PRÓLOGO
Tempo estimado de leitura: 9 minutos
— É tanta água que às vezes eu me pergunto se tem fim. — Suspiro, encarando o enorme mar, da janela do meu quarto.
Coloco meu cotovelo em cima da madeira da janela, e apoio meu rosto na minha mão.
Acho que eu podia passar o dia todinho olhando o mar, ele é tão grandão e bonito. Eu gosto disso, realmente gosto. Eu não sei, talvez eu tenha gostado do mar depois que a mamãe e papai me encontraram lá... sim, eu acho que foi nesse dia. Ah, mas já tem tanto tempo, dois anos é muito tempo.
As pequenas colinas verdes não me deixam ver o mar direito, e isso é tão irritante.
— Serena!
Meu rosto escorrega da minha mão, e eu quase me machuco. A voz da mamãe me assustou agora.
— Serena!
— Já tô indo! — Grito de volta, saltando da cadeira velha que eu usava para ficar na altura da janela.
Antes de sair do meu quarto, olho para minha cama arrumada, vendo Duque deitado em cima do meu travesseiro, dormindo como um urso.
— Vamos, Duque. Você é muito preguiçoso. — Pego meu cachorrinho, que acorda um pouco tonto.
Duque precisa aprender alguns modos.
Com Duque nos braços, corro para fora do meu quarto e procuro a mamãe por todos os cômodos, mesmo que eu soubesse que ela estava na cozinha, porque eu podia sentir o cheiro gostoso que vinha de lá.
— Serena, eu quero que você leve esses pães para o seu pai, ele já deve estar esperando. — Mamãe coloca um montão de pães dentro de uma cesta de palha, e depois ela cobre com um pano de prato.
— Eu posso ver o mar depois?
Mamãe ia me entregar a cesta com os pães, mas ela fica pensativa um pouco, e isso me faz soltar o Duque no chão e colocar as mãos na cintura.
— Eu já sou grande, tenho nove anos.
Os olhos da mamãe ficam grandões, e depois ela ri.
— Tudo bem, garotinha crescida. Mas eu não quero que você entre no mar, já está ficando tarde e a água deve estar gelada.
Sorrio para mamãe, e ela me entrega a cesta de pães, e depois dá um beijo na minha testa.
— Vamos, Duque! Bem rápido! — Quando eu pego a cesta da mamãe, corro para fora da cozinha, abrindo a porta da entrada.
Estava um calorzão do lado de fora, mas o sol já estava indo embora. Então eu corri o mais rápido que pude, tentando chegar na loja do papai antes do sol se despedir.
Duque vinha correndo atrás de mim, latindo como um cachorrinho barulhento. Às vezes ele tropeçava pelas coisas no caminho, mas nada parava ele, porque mesmo sendo pequeno, Duque era corajoso assim como eu.
— Duuuuque! — Olho para trás e grito, rindo do Duque, que tentava acompanhar os meus passos que eram bem rápidos.
Nós dois demoramos um pouco, mas chegamos na loja do papai antes do sol ir embora. Nós vencemos.
Minha respiração estava acelerada, e a de Duque também, por isso, nós dois precisamos descansar um pouco do lado de fora. E só depois de nos recuperarmos é que eu abri a porta da loja.
— Pai! Eu cheguei! Pai!
— Pare de gritar, Serena, eu estou aqui. Assim os meus tímpanos vão estourar. — Papai resmunga como um velho, enquanto arruma alguns pães doces que estavam do lado direito da loja.
— Pai, eu trouxe pra você. — Saltito até onde o papai estava, e Duque vem atrás de mim, tentando me imitar.
Ele era engraçado.
Papai pega a cesta que eu trouxe, espiando debaixo do pano de prato.
— Sua mãe fez agora? A cesta ainda está quente.
Confirmo com a cabeça.
— Você vai ficar para comer alguns? — Papai pergunta, colocando os pães que eu trouxe, junto com os pães doces.
— Não, eu preciso sair. — Me afasto do papai, que me olha com as sobrancelhas levantadas.
— E eu posso saber aonde a senhorita vai?
Sorrio para o papai, e corro até à porta com Duque.
— Te vejo no jantar! — Grito, e saio da loja de pães.
O sol ainda estava aqui, ele não queria ir embora e, por isso, tudo estava laranja.
Espero Duque parar do meu lado, e começo a correr de novo, e agora nós dois estávamos indo até à orla. Nós precisamos pegar o mesmo caminho, mas em vez de voltarmos para casa, corremos até as pequenas colinas, onde descemos elas rolando e rindo... hm, acho que só eu ri, Duque latiu.
Ele era tão preguiçoso, já estava cansado, acho que vou ter que carregá-lo.
— O que eu deveria fazer com você, seu nanico? — Pergunto para a bolinha de pelos nos meus braços, correndo com ela.
O mar estava ficando cada vez maior, eu podia ver, e o Duque também. Os meus pés pisaram na areia fofinha, nós estávamos quase lá.
— Chegamos! — Paro um pouco longe do mar, admirando o tanto de água que balançava de um lado para o outro.
A bolinha de pelos começa a se mexer muito no meu colo, ela queria ir para o chão.
— Fique quieto, Duque. Eu sei que você quer ir pra água, mas nós não podemos, você sabe. Dá última vez que você entrou na água, eu tive que ir atrás de você, e nós dois chegamos molhados em casa e a mamãe nos proibiu de vir aqui por uma semana. — Olho brava para o Duque, mas ele faz aqueles olhos de cachorro arrependido, mas não iria funcionar.
Ele não desiste e continua se mexendo no meu colo até conseguir pular para a areia. E como eu já sabia, ele sai correndo, mas não na direção da água.
— Duque, seu patife! Volta aqui agora! — Começo a correr atrás do Duque, eu até estendo as minhas mãos para tentar pegá-lo, mas ele ficou muito rápido agora.
Acho que nós corremos por muitos minutos, ele não queria parar, na verdade, o Duque só parou de correr quando um par de botas apareceram na nossa frente.
— Botas? — Com as mãos esticadas para pegar o Duque, eu encaro as botas escuras e sujas de areia.
Olho um pouquinho para cima e vejo duas pernas dentro das botas. Olho mais um pouquinho, e agora eu vejo um corpo que usava roupas estranhas.
Pego Duque, e olho de uma vez para cima, encontrando um homem alto e barbudo parado na minha frente. Ele usava um chapéu grande e muitos colares no pescoço, e também usava um brinco igual ao da mamãe. Os cabelos dele também eram grandes, e ele parecia que não tomava banho faz tempo, a pele dele estava toda suja.
O homem barbudo fica me encarando sem dizer nada, e isso deixa ele mais estranho do que já era.
Olho para os lados, vendo se não encontrava ninguém por perto, mas eu só consigo ver mesmo, era o grande navio que estava na água, bem perto da gente.
— Uma bandeira preta? — Fico confusa, mas logo lembro do que a mamãe e o papai me disseram uma vez.
Eu abro bem os meus olhos, e tento dar alguns passos para trás, querendo fugir.
— Pirata... você é um pirata. — Abraço o Duque bem forte para que ele não fuja de novo.
— Parece que sim. — O homem barbudo sorri, mostrando alguns dentes de ouro, eu sabia porque papai me contou.
Duque começa a latir no meu colo, e eu peço que ele fique quieto ou será o nosso fim.
— Se me dá licença, mocinha, meus negócios já acabaram por aqui. Nós podemos manter isso em segredo? — O homem barbudo pergunta, e eu aceno com a cabeça, mas não digo nada, eu não sou doidinha.
— Obrigado. — O homem barbudo sorri de novo.
— Capitão, precisamos ir! — Alguém grita lá de cima do navio, era um homem com um pano amarrado na cabeça. Eu não conseguia ver direito, ele estava bem pequenininho.
— Mocinha. Cachorro. — O homem barbudo tira seu chapéu e depois coloca ele de volta.
Eu aceno, e o homem barbudo começa a andar como se estivesse bêbado, mas ele para e depois enfia a mão dentro do bolso do seu casaco, puxando uma moeda brilhante para fora. O homem barbudo joga a moeda para mim, e depois caminha até o navio, subindo por uma corda.
Fico parada no meu lugar com o Duque, e nós dois vemos o grande navio ir embora junto com o sol.
***
Ela era tão brilhante e bonita, eu só vi uma dessas uma vez, quando a guarda do rei apareceu aqui. Na loja do papai e da mamãe, eles só costumam ganhar moedas de prata que não brilhavam, nunca as de ouro.
O desenho na moeda era diferente. Uma vez o papai me disse que cada lugar tem sua própria moeda, então eu acho que essa moeda não é daqui, porque o desenho não era igual.
Eu ganhei uma moeda de um pirata, e se a mamãe descobrir ela vai ficar tão brava, por isso eu não posso contar, só o Duque vai saber porque ele estava lá comigo.
— Serena, vem jantar! — Mamãe grita da cozinha e então eu guardo minha moeda de ouro no meu baú de bonecas, bem lá no fundo dele.
Duque aparece na porta do meu quarto, latindo algumas vezes.
— Eu já estou indo. — Mostro a língua para o Duque, que não sai da porta do meu quarto até que eu vá com ele.
— Zac, parece que encontraram o corpo de um homem perto da orla. A boca dele estava cheia de moedas de ouro. Você sabe, isso é coisa daqueles piratas. — Mamãe conversava com o papai lá da cozinha, enquanto Duque e eu saltitávamos pelo corredor.