Eu ainda posso te chamar de querida?

  Sabe, eu tentei, tentei muito ficar bem. Tentei te esquecer e fingir que estava tudo certo e, por algum tempo, eu até consegui me enganar… Mas aquele vazio que você deixou depois que partiu continua aqui e está tão grande que não consigo mais ignorar. Por que você me deixou? Sinto que nunca mais poderei ser inteiro novamente…

  Eu preciso de você.

  Para sempre seu,

  %Andrew%.”

  %Andrew% encarava ela com um sorriso bobo. Faziam muitos meses desde que a havia chamado para sair pela primeira vez, eles nunca tinham pensado que poderiam dar certo, agora não podiam imaginar um futuro sem o outro.

  — Eu queria poder ficar assim o resto da vida — %Tori% murmurou deixando um sorriso escapar de seus lábios. — Nessa tranquilidade, nessa paz… Com você ao meu lado.

  — E por que não podemos? — %Drew% questionou sorrindo torto enquanto prestava atenção nos raios de sol que passavam pela copa da árvore sob a qual estavam aconchegados em um parque que acabou por se tornar um lugar especial para ambos.

  Houve uma pausa em que %Victoria% ficou em silêncio, pensativa enquanto %Andrew% aguardava.

  — Porque nós dois ficaríamos com fome e com certeza em algum momento choveria. — A moça levantou a cabeça do colo de %Andrew% e se sentou, espanando a grama da roupa. — Mas eu bem aceito a paz e a tranquilidade com você ao meu lado. — Ela sorriu entrelaçando os braços no dele.

  %Drew% sorriu e a abraçou com carinho. Respostas bobas como aquela eram uma das características em %Victoria% que ele amava. Porque geralmente elas vinham no momento em que ela não conseguia sustentar o instante de “romance” e eram sua forma de dizer “eu te amo” indiretamente.

  “Querida %Tori%…

  Não adianta tentar te chamar de qualquer outro jeito, você sempre vai ser minha querida e meu amor.

  Já fazem seis meses… As coisas parecem ter melhorado, mas o espaço que você deixou ainda está aqui.

  Ontem eu estava no nosso parque… Foi mais fácil ir lá depois de tanto tempo, ao menos eu não quis mais chorar enquanto lembrava de você. Mas aconteceu algo engraçado. Eu acho que esperava te ver surgir ali a qualquer momento e fiquei te procurando em cada novo rosto que passava por mim.

  Espero que esteja bem.

  Sinto sua falta,

  %Andrew%.”

  Os olhos de %Andrew% não conseguiam deixar de seguir cada movimento de %Victoria%, mesmo depois de tanto tempo, ele ainda ficava encantado com cada sorriso que, a agora esposa, dava. Estava sendo o grande dia. Eles haviam se casado e agora estavam tentando dar atenção a todos os convidados da festa que os felicitavam com entusiasmo. %Tori% estava a poucos passos de distância dele, conversando com a melhor amiga que fazia caras e bocas falando sobre alguma coisa que pareceu divertir a noiva.

  Depois de alguns minutos, eles finalmente conseguiram um tempo para descansar juntos. %Andrew% não podia estar mais feliz naquele dia.

  — Dá pra acreditar? Nós dois casados? — %Tori% murmurou encostando a cabeça no ombro do companheiro.

  — Tem alguém que não acreditava? — ele riu divertido, logo sendo acompanhado pela moça. — É um novo começo.

  — É o começo do nosso para sempre. — Ela sorriu e com carinho e delicadeza selou seus lábios nos dele.

  “Querida %Tori%…

  Se lembra quando nós nos casamos e prometemos um ao outro que nosso amor duraria para sempre? O que houve com o nosso “para sempre”? Por que não pudemos manter nossa palavra?

  Estávamos felizes realizando mais um sonho juntos, a nossa família estava para crescer e eu poderia comparar aquela sensação com a de estar no céu… Como foi que nossas vidas decaíram tanto? Por quê?

  Eu queria que pudesse me responder.

  %Andrew%.”

  %Victoria% estava nervosa enquanto esperava %Andrew% chegar do trabalho. Já fazia alguns dias que não vinha se sentindo muito bem e naquele dia suas suspeitas haviam se confirmado. É claro que ela sabia que %Drew% a amava e que provavelmente aquela notícia seria algo a se comemorar. Mas… O homem parecia estar quase sempre tão estressado com assuntos do trabalho… Talvez…

  Ela estava pronta para desistir de contar a novidade ao marido quando ele adentrou a porta de entrada, a expressão não estava muito feliz, mas ao notar a mulher na sala com ar preocupado e ansioso, o rosto se atenuou e ele seguiu em sua direção para um cumprimento.

  — O que houve, %Tori%? — perguntou quando notou que a esposa ainda estava ansiosa, quase como uma criança com receio de ser repreendida.

  Alguns segundos se passaram antes que a mulher suspirasse e se esticasse para alcançar um envelope que estava na mesa de centro e estendesse para ele.

  Sem entender muito bem e quase ficando nervoso junto da esposa, %Andrew% abriu o envelope e o analisou com cuidado. Quando terminou de lê-lo, seus olhos procuraram pelos de %Tori%.

  — Sério? — murmurou de modo comedido. %Victoria% apenas balançou a cabeça positivamente.

  %Andrew% se esqueceu de todas as coisas que o haviam aborrecido durante o dia e abraçou a esposa a puxando para mais perto e afundando o rosto na curva do pescoço dela, murmurando coisas quase incompreensíveis.

  — Isso é bom? — %Tori% perguntou rindo, ainda um pouco nervosa.

  — Esse é o mais novo dia mais feliz da minha vida — %Drew% afirmou espalhando beijos estalados pelo rosto da esposa que riu.

  Aquele pequeno núcleo familiar estava para ganhar um novo membro.

  “Querida %Tori%,

  A vida continua mais ou menos da mesma forma que antes. Você ainda faz muita falta, assim como Ruby. Eu espero que vocês duas estejam bem.

  Eu sei que você não vai responder… Mas queria te lembrar que hoje é nosso aniversário.

  Feliz 10 anos, %Tori%.

  Adeus,

  %Andrew%.”

  %Andrew% %Kirk% apertou o botão de envio em seu e-mail e suspirou. Ao longo de mais de um ano ele havia mantido aquela rotina de enviar e-mails para sua ex-esposa. Para ele ainda era estranho pensar em %Victoria% como sua “ex”. Eles não tinham terminado exatamente, embora tivesse havido um rompimento…

  %Drew% pegou as flores que havia comprado para a ocasião e rumou para seu carro. Era engraçado como o tempo acabava por fazer as dores e sofrimento diminuírem. Há alguns meses ele não imaginava que poderia ir até %Victoria% de uma forma tão calma como estava fazendo naquele instante. Pela primeira vez ele não sentiu que poderia desmoronar a qualquer momento ou que havia uma pedra esmagando seu coração.

  — Oi, %Tori%… — o homem murmurou sorrindo fraco enquanto deixava o arranjo de lírios sobre o túmulo.

  %Victoria% %Kirk% estava grávida de oito meses quando o acidente aconteceu. Era um dia qualquer na vida daquele casal; %Tori% estava alegre e tinha acabado de enviar algumas fotos das roupas novas que havia comprado para o enxoval de Ruby, a primogênita dos %Kirk%. Havia sido questão de minutos; em um instante ela estava ali alegre e viva, no outro… %Drew% só soube o que havia acontecido depois de algum tempo quando ligaram da emergência. Um carro havia perdido o controle e %Tori% acabou no caminho do veículo desgovernado.

  Todos os dias das primeiras duas semanas depois daquele dia eram um borrão confuso para ele. Se lembrava de ter ficado em seu quarto chorando até que seu corpo não pudesse mais produzir lágrimas. Os dias depois daquelas duas semanas não melhoraram muito, mas ao menos ele conseguiu sair do quarto; a dor era tanta que era quase física. Após algum tempo, houve a raiva. Por que ela tinha que ter sido tirada dele? Eles haviam prometido o “pra sempre”, não era justo. Mas logo a raiva deu lugar ao vazio. O grande e terrível vazio. %Andrew% sentiu como se seu coração e a capacidade de sentir qualquer coisa tivessem sido tirados dele e a impressão que tinha era que nunca mais poderia ser feliz.

  Quando aquele vazio chegou, %Andrew% decidiu começar a escrever aquelas “cartas” para o velho endereço de e-mail de seu grande amor. Foram centenas de mensagens durante meses, e após algum tempo ele começou a sentir que aquilo estava ajudando. E que estava na hora de deixar %Victoria% partir.

  — Eu te amo, %Tori%. — Ele sorriu triste. — E mesmo que o nosso pra sempre não tenha durado tanto, eu nunca vou te esquecer.

  %Andrew% ainda ficou encarando o túmulo bem cuidado da ex-esposa por algum tempo antes de dar as costas num suspiro.

  — Adeus, %Tori% — murmurou, sentindo um grande peso desaparecer de seu peito. %Drew% quis acreditar que aquele havia sido o adeus de sua %Victoria% para ele. Eles poderiam seguir seus caminhos e talvez, em um outro mundo ou outra vida, um dia eles voltassem a se encontrar para continuar aquele “para sempre”.