversas atravessadas nas baias, as canecas de café disputando espaço nas mesas. Era caótico. Mas era familiar.
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  E bastou dar alguns passos para sentir os olhares. Meus colegas não eram discretos, nem um pouco. Júlia foi a primeira a largar o que estava fazendo, piscando exageradamente quando me viu:
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  — E não é que voltou vivo? — sussurrou alto o suficiente para metade do setor ouvir.
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  Beatriz levantou a cabeça da tela do computador e sorriu de canto:
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  — Achei que ia ter que começar a preparar um tributo em sua memória, .
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  Felipe girou na cadeira como se estivesse num programa de auditório e apontou pra mim:
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  — Mas olha só… tá até sorrindo! — provocou, rindo. — Pra quem acabou de tapar buraco de relatório errado, tá muito felizinho, hein.
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  Senti o rosto esquentar na hora. Cruzei os braços sobre o notebook, tentando parecer impassível e falhando miseravelmente.
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  — Não tem nada a ver. — rebati, seco, o que só fez os sorrisos se alargarem ainda mais.
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  — Uhum, claro — murmurou Júlia, escondendo a risada atrás da caneca de café. — A gente acredita.
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  Beatriz não deixou passar:
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  — Agora, falando sério… — ela abaixou a voz, conspiratória — meu Deus, né? Que mulher. Que presença.
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  — A de perto é… — Felipe balançou a cabeça como se ainda estivesse impressionado — é outro nível. Uma aula de classe e intimidação em forma humana.
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  — Parece que ela nasceu pra mandar na porra toda — completou Rafael, rindo. — Dá pra entender porque todo mundo que trabalha direto pra ela anda na linha.
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  — É bonita de um jeito que você nem sabe se admira ou se pede licença para existir no mesmo ambiente — soltou Júlia, arrancando uma gargalhada geral.
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  Tentei não reagir. Tentei, de verdade. Mas a imagem dela veio à minha cabeça na hora: o blazer preto impecável, o cabelo arrumado, o olhar de quem atravessava qualquer sala como se fosse dona do lugar — porque era mesmo.
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  E pra mim… pra mim, ela era tudo isso. E ainda mais. Era impossível resumir o que eu sentia. O que me atravessava toda vez que ela estava por perto.
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  Revirei os olhos e bati com a palma da mão na borda da minha mesa, meio brincando, meio sério:
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  — Bora trabalhar, gente! — falei. — Ou querem que a desça aqui pra pegar no pé de todo mundo?
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  O efeito foi imediato: o pessoal fingiu voltar ao trabalho, mas as risadinhas e olhares cúmplices ainda pairavam no ar.
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  Me sentei na minha cadeira, abrindo o notebook na tentativa desesperada de focar nos números, nos relatórios, nos gráficos… mas era inútil. O toque leve da voz dela ainda ecoava na minha cabeça. O jeito como ela tinha falado do meu Instagram. O jeito como ela tinha me olhado, como se… se importasse.
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  Foi quando o celular, largado ao lado do notebook, vibrou. Uma notificação solitária acendeu a tela.
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  [.] começou a seguir você.
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  Eu congelei.
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  Não era possível.
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  Olhei de novo.
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  Sim. Era real.
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  Minha garganta secou na hora, o coração disparando como se eu estivesse no meio de uma maratona e não sentado numa baia qualquer. Tentei racionalizar. Talvez fosse só… curiosidade profissional? Uma forma educada de apoiar? Mas quando se tratava de , nada era tão simples.
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  A vontade de abrir o perfil e ver se ela tinha curtido alguma coisa era quase irresistível. Mas, com metade do setor me espiando por cima dos monitores, forcei a manter o celular virado para baixo e tentei ignorar o calor subindo pelo meu pescoço.
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  Foco, .
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  A noite chegou trazendo consigo um misto estranho de ansiedade e exaustão. Clara tinha avisado mais cedo que ia trazer o Marcos pra jantar com a gente — o “tal” Marcos, aquele que até então era só um nome e algumas descrições suspeitas.
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  — Se comporta, hein. — ela disse, antes de sair correndo pro mercado no fim da tarde pra comprar ingredientes.
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  Agora, eu estava no sofá da sala, de camiseta e calça jeans, fingindo ver TV, mas na verdade… esperando. De braços cruzados, batendo o pé no chão sem nem perceber.
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  Quando a porta se abriu, ouvi os passos rápidos dela e, logo depois, um segundo par de passos mais contidos. Me levantei automaticamente, como um general esperando inspeção. Clara apareceu primeiro, um sorriso largo no rosto.
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  — , esse é o Marcos. — disse, quase cantarolando de tanta empolgação.
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  Meu olhar recaiu sobre ele. Marcos era mais baixo do que eu imaginava, cabelo castanho bagunçado, óculos de armação fina, usando uma camisa polo azul-marinho que claramente ele tinha escolhido com muito cuidado. Carregava uma garrafa de vinho numa mão e um sorriso nervoso na outra.
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  — Boa noite, senhor. — ele disse, estendendo a mão pra mim. Franzi o cenho na hora.
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  — Senhor? — arqueei uma sobrancelha, aceitando o aperto de mão. — Quantos anos você acha que eu tenho, moleque? — Ele ficou vermelho até as orelhas.
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  — D-desculpa. É o costume. Educação, sabe? — gaguejou, tentando se recuperar. Clara bufou, passando entre nós dois e batendo de leve no meu ombro.
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  — Para de assustar ele, . Ele já é tímido, coitado.
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  — Tímido? — repeti, encarando o garoto. — Tímido é bom. Mantém ele longe de problemas. — Marcos soltou uma risadinha nervosa, ajeitando os óculos.
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  — Eu… só quero fazer a Clara feliz. — disse, com uma sinceridade tão pura que até eu, com toda a pose de irmão mais velho carrancudo, precisei respirar fundo para não ceder. Clara rolou os olhos, rindo.
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  — Ele é fofo, né? Eu disse.
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  — Fofo demais. — murmurei, fingindo resignação. — Daqueles que a gente guarda no bolso pra proteger do mundo. — Ela soltou uma gargalhada, puxando Marcos pela mão em direção à cozinha.
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  — Vem, antes que ele resolva mudar de ideia e te bote pra correr.
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  — Eu não corro. — Marcos respondeu, ainda tímido, mas firme, arrancando de mim um meio sorriso que tentei esconder.
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  Passamos a noite jantando lasanha, Clara rindo de cada história embaraçosa minha que ela podia lembrar, e Marcos, aos poucos, se soltando. Ele falava sobre os projetos da faculdade, sobre a paixão por astronomia, sobre o sonho de trabalhar com engenharia aeroespacial. E, mesmo que uma parte de mim ainda estivesse em alerta — irmão mais velho é assim, não tem jeito —, não dava pra negar: ele era um bom garoto.
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  No fim da noite, enquanto Clara e Marcos lavavam a louça juntos, trocando risadas e olhares cúmplices que diziam muito mais do que palavras, peguei o celular largado na poltrona. O ícone do Instagram ainda piscava discretamente na barra de notificações. Com o coração meio apertado — e curioso demais —, desbloqueei a tela e abri o aplicativo.
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  Primeiro, lá estava ela.
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  [.] começou a seguir você.
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  Nenhuma curtida. Nenhum comentário.
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  Só aquilo. Simples. Silencioso. Mas, vindo dela… Aquilo era quase uma confissão velada. Um “eu vejo você” traduzido na linguagem fria das redes sociais.
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  Sorri sozinho, baixinho, sentindo o peso de tudo o que significava para mim, e o quanto, ainda assim, ela conseguia mexer comigo com um gesto tão pequeno.
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  Mas antes que pudesse me perder nesse pensamento de novo, outra notificação me chamou a atenção. Uma mensagem direta, que tinha chegado horas antes — antes mesmo das 18h — mas que, na correria do dia, eu não tinha visto.
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[Studio Bravura Ilustração]:
  “Olá, ! Acompanhamos algumas das suas postagens recentes e adoramos seu estilo. Estamos em busca de novos talentos para integrar nossa equipe de ilustradores. Gostaríamos de convidá-lo para uma conversa inicial. Se tiver interesse, por favor, nos envie seu e-mail para agendarmos.”
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  Fiquei paralisado por alguns segundos. Olhei para a tela como se ela estivesse brincando comigo, mas não. Estava lá. Real. Verdadeiro.
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  Alguém — além da , além dos meus amigos, além da Clara — tinha visto o que eu fazia e queria me dar uma chance. O sorriso que escapou dos meus lábios dessa vez não foi tímido. Foi largo. Cheio. Vivo.
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  Olhei para a cozinha, onde Clara ria de algo que Marcos tinha dito, e senti uma onda estranha e boa invadir meu peito. Talvez… talvez tudo estivesse começando a mudar. E, pela primeira vez em muito tempo, essa mudança parecia menos assustadora — e mais minha.
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Nota da autora: Que tudoooo, meu povo! Nosso menino recebendo convite para entrevista… curioso que foi logo depois da conversa com a , né? 👀 Coincidência ou o universo conspirando?
Será que vem aí o debut oficial do rapaz?
A gente descobre na próxima atualização!
Beijooo

Capítulo 13: Ecos do Adeus

  O relógio marcava 9h quando eu cheguei ao prédio discreto onde funcionava o Studio Bravura. Nada de fachadas chamativas, nada de recepção luxuosa. Era um sobrado simples, com paredes brancas e janelas grandes que deixavam a luz natural invadir cada canto. Mas, do lado de dentro, tudo gritava arte. Quadros de vários estilos forravam as paredes, prateleiras abarrotadas de sketchbooks, mesas com pincéis, tablets gráficos e molduras esperando para serem preenchidas.
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  Respirei fundo, tentando controlar o frio no estômago.
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  Você não está mais em uma reunião de diretoria, . Agora é outro tipo de batalha.
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  Ajeitei a alça da mochila no ombro e avancei para a pequena recepção improvisada. Um quadro negro com letras tortas dizia: “Bem-vindo, onde sua arte fala primeiro.” A frase me arrancou um sorriso nervoso.
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  Antes que eu pudesse me perder demais naquele universo novo, uma mulher de sorriso fácil e cabelo ruivo preso num coque bagunçado se aproximou.
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  — ? — perguntou, a voz doce, mas segura.
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  — Sou eu. — respondi, estendendo a mão.
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  — Prazer, eu sou a Marina. — disse, apertando minha mão com firmeza. — Fico feliz que tenha vindo. O pessoal aqui adorou seu trabalho no Instagram.
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  Meu coração tropeçou dentro do peito. Eles viram. Eles realmente viram.
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  Marina me conduziu até uma sala iluminada, onde algumas telas em processo de criação estavam encostadas nas paredes. No centro, uma mesa redonda simples, com duas cadeiras.
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  — Pode ficar à vontade — disse ela, sorrindo enquanto se sentava. — Aqui, a gente acredita que técnica é importante, claro, mas o que mais nos interessa é o que está por trás do traço. A sensibilidade, a autenticidade. A voz de quem desenha.
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  Assenti, engolindo em seco. Sentia a camisa colar um pouco nas costas de tanto nervosismo.
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  A entrevista começou leve, com perguntas sobre minha rotina de desenho, o que me inspirava, que tipo de arte eu gostava de consumir. Fui falando aos poucos — sobre como eu comecei desenhando super-heróis no caderno da escola, sobre como a vida foi me puxando pra longe disso, mas o amor pela arte nunca deixou de existir.
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  Em algum momento, nem parecia mais uma entrevista.
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  Era uma conversa. Uma troca.
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  Marina perguntou qual era o meu sonho, e, antes que eu pudesse racionalizar, a resposta saiu:
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  — Só quero… criar coisas que façam alguém parar o que está fazendo e sentir algo. — murmurei, meio sem jeito. — Não importa se é grande ou pequeno. Só… sentir.
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  Ela sorriu, um sorriso genuíno, como se tivesse ouvido exatamente o que queria.
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  — Acho que é disso que o mundo precisa, . De artistas que ainda se importam em fazer sentir.
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  Ficamos ali por quase uma hora, falando de técnicas, referências, projetos futuros. Quando a entrevista terminou, Marina apertou minha mão de novo e disse que entrariam em contato em breve.
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  Sai do estúdio com o sol forte batendo no rosto e a cabeça leve — como se eu tivesse deixado algo meu lá dentro, junto com os traços das minhas ilustrações.
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  Não sabia se ia ser o bastante. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu tinha sido cem por cento eu. E, de algum jeito estranho e bonito, aquilo já era uma vitória.
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  Dois dias depois da entrevista, eu já estava quase convencido de que não tinha dado em nada.
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  Estava sentado na minha velha baia do Planejamento, tentando me concentrar em uma planilha absurda de orçamento, quando o computador apitou discretamente. Uma nova notificação de e-mail. Olhei sem muita pressa — provavelmente só mais alguma cobrança de relatório.
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  Mas quando vi o remetente, meu coração tropeçou.
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  [Studio Bravura Ilustração] – Retorno da entrevista
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  Meus dedos congelaram sobre o teclado.
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  Engoli seco e cliquei.
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  , foi um prazer enorme conversar com você. Depois de avaliarmos cuidadosamente seu perfil e suas ilustrações, temos o prazer de informar que gostaríamos de tê-lo em nosso time de ilustradores!
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  Seja bem-vindo ao Studio Bravura! 🎉
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  Em breve enviaremos as informações sobre o contrato e os primeiros projetos.”
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  Fiquei parado, encarando aquelas palavras como se elas fossem evaporar a qualquer segundo.
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  Eu… consegui.
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  Consegui.
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  Senti a emoção subindo tão rápido que precisei apertar os punhos para não sair comemorando no meio do setor. O coração batia alto demais, e, por um segundo, todo o barulho das conversas, dos teclados e dos telefonemas pareceu se dissolver ao meu redor.
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  Respirei fundo.
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  Fingi costume.
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  Me inclinei discretamente para frente e peguei o celular. Abri o WhatsApp com dedos trêmulos e entrei no grupo da família:
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  Família Torres 💙 : CONTRATADO! 🎉
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  A resposta veio quase instantânea.
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  Pai: Meu filhooo!!! Que orgulho! Você merece tudo de melhor! Tô chorando aqui.
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  Mãe: , meu amor, sempre acreditamos em você. Agora é só o começo! 💖
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  Clara: AAAAAAAAAAAAAA MEU IRMÃOZÃO TALENTOSO!!!
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  Clara: Sabia que aquele sketchbook ia mudar sua vida, eu sabia!!!
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  Clara: (E sim, estou pulando no intervalo entre as aulas, obrigada pela informação)
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  Sorri, sentindo os olhos arderem discretamente. Abaixei o rosto, fingindo olhar para a planilha, só para ninguém perceber que o cara sério do Planejamento estava à beira de se emocionar com um simples celular na mão.
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  Mas não era simples.
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  Nada disso era simples.
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  Era o meu sonho. Era meu verdadeiro caminho se abrindo, debaixo dos meus pés.
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  A ficha ainda não tinha caído por completo, mas uma coisa eu sabia: naquela manhã, sentado numa cadeira meio bamba, cercado de papéis e planilhas, algo dentro de mim finalmente começou a se alinhar.
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  Eu estava prestes a mudar tudo. E, dessa vez, era por mim.
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  Não deu nem tempo de respirar. Clara praticamente me arrastou — e arrastou o Marcos junto — para nossa pizzaria favorita no bairro. Disse que uma notícia dessas não podia passar em branco. E, como sempre, ela venceu.
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  O lugar era pequeno, aconchegante, com luzes amarelas penduradas em fios grossos pelo teto e cheiro de massa assando invadindo o ar. Era o tipo de lugar que sempre parecia familiar, como se abraçasse a gente assim que passávamos pela porta.
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  Nos sentamos numa mesinha de canto, e Clara já fez questão de pedir uma pizza gigante, metade calabresa, metade quatro queijos, antes mesmo de o garçom perguntar.
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  — A casa paga a primeira rodada de refrigerante, hein? — ela disse, piscando, como se fosse cliente VIP.
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  Marcos riu, tímido, ajeitando os óculos no rosto, e eu só balancei a cabeça, tentando acompanhar a energia dela. A pizza chegou rápido — e, junto com ela, a conversa.
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  — Então, — Marcos começou, com aquela timidez simpática dele —, eu vi alguns dos seus desenhos que a Clara me mostrou… São incríveis, cara. De verdade. Como é que você consegue pensar nesses detalhes todos?
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  Sorri, meio envergonhado.
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  — Ah… acho que é prática. E… sei lá. É como… enxergar as coisas de um jeito meio diferente. Como se eu tentasse desenhar o que sinto, mais do que o que vejo.
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  Marcos assentiu, com os olhos brilhando de sincero interesse.
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  — Isso é muito massa. Sério. Dá pra ver que é paixão de verdade.
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  Fiquei quieto por um segundo, absorvendo aquilo. A pizza ainda nem tinha sido tocada. Era engraçado como uma frase simples podia pesar tanto. Foi Clara quem cortou o momento, do jeito irreverente de sempre.
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  — Marcos, você não tem noção. Se eu te contar direito a novela mexicana que foi a vida amorosa do nos últimos meses, você nem acredita. — disse, pegando uma fatia de pizza como quem preparava o terreno pra fofoca.
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  — Quê? — Marcos olhou confuso entre nós dois. — Como assim? — Levei a mão à testa.
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  — Não precisa exagerar, Clara…
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  — Precisa sim. — ela rebateu, rindo. — Senão perde a graça.
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  Ela se inclinou na mesa, conspiratória.
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  — Então, ó… tudo começou quando o foi ser secretário da CEO. A . — disse, em tom grave, como quem contava uma história épica. — A mulher mais linda, mais poderosa, mais “deixa todos os marmanjos de joelhos” que já pisou naquela empresa.
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  Marcos arregalou os olhos.
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  — Nossa.
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  — Aí — continuou ela, já empolgada —, num belo dia, i aqui teve que resgatar a dama em apuros, no caso, ela, de um encontro péssimo. Sabe aqueles dates que você pensa: “Se eu não sumir agora, talvez eu morra de vergonha”? Pois então. foi o príncipe do Uber.
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  Eu gemi de vergonha.
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  — Clara, pelo amor de Deus…
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  — Não tô nem na metade! — Ela riu, ignorando meus protestos. — Depois disso, aquela tensão sexual que dava pra cortar com uma faca… e bum. Se pegaram. Tipo, de verdade. Loucura total.
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  Marcos, entre surpreso e fascinado, balançava a cabeça.
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  — Eles tentaram manter a rotina normal, fingindo que eram só chefe e funcionário, mas era mentira, né? — Clara deu de ombros. — O estava praticamente morando na sala dela. Ou melhor… na mesa dela, se é que você me entende.
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  — CLARA! — engasguei com a pizza. Ela gargalhou, batendo palmas discretamente.
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  — Enfim! Aí, do nada, alguém tirou uma foto suspeita deles juntos. A fofoca explodiu. E sabe o que a fez? — Clara apontou o dedo pra frente, indignada. — Negou. Falou na reunião que nunca faria isso, que seria “absurdo” se envolver com funcionário. — Marcos arregalou ainda mais os olhos.
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  — Caramba…
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  — Pois é. O ficou com o coração na sola do sapato. — Clara disse, desta vez num tom mais suave. — Mas aí ele decidiu se afastar. Pediu pra sair do setor dela. Foi difícil, viu?
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  Pisquei, tentando disfarçar a pontada no peito que essa lembrança ainda trazia.
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  — E agora? — Marcos perguntou, genuinamente curioso. Respirei fundo.
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  — Agora… — olhei para os dois, sentindo o peso e, ao mesmo tempo, a leveza do que eu ia dizer — eu tô escolhendo ser feliz.
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  O silêncio que se seguiu não foi constrangedor. Foi cheio. Clara sorriu largamente. Marcos sorriu também. Era como se todos nós soubéssemos que, naquele momento, algo novo se abria à minha frente. Peguei uma nova fatia de pizza e, antes de morder, brinquei:
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  — E é claro que a primeira coisa que vou desenhar no estúdio novo vai ser uma pizza gigante. Em homenagem a essa noite. — Clara gargalhou.
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  — Se você desenhar minha cara no meio da pizza, eu te mato. — ameaçou, rindo.
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  E assim, no meio de queijo derretido, piadas ruins e olhares cheios de orgulho, eu comecei a escrever um novo capítulo da minha história.
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  Dessa vez, inteiro.
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  E pela primeira vez, sem medo de ser exatamente quem eu era.
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  Na segunda-feira, eu cheguei mais cedo do que o normal ao setor de Planejamento. O sol mal tinha subido direito, e o andar ainda estava meio silencioso, com alguns poucos colegas batendo nos teclados ou se ajeitando nas mesas. A luz branca e fria dava àquele começo de manhã um ar meio surreal — como se tudo estivesse suspenso por um instante.
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  Respirei fundo, ajeitei a mochila no ombro e caminhei até a sala do Rodrigo. Ele já estava lá, como sempre, ajeitando relatórios e tomando café num copo descartável que parecia pequeno demais para o tanto de energia que ele precisava para aguentar o dia.
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  Bati na porta duas vezes, firme.
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  — Pode entrar! — ele disse, sem levantar o olhar. Entrei, fechando a porta atrás de mim com cuidado.
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  — Rodrigo… — comecei, tirando do bolso a carta de demissão que tinha escrito no fim de semana inteiro —, posso roubar uns minutos?
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  Ele levantou a cabeça, estranhando o tom da minha voz. Seus olhos bateram na folha de papel nas minhas mãos antes de me encarar de verdade.
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  — Opa. — ele sorriu de um jeito meio triste, meio orgulhoso. — Sabia que essa hora ia chegar.
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  Entreguei a carta pra ele. Meus dedos tremeram um pouco, era definitivo agora.
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  Rodrigo leu rapidamente, depois apoiou o papel na mesa com delicadeza. Seu sorriso cresceu, e havia algo de genuíno ali, como um paizão vendo o filho tomar coragem.
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  — Tô feliz por você, . — ele disse, a voz grave, cheia de sentimento. — Vai fazer falta aqui, não vou mentir. A equipe vai sentir. Eu vou sentir. Mas, cara… você tá indo pelo caminho certo. E isso é o que importa de verdade.
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  Engoli seco.
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  Rodrigo se levantou e me puxou para um abraço forte, rápido, mas que disse tudo o que ele talvez nem soubesse como colocar em palavras. Dei dois tapinhas nas costas dele, tentando não deixar a emoção me trair ali no meio da manhã.
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  — Obrigado. — murmurei, sentindo o peso de todas as escolhas, de todos os caminhos, pousar nos meus ombros e, ao mesmo tempo, se tornarem mais leves.
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  Ele se afastou e, com aquele jeito meio prático dele, perguntou:
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  — E a ? Já falou com ela? — Senti minha garganta apertar na hora. Respirei fundo.
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  — Ainda não. — admiti. — Mas vou.
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  Rodrigo apenas assentiu, com aquele olhar que dizia “boa sorte” sem precisar de palavras.
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  Quando saí da sala dele, já dava pra sentir o setor ganhando vida. Gente chegando, conversas começando, o cheirinho de café se espalhando.
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  Parei por um momento no meio do corredor, olhando para aquelas baias onde vivi tanta coisa — as vitórias pequenas, as derrotas invisíveis, os dias em que duvidei de mim mesmo. Tudo aquilo fazia parte de quem eu era agora. E me despedir… doía. Mas era um tipo bom de dor. Daquelas que abrem espaço para algo novo.
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  Fui de mesa em mesa, me despedindo dos colegas. Júlia, Beatriz, Felipe, Marcel… cada um reagiu de um jeito.
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  — Mas já? — Júlia fez cara de drama.
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  — Nem deu tempo de a gente encher seu perfil de memes! — protestou Felipe, rindo.
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  — E a gente tava pensando em te dar uma caneca nova de presente! — disse Beatriz, fingindo indignação.
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  — Eu vou cobrar, hein. — brinquei, sentindo o aperto no peito se misturar com o riso.
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  Eles insistiram em marcar uma comemoração, um jantar de despedida, alguma coisa. E eu sorri, sincero, dizendo:
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  — Não é um fim. É só… um recomeço.
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  Eles concordaram, e o clima que podia ter sido pesado se tornou leve, como se todos entendessem, de alguma forma, que era exatamente isso.
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  Peguei minhas coisas, me preparando mentalmente para o próximo passo: a despedida mais difícil de todas.
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  .
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  Ela ainda não sabia que aquele seria o nosso último encontro como parte do mesmo mundo, mas eu sabia. E, dessa vez, eu estava pronto para seguir.
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  — Vamos nessa, . — murmurei pra mim mesmo, ajustando a mochila nas costas.
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  E fui.
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  Subi até o setor da diretoria com o coração batendo forte no peito, como se quisesse fugir antes de mim. Cada passo até a porta de vidro da sala dela parecia mais pesado do que o anterior. Bati duas vezes, com firmeza, tentando manter as mãos firmes.
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  — Entre. — ouvi a voz dela do outro lado.
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  Abri a porta.
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   estava sentada à mesa, impecável como sempre — o blazer cinza claro ajustado ao corpo, o coque alinhado sem um fio fora do lugar, a postura ereta como se sustentasse o mundo nas costas. Mas o olhar… o olhar era diferente.
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  Quando me viu, houve um segundo — só um — em que a expressão dela vacilou. Como uma sombra cruzando uma superfície polida. Depois, como sempre, ela recompôs o rosto numa máscara serena, inquebrável. Fechei a porta atrás de mim. Respirei fundo. Cruzei a distância até a mesa dela.
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  — Eu precisava falar com você. — minha voz saiu firme, mesmo que minhas entranhas gritassem.
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   apenas assentiu, as mãos entrelaçadas sobre os documentos como se quisesse impedir que tremessem. Puxei uma folha do bolso da jaqueta — uma cópia da carta de demissão — e a coloquei, sem cerimônia, sobre a mesa.
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  Vi o olhar dela endurecer ao bater no papel. Seus dedos deslizaram lentamente até pegar a folha. Ela leu. Não disse nada por um momento longo o suficiente para que eu ouvisse o zumbido leve do ar-condicionado. Quando finalmente falou, a voz dela era controlada demais.
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  — Entendo. — disse. — Se encontrou em outro lugar.
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  Era uma frase prática. Fria. Profissional. Mas quem a conhecia — como eu conhecia — saberia ler nas entrelinhas o que o orgulho tentava esconder: a tristeza. Não uma tristeza escandalosa, de filme. Era a tristeza silenciosa de quem sabe que não pode pedir para alguém ficar.
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  Sorri de canto, sem rancor.
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  — Me encontrei em mim mesmo. — corrigi. — Era hora.
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   desviou o olhar por um instante, como se algo em mim tivesse a atingido mais do que ela gostaria de admitir.
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  — Para onde vai? — perguntou, a voz um pouco mais baixa.
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  — Fui contratado por um estúdio de ilustração. — respondi, sem esconder o brilho nos olhos. — Vou trabalhar desenhando. Criando. Coisa que eu sempre sonhei. — dei de ombros, meio tímido. — Só… demorou pra eu lembrar que podia.
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   apertou levemente os lábios, como quem tenta conter alguma reação.
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  — Você vai ser brilhante. — disse, e dessa vez havia verdade rasgando a voz dela. — Mesmo sem mim.
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  Por um instante, o peso daquelas palavras quase me derrubou. Sorri de novo, mas havia melancolia ali, inevitável.
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  — Mesmo sem você. — repeti, a voz saindo mais rouca do que eu queria.
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  O silêncio que caiu entre nós dois era quase palpável.
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   respirou fundo, como se estivesse prestes a fazer algo. Seus dedos se moveram sobre a mesa, como se quisessem — por um impulso que ela mal controlava — se estender até mim. Como se, no fundo, ainda houvesse tanto a dizer, tanto a fazer.
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  Mas ela se conteve.
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  Eu também.
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  Dei um passo atrás, gentilmente, respeitando aquela barreira invisível que ela ainda precisava manter. Ela então se levantou. Olhou para mim. E, pela primeira vez, sem máscaras, sem defesas, disse:
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  — Obrigada por tudo, .
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  Era simples. Mas era real.
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  Meu peito apertou.
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  — Obrigado, . — respondi. — Por tudo também.
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  Nos encaramos por mais alguns segundos que pareceram se esticar no tempo. Eu sabia que, se saísse agora, aquela seria a última imagem dela que eu teria guardada: forte, sozinha, lutando contra sentimentos que jamais admitiria.
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  Mas algo em mim se rebelou. Dei dois passos de volta e, sem dar espaço para dúvidas, segurei o rosto dela entre as mãos e a beijei.
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  Não foi um beijo casto. Nem contido.
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  Foi um beijo que queimava.
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  Meus lábios encontraram os dela com força, como se dias de silêncio, raiva, desejo e mágoa tivessem se condensado naquele único toque. Um impacto bruto, desesperado, que dizia tudo o que as palavras jamais conseguiriam.
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   correspondeu na mesma intensidade — não havia hesitação, não havia controle — só urgência. Seus dedos se agarraram à minha camisa, fechando-se com força no tecido, puxando-me para mais perto, como se quisesse me manter ali, como se cada segundo importasse.
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  O corpo dela colou ao meu, tenso, trêmulo, e eu deslizei as mãos por sua cintura, apertando-a com a mesma necessidade cega. O beijo aprofundou-se, faminto, nossos corpos se encaixando como se fossem feitos para se perderem um no outro.
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  Meu peito doía pela falta de ar, mas era impossível parar. Ela gemeu baixinho contra a minha boca — um som abafado, sofrido, que atravessou meu corpo inteiro feito corrente elétrica. Passei uma mão pela linha da mandíbula dela, subindo até a nuca, puxando levemente o coque mal preso enquanto nossos lábios continuavam se procurando, se machucando, se despedindo.
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  Era amor. Era raiva. Era a última vez.
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  Quando finalmente me obriguei a recuar, deixei nossas testas encostadas, as respirações misturadas, pesadas, sufocadas pelo que não podia ser dito.
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  Meus dedos ainda acariciava de leve a curva do rosto dela antes que eu sussurrasse:
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  — Essa é a nossa despedida.
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   manteve os olhos fechados, os lábios entreabertos, como se ainda sentisse meu gosto, como se ainda lutasse contra a vontade de puxar-me de volta.
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  E naquele instante, eu soube.
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  Nenhum outro beijo que viesse depois carregaria tanto.
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  Ela lutava para não pedir que eu ficasse. Para não quebrar o próprio mundo só pra me manter ali, mas não disse nada. E isso, de alguma forma, era resposta suficiente.
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  Soltei seu rosto devagar, como se a última parte de mim estivesse sendo arrancada dali.
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  Dei um passo para trás.
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   abriu os olhos. Havia lágrimas presas ali. Mas não caíram. Virei-me, caminhei até a porta, e antes de sair, olhei uma última vez por cima do ombro. Ela ainda estava lá, parada, linda, despedaçada de um jeito que só eu podia ver.
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  Abri a porta.
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  Fechei atrás de mim.
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  E, dessa vez, ao cruzar o corredor silencioso do setor de diretoria, percebi algo diferente. Dessa vez, eu não deixava pedaços de mim para trás.
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  Eu ia inteiro.
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  Finalmente inteiro.
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💻👠

  A porta do estúdio da Bravura Ilustração se abriu com um leve tilintar do sino preso no batente. Eu respirei fundo antes de dar o primeiro passo para dentro. A sala de entrada era cheia de quadros coloridos pendurados nas paredes — estilos completamente diferentes convivendo lado a lado —, e havia cheiro de café fresco misturado a tinta de aquarela.
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  Era… diferente. Acolhedor.
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  Nada da frieza corporativa que eu estava acostumado.
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  Uma recepcionista sorridente me cumprimentou e me indicou onde esperar. Poucos minutos depois, Marina — a gerente simpática que tinha me entrevistado — apareceu, o cabelo preso num coque bagunçado e um sorriso fácil nos lábios.
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  — ! Bem-vindo oficialmente à bagunça mais linda da cidade. — ela brincou, estendendo a mão. Apertei a mão dela, sorrindo também.
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  Ela me apresentou rapidamente a alguns ilustradores, designers e ao pequeno time de criação. As baias eram abertas, cheias de plantas, sketchbooks espalhados, quadros de referências e post-its coloridos. Não havia silêncio absoluto ali — havia música instrumental baixinha tocando, risadas de fundo, conversas rápidas sobre projetos. Era caos, mas um caos que parecia respirar arte.
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  Passei a manhã conhecendo o sistema deles, o fluxo de trabalho, e me entregaram logo um projeto inicial: criar esboços para uma campanha de uma marca de cafés artesanais. Livre, criativo, divertido.
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  Eu, que passei meses suprimindo cada traço de mim mesmo, senti algo reacender. O lápis dançava no papel quase sozinho. Era como lembrar de uma parte esquecida do meu próprio corpo.
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  Na hora do almoço, sentei com dois colegas — Ana e Hugo — e já me vi rindo de bobagens, sem o peso de formalidades sufocantes.
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  Quando o dia acabou, saí do estúdio com o peito tão leve que parecia que podia flutuar. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava exatamente onde deveria estar.
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  Abri a porta já sorrindo, e como sempre, encontrei Clara jogada no sofá, notebook no colo, e Marcos… no tapete, montando alguma coisa de Lego com peças que claramente eram da minha irmã.
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  Ele levantou a cabeça assim que me viu.
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  — E aí, campeão? Como foi o primeiro dia? — perguntou, sincero.
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  Larguei a mochila no canto, largado também, e me joguei no sofá ao lado da Clara, soltando um suspiro satisfeito.
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  — Foi… — procurei a palavra certa, ainda meio embriagado da sensação — diferente. No melhor sentido possível. Eu não precisei ser uma versão editada de mim. Não precisei apertar meu talento em planilhas ou reuniões inúteis. Só… desenhar. Pensar. Criar.
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  Clara fechou o notebook, sorrindo daquele jeito que sempre parecia mais abraço do que gesto.
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  — Eu sabia. — disse, vitoriosa.
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  — E você já fez amigos? — perguntou Marcos, curioso, ajeitando os óculos.
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  — Conheci o Hugo e a Ana hoje. — respondi, contando de forma animada sobre o almoço, a vibe do lugar, a liberdade. — E eles têm um cachorro chamado Tofu que às vezes vai trabalhar com eles. Tá na descrição de funcionário oficial do estúdio.
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  Marcos riu.
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  — Se tem cachorro no trabalho, já é meu emprego dos sonhos.
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  Clara cruzou as pernas no sofá, o olhar cheio de orgulho.
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  — Você merecia isso, . Muito antes do caos todo.
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  Olhei pra ela, e depois pro Marcos, que parecia cada vez mais à vontade, mais parte da casa do que visitante. Na verdade, ele já era. Marcos passava tanto tempo com a gente que já tinha uma caneca com o nome dele na cozinha.
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  — E pensar que até pouco tempo eu não sabia mais quem eu era… — murmurei, olhando para as minhas mãos, agora meio manchadas de grafite.
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  Clara inclinou a cabeça para o lado, como quem segura uma pergunta.
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  — E a ? — ela perguntou, delicada. Suspirei, sentindo ainda uma pontada, mas muito menor do que antes.
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  — Ela vai seguir o caminho dela. Eu vou seguir o meu. — disse. E, pela primeira vez, essa frase parecia verdade. Uma verdade limpa. Sem mágoa sufocante.
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  — Crescimento, bebê. — Clara cantou, rindo e jogando uma almofada em mim. Eu ri também, agarrando a almofada e jogando de volta nela.
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  — Agora, sério — disse, sentando direito. — Obrigado, Clara. Por… ter me puxado de volta quando eu estava me perdendo.
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  Clara sorriu largamente.
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  — Eu vou estar sempre aqui. — ela disse. — De mochilinha pronta para invadir seu estúdio se você deixar a arte morrer de novo.
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  — Não vai acontecer. — prometi, em voz alta. — Eu tô escolhendo ser feliz.
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  Eles sorriram ainda mais, e eu juro que naquele momento, mesmo com o caos que o mundo podia trazer, mesmo sem saber tudo o que viria… eu me senti exatamente onde precisava estar.
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  No lugar certo.
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  Com as pessoas certas.
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  E, principalmente, sendo eu.
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💻👠

  Uma semana se passou.
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  Sete dias inteiros trabalhando no estúdio Bravura, desenhando, criando, respirando arte. Sete dias onde, a cada manhã, eu acordava com uma sensação estranha — mas boa — de que finalmente estava construindo alguma coisa que era minha.
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  O perfil no Instagram também começava a ganhar vida. Alguns seguidores a mais, alguns comentários de ilustradores que eu admirava. Pequenas conquistas que eu colecionava como quem guardava estrelas no bolso.
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  Ainda era cedo. Ainda era frágil. Mas era real.
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  E hoje, depois de um dia puxado no estúdio — rascunhos, reuniões de criação, cafés demais —, eu só queria chegar em casa, largar tudo num canto e relaxar.
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  Abri a porta da sala e encontrei Clara e Marcos esparramados no sofá, assistindo algum filme adolescente com um pote de pipoca gigante no colo. Clara gritou a plenos pulmões assim que me viu:
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  — Adivinha quem chegou do primeiro brainstorm sem parecer que queria jogar alguém pela janela?!
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  — Olha quem fala. — resmunguei, jogando a mochila no chão. — Vocês mora aqui agora ou…?
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  Marcos, com a boca cheia de pipoca, levantou a mão.
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  — Eu pago aluguel em risadas. — respondeu, sério.
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  — E em constrangimento alheio. — completei, me jogando na poltrona mais próxima, fingindo exaustão. — Porque se eu tiver que assistir mais um filme em que adolescentes salvam o mundo enquanto usam jaquetas estilosas, eu vou pedir emancipação.
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  Clara jogou uma almofada em mim.
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  — Reclamão. Você ama estes filmes. É só inveja porque você nunca foi o quarterback da escola.
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  — Graças a Deus. — murmurei, pegando uma almofada para me proteger de novos ataques.
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  O clima era leve. Quente. De família improvisada e perfeita do jeito bagunçado que era a nossa cara. Foi então que a campainha tocou. Clara deu um pulo, animada.
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  — Eu atendo! — disse, já correndo em direção à porta.
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  Nem me mexi. Provavelmente era entrega, ou algum vizinho pedindo ajuda com algo. Voltei a encarar o filme, jogando algumas pipocas no ar e tentando acertar a boca.
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  Resolvi olhar para a porta, e então, a vi.
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  .
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  De jeans escuros, all star, uma blusa branca simples, o cabelo solto como raramente eu via. Linda. Desarmada. Humana.
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  Clara ainda sorria para ela, totalmente à vontade, sem nem desconfiar da bomba que tinha acabado de entrar pela porta. , por outro lado, manteve a postura impecável, mas os olhos… os olhos dela vacilaram. Só por um segundo — pequeno, mas suficiente para eu ver.
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  O olhar dela passou de mim para Clara novamente, e foi então que, com aquela voz controlada demais para ser casual, ela disse:
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  — Desculpe. Devo estar atrapalhando.
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  As palavras saíram suaves, educadas, mas havia uma lâmina fina de tensão cortando cada sílaba.
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  E o olhar dela? O olhar ficou em Clara por um segundo a mais do que o necessário, como se estivesse medindo, julgando, tentando entender que tipo de “amiga” era aquela.
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  Eu travei.
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  Clara, completamente inocente, só riu, abrindo mais espaço com o braço.
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  — Imagina! Pode entrar. O tá ali. Fica à vontade!
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  Mas continuou parada, ainda olhando para ela. Ainda tentando decifrar algo que a estava corroendo por dentro — e que ela, orgulhosa do jeito que era, jamais admitiria em voz alta.
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  O silêncio se alongou, tenso e pesado.
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  E eu soube que aquela noite não ia terminar do jeito que eu tinha planejado.
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Nota da autora: Capítulo de transição, mas tão carregado de significado pra mim ✨
Nosso Arthur finalmente teve sua vitória profissional, tomou coragem, escolheu ser feliz e começou a se reencontrar. Foi um capítulo que eu escrevi com um sorriso bobo no rosto, porque ele merecia demais esse momento 💙
E já aviso: o próximo capítulo vai ser muito especial. Vamos entrar pela primeira vez na cabeça da Alice.   Sim! O capítulo 14 será todinho narrado por ela, com direito a todas as emoções, angústias e verdades que só ela sabe. Se preparem, porque vem aí! 👀
E claro, não deixem de me contar o que acharam… eu AMO ler cada teoria e surto de vocês hahaha! Beijos!

Capítulo 14: À Sombra do Orgulho

Por

  O som dos meus saltos ecoava como sempre no corredor. Preciso. Rítmico. Inquebrantável. Era assim que deveria ser. Era assim que eu precisava ser.
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  Atravessei o setor de diretoria sem diminuir o passo, sem olhar para os lados, sem deixar que nada quebrasse a imagem que passei anos aperfeiçoando. A imagem da mulher que nunca perdia o compasso.
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  Mas, por dentro, cada batida dos saltos soava como um vazio.
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  Hoje era o primeiro dia sem ele.
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  Me sentei à minha mesa, abri o notebook e tentei focar nos relatórios que Mariana havia separado logo cedo. Ela era organizada, aplicada e atenta. Estava fazendo tudo o que precisava ser feito, mas, ainda assim, o peso da ausência dele preenchia cada espaço.
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  Mariana trouxe um café. Eu agradeci com um aceno discreto. Ela voltou para a própria mesa, digitando sem parar. O café estava… ok. Sem açúcar, como sempre. Mas sem alma também.
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  Já havia desistido de pedir os croissants. Nunca vinham quentes o suficiente. sabia disso. Sabia que eu gostava deles levemente tostados, com as pontas crocantes e o centro macio. Sabia que eu tomava o café em goles curtos, entre uma reunião e outra, e que deixava sempre um último gole intacto, por puro hábito. Ele sabia.
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  E era isso que doía: ele sabia até as pequenas coisas que eu nunca precisei dizer…
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  Tentei trabalhar.
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  Ou pelo menos, fingir.
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  Mas era como tentar costurar um tecido que já vinha rasgado. Os pensamentos não paravam. As lembranças vinham em ondas — suaves no começo, depois devastadoras.
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  Eu sempre dava um jeito de vê-lo. Antes, era fácil — bastava um chamado, um e-mail, um relatório qualquer, e lá estava ele: entrando pela porta da minha sala, com aquela postura sempre respeitosa, mas os olhos… os olhos diziam muito mais do que qualquer protocolo.
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  Chamava para reuniões desnecessárias. Pedia atualizações que eu nem precisava. Inventava pretextos só para vê-lo ali, só para ter a presença dele me preenchendo os silêncios.
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  Depois que voltou para o setor de Planejamento, tudo mudou. Eu não podia chamá-lo sem motivo. Não podia mais tê-lo orbitando ao meu redor com a mesma constância silenciosa. Mas… me adaptei.
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  Descia para a copa em horários específicos, apenas para esbarrar com ele no corredor. Esticava as pernas no saguão com a desculpa de encontrar algum gerente — quando, na verdade, só queria vê-lo de longe. Pegava o elevador fora do meu horário só para correr o risco de dividir alguns segundos com ele, em silêncio.
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  Esses encontros se tornaram a minha rotina. Meu vício secreto. Um aceno. Um “bom dia”. Um olhar rápido demais para ser casual. Mas agora, nem isso, nem a casualidade me dava mais o direito de vê-lo.
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  Era estranho. Porque sempre fui eu quem controlava o ritmo. Sempre fui eu quem decidia quando e como algo terminava. Mas, com , ele foi embora antes que eu conseguisse admitir que queria que ele ficasse.
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  Fechei os olhos por um segundo.
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  Só um.
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  Só para tentar retomar o controle.
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  Respirei fundo.
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  Mas não adiantava. Porque eu sabia exatamente quando tudo começou.
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  Não foi no dia em que nos beijamos ou quando fizemos sexo pela primeira vez. Nem na noite em que ele apareceu na minha porta, pronto para me enfrentar. Começou muito antes. No detalhe. No imprevisto.
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  Foi naquele final de tarde, quando ele entrou na minha sala e corrigiu um dado do relatório com tanta calma, mesmo eu estando impaciente. Quando ele me respondeu com firmeza, mas sem arrogância. Quando ele me olhou como quem me enxergava — de verdade — e não apenas como a CEO impossível de agradar.
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  Foi aí que alguma coisa trincou e continuou nas pequenas coisas.
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  Na forma como ele puxava a cadeira com um cuidado quase tímido. Como me trazia um café extra nos dias de reunião longa, sem que eu precisasse pedir. Como ele ficava em silêncio ao meu lado sem pressa, como se minha presença bastasse. Como ele sorria quando achava que eu não estava olhando.
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  A verdade é que eu fui me apaixonando em silêncio. Enquanto fingia indiferença, mantinha a distância, enquanto me escondia atrás de ordens e formalidades.
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  E agora… agora era tarde demais para admitir. Ele já tinha ido embora e eu ainda estava aqui — estagnada no meio do que não disse, do que não fiz, e do que fingi não sentir.
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  O interfone tocou.
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  — Senhorita , a Rafa Kalimann está aqui para a reunião de alinhamento. — informou Mariana.
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  — Pode mandar entrar. — respondi, a voz tão fria quanto o vidro daquela sala.
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  Segundos depois, Rafa entrou, cheia de energia, como se o peso do mundo não a tocasse. Jogou a bolsa em uma poltrona e me lançou um sorriso largo. Fran veio logo atrás, ajeitando o tablet na mesa de apoio.
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  Mariana já estava em sua posição habitual: sentada em uma das cadeiras do canto da sala, caderno no colo, caneta em mãos, pronta para anotar cada palavra que saísse dali. Sempre eficiente. Sempre discreta. Mas ainda… estranha, deslocada. Como se aquele espaço ainda não a reconhecesse.
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  Rafa olhou para Mariana rapidamente, depois para mim, com um olhar cheio de malícia.
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  — Então… — começou, casual — cadê o seu secretário gato?
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  A pergunta bateu como uma pedra no meio da sala. Arqueei uma sobrancelha, mantendo o rosto inexpressivo. Controle. Sempre controle.
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  — O ? — perguntei, como quem mal se lembrava.
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  — É, ué. — Rafa deu uma risadinha leve. — Cadê ele? Achei que ia ver o sorriso dele brilhando nesse andar.
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  Vi Mariana se mexer desconfortavelmente na cadeira, abaixando o olhar para o caderno. Mantive a voz neutra, a mais prática possível.
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  — Ele foi transferido para outro setor. E, recentemente, aceitou uma proposta em uma empresa de ilustração. — Disse, ajeitando distraidamente uma pasta de documentos, apenas para ocupar as mãos. — Mais alinhada com o que realmente quer fazer.
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  Rafa franziu o cenho, surpresa genuína.
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  — Ilustração? — perguntou, interessada. — Uau. Não fazia ideia.
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  — Ele é muito talentoso. — escapou da minha boca antes que eu pudesse filtrar o tom. Baixei os olhos imediatamente, forçando-me a voltar ao foco.
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  Rafa, esperta como sempre, não deixou passar. Um sorriso sapeca surgiu no canto dos seus lábios, mas ela se conteve — talvez percebendo que era um assunto que sangrava mais do que parecia.
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  — Entendi. — disse apenas, se acomodando para começarmos a reunião.
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  Mariana continuou anotando tudo em silêncio. Certa tensão pairava no ar, mas ninguém ousou comentá-la.
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  Falamos de campanhas, novas ações para os próximos meses, discutimos prazos e metas. Mariana fazia o possível para acompanhar, suas anotações rápidas preenchendo o caderno. Ainda assim, era impossível não perceber a diferença. Com , tudo era mais fluido, havia uma sincronia silenciosa. Agora… havia lacunas. Silêncios que nem Mariana — com toda a sua boa vontade — conseguia preencher.
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  Quando a reunião terminou, Rafa se levantou, ajeitando a bolsa no ombro. Olhou de novo para Mariana, depois para mim.
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  — Trocaram o sorriso mais bonito do setor, hein? — comentou em tom brincalhão, mas os olhos me estudavam.
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  Controle, . Sempre.
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  — A Mariana é muito competente. — respondi com firmeza. — Estamos nos adaptando.
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  Rafa apenas sorriu, como quem entendia muito mais do que ouvia, e saiu acompanhada por Fran, que já abria a agenda para marcar a próxima reunião. Quando a sala ficou vazia novamente, Mariana se aproximou, deixando os papéis para assinatura.
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  Assinei tudo no automático. Nem olhei para ela. Nem precisei. Assim que ela saiu, o silêncio caiu como uma cortina pesada. E eu, pela primeira vez em muito tempo, não encontrei refúgio no trabalho.
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  Por impulso, quase sem pensar, abri o navegador e digitei: Torres Ilustração
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  Seu perfil surgiu imediatamente.
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  Uma nova ilustração.
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  Uma xícara solitária. Um café vazio. A luz filtrada pela janela. Solidão desenhada em linhas suaves. Saudade desenhada sem nem saber que era saudade.
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  Fechei a aba com um clique rápido, como se pudesse apagar o que aquilo mexia dentro de mim. Ajeitei a postura, endireitei os ombros, segurei a máscara de CEO com ambas as mãos invisíveis.
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  Eu era .
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  E não sentia falta.
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  Ou, pelo menos, deveria ter aprendido a não sentir.
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👠💻

  A chave girou na fechadura com um estalo seco.
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  Empurrei a porta da cobertura e entrei, os saltos ecoando no piso impecável de mármore claro. Joguei a bolsa sobre a poltrona mais próxima e me desfiz do blazer, deixando-o cair com precisão estudada sobre o encosto.
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  O apartamento parecia ainda mais silencioso do que o normal.
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  Era perfeito. Luxuoso. Moderno. Linhas retas, tons neutros, arte minimalista decorando as paredes brancas como folhas em branco. Cada peça tinha sido escolhida com cuidado. Cada detalhe exalava sucesso.
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  E, ainda assim… Era frio. Inerte. Um cenário de revista que não sabia abrigar ninguém de verdade.
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  Suspirei, tirando os saltos e atravessando a sala até a cozinha aberta. Peguei uma taça de vinho na prateleira, servi o líquido vermelho até a metade e encostei o quadril na bancada, encarando a vista noturna de São Paulo através da parede de vidro.
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  As luzes da cidade piscavam lá fora, indiferentes ao que se passava aqui dentro.
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  Tentei me distrair. Peguei o notebook. Abri pastas. Respondi e-mails. Programei reuniões que nem sabia se queria ter, mas nada me prendia. As palavras escapavam entre meus dedos. As planilhas dançavam na tela. O foco, que sempre foi minha fortaleza, hoje era uma muralha rachada.
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  Fechei o notebook com um estalo mais forte do que pretendia.
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  Cada canto daquele apartamento parecia ecoar a mesma ausência. Cada móvel. Cada quadro. Cada centímetro do chão. Tudo gritava a falta que eu não sabia nomear direito.
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  Fechei os olhos por um segundo. E então, sem pedir permissão, o flash veio.
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  .
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  De pé, no meio da minha sala. A carta de demissão nas mãos. A expressão decidida e triste ao mesmo tempo. A voz dele — rouca, firme, cortando o espaço entre nós:
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  “Eu tô escolhendo ser feliz.”
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  As palavras reverberaram dentro de mim como um trovão. Escolhendo ser feliz.
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  Escolhendo ser livre de mim.
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  Abri os olhos devagar, como quem emergia debaixo d’água. O peso da solidão parecia mais denso naquela noite, infiltrando-se pelas paredes frias da cobertura, colando na pele.
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  E, ainda assim, algo em mim se recusava a soltá-lo completamente…
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  Por que eu soube da contratação antes dele.
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  Vi seu nome entre os novos contratados da Bravura antes mesmo que anunciasse. E naquele momento, sozinha no silêncio frio da minha cobertura, algo dentro de mim aqueceu.
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  Ele conseguiu, estava seguindo em frente. E, de alguma forma — ainda que ele nunca soubesse —, eu tinha ajudado a abrir essa porta.
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  Era irônico. Sempre me considerei uma mulher prática, calculista. Apoiava causas, projetos, movimentos… mas nunca pessoas. Nunca indivíduos. Nunca deixava que alguém ocupasse espaço demais dentro de mim.
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  Exceto ele.
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  .
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  O erro mais doce da minha vida.
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  E foi por ele — só por ele — que eu rompi minha regra mais sagrada: ajudar alguém sem esperar nada em troca. Sem assinar meu nome no final. Sem querer gratidão. Sem querer reconhecimento.
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  Só… querer vê-lo brilhar.
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  Meu peito apertou, e por um breve instante, deixei minha mente voltar àquela noite. A noite em que tomei a decisão que, até agora, guardei só para mim. A noite em que fiz o único gesto verdadeiramente altruísta da minha vida.
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Flashback

  O celular vibrava discretamente sobre a bancada.
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  Olhei para a tela — um número conhecido, mas não pessoal. Respirei fundo antes de atender.
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  — falando.
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  A voz do outro lado era calma, polida. O Sr. Navarro, CEO da Bravura. Um dos poucos contatos que eu mantinha em silêncio no meu círculo de influência.
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  Não porque precisasse dele para algo — mas porque, às vezes, saber pedir da forma certa era mais poderoso do que qualquer ordem direta.
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  — , recebi sua mensagem, estou curioso. — ele disse, com aquele tom brincalhão disfarçado de formalidade.
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  Agarrei a taça de vinho com mais força do que o necessário, mantendo a voz neutra.
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  — É simples, Navarro. — falei. — Quero que olhe o portfólio de um jovem ilustrador. Sem compromisso. Sem promessas.
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  Ele riu baixo do outro lado, como se aquilo fosse diversão para ele.
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  — E por que o interesse, vinda da toda-poderosa da Domus Enterprises?
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  Mordi o interior da bochecha, controlando o impulso de fechar a cara.
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  — Porque é talento genuíno. — respondi. — E… acredito que o tipo de sensibilidade que vocês procuram. Só isso.
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  Houve uma breve pausa. Do outro lado da linha, senti a mudança de tom.
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  — Sem nomes? Sem indicação oficial?
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  — Sem nomes. — respondi rápido. — Só veja. É tudo que eu peço.
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  Não queria que soubesse. Não queria que aquilo parecesse um favor.
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   era orgulho puro. E eu… eu também.
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  Mas isso — essa pequena intervenção secreta — era a única forma que encontrei de ajudar sem destruir o que ele estava tentando construir sozinho.
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  Um silêncio tenso pairou entre nós, até que Navarro respondeu:
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  — Está bem, . Envie o link.
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  — Obrigada. — disse, antes de desligar.
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  Enviei o perfil do no Instagram logo depois, com uma mensagem curta:
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  “Dê uma olhada. Ele merece ser visto.”
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  Nada mais.
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  Fechei o celular com um clique seco e encostei a testa contra o vidro gelado da janela da cobertura.
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  Ele nunca saberia.
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  E era melhor assim.
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  Ajudar sem esperar nada. Sem reivindicar nada.
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  Era a minha forma torta de amá-lo. Silenciosa. Oculta. Como tudo o que existia entre nós — e que, agora, só eu carregava…
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Fim do flashback

  Eu sempre fui boa em me controlar. Em manter tudo sob medida. Frieza, foco, disciplina. Era o que diziam de mim. Casca dura. Inalcançável. E, sinceramente? Eu deixava que pensassem assim. Era mais fácil, mais seguro.
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  Porque a verdade é que eu aprendi cedo demais que se você se permite sentir, você quebra. E eu não podia me dar ao luxo de quebrar.
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  A vida me ensinou, desde cedo, que amor era uma promessa com prazo. Que confiar em alguém era dar a eles a chance de te esmagar. Então, eu virei o oposto disso. Me blindei. Me tornei aquilo que ninguém conseguia atingir.
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  Mas ninguém nascia assim. A gente aprendia. A gente virava.
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  E eu me lembro exatamente quando isso começou.
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  Eu tinha dez anos.
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  A casa era enorme, luxuosa, com pisos de mármore que ecoavam a cada passo e janelas tão grandes que pareciam querer engolir o jardim perfeitamente aparado lá fora. Tudo parecia perfeito — por fora. Mas ali, naquelas escadas de madeira escura, onde eu me escondia sempre que o mundo desabava, o que eu sentia era tudo, menos perfeição.
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  Eu estava abraçada aos joelhos, ainda vestindo o uniforme impecável da escola particular, assistindo ao pesadelo se desenrolar diante dos meus olhos.
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  Meu pai — o homem que me prometeu o mundo e as estrelas — descia carregando duas malas de couro italiano. A expressão dele era fria. Não havia raiva. Nem culpa. Só… ausência. Ele sequer olhava para trás.
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  Minha mãe estava parada à porta da sala de estar, os braços cruzados sobre a blusa de cashmere, a boca cerrada numa linha fina de desdém.
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  Ela não chorava. Nunca chorava.
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  — Vai mesmo nos deixar pra viver com aquela mulherzinha? — disparou, a voz cortando o ar com a precisão de uma lâmina.
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  Ele não respondeu. Apenas ajustou a alça da mala no ombro e continuou andando. E foi aí que eu me movi.
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  Desci correndo os últimos degraus, tropeçando nos próprios pés, sem pensar.
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  Corri até ele. Agarrando a barra do paletó caro como se fosse a última âncora do meu mundo.
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  — Pai… — minha voz saiu num soluço infantil, desesperado. — Não vai embora. Por favor. Fica…
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  Ele parou. Apenas por um segundo. O suficiente para olhar para mim. Seus olhos — os mesmos olhos que tantos elogiavam como “tão claros, tão confiantes” — estavam vazios.
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  Com um gesto impaciente, ele se desvencilhou da minha mão pequena, como quem sacode um incômodo qualquer.
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  — Pare de ser dramática, . — disse, sem emoção. — Você vai entender quando crescer.
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  E foi embora.
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  Assim.
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  Deixando para trás malas vazias… e uma menina de dez anos, ajoelhada no chão de mármore frio, abraçando o próprio vazio.
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  Nunca mais me procurou, mandou cartas ou ligou.
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  Reconstruiu outra vida.
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  Outra família.
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  Outra filha — que não era eu.
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  E minha mãe… ela não me consolou. Não me puxou para um abraço. Não disse que ia ficar tudo bem. Apenas virou de costas, caminhou até a copa iluminada pelo lustre de cristal, e ordenou para a empregada com a frieza de quem pede um café:
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  — Prepare o jantar. Minha filha precisa aprender que a vida não para pelos caprichos de homem nenhum.
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  E ali, no meio do luxo, das roupas caras, das viagens internacionais e dos jantares formais, eu entendi: o amor não era seguro, o amor era abandono. Eu cresci sem espaço para ele e construí armaduras em vez de sonhos.
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  Minha mãe virou uma máquina de amargura. Cada dia, cada conversa, cada olhar.
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  — Nunca confie em ninguém, . — ela dizia, batendo as louças na pia de mármore com força suficiente para fazê-las tilintar. — Homens são todos iguais. Hoje dizem que te amam, amanhã te trocam como quem troca de carro.
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  Outras vezes, enquanto ajustava as pérolas no pescoço diante do espelho:
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  — Seja sempre a melhor. A mais esperta. A mais fria. Se não for, eles vão te esmagar, igual seu pai fez comigo.
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  E quando eu chorava sozinha no quarto, achando que ninguém ouvia:
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  — Chorar é para as fracas, . — a voz dela atravessava a porta fechada. — As fracas viram memória. As fortes constroem impérios.
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  Eu cresci ouvindo isso como quem grava uma tatuagem invisível na pele. Dia após dia. Ano após ano. Aprendi a me blindar. A nunca demonstrar fraqueza. A ser melhor do que qualquer um esperava. A nunca precisar de ninguém.
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  Amor?
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  Amor era uma promessa vazia. Uma corda pendurada no penhasco…
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  O mais cruel foi anos depois.
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  Quando meu pai apareceu na coluna social da cidade, sorrindo com a nova esposa e sua filha perfeita. Quando minha mãe — entre um gole de vinho e um prato de jantar servido por funcionários pagos para fingir que éramos uma família — comentou, sem desviar os olhos da revista:
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  — Ainda bem que ele nos deixou. — disse, com um sorriso venenoso. — A gente sempre foi melhor sem ele.
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  Eu olhei para o prato vazio.
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  E soube.
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  Ninguém ia me salvar. Nem ele. Nem ela. Nem ninguém.
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  Se eu quisesse sobreviver, teria que ser forte. Mais forte do que qualquer coisa que pudesse me quebrar.
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  Quando ela — a mesma mulher que me ensinou a desconfiar de todos — passou a cobrar de mim uma família, um marido e filhos, ferrou completamente minha cabeça e de repente, eu precisava mudar minha forma de pensar:
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  — Você já passou da idade de pensar em casamento, . — dizia entre um gole de chá e outro, como se estivesse comentando o tempo ou pedindo para passar a manteiga.
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  — Mulher sozinha é mulher esquecida.
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  — O relógio não para pra ninguém, . Nem para você.
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  — Ninguém quer uma mulher que trabalha demais e sorri de menos.
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  Engoli o amargor em silêncio. Como sempre.
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  Porque, enquanto ela dizia essas palavras vazias, eu sabia: meu pai tinha construído outra família. Nova esposa. Nova filha. Nova vida.
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  E nunca mais nos procurou. Nunca mais me ligou no meu aniversário.
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  Nunca mandou uma carta. Nunca quis saber quem eu me tornei. Quem eu precisei me tornar para sobreviver à ausência dele.
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  Eu era um quadro velho pendurado numa parede de memórias que ninguém visitava.
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  Abri os olhos de novo, o teto da cobertura me encarando de volta, silencioso e indiferente.  Respirei fundo, tentando afastar a dor antiga que nunca desaparecia — só aprendia a usar saltos altos, ternos caros e a enterrar mais fundo cada cicatriz.
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  Era por isso que eu não deixava ninguém entrar. Era por isso que me desmontava. Ele me olhava como se eu fosse digna de ser amada. Como se houvesse algo em mim além das muralhas. Além do vazio.
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  E era isso que me assustava mais do que qualquer abandono.
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  Porque eu sabia.
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  Se eu deixasse, ele poderia destruir tudo o que eu construí para me proteger. Ele poderia me fazer querer confiar. Querer acreditar. Querer pertencer. E eu não sabia como consertar isso.
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  Porque a verdade nua e crua era essa: Uma parte de mim já estava quebrada. Uma parte de mim já era dele.
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  E pela primeira vez na vida, eu não sabia se queria me reconstruir…ou se queria simplesmente me permitir desmoronar nos braços dele.
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  A noite avançava sem piedade. As luzes da cidade lá fora brilhavam feito constelações distantes, e eu… eu estava presa aqui dentro. Na minha própria prisão de luxo e silêncio.
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  Fechei os olhos, e a memória veio com a força de uma lâmina bem afiada.
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  A foto.
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  A maldita foto que vazou para a empresa toda.
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   e eu, no estacionamento reservado, tarde da noite, entrando juntos no meu carro. Não era exatamente comprometedora, mas sugeria o suficiente para alimentar especulações — e no ambiente em que trabalhávamos, bastava uma faísca para acender um incêndio.
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  Me vi sentada naquela sala gelada da diretoria, encarando rostos desconfiados, perguntas atravessadas, suposições maliciosas.
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  E eu neguei.
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  — A ideia de que eu estaria envolvida com um funcionário é absurda. Nunca faria algo assim. Até parece que não me conhece. Trabalhamos até tarde, eu lhe dei uma carona até sua casa, e foi só isso! — ouvi minha própria voz, fria, calculada, ecoando nas paredes.
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  Uma mentira que soou tão fácil. Tão automática. Uma mentira que não me custou nada na hora — mas que depois…depois me custou tudo.
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  O olhar dele me assombrava até hoje.
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  , parado no corredor, depois da reunião. , ouvindo minhas palavras como se fossem tiros disparados direto contra ele. A confusão nos olhos. O ferimento aberto. A decepção. Porque sim, eu vi o momento em que ele tinha ouvido tudo.
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  Eu me traí.
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  Traí a nós.
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  E, naquele instante, o perdi.
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  Por quê?
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  Eu poderia dizer que foi orgulho. Que foi a empresa. Que foi o protocolo. Mas não. A verdade era ainda mais cruel.
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  Eu neguei porque estava apavorada. Apavorada com o que significava admitir. Porque se eu dissesse em voz alta que amava … Se eu permitisse que o mundo — que ele — soubesse… Então ele teria o poder de me destruir.
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  Como meu pai teve.
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  E eu sabia — sabia no fundo do meu peito fechado — que amar era se expor. Era baixar a guarda. Era colocar tudo o que eu tinha nas mãos de alguém. E eu nunca fui ensinada a fazer isso.
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  Fui treinada para sobreviver, não para confiar. Fui treinada para vencer, não para amar.
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  Então, como a covarde que me tornei, eu escolhi o medo. E, ao proteger a mim mesma… eu perdi o . Perdi a única pessoa que enxergou quem eu era antes mesmo de eu saber.
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  E talvez — apenas talvez — fosse tarde demais para consertar isso.
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👠💻

  A semana passou arrastada. Cada dia uma tortura elegante, escondida atrás de relatórios, reuniões e planejamentos futuros que eu preenchia como se fossem cimento, tentando tapar as rachaduras.
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  Trabalho. Trabalho. Trabalho.
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  Essa era a regra. Sempre foi.
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  Mas o vazio… o vazio crescia.
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  E nenhuma métrica, nenhum gráfico, nenhum novo projeto conseguia preencher a ausência dele.
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  .
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  O nome dele era uma constante dentro da minha cabeça, mesmo que eu me proibisse de pronunciá-lo em voz alta.
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  Na sexta-feira, voltei para casa com os olhos ardendo e a cabeça latejando. Deixei a bolsa atirada no aparador da entrada, tirei os saltos com um movimento brusco e me joguei no sofá, encarando o teto.
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  Eu podia fingir. Podia continuar fingindo. Era o que sabia fazer melhor. Mas algo dentro de mim… quebrou.
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  Segui direto para o banheiro, como se o banho pudesse lavar a inquietação que latejava sob minha pele. A água quente desceu pesada sobre mim, mas não levou embora o que eu carregava.
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  Fiquei ali por longos minutos, de olhos fechados, enquanto a lembrança do — do sorriso dele, da última vez que nossos olhos se cruzaram — se agarrava à minha mente como uma segunda pele. E pela primeira vez em anos, deixei-me fraquejar.
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  Quando saí do banho, enxuguei o corpo devagar, como se cada movimento exigisse concentração para não desmoronar.
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  Meus cabelos, que costumava prender em coques perfeitos ou alisar com perfeição milimétrica para os dias de trabalho, estavam ali, selvagens, cacheados e livres. Toquei-os com cuidado, sentindo a textura natural deslizar entre meus dedos. Por um segundo, hesitei. Depois, deixei. Deixei que fossem como eram. Como eu era.
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  No quarto, vesti jeans escuros — uma raridade no meu guarda-roupa engomado —, uma blusa branca simples, de tecido leve, que caía suavemente sobre o corpo. Nos pés, optei por um all star preto, discreto. Nada de blazers estruturados. Nada de roupas feitas para intimidar.
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  Só eu, ou o que restava de mim.
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  Olhei para o espelho.
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  Cabelos soltos.
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  Rosto limpo.
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  Olhar inquieto.
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  Era estranho. E, de alguma forma, certo.
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  Peguei a bolsa pequena, as chaves, e desci as escadas do prédio antes que pudesse mudar de ideia.
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  No caminho, parei num mercado qualquer e comprei uma garrafa de vinho sem prestar atenção no rótulo. Não era para impressionar. Nem para brindar. Era só… para ter algo nas mãos que não fosse o próprio coração.
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  Quando estacionei diante do prédio dele, o nervosismo tomou conta.
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  Ridículo.
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  Era só .
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  Só… tudo que eu passei meses tentando esquecer.
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  Toquei a campainha.
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  E esperei.
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  Até que a porta se abriu e tudo desabou. Era uma mulher.
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  Jovem.
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  Bonita.
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  Confortável na casa dele.
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  Ela usava um moletom largo e um sorriso fácil, como quem pertencia àquela casa, àquele espaço, àquela vida. A risada dela ecoou do fundo do apartamento, leve, natural, como algo que eu nunca soube fazer.
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  Minha mente correu em segundos:
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  Ele seguiu em frente.
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  Ele está feliz.
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  Ele esqueceu.
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  O instinto de defesa, aquele velho reflexo que eu achava ter deixado para trás, disparou como uma lâmina afiada.
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  Ergui o queixo.
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  Endireitei a coluna.
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  Vesti minha máscara impecável como se fosse uma armadura.
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  — Desculpe — disse, a voz firme, inexpressiva, enquanto os olhos dela me encaravam, curiosos. — Devo estar atrapalhando.
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  E pela primeira vez em muito tempo, eu — , a mulher que nunca hesitava — desejei poder desaparecer.
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  — Imagina! Pode entrar. O tá ali. Fica à vontade!
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  Ela sorriu, sem entender nada. Claro que não entendeu. Como poderia?
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  Para ela, eu era só uma visitante inconveniente. Não era a mulher que já conhecia o peso da ausência dele melhor do que o próprio peito. Eu forcei um sorriso vazio — desses que a gente aprende a dar em jantares de gala e reuniões de diretoria — e comecei a me virar para ir embora.
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  Por dentro, porém?
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  Por dentro eu me sentia uma idiota.
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  Eu o deixei livre.
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  Pedi para ele voar.
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  E agora que ele voou… por que é tão insuportável vê-lo feliz sem mim?
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  Dei o primeiro passo para longe. Depois o segundo. O som dos meus passos ecoou no corredor, como a decisão que eu não queria tomar.
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  Eu ia embora.
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  Sem drama.
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  Sem arrependimento aparente.
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  Sem nada.
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  Porque era isso que se esperava de mim. Porque era isso que eu me obriguei a ser, mas antes que eu chegasse às escadas, ouvi.
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  — , espera! — a voz dele, urgente, atravessando o corredor como um raio.
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  Senti a mão dele segurar meu braço, firme, quente, real. Meu corpo congelou no mesmo instante. E antes que eu pudesse reagir — ou me proteger de novo —, virei o rosto de leve, encontrando o olhar dele.
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  E foi ali que o capítulo da nossa história — que eu tentei tanto encerrar — se reabriu.
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  De novo.
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Nota da autora: Esse capítulo é especial. Pela primeira vez, damos espaço para que a Alice conte a própria versão — sem filtros, sem máscaras, sem a lente de ninguém além dela mesma. Aqui, a mulher que sempre pareceu inabalável finalmente cede. Mostra rachaduras. Mostra memórias. Mostra um coração que aprendeu a endurecer cedo demais.
Escrevê-lo foi um mergulho profundo. Em dores antigas, em silêncios prolongados, em tudo o que ela nunca aprendeu a dizer em voz alta. E talvez por isso tenha sido tão intenso.
Obrigada por estarem aqui. Capítulo após capítulo.
Até a próxima atualização.✨

Capítulo 15 — Sem Máscaras, Só Nós

  Eu segurei o braço dela antes mesmo de pensar no que estava fazendo.
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  Era impulso. Era instinto. Era… ela.
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   parou, rígida, como se estivesse decidindo entre me encarar ou continuar seguindo em frente como se eu fosse só mais uma lembrança ruim. Mas ela virou. Lenta. Hesitante. E os olhos dela — aqueles olhos que eu jurava já ter aprendido a decifrar — eram uma bagunça de coisas que ela não sabia como esconder.
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  Raiva.
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  Tristeza.
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  Saudade.
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  Medo.
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  — O que você tá fazendo aqui? — minha voz saiu mais rouca do que eu gostaria. Ela ergueu o queixo, a armadura intacta, mas eu conhecia as rachaduras.
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  — Vim… — a palavra vacilou nos lábios dela, coisa rara — Vim te parabenizar. Pelo novo trabalho. — Forçou um meio sorriso que não chegou nem perto dos olhos, mostrando o vinho que estava na mão direita. — Mas vejo que você já… seguiu em frente.
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  A forma como ela olhou brevemente para a porta aberta atrás de mim — onde a risada abafada da Clara e do Marcos ainda ecoava — foi como levar um soco sem usar as mãos.
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  Respirei fundo.
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  — A Clara é minha irmã, . — falei, baixo, para não assustar o que ainda existia entre nós. — Aquele cara na sala é o namorado dela.
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  — Ah. — ela soltou, tão baixinho que pareceu mais pra ela mesma do que pra mim. O rosto dela perdeu parte da cor.
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  Soltei devagar o braço dela, como quem solta algo frágil demais para se arriscar a quebrar.
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  — Vem. — pedi, em voz baixa. — Vamos conversar. Por favor.
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   hesitou. A velha — a que calculava todos os riscos — teria dado meia-volta na hora. Mas essa … essa que estava parada na minha frente, com o coração nos olhos mesmo que tentasse esconder… ela só assentiu, sem palavras.
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  Dei um passo para o lado, abrindo espaço para que ela entrasse. E, quando ela passou por mim, o perfume dela — familiar e devastador — me acertou em cheio.
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  Fechei a porta da sala devagar. O silêncio entre nós era tão denso que eu podia quase tocá-lo.
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  Não queria que a Clara e o Marcos ouvissem — ou vissem — o que estava prestes a acontecer. Então, sem soltar a mão dela, fiz um gesto com a cabeça em direção ao corredor, porque certas conversas merecem ser protegidas do resto do mundo. Mesmo que o que estivesse para acontecer ali, entre quatro paredes, fosse doer pra caralho.
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  — Vamos pro meu quarto. — falei, num tom que não aceitava muita discussão.
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   hesitou por um segundo. Só um segundo. Depois assentiu. O caminho até lá foi curto, mas parecia que cada passo pesava toneladas.
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  Empurrei a porta e entrei primeiro, abrindo espaço pra ela passar. O quarto estava do jeito que sempre foi: simples, pequeno, meio bagunçado — mas cheio de pedaços meus: fotos pregadas na parede, um sketchbook aberto na escrivaninha, a cama desfeita e uma camisa jogada na cadeira.
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   entrou devagar e olhou tudo. Como se absorvesse cada detalhe. Como se, pela primeira vez, estivesse realmente vendo quem eu era fora das gravatas, fora das paredes de vidro da empresa.
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  Ela parou diante da parede de fotos. Fotos de família. Eu pequeno na praia. Clara de chapéu de aniversário. Meus pais sorrindo em algum Natal antigo. Eu fiquei ali, encostado na porta, só observando. Deixando ela ver.
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  Sem máscaras. Sem cenário.
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  Só eu.
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   virou lentamente para mim. E pela primeira vez naquela noite, ela parecia… perdida.
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  — Você… — ela começou, a voz rouca — …você tem tanto aqui. Tanta vida. Tanta… história.
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  Dei um passo pra mais perto dela.
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  — E você, ? — perguntei, baixo. — O que você tem?
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  Ela piscou rápido. Como se quisesse afastar algo que ameaçava transbordar.
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  — Não vem aqui só pra fugir, . — insisti, minha voz saindo mais firme agora. — Você veio porque precisa dizer algo. Então diz. Eu tô aqui. Eu aguento.
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  Ela fechou os olhos com força. Respirou fundo. Quando abriu, havia uma dor crua brilhando neles.
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  — Eu sou uma covarde. — sussurrou. — Eu… — a voz falhou e ela engoliu em seco — eu estraguei tudo porque não sei amar. Porque amar, pra mim… sempre significou perder.
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  Fiquei em silêncio. Deixei ela falar. Deixei ela se despedaçar. Porque às vezes… é só assim que a gente consegue juntar os pedaços de volta.
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  — Meu pai… — ela começou, o queixo tremendo — ele foi embora. Me deixou. Deixou a minha mãe. Saiu daquela casa como se a gente fosse nada.
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   se abraçou, como se ainda sentisse o frio daquele dia.
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  — E minha mãe… — continuou, a voz um fiapo — ela nunca me abraçou pra dizer que ia ficar tudo bem. Ela me ensinou a ser dura. A desconfiar. A não precisar de ninguém. — Fechou os olhos de novo. — Porque depender de alguém… significa dar a eles o poder de te destruir.
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  Ela tremia.
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  — Então eu cresci assim. Me armando. Me blindando. Construindo um mundo onde ninguém podia me alcançar.
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  Dei mais um passo.
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  — Até você. — ela disse, num sussurro quebrado.
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  O peito doía só de vê-la assim.
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  — Você me viu. Você… me desarmou. E eu não soube lidar. — ela apertou as mãos contra o peito, como se quisesse se segurar. — Então eu fiz o que sempre fiz. Empurrei. Fingi que não importava. Fingi que era só mais um erro que podia consertar com silêncio.
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  As lágrimas desciam agora. Silenciosas. Sem drama. Só… verdade.
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  Eu não aguentei.
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  Dei os últimos passos e a puxei pra mim, sem pedir permissão. Ela desabou nos meus braços, o rosto enterrado no meu peito, os ombros sacudindo com o choro contido por anos — décadas.
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  Passei uma mão pelos cachos dela, sentindo a textura suave, apertando-a contra mim como se pudesse, de alguma forma, protegê-la de tudo que já doeu.
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  Ficamos assim.
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  Ali.
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  No meio do meu quarto bagunçado. No meio de todos os medos dela. No meio de tudo que nunca foi dito.
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  Só eu e ela.
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  Só a verdade.
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  Depois de um tempo — minutos, talvez horas — ela ergueu o rosto, os olhos vermelhos e a expressão vulnerável de um jeito que eu nunca tinha visto.
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  — Me desculpa. — ela sussurrou, a voz embargada. — Por tudo. Pelo medo. Pela covardia. Por ter te ferido quando tudo que eu queria… — a voz quebrou de novo — era te amar do jeito certo.
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  Segurei o rosto dela entre as mãos, forçando-a a me olhar.
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  — Você ainda quer tentar? — perguntei, baixo, rouco, sentindo cada palavra nascer direto do peito.
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   fechou os olhos, e uma nova lágrima rolou, mas quando abriu… havia algo novo ali. Algo mais forte que o medo.
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  — Quero. — ela disse, sem hesitar dessa vez.
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  E eu… eu a beijei.
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  Mas não foi só um beijo. Foi um mergulho. Uma rendição.
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  Beijei como quem volta pra casa depois de se perder por tempo demais. Como se, naquele toque, eu pudesse apagar cada palavra não dita, cada medo que a afastou de mim.
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  Os lábios dela tremiam contra os meus no começo — hesitantes, como se ainda lutassem contra a própria vontade. Mas quando suas mãos se agarraram aos meus ombros, como se precisassem de algo para se ancorar, eu soube.
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  Ela estava ali. Inteira. Pra mim.
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  Minha mão subiu pela curva delicada das costas dela, puxando-a ainda mais para perto, sentindo o calor, a entrega. se encaixou em mim como se nunca tivesse pertencido a outro lugar.
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  O beijo se aprofundou, urgente e doce ao mesmo tempo, como se dissesse tudo que a boca dela sempre teve medo de falar.
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  Não era só desejo.
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  Não era só saudade.
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  Era amor. Cru, vulnerável, inegável.
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  Sem máscaras, sem defesas.
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  Só nós dois.
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  Finalmente.
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  De verdade.
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  O beijo foi se desfazendo devagar, como quem ainda tentava se manter preso ao momento por mais um segundo, mais um suspiro, mais uma batida de coração.
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  Nossas testas se encostaram. A respiração dela batia quente contra a minha pele. E então, com a voz rouca e embargada, ela disse:
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  — Eu amo você, . — Aquelas palavras saíram baixas, mas carregadas de uma força quase física. — Eu amo você… muito. Mais do que eu sei lidar. Mais do que eu pensei que fosse capaz de amar alguém.
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  Fechei os olhos, sentindo o peso e a leveza que vinham junto com aquela confissão. Porque vindo dela, que ergueu muralhas tão altas e paredes tão frias, aquelas três palavras valiam mais do que qualquer promessa no mundo.
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  — Você não tem ideia… — minha voz saiu rouca, falhada — não tem ideia do quanto eu esperei pra ouvir isso de você. Eu te amo.
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  Segurei o rosto dela entre as mãos, com uma ternura desesperada, como quem segura algo precioso demais para deixar escapar.
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  — Não importa o tempo que leve — continuei, os olhos cravados nos dela — eu vou passar o resto da vida te provando que amor não é abandono. Não é dor. Não é perda. É isso. — beijei a testa dela. — É a gente. Aqui.
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   soltou um soluço baixo, se permitindo se aninhar contra mim, como se, finalmente, estivesse aceitando que podia descansar. Que podia confiar. Abracei-a forte, sentindo seu cheiro, sua pele quente, o tremor leve que ainda percorria seu corpo.
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  Ela era minha.
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  E, agora, sabia disso também.
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  Terminamos o nosso abraço, ajeitou a blusa com discrição, passando a mão pelos próprios cabelos, enquanto eu apenas observava — ainda meio zonzo com tudo o que tínhamos dito e sentido minutos atrás.
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  Ela deu um passo em direção à porta, mas hesitou. Olhou para mim por cima do ombro, os olhos escuros brilhando com uma mistura de nervosismo e doçura que era rara de se ver nela.
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  — Eles vão te amar. — murmurei, caminhando até ela, com um sorriso que eu mal conseguia segurar.
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  Ela então parou de novo. Respirou fundo. E antes que eu pudesse abrir a porta, a mão dela tocou meu braço, me detendo.
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  — … — disse, hesitante, baixando um pouco o tom de voz — Antes de… antes de eu sair dessa porta e me apresentar pra sua família… — ela mordeu de leve o lábio inferior, procurando as palavras — me fala um pouco sobre ela. Sobre vocês.
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  Eu pisquei, surpreso pela pergunta tão simples e tão… íntima.
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  — A Clara? — sorri de leve, apoiando o ombro na parede, só pra me manter em pé enquanto olhava pra ela. — Minha melhor amiga antes de ser minha irmã. Vive me infernizando, me provocando… mas é metade do que me mantém são nesse mundo. É como… — procurei uma comparação à altura — como uma âncora. Não importa quão perdido eu esteja, ela me puxa de volta.
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   abaixou os olhos por um segundo, como quem grava algo precioso.
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  — Eu quero conhecê-la. — murmurou, tão baixo que parecia um pedido. — Quero conhecer tudo. — levantou o olhar e, por um segundo, não havia muralhas ali, só a vulnerabilidade crua dela. — Não só… — ela respirou fundo — …não só o seu corpo, . Eu quero conhecer cada partezinha da sua vida. Cada pedaço que você deixou escondido até agora.
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  Meu peito apertou. De um jeito bom. De um jeito que só ela conseguia. Dei um passo para mais perto, segurando o rosto dela entre minhas mãos com delicadeza.
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  — Então vem. — sorri, encostando minha testa na dela por um instante. — Deixa eu te apresentar direito pra tudo que é meu.
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   fechou os olhos por um segundo, se permitindo apenas sentir. Depois, assentiu, com aquele sorrisinho que era só dela — metade arrogante, metade vulnerável.
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  Abri a porta do quarto, e o cheiro de pizza e risadas invadiu o corredor.
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  — Sobrevivência básica: não estranha o jeito da Clara. — sussurrei no ouvido dela, enquanto saíamos do quarto
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  Quando chegamos à sala, Clara estava de costas para nós, terminando de colocar os pratos na mesa improvisada da cozinha. Marcos estava do outro lado, tentando abrir uma garrafa de refrigerante como se fosse uma operação cirúrgica.
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  Foi Clara quem nos viu primeiro. Ela se virou, deu uma olhada rápida — e quase deixou o prato cair.
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  — Opa! — soltou, com um sorrisão de quem já estava armando alguma. — Temos visita. Oficialmente, agora?
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  Ergueu uma sobrancelha para mim de um jeito tão óbvio que eu quis cavar um buraco no chão e me esconder.
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  — Boa noite. — disse, tão educada quanto elegante, estendendo a mão para a Clara.
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  Minha irmã aceitou o cumprimento, mas com aquele brilho travesso nos olhos.
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  — Clara. E você… bom, você é a , né? — riu. — Já ouvi muita coisa sobre você. Tipo… muita mesmo.
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  Eu pigarreei, tentando abafar o constrangimento. Marcos, coitado, parecia não saber se ria ou se mantinha neutro para não apanhar de ninguém.
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  — Espero que tenha ouvido as partes boas. — respondeu, com um sorriso que surpreendeu até a mim: genuíno, leve, com aquele toque afiado que só ela tinha.
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  Clara riu, já se sentando à mesa como se nada fosse mais natural.
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  — Algumas partes boas… outras traumatizantes. — provocou, lançando um olhar significativo pra mim. — Mas relaxa, eu também sou ótima em pegar no pé do .
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  — Já percebi. — respondeu, os lábios curvando em um sorriso divertido.
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  Sentamos à mesa e o jantar começou meio atrapalhado — Marcos tentando servir as fatias de pizza, Clara derrubando guardanapos, e eu tentando impedir que minha irmã transformasse aquilo num circo, mas não adiantou muito.
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  — Então, já posso saber? — Clara perguntou, com aquele ar de quem estava apenas esperando a hora certa de atacar. — Vocês tão namorando oficialmente ou a gente ainda chama de “amizade colorida 2.0”?
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  Eu abri a boca para desconversar, enrolar, sair pela tangente como sempre. Mas antes que eu pudesse emitir qualquer som, — impecável, segura e mais linda do que nunca — cruzou as pernas com elegância e disse:
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  — Estamos namorando. — como quem afirma uma sentença sem medo.
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  Eu pisquei, pego totalmente desprevenido. Clara deu um gritinho de comemoração, batendo palmas como uma criança.
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  — Eu sabia! — exclamou, quase derrubando o copo de refrigerante. — Marcos, anota aí: eu sabia!
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  — Eu… tô anotando. — respondeu Marcos, rindo baixo, provavelmente aceitando que naquela casa, era mais seguro só seguir o fluxo.
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  Enquanto Clara comemorava como se tivesse ganhado na loteria, eu olhei para . Ela só me encarava, calma, tranquila, como se dizer aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
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  E naquele olhar dela — sem muralhas, sem máscara — eu entendi. Ela não só queria estar ali. Ela escolheu estar ali. Conosco. Comigo.
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  A noite seguiu com pizza, piadas ruins e lembranças de infância que a Clara insistia em jogar na roda, só pra me envergonhar mais a cada fatia devorada.
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  — Vocês sabiam que o tinha um ursinho chamado Sr. Fofura até os doze anos? — Clara disparou, com a boca cheia de pizza.
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  — Clara! — reclamei, jogando um guardanapo nela.
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  , sentada ao meu lado, soltou uma gargalhada verdadeira — aquela que eu raramente ouvia.
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  — Sr. Fofura? — ela repetiu, ainda rindo, virando-se para mim com um brilho nos olhos que eu não via há muito tempo. — Isso explica tanta coisa…
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  — Traição dentro da própria casa. — murmurei, fingindo indignação enquanto pegava outra fatia de calabresa.
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  Marcos riu junto, completamente à vontade. apoiou o cotovelo na mesa, inclinando o queixo na mão, e me olhou como quem olha um segredo que acabou de desvendar.
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  — Eu gosto disso. — disse, num tom baixo que talvez só eu tenha escutado. — De ver você assim. Rindo. Relaxado. Sem o peso do mundo nos ombros.
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  — Isso aqui é quem eu sou de verdade. — falei, de volta, sem filtros.
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  Ela sorriu pequeno, aquele sorriso de canto que dizia tudo sem precisar de tradução. Marcos levantou a taça de refrigerante como se fosse um brinde improvisado:
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  — Então… a nós! — disse, meio encabulado, mas sincero.
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  — A nós. — repetimos, quase em uníssono, rindo, brindando com copos de vidro e latas amassadas de refrigerante.
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  E eu… eu só conseguia pensar em como era fácil amá-la daquele jeito.
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  Sem esforço.
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  Sem medo.
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  Talvez, pela primeira vez, eu estivesse vendo a que ela sempre guardou — e ela estivesse, finalmente, se permitindo ser vista.
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  E era lindo.
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  Tão lindo que doía, mas doía do jeito certo.
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  O jantar já tinha virado mais conversa do que comida. As risadas diminuíram, a luz amarelada da cozinha deixava tudo com um clima aconchegante, e eu sabia que era hora de encerrar a noite. Pelo menos, para os convidados.
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  Empurrei a cadeira para trás e olhei para , que ainda segurava a mão entrelaçada à minha.
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  — Vamos? — perguntei, com um sorriso leve. Ela assentiu, ajeitando discretamente a bolsa no colo. — Vou te levar em casa. — completei, já me levantando.
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  Foi aí que Clara soltou uma risada alta e debochada, segurando a barriga.
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  — Levar? — perguntou, ainda rindo. — Você vai pegar carona, isso sim! O carro é dela, gênio.
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  Marcos, que tentava se conter, lançou um olhar cúmplice para Clara e riu junto, com aquela risadinha maliciosa que só tornava a cena mais óbvia. ergueu uma sobrancelha, divertida, e eu revirei os olhos, cruzando os braços.
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  — Vocês são insuportáveis. — murmurei, fingindo irritação, o que só fez eles rirem mais.
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   apenas se levantou, com aquela compostura elegante de sempre, como se estivesse acima daquela bagunça toda — mas o sorriso escondido no canto da boca a entregava.
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  — Vamos. — disse ela, olhando pra mim de um jeito que só nós entendíamos agora.
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  Peguei a chave do carro que ela estendeu pra mim e seguimos até a rua, ela tinha deixado estacionado em frente a nossa casa. Clara ainda soltava uns “boa sorte, hein!” entre risinhos enquanto fechava a porta.
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  No carro, a atmosfera mudou. O silêncio entre nós era confortável. Expectante. colocou uma playlist baixa no celular — jazz suave — e eu dirigi pelas ruas adormecidas da cidade, uma mão no volante, a outra sobre a perna dela, num toque discreto, mas cheio de significado.
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  Quando estacionei em frente ao prédio dela, olhei para a fachada iluminada, depois para ela.
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  — Eu não tô pronto pra te deixar ir ainda. — confessei, a voz rouca de tão sincera.
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   tirou o cinto devagar, se inclinou na minha direção e sussurrou:
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  — Então… não deixa.
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  Sem pensar duas vezes, desliguei o motor e seguimos para o apartamento dela. Nenhum dos dois precisava dizer nada — estava escrito na maneira como nossas mãos se encontraram no elevador, na forma como ela encostou a cabeça no meu ombro no caminho até a cobertura.
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  A porta da cobertura se fechou atrás de nós com um clique suave, abafando o mundo lá fora.
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  Ficamos ali, parados no corredor iluminado pela luz baixa. Olhando um para o outro como se, de repente, não soubéssemos como atravessar o pequeno espaço que nos separava. Ou talvez… soubéssemos bem demais.
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   deu um passo na minha direção. Pequeno, quase imperceptível, mas foi o suficiente para quebrar o feitiço.
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  Fui até ela.
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  Minhas mãos encontraram seu rosto, moldando as linhas suaves que eu já conhecia tão bem. E, dessa vez, ela não recuou. Não levantou muralhas. Apenas fechou os olhos sob meu toque e se entregou.
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  Aproximei meu rosto do dela e, por um segundo, apenas respirei seu cheiro — aquela mistura inconfundível de sabonete caro e algo que era só dela. Meu coração batia forte, rápido, urgente.
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  — … — ela sussurrou, a voz rouca de emoção.
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  E então eu a beijei.
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  Não como quem toma. Não como quem rouba.
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  Beijei como quem agradece.
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  Foi um beijo lento, profundo, carregado de tudo que a gente tinha guardado — a saudade, o medo, o amor recém-confessado. Minhas mãos deslizaram pela sua cintura, sentindo a curva quente do corpo dela se moldar ao meu. Ela se pendurou no meu pescoço, puxando-me para mais perto, como se tivesse medo que eu escapasse de novo.
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  Entre beijos, tropeçamos rindo baixinho até o quarto.
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   se sentou na beira da cama, puxando-me pela camisa, desabotoando cada botão com uma delicadeza quase reverente. Como se estivesse, de fato, me descobrindo pela primeira vez.
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  Eu a observei, hipnotizado, enquanto ela tirava os próprios sapatos, a blusa branca simples deslizando pelos braços até cair no chão, suas roupas íntimas tendo o mesmo destino. O cabelo solto, bagunçado, emoldurava o rosto dela de um jeito tão bonito…
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  Me ajoelhei na frente dela, com as mãos firmes em suas coxas, e beijei seu ventre exposto, seu estômago, seu coração. Sentia cada arrepio dela sob meus lábios. Cada suspiro dela se misturava ao meu.
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  Desci os beijos até sua boceta, com a reverência de quem sabe exatamente o valor do que tem nas mãos.
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   se apoiou para trás, os dedos cravando nos lençóis, o corpo arqueando na minha direção como se fosse impossível resistir. Seus gemidos, primeiro contidos, logo se tornaram mais audíveis, mais desesperados, à medida que ela se rendia ao que sentia — a nós.
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  — , eu quero tanto te chupar… — murmurei, com a voz rouca de desejo.
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  Os olhos dela, brilhando com fome e entrega, encontraram os meus. E, sem hesitar, se moveu, posicionando-se sobre mim, as coxas firmes ao redor da minha cabeça, o perfume dela me deixando bêbado antes mesmo do primeiro toque.
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  Quando ela abriu as pernas, eu mergulhei fundo, faminto.
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  Lambi sua boceta com a devoção de quem tinha encontrado a melhor parte do mundo ali. Cada gemido que escapou dos lábios dela era como combustível correndo pelas minhas veias, me fazendo querer mais, me fazer melhor.
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  — … — ela gemeu, arrastado, a voz embargada pela necessidade. — Mais… mais rápido, porra!
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  O sorriso que se formou em meus lábios se perdeu entre suas curvas.
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  Acelerei os movimentos, focando em seu clitoris, explorando cada reação, cada tremor. se movia sobre mim, se esfregando, procurando mais, buscando seu próprio ritmo, enquanto eu a incentivava, a segurava, a puxava para mais perto da minha cara, se é que aquilo era possível.
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  Meus dedos deslizaram para dentro de sua boceta no mesmo compasso da minha língua em seu clítoris, aprofundando o prazer, arrancando gemidos ainda mais altos — gemidos que ela não tentava mais conter.
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  Ela se entregava inteira. E eu a levava até o limite, com gosto, com fome, com amor.
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  — Meu Deus, eu tô quase… — Ela falou, enquanto gemia alto. Cada suspiro, cada rebolada dela contra a minha boca, cada súplica rouca, era como escrever na pele dela que ela era minha — e eu era dela.
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  Quando senti os tremores intensos atravessando o corpo dela, diminuí o ritmo, prolongando a onda de prazer que a dominava, lambendo sua boceta com mais suavidade até senti-la quase desabar sobre mim.
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   ofegava, os olhos fechados, o corpo ainda em espasmos leves, as coxas tremendo ao redor da minha cabeça. Um sorriso satisfeito se formou nos meus lábios antes de, com cuidado, segurá-la pela cintura e guiá-la de volta para a cama.
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  Subi devagar, beijando sua barriga, passando pelos seus seios, onde eu suguei rapidamente seu mamilo direito, até finalmente encontrar seu rosto. abriu os olhos, ainda turvos de prazer, e sorriu — um sorriso pequeno, terno, verdadeiro. Um sorriso só meu.
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  Beijei seu queixo, a linha do maxilar, cada pedacinho como se estivesse mapeando seu corpo de novo. Quando nossas bocas finalmente se encontraram, o beijo foi calmo, diferente do primeiro. Um beijo de adoração, de reverência.
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  Ela me puxou para mais perto com as mãos trêmulas, como se não quisesse — como se não pudesse — me deixar afastar nem um centímetro. Seus dedos entrelaçaram nos fios do meu cabelo, e eu senti seu corpo ainda quente sob o meu.
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  — … — ela murmurou, a voz rouca. — Eu senti tanto a sua falta.
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  Parei o beijo apenas o suficiente para encostar minha testa na dela.
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  — Eu também. — sussurrei, olhando nos olhos dela. — Muito.
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   fechou os olhos por um instante, como se absorvesse minhas palavras. Como se quisesse gravá-las sob a pele.
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  Ainda colados, nossos corpos buscaram naturalmente mais.
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   me puxou para si, com as pernas envolvendo minha cintura, um pedido silencioso que eu entendi sem precisar de palavras. Nossos olhos se encontraram — e naquele instante, havia ali uma certeza que nunca existiu antes.
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  Eu me alinhei a ela devagar, sentindo a ponta do meu pau roçar contra a entrada de sua boceta, e respirei fundo, como se pudesse guardar aquele momento para sempre. Com cuidado, sem pressa, a penetrei, deslizando para dentro dela de forma lenta, profunda, reverente.
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   soltou um suspiro rouco, arqueando o corpo contra o meu, recebendo-me como se finalmente estivéssemos ocupando o espaço que sempre foi reservado para nós.
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  Ficamos assim, unidos, apenas sentindo. O calor, o pulsar, o coração dela batendo forte sob o meu peito.
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  Eu comecei a me mover, lento, ritmado, cada estocada mais uma jura silenciosa, mais uma promessa entre nossos corpos. me acompanhava, os olhos fechados primeiro, depois abertos, fixos em mim, como se estivesse tentando decorar cada traço, cada sensação. Minhas mãos deslizavam por suas costas, seus quadris, sua cintura, como se eu pudesse gravá-la em minhas memórias, tatuá-la em mim.
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  — Olha pra mim, amor… — pedi, com a voz rouca.
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   abriu os olhos de novo, tão abertos, tão vulneráveis, tão cheios de amor que me atravessaram como uma lâmina suave.
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  — Eu tô aqui. — ela sussurrou, com um sorriso trêmulo, como se prometesse mais do que apenas presença. — Sempre estive.
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  Acariciei seu rosto com as costas dos dedos, sem parar de me mover dentro dela, sentindo cada gemido, cada suspiro arrancado pela minha pele tocando a dela.
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  — Eu não vou deixar você sozinha. Nunca. — falei contra sua boca, selando a promessa com um beijo terno, desesperado, que misturava tudo que a gente era e tudo que a gente ainda queria ser.
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   soltou um gemido baixo, os quadris se moldando ao meu ritmo, os olhos cravados nos meus, sem fugir.
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  — Me ama assim… — ela pediu, quase num choro, a voz falhando entre um suspiro e outro. — Sem medo. Sem parar.
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  — Eu já amo. — respondi, afundando o rosto no pescoço dela, respirando seu cheiro, seu amor, sua entrega. — Sempre amei.
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  Aumentei o ritmo aos poucos, sentindo o prazer se construir entre nós com a mesma intensidade de tudo que sentíamos, de tudo que nunca foi dito, mas que agora estava ali, estampado em cada toque, em cada gemido abafado contra a pele do outro.
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   sussurrava meu nome entre os dentes, como se fosse uma prece. E eu… eu gemia baixinho contra sua boca, perdido nela, perdido naquele amor que era tão grande que parecia impossível caber só dentro de nós dois.
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  Quando ela gozou, foi lindo. Seu corpo inteiro estremeceu contra o meu, como se cada célula estivesse explodindo de prazer. jogou a cabeça para trás, os lábios entreabertos, e gemeu meu nome — — num som sôfrego, rasgado, carregado de entrega e êxtase. Era como se, naquele gemido, ela despejasse tudo: o prazer, o amor, o medo, a entrega que ela nunca tinha permitido a ninguém.
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  Senti meu próprio clímax se aproximando rápido, avassalador. Foi então que , ainda ofegante, puxou meu rosto com as duas mãos, os olhos brilhando de desejo e algo mais, algo só nosso.
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  — Goza na minha boca… — pediu, num sussurro rouco, cheio de entrega.
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  Meu corpo inteiro reagiu. Saí de dentro de sua boceta com cuidado, tremendo, e ela se ajeitou rapidamente, se ajoelhando à minha frente, tão linda, tão minha, olhando pra mim como se eu fosse tudo.
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  Segurei seu queixo com uma das mãos, tentando prolongar o momento só um pouquinho mais, mas era impossível. Bastou o calor da boca dela se abrindo, a língua úmida tocando meu pau, para que eu me desmanchasse ali, gemendo seu nome, entregando tudo o que eu era.
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  Ela engoliu tudo, cada parte de mim com a mesma devoção com que me amava — sem medo, sem reservas.
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  Quando terminei, encostou a testa na minha, os olhos fechados, nossas respirações misturadas, nossos corpos ainda trêmulos, mas tão completos como nunca tinham sido antes.
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  — … — ela sussurrou, a voz rouca pelo prazer. — Você tem ideia do que acabou de fazer comigo?
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  Sorri contra seus cabelos, beijando o topo da sua cabeça.
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  — Se for o mesmo que você fez comigo… — murmurei, a voz ainda falha — …então eu nunca mais vou ser o mesmo.
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  Ela soltou um riso baixinho, sem forças para mais, e eu senti seus lábios tocarem meu peito, bem sobre onde meu coração batia desgovernado.
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  Ficamos assim. Só respirando juntos. Só sentindo. Até que, no meio do silêncio confortável, ouvi sua voz de novo — suave, hesitante, mas tão sincera que me desmontou:
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  — Me promete uma coisa?
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  Passei a mão em seus cabelos cacheados, afastando-os do rosto dela, antes de responder:
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  — Qualquer coisa.
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   ergueu os olhos até encontrar os meus. Brilhavam de um jeito que era só dela, só nosso.
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  — Não desiste de mim. — pediu. — Mesmo quando eu for difícil. Mesmo quando eu errar. Mesmo quando eu esquecer que posso ser amada.
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  Apertei-a contra mim, sentindo a garganta fechar com a intensidade do que ela pedia — do que ela se permitia sentir.
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  — Nunca. — prometi, a voz quase quebrada. — Eu não desisto de você, . Nunca.
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  E ali, naquele quarto, naquela cama bagunçada, naquele pedaço pequeno de mundo só nosso… Eu soube que, finalmente, ambos tínhamos encontrado o que sempre buscamos sem saber: um lar. Um no outro.
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  — … — ela chamou, com a voz mais inocente do mundo, deslizando uma perna por cima da minha cintura.
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  — Hm? — murmurei, já desconfiando da travessura. Ela sorriu. Aquele sorriso devastador.
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  — Acho que a gente merece um segundo round… — sussurrou no meu ouvido, a mão descendo perigosamente pela minha barriga.
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  Soltei uma risada rouca, puxando-a pela cintura, invertendo nossas posições de um jeito que arrancou um gritinho surpreso dela.
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  — Princesa… — murmurei contra sua boca, antes de beijá-la com fome renovada — …você vai acabar me matando.
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  — Que seja uma morte maravilhosa. — ela riu contra meus lábios, entrelaçando as pernas nas minhas costas, puxando-me para ela sem nenhuma vergonha.
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  E eu… eu mergulhei nela de novo.
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  Na mulher que eu amava.
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  Na vida que, finalmente, era nossa.
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  E, pela primeira vez, o mundo lá fora podia esperar.
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👠💻

  A noite anterior tinha sido um fio interminável de beijos, carícias e confissões sussurradas. Depois que nossos corpos finalmente se acalmaram, me puxou para o banheiro, onde dividimos um banho quente, lento, cheio de toques que não queriam dizer adeus à pele do outro.
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  Entre risos abafados e beijos encharcados de espuma, lavei seus cachos com uma delicadeza que arrancou dela um olhar tão doce que meu coração quase se partiu. Ela retribuiu, passando os dedos com calma pelo meu cabelo, como se estivesse tentando memorizar cada traço meu com as mãos.
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  Voltamos para a cama ainda molhados, apenas enrolados nos lençóis, grudados, o corpo dela colado ao meu de um jeito que parecia feito para caber ali. Dormimos entrelaçados, como se o mundo inteiro tivesse se resumido àquele colchão.
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  E, pela primeira vez, eu dormi em paz.
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  Acordei com o calor do sol filtrado pelas cortinas batendo de leve no meu rosto.
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  Mas não foi isso que me despertou. Foi o toque suave dos dedos dela passeando pelo meu peito, seguido de um sussurro rouco no meu ouvido:
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  — … — a voz dela arranhava, preguiçosa, deliciosa — …quero você de novo.
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  Abri os olhos devagar, dando de cara com a mulher mais linda que já tinha passado pelos meus sonhos — e agora, pela minha realidade. estava em cima de mim, os cabelos cacheados emoldurando seu rosto ainda amassado de sono, e um sorriso preguiçoso que só ela sabia dar.
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  — Você não cansa de mim? — brinquei, passando as mãos pela sua cintura nua.
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  — Nunca. — respondeu, antes de me beijar devagar, com uma doçura que desmontou qualquer tentativa de resistir.
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  Fizemos amor de novo, mais lento dessa vez, com uma ternura que me deixou sem fôlego. Cada toque dela dizia: “Eu fico.” E cada suspiro meu respondia: “Eu quero que fique.”
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  Depois, rindo como adolescentes que sabem que quebraram todas as regras, voltamos para o chuveiro.
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  Outro banho.
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  Outra desculpa para não desgrudar.
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  Ela me lavava com as mãos leves, brincava com os respingos, passava os dedos molhados pelas minhas costas como se pudesse redesenhar meu contorno só para ela. Eu fazia o mesmo, rindo das cócegas, beijando a ponta do nariz dela, o ombro, a clavícula. Era tudo tão simples. Tão íntimo. Tão nosso.
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  Minutos depois, estávamos na cozinha impecavelmente branca e moderna da cobertura da . O mármore brilhava sob nossos pés descalços, o aroma de café caro se misturava ao perfume suave dela, e a luz natural da manhã filtrava pelas enormes janelas de vidro que cercavam o apartamento.
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  , usando uma camiseta minha que tinha ficado lá — e nada mais —, tentava, com uma expressão concentrada e divertida, operar a máquina de café automática que, apesar de caríssima, parecia exigir um diploma para ser manuseada.
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  — Isso aqui é de qual era? — ela resmungou, batendo de leve na máquina, sem muita paciência. — Revolução Industrial?
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  Soltei uma gargalhada, cortando frutas com uma habilidade que ela, claramente, não dominava.
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  — É só tecnológica demais pra quem está acostumada a mandar fazer café perfeito, Srta. . — brinquei, piscando.
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  — Tem personalidade de sucata chique. — retrucou, rindo baixo, antes de aceitar a xícara que estendi para ela.
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  Sentamos à pequena ilha de mármore, nossos joelhos se tocando de vez em quando, dividindo café, torradas e pedaços de frutas frescas que admitiu não ter comprado — tinha sido a governanta, claro.
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  A simplicidade daquele momento — mesmo em meio ao luxo — era o que fazia tudo mais perfeito.
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  Foi no meio de uma mordida num pedaço de mamão que ela soltou, de forma tão casual que quase passou despercebida:
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  — A gente podia… viajar no próximo feriado.
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  Pisquei, surpreso, o garfo pairando no ar por um segundo.
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  — Viajar?
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  — É. — ela deu de ombros, o tom despreocupado, mas o brilho nos olhos a entregando. — Um lugar só nosso. Onde ninguém conheça a CEO nem o certinho. Só… nós dois.
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  Meu peito aqueceu.
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  Era tão simples.
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  Tão sincero.
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  Tão diferente de tudo o que já vivi com ela — ou com qualquer outra pessoa. Dei um sorriso torto, sentindo meu coração bater mais rápido só de imaginar.
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  — Então vamos. — murmurei, deslizando a mão sobre a dela, entrelaçando nossos dedos. — Vamos pra qualquer lugar que tenha você.
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   desviou o olhar por um segundo, como quem luta contra um sorriso bobo. Um sorriso lindo, meio tímido, meio atrevido — 100% .
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  E eu soube, naquele instante, com a mesma certeza de quem sente o sol esquentando a pele depois de uma longa tempestade:
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  Era só o começo.
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  Nosso começo.
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Continua

  Nota da Autora: Gente… eu não sei nem como começar essa nota sem surtar porque… ELES. FINALMENTE. ESTÃO. JUNTOS!!! 🥹🔥 Depois de tanta fuga, tanta tensão, tanto desencontro, tanto orgulho, tanto medo… Arthur e Alice, agora, são eles. Sem máscaras. Sem desculpas. Só amor, só entrega, só pertencimento.
  E olha… se ficou alguma dúvida de quão absurdamente apaixonado o Arthur é pela Alice, esse capítulo tratou de deixar isso ESCANCARADO! E, sim, ela também ama ele desse jeitinho: inteiro, intenso e sem volta.
  E pra deixar mais especial? Tivemos esse encontro absolutamente tudo da Clara com a Alice! Um encontro que entregou tudo: aquele jeitinho debochado da Clara, aquele clima de “agora a família tá completa”, aquele alívio cômico que a gente AMA e… aquele selo oficial de que eles não tão mais brincando de amorzinho escondido. Eles são um casal.
  E, sim, meus surtos, minhas queridas e meus queridos… estamos oficialmente entrando na reta final da fanfic. É aquele momento agridoce de pensar “meu Deus, eles estão vivendo o que a gente tanto torceu…” mas também perceber que o fim tá logo ali, acenando. Segura na minha mão, respira fundo, que daqui pra frente é emoção atrás de emoção. Porque quando o amor vence… a vida vem e bagunça tudo. 👀
  Obrigada por estarem aqui, lendo, torcendo, surtando comigo. Essa história só é tão especial porque vocês fazem parte dela também. 💙
  Nos vemos no próximo capítulo, porque, meus amores… AINDA TEM MAIS! 🔥

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