The Entrance
Escrita porPaulinha Cumarú
Revisada por Paulinha
Capítulo único
Tempo estimado de leitura: 3 minutos
Passei a me arrumar mais rápido quando não consegui mais ouvir o barulho dos passos de Étienne no andar de cima. Eu estava definitivamente atrasada. Terminava de amarrar o cadarço do meu tênis enquanto abria a porta para ele após suas batidas.
- Você ainda tá assim? – ele reclamou depois de reparar minha situação. – Te falei pra começar a se arrumar antes e deixar para limpar o quarto amanhã.
- Você me conhece, sabe que eu não aguentaria continuar vendo aquela bagunça. Aliás, não sei o porquê de tanta pressa! Nem ao menos me falou pra onde a gente vai. – retruquei enquanto tirava a toalha do cabelo e procurava um pente.
- Você sabia o suficiente, que era uma surpresa e eu precisava de você pronta às 19h, mas já são 19:15.
- Étienne, deixa de mistério e fala logo aonde vamos.
- Espera mais um pouco e você verá.
xx
- Um cinema? Você me enrolou o dia todo para me trazer ao cinema? Coisa que a gente faz desde sempre?
- Mas a gente não vai assistir a qualquer filme. Esse filme eu acho que você deveria ver como um dever de filha, e ainda deveria ter ido à estreia.
- Filha? Você me trouxe pra assistir um filme do meu pai, St. Clair? Sério? – perguntei indignada, o chamando pelo segundo nome de propósito.
- Não me chama assim, Anna. Vamos dar uma chance! Vai que ele modificou o roteiro e o filme ficou legal.
- Não tem como esperar algo legal vindo da mente do meu pai. O mesmo pai que me mandou pra França sozinha.
- Se ele não tivesse te mandado pra lá você não teria me conhecido, então a gente deve uma a ele.
- E sua forma de agradecer é me trazendo para assistir The Entrance? O romance da leucemia?
- Vamos assistir e vai ser legal. – insistiu St. Clair enquanto me puxava para a entrada do cinema.
xx
A sala estava consideravelmente cheia. O que me assustava e me deixava horrorizada, visto que o roteiro não tinha sido modificado e o filme continuava tão idiota quanto meu pai.
A duas cadeiras a minha direita estava um grupo de amigas por volta dos 14 anos. O típico grupo de meninas começando no mundo da leitura e que idolatravam as obras do meu pai. Idiotas. Elas choravam copiosamente enquanto na tela passava a cena da mulher e do amor de sua vida recebendo a notícia de que o último tratamento contra a doença não tinha tido efeito.
Étienne estava do meu lado compenetrado assistindo ao filme, mas, diferente da expressão das meninas, seu rosto transmitia um certo ar de deboche.
Foi aí que entendi. Aquela poderia ter sido a história dele. Poderia ter sido ele ao lado da mãe vendo o médico falar que o tratamento foi um fracasso. Mas não era a história dele. E eu achei graça disso. Tanta graça que comecei a rir. Copiosamente.
xx
- Você nos expulsou do cinema! – Étienne exclamou enquanto ria e me olhava sem acreditar.
- Desculpa! Não foi minha intenção. Eu só estava achando aquilo tudo muito engraçado. As ironias da vida são engraçadas, Étienne.
- Ah, agora depois de nos expulsar voltei a ser Étienne?
- Você nunca deixou de ser, e pretendo que continue sendo para sempre. – disse puxando-lhe para um beijo e voltando a caminhar em direção ao dormitório.
E tudo foi legal no final.
FIM