Continuum
46. Apostas
– Algum lugar do Texas, 2018
Um dia antes…
Pela primeira vez em dias, finalmente conseguiu ter uma longa noite de sono profundo, nem mesmo as constantes dores pelo corpo foram capazes de incomodá-la, incluindo seu joelho enfaixado. A bailarina ainda não havia entendido a lógica de Matthew em seu estilo de luta, e as raras vezes que ela conseguia golpeá-lo, eram na base da sorte de forma não intencional. Ela tinha um grande domínio de seus movimentos quando dançava, entretanto, quando o assunto era os treinos, falhava miseravelmente.
— Está atrasada. — disse ele, com o tom sério ao centro do galpão.
— Não estou, não tem um único raio de sol lá fora. — retrucou ela, um tanto quanto sem paciência para lidar com ele naquele dia.
Collins apenas riu baixo.
A cada dia que conhecia mais o lado determinado de sua aprendiz, mais ele se deixava encantar por ela, mesmo sabendo que um sentimento lhe era proibido. O lado cativante de era tão natural quanto seu sorriso meigo, o que facilitava a aproximação e rápida afeição das pessoas por ela. Matthew já tinha algumas informações e história sobre a bailarina, contadas por Donna. Inegável para ele não admitir que a matriarca Fletcher não mentiu em nenhuma delas, quando assegurou que sua neta jamais desistiria de ser uma sliter, se realmente estivesse decidida a ser uma.
— Do que está rindo? — perguntou ela, ao parar em sua frente e cruzar os braços, revoltada.
— Nada. — ele deu um passo para trás e olhou para a mala que estava ao seu lado — Pegue e venha comigo.
— Outro de nossos passeios sem propósito? — perguntou ela, depois lembrou-se de uma das regras e com sarcasmo — Ah, me esqueci, nada de perguntas.
Desta vez ele segurou o riso. Mantendo-se sério, voltou seu corpo em direção à porta dos fundos, seguindo na frente dela. soltou um suspiro cansado e dando três passos até a mala, a pegou com certa dificuldade por estar pesada. Se tratando de Collins, ela já estava imaginando que passaria por mais uma maratona de corrida, exercícios físicos e um combate no final do dia que a mandaria para a enfermaria. Pois assim era sua rotina diária de treinos, em que chegar parcialmente inteira no final do dia passou a ser sua meta de vida.
Curiosamente, após passarem pelo caminho rotineiro, Matthew pegou uma trilha desconhecida por ela, que dava a oeste do acampamento, bem próximo ao rio Blanco, porém mantendo o devido distanciamento da rodovia de acesso à cidade de Austin. Minutos de caminhada que se transformaram em três horas, cheias de ar puro das árvores e um sutil fundo sonoro com o canto das aves locais. Um belo lugar que transmitia paz e tranquilidade, algo que a muito tempo não tinha em sua vida.
De repente, ele parou permanecendo de costas para ela, o que a deixou intrigada. O olhar de passou por aquelas altas árvores, que escondiam não somente boa parte do céu, como os raios solares que aqueciam aquela manhã. Uma brisa refrescante passou por seu corpo, fazendo-a se lembrar dos muitos acampamentos que participou na adolescência. E juntamente com suas memórias do passado, também vinha a imagem de Bellorum e Dominos para desviar sua atenção.
— O que vem agora? — perguntou ela, não se importando com as muitas regras, estava curiosa pela mudança de direção.
— Aqui é o lugar mais distante que temos da civilização dentro do nosso perímetro. — começou ele, sua explicação do treino daquele dia — Daqui a dois meses será o Torneio Anual Sliter, e cada instrutor deve apresentar seu aprendiz para a competição, por isso, vou intensificar seu treinamento e te deixar longe das vistas de terceiros.
— Está com medo da sua reputação ser prejudicada? — perguntou , escondendo o deboche no tom de voz.
— Não, não será o fracasso de uma mera aprendiz que vai manchar meu legado. — voltou-se para ela, mantendo a seriedade — Mas sei o quanto você quer provar sua força, por isso estamos aqui.
— Depois das suas palavras de ontem, achei que desistiria de mim. — retrucou ela, surpresa com a resposta.
— Não sou de desistir fácil, além do mais, é divertido te ver se machucando. — brincou ele, em provocação.
— Desagradável. — sussurrou ela, e bufou de leve.
Collins riu baixo.
— Te dou cinco minutos de alongamento e quero dez voltas entre as árvores. — ordenou ele, dando alguns passos até ela e pegando a mala de suas mãos — Será somente o aquecimento.
— Ok. — começou com um longo espreguiço, sentindo seu corpo ainda travado mesmo depois de toda aquela caminhada.
Em silêncio, a bailarina pode sentir todo o ambiente à sua volta enquanto se alongava, e claro não pode deixar de notar os olhares discretos e fixos de Matthew para ela. Algo que lhe deixava parcialmente envergonhada e constrangida. Uma coisa era certa, a delicada Fletcher não queria se envolver amorosamente com mais ninguém, então não teria a mínima chance de rolar qualquer aproximação entre os dois. Ou pelo menos era isso que ela esperava, por mais atraente e intrigante que seu treinador fosse. Querendo ou não, ela tinha assuntos inacabados com seus passados, algo do qual ela não queria dar atenção e se forçava a esquecer.
Minutos depois, ela iniciou sua corrida de dez voltas pelo perímetro demarcado por ele. Enquanto isso, Collins começou a preparar a próxima atividade que ela iniciaria, algo que jamais imaginou fazer, mas que o futuro que ela ambicionava lhe exigia muita habilidade, conhecimento, concentração e destreza.
— Acho que… — parou de correr e respirou fundo, para retomar seu fôlego, foi quando ela percebeu uma mesa dobrável de madeira com várias armas de fogo em cima — O que é isso tudo?
— Parte das habilidades que você terá que desenvolver. — respondeu ele, com tranquilidade — Um bom sliter deve saber manejar uma arma e ter uma excelente pontaria.
— Nossa… Agora posso dizer que estou surpresa. — sussurrou ela, porém dando para ele ouvir — E como tudo isso chegou aqui?
Matthew sorriu de canto disfarçado e voltou o olhar para a mesa.
— Você trouxe. — respondeu prontamente e apontando para o lado — Na mala.
— Ah… — ela soltou um suspiro fraco e se aproximou dele, olhando para aquela variedade de armas na mesa.
A única vez que tivera a chance de ver tantas em um único lugar foi quando passou a noite com escondido no porão da casa do senhor Bellorum, no qual o xerife tinha muitas guardadas.
— E você vai me explicar sobre todas? — perguntou ela, voltando o olhar para uma em especial, reconhecendo a semelhança com a arma de sua amiga Annia.
— Sim, cada uma tem sua peculiaridade. — assentiu ele, pegando a primeira — Esta é a Cattleya, ela é um revólver Taurus RT 85 de calibre 38, é bem leve e ajuda nas horas mais precisas, existem modelos menores que você pode esconder no tornozelo.
permaneceu em silêncio apenas observando e tentando absorver e digerir as informações.
— Esta é Camellia. — continuou ele, ao pegar a próxima com o olhar atento e de forma cuidadosa, como se segurasse um filho — Uma pistola Glock G25 semiautomática, ela tem capacidade de 16 balas em cada cartucho, é claro que o carregamento é manual… E tem a sua irmã mais nova Violetta, Glock G22, são as melhores que eu tenho, porém não deixarei a Rose com ciúmes, ela é uma 9mm que se torna necessária em momentos oportunos. Além de vossa majestade Azaleia, minha única carabina e a mais antiga de todas, foi minha primeira arma, ganhei em uma briga de bar. Ela é uma Taurus Puma calibre 38 de 12 tiros…
Ele continuou mostrando mais algumas, era nítido seu conhecimento profundo sobre cada uma e como seus olhos brilhavam ao segurá-las. finalmente percebeu que aquele universo não tinha apenas suas peculiaridades, mas a riqueza dos detalhes poderia significar o sucesso e o fracasso no mesmo.
— E por último, minha favorita, a Sakura… — ele pegou a arma com certo orgulho no olhar — Ela é uma espingarda CBC Military 3.0 calibre 12 de 5 tiros, tenho ela há dois anos…
— E todas possuem o nome de uma flor… — comentou , ao interrompê-lo finalmente.
— Sim, todas são minhas namoradas. — brincou ele, colocando a espingarda sobre a mesa — Vamos à prática?
— Eu vou… — ela olhou para mesa, em seguida olhou para ele.
— Não acha que eu falei sobre elas apenas para conhecimento, não é?! — ele riu de leve — Vamos começar com a Magnólia.
não tinha muita escolha, a não ser assentir e iniciar seu treino de tiros. De início, ela aprendeu a montar e desmontar cada arma, para depois avançar para a etapa de recarregar e atirar. Poderia ter sido apenas sorte de principiante ela ter acertado logo no centro do primeiro alvo em seu primeiro tiro, e lá no fundo Matthew sentia que ela tinha talento para o ofício. Contudo, no susto do primeiro, o restante do cartucho a bailarina atirou de olhos fechados. O que causou irritação em Collins.
— Jamais atire de olhos fechados, você é louca? — gritou ele, irritado — Poderia ter me acertado.
— Não é de todo uma má ideia. — brincou ela, em provocação — As árvores não deveriam ser meu alvo já que na vida real, terei que mirar em alvos em movimento.
Ele se impulsionou para argumentar, porém a sua lógica tinha fundamentos.
— Continue com esses alvos, quando achar que está pronta, avançaremos. — disse ele, dando um passo para trás — Recarregue a Magnólia.
Ela assentiu e continuou sua sequência de disparos até a metade do dia. A cada hora, Matthew mudava a posição dos alvos e diminuía o diâmetro demarcado nos papéis. No dia seguinte, a mesma atividade, pela manhã as armas e à tarde combate corpo a corpo. Era notório que o segundo melhor sliter não iria ausentar sua aprendiz que ir para a enfermaria no final do dia, nem que fosse com pelo menos um arranhão no corpo.
— ! — disse Meg, assim que a viu passar pela porta — Mais alguns minutos e você encontraria esse lugar repleto de aprendizes enfaixados.
— Não diga… E o que você ainda faz aqui? — ela deu mais alguns passos e sentiu na maca ao lado da nova amiga.
— Estou me escondendo da Joy. — respondeu ela, com um olhar temeroso e bastante amedrontado — Para todos os efeitos, eu não me recuperei do último treino.
— E quem é Joy? — perguntou , curiosa pela história dela.
— Uma das melhores aprendizes que temos, casse A, número 2, ou seja, o topo da cadeia alimentar. — explicou ela, com um suspiro fraco — Eu atravessei o seu caminho, ela me desafiou fazendo uma aposta.
— E que tipo de aposta foi? — indagou a bailarina, mantendo sua atenção nela.
— Meg, se escondendo novamente na enfermaria? — a enfermeira Kim, colocou a mão na cintura com o olhar de desaprovação — É assim que pretende ser uma sliter, fugindo das responsabilidades?
— Mas o que foi a aposta? — perguntou , novamente para entender o que acontecia.
— Ela me desafiou a violar o toque de recolher, ir até o bar Sweet Home que fica próximo ao rio, e trazer a medalha do velho James. — contou a aprendiz, se encolhendo — Ela pediu o impossível.
— E é tão difícil assim? — indagou .
— Sweet Home é um bar de motoqueiros gangsters, não é um ambiente muito saudável e menos ainda o lugar em que você sai sem arrumar confusão. — explicou Kim, respirando fundo e se aproximando de para examiná-la — E você Fletcher, o que foi desta vez?
— Meu pulso está doendo, acho que desloquei alguma coisa, eu fui golpear meu treinador e acabei socando uma árvore. — explicou ela, se sentindo uma inútil descoordenada.
— Uau, e eu achei que era ruim em combate corpo a corpo. — sussurrou Meg, segurando o riso com respeito.
O olhar atravessado da senhorita Kim se voltou para ela por um tempo, então retornou a Fletcher, que se mantinha imóvel apenas observando-a.
— Está doendo muito? — perguntou Kim.
— Sim. — assentiu.
— Pelo seu olhar não parece, você sabe segurar bem uma dor. — elogiou a enfermeira.
— Um sliter não deve demonstrar fraqueza. — sussurrou ela.
— Uau, já gravou a terceira regra. — comentou Meg, impressionada.— Tenho ouvido isso quase às vinte e quatro horas do dia nos últimos dias. — explicou com um tom cansado.
— Vou enfaixar e colocar uma tala para imobilizar, amanhã te quero aqui para fazermos uma radiografia e ter certeza que não quebrou nada. — ela pegou um algodão e a solução de Polihexam para limpar as feridas que ficaram no dorso da mão dela — Enquanto isso, tente não utilizar a mão direita.
— Eu sou destra. — informou .
— O problema é todo seu. — Kim continuou séria em sua concentração no curativo, enfaixando o pulso dela.
Assim que terminou, a enfermeira expulsou ambas as aprendizes de lá. E para Meg, sua única solução seria enfrentar Joy e sua aposta que poderia lhe render mais humilhação ainda. Ambas caminharam um pouco até que chegaram em frente ao dormitório dos aprendizes, a maioria estavam reunidos no porão onde era o refeitório, se deliciando com o jantar especial daquele dia.
— Então, o que vai te acontecer agora? — perguntou .
— Serei devorada pela selva. — disse num tom dramático, dando um suspiro fraco.
— Posso entrar com você? Nunca tive a oportunidade de conhecer os outros aprendizes. — pediu ela — Estou sempre sendo monopolizada pelo meu treinador.
— Meu sonho é ter um treinador como o Collins. — o olhar de Meg ficou triste.
— Quem treina você? — perguntou , curiosa.
Ela sempre ouvia as histórias dramáticas de Meg, porém nunca soube mais sobre as outras pessoas que viviam naquele lugar. Apenas avistava alguns aprendizes nas poucas horas que tinha de descanso.
— Atualmente, não tenho um treinador fixo. — respondeu a amiga, abaixando o olhar com tristeza — Somente um slitter do top 10 pode ser treinador e nenhum deles quer me treinar.
— Mas e a sua salvadora? — questionou , ao lembrar-se que Anastasia era a quarta melhor.
— Ela não fica mais na academia, deixou de ser slitter oficialmente, além do mais, ela deve ter outras prioridades na vida do que dar atenção pra uma fracassada como eu. — respondeu.
— E como você treina? — indagou a bailarina, tentando entender a logística da amiga.
— Bem, quando não estou na enfermaria, eu assisto alguns treinos e tento repetir sozinha os golpes. — explicou ela, num tom constrangido e envergonhado.
— Eu não imaginava que você tivesse que passar por isso. — se sentiu inconformada pela situação dela, pensando no que poderia fazer para ajudar.
— Mas, não tem problema, pelo menos eu não me machuco tanto quanto os outros. — ela riu, tentando descontrair — Vamos entrar? Estou ansiosa para ver a reação de todos quando me ver do lado da herdeira. Posso te usar para ganhar respeito aqui?
sentiu inocência naquelas palavras que a deixou sensibilizada.
— Você sabe que eu sou pior que você, não é? — retrucou .
Ambas riram um pouco.
— Olha só, o projeto de sliter rindo, será que ela finalmente tomou coragem de pagar a aposta? Ou vai continuar sendo a vergonha a profissão? — a voz de Joy soou atrás delas, o que as fez virar de imediato.
Sendo proposital ou não, o mais fofoqueiro dos aprendizes estava passando pelo corredor dentro do dormitório, quando avistou Joy e seu grupo de amigos frente às aprendizes. O que certamente resultou no anúncio imediato no refeitório, fazendo todos saírem para acompanhar o embate.
— Essa é a Joy? — perguntou .
— Sim. — ela engoliu seco.
— E pelo visto encontrou uma nova amiga. — o olhar de Joy voltou diretamente para — , não é?! Espero que não esteja pensando que só por ser neta da senhora Donna, está no topo da lista.
— Eu sei muito bem como são as coisas aqui e acredite, meu nome estará no topo e não será por causa da minha avó. — a bailarina devolveu com um olhar superior, de causar orgulho em sua amiga Baker.
— Hum… Que corajosa. — Joy soltou uma gargalhada maldosa — Vou ter o imenso prazer de te derrubar na competição mensal.
mesmo trêmula de insegurança por dentro, não se deixou abater e continuou com o olhar firme.
— Já que a realeza está tão segura assim, porque não compra a briga da nova amiga? — disse outra aprendiz em provocação.
— Mas eu duvido que a Fletcher tenha coragem de infligir as regras, vai desonrar a vovó. — disse um rapaz de cabelos coloridos, num tom de deboche.
— Ah, Bailey, eu aposto que nenhuma das duas consegue cumprir o desafio. — reforçou Joy, mantendo o olhar fixo em — Falta coragem e ousadia nelas.
— Se você quer tanto aquela medalha, porque não pega você mesma? Já que é tão boa aprendiz assim. — rebateu o desafio.
— Eu até pegaria, mas o que provaria a mais, além de eu permanecer sendo a melhor daqui. — retrucou Joy.
respirou fundo, sentindo seus nervos aflorando. Não imaginava que poderia ter alguém mais arrogante e prepotente que seu instrutor ou Stelle Ortiz. Mas lá estava Joy, nem era uma slitter oficial e já se achava a próxima Miller da Academia.
— Já vocês… — o barulho de risadas ao redor deles, fez Joy se sentir ainda mais superior — Eu já imaginava que o projeto de aprendiz não teria coragem, nem mesmo um treinador, ela consegue ter, imagina cumprir um desafio interno.
Mais risadas soaram.
— Minha avó sabe o que acontece entre os aprendizes? — sussurrou , ao se voltar para a amiga, sua indignação era visível.
— Me conte uma coisa que Donna Fletcher não sabe? Seus segredos tem segredos, ela sempre sabe de tudo. — contou Meg.
— Então, por que ela não intervém? — indagou a bailarina.
— Ela permite desafios e apostas entre aprendizes e slitters, não é uma proibição e nos deixa mais alerta e ajuda em nosso crescimento. — explicou Meg — Podemos até quebrar as regras, só não podemos ser pegos.
respirou fundo. Em choque e tentando assimilar tudo que vivenciava ali. Uma novidade a cada dia…
— Eu aceito o desafio no lugar da Meg, ou melhor, nós duas vamos cumprir juntas. — anunciou em seu impulso de coragem — E se cumprirmos, você terá que desistir de todas as lutas do campeonato mensal e ser a última no ranking por dois meses, e no seu teste final você terá que derrotar uma amiga minha, acho que já ouviu falar de Miller.
Outro som de animação veio dos aprendizes ao redor. Empolgados com a instigante rebatida da Fletcher.
— E se não conseguirem? — questionou Joy, arqueando a sobrancelha direita.
— Eu desisto de ser slitter. — a segurança na voz de , causou espanto a todos.
— Mas não se pode desistir. — sussurrou Meg para ela, de forma temerosa.
— Você sabe que não podemos desistir. — retrucou Joy.
— Pelo que eu soube, existe um limite de tempo para ser aprendiz, e quem não consegue finalizar as metas recebe uma punição rigorosa a cada ciclo não concluído. — argumentou — O que me diz?
— Como você sabe sobre isso? — perguntou Meg.
— Eu gosto de ler e achei o livro de regras na biblioteca. — explicou , a amiga.
— As punições são severas. — reforçou Meg, mantendo o olhar estático para ela.
— Eu sei. — assentiu.
Joy pensou por alguns segundos e finalmente deu sua resposta.
— Eu aceito sua oferta, porém quero outra coisa no lugar da sua desistência. — disse ela, certa da vitória — Afinal, você já vai fracassar por si só.
— O que você quer, então? — perguntou , mantendo a segurança no olhar.
— Você saberá assim que eu ganhar. — disse Joy, esticando a mão para ela — Então, consegue aceitar o desafio sem saber o que pagará quando perder.
— Eu aceito o desafio com a certeza que serei melhor que você no futuro, e acredite, vai ser divertido ver minha amiga te jogando na lona. — confirmou , ao apertar a mão dela.
— Amiga, estamos falando de Miller, vai mesmo prosseguir com isso? — uma das amigas de Joy, tentou chamá-la a razão.
— Eu tenho certeza que elas não vão conseguir, Dalia. — Joy sorriu de canto, como se soubesse o que poderia acontecer se caso alguém tentasse pegar a tal medalha.
O desafio estava lançado e mais do que consentido por ambas as partes. Entretanto, havia uma pessoa que estava a um passo do surto: Meg. A aprendiz que não conseguia sair do nível 1 de sua categoria, apenas sentia-se trêmula pela afronta da amiga a Joy.
— Te dou até amanhã à noite. — anunciou Joy — Para não dizer que eu não fui legal.
Assim que a classe A número 2 se afastou acompanhada das amigas, o olhar estático de Meg se moveu para .
— O que você fez? — sussurrou ela, boquiaberta.
— Eu não sei, apenas quis agir como minha amigas. — confessou , ao voltar em si e notar o que tinha feito.
— Como vamos conseguir? — perguntou Meg.
— Eu não sei, mas vou pensar em um jeito de fazer isso a todo custo. — sorriu de leve para ela, tentando lhe passar segurança.
Então se afastou da nova amiga e seguiu para a casa principal. Com tantas emoções e agitações acontecendo, somente ao chegar em seu quarto que conseguiu notar que as dores pelos músculos do corpo ainda estavam ali. Com cada parte do corpo latejando, ela pegou uma toalha e seguiu para o banheiro do seu quarto. Nunca tinha desejado tanto sentir as gotas quentes de água sobre suas costas para lhe trazer algum tipo de alívio ou apenas a sensação de estar relaxando. São esses momentos em que ela percebe o quão forte são suas amigas e quanto ela precisa ser, certamente não foi fácil para ser a melhor sliter da sua avó.
— , no que você se meteu?! — sussurrou ela, ao lavar o rosto e molhar seus cabelos.
Assim que desligou o chuveiro, ela se enrolou na toalha e retornou ao quarto. Quando adentrou, seu corpo paralisou de leve, ao dar de cara com Collins encostado em sua janela, com as mãos nos bolsos à sua espera. O coração da bailarina acelerou de leve, não sabendo explicar se era pelo susto de vê-lo ali ou pelo olhar intenso do seu instrutor para ela.
— O que faz aqui? — perguntou ela, se encolhendo um pouco envergonhada pela situação, afinal estava enrolada na toalha.
— Eu só queria saber se está tudo bem. — ele se afastou da janela e caminhou até ela, parando em sua frente — Como está seu pulso?
Assim que ele pegou a mão dela para conferir o estragou, uma gotícula de água caiu do cabelo dela escorrendo por suas costas, o que a fez sentir um arrepio. Matthew a olhou impressionado, pois tinha notado o ocorrido.
— Eu estou bem. — ela soltou sua mão, se afastando dele — E não teremos treino amanhã, a enfermeira Kim quer fazer uma radiografia do meu pulso.
— Se você está bem, não precisa de radiografia. — ele pegou a mão dela novamente com mais força e analisou a sua maneira.
— Ai. — ela tentou se soltar, porém sem sucesso desta vez.
— Você não estava bem? — ele soltou a mão dela, mantendo o olhar sério e inexpressivo.
— Estou, mas não quer dizer que meu estado físico esteja aceitável para voltar aos treinos. — argumentou ela — Eu sou destra.
— Muito bem, já era hora que aprender a atirar com a mão esquerda, te espero antes do amanhecer. — ele deu um passo para trás — E não se preocupe , mesmo que você fosse uma mulher atraente, jamais aconteceria algo entre nós, sentimentos são proibidos para pessoas como eu.
Ele passou por ela e seguiu até a porta, deixando-a sem palavras. não sabia o que ele queria dizer com: “Sentimentos são proibidos para pessoas como eu.” E tinha medo de imaginar que isso fosse algo geral no que dizia respeito a ser um sliter. E por mais que sua amiga tivesse seu romance com o Dominos, as muitas histórias de conflitos e dificuldades que ambos passaram até ficarem juntos, demonstravam fundamentos nas palavras de Matthew. Não que ela estivesse preocupada com sua vida amorosa, já que seguia fugindo das complicações que a mesma lhe reservou.
— Hum… — logo ela foi despertada de seus pensamentos, por uma ligação inesperada de Annia.
Ela ficou olhando o visor por um tempo, até que atendeu a videochamada.
— Annia?! — caminhou até a cama e se sentou — Por que está me ligando?
— Estava com saudades de conversar com minhas amigas, e cheia de curiosidade para saber como está minha sliter favorita. — o olhar de Annia pela tela ressaltava uma mistura de ironia e curiosidade — Que a não me ouça dizendo isso.
Ela soltou uma gargalhada maldosa e boba, então se ajeitou na poltrona em que estava sentada.
— Sua boba. — riu baixo — Como tem passado? Por que não me atendeu anteontem? Precisava tanto de uma amiga para desabafar.
— Aposto que ligou pra primeiro. — perguntou a Baker, num tom de ciúmes.
— Para ser sincera, não. — ela riu.
— Ah amiga, me desculpe por não ter atendido. — ela soltou um suspiro emotivo — Mas estava em meu dia da família, fomos ao zoológico com o nosso pequeno.
— Que fofo, até imagino o quanto Cedric deve estar sendo o pai babão do ano, ele sempre levou jeito com crianças. — comentou.
— Sim, ele é um amor com nosso filho. — assentiu a amiga — Mas me diga, o que queria desabafar?
— São tantas coisas acumuladas que nem sei por onde começar. — seu suspiro foi fraco e cansado.
— Vamos do começo então. — sugeriu Baker.
— Então. — ergueu a mão direita e mostrou-a enfaixada — Isso é só o começo.
— Uau, já estamos assim, ser forte não é fácil amiga. — comentou Annia surpresa — Achei que sua avó pegaria mais leve.
— Não estou treinando com a minha avó. — disse.
— E com quem? — o olhar de Annia ficou mais curioso.
— A pessoa mais prepotente, arrogante e intolerante que eu conheço. — se mostrou raivosa — Matthew Collins.
— E foi antes ou depois desses insultos que ele te deixou atraída? — perguntou Baker, já em provocação.
— Eu não estou atraída por ele. — desconversou surpresa pela colocação dela — Só irritada e não contei a nova.
— Me surpreenda. — instigou Annia.
— Existem desafios entre os aprendizes e eu acabei me envolvendo em um, só queria entender como a sobreviveu a tudo isso. — soltou um suspiro fraco.
— Não seja por isso, vamos perguntar a ela. — Annia apertou alguns botões para iniciar uma chamada tripla, ligando para a sliter.
— Annia, não vamos incomodá-la, pelo que soube, hoje é o noivado da Genevieve. — anunciou a bailarina.
— Já? Nossa o tempo tem passado tão rápido, mas tenho certeza que para as amigas ela tem um tempinho.
Mais alguns instantes e finalmente a ligação foi atendida.
— Posso entender o motivo de ambas me ligarem em conjunto? — perguntou ela.
— que me ligou primeiro. — disse Annia, em sua defesa.
As amigas continuaram a conversa, sempre com as brincadeiras e provocações de Baker. Até que anunciou movimentações estranhas ao seu redor que a fez ligar a moto. Do outro lado da ligação as amigas se pegaram em total apreensão por não poder ajudá-la.
— , não estamos ouvindo o barulho da moto. — disse , do outro lado.
— , fala com a gente. — pediu Annia, controlando seu desespero, sem poder ajudar.
— Acho que não poderão ajudar a amiga de vocês. — disse o homem, ao retirar o celular do casaco e ouvi-la com mais nitidez.
— Andrei Tenebrae. — disse , com o tom meio falho, ao reconhecer aquela voz.
You can call me monster.
– Monster / EXO
47. Restart
Na vida sempre passamos por momentos bons e ruins, há aqueles que desejamos eternizar e outros que se transformam em traumas que desejamos esquecer. No momento em que a voz do traidor Tenebrae soou, todo o corpo da bailarina gelou de imediato, fazendo seu coração disparar de medo assim que a ligação caiu. As lembranças de quando foi sequestrada tomaram sua mente elevando ainda mais seu nível de preocupação com a amiga.
— Annia, o que faremos? — Sussurrou , sentindo as mãos trêmulas.
— Eu vou fazer minhas ligações e você, avise a sua avó agora mesmo, a primeira a ter notícias liga para a outra. — Disse a Baker, quase em tom de ordem.
assentiu de imediato e desligando a ligação, saiu do quarto às pressas descendo as escadas em direção ao escritório de sua avó. Donna estando em seu escritório no porão da casa, mantinha a atenção nos preparativos do jantar dos herdeiros, repassando todos os pontos de segurança do local escolhido e analisando a lista dos sliters que trabalhariam naquela noite. Carl acompanhado de outra sliter, seguia prontamente anotando cada detalhe e dando argumentando as decisões que achava pertinente, mostrando soluções melhores para a chefe.
— Vovó… — adentrou o espaço repentinamente os deixando confusos, e lembrando-se das formalidades, corrigiu sua fala — Senhora Fletcher…
— O que houve para entrar assim? — perguntou Donna, estranhando o olhar amedrontado da neta.
— Levaram a . — respondeu , segurando as lágrimas que estava se formando no canto dos olhos.
— Como assim levaram a ? — indagou a matriarca, tentando entender a notícia.
— Estávamos conversando com ela no telefone e ela disse que estava sendo seguida, e o Andrei apareceu na ligação. — tentou explicar de uma forma clara, porém sem sucesso, pois o desespero já se mostrava em sua fala — O Andrei levou a .
— Quem era a terceira pessoa conversando com vocês? — Donna tentou manter a calma diante da situação e do estado da neta.
— A Annia. — respondeu a bailarina.
— Muito bem. — ela respirando fundo, pois se houvesse mais algum detalhe na história conseguiria extrair da Baker com mais precisão, então voltando a atenção para Carl — Ligue para Finn* e peça para entrar no sistema de câmeras das vias de Chicago, precisamos descobrir qual rua ela foi vista pela última vez e rastrear para onde a levaram, ligue também para Fulhan, a família de precisa ter em máxima segurança…
Na medida que Donna seguia com as orientações aos dois sliters, ela pegou o celular para informar aos Dominos o ocorrido, entretanto achando-se esquecida na sala, de imediato chamou a atenção da avó.
— E o que eu faço para ajudar? — perguntou ela, em aflição interna.
— Você nada, a partir de agora eu resolvo isso. — respondeu a matriarca Fletcher num tom sério, áspero e frio.
— Mas vovó… Senhora Fletcher, a é minha amiga, eu quero ajudar. — questionou .
— Ajudar em quê? Você nem mesmo consegue derrubar seu treinador propositalmente… Não pode nem ser considerada uma sliter com todos esses machucados pelo corpo… — por mais que doesse em Donna jogar a realidade na cara de sua neta, era necessário.
Afinal, poderia mais atrapalhar que ajudar.
— Mas… — ela tentou argumentar sem sucesso.
— Mas nada… Preocupe-se com seu treinamento e em pagar a aposta na qual se envolveu sem ao menos ter consciência do que estava fazendo. — agora a Fletcher elevou a voz de forma mais dura.
— Como a senhora sabe? — perguntou , surpresa.
— Eu sempre sei o que acontece no meu acampamento, agora pode se retirar. — Donna não se importou se iria ou não ferir os sentimentos da neta, pois a mesma precisava se tornar mais forte para lidar com esse tipo de situação.
Voltando à gravidade dos acontecimentos, Donna Fletcher discou no celular o número de Dominos. Por mais que a noite fosse de festa de felicidade, a vida de era importante o bastante para não deixar seu sequestro em oculto do homem que certamente moveria céus e terra para encontrá-la. Enquanto isso, em choque com a reação da avó, se retirou do escritório sentindo-se uma inútil pela realidade de não poder salvar a amiga como um dia foi salva por ela.
Seguindo até a parte de cima, saiu pela porta e começou a correr em direção a floresta que circundava o lugar, sem direção e em total tristeza e frustração. Semanas haviam se passado com ela ali e não tinha chegado ao seu objetivo inicial de se tornar forte e independente. Internamente ela concordava com a avó, seus machucados pelo corpo apenas lhe mostravam quão fraca ela era.
Pelo menos era o que pensava.
— O que eu estou fazendo aqui? — sussurrou ela, para si mesma ao parar próximo ao pequeno lago que tinha na parte oeste da floresta.
Tudo ficou silencioso por um momento. O olhar de manteve-se no céu que parecia parcialmente nublado, não era comum naquela época do ano, porém os rumores de chuvas rápidas circulavam entre os aprendizes, tanto que não demorou para que uma brisa fria passasse por seu corpo.
— Então é assim que você lida com as crises? Fugindo? — a voz de Matthew soou por detrás de uma das árvores, calma e serena.
— O que faz aqui? — enxugou as lágrimas discretamente e olhou para a direção dele, que começou a dar alguns passos até ela — Por que veio atrás de mim?
— Você não me respondeu. — ele parou em sua frente, mantendo as mãos nos bolsos e controlando o olhar debochado.
— Me deixa em paz. — disse ela, se virando para afastar.
— Então é assim? — ele a segurou pelo braço de maneira firme, parando-a — Vai desistir?
— Eu te odeio. — ela se soltou bruscamente e no impulso da raiva, começou a bater nele enquanto as lágrimas voltavam a descer pelo seu rosto — Odeio a Continuum, odeio o Andrei, odeio esse acampamento, odeio todo mundo…
Matthew permaneceu parado, apenas permitindo que extravasasse sua raiva dando pequenos socos em seu tórax. Era de se esperar que em algum momento toda a pressão e frustração que estava sentindo desde quando foi sequestrada iria de fato ser externada em algum momento, e aquele era bem propício, no meio do nada com a única pessoa que lhe entendia perfeitamente apesar da bailarina achar que não. E quanto mais ela o batia, mais ela desabafava.
— Eu… — enfim parou por um momento, ao sentir-se cansada.
A raiva foi tanta que nem mesmo pulso enfaixado foi capaz de desviar sua atenção, e a própria dor foi abafada.
— Acabou? — perguntou ele, num tom sarcástico — É somente isso que tem guardado aí dentro? Andrei levou sua amiga semanas depois de quase te matar… E você age assim? Como uma garota mimada que só sabe chorar…
fechou seus punhos novamente e partindo para socá-lo na cara, foi paralisada por um movimento de imobilização de Matthew. Ela se remexeu para se soltar sem sucesso, enquanto ele a deslocava para a parte mais escura da vegetação. Em um piscar de olhos Matthew girou seu corpo a prensando em uma árvore, mantendo o corpo de ambos próximos o suficiente para sentirem a respiração um do outro.
— Quanto mais você ficar assim, mais seu inimigo terá poder sobre você. — disse ele, percebendo os sentimentos dela.
— Me solta. — pediu tentando controlar sua voz, internamente seu corpo trêmulo apenas queria renunciar a tudo — Por favor.
— Não se pede por favor para o inimigo, não vou deixá-la desistir. — continuou ele, mantendo a seriedade na voz e suavizando o olhar — Você é mais capaz do que imagina, bailarina.
— Não, você não sabe quem eu sou, ou melhor, você já me definiu, sou uma mimada que passou a vida sendo protegida… Nem a minha avó acredita que sou capaz de me tornar uma sliter. — disse ela, com a voz falha e mais lágrimas escorrendo — Não importa se a punição for a morte, eu não quero mais.
apenas desistiu de se soltar dele, deixando seu corpo relaxado para que ele a mantivesse de pé.
— Engano seu, é por acreditar em você que sua avó me pediu para treiná-la. — Matthew foi se inclinando para mais perto, deixando seus rostos bem próximos.
Com leveza, ele soltou os braços dela, porém continuou a apoiando para que seu corpo mantivesse erguido. apenas fechou os olhos, sentindo toda a sua força temporariamente se esgotar pelo turbilhão de emoções que viveu em um curto espaço de tempo. Aos poucos, sua respiração ofegante foi se acalmando até ficar sincronizada com a de seu treinador, era intrigante para ela a habilidade que Matthew tinha de elevá-la aos dois extremos, raiva e calmaria, em um piscar de olhos. A forma em que a apoiava fisicamente, seu toque suave e firme que lhe transmitia segurança e força, inegável o fato dele ser totalmente diferente do que ela imaginou em um tipo ideal de homem para sua vida, e era exatamente por isso que sua influência sobre ela era mais surpreendente.
Além de fazê-la esquecer os outros dois homens que arrasaram seu coração e com facilidade tomar seus pensamentos, agora indiretamente estava se tornando um motivo inesperado para ela prosseguir com seu objetivo de se tornar sliter.
— O que você está fazendo? — sussurrou ela, tentando entender por que seu corpo seguia espontaneamente ao comando dele.
— Estou apenas te ajudando a achar seu ponto de equilíbrio. — sussurrou ele, de volta ao impulsioná-la a se afastar da árvore e conduzi-la para o centro do lugar — Mantenha seus olhos fechados.
— O que vai fazer comigo? — indagou ela, mais uma vez, insegura com o que poderia vir a seguir.
— Vou mostrá-la o caminho… — Matthew manteve a voz suave, enquanto retirava o lenço amarrado em seu punho, então a vendou com precisão.
— Collins?! — disse ela, estranhando.
— Respire fundo e tente sentir o ambiente em sua volta. — disse ele, em seu tom habitual de ordem.
A parte doce e compreensiva do treinador cruel estava dando lugar ao seu lado impotente e rígido. assentiu fazendo o que ordenou, não entendendo de início o propósito daquilo. Em instantes o silêncio pairou sobre o lugar, o que aos poucos foi permitindo a bailarina perceber os detalhes que aconteciam ao seu redor, percebendo que Matthew a rodeava.
Vendada e com a atenção total nos movimentos dele, em um movimento involuntário e espontâneo deu meio giro e abaixou rapidamente quando sentiu a aproximação de algo vindo em sua direção. No susto, ela se levantou em seguida e socou o ar, para sua surpresa sua mão passou de raspão pelo rosto de Matthew quase o acertando de fato.
— Matthew?! — disse ela, estática com o que tinha acontecido.
— Mantenha a calma e o equilíbrio… — sussurrou ele, em seu ouvido novamente — Acompanhe os movimentos do seu inimigo, como se estivesse dançando com ele.
Mais uma vez ele investiu em um ataque contra ela, desta vez mais concentrada, se defendeu conseguindo manter a estabilidade do seu corpo, não sendo derrubada no processo. Ela sorriu com espontaneidade ao perceber que tinha o bloqueado com sucesso, o que a fez perder o foco e se distrair, nesta fração de momento Matthew aproveitou para derrubá-la com um chute certeiro no estômago. A bailarina ao sentir o impacto juntamente com a dor, sofreu uma breve falta de oxigênio decorrente do golpe, então puxou o máximo de ar para seus pulmões tentando assim voltar a estabilidade.
— Mantenha o foco… — disse ele ao segurar em sua mão e puxá-la para se levantar — Se inimigo não te dará descanso…
Assim que ergueu seu corpo, Collins lhe transferiu outro golpe a derrubando. A bailarina respirou fundo, pensando na melhor forma se bloquear e voltar ao equilíbrio inicial, então erguendo novamente seu corpo percebeu a investida dele contra e girando seu corpo com precisão colocou toda a força em sua perna direita a lançando contra ele, assim que conseguiu finalizar seu movimento o derrubando como planejou, ela posicionou seu corpo como se estivesse terminado de fazer um movimento de ballet.
— O nome disso é fouettés… — disse ela, ao levantar o lenço dos olhos para encará-lo, enquanto recuperava o fôlego — Um movimento importante do ballet.
Ele sorriu de canto discretamente, então manteve a seriedade no olhar. Logo sentiu um gosto estranho, o ataque da bailarina havia provocado um pequeno corte interno em sua boca.
— Eu não mandei retirar a venda… — Collins manteve o tom firme, levantando-se novamente — Vamos de novo.
Ao ataque inicial de Matthew, a bailarina continuou a se defender e contra-atacar. não sabia ao certo o que estava fazendo, mas muitos de seus golpes começaram a tomar forma a partir dos movimentos de ballet e outras danças que conhecia, principalmente o hip-hop. Se aquele era o tal estilo de luta que ele havia lhe dito, ela ainda não compreendia ao certo, mas finalmente estava achando mais fácil encontrar formas de não sair tão machucada como das outras vezes. Claro que Collins não estava usando sua força em cem por cento contra ela, o que facilitava, entretanto, quanto mais conseguisse dominar seu próprio corpo e movimentos, mais ela desenvolveria suas habilidades de combate corpo a corpo.
— Eu venci desta vez?! — perguntou ela, ao parar para tomar fôlego após uma sequência de golpes que tinha bloqueado.
— Não, mas parabéns pelo progresso. — disse ele, ao se aproximar dela e esticar a mão direita para retirar sua venda.
no reflexo se defendeu e tentou atacá-lo, porém Matthew foi mais rápido e a imobilizou, prendendo-a contra seu corpo.
— Calma, eu só ia tirar isso… — ele retirou a venda de seus olhos, e riu baixo.
— Me desculpa, reflexos involuntários. — sussurrou ela, ainda receosa, quando ele a soltou.
Matthew respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos da calça, olhando-a com serenidade.
— Quem é você e o que fez com o Collins? — perguntou ela, desconfiada.
— Do que está falando? — ele deu uma risada rápida.
— Você me parabenizou. — explicou ela.
— Hum… — ele manteve o sorriso debochado — Retiro o que eu disse então.
Assim que tentou retrucar, ele se impulsionou para sair. As horas haviam passado tão rápido e a atenção de ambos no treino estava tão intensa que nem mesmo viram o tempo passar, faltava menos de uma hora para o sol nascer e havia até esquecido do caos do qual havia fugido.
— Temos que voltar e você tem uma aposta para pagar. — avisou ele, seguindo para o caminho em direção ao acampamento.
— Como você sabe disso? — perguntou ela, na inocência.
— Sou o seu treinador, é meu dever saber tudo o que faz. — explicou ele, de forma enigmática.
— Esse lugar tem câmera? — continuou ela, o seguindo — Não é possível que todos estejam sabendo sobre isso.
— Até as árvores têm ouvidos aqui. — brincou ele — Você é uma Fletcher, acostume-se e tenha cuidado…
Ele parou e a olhou sério.
— Nunca uma outra pessoa foi tão observada nesse lugar quanto você. — até suas expressões estavam mais frias — As pessoas podem saber o que faz, mas não pode ser pega fazendo ou terá punições, então não deixe que te vejam.
— Como assim? — ainda não tinha entendido a maldade por detrás das apostas que rolavam entre os aprendizes, e menos ainda o conselho de Matthew.
— Eu vou seguir na frente, você pode me acompanhar ou aproveitar o momento para invadir um bar e roubar uma medalha. — sugeriu ele, indiretamente — Afinal, estávamos em um treino noturno, então, há uma razão para não estar em seu quarto dormindo.
De certa forma sabia que a razão e a lógica estavam a favor dele. Por mais que a preocupação com a amiga tivesse retornado, não tinha outra coisa a se fazer a não ser seguir o fluxo e continuar os treinos para se tornar tão forte, quanto as outras duas órfãs que conheceu quando criança.
Afinal, seria mais imprudente ainda de sua parte ir atrás de Andrei despreparada, do que encarar um bar cheio de motoqueiros mal-encarados para roubar uma medalha. permaneceu parada avaliando a situação e pensando em como ela poderia fazer aqui sem ser pega e envolver Meg junto, já que sua loucura em interferir nos assuntos da nova amiga fez a tal aposta criar proporções maiores do que deveria. Poucos passos a frente Matthew parou ao perceber que ela havia ficado para trás, e num sorriso de canto confiante, a orientou subjetivamente.
— Ah, acho que estou ouvindo o barulho de motos a oeste daqui. — disse ele, elevando sua voz — Talvez estejamos próximos ao Sweet Home.
de imediato entendeu o recado e voltando-se para oeste, começou a correr em direção ao barulho dos carros na rodovia, era um trecho bem movimentado por causa do famigerado bar de motoqueiros. Quanto mais se aproximava, mais o barulho da civilização ficava nítido a sua audição, avistando as luzes da fachada do lugar mais à frente. A estrutura do lugar o aspecto de antigo e para uma construção que no passado serviu de base para o corpo de bombeiros, sua arquitetura transmitia um charme rústico pelas paredes de tijolinho, alinhada à modernidade da decoração.
— Sweet Home. — leu ela, ao voltar seu olhar para o letreiro em neon vermelho acesso — O que eu estou fazendo?!
Ela ficou alguns minutos parada do outro lado da rodovia, observando a movimentação do lado e o fluxo de pessoas que saíam e entravam. Na teoria, a bailarina deveria fazer aquilo na companhia de sua nova amiga, porém na prática seria desperdício de tempo e oportunidade retornar ao acampamento para enfim tentar as duas saírem de lá sem serem vistas. Então só lhe restava encarar o desafio sozinha e rezar para sair viva e não ser vista.
— Bem, não há outra opção para mim. — sussurrou ela, para si — Se não consigo encarar um bando de motoqueiros, como vou encarar o Andrei?
A mente da bailarina precisava se manter focada, porém suas preocupações com a amiga dividiam sua atenção naquele momento. Dando o primeiro passo, ela atravessou as duas pistas e se aproximou de um motoqueiro que estacionava sua Scrambler 74.
Era a hora de improvisar.
— Boa noite. — disse o homem, sendo retribuído com um sorriso — Está perdida?
— Parcialmente, posso dizer que sim. — ela disfarçou um pouco o nervosismo interno — Estava com uma amiga e o seu namorado fazendo trilha, mas eles acabaram esquecendo de mim e mudando os planos…
— Entendo, a cidade não fica muito longe daqui se quiser podemos beber um pouco e depois eu te levo. — ofereceu ele.
— Não sei… — ela olhou para a porta de entrada do bar — Ali diz, somente entrada de convidados.
— Você é minha convidada. — o homem piscou de leve para ela e desceu de sua moto, guardando as chaves do bolso traseiro — Então?!
— Eu estava mesmo com sede. — assentiu ela, em surtos internos.
Ele sorriu de canto e seguiu na frente sendo acompanhado por ela. observou bem os detalhes dos grafismos nas paredes, notando também os olhares dos outros homens e mulheres que estavam por todo o salão. No fundo sonoro, o jukebox contemplava o ambiente com o som de We Will Rock You do Queen, um grupo de homens que rodeava a mesa sinuca começou a discutir de repente, rindo segundos depois do tropeço de um deles ao dar sua tacada. Mais adiante nos fundos ficava o bar, com a cobiçada medalha em destaque pendurada em cima da prateleira dos whiskys mais caros.
— Estou ferrada. — sussurrou ela, engolindo seco ao olhar a medalha.
— O quê?! — seu cartão de acesso a olhou — Disse alguma coisa?
— Aqui está bem cheio, é sempre assim? — disse ela, como se repetisse uma pergunta.
— Não todos os dias. — ele riu e se aproximou do balcão — James, me vê duas bebidas, estou acompanhado hoje.
— Olha só. — o homem grisalho pareceu impressionado — Muito bem acompanhado, devo dizer.
— Devo levar isso como um elogio? — brincou ela, tentando descontrair.
— Claro senhorita. — James riu — É a primeira vez que Paul traz alguém com ele, e devo dizer que estou impressionado.
— Pare de falar e nos sirva logo. — pediu o homem, que finalmente ela descobriu o nome.
— O especial da noite? — perguntou James.
— Claro. — Paul voltou o olhar malicioso para , que logo percebeu.
Ela precisava planejar algo em seu improviso, ou terminaria a noite de uma forma desastrosa e mais delicada ainda. “O que a faria em meu lugar?” ou “O que a Annia faria?” A bailarina tentava vencer esses pensamentos, afinal era ela quem estava ali, era o seu momento de provar para si mesma que conseguia ser mais forte e capaz de se livrar de qualquer situação perigosa.
— É visível que esta é sua primeira vez aqui, não é? — perguntou Paul, tentando puxar assunto.
— Sim, como disse, era para estar fazendo trilha agora, mas parece que minhas férias em grupo foram frustradas. — respondeu ela, percebendo a aproximação dele.
Em sua mente, se imaginou o derrubando no chão com um soco ou chute por mais de dez formas diferentes.
— Sorte a minha, agora podemos animar a noite um do outro. — disse ele, sugestivamente.
Não que aquele motoqueiro em si fosse estranho, pelo contrário, para a surpresa de , Paul era um homem até bonito e interessante, mas é claro que para ela isso não significava nada. Seu objetivo era entrar discretamente e roubar a medalha, mas o processo para o seu sucesso ainda não tinha sido definido.
— Você não me disse seu nome. — perguntou ele, assim que foram servidos por James da bebida especial.
— Nem você, soube por ele. — disse ela, de imediato.
— Verdade. — ele riu, esticando a mão em cumprimento — Sou o Paul.
— Joseline. — ela abriu um largo sorriso, retribuindo o aperto de mão — Obrigada por me convidar.
se lembrava vagamente de uma amiga da faculdade com esse nome, o que a ajudou a não pensar muito em inventar um para dar a ele. Neste pouco tempo em que ela foi jogada em todo o universo da Continuum, ela havia aprendido algumas coisas com as amigas que reencontrou e as novas que conheceu. Uma delas é que em momentos de improviso, nunca diga seu nome verdadeiro.
— Tem sido um prazer sua companhia, Joseline. — Paul encostou de leve sua mão na cintura dela, trazendo-a um pouco para mais perto, pretendendo lhe beijar.
Porém, o barrou no caminho com sua mão, mantendo a distância entre eles.
— Onde é o banheiro? — perguntou ela, disfarçando.
— Ali. — ele apontou para um corredor escuro.
O que a deixou insegura. Respirando fundo, seguiu na direção indicada e passou pelo corredor escuro até chegar em uma escada de acesso ao porão no subsolo, onde eram os banheiros e as salas vip. Com o coração acelerado e se locomovendo lentamente pelas escadas, ela passou por várias portas das quais algumas conseguiu ouvir barulhos vindos do lado de dentro. Logo um casal saiu de uma das portas, estavam visivelmente embriagados e em risos.
— Precisamos marcar de novo. — disse o homem, num tom moderado.
— Assim que meu marido viajar novamente. — respondeu a mulher, sem cerimônias.
olhou de relance para eles, notando no pescoço do homem um naipe de espadas tatuado, fazendo-a se lembrar que já havia visto uma tatuagem assim antes em Collins, em seu pulso direito. Se aquele bar era de motoqueiros gangsters e se aquela tatuagem era um símbolo, como seu instrutor poderia ser de uma gangue se ele era um sliter, vindo de um orfanato?
— Não pense muito, ou então não terá coragem para ir até o final. — a voz de Matthew a assustou, ao despertar sua atenção do casal que já desaparecia do seu campo de visão.
— Collins. — sussurrou ela, sentindo o coração acelerar no susto — O que faz aqui?
— O que acha?! — ele deu alguns passos para saiu da sombra, assim ela pode vê-lo com mais nitidez.
Ela o ignorou e se moveu para sair.
— . — ele segurou em seu braço, parando-a — Como pretende roubar a medalha?
— Não te interessa. — disse ela.
— Me deixe te ajudar. — insistiu ele — As pessoas daqui, conseguem ser piores que a Continuum, não possuem princípios.
— E desde quando os Tenebrae possuem princípios? — argumentou ela, com fundamentos se soltando dele — Não existe nada pior do que o Andrei…
— Fletcher. — insistiu ele.
— Não. — ela o olhou seriamente — Eu devo fazer isso sozinha e nem era para você estar aqui, se for pego ajudando sua aprendiz poderá ser punido.
— Olha só quem encontrou o livro de regras. — disse ele, impressionado.
— Estou falando sério. — forçou um olhar confiante.
— Eu também. — ele se manteve sério, porém com o olhar sereno para ela — Você sabe que não vai conseguir sozinha, precisa de alguma coisa ou alguém para distraí-los.
— Não. — ela retrucou, o encarando — Eu já entendi que não sou a , ok? Só me deixa pensar o que eu vou fazer, e fica fora disso.
Ela deu o primeiro passo para se afastar.
— Não se trata de ser ou não a . — ele segurou em sua mão agora, chamando-a à realidade — Existem coisas que até mesmo sua amiga não consegue fazer sozinha.
Logo a voz de Andrei invadiu a mente de , fazendo-a sentir um frio na espinha. não queria concordar, mas não sabia o que fazer e nem como iria distrair Paul que a aguardava com pensamentos de uma noite de aventuras estranhas. Ao perceber barulhos vindos da escada, Collins a puxou para uma das portas e entrou com ela. O ambiente vip em questão pertencia a ele, sua decoração clássica minimalista tinha toques escandinavos, principalmente na paleta de cores de adornos. A iluminação quente deixava mais aconchegante e com a sensação de estar mesmo na sala de estar de uma casa. Surpreendente para ela a se comparar com a estética do salão e da fachada.
— Como pretende distrair o Paul e roubar a medalha? — perguntou Collins, soltando sua mão.
— E o que você tem a ver com isso? — ela bufou, chateada pela interferência dele, adentrando mais o quarto e — Como conhece ele?
— Faz diferença se eu contar? Não quer minha ajuda. — retrucou ele, rindo de canto.
— Você é um gangster? — perguntou ela, tentando juntar as peças daquele quebra-cabeças.
— Meu pai era. — respondeu ele, num tom ríspido — Mas não vem ao caso, vai lá roubar sua medalha, me avise quando terminar.
— Tudo bem, eu deixo você me ajudar, se me contar sobre seu pai. — assentiu ela.
— Está tentando fazer um acordo comigo? — ele riu — Vai ter que fazer melhor.
— Foi você quem se ofereceu. — retrucou ela — Como você entrou aqui? Sabe que um sliter não pode ter nenhuma outra ocupação, não é?
— Vai contar para sua avó? — ele encostou na parede e cruzou os braços.
— Você é um gangster, não é? — indagou ela.
— E se eu for?! — ele sorriu de canto, meio prepotente — Foque na sua medalha.
— Prometa que vai me contar? — insistiu ela.
— … — ele se afastou da parede e abriu a porta — Sua medalha.
— O que eu faço? — perguntou ela, meio insegura.
— Permita que ele te beije, e deixe o resto comigo. — respondeu ele, já formulando um plano na cabeça — Ao menor sinal de oportunidade, roube a medalha.
Ela assentiu e saiu primeiro do quarto. Não era bem um plano, mas o elemento de distração seria garantido por ele. Assim que ela retornou ao salão, como Collins previu, aconteceu, em um movimento preciso o motoqueiro a beijou com malícia mantendo seus corpos mais próximos. Seguindo o plano, retribuiu o beijo contando os minutos para a intervenção do seu instrutor, num piscar de olhos ela sentiu uma mão puxar Paul pela jaqueta e lhe socar a cara, o derrubando no chão.
— Como se atreve a tocar na mulher alheia. — um homem bêbado, gritou para ele, deixando ainda mais em choque.
Não era quem ela esperava.
— E quem disse que é sua?! — Paul limpou com o manga da jaqueta o sangue que escorreu no canto da boca, sentindo o gosto dele — Vou ensiná-lo a não interferir na noite dos outros, seu bêbado.
Paul voltou o olhar para o braço do homem, vendo a tatuagem de uma rosa referente a sua gangue, o reconhecendo e entendendo bem sobre quem ele se referia.
— Phill. — sussurrou Paul — Acredite, ela me ofereceu uma das melhores noites da minha vida.
E retribuiu o soco, o derrubou sobre outro cara de outra gangue que se prontificou a tomar satisfações com eles. Assim, o caos se instaurou no lugar com a troca de socos e mais brigas entre os que estavam lá, incluindo as mulheres presentes. O velho James saiu de trás do balcão para apartar uma das brigas e segurar um dos clientes que estava com um canivete. Do outro lado, duas mulheres enfrentavam com os tacos de sinuca quase quebrando o lugar junto.
O que deveria ser uma simples distração improvisada, acabou se tornando o caos perfeito para . Voltando sua atenção para o balcão, subiu nele passando para o outro lado, então esticando a mão, pegou a medalha e se abaixou rapidamente para se esconder. Com o coração acelerado, a bailarina colocou o objeto no pescoço e engatinhou até a porta de acesso para a cozinha.
— A medalha. — ela ouviu a voz de James gritando, pouco antes de passar pela porta e se deparar com alguns funcionários lá dentro.
Quatro homens com facas afiadas nas mãos e os olhos fixos na medalha em seu pescoço.
— Vai lá, derrube eles. — misteriosamente, Matthew apareceu ao seu lado.
De relance no fechar da porta, ela pode visualizar que a guerra entre gangues no salão estava longe de acabar, e que James se aproximava para pegar o que era seu de volta.
— Você não vai me ajudar? — perguntou ela, controlando seu desespero interno.
— A aposta é sua. — brincou ele, colocando as mãos nos bolsos e esperando pelos movimentos dela.
Ela respirou fundo e colocando a medalha para dentro da roupa, olhou para o lado e com a mão esquerda pegou a primeira panela que encontrou para usar de arma. Os quatro homens foram em sua direção erguendo a mão com a faca, ela se desviou do primeiro o empurrando em cima da bancada. O segundo lançou a faca contra ela, que se defendeu com a panela e o chutando entre as pernas, o homem gemeu de dor e bateu com o objeto em sua cabeça, o desmaiando. O terceiro foi atacá-la, porém recebeu um soco do primeiro que vinha ao mesmo tempo para revidar, pois ela tinha se abaixando em defesa.
O quarto entrou com mais sucesso ao jogar uma das panelas em sua direção, fazendo-a cair. A panela escorregou das mãos da bailarina, que logo sentiu o quarto homem se aproximar e puxá-las pelas pernas, lançando-a na torre quente. O impacto fez o corpo de latejar de dor, assim como seu pulso direito que se mantinha enfaixado até o momento.
— Não vai mesmo me ajudar? — disse ela, em dificuldades quando o quarto tentou estrangulá-la com as próprias mãos.
Matthew suspirou fraco e jogou um rolo de macarrão para ela.
— Se concentre em controlar seu corpo. — seu tom foi de ordem, como nos treinos.
no ápice do seu desespero, fechou os olhos e buscando o rolo com suas mãos, ao encontrá-lo bateu forte na cabeça do homem, o derrubando. O terceiro homem avançou novamente contra ela, que rolando no chão, passou por debaixo da bancada e se levantou do outro lado. Ela manteve os olhos fechados para sentir o ambiente ao seu redor e perceber previamente os movimentos do seu inimigo, como de fato conseguiu com reação imediata de se defender do soco dele, lançando sua perna para derrubá-lo, repetindo o movimento de ballet como no treino de horas atrás.
— Consegui! — disse ela, sorrindo animada, quando teve seu corpo puxado por Collins que pegou em sua mão e a tirou de lá.
— Temos que sair daqui. — alertou ele, antes que ela pudesse questionar.
apenas assentiu, deixando-se ser guiada por ele. Uma corrida da saída dos fundos até o início do perímetro do acampamento no bosque, foi o suficiente para deixar a bailarina sem choque e com a adrenalina ao nível máximo.
— Então. — Matthew soltou sua mão assim que pararam.
— Obrigada. — disse ela, retomando o fôlego.
— Este é o nosso segredo. — disse ele, mantendo o olhar sério.
— Não vamos voltar juntos?! — indagou ela, percebendo que ele ficaria ali.
— Sabe que não. — respondeu ele — Não seja vista e vá direto para seu quarto.
Ela assentiu. Ao dar o primeiro passo para seguir na frente, ela hesitou um pouco e voltou a olhá-lo.
— Por que me ajudou? — perguntou ela.
— É minha aprendiz. — respondeu vagamente.
— Não é resposta. — insistiu ela — Acaso a te pediu algum favor?
Suas palavras tinham fundamento.
— Esqueça a , o mundo não gira em torno dela. — ele riu e se virou de costas para ela.
— O que é então?! — ficou um pouco curiosa.
— Eu prometi a sua avó que seria a melhor desta geração, só estou tentando cumprir. — explicou ele, direto.
— Posso te pedir um último favor, então? — ela também se manteve séria.
— Diga. — ele se virou e permaneceu atento a ela.
— Treine a Meg. — pediu ela.
— O quê? — ele riu de imediato — Você quer acabar com a minha reputação?
— Foi você mesmo que disse que nada mancharia o seu legado. — insistiu ela — Quem melhor que você para treinar as duas piores aprendizes que esse lugar já teve?
— Quem disse que você é a pior? — Matthew cruzou os braços, esperando seus argumentos.
— Basta ir na enfermaria todos os dias ao pôr-do-sol e teremos a certeza, ninguém nunca se machucará tanto quanto eu aqui. — expôs ela, a realidade — Por favor, eu prometo que se treinar ela, eu venço o torneio.
— Está prometendo demais para alguém que se acha a pior. — soou com sarcasmo.
— Há seis horas eu achava impossível roubar aquela medalha, e aqui estamos. — argumentou ela, apontando para o objeto escondido por sua roupa — Não sou de tudo um caso perdido.
— Com ou sem aposta… — ele deu alguns passos até ela, parando a milímetros de distância em sua frente — Você vai vencer esse torneio.
— Como pode ter certeza? — retrucou.
— Eu acredito em você. — disse ele, ao segurar em seu pulso direito se certificando o estado dele — Mas se está me pedindo para ajudar sua amiga.
Seu toque cuidadoso e suave a estremeceu por dentro, lhe deixando surpresa e assustada. Como podia ser tão mercenário e tão charmoso ao mesmo tempo?
— Eu estou bem. — disse ela, soltando seu pulso e dando um passo para trás.
ainda não entendia bem as palavras de Matthew: Mesmo que você fosse uma mulher atraente, jamais aconteceria algo entre nós, sentimentos são proibidos para pessoas como eu. Principalmente a parte dela não ser atraente. Não que ela estivesse preocupada com isso, afinal não desejava se envolver emocionalmente com mais ninguém, por causa dos seus passados mal resolvidos.
— Então, boa noite… — disse ele, com um sorriso disfarçado — Ou melhor, bom dia.
— Matthew?! — ela queria uma resposta concreta.
— Espero as duas após o café no lugar de sempre. — ordenou ele, dando sua resposta final.
Ela assentiu com um sorriso e se afastou, seguindo na frente.
Avistando o acampamento, ela se abaixou escondendo entre os carros que estavam próximos à entrada. Esperando até a troca de turno aos primeiros raios de sol, ela correu até a porta da cozinha da casa grande e entrou. Para sua sorte, não tinha sinal de sua avó ou Carl, então seguiu diretamente para seu quarto.
Com toda a turbulência nas últimas vinte e quatro horas, sem notícias da amiga e o desafio de vencer o torneio pela frente, ao menos havia algo positivo em tudo isso. Aquela medalha não significava apenas o pagamento de uma aposta e em ter mais respeito entre os aprendizes…
Significava um recomeço para a bailarina como a sliter herdeira.
Todos os perdedores no mundo
Chegará um dia em que perderemos
Mas não é hoje
Hoje, nós lutamos!
– Not Today / BTS
48. Dias em família
North Vancouver, Canadá
Dizem que quanto mais cavamos, mais segredos nos desenterramos. Ali estava Sollary no porão da casa, enrolada em um cobertor e concentrada em sua leitora, prontuário por prontuário. A madrugada passou e aos primeiros raios de sol pela manhã, finalmente a residente fechou a décima quinta caixa e olhou para seu marido que adormeceu no velho sofá de couro surrado que tinha ali. não a deixaria passar a madrugada sozinha em suas buscas, porém, também não teria paciência para ajudá-la a ler tudo aquilo que visivelmente ele não entenderia, então apenas se fez presente para não deixá-la sozinha.
— Hum… — um sorriso meigo surgiu em seu rosto, ao contemplar a beleza do marido.
Ao se levantar da cadeira, deu alguns passos até o sofá e se deitou ao lado de , não tinha muito espaço e lhe pareceu desconfortável a primeira impressão.
— Como conseguiu dormir aqui? — sussurrou ela, incomodada com o desconforto.
— Por que não me acordou? — resmungou baixinho, sorrindo de canto ao sentir o calor do corpo dela, logo ele a envolveu com o braço direito, puxando-a para mais perto ainda — Passou a noite acordada?
— Sim, não consegui parar de procurar. — respondeu ela, sentindo o marido lhe dar um selinho no pescoço, arrepiando de leve seu corpo — Está aqui em algum lugar, só preciso achar.
— Que tal adiarmos essa procura um pouco e curtir nosso momento família, afinal não foi para revirar o passado que viajamos para cá. — expressou ele, lembrando-a do propósito inicial de estarem ali.
— Você tem razão. — sussurrou ela, contra fatos não há argumentos.
— Alguma sugestão para nossa programação de hoje? — perguntou ele, sugestivamente começando a acariciá-la.
— Achei que você já tinha tudo programado? — ela se remexeu um pouco para olhá-lo — Baker, está sem ideias?
Ela riu de leve, em provocação.
— Ideias? — ele sorriu de canto com malícia — Minha querida, só de olhar para você minha mente já se enche de ideias.
— Hum… — ela virou para frente novamente, sentindo o coração acelerado — Me surpreenda então.
— Eu preciso saber se minha esposa conseguirá ficar acordada após uma noite em claro. — instigou ele.
— Por favor, eu já passei 72 horas em um plantão, é claro que vou conseguir levar o dia com minha família. — retrucou ela, achando irrelevante o comentário dele.
— Estou contando com isso. — pronunciou ele, num tom mais baixo, beijando-a no pescoço novamente.
sentiu seu corpo arrepiar com os toques do marido, permitindo-o avançar pouco a pouco em suas malícias e intensidade. O que dizer de um Baker apaixonado que não mede esforços para demonstrar todo o seu amor, seja entre quatro paredes ou não, os sentimentos dele sempre seriam evidenciados de forma clara e direta para que não restasse dúvidas ou aberturas para inseguranças de parte de sua esposa.
E quanto mais expressava, mais barreiras continuavam a quebrar dentro de e suas muralhas de incertezas.
—
Como presumiu, assim aconteceu.
manteve seu sorriso de canto ao observar mais um pouco sua esposa desmaiada em seus braços. É claro que após passar por um plantão pesado no hospital, antes de viajarem e agora mais uma noite em claro procurando respostas no porão daquela casa, faria com que nossa residente se entregasse ao cansaço e não resistisse ao sono. Em muitos momentos, se esquecia que não era uma máquina e que seu corpo e mente seguia um longo tempo de estresse e turbulência.
— Bem como eu imaginei… — sussurrou ele, ao erguer seu corpo e se levantar do velho sofá com cautela.
Pegando sua esposa no colo, Baker a levou para o quarto, assim poderia descansar melhor e não ser atormentada pelas muitas dores nas costas que provavelmente teria depois. Ao deitá-la sobre a cama, lhe deu um selinho nos lábios e a cobriu com um lençol, para uma manhã fresca, nada como a brisa que entrava pela janela para embainhar seus sonhos, e ele fez questão de deixar as cortinas em uma posição adequada para escurecer o quarto, porém deixando-o refrescante. Saindo e fechando a porta, seguiu para a sala, sua concentração na esposa adormecida nem mesmo deu-lhe a percepção da filha já acordada no chão da sala a brincar com seu cachorrinho.
— Bom dia, princesa. — disse ele, ao se aproximar dela, e lhe dar um beijo no topo da cabeça.
— Bom dia, papai. — Molly sorriu de forma meiga para ele, continha um olhar feliz.
— Como foi sua noite? — ele se abaixou e se sentou ao lado dela, atento às suas expressões.
— Bem, mais uma noite eu consegui dormir com o Kookie, sem sufocá-lo.
— Que bom. — ele sorriu, admirado com ela.
— Sim, a tia foi bem legal em me ensinar seus truques. — assentiu a garota.
— Você está gostando dela? — perguntou , curioso.
— Sim, ela é mais legal que a tia Rose. — confessou a garota, num tom mais baixo.
— Por quê? — indagou ele, ficando mais interessado na história.
Molly se calou, permanecendo com o olhar voltado ao animal em seu colo. Ela não queria trazer nenhum tipo de problema para sua tia, porém ao mesmo tempo não queria mentir para seu pai, então resolveu omitir seus pensamentos para não criar confusão. Mesmo sendo uma criança muito nova e inicialmente alfabetizada por sua tia, era esperta e inteligente, além de muito observadora, o que a levou a desenvolver uma boa memória fotográfica e auditiva.
— Está tudo bem, se não quiser falar. — disse , ao respirar fundo demonstrando paciência com ela.
— Obrigada, papai. — Molly sorriu novamente, ao olhá-lo com graça — Estou com fome, podemos tomar café da manhã?
— É claro que podemos. — ele sorriu de volta e levantou de imediato — O que você quer comer?
— Não sei… — ela se levantou atrás pensativa — Panquecas?
— Hum… — ele avaliou mentalmente suas habilidades gastronômicas para aquele pedido — É claro que podemos comer panquecas.
— O senhor sabe fazer panquecas? — seu olhar ficou desconfiado.
No curto espaço de tempo, Molly já havia aprendido que o pai era péssimo na cozinha, quando se tratava de refeições complexas, já a sua esposa tinha mãos de fada para cozinhar, entretanto ela não estava ali o que deixava a criança com receio.
— Querida, é para isso que existe o senhor Youtube. — assegurou ele, piscando de leve, fazendo-a rir.
Molly assentiu com a cabeça e sendo pega pela mão, foi para a cozinha na companhia do pai e sua empolgação momentânea. Sentada na banqueta, ficou por alguns minutos observando-o separar os ingredientes e começar o preparo totalmente despreparado. E mesmo com as trapalhadas do pai, ela estava mesmo se divertindo com ele a ponto de surgir gargalhadas em meio ao processo. Em um dado momento pegou um punhado de farinha e soprou no rosto da filha, que se encolheu em risos e fez o mesmo com ele, logo a bagunça se estabeleceu na cozinha com farinha sendo jogada para todos os lados e ambos em risos tendo Kookie correndo em volta de ambos participando da brincadeira. Ao final, as panquecas conseguiram resistir ao desastre que o ambiente sofreu e o cheiro gostoso se espalhou toda a casa, deixando a pequena Molly ansiosa para comer o experimento do pai.
— E então? — perguntou o pai, com as expectativas altas.
— Muito gostoso! — respondeu ela, bem espontânea enquanto saboreava mais um pedaço.
— Mais gostoso que a panqueca da tia ? — instigou ele — Pode admitir, prometo guardar segredo.
— Eu te amor papai, mas não, a tia ainda faz melhor que você e a tia Rose.
Ele fez cara de cão abandonado, fazendo-a rir.
— Então é isso que você faz enquanto estou dormindo? — a voz de soou da porta.
— Você ouviu? — ele se fez de inocente.
Ela assentiu com a cabeça e continuou.
— Não adianta tentar, não vai conseguir me superar na cozinha. — ela olhou para Molly e piscou de leve, arrancando um riso rápido e bobo dela.
se sentiu traído pela filha, percebendo a troca de cumplicidade das duas.
— Minha própria filha, sua traidora. — ele se levantou da banqueta, aproximando mais dela — Vou me vingar fazendo chuva de cócegas.
Ele se moveu rapidamente, vendo a filha já se encolher rindo antes mesmo do ataque do pai. ficou olhando e rindo juntamente, percebendo um sentimento novo fluindo internamente.
— Socorro, tia ! — pediu Molly dando gargalhadas.
A residente se aproximou mais, e tocando no pescoço de , deslizou seus dedos de forma sinuosa, fazendo ele perder o foco.
— Isso é golpe baixo, sabia? — disse ele, ao voltar sua atenção para a esposa e lhe roubar um selinho.
— Só estava salvando nossa pequena. — em sua defesa, ela olhou novamente para a criança e piscou de leve.
— Papai, posso brincar lá fora? — perguntou Molly, mudando radicalmente de assunto.
— Claro que pode, querida. — assentiu ele — Mas cuidado para não se machucar.
Ela o abraçou no impulso e desceu da banqueta, correndo em direção a porta.
— Vem Kookie, vamos brincar. — chamou ela, sendo seguida pelo cachorrinho.
O casal ficou em silêncio a observando, até que saiu pela porta dos fundos, fechando-a. Então finalmente pode perceber a bagunça que estava no lugar.
— Que furacão passou por essa cozinha? — indagou ela, desacreditada que tudo aquilo pudesse ser resultado de algumas panquecas.
— Bem… — coçou a cabeça, sem conseguir explicações mais plausíveis para ela.
— Você vai limpar tudo, e sozinho. — disse a mulher, em tom de ordem.
— Que malvada, não vai nem me ajudar? — ele fez cara de piedade — Eu sou apenas um pai que lutou arduamente contra o fogão para alimentar uma filha faminta.
Suas palavras soaram um tom dramático e sofrido.
— Sei. — ela soltou uma gargalhada — Não me convenceu.
— … — ele deu alguns passos até ela, envolvendo nos braços pela cintura — Eu juro que tentei ser organizado como você…
— Por que me deixou dormindo? — indagou ela, tentando ser forte e resistente ao seu charme.
— Você parecia estar em sono profundo, não quis te acordar. — revelou ele, seu lado preocupado e cuidadoso com a esposa — Por mais que seja dias em família, quero que descanse também, sei como sua mente tem ficado cansada devido aos problemas do hospital e todo o resto da Continuum.
— Obrigada, por ter planejado esses dias. — ela sorriu um pouco e depois lhe deu um selinho.
— Só isso? — reclamou ele — Estamos sozinhos…
Ela nem mesmo o deixou terminar a queixa e já foi iniciando um beijo de verdade, com direito a toques maliciosos e muita intensidade. jamais conseguiria se segurar com a esposa, então correspondeu na mesma proporção, fazendo ambos os corações acelerarem.
— Eu te amo. — sussurrou ela, o afastando um pouco ao perceber que as coisas poderiam perder o controle ali na cozinha.
Internamente ela queria muito ser agarrada pelo marido ali mesmo, não se importar com os móveis da casa e até mesmo viver a emoção de quebrar a mesa da cozinha. Entretanto, nem tudo são desejos e prazeres, pois havia uma terceira pessoa envolvida ali, que inocentemente permanecia correndo pela grama com seu filhote de cachorro.
— Eu também te amo. — declarou ele, entendendo com seu gesto que deveria se comportar por hora.
— Vamos arrumar essa bagunça? — perguntou.
Baker assentiu e após outro beijo, se afastou da esposa.
Sob a supervisão dela, iniciou sua tarefa de deixar tudo limpo e organizado. As horas foram passando e sob a sugestão de , a família se deslocou para um rancho que tinha próximo ao terreno da casa. O proprietário, senhor Colter, logo reconheceu a residente, por seu sorriso que parecia com o da falecida mãe. Minutos de conversa falando do passado, o homem lembrou-se do dia em que tio Gustav chegou em sua casa acompanhado de uma criança nos braços, pedindo para escondê-la. O que deixou Sollary com mais curiosidade em encontrar o prontuário da herdeira Tenebrae.
Logo mudou de assunto, para não estragar seu passeio, e com isso aceitou alugar dois cavalos de Colter para dar mais aventura à tarde deles.
—
— Foi boa a ideia de colocar o Kookie dentro da roupa, assim ele ficou mais protegido e não caiu do cavalo. — disse , impressionada com o improviso do marido.
— Você não foi a única que teve cachorros na infância. — relatou ele, com tranquilidade.
— Tudo bem, senhor gambiarra. — brincou ela, recebendo uma piscada boba dele.
— Foi um dia longo. — comentou , ao voltar o olhar para a filha que dormia abraçada ao cachorrinho no sofá da sala.
— Sim, e a Molly se divertiu muito. — concordou , ao se aproximar do marido e abraçá-lo por trás.
Após o retorno da família para casa, a residente havia notado ele bem reflexivo e silencioso, deixando-a curiosa. Atraindo sua atenção, lhe deu um beijo na nuca, arrancando um sorriso.
— O que deseja de mim, senhora Sollary-Baker? — brincou ele, sentindo o corpo aquecer com o calor dela.
— Seus pensamentos. — revelou ela, respirando fundo — Passou a tarde calado, eu percebi.
— Sim. — assentiu ele, virando seu corpo para ficar de frente para ela.
— O que houve? Annia ligou? — perguntou ela, se preocupando.
— Não, Annia disse que não iria nos incomodar até retornarmos, mesmo que o mundo queimasse. — contou ele, rindo de leve.
— Annia, sendo Annia. — admitiu ela, o pouco que conhecia a cunhada — Então o que foi?
— Uma coisa que Molly disse, me deixou pensativo o dia todo. — confessou ele, o ponto chave.
— O que ela disse? — indagou a residente.
— Que você era mais legal que a Rose. — sua voz soou mais séria e preocupada.
— Geralmente as crianças não gostam tanto assim das madrastas. — expôs , baseado em fatos reais com a atual esposa do pai — Falo por experiência própria, se é que eu posso considerar uma mulher com a mesma idade que eu uma madrasta… Mas, enfim, as palavras de Molly deixam parecer que Rose não é a tia perfeita como imaginamos.
— Isso me levou a pensar, no fato de Rose ter aparecido em nossas vidas mesmo tendo o auxílio da minha irmã. — avaliou , revelando sua inquietação — Tentar entender o real motivo.
— Talvez Molly tenha dito isso porque eu estou tentando conquistar ela, e lhe feito alguns mimos para não sair de malévola… — tentou suavizar as palavras da criança — A Rose é a tia, certamente Molly já deve ter ouvido muitos nãos da sua tia…
Baker tentou olhar pelo ponto de vista da esposa. Seu argumento tinha fundamentos.
— Mas é claro que sendo ou não uma boa tia, eu também não confio nela. — afirmou , sua palavra final a respeito daquele assunto.
— Obrigado. — sorriu de canto e a beijou com doçura — Por estar ao meu lado, eu realmente não sei o que seria de mim agora se não estivesse comigo.
— Você se tornou um bom pai em um curto espaço de tempo, não acho que tenha sido mérito meu. — confessou ela, orgulhosa do marido — Mas, devo admitir que a cada dia consigo me surpreendo com você, meu paciente favorito.
— Eu te amo. — disse ele, abertamente e com clareza como sempre fazia.
Baker jamais teve vergonha de assumir seus sentimentos pela residente, e estava feliz por não ter desistido de conquistá-la, afinal ela é a mulher a quem decidiu entregar não somente o coração, mas a si por completo. Minutos após uma profunda troca de olhares, se afastou um pouco dele envergonhada pela forte atração que estava sentindo do marido.
— Temos criança em casa. — brincou ela, ao medir a distância de um braço dele.
— E já não te disse que sei ser silencioso? — ele a olhou com malícia, arrancando riso dela.
— Baker… — ela tentou o repreender sem sucesso, sendo silenciada pelos lábios dele.
com seu jeito bobo e charmoso, a pegou no colo em meio ao beijo, não permitindo que houvesse mesmo nenhum barulho que pudesse acordar a criança. Afinal, não seria um pequeno detalhe como a presença de Molly que o faria ser menos intenso com sua esposa, e esfriar o lado casal que lutou fortemente para construir entre ambos. por sua vez, se surpreendeu com a ousadia e sagacidade do marido, mas achou maravilhosa aquela fuga para o quarto estilo filmes românticos dos anos 90.
Dois dias se passaram, com Baker insistindo em prolongar a estadia da família em North Vancouver longe dos problemas da Continuum. Em uma manhã ensolarada, acordou primeiro sentindo-se mais descansada e animada para aquele dia. Após mais uma noite calorosa de amor e horas preciosas de sono nos braços do seu amado, assim como os dias divertidos e cheios de aventuras com a enteada, finalmente ela poderia dizer que havia aproveitado ao máximo sua estadia ali.
Após preparar waffles para o café e deixá-lo no forno para manter longe de insetos, ela se lembrou de sua busca pelo segredo da família, e do dia em que Raffaeli comentou sobre o cofre do tio escondido no closet do quarto principal. Assim, ela retornou ao quarto para retornar a sua busca.
— O que faz aí, senhora Sollary-Baker? — a voz de soou ainda embriagada de sono, enquanto erguia de leve o corpo.
— Estou tentando tirar uma dúvida. — explicou ela — Me lembrei que o cofre do tio Gustav está neste quarto em algum lugar.
— Elizabeth Sollary Baker. — ele a chamou pelo nome completo.
— ? — ela se virou para ele.
Ele ergueu mais seu corpo e com o dedo indicador, a chamou novamente. respirou fundo, e mesmo contrariada acabou cedendo ao seguir até a cama e se sentar ao seu lado ficando de frente para ele.
— O que combinamos? — perguntou ele, com serenidade ao segurar a sua mão.
— Nada de Continuum até voltarmos. — respondeu ela, diretamente.
— Então? — ele se manteve sério, com o tom mais firme.
— Mas é que… Eu me lembrei de algo e temos uma oportunidade pra descobrir o maior segredo dessa sociedade. — explicou ela, em sua defesa — Eu juro que não quero atrapalhar nosso momento família.
— Nós voltamos amanhã à tarde… — ele entrelaçou seus dedos — Não acha que juntos seria melhor a procura? Eu prometo que te ajudo a procurar esses documentos, mas só amanhã de manhã. Combinado?
— Sim… Combinado. — assentiu ela.
— E o meu beijo para selar nosso acordo? — ele mordeu o lábio inferior, com malícia.
— Só um beijo? — provocou ela.
— Não…
Ele riu de leve se impulsionando para beijá-la. Sempre que ambos estavam sozinhos em um ambiente, nunca seria apenas um beijo e sabia muito bem… Oficina, sala de descanso do hospital, banco de trás do carro em algum estacionamento vazio, escritório do restaurante de Dominos, adega de vinhos da cobertura do senhor Sollary, jardim de inverno da mansão Baker, sofá velho do porão da casa do tio Gustav, não importava onde estavam sempre dava um jeito de despertar em os mais profundos desejos e anseios, para que pudessem desfrutar um ao outro da forma mais sublime e intensa que conseguia. E quanto mais ele a queria, mais ela se entregava ao marido se esquecendo de todas as inseguranças que um dia possuiu relacionadas a ele.
Definitivamente o mecânico aprendiz conseguiu se tornar seu ponto fraco.
— Você sabe mesmo como me tirar o foco. — reclamou ela, aninhada em seus braços após mais uma vez ser vencida pelo charme Baker.
— Você acha? — ele riu, enquanto acariciava seus cabelos.
— Será que Molly já está acordada? — ela perguntou — Quando você a levou na cama?
— Quando estava no banho. — respondeu ele.
— O primeiro ou o segundo banho? — indagou ela, tentando lembrar.
— O primeiro. — ele riu de leve — Não sou um pai desnaturado, não deixaria minha filha dormindo no sofá, enquanto desfruto do calor de um banho com minha esposa, por mais tentador que fosse.
— Que fofo, depois diz que não sabe como ser um bom pai. — brincou ela.
— Eu sei que sou um bom pai… — ele se remexeu na cama, a trazendo para mais perto beijando seu pescoço — E sou um excelente marido!
— Baker… — em sussurro tentou não admitir, mais seu corpo arrepiado a denunciou de imediato.
Em um piscar de olhos e interrompendo o momento malicioso do casal, o celular de tocou. olhou revoltado para o aparelho e depois para ela, que não foi capaz de se explicar ou defender.
— Me desculpa, eu liguei para ele assim que acordei. — contou ela, já sabendo que viria alguma repreensão de sua parte — Estava ansiosa para saber como estão as coisas no hospital.
Ele respirou fundo, se afastando dela e se deitando novamente, mantendo a atenção ao teto.
— Atenda. — foram suas únicas palavras, mas soaram com frustração e irritabilidade.
sem discutir, apenas ergueu seu corpo e pegou o aparelho atendendo a ligação.
— Sim? — disse a residente.
— … Que bom que atendeu. — a voz era de , tinha traços de inquietação.
— ? A que se deve sua ligação? — perguntou ela, surpresa.
— Preciso da sua ajuda. — pediu ele, como um grito preso de socorro — Preciso que me ajude com o .
— O que aconteceu com o ? — , ergueu mais o corpo se sentando na cama.
Logo ao seu lado se sentou também, tentando entender o que acontecia naquela ligação.
— Levaram a … — a voz de falhou um pouco — Andrei levou a e já deve imaginar como ele está.
Assim como o irmão, também estava transbordando raiva, pois ainda permanecia vivo em seus pensamentos os aflitos momentos que passou em surto enquanto não tinha nenhuma notícia de .
— Não se preocupe, , estou indo para Chicago imediatamente. — assegurou ela com firmeza.
encerrou a ligação e voltou o olhar para o marido, que tentava entender o motivo de sua decisão.
— O que aconteceu? — perguntou .
— Andrei Tenebrae levou a . — revelou , se sentindo impotente a respeito dos ataques do traidor — Isso tem que acabar, .
— Vá para Chicago, vou passar em Manhattan para ver como minha irmã está. — se levantou da cama para se vestir.
— E a Molly? — indagou ela.
— Ficará comigo. — soou como sua palavra final, sem direitos a argumentos — Molly não vai sair de perto de mim enquanto Andrei estiver vivo.
Someone call the doctor.
– Overdose / EXO
49. Irmão mais velho
Mansão Dominos, Chicago
Dizem que o jantar de noivado é uma das recepções mais tradicionais e esperadas que existe entre as famílias, perdendo até mesmo para o chá de bebê. E naquela noite a casa Dominos estava desfrutando o ápice da felicidade, assim que e Genevieve desceram os últimos degraus da escada e foram cumprimentados pela família do noivo. De todos os presentes, não existia alguém mais eufórico e ansioso que a matriarca da família. Após perder os pais, o marido, dois irmãos e alguns sobrinhos no fatídico ataque ao rancho Dominos, ter a família reunida em uma ocasião como aquela, era tudo o que Sophie desejou em anos de preocupação e angústia.
— Primeiro, quero agradecer a todos que estão aqui presentes nesta noite — disse , em seu pronunciamento inicial — Sabemos que tem sido tempos difíceis para todas as famílias da Continuum, entretanto, estamos aqui em um dia feliz comemorando o noivado da nossa Gen com um grande amigo como o Lance… Nossas famílias se unirão e certamente seremos mais fortes no futuro.
— Para mim é um privilégio ter conquistado o coração mais dócil que já conheci. — afirmou Lance, ao olhar para sua noiva com ternura — Você é maravilhosa.
Logo um sorriso singelo surgiu no rosto da noiva, demonstrando suas bochechas coradas pela declaração dele.
— Aos noivos… — disse Sullivan, o pai do noivo, com entusiasmo erguendo sua taça de champanhe.
— Aos noivos… — disseram todos em coral erguendo suas taças também.
Um pouco distante, Bella se encostou na parede ao lado da janela, sentindo um gosto amargo na boca. Após muitos amores ela não queria admitir que estava chateada por ver seu antigo affair em um relacionamento sério logo com a prima. E sim, em um passado distante Lance e Bells tiveram algumas noites de diversão às escondidas, todas sem compromisso. Seu olhar desviou dos noivos para a janela ao lado, com um suspiro fraco e desapontado, observando o tempo fechado do lado de fora e algumas gotas de chuva surgirem escorrendo pelo vidro.
— Deixe-me adivinhar, queria que fosse você no lugar da Gen? — perguntou , ao se aproximar dela, com discrição.
— Vai me jogar na fogueira se eu disser que metade de mim desejaria isso? — sussurrou ela, retrucando a pergunta.
— Não… Todos temos nosso momento de desejar aquilo que não é nosso — disse , em sua reflexão sobre a própria vida.
— Estas palavras são para mim? Ou para você? — Bells olhou para ele, intrigada — Não acha que a tenha nascido para te encontrar?
— Por que está voltando para mim? — ele riu baixo, entendendo as palavras dela — A questão aqui é você.
— Querido , fique tranquilo, nem em meus pensamentos mais insanos eu vou atrapalhar a noite da princesa… Primeiro, pelo óbvio… me mataria, segundo, eu não sirvo para amores platônicos — assegurou ela, confiante no olhar — Entretanto não posso dizer do temporal que está se formando do lado de fora.
— Sei — voltou o olhar para a janela — Em alguns casos, chover é um bom sinal.
O caçula não seguia muito a previsão do tempo, e nem mesmo imaginava que as rasas nuvens escuras que observou ao longo do dia enquanto cozinhava, resultaria no mal tempo. voltou sua atenção para o sorriso da irmã que se mantinha abraçada ao noivo, muitos pensamentos tomaram sua mente, todos relacionados à bailarina que conquistou seu coração sem nenhum esforço. Desde o primeiro momento em que a viu assim que a porta do hostel se abriu, até o término sem propósito do qual ele mantinha seu arrependimento. Era difícil para ele não imaginar como seria se ainda estivessem juntos, o que aumentava o desejo de vê-la novamente.
— E claro que esta noite vamos saborear os dotes culinários do nosso masterchef, não é mesmo, ? — brincou , rindo um pouco, então percebendo os devaneios do irmão — ?
— Sim, irmão — assentiu o chefe, sorrindo de leve e levantando a taça para saudá-lo — Será o melhor jantar que esta família já teve.
— É o que todos anseiam, — comentou Nigel —, pois o cheiro que vem da cozinha é bem interessante.
Todos riram um pouco, concordando com ele.
— E a data do casamento já está marcada? — perguntou Mary, ao alisar de leve sua barriga já amostra.
— Escolhemos a última semana do outono, para passar a lua de mel em pleno inverno de Paris — respondeu Genevieve, sendo abraçada pelo noivo — Lance concordou que seria bem romântico.
— Que viagem a Paris que não é romântica — comentou Penny, a mãe do noivo — Mas, eu achei que fossem para o Paradise Kiss.
— Mas é claro que vamos — assegurou Lance, ao olhá-la — Passaremos duas semanas em Paris e uma no Paradise.
— Vocês passaram em Paris, e eu quero ir para Londres, mas só se o imperador deixar — comentou Jasmine, voltando o olhar para o irmão mais velho.
— Se suas notas forem suficientes e satisfatórias ao meu gosto — disse o chefe da família, ao degustar um gole do champanhe em sua taça.
No quesito educação da irmã caçula, o chefe Dominos era mais do que exigente.
— Não serei uma nerd sem graça — sussurrou a caçula, fazendo careta.
— Adolescentes… — brincou Sullivan, fazendo Sophie e a esposa rirem.
— Mas saiba que fico feliz que tenhamos esse tipo de assunto e preocupação com Jasmine… — ela voltou o olhar para o sobrinho, percebendo algo muito estranho nele.
— Vamos esquecer as loucuras da Continuum e saborear esta noite — disse Penny, mantendo um sorriso no rosto — Foi demorado para ambos perceberem que ficam perfeito juntos, mas estou feliz que Lance tenha tomado a iniciativa de pedir Genevieve em casamento.
— Ah, sim, e minha sobrinha sempre foi tão insegura, não entendo o motivo, ela é tão bonita e inteligente! — Sophie tomou um gole do champanhe em sua taça — Já estou sonhando com mais crianças correndo por essa casa em datas comemorativas.
— E como tem sido a gravidez de Liana? — perguntou Penny, curiosa — Deve ser uma emoção para você, ser avó… Não vejo a hora dos meus filhos me darem essa alegria.
— Ah, Liana tem tido um momento delicado, se sentindo enjoada a maior parte do tempo, porém, nesta reta final da gravidez… Até o quarto do bebê já aprontamos — revelou Sophie.
— Que amor! — Penny se mostrou esperançosa para passar por este sentimento também, ver a família crescer com os herdeiros.
Eles ficaram por mais algum tempo na sala conversando sobre os preparativos do casamento e outros assuntos aleatórios. Durante todo aquele tempo, pode perceber uma certa preocupação no olhar do irmão, mesmo que este se esforçasse para manter a aparência de estar tudo bem.
— , podemos conversar um instante? — pediu , ao se aproximar dele com discrição.
O mais velho assentiu e ambos se retiraram para a adega de vinhos. O lugar havia passado por mais uma reforma e estava novo em folha, seguindo a arquitetura moderna da casa. Assim que entraram, deu alguns passos a mais na direção da mesa de provas, onde tinha algumas garrafas depositadas.
— Algum problema? — perguntou o mais velho.
— Eu que te pergunto — retrucou , com o olhar sério para ele — O que está acontecendo, ?
— Não o entendo — ele virou para o irmão, e colocou as mãos nos bolsos da calça.
— Seu olhar está distante e preocupado — explicou — E acho que não fui o único a perceber isso, mesmo você sendo muito bom em disfarçar.
respirou fundo, voltando o olhar para o chão. Parecia refletir nas palavras do irmão.
— É alguma coisa com a ? — insistiu .
— Não a vejo desde o amanhecer, ela não me atende e… — ele suspirou, tentando manter o foco — Ela nunca foi tão silenciosa assim.
— Talvez esteja resolvendo algo da família dela — supôs o mais novo, avaliando a situação — Se tivesse acontecido algo, já saberíamos.
— Então, por que internamente não estou seguro com suas palavras? — ele suspirou fraco, movendo o olhar para a porta — Não que eu seja um homem possessivo, mas eu só queria saber onde ela está, se está bem.
— Após um tempo longe dela, é normal ter essa preocupação sempre que estiverem longe um do outro — brincou , tentando tranquilizá-lo — Em breve entra pela porta com o olhar de “nada está acontecendo”.
Eles riram do comentário por um instante, até que o celular de tocou, era uma ligação da matriarca Fletcher. O caçula olhou para o visor estranhando, porém, como já sabia sobre o jantar dos herdeiros, talvez o assunto fosse aquele. Tirando a atenção do irmão, ele atendeu a ligação de forma despreocupada.
— Sim, Fletcher — disse ele, ao atendê-la.
— , seu irmão está perto? — perguntou ela, direta e precisa.
— Sim, está. — respondeu ele, estranhando — Se queria falar com ele, porque não ligou para seu número?
— Porque não acho que eu seja a pessoa mais adequada a lhe dar esta notícia — respondeu ela, em sua forma enigmática — E certamente a pessoa em questão me mataria se eu estragasse o jantar de noivado da Genevieve.
— O que aconteceu? — insistiu , tentando controlar suas expressões faciais.
— A está desaparecida, ou melhor, sendo mais clara, ela foi levada por Andrei — não conseguiu evitar de olhar o irmão, sabendo que o mesmo certamente reagiria bem pior que ele a esta notícia.
— O que aconteceu, ? — conhecia bem o irmão para entender rapidamente que tinha algo errado com aquele olhar.
encerrou a ligação sem aviso prévio, mantendo o olhar inexpressivo para o irmão, tentando decidir se falaria abertamente o que estava acontecendo ou se manteria segredo até o final da noite.
— … — ele respirou fundo.
— Não precisa dizer mais nada — o primogênito remexeu no bolso e pegou o celular, discando o número da sliter.
— , não — pegou em seu pulso para impedi-lo, porém sem sucesso — Vamos voltar para o jantar.
— Que se dane esse jantar! — o olhar do Dominos ficou um pouco mais irritado pela atitude do irmão — Não sei o que quer me esconder, mas vou descobrir.
O mais velho continuou a chamada, esperando até que atendesse.
— ? — disse ele, quase em alívio assim que a ligação foi atendida.
ficou surpreso a primeiro momento, não entendendo como poderia aquilo.
— Dominos… — a voz de Andrei soou sarcástica com um toque debochado.
O que de imediato fez com que o corpo do chefe Dominos gelasse, com um frio na espinha.
— Andrei Tenebrae — o olhar dele voltou-se para o irmão, entendendo em segundos a ligação que o mesmo recebera e sua reação cuidadosa — Onde ela está?
— Acho que você terá que descobrir sozinho. — uma risada rápida e maquiavélica soou do outro lado da linha.
— Se você tocar em um fio de cabelo… — antes que pudesse finalizar sua ameaça, a ligação caiu fazendo-o jogar o aparelho na parede de raiva.
permaneceu um pouco estático com a reação dele.
— Você sabia? — o olhar raivoso do irmão para ele, o deixou temeroso.
— Era a Donna Fletcher na ligação… — disse , parando por um momento devido ao esbarrão do irmão nele — ? Aonde você vai?
Gritou ele, seguindo o irmão escada acima para a cozinha.
— Vou atrás dela — respondeu ele, se dirigindo para a garagem.
— Você não sabe a localização dela, onde ela estava — começou a argumentar, tentando colocar razão em sua mente — Vai enfrentar essa chuva sem direção certa?
— Não importa, eu não vou ficar parado aqui — o olhou, o desespero já era nítido em seu olhar, assim como a angústia que crescia em seu coração — Nem que eu tenha que varrer toda Chicago, mas eu vou achá-la.
sabia que não teria argumento para mudá-lo de ideia.
— Eu cuido do noivado da Gen — assentiu , entendendo a reação do irmão.
A lembrança do sequestro de , nunca foi tão nítida em sua mente quanto agora, e ao contrário do irmão que moveria céus e terra para encontrar a mulher amada, ele não tinha tido aquela mesma reação. Assim pegou as chaves da moto e o capacete, ao montá-la olhou para o irmão.
— Obrigado, por… — disse o mais velho.
— Genevieve vai entender, todos vão — disse o caçula.
— Não conte a eles, não vamos estragar a noite da Gen — pediu , também preocupado em não atrapalhar a noite mais feliz de sua irmã.
— Eu cuido de tudo por aqui, sabe que pode contar comigo — entregou seu celular para ele — Me ligue se precisar e… Não quebre.
Mesmo naquela situação de desespero, os irmãos riram do comentário e o chefe Dominos deu partida e seguiu pelas ruas da cidade. Na mansão Dominos, voltou ao escritório da casa e ligou para a matriarca Fletcher, seu irmão precisava pelo menos de uma coordenada para iniciar sua busca. Ao reportar a senhora a reação do mais velho, encerrou a ligação e retornou para sala, e claro que a ausência do imperador seria notada por todos. Contudo, mantendo as aparências, o masterchef da família tomou a frente da recepção, convidando a todos para a sala de jantar.
— O que está acontecendo? — perguntou Genevieve, ao se aproximar do irmão, pouco antes de tomar sua cadeira.
— Está tudo bem — disse ele, suavizando o olhar — Só deve se preocupar em aproveitar sua noite.
— E o ? — insistiu ela — , eu sei que ele não se ausentaria do jantar por nenhum motivo banal.
— Gen, fique tranquila, vai ficar tudo bem.— disse ele, com mais segurança, mesmo não sabendo se estava certo ou não.
— Ok — assentiu ela, respirando fundo — Eu não acredito em você, sei que aconteceu alguma coisa grave, mas… Vou fingir que está tudo bem.
— Obrigado — ele sorriu de leve e piscou para ela.
— Você é meu segundo melhor irmão — brincou ela, rindo baixo.
— Eu sei que não dá pra ganhar do — admitiu ele, a realidade, arrancando alguns risos dela.
A missão do masterchef era manter as aparências e não estragar a noite da irmã, dar sequência no jantar e assegurar que tudo ocorreria bem ali. Distante dali, seguia sem rumo pelas ruas da cidade em meio ao temporal. Seu primeiro ponto de busca fora as instalações da Darko, no qual conferiu com o coordenador as gravações das câmeras de segurança o horário exato que sua sliter saiu do lugar, como também a direção para onde foi.
— Diga onde ela está Fletcher, diga que a encontrou — disse , assim que atendeu o celular, após subir em sua moto.
— Ela estava no meio de uma ligação com a minha sobrinha e Annia Baker, a única coisa que tenho é a última localização desta ligação — explicou a mulher, também se sentindo frustrada por não ter as respostas que ele queria — me ligou dizendo que está pelas ruas procurando por ela.
— O que quer que esteja fazendo, continue e a encontre — disse ele num tom de ordem, porém com forte traço de desespero — Donna.
— Eu me lembro da promessa que fiz à mãe da , não é o único que se preocupa com ela — retrucou Donna — Vou te enviar as coordenadas, foram carregadas há três minutos, eles ainda podem estar lá.
apenas encerrou a ligação, visualizou as coordenadas e seguiu para o local, assim que chegou, ao longe ele já avistou a moto de sua sliter caída no meio da rua. Descendo rapidamente de sua moto, retirou o capacete às pressas e correu até a moto caída, olhando em sua volta ele sentiu-se ainda mais impotente e desesperado. Seu coração angustiado sem saber o que poderia estar acontecendo com sua amada neste momento, o que o deixou ainda mais raivoso, e se abaixando para procurar pistas que poderiam ter sido deixadas por ela, não obteve sucesso.
— ! — gritou ele, puxando o ar para seus pulmões se forçando a não se deixar abater por completo, entretanto, sentindo as lágrimas de raiva rolarem por seu rosto.
Vasculhando pelo perímetro, o Dominos encontrou o celular da sliter a poucos metros à frente. O aparelho molhado pela chuva parecia ainda funcionar, desbloqueando a tela, se deparou com o aplicativo de bloco de notas aberto e uma mensagem para ele.
— Boa sorte — leu ele, em sussurrou.
Um respiro fundo, para controlar suas emoções.
— Eu vou matar você, Andrei, da forma mais dolorosa possível… — afirmou , como se fizesse um juramento sentindo mais lágrimas rolarem por seu rosto juntamente com as gotas de chuva — E nem o inferno poderá me impedir.
—
— Uau… — as únicas palavras que Sollary conseguiu proferir assim que a porta da mansão Dominos se abriu e ela entrou.
— Oi — respirou fundo, já não sabia o que fazer para trazer a razão para seu irmão — Obrigado por vir tão prontamente.
— O que aconteceu aqui? — perguntou ela, assustada com o caos apresentado na casa que seguia toda quebrada.
— — foi a única resposta dele.
— Onde ele está? — indagou ela, mantendo o olhar nos cacos de vidro no chão.
— No que restou da adega — respondeu o caçula, suspirando fraco.
Após não encontrar nenhuma pista que o levasse a sliter, chegou em sua casa pouco depois do jantar, o olhar frio e completamente transtornado com a possibilidade de nunca mais ver . Sem detalhes e explicações ele mandou que todos saíssem da casa, incluindo sua família que passaria os próximos dias hospedados na casa da família Village. Apenas permaneceu na mansão Dominos acompanhando o irmão destruir cada pedaço da construção, enquanto descontava sua explosão de raiva pela realidade vivida.
O último lugar a desabar e o que mais conhecia esse momentos de fúria dos Dominos, foi a adega. Com as garrafas quebradas pelo chão e manchas de sangue nas paredes, que foram socadas pelo primogênito enquanto pensava em seu inimigo.
— … — a voz de soou da porta, aparecendo em seguida mantendo a atenção nele.
O homem se manteve sentado ao chão como estava, o olhar fixo na janela que adentrava os raios do sol. Após sua explosão de fúria, agora se mantinha apático e em silêncio, completando dois dias sem demonstrar mais nenhuma reação.
— Como… — fixou seu olhar no copo de água cheio ao lado dele.
— Ele está assim depois que destruiu quase tudo — explicou , mantendo o olhar no irmão — Sem comida e sem água, não sei o que fazer, por isso te chamei.
— Achamos que você tivesse uma ideia melhor para trazê-lo de volta — Isla apareceu atrás deles.
voltou-se para ela, surpresa por sua presença.
— O que faz em Chicago?! — perguntou a residente.
— Sou tão amiga dele quanto você. — disse ela, num tom debochado — Mas… Estava de passagem por causa do noivado da Gen, meu voo atrasou mas cheguei no momento certo.
— Poderiam me deixar a sós com ele — pediu , certa do improviso que estava traçando em sua mente.
— Tem certeza? — reforçou .
— Estamos falando do , eu o conheço muito bem para saber lidar com ele — assegurou ela.
e Isla assentiram ao seu pedido, se retirando da adega em seguida, voltando para o nível superior da manhã. se virou para adentrar mais no espaço, dando alguns passos até ele e se sentando ao seu lado, de frente para ele.
— Como você está? — perguntou ela, não sabendo como iniciar aquela conversa.
— Deixe que te arranquem seu coração e você saberá como eu estou. — respondeu ele, de forma seca e áspera.
— Eu não tenho palavras pra te… — iniciou ela, mais uma vez.
— Não diga — a interrompeu, voltando o olhar para a amiga.
Inchados de tantas lágrimas e vermelhos de raiva. Ele queria agir mas já se sentia esgotado de forças e esperança.
— Você é Dominos, nunca foi de se abalar, então… — respirou fundo, juntando os argumentos certos para trazê-lo de volta a razão — Não há ninguém mais capaz do que você para encontrar a , vocês dois possuem uma conexão tão incomum e inexplicável que um atrai o outro a quilômetros de distância.
Aquele era um pequeno detalhe que a residente relutava em admitir que tinha inveja no casal. O quão ligados eram.
— Pense, … Você nunca deixa um fio solto, com clareza e calma, mergulhe em sua mente e pense… Como você vai encontrar a ? — insistiu ela, segura que certamente conseguira abrir os olhos dele, que foram tampados pelo desespero.
E assim aconteceu. Minutos de silêncio com o chefe Dominos refletindo nas palavras da amiga, enquanto repassava cada detalhe de todos os seus momentos juntos com a sliter. Até que voltou ao dia em que ela levou o primeiro tiro em seu lugar, o momento mais aflito que ele tinha tido até ali, e que como respirou aliviado assim que finalmente pode entrar no quarto das Instalações Darko, em que ela se recuperava.
— Você está certa — ele voltou a olhar para a amiga, agora com mais convicção e firmeza, fazendo-a sentir que ele tinha se lembrado de algo que pudesse ajudá-lo — Eu sou Dominos.
Sim. O imperador havia encontrado a resposta que tanto buscava, no colar de aniversário em que deu a sliter. Por anos havia esquecido do objeto, afinal nunca o usava mantendo-o sempre dentro da caixinha guardado na gaveta, porém, desde o seu retorno para a vida do chefe, Miller começou a utilizar o colar de forma espontânea o deixando surpreso.
E o que tinha de tão especial no objeto?
Um dispositivo de rastreamento que ele havia colocado achando que sua sliter nunca descobriria.
You can call me monster.
Monster / EXO
50. The Heirs
Lavik, Norte da Noruega
O que acontece quando nove famílias, onze herdeiros, dois convidados e inúmeros sliters se reúnem para o jantar mais esperado da década? Exatamente no lugar onde tudo começou, a casa nas montanhas de Godric Tenebrae.
Em meio aos últimos ajustes, estava Donna Fletcher se forçando a manter o foco em cada detalhe daquela noite. Contudo, lá no fundo, sua preocupação estava na falta de notícias de , no silêncio agonizante de para com ela, e na possibilidade de outro ataque surpresa de Andrei. Uma pausa na biblioteca da casa, ela se manteve em silêncio observando o sol da meia-noite compondo a beleza da paisagem, o verão estava tão presente quanto as turbulências dos últimos anos. A matriarca sliter não se conteve em recordar o dia em que ouviu pela primeira vez o choro da filha de Godric, e de como foi a sensação de carregá-la no colo para longe de sua falecida mãe, imaginando como seria seu futuro fugindo da ganância do tio Lionel.
— Senhora, está tudo bem?! — a voz de Carl lhe fez retornar à realidade.
— Sim. — assentiu ela, movendo o olhar para ele — E as famílias?
— Sim. — assentiu ela, movendo o olhar para ele — E as famílias?
— Todos estão presentes, senhora, exceto Dominos e Miller, como previsto. — disse ele, relatando a situação. — Entretanto, temos um contratempo.
— Qual? — indagou ela.
— A presença de uma criança. — anunciou ele, engolindo seco — O legítimo Baker chegou acompanhado de sua filha.
— A presença de uma criança. — anunciou ele, engolindo seco — O legítimo Baker chegou acompanhado de sua filha.
Donna soltou um suspiro cansado. Odiava quando seus planejamentos não saíam conforme o calculado, entretanto entendia a necessidade de Baker não deixar a filha distante a nenhum momento nesta altura do jogo.
— Selecione uma sliter para cuidar da criança, teremos conversas de adulto a partir de agora. — ela deu impulso para se retirar do lugar.
— Como desejar. — assentiu ele, acompanhando-a até a sala.
— Como desejar. — assentiu ele, acompanhando-a até a sala.
Assim que a sliter se colocou diante dos integrantes do jantar dos herdeiros, seu olhar passou pelos rostos de cada um até chegar ao de Bellorum. Ela respirou fundo e assentindo com o olhar, o herdeiro da família de militares deu início ao seu pronunciamento.
— Boa noite a todos. — disse , colocando-se em frente a lareira — De imediato, já agradeço a presença de cada herdeiro aqui presente.
Seu irmão Vincent pôs-se ao seu lado e Donna do outro, a herdeira Castelatto manteve-se sentada na poltrona próxima, seu olhar empoderado permanecia curioso pelo decorrer daquela noite. Quanto ao Yamazaki, manteve-se de pé ao lado da janela, sendo acompanhado pelo norueguês Ahlberg. Já Catrina Laurento, preferiu ficar mais distante da roda dos herdeiros importantes, afinal só estava ali para representar o pai doente. e sentaram-se no sofá de frente para a herdeira italiana, enquanto Annia assentou-se na poltrona ao lado de sua nova aliada, mesmo contra todos os argumentos de Dimitri, a lady de Manhattan optou por fazer aquela viagem na companhia do irmão e cunhada. Carlise Tenebrae de pé ao seu lado, apenas resumia seus pensamentos em o quanto seu pai era o culpado por todo o caos que as famílias estavam tendo. Os convidados Niklaus Savoia e Hale Magnus, também preferiram se manter mais afastados apenas observando o curso do rio.
Assim se iniciava mais uma aliança, agora entre as sociedades que por anos se consideravam inimigas.
— Todos aqui temos um desafeto em comum. — disse o Bellorum, suavizando a situação.
— Todos aqui temos um desafeto em comum. — disse o Bellorum, suavizando a situação.
— Desafeto? Está sendo generoso Bellorum. — disse Annia com um tom sarcástico e irritado — Todos aqui têm motivos de sobra para odiar o Andrei.
— O traidor matou o meu avô a sangue frio, então… — Donatella se posicionou concordando com ela — Aniquilar o Andrei se tornou algo pessoal para a família Castelatto.
— Entre na fila então, pois também é pessoal para a família Baker. — concordou ao lançar um olhar atravessado para Carlise.
— Não me olhe assim, Baker. — disse o Tenebrae, em sua defesa — Andrei não tem o nosso sangue, e todos aqui sabem que a mãe dele era de uma família associada aos Draconis.
— Não estamos aqui para discutir quem tem mais culpa na história. — tomou a palavra novamente, num tom mais forte e autoritário — Andrei traiu a todos, e temos que colocar um fim nisso.
— E para que não se iniciasse uma guerra fria entre nós após derrubarmos Hitler, esta noite marcará a extinção da Draconis e todas as suas atividades ilegais, e o nascimento da Millenium, a irmã gêmea da Continuum. — completou Vincent, com o olhar orgulhoso de ter sido um dos idealizadores do projeto, em conjunto com seu irmão e Donatella.
soltou um discreto suspiro cansado, pois já estava sentindo o peso do legado dos Bellorum que carregaria oficialmente. Pois a família de militares era responsável pela ordem e justiça de sua sociedade, e agora se estenderia a aliada também.
— Assim como a família Bellorum tem mantido o cumprimento das leis que fortalecem a Continuum, faremos o mesmo em favor da Millenium. — assegurou , certo de seus deveres — E gostaria da confirmação oficial de todos os herdeiros aqui presente.
Donna deu um passo à frente, e abriu uma pasta de cor rosé que segurava desde o início, com os documentos de oficialização.
— Ao final deste jantar, todos deverão deixar suas assinaturas neste documento para enfim selarem a aliança. — disse a sliter chefe, fechando novamente a pasta — E eu, como a responsável pelas famílias neutras, manterei em minha posse estes documentos.
— E quanto ao Andrei? — indagou Annia, um tanto impaciente e revoltada com as situações vividas — Acho que já perceberam, a ausência de um dos herdeiros da Continuum.
— está a caminho e chegará a tempo do jantar ser servido. — assegurou Donna.
— Não me refiro a ele. — esclareceu Annia — Andrei Tenebrae sequestrou a , e o Dominos não está aqui.
— Não me refiro a ele. — esclareceu Annia — Andrei Tenebrae sequestrou a , e o Dominos não está aqui.
— está cuidando disso pessoalmente. — interviu , inteirada do assunto — Sei que está assim por ser sua amiga, mas ela sabe se proteger, melhor do que qualquer um aqui presente.
— O que aconteceu com a ? — a voz de Adeline, soou da entrada para o corredor que dava na cozinha.
Ela não tinha muita afinidade com a irmã adotiva, porém admirava a força e determinação da sliter. Seu olhar confuso e preocupado voltou-se para a Fletcher, procurando explicações, a última notícia que tinha da filha perfeita, foi sobre o resgate da bailarina.
— Ao que tudo indica, foi sequestrada por Andrei, assim como fizeram com a minha neta. — contou Donna, abertamente a todos.
— Parece que ele está devendo mais do que pode pagar. — o tom sarcástico de Ahlberg soou na sala, deixando de lado sua surpresa por ver Miller ali — Ele terá que ter mais de sete vidas para pagar por seus pecados.
— Por que não voltamos ao foco? — a voz de Annia soou mais impaciente — Há meses ele parece como um fantasma, primeiro o ataque aos Dominos, depois o atentado ao , então a também sofreu mesmo não sabendo de nada, e agora levou a . O que os Bellorum vão fazer?
— Nós sabemos que se encontrarmos a , temos a possibilidade de encontrar o Andrei. — confirmou Vincent a lógica de Annia, tendo empatia com sua preocupação — Mas, estamos de mãos e pés atados até o Dominos nos dar um sinal.
— é o único capaz de encontrar a sliter dele. — concordou, conhecendo-o muito bem.
— E enquanto isso, ficaremos de braços cruzados? Esperando o Dominos ter a sorte de encontrá-la? — Yamazaki demonstrou a mesma impaciência que o amigo ao seu lado — Estamos perdendo nosso tempo aqui apenas para dizer que não conseguiremos fazer nada em relação ao traidor? Tempo é dinheiro, meus caros.
— Não se preocupe Yamazaki, não está perdendo o seu tempo. — assegurou , mantendo o firmeza de um militar — Está investindo na prosperidade dos seus negócios, afinal, as empresas da sua família estão atoladas de até o pescoço de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, acha que minha família pode resolver isso em dois minutos.
O japonês engoliu seco, com raiva nos olhos, aquele era o ponto fraco de cada uma das famílias ex-Draconis. Um passado que desejavam enterrar na cova mais profunda. deu início ao planejamento da limpeza dos negócios das famílias aliadas, explicando que seria demorado, porém a cada etapa, uma nova possibilidade benéfica se abriria para todos. A majestosa construtora Yamazaki seria a primeira, seguido para a empresa de créditos italiana dos Castelatto, depois o escritório de advocacia Ahlberg seria beneficiado, terminando assim com a falida indústria têxtil dos Laurento.
— Ah, finalmente . — disse Donna, ao recebê-lo na porta — Achei que não conseguiria chegar a tempo.
— Eu disse que estaria aqui antes do jantar. — ele a cumprimentou, dando um sorriso, porém seu olhar ficou estático quando viu passos atrás — O que a sua neta faz aqui?
— Está surpreso? — perguntou a sliter.
— Um pouco. — ele tentou disfarçar, era a primeira vez que via a bailarina após o rompimento, e seu coração insistia em pulsar mais forte.
— está aqui para ser apresentada a todos como minha herdeira. — revelou Donna, observando a reação do rapaz — Ela está sendo treinada.
— Estou feliz que ela esteja bem. — controlou seu olhar enciumado, ao notar que a bailarina estava na companhia de um homem desconhecido, e parecia rir de alguma coisa que ele dizia.
— Venha, vou lhe apresentar aos herdeiros que não conhece. — disse Donna, puxando-o para sala.
Alguns assuntos foram embalados por um tempo entre os herdeiros. aproveitou a oportunidade para conhecer melhor Niklaus Savóia, o residente que trabalhava em seu hospital de New Orleans. O interesse de um Sollary Hospital na região de Toscana era um dos motivos da família Magnus ter sido convidada para o jantar. se ausentou por um momento para se certificar se sua filha estava confortável no espaço que Donna improvisou para ela em um dos quartos.
— Papai! — Molly abriu um largo sorriso ao vê-lo — Veio ver tv comigo?
— Não minha pequena, estou aqui apenas para saber se está tudo bem. — disse ele, ao se aproximar da cama e sentar ao lado dela — Está confortável?
— Não minha pequena, estou aqui apenas para saber se está tudo bem. — disse ele, ao se aproximar da cama e sentar ao lado dela — Está confortável?
— Estou, a tia trouxe pipoca doce pra mim. — contou a criança, apontando para o balde ao lado — Estava muito gostosa.
— Tia ?! — ele riu — Sabia que ela é muito amiga do papai?
— Tia ?! — ele riu — Sabia que ela é muito amiga do papai?
— Sim, ela me contou, e eu disse a ela que o senhor é o melhor pai do mundo. — Molly sorriu com graça e recebeu um abraço apertado dele — Onde está a tia ?
— Resolvendo alguns assuntos. — respondeu ele, dando um sorriso carinhoso para ela — Que tal dividir o restante dessa pipoca comigo?
— Papai, mas você não vai jantar com os outros adultos? — os olhos dela ficou confusa.
— Sempre há espaço para pipoca doce dentro de mim. — brincou ele, fazendo algumas cócegas nela, que soltava gargalhadas ao tentar se defender.
— Sempre há espaço para pipoca doce dentro de mim. — brincou ele, fazendo algumas cócegas nela, que soltava gargalhadas ao tentar se defender.
Ainda faltavam alguns minutos para o jantar ser servido, voltando à sala, Ichiro aproveitou o momento para se aproximar de Catrina. A jovem que contemplava um quadro pendurado em uma das paredes, apenas se permitiu ouvir toda a conversa inicial em silêncio. Afinal, sua família não tinha tanta voz assim na sociedade, pela falta de capital monetário.
— Devo confessar minha surpresa por vê-la aqui? — disse ele, num seu habitual tom baixo e rouco — Há dois dias, quando sua irmã me pediu afastamento para visitar o vosso pai, achei que ela seria a representante por ser a mais velha.
— Seria realmente ela, mas houve complicações com a saúde de nosso pai e ela resolveu ficar cuidando do que sobrou dos negócios da família. — ela manteve o olhar fixo ao quadro, não tinha muita paciência para o chefe da irmã, pois graças a Yakuza, a falência chegou a casa Laurento — Estou aqui apenas para assegurar que minha família não seja esquecida e dizimada como os…
Ela parou por um momento.
— Não temos culpa da família em que nascemos. — disse ele, mantendo o olhar nela — E se estão nessa situação, é porque provocaram.
— Mas somos responsáveis pelas nossas escolhas, independente de nossas famílias. — ela voltou seu olhar para ele — Seu avô escolheu acabar com o nosso futuro, mesmo podendo demonstrar piedade.
Ela deu impulso para se retirar.
— Você disse bem, foi o meu avô quem provocou isso, não eu. — ele segurou em seu braço — E sua irmã sabe disso.
— Você disse bem, foi o meu avô quem provocou isso, não eu. — ele segurou em seu braço — E sua irmã sabe disso.
— A única coisa que minha irmã sabe, é que o chefe dela é um covarde. — ela o lembrou do passado, enquanto se soltava dele — Ainda não sei como ela se submete a esse sacrifício, depois de toda dor que causou a minha irmã, nesse cenário, você o chefe e ela a funcionária, eu não conseguiria.
Catrina se afastou dele e seguiu em direção a Castelatto que conversava com Hale. Enquanto isso na cozinha os pratos seguiam o curso da montagem para finalmente o jantar ser servido. Apesar de sua presença ser meramente profissional e discreta, a chef Miller havia despertado a curiosidade no maior advogado da capital norueguesa, pois o último encontro que haviam tido, foi no tribunal de Donatella em que a italiana foi sentenciada à prisão pela Interpol.
— Para uma pessoa neutra, você é bem envolvida com a Continuum. — comentou ele, ao se aproximar de Adeline, enquanto segurava sua taça de vinho branco.
— Por mais que eu não queira, sou uma Miller e vim de uma família de sliters. — respondeu ela, mantendo o olhar no prato que decorava — Você estar aqui é que me surpreende, não precisa dos Bellorum para expandir seus negócios e menos ainda legalizá-los, pelo que sei, nenhum deles tem ligação com o crime.
— Uma ajudinha nunca é demais e Yamazaki não confia nos militares, estou aqui para assegurar que tudo realmente esteja dentro da lei e benéfico aos meus amigos. — disse ele, dando uma risada discreta — Como tem estado?
— Bem… Aparentemente. — respondeu ela, ao voltar seu olhar para ele — Acho que consegui um tratado de paz.
— Você sabe que posso te ajudar com este problema, esta adoção foi legal e justa, não precisa se curvar às exigências de uma criança, menos ainda as dele. — Damon manteve seu conselho inicial, pois sentia irritação e ciúmes pela aproximação de uma certa pessoa a ela.
— Eu agradeço sua amizade e sua preocupação, mas está tudo ajustado agora. — assegurou ela, com um sorriso singelo — O que importa para mim é o bem estar do Arthur, nada mais do que isso.
— Você é uma boa pessoa, só não quero que saia prejudicada no final. — revelou ele.
— Não serei. — assegurou ela, sorrindo sutilmente.
— Não serei. — assegurou ela, sorrindo sutilmente.
Em instantes, Donna adentrou a cozinha, se surpreendendo com a presença de Ahlberg. A sliter manteve alheia a situação, apenas pedindo a chef para que servisse o jantar naquele momento. Antes de se reunir à mesa, aproveitou uma pequena brecha e não se conteve ao segurar a mão de , em um momento de distração e puxá-la para longe de todos, ficando a sós com ela na biblioteca.
— O que está fazendo? — perguntou , ao olhá-lo com espanto.
— Queria um momento com você. — disse ele, mantendo seu olhar sereno para ela — Já faz um tempo que nos vimos.
— Queria um momento com você. — disse ele, mantendo seu olhar sereno para ela — Já faz um tempo que nos vimos.
— Faz. — assentiu ela, tentando não se deixar levar por aquele olhar — Você realmente não sabe nada sobre a localização da ?
— Não a trouxe aqui para falarmos sobre a . — disse ele, um pouco frustrado — Como já foi dito, meu irmão está cuidando disso.
— O que você quer? — perguntou ela, não entendendo.
— Você. — direto e objetivo.
— . — ela sussurrou, respirando fundo.
— Você. — direto e objetivo.
— . — ela sussurrou, respirando fundo.
Seus sentimentos ainda vivos por ele, trouxeram à memória o dia do término. não desejava se sentir daquela forma novamente. segurou em sua mão de maneira carinhosa, se aproximando mais, e com a outra acariciou seu rosto, o que a desarmou por alguns instante tempo o suficiente para que ele se inclinasse estrategicamente para lhe beijar.
— ?! — a voz de Matthew os interrompeu, assustando a aprendiz.
A bailarina afastou-se depressa do Dominos, respirando fundo e tentando não surtar com o momento.
— Posso saber quem é você? — perguntou enciumado com a presença dele.
— Sou o mentor dela, e minha aprendiz não deveria estar aqui. — Matthew manteve o olhar repreensivo para ela — Venha comigo , sua avó nos aguarda.
não conseguiu reagir, porém assim que ela passou por ele, segurou novamente em sua mão.
— Podemos conversar depois? — perguntou ele, segurando em sua mão, na esperança de reatar seu namoro.
— Eu preciso ir. — disse ela, se soltando com leveza — Nos falamos depois.
— Eu preciso ir. — disse ela, se soltando com leveza — Nos falamos depois.
se afastou dele e seguiu com seu mentor para a sala de jantar. A mesa posta e todos acomodados, o cardápio havia sido milimetricamente detalhado e escolhido por Donna, que sentiu certo alívio por tudo estar correndo como o planejado.
Pelo dentro da sua jurisdição.
—
Algum lugar do Texas…
— Até a deve bater mais forte que você. — disse , ao tossir, tendo rir do homem à sua frente, após levar outra sequência de socos.
A jovem estava presa às correntes, praticamente pendurada pelos braços. Já se contava horas ali sendo praticamente torturada pelo capanga. Após ser capturada em Chicago, sob efeito de medicamentos, o Tenebrae a transportou para outro estado a fim de ter vantagens territoriais, por conhecer bem a região em que o cativeiro se situava. Um lugar seco, abafado, quente e bem longe da civilização local, ao norte do estado.
— Sua sliter de merda. — o homem fechou o punho novamente e o moveu para socá-la mais uma vez.
Em um piscar de olhos seu soco foi paralisado por uma terceira pessoa, que segurou seu pulso com precisão. O homem olhou para o lado, um tanto desapontado e raivoso.
— Kevin. — a voz de Andrei soou no ambiente, atraindo a atenção de , que forçou abrir os olhos, já inchados — Não é assim que tratamos nossos convidados.
— Eu sou sua convidada? — ele riu mais um pouco, sentindo fortes dores no estômago — Eu esperava uma suíte cinco estrelas.
— Bem, se você não está morta ainda, então pode-se considerar minha convidada. — disse ele, confirmando suas palavras — É um prazer finalmente vê-la pessoalmente, a sliter perfeita.
— O que você quer? — perguntou ela, forçando a voz — Acha que pode chegar ao Dominos me usando como isca?
— Eu não só acho minha cara, eu tenho certeza, seu chefe moverá céus e terra para te encontrar e a única coisa que preciso fazer é… — ele caminhou até uma cadeira articulável e se sentou — Apenas esperá-lo.
— não vai cair no seu truque. — assim que ela fechou a boca, um barulho de coisas caindo veio aos fundos do galpão onde estavam.
— Parece que já caiu. — Andrei se levantou com um sorriso de canto, como se previsse os passos de seus adversários.
Um instante de silêncio e o Tenebrae colocou as duas mãos para cima.
Um instante de silêncio e o Tenebrae colocou as duas mãos para cima.
— Olha só quem está entre nós… Dominos. — disse Andrei, num tom debochado.
— Achou mesmo que não te encontraria? — aquela era a voz que a sliter queria e não queria ouvir.
— Achou mesmo que não te encontraria? — aquela era a voz que a sliter queria e não queria ouvir.
Ela sabia que era uma armadilha, assim como o chefe Dominos. Entretanto, ele não se importava, se houvesse uma mínima chance de salvar sua vida, ele o faria sem hesitar.
— Eu estava contando com isso. — Andrei se virou para ele, observando-o apontar sua arma para ele, então abaixou as mãos e as colocou nos bolsos — Se atirar em mim, ele atira nela.
— Se eu atirar nele primeiro, não terá ninguém para te defender. — apontou para o capanga.
— Você acha? — ele riu.
— Você acha? — ele riu.
— Se está contando com os outros lá fora, terá que desistir, pois não existe mais nenhum para contar história. — Dominos manteve a seriedade no olhar, controlando sua atenção entre a sliter que parecia sem forças e ele.
— Bem, acho que terei que pagar para ver. — admitiu Andrei.
Sem pensar nos prós e contras, Dominos apenas puxou o gatilho acertando em Kevin, direto no peito. Assim que o corpo do homem caiu, ele apontou para o inimigo, Andrei se lançou para cima dele, tentando fazê-lo soltar. Ao cair a arma das mãos de , ambos começaram a trocar socos e chutes em uma luta intensa para saber quem venceria no final. , em seu estado de impotência, apenas assistia em agonia tentando sem sucesso se soltar, ela queria ajudar o homem que não mediria esforços para salvá-la, contudo, era impossível em sua situação.
— Vamos lá, Dominos. — Andrei soltou uma gargalhada provocativa — Não disse que me mataria com suas próprias mãos? Estou aqui.
fechou seus punhos e o socou novamente, o derrubando no chão. Jogando seu corpo sobre o de Andrei, ele continuou a socá-lo mais algumas vezes em um choque de adrenalina, induzido pela raiva. Em um dado momento, segurou no pescoço do homem, disposto a enforcá-lo com as próprias mãos, até que de repente, sentiu uma forte pancada na cabeça, o fazendo cair ao chão desacordado.
— ! — o grito de desespero de , apenas serviu para intensificar a dor que sentiu, física e emocionalmente.
— Nunca espere o silêncio de uma mulher desprezada, Dominos. — Felícia sorriu de canto, ao jogar no chão a barra de ferro que utilizou para derrubá-lo, então esticou a mão para ajudar seu aliado a se levantar — Achei imprudente voltar para Liverpool justo agora, e que bom que minha intuição estava certa.
— Agradeço por sua presença inesperada. — disse Andrei, ao se levantar com dificuldade, sentindo dores faciais devido aos socos recebidos — Calculei errado o ataque do meu inimigo e quase me custou a vida.
— Você disse que ele viria sozinho. — questionou Felícia.
— E ele veio, só não achei que fosse capaz de derrubar todos os meus homens por causa dela. — o olhar de Andrei estava surpreso e admirado para .
— E ele veio, só não achei que fosse capaz de derrubar todos os meus homens por causa dela. — o olhar de Andrei estava surpreso e admirado para .
— Ah sim, a sliter salvadora… — Felícia deu alguns passos ficando em sua frente — Parece que não consegue nem se salvar agora.
— Você vai se arrepender disso. — disse , sentindo o gosto de sangue em sua boca, misturado a raiva.
— É sério? — Felícia soltou uma gargalhada e fechando seu punho, socou a cara de , sentindo o pulso doer em seguida — Ah…
— O que acha que está fazendo? — perguntou Andrei, ao segurar o pulso dela — Nunca fez isso, não é?
— Não me importo, eu só queria socar a cara dela pelo menos uma vez na minha vida, antes que vê-la queimar até a morte. — explicou Felícia, em sua defesa — E você, , foi um prazer te ver nesse estado.
— Bem, acho que nosso encontro termina aqui. — Andrei derrubou os galões de gasolina, que estavam próximos, para que o líquido se espalhasse pelo lugar — É uma pena, , você é… Não há definições.
Ele se afastou para sair primeiro, enquanto Felícia voltou seu olhar para Dominos desacordado ao chão.
— Se não tivesse me desprezado, poderíamos ter sido o casal mais poderoso da Continuum. — disse ela, em seu devaneio momentâneo.
— Se certifiquei que eu esteja morta até o final do dia… — a olhou com raiva, lutando contra as dores — Porque se eu viver, vai desejar nunca ter nascido.
— Descanse em paz, Miller. — Felícia em seu andar sinuoso, dando altas gargalhadas que ecoavam pelo lugar.
Em um piscar de olhos o incêndio premeditado começou a tomar conta do espaço, deixando a sliter mais nervosa com a sensação de fraqueza que tomava conta do seu psicológico. não tinha saída, não tinha o que ser feito, a única coisa que poderia contar era com o despertar de Dominos. Então, reuniu o pouco de força que tinha para se debater entre as correntes e gritar seu nome.
— ! levanta! — a dor misturada ao desespero, lhe exigia mais força ainda para gritar — acorda!
De repente, o soar de alguém que estava ressurgindo dos mortos ao retomar o fôlego, foi o sinal que a sliter precisava para se certificar que havia esperança. Contudo, já estava fraca demais para permanecer consciente a tempo de presenciar seu amado levantar do chão ainda cambaleando e seguir em sua direção para lhe salvar. Inconsciente, o corpo da sliter caiu nos braços de Dominos, assim que ele conseguiu com dificuldade, retirar as muitas correntes do pulso dela, em extremo vermelhos e com as marcas nítidas.
— fala comigo?! — sussurrou ele, com os olhos cheios de lágrimas, tentando manter-se firme para encontrar uma saída para salvá-los — Eu vou te tirar daqui, e te levarei para um lugar seguro.
olhou em volta, no meio de todo aquele fogo, parecia que não tinham saída. Até que bem ao fundo, avistou o que parecia uma passagem de ar, em meio aos barris vazios. Ele a colocou sobre os ombros e, traçando a rota menos perigosa, atravessou o fogo ao pular uma das ferragens que havia despencado do teto, o corpo de ambos caíram ao chão. E novamente lutou contra toda a adversidade para carregar no colo o corpo desacordado de até o duto de ar.
— E agora… — ele tossiu um pouco devido a fumaça e olhando em volta, sem ter o que usar de instrumento, ele chutou o gradil do duto até que se soltou.
Foi a luz no fim do túnel para ele, que com dificuldade, puxou consigo por entre a tubulação até saírem do lado de fora. Mais um esforço para se afastar do galpão em chamas que explodiu, gerando um impacto em Dominos que caiu novamente com a silter em seus braços. E já não tendo forças para se manter de pé, as pálpebras dos seus olhos foram ficando cada vez mais pesadas assim como suas vistas escuras.
—
Um, dois, afasta!
Nenhuma resposta…
Um, dois, Afasta!
Nenhuma resposta…
Um, dois, Afasta!
—
— Hum… — as vistas doíam, seu corpo parecia dolorido, ele estava vivo.
Entretanto, isso não importava para , a única coisa que precisava saber era sobre . Seus olhos abriram de repente, se deparando com a iluminação forte do quarto em que estava internado. E por mais que o chefe Dominos havia deixado expresso para Philip, o hacker Fletcher, que não queria que ninguém soubesse de sua missão de resgate, claro que o garoto não o deixaria ir sozinho.
O neto de Donna, seguiu Dominos e ficou observando de longe, todo o ocorrido, principalmente na parte em que avistou Andrei e Felícia saindo juntos no mesmo Mustang amarelo. Foi então que percebeu algo errado, e ao se aproximar do local em chamas, encontrou o casal caído ao chão. O que explicava a presença de na sede do Laboratório Baker no estado.
— Onde eu estou?! — perguntou a enfermeira.
[wpdiscuz-feedback id="1gblv3kpop7" question="Comente!" opened="0"] — Está em casa. — a voz de Irina Baker foi reconhecida rapidamente — E a salvo.
[wpdiscuz-feedback id="1gblv3kpop7" question="Comente!" opened="0"] — Está em casa. — a voz de Irina Baker foi reconhecida rapidamente — E a salvo.
Ela manteve o olhar irrepreensível para ele.[/wpdiscuz-feedback]
— Onde estava com a cabeça, enfrentar o Andrei sozinho e sem um plano fundamentado. — questionou ela, preocupada com o que poderia ter acontecido de pior.
— Onde está a ? — indagou ele, não se importando com as palavras dela — Quero vê-la.
— Não poderá fazer isso agora. — disse Irina, com um tom mais firme e temeroso.
— Não poderá fazer isso agora. — disse Irina, com um tom mais firme e temeroso.
— Quero ver a minha sliter. — levantou o corpo, causando oscilação no aparelho em que estava ligado ao seu corpo.
— , não faça isso. — Irina tentou impedi-lo com a ajuda de outro enfermeiro.
— Soltem-me. — disse ele, os empurrando com brutalidade.
— Soltem-me. — disse ele, os empurrando com brutalidade.
Mesmo passando por toda aquela situação, o homem ainda tinha forças para lutar contra eles.
— Quero vê-la agora. — disse em tom de ordem.
— Quero vê-la agora. — disse em tom de ordem.
Irina respirou fundo, assentindo com a cabeça e então indicou o caminho. teve autorização apenas para vê-la do vidro do lado de fora do quarto. Sua sliter estava ligada aos aparelhos ainda desacordada.
— O que aconteceu com ela?! — perguntou ele, novamente com os olhos lacrimejando, em um misto de sentimento de raiva e medo de perdê-la — Irina, diga que ela vai acordar.
— Não posso lhe dar a certeza, passou por um grande trauma e seu corpo terá um longo processo de recuperação… Por isso ela está em coma. — a doutora manteve o olhar observado ao homem, que se mantinha fixo olhando sua amada — Infelizmente, devido às agressões e torturas que ela deve ter sofrido, os exames que fizemos indicaram que sofreu um abordo espontâneo… Ao que tudo indica, ela estava com doze semanas de gestação.
fechou os olhos, sentindo como se seu coração estivesse sendo arrancado de dentro dele. A primeira lágrima caiu de seus olhos, juntamente com o seu corpo que desabou ao chão, ficando de joelhos diante da parede que o separava de Miller.
Na escuridão, eu fecho as portas
e em silêncio sinto-me impotente.
– Promise / EXO
51.
Instalações Darko, Chicago
Para um coração aflito, passar noites com o barulho dos aparelhos como trilha sonora era algo assustador. E ali estava Dominos, assentado em uma poltrona ao lado da cama do quarto vip, debruçado sobre suas pernas e velando por sua amada, que seguia desacordada. Seu consolo era o soar das batidas do coração da sliter, que sutilmente alimentava a cada segundo seu desejo por vingança.
— Dominos. — Um sussurro vindo da mulher que até então lutava por sua vida, o despertou de seus pensamentos tortuosos.
— — ele sussurrou de volta, ao levantar a cabeça direcionando sua atenção para ela.
A sliter abriu os olhos lentamente sentindo um leve desconforto pela luz forte, sua vista embaçada inicialmente começou a tomar forma após alguns segundos, se deparando com o olhar aliviado e carinhoso de . O homem, por sua vez, se levantou da cadeira e sentou na beirada da cama para ficar mais próximo, seu coração acelerado por, agora sim, ter a sensação de que ela ficaria bem, e estar em segurança. Mantendo o silêncio, ele ergueu a mão e acariciou sua face por alguns instantes, deixando transparecer um singelo sorriso de canto no rosto, trazendo assim, conforto a ela.
— Onde estamos? — perguntou a sliter, quebrando o silêncio ao finalmente olhar para o restante do ambiente.
— Na Instalação Baker — respondeu ele, num tom sereno. — Como está se sentindo?
— Minha vista dói e meu corpo também. — Ela riu baixo. — Mas nada disso se compara à felicidade que estou sentindo em ver o seu rosto mais uma vez.
— Compartilho do mesmo sentimento — disse ele, ao se aproximar mais para manter seus rostos colados.
Respiração em sincronia, fechou seus olhos e beijou sua sliter com suavidade, sentindo a mesma segurar em sua mão com delicadeza e confiança. A mente de Dominos precisou se esforçar para não deixar as lembranças de seu desespero em salvá-la, atrapalhar o doce momento que viviam. Sua única preocupação agora, seria favorecer o melhor ambiente para a recuperação da mulher que detinha seu coração e sua vida.
— Eu te amo — sussurrou ele, com o pulsar forte dentro de si, apenas desejando envolvê-las nos braços e nunca mais lhe permitir se afastar dele. — Eu te amo.
— Eu sei… — sussurrou ela, com seu jeito bobo de agir, sorrindo de leve. — Eu também te amo.
Em segundos encarando-a com carinho, a lembrança do galpão em chamas com ela desacordada tomou sua mente. O que fez sua expressão facial mudar.
— Eu vou matar ele. — O olhar de ficou mais sério e rancoroso. — Da forma mais dolorosa possível.
— Não pense nisso agora. — Ela manteve sua mão segurando a dele. — Andrei terá a sua colheita e não deixarei que suje as suas mãos para isso.
— O que ele fez com você… — retrucou , inconformado com as palavras dela. — , você quase morreu em meus braços.
— Continuo viva e quero aproveitar melhor minha terceira ou quarta chance — argumentou ela, em tom de brincadeira. — Andrei e Felícia irão pagar pelo que fizeram, mas ao estilo Continuum… A morte seria algo muito sutil para eles.
— E o que devo fazer? — indagou ele. — Com a raiva que tenho dentro de mim? , você estava grávida e ele matou nosso filho.
— Eu ia te contar, sobre a gravidez… — comentou ela, mantendo o tom baixo. — Após o noivado da Genevieve.
— ?! — insistiu ele, não entendo-a.
— Apenas olhe para mim… — Ela tocou em sua face. — Ainda sou a sua consciência?
— Sempre será. — Assentiu ele.
não entendia a passividade a qual apresentava. Em outros tempos a sliter já estaria à procura de uma fraqueza do inimigo para o contra-ataque. Talvez fosse pelo trauma causado a ela, talvez não. Essa não havia sido a primeira vez que ela se feria por causa do chefe, contudo, havia sido a mais séria e grave de todas. Ao ponto das lágrimas rolarem pelo rosto de , de tempos em tempos, ao longo das semanas que ela passou desacordada.
— Acho que você deveria chamar o médico — aconselhou ela —, precisam saber que eu acordei.
— Não agora. — Ele se inclinou para se deitar ao seu lado, fazendo-a arredar.
— O que pensa que está fazendo? — indagou , segurando o riso.
— Te aninhando em meus braços — respondeu ele ao puxá-la para mais perto, fazendo-a encostar sua cabeça em seu tórax. — Só pra ter certeza de que não vai mais se afastar de mim.
— Agora está confortável — comentou a mulher, sorrindo de leve. — …
— Sim.
— Eu não estraguei o noivado, não é? — indagou ela, em seu momento de preocupação com terceiros.
— Nem ouse pensar nisso — disse o homem de imediato. — Gen está feliz, com uma aliança no dedo e se preparando para o casamento.
— Imagino que esteja orgulhoso por isso. — Ela soltou um suspiro discreto — Sempre foi o irmão preocupado que mais parecia o pai.
— Sempre serei assim. — Ele riu também, um pouco reflexivo.
— O que foi? — indagou , percebendo seus pensamentos em outro assunto.
— Acho que sua recuperação será em nosso refúgio particular — respondeu , lembrando-se do seu ataque de raiva.
— Não quer que eu volte para a mansão? — A mulher virou de leve seu corpo, e o olhou com falsa seriedade. — Pretende me expulsar novamente?
— Jamais, minha querida. — Ele abriu um sorriso singelo. — Apenas não temos mais casa, não uma inteira.
— O que você fez? — Ela já imaginava que o causador poderia ser ele.
— Extravasei descontando minha raiva no que vi pela frente — explicou com tranquilidade.
— E colocou a casa abaixo. — Ela tentou, mas sua expressão de surpresa era nítida.
— Acontece — deixou transparecer um olhar de menino arrependido, arrancando uma gargalhada dela — nas melhores famílias.
se remexeu aninhando-se mais a ele, fechando os olhos para descansar. Seu corpo, ainda em dores, lhe exigia mais repouso. O anúncio de seu despertar do coma foi um alívio para as demais pessoas que se preocupavam com ela, principalmente suas amigas do orfanato que logo que apressaram para lhe fazer inúmeras visitas, ao longo das semanas que seguiram com ela ainda internada. Entre frases de alívio vindo de e alguns comentários maliciosos de Annia sobre o Dominos ser o enfermeiro exclusivo de , a sliter se surpreendeu com a inesperada visita de Sollary e sua ajuda em trazer à razão para encontrá-la.
— Sollary… — sussurrou, o nome da mulher que estava próxima à sua cama, checando seu prontuário.
— Acordou… Como está se sentindo? — A residente se aproximou da cama e, retirando o estetoscópio do pescoço, começou a checar seus batimentos cardíacos.
— Entediada, principalmente por, a cada cinco minutos, alguém perguntar como estou me sentindo — respondeu ela, de forma bem humorada.
— Ossos do ofício. — brincou de volta. — Você passou por um grande trauma.
— Foi preciso isso para que eu fosse examinada com tanta atenção pela ex-noiva do senhor Dominos. — instigou , o assunto, observando as expressões dela.
— Peço que me veja apenas como uma boa amiga. — parou por um momento e a olhou com serenidade. — Confesso que no início não entendi direito essa ligação forte que vocês dois têm, e até fiquei com raiva do nosso término quando me mudei para Seattle… Mas agora entendo, e fico feliz que pelo menos a amizade tenha perdurado.
concordou com o olhar, as palavras dela. A sliter sabia bem que amizades como as de e Isla eram importantes para seu chefe, por mais que ambas, no passado, tiveram algum tipo de affair com o Dominos. Ela permaneceu em silêncio por um momento, observando terminar sua checagem e fazer mais anotações no prontuário.
— Obrigada — disse , mantendo seu olhar na residente. — me contou sobre como o ajudou a voltar à razão.
— Você não estava por perto, então apenas o fiz enxergar o óbvio — comentou ela, dando um sorriso singelo no final. — Como eu disse, vocês dois são como ímãs, sempre atraídos por esse magnetismo que os envolve… Ninguém tinha dúvidas que era o único que conseguiria te achar, ele só precisava de um ponto de partida.
— Eu sabia que o pingente tinha um rastreador, e mesmo sem cogitar a ideia de algo assim acontecer, sempre o usei por um hábito sutil — contou , voltando o olhar para a porta, após sentir uma movimentação no lado externo.
— Que bom que fez isso — disse , voltando o olhar para a porta também.
— Surpresa!!! — disseram Annia e , em um coral animado e surreal, assim que a porta se abriu revelando-as.
riu baixo, não acreditando no que estava vendo. Annia com um balão de coração na mão direita e carregando um buquê de rosas brancas, uma cena que ela jamais imaginou presenciar.
— O que é tudo isso? — perguntou , com o olhar desacreditado e confuso.
— Achei que quanto mais brega fosse, mais memorável seria este dia — explicou Annia, se aproximando da cama e amarrando o fitilho do balão à cabeceira.
— Eu juro que tentei impedi-la, mas não deu muito certo. — , em sua defesa, já foi entregando o buquê para a amiga. — Mas as flores foram ideia do seu amado.
— E o que fazem aqui? — perguntou , ao sentir o cheiro das rosas.
— Achou mesmo que iríamos esperar sua alta hospitalar? — Annia pegou as flores de sua mão para guardá-las. — Jamais… Eu passei dias de aflição sem poder fazer nada a seu favor.
— Deixa que eu encontro um jarro para isso — disse ao pegar as flores da cunhada. — E vocês duas, se comportem, a precisa de repouso.
— Sim, senhora. — Annia bateu continência e piscou de leve para amiga, que riu com discrição.
Sollary apenas balançou a cabeça negativamente e afastou-se delas, saindo do quarto para encontrar um jarro. puxou a poltrona para se sentar mais próximo da amiga, enquanto Annia sentou-se na beirada da cama.
— Se comportar… Sou um poço de bom comportamento — comentou Annia, rindo de leve. — E quem sou eu para te fazer ficar cansada, tendo o Dominos vinte e quatro horas por dia aqui e muitas ideias sugestivas.
— Que ideias? — indagou , confusa.
— … — Os olhos surpresos de Annia se voltaram para ela. — Nunca viu Grey’s Anatomy? Ou qualquer série médica? As famosas salas de descanso dos enfermeiros…
— Que pervertida. — a repreendeu, chocada com a amiga. — está se convalescendo de um trauma e você pensando nessas coisas.
— Cada um se recupera a seu modo. — Annia voltou o olhar para e piscou novamente, fazendo-a rir.
As três amigas mais uma vez estavam juntas e com muitos motivos para se alegrar.
Finalmente, em uma quinta-feira pela manhã, após sair partes dos resultados da bateria de exames com o intuito de certificar de que tudo estivesse em perfeita ordem com sua saúde, a sliter obteve alta médica, com alguns pré-requisitos e uma lista de observações de descanso e alguns medicamentos prescritos. Conforme o planejado, a levou para o apartamento refúgio, que também havia passado por uma pequena reforma para recebê-la com mais conforto e comodidade.
— Este lugar não estava assim quando o deixei — comentou ela ao passarem pela porta e se deparar com outra visão diferente do que se lembrava.
— Mas é claro que não. — A voz de Annia soou vindo da cozinha, com uma bandeja de sanduíches na mão e um sorriso no rosto. — Você tem amigas que não te deixariam se recuperar em um lugar tão precário.
— A Annia é meio exagerada, então, se não gostar, a culpa é dela. — logo apareceu com um sorriso tímido, no fundo, satisfeita pela surpresa que prepararam para a amiga.
— Achei que viríamos para casa para que eu pudesse descansar. — Ela olhou discretamente para .
— Acredite, sairia a terceira guerra mundial se eu impedisse Annia de fazer essa surpresa — sussurrou ele, em sua defesa. — Apenas receba o carinho de suas amigas.
riu discretamente, conhecendo a Baker como a conhecia.
— Então? O que achou? — indagou Annia com o olhar curioso para a mulher, que dava passos lentos amparada por Dominos.
— Bem a sua cara — brincou , rindo do olhar atravessado da amiga. — Você tem bom gosto, Annia, então, está muito bom.
— Hum, vou aceitar seu elogio como um agradecimento. — A outra brincou de volta, caminhando até a mesa de centro e deixando a bandeja em cima. — E temos até um lanchinho bem leve e gostoso que minha cunhada fez com amor e carinho.
— está aqui?! — perguntou , intrigado com a presença da amiga.
— Não imaginava que ela cozinhava — sussurrou , impressionada.
— Estava — respondeu . — Ela e foram ao supermercado comprar mais maionese para o patê de frango.
— Nosso planejamento era reunir todo mundo antes que chegassem — Annia sentou no sofá bufando um pouco, frustrada por seus planos não saírem conforme queria —, mas não chegou de Seattle ainda e Cedric está a caminho, ele deixou as crianças aos cuidados da nossa titia Irina, não poderá se juntar a nós, pois está em Paris com o irmão e a chefe da Millenium…
— Millenium? — indagou para o Dominos, ao se aproximarem da poltrona próxima a janela.
— Ah, isso nem ele sabe — respondeu , apressadamente. — Vocês dois ficaram essas semanas fora e muita coisa aconteceu.
— Mas não se preocupem que vamos colocá-los a par de tudo — completou Annia, ao pegar um sanduíche e mordiscá-lo. — Se minha cunhadinha demorar muito, eu devoro isso aqui sozinha.
— Seu apetite insaciável tem me deixado assustada — comentou , ao se aproximar do casal e ajudar a amiga a se sentar.
— Me desculpe, mas agora estou comendo para três, meu apetite aumentou e não posso passar fome — explicou a outra, em um tom defensivo.
— Para três? — a olhou confusa.
— Bem… Estou grávida de gêmeos. — Baker deu um sorriso tímido e meigo, com o olhar iluminado, cheio de entusiasmo. — Cedric quase deu um infarto quando descobrimos e Dimitri ficou em choque também, mas eu estou me deliciando com a ideia de viver esta aventura da maternidade novamente, desta vez de forma mais ativa.
— Mamãe Annia em dobro — brincou , arrancando risos das amigas.
— Fico feliz por vocês — disse , com o olhar sincero.
— Vocês deveriam ter visto o brilho nos olhos do meu pequeno Michael quando descobriu que teria dois bebês de uma vez só — comentou Annia, com os olhos brilhando. — O fiz prometer que seria um bom irmão mais velho para eles.
— O mesmo brilho que está no seu? — comentou , admirada com a amiga. — Você realmente tem mudado bastante.
— Certamente o nome disso é amor — disse , em concordância.
— O nome disso é família — concluiu , com suas sábias palavras —, nossa maior fonte de alegria e preocupação.
— Exatamente — concordou Annia, segurando o riso. — E nós também esperamos por um herdeiro de vocês dois — continuou ela, ponderando mais seu comentário em solidariedade ao casal. — Lamentamos a perda que tiveram, mas ainda possuem uma vida pela frente para planejarem ter mais.
— Não se preocupe, Annia, o que não me falta é ideia e disposição para fazer um herdeiro. — piscou de leve para a sliter, arrancando risadas maldosas das amigas.
— Finalmente chegamos… — disse , ao abrir a porta e entrar com algumas sacolas nas mãos. — Eu juro que não queria demorar, mas Annia mandou uma mensagem pedindo chocolates, então fomos a uma confeitaria próxima… — Ela parou por um momento ao perceber o silêncio do ambiente. — Uau, já chegaram.
— Bom dia, Dominos… Miller — disse , em cumprimento a eles.
— Bem-vindos de volta ao jogo — brincou , um pouco sem graça pela situação.
— Agradecemos a presença — murmurou , com o olhar grato pelo apoio e ajuda de Sollary.
— Eu e o vamos terminar de preparar o café da manhã — anunciou ela, já se movendo para a parte da cozinha. — Onde estão os outros?
— A caminho, se tudo der certo, chegam daqui a pouco — informou , tentando manter seu coração controlado.
A bailarina sabia que certamente aproveitaria o momento para uma aproximação. Afinal, no jantar dos herdeiros, toda a sua atenção permaneceu na filha do amigo e em ser observada por seu instrutor. Obter um final de semana de folga não lhe sairia de graça e Collins já estava a planejar a mais puxada sequência de treinos para ela. Um ponto positivo? Finalmente sua nova amiga, Meg, teria o privilégio de treinar sozinha com o segundo melhor da cadeia alimentar.
— Vocês estão certos de que cabe esse tanto de gente aqui? — indagou , observando toda aquela movimentação e se divertindo internamente com aquilo.
— Ah, vai ter que caber, eu nem chamei todo mundo — reclamou Annia. — A culpa é sua, que me inventa de morar em um lugar tão pequeno.
— Este é o meu refúgio para uma vida normal — explicou a sliter, arrancando uma gargalhada da amiga.
— Poderia ser pelo menos na cobertura então, ou vai me dizer que seu salário não permite? — Annia voltou o olhar para Dominos. — Não acredito que Dominos é tão mesquinho com o salário dos funcionários.
— Saiba que minha sliter recebe muito bem — retrucou o homem, não se deixando ofender. — E sou o dono desse prédio.
— O que me diz então, ? — continuou a amiga, ainda em choque com a situação.
— Como eu disse, apenas quero uma parte normal em minha vida — disse ela, em sua defesa.
— Nem todos acham que ter uma cobertura em frente ao Central Park seja o sinônimo de uma vida normal. — A voz de soou da cozinha, com uma pitada de sarcasmo.
— Falou o mecânico. — Baker bufou um pouco. — Vocês realmente não sabem aproveitar os confortos da vida. — Ela arrancou mais algumas risadas de todos.
Aquele parecia mesmo um grupo de amigos normais que estava se reunindo para celebrar o retorno de um casal querido e admirado. Com a chegada de Cedric, não demorou até que finalmente aparecesse para se juntar ao grupo, deixando ainda mais movimentado o pequeno apartamento de . Mesmo após passarem por uma situação de tensão e desespero, todos ali tinham motivos para se sentirem gratos pelo momento de tranquilidade e acolhimento, principalmente o chefe Dominos.
Enquanto os homens se ausentaram do apartamento após um comentário aleatório de Cedric, que resultou em um desafio de sinuca que aconteceria no bar da frente; as mulheres permaneceram no apartamento, conversando mais sobre as novidades que surgiram entre as sociedades.
— Estou em choque que a aliança partiu dos Bellorum — comentou , após ouvir detalhadamente os acontecimentos do jantar dos herdeiros.
— Um inimigo em comum une até os inimigos mais antigos. — A voz de soou de forma filosófica, enquanto puxava a cadeira para se sentar.
Era estranho para a residente estar ali com as três amigas, como se fossem íntimas. Sem nenhuma afinidade inicialmente, o que tinham em comum além da Continuum, se resumia aos homens que faziam parte da sua vida: , , , Cerdic e . Mas já imaginava que, lá no fundo, algo assim poderia lhe acontecer, já que Annia era sua cunhada e a melhor amiga de , e integrante de um triângulo amoroso com e . Sem contar a sliter, que por longos anos, lhe causou sentimentos de raiva e frustração, que felizmente agora não existiam mais.
— Sei que sou uma sliter aprendiz agora, mas o que isso muda? A Draconis agora se nomear Millenium, que diferença faz? — indagou , tentando entender os detalhes entrelinhas daquele universo.
— Para que entenda melhor, minha cara amiga, visualize a Draconis como uma empresa que está à beira da falência, cheia de credores e dívidas para sanar, além da receita federal em sua cola por causa dos inúmeros impostos atrasados. — Iniciou Annia, elaborando uma explicação fácil e rápida para a amiga, mediante seus conhecimentos administrativos. — Esta empresa declara falência, fecha as portas e tudo o que lhe resta é repartir seu patrimônio entre os credores e ser perdoado pela receita. Contudo, os donos ainda podem abrir uma nova empresa com um novo nome e continuar seus negócios, agora de forma mais honesta e legalizada.
— É isso que eles querem? — perguntou , tentando absorver a explicação. — Ser honestos?
— Exatamente — concordou Annia. — Eles viram o exemplo da Continuum, de como ser honesto tem suas vantagens e com a oportunidade em vista, serão nossos irmãos agora. Entendeu?
— Sim. — Assentiu a bailarina. — Você explicando parece ser mais fácil. tentou e acabei me confundindo ainda mais.
— Por isso que eu prefiro meu estetoscópio — comentou , rindo baixo.
— Cada um com sua influência. — Annia a olhou com serenidade.
— Se fosse olhar pelo legado da família, você teria que ser biomédica, ou cientista como a primeira Baker — disse , relembrando a genealogia da amiga.
— Prefiro dar ordens vestida a caráter, com meu scarpin vermelho — brincou ela, mostrando seu lado mulher de negócios.
— Ainda fico com meu jaleco branco, o bisturi na mão, passando doze horas em uma cirurgia — comentou com naturalidade.
— Olhando pelo que gostamos de fazer, eu troco todos os meus dias de treinamento para dar aula de tango para a turma mais desastrosa que existe — brincou , arrancando risos delas. — Juro pra vocês que se eu não fosse tão obstinada quanto minha avó, eu já teria desistido.
— Eu achei surpreendente você aceitar o convite da sua avó para ser a herdeira sliter. — a olhou curiosa. — O que te levou a isso?
— Estou cansada… — revelou a mulher, sua percepção de tudo. — De ser a parte fraca e vulnerável da família.
— Fala isso por causa do seu sequestro? — A residente a olhou surpresa, não sabia ao certo do que estava acontecendo com ela.
— Pelo conjunto da obra, já que a Continuum vem atrapalhando minha vida desde sempre — respondeu a bailarina num suspiro fraco, com ar de chateação.
— Além de te levar os dois amores — completou Annia, deixando sair as palavras com fluidez.
— Annia?! — tentou repreendê-la.
— Ela está certa. — interviu. — Por duas vezes fui deixada e não quero mais passar por isso… Quero ser forte por mim mesma, assim como vocês.
— Até os mais fortes possuem seu calcanhar de Aquiles — disse a sliter por experiência própria.
— Como eles te pegaram? — perguntou Annia, ao se remexer na poltrona, esticando as pernas. — Foram muitos?
— Não, eu conseguiria, mas foram mais espertos — explicou , relembrando o dia em sua mente. — Me apagaram com um dardo tranquilizante.
— Só assim pra te pararem — sussurrou , deixando-as ouvir.
— Vamos esquecer as partes tristes e focar no que é alegre — aconselhou Annia se espreguiçando um pouco. — Agora temos reforço e nosso inimigo não terá mais chance contra nossa família.
— Andrei só vai perder sua força quando destronarem Lionel. — deu sua opinião sobre o assunto. — E somente a lei da sociedade pode fazer isso.
— O general Bellorum sempre disse que eles eram a lei — comentou Annia, com tom de desdém. — Espero que desta vez, eles façam o que é certo, não o que convém.
— é uma pessoa honesta, ele jamais trairia os amigos. — o defendeu, com base em sua vivência na adolescência.
A bailarina confiava nele, mesmo depois de todas as decepções sentimentais. E sim, somente a lei que regia aquela sociedade e a mantinha forte e unida poderia destronar alguém que não merecia o poder que detinha nas mãos.
E este seria o próximo passo na nova fase da Continuum.
Pode ser difícil
A qualquer hora, eu sempre estarei aqui
Você pode pensar nisso de forma positiva
Porque eu sou seu lar.
– Home / Seventeen
Só queria registrar publicamente meu pedido pela vingança contra o sr. Andrei. Obrigada de nada. :))))